Anais do XXIV Seminário Nacional UNIVERSITAS/BR ISSN 2446-6123
Universidade Estadual de Maringá – 18 a 20 de Maio de 2016 1747
GÊNERO E CONSTITUIÇÃO DA MULHER CAMPONESA: UM ESTUDO DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS SOBRE GÊNERO NA FORMAÇÃO
PROPOSTA PELA EDUCAÇÃO SUPERIOR DO CAMPO NO BRASIL DE 2011 A 2015.
Micheli Suellen Neves Gonçalves – PPGE/UnB
[email protected] Mônica Castagna Molina – PPGE/UnB
[email protected] Georgina Negrão Kalife Cordeiro – Faculdade de Educação /UFPA
[email protected] Eixo 7: Educação Superior do Campo na Expansão da Educação Superior
Resumo: Objetivou-se construir um estado do conhecimento sobre as produções acadêmicas que tratam das questões de Gênero na Educação Superior do Campo. Elegemos como fontes de pesquisa, dissertações e tese de Programas de Pós-graduação em Educação brasileiras defendidas entre 2011e 2015, para identificar as temáticas abordadas sobre a Educação Superior do Campo e verificar com que frequência e quais matrizes teórica-metodológicas a temática Gênero tem sido tratada nestas produções. A Educação Superior do Campo é uma proposta de formação omnilateral, alinhada a um projeto histórico de sociedade justa e igualitária, que tem se constituído como uma estratégia de compreensão e luta de diversas problemáticas inerentes ao campo no Brasil, que perpassam desde aspectos econômicos, políticos, educacionais e as próprias relações sociais, em que destacamos as relações de gênero, uma vez que, o campo brasileiro não está isento de uma formação sociocultural patriarcal, que “naturalizou” as relações assimétricas e hierarquizadas entre homens e mulheres. Assim, torna-se fundamental, a discussão das questões ligadas ao gênero, como forma de possibilitar aos docentes em formação a ressignificação das relações sociais, que historicamente relacionam a mulher à posição de inferioridade e submissão. Palavras-Chave – Gênero, Mulheres Camponesas, Educação Superior do Campo.
1. INTRODUÇÃO
As questões de gênero têm ocupado uma discussão ampliada em diversos espaços
midiáticos, bastante potencializada pela utilização das redes sociais como veículo de
mobilização e conscientização da luta feminina por igualdade e respeito nos mais diversos
âmbitos sociais como o doméstico, o profissional, o político, o cultural, entre outros. Fato que
contradiz as correntes de pensamento que consideram a discussão ultrapassada e por outro
lado fortalecem a necessidade de estudos mais aprofundados sobre as questões de gênero e
constituição do feminino nos mais diversos espaços sociais.
O presente texto objetivo construir um estado do conhecimento sobre as
produções acadêmicas defendidas entre 2011 e 2015 e que tratam das questões de Gênero na
Educação Superior do Campo. Especificamente, busca-se verificar a amplitude com que o
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tema tem sido construído e ocupado no espaço acadêmico, além de verificar com que as
matrizes teórico-metodológicas a temática Gênero tem sido tratada nestas produções.
Em termos metodológicos, foram catalogadas dissertações e teses defendidas
entre os anos de 2011 e 2015 de quatro instituições de diferentes regiões brasileiras, quais
sejam: Universidade Federal do Pará (Região Norte); Universidade de Brasília (Região
Centro-oeste); Universidade Federal de Santa Catarina (Região Sul) e Universidade Federal
de Minas Gerais (Região Sudeste). A escolha das instituições teve como critérios: possuir
cursos de Pós-graduação em Educação, com linhas específicas e/ou tradição no debate da
Educação do Campo e/ou diversidade do campo; possuir biblioteca digital atualizada.
A busca nas bibliotecas digitais das universidades selecionou e catalogou as
informações das dissertações e teses que abordam no título e/ou nas palavras-chaves os
termos Educação do Campo e/ou tratem de aspectos referentes a diversidade sociocultural do
campo e sua territorialidade. Os trabalhos acadêmicos foram catalogados por meio das
seguintes informações: temática (Ex. Educação quilombola, Juventude do campo, entre
outros), título, autor e ano de defesa. Em seguida, foram selecionadas apenas as produções
que tratavam da temática de Gênero no Campo, estas receberam análise, com o intuito de
verificar as bases teórico-metodológicas que respaldaram a discussão da temática em estudo.
A sistematização da pesquisa é tecido em duas seções. Na primeira intitulada
trataremos elementos que compõe o processo de constituição das mulheres camponesas na
atual conjuntura social do campo no Brasil. Na segunda, e última seção, sistematizaremos os
dados referentes a frequência com que o tema tem sido construído e ocupado no espaço
acadêmico, assim como as matrizes teóricas-metodológicas que tem sustentado a discussão de
gênero nestas produções.
2. GÊNERO E MULHERES CAMPONESAS
Gênero é um termo vastamente utilizado para diferenciar os aspectos ligados ao
masculino e ao feminino. Ao longo da história, diversos movimentos fizeram uso do termo
para construir as bases de luta contra a opressão feminina, dando origens a distintos
movimentos feministas.
O feminismo não constitui um corpo único de ideias. São muitas as correntes feministas, com posições que variam no tempo e no espaço. No entanto, apesar dessa diversidade, há algo que as unifica. Em geral, as correntes feministas partem de uma base comum: a necessidade de contrapor-se à consideração praticamente unânime por parte dos pensadores clássicos de que a “natureza” das mulheres (em
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seu discurso, sua falta de racionalidade ou sua racionalidade imperfeita e sua servidão biológica) as inabilita para a vida pública e as circunscreve à esfera doméstica e privada, excluindo-as dos conceitos e categorias políticas gerais (TOLEDO, 2005, p. 107).
Ao enveredar na discussão de gênero nos territórios do campo partimos do
entendimento de que trata-se de um território marcado pelo modo de produção capitalista,
baseado em uma estrutura fundiária de concentração de terras e poder, “definidas pela
instauração da propriedade privada típica do modo de produção capitalista, bem como
permeadas pela particularidade da formação brasileira, assentada em um passado colonial
escravocrata” (PAIVA, s/d, p. 7). Concomitante a este modelo hegemônico desponta no
território do campo outros modos de produção, em que destacamos a agricultura familiar.
O agronegócio constitui-se como um modelo de produção e de domínio do campo
vinculado a sociedade do capital, que entende a terra como propriedade privada e fonte
inesgotável de lucro; organiza-se na lógica do monocultivo, do trabalho assalariado, com uso
indiscriminado de insumos e tecnologias para o aumento da produção, em suma, a terra é tida
como uma grande empresa capitalista, assim na racionalidade das empresas capitalistas, “a
única referência é o lucro a ser obtido. E, de maneira geral, o lucro é encarado
independentemente dos impactos sociais, políticos, ambientais e alimentares que ele possa
provocar” (CARVALHO e COSTA, 2012, p. 29-30).
Esta lógica de acúmulo devastadora e insustentável seja do ponto de vista da
exploração dos recursos naturais seja dos recursos humanos – culturais, sociais e econômicos
que caracterizam o processo de reprodução camponês – têm contribuído em grande medida
para o afastamento e/ou abandono dos trabalhadores rurais do espaço do campo, que em meio
ao assédio do capital ou se submetem a exploração de sua mão-de-obra ou saem do campo em
busca de novas formas de subsistência, fenômeno denominado por Molina (2012) como
ruralidade de espaços vazios, e /ou trazem impactos substanciais na organização familiar, no
momento em que o homem em busca de melhores condições de trabalho vai pra cidade e
destina a mulher o trabalho doméstico e de produção, relegando a mulher ao ambiente
doméstico, dificultando a sua ação política, continuidade da escolarização, dentre outros
impactos.
Já a agricultura camponesa está ligada à lógica da sociedade do trabalho, baseado
no trabalho familiar e/ou coletivo, em que os vínculos com a terra perfazem outra lógica de
produção, orientando-se por meio de outros vínculos como o afetivo, o cultural e o histórico,
de uma relação do homem com a natureza baseada no uso consciente e sustentável. Costa
(2000, p. 116-130 apud CARVALHO e COSTA, 2012, p. 28) fazem referência a algumas
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especificidades da agricultura camponesa, quais sejam: o uso da terra para produção é feito
em família ou em parcerias com vizinhos; valorização da tradição e dos conhecimentos de
produção passados de geração em geração por meio do trabalho e da oralidade; diversificação
do cultivo e da criação, bem como das fontes de rendimento seja pela comercialização ou pela
remuneração dos dias de trabalho. Neste sentido, o diferencial da expressão agricultura
camponesa é que ela está vinculada “a perspectiva maior de fortalecimento dos camponeses
pela afirmação de seu modo de produzir e de viver, sem com isso negar uma modernidade que
se quer camponesa” (CARVALHO e COSTA, 2012, p. 31).
Em meio a estes dois modelos socioculturais em disputa no campo brasileiro
constituem de forma dialética relações sociais que impactam diretamente na constituição da
mulher camponesa, em que pesem as evidentes distinções entre os dois, ambos se constituem
em um contexto marcado pelo patriarcalismo, que ao longo da história implementou fortes
processos de exclusão e subordinação da mulher. Diante do contexto rural Stadler (2008, p.
04) destaca dois aspectos que importantes para entender o feminismo no campo brasileiro.
Dois dos grandes alvos do Feminismo estão aqui representados, as oligarquias e o patriarcalismo. Ambos responsáveis por campos de dominação dos homens sobre as mulheres tanto no campo público (propriedade dos bens e do político) quanto no campo doméstico à família oligárquica. Oligarquia segundo os gregos significa governo de poucos e tem sentido pejorativo. Patriarcalismo a este associado quer dizer de poucos e homens. Atualmente o termo oligarquia também é empregado para se referir a grupos sociais formados por aqueles que detêm o domínio da cultura, política e da economia. O termo família-oligárquica passou a referir-se aquela onde dois decidem, mas um manda, o homem em geral. Todas essas formas representam desrespeito de um gênero para com o outro.
Tanto a formação das oligarquias quanto a constituição do patriarcado são sem
dúvida construções sociais que ao longo dos anos naturalizaram relações de exploração,
opressão e até mesmo violência dos homens sobre as mulheres, e encontram-se em constante
contradição com as reconfigurações da realidade atual do campo brasileiro marcada pela
grande mudança na configuração familiar, em destaque a mulher camponesa.
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Gráfico 1 – Famílias com mulheres responsáveis por situação do domicílio (Percentual – Censo IBGE,
2000 e 2010)
Fonte: Sistema Nacional de Indicadores de Gênero (SNIG – Censo IBGE)
De acordo com o SNIG a configuração das famílias das áreas seja no âmbito do
Brasil, nas áreas rurais ou nas áreas urbanas mudou consideravelmente entre os anos de 2000
e 2010, ocorrendo um crescimento do número de mulheres como responsável pela família.
Ao assumir o sustento familiar a mulher camponesa depara-se com a dificuldade
no acesso à terra e financiamento para a produção, espaço ainda muito limitado para as
mulheres, uma vez que historicamente a maioria da posse das terras está feita no nome do
patriarca e repassado em herança aos seus. Em contrapartida Faria (2014) destaca a
organização crescente por parte da categoria por pautas específicas como: a luta pela terra na
garantia pela soberania alimentar e na importância do trabalho da mulher como resistência à
agricultura de mercado que busca a homogeneização da produção, citando o exemplo das
mulheres ligadas ao Movimento dos Trabalhadores rurais sem terra e da Via Campesina.
Gráfico 2 – Mulheres de 10 anos ou mais de idade por anos de estudo (Percentual - PNAD, 2013)
Fonte: Sistema IBGE de recuperação Automática (SINDRA – PNAD/IBGE)
Outro elemento que marca as relações assimétricas de gênero com relação as
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mulheres camponesas é o acesso aos estudos, a análise do gráfico 2 reflete cerca de 1% das
mulheres do meio rural possuem o ensino médio completo, que representa cerca de12 anos de
estudo, situação que na maioria das vezes decorre da associação do acúmulo de funções
domésticas e “produtivas” que assumem no seio familiar; com políticas educacionais
construídas de forma desconectada com a realidade da mulher camponesa. Sobre a atribuição
do trabalho doméstico como improdutivo Paiva (s/d, p. 8) assevera:
ressalta-se que isso se dá nos marcos de um modo de produção capitalista que, em seus primórdios, deslocou a mulher de seu espaço, tornando-a mero objeto de reprodução e, dessa maneira, colocando o seu trabalho em um segundo plano, reduzindo-o a esfera doméstica e impondo-lhe o mote de improdutivo.
Em que pese os poucos anos de escolarização e a imposição das tarefas
domésticas às mulheres como herança do patriarcalismo, estas mulheres camponesas vêm
constituindo e liderando processos de lutas importantes para o desenvolvimento de seus
territórios que precisam ser potencializados, para tanto é necessário o enfrentamento das
relações assimétricas entre os gêneros – que são realidades gritantes no campo brasileiro, seja
por meio de debates nos movimentos sociais dos trabalhadores – seja nos cursos de formação
de professores do campo, este constitui-se como um tema urgente. Segundo Toledo (2005, p.
109)
Focalizar a raiz da opressão da mulher na desigualdade de gênero é uma forma de evitar romper os marcos do capitalismo – transformando-a em uma luta por reformas dentro do próprio sistema, em geral, por reformas legislativas – deixando e segundo plano o problema de classe. A consequência mais evidente dessa distorção é a proposição de políticas que busca unir todas as mulheres, independente da posição que ocupam no modo de produção, numa luta supostamente emancipadora, mas que de fato não encontra solução dentro dos marcos do sistema econômico social vigente.
Em sintonia com o exposto por Toledo (2005), advogamos pela corrente de luta
contra a opressão feminina contrária ao movimento policlassistas. A partir de fundamentos
marxistas entende-se que o gênero é uma construção do ser humano, enquanto ser histórico,
aquele que por meio do trabalho – por sua vez, entendido como ação do homem sobre a
natureza – produz bens materiais para a garantia de sua existência, e neste mesmo processo
transforma a si e suas relações sociais (MARX, 1991).
Ao longo da história houveram atribuições distintas entre homens e mulheres.
Diferenciação que sem dúvida, são fonte de opressão da mulher, que não pode ser considerada
como uma construção aleatória. Entende-se que o gênero é uma ordem de significação
constituída pela associação de uma questão estruturante de ordem econômica a aspectos de
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constituição socioculturais entre os sujeitos, que promovem relações sociais de discriminação
e hierarquização não apenas entre os gêneros, mas também entre as classes, uma vez que a
forma de ser mulher na classe burguesa é também distinta do ser mulher na classe
trabalhadora. Como afirma Toledo (2005, p. 118)
A questão da opressão da mulher só pode ser resolvida se se rompe com a ordem econômica vigente. A luta contra a discriminação de gênero é fundamental porque dá visibilidade à situação da mulher, mobiliza as mulheres contra toda e qualquer manifestação de machismo e de opressão, aumenta seu grau de consciência e expõe as mazelas do sistema, revelando o grau de hipocrisia dos governos e instituições burguesas em relação à “liberdade” da mulher nos tempos modernos. No entanto, se ela se restringe a isso, ela tende a afastar a mulher trabalhadora das organizações de sua classe, levando-a para as ONGs e grupos feministas policlassistas.
Entendemos que as mulheres camponesas constituíssem como tal na atual
conjuntura do território do campo por meio de outros elementos, dentre os quais destacamos:
a intensa atuação política. Não trata-se de negar a herança religiosa, patriarcal e capitalista
que entendiam a mulher, respectivamente, como: “Eva, a corruptora, emblema do feminino
como pecado, e de Maria, a corredentora, a mãe de Cristo, a virgem, que resgata e exalta o
feminino na família e na igreja” (CAMBI, 1999, p. 134); “mãe e esposa abnegada, o lar era o
altar no qual depositava sua esperança de felicidade e, o casamento sua principal aspiração,
era a indicada para ser a primeira educadora da infância, sustentáculo da família e da pátria”
(ALMEIDA, 1998, p. 18); e a trabalhadora assalariada que aumentou os processos de
acumulação do capital, pois, seu trabalho permitiu a apropriação da mais valia dada a
exploração de sua mão-de obra considerada barata e o descompasso das remunerações entre
os homens e as mulheres. Assim, entende-se que estas representações do feminino seguem
influenciando de diferentes formas as questões de gênero no campo e o processo de constituir-
se mulher camponesa, mas, que ao longo do processo histórico, incorporou novos elementos
que resignificaram a forma de inserção e de ação sociocultural da mulher camponesa.
3. AS PRODUÇÕES ACADÊMICAS SOBRE GÊNERO NO CAMPO - 2011 a 2015.
O Programa de Pós-graduação em Educação - PPGED da Universidade Federal
do Pará - UFPA tem seu primeiro curso de Mestrado em Educação aprovado pelo Ministério
da Educação - MEC em 2001, pioneiro na região que atualmente conta com apenas dois
cursos de mestrado em Instituições Públicas, posteriormente. Em 2008 aprova o curso de
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Doutorado em Educação, sendo um dos 26 programas da instituição que possui nível de
Doutorado e um dos dois únicos Cursos de Doutorado em Educação da Região Norte
(PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, s/d ).
O PPGED/UFPA abriga 22 grupos de pesquisa cadastrados no Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, dentre os quais destacamos quatro que
tratam de temáticas relacionadas ao território do campo e a diversidade sociocultural do
campo: Grupo de Pesquisa, Ensino em Educação Ambiental; Grupo de estudos e Pesquisa em
Educação Rural na Amazônia; Grupo de Estudos em Educação, Cultura e Meio Ambiente;
Grupo de Estudos e Pesquisas em Estado e Educação na Amazônia.
Na pesquisa realizada sobre as dissertações e teses do PPGED/UFPA de 2011 a
2015, especificamente as que tratam do território do Campo e sua diversidade sociocultural,
identificamos 14 dissertações (gráfico 3) o que representa cerca de 10 % no universo das
dissertações publicadas pelo programa durante o período analisado. Dentre as temáticas
encontradas nas produções relacionadas ao campo encontramos: Educação Quilombola (2);
Educação Ribeirinha (1); Educação Ribeirinha e Quilombola (1); Pedagogia da Alternância
(1); Educação Superior do Campo (1); Juventude Quilombola (1); Juventude Ribeirinha (2);
Saberes Culturais Ribeirinhos (1); Movimentos Sociais ribeirinhos (1); Escola Multiseriada
(1); Políticas Públicas (1); Ação pedagógica de professores ribeirinhos (1). Dentre as
dissertações analisadas não foi identificada a temática Gênero no Campo.
Gráfico 3 – Dissertações publicadas no PPGED/UFPA 2011-2015
FONTE: Site PPGED/UFPA, 2016.
Na análise das teses referentes ao PPGED/UFPA entre os anos de 2011 e 2015
(gráfico 4) identificamos que 5,6 % do total de produções, o equivalente a três teses, versam
sobre a temática o campo, quais sejam: Identidade Docente (1); Juventude Ribeirinha (1);
Saberes de Pescadores (1).
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Gráfico 4 – Teses publicadas no PPGED/UFPA 2011-2015.
FONTE: Site PPGED/UFPA, 2016.
Dentre as teses do PPGED/UFPA identificamos a tese de Isabel Cristina França
Dos Santos Rodrigues, intitulada Professoras Aposentadas em Território Rural/Ribeirinho:
Identidades e Práticas Socioculturais, que trata da identidade docente de professora
aposentadas de comunidade do campo na Amazônia, perfazem do assim um recorte de
gênero, para entender a identidades das docentes aposentadas. A autora tem como objetivo
“analisar os sentidos que professoras aposentadas, docentes da Educação Básica, e outros
moradores atribuem às identidades e às práticas desenvolvidas por essas mulheres nas vilas de
Moiraba e Carmo do Tocantins, em especial na interação com a nova geração de professores”
(RODRIGUES, 2014, p. 7). Como referencial teórico metodológico a autora faz uso dos
pressupostos da História Oral para a construção de oficinas de memórias, técnica utilizada
para obtenção das narrativas dos sujeitos da pesquisa, que foram analisadas na perspectiva do
Dialogismo de Bakhtin e a cultura enquanto modos de vida, meio das temáticas, perfazendo
assim cinco categorias de análise: saberes da experiência, a profissionalidade, o trabalho, o
ciclo profissional e o saber docente. Como resultados a autora indica que
As aposentadas ao chegarem na Idade Madura e na Velhice deparam-se com o evento da aposentadoria e em direção oposta ao que se poderia esperar diante dos estereótipos criados a respeito do aposentado como um sujeito que não tem mais condições de contribuir com a sociedade, (...). Desse modo, as aposentadas dão continuidade ao investimento em outros tipos de atividades produtivas e se colocam à disposição para vivenciarem novas experiências mostrando que em determinadas comunidades da Amazônia Paraense ainda é recorrente a imbricação entre escola, igreja, lideranças comunitárias e esse grupo que não atua sob experiências político-administrativas, mas por relações afetiva, de respeito e valorização de experiências partilhadas, principalmente com docentes da Educação
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Básica, contribuindo assim com sua formação intelectual e humana (RODRIGUES, 2014, p. 7).
O Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE da Universidade de Brasília
foi fundado em 1975 e oferta cursos de Mestrado e Doutorado. Atualmente é composto de
sete linhas de pesquisa, dentre as quais há uma linha específica para a Educação do campo,
qual seja: Educação ambiental e educação do campo – EAEC (PROGRAMA DE PÓS-
GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO/UNB, s/d).
Dentre as dissertações referentes ao PPGE/UnB entre os anos 2011 e 2015
(Gráfico 5) encontramos 21 dissertações que tratam da temática do campo e/ou sua
diversidade sociocultural, quantidade que representa cerca de 6% no universo de produções
publicadas no período supracitado. Dentre as especificidades encontramos de temática sobre o
campo encontramos: Escola rural (4); Educação Superior do Campo (2); Educação Indígena
(1); Educação do Campo (1); Formação de professores (2); Empreendedorismo Rural (1);
Educação Ambiental (1); Educação Quilombola (2); Alternância e Formação de Professores
(1) e Ensino Profissional (1).
Gráfico 5 – Dissertações publicadas no PPGE/UnB 2011-2015.
Fonte: Repositório de Dissertações e Teses da Faculdade de Educação da UnB, 2016.
Foi possível identificar em 2014 uma dissertação que traz em seu bojo a discussão
Gênero no Campo. A dissertação construída por Maria de Lourdes Soares Pereira de Título
“As contribuições da Licenciatura em Educação do Campo na transformação das relações de
gênero: um estudo de caso com as educandas do Assentamento Virgilândia de Formosa/GO’,
tem como objetivo geral compreender as contribuições da Licenciatura em Educação do
Campo nas rupturas das relações de gênero com as mulheres egressas e estagiárias de diversas
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turmas, oriundas do Assentamento Virgilândia, Formosa – Goiás, para tanto utiliza como
metodologia a História de vida associada a perspectiva do Materialismo Histórico-Dialético.
Como resultados apontou:
Num primeiro momento, a trajetória de vida dessas mulheres revela um cotidiano de exclusão e subordinação pela sua condição de mulher camponesa alijada dos seus direitos também pela falta de aceso à educação. Num segundo momento, em decorrência do acesso à Licenciatura em Educação do Campo – UnB, percebe-se sinais de ruptura e emancipação dando novos sentidos e significados à vida dessas mulheres e construindo estratégias de resistência frente às posturas de discriminação (PEREIRA, 2014, p. 4).
Dentre as teses publicadas pelo PPGE/UnB entre os anos de 2011 e 2015 (gráfico
6), identificamos treze que tratam em suas temáticas objetos ligados ao campo e sua
diversidade sociocultural, o equivalente a 11,3% das teses produzidas nos anos de referência,
dentre as quais as temáticas investigadas foram: Pedagogia da Alternância (1); Formação de
professores (2); Educação indígena (1); Educação Rural (1); Trabalho escravo (1); Mulheres
na Reforma Agrária (1); Juventude Camponesa (1); Educação do Campo (4); Educação
Ambiental – Quilombola (1).
Gráfico 6 – Teses publicadas no PPGE/UnB 2011-2015.
Fonte: Repositório de Dissertações e Teses da Faculdade de Educação da UnB, 2016.
No ano de 2015 houve uma tese no PPGE/UnB que tratou questões referentes a
temática de gênero no campo. Construída por Eleusa Spagnuolo Souza, sob o título “As vozes
das mulheres trabalhadoras rurais no assentamento Herbert de Souza município de
Paracatu/MG : aprendendo com as mulheres do campo”, estudo está centrado na “ecologia
humana e intencionou produzir conhecimentos socio ambientais com base em relatos de
mulheres do assentamento Herbert de Souza, no município de Paracatu, Minas Gerais”
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(SOUZA, 2015, p. 9). Em termos metodológicos, fez uso da pesquisa-ação utilizando-se de
procedimentos da observação participante, entrevistas, oficinas e rodas de conversa.
O Programa de Pós- Graduação em Educação Conhecimento e Inclusão em
Educação- POSGRAD da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais
oferta os cursos de Mestrado e Doutorado em educação e também o Doutorado Latino-
Americano em Educação: Políticas Públicas e Profissão Docente, construído por meio de
Acordo de Cooperação Internacional, firmado em 2009 entre UNESCO (IESALC –
OREALC), RED KIPUS e 11 Universidades Latino-Americanas (UFMG, UPN – México,
UPN – Colômbia, UPEL – Venezuela, Universidad de laFrontera – Chile) com turmas
regulares desde 2010 (PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO / UFMG,
s/d).
O POSGRAD/UFMG possui doze linhas de pesquisa, quais sejam: Docência:
processos constitutivos, condicionantes estruturais, sujeitos socioculturais, experiências e
práticas; Educação e Ciência; Educação e Linguagem; Currículos, Culturas e diferenças;
Educação Matemática; Educação, Cultura, Movimentos Sociais e Ações Coletivas; História
da Educação; Infância e Educação Infantil; Política, Trabalho e Formação Humana; Políticas
Públicas e Educação; Psicologia, Psicanálise e Educação; e Sociologia da Educação:
escolarização e desigualdades sociais.
Dentre as dissertações publicadas no POSGRAD/UFMG entre os anos de 2011 e
2015, identificamos que 10% das produções, o que equivale a 23 dissertações trabalham com
objetos ligados a temáticas do Campo e/ou sua diversidade sociocultural, dentre os quais
estão: Trabalho Docente (1); Educação de Jovens e Adultos (1); Formação de Professores (5);
Movimento dos trabalhadores rurais Sem Terra (1); Livro didático para Educação Indígena
(1); Educação Indígena (2); Educação Quilombola (1); Educação Superior do Campo (1);
Artesanato Indígena (1); Juventude Rural (1); Licenciatura em Educação do Campo (3);
Projetos sociais em áreas indígenas (1); Educação Rural (2); Pedagogia da Alternância (1);
Educação do Campo (1).
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Gráfico 7 – Dissertações publicadas no POSGRAD/UFMG 2011-2015.
Fonte: Site POSGRAD/UFMG, 2016.
Dentre as dissertações identificadas sobre a territorialidade do campo e/ou sua
diversidade sociocultural não identificamos trabalhos que tratassem da temática de gênero no
campo. Já a analisadas teses publicadas no POSGRAD/UFMA entre os anos de 2011 e 2015
(gráfico) foi possível perceber que cerca de 11%, o equivalente a 23 teses abordam temáticas
sobre o território do campo, dentre os temas abordados estão: Trabalho e Educação (1);
Práticas educativas (1); Educação Indígena (2); Educação em áreas de seringais (1); Escola
Rural (1); Trabalho como princípio educativo na reforma agrária (1); Escola Indígena (2);
Juventude Rural (1); Educação de Jovens e Adultos camponeses (1); Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (4); Educação escola em área de Reforma Agrária (1);
Mulheres Camponesas (1); Projetos Sociais em áreas Indígenas (1); Comunidade Indígena
(1); Praticas escolares de saúde (1); Letramento (1); Práticas de leitura e escrita em
comunidade Quilombolas (1); Formação de professores (1).
Gráfico 8– Teses publicadas no POSGRAD/UFMG 2011-2015.
Fonte: Site POSGRAD/UFMG, 2016.
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A tese de Sonia Maria Alves de Oliveira Reis , publicada em 2014 sob o título
“Mulheres camponesas e culturas do escrito: trajetórias de lideranças comunitárias
construídas nas CEBS” tem como objetivo geral “analisar as condições e as instâncias
formativas por meio das quais mulheres camponesas e líderes das CEBs, que pouco ou nunca
frequentaram a escola, construíram sua participação nas culturas do escrito” (REIS, 2014, p.
11). Como metodologia a autora utilizou a História Oral e análise documental, como
instrumentos de pesquisa fez uso do diário de campo e entrevistas como forma de identificar
as formas de acesso e apropriação de materiais escritos. Dentre os resultados encontrados a
autora aponta:
Que as diferentes formas de participação nas culturas do escrito dessas mulheres se pautam na mediação entre o oral e o escrito, entre o memorizado e o compreendido, em um contexto no qual a oralidade é fundamental e a leitura e a escrita são necessárias. Esses modos de participação nas culturas do escrito, recorrentes nos depoimentos das entrevistadas, vinculam-se, como evidenciado pelos dados, às experiências vivenciadas por elas, especialmente à participação nas CEBs e à militância nos movimentos sociais de que fazem parte(REIS, 2014, p. 11).
O Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa
Catarina já possui 41 anos de formação de pesquisadores, obteve reconhecimento do curso de
Mestrado em Educação em 1984 e dez anos mais tarde, em 1994 obteve o reconhecimento do
curso de Doutorado em Educação, sendo até 2011 o único programa de pós-graduação em
Educação que ofertava os dois níveis de formação no Estado de Santa Catarina. Atualmente
oferta oito linhas de pesquisa, quais sejam: Educação e Comunicação; Educação e formação
de Educadores; Sociologia e História da Educação; Filosofia da Educação; Educação e
Infância; Educação, Estado e Políticas Públicas e Trabalho e Educação (PROGRAMA DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO/UFSC, 2016).
Dentre as dissertações do PPGED/UFSC nos anos de 2011 A 2015 (gráfico 9)
identificamos que 5,3% das produções estão relacionadas ao campo, montante que representa
numericamente 12 trabalhos, que tratam em específico: Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (4); Escola Rural Multisseriada (1); Escola Pública Rural (1); Escolas Rurais
Isoladas (1); Diálogos Interculturais (1); Formação de Professores (2); Educação Escolar
Indígena (1); Comunidade Quilombola (1).
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Gráfico 9 – Dissertações publicadas no PPGE/UFSC 2011-2015.
Fonte: Site PPGE/UFSC, 2016.
A análise sobre as teses do PPGEG/UFSC entre os anos de 2011 e 2015 (gráfico
10), demostra que 7 teses, o correspondente a 11% das teses do período em análise, versam
sobre temáticas alinhadas ao território e/ou a diversidade sociocultural do campo. Dentre as
temáticas encontradas estão: Educação Indígena (1); Juventude do Movimento de
Trabalhadores Rurais Sem Terra (1); Educação do Campo (2); Escolas do Campo (1);
Educação Quilombola (1); Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (1).
Gráfico 10 – Teses publicadas no PPGE/UFSC 2011-2015.
Fonte: Site PPGE/UFSC, 2016.
Se analisarmos o montante das dissertações produzidas pelos quatro Programas de
Pós-Graduação em Educação durante o período de 2011 a 2015 que equivalem a 955
dissertações publicadas, verificamos que 70 destas produções tratam das especificidades do
território do campo, o equivalente a 7,3% do universo de dissertações produzidas entre os
quatro programas. Refinando a análise para a temática de Gênero do Campo o percentual e
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ainda menor 0,2 % o equivalente a duas dissertações.
Perfazendo a mesma análise agora sob o foco as teses dos quatro Programas de
Pós-Graduação pesquisados verificamos um total de 440 teses, dentre as quais 46, ou seja,
cerca de 10% das teses tratam de temáticas ligadas as especificidades do território do campo,
sendo que somente 0,4% do total de teses tratam em específico sobre gênero no campo.
Outra evidência demonstrada pela pesquisa é o número reduzido de produções
acadêmicas sobre gênero no campo, totalizam quatro (duas dissertações e duas teses)
abordando as formas de constituir-se mulher no campo ou analisando questões situadas no
território do campo a partir da condição da mulher, certamente, estas produções já são um
grande avanço para o debate, porém, ainda insuficientes diante do universo de objetos que
cabem na investigação da temática de gênero no campo.
Diante dos dados é possível perceber que muito já conquistamos, mas que ainda
temos muito a avançar para fortalecer e consolidar os grupos e linhas de pesquisa que tratam
sobre as especificidades do território do campo, para que estas produções sejam meios para
manter a temática do campo e suas especificidades em discussão no âmbito acadêmico, e
também sirvam de subsídio para a luta por demandas históricas das populações que estão no
território do campo, seja como subsídios para a conquista de políticas públicas seja como
denuncia e conscientização.
Em nossa amostragem duas universidades, quais sejam, a UFMG e a UnB
participaram da em 2007 da experiência do projeto-piloto da Licenciaturas em Educação do
Campo, e as outras duas universidades UFPA e UFSC, constituem-se como importantes
centros de formação de educadores do campo, com experiência de formação no Programa
Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA e posteriormente, também aderem a
editais para formação vinculados a experiência-piloto das Licenciatura em Educação do
campo. Neste sentido, são cursos pautados na perspectiva da formação omnilateral, que de
acordo com Frigotto (2012, p. 267) pode ser entendida como
Concepção de educação ou de formação humana que busca levar em conta todas as dimensões que constituem a especificidade do ser humano e as condições objetivas e subjetivas reais para seu pleno desenvolvimento histórico. Essas dimensões envolvem sua vida corpórea material e seu desenvolvimento intelectual, cultural, educacional, psicossocial, afetivo, estético e lúdico.
Os cursos de Licenciatura em Educação do campo precisam fortalecer e/ou
propiciar a formação de seus educadores a dimensão das questões de gênero no campo, tento
em vista que o campo brasileiro – de onde provém grande parte do público desse curso – não
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é um território isento de uma formação sociocultural patriarcal, que “naturalizou” as relações
assimétricas e hierarquizadas entre homens e mulheres, pelo contrário, como foi exposto na
seção anterior, as mulheres camponesas deparam-se em seus processos de resistência e
vivência no campo com diversas relações de hierarquia, preconceito e até mesmo violência, e
a discussão da temáticas nos cursos de formação de educadores não penas fortalece a luta pelo
projeto histórico em que se inserem a proposta de Educação Superior do Campo, mas o
próprio protagonismo das mulheres camponesas neste processo.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na análise das produções acadêmicas dos Programas de Pós-Graduação em
Educação da UFPA, da UFMG, da UnB e da UFSC produzidas entre os anos de 2011 e 2015
identificamos quatro que tratam de questões relacionadas a Gênero e ou fazem um recorte de
gênero em seus estudos, utilizando variados referenciais teórico e metodológicos para o
tratamento da temática. São trabalhos que revelam um esforço teórico e as dificuldades das
mulheres camponesas no processo diário de produção da vida no campo.
Sem dúvida as produções encontradas sobre a temática são de grande valia para a
consolidação tanto do debate sobre o Campo e sua diversidade sociocultural, quando para o
debate das questões de gênero. Porém, ainda há muito a ser discutido sobre os processos de
constituição da mulher camponesa, debate que precisa ser garantido nos cursos de
Licenciatura em Educação do Campo, como uma forma de contribuir para as reconfiguração
as relações sociais assimétricas e hierarquizada entre as mulheres e homens do campo, bem
como, para fomentar a construção de mais pesquisa que potencializem o debate teórico sobre
a temática e assim, como estratégia de luta e consolidação da mulher camponesa e seus modos
de constitui-se em seus territórios.
5. REFERÊNCIA
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