Estudo de Caso: Ribeira Bote
Departamento de Ciências e Tecnologias
Realizado por:
Charlene Patrícia Brito da Graça
Curso
Gestão Hoteleira e Turismo
Mindelo, 31 de Julho de 2013
Charlene Gaça
Monografia: Projecto Ribeira Bote-Turismo Comunitário
Uma Oportunidade de Desenvolvimento da Comunidade de Ribeira Bote
Monografia submetida como requisito parcial para obtenção de Licenciatura em Gestão
Hoteleira e Turismo
Orientador:
Professor Mestre JoãoRêgo
Universidade do Mindelo
Mindelo, Julho de 2013
AGRADECIMENTOS
Queria agradecer primeiramente a minha família que me apoiou incondicionalmente na
elaboração deste trabalho e na participação deste do projecto em si.
Um obrigado muito especial ao meu orientador, o Mestre Rêgo, por ter apoiado o projecto
desde o inicio, mesmo antes de ter decido torna-lo a minha monografia, e por ter estado
sempre disponível para esclarecimento de dúvidas relativamente ao projecto e a
monografia.
Quero ainda agradecer a todos os participantes e promotores do projecto sem os quais a
ideia não teria saído do papel principalmente ao Frei Silvino, Marcus Leukel e Mirian
Lopes.
Agradeço a minha irmã Marilene Graça e ao meu amigo Nibel Moreira pela revisão
textual, pelas preciosas informações e documentos cedidos para consulta. E também ao
meu amigo Anderson que esteve sempre disponível no terreno na pesquisa de campo.
Um obrigado muito especial também a Comunidade de Ribeira Bote por ter acolhido este
projecto de braços abertos e a todos os moradores que de uma forma ou outra deram o seu
contributo para este trabalho.
E finalmente, mais importante agradeço a Deus por ter concluído mais uma etapa na minha
vida sempre com humildade e dedicação.
RESUMO
No âmbito da Licenciatura em Gestão Hoteleira e Turismo foi desenvolvido um estudo
sobre uma iniciativa pioneira na área do turismo comunitário que está sendo realizado na
ilha de São Vicente. O objectivo é analisar a viabilidade desse tipo de turismo tendo em
conta as potencialidades e os constrangimentos dessa modalidade no desenvolvimento das
comunidades locais.
A análise tem por base apresentar uma iniciativa recente denominada de Projecto Ribeira
Bote – Turismo Comunitário desenvolvido por um grupo de jovens da comunidade de
Ribeira Bote. A partir da identificação das motivações e características deste novo tipo de
turismo, apresenta-se alguns conceitos e característica da área de estudo, realçando as
práticas desta nova abordagem turística que se diferencia do turismo convencional ou de
massas, inscrevendo-se num movimento que procura contrariar os efeitos negativos da
actividade turística e promover um desenvolvimento mais humano e sustentável das
comunidades receptoras.
A orientação teórica e metodológica do estudo foi fornecida pelo enquadramento teórico-
prático do turismo de base comunitário, argumentando-se que, mais do que a solidariedade
de quem vem de fora, o Turismo Comunitário exige o envolvimento e a interacção da
população local. A conclusão é como o desenvolvimento deste tipo de turismo poderá
beneficiar directamente a comunidade receptora.
PALAVRAS-CHAVE: Turismo de base comunitária, sustentável, motivações, beneficiar.
ABSTRACT
Within the Bachelor of Hotel Management and Tourism has developed a study on a
pioneering initiative in the area of community tourism which is being held on the island of
SãoVicente. The aim is to analyze the feasibility of this type of tourism taking into account
the potential and constraints of this modality in the development of local communities.
The present analysisis based on a recent initiative called Project RibeiraBote-Community
Tourism developed by a group of young community of Ribeira Bote. After identifying the
motivations and characteristics of this new type of tourism, presents some concepts and
characteristics of the studyed area, highlighting the practices of this new approach to
tourism which differs from conventional tourismo or mass, joining amovement that seeks
counteract the negative effects of tourism and promote more human and sustainable
development of host communities.
Thetheoretical and methodological orientation of the study was provided by thetheoretical
and practical frame work of the Community-Based Tourism, arguing that rather than the
solidarity of those who come from outside the Community Tourism requires the
involvement and interaction of the local population. The conclusion is how development of
this type of tourism can directly benefit the host community.
KEY WORDS:community touris,sustainable, motivations benefit
Índice
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11
1.1 Justificativa e Relevância .............................................................................................. 12
1.2 O Problema Da Investigação ......................................................................................... 12
1.3 Questão de partida ........................................................................................................ 13
1.4 Objectivo Geral ............................................................................................................ 13
1.5 Metodologia ................................................................................................................. 14
1.6 Organização Do Trabalho ............................................................................................. 15
2 CAPITULO ......................................................................................................................... 16
2.1 Evolução do Conceito de Turista................................................................................... 16
2.2 Conceito de Turismo..................................................................................................... 19
2.3 O Turismo em Cabo Verde ........................................................................................... 25
2.4 Potencialidade e Atractivos Turísticos........................................................................... 35
2.5 Fragilidades e Constrangimentos................................................................................... 37
2.6 As Novas Tendências em Turismo ................................................................................ 38
2.7 Turismo Social, Turismo Rural, Turismo Responsável, Ecoturismo, Turismo Justo e
Turismo Comunitário. .............................................................................................................. 42
2.8 O Turismo Comunitário ................................................................................................ 45
2.9 O Perfil da Demanda .................................................................................................... 51
2.10 O Turismo Comunitário em Cabo Verde ....................................................................... 52
2.11 O Desenvolvimento Comunitário .................................................................................. 52
2.12 O Capital Social............................................................................................................ 56
3 CAPITULO ......................................................................................................................... 59
3.1 A Ilha de São Vicente ................................................................................................... 59
3.2 Aspectos Históricos ...................................................................................................... 59
3.3 Aspectos Geográficos e Climatéricas ............................................................................ 60
3.4 Aspectos Culturais e Turísticos ..................................................................................... 61
3.5 Perfil Urbano Do Mindelo ............................................................................................ 63
3.6 A Zona de Ribeira Bote ................................................................................................ 67
3.6.1 Importância Histórica ............................................................................................ 67
3.7 O Bairro de Ilha d` Madeira .......................................................................................... 70
3.8 Aspectos Positivos da Zona .......................................................................................... 71
4 CAPITULO ......................................................................................................................... 72
4.1 Estudo de Caso: Projecto Ribeira Bote - Turismo Comunitário...................................... 72
4.2 O Desenvolvimento da Comunidade com Base no Projecto ........................................... 79
4.3 Avaliação do Projecto até ao Momento ......................................................................... 80
4.4 Pesquisa no Terreno ...................................................................................................... 82
4.4.1 População e Amostra ............................................................................................ 82
4.4.2 Método de Selecção da Amostra ........................................................................... 82
4.4.3 Método de Colecta de Dados ................................................................................. 83
4.4.4 O Questionário ...................................................................................................... 83
4.4.5 A Entrevista .......................................................................................................... 84
4.4.6 Tratamento e Analise de Dados ............................................................................. 85
5 CAPITULO ......................................................................................................................... 93
5.1 Limitações e Desafios ................................................................................................... 93
5.2 Pistas para uma Prática Reflexiva de Turismo Comunitário ........................................... 94
CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 97
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................... 98
ANEXOS................................................................................................................................... 103
Índice de Tabelas
Tabela 1- Evolução de hóspedes e dormidas 2000-2008 ............................................................... 27
Tabela 2 - Evolução dos hóspedes e das dormidas segundo ano, 2008-2012 ................................. 28
Tabela 3- Hospedes segundo o tipo de estabelecimento, por pais de residência habitual dos
hóspedes, 2012 ............................................................................................................................ 29
Tabela 4- Hóspedes segundo a Ilha, por pais de residência dos hóspedes, 2012 ............................. 30
Tabela 5 - Dormidas segundo o tipo de estabelecimento, por pais de residência dos hóspedes, 2012
.................................................................................................................................................... 32
Tabela 6 –Dormidas segundo Ilhas por pais de residência dos hóspedes, 2012 .............................. 33
Tabela 7 -Infra-estruturas e Serviços situados dentro e nos arredores da comunidade. .................. 71
Tabela 8 - Lista de actividades produtivas dentro da comunidade ................................................. 71
Tabela 9: Nível de conhecimento do projecto por parte da comunidade (%) .................................. 86
Tabela 10: Nível de conhecimento acerca dos responsáveis do projecto por parte da comunidade
(%) .............................................................................................................................................. 86
Tabela 11: Nível de conhecimento dos objectivos do projecto por parte da comunidade (%) ......... 86
Tabela 12: Benefício da Comunidade em relação ao projecto (%) ................................................. 87
Tabela 13: Percentagem das pessoas que já foram beneficiadas com as actividades do projecto (%)
.................................................................................................................................................... 87
Tabela 14: Opinião sobre os impactos positivos provocados pelo projecto (%) ............................. 87
Tabela 15: Opinião sobre os impactos negativos provocados pelo projecto (%) ............................ 88
Tabela 16: Nível de conhecimento dos objectivos do projecto por parte dos integrantes (%) ......... 88
Tabela 17: Percentagem dos integrantes que já foram beneficiados com o projecto ....................... 88
Tabela 18: Opinião dos integrantes em relação a estrutura das visitas (%)..................................... 89
Tabela 19: Opinião dos turistas em relação a estrutura das visitas (%) .......................................... 90
Tabela 20: Opinião dos visitantes em relação ao preço das visitas................................................. 91
Tabela 21: Percentagem dos visitantes que pretendem voltar a Comunidade ................................. 91
Tabela 22: Tabela 22: Percentagem dos visitantes que recomendarão e acham que deve-se
continuar a apostar no Produto ..................................................................................................... 91
Índice de gráficos
Gráfico 1- Evolução das chegadas de turistas internacionais no mundo ......................................... 23
Gráfico 2 - Hóspedes e Dormidas (%) segundo tipo de estabelecimento, 2012 .............................. 29
Gráfico 3- Hóspedes e Dormidas (%) segundo ilhas, 2012 ............................................................ 30
Gráfico 4- Hospedes e Dormidas(%) por pais de residência dos hóspedes, 2012 ........................... 31
Gráfico 5 –Estadia média (noites) segundo o tipo de estabelecimento,por pais de residência dos
hóspedes, 2012 ............................................................................................................................ 34
Lista De Abreviaturas
ADEI - Agência para Desenvolvimento Empresarial e Inovação
CADM-SV - Centro de Apoio aos Doentes Mentais de São Vicente
OIT – OrganizaçãoInternacional do Turismo
OMT - Organização Mundial do Turismo
ONG - Organização Não Governamental
ONU- Organização das Nações Unidas
PPT – Pro PoorTourism(Turismo “Pro-Pobres”)
PRB-TC – Projecto Ribeira Bote - Turismo Comunitário
STEP –SustainableTourismEliminatingPoverty
TBC - Turismo de Base Comunitária
TC –TurismoComunitário
UNCTAD - United Nations Conference on Trade and Development
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
UNWTO - United Nations World Tourism Organization
WTO – World Tourism Organization
11
1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas o sector turístico experimentou uma vertiginosa expansão global,
chegando a ser considerado de grande expressão na economia mundial. A ampliação
geográfica do sector respondeu a processos distintos como às novas demandas de mercado,
como estratégia de desenvolvimento local e, sobretudo, para integrar mercados regionais,
essa expansão deu origem ao chamado Turismo Comunitário.
O Turismo Comunitário não é apenas uma atividade produtiva, procura ressaltar o papel
fundamental da ética e da cooperação nas relações sociais. Valoriza os recursos específicos
de um território e procura estabelecer relações de comunicação/ informação com agentes
externos, entre eles e os visitantes.
Tendo em conta este novo tipo de turismo, o objectivo do trabalho é investigar um projecto
que esta sendo desenvolvido na comunidade de Ribeira Bote, na Ilha de São Vicente, por
um grupo de jovens e que consiste em criar condições para receber turistas dentro da
referida zona, estimulando assim o desenvolvimento da referida comunidade através do
turismo.
12
1.1 Justificativa e Relevância
A investigação proposta justifica-se, pela preocupação com o desenvolvimento da
comunidade de Ribeira Bote de forma sustentável e igualitária nas suas múltiplas
dimensões – social, económica, cultural, política e ambiental.
Em termos científicos, tal abordagem é relevante na medida em que o turismo de base
comunitário ainda é um campo disciplinar em afirmação e que precisa de mais e melhor
reflexão e produção teórica.
1.2 O Problema Da Investigação
A literatura e o debate sobre Turismo Comunitário são muito recentes e incipientes e
precisam de ser aprofundados, não fosse o turismo uma das principais actividades
económicas do mundo, promovida por muitos países em desenvolvimento como opção
estratégica para a redução da pobreza e motor de desenvolvimento. É o caso de Cabo
Verde, que usufrui de um conjunto de características e especificidades geográfico-naturais
e socio-culturais, como a sua beleza natural, a riqueza em termos de biodiversidade e
endemismo, o clima tropical, o sincretismo de traços culturais africanos e europeus, que o
torna particularmente atractivo enquanto destino turístico.
Visto que o turismo tem vindo a assumir um crescente destaque no arquipélago, importa
agora analisar como é que o Projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário contribui para o
desenvolvimento social e económico da zona de Ribeira Bote, tendo em atenção as
contradições desta actividade que, mesmo gerando rendimentos e diversificando as
oportunidades de trabalho, faz emergir uma série de problemas sociais e ambientais, como
degradação ambiental, especulação imobiliária, descaracterização cultural ou exploração
sexual. Assim, em termos gerais, este trabalho de investigação pretende questionar as
condições em que o turismo é potenciador de Desenvolvimento Comunitário.
13
1.3 Questão de partida
Perante o contexto enunciado, a questão que se colocou na definição do problema de
investigação foi perceber em que condições o turismo pode desempenhar um papel
relevante no desenvolvimento das comunidades de acolhimento. Especificando esta
questão de forma a tornar a sua resposta viável, tendo em conta o âmbito da investigação,
foi possível redefinir a questão central da pesquisa nos seguintes termos: O Turismo
Comunitário promove o desenvolvimento das comunidade receptoras?
Tendo em conta a questão de partida defeniram-se duas hipóteses:
1. O Projecto Ribeira Bote- enquadra-se no turismo comunitário.
2. O turismo comunitário desenvolve Ribeira Bote.
1.4 Objectivo Geral
Tendo em conta que o Turismo Comunitário é uma área em afirmação, o objectivo geral
da investigação é aprofundar o conhecimento sobre este tipo Turismo, na sua relação com
o Desenvolvimento Comunitário.
Para isso definimos três objectivos especificos
1. Identificar e caracterizar os efeitos produzidos pela actividade turística na comunidade,
tendo em conta o Projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário;
2. Sistematizar pressupostos teóricos e boas práticas em termos de Desenvolvimento
Comunitário associado ao Turismo, tendo especificamente, em consideração a iniciativa de
Turismo Comunitário;
3. Contribuir, através do conhecimento produzido, para uma abordagem reflexiva ao
desenvolvimento do potencial turístico da Ribeira Bote.
14
1.5 Metodologia
Como objecto de estudo tem-se a experiência de turismo comunitário na ilha de São
Vicente mais propriamente na zona da Ribeira Bote. Para o alcance dos objectivos
propostos e com o intuito de chegar a uma problematização mais detalhada das questões
abordadas, norteou-se pela pesquisa-acção participativa que pode ser definida como um
processo de questionamento sistémico, no qual aqueles que estão experimentando uma
situação problemática participam em colaboração com pesquisadores na execução da
pesquisa e nos rumos das decisões a serem tomadas diante das demandas surgidas e não
necessariamente das priorizadas pelo pesquisador.
Foram utilizados dados oriundos da aplicação de questionários a turistas e visitantes que
participaram das experiências de Turismo de Base Comunitária na Ribeira Bote, no
período de Março a Julho de 2013 com 50 visitantes no intuito de se conhecer a percepção
dos turistas que visitam o local de forma a propiciar uma maior integração destes aspectos
no planeamento do turismo desenvolvido no local e, consequentemente, garantir uma
experiência rica e agradável aos visitantes sem causar impactos significativos aos recursos
naturais e principalmente culturais. Fez-se uso também de inquéritos aplicados a 145
pessoas moradores da comunidade e 18 participantes directos do projecto com o objectivo
de perceber se a comunidade tem sido beneficiado com o projecto.
Utilizou-se entrevistas para apurar dados relevantes para o trabalho, á pessoas que deram o
seu contributo para o desenvolvimento deste projecto bem como pesquisa bibliográfica
referente ao tema proposto e outros assuntos relacionados que demonstraram ser de
especial interesse para a investigação.
15
1.6 Organização Do Trabalho
A presente monografia encontra-se dividida em 5capitulos. O percurso do trabalho inicia
com uma Introdução geral do tema proposto, seguido dos Objectivos e Metodologias de
Estudo, sendo este o capitulo .I
No capitulo II apresenta-se o enquadramento teórico-conceptual onde se faz uma incursão
pelo Turismo, as Novas Tendências em Turismo, o Turismo Comunitário, e o
Desenvolvimento Comunitário.
Em seguida, procede-se a caracterização da área de pesquisa: da ilha de São Vicente e da
zona de Ribeira Bote que é o capítulo III, eapresentação do estudo de caso: Projecto
Ribeira Bote - Turismo Comunitário e a análise dos dados recolhidos, procurando-se aferir
a presença das características do Turismo Comunitário no projecto e os seus contributos
para o Desenvolvimento Comunitário, capítulo IV. O trabalho encerra com alguns
desafios, limitações encontrados no âmbito da realização do trabalho e pistas para uma
prática reflexiva de Turismo Comunitário, compondo o capitulo V.
.
16
2 CAPITULO
2.1 Evolução do Conceito de Turista
O conceito de turista evoluiu ao longo do tempo porque não havia necessidade de
identificar o movimento da deslocação de pessoas de um lado para outro. A necessidade de
uma expressão para designar um indivíduo que se desloca só se verificou quando o homem
se tornou sedentário, conduzindo a noção de territorialidade e de fronteira. A partir daí
passou a chamar-se hóspede, viandante, viajante ou forasteiro.
Estas expressões mantiveram-se durante séculos para designar qualquer pessoa que se
deslocasse, com objectivos pacíficos, independentemente da razão porque o fazia. Só
quando as deslocações das pessoas por motivos de prazer, de cultura ou de repouso,
alcançaram carácter de regularidade, dando origem a actividades económicas, é que se
passou a haver necessidade de as designar por uma expressão própria.
Não se conhece o momento exacto do aparecimento da palavra mas é geralmente aceite
que tem origem nas viagens que os ingleses se habituaram a realizar no continente
europeu, para complemento da sua educação, sobretudo a partir de finais do século XVII,
durante as viagens que realizavam a GrandTour (Boyer 2000). Aqueles que participavam
nestas viagens passaram a ser conhecidos por *turistas* (tourists) e a actividade a que
deram origem passou a designar-se por turismo (tourism). Alguns autores identificam o
ano de 1760 (Fuster, 1967) como aquele em que a palavra tour aparece documentalmente
mas é a partir da publicação, em 1838, das Mémoires d únTouriste de Stendhal que se
generaliza a expressão turista (tourist).
Inicialmente a palavra turista era utilizada exclusivamente para designar aqueles que
viajavam por mero prazer, ou para aumentar os seus conhecimentos, com exclusão de
todas as pessoas que se deslocavam por um motivo diferente: profissional, de saúde ou
religioso. A própria natureza da viagem turística identifica-se com o desejo de conhecer as
17
particularidades e a maneira de viver de outros povos, as suas tradições, o exotismo, mas
também a descoberta de novas paisagens, da natureza e do pitoresco ou do carácter
histórico dos aglomerados urbanos: aldeias, vilas e cidades.
A medida, porém, que as viagens se foram tornando mais fáceis e a elas tiveram acesso
camadas cada vez mais vastas da população foram-se alargando os motivos pelos quais as
pessoas viajavam e, na actualidade, torna-se impossível separar as pessoas que viajam por
puro prazer daquelas que o fazem por outros motivos
De acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre o Turismo e as Viagens
Internacionais em Roma (1963) esta definição passou a compreender dois grupos de
visitantes:
Turistas, isto é, os visitantes que permanecem pelo menos 24 horas no país visitado e
cujos motivos de viagem podem ser agrupados em:
a) Lazer, repouso, férias, saúde, estudo, religião e desporto.
b) Negócios, famílias, missões, reuniões.
Excursionistas, isto é, os visitantes temporários que permanecem menos de 24 horas no
país visitado (incluindo viajantes em cruzeiros).
Em conformidade com esta definição o termo visitante, bem como os seus derivados
turista e excursionista, eram reservados exclusivamente às deslocações internacionais.
Nesta visão só era considerado visitante e, consequentemente, turista, quem se deslocasse
ao estrangeiro e o turismo identificava-se com os movimentos internacionais.
A concepção que identificava o turismo com as deslocações internacionais prevaleceu
durante muito tempo e ainda hoje erradamente, se mantém em vastos sectores da opinião
pública reduzindo a importância do turismo apenas à sua dimensão internacional quando
esta já não é mais importante e, em muitos casos, nem sequer é a que produz maiores
rendimentos económicos e sociais.
18
De acordo com a OMT – (Organização Mundial do Turismo) (1994) o termo
“visitante”mantêm-se como conceito básico de todo sistema estatístico do turismo do qual
derivam os restantes conceitos. Com efeito, de acordo com a última definição adoptada
pela ONU (Organização das Nações Unidas) (1993), por recomendação da OMT, passou-
se a ter os seguintes conceitos:
1. Visitante é toda a pessoa que se desloca a um local situado fora do seu
ambiente habitual durante um período inferior a 12 meses consecutivos e cujo
motivo principal da visita é outro que não seja o de exercer uma actividade
remunerada no local visitado.
2. Turista é todo o visitante que passa pelo menos uma noite num
estabelecimento de alojamento colectivo ou um alojamento privado no local
visitado.
3. Visitante do dia (same-day-visitor), em substituição do termo excursionista é
todo o visitante que não passa a noite no local visitado.
Sempre que uma pessoa se desloca para um local diferente daquele onde reside para aí se
consagrar a uma actividade remunerada ou para acompanhar ou se juntar a outrem que aí
exerce essa actividade, ficando a cargo desta, é considerado como emigrante não podendo
ser incluído na categoria dos visitantes. Os estudantes e pessoas que se deslocam a um país
estrangeiro ou dentro do próprio país mas que custeiam as suas despesas exercendo uma
actividade no local visitado também não são consideradas turistas.
19
2.2 Conceito de Turismo
Tal como o conceito de turista, também o conceito de turismo sofreu varias alterações ao
longo dos tempos. Contudo foram os professores Walter Hunziker e Kurt Krapf que
estabeleceram uma definição mais elaborada em 1942, definindo o turismo como «o
conjunto das relações e fenómenos originados pela deslocação e permanência de pessoas
fora do seu local habitual de residência, desde que tais deslocações e permanência não
sejam utilizadas para o exercício de uma actividade lucrativa».
Em 1982, Mathienson e Wall apresentam uma definição mais conceptual considerando o
turismo como «movimento temporário de pessoas para fora dos seus locais normais de
trabalho e de residência, as actividades desenvolvidas durante a sua permanência nesses
destinos e as facilidades criadas para satisfazer as suas necessidades.»
Tendo presente as diversas definições e perspectivas existentes sobre o conceito de
Turismo, optou-se pela definição amplamente difundida pela OMT, segundo a qual
Turismo representa as actividades de pessoas que viajam para lugares fora do seu ambiente
habitual, por não mais do que um ano consecutivo, por motivos de lazer, negócios ou
outros não relacionados com o exercício de uma actividade remunerada no local visitado.
Para haver turismo tem que haver deslocação, mas nem toda a viagem é turismo, sendo
usados três critérios, simultaneamente, para que se possa caracterizar uma viagem como
turismo:
– Deslocação: para fora do ambiente habitual;
– Motivo: a viagem deve ocorrer com qualquer finalidade que não seja a remuneração a
partir do local visitado;
– Duração: apenas uma duração máxima é mencionado, não a mínima, o que significa que
não necessita de haver pernoita.
20
Para além destes critérios mais objectivos, o turismo é um fenómeno multifacetado, um
verdadeiro fenómeno social total, com múltiplas dimensões – social, económica, histórica,
cultural, psicológica, ambiental – que importa considerar.
Do ponto de vista histórico, o acto de viajar está presente desde os primórdios da
humanidade, por motivos de sobrevivência, comerciais, expansionistas, religiosos, ou pelo
simples desejo de conhecer novos povos e culturas. As primeiras formas de turismo
moderno situam-se em meados do século XIX, nomeadamente o turismo de montanha,
balnear, o termalismo, considerando-se Thomas Cook o primeiro agente de viagens do
mundo. As capacidades de alojamento, os meios de transporte e os equipamentos turísticos
tiveram um crescimento exponencial, seguindo a procura de uma clientela cada vez mais
numerosa e diversificada. Laurent sistematiza um conjunto de causas que estão na origem
do turismo de massas: o aumento da longevidade, a descida da idade de reforma, a redução
da duração do trabalho, o aumento dos tempos livres, a melhoria do nível de vida, a
explosão da publicidade, mas também a necessidade de evasão e de compensação dos
constrangimentos profissionais e privados da civilização industrial ocidental (Laurent,
2003: 7).
Do ponto de vista da Ciência Económica, o turismo surge como uma actividade económica
ou um ramo de actividades, cujo mercado resulta do funcionamento das forças da oferta e
da procura turísticas. O bem turístico engloba o produto turístico – produzido
exclusivamente no âmbito da indústria turística mediante o recurso a uma tecnologia
própria – e o serviço turístico – produzido em qualquer sector económico, mas só
adquirindo o estatuto de serviço turístico no momento em que o acto de consumo é
perpetrado por um turista (Matias, 2007: 31). Entre estes destacam-se os serviços de
transporte, os serviços de alojamento e hotelaria, os serviços de distribuição de viagens
21
(operadores turísticos, agências de viagens e outros intermediários), entre outros serviços e
produtos associados às novas e alternativas formas de turismo (WTO, 1999).
Laurent aponta quatro características que fazem do turismo um sector tão específico, ao
mesmo tempo que o colocam em relação com os processos de desenvolvimento (2003:14):
a explosão da oferta turística é produto do marketing e de uma evolução cultural favorável
ao lazer nos países ricos e, dado o carácter não vital do produto turístico, pode ficar em
sobre-abundância logo que surjam dificuldades junto dos consumidores; os potenciais
compradores dispõem de uma oferta planetária de produtos e de destinos turísticos cuja
concorrência é global e em permanente renovação; em relação às transacções económicas
habituais, o turismo apresenta a particularidade de a procura se deslocar em direcção à
oferta, já que o produto turístico não é um bem móvel; o cliente não pode ver o produto
antes da decisão de compra, pelo que se impõe o desenvolvimento de elaboradas
estratégias de comunicação e a implantação de um marketing eficaz para conquistar a sua
decisão.
Do ponto de vista sociológico, o turismo é um campo muito rico, embora ainda pouco
explorado. No prefácio do livro “The Sociology of Tourism” (Apostolopouloset al, 1991) é
referido que, devido à escassa utilização de teorias e abordagens metodológicas mais
sofisticadas, a Sociologia do Turismo, enquanto especialidade sociológica formalizada,
está ainda para ser reconhecida no interior do campo da Sociologia. Ainda assim,
encontramos nesta obra um trabalho pioneiro de sistematização da análise sociológica do
fenómeno turístico na sua relação com temas como o indivíduo, género, classe,
dependência, desenvolvimento, instituições sociais, mudança social, mercantilização, entre
outros. Cohen (1991: 51) considera quatro categorias principais da investigação
sociológica sobre Turismo o turista; as relações entre turistas e residentes; a estrutura e
funcionamento do sistema turístico; as consequências do turismo. Por sua vez, Dann e
22
Cohen (1991), considerando que ainda não existe nenhuma perspectiva sociológica
universalmente aceite, analisam diferentes teorias sociológicas e sua aplicação ao turismo,
desde as perspectivas mais micro às mais abrangentes de carácter macro-social. Para os
autores, dada a complexidade do fenómeno, não pode haver uma única Sociologia do
Turismo, defendendo, por isso, o ecletismo na análise, em vez de se limitarem a uma linha
teórica específica. Neste sentido, é necessário considerar uma diversidade de contributos
que procuram compreender sociologicamente diferentes aspectos do turismo, partindo de
diferentes perspectivas teóricas. Os autores concluem ainda que a Sociologia por si só
fornece apenas uma interpretação parcial do fenómeno multifacetado que é o turismo. Daí
a necessidade de combinar os contributos da Sociologia com os de outras ciências sociais.
Também Urry tem-se debruçado sobre o turismo, incidindo a sua análise no olhar do
turista e como este se demarca do “outro” (1995), nos destinos enquanto locais de consumo
(1997) e no turismo enquanto uma cultura ou um estilo de vida (2002).
Finalmente, e sem sermos exaustivos, do ponto de vista da Antropologia,
MacCannell(1976) é um autor pioneiro e de referência na abordagem ao Turismo,
explicando o fenómeno como uma busca por uma autenticidade perdida, numa crítica à
civilização ocidental. Numa outra abordagem, Beek (2007) considera que o turismo gera
uma visão do outro consistente com a visão do self, enquanto, do outro lado, o turista é
percebido de formas diversas dependendo dos processos de definição da identidade
colectiva de quem é visitado.
A internacionalização do turismo significa que todos os objectos potenciais à
contemplação do turista podem ser localizados numa escala e ser comparados uns com os
outros. Significa também que não podemos explicar os padrões turísticos numa sociedade
em particular sem analisar o desenvolvimento ocorrido noutros países (Urry, 1991b: 200).
23
As estatísticas disponibilizadas pela OMT enfatizam a importância económica do turismo a
nível global, considerando que o seu crescimento contínuo e a sua diversificação fazem do
sector um dos maiores e mais rápidos motores de crescimento económicos em todo o
mundo. O número de chegadas internacionais mostra uma evolução de 25 milhões de
chegadas internacionais em 1950 para um valor aproximado de 903 milhões em 2007,
correspondendo a uma taxa média de crescimento anual superior a 6%. As receitas totais
geradas por estas chegadas (receitas do turismo internacional e transporte de passageiros)
cresceram a um ritmo semelhante, ultrapassando o crescimento da economia mundial,
superando 1 trilião de dólares em 2007, ou seja, quase 3 biliões de dólares por dia (WTO,
2008).
Gráfico 1- Evolução das chegadas de turistas internacionais no mundo
24
Regionalmente, entre 1950 e 2005 o desenvolvimento turístico foi particularmente forte na
Ásia e no Pacífico (média de 13% por ano), no Médio Oriente (10%) e até mesmo em
África (8%). Na América (5%) e Europa (6%), cresceu a um ritmo mais lento e
ligeiramente abaixo da média mundial, mas, ainda assim, foram as principais regiões
turísticas, representando uma quota de mercado conjunta de mais de 95% em 1950 e 76%
em 2000. As receitas do turismo internacional representaram, em 2003, cerca de 6% das
exportações mundiais de bens e serviços e, se considerarmos apenas as exportações de
serviços, a quota das exportações do turismo aumenta para quase 30%.
Com o surgimento de novos destinos e a expansão do investimento no sector, o turismo
tornou-se uma das principais categorias do comércio internacional. Hoje, o turismo
internacional é o quarto sector de exportação que gera mais rendimentos, depois dos
combustíveis, dos produtos químicos e do sector automóvel. Para muitos países em
desenvolvimento, tornou-se numa das principais fontes de rendimento e exportação,
gerando a criação de emprego e oportunidades para o desenvolvimento (WTO, 2008).
Entretanto, os anos de 2008 e 2009 são marcados por uma conjuntura de crise económica e
recessão a nível mundial que se reflectiu sobre o sector do turismo, com uma forte quebra
no crescimento das chegadas de turistas internacionais, atingindo valores negativos em
algumas regiões, de acordo com os últimos dados da OMT (WTO, 2009).
25
2.3 O Turismo em Cabo Verde
Cabo Verde é um pequeno arquipélago formado por 10 ilhas (Santo Antão, São Vicente,
Santa Luzia, São Nicolau, Sal, Boavista, Maio, Santiago, Fogo e Brava) e alguns ilhéus,
localizado no Oceano Atlântico, a 500 milhas da costa do Senegal, e a 4hs de voo de
Portugal. Descoberto em 1462 por navegadores portugueses a caminho das Índias, foi, nos
primeiros séculos depois do descobrimento, um dos mais importantes entrepostos no
comércio de escravos africanos, tendo sido aqui fundada a primeira cidade pelos europeus
nesta região da África (Ribeira Grande de Santiago, hoje chamada Cidade Velha), cujas
ruínas constituem hoje objecto de estudo e investigação e atractivo turístico importante na
ilha de Santiago.
O país tem um clima do tipo quente, subtropical seco, com uma temperatura média anual
de 25º, características que conferem às ilhas – juntamente com a sua localização e a origem
vulcânica, uma identidade geofísica rica, diversa e com acentuados contrastes
paisagísticos: relevo acidentado e caprichoso e áreas completamente planas; paisagens
verdejantes e paisagens áridas; extensas praias e encostas escarpadas; paisagens urbanas e
cosmopolitas e paisagens rurais.
Estas condições naturais específicas, a par de uma cultura marcante e diversificada e de
uma história rica, constituem um dos mais importantes atractivos do país no que diz
respeito à sua competitividade como destino turístico, não obstante a sua fragilidade em
termos de equilíbrio ambiental, que requer uma abordagem cuidadosa no quadro do
desenvolvimento da actividade turística.
Com uma superfície de 4.033km2, alberga um total aproximado de 500 mil habitantes
(dados do INE, 2008), concentrados sobretudo nas ilhas de Santiago (282,7 mil), São
Vicente (76 mil), Santo Antão (48 mil) e Fogo (37 mil). De destacar, entretanto, o forte
ritmo de crescimento da população nas ilhas do Sal e Boavista, sobretudo estimulado pelo
26
crescimento do turismo nessas ilhas. A estrutura da população cabo-verdiana é marcada
pela juventude (em 2008, 24% da população tinha menos de 15 anos e 59% tinha de 15 a
64 anos) e por agregados familiares numerosos (em média, 4,9 pessoas por família). O país
regista igualmente um dos mais elevados indicadores de desenvolvimento social da África
Subsaariana (IDHS de 0,705 em 2008), com 83% da população acima de 15 anos
alfabetizada e esperança de vida de 71,3 anos.
Em termos de organização administrativa, Cabo Verde divide-se actualmente em 22
concelhos, que se subdividem em freguesias e estas em povoados ou bairros. A Cidade da
Praia é a Capital do país. Existem, no entanto, outras 5 cidades: Mindelo (na Ilha de São
Vicente), São Filipe (na Ilha do Fogo), Assomada (na Ilha de Santiago), Porto Novo (na
Ilha de Santo Antão) e Ribeira Grande(antiga Cidade Velha, na Ilha de Santiago).1
Pode-se dizer que o turismo em Cabo Verde teve o seu início ainda na década de 60 do
século passado, após a construção do aeroporto internacional na ilha do Sal. A imobiliária
turística arranca igualmente na ilha do Sal, com a actuação de investidores sobretudo
italianos (entre os quais os fundadores do actual Grupo Stefaninna), e também de
investidores nacionais, que em 1991 fundam a empresa Turim para a construção de um
aldeamento na baía da Murdeira.
No entanto, o crescimento do sector turístico como actividade económica relevante no
processo de desenvolvimento de Cabo Verde é bastante recente (anos 90 do século
passado), impulsionado por diversos factores onde podemos destacar a crescente
visibilidade conferida pelo fenómeno Cesária Évora, a “descoberta” das ilhas por
investidores do sector, primeiro, portugueses e italianos, seguida depois por espanhóis e
1Dados obtidos através do Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Turismo em Cabo Verde 2010/2013
p.27
27
ingleses, a própria assumpção pelos sucessivos governos desde então, do turismo como
uma das principais alavancas da economia cabo-verdiana.
Nos últimos 8 anos, o número de turistas em Cabo Verde cresceu a uma média de 11,4%
ao ano - taxas superiores ao crescimento do turismo mundial – tendo passado de 145.000
turistas em 2000 para 333.354 em 2008. No mesmo período, as dormidas aumentaram de
684,7 mil para 1,8 milhões, um crescimento anual médio de 14,5% no período em
referência.
Em 2008, não obstante os efeitos negativos da crise sobre o turismo mundial, Cabo Verde
registou um aumento de 7% no fluxo de turistas em relação ao ano anterior, um
crescimento, entretanto, inferior à média registada nos últimos anos. Por seu lado, o
número de dormidas aumentou 27% em relação a 2007, como resultado do aumento da
estadia média de 4,3 para 5,2 dias em 2008.
Contudo, apesar da diversidade em termos de produtos turísticos que Cabo Verde
apresenta, nem todas as ilhas se têm beneficiado desta dinâmica. De facto, constata-se que
em 2008 94,7% do fluxo de turismo concentra-se em 4 ilhas, Sal (57%), Santiago (20,1%),
Boavista (9,9%) e São Vicente (7,6%). De realçar o crescimento do fluxo para a ilha da
Boavista, que aumentou 4,9 pontos percentuais em relação ao ano anterior, fruto da
abertura do aeroporto internacional na ilha em Novembro de 2007.
Tabela 1- Evolução de hóspedes e dormidas 2000-2008
28
Tal desequilíbrio resulta, sobretudo, das dificuldades nas ligações aéreas e marítimas entre
as ilhas (insuficiência de ligações, preços elevados, desarticulação entre horários com
impacto no tempo morto gasto em viagens, etc.), da insuficiência de infra-estruturas
turísticas em algumas das ilhas e da deficiente promoção de todas as ilhas de forma
integrada e complementar.2
No ano de 2012, a hotelaria registou cerca de 534 mil hóspedes, correspondendo a um
acréscimo de 12,3% face ao ano de 2011. No mesmo período, as dormidas cresceram
17,9%. O Reino Unido foi o principal país de proveniência de turistas. Os turistas do Reino
Unido foram os que permaneceram mais tempo em Cabo Verde, com uma estadia média
de 9,1 noites. A ilha da Boa Vista foi a ilha mais procurada pelos turistas, representando
cerca de 38,1% das entradas nos estabelecimentos hoteleiros.
Hóspedes e Dormidas
No período de Janeiro a Dezembro de 2012 os estabelecimentos hoteleiros registaram
cerca de 534 mil hóspedes e 3,3 milhões de dormidas. Em termos absolutos representaram
58.583 entradas e 506.713 dormidas à mais do que os valores registados em 2011.
2Dados obtidos através do Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Turismo em Cabo Verde 2010/2013
p.50
Tabela 2 - Evolução dos hóspedes e das dormidas segundo ano, 2008-2012
29
A análise por tipo de estabelecimentos, revela que os hotéis continuam sendo os
estabelecimentos hoteleiros mais procurados, representando 85,0% do total das entradas.
Seguem-se as pensões e as residenciais, com cerca de 5,2% e 4,8%, respectivamente.
Relativamente às dormidas, os hotéis representam 91,8%, os caldeamentos turísticos 2,8%
e as residenciais 2,2%.
Gráfico 2 - Hóspedes e Dormidas (%) segundo tipo de estabelecimento, 201
Tabela 3- Hospedes segundo o tipo de estabelecimento, por pais de residência habitual
dos hóspedes, 2012
Fonte INE
30
A Ilha da Boa Vista, a semelhança do ano anterior, continua a ter maior acolhimento, com
38,1% do total das entradas, seguido da ilha do Sal, com 35,2% e Santiago com 12,9%. Em
relação às dormidas, a ordem é a mesma: Boavista com 47,4%, Sal com 42,2% e Santiago,
com 4,4%.
Fonte INE
Gráfico 3- Hóspedes e Dormidas (%) segundo ilhas, 2012
Tabela 4- Hóspedes segundo a Ilha, por pais de residência dos hóspedes, 2012
31
A maioria dos turistas provenientes do Reino Unido preferiu como destinos as ilhas da
Boa Vista e Sal representando, respectivamente 63,3% e 36,2% das dormidas e escolheram
como local de acolhimento os hotéis, 99,7%.
As dormidas dos residentes na Alemanha distribuíram-se principalmente pelas Ilhas da
Boavista (48,5%) e Sal (46,9%). Os hotéis foram os tipos dos estabelecimentos mais
procurados pelos Alemães, representando cerca de 92,4%.
Os visitantes provenientes de Portugal escolheram como destinos principais as ilhas do
Sal (40,5%), Boa Vista (40,3%) e Santiago (14,3%). Preferiram também, os hotéis como o
principal meio de alojamento, representando 92,8%.
Gráfico 4- Hospedes e Dormidas(%) por pais de residência dos hóspedes, 2012
32
Tabela 5 - Dormidas segundo o tipo de estabelecimento, por pais de residência dos hóspedes,
2012
33
No ano em apreço, em média, a taxa de ocupação-cama, a nível geral, foi de 57%,
ligeiramente inferior à registada em 2011 (58%). As ilhas da Boa Vista e do Sal tiveram as
maiores taxas de ocupação – cama com 82% e 57%, respectivamente.
Os hotéis foram os estabelecimentos hoteleiros com maior taxa de ocupação – cama, 66%.
Seguem-se-lhes os hotéis-apartamentos e os aldeamentos turísticos, ambos com 23%.
Tabela 6 –Dormidas segundo Ilhas por pais de residência dos hóspedes, 2012
34
Os dados apurados pelo INE, mostram também que os visitantes provenientes do Reino
Unido foram os que tiveram maior permanência média em Cabo Verde no ano em análise
(9,1 noites). A seguir estão os provenientes da Alemanha (7,2 noites) e da Bélgica e
Holanda com 7,0 noites. Os Cabo-verdianos residentes permaneceram, em média, 2,7
noites nos estabelecimentos hoteleiros durante o ano 2012.3
3Todos os dados referentes as estatísticas do turismo no período de 2008 á 2012 foram obtidos através da
Folha de Informação Rápida do INE Estatísticas do Turismo 2012 - Movimentação de Hóspedes (p.7, 14)
Gráfico 5 –Estadia média (noites) segundo o tipo de estabelecimento,por pais de
residência dos hóspedes, 2012
35
2.4 Potencialidade e Atractivos Turísticos
As características naturais e socio-culturais das ilhas constituem, como referimos atrás,
uma das suas forças, nomeadamente por constituírem fortes atractivos turísticos,
associados à imagem de um ambiente tropical, de praias de águas quentes e límpidas,
gentes calorosas e múltiplas expressões culturais.
Enquanto destino cultural, encontramos em Cabo Verde inúmeras expressões que
constituem elementos de atracção turística como a música, a dança, o teatro, as festividades
locais, os locais e edifícios históricos, a gastronomia, a arte e o artesanato, as
manifestações religiosas, as próprias actividades e modos de vida dos habitantes. Nestas
várias manifestações culturais está presente o sincretismo entre as raízes africanas e
europeias.
Começando pelo artesanato cabo-verdiano, destaca-se a cestaria em caniço, a tecelagem
em algodão, a tapeçaria, a cerâmica e os trabalhos em casca de côco, batik, conchas e
bonecas de trapos, sendo o pano di terra4o produto de maior referência, com um grande
valor para a história e cultura cabo-verdiana. As datas festivas e os festivais constituem
outro atractivo turístico de destaque, sendo a principal festa cabo-verdiana o Carnaval,
festejado em todas as ilhas, com destaque para o de Mindelo. Existem ainda várias festas
regionais, sobretudo de carácter religioso, associadas aos santos populares de cada região,
como o Kola San Jon da ilha de Santo Antão, em que à tradicional missa e procissão se
acrescenta a música e a dança. Em termos de cultura musical, Cabo Verde é conhecido
4A história da nação cabo-verdiana está associada ao “pano di terra”. No passado, Cabo Verde, no sentido de
alimentar as transacções do comércio da escravatura, desenvolveu uma verdadeira indústria familiar de
panaria, a ponto de o historiador António Carreira afirmar: “Pomos sérias dúvidas se o tráfico de escravos
chegaria a tomar as proporções que tomou, sem o algodão e sem os panos de vestir, estes sobretudo depois de
introduzida a padronagem com desenhos em relevo. O algodão e o pano foram incontroversamente uma das
mais importantes mercadorias usadas no tráfico” (www.areasprotegidas.cv).
36
sobretudo pelas suas mornas e coladeiras, mas também por outros estilos musicais mais
ritmados e dançáveis, como o funaná ou o batuque.
Alguns festivais são já uma referência, como é o caso do festival de Música da Baía das
Gatas e o Festival de Teatro Mindelact, em São Vicente; o Festival de Gamboa e o recém-
criado Kriol Jazz Festival, em Santiago. Na gastronomia, destaque para a cachupa, na
fusão entre as influências africanas e portuguesas, e, nos produtos agro-pecuários, o queijo,
os doces, os vinhos, licores e o famoso grogue5. Em termos de locais históricos destaca-se,
na ilha de Santiago, a Cidade Velha, desde 2009 classificada pela UNESCO (Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como património da
Humanidade, entre muitos outros locais de elevado valor histórico e artístico.
Os atractivos naturais, para além do sol e praia, são igualmente muito diversos, desde a
paisagem lunar do vulcão da ilha do Fogo, à zona florestal do Planalto Leste, em Santo
Antão, a observação de tartarugas na Boavista, ou as salinas do Maio e do Sal, muitos dos
quais em contexto de áreas protegidas amplamente implantadas em todo o arquipélago.
A este propósito, do ponto de vista de actividades desportivas e de lazer, Cabo Verde está
sobretudo associado às actividades náuticas, como a pesca, o mergulho, a observação de
corais, o windsurf, bodyboard ou surf, mas existem também muitas zonas montanhosas,
propícias ao montanhismo e trekking6.
Cabo Verde goza ainda de aspectos importantes como excelentes condições e qualidade
ambiental e um equilíbrio da relação do homem com a natureza; o património e tradição
sociocultural; a identidade e estilos de vida distintos do das sociedades industriais e
urbanas – função de reserva (ecológica, patrimonial, cultural) face ao mundo industrial; a
morabeza; a segurança, a paz e a tranquilidade.
5Grogue é uma aguardente de cana-de-açúcar fabricada por métodos artesanais. O mais conhecido e
apreciado é o da Ilha de Santo Antão 6Caminhadas de longa distância, geralmente em montanhas ou florestas (Cambridge Dictionary)
37
2.5 Fragilidades e Constrangimentos
Apesar do grande potencial turístico de Cabo Verde, o seu desenvolvimento é dificultado
pela presença de um conjunto de vulnerabilidades e constrangimentos, tais como:
– Carências ao nível das infra-estruturas básicas em algumas ilhas (condições de
habitabilidade, qualidade da água, saneamento, recolha e tratamento de resíduos, sistema
de saúde e educação, equipamentos de lazer, cultura e desporto);
– Fragilidade dos meios de transporte, comunicações, electricidade e acessibilidades;
– Predominância de situações de pobreza;
– Destino procurado para turismo sexual;
– Pressões imobiliárias e turísticas, com expansão desordenada das áreas urbanas;
– Falta de recursos financeiros para efectuar os investimentos necessários;
– Falta de informação para os turistas, quer no exterior, quer localmente;
– Dificuldade em garantir o abastecimento regular de bens e serviços em algumas ilhas do
País;
– Procura turística interna limitada, ainda assim em crescimento.
Apesar de Cabo Verde dispor de algumas infra-estruturas, consultores externos consideram
que a qualidade dos serviços turísticos – dominado pelo sol e praia – senão for melhorada
poderá comprometer a sustentabilidade do sector a longo prazo; em particular, é urgente a
implantação de sistemas de saneamento e de reciclagem de águas residuais, bem como a
melhoria dos sistemas de recolha de resíduos sólidos.
38
2.6 As Novas Tendências em Turismo
A indústria turística mundial tem enfrentado grandes desafios, tanto a nível local como a
nível global, o que levou a novas preocupações em relação ao desenvolvimento sustentado
e equilíbrio ambiental das zonas onde o desenvolvimento turístico tem maior impacto.
Ao longo dos tempos, o turismo tem sido enaltecido e criticado, por investigadores,
políticos, gestores e pelas próprias comunidades de acolhimento. Por um lado, o turismo é
uma das principais actividades económicas do mundo, com efeitos positivos a diferentes
níveis:
– A nível macroeconómico, contribuindo para o aumento dos rendimentos do Estado,
entrada de divisas, atracção de investimento estrangeiro e estímulo ao investimento em
geral, maior equilíbrio da balança comercial;
– Estímulo de diferentes actividades económicas – de forma directa: alojamentos,
restaurantes, cafés e bares, serviços de lazer e organização de viagens e visitas, serviços
locais (transporte, cabeleireiro, comunicações), produtos e serviços periféricos (tais como
transporte domicílio-destino, compras de preparação para a viagem, feiras e salões); de
forma indirecta: através das cadeias de abastecimento, nomeadamente em sectores como a
agricultura ou a indústria local as pescas e a construção civil;
– Criação de emprego;
– Valorização dos recursos naturais e culturais, criando valor económico e protecção de
recursos que de outra forma não teriam valor para as populações locais;
– Promoção do diálogo intercultural e abertura a outros modelos culturais;
– Melhoria do nível e qualidade de vida;
– Melhoria das infra-estruturas em geral;
– Promoção das artes e artesanato;
39
– Aumento do nível educacional da população local (aprendizagem de novas
competências, línguas e culturas estrangeiras).
Contudo, apesar dos potenciais impactos positivos do turismo sobre os países de
acolhimento, esses impactos geralmente beneficiam apenas uma minoria da população e as
externalidades negativas que acompanham as formas dominantes de turismo (turismo de
massa, capitalista, industrial) são consideráveis:
– Geralmente, há uma excessiva dependência face ao investimento estrangeiro, sobretudo
nos países menos desenvolvidos, com perda de controlo local sobre os recursos;
– É frequente a fuga de divisas, devido ao endividamento externo necessário para fazer
face ao investimento inicial e porque as entradas são penalizadas pelas crescentes
necessidades de produtos e serviços importados;
– Como consequência, as riquezas geradas pelo turismo são desigualmente repartidas, já
que, sendo os territórios de acolhimento do turismo de massa países em vias de
desenvolvimento, estes não controlam os fluxos turísticos, os quais são dominados por
grandes grupos económicos sedeados nos países industrializados (Laurent, 2004: 35);
– Os complexos turísticos constituem-se frequentemente como enclaves, sem articulação
com os outros sectores da economia doméstica, utilizando uma variedade de estratégias
para reter o turista, sem lhe dar a oportunidade de sair desses ambientes, para divertimentos
e consumos fora das suas dependências (Coriolano e Almeida, 2007);
– A excessiva dependência face ao sector turístico é perigosa, dadas as flutuações, muitas
vezes imprevisíveis, a que o sector está sujeito (nomeadamente por motivos como
epidemias, terrorismo, catástrofes naturais, instabilidade política, oscilação das taxas de
câmbio, acontecimentos mediáticos);
40
– Grande parte do emprego no turismo é precária, desqualificada, mal-remunerado,sazonal,
sendo frequentes os atentados aos direitos dos trabalhadores, bem como o desenvolvimento
de redes de prostituição e trabalho infantil;
– O tecido social dos territórios de acolhimento é debilitado dada a repartição desigual das
vantagens inerentes ao turismo, fonte de disparidades sociais agravadas pelas diferenças
culturais e de poder de compra, bem como com a introdução de hábitos de consumo não
sustentáveis;
– O contraste entre a riqueza dos turistas e a pobreza das comunidades locais deixa-as mais
vulneráveis à violência simbólica (Amblés, 2002) e à exploração, podendo verificar-se um
reforço de padrões neocoloniais (Brohman, 1996);
– Há uma tendência para a descaracterização cultural, com perda de identidade, alienação
cultural e “folclorização” das culturas, em que as tradições locais se tornam
comercializáveis e perdem a sua autenticidade;
– O aumento do número de turistas perturba as actividades da comunidade e entra em
competição pelos locais de lazer e outros serviços e recursos;
– A utilização da área acarreta degradação ambiental – associada à construção de infra-
estruturas, demasiada exploração dos recursos naturais, utilização de transportes com
emissões de dióxido de carbono, pressão sobre os ecossistemas, poluição, distúrbio dos
habitats naturais, artificialização das paisagens, conflitos no uso de recursos limitados
como água e energia;
– A pressão turística estimula ainda a especulação imobiliária e os conflitos pela
propriedade fundiária;
– Geram-se fortes desequilíbrios regionais dada a concentração do turismo apenas em
algumas zonas mais atractivas.
41
Para Alves de Oliveira (2008), o turismo que ele designa de capitalista assume-se como
uma nova modalidade do processo de acumulação capitalista, onde uma minoria se
apropria dos espaços e dos recursos neles contidos, apresentando-os como atractivos
turísticos, transformados em objectos de consumo. Deste modo, regiões litorais
originalmente ocupadas por comunidades tradicionais, grupos indígenas e pescadores, são
expropriadas para dar lugar às segundas residências, aos grandes complexos hoteleiros, às
cadeias internacionais, aos parques temáticos. O espaço do residente e os espaços dos
turistas, o espaço esquecido do cidadão local e o espaço elitizado e luxuoso dos turistas,
entram, assim, em conflito. O autor chama a atenção para o papel determinante do Estado
nesse processo, já que este frequentemente se posiciona a favor dos empresários do
turismo, dos proprietários de terra, dos agentes imobiliários.
Estas críticas e contradições estão na origem de uma nova consciência em relação aos
impactos negativos do turismo convencional e de massas, evidenciando a necessidade de
um turismo diferente. Tal preocupação está presente em diversos organismos
internacionais, tais como a OMT através da pioneira Conferência de Manila (1980), do
Código Ético Mundial para o Turismo (2001) e do programa STEP – Sustainable Tourism
Eliminating Poverty (2002); a UNCTAD (United Nations Conference on Trade and
Development) através de diversas conferências internacionais; a OIT com o seu contributo
para a promoção do Turismo Comunitário, através da Redturs (Rede de Turismo
Comunitário Latino-Americana);
Deste modo, se fundamenta a evolução recente do sector turístico que, segundo Laurent
(2003), tem seguido por duas direcções:
– Uma melhoria qualitativa de uma parte das prestações do turismo de massa,
nomeadamente ao nível da protecção do ambiente e recursos naturais e da luta contra a
42
poluição no sector hoteleiro, do lazer e, marginalmente, dos transportes, numa perspectiva
de responsabilidade social;
– A diversificação de uma oferta alternativa, de nicho, diferenciada, conforme se apresenta
a seguir.
2.7 Turismo Social, Turismo Rural, Turismo Responsável, Ecoturismo,
Turismo Justo e Turismo Comunitário.
Na aproximação ao conceito e às práticas de Turismo Comunitário, identifica-se um
conjunto de formas alternativas de turismo que se têm vindo a afirmar em oposição às
práticas dominantes do sector, surgindo com as mais diversas designações – Turismo
Responsável, Turismo Rural, Turismo Social, Ecoturismo, Turismo Justo e Turismo
Comunitário.
Apresenta-se de seguida uma breve definição de algumas das terminologias mais
utilizadas.
Começando pelo Turismo Social, não sendo uma forma de turismo alternativo, é
importante contemplá-la dada a sua frequente confusão com Turismo Comunitário. O
Bureau Internacional de Tourisme Social define-o como o conjunto de relações e
fenómenos resultantes da participação no turismo e, em particular, da participação de
estratos sociais de baixos rendimentos. Esta participação é possível, ou facilitada, por
medidas de natureza social bem definidas (BITS, 2003). Portanto, o Turismo Social visa
promover o acesso ao turismo a todos os grupos populacionais, dando especial atenção a
segmentos desfavorecidos, e referindo-se nomeadamente a medidas aplicadas pelos
governos para encorajar as férias – um direito fundamental dos trabalhadores na maioria
dos países. O seu objectivo é favorecer o acesso ao turismo para o máximo de pessoas, o
que, segundo Poos(2006), tenderá a evoluir em direcção a formas de Turismo Solidário.
43
No Turismo Rural, o viajante tende a estabelecer uma relação estreita com os habitantes a
fim de facilitar as trocas e compreensão mútua, constituindo o turismo uma fonte
complementar de rendimentos para as explorações agrícolas ou zonas rurais. Com origem
nos anos 60-70, pode ser visto como um antecessor das Novas Formas de Turismo, já que
constitui uma alternativa às grandes concentrações turísticas.
O Ecoturismo é definido como viagem responsável na natureza que conserva o ambiente e
contribui para o bem-estar das populações locais (TIES, 2008). A principal motivação do
turista é observar e apreciar a natureza, bem como as culturas tradicionais que prevalecem
nas zonas naturais.“Ecoturismo é o segmento da actividade turística que utiliza, de forma
sustentável, o património natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação
de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o
bem-estar das populações”. (Marcos Conceituais – MTur)
O Turismo Justo baseia-se nos princípios do comércio justo, enfatizando a justa
remuneração dos prestadores locais, a participação das comunidades de acolhimento, os
processos de decisão democrática e os modos de produção amigos do ambiente (Poos,
2006; Ritimo, 2007). Os seus objectivos são maximizar os benefícios do turismo para os
actores locais, através de parcerias justas e mutuamente benéficas com os parceiros
nacionais e internacionais, e também apoiar os direitos das comunidades indígenas.
A abordagem PPT – Pro PoorTourism(Turismo “Pro-Pobres”) emergiu da pesquisa
britânica sobre meios de vida sustentáveis e em particular dos trabalhos de Harold
Goodwin (1998), estando na origem da criação da Pro PoorTourismPartnership do
programa STEPSustainable Tourism Eliminating Poverty– da OMT. De acordo com a Pro
Poor Tourism Partnership (2008) o PPT é um turismo que resulta num acréscimo de
benefício sem rede para os pobres, frisando que não se trata de um produto ou nicho de
44
mercado, mas antes uma abordagem ao desenvolvimento e gestão do turismo que visa
ampliar os benefícios do sector para os pobres.
O Turismo Responsável coloca a ênfase no viajante, e não na comunidade que ele visita.
No seu cerne está a tomada de consciência de que o viajante é responsável pelo efeito do
turismo sobre a população e o ambiente, sendo que responsabilidade significa aqui uma
atitude de respeito pelos lugares sem danificar nem a comunidade nem o ambiente (ICRT,
2002). Podemos dizer que o Turismo Responsável também é solidário, sendo que essa
solidariedade se expressa sobretudo no estado de espírito com que o turista parte em
viagem.
O Turismo Comunitário é constituído por formas turísticas propostas e geradas pelas
comunidades, as quais se integram de forma harmoniosa nas diversas dinâmicas colectivas
do local de acolhimento. Na medida em que uma comunidade implica, por definição,
indivíduos com algum tipo de responsabilidade colectiva e capacidade de tomar decisões
por órgãos representativos, o Turismo Comunitário implica um acréscimo de solidariedade
e co-gestão (Laurent, 2003).
Em resumo, os vários conceitos e abordagens de turismo alternativo, embora distintos, são
compatíveis e, em parte, sobrepõem-se. Qualquer classificação destes termos será sempre
parcial e incompleta, não existindo uma definição única e generalizada. O essencial é que
em todas as definições apresentadas está presente a ideia de responsabilização e de parceria
ou solidariedade. Segundo Amo (2003), a riqueza de terminologias deriva da multiplicação
destas parcerias, que contribui para dar um novo sentido ao turismo, já não apenas
reduzido ao prazer ou ao ócio casual, mas aberto ao diferente, à procura de novas relações
e à preocupação por um mundo mais justo.
45
2.8 O Turismo Comunitário
As novas tendências da demanda mundial fazem com que o turismo conquiste
constantemente novos espaços e incorpore novos atractivos à sua oferta. Neste cenário,
inúmeros micro-empreendimentos familiares, cooperativos e comunitários enriquecem a
oferta turística nos âmbitos local, nacional e internacional, ao incorporarem “um turismo
com selo próprio”, a partir de uma combinação de atributos singulares e originais
(MALDONADO, 2009).
Segundo a discussão de Beni (2006), para que a prática turística seja bem planeada, é
necessário o envolvimento da comunidade local em todo o processo de desenvolvimento
da actividade. Nesse sentido, as práticas do desenvolvimento endógeno apresentam-se
como fortes instrumentos que devem ser utilizados no planeamento turístico.
De acordo com Beni o planeamento endógeno:
“ [...] visa atender às necessidades e demanda da população local por meio da participação activa da
comunidade envolvida. Mais do que obter ganhos em relação à posição do sistema produtivo local na
divisão nacional ou internacional do trabalho, o objectivo é buscar o bem-estar económico, social e
cultural da comunidade local, o que leva à diferentes caminhos de desenvolvimento, conforme as
características e capacidades de cada economia e sociedades locais.”(Beni,2006, p. 36),
Para Buarque (2002, p. 30), “[...]o desenvolvimento de uma localidade – município, micro-
região, bacia, ou mesmo espaço urbano – deve ter um claro componente endógeno,
principalmente no que se refere ao papel dos actores sociais, mas também em relação às
potencialidades locais” Ou seja, este conceito transforma o território no qual a actividade é
desenvolvida num grande agente de transformação, onde se trabalha evidenciando as
potencialidades locais, promovendo o desenvolvimento sociocultural sustentável e melhor
qualidade de vida paraa comunidade autóctone.
46
Neste limiar, diante deste projecto de gestão do território com base no planeamento de
actividades que possam promover níveis expressivos de desenvolvimento local, surge o
Turismo de Base Comunitária (TBC) como alternativa económica para comunidades que,
por um lado, possuem desvantagens sócio económicas, mas por outro, preocupam-se com a
conservação da biodiversidade e dos aspectos culturais que as compõem.
O TC é caracterizado pela forma de associação em que as comunidades se organizam,
através de arranjos produtivos locais, gerindo o território e as actividades económicas
associadas ao turismo. Ao mesmo tempo, Maldonado (2009) fala da importância de se
pensar no património comunitário como fonte de atracção e instrumento de
desenvolvimento, ao definir que:
“O património comunitário é formado por um conjunto de valores e crenças, conhecimentos e
práticas, técnicas e habilidades, instrumentos e artefactos, lugares e representações, terras e territórios,
assim como todos os tipos de manifestações tangíveis e intangíveis existentes em um povo. Através
disso, se expressam seu modo de vida e organização social, sua identidade cultural e suas relações
com a natureza” (MALDONADO, 2009, p. 29).
Portanto, o turismo comunitário possibilita o contacto do turista com o património
comunitário e o modo de vida das comunidades autóctones. Dá oportunidade ainda, que
visitantes conscientes - estudantes, professores, pesquisadores e simpatizantes – entrem em
contacto com assuntos relacionados à conservação da natureza (sistemas ecológicos) e, ao
mesmo tempo, a conservação de modos de vida tradicionais (sistemas sociais) (SAMPAIO;
ZECHNER; HENRÍQUEZ, 2008). O TBC pode ser entendido como aquele
“[...]desenvolvido pelos próprios moradores de um lugar que passaram a ser os
articuladores e os construtores da cadeia produtiva, onde a renda e o lucro ficam na
comunidade e contribuem para melhorar a qualidade de vida” (CORIOLANO, 2003 p. 41).
47
Trata-se, assim, de um novo conceito de turismo, o qual a priori não se diferencia
totalmente das demais modalidades, pois também utiliza serviços de hospedagem e
alimentação, bem como a integração de vivências. Contudo, podem ser apresentadas
algumas características que distinguem o turismo comunitário das demais temáticas
abordadas. Uma das diferenças é o entendimento da actividade turística como um
subsistema interligado a outros sistemas como meio ambiente e educação. A segunda
característica é a visão do turismo comunitário como um projecto de desenvolvimento
territorial sistémico por meio da própria comunidade. A terceira característica está ligada a
convivencialidade entre a população local e os visitantes, imbricada em um arranjo sócio
produtivo de base comunitária (SAMPAIO; ZECHNER; HENRÍQUEZ, 2008).
Neste limiar, Sampaio (2005) complementa o conceito de turismo comunitário como um
projecto de comunicação social que favorece as experiências de planeamento para o
desenvolvimento de base local, na qual os residentes se tornam os principais articuladores
da cadeia produtiva, bem como no resgate e conservação de seus modos de vida, os quais
podem ser vivenciados através da actividade turística. Assim, estas comunidades
tradicionais que vivem em espaços rurais podem conservar modos de vida próprios,
manifestados em suas actividades produtivas agrícolas e através de seu artesanato local.
Espera-se que o TBC proporcione às famílias autóctones oportunidades de
desenvolvimento, sem interferir nas particularidades e dinamismo comunitário.
Do ponto de vista cultural, o Turismo de Base Comunitária significa aprendizagem,
conhecimento, encontro de pessoas. Representam-se os valores, signos e símbolos que
favorecem as relações interpessoais e de hospitalidade entre turistas e visitados. Oferece
um local de encontro e convivencialidade, expressando sua essência nas trocas e
intercâmbios culturais.
48
Se contrapondo ao turismo convencional, Coriolano (2006) enfatiza que a ideia do
Turismo de Base Comunitária é mais do que visitar atracções turísticas; procura-se
oferecer aos visitantes a oportunidade de experimentarem a vida local da comunidade
como ela realmente é, fortalecendo a relação entre visitantes e residentes, promovendo um
processo de intercâmbio cultural, trocas de experiências, conhecimentos e saberes.
A partir deste modo de organização comunitária, Coriolano (2003, p. 191) afirma que “[...]
o turista é atraído pela simplicidade, pelas belezas naturais, calmaria e a rusticidade do
lugar”. A autora acrescenta ainda que uma das principais características do turismo
comunitário é a criação de comunicação entre visitantes e visitados, havendo interacção e
respeito mútuo entre turista e morador, as relações são humanizadas, pessoais e singulares,
ao contrário do turismo convencional, onde as relações são impessoais, distantes ou nem
chegam a existir.
O turismo é considerado em âmbito global como uma actividade económica, que gera
crescimento, oportunidades de emprego, rendas e dividas. Contudo, a proposta do TC se
opõe à esse estilo consumista, priorizando a descoberta de experiências com outros modos
de vida, superando a hegemonia da sociedade de mercado, prezando pela relação
harmónica entre turista e comunidade receptora, onde ambos são considerados agentes de
acção socioeconómico e ambiental, repensando as bases de um novo estilo de
desenvolvimento (SAMPAIO, 2005).
Frente a todas as potencialidades apresentadas acima, são inúmeras as vantagens
socioeconómicas e culturais que o Turismo de Base Comunitária pode proporcionar a
todos os agentes económicos envolvidos. Acredita-se, portanto, que na comunidade
envolvida, a actividade turística se caracteriza como um factor que contribuirá para a
melhoria do nível e da qualidade de vida da população, bem como para a prosperidade dos
micro - empreendimentos e economia local.
49
Ainda neste contexto, o TBC aparece como potencializador da conservação dos aspectos
culturais da comunidade autóctone, preservando e resgatando a autenticidade cultural.
Segundo Max-Neef (2008), o elemento fundamental para a vitalidade das comunidades é a
diversidade. Logo, o turismo comunitário pode ser visto como o “meio” para alcançar a
conservação da diversidade dos modos de vida das comunidades e das identidades locais.
Este tipo de turismo pressupõem uma forma construída num modelo mais justo e
equitativo, que leve em conta a sustentabilidade ambiental e que coloque a população local
no centro do planeamento, da implementação e do controle das actividades turísticas,
permitindo a geração de emprego e renda para as populações locais.
Experiências de projectos de turismo solidário e comunitário têm sido desenvolvidos
principalmente no Brasil têm revelado que na prática, as pessoas nos destinos turísticos
podem se beneficiar mais da actividade turística. Estas experiências estão sendo
identificadas e divulgadas de forma activa para trocar experiências afirmativas e contribuir
com o desenvolvimento de estratégias para um turismo equitativo, centrado em pessoas,
sustentável, ecologicamente correcto, e que respeita os direitos das crianças e das
mulheres.
50
O Turismo Comunitário é uma actividade turística que se baseia em uma série de
Princípios.7
1 - Turismo da comunidade. A comunidade deve ser proprietária dos empreendimentos
turísticos e gerir colectivamente a actividade.
2 - Turismo para a comunidade. A comunidade deve ser a principal beneficiária da
actividade turística, que existe para o desenvolvimento e fortalecimento da Associação
Comunitária.
3 - Atracção Principal = Modo de Vida. A principal atracção turística é o modo de vida da
comunidade, ou seja, sua forma de organização, os projectos sociais que faz parte, formas
de mobilização comunitária, tradição cultural e actividades económicas.
4 - Partilha Cultural. As actividades são criadas para proporcionar intercâmbio cultural e
aprendizagem ao visitante. Não se trata de apresentações folclóricas da cultura popular, e
sim de actividades que fazem parte do quotidiano que o turista vai experimentar.
5 - Conservação ambiental. Os roteiros respeitam as normas de conservação da região e
procuram gerar o menor impacto possível no meio ambiente.
6 - Transparência no uso dos recursos. Comunidades e visitantes participam da
distribuição justa dos recursos financeiros.
7 - Parceria Social com Agências de Turismo. Procura envolver todos os elos da cadeia do
turismo no benefício das comunidades.
7Estes Princípios são identificados pela Rede Turisol -Rede Brasileira de Turismo Solidário e Comunitáriono
(Projecto Bagagem)
51
2.9 O Perfil da Demanda
No turismo comunitário a demanda apresenta aos poucos um comportamento que procura
conhecer a cultura, os hábitos da população, a natureza e a história dos locais visitados.
Diante destas tendências de novos padrões, desponta-se um novo segmento de mercado,
com foco nos anseios de uma geração que idealiza ética, a identidade e, principalmente, as
vivências, aproximando-se do que Illich (1976) define como:
“[…]convivencialidade. Estas vivências consistem em viver intensamente a experiência. O turista
deixa de lado o papel de espectador passiva, e entra em cena tornando-se o protagonista, isto é, passa
acontracenar, a ver, sentir e agir no cenário”.“
[…]Deste modo, a motivação e a conduta dos turistas se caracterizam, cada vez mais, pelo
crescimento da selectividade ao escolher o destino, da sensibilidade pelo meio ambiente e cultura
local e pela exigência de qualidade da experiência” (ZAMIGNAN,2009).
Para o turismo e o lazer as diferentes motivações que influenciam a demanda na tomada de
decisão sobre que destino turístico escolher evidenciam que a actividade turística depende
essencialmente da motivação das pessoas e, principalmente, de que suas necessidades
vitais sejam satisfeitas. Krippendorf (2003, p. 47) afirma que:
“[…] o ser humano viaja, sobretudo em função de um desejo de fuga. Na verdade, esta seria a
principal razão de ser do turismo hoje. O universo industrial é percebido como uma prisão que incita a
evasão. E isto porque, na realidade, o mundo do trabalho é feio, o ambiente é desagradável,
uniformizado e envenenado, o ser humano é tomado pela necessidade obsessiva de se liberar, o que torna inevitável o desejo de fuga.”
Coriolano (2003, p. 121) destaca que as motivações para as pessoas viajarem são muitas:
“[…]Algumas ligadas à educação e à cultura, como saber como vivem e trabalham as pessoas de
outros lugares, visitar monumentos, museus e ver peças de arte, conhecer melhor o mundo,
compreender melhor os acontecimentos mundiais, assistir a eventos especiais culturais e artísticos. Por
prazer, assim como para escapar da rotina diária e das obrigações, fazer aventuras, visitar novos
lugares, buscar novas experiências, ter aventuras românticas, por saúde e entretenimento, para
descansar e recuperar-se do trabalho, do stress, praticar desporto, para viajar com a família, com
amigos e parentes, visitar lugares de onde procede a família. […] Uma das maiores motivações na
actualidade vem sendo aproveitar a natureza e assim surgiu o ecoturismo e o eco turista, os hóspedes
da natureza.”
A diversidade de experiências de viagens vem resultando em novos tipos de turistas que
tem uma ampla experiência de viagens, seleccionam mais e melhor seus destinos e a forma
de viajar, valorizam mais os aspectos espirituais e ecológicos da viagem. Procuram o real e
o natural nos destinos, não o alterado; tem mais tempo livre e são mais flexíveis, são
52
espontâneos em suas escolhas. As actividades turísticas formam parte das necessidades
fundamentais e da qualidade de vida desse novo tipo de turista que dedicam mais tempo a
essas actividades.
2.10 O Turismo Comunitário em Cabo Verde
O TC em Cabo Verde ainda não tem grande expressão, mas alguns projectos foram
identificados, como é o caso de Lajedos na ilha de Santo Antão desenvolvido pelo Atelier
Mar, o projecto de Turismo Comunitário na Ribeira de Vinha em São Vicente, que se
encontra ainda na fase de lançamento e um caso de Turismo Comunitário na ilha do Fogo
que não teve sucesso devido a falta de planeamento direccionado a esse tipo de turismo.
2.11 O Desenvolvimento Comunitário
O turismo comunitário também é visto por alguns autores como meio para a inserção de
outras práticas, como o desenvolvimento económico de uma determinada área, como um
meio de interacção e desenvolvimento social, concretização da consciência de preservação
ambiental, cultural e ainda como ferramenta para a sustentabilidade. Porém para o sucesso
do desenvolvimento turístico de base comunitária é necessário ter em atenção diversos
factores determinantes para sua afirmação e não apenas ser desenvolvido a partir da
comunidade em si, pois esta deve estar ciente de seu papel e responsabilidade adquirida
pela prática da actividade turística em seu entorno, pois a mesma planeará estratégias para
a exploração do turismo dentre outras inúmeras responsabilidades como afirma Carvalho
(2007):
53
“[…]O turismo comunitário apresenta-se sendo desenvolvido pela própria comunidade, onde seus
membros passam a ser ao mesmo tempo articuladores e construtores da cadeia produtiva, onde a renda
e o lucro permanecem na comunidade contribuindo para melhoria de qualidade de vida, levando todos
a se sentirem capazes de cooperar e organizar as estratégias do desenvolvimento do turismo. Além de
requerer a participação de toda a comunidade, considera os direitos e deveres individuais e colectivos
elaborando um processo de planeamento participativo. Desenvolvendo assim a gestão participativa, ou
seja, os actores sociais na sua maioria se envolvem com as actividades desenvolvidas no local de
forma directa ou indirecta tendo sempre em vista a melhoria da comunidade e de cada participante,
levando em conta os desejos e as necessidades das pessoas, a cultura local e a valorização do
património natural e cultural.”
Porém como desenvolver a comunidade capaz de exercer o desenvolvimento comunitário?
Pois, são citadas inúmeras vezes as responsabilidades colocadas em mãos da mesma que
devem ser capazes de defender suas ideias.
Segundo Carvalho esta sociedade deve estar madura, composta por indivíduos habilidosos
para a formação sólida de uma comunidade e só então com seu amadurecimento e
normalmente em formações associativas atingir o desenvolvimento comunitário. Porém
como formar indivíduos habilidosos? Ainda segundo Carvalho, é necessário o
desenvolvimento do indivíduo dando-o condições mínimas e recursos básicos para esta
procura, Carvalho (2007):
“[…]Para que ocorra o desenvolvimento, é preciso priorizar a satisfação de algumas necessidades
humanas no que diz respeito à saúde, educação, moradia, lazer, emprego e renda. Esses factores
implicam directamente no processo de desenvolvimento do individuo, uma vez que o mesmo
necessita de auto-independência e habilidades para actuar em grupo, tornando-se protagonista de sua
evolução e consequentemente de sua comunidade, já que a participação é considerada pelos estudiosos
um processo de mobilização social e espaço de construção de cidadania.”
A promoção do turismo comunitário abre espaço para as comunidades, que são levadas à
transformação das mesmas em núcleos receptores do turismo, procurando no mesmo,
ferramentas para o desenvolvimento local, além de se auto beneficiarem com a produção
de produtos e prestação de serviços. Aderem ao associativismo através de cooperativas e
organizações comunitárias.
Porém para que estes requisitos na formação do indivíduo sejam atendidos é necessário
como sempre o apoio governamental, incentivo público e privado, assim como para
viabilizar a formação de comunidades, para que esta seja capaz de gerir o turismo local.
54
Em alguns modelos de desenvolvimento para o sector turístico é evidenciada a importância
de incentivos públicos da participação privada e da população na actividade, sendo a
comunidade trabalhada para a receptividade e também para a preservação de patrimónios
ambientais e culturais gerando a consciencialização da importância do turista e para a
actividade turística, fazendo com que se alcance o sucesso do destino.
No turismo comunitário não é diferente, existe a necessidade de entrelaçamento entre os
sectores, pois o modelo comunitário não exclui a importância do apoio e recursos para que
o modelo de desenvolvimento não seja mais uma utopia deparada à globalização de
economia capitalista, é necessário que a comunidade consciente se organize e procure
apoio para exploração do turismo já que este modelo diferentemente possibilita a
participação activa e directa da comunidade, tornando possível que esta usufrua das
oportunidades geradas pela actividade e não sejam excluídos e servindo de mão de obra
barata para grande empreendedores oportunistas do consumismo.
Dessa forma o turismo comunitário surge como uma possibilidade de preservação de
culturas e oportunidade em busca de uma fatia de mercado como afirma Coriolano (2006):
“[…]Os seus organizadores elaboram críticas ao modelo excludente e tentam produzir
serviçosturísticos de forma associativa, comunitária, juntando esforços, ideias e as poucas condições
financeiras de pessoas que se agrupam para desenvolverem serviços, assim, é realizado de forma
compartilhada. A criatividade, é outro importante componente da elaboração destes arranjos produtivos locais - APLs, pois, diante da carência de capital, de informações e outras mais, adaptam-
se às realidades locais. Em alguns casos ficam à margem da grande hotelaria, das áreas do turismo
globalizado oferecendo produtos alternativos. Alocam-se nos corredores turísticos e são beneficiados
por aqueles fluxos, em outros casos estão em áreas diferenciadas e atraem uma demanda específica,
mais interessada em apreciar modos de vida, culturas tradicionais, aprendizagens e valores éticos, que
consumir.”
Contudo Machado e Vilela (2006, p.3) abaixo, reafirma a necessidade da interacção entre
os sectores para a efectuação do turismo comunitário, deixando claro que mesmo neste
modelo de desenvolvimento não é possível pratica-lo de forma isolada somente pela
comunidade, revelando também outros consequentes benefícios trazidos por este novo
modelo de desenvolvimento para a actividade turística como o caso da inclusão social.
55
Por meio da interacção dessas políticas com as exercidas por cada sector da sociedade-
público, privado e terceiro sector - tornar-se-ápossível vislumbrar a inclusão social
associada às práticas exercidas pelo turismo com base local. Assim, haverá a possibilidade
de se trabalhar o turismo não como um produto acabado, fruto do capitalismo, mas como
um fenómeno em contínua mudança e que permite à sociedade se reorganizar de forma a
assegurar àqueles até então excluídos da dinâmica capitalista, a uma real possibilidade de
inclusão social.
Logo não se deve radicalizar o termo comunitário como única interferência de manejo para
este modelo de desenvolvimento turístico e sim, entendê-lo como um modo surgido a partir
da comunidade madura capaz de conduzir a execução do turismo, devemos considerar que
sempre para qualquer que seja o modelo adoptado para o desenvolvimento do turismo, a
comunidade local e seus costumes devem ser respeitados e ainda inseridos de forma
participativa ao processo.
Ao considerar a organização da produção turística com base territorial e protagonizado
pelas comunidades locais, as iniciativas de turismo comunitário visam:
• Contribuir para a geração de emprego e renda locais;
• Fortalecer a governação local, em articulação com os demais actores envolvidos na
actividade turística;
• Incentivar a justa distribuição da renda e fomentar o adensamento do mercado local:
• Estruturar este segmento turístico, face a crescente demanda turística a nível nacional e
internacional;
• Agregar valor a destinos turísticos, por meio da diversificação dos segmentos a serem
oferecidos;
• Promover padrões de qualidade e de segurança da experiência turística, tanto para a
comunidade anfitriã quanto para os visitantes;
56
2.12 O Capital Social
De acordo com as abordagens anteriores, a participação passa a ser considerada uma
premissa importante para o desenvolvimento local. Surge, então, a idéia de capital social
como outro elemento fundamental para o desenvolvimento. O capital social, segundo
Kliksberg (1999), é composto pelos seguintes elementos: valores partilhados, cultura,
tradições, saber acumulado, redes de solidariedade e expectativas de comportamento
recíproco. O capital social, imbuído de espírito público, através de relações horizontais de
reciprocidade, cooperação, solidariedade e confiança, na busca de relações e oportunidades
igualitárias, conforme explicitado por Kliksberg (2003), se apresenta silenciosamente,
junto com o capital econômico, como ferramenta essencial para o desenvolvimento local.
Para Putnam (1996), o stock de capital social, que incluem itens como confiança, normas,
sistemas de participação e cadeias de relações sociais, tendem a ser cumulativos e a
reforçar-se mutuamente. Itens que constituem um bem público, ao contrário do capital
convencional, que é normalmente privado. Ou seja, o capital social é um atributo da
estrutura social que não é propriedade particular de nenhuma das pessoas que dele se
beneficiam. O stock de capital social levam a equilíbrios sociais com elevados níveis de
cooperação, confiança reciprocidade, civismo e bem estar coletivo, que ajudam na
construção de uma "comunidade cívica". Segundo o autor (op. cit., p.102), tal comunidade:
“[…]se mantém unida por relações horizontais de reciprocidade e cooperação e não por relações
verticais de autoridade e dependência. Os cidadãos interagem como iguais e não como patronos e
cliente ou como governantes e requerentes. A participação numa comunidade cívica pressupõe
espírito público do que da atitude mais voltada para vantagens partilhadas. Os cidadãos não são santos
abnegados, mas consideram o domínio público algo mais que um campo de batalha para a afirmação
do interesse pessoal. Eles são mais do que meramente atuantes, imbuídos de espírito público e iguais. Eles são prestativos respeitosos e confiantes uns nos outros, mesmo quando divergem em relação a
assunto importantes. Ela não está livre de conflitos, pois seus cidadãos têm opiniões firmes sobre as
questões públicas, mas são tolerantes com seus componentes.”
A ideia de capital social rompe com os mitos sobre as comunidades pobres, excluídas do
processo participativo (os "nativos mudos"), pois uma comunidade pode carecer de
recursos econômicos, mas sempre tem capital social (KLIKSBERG, 1999). Conforme
57
Hirschmann (1984 apud KLIKSBERG, 1999, p. 29): “[…]Diferentemente de outras
formas de capital, o capital social é o único que aumenta com o uso."
Esta afirmativa é validada por Putnam, quando declara que a participação em organizações
cívicas desenvolve o espírito de cooperação e o senso de responsabilidade comum para
com os empreendimentos coletivos.
Uma lição retirada por Putnam (op. cit., p. 191) durante sua pesquisa de campo foi que o
contexto social e o histórico de um grupo condicionam profundamente o seu desempenho.
A cultura das comunidades deve se respeitada e considerada no processo de
desenvolvimento, pois conforme Kliksberg (2003, p. 11):
“[…]As pessoas, as famílias, os grupos, são capital social e cultura por essência. São portadores de
atitudes de cooperação, valores tradições, visões da realidade, que são sua própria identidade. Se isso
for ignorado, saltado, deteriorado, importantes capacidades aplicáveis ao desenvolvimento estão
inutilizadas, e serão desatadas poderosas resistências. Se pelo contrário, se reconhecer, explorar,
valorizar e potencializar sua contribuição, pode ser muito relevante e propiciar círculos virtuosos com
as outras dimensões do desenvolvimento.”
Tendo em conta esta abordagem integrada e multidimensional, o Turismo Comunitário
pode ser encarada como uma estratégia integral de Desenvolvimento Comunitário, ao
introduzir novas práticas de intervenção social, oferece novas formas de luta contra a
pobreza para as populações mais excluídas e promove a mobilização de recursos, locais e
externos, necessários para esse desenvolvimento. Considera-se então que o DC se cruza
com a economia solidária, na emergência de um novo modelo de desenvolvimento em
ruptura com o antigo modelo da sociedade salarial e providencialista, caracterizado por
diversas exclusões, tanto na produção como no consumo. As novas práticas do DC e do TC
estão assim profundamente relacionadas,caracterizando-se pela participação activa dos
cidadãos e dos profissionais directamente envolvidos, os quais se tornaram
“empreendedores sociais”, capazes de antever o que ainda não existe e de mobilizar os
recursos locais e externos para aí chegar. O princípio do envolvimento das populações
locais implica um novo entendimento dos protagonismos, dando prioridade às capacidades
58
endógenas e às potencialidades locais no que respeita a recursos materiais, físicos e
humanos. As novas práticas das organizações de TC rompem com as práticas anteriores de
meros agitadores sociais ou simples prestadores de serviços, rompem com a lógica
assistencialista, para se tornarem organismos de animação do desenvolvimento, através de
um novo empoderamentodas comunidades locais, como forma de democratização da
sociedade e da economia. Ressalta-se tambémo facto de elas serem constituídas por um
“misto de associação e empresa” favorece uma mobilização exemplar tanto dos
intervenientes como dos utilizadores; o seu enraizamento na comunidade local permite-
lhes identificar novas necessidades e trazer soluções originais às necessidades já
identificadas mas não satisfeitas.
A referência ao território e a intervenção territorial são centrais ao DC e ao TC, numa
abordagem mais holística, integrada e participativa é este projecto territorial que é
paradigmático das duas abordagens: a comunidade e o território são o ponto de partida e de
chegada.
59
3 CAPITULO
3.1 A Ilha de São Vicente
São Vicente é a segunda ilha mais populosa de Cabo Verde localizada no grupo do
Barlavento, a noroeste do arquipélago. A ilha tem uma superfície de 227 km². Mede 24 km
de leste a oeste e 16 km de norte a sul. É a sétima maior ilha de Cabo Verde (ou a quarta
menor).O canal de São Vicente separa-a da vizinha ilha de Santo Antão. O Aeroporto
Internacional Cesária Évora localiza-se a sul da cidade do Mindelo, o principal centro
urbano da ilha e segunda maior cidade do país, onde se concentra grande parte da
população da ilha com cerca 76.100 habitantes (2010). Mindelo é frequentemente
considerada informalmente a capital cultural de Cabo Verde.
3.2 Aspectos Históricos
Descoberta no dia 22 de Janeiro de 1462, pelo navegador português Diogo Gomes,
escudeiro do infante D. Fernando, a quem ficou pertencendo por doação de D. João II, o rei
seu tio. A ilha foi inicialmente outorgada aos Viseu e posteriormente foi passado para a
propriedade do rei D. Manuel I, por herança.
Devido a falta de água, a ilha ficou, desabitada por muitos anos, servindo apenas de campo
de pastagem do gado de alguns proprietários da vizinha ilha de Santo Antão.
São Vicente seria a última das ilhas do arquipélago a ser povoada quando em meados do
século XIX a população começou a fixar-se na ilha fundando assim a cidade do Mindelo,
que no entanto começava a desenvolver-se através da actividade portuária. Foram os
ingleses, após o pacto com Portugal em 1838, ao instalarem um depósito de carvão para
reabastecimento de navios em rotas atlânticas, que criaram as bases para o povoamento da
ilha. Devido ao seu excelente porto marítimo -Porto Grande, o maior porto do país,
transformou-se no centro das principais rotas de navegação através do Atlântico, daqui
60
partiam os barcos que a ligam ao mundo mas em particular à ilha de Santo Antão. Esta
centralidade marítima, sem igual no resto do arquipélago, converteu a cidade do Mindelo
na mais cosmopolita de Cabo Verde aqui se produzindo uma interessante mestiçagem.
Por essa altura, a cidade tornou-se um centro cultural importante onde a música, a literatura
e o desporto eram cultivados.
O ciclo durou apenas algumas décadas, pois com a substituição, no início do século XX, do
carvão pelo diesel como combustível dos navios, o importante porto perdeu a sua
preponderância, sendo substituído pelas Canárias e por Dakar. Mais tarde, a ilha ganhou
novo fôlego como ponto de ligação transatlântica de cabos submarinos de telégrafo.
No centro histórico, foi preservada uma rica herança colonial onde se ergue o Palácio do
Governador, a Praça Nova, peculiar local de encontro e convívio que anima a noite
Mindelense, o Fortim d’el Rei, a réplica da Torre de Belém, o Mercado Municipal,
a Escola Jorge Barbosa, inaugurado em 1917, teve enorme importância no
desenvolvimento da consciência nacional cabo-verdiana, tendo lá estudado muitos dos
obreiros da independência nacional, como Amílcar Cabral, entre outros.
3.3 Aspectos Geográficos e Climatéricas
Com uma superfície de 227 km², a ilha mede 24 km de leste a oeste e 16 km de norte a sul.
Representa a sétima maior ilha de Cabo Verde e embora seja de origem vulcânica, a ilha é
relativamente plana, especialmente a área central, a zona leste do Calhau e a zona norte da
Baía das Gatas. O ponto mais alto da ilha é o Monte Verde com 774 m de altitude. O
Monte Cara mede 488 m no pico do "queixo", 480 m na ponta do "nariz", estando a maior
elevação da formação montanhosa no pico de Fateixa, mais a oeste, com 571 m, o conjunto
Madeiral/Topona com 675 m e 699 m, respectivamente e Tope de Caixa com 535 m.
61
Apesar da forte erosão, ainda se consegue visualizar na ilha algumas crateras como vulcão
Viana no Calhau, e a própria baía do Porto Grande.
A área urbana do Mindelo localiza-se na zona noroeste. As praias de areia branca da Baía
das Gatas, Calhau e São Pedro são muito frequentadas. A ilha está quase totalmente
despida de vegetação, tendo sido efectuado um trabalho de plantação de acácias nas zonas
mais planas, como ao longo da ribeira de São Pedro (entre o Mindelo e o aeroporto em São
Pedro), na Ribeira de Vinha e na zona interior de Salamansa. O sucesso destas plantações
tem sido muito limitado.
O clima é tropical seco, rondando os 24 °C de temperatura média do ar. A temperatura da
água do mar oscila, durante o ano, entre os 12 °C e os 25 °C. Há duas estações: de
Novembro a Julho decorre a estação seca e é quando sopram os ventos alísios; de Agosto a
Outubro é a "estação das chuvas", embora a precipitação seja na realidade baixa.
3.4 Aspectos Culturais e Turísticos
São Vicente foi sempre uma ilha fértil em termos culturais. A cidade do Mindelo é
informalmente considerada a capital cultural de Cabo Verde e a sua noite é famosa pelos
seus bares animados com música ao vivo, nos quais por exemplo se iniciou a carreira de
cantora Cesária Évora. O ponto de encontro para a ronda de bares e discotecas é na Praça
Nova de onde se parte para descobrir a riqueza e diversidade da música cabo-verdiana
como mornas, coladeras, funanás e zouk. Além da música, a cultura são-vicentina se
destaca em diversas áreas como o teatro e a literatura.
62
Um dos pontos altos da animação da cidade é o Carnaval de Mindelo que actualmente é
animada pelos Mandingas8 desde o primeiro Domingo de Janeiro até o primeiro Domingo
a seguir ao Carnaval.
No mês de Agosto realiza-se anualmente durante três dias o famoso Gatas que atrai
milhares de turistas e emigrantes. Outras festas que também se destacam em São Vicente
são as festas de romarias como a Festa São João realizado no dia 24 de Junho.
Devido a sua importância cultural, Mindelo foi a Capital Lusófona da Cultura em 2003.
São Vicente apresenta uma oferta turística bastante diversificada, onde se destacam o
turismo de praia (nas belas praias da Laginha, logo no centro da Cidade, e nas de Baía das
Gatas, Calhau e São Pedro), o turismo cultural, com realce para o famoso Carnaval, o
Festival de Música de Baía das Gatas, organizada anualmente nesta praia, os festivais de
teatro Mindelact e Setembro Mês do Teatro, e o tradicional Reveillon, o turismo de
mergulho/subaquático e desportos náuticos e o turismo de natureza. Acresce-se ainda as
potencialidades oferecidas ao turismo de natureza pelo Parque Natural de Monte Verde
(800ha), de onde também se pode ter belíssimas vistas panorâmicas de quase toda a ilha.
Dada a complementaridade, em termos de oferta turística, com a vizinha ilha de Santo
Antão (que dista apenas 1 hora de barco), nos últimos tempos vem-se desenhando uma
tendência de oferta de pacotes integrados englobando essas duas ilhas.
Recentemente, este potencial turístico tem atraído a atenção de vários investidores,
prevendo-se a implementação de grandes projectos na ilha, principalmente nas localidades
de Baía das Gatas, Salamansa, São Pedro, Calhau e Saragarça, além do Centro da Cidade.
Este potencial aumentou também graças a abertura do Aeroporto Internacional Cesária
Évora.
8Mandingas (em São Vicente) são grupos que se mascaram com uma mistura de óleo e pólvora e saias de
sacos e saem a rua na época de carnaval para animarem as zonas do Mindelo acompanhados de muita música
e euforia. Essa figura tem-se destacado no Carnaval Mindelense principalmente ao Domingos que precedem o carnaval movimentando centenas de pessoas pelas ruas do Mindelo. Os grupos mais conhecidos são
Mandingas de Ribeira Bote, Mandingas de Espia e os Mandingas de Areia (mascarados com Areia).
63
Apesar de algum esmorecimento derivado da crise económica mundial, acredita-se que a
implementação desses projectos irá trazer uma nova dinâmica à região norte do país,
beneficiando não apenas a ilha de São Vicente mas, por arrastamento, as ilhas de Santo
Antão e São Nicolau.
Entretanto, alguns pontos de estrangulamentos precisam ser resolvidos ou minimizados.
Nomeadamente a nível da ligação com o exterior e com as restantes ilhas, melhoria das
ligações aéreas e marítimas com outras ilhas, melhor planeamento e promoção integrada da
oferta turística de São Vicente, qualificação de mão-de-obra, entre outros.
3.5 Perfil Urbano Do Mindelo9
A Cidade do Mindelo nasceu urbana, expandiu-se e consolidou-se essencialmente urbana e
cosmopolita, servindo, hoje em dia, de residência a cerca de 62.970 habitantes, no seu
limite territorial de apenas 75 km2, fazendo dela, um dos espaços mais densamente
povoados do país (839,60 hab/km2). A cidade do Mindelo corresponde estatisticamente à
zona do mesmo nome e está dividida em, pelo menos, 31 lugares.
Dos 19.962 agregados familiares existentes na Ilha de São Vicente, 92,6% concentra-se na
Cidade do Mindelo, ou seja, cerca de 18.485 agregados familiares.
Cada agregado familiar integra uma média 3,8 indivíduos. De mencionar que cerca de
8891 (i.e. 48,1%) desses agregados é dirigido por mulheres chefes de família, sendo que
80,3% de todas as habitações serve de residência habitual aos respectivos proprietários.
O Município de São Vicente enfrenta um conjunto de problemas, desafios e
constrangimentos urbanos já identificados e articulados, aguardando negociações e
mobilização de recursos para a implementação das soluções previstas. As principais linhas
9Perfil Urbano do Mindelo” foi obtida através da Revista Soncent Nº 1 Ano XII/ Novembro 12 da Câmara
Municipal de São Vicente “In Perfil Urbano do Mindelo”, São Vicente, República de Cabo Verde, ONU-
HABITAT, Março de 2012
64
de intervenção no quadro da governação urbana,vem no sentido de reforçar os seus
esforços e apelo para engajamento em parcerias pró-activas, incluem: o crescimento
exponencial da população residente e construções informais, clandestinas e desordenadas
na cintura da cidade; o fenómeno de ocupação espontânea do solo urbano; a necessidade de
expansão da rede de utilidades públicas essenciais; a recuperação e reabilitação de edifícios
públicos e privados de valor histórico para a cidade; a convivência entre o “velho” e o
“novo” (moderno) na harmonia arquitectónica da Cidade; da falta de água na cidade do
Mindelo, sobretudo nas cinturas de expansão; e sinais de ruralização da cidade, mais em
termos de atitudes, comportamentos e práticas dos habitantes.
Com uma economia sempre virada para o mar e as suas potencialidades, o rápido
crescimento da sua população deveu-se à convergência de cidadãos provenientes de outros
concelhos em busca de melhores condições de vida, sobretudo quando a seca e a fome os
fustigava nas outras ilhas, principalmente Santo Antão e São Nicolau. Trabalhavam em
São Vicente, na altura do Censo 2000, cerca de 21.087 pessoas, sendo 57% homens e 43%
mulheres. Já o Censo 2010, com base numa nova metodologia, apurou uma taxa de
desemprego de 14,8%, de uma população com taxa de actividade económica de 58,2%.
Essa taxa de desemprego é a mais elevada do país e corresponde a mais do dobro da média
nacional, que é de 6,3%.
O desemprego afecta mais as mulheres activas do que os homens activos. Ainda segundo o
Censo 2000, mais de um quarto dos indivíduos que trabalhavam na altura (26,7%) exerce
profissões sem qualquer qualificação, sendo de sublinhar a de empregadas domésticas e
serventes.
Destaque no sector privado (47,7%). A massa trabalhadora de São Vicente concentra-se
principalmente na actividade de comércio (21,2% contra 17% a nível nacional) e na
indústria transformadora (17,4% contra 7% a nível nacional, Censo 2000). Esta
65
percentagem é explicada pela presença das principais fábricas industriais em São Vicente.
Outro ramo que sobressai nesta ilha é a das famílias com empregados domésticos (9,2%)
contra 4,5% nacional. A Cidade do Mindelo é sede de muitas empresas com peso
estruturante na economia de todo o país (e.g. ENAPOR, ENACOL,VIVO ENERGY,
CABNAVE, ELECTRA, MOAVE) que, para além de garantirem emprego permanente a
muitos Mindelense, contribuem, de forma significativa, para o PIB de Cabo Verde.
Alojamento e Condições de Vida nos Bairros Informais
A cidade tem a forma de uma meia-lua, rodeando a Baía do Porto Grande, sendo
delimitada pelas colinas despidas de vegetação que a cercam. A sua população duplicou
entre 1960 e 1980, e voltou a duplicar em 2005, persistindo numa taxa de crescimento
anual de 2,9 % ao ano que, entretanto, baixou para 1,3% no Censo 2010, mesmo assim
superior à média nacional de 1,24%. Este ritmo de crescimento populacional foi
acompanhado por uma idêntica expansão do território urbanizado.
A partir da década de 90, Mindelo começou a alargar as suas fronteiras em direcção a
Norte, Este e Sul, criando novos bairros e tornando os já existentes mais populosos e
consequentemente mais densamente povoados. Este fenómeno tem feito com que a
população se afaste cada vez mais do centro histórico e se fixe nas cinturas periféricas da
cidade e, em muitos casos, nas zonas mais afastadas do Concelho de São Vicente que vêm
conhecendo uma grande expansão, como é o caso da Ribeira de Julião, Lazareto, Baía das
Gatas, Calhau, entre outros.
Tipicamente, quanto mais afastado do centro da cidade, da beira-mar e das estradas
principais, mais zonas pobres se localizam, por exemplo: Alto Solarine, Fonte Filipe, Bela
Vista e Monte Sossego. O facto de as áreas mais pobres não serem visíveis a partir do
66
centro, nem das principais ruas e avenidas da cidade, mantém uma ilusão de prosperidade
generalizada que, infelizmente, não reflecte, com rigor, a situação real.
O Censo 2010 apurou a existência de 19.047 edifícios em São Vicente, que servem de
alojamento a 19.062 agregados familiares e demais unidades económicas da ilha. Do total
de edifícios da ilha, apenas 59,6% estão concluídos
Segurança Urbana
A Segurança na Cidade do Mindelo, nos últimos tempos, tem vindo a ser posta à prova
com o aparecimento do fenómeno de “Grupos de Thugs- (grupos de delinquentes) ” e
“CaçuBody (assaltos a pessoas) ”.
Esse fenómeno levou com que a Polícia Nacional se reorganizasse e adequasse estratégias
de acção à realidade na cidade (e.g. Posto Móvel na Cidade). Em 2009, tanto o crime
contra pessoas como contra o património aumentou, mantendo-se a mesma tendência no
ano 2010, de acordo com os dados disponíveis na altura. No que diz respeito ao Crime de
Roubo, São Vicente responde por 27,28% desse tipo de crime a nível nacional em 2009 e
27,71% em 2010. Em relação ao crime de furto, verifica-se também uma tendência de
diminuição entre 2009 e 2010, tanto em São Vicente como no país em geral, o que
confirma que 2009 foi, efectivamente, um ano muito intenso em termos de prática de
crimes no país. Já em relação ao Crime de Homicídio, de natureza normalmente violenta,
constata-se um aumento de mais 3 casos em São Vicente no ano de 2010 em relação ao
ano de 2009. Dados do QUIBB 2007 indicam que 46,7% dos agregados familiares de São
Vicente leva menos de 15 minutos para chegar a um Posto Policial mais próximo, média
inferior à nacional para espaços urbanos, que é de 49,4%.
67
3.6 A Zona de Ribeira Bote
A zona de Ribeira Bote situa-se na periferia da cidade do Mindelo em São Vicente e conta
com 3.956 habitantes (Censo de 2010), é composta por uma população maioritariamente
jovem, agregados familiares numerosos, predominantemente matriarcal, e onde estão
presentes os problemas sociais que afectam a generalidade da sociedade cabo-verdiana:
pobreza, desemprego, condições de saúde limitadas, condições de habitabilidade precárias,
gravidez precoce, abandono escolar, alcoolismo, sendo consideradas umas das zonas mais
perigosas da ilha. A população activa dedica-se essencialmente ao comércio onde
destacam-se diversas lojas e mercearias, bares, vendedores ambulantes de doces e fritos,
peixeiras, artesanato, entre outros.
Apesar de todos esses constrangimentos Ribeira Bote é uma zona rica em história, artistas
e artesões e outros aspectos culturais que o tornam atractivo e com grande potencial para o
turismo comunitário como se demonstra a seguir.
3.6.1 Importância Histórica
“No princípio dos anos 20 a zona era povoada apenas na zona da ribeira e possuía acima de
200 moradias, constituídas na maior parte de casas de telhas e de cimento e por alguns
funcos (casas de pedras areia e cal) cobertos de colmo.
Este bairro, não muito antigo, contíguo ao Lombo, deverá ter nascido nos princípios do
século xx, alguns anos depois de 1895, ano em que apareceram dois dos mais antigos
bairros anteriores a ele, o Lombo Palha (por ai se vender palha para os animais) e o Monte
Craca. Habitado por gente laboriosa, o bairro de R.B. tinha gente de todo o tipo social,
gente humilde e trabalhadora que se dedicava a apanha do carvão que caía ao mar,
proveniente da descarga das lanchas das companhias inglesas sediadas no Mindelo.
Depois de alguns anos a zona já tinha uma população bastante grande e hospitaleira,
oriunda das ilhas de Boavista e Santo Antão, que trabalhava no porto nos limites da cidade,
marcando já a diferença entre os prédios novos e as casas de linhas tradicionais, rasteiras,
de duas águas de paredes de pedra, embuçadas de cal por fora e telha marselhesa
contrastando com as modernas de cimento armado e terraços e terraços com quintais nas
traseiras, onde as crianças brincavam ainda na rua a porta de casa.
Todos viviam da baía; alguns por conta própria, na pesca, na estiva e do “negócio de
bordo”, uma espécie de fornecedores de vários artigos e hortaliças para os barcos, mas em
pequena escala, não chegando a constituir a categoria de shipschandlers ou seja empresas
fornecedoras de frescos e frios aos barcos e navios de grande porte.
68
No seu seio também viveram muitos compositores de música tradicional, mornas e
coladeiras ou mesmo de sambas e marchas carnavalescas, a moda brasileira mas tendo
motivo de carnaval cabo-verdiano.
É a R.B. que irá continuar a fornecer a maior parte dos músicos, estivadores e pescadores;
bairro de naturalistas, que passará à história do Mindelo com episódios como o da “Zona
Libertada”, porque é o primeiro bairro da cidade a opor-se a entrada de tropas portuguesas
logo após o 25 de Abril, e donde também sairão os artistas do carnaval, os serralheiros
mecânicos da Cabenave, os polícias da capitania dos Portos de São Vicente e empregados
de limpeza da empresa que se dedica aos trabalhos do Porto - a Enapor. Aqui serão
acolhidos, mantendo a tradição dos que regressaram dos trabalhos de São Tomé.
Não obstante as profundas modificações sofridas pela zona com a construção de novas
casas e moradias bem ordenadas dentro dos possíveis para um bairro que nasceu a esmo, a
R.B. não se modificou muito, mas também não deixou de ter os seus espaços obscuros,
como retrata Aurélio Gonçalves: « nos confins da cidade» com « larguinhos contornados
de murros baixos a resguardar os quintais e dos infalíveis alinhamento de rés de chão
vindos de tempos atrasados – a cal das frontarias desfazendo-se – a exalar pobreza e
velhice». E também nem mudou do ponto de vista da população solidária e dos seus velhos
hábitos de vida nocturna, que continua a abrir as meias portas dos botecos e das casas para
receber os fregueses «finos».” (Rodrigues 2011)
Segundo conta os populares o nome dessa localidade surgiu porque havia na zona um
mini-estaleiro, onde eram construídos barcos de madeira que faziam carreira entre as ilhas
do nosso arquipélago, bem como botes e escaleres de todos os tamanhos e feitios que
serviriam e muito bem, a baia do Porto Grande e as outras ilhas.
Quando os barcos eram lançados ao mar e dada a distância, em assentes em roletos de ferro
maciço e apoiados lateralmente em escoras de madeira e a medida que as pessoas iam
puxando os barcos com cabos fortes simultaneamente, as escoras eram novamente
colocadas para manter o equilíbrio dos mesmos. Logo que os barcos começassem a flutuar,
os mastros e as cabines eram colocados mesmo no mar, bem como quaisquer outros
retoques de que necessitassem até os barcos começarem a navegar.
Os mestres carpinteiros de construção naval eram hábeis, muito competentes e sobretudo
conhecedores profundos do seu ofício.
Portanto, o povo passou a chamar ao sítio Ribeira Bote e daí o nome pegou para sempre.
69
Outras das histórias marcantes da Ribeira Bote foi a Revolução Capitão Ambrósio
em 4 de Junho de 1934
“Foi no célebre dia 4 de Junho de 1934 dia inesquecível para a história de São Vicente,
em que se deu aqui o primeiro grito de liberdade! Sim foi nesse dia que o povo do
Mindelo, já não podendo aguentar mais a angústia da fome crónica e a incerteza do
futuro, viu, assistiu e compartilhou da marcha revolucionária chegada a cidade ai pelas
11 horas da manha, de homens e mulheres de todas as idades, incorporando-se
solidariamente no movimento liberdade do nosso povo sofredor de Cabo Verde. Nesse dia
juntou-se uma multidão que partiu da Ribeira Bote formada por gente resoluta e confiante
nos seus planos, a frente ia Nhó Ambrósio todo altivo e firme.
Nhó Ambrósio era um modesto carpinteiro, que vivia de sol a sol ganhava uma cachupa
quando aparecia o que fazer. E eram tempos difíceis o Porto Grande dava pouco que
ganhar uma vez que os barcos tinham mudado a sua rota e era grande a miséria para o
nosso povo humilde. NhóAmbrósio tinha o dom de empolgar a massa, com suas palavras
rudes mas sinceras de homem bom que se revoltava contra as injustiças que o governo
fazia contra o seu povo. Mas o povo tinha medo de revoltar temendo as represálias.
Chegou finalmente o dia em que o povo se revoltou e percorreu as ruas da cidade, com a
bandeira da fome gritando MISERIA! MISERIA!FOME! FOME! Entretanto ficou
marcada uma revolução ás duas horas caso o governo da Praia não desse qualquer
resposta favorável aos objectivos, depois nessa hora dentro da Câmara Municipal tiveram
uma demorada conferência na câmara com o Secretário da Administração, de tal
conferência não chegou a conclusão cabal. Passado horas não foi recebido nenhuma
resposta. Então o líder Nhó Ambrósio lançou uma palavra de ordem ao povo estacionado
na rua.
BOCES CME ONTE E ONTEONTE? NÃO E NO TEM FOME! BOCES TEM
TRABAIODE? DIAZA NO QUE TRABAIA PAQUE NOTE BANDONOD!
E depois disso levantou bem alto a bandeira negra e gritou vamos arranjar comida com as
nossas próprias mãos! Os grandes da terra estão com suas barrigas cheias portanto povo
de São Vicente vamos invadir a alfândega que é onde se encontra armazenada a comida
para a nossa gente.
O povo com sua fúria sem limite invadiu a alfândega e numa confusão diabólica começou
a retirar tudo o que estava ai depositado. De seguida foram para outros armazéns onde
eram guardados alimentos onde retiraram tudo o que puderam.
Mas após algum tempo vieram a força militar que começou a disparar ao ar para
dispersar a população mas o povo enfureceu – se e começou a arremessar pedras. Mas
pelas oito horas o povo se recolheu e durante dias não se falou em maisnada senão da
revolução de Nhó Ambrósio. De tudo o que foi distribuído nhó Ambrósio ficou com apenas
um saco de café em pó que vendeu para comprar carne.
Mais tarde chegou soldados ordenados a capturar os cabeças de lista do movimento nhó
Ambrósio foi o primeiro a ser capturado, os principais líderes foram enviados para
Angola incluindo nhó Ambrósio depois de comprida a pena ele e mais dois companheiros
regressaram mas infelizmente os outros morreram na cadeia. Esses bravos homens que
conseguiram resistir a opressão colonial fascista e que deram provas da valentia e
coragem, acordando a consciência do povo sofredor, entraram para sempre na história do
Mindelo e de São Vicente.
Capitão Ambrósio era natural de Santo Antão e faleceu em Mindelo, São Vicente em
Ribeira Bote aos 68 anos. (Ramos,2003)”
70
3.7 O Bairro de Ilha d` Madeira
Ilha d´Madeira é um bairro pequeno situado dentro da zona de Ribeira Bote e é onde se
desenvolve a maior parte do roteiro do projecto. O bairro reúne as características da zona
da Ribeira Bote e é considerado um dos bairros mais pobres da ilha,
As ruas são estreitas, e calcetadas, a maioria das casas são de betão mas ainda se
encontram algumas casas de latas habitadas.
A comunidade enfrenta muitos problemas sociais, a destacar prostituição infantil,
delinquência juvenil, gravidez precoce, tráfico de drogas e toxicodependência. Esses
problemas são sintomas de factores de risco como a pobreza, desemprego, abandono e
insucesso escolar, falta de informação e educação, desestruturação familiar, conflitos
interpessoais, e os sintomas mencionados também constituem uma pré-disposição para
aumento de casos desses problemas.
É uma comunidade com uma vida nocturna intensa, com fácil acesso a substâncias ilícitas.
Apesar de todos esses constrangimentos é considerado um bairro de gente trabalhadora,
artistas e artesões, músicos onde encontramos pessoas de todas as áreas e profissões, de
quase todas as ilhas. É um bairro alegre e movimentado onde se realizam actividades para
crianças, actividades desportivas para pessoas da comunidade e entre comunidades,
animação musical aos fins de semanas. É uma comunidade onde as pessoas são muito
próximas, unidas e solidárias e as informações passam extremamente rápidas de forma
informal, ponto que pode ser aproveitado para transmissão de informações.
71
3.8 Aspectos Positivos da Zona
A zona da Ribeira Bote é rica em história como se viu anteriormente, nesta comunidade
encontra-se a maior parte dos artesões e artistas da ilha tanto que podem ser encontrados
em qualquer parte do bairro dividindo-se em músicos, escultores, pintores, famosos
jogadores de futebol, jogadores de ténis, presidentes, actores de manifestações culturais,
como os Mandingas ou os tocares de tambores nas festas de romárias, etc. Por ser uma
zona situada nos arredores da cidade, a zona de Ribeira Bote beneficia de muitas infra-
estruturas importantes para a melhoria da qualidade de vida dos moradores:
Tabela 7 -Infra-estruturas e Serviços situados dentro e nos arredores da comunidade.
Lista de infra-estruturas e serviços
dentro da Comunidade
Lista de infra-estruturas e serviços nos
arredores que beneficiam Comunidade
Bancos (BCA) Posto Policial (Fonte Inês)
Posto de Abastecimento (Shell) Serviços de Telecomunicações (Cvmovel)
Posto dos Correios Mercado de Peixe da Ribeirinha
Escolas Bancos (Caixa Económica de Cabo Verde)
Jardins Infantis Hospital (Lombo)
Igrejas Agência Funerária (Lombo)
Lar de Idosos Padarias
Serviços de Comercio Geral
Posto de abastecimento de Água Potável
Clínica Dentária
Associações Diversas
Clubes Desportivos
Fonte: Própria
Tabela 8 - Lista de actividades produtivas dentro da comunidade
Artesanato Construção Civil Pescadores
Lojas/ Mercearias/ Bares Electricistas Estivadores
Mini Mercados Drogarias Advogados
Vendas ambulantes Confeitarias
Sapataria Barbearias
Alfaiataria Pintores
Carpintaria Escultores
Marcenaria Cabeleireiros Fonte: Própria
72
4 CAPITULO
4.1 Estudo de Caso: Projecto Ribeira Bote - Turismo Comunitário
A Ideia
A ideia surgiu através do activista social italiano, Frei Silvino Benetti da Igreja São
Francisco na Ribeira de Craquinha e responsável pela Associação Espaço Jovem da
Ribeira de Craquinha. Frei Silvino em parceria com o Espaço Jovem tem desenvolvido
diversas actividades em São Vicente principalmente na camada mais jovem
nomeadamente, realização de actividades desportivas, pagamento de propinas e incentivo
aos estudos, actuando assim na diminuição do abandono escolar, na obtenção de
financiamento para formações diversas direccionadas aos jovens da ilha e ultimamente
actuou como principal pacificador de jovens integrantes de grupos rivais os chamados
gangs, em SV.
Benetti conta que há mais de dez anos que frequenta a Comunidade da Ribeira Bote, pois
ia a procura de jovens que incentivava a continuarem os estudos e assim conheceu muitos
moradores da zona. Segundo Benetti( ver Anexo A ) :
“Ao frequentar o bairro reparei que apesar da má imagem da zona, havia muitas potencialidades,
como música, artesanato, gastronomia, excelente acolhimento por parte dos moradores e por ser um
bairro pequeno a interacção e os laços entre os moradores é bastante grande e demonstram grande
solidariedade entre vizinhos, sem falar que a zona ainda é rica em história e cultura.” (Entrevista 1)
Ao reparar que todas essas potencialidades poderiam ser um atractivo para atrair
estrangeiros para a zona, ele em parceria com o alemão MarkusLeukel, músico e guia de
turismo resolveram levar para visitarem a zona da Ribeira Bote/Ilha de Madeira um casal
de amigos cabo-verdianos (da ilha de São Nicolau) radicados em Luxemburgo e que há
mais de vinte anos não regressava a Cabo Verde, pois estes queriam mesmo interacção
com a população no intuito de relembrar as suas raízes em vez do tradicional turismo sol e
praia. Para isso o Frei entrou em contacto com uma jovem do bairro, Miriam Lopes recém-
licenciada em Psicologia Clínica e de Saúde e apresentou a ideia e ela por sua vez como
73
não tinha noções de turismo entrou em contacto com uma Licenciada em Gestão Hoteleira
e Turismo.
Depois de algumas pesquisas na zona que consistiu em conversar com os moradores,
artistas e artesões que poderiam receber o casal foi criado o primeiro roteiro que foi
efectuado no dia 6 de Setembro de 2012. O roteiro consistiu em receber o grupo dentro das
casas dos moradores e dos artesões estimulando assim a participação e interacção com os
turistas de forma a valorizar os aspectos do dia-a-dia da comunidade bem como os aspectos
históricos já que apostam também na história da zona.
No dia 16 de Setembro recebeu-se na mesma óptica o Presidente da República de Cabo
Verde e a sua comitiva que se encontrava em visita a alguns bairros da Ilha de São Vicente,
guiados pelo Frei Silvino. Depois do sucesso da primeira visita e impulsionados com a
visita do Presidente viu-se que a ideia era viável e decidiu-se criar um projecto de turismo
comunitário.
Em parceria com o Frei Silvino e o Guia Markus, que entretanto já tinha apresentado a
ideia a Agência de Viagens e Turismo Vista Verde10
para a qual ele trabalha e que apostou
desde logo nesta iniciativa, foi desenvolvido o Projecto Ribeira Bote – Turismo
Comunitário. Segundo Markus, o projecto ( ver anexo B):
“Vai ajudar as pessoas de valorizar o bairro delesmais com o fim de cuidar melhor das casas, ruas e das
relações sociais”. “Procuramos uma alternativa do percurso turístico clássico de Mindelo. Queríamos mostrar
como a gente mesmo vivem.” (Entrevista 2).
10
Vista Verde é uma agência de viagens e turismo alemã, sediada no Mindelo. Foi a primeira agencia a
apostar neste projecto e é responsável pela maior parte dos turistas que visitam a zona da RB, é também uma
agência que financia projectos de cariz social.
74
O Projecto
O Projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário tem como principal objectivo contribuir
para o desenvolvimento da comunidade de Ribeira Bote através do turismo comunitário.
Para isso o PRB-TC esta sendo desenvolvido baseado em dois pilares importantes que se
complementam entre si formando as bases necessárias para o desenvolvimento do turismo
comunitário e o respectivo desenvolvimento da comunidade de Ribeira Bote.
Estes pilares consistem no Enfoque a Nível Comunitário e no Enfoque a Nível Turístico.
a) Enfoque a Nível Comunitário
Partindo do pressuposto de que a comunidade receptora é o ponto mais importante para
criar condições para a prática do TC, e é na comunidade que se encontra o Património
Comunitário e o Capital Social torna-se de extrema importância envolver os moradores em
todas as fases do desenvolvimento do projecto. O enfoque na comunidade tem a ver com a
sensibilização, inserção e participação, formaçãoinformaçãodos moradores para a
importância deste projecto para R.B. estimulando assim o acolhimento do projecto. Para
isso foram utilizadas algumas estratégias para sensibilização da comunidade.
Uma das estratégias utilizadas foi o empoderamento da comunidade de Ribeira Bote que
esta estritamente ligado a promoção da saúde na comunidade (através de feiras de saúde,
campanhas de limpeza, etc.), apoio à grupos de risco11
(através de palestras sobre álcool,
drogas, sexualidade responsável, etc.) e atenção a criança desenvolvendo tardes infantis,
secções de cinema infantil, distribuição de materiais escolares, etc. passando por uma
intervenção que visa capacitar as pessoas para serem protagonistas das suas vidas,
11
Consideram grupos de riscos, pessoas que criam distúrbios na comunidade, estimulados pelo uso excessivo
de álcool e drogas. Estes grupos são constituídos principalmente por adolescentes/jovens, com alta taxa de
abandono escolar, sem ocupação positiva, pertencentes a grupos degangs e famílias monoparentais.
75
ganhando auto-estima e auto-confiança, com o objectivo de responsabiliza-las para tomada
de decisões que irão ser de extrema importância para uma vida saudável.
Este empoderamento leva as pessoas a reflectirem sobre os seus modos de vida, criando
assim o desejo de mudança de comportamento e da forma como vêm a própria
comunidade, visto que a zona é considerada uma das mais problemáticas da ilha, tentamos
mostrar as potencialidades dentro da comunidade o que leva as pessoas a procurar as suas
próprias habilidades no intuito de fazer parte do projecto dando o seu contributo de forma
positiva. É importante salientar que o projecto não pretende alterar os estilo de vida e os
hábitos dentro da comunidade mas sim transformar os pontos fracos em pontos positivos
tanto para propiciar o pratica do turismo como também criando um caminho de
oportunidades, ou seja condições de formação, espaços de convívio infanto-juvenil,
condições que permitem a tomada de decisões, e que se desdobram no bem-estar comum
de jovens, crianças e a comunidade em geral.
Estes aspectos permitem que os residentes valorizem mais a comunidade, o que permite
mudar a má imagem que as pessoas têm da Ribeira Bote, segundo Frei Silvino:
“A animação sócio cultural constrói ligações de unidade entre as pessoas, reforça sentimentos de
pertença ao bairro e a sua história, procura valorizar e promover os talentos dos indivíduos, constrói
percursos educativos para o amadurecimento da pessoa e da sua integração na sociedade e pode
também, por dentro das suas dinâmicas, criar ocasiões para abertura de caminhos que levam ao
encaminhamento e descoberta da própria profissão.” (Entrevista 1)
76
Objectivos Comunitários
1. Mudar a imagem que as pessoas têm da comunidade promovendo uma imagem
social positiva do Bairro de Ilha d´Madeira e da zona de Ribeira Bote;
2. Criar recursos para dar resposta a situações humanas extremamente precárias,
através de parcerias com entidades responsáveis. Ex: Câmara Municipal de São
Vicente;
3. Valorizar e desenvolver as habilidades artísticas e desportivas dos jovens da zona
através de formações diversas com ajuda de parcerias externas;
4. Valorizar a zona e a sua importância histórica, bem como as suas tradições
transformando-os num atractivo turístico;
5. Chamar a atenção das instituições locais para as insuficiências e necessidades da
zona;
6. Beneficiar a comunidade através dos integrantes do projecto com os rendimentos
obtidos com a prática do turismo;
7. Intervir como um parceiro na obtenção de financiamentos para projectos de cariz
social que beneficiem a comunidade;
8. Dinamizar a comunidade através de actividades sociais diversas.
Actividades realizadas no âmbito do projecto
Tardes de chá
Campanhas de limpeza
Reflexões e palestras sobre os problemas da comunidade
Promoção de actividades para crianças, jovens e idosos
Feiras diversas (de saúde, gastronómicas, culturais, etc.)
Promoção de actividades desportivas
Promoção de formações diversas
Projecção periódica de filmes e documentários.
77
b) Enfoque a Nível Turístico.
Tem a ver com a captação e recepção dos turistas e visitantes nacionais. Consiste em
preparar a comunidade para receber e interagir com aqueles que vem de fora. Para receber
os turistas dentro da comunidade é necessário uma grande organização, que vai desde
criação e actualização constante dos percursos, pesquisa dos pontos atractivos disponíveis,
limpeza das ruas, preparação dos materiais e equipamentos necessários etc. pois o
objectivo é fazer com que os turistas convivam directamente com os moradores da zona
para conhecerem de perto as suas realidades e o seu quotidiano, com isso cria-se uma
forma de desenvolver tanto social como financeiramente esta comunidade.
Objectivos Turísticos
1. Sensibilizar a comunidade para receber turistas de forma a oferecer um produto
capaz de satisfazer as expectativas dos visitantes;
2. Promover a interacção entre os turistas e os moradores da comunidade de forma
activa;
3. Criar um fundo comunitário com parte das receitas provenientes do turismo
praticado na comunidade;
4. Promover e Comercializar os produtos confeccionados pelos moradores;
5. Estimular a criação de novos produtos (artesanato, lembranças, gastronomia) por
outros residentes para que todos tenham participação no projecto;
6. Potenciar os atractivos da comunidade como a história, cultura, o capital social, as
vivências, produtos locais, etc.
7. Criar novos pacotes dinâmicos e atractivos para captar turistas e visitantes;
8. Estabelecer novas parcerias com agentes turísticos e não turísticos para atrair novos
visitantes (hotéis, agências de viagens, residenciais, escolas, jardins infantis,
organizações diversas, etc.).
78
Os pacotes oferecidos aos turistas/visitantes são:
1. Pacote Descoberta de Ribeira Bote - este pacote consiste em levar os turistas a
conhecer a fundo a zona de Ribeira Bote/ Ilha Madeira onde poderão conviver com
os moradores de forma descontraída e prazerosa, ver como são confeccionados os
produtos artesanais e provar a gastronomia local feito pelos próprios moradores.
Este roteiro tem duração de 3 horas. Assim, através das vivências, o turista toma
contacto pleno com os modos de vida e costumes da comunidade, mantendo
contacto com a história local, com a diversidade e com a cultura do espaço visitado.
O turista passa a fazer parte do ambiente, passa a pertencer a um contexto
específico, através de suas percepções e experiências que as vivências
proporcionam. Emerge, portanto, a possibilidade real de outro estilo de vida,
passível de outro sentido de valor, menos utilitarista e mais voltado para a relação
com a natureza e com o outro. (Ver anexo C e C1)
2. Pacote Mandingas de Ribeira Bote onde leva-se os turistas a conhecer esta
tradição. Este pacote consiste em levar os turistas ao estaleiro dos mandingas,
observarem os preparativos e o ritual que antecedem a volta a ilha e termina com o
passeio que os mandingas fazem todos os Domingos antes do Carnaval em São
Vicente. Este roteiro tem duração de cerca de 4 horas. Este pacote é oferecido
apenas nos meses de Janeiro e Fevereiro.
3. Pacote Festas de Romarias, onde mostra-se a tradição do Toca tambor e Colá San
Jon e também como são confeccionados os tambores de pele de cabra dentro da
zona. Este pacote é oferecido apenas no mês de Junho.
4. Pacote Toca Recordai, neste pacote, o objectivo é levar os turistas a tocar São
Silvestre porta a porta como manda a tradição em SV. São oferecidos como brindes
os conhecidos *Recordai* e a letra da Musica. Outra vertente deste pacote também
consiste em dar as Boas Festas pelas casas da comunidade com visitantes até o dia
6 de Janeiro do Ano Novo. Este pacote é oferecido apenas no final do mês de
Dezembro e início de Janeiro.
79
4.2 O Desenvolvimento da Comunidade com Base no Projecto
Para que haja DC, os impactos dos projectos não se podem limitar a um grupo
determinando dentro da comunidade, mas sim a um todo. Tendencialmente, esses impactos
deverão ser alargados a toda a comunidade, através dos seus efeitos indirectos, bem como
efeitos de imitação das suas boas práticas. Deste modo, esta dimensão foi analisada tendo
em conta os principais beneficiários do projecto e os efeitos indirectos da intervenção ao
nível da comunidade.
Na Ribeira Bote, os beneficiários directos do projecto são os artesões, artistas, as famílias
receptoras, os jovens e as crianças. Indirectamente, o projecto pretende abranger também
outros beneficiários, que serão incluídos pelas actividades desenvolvidas no âmbito do
projecto.Outros efeitos prendem-se com a dinamização social, o estímulo ao
associativismo e a promoção do território em geral, do seu património, cultura e
identidade.Em termos de impactos mais globais, o trabalho de sensibilização conduzido no
âmbito do projecto de PRB-TC tem tido algumas repercussões, nomeadamente devido ao
interesse que o projecto tem suscitado junto dos Mídias (com reportagens em revistas,
jornais, rádios e televisão), estudantes e investigadores, agentes de desenvolvimento, poder
político. O projecto chama atenção principalmente por ser inovador, desenvolvido por
jovens e por estar colocando no foco, uma das zonas consideradas mais problemáticas da
ilha de São Vicente.O PRB-TC ainda é novo e pioneiro, bem como os seus promotores, por
isso o projecto foi pensado numa forma que beneficie toda a comunidade e não só os
intervenientes directos. O caminho é longo, portanto há ainda muito trabalho a fazer como
campanhas de sensibilização mais abrangentes, procurar mais parcerias, principalmente
com organizações e com pessoas experientes e mais influentes que possam contribuir para
o alcance dos objectivos propostos.
80
4.3 Avaliação do Projecto até ao Momento
O projecto Ribeira Bote- Turismo Comunitário iniciou no mês de Setembro de 2012 e já
conta neste momento com cerca de 160 visitantes (nacionais e internacionais) que
participaram do roteiro completo.
Dentre esses visitantes recebeu-se:
Dia 16 de Setembro de 2012: O Presidente da República de Cabo Verde, Dr. Jorge
Carlos Fonseca e a Primeira-dama, Lígia Lubrino Fonseca;
Dia 5 de Fevereiro de 2013: Dois Representantes do CNV (Corpo Nacional do
Voluntariado), Émerson Pimentel e Vanessa Cruz onde foram estabelecidos
algumas parcerias no âmbito do desenvolvimento comunitário.
Dia 18 de Fevereiro de 2013: Membros do Conselho de Ministros, nomeadamente,
a Ministra da Juventude,Dr.ª Janira HoppherAlmada, a Ministra das Finanças Dr.ª
Cristina Duarte, a Ministra da Saúde Dr.ª Cristina Fontes Lima, A Ministra da
Educação e Desporto Drª.Fernanda Marques, O Ministro do Turismo Dr. Humberto
Brito, o Ministro da Cultura Dr. Mário Lúcio e a Directora da ADEI (Agência para
Desenvolvimento Empresarial e Inovação) Dr.ª Leontina, participando de uma
actividade destinada ao jovens da zona em parceria com a CNV e o Centro da
Juventude de São Vicente.
Dia 27 de Março de 2013: Um grupo de 35 estudantes do Liceu Domingos Ramos
na Cidade da Praia, juntamente com estudantes da Escola Jorge Barbosa do
Mindelo.
Dia 3 de Abril de 2013: Presidente da Assembleia Nacional de Cabo Verde Dr.
Basílio Mosso Ramos e alguns deputados representantes dos partidos políticos.
Turistas de diversas nacionalidades: cerca de 60 Alemãos, 15 Suecos, 10 Suíços, 5
Luxemburgueses, 5 Brasileiros, 8 Portugueses e 10 Itálianos.
81
O projecto integra directamente cerca de 20 moradores da comunidade incluindo artistas,
artesões músicos e famílias acolhedoras.
Das actividades realizadas na comunidade, destacam-se a realização de uma Feira de
Saúde em parceria com a Verdefam, CADM –SV(Centro de Apoio aos Doentes Mentais de
São Vicente) e a Delegacia de Saúde de São Vicente, algumas palestras sobre álcool,
drogas e delinquência juvenil tendo como público-alvo, os grupos de jovens considerados
de riscos, a promoção de actividades diversas destinadas a crianças, como tardes infantis,
tardes de leitura e teatros educativos, sessão de cinema infantil com parcerias diversas.
Procedeu-setambém a distribuição de materiais escolares resultantes da visita do Presidente
da República, onde foram beneficiados 100 famílias incluindo 180 crianças na idade
escolar. No âmbito das actividades comunitárias de Natal houve recolha e distribuição de
brinquedos e roupas para as crianças mais carenciadas da zona.
E alguns projectos de desenvolvimento comunitário que foram submetidos a
financiamentos em algumas organizações. (Projectos para formações diversas e para
reabilitação do Jardim Infantil de Ilha d´Madeira.)
82
4.4 Pesquisa no Terreno
4.4.1 População e Amostra
Entende-se por população o conjunto de todos os indivíduos nos quais se desejam
investigar algumas propriedades, tendo uma ou mais características comuns, e encontram-
se num espaço ou território conhecido. Vilelas (2009)
Para o cálculo do tamanho da nossa amostra, utilizou-se a fórmula indicada pelo
Richardson (1999), que é a seguinte:
Onde:
n = Tamanho da amostra.
σ2 = Nível de confiança
p = Proporção da característica pesquisada no universo, calculada em percentagem.
q = 100 – p (em percentagem).
N = Tamanho da amostra
E2 = Erro de estimação permitido
4.4.2 Método de Selecção da Amostra
Existem dois grandes grupos de métodos para seleccionar amostras: os métodos
probabilísticos ou de amostragem casual e os métodos não probabilísticos ou de
amostragem dirigida.
A amostragem casual permite ao investigador demonstrar a representatividade da amostra,
para além de permitir medir explicitamente o erro cometido por se usar uma amostra em
vez da população. Ainda permite identificar explicitamente os potenciais enviesamentos.
Relativamente ao método probabilístico utilizado, optamos pelo método de amostragem
aleatória simples, de forma a assegurar que todos os elementos da população tivessem a
mesma probabilidade de serem escolhidos e a garantir uma amostra representativa da
população.
83
4.4.3 Método de Colecta de Dados
A colecta de dados é a etapa em que se inicia a aplicação dos instrumentos elaborados e
das técnicas seleccionadas e, de acordo com Lakatos e Marconi (2001), é uma tarefa
demorada que exige do pesquisador muita paciência, um cuidadoso registo dos dados e
deum bom preparo anterior.
Os dados podem ser divididos em dois grupos: dados primários e dados secundários.
Vilelas (2009) define dados primários como aqueles que o investigador obtém
directamente da realidade, recolhendo-os com os seus próprios instrumentos. Dados
secundários são os registos escritos também provenientes de um contacto com a prática,
mas que já foram recolhidos e diversas vezes processadas por outros investigadores.
A fonte primária utilizada para a recolha de dados foram três questionários (em anexo)
dirigido a comunidade, aos integrantes e aos turistas. Foi aplicado com intuito de recolher
informações concretas a cerca das opiniões pessoais e percepções tendo em conta O PRB-
TC.
4.4.4 O Questionário
Para atingir o objectivo geral definido para estudo, foi criado um instrumento para colecta
de dados, o questionário, visto que, apresenta maior simplicidade de análise e maior
rapidez na recolha dos dados.Este questionário foi aplicado no preriodo de 01 de Março á
03 de Julho de 2013 com intuito de se conhecer a percepção dos turistas que visitam o
local de forma a propiciar uma maior integração destes aspectos no planeamento do
turismo desenvolvido no local e, consequentemente, garantir uma experiência rica e
agradável aos visitantes sem causar impactos significativos aos recursos naturais e
principalmente culturais. Fez uso também de inquéritos aplicados a pessoas moradores da
84
comunidade e aosparticipantes directos do projecto com o objectivo de perceber se a
comunidade tem sido beneficiado com o projecto.
Para Wood e Haber (2001) apud Vilelas (2009:287), os questionários são instrumentos de
registo escritos e planeados para pesquisar dados de sujeitos, através de questões, a
respeito de conhecimentos, atitudes, crenças e sentimentos.
Para Gil (1999), o questionário é uma das técnicas de colecta de dados e é composto por
questões escritas apresentadas aos detentores de dados, para a obtenção de opiniões,
percepções, interesses, situações vivenciadas, de entre outros.
4.4.5 A Entrevista
ANDRADE (2006) defende que a entrevista é um instrumento eficaz na recolha de dados
fidedignos para a elaboração de uma pesquisa, desde que seja bem elaborada, bem
realizada e bem interpretada.
Para MARCONI (2007) entrevista é um encontro entre duas pessoas a fim de que uma
delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação
de natureza profissional. É um procedimento utilizado na investigação social para a colecta
de dados ou para ajudar no diagnóstico ou tratamento de um problema social.
ANDRADE (2006) (apud MARCONI, 1990, p.85) apresenta 3 tipos de entrevista, sendo a
padronizada ou estruturada; despadronizada ou não estruturada e painel.
A fim de conhecer a opinião dos promotores do projecto efectuou-se duas entrevista a duas
pessoas de importante relevância para o projecto, o Frei Silvino Benetti e Marcus Leukel
que consiste em fazer uma serie de perguntas segundo um roteiro com os principais tópicos
relativos ao assunto da pesquisa.
Este tipo de entrevista confere mais liberdade tanto para o pesquisador quanto para o
entrevistado, podendo o entrevistador alongar-se em determinados tópicos, o que traz mais
informações e decorre como uma conversa informal.
85
4.4.6 Tratamento e Analise de Dados
Na pesquisa de carácter quantitativo, normalmente os dados colectados são submetidos à
análise estatística, com a ajuda de alguns softwares. Os dados obtidos da amostra foram
alvos de tratamento no software estatístico, mais concretamente o SPSS 17.0 e Excel.
Para o presente estudo, recorreu-se à análise descritiva para descrever os dados e tirar
conclusões sobre o domínio do conhecimento em estudo.
A Comunidade
Para avaliar a opinião e a percepção da comunidade em relação ao PRB-TC foi utilizado
uma amostra de 145 morados de um total de 3.956 habitantes da Ribeira Bote aos quais se
aplicou um questionário por inquérito (ver Anexo D) com o objectivo de saber se a
comunidade tem sido beneficiada com este projecto. O grau de confiabilidade da pesquisa
é de 95% tendo como nivel de confiança uma percentagem de 1.96% e uma margem de
erro de 8%.
Tendo em conta os inquéritos aplicados constatou-se que 60% dos inquiridos tem
conhecimento do projecto, pois já foram informados das actividades realizadas e costumam
ver frequentemente os turistas a passearem na comunidade, sendo que 48,3% desses
conhece todos os seus responsáveis. Enquanto 40% diz desconhecer o projecto, apesar de
alguns já terem vistos os turistas mas não faziam ideia de que tinha um projecto por de trás
das visitas. Essa percentagem representa uma grande fatia devido ao facto do projecto ser
novo ainda não foi estendido a toda comunidade. 22,1% diz conhecer ou já ouviu falar,
mas não tem conhecimento de todos os seus responsáveis, pelo que na sua opinião o
86
projecto deveria ser ainda mais divulgado, como se poderá verificar nas tabelas a
seguir:(tabela 9 e 10)
Tabela 9:Nível de conhecimento do projecto por parte da comunidade(%)
Sim 60,0
Não 40,0
Total 100,0
Tabela 10:Nível de conhecimento acerca dos responsáveis do projecto por parte da comunidade (%)
Sim 48,3
Não 22,1
S/ resposta 29,7
Total 100,0
No que diz respeito aos objectivos do projecto tanto a nível comunitário como a nível
turístico, a maior parte dos inquiridos que representam 60% não tem conhecimento desses
objectivos. Pelo que será necessário uma maior abordagem a nível de divulgação dos
mesmos.
Tabela 11:Nível de conhecimento dos objectivos do projecto por parte da comunidade (%)
Sim 40,0
Não 29,7
S/ resposta 30,3
Total 100,0
Um dos objectivos da investigação era perceber se o PRB- TC beneficia e contribui para o
desenvolvimento da comunidade de Ribeira Bote, segundo os dados apresentados a seguir
58% da população acredita que a zona tem sido beneficiada sim e desses 24,1% já obteve
benefício próprio principalmente através das actividades comunitárias realizadas no
87
âmbitodo projecto, como distribuição de roupas e materiais escolares, as actividades
infantis, palestras etc. (tabela 12 e 13).
Tabela 12: Benefício da Comunidade em relação ao projecto (%)
Sim 58,6
Não 0,7
S/ resposta 40,7
Total 100,0
Tabela 13:Percentagem das pessoas que já foram beneficiadas com as actividades do projecto (%)
Sim 24,1
Não 44,1
S/ resposta 31,7
Total 100,0
Tendo em conta os impactos provocados pelo PRB-TC até ao presente, 60% considera que
tem trazido impactos positivos, nomeadamente a abertura da comunidade ao exterior,
referindo-se aos turistas, a mudança da imagem e da mentalidade, que as pessoas tem dessa
comunidade, as oportunidades visualizadas no que diz respeito aos projectos de
financiamento, e principalmente a inclusão dos jovens nos objectivos do projecto. No que
se refere aos impactos negativos, 57,9% acredita que o projecto não tem causado
transtornos na comunidade, mas uma pequena percentagem (2,8%) mostra-se preocupada
com a questão da exploração do turismo sexual na comunidade e com a distribuição dos
rendimentos auferidos dessa actividade (tabela 14 e 15)
Tabela 14:Opinião sobre os impactos positivos provocados pelo projecto (%)
Sim 60,0
S/ resposta 40,0
Total 100,0
88
Tabela 15:Opinião sobre os impactos negativos provocados pelo projecto (%)
Sim 2,8
Não 57,9
S/ resposta 39,3
Total 100,0
Os integrantes
Os integrantes do projecto são as pessoas que fazem parte do roteiro e que são visitados
pelos turistas durante a sua visita a R.B e representam um total de 20 integrantes. Destes
obteve-se uma amostra de 18, aos quais foram aplicados um inquéritos (ver Anexo E). As
conclusões do estudo efectuado apresentam um grau de confiabilidade de 95% para um
Nivel de Confiança de 1,96% e uma margem de erro de 8%.
Referindo-se aos objectivos do projecto, as pesquisas demonstram que a sua divulgação
tem sido fraca pelo que apenas 55,6% dos integrantes tem esse conhecimento, enquanto
44,4 os desconhece.
Tabela 16:Nível de conhecimento dos objectivos do projecto por parte dos integrantes (%)
Sim 55,6
Não 44,4
Total 100,0
A percentagem dos integrantes directos que já foram beneficiados com o projecto é de
94,4% sendo incluído nesses benefícios, as actividades comunitárias desenvolvidas, a
venda dos produtos aos turistas, a divulgação dos seus produtos, a integração no projecto,
etc.A maioria dos inquiridos manifestou o interesse em participar de uma associação de
desenvolvimento comunitário, para terem maior envolvimento nas tomadas de decisões.
Tabela 17: Percentagem dos integrantes que já foram beneficiados com o projecto
Sim 94,4
Não 5,6
Total 100,0
89
Para melhor planeamento das visitas turísticas aplicou-se um inquérito para obter a opinião
acerca da estrutura das visitas, os dados revelam que o nível de organização no geral é Boa
(88,9%), pois a data e o horário das visitas é informada sempre com alguma antecedência e
pessoalmente, no caso de cancelamento por parte das agências, essa informação também é
repassada imediatamente. No caso da duração e interacção com os turistas essa opinião
desce para Razoável, sendo 66,7% e 77,8% respectivamente, indicam os integrantes que a
duração das visitas junto de cada participante deveria ser mais longa estimulando assim
uma maior interacção com os mesmos. Apesar disso a grande maioria (77,8%) acham os
turistas e visitantes mostram um bom nível de interesse em relação aos produtos
apresentados por cada integrante. (tabela18)
Tabela 18: Opinião dos integrantes em relação a estrutura das visitas (%)
Organização
Duração
Interacção com
os Turistas
Nível de
interesse dos
turistas em
relação ao
atractivo
Insuficiente 0,0 5,6 0,0 0,0
Suficiente 5,6 0,0 0,0 0,0
Razoável 0,0 66,7 77,8 16,7
Bom 88,9 22,2 11,1 77,8
Muito Bom 5,6 5,6 11,1 5,6
Total 100,0 100,0 100,0 100,0
90
Os Turistas
Para analisar a percepção e a satisfação dos turistas que visitaram a R.B. aplicou-se um
modelo de inquérito (ver Anexo F) à 50 visitantes que representam a amostra de um total
75 turistas que estiveram na R.B. no período de Março a Julho. Os dados recolhidos deste
estudo representam um grau de confiabilidade de 95% para e um nivel de confiança de
1,96% para um grau de erro de 8%.
Com o mesmo objectivo de melhor planeamento das visitas turísticas aplicou-se um
inquérito para obter a opinião acerca da estrutura das visitas aos turistas que segundo o
quadro seguinte o nível de organização no geral é Boa (82,%), e Muito Boa para 16% dos
visitantes. Em relação a duração da visita, o tempo disponibilizado é Bom (78%) e para os
restantes 22% é Razoável. Na interacção com a comunidade a opinião desce para Razoável
(54%) pois estes também partilham da opinião de que deveria haver mais interacção com a
comunidade. Os dados demonstram ainda que o nível de percepção em relação ao atractivo
assim como a experiência vivida e o profissionalismo dos responsáveis é Boa sendo 48%,
54% e 74% respectivamente.
Tabela 19:Opinião dos turistas em relação a estrutura das visitas (%)
Organização
Duração
Interacção com
a Comunidade
Nível de
percepção
em relação
ao atractivo
Experiência
Profissional
.
Suficiente 0,0 0,0 4,0 0,0 0,0 2,0
Razoável 2,0 22,0 54,0 24,0 6,0 0,0
Bom 82,0 78,0 38,0 48,0 54,0 74,0
Muito
Bom
16,0 0,0 4,0 28,0 40,0 24.0
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
91
A totalidade (100%) dos inquiridos; turistas e visitantes considera que o preço do roteiro é
bastante acessível tendo em conta o tipo de produto oferecido e ainda partilham da opinião
de que recomendará o produto a amigos e conhecidos e ainda que deve-se continuar a
apostar neste projecto (tabela 20 e 22) sendo que desses 92% pretende voltar a comunidade
posteriormente (tabela 21).
Tabela 20: Opinião dos visitantes em relação ao preço das visitas
Preço (%)
Acessível 100,0
Total 100,0
Tabela 21: Percentagem dos visitantes que pretendem voltar a Comunidade
Sim 92,0
Não sabe 8,0
Total 100,0
Tabela 22:Percentagem dos visitantes que recomendarão e acham que deve-se continuar a apostar no Produto
Recomenda o
Produto
Continuar a apostar
no Produto
Sim 100,0 100,0
Total 100,0 100,0
92
Breve reflexão tendo em conta os dados recolhidos
Tendo em conta o estudo de caso no terreno e os dados obtidos, sugere-se algumas
estratégias para o alcance dos objectivos proposto na elaboração do PRB-TC:
Fazer novas campanhas de divulgação do projecto, dos seus objectivos e dos
responsáveis, tanto na comunidade como fora dela, e incluindo em primeiro plano
os integrantes directos do projecto;
Fazer novas campanhas de sensibilização para dar a conhecer ainda mais a
importância do projecto;
Tentar envolver no máximo todos os bairros situados dentro da Ribeira Bote,
descobrindo todo o seu potencial tornando num atractivo turístico;
Ter em conta a duração das visitas, refazer as rotas diminuindo o número de
atractivo em cada visita alternadamente, para que os turistas, integrantes e
comunidade tenham mais tempo para interacção;
Investir mais na história de alguns pontos do roteiro de forma a enriquecer o
produto e cativar ainda mais os visitantes;
Tentar envolver os turistas mais na aprendizagem dos processos de fabricação dos
produtos, criando assim o sentido de pertença em vez de simplesmente mostrar-lhes
produtos para compra;
Apostar nas formações para prestar um serviço de qualidade ao turistas como por
exemplo, guias de turismo, cursos de línguas, tratamento e higiene alimentar para
as famílias acolhedoras, etc.
Zelar ainda mais pela segurança dos visitantes dentro da comunidade contando com
o apoio fundamental dos moradores e criando parcerias com a Policia de Ordem
Pública.
93
5 CAPITULO
5.1 Limitações e Desafios
O estudo sobre o Turismo Comunitário não foi aqui analisado com base em bibliografias
editadas como era previsto, devido ao facto de existirem poucas obras sobre o assunto em
São Vicente, pelo que se baseou em documentos e trabalhos académicos feitos,
encontrados na internet que serão indicados na Bibliografia, o que pode ser entendido
como uma limitação do estudo e da abordagemproposta. Outras das limitações encontradas
foi a falta de actores na comunidade e pessoas com conhecimento profundo sobre o tema
proposto que poderiam enriquecer ainda mais o trabalho com o seu contributo.
Contudo, um desafio para uma investigação futura poderia ser uma maior quantificação
dos impactos deste projecto, através do recurso aos indicadores tradicionais como o
número de empregos criados, as novas actividades económicas, as taxas deocupação, o
volume de negócios, ou as próprias iniciativas criadas dentro do projecto a longo prazo.
Por outro lado, a questão da sustentabilidade do projecto não foi abordada, porque tendo
em conta a duração do projecto ainda não se pode dizer que é sustentável embora os
índices existentes e a crescente taxa de procura indicam que o mesmo possa ocorrer, sendo
este um tipo de turismo cada vez mais procurado pelo facto da consciência social estar a
aumentar em todo mundo indica que o potencial para o crecimento exista, pelo que poderá
ser profundamente analisada em futuros estudos
Um outro desafio no sentido de potenciar o impacto social e político dainvestigação seria
desenvolver a análise no contexto da metodologia de investigação-acção, articulando a
aprendizagem com a acção formando e informando a comunidade sobre o turismo
comunitário e a sua importância para o DC.
94
Este estudo representa apenas uma pesquisa inicial sobre Turismo Comunitário e seus
impactos sobre o desenvolvimento das comunidades e territórios de acolhimento, podendo
constituiruma base para a realização de futuras investigações.
5.2 Pistas para uma Prática Reflexiva de Turismo Comunitário
A análise teórica e empírica evidencia que o turismo, por si só, não é uma receita milagrosa
para o desenvolvimento. Para que o turismo contribua efectivamente para o DC,
aparticipação da comunidade é um factor crítico, já que tem influência sobre as
restantesdimensões do DC: sem participação comunitária não há mobilização dos recursos
humanos endógenos, não há empoderamento; não é possível a fertilização dos recursos
exógenos numa perspectiva de autonomia e sustentabilidade; a intervenção fica desligada
do território, da sua identidade e valores; a satisfação das necessidades da comunidade é
limitada; a abordagem fica desintegrada, sem o envolvimento dos diferentes actores locais;
o contributo para o processo de mudança da comunidade e o impacto em toda a
comunidade são limitados, podendo tornar-se num enclave. Assim, é essencial ter em conta
as questões socioculturais e o conhecimento profundo da realidade em que se intervém
para a sensibilização e o envolvimento da comunidade, para a aceitação por parte da
mesma da metodologia proposta, para ultrapassar eventuais resistências e desistências.
Para tal, têm que ser aplicados mecanismos no sentido de facilitar a participação da
população local, trabalhando sobre a autonomia, auto-estima e auto-determinação da
comunidade. Afinal, só a participação e responsabilidade colectiva da comunidade
permitem garantir que a actividade turística se faz em benefício de toda a comunidade e
território.
Por outro lado, os projectos de TC, enquanto projectos turísticos de pequena escala, não
funcionam em favor das comunidades de acolhimento a não ser que tragam benefícios
95
directos e perceptíveis para essas comunidades. Isto ocorre naturalmente se houver espaço
para as populações locais desenvolverem as suas actividades e serviços, seja através da sua
participação nas cadeias de abastecimento do sector (agricultura, pecuária, actividades
artesanais, pequena indústria), seja prestando directamente os seus serviços enquanto guias
turísticos, monitores de actividades desportivas e de lazer, venda de artesanato, pequeno
comércio, contadores de histórias. Este efeito difusor dos projectos turísticos ao nível do
despoletar de novas actividade geradoras de rendimentos, não é automático ou linear,
podendo, numa fase inicial, requerer um trabalho de facilitação e estímulo ao
empreendedorismo.
É, assim, necessária a adopção de metodologias participativas, acompanhadas de um
trabalho de sensibilização, capacitação, assessoria técnica, no sentido da facilitação das
iniciativas turísticas locais, sejam de carácter individual ou comunitário. Por outro lado, só
a reunião regular com os residentes e interlocutores locais permite explicar, sensibilizar,
consolidar e gerar discussão para fazer emergir decisões satisfatórias para todos.
O Projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário pretende assumir estas responsabilidades
para que a comunidade de Ribeira Bote saia a ganhar em todas as actividades
desenvolvidas no âmbito do mesmo como por exemplo, o envolvimento dos líderes
comunitários e outros interlocutores locais; animação comunitária e estruturação colectiva;
diagnóstico participativo e definição participada de prioridades e estratégias;
estabelecimento de parcerias; opção pela pequena escala.
Qualquer abordagem deverá necessariamente inscrever-se num processo gradual,
progressivo e de longa duração.
Em suma, para que os projectos turísticos possam desencadear processos de
desenvolvimento, de forma continuada e sustentável – com repercussões ao nível da
valorização das capacidades e potencialidades locais, do aprofundamento das redes de
96
solidariedade e da autonomia – é necessária uma abordagem multidimensional,
participativa, integrada e integradora, sempre em articulação com os restantes sectores da
economia e da sociedade.
A
97
CONCLUSÃO
O Turismo Comunitário remete-nos a essência do turismo onde as viagens tinham o
propósito principal de conhecer outros povos, sua cultura e seus hábitos e não somente o
consumismo e vivências temáticas.
Este modelo de desenvolvimento, pode explorar o turismo de forma justa preservando
patrimônios naturais, culturais e social, porém este modelo não deve ser tratado de forma
utópica ou como meio de expressão revolucionária contra os padrões econômicos atuais e
sim como uma oportunidade de desenvolvimento para uma comunidade organizada.
Contudo, para que o desenvolvimento do Turismo de Base Comunitária tenha real
concretização, é essencial de algum modo, a interferência de outros setores, garantindo que
a atividade turística não pode ser desenvolvida isoladamente pela comunidade, porém a
comunidade consciente pode ser a base para o desenvolvimento do turismo.
Tendo em conta a questão de partida podemos afirmar que o turismo comunitário pode sim
desenvolver a comunidade de R. B. pois o Projecto Ribeira Bote- Turismo Comunitário
propõe diversos objectivos de forma a assegurar que toda a comunidade seja beneficiada
com o desenvolvimento do turismo a longo prazo, pelo que se confirmam também as
hipóteses anteriormente apresentadas, chegando a conclusão de que este projecto se
enquadra no TC.
Tendo em conta o estudo de caso apresentado, vê-se necessário ainda investir nos
processos de formação dos intervenientes, fomentar a comercialização de produtos
visando, sobretudo, a qualificação da experiência do turista, proporcionando a sua máxima
satisfação e, consequente, fidelização e/ou promoção positiva do destino, através do
marketing boca-a-boca. E também criar novas parcerias que contribuirão para o alcance
dos objectivos propostos.
98
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Maria Margarida. Introdução à Metodologia do Trabalho Cientifico. 7ª.ed. São Paulo:
Atlas, 2006.
BEEK, Walter van (2007). “Approaching African tourism: paradigms and paradoxes”, in Chabal, Patrick; Engel, Ulf; Haan, Leo (eds.), African Alternatives, Leiden & Boston:
BENI, M. C..( 2006).Política e planejamento de turismo no Brasil. São Paulo: Aleph. Brill.
BOYER MARC, (2000) Histoire de l´invention du Tourism, XVI-XIV siècles.Edition d´Oube
BUARQUE. (2002). SergioC..Construindo o desenvolvimento local sustentável. Rio de
Janeiro/RJ: Garamond.
Câmara Municipal de São Vicente.(2012)Perfil Urbano do Mindelo. Revista Soncent,Nº1, 5-6.
COHEN, Eric (1991). “TheSociologyofTourism: approaches, issues and findings”, inTourism:
theoretical and empirical investigations, London & New York: Routledge.
CORIOLANO, L. N. (2006). Turismo: prática social de apropriação e de dominação de territórios. In: LEMOS, A. I; et al (ORGs). América Latina: cidade, campo e turismo.São Paulo: Expressão
Popular.
CORIOLANO, L. N. e LIMA, L. C. (2003). (org.). Turismo comunitário
eresponsabilidadesocioambiental. Fortaleza: EDUECE,
CUNHA, L. (2003). “Introdução ao Turismo” 2º edição, nº , Lisboa – São Paulo. VerboEditora
DANN, GRAHAM; COHEN, ERIC (1991), “Sociology and tourism”, in Apostolopoulos, Yorgos;Leivadi, Stella; Yiannakis, Andrew (eds.), The Sociology of Tourism: theoretical
andempirical investigations, London & New York: Routledge.
FUSTER, LuisFernandez. (1967) Teoria yTecnicadelTourism, Mundo cientifico, série Turismo.
GIL, António Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social, 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
ICRT (2002), “Cape Town Declaration, Responsible Tourism in Destinations”, in TheCapeTown Conference, World Summit on Sustainable Development.
ILLICH, Ivan (1976). A convivencialidade. Lisboa: Europa-América.
KLIKSBERG, Bernardo. Seis teses não-convencionais sobre participação. Revista de
Administração Pública/FGV. Rio de Janeiro, v.33, n.3, p. 7-37. mai/jun. 1999.
KLIKSBERG, Bernardo.Capital Social e Cultura: claves esquecidas do desenvolvimento. In:
SEMINÁRIO: O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SÉCULO XXI, 2003, Rio de
Janeiro. Apostlia. 48p.
KRIPPENDORF, J.(2003). Sociologia do turismo: para uma nova compreensão do lazer e das
viagens. Tradução de Contexto traduções. 3ºed. São Paulo: Aleph
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2001.
99
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica.
6. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
LAURENT, Alain (2004), Agenda 21 Local para o Turismo a partir das Comunidades de Base
MALDONADO, C. (s/d). O Turismo Rural Comunitário na América Latina: gênesis,
características e políticas. In Bartolo, R., Santolo, D e Bursztyn, I. (2009). (Eds.), Turismo de Base
comunitária: Diversidade de olhares e experiência brasileiras. Nova Letra Gráfica e Editora.
MARQUES, Joana (2009). Para além da filantropia: contributo do Turismo Solidário para o Desenvolvimento Comunitário, uma análise comparada Cabo Verde – São Tomé ePríncipe. Tese
de Mestrado, ISCTE-IUL
MATIAS, Álvaro (2007), Economia do Turismo – Teoria e Prática, Lisboa: Instituto Piaget.
MAX-NEEF. M. (2008).La dimension perdida: la inmensidad de la medida humana. Içaria:
Barcelona,
MCCANNEL, Dean (1976), The tourist: a new theory of leisure class, London: MacMillan.
POOS, Samuel (2006), Tourisme equitable etsolidaire: unexemple de commerce equitabledans le domaine des services, Bruxelles: Fair Trade Centre.
PUTNAM, Robert D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. Rio de Janeiro:
FGV, 1996.
RAMOS, Manuel (2003). Mindelo d`Outrora. Mindelo. Pág.35-36.
RIBEIRO, Marcelo (2009). Turismo comunitário: relações entre anfitriões convidados. In: Segmentação domercado turístico: estudos, produtos e perspectivas. Barueri, São
Paulo:Manole, , p. 107 – 120.
RICHARDSON, Roberto Jarry.(1999) Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. rev.eamp. São
Paulo: Atlas,.
RODRIGUES, Moacyr (2011). Carnaval do Mindelo: formas de Reinvenção da Festa e da Sociedade. Representações mentais e materiais da cultura mindelense.
SAMPAIO, C. A. C. e CORIOLANO; L. N. (2009) Dialogando com experiênciasvivenciadas em
Marraquech e AméricaLatina para compreensão do turismocomunitário e solidário. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo. v. 3, n. 1, p. 4-24,.
SAMPAIO, C. A. C.(2005).Turismo como fenômeno humano: princípios para se pensar a
socioeconomia e sua prática sob a denominação turismo comunitário. Santa Cruz do Sul: EDUNISC,
SAMPAIO, C. A. C.; ZECHNER, T. C.; HENRÍQUEZ, C.(2008). “Pensando o conceito de
turismo comunitário a partir de experiências brasileiras, chilenas e costarriquenha”. In: II
Seminário Internacional de Turismo Sustentável (SITS), 12 a 15 de maio de 2008, Fortaleza (CE). Anais..., Fortaleza
SAMPAIO, C. E ZAMIGNAN , G (2009). Estudo da demanda turística: Experiência de Turismo
Comunitário da Microbacia do Rio Sagrado, Morretes (PR). Revista de Cultura e Turismo.CULTUR, ano 06-nº01-Fev/2012.
100
URRY, John (1991b), “The changing economics of the tourist industry”, in Apostolopoulos,
Yorgos; Leivadi, Stella; Yiannakis, Andrew (edit.), The Sociology of Tourism: theoretical and
empirical investigations, London & New York: Routledge.
URRY, John (1995), Consuming places, London: Routledge.
URRY, John (2002), The tourist gaze, London: Sage Publications.
VILELAS, José. Investigação: o processo de construção do conhecimento. Lisboa: Edições Sílabo,
2009.
WorldTourism Conference, (1980) Objectifsenmatiére de liberte dumovement, CMT/BB16, Manila
ZAMIGNAN, G. (2009).O perfil do turista da modalidade de turismo comunitário: um estudo
da experiência de turismo de base comunitária na Microbacia do Rio Sagrado. Monografia
(Curso de Graduação em Turismo e Lazer). Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Universidade Regional de Blumenau (FURB),
ZECHNER, TALITA C.; ALVES, FLÁVIA K.; SAMPAIO, CARLOS ALBERTO C. (2008).
“O Papel do Turismo no Arranjo Sócio produtivo de Base Comunitária da Micro-Bacia do Rio
Sagrado. Dynamis revista tecno-científica. Brasil.
Internet
(ALTICOBA 21), República do Djubuti - Uma iniciativa de desenvolvimento sustentável através de
um turismo responsável, à escala de um território de participação, http://base.d-p-
h.info/pt/fiches/dph/fiche-dph-7161.html2013-05-05, 15:30
A Nação Online:Turismo comunitário no Mindelo: Jovens levam turistas a conhecerem Ribeira
Botehttp://www.alfa.cv/anacao_online/index.php/economia/4157-turismo-comunitario-no mindelo-jovens-levam-turistas-a-conhecerem-ribeira-bote, 2013 - 04-19, 17:19
Amblés, Anne (2002), “Tourismeoutourisme?”,Courrield'information ATTAC, nº 297,www.fsa.ulaval.ca/personnel/vernag/eh/F/cause/lectures/tourisme_ou_tourisme.htm2013-05-
04, 09:50
Amblés, Anne (2002), Tourisme: histoire de consommation, histoire de
dominations?,www.tourisme-durable.net/article.php3?id_article=402013-05-04, 09:37
Amo, Dolores Herrero (2003), Turismo Solidário - marco de aproximación. Diploma de EstudiosAvanzadosen Turismo, Madrid: UniversidadAntonio de
Nebrija,www.turismoresponsable.org/Investigacio_debate/0803_turismosolidario_dherrero.pdf201
3-05-08, 16:31
BCA: O Sector do Turismo em Cabo Verde-Competitividade e
Perspectivashttp://www.bca.cv/Conteudos/Artigos/detalhe.aspx?idc=22&idl=1&idi=2344, 2013 -
04-19, 17:56
BITS (2003).Statuts du Bureau International duTourisme
Social,www.bitsint.org/files/1177082769_fr_Statuts.pdf Brill.2013-05-08, 17:12
101
Brohman, John (1996), “New directions in tourism for Third World development”, inAnnals of
Tourism Research, vol. 23, no. 1, pp. 48-
70,www.sciencedirect.com/science/journal/016073832013-05-08, 16:15
Câmara Câmara de Comércio, Indústria e Turismo Portugal Cabo Verde: Plano Estratégico para
Desenvolvimento do Turismo 2010-
2013http://www.portugalcaboverde.com/item2_detail.php?lang=1&id_channel=33&id_page=95&id=100, 2013 - 04-19, 17:06
Câmara de Comércio, Indústria e Turismo Portugal Cabo Verde:São Vicente http://www.portugalcaboverde.com/item2_detail.php?lang=1&id_channel=24&id_page=130&id=1
30, 2013 - 04-19, 17:01
Carla. SOS Monografias: Tipos de Investigação Cientifica http://sosmonografia.blogspot.com/,2013 - 04-19, 10:25
CARVALHO, Vininha. F. (2007). O Turismo Comunitário como instrumento de
desenvolvimento sustentável.
http://www.revistaecotour.com.br/novo/home/default.asp?tipo=noticia&id=17592013-05-03,
09:45
Coriolando, Luzia; Almeida, Humberto (2007), “O turismo no nordeste brasileiro: dos resorts aos
núcleos de Economia Solidária”, Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografía y
CienciasSociales, vol. XI, n.º 245 (57), Barcelona: Universidade de Barcelona, www.ub.es/geocrit/sn/sn-24557.htm2013-05-08, 16:08
Coriolano, Luzia Neide M.T. (2006). Reflexões sobre o Turismo Comunitário. http://www.etur.com.br/conteudocompleto.asp?idconteudo=11164, 2013-04-14, 11:20
Gabriela.Turismo comunitário e inclusão social: um estudo sobre o programa turismo solidáriohttp://cirandas.net/gabriela/turismo-comunitario-e-inclusao-social-um-estudo-sobre-o
programa-turismo-solidario, 2013-02-13, 15:00
GONÇALO, José Evaldo. (2008). Edital de chamada pública de projetos MTur/N001/2008. Seleção de propostas de projetos para apoio às iniciativas de Turismo de base comunitária.
http://www.turismo.gov.br2013-05-03, 09:47
Goodwin, Harold (1998), “Sustainable Tourism and Poverty Alleviation”, DFID/DETR
Grimm, Isabel. Sampaio, Carlos. Turismo de base comunitária: convivencialidade e
conservaçãoambientalhttp://www.rbciamb.com.br/images/online/Materia_geral_7_artigos273.pdf,
2013-02-13, 15:23
IMF (2005), Cape Verde: Poverty Reduction Strategy Paper, Washington: International Monetary
Fund www.imf.org/external/pubs/ft/scr/2005/cr05135.pdf2013-05-04, 14:15
INECV (2007), Estatísticas de Turismo - Síntese de Resultados, www.ine.cv
INECV (2009), Base de dados estatísticos oficiaiswww.ine.cv/dadosestatisticos.aspx Laurent, Alain (2003), Caractériser le tourisme responsible facteur de
développementdurable,Toulouse: Ministère des Affaires étrangères,
www.tourismesolidaire.org/ressource/index.htm, 2013-05-08, 09:37
MACHADO, Maria Clara Silva; VILLELA, Luciana Bittencourt. Turismo de base comunitária
como alternativa para a inclusão social.
http://www.ivtrj.net/sapis/2006/pdf/MariaClaraMachado.pdf2013-05-03, 09:52
102
Mendonça, Teresa, Irving Marta (s/d). Turismo de Base Comunitária: A participação como prática
no desenvolvimento de projectos turístico no Brasil – Prainha do Canto Verde, Beberibe (CE). http://www.prac.ufpb.br/anais/xenex_xienid/x_enex/ANAIS/Area8/8CCHLADECOMPEX01.pdf2
013-05-03, 09:35
Ministério De Economia, Crescimento E Competitividade Direcção Geral Do Turismo:Plano Estratégico Para O Desenvolvimento Do Turismo Em Cabo Verde
https://portoncv.gov.cv/dhub/porton.por_global.open_file?p_doc_id=7632013 - 04-29, 18:05
Ministério do Turismo do Brasil (2008). MTur apoiará 50 projetos de turismo de base Comunitária.
http://www.turismo.gov.br/turismo/noticias/todas_noticias/20080811.html2013-05-03, 09:39
Oliveira, Aécio A. (s/d), Curso de Turismo de Inclusão,http://200.194.97.7/turismo2013-05-03, 09:45
Pro Poor Tourism Partnership (2008), Pro Poor Tourism,www.propoortourism.org.uk2013-05-08, 09:50
Rede cearense de Turismo Comunitário (2010). Turismo Comunitario. www.tucum.org/oktiva.net/2313/secao/18703. 2013-05-03, 09:30
Ritimo, Cdtm34 (2007), TourismeSolidaire:
Introduction,www.ritimo.org/dossiers_thematiques/tourisme/tourisme_intro.html2013-05-08, 10:00
TIES (2008), The International Ecotourism Society,www.ecotourism.org2013-05-10, 11:05
Wikipédia: Ilha de São Vicente
CaboVerdehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_de_S%C3%A3o_Vicente_%28Cabo_Verde%29, 2013 - 04-13, 16:54
Wikipédia: Mindelo Cabo Verde, http://pt.wikipedia.org/wiki/Mindelo_%28Cabo_Verde%29,
2013 - 04-19, 18:58
Workshop on Sustainable Tourism and Poverty, London: Department of for International
Development, www.propoortourism.org.uk/dfid_paper.pdf2013-05-04, 11: 04
WTO (2008), Tourism Highlights 2008, Madrid: World Tourism
Organization,http://unwto.org/facts/eng/pdf/highlights/UNWTO_Highlights08_en_HR.pdf2013-
05-08, 11:10
WTO (2009), World Tourism Barometer: International tourism challenged by deteriorating global
economy, Vol. 7, No. 1, Madrid: World Tourism Organization, http://unwto.org/facts/eng/pdf/barometer/UNWTO_Barom09_1_en_excerpt.pdf2013-05-08, 11:14
Zamignan, Gabriela. Turismo de base comunitária como perspectiva para a preservação da biodiversidade e de modos de vidas de comunidades tradicionais: a experiência da Micro Bacia
do Rio Sagrado, Morretes(PR)http://www.anppas.org.br/encontro5/cd/artigos/GT1-142-147-
20100809214216.pdf, 2013 - 04-19, 20:46
103
ANEXOS
104
ANEXO A
Entrevista Ao Frei Silvino (Entrevista 1)
1- Ha quanto tempo trabalha com a comunidade de Ribeira Bote
2- Como é que surgiu a ideia de trazer turistas para a comunidade de Ribeira Bote?
3- Porque é que escolheu a comunidade para receber os turistas tendo em conta que
trabalha também com outras comunidades em SV?
4- Que iniciativas o Frei tem desenvolvido na Comunidade actualmente?
5- Na sua opinião, como é que este projecto poderá ajudar no desenvolvimento da
comunidade de Ribeira Bote?
6- Qual é a sua opinião sobre o desenvolvimento actual do Projecto Ribeira Bote –
Turismo Comunitário?
7- Como é que o Frei tem colaborado com o projecto actualmente?
8- Sugestões.
105
ANEXO B
Entrevista a Agência Vista Verde (MarkusLeukel)Entrevista 2
1- Qual é a sua opinião em relação ao projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário?
2- Como é que teve conhecimento do referido projecto?
3- Na vossa opinião, como é que este projecto vem ajudar no desenvolvimento da
comunidade de Ribeira Bote?
4- Porque é que a agência apostou nesse tipo de turismo?
5- Qual a vossa opinião em relação ao serviço prestado até ao momento?
6- Pretendem continuar a apostar nessa iniciativa? Porquê?
7- Na vossa percepção qual é o nivel de satisfação dos turistas que tem visitado a
comunidade em relação a experiência vivida?
8- Esse tipo de turismo tem despertado muito interesse por parte dos turistas que
procuram a agência? E dos turistas no estrangeiro que tem acesso ao catalogo da
agência?
9- Qual é o perfil do turista que procura o tipo de turismo comunitário?
10- Sugestões.
106
ANEXO C- Mapa De Ribeira Bote Indicando Um Dos Roteiros Do Projecto
107
ANEXO C 1 - O Roteiro Turístico do Projecto
A imagem do projecto é representada por um puzzle onde integra algumas das
potencialidades da comunidade. A imagem foi inspirada pelo grupo e criada pelo designer
Rui Ribeiro também morador da comunidade. Nesta imagem destaca-se a Pintura, a
Gastronomia, a Escultura, Os Mandingas, a Cerâmica, o Desporto e a Música.
O passeio tem uma duração de cerca de 3 horas e começa com a visita ao mercado da
Ribeirinha (situado frente a zona da Ribeira Bote). Inicia-se com um pouco história sobre o
mercado, depois segue-se a apresentação, pelos próprios vendedores, dos produtos
vendidos no local tais como roupas, ervas para chás, argila, pimenta, milho, peixe,
verduras e hortaliças provenientes da zona de Calhau e da ilha de Santo Antão, entre outros
produtos. Podem encontrar também pessoas de outras ilhas de Cabo Verde como Santo
Antão, S Nicolau e Fogo e também de outros países da África como Costa do Marfim,
Senegal, Guine Bissau, etc.
Ilustração 1– Imagem do Projecto Ribeira Bote – Turismo
Comunitário
Fonte: PRB - TC
Ilustração 2- Mercado da Ribeirinha
Fonte: PRB - TC
108
(Continuação do Anexo C1…)
A visita continua em direcção ao bairro d` Ilha da Madeira, onde introduz-se sempre a
história do bairro e é onde se encontra grande parte dos artistas da ilha de São Vicente. Os
turistas visitam um grande sapateiro desta localidade oriundo da ilha do Fogo, que mostra
como são confeccionados ou consertados os sapatos que chegam até a sua sapataria.
Ilustração 3 - Sapateiro " Di Fogo" na sua sapataria
Fonte: PRB -TC
Após essa visita, entram na casa e ateliê de uma artesã de quadros Carina Mota. Os
quadros são feitos com uma técnica manual em platex (madeira) e utilizando Cola Branca
everniz para fazer os motivos dos desenhos. A maioria dos temas dos quadros representa a
vida quotidiana dos cabo-verdianos ou as ilhas de Cabo Verde.
Ilustração 4 - Artesã Carina Mota na confecção dos seus quadros
Fonte: PRB -TC
109
(Continuação do Anexo C1…)
Mais um famoso artista é o pintor Bitú Alves, conhecido pela sua pintura colorida e
bastante expressiva, e também pelas esculturas e trabalhos carnavalescos na ilha de São
Vicente.Outros artistas também da Ribeira Bote que tem o prazer de visitar são o Manu
Cabral, escultor e dinamizador do Carnaval, e o Albertino, artesão e escultor de pedras.
Estes três últimos com exposições e trabalhos reconhecidos internacionalmente.
É mesmo impressionante presenciar como esses artistas fazem os seus trabalhos.
Depois de visitar este artista, segue-se em direcção à mais um atractivo da comunidade,
onde uma simpática moradora da comunidade abre as portas da sua casa para visitarem um
poço de água salobra e límpida, com aproximadamente 30 metros de profundidade. A água
serve para as tarefas domésticas, tomar banho, para rega das plantas e para os animais e
outros fins excepto para o consumo humano e para cozinhar. O poço é de propriedade
privada mas a água é vendida a toda a comunidade, a um preço simbólico.
Ilustração 5 - Pintor Bitú Alves das suas pinturas
Fonte: PRB - TC
Ilustração 6: O poço de água e alguns visitantes
Fonte: PRB - TC
110
(Continuação do Anexo C1…)
A caminhada continua em direcção a casa de mais um artista/reciclador que faz cortinas
com argolas e tampas de garrafa plásticas, é importante mostrar que os moradores dessa
comunidade também estão preocupados com os problemas ambientais e fazem também da
reciclagem uma forma de sustento.
Na mesma casa ainda têm a oportunidade de visitar uma simpática rendeira também
oriunda da ilha do Fogo, mas há muito tempo residente em São Vicente que apresenta aos
visitantes o seu trabalho e os convida a aprender essa arte.
Ilustração 7: Artesão " Cubano" fazendo uma demonstração aos visitantes. A direita uma peça já confeccionada.
Fonte: PRB - TC
Ilustração 8: Rendas feitas pela dona Leopoldina
Fonte: PRB - TC
111
(Continuação do Anexo C1…)
O pessoal não para e a visita continua. O próximo ponto é uma oficina de carpintaria de um
dos melhores carpinteiros da ilha, Victor Pio. Este carpinteiro confecciona móveis
completos em madeira, faz o aproveitamento de paletes, emprega e da formação a muitos
de jovens da comunidade.
No Centro Social da Ribeira Bote têm ainda a oportunidade de visitar o CAPS –RB
(Centro de Apoio Psico-Social da Ribeira Bote), a Abraço - Associação dos Seropositivos
de São Vicente), o Clube Desportivo da Ribeira Bote e ainda outro artista que trabalha com
uma mistura de barro da ilha de Santo Antão e de São Vicente produzindo manualmente
magníficas peças artesanais em barro.
Ilustração 9: O carpinteiro
Victor Pio no seu ofício
Fonte: PRB - TC
Ilustração 10: O artesão e escultor "Djoy" e alguns dos seus trabalhos
Fonte: PRB - TC
112
(Continuação do Anexo C1…)
Ainda no mesmo edifício do centro, é possível também conhecer um costureiro designer de
moda que para além de fabricar uniformes escolares e empresariais, faz consertos de
roupas e ainda confecciona peças para o Carnaval. Este costureiro mais conhecido por
“DyBody”foi o autor dos três últimos vestidos vencedores de Rainha do Carnaval
Mindelense. E promove também formações para os jovens do bairro.
Esta localidade está recheada de pessoas com muito talento, e acsegue-se a visita amais
uma artesã/ reciclado, utiliza garrafa plásticas para fazer cestos e trabalhos diversos de
reciclagem, portanto, vale a pena visitar esses talentos que estão aí escondidos. Durante a
visita pela comunidade, têm ainda a oportunidade de cruzar com diversos artistas de rua
que confeccionam bijutarias e diversas peças de decoração.
Ilustração 11: Alguns trabalhos feitos pelo costureiro "Dy Body"
Fonte: PRB - TC
Ilustração 12: Um dos jovens que
podemos encontrar na Ribeira Bote
fazendo bijutaria.
Fonte: PRB - TC
Ilustração 13: Cestos feitos com garrafa plástica da
artesã Charlene Graça
Fonte: PRB - TC
113
(Continuação do Anexo C1…)
Avisitacontinua em direcção a casa de um jovem músico que anima ainda mais a visita
num ambiente descontraído ao som de diversas músicas cabo-verdianas.
No final do passeio os visitantes sentam-se para descansar um pouco, degustando o famoso
grogue e o ponche de sabores diversos, sumo de papaia natural ou de tamarindo, consoante
a época, pastel de milho, queijo de cabra fresco, etc. Ou um almoço na casa de uma família
da comunidade que pode ser cozido de peixe, cachupa fresca ou guisada entre outros pratos
típicos.
Depois do lanche ou do almoço ainda há tempo para um jogo de “uril” com os visitantes
visitantes.
Ilustração 14: O cantor Yanick e uma visitante. Fonte: PRB-TC
Ilustração 15: Almoço dos turistas na casa da
comunidade. Fonte: PRB- TC
Ilustração 16: Jogo de "Uril" depois do
almoço. Fonte: PRB- TC
114
(Continuação do Anexo C1…)
A visita termina sempre com uma foto de “família” que vai para a página do facebook do
Projecto onde os turistas, visitantes e a população no geral ficam a par das actividades
desenvolvidas na comunidade.
O roteiro sempre vária, tendo em conta o dia, o horário e o tamanho do grupo. A
comunidade tem ainda muitas coisas a serem descobertas pelos visitantes mas apenas numa
visita presencial.
Ilustração 17: um grupo de turistas depois da visita.
Fonte: PRB-TC
115
ANEXO D
Enquadrado no Projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário, o presente questionário tem
por objectivo analisar o grau de envolvimento e satisfação da comunidade de Ribeira Bote
em relação ao referido projecto.
Obrigado pela sua contribuição
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
-------
Enquadrado no Projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário, o presente questionário tem
por objectivo analisar o grau de envolvimento e satisfação da comunidade de Ribeira Bote
em relação ao referido projecto.
Obrigado pela sua contribuição
Sim Não
1 Tem conhecimento do projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário?
2 Sabe quem são os seus responsáveis?
3 Sabe quais são os objectivos do projecto a nível comunitário e a nível
turístico?
4 Na sua opinião a Comunidade tem sido beneficiada com o projecto?
5 Já foi beneficiado alguma vez pelas actividades promovidas no âmbito do
projecto?
6 O projecto tem trazido impactos positivos para a Comunidade?
7 O projecto tem trazido impactos negativos para a Comunidade?
Sim Não
1 Tem conhecimento do projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário?
2 Sabe quem são os seus responsáveis?
3 Sabe quais são os objectivos do projecto a nível comunitário e a nível
turístico?
4 Na sua opinião a Comunidade tem sido beneficiada com o projecto?
5 Já foi beneficiado alguma vez pelas actividades promovidas no âmbito do
projecto?
6 O projecto tem trazido impactos positivos para a Comunidade?
7 O projecto tem trazido impactos negativos para a Comunidade?
116
ANEXO E
Enquadrado no Projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário, o presente questionário tem
por objectivo analisar o grau de envolvimento e satisfação dos integrantes que participam
no roteiro em relação ao referido projecto.
Obrigado pela sua contribuição
Sim Não
1 Tem conhecimento do projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário?
2 Sabe quem são os seus responsáveis?
3 Sabe quais são os objectivos do projecto a nível comunitário e a nível
turístico?
4 Na sua opinião a Comunidade tem sido beneficiada com o projecto?
5 Como integrante directo, tem sido beneficiado pelas actividades
promovidas no âmbito do projecto?
6 O projecto tem trazido impactos positivos para a Comunidade?
7 O projecto tem trazido impactos negativos para a Comunidade?
8 Estaria interessado em participar numa associação de desenvolvimento
comunitário?
9 Como caracteriza as visitas turísticas, um termos de:
Insuf. Suf. Razoável Bom M.Bom
Organização
Duração
Interação com os turistas
Nível de interesse por parte dos turistas em relação
ao atrativo
117
ANEXO F
Framed in the ProjectRibeiraBote-Community Tourism, this questionnaire is toanalyze the
degreeofsatisfaction of touristsanddomesticvisitorswhovisitedthecommunityinrelationto the
project.
Nationality:
TANK YOU
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Enquadrado no Projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário, o presente questionário tem
por objectivo analisar o grau satisfação dos turistas e dos visitantes nacionais que visitam a
comunidade em relação ao projecto.
Nacionalidade:
Obrigado pela sua colaboração
1 Characterizesthevisitsasaterms of: Insuff. Suff. Reasonable good VeryGood
A organization
B Duration of visit
C Interaction with the community
D Level of perception regarding the attractive
E Experience
F Professionalism
2 How do you rate the product in relation to price Cheap Affordable Expensive
3 Seeks to return to the community later? Yes________ No_______
4 Would you recommend the product to friends Yes________ No_______
5 Could we continue betting in this type of tourism? Yes________ No_______
1 Como caracteriza a visitas, um termos de: Insuf. Suf. Razoável Bom M.Bom
A Organização
B Duração da visita
C Interacção com a comunidade
D Nível de percepção em relação ao atractivo
E Experiência
F Profissionalismo
2 Como classifica o produto em ralação ao preço Barato_____ Acessível____ Caro_____
3 Pretende voltar a comunidade posteriormente? Sim________ Não_______
4 Recomendaria o produto aos amigos/conhecidos? Sim________ Não_______
5 Podem continuar a apostar nesse tipo de turismo? Sim________ Não_______