Luuanda
Literaturas de Língua Portuguesa
José Luandino Vieira
ES/3 D. Afonso Henriques
2009/2010
IntroduçãoA identidade nacional está presente nos contos de
Luuanda.
A obra literária de José Luandino Vieira - especialmente contos nos quais o espaço literário está centrado nos musseques, bairros pobres e, portanto, vítimas da discriminação e opressão económica - contribuiu para a integração cultural e linguística de Angola. Os seus contos têm por função ajudar a reconstruir a cultura de um povo que, por muito tempo, foi desenraizada e fragmentada.
Estória da
galinha e do ovo
Resumo
A estória começa com a disputa entre duas vizinhas, Nga Zefa e Nga Bina, por causa de um ovo.
Nga Zefa tinha uma criação de galinhas, mas uma delas, a Cabíri, insistia em ir para o quintal de Nga Bina, que tinha o marido preso, estava grávida e não tinha animais. Esta última dava milho à galinha de Nga Zefa, até que um dia ela põe um ovo no seu quintal.
A dona de Cabíri ao
saber do sucedido,
tomada pela raiva,
abala em direcção ao
quintal da vizinha e as
duas começam então
uma zaragata, soltando
insultos e agredindo-se
uma à outra, até as
vizinhas as separarem.
Nga Zefa reivindica que se a galinha é sua, o ovo por conseguinte também será seu, enquanto que Nga Bina afirma que visto que o ovo foi posto no seu quintal e ela é que tem alimentado o animal, o ovo pertence-lhe, dando também a desculpa de que como está grávida tem o desejo de comer ovo e “desejo de grávida não deve ser recusado”.
Tendo como intermediária Vavó Bebeca as duas rivais vão expondo a situação ao longo da tarde às personagens que surgem, como Sô Zé do quitanda, “Azulinho”, Sô Vitalino e Sô Artur Lemos. Mas nenhum deles consegue solucionar o caso.
É quando aparece o Sargento com os seus soldados e tentam tomar a galinha, que Beto, filho de Nga Zefa e que sabia falar a língua dos animais, tem a ideia de começar a cantar a cantiga de “cambular” as galinhas e Cabíri, ao ouvir aquela melodia, escapa das garras do policial e voa em direção à capoeira de Nga Zefa, onde se encontrava Beto.
Nga Zefa, no fim acaba por ceder o ovo a Nga Bina devido ao seu estado de gravidez e acaba assim a trama.
ContoO conto é a forma
narrativa, em prosa, de menor extensão (no sentido estrito de tamanho). Entre as suas principais características, estão a concisão, a precisão, a densidade, a unidade de efeito ou impressão total.
Espaço“Estes casos passaram no musseque de
Sambizanga, nesta nossa terra de Luanda”, mais especificamente no quintal de Nga Bina.
Tempo“Foi na hora das quatro horas”
NarradorOmenisciente – não participa na história, mas
narra todos os acontecimentos ao pormenor e sabe o interior das personagens, o que estão a pensar ou a sentir.
Delimitação da narrativa
Fechada – a disputa pelo ovo e pela galinha é solucionada
Aberta – não se sabe o que acontece com as personagens após a zaragata
PersonagensNga Zefa – negra, magra,
simples; vive no musseque; não trabalha; é casada; tem um filho chamado Beto; é a dona da galinha Cabíri; corajosa, destemida, teimosa e “zaragateira”
Nga Bina – mulher negra e gorda; está grávida e o seu marido está na prisão; é calma, sorridente, esperta e teimosa
PersonagensVavó Bebeca – negra, com
idade avançada; sábia e apaziguadora
Sô Zé – comerciante, dono da quitanda; branco, zarolho de olhos azuis, magro e marreco; esperto, aproveitador e desonesto
“Azulinho” – João Pedro Capita, 16 anos; andava sempre de fato de fardo todo bem “engomado” e usava óculos; queria ser padre; inteligente, culto, vaidoso e fisicamente fraco
PersonagensSô Vitalino – velho rico,
proprietário de cubatas, cobrava a renda ao negros do musseque; usava uma bengala de castão de prata, um velho fato castanho e um grosso capacete de caqui; impiedoso, temido, carrancudo; gostava de Nag Mília, uma negra casada e com filhos e aliciava-a a ir viver com ele, luxuosamente
PersonagensSô Artur Lemos – velho
vadio, tinha a perna esquerda aleijada; era casado com Rosália, uma quitata que vendia o corpo para conseguir dinheiro para sustentar a casa, pois o marido, depois de se meter no alcóol, perdera o emprego no notário; era culto, tinha muitos “livros grossos” e as pessoas procuravam-no quando tinham porblemas de administração
PersonagensSargento – homem gordo e baixo; rude,
violento, malcriado e aproveitador
Beto e Xixo – monandegues espertos, aventureiros, sabiam falar a língua dos bichos
O caso da galinha e do ovoNga Zefa – queria o ovo para si porque a galinha era
sua
Nga Bina – queria o ovo para si porque ela é que tinha alimentado a galinha com o seu milho e o ovo tinha sido posto no seu quintal
Sô Zé – afirmava que o ovo era seu porque o milho com que Nga Bina tinha alimentado a galinha fora comprado no seu estabelecimento e ainda não tinha sido pago
O caso da galinha e do ovo“Azulinho” – pretendia levar o ovo ao Sô Padre para
este fazer a sua sentença divina
Sô Vitalino – reinvindicava que o ovo lhe pertencia porque tinha sido posto numa propriedade sua (quintal de Nga Bina)
O caso da galinha e do ovoSô Lemos – como Nga Zefa não tinha nenhum
documento que provava que a galinha lhe pertencia, este pretendia levar a galinha e o ovo a um juiz para que este lhes declarasse a sentença
Sargento – como ninguém chegou a acordo sobre o que fazer com a galinha e o ovo, este resolveu confiscá-la
A galinha acabou por ficar com a sua verdadeira dona e o ovo com Nga Bina
Musseque•um aspirante a seminarista,
representando o poder clerical;
•um ex-notário e beberrão, simbolizando a burocracia e os maridos que não ajudam as mulheres;
•um homem branco;
•um proprietário que aluga as habitações para os pobres, simbolizando a exploração económica
•e finalmente, aparece a instância de opressão maior na forma de uma polícia que discrimina os negros pobres do musseque
Repressão colonialA chegada da polícia representa uma ameaça mais
concreta vinda de fora, e devemos entender essa opressão no contexto dos problemas políticos de Angola da época em que o conto se desenrola, antes da independência. Os demais representantes do poder, que vieram arbitrar no caso do ovo, de uma certa forma ou de outra ainda pertenciam ao grupo, perifericamente. Mas a polícia, neste caso, representa a opressão política de antes da independência (o marido preso de Nga Bina era provavelmente um preso político).
Lição fabularA imagem da galinha voando em liberdade em direcção ao
sol, a presença de Nga Bina com sua imensa barriga segurando o ovo, e a própria barriga parecendo um imenso ovo, são símbolos ligados ao princípio da vida, que está direccionado para o futuro com promessas da nova sociedade que irá surgir. E a nova sociedade, para Luandino Vieira, tem potencial para nascer a partir da união do povo simples e pobre dos musseques, das mulheres negras, e da língua misturada falada verdadeiramente pelo povo.
Conclusão"[...] A questão da fome, a questão da repressão, a
questão de surgirem personagens de camadas e classes sociais que, até aí, eram segregadas da literatura, parece-me (hoje, a esta distância, tanto quanto me vejo, até como personagem do meu próprio destino), parecem-me correctas... ... Quando escrevi o Luuanda a minha preocupação era ser o mais fiel possível àquela realidade. Se a fome, a exploração, o desemprego, surgem com muita evidência, não se trata de uma atitude preconcebida, de uma atitude consciente. É porque isso era — digamos assim — o aquário onde as minhas personagens e eu circulávamos... A questão da linguagem já não é tão inocente assim... Muito embora não pretendesse fazer uma cópia fiel da linguagem utilizada pelas camadas populares luandenses.
ConclusãoTenho que reconhecer — para o caso do Luuanda — que
em certa altura eu achei até que teria um significado político: demonstrar que, na própria língua do colonizador, a nossa diferença cultural nos permitia escrever de modo que era difícil, ao próprio colonizador, entender o nosso código linguístico. Mas essa parte deliberada na criação de uma linguagem é apenas uma excrescência. Porque o meu intuito era (não consegui, com certeza!) criar uma linguagem ao nível literário a partir dos mesmos processos e das estruturas linguísticas bantas da região de Luanda. Que fosse homóloga da linguagem popular e não a sua cópia ou a sua reprodução [...]”
Luandino Vieira
Bibliografia•http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Luandino_Vieira
•http://html.editorial-caminho.pt/show_produto__q1area_--_3Dcatalogo__--_3D_obj_--_3D36149__q236__q30__q41__q5.htm
•http://www.mnoticias.8m.com/luandino_vieira.htm
•http://pt.wikipedia.org/wiki/Conto
Trabalho realizado por: Cátia Silva Nº4 12H Helena Morais Nº7 12ºHPaula Leal Nº11 12ºH