UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
IMPACTO DAS TRANSFORMAÇÕES SOMÁTICAS DO PÚBERE
SOBRE A PERCEPÇÃO CORPORAL, RELAÇÕES COM A DESTREZA
MANUAL E CAPACIDADE DE LOCALIZAÇÃO PROPRIOCEPTIVA
DAS MÃOS
MAURÍCIO JOSÉ DE SIQUEIRA CAGNO
SÃO PAULO
2014
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
IMPACTO DAS TRANSFORMAÇÕES SOMÁTICAS DO PÚBERE
SOBRE A PERCEPÇÃO CORPORAL, RELAÇÕES COM A DESTREZA
MANUAL E CAPACIDADE DE LOCALIZAÇÃO PROPRIOCEPTIVA
DAS MÃOS
MAURÍCIO JOSÉ DE SIQUEIRA CAGNO
Tese apresentada à Universidade São Judas
Tadeu, como requisito parcial para
obtenção do título de Doutor em Educação
Física, sob a orientação da Profª. Drª. Eliane
Florencio Gama.
SÃO PAULO
2014
Cagno, Maurício José de Siqueira
C131e Impacto das transformações somáticas do púbere sobre a Percepção
Corporal, relações com a destreza manual e capacidade de localização
proprioceptiva das mãos / Maurício José de Siqueira Cagno. - São Paulo,
2014.
xx f. : il. ; 30 cm.
Orientadora: Eliane Florencio Gama.
Tese (doutorado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2014.
1. Percepção corporal. 2. Puberdade. I. Gama, Eliane Florencio. II.
Universidade São Judas Tadeu, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu
em Educação Física. III. Título
CDD 22 – 612.044
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca
da Universidade São Judas Tadeu Bibliotecário: Ricardo de Lima - CRB 8/7464
AGRADECIMENTOS
A Deus pela força, sabedoria e serenidade concedida para que eu pudesse direcionar o
percurso desta pesquisa.
À minha amada esposa, por todo carinho, apoio, incentivo e compreensão dados
durante todo o processo de construção da tese e aos meus queridos filhos, pelos inúmeros
olhares, sorrisos, abraços e beijos que me motivaram a permanecer firme neste propósito,
mesmo entendendo os apelos por minha presença.
À minha orientadora e inspiradora, Drª Eliane Florencio Gama que apontou caminhos,
alicerçou o estudo com suas contribuições e permitiu que eu tivesse liberdade para expressar
meus pensamentos.
À Drª Maria Luíza de Jesus Miranda por incentivar-me a ingressar no doutorado.
Ao Drª Aylton Figueira Junior, pelo incentivo para que eu ingressasse no doutorado, por
participar da banca e pelas discussões efetuadas durante o processo.
À Universidade São Judas Tadeu, por subsidiar integralmente o Doutorado.
Ao professor Daniel Teixeira Maldonado, por viabilizar o contato com a escola e
acompanhar gentilmente o processo de coleta de dados, e à diretora, coordenadoras, professores,
funcionários, púberes e responsáveis pelos avaliados, pois, sem a colaboração de todos, esta
pesquisa não teria sido realizada.
À Drª Claudia Borim, por alicerçar todo o tratamento estatístico desta Tese.
À Drª Bianca Elizabethe Thurm, por ter participado da banca de pré-qualificação, por
compartilhar materiais de pesquisa e pelas discussões efetuadas na defesa e grupo de estudos
que muito contribuíram.
Ao Pró-Reitor de Graduação Luís Antônio Baffile Leoni, por todo o incentivo e apoio
nesta caminhada. Sempre com uma palavra de encorajamento.
Ao Coordenador do curso de Educação Física Durval Luís da Silva, por compreender
todo o processo de estudo e dar suporte.
À coordenação e professores da graduação da USJT e da FMU que sempre me
incentivaram.
Ao prof. Drº Romeu Rodrigues de Souza pelas aulas brilhantes sobre Percepção e Ação.
À todos os professores das disciplinas cursadas no programa de Doutorado.
Às Drªs Sandra Maria Ribeiro e Laura Beatriz Mesiano Maifrino, pelo gesto de carinho
ao aceitarem participar da composição da Banca e pelas brilhantes contribuições.
À querida amiga Drª Marilda Gioeilli Torres de Carvalho, por sempre me incentivar,
apoiar, pela sua participação na Banca e pelas reflexões imprescindíveis que muito contribuíram
para o processo de elaboração da discussão desta pesquisa.
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS................................................................................................................iii
LISTA DE TABELAS........................................................................................................................vi
LISTA DE GRÁFICOS......................................................................................................................ix
LISTA DE FIGURAS.........................................................................................................................x
LISTA DE QUADROS....................................................................................................................xiv
LISTA DE ABREVIATURAS E GLOSSÁRIO.....................................................................................xv
RESUMO.....................................................................................................................................xvi
ABSTRACT.................................................................................................................................xviii
APRESENTAÇÃO..........................................................................................................................xx
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 17
1.1 Justificativa ........................................................................................................................ 23
1.2 Objetivo Geral ................................................................................................................... 23
1.3 Objetivos Específicos ........................................................................................................ 24
1.4 Hipóteses Iniciais............................................................................................................... 24
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................................ 26
2.1 Crescimento durante a puberdade ................................................................................... 26
2.2 Esquema Corporal ............................................................................................................. 31
A Formação de Mapas ............................................................................................... 35 2.2.1
O Corpo, sede da Somatopercepção e Somatorepresentação ................................. 39 2.2.2
2.3 Imagem Corporal .............................................................................................................. 43
2.4 Princípios do desenvolvimento.........................................................................................48
3 MÉTODO .................................................................................................................................. 54
3.1 Caracterização dos participantes ...................................................................................... 54
3.1.1 Critérios de Inclusão ..................................................................................................54
3.1.2 Critérios de Exclusão..................................................................................................54
3.2 Desenho Experimental ...................................................................................................... 55
3.3 Procedimento para a avaliação da maturidade sexual ..................................................... 57
Análise dos dados da maturação sexual ................................................................... 60 3.3.1
3.4 Avaliação do Esquema Corporal (IMP) ............................................................................. 60
Instrumentos ............................................................................................................. 60 3.4.1
Procedimento para a mensuração do Esquema Corporal (IMP) .............................. 61 3.4.2
Análise de dados do IMP ........................................................................................... 68 3.4.3
3.4.3.1 Análise quantitativa dos dados do IMP .............................................................68
3.4.3.2 Escala de Análise da Percepção Corporal...........................................................71
3.4.3.3 Análise da projeção gráfica dos dados do IMP...................................................74
Procedimento para identificação autorreferida do Esquema Corporal .................... 74 3.4.4
3.5 Teste de Destreza Manual ................................................................................................ 75
3.5.1 Objetivo do teste ......................................................................................................75
Instrumentos ............................................................................................................. 75 3.5.2
Procedimentos .......................................................................................................... 76 3.5.3
Análise dos dados do Teste de Destreza Manual ...................................................... 78 3.5.4
3.6 Teste de Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos (CLPM) ........................... 78
Objetivo do teste ....................................................................................................... 79 3.6.1
Instrumentos ............................................................................................................. 79 3.6.2
Procedimentos .......................................................................................................... 81 3.6.3
Análise dos dados do Teste (CLPM) .......................................................................... 85 3.6.4
4 ANÁLISE ESTATÍSTICA ............................................................................................................ 85
5 RESULTADOS .......................................................................................................................... 86
5.1 Característica da Amostra ................................................................................................. 86
5.2 Percepção Corporal ........................................................................................................... 90
6 DISCUSSÃO...........................................................................................................................107
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................................130
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 133
ANEXO – I .................................................................................................................................141
ANEXO – II ................................................................................................................................145
APÊNDICE – I ............................................................................................................................. 147
APÊNDICE – II.............................................................................................................................148
vi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1
Distribuição dos participantes por faixas etárias e sexo.............................................................86
Tabela 2
Número de participantes distribuídos por faixas etárias, segundo a classificação da
maturação sexual de ambos os sexos (n=100)............................................................................87
Tabela 3
Comparação das horas semanais dispendidas com atividades de Praxia Fina
entre os participantes que acumularam meses de atividades motoras
pregressas desde a infância com os que não realizaram (n=100)...............................................89
Tabela 4
Comparação das horas semanais de Inatividade Motora Global entre os
participantes que acumularam meses de atividades motoras pregressas
desde a infância com os que não realizaram (n=100).................................................................90
Tabela 5
Comparação entre o IPC Geral dos jovens do sexo feminino com o do masculino (n=100).......90
Tabela 6
Média e desvio padrão do IPC Geral dos participantes distribuídos pelos estágios de
maturação sexual (n=100)...........................................................................................................92
Tabela 7
Média e desvio padrão dos IPC Segmentares de todos os participantes (n=100)
da pesquisa e separados por sexo (n=50 cada sexo)...................................................................93
Tabela 8
Correlação de Pearson entre o IPC Geral com os IPC Segmentares (n=100)..............................93
Tabela 9
Frequência de respostas sobre a percepção dos jovens do sexo feminino e
masculino referentes às partes do corpo que mais cresceram no período
do estirão de crescimento (n=100). ............................................................................................96
Tabela 10
Percepção dos púberes do sexo feminino e masculino sobre as partes do
corpo que mais cresceram durante o período do estirão de crescimento,
que estão relacionadas ao IMP e que não estão relacionadas (n=100)......................................97
vii
Tabela 11
Correlações de Pearson entre o IPC Geral de todos os participantes com os
meses de atividades motoras pregressas e com as horas semanais de
inatividade motora global (n = 100)............................................................................................98
Tabela 12
Correlação entre IPC Geral de cada estágio de maturação sexual com as
Atividades Motoras Pregressas (AMP) e com a Inatividade Motora Global (IMG) (n=100)........98
Tabela 13
Comparação dos IPC Geral entre os participantes que acumularam meses de
atividades motoras pregressas (AMP) com os que não realizaram (n=100)...............................99
Tabela 14
Correlação de Pearson entre IPC Geral com os meses acumulados de atividades
motoras pregressas (AMP) no grupo de ativos e com as horas semanais de inatividade
motora global (IMG) no grupo de ativos e de não ativos (n=100)..............................................99
Tabela 15
Correlações de Pearson efetuadas entre o IPC Geral (IPCG) com a destreza manual
dominante (DMD), a destreza manual não dominante (DMND), a capacidade de
localização da mão dominante (CLMD) e a capacidade de localização da
mão não dominante (CLMND) (n = 100)...................................................................................100
Tabela 16
Correlações de Pearson efetuadas entre o IPC dos ombros de todos os participantes
(n =100) com as atividades motoras pregressas (AMP) e com as horas dispendidas
com praxia fina (HPF)................................................................................................................101
Tabela 17
Correlações de Pearson efetuadas entre o IPC dos ombros de todos os
participantes (n =100) com a destreza manual dominante (DMD), a destreza
manual não dominante (DMND), a capacidade de localização da mão dominante
(CLMD) e a capacidade de localização da mão não dominante (CLMND).................................101
Tabela 18
Média e desvio padrão do IPC do ombro em cada estágio de maturação
sexual (n = 100).........................................................................................................................102
Tabela 19
Correlações de Pearson entre os meses acumulados de atividades motoras pregressas
(AMP) com as horas semanais dispendidas com as atividades de praxia fina (HPF) e
com o IPC dos ombros (n=100). ................................................................................................102
viii
Tabela 20
Correlações de Pearson entre o IPC dos ombros com a destreza manual dominante
(DMD) e não dominante (DMND) e com a capacidade de localização das mãos
dominante (CLMD) e não dominante (CLDND) em cada estágio de maturação
sexual (n=100)...........................................................................................................................103
Tabela 21
Correlações de Pearson entre as Atividades Motoras Pregressas (AMP) com a
Destreza Manual (DM) e Capacidade de Localização das Mãos (CLM) e entre
as horas de praxia fina (HPF) com a destreza manual (DM) e capacidade de
localização das mãos (CLM).......................................................................................................104
Tabela 22
Correlações de Pearson entre as Atividades Motoras Pregressas (AMP) com a Destreza Manual (DM) e com a Capacidade de Localização das Mãos (CLM), nos estágios de maturação sexual e correlações entre as Horas de Praxia Fina (HPF) com a Destreza Manual (DM) e com a Capacidade de Localização das Mãos (CLM), nos estágios de maturação sexual (n=100)...................................................105
Tabela 23
Média, desvio padrão e comparação dos meses acumulados de atividades motoras
pregressas, das horas semanais de praxia fina e das horas semanais de inatividade
motora global entre cada estágio de maturação sexual (n=100)..............................................106
ix
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1
Distribuição dos participantes (n=100) segundo a classificação dos
estágios de maturação sexual, apresentados em porcentagem.................................................87
Gráfico 2
Tempo acumulado de atividades motoras pregressas dos participantes da
pesquisa distribuídos por intervalos de vinte meses..................................................................88
Gráfico 3
Distribuição dos IPC dos participantes de acordo com a Escala de Análise da
Percepção Corporal graduada em frações de 10%......................................................................91
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1
Nomenclaturas de diversos autores encontradas na literatura se referindo
ao conhecimento corporal (ilustração elaborada com base nos apontamentos
de Fonseca, V. (2008)..................................................................................................................31
Figura 2
Elementos da percepção corporal expressa com base nos pressupostos dos
autores apresentados no texto, elaborado segundo a nossa ótica............................................ 33
Figura 3
Representação cortical dos homúnculos sensitivo à esquerda e motor
à direita (MACHADO, 2000).........................................................................................................39
Figura 4 A e B
Inter-relação entre os elementos que compõem o esquema corporal e a interação
entre o esquema corporal com os espaços funcionais (modelo elaborado com base nos
autores citados)...........................................................................................................................41
Figura 5
Etapas percorridas para a aprovação do projeto de pesquisa....................................................55
Figura 6
Esboço dos sujeitos que compuseram a amostra e os testes realizados................................... 56
Figura 7
Regiões corporais em que são fixados os adesivos para a avaliação do esquema
corporal por meio do IMP...........................................................................................................62
Figura 8
Posição inicial para a realização do teste do IMP........................................................................63
Figura 9
Ilustração representativa do avaliado imaginando sua imagem projetada no espelho..............64
Figura 10
Ilustração representativa do avaliado apontando na parede com o dedo indicador
o ponto tocado em seu corpo, como se estivesse vendo-se no espelho. ..................................64
Figura 11
Ilustração do teste (IMP).............................................................................................................65
Figura 12
Aproximação do participante à parede para a marcação dos pontos reais................................66
xi
Figura 13
Marcação dos pontos reais com o auxílio de um esquadro de 90º.............................................67
Figura 14
Identificação dos pontos projetados pelo participante (pontos vermelhos, pretos e
azuis) e das dimensões reais do avaliado (pontos verdes)..........................................................68
Figura 15
Ilustração dos pontos representativos da altura para a realização do cálculo
do IPC da cabeça.........................................................................................................................69
Figura 16
Pontos representativos das dimensões do ombro, cintura e quadril.........................................70
Figura 17
Escala de Análise da Percepção Corporal, a partir do Índice de Percepção
Corporal (IPC).....................................................................................................................73
Figura 18
Caixa contendo 150 blocos para a avaliação do teste de destreza manual................................76
Figura 19
Realização do teste de destreza manual.....................................................................................77
Figura 20
Plataforma de vidro contendo o alvo para a realização do teste de percepção
proprioceptiva de localização das mãos......................................................................................79
Figura 21
Plataforma de vidro contendo o alvo para a realização do teste de percepção
proprioceptiva de localização das mãos......................................................................................80
Figura 22
Visualização do dedo indicador ativo do avaliado posicionado sobre o ombro e o
passivo sendo posicionado pelo pesquisador no alvo central, demarcado embaixo
da área de trabalho, antes da realização da tarefa.....................................................................81
Figura 23
Posição inicial do teste de capacidade de localização proprioceptiva das mãos........................82
Figura 24
Posição das mãos para realização do teste.................................................................................82
xii
Figura 25
Ilustração da ação de uma das mãos tendo como objetivo sobrepor o dedo indicador
ativo sobre o passivo, exatemente sobre o alvo central. ...........................................................83
Figura 26
Alvo ilustrativo do teste de capacidade de localização proprioceptiva das mãos .....................84
Figura 27
Projeção gráfica do IMP – 12 anos Feminino sujeito n° 33 IPC Geral = 91,30%..........................95
Figura 28
Projeção gráfica do IMP – 11 anos Feminino sujeito n° 27 IPC Geral = 145,69%........................95
Figura 29
Projeção gráfica do IMP – 15 anos Masculino sujeito n° 48 IPC Geral = 99,64%........................95
Figura 30
Projeção gráfica do IMP – 15 anos Masculino sujeito n° 47 IPC Geral = 125,20%......................95
Figura 31
Correlação entre as Atividades Motoras Pregressas, as Horas de Praxia Fina, a
Maturação Sexual e as Horas Semanais de Inatividade Motora Global sobre a
Percepção Corporal Geral.........................................................................................................108
Figura 32
Figura ilustrativa dos desajustes das projeções gráficas dos traçados do IMP ........................111
Figura 33.
Influência das gratificações externas sobre o foco da atenção (esquema elaborado
com base nos apontamentos de (TAVARES, 2003))..................................................................115
Figura 34.
Desenvolvimento da atenção durante o processo de maturação (modelo elaborado
com base nos apontamentos de (LADEWIG, 2000 E ANDRADE, 2004))....................................116
Figura 35
Relações entre as Atividades Motoras Pregressas com o IPC Geral e dos Ombros..................122
Figura 36
Relação entre a Percepção das Dimensões Corporais Geral e dos Ombros
com a Destreza manual e com a Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos...........122
xiii
Figura 37
Relação entre as Atividades Motoras Pregressas e as Horas Semanais de
Praxia Fina com os desempenhos da Destreza Manual............................................................123
Figura 38
Relações entre as Atividades Motoras Pregressas e as Horas Semanais de Praxia Fina
com a Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos.....................................................125
xiv
LISTA DE QUADROS
Quadro 1
Representação da velocidade de crescimento das dimensões corporais
referentes à Altura Tronco-Cefálica e Membros Inferiores, em diferentes
faixas etárias (tabela elaborada segundo a nossa ótica com base nos dados
de Malina & Bouchard, 2002)......................................................................................................28
Quadro 2
Crescimento das dimensões corporais e suas respectivas correspondências
com a idade do início do estirão de crescimento, com a idade do pico de
velocidade de crescimento e com o ganho puberal (quadro elaborado com
base nos apontamentos de Chipkevitch, 1995)..........................................................................29
Quadro 3
Classificação do Índice de Percepção Corporal segundo os critérios de
Bonnier (1995) e Segheto et al. (2010).......................................................................................72
xv
LISTA DE ABREVIATURAS
EC ............Esquema corporal
IC ............Imagem corporal
IMP ............Image Marking Procedure
IPC ............Índice de Percepção Corporal
IMG ............Inatividade Motora Global
HPF ............Horas de Praxia Fina
AMP ............Atividades Motoras Pregressas
IE ............Início do estirão
PVC ............Pico de Velocidade de Crescimento
INI ............Inativos desde a Infância
DMD ............Destreza Manual Dominante
DMND............Destreza Manual Não Dominante
CLMD............Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos Dominante
CLMND.........Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos Não Dominante
GLOSSÁRIO
HPF - Atividades de Praxia Fina ou de coordenação motora fina: se refere às horas
semanais dispendidas com atividades manuais realizadas fora do ambiente escolar,
como: jogar videogame, manipular teclado/mouse do computador e similares.
AMP - Atividades Motoras Pregressas: acúmulo de meses de atividades motoras
extracurriculares esportivas ou recreativas, praticadas desde a infância até o momento
da coleta de dados (indivíduos considerados ativos desde a infância).
INI - Inativos desde a Infância: indivíduos que não realizaram atividades
extracurriculares esportivas ou recreativas desde a infância.
IMG – Inatividade Motora Global: tempo semanal em que os jovens permanecem
sentados em frente a televisão, computador, videogame e similares sem exercer
atividades motoras globais.
Lado Dominante – Uso preferencial de um segmento corporal em relação ao outro
segmento. Preferência de uso de uma das mãos (dominante) em relação a outra (não
dominante).
Lado Não Dominante- Uso não preferencial de um segmento corporal em relação ao
outro.
xvi
RESUMO
Cagno, M. J. S. Impacto das transformações somáticas do púbere
sobre a percepção corporal, relações com a destreza manual e
capacidade de localização proprioceptiva das mãos. Tese de Doutorado
em Educação Física – Programa de Doutorado em Educação Física,
Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2014.
A presente pesquisa teve como objetivo identificar a percepção das dimensões
corporais de púberes de ambos os sexos e sua relação com o desempenho da destreza
manual e capacidade de localização proprioceptiva das mãos durante o período do
estirão de crescimento. O estudo foi realizado com 100 indivíduos de 9 a 15 anos, sendo
50 do sexo masculino de 11 a 15 anos e 50 do sexo feminino de 9 a 13 anos, todos os
grupos com maturação sexual de I a IV. Cada grupo foi composto por 10 jovens de cada
faixa etária. Os testes utilizados foram: 1) teste de autoavaliação na determinação da
maturação sexual, proposto por Morris & Udry (1980) sugerido pelo LADESP –
GEPETIJ/EEFE – USP (MASSA, 2006); 2) Procedimento de Marcação do Esquema
Corporal (Image Marking Procedure – IMP) proposto por Askevold (1975) com
alterações propostas por Thurm (2007); 3) Teste de destreza manual (Box and Block
Test of Manual Dexterity BBT – Mathiowetz et al. 1985); e 4) Teste de Capacidade de
Localização Proprioceptiva das Mãos, elaborado para este estudo. Utilizamos as
técnicas estatísticas como média, desvio-padrão, frequência e porcentagem, e os dados
foram submetidos ao teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov e Levene para
verificar homogeneidade das variâncias. Efetuamos comparações entre os sexos por
meio do “t” – Student para variáveis independentes. Recorremos à Análise de Variância
(ANOVA de um fator) para verificar possíveis diferenças entre os IPC Geral em cada
estágio de maturação sexual. Foram realizadas Análises de Variância (ANOVA) com
medidas repetidas para verificar eventuais diferenças entre a percepção dos segmentos
corporais com fator sexo, complementado pelo teste de Bonferroni. Efetuamos
correlações de Pearson entre o IPC Geral e dos Ombros com destreza manual e com a
capacidade de localização das mãos e com as demais variáveis. O critério de
significância adotado foi de 5%. As análises estatísticas foram realizadas por meio do
programa computacional SPSS (Statistical Package for Social Sciences) versão 21.0,
para Windows. Após a análise dos dados constatamos que: a percepção das dimensões
corporais se desajustaram à medida que se alteraram as dimensões corporais, que elas
xvii
não diferiram entre os sexos e que 91% dos jovens perceberam-se maiores do que
realmente são; os indivíduos apresentaram assimetrias e descentralizações referentes à
percepção das dimensões dos segmentos corporais; os jovens não perceberam os
segmentos corporais que se modificaram durante a fase de estirão de crescimento; a
maturação sexual e as horas de inatividade motora global não ocasionaram desajustes à
percepção corporal geral e segmentar; as horas semanais de praxia fina ocasionaram
ajustes à percepção da dimensão corporal dos ombros, os desajustes da percepção
corporal geral e dos ombros não se relacionaram aos desempenhos da destreza manual e
à capacidade de localização proprioceptiva das mãos; as atividades motoras pregressas
não ocasionaram alterações dos desempenhos da capacidade de localização das mãos,
porém influenciaram os desempenhos da destreza manual; as horas semanais de praxia
fina ocasionaram melhorias do desempenho da destreza manual dominante e não
influenciaram os desempenhos da destreza manual não dominante, e a capacidade de
localização das mãos e as horas de inatividade motora global não influenciaram os
desempenhos da destreza manual e da capacidade de localização proprioceptiva das
mãos. Finalizando, a percepção sobre as dimensões corporais não influenciaram os
desempenhos referentes à capacidade de localização das mãos e os desempenhos da
destreza manual.
Palavras-chave: esquema corporal, imagem corporal, percepção corporal, puberdade,
destreza manual, espaço peripessoal.
xviii
ABSTRACT
Impact of somatic transformations of pubescent on body perception,
relations to manual dexterity and to the proprioceptive localization of
the hands.
The study aimed to identify the perception of body dimensions of pubescent
boys and girls and its relation to manual dexterity performance and to the capacity for
proprioceptive localization of the hands during the growth spurt period. The study was
carried out with 100 individuals aged 9 to 15 years: 50 boys aged 11 to 15 years and 50
girls aged 9 to 13 years, all groups at sexual maturity stages I - IV. Each group was
composed of 10 individuals from each age group. The following tests were used: 1)
self-assessment test in the determination of sexual maturity, proposed by Morris & Udry
(1980) and suggested by LADESP – GEPETIJ/EEFE – USP (MASSA, 2006); 2) Image
Marking Procedure – IMP, proposed by Askevold (1975) with alterations proposed by
Thurm (2007); 3) Box and Block Test of Manual Dexterity – BBT, proposed by
Mathiowetz et al. (1985); and Test of Capacity for Proprioceptive Localization of the
Hands, designed for this study. We utilized statistical techniques such as mean, standard
deviation, frequency and percentage, and the data were submitted to the Test of
Normality (Kolmogorov-Smirnov and Levene) to verify the homogeneity of variance.
We made comparisons between sexes by means of Student’s t-test for independent
variables. We employed the Analysis of Variance (one-factor ANOVA) to verify
possible differences among the General Body Perception Index (BPI) at each stage of
sexual maturity. Analyses of Variance (ANOVA) were performed with repeated
measures to verify possible differences between the perception of body segments and
the sex factor, complemented by the Bonferroni Test. Pearson correlations were
performed between the General/Shoulders BPI and manual dexterity, capacity for hand
localization and the other variables. The significance criterion that was adopted was 5%.
The statistical analyses were performed by means of the SPSS computer program
(Statistical Package for Social Sciences), version 21.0 for Windows. After the data
analysis we verified: that the perception of body dimensions misadjusted itself as the
body dimensions were altered, that it did not differ between sexes and that 91% of the
individuals perceived themselves as bigger than they really are; the individuals
presented asymmetries and decentralizations referring to the perception of the
dimensions of body segments; the individuals did not perceive the body segments that
xix
were modified during the growth spurt period; sexual maturity and the hours of global
motor inactivity did not misadjust the general and segmental body perception; the
weekly hours of fine praxis caused adjustments to the perception of body dimensions
and of shoulder dimensions; the misadjustments to the general body perception and to
shoulders perception were not related to manual dexterity performance and to the
capacity for proprioceptive localization of the hands; previous motor activities did not
cause alterations in the performance of the capacity for hand localization; however, they
influenced the manual dexterity performance; the weekly hours of fine praxis improved
the performance of the dominant manual dexterity and did not influence the
performance of the non-dominant manual dexterity; and the capacity for hand
localization and the hours of global motor inactivity did not influence manual dexterity
performance and the capacity for proprioceptive localization of the hands. Finally, the
perception of body dimensions interferes neither in the performance referring to the
capacity for hand localization nor in the manual dexterity performance.
Keywords: body scheme, body image, body perception, puberty, manual dexterity,
peripersonal space.
xx
APRESENTAÇÃO
Sou formado em Educação Física e Psicologia, especialista em Psicomotricidade
e Mestre em Psicologia da Educação. Atuei como profissional de Educação Física por
muitos anos no âmbito escolar ministrando aulas para crianças desde a faixa etária de
um ano e meio (minimaternal) até os jovens do ensino médio, depois como coordenador
da respectiva área em uma escola particular de São Paulo e, posteriormente, como
docente no ensino superior, contribuindo com a formação de profissionais de Educação
Física.
Ao atuar com adolescentes, identifiquei que grande parte dos jovens apresentava
dificuldades para executar habilidades motoras com desempenhos adequados,
apresentando-se muitas vezes incoordenados.
Durante a práxis educativa, procurei direcionar a aprendizagem de habilidades
motoras conciliadas à estimulação das seguintes funções psicomotoras: tonicidade,
equilibração, percepção corporal, lateralização, orientação espacial e temporal, e pude
intuir que a estimulação direcionada à percepção corporal parece ter ocasionado
benefícios ao desempenho de diferentes habilidades motoras.
Diante do exposto, emergia a seguinte inquietação: será que as crianças são
desajustadas porque não possuem um esquema corporal ajustado? Esse acarreta déficits
motores também em decorrência das alterações corporais que ocorrem na puberdade?
Será que existe um esquema corporal generalizado que possibilita aos indivíduos a
realização de diferentes habilidades motoras com bons desempenhos? Ou será que há
esquemas corporais específicos que, uma vez estimulados por meio de práticas
específicas, favorecem os desempenhos adequados das habilidades treinadas e não de
outras? Esse treinamento compensa as alterações somáticas dessa fase?
As inquietações apresentadas me conduziram a fazer especialização em
psicomotricidade. No entanto, percebi a necessidade de me aprofundar neste assunto
altamente intrigante, fascinante e difícil de ser investigado. Encontrei no Laboratório de
Percepção Corporal e Movimento da Universidade São Judas Tadeu, coordenado pela
Drª Eliane Florencio Gama, profissionais e amigos que se dedicam em pesquisar esta
área, e, ao ingressar neste grupo, fui impulsionado a entrar no Doutorado em Educação
Física para pesquisar a percepção das dimensões corporais dos púberes e sua relação
com a destreza manual e capacidade de localização das mãos.
17
1. INTRODUÇÃO
A fase da adolescência é caracterizada por modificações de natureza psicológica,
social e biológica, como as mudanças hormonais, a maturação óssea e a maturação
sexual. Essa etapa acontece entre a infância e a idade adulta Gallahue et al. (2013), com
transformações corporais que ocorrem em um período curto de tempo, a qual é difícil de
ser identificada por meio da idade cronológica (MARCONDES et al., 1979). Já a
puberdade é uma etapa da adolescência caracterizada pelas mudanças biológicas que
acontecem nessa fase (MARDONDES et al., 1979; GALLAHUE et al., 2013). Segundo
Gallahue et al. (2013), a adolescência é a passagem para a vida adulta que começa na
puberdade (o início da puberdade é caracterizado pelo despertar da maturação sexual) e
termina no início da vida adulta que é caracterizada pela independência financeira e
emocional em relação à família. Neste estudo focamos o período da puberdade, e nosso
olhar para os púberes foi direcionado predominantemente para as transformações
corporais decorrentes dessa fase, embora ocorram modificações também em outras
esferas como a cognitiva e a afetiva.
Durante a puberdade ocorre a fase de aceleração de crescimento que se encerra
no pico de velocidade de crescimento, alcançado pelas meninas por volta dos 11 anos e
pelos meninos aproximadamente aos 13 anos (GALLAHUE et al., 2013). De acordo
com Marcondes et al. (1979), os jovens nesse período crescem em média de 9,0 a 10,3
cm/ano. Para Malina (2002), na fase do estirão do crescimento, iniciam-se
transformações corporais de forma acelerada como o aumento do comprimento dos
membros inferiores e superiores e com modificações verticais ainda mais acentuadas do
segmento superior (comprimento da cabeça, pescoço e tronco) e horizontais (largura dos
ombros, cintura e quadril).
À medida que o corpo se transforma aceleradamente, alterando assim sua
configuração corporal, a percepção que o jovem tem do seu corpo, também se modifica
(MARCONDES et al., 1979; BRÊTAS, 2003; NETO, 2009).
O corpo pode ser percebido por dois elementos distintos e indissociáveis que
integram informações sensoriais, conceitos e ideias sobre a constituição dinâmica do
18
corpo em suas interações com o ambiente: a Imagem Corporal e o Esquema Corporal. A
Imagem Corporal refere-se à representação mental sobre o corpo carregada de
afetividade e conceitos valorativos sobre esse (TAVARES et al. 2010). O Esquema
Corporal é uma representação sensorial e motora do corpo que direciona as ações, é
uma representação inconsciente de caráter neurofisiológico que é imprescindível para o
controle das ações motoras nas relações com o espaço (VIGNEMONT, 2010). O
Esquema Corporal se refere ao conhecimento corporal no que diz respeito às percepções
e conceitos sobre o corpo que não estão sujeitos às influências culturais (MULLIS,
2008).
Segundo Marcondes et al. (1979), a partir das diversas modificações corporais
que ocorrem na fase da puberdade é comum a emergência relativamente frequente de
sensações de desproporcionalidade, pois as alterações corporais, quando
incompreendidas, podem gerar desconforto aos jovens, uma vez que o Esquema
Corporal desajustado pode não refletir as dimensões corporais reais do indivíduo. Para o
autor, é a partir do corpo que o jovem pode se aperceber.
As dimensões corporais, ao se alterarem, ocasionam desajustes no Esquema
Corporal e na orientação espacial, o que gera desordens na capacidade de controlar o
corpo no espaço, passando o púbere a esbarrar nos objetos, tropeçar e reduzir sua
precisão, por exemplo. Os desajustes referentes à coordenação motora que ocorrem
nesse período podem ser derivados da incongruência existente entre o Esquema
Corporal anteriormente estabelecido e a falta de reconhecimento e apropriação das
dimensões deste novo corpo em processo de transformação, fruto do processo vivido
durante o estirão de crescimento (BRÊTAS, 2003). Para o autor, o crescimento com
transformações corporais desiguais é evidentemente representado no corpo afetando
assim o Esquema Corporal estruturado ao longo dos anos.
Ao longo da vida ocorre uma série de mudanças decorrentes das interações entre
as restrições do indivíduo, da tarefa e do ambiente. Durante o processo de
desenvolvimento, o ser humano passa por períodos críticos que se referem à maior
sensibilidade do organismo para receber estímulos ambientais apropriados em períodos
específicos, potencializar o processo de desenvolvimento e a aprendizagem de
habilidades específicas que refletirão de forma mais positiva nos estágios posteriores. A
19
falta de estímulos adequados nos diferentes períodos críticos do desenvolvimento
poderá ocasionar impactos negativos ao desenvolvimento normal (GALLAHUE et al.,
2013). O desenvolvimento do Esquema Corporal ocorre durante todos os ciclos da vida,
e à medida que a maturação neurológica é associada às experiências corporais, a
percepção sobre o corpo se amplia, se desenvolve (OLIVEIRA, 2011).
Gradativamente, durante as fases de desenvolvimento, a criança percebe cada
parte do corpo e integra-as, formando assim uma percepção particularizada das partes e
ao mesmo tempo do corpo como um todo. Contudo, para que isso ocorra de forma
efetiva, se faz necessário que os educadores durante os diferentes estágios de formação
do Esquema Corporal auxiliem as crianças a direcionar a atenção sobre si de modo a
viabilizar o processo de maior interiorização do corpo, possibilitando assim a
apropriação do corpo e o estabelecimento de relações harmoniosas entre esse com o
meio que o cerca (OLIVEIRA, 2011).
De acordo com os relatos encontrados na literatura, é por meio do
desenvolvimento do Esquema Corporal que o ser humano amplia o conhecimento sobre
seu corpo e integra de forma mais harmoniosa suas partes, o que resulta em
desempenhos motores harmônicos em relação ao meio que o circunda (HOLMES &
SPENCE, 2004).
Um Esquema Corporal mal estruturado se traduz em deficiências referentes à
organização espaço-temporal, à coordenação motora e à falta de segurança nas próprias
atitudes motoras, circunstâncias que dificultam uma adequada comunicação com o
mundo exterior (NETO, 2009).
Longo et al. (2010) relataram que Tanner considerou que o desajuste da
propriocepção em adolescentes derivado do estirão de crescimento pode ultrapassar a
capacidade somatoperceptiva para atualizar o modelo de corpo (Esquema Corporal) por
meio da localização proprioceptiva, produzindo essas alterações, equívocos sistemáticos
sobre a localização de partes do corpo no espaço exterior. Ainda de acordo com Longo
et al. (2010), estudos recentes demostraram que o início dos desajustes de coordenação
são intensificados com o aumento da velocidade de crescimento, porém pouco se sabe
sobre a natureza específica do modelo de localização do corpo.
20
Atualmente no Brasil diferentes estudos realizados com a Escala de
Desenvolvimento Motor – EDM, proposta por Rosa Neto (2002), constataram
defasagens do esquema corporal de crianças brasileiras em relação a idade cronológica.
Rosa Neto et al. (2011), reconhecendo a importância do esquema corporal para o
desenvolvimento global da criança, avaliaram 39 crianças de 6 a 10 anos de uma escola
pública de Florianópolis e constataram que todos os participantes avaliados
apresentaram defasagens tanto na idade motora como no Esquema Corporal e que tais
atrasos aumentaram conforme o avanço da idade cronológica dos participantes. No
mesmo estudo, os autores citaram ainda experimentos realizados com escolares,
praticantes de natação, futebol de salão e crianças com dificuldades de aprendizagem, e
em todos os experimentos, os participantes apresentaram déficit do esquema corporal.
Em outro estudo realizado por Rosa Neto et al. (2007), cujo objetivo consistiu
em avaliar o desenvolvimento motor e as características psicossociais de crianças com
indicadores de dificuldade na aprendizagem escolar, realizado com 31 crianças de
ambos os sexos de 6 a 13 anos, constatou-se que 51,2% dos participantes apresentaram
déficits do esquema corporal, precedido de 38,4% que exibiram defasagem da
organização espacial e 35,2% da organização temporal.
Silva et al. (2009) investigaram 50 crianças de ambos os sexos, de escola pública
e privada, de 11 anos de idade, por meio da Escala de Desenvolvimento Motor de Rosa
Neto e constataram que as crianças exibiram defasagens na avaliação do esquema
corporal uma vez que elas apresentaram a idade do esquema corporal abaixo da idade
cronológica.
Rosa Neto et al. (2011) constataram que os dados obtidos em seu estudo
confirmam a relação com os achados de outros autores de que tais déficits se agravam
com o aumento da idade cronológica. Assim sendo, com o avanço da idade as crianças
passam a apresentar maior dificuldade para desempenhar tarefas que envolvam o
controle e o reconhecimento do próprio corpo.
21
Por meio das citações efetuadas, hipotetiza-se que as alterações corporais
derivadas do estirão de crescimento desajustam o esquema corporal, e esse desorganiza
as ações motoras globais e finas dos púberes.
Para Holmes & Spence (2004), ao manipular objetos para alcançar um objetivo é
necessário ter uma representação neural do corpo integrada (espaço pessoal - espaço
delimitado pela pele) ao espaço circundante (espaço peripessoal – espaço próximo ao
corpo). Pode ser considerado como espaço peripessoal o espaço situado imediatamente
ao redor do nosso corpo, o qual nos permite alcançar objetos sem que precisemos nos
locomover. As representações do corpo e do espaço peripessoal envolvem as
modalidades sensoriais visuais, somatossensoriais e proprioceptivas e operam tendo
como parâmetro as referências do corpo. Para alcançar objetos ao redor do corpo com as
mãos, o cérebro precisa calcular a posição dos braços no espaço em relação ao objeto;
para isso, é necessário fazer uso de uma variedade de quadros de referência como
direcionar o olhar para o objeto recorrendo a um mapa retinotópico e evocar
representações topográficas (somatotópicas) sobre a localização de partes do corpo.
Conforme os autores, a área cortical parietal posterior é responsável por manter um
modelo atualizado da posição do corpo no espaço, e o córtex visual pelo processamento
dos objetos vistos no espaço peripessoal. As informações sobre o corpo e sobre o objeto
são integradas e processadas no córtex parietal posterior e no córtex ventral pré-motor.
O esquema corporal e o espaço peripessoal são elementos que emergem de uma rede de
integração tanto dos centros corticais como subcorticais.
Segundo Fagard & Wolff (1991), o ser humano utiliza as mãos para efetuar
diversas ações relacionadas à comunicação, manutenção do corpo e alimentação. As
habilidades manuais se constituem em um elemento essencial para manusear objetos e
construir ferramentas. Segundo os autores, o ato de preensão faz parte do
comportamento inteligente, portanto a forma como a criança exerce as ações manuais
pode resultar em um desenvolvimento restrito ou ampliado da cognição.
O desempenho eficiente das habilidades manuais requer a organização do
sistema nervoso central que, para planejar ações manuais, necessita de informações
neuro-anatômicas do ombro, cotovelo, punho, mãos e dedos (ROSA NETO, 2002;
FAGARD & WOLFF, 1991). Para pegar um objeto é necessário coordenar a ação dos
22
dedos, afastá-los o suficiente para apreender o mesmo; para efetuar tal ato, é necessário
perceber a forma e o tamanho do instrumento. Ao segurá-lo emergem informações
sobre a força a ser executada para deslocá-lo, e esses ajustes contemplam a prévia
interpretação visual. O córtex pré-motor é responsável pela motricidade fina e está
relacionado ao controle das mãos e dedos (ROSA NETO, 2002). A habilidade de
preensão manual envolve alcançar e segurar, ações desenvolvidas durante a infância que
dão sustentação às várias habilidades manuais (FAGARD & WOLFF, 1991).
23
1.1 Justificativa
Ao longo de décadas, no discurso de vários profissionais encontram-se várias
referências e expressões que afirmam que as alterações corporais decorrentes do período
de estirão de crescimento ocasionam desajustes do Esquema Corporal, e esse
desorganiza as ações motoras e espaciais. No entanto, não localizamos dados precisos
que revelassem qual é a percepção dos púberes sobre as dimensões corporais geral e
segmentar, nem se essas de fato se desajustam em decorrência das alterações corporais
que se processam durante o período da puberdade e ocasionam aos púberes
desorganizações motoras em relação aos desempenhos da destreza manual e da
capacidade de localização proprioceptiva das mãos.
Com base nos apontamentos efetuados anteriormente, idealizamos contribuir
com a comunidade científica ao fornecer informações sobre o índice de percepção das
dimensões corporais dos púberes, tema tão inexplorado e controverso. Por meio do
instrumento utilizado para avaliar a percepção sobre as dimensões corporais e critérios
de análise, será possível identificar qual é a percepção dos púberes sobre as dimensões
do contorno corporal, sua aproximação ou afastamento das dimensões reais. Será
possível também constatar se a percepção sobre as dimensões corporais está associada
aos desempenhos da destreza manual e à capacidade de localização proprioceptiva das
mãos, identificar possíveis fatores relacionados a esses desempenhos e por meio do
instrumento por nós idealizado, avaliar a capacidade de localização proprioceptiva das
mãos.
1.2 Objetivo Geral
Identificar a percepção das dimensões corporais dos púberes de ambos os sexos
durante o período do estirão de crescimento e sua relação com o desempenho motor.
1.3 Objetivos Específicos
1. Avaliar os aspectos quantitativos e qualitativos da percepção das dimensões
corporais entre os sexos feminino e masculino.
24
2. Verificar a influência da maturação sexual, das atividades motoras pregressas,
das horas semanais de praxia fina e das horas semanais de inatividade motora global
sobre a percepção das dimensões corporais.
3. Analisar a influência da percepção das dimensões corporais geral e dos
ombros sobre a destreza manual e capacidade de localização proprioceptiva das mãos.
4. Verificar a influência da maturação sexual; das atividades motoras pregressas,
da inatividade motora global e das horas semanais de praxia fina sobre os desempenhos
da destreza manual e capacidade de localização das mãos.
5. Identificar, nos quatro estágios de maturação sexual, o IPC Geral e sua relação
com os desempenhos da destreza manual e da capacidade de localização das mãos.
1.4 Hipóteses Iniciais
1. a A Percepção Corporal se desajusta à medida que se alteram as dimensões
corporais.
1. b A Percepção Corporal entre os sexos difere.
1. c Os indivíduos apresentam assimetrias e descentralizações referentes à
percepção das dimensões dos segmentos corporais.
1. d Os jovens não percebem os segmentos corporais que se modificam durante
a fase de estirão de crescimento.
2. a A maturação sexual e as horas de inatividade motora global ocasionam
desajustes da percepção corporal geral e segmentar.
2. b As atividades motoras pregressas ocasionam ajustes à percepção das
dimensões corporais geral.
2. c As horas de praxia fina ocasionam maior ajuste à percepção corporal dos
ombros.
3.a Os desajustes da percepção corporal geral e dos ombros ocasionam prejuízos
aos desempenhos da destreza manual e menor precisão da capacidade de localização
proprioceptiva das mãos.
25
4. a A maturação sexual ocasiona prejuízos à destreza manual e à Capacidade de
Localização das Mãos.
4. b As atividades motoras pregressas não influenciam os desempenhos da
destreza manual e à capacidade de localização das mãos.
4. c As horas semanais de praxia fina ocasionam melhorias no desempenho da
destreza manual e na capacidade de localização proprioceptiva das mãos.
4. d As horas de inatividade motora global não influenciam os desempenhos
motores.
5. a Com o avanço da Maturação Sexual, a Percepção sobre as dimensões
corporais deve se desajustar e ocasionar prejuízos à capacidade de localização das mãos
e a destreza manual.
26
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Crescimento durante a puberdade
A fase da adolescência é caracterizada, segundo Massa (2006), por intensas
mudanças biológicas, tais como: mudanças hormonais, maturação óssea e maturação
sexual, assim como mudanças comportamentais. Essa fase se localiza entre a infância e
a idade adulta (GALLAHUE, 2013; MASSA, 2006).
A puberdade é caracterizada pelas mudanças biológicas que ocorrem na fase da
adolescência. A partir dos 8 ou 9 anos, ocorre o desencadeamento da produção de
hormônios, os quais promovem mudanças nas dimensões corporais e as características
sexuais secundárias (ABERASTURY, 1981).
O surto de crescimento da puberdade se inicia um ou dois anos antes que os
órgãos sexuais amadureçam e, depois disso, perdura por aproximadamente seis meses a
um ano (MALINA & BOUCHARD, 2002; ABERASTURY, 1981).
A fase do estirão de crescimento ocorre aproximadamente dos 9 aos 15 anos,
tendo o pico de velocidade de altura (PVA) dos 11 aos 13 anos com desaceleração dos
13 aos 15 anos aproximadamente (MALINA & BOUCHARD, 2002).
Para avaliar a velocidade de crescimento deve-se levar em consideração o ritmo
maturacional dos púberes que pode variar em função dos estágios de maturação sexual;
assim, os jovens poderão ter o ritmo de crescimento caracterizado como normal,
precoce ou tardio em relação à idade cronológica (GALLAHUE, 2013; MASSA, 2006).
Quando nos referimos ao pico de velocidade de altura, faz-se necessário relatar que há
uma correlação moderada a alta entre a as idades do PVA com as características sexuais
secundárias. Nota-se que as crianças precoces ou tardias em maturação sexual são
também avançadas ou atrasadas em relação ao período do estirão de crescimento. Além
dos aspectos até aqui apresentados, outro fator relevante consiste em destacar que as
meninas tendem a ser dois anos mais precoces que os meninos em todas as fases
(MALINA & BOUCHARD, 2002).
O estirão de crescimento em estatura contém três fases distintas. As meninas
iniciam a aceleração do crescimento aproximadamente aos 9 anos, e os meninos aos 11
anos, a velocidade de pico ocorrerá por volta dos 11 anos para as meninas e aos 13 para
os meninos, e a desaceleração se iniciará em média aos 13 anos para as meninas e aos
15 para os meninos com a estabilização da estatura entre os 16 e 18 anos para as
27
mulheres e entre os 18 e 20 anos para os homens (GALLAHUE, 2013; MALINA &
BOUCHARD, 1991).
Sabe-se que o aumento da estatura sofre forte influência genética e que a dieta e
o estilo de vida ocasionarão pouca variabilidade no crescimento que ocorre ao longo do
eixo temporal (GALLAHUE, 2013).
O rápido crescimento em estatura na fase da puberdade se deve em grande parte
ao aumento acelerado do comprimento dos membros inferiores; porém quando se
compara o crescimento dos membros inferiores ao comprimento tronco-cefálico, fica
evidente que a altura tronco-cefálica prossegue até o final da adolescência e
provavelmente até a segunda década de vida, enquanto o cessar do crescimento dos
membros inferiores ocorre antes disso, porque, em termos proporcionais, a altura
tronco-cefálica é maior que o comprimento dos membros inferiores na fase adulta; a
altura tronco-cefálica se processa mais tarde, porém por um período mais lento e mais
longo (MALINA & BOUCHARD, 2002; CHIPKEVITCH, 1995).
As dimensões do crescimento do tronco das meninas é um pouco maior que o
dos meninos no período da puberdade, e até os 14 anos o crescimento do tronco dos
jovens não se equipara ao das meninas. porém, após essa fase, eles chegam a ultrapassá-
las (MALINA & BOUCHARD, 2002).
No início da puberdade, o comprimento dos membros inferiores da menina é um
pouco maior que o dos meninos, e, aproximadamente aos 12 anos, eles as ultrapassam
(MALINA & BOUCHARD, 2002).
Na primeira infância, o recém-nascido tem um tamanho pequeno dos membros
inferiores em relação ao tronco e, dos 6 anos até o início da adolescência, há certa
proporcionalidade estabelecida entre o tamanho dos membros inferiores com relação ao
tamanho do tronco. Na fase da puberdade, nota-se que há uma distinção entre os sexos,
as meninas dos 10 aos 14 anos possuem um crescimento acelerado do tamanho do
tronco em relação ao tamanho dos membros inferiores, e os meninos dos 12 aos 14 anos
idem. Essa aceleração rápida ocorre na fase do estirão de crescimento. Dessas idades até
a fase adulta, etapa em que o crescimento já está consolidado, gradativamente o
crescimento tronco-cefálico ultrapassará o crescimento dos membros inferiores
tornando-se proporcionalmente maior até a fase adulta. O ganho de estatura no período
da puberdade está associado ao maior comprimento do tronco do que dos membros
inferiores. Esses dados podem ser apreciados no quadro 1 (PAYNE & ISAACS, 2007;
MALINA & BOUCHARD, 2002).
28
Quadro 1 – Representação da velocidade de crescimento das dimensões corporais
referentes à Altura Tronco-Cefálica e Membros Inferiores, em diferentes faixas etárias (quadro
elaborado segundo nossa ótica com base nos dados de Malina & Bouchard, 2002)
Sexo Idades Altura Tronco-Cefálica Membros Inferiores
Fem/Masc Recém-nascido Grande Pequena
Fem/Masc 6 anos/ início adolescência Proporcional Proporcional
Feminino 10-12 anos Menor Maior
Masculino 12-14 anos Menor Maior
Feminino Acima de 12 anos Maior Menor
Masculino Acima de 14 anos Maior Menor
Resumindo, podemos relatar que, na infância, o crescimento dos membros
inferiores é mais intenso que o do tronco, e, na puberdade, o crescimento do tronco
passa a ser mais acentuado que o crescimento dos membros inferiores (CHIPKEVITCH,
1995).
Quanto ao crescimento das dimensões biacromial (ombros) e bitrocantérica
(fêmur), as meninas, do final da infância até o final da adolescência, apresentam maior
largura bitrocantérica quando comparadas aos meninos; porém, eles se equipararão às
meninas no final da adolescência. Ao se comparar a largura biacromial entre os sexos,
os meninos apresentam dimensões maiores em todas as idades, exceto na fase do estirão
de crescimento das meninas que ocorre entre os 10 e 12 anos, etapa em que suas
dimensões são relativamente maiores. Durante o estirão de crescimento, os meninos
aumentam as dimensões biacromiais mais do que as meninas e elas por sua vez ampliam
as dimensões bitrocantéricas mais que os meninos. Na vida adulta, como resultado do
processo de crescimento, os homens em geral apresentam ombros mais largos
(dimensões biacromiais) que as mulheres, e as dimensões dos quadris (bitrocantéricas)
são equivalentes a elas em termos de proporcionalidade (MALINA & BOUCHARD,
2002).
Outro dado relevante é que os meninos aumentam o dobro em largura biacromial
em comparação ao ganho de amplitude bitrocantérica durante a fase da adolescência.
Nas meninas, embora ocorra um ganho acentuado das dimensões bitrocantéricas nessa
29
fase, há uma pequena diferença no ganho das duas dimensões ao serem comparadas,
biacromial e bitrocantérica (MALINA & BOUCHARD, 2002).
A seguir, apresentamos um quadro sinóptico (2) reproduzido parcialmente de
(CHIPKEVITCH, 1995). Neste quadro, observam-se as características peculiares dos
diferentes segmentos corporais de cada sexo durante o período de estirão de
crescimento. Na linha horizontal, estão dispostas as dimensões corporais como: estatura,
altura tronco-cefálica, comprimento dos membros inferiores e dimensões biacromiais e
bitrocantéricas. Na linha vertical, estão dispostos os parâmetros que dizem respeito à
idade do início do estirão de crescimento (IE), à idade do pico de velocidade de
crescimento (PVC) e ao ganho puberal expresso em centímetros, do início ao final do
estirão de crescimento. Segundo o autor, os meninos iniciam o estirão de crescimento
dos segmentos corporais aproximadamente dois anos após as meninas. Verifica-se que
em ambos os sexos, na fase do estirão, o ganho puberal dos segmentos superiores
(altura tronco-cefálica) é maior do que o dos membros inferiores, e o ganho puberal das
dimensões biacromiais é maior do que as bitrocantéricas. O ganho biacromial dos
meninos é consideravelmente maior do que o das meninas. O ganho biacromial puberal
masculino corresponde a 21% e nas meninas a 17% do tamanho adulto. No que diz
respeito à dimensão bitrocantérica, as meninas têm um crescimento maior (21% do
tamanho adulto) do que o dos meninos (17% do tamanho adulto).
Quadro 2 – Crescimento das dimensões corporais e suas respectivas correspondências
com a idade do início do estirão (IE) de crescimento, com a idade do pico de velocidade de
crescimento (PVC) e com o ganho puberal (reprodução parcial do quadro elaborado por
(CHIPKEVITCH, 1995)).
Feminino
Parâmetros Estatura Altura
Tronco-Cefálica Membros
Inferiores Dimensão
Biacromial Dimensão
Bitrocantérica
Idade IE 10,3 anos 10,4 anos 10,2 anos 10,4 anos 10,1 anos
Idade PVC 11,9 anos 12,2 anos 11,6 anos 12,2 anos 12,3 anos
Ganho Puberal 25,3 cm 13,5 cm 11,5 cm 6,2 cm 6,0 cm
Masculino
Parâmetros Estatura Altura
Tronco-Cefálica Membros
Inferiores Dimensão
Biacromial Dimensão
Bitrocantérica
Idade IE 12,1 anos 12,1 anos 12,0 anos 12,0 anos 12,1 anos
Idade PVC 13,9 anos 14,3 anos 13,6 anos 14,2 anos 14,0 anos
Ganho Puberal 27,6 cm 15,4 cm 12,1 cm 8,5 cm 4,8 cm
30
As alterações das proporções corporais, principalmente as dos membros
inferiores e segmento superior (tronco-cefálica) que ocorrem na fase da puberdade,
alteram a localização do centro de gravidade, e essa alteração ocasiona prejuízos ao
equilíbrio e ao desempenho motor, principalmente na época do pico de velocidade de
altura que ocorre nos meninos aproximadamente aos 13,7 anos e nas meninas aos 11,8
anos (PAYNE & ISAACS, 2007). Segundo os mesmos autores, Tanner constatou que
os desajustes do equilíbrio podem perdurar durante 6 meses e que Ostyn e
colaboradores identificaram que há um número significativo de meninos que declinaram
o desempenho motor nesse período. A esse fenômeno se atribui a denominação de
desajuste do adolescente. De forma geral, as alterações da estatura, altura tronco-
cefálica, dos membros inferiores, da largura biacromial e trocantérica ocasionam
desajustes do desempenho motor. O aumento das dimensões bitrocantéricas em meninas
parece ocasionar desvantagens referentes aos desempenhos relacionados à corrida e
saltos e benefícios em atividades de balanceios uma vez que as dimensões do quadril
(dimensões birocantéricas) se somam aos membros inferiores mais curtos que o dos
meninos. As dimensões biacromiais ampliadas e conciliadas ao aumento dos membros
superiores proporcionam aos meninos melhores desempenhos nas habilidades de
arremessar (PAYNE & ISAACS, 2007).
Além das transformações corporais mencionadas, surgem outras modificações
características dessa fase, importantes para este estudo.
Durante três anos e um ano após a puberdade, a menina ganha aproximadamente
dezessete quilos. No que diz respeito às alterações corporais, durante a puberdade é
possível verificar que a cabeça tem um crescimento lento em relação ao resto do corpo,
porém a testa se torna mais larga e alta, e o nariz cresce em ritmo acelerado, a boca se
torna mais larga, os lábios ganham volume tornando-se mais espessos, o queixo adquire
um aspecto mais pronunciado, as dimensões dos quadris e ombros se ampliam, os
membros inferiores e superiores se tornam mais longos e mais cheios como resultado do
aumento de tecido adiposo que também se concentra nas regiões das mamas, quadris e
coxas. É comum nessa fase o aparecimento de pelos nas axilas, face, membros e púbis.
A voz se altera assim como a cor e a textura da pele. Mudanças no sistema digestório,
circulatório, endócrino e respiratório também acontecem. Os ovários e o útero
amadurecem e crescem aceleradamente aproximadamente até os 12 anos, fase em que
geralmente ocorre a menarca. As transformações corpóreas dos meninos ocorrem
simultaneamente ao aparecimento dos caracteres sexuais secundários. Observa-se o
31
aumento das dimensões dos ombros (dimensões biacromiais) e um maior
desenvolvimento muscular, pois o surto puberal é acompanhado pelo aumento do
tamanho das células musculares sob a influência dos andrógenos. Quanto à gordura
subcutânea (tecido adiposo), há um acúmulo desde os 8 anos até a adolescência, fase em
que essa deposição diminui coincidindo com o pico de velocidade de crescimento. O
recomeço de um novo acúmulo de gordura ocorre no final da adolescência (MALINA &
BOUCHARD, 2002; ABERASTURY, 1981). Segundo Gallahue (2013), o aumento de
peso nos meninos se deve principalmente ao ganho de massa muscular e da altura.
Com relação à circunferência dos braços há um aumento maior da massa
muscular, principalmente entre os rapazes na fase do estirão de crescimento. Quanto à
circunferência da cabeça, um pequeno estirão se manifesta mais cedo nas meninas que
nos meninos. Vale lembrar que o crescimento mais acelerado da cabeça ocorre
aproximadamente até os 6 anos de idade (MALINA & BOUCHARD, 2002).
Observamos que nos estudos realizados sobre o crescimento das dimensões
corporais, há certa preocupação quanto a relação entre as partes do corpo com o todo, à
medida que esse cresce.
2.2 Esquema Corporal
De acordo com a literatura, vários autores atribuem nomenclaturas diferentes ao
se referirem ao conhecimento que o indivíduo tem sobre seu corpo (figura 1), tais como:
Esquema Postural de Head, Esquema de Bonnier, Imagem de si de Van Bogaert,
Somatopsíquico de Janet, Imagem do Eu Corporal de Merleau-Ponty, Imagem do Corpo
de Shilder, Noção do Corpo de Ribot, Imagem Espacial do Corpo de Picq e Imagem do
Nosso Corpo de Lhermitte (FONSECA, V., 2008).
Figura 1 – Nomenclaturas de diversos autores encontradas na literatura
se referindo ao conhecimento corporal
(ilustração elaborada com base nos apontamentos de (FONSECA, V., 2008)).
32
Há tempos se estuda o corpo como instrumento de materialização da
humanização, e nesse sentido foi a partir das especulações filosóficas sobre o corpo que
surgiram os estudos neurológicos com o intuito de compreender o funcionamento do
cérebro e suas patologias, posteriormente os psicólogos e psicanalistas também o
estudaram com o objetivo de compreender o desenvolvimento da personalidade da
criança e suas respectivas perturbações (FONSECA, V., 2008).
Fonseca, V. (2008) considerou que é difícil estabelecer fronteiras nítidas entre os
conceitos de Imagem Corporal e Esquema Corporal, devido à natureza psicofisiológica
do ser humano.
De acordo com Vignemont (2010), até o final do século XIX o conhecimento
corporal foi concebido como um pacote de sensações internas. O autor relatou que em
1905, Bonnier introduziu o termo esquema para se referir à organização espacial,
momento esse em que quase todos os neurologistas da época passaram a admitir que
havia uma representação mental sobre o corpo, ou esquema corporal, cujo termo na
atualidade também é chamado de imagem do corpo. No entanto, evidenciou-se uma
confusão difundida sobre a natureza e as propriedades da referida noção, que até hoje
perduram.
Embora haja divergências na literatura quanto aos conceitos utilizados acerca do
conhecimento corporal, Vignemont (2010), em seus estudos, diferencia os conceitos de
Imagem e Esquema Corporal. O autor ao discutir os aspectos do conhecimento corporal,
utiliza o termo Percepção Corporal, a qual durante o seu processo de construção integra
informações sensoriais, conceitos e ideias sobre a constituição dinâmica do corpo e suas
interações com o ambiente. O autor considera que a Percepção Corporal é composta por
dois elementos distintos, porém indissociáveis, o Esquema Corporal e a Imagem
Corporal, conforme pode-se observar na figura 2.
Vignemont (2010) relata que a Imagem Corporal consiste na representação sobre
o corpo carregada de afetividade e conceitos valorativos sobre esse, e, segundo Mullis
(2008), a Imagem Corporal pode ser considerada como um conjunto de disposições
referentes às crenças e percepções deslocadas ao corpo. Reforçando ainda as
explanações efetuadas sobre Imagem Corporal, pode-se destacar que a Imagem está
relacionada à concepção atitudinal sobre o corpo que diz respeito às emoções e
cognições do sujeito em relação à sua aparência somática (TAVARES et al. 2010).
33
O Esquema Corporal pode ser considerado, segundo Vignemont (2010), como
uma representação sensório-motora do corpo que guia as ações, atribuindo ao Esquema
Corporal um caráter neurofisiológico.
Figura 2 – Elementos da percepção corporal expressa com base nos pressupostos dos
autores apresentados no texto, elaborado segundo nossa ótica.
Head & Holmes (1911) atribuíram ao conceito um enfoque essencialmente
neurológico. O córtex cerebral recebe informações de diversas partes do corpo como
das vísceras, das sensações e percepções táteis, térmicas, visuais e auditivas, o que
possibilita a formação de uma noção de corpo e de suas posturas, tanto do presente
como do passado. O autor relatou que, a partir do estudo dos nervos periféricos e das
funções nervosas associadas às sensações, constatou-se a existência da sensibilidade
proprioceptiva e atribuiu-se a ela o papel fundamental relacionado à condução das
informações corporais à consciência, sobre as posições adotadas pelo corpo e as
mudanças por ele geradas. O autor elegeu o córtex sensorial como o armazém das
impressões passadas, que seriam transformadas em modelos organizados e que
poderiam ser chamados de Esquema, sendo esse responsável por servir de alicerce a
todas as realizações futuras de movimentos (OLIVIER, 1995).
34
O Esquema Corporal se compõe por informações somatossensoriais multimodais
que permitem ao ser humano, a todo tempo, receber informações atualizadas sobre seu
corpo e suas partes nas relações com os objetos e com o espaço circundante
(MARAVITA; IRIKI, 2004).
O Esquema Corporal é plástico e não inflexível, é uma estrutura em constante
transformação ou reconstrução, devido às infinitas posições adotadas pelo corpo
(OLIVIER, 1995). É plástico, pois qualquer alteração postural do sujeito em relação ao
meio que ative a propriocepção ou exterocepção gerará novas informações que, uma vez
analisadas, implicarão novas adaptações do sujeito ao meio, possibilidades essas
resultantes deste elemento plástico, o Esquema Corporal (MARAVITA; IRIKI, 2004).
Ao se pensar no Esquema Corporal como um elemento plástico, que permite ao
homem adaptar seus movimentos em relação às diferentes situações ambientais que a
ele se apresentam, é interessante refletir sobre os apontamentos de Head e Holmes que
já em 1911 relataram que todas as sensações seriam enviadas a esse Esquema Modelo
(Modelo Postural de Corpo) e confrontadas com os registros sobre ele existentes e, a
partir daí, modificadas, permitindo que diferentes posições fossem expressas. Assim
sendo, todas as novas posições adotadas pelo corpo emergiriam carregadas de relações
com as anteriormente executadas, e, concomitantemente, todas as sensações, posições
ou movimentos novos seriam armazenados no Esquema, o que tornaria seus registros
permanentemente modificados (MULLIS, 2008).
De acordo com os relatos de Head, o Esquema Corporal pode ser considerado
então como um modelo postural de corpo que localiza a posição de um segmento e que
tem um papel importante no controle do movimento, pois ele envolve aspectos de
ambos os sistemas centrais e periféricos, como os receptores sensoriais e o sistema
proprioceptivo.
A organização das sensações proprioceptivas é indispensável no processo de
organização dos movimentos, pois a propriocepção permite ao ser humano perceber as
formas do corpo, a localização de cada parte, assim como ter ciência sobre as posturas
adotadas pelo corpo antes e durante a execução de movimentos. A propriocepção
integrada aos demais sistemas sensoriais permite ao ser humano perceber sua dimensão
corporal (MARAVITA; SPENCE; DRIVER, 2003).
Portanto, pode-se pensar que o Esquema Corporal consiste em um conjunto de
processos que permitem a identificação das diferentes posições, das diferentes partes do
corpo e do corpo como um todo no espaço, e todas as vezes que ocorrem os
35
movimentos corporais ele é atualizado. Essas ações são consideradas inconscientes e
são utilizadas para a estruturação espacial da ação. Entende-se que o Esquema Corporal
refere-se a informações continuamente atualizadas, não conceituais e inconscientes
sobre o corpo e que proveem a avaliação necessária para a execução de nossos
programas motores generalizados e de forma refinada. As informações do Esquema
Corporal não são conscientes; por esse motivo, não é preciso pensar para executar o ato
de levantar de uma cadeira, esse gesto está automatizado desde criança, porém ao
aprender habilidades novas como segurar a rédea de um cavalo, exige um esforço
consciente e atenção. Todas as demandas inesperadas que ocorrerem na realização de
tarefas motoras requererão nossa atenção consciente (MEIJSING, 2000).
O Esquema Corporal é a representação que o indivíduo tem sobre o seu corpo,
representação adquirida, elaborada e organizada no cérebro por meio da aprendizagem
(FONSECA, V., 2008).
O Esquema Corporal, portanto, consiste em uma representação espacial do corpo
que permite ao sujeito saber o comprimento, a configuração, a forma da superfície dos
seus segmentos corporais e a localização desses no espaço (MARAVITA; IRIKI, 2004).
Na literatura, identificamos muitas vezes o termo representações, utilizado como
sinônimo de esquema corporal e de imagem corporal. Para que possamos esclarecer os
termos empregados nesta pesquisa sobre esquema corporal, faz-se necessário abordar a
noção sobre o conceito de mapas, elemento essencial para a compreensão da percepção
corporal. Para tanto, utilizaremos os pressupostos escritos por Damásio em sua obra E o
cérebro criou o homem (2009).
2.2.1 A formação de Mapas
A formação da mente emerge a partir da atividade dos neurônios, que em sua
maioria se concentram no sistema nervoso central que envia sinais ao corpo e
recepciona informações do corpo e do mundo exterior. Os neurônios desenvolvem
microcircuitos que ao se combinarem constituem circuitos maiores, formando redes ou
sistemas. A mente se origina quando a atividade dos microcircuitos se organiza em
grandes redes neurais formando padrões, os quais representam objetos e fenômenos
situados fora do cérebro como o corpo ou o mundo exterior. Todos os padrões
representativos sejam eles simples ou complexos, concretos ou abstratos, foram
denominados por Damásio Mapas. Para o autor, esses mapas são vivenciados como
36
imagens na mente; ele relata que o termo imagem diz respeito às imagens advindas de
nossos sentidos como os visuais, os auditivos, os táteis e os viscerais, os quais, quando
acionados concomitantemente, são integrados de forma a possibilitar o planejamento de
ações correspondentes.
A construção de mapas se constitui por uma ação constante que se processa de
fora para dentro do cérebro, nas interações com o corpo e com o mundo exterior e,
também, quando se evocam objetos que fazem parte da memória. O cérebro tem a
capacidade de representar as características das coisas e acontecimentos que não
pertencem a ele incluindo as ações corporais. Ele é um compositor nato de mapas
mutáveis, pois somos seres em constante movimento, e a arte ou ciência de compor os
mapas começou com o mapeamento do corpo o qual contém o cérebro (DAMÁSIO,
2009).
Segundo Damásio (2009), as informações contidas nos mapas podem ser
utilizadas de maneira inconsciente para guiar com eficácia o comportamento motor.
Medina & Coslett (2010), Vignemont (2010) e outros utilizam o termo esquema
corporal ao se referirem às informações inconscientes sobre o corpo que possibilitam ao
ser humano guiar suas ações. Assim sendo, utilizaremos também, ao longo deste estudo,
o termo mapa para nos referir ao esquema corporal. A seguir, discutiremos os conceitos
de Somatopercepção (Esquema Corporal) e de Somatorepresentação (Imagem Corporal)
constituídos a partir das sensações corporais.
2.2.2 O Corpo, sede da Somatopercepção e Somatorepresentação
O corpo é um objeto único no mundo, sede de nossas sensações. As sensações
extrínsecas (superfície do corpo) ou intrínsecas têm um caráter privado que se difere dos
estimulos visuais e audidivos compartilhados publicamente (LONGO et al., 2010).
O corpo poderá ser sentido e refletido a partir das sensações internas como um
objeto de percepção direta ou a partir das percepções externas sobre ele. É importante
distinguir entre a forma como se percebe o corpo para ser e como lembramos ou
acreditamos que ele seja. A percepção sobre o corpo e sobre os objetos em contato com
o corpo diz respeito à somatopercepção, e as crenças, atitudes e o conhecimento abstrato
sobre os corpos em geral referem-se à somatorepresentação (LONGO et al., 2010).
Longo et al. (2010) consideram que o corpo é um canal direto para a formação
da somatorepresentação (Imagem Corporal), a qual possibilita a construção de uma
37
representação consciente sobre o que o corpo é, assim como para a formação da
somatopercepção (Esquema Corporal) que possibilita as percepções sobre a posição
atual do corpo e de suas partes e sobre a posição do corpo em relação ao espaço.
Embora a somatopercepção e a somatorepresentação sejam elementos essenciais para a
constituição da percepção corporal, discorreremos apenas sobre a somatopercepção
(Esquema Corporal) que é o foco predominante deste estudo. Os autores relataram que,
em um dado momento, considerando-se a somatopercepção, o corpo é o objeto de
percepção de si (percepção do próprio corpo) e, em outro, é a via de percepção dos
estímulos do mundo (percepção dos estímulos externos). Em ambos, o processo envolve
a construção perceptual de mapas do estado presente do corpo e das entradas dos
estímlos sensoriais.
A Somatopercepção é o processo de perceber o próprio corpo, e,
particularmente, de assegurar sua constância perceptiva somática. Longo et al. (2010)
citaram vários elementos-chave da somatopercepção e, com base em estudos de
diferentes autores, relataram suas bases neurais correspondentes. Destacaremos apenas
três categorias de mapeamentos: (1) Esquema Postural, mapa dinâmico da posição
atual do corpo, cujas bases neurais estão representadas no córtex Parietal Superior e
Intraparietal lateral do hemisfério direito; (2) Modelo de Tamanho e Forma do Corpo,
percepção sobre o tamanho das partes do corpo, provavelmente localizado nos lobos
parietais do hemisfério direito; e (3) Esquema Superficial de Corpo, responsável por
mediar a localização de sensações somáticas na superfície do corpo, localizado no lobo
parietal anterior.
Assim como Longo (2010), Medina & Coslett (2010) também relataram que o
Esquema Corporal é constituído a partir de três representações (mapas) distintas: o
Esquema Postural, o Modelo de Tamanho e Forma do Corpo e o Esquema Superficial
de Corpo. A seguir, discorreremos mais especificamente sobre as três categorias de
mapeamento corporal descritas por (LONGO et al., 2010).
Esquema Postural
O termo Esquema Postural, introduzido por Head e Holmes (1911), permite a
identificação das posições assumidas pelo corpo como um todo, a percepção sobre o
grau de flexão e extensão de cada articulação e a localização das partes do corpo no
espaço externo. As constatações sobre as posições corporais são provenientes das
38
aferências proprioceptivas que informam o sistema nervoso central sobre as posturas
corporais atuais, constantemente confrontadas com as anteriormente adotadas.
A cada movimento, novas sensações corporais são geradas e registradas no
córtex que ininterruptamente compara as ações atuais com as anteriormente
armazenadas. Por esse motivo, considera-se que o esquema corporal é plástico, pois ele
atualiza constantemente as perpétuas alterações posturais que o corpo efetua, permitindo
ao indivíduo perceber constantemente as posturas adotadas pelo corpo (LONGO et al.,
2010).
O esquema postural tem vital importância para a elaboração de movimentos a
serem realizados, pois para efetuá-los é necessário perceber a localização atual das
partes do corpo e das posturas por ele adotadas, como ponto de partida para a
programação e realização dos movimentos.
Modelo de tamanho e forma do corpo
O modelo de tamanho e forma do corpo corresponde à representação sobre as
dimensões corporais.
Recorre-se ao modelo de tamanho e forma do corpo para reconhecer a
localização tátil e o tamanho dos objetos que tocam a pele.
A percepção sobre a localização tátil e sobre o tamanho dos objetos que tocam a
superfície do corpo refere-se a:
a) aptidão para discriminar a distância entre os pontos tocados;
b) capacidade para distinguir a extensão do toque (área de abrangência do toque)
sobre a superfície da pele.
A percepção das distâncias entre os pontos tocados na pele (sensibilidade
epicrítica) está fortemente relacionada à sensibilidade tátil dos diferentes segmentos
corporais e da magnificação cortical correspondente aos segmentos, ou seja, tal
percepção depende do tamanho dos segmentos corporais, da densidade numérica dos
mecanorreceptores concentrados em cada parte do corpo e da representação das regiões
dos proprioceptores e exteroceptores em mapas sensoriais corticais (Homúnculo).
Segundo Machado (2000), o Homúnculo sensitivo, assim denominado por Pienfield e
Rasmussen, refere-se à correspondência entre as partes do corpo com as áreas
somestésicas do córtex e o Homúnculo motor à representação das partes do corpo no
córtex motor (figura 3).
39
Figura 3 – Representação cortical dos homúnculos sensitivo à esquerda e motor à
direita (MACHADO, 2000).
Para dimensionar o tamanho de um objeto em contato com uma parte do corpo, é
fundamental comparar o tamanho do objeto com a representação do tamanho e forma do
corpo. A identificação do tamanho dos objetos ocorre também por meio da preensão
exercida sobre ele ao apertá-lo. Por exemplo, ao apertar um objeto com o polegar e com
o indicador, as sensações táteis associadas às proprioceptivas referenciam o quão longe
está o polegar do indicador, recorrendo-se para isso ao modelo de propriedades métricas
do corpo.
Esquema Superficial de Corpo
O Esquema Superficial de Corpo correspondente à percepção da superfície do
corpo delimitada pela pele. Tal representação permite ao sujeito localizar as sensações
táteis da superfície da pele.
O Esquema Superficial possibilita a construção de percepções reais sobre a
localização de um toque em uma determinada parte do corpo associada aos mapas pré-
existentes do corpo que são informados a partir de estímulos visuais, auditivos e táteis,
sendo os estímulos táteis essenciais para esse processo. Assim, as percepções táteis
sobre o tamanho real, forma, localização e especificidade dos objetos que tocam a pele
40
serão influenciadas pelos julgamentos dos diferentes tipos de mapas do corpo (LONGO
et al., 2010).
A fim de explicar a interação entre os três mapas corticais do corpo – Esquema
Superficial, Modelo de Tamanho e Forma do Corpo e o Esquema Postural, Longo et al.
(2010) elucidaram a simples ação de golpear com a mão direita uma mosca que está
andando sobre a mão esquerda.
Os autores relataram que, para golpear a mosca, primeiramente o sujeito
necessita localizar a mosca na superfície do seu corpo (Esquema Superficial), em
seguida identificar a posição de suas articulações e segmentos corporais (Esquema
Postural) e, por fim, obter informações sobre o comprimento dos seus segmentos
(Modelo de Tamanho e Forma do Corpo).
Com base nos conceitos efetuados pelos autores, consideramos que o esquema
corporal é composto pela interação entre os três mapas somatotópicos (esquema
superficial, esquema postural e modelo de tamanho e forma do corpo) representados em
áreas corticais distintas e que, em detrimento de situações específicas (estimulações
particularizadas sobre o corpo), embora atuem de forma integrada (figura 4 A), um
predomina sobre os demais (figura 4 B). Vale ressaltar que os mapas somatotópicos e
seus predomínios também interagem com os espaços funcionais em que o corpo atua: o
pessoal, peripessoal e extrapessoal. A figua 4 B ilustra de forma hipotética o espaço
pessoal e a respresentação do modelo postural sendo ativados de maneira integrada,
com predomínio desses sobre os demais espaços funcionais e representações (mapas)
corporais, como por exemplo, planejar a simples ação para levantar-se de uma cadeira.
A representação desses espaços funcionais têm localizações neurais em
diferentes regiões corticais, conforme (HOLMES E SPENCE, 2004; BERTI, CAPPA E
FOLEGATTI 2007):
a. Espaço Pessoal: consiste na representação neural que se refere ao espaço
relativo à superfície do corpo, delimitado pela pele e que possibilita a
representação da forma do corpo e de suas dimensões corporais. Esse espaço
corporal está representado no giro supramarginal e angular do Lóbulo
parietal inferior.
b. Espaço Peripessoal: consiste na representação neural relativa ao espaço
imediatamente próximo do corpo que pode ser alcançado pelas mãos; tal
representação está localizada na parte mais caudal do giro pós-central.
41
c. Espaço Extrapessoal: consiste na representação neural referente ao espaço
que vai além do alcance dos membros estendidos, ou seja, diz respeito ao
espaço ambiental que para ser alcançado necessita de deslocamento corporal
ou do deslocamento do objeto do plano extrapessoal para o peripessoal,
como a atitude de recepcionar uma bola.
Figura 4 A Figura 4 B
Figura 4 A e B – Inter-relação entre os elementos que compõem o esquema corporal e a
interação entre o esquema corporal com os espaços funcionais
(modelo elaborado com base nos autores citados)
O Esquema Corporal é resultado das experiências corporais e das sensações por
ele vividas, tais como: andar, correr, saltar, e outras que permitem ao ser, experimentar
as diversas posições corporais coordenadas com a ação do equilíbrio; portanto, o
Esquema Corporal regula a postura e o equilíbrio (OLIVEIRA, 2011). O Esquema
Corporal é resultado da integração entre as partes corporais que participam no
movimento e das relações existentes entre elas com os objetos externos (FONSECA, V.,
1995).
Ao analisar o desenvolvimento do Esquema Corporal é importante salientar que
a noção que a criança tem de seu corpo fornece a referência para que ela consiga agir no
mundo exterior de maneira adequada e coerente. Para que ocorra a aprendizagem sobre
o Esquema Corporal, a criança necessita conhecer os dois lados do seu corpo, além de
suas diferenças e posições relativas, ou seja, não é suficiente aprender apenas o que é
42
direita e esquerda, é preciso estabelecer uma relação entre ambos, de forma controlada e
discriminada (FONSECA, V., 1995). O Esquema Corporal é também uma forma de
expressar a individualidade, pois, ao se conhecer, a criança terá maior habilidade para se
diferenciar. O desenvolvimento da criança é o resultado da interação do seu corpo com
os objetos e pessoas do meio em que ela vive, estabelecendo relações afetivas e
emocionais com o mundo (OLIVEIRA, 2011).
Como nesta pesquisa nos propomos identificar, por meio da avaliação do
Esquema Corporal, qual é a percepção das dimensões corporais dos adolescentes
durante o período de estirão de crescimento e qual é a relação entre a percepção das
dimensões corporais com a destreza manual e com a capacidade de localização
proprioceptiva dos membros superiores, vale salientar que serão considerados como
foco de análises apenas o espaço pessoal e o espaço peripessoal, pois objetivamos
estabelecer relações entre a percepção das dimensões corporais (espaço pessoal) com a
capacidade de localização das mãos e com a destreza manual (espaço peripessoal).
O espaço peripessoal envolve o espaço imediatamente próximo do corpo que
pode ser alcançado pelas mãos (HOLMES; SPENCE, 2004; BERTI; CAPPA;
FOLEGATTI, 2007). Ele se estabelece pela interação do indivíduo com os objetos no
ambiente próximo ao corpo; portanto, requer a integração entre informações relativas ao
local onde o objeto se encontra com a posição do corpo e o tamanho de suas partes
(CANZONERI et al., 2013).
Para segurar um objeto e interagir adequadamente com o espaço, o cérebro
necessita calcular com precisão o local onde está o alvo, o tamanho e a localização
espacial do corpo, assim como de suas partes (CARDILALI et al., 2009). Para tanto, a
organização das sensações proprioceptivas é indispensável no processo de organização
dos movimentos, pois a propriocepção permite ao sujeito perceber as formas do corpo, a
localização de cada parte e ter ciência sobre as posturas adotadas antes e durante a
execução dos movimentos. A propriocepção integrada aos demais sistemas sensoriais
permite perceber a dimensão corporal (MARAVITA; SPENCE; DRIVER, 2003).
A representação cortical do espaço peripessoal apresenta características plásticas
as quais se alteram após o uso de ferramentas, refletindo assim em alterações do
esquema corporal. Estudos recentes demonstraram que a percepção sobre o
comprimento dos braços se altera após o uso de ferramentas, pois os participantes,
depois de seu uso, incorporaram a mesma ao espaço peripessoal (CANZONERI et al.,
2013; CARDINALI et al., 2009).
43
A representação cortical do espaço peripessoal se organiza durante o processo de
desenvolvimento. O desempenho da criança no espaço peripessoal está centrado no
reconhecimento espacial viso-tátil. Para que as mãos possam ocupar localizações
específicas no espaço, a visão tem um papel primordial, pois a precisão de localização
das mãos depende da confiabilidade das informações visuais e espaciais. Estudos
neurocientíficos indicam que as representações do Espaço Peripessoal emergem de dois
mecanismos distintos de integração sensorial. Um corresponde ao mecanismo de
dependência visual espacial que integra as informações visuais às corporais e depende
substancialmente da provável localização da mão, e o outro corresponde ao mecanismo
de remapeamento postural que atualiza as correspondências espaciais incorporando as
informações sobre a localização atual das mãos (BREMNER; HOLMES; SPENCE,
2009).
Embora o Esquema Corporal se distinga da Imagem Corporal, consideramos que
ambos são faces distintas da mesma moeda, portanto, são indissociáveis. O Esquema
Corporal se constitui por meio do substrato neurofisiológico que dá alicerce à
organização da Imagem Corporal. Neste estudo, embora não tenhamos como foco
principal de discussão a Imagem Corporal, para que se possa compreender melhor o
universo referente à percepção das dimensões corporais abordaremos brevemente este
tema.
2.3 Imagem Corporal
A Imagem Corporal diz respeito à representação mental do corpo, permeada pela
afetividade e por conceitos valorativos sobre o mesmo (TAVARES et al., 2010;
VIGNEMONT, 2010). A Imagem Corporal refere-se à percepção do indivíduo sobre
sua aparência corporal impregnada de emoções e cognições que influenciam suas
atitudes (TAVARES et al., 2010). Segundo Mullis (2008), consiste em um conjunto de
crenças e percepções deslocadas ao corpo. De acordo com as ciências psicológicas, o
conceito de Imagem Corporal diz respeito à maneira como o próprio corpo é percebido
e/ou concebido, segundo Tiemersma (1989) e Medina & Coslett (2010), implica em uma
representação consciente.
A Imagem Corporal está relacionada ao conceito de corpo e especialmente às
dimensões do espaço corporal. A cognição, as atitudes, os sentimentos e o ego são
incorporados nas definições psicológicas de Imagem Corporal (TIEMERSMA, 1989).
44
Os conceitos, ideias e emoções sobre o próprio corpo se estabelecem a partir das
informações sensoriais advindas do corpo e do meio ambiente, e tais elementos não são
atributos necessários para a efetivação do movimento (VIGNEMONT, 2010).
A Imagem Corporal é um elemento que se estrutura a partir das experiências
individuais de cada ser em combinação com processos neurais, sociais e psicológicos
(TAVARES, 2003).
Thurm et al. (2011) inferiram, de acordo com os estudos de Bertucchi e Aglioti,
que as regiões corticais relacionadas à Imagem Corporal correspondem ao sistema
límbico e à área pré-frontal. Longo et al. (2010), subsidiados por diferentes autores,
relataram que as emoções sobre o corpo se localizam na ínsula anterior, e o
conhecimento semântico e enciclopédico sobre o corpo (nomenclatura sobre o corpo) se
localiza em regiões ainda desconhecidas.
Para explicar o desenvolvimento da Imagem Corporal, Tavares (2003)
inicialmente faz referência à formação da imagem de um objeto. A imagem é formada
pela integração de informações percebidas sobre o objeto e se modifica à medida que
descobrimos novas informações sobre o mesmo. Segundo a autora, a imagem que
formamos do objeto advém de seus vários registros, e esses formam um conjunto que
dão sentido à imagem final. A imagem mental não se forma apenas pela integração dos
elementos percebidos sobre o objeto (corpo), mas também de conceitos e valores
incorporados que foram aprendidos durante as experiências sociais. Para a autora,
quanto maiores e mais precisas forem as experiências sobre o objeto (corpo), mais
completa será sua imagem. Para desenvolver a Imagem Corporal, é necessário ter várias
informações sobre o corpo real provenientes das conexões com as sensações corporais,
que podem ser assumidas como verdadeiras diante de elementos culturais, fisiológicos e
afetivos. A integração entre as sensações corporais possibilita ao ser humano o contato
com o mundo interior, o que facilita a adaptação ao mundo exterior; portanto, o contato
com as sensações corporais se constitui em um alicerce para construção da identidade
corporal. O desenvolvimento da imagem corporal engloba a produção de imagens e a
estruturação da identidade do corpo. Nascemos com um corpo, e esse se constrói como
identidade; porém, para que ele possa se manifestar e existir como unidade é necessário
experimentá-lo (TAVARES, 2003).
A formação de imagens mentais depende da capacidade do sistema nervoso de
processar e integrar várias percepções que alicerçarão a construção da identidade
corporal. A identidade corporal se constitui a partir da experimentação das sensações
45
corporais no contexto existencial do homem. Nascemos com um esboço de nossa
imagem corporal, traçada previamente pelas idealizações dos pais que são fortemente
influenciados por uma cultura: os pais constroem um corpo imaginário que não
corresponde ao corpo concreto do ser. A autora afirma que a identidade corporal se
desenvolve a partir das sensações que emergem do corpo real diante do corpo
imaginário, as sensações que surgem do nosso corpo são influenciadas pelas projeções
do entorno. Diante dessas afirmações, podemos inferir que às sensações corporais serão
atribuídos valores socioculturais que influenciarão a percepção sobre o corpo que se tem
(TAVARES, 2003).
Nossas ações estão conectadas às nossas percepções que, por um lado, refletem
o nosso mundo interno e, por outro, as expectativas do mundo externo. Segundo
Oliveira (2011), no início da vida, o prazer está vinculado à satisfação de realizar
atividades como levar a mão e o polegar à boca, posteriormente, de acordo com Tavares
(2003), ao engatinhar para alcançar um objeto pretendido e depois a satisfação pode ser
deslocada às recompensas que a criança passa a receber durante seu processo de
formação, por realizar tarefas aceitas socialmente. Desde criança, recebemos
gratificações sociais pelos comportamentos que apresentamos; ao recebermos essas
gratificações, podemos deslocar nossas percepções para o mundo exterior de forma a
satisfazer apenas as expectativas do entorno sobre o que culturalmente é aceitável e
considerado prazeroso. Fato esse que pode nos manter desconectados das sensações
corporais mais singulares e inerentes à formação do eu corporal. Dessa forma, a
identidade do ser sensível poderá permanecer mascarada de forma que as experiências
sensoriais não sejam percebidas de maneira a refletir o mundo interior. Nessa condição,
o ser humano fica fadado a atender as exigências do mundo exterior, a agir buscando
receber recompensas, direcionando suas percepções ao mundo exterior em um processo
repetitivo (TAVARES, 2003).
Em geral, as sociedades em um determinado momento histórico e cultural têm um
modelo de corpo ideal que, veiculado através dos meios de comunicação de massa,
estabelecem a noção de normalidade e do que é aceitável esteticamente, o que de certa
forma traz em si a competitividade. Sendo o adolescente um questionador nato de sua
própria normalidade, compara-se constantemente com os modelos idealizados e tende,
em suas buscas, a assemelhar-se ao modelo ideal, seja ele um cantor, jogador ou um
ídolo. As diferentes tentativas de moldar o corpo são influenciadas pelos valores
culturais que geram em meninas e rapazes preocupações distintas quanto à aparência
46
física. O desconhecimento sobre as transformações decorrentes dessa fase de
crescimento do seu corpo, associadas à falta de informações ou informações incorretas,
levam o adolescente a ter muitas preocupações. As comparações entre os pares da
mesma idade levam-o à constatação de que é diferente, muitas vezes se vê atrasado ou
adiantado em relação a outrem (CHIPCKEVITCH, 1995).
Além das preocupações mencionadas, há também as preocupações associadas ao
surgimento de alguns fenômenos puberais específicos. As meninas, por volta da idade
da menarca, preocupam-se com o aumento de peso e, nos anos posteriores, com a maior
deposição de tecido adiposo e com as estrias que se localizam nas mamas, abdômen,
nádegas, coxas e pernas. De forma geral, as queixas mais frequentes das meninas são:
puberdade adiantada ou atrasada, excesso de peso, irregularidade menstrual, o tamanho
e aparência das mamas, acne, altura excessiva, crescimento exagerado dos pés,
desajustes posturais (cifose e lordose) e rubores faciais. As queixas mais frequentes dos
meninos são: puberdade atrasada ou adiantada, pênis pequeno, pelos escassos, pouca
força muscular, magreza ou obesidade, cintura escapular pequena, ginecomastia, acne,
crescimento exagerado dos pés, falhas da voz, voz fina, atraso da espermarca, baixa
estatura, estrias e rubores faciais (CHIPCKEVITCH, 1995).
O processo de individuação do adolescente ocorre simultaneamente ao
conhecimento e a sua adaptação ao corpo, que passa por mudanças e se transforma em
um corpo diferente de todos os corpos conhecidos em fases anteriores. A consolidação
da identidade pessoal se alicerça também na construção de uma Imagem Corporal
consistente e estável. O processo de autoconhecimento e a formação da imagem
corporal leva tempo para se constituir. Tempo designado para se olhar, se sentir,
aprender sobre si, conhecer o tamanho dos membros superiores e inferiores de modo a
permitir que o sujeito, mesmo de olhos fechados, possa saber dimensionar onde
alcançará a ponta dos dedos com os membros estendidos, que cresceram rapidamente
nos últimos meses. A estruturação da Percepção Corporal (Esquema Corporal) é um
processo de elaboração e reelaboração, de autorreformulações constantes,
principalmente durante esse processo de mutação. É natural o adolescente contemplar-
se diante do espelho, mudar o penteado, espremer espinhas, todas as ações mencionadas
são condutas que levam os adolescentes a se conhecerem. Com a intenção de exercer
controle sobre as transformações corporais que se processam rapidamente, os
adolescentes fazem regimes para emagrecer ou para engordar, praticam musculação
objetivando aumentar a força muscular, ingressam em academias de ginástica, procuram
47
cirurgias plásticas e utilizam vestimentas para aumentar ou ocultar partes do corpo, etc.
Essas manifestações podem ser consideradas normais neste período da vida
(CHIPCKEVITCH, 1995).
Para Tavares (2003), desenvolver a Imagem Corporal pode indicar diferentes
aspectos, tais como: ampliar a percepção das partes do corpo, reconhecer e valorizar as
sensações corporais, apreciar o corpo, atribuir um senso de satisfação ou insatisfação em
relação ao corpo, reconhecer como o corpo é ou descobrir as possibilidades e limitações
do corpo de forma a ampliar as possibilidades de ação. Perceber-se como um ser real e
valorizado pela sua singularidade é um dos elementos essenciais para o
desenvolvimento de uma identidade corporal integrada e positiva.
Os efeitos das recompensas recebidas durante a infância geralmente se
perpetuarão durante o processo de desenvolvimento e em diferentes situações do
cotidiano, o que levará o ser humano em desenvolvimento a realizar tarefas que não são
condizentes com suas necessidades internas, mas apenas direcionadas às aprovações
sociais (TAVARES, 2003). Como exemplo, podemos relatar a condição atual dos
adolescentes que vivem imersos em sociedade consumista, repleta de imagens,
informações e conceitos que os direcionam ao consumo. Nessa fase, o púbere tende a se
transformar em um consumidor potencial. Ao se modificar, seu corpo rapidamente o
leva a trocar roupas e sapatos frequentemente; seu apetite acentuado o faz consumidor
de alimentos, muitas vezes industrializados; sua curiosidade proveniente das
transformações emocionais e cognitivas o leva a interessar-se por jogos, videogames,
computadores, etc. (CHIPCKEVITCH, 1995).
Consideramos que os adolescentes são movidos a agir por impulsos que foram e
são reforçados pelo meio exterior e que os levam ao consumo. As gratificações sociais
que se recebe desde criança pelos vários comportamentos adotados não garantem a
satisfação pela vida. Elas tendem a deslocar as percepções para o exterior levando-as a
se satisfazer com o que culturalmente é aceitável. Direcionar sua atenção ao mundo
exterior e não às sensações corporais que emergem diante das ações é um fato limitante
para o desenvolvimento da Imagem Corporal. Se não percebermos a conexão entre as
sensações das ações e as recompensas, correremos o risco de estarmos apegados aos
créditos socialmente fornecidos diante das ações efetuadas e passarmos a dirigir nossa
atenção aos ganhos secundários, provenientes do mundo exterior. Diante dessas
considerações, seremos levados a estabelecer menos contato com o nosso eu corporal.
Quanto mais o ser humano estiver vinculado às suas sensações corporais, mais apto
48
estará para preservar-se, perceber-se e adaptar-se ao mundo externo de forma mais
consciente (TAVARES, 2003).
2.4 Princípios do desenvolvimento
O conceito de desenvolvimento motor “refere-se ao processo de mudança
contínuo no movimento relacionado à idade, bem como às interações das restrições
(fatores) do indivíduo, do ambiente e das tarefas que induzem essas mudanças”
(HAYWOOD e GETCHELL, 2010, p. 25). Para os autores, o desenvolvimento é
definido por três características: a primeira está relacionada ao processo de mudanças na
capacidade funcional para movimentar-se; a segunda está relacionada ao avanço da
idade, pois o desenvolvimento se processa à medida que ela aumenta; e a terceira se
refere à mudança sequencial ordenada e irreversível decorrente das interações entre os
elementos que se processam dentro do indivíduo e entre o indivíduo e o ambiente.
Segundo Gallahue (2013), Haywood e Getchell (2010), a perspectiva
maturacional do desenvolvimento com caráter cumulativo foi formulada por Gesel ao
observar em seus estudos que o desenvolvimento físico se expressava de forma
ordenada e sequencial: o autor considerou serem esses avanços derivados da
maturação do sistema nervoso. Diante das constatações de que o desenvolvimento se
efetua de forma ordenada e sequencial, emergiram as leis do desenvolvimento
céfalocaudal (desenvolvimento que se processa da cabeça em direção aos pés) e
próximodistal (desenvolvimento que se processa do centro do corpo às suas periferias).
O desenvolvimento céfalocaudal é notavelmente observado em bebês, durante a
formação do feto. O crescimento se efetua de forma ordenada e sequencial: primeiro se
constitui a cabeça, depois os membros superiores, e posteriormente os inferiores. Aos
dois meses de vida intrauterina, a cabeça do feto representa 50% do tamanho corporal,
ocorre uma progressão gradual da formação do corpo e controle muscular, da cabeça em
direção aos pés. O controle motor pós-natal se expressa de maneira semelhante. O bebê
exerce primeiro o controle sobre a cabeça e pescoço, depois sobre o tronco e, por
último, sobre os membros inferiores e pés. No início da vida, as crianças apresentam-se
desajeitadas com um controle precário dos membros inferiores. Talvez isso se deva ao
desenvolvimento céfalocaudal incompleto e à complexidade da tarefa referente à
caminhada autônoma. Assim sendo, a progressão do desenvolvimento motor parece não
se efetuar apenas em decorrência da maturação, mas também pela interação entre a
49
maturação com as demandas da tarefa, fatos estes que levaram os estudiosos a se
contraporem à visão maturacionista. Quanto ao desenvolvimento próximodistal, o
crescimento se processa do centro do corpo para as extremidades, ou seja, primeiro se
efetua o crescimento do tronco, depois da cintura escapular, braços, antebraços e mãos.
O controle motor desses segmentos também se processa nessa ordem e com base nesse
princípio. Muitas escolas propõem tarefas motoras menos refinadas no início e mais
refinadas e complexas com o avanço do desenvolvimento. Tanto o desenvolvimento
céfalocaudal como próximodistal parecem direcionar o processo de desenvolvimento do
ser humano ao longo da vida, até que na fase de envelhecimento ocorra a inversão
desses princípios, quando o ser humano apresenta regressões referentes ao controle
motor aparentemente instaladas primeiro nas ações dos membros inferiores. Durante o
processo de desenvolvimento motor, é importante considerar que há períodos críticos e
sensíveis de desenvolvimento que se referem a um estado de maturação em que há
maior sensibilidade do organismo e facilidade para receber determinados estímulos e
aprender habilidades específicas. São períodos da vida em que o fornecimento de
estímulos ambientais apropriados, associados à maior sensibilidade do organismo,
facilitarão a aprendizagem de habilidades características desses períodos que se
refletirão de forma mais positiva nos estágios posteriores. Deve-se levar em
consideração que a falta de estímulos adequados aos diferentes períodos sensíveis
(ótimos para a aprendizagem) poderão ocasionar impactos negativos ao
desenvolvimento normal. Embora se saiba que há reconhecidos períodos sensíveis em
que se pode aprender habilidades de forma mais eficiente, eles não devem ser definidos
de forma muito restrita, pois a velocidade de desenvolvimento varia de indivíduo para
indivíduo e de fase para fase. A aprendizagem continua por toda a vida e sofre
influências do processo de envelhecimento do sistema nervoso e motor, efeitos que
podem ser amenizados por meio do uso contínuo desses sistemas (GALLAHUE, 2013).
Com objetivo de compreender melhor as interações entre o ambiente e a
maturação, é imprescindível discutir o que são habilidades filogenéticas e
ontogenéticas. São consideradas habilidades filogenéticas as habilidades derivadas
predominantemente do processo de maturação que determina a ordem e a sequência do
aparecimento de características, como as habilidades de manipulação, de alcançar, pegar
e soltar objetos; as habilidades de estabilização em que a criança adquire controle dos
grandes grupos musculares resistindo à ação da gravidade e as habilidades de
locomoção, de andar, saltar e correr. Essas habilidades são consideradas filogenéticas
50
pela predominância da maturação e não do ambiente no processo de melhoria do
controle das ações. As habilidades ontogenéticas são aquelas que para se
desenvolverem dependem do processo de aprendizagem e das oportunidades que o
ambiente viabilizar, elas emergem apenas em decorrência da prática e são culturalmente
estabelecidas, tais como andar de bicicleta, nadar, patinar, etc. Com base nesses
apontamentos, supõe-se que o desenvolvimento com base filogenética emerge
predominantemente como fruto das manifestações da biologia do sujeito e que o
desenvolvimento ontogênico é grandemente influenciado pelas oportunidades de
prática, pelos estímulos e instruções derivados do processo de ensino e pelas condições
do ambiente, fatores expressivamente relevantes para o desenvolvimento de habilidades
voluntárias (GALLHAHUE, 2013). Com base em estudos realizados, o autor relata que
é necessário que as crianças sejam submetidas à prática de habilidades no momento em
que estão prontas para aprendê-las e desenvolvê-las, e, para isso, o profissional deve ser
capaz de identificar o momento em que os indivíduos estão maduros para aprender e,
posteriormente, propor experiências educacionais apropriadas às condições
maturacionais. O autor destaca ainda que a interação entre os fatores biológicos e
ambientais modificam o curso do desenvolvimento motor nas diferentes fases da vida: a
infância, a adolescência e a idade adulta.
Sabe-se que o desenvolvimento está intrincado com uma vasta variedade de
fatores, dentre eles se destacam os domínios do comportamento cognitivo, psicomotor e
afetivo (do indivíduo), assim como os fatores da tarefa e do ambiente. Neste estudo,
estamos enfocando mais especificamente as relações entre as restrições do indivíduo, da
tarefa e do ambiente que influenciam diretamente o processo de desenvolvimento motor
e da percepção corporal. Para melhor compreender essas interações, utilizaremos o
modelo de Karl Newell descrito por (HAYWOOD & GETCHELL, 2010).
Consideramos que estudar o desenvolvimento por meio desse modelo nos
favorece entender as interações dinâmicas entre as restrições que ocorrem
constantemente durante o processo de desenvolvimento e nos possibilita compreender
melhor o impacto das transformações corporais que ocorrem com avanço da idade sobre
a percepção corporal e sobre o desenvolvimento psicomotor, elementos focais desta
pesquisa.
As mudanças do indivíduo (estruturais ou funcionais) modificam sua interação
com o ambiente e com a tarefa. Desta forma, inevitavelmente, os padrões de execução
do movimento também se transformam (HAYWOOD & GETCHELL, 2010).
51
À medida que as dimensões corporais de uma criança em desenvolvimento se
modificam, a localização de seu centro de gravidade se altera, e consequentemente suas
atitudes posturais e a forma de executar habilidades motoras em diferentes ambientes se
modificam. Os fatores mencionados, como as dimensões corporais, a localização do
centro de gravidade e a relação com o ambiente, são chamados de restrições. Restrições
correspondem às limitações que, ao mesmo tempo em que desencorajam o indivíduo a
realizar um movimento, permitem ou encorajam a realização de outros. Restrições
devem ser consideradas como canais que possibilitam que determinados movimentos
sejam utilizados com mais facilidade em detrimento de outros, portanto não devem ser
tratados como bons ou ruins. Por exemplo, uma criança irá rastejar ao invés de andar
enquanto não estiver madura para andar, e um arremesso será efetuado abaixo do ombro
quando o sujeito sentir dor ao tentar arremessar com o braço elevado. Ao mesmo tempo
em que um rio impede que a água saia de seu fluxo, ele o direciona a um lugar
específico. Quanto ao movimento, as restrições dão forma a ele (HAYWOOD &
GETCHELL, 2010).
Para que se possa melhor compreender as interações entre as restrições do
indivíduo, do ambiente e da tarefa expressaremos o sentido de cada um dos elementos
citados.
Restrições individuais são compostas por dois elementos: as restrições
estruturais (anatômicas) e as funcionais (mentais) de uma pessoa.
As restrições estruturais estão relacionadas à estrutura anatômica do indivíduo
que se altera lentamente durante o processo de crescimento e envelhecimento, tais
como: altura, comprimento dos membros, largura das dimensões corporais, massa
muscular, sistema nervoso etc.
As restrições funcionais estão relacionadas aos sentimentos e emoções que
direcionam o comportamento do indivíduo, tais como: o medo, a coragem, a ansiedade,
o foco de atenção, a angústia, etc. Esses sentimentos darão forma ao movimento. Para se
mover, a composição anatômica como: a altura, o comprimento dos membros inferiores
e superiores, a força e a flexibilidade que correspondem às restrições estruturais e a
motivação que se refere às restrições funcionais determinarão a forma como um
indivíduo se movimentará. Determinadas deficiências físicas de um cadeirante podem
modificar a forma como ele se movimenta, mas não o impedem de se locomover.
As restrições ambientais são os elementos que estão ao redor do sujeito, físicos
ou socioculturais. As restrições físicas estão relacionadas à temperatura, quantidade de
52
luz, umidade, gravidade e o tipo de superfície de pisos e paredes. As restrições
socioculturais relacionam-se aos valores de uma cultura específica que encorajam ou
desencorajam comportamentos específicos.
As restrições da tarefa referem-se às metas e regras de uma tarefa. Em um lance
livre do basquetebol, arremessar uma bola à cesta tem como meta a conversão da
mesma, ou seja, há um objetivo claramente definido. Durante um jogo de basquetebol,
os jogadores devem obedecer à regra de correr quicando a bola, e, dessa forma, o
movimento é restringido pela tarefa, composta por metas e regras que deverão ser
adaptadas pelos profissionais segundo a compreensão sobre as restrições individuais em
cada etapa de desenvolvimento (HAYWOOD & GETCHELL, 2010).
De acordo com as elucidações expostas, as mudanças das restrições do
indivíduo, da tarefa e do ambiente modificam o movimento derivado de suas interações.
Consideramos que, assim como ocorrem alterações referentes ao movimento, também
ocorrem alterações relacionadas à percepção corporal modificada de uma faixa etária
para outra ou de um estágio de maturação para outro, assim como a criança em
desenvolvimento que em um momento engatinha e posteriormente de acordo com a sua
evolução fica em pé e anda. Sabe-se que a percepção corporal se altera durante o
processo de desenvolvimento, porém não se tem ciência de quais são os índices
perceptuais em cada etapa do desenvolvimento.
Haywood & Getchell (2010) relatam que o modelo apresentado por Newell
contempla as bases da teoria ecológica do desenvolvimento; por esse motivo, utilizam-
na como base para explicar o processo de desenvolvimento motor. Apontam que a
perspectiva ecológica considera as restrições ou os fatores intrínsecos como os sistemas
cardiovascular, muscular, nervoso, etc., assim como, as restrições fora do corpo que
estão relacionadas ao ecossistema social e cultural ao analisar o desenvolvimento que
ocorre ao longo da vida. Para os autores, a característica de movimento de um indivíduo
não está apenas relacionada a seu corpo ou ao ambiente, mas à complexa rede de
interações existentes entre os fatores intrínsecos e entre os intrínsecos e extrínsecos.
A perspectiva ecológica tem duas ramificações, uma relacionada ao controle
das ações (sistemas dinâmicos) e a outra direcionada à percepção (percepção-ação),
ambas estão inter-relacionadas e consideram que o desenvolvimento motor não é fruto
apenas do desenvolvimento do sistema nervoso, mas de múltiplos sistemas. A
abordagem ecológica sustenta que a percepção do ambiente é direta e que a
coordenação dos músculos agindo em conjunto reduz a quantidade de decisões
53
necessárias dos centros superiores do cérebro para realizar uma determinada ação. Essa
visão se contrapõe ao modelo de processamento de informações. A teoria dos sistemas
dinâmicos sugere que o comportamento motor controlado é flexivelmente estruturado.
Esse sistema flexível permite o ajuste do movimento de forma a adaptá-lo a diferentes
situações, ele é considerado com um sistema de auto-organização espontânea dos
sistemas corporais. O movimento derivado das interações entre as restrições se auto-
organizam a partir dessas relações, ou seja, quando uma das restrições se altera o
movimento pode mudar. Sabe-se que os sistemas corporais (restrições) amadurecem em
tempos diferentes; essas restrições são consideradas como limitadores de taxa ou
controladores. Um sistema desenvolvido mais lentamente em relação a outros pode ser
considerado como um limitador de taxa ou um controlador, uma vez que o
desenvolvimento dos sistemas controla a taxa de desenvolvimento naquela etapa da
vida. A segunda ramificação da perspectiva ecológica diz respeito à abordagem da
percepção-ação proposta por Gibson (1979, 1998) que estabeleceu relações entre o
sistema perceptivo e o motor. Segundo Haywood & Getchell (2010), nessa proposta não
é concebível estudar a percepção dissociada do movimento se quisermos considerar
nossas descobertas ecologicamente válidas. Atualmente esse modelo tem direcionado
vários pesquisadores em suas descobertas científicas. Na perspectiva da percepção-
ação, o termo affordance é comumente utilizado com intuito de descrever a função que
o objeto tem no ambiente, quanto a seu tamanho e forma, na interação com o indivíduo
em um contexto particularizado. Uma superfície no plano horizontal permite ao
indivíduo sentar-se e, no plano vertical, a encostar-se. Por meio desse exemplo,
verificamos a intrincada relação do indivíduo com o ambiente e avaliação que o
indivíduo efetua sobre esse com base em suas características físicas, ou seja, se
estabelece um julgamento sobre as propriedades do objeto com base nas percepções de
si e não com base nas características do objeto. A operacionalização dos movimentos
que o indivíduo efetua em relação ao ambiente tem como referência a escala corporal:
um adulto ao decidir subir uma escada avançando dois degraus por vez, parte da
premissa que seu tamanho corporal o possibilita a efetuar essa habilidade motora, já
uma criança começando a andar escolherá outras estratégias para subir os degraus da
escada (HAYWOOD & GETCHELL, 2010).
54
3 MÉTODO
A presente pesquisa se caracteriza, de acordo com Cervo e Bervian (2002), como
sendo uma pesquisa transversal de natureza descritiva exploratória.
3.1 Caracterização dos participantes
Participaram da presente investigação 100 púberes cujos responsáveis legais
autorizaram a sua participação por meio da assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido TCLE (Apêndice II). Avaliamos 100 púberes de 9 a 15 anos, sendo
50 do sexo masculino de 11 a 15 anos e 50 do sexo feminino de 9 a 13anos, ambos os
grupos compostos por dez participantes de cada faixa etária. Todos os indivíduos
convidados para participar dessa pesquisa estavam matriculados no ensino fundamental
de uma escola regular de São Paulo-Capital, localizada na região urbana, porém
periférica da zona Leste. Os indivíduos da presente pesquisa, durante cada ano letivo,
participaram das aulas curriculares de educação física, ministradas duas vezes por
semana, com o tempo de duração de 45 minutos cada, cuja matriz curricular está
pautada na Cultura Corporal de Movimento. A proposta pedagógica norteadora da
Educação Física das Escolas Municipais do Estado de São Paulo tem a mesma matriz
curricular, e dessa forma as aulas de Educação Física ministradas visam o alcance dos
mesmos objetivos, minimizando assim os efeitos das aulas sobre a percepção corporal
dos púberes. Vale salientar que não tivemos como objetivo avaliar as propostas
pedagógicas, mas por meio delas minimizar a heterogeneidade do grupo pesquisado,
uma vez que propostas muito diferenciadas quanto a suas especificidades poderiam
promover alterações à percepção das dimensões corporais dos sujeitos avaliados.
3.1.1 Critérios de Inclusão
Fizeram parte desta investigação os púberes com estágios de maturação sexual
de I a IV.
3.1.2 Critérios de Exclusão
1. Foram excluídos os púberes com estágio de maturação sexual V.
55
3.2 Desenho Experimental
As figuras 5 e 6 ilustram os passos realizados para a efetivação do projeto de
pesquisa e coleta de dados. Inicialmente o projeto foi apresentado à diretora e
coordenadoras pedagógicas da escola onde foi realizada a pesquisa. Tanto a diretora
como as coordenadoras demonstraram preocupações referentes à integridade
psicoafetiva dos participantes, por considerar que os púberes poderiam ficar
constrangidos ao realizarem os testes de autoavaliação da maturação sexual (por
visualizar imagens dos órgãos genitais) e o teste de marcação do esquema corporal
(Image Marking Procedure – IMP) (por serem tocados pelo avaliador, principalmente
nos segmentos corporais da cintura e quadril). Ao explicar mais detalhadamente os
testes e ao relatar que antes de os púberes participarem da pesquisa, os pais além de
receberem a descrição dos testes a serem realizados no TCLE poderiam solicitar
esclarecimentos ao pesquisador, se necessitassem e, somente a partir daí, assinarem o
termo de consentimento autorizando ou recusando ao menor sua participação. Após
esses esclarecimentos, a diretora e a equipe educacional consentiram a realização da
pesquisa. Com o intuito de preservar a integridade psicoafetiva dos jovens, no teste de
autoavaliação da maturação sexual, não foi coletada a idade da menarca. Após a
autorização da escola, o projeto foi encaminhado ao comitê de ética em pesquisa da
Universidade São Judas Tadeu e aprovado com o protocolo de número 089/11
(ANEXO-II).
Figura 5 – Etapas percorridas para a aprovação do projeto de pesquisa
1- Apresentação do Projeto de Pesquisa
Escola de Ensino Fundamental
3 - Aprovação da Escola
Carta de Autorização
4 - Aprovação do Comitê
de Ética em Pesquisa
Protocolo: 089/11
2- Cuidados da Direção
Preservação da integridadade Psicoafetiva dos jovens
2.1 - Maturação Sexual
IMP - Toque em partes corporais
Preocupações / Precauções
56
Na figura 6, pode-se visualizar as etapas da realização do experimento. Como já
mencionamos anteriormente, participaram da presente pesquisa 100 jovens de 9 a 15
anos, sendo 50 do sexo feminino e 50 do sexo masculino, todos com maturação sexual
de I a IV, cujos responsáveis legais assinaram o TCLE. O Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido foi enviado à aproximadamente 150 responsáveis, porém apenas
100 consentiram a participação do menor na pesquisa.
Figura 6 – Esboço dos sujeitos que compuseram a amostra e os testes realizados
Inicialmente, foi necessário identificar os estágios de maturação sexual dos
indivíduos para compor a amostra com os pré-púberes e púberes, excluindo assim os
pós-púberes. Incorreríamos em um erro grave se investigássemos as alterações do
esquema corporal levando-se em consideração apenas a faixa etária, uma vez que
poderíamos ter na amostra púberes precoces ou tardios com faixas etárias mais
avançadas ou atrasadas em relação à idade cronológica. Portanto, a utilização da
avaliação da maturação sexual foi um procedimento necessário para incluir ou excluir
os sujeitos que compuseram a amostra.
(1) 100 indivíduos
Assinatura do TCLE
Maturação I a IV
Autoavaliação - maturação sexual (Morris; Udry, 1980)
(2) Entrevista
1. Percepção
Segmentos Corporais
2. Meses AMP
3. Horas Semanais:
3.1. Praxia Fina
3.2. IMG
(3) IMP
(Image Marking Procedure)
Procedimento de Marcação
do Esquema Corporal
Askevold (1975) alterações Thurm (2007)
(5) Teste de Destreza Manual
O teste Box and Block
Test of Manual
Dexterity – BBT
(Mathiowetz at al., 1985)
(4) Teste de Capacidade
de Localização
Proprioceptiva das Mãos
Teste elaborado pelos autores deste estudo
50 Feminino
9 a 13 anos
50 Masculino
11 a 15 anos
50% dos pais (aproximadamente) não consentiram a realização
da pesquisa
57
Para avaliar a maturação sexual foi aplicado o teste de autoavaliação na
determinação da maturação sexual, instrumento proposto por Morris e Udry (1980)
sugerido pelo LADESP – GEPETIJ/EEFE – USP (MASSA, 2006).
Posteriormente foi realizada uma entrevista semiestruturada objetivando identificar
se os jovens percebiam quais eram as partes do corpo que se alteraram durante o
período do estirão de crescimento, se eles praticaram atividades motoras desde a
infância e desde quando. Para verificar o acúmulo de meses de atividades motoras
pregressas, objetivamos também identificar o tempo de horas semanais dispendidas com
atividades de coordenação motora fina e o tempo em que os jovens permaneciam
inativos, sentados ou deitados sem exercer atividades motoras globais.
Em seguida efetuamos o teste de marcação do esquema corporal (IMP) e
posteriormente o teste de Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos e o teste
de Destreza Manual.
3.3 Procedimento para a avaliação da maturidade sexual
Para avaliar a maturidade sexual dos púberes utilizamos o teste de autoavaliação
na determinação da maturação sexual, instrumento proposto por Morris & Udry (1980)
sugerido pelo LADESP – GEPETIJ/EEFE – USP (MASSA, 2006) (Anexo I).
As características sexuais a serem identificadas pelos meninos correspondem a
um dos cinco estágios de evolução referentes à aparência da (G) genitália e dos (P)
pelos púbicos. As características a serem indicadas pelas meninas referem-se à
aparência de um dos cinco estágios de desenvolvimento das (M) mamas e dos (P) pelos
púbicos.
De acordo com as figuras específicas das características de maturidade sexual
(Anexo I), é possível identificar cinco estágios para as meninas e cinco para os meninos.
Abaixo pode-se observar os estágios de desenvolvimento dos caracteres sexuais
secundários do sexo masculino e feminino, conforme os modelos de ficha utilizada pelo
58
LADESP – GEPETIJ/EEFE-USP adaptado de Morris & Udry (1980), citados por
Massa (2006) e redigido literalmente conforme a descrição do autor.
ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DOS GENITAIS MASCULINO
Estágio I: Estágio Infantil.
Estágio II: Os testículos e os escrotos são maiores. A pele do escroto muda de
textura. O escroto fica mais para baixo. O pênis torna-se um pouco maior. Início da
puberdade.
Estágio III: Aumento do comprimento do pênis. Os testículos são maiores e
mais baixos do que em G 2.
Estágio IV: Aumento da largura e comprimento do pênis. O escroto escurece e
aumenta em virtude do aumento dos testículos. A glande desenvolve-se, aumentando de
tamanho.
Estágio V: Aspecto adulto.
ESTÁGIOS DE PILOSIDADE PUBIANA MASCULINA
Estágio I: Sem pelos. Estágio infantil.
Estágio II: Pequena quantidade de pelos longos, finos e esparsos. Devem ser
lisos e levemente encaracolados. Localizados na base do pênis.
Estágio III: Os pelos são mais escuros, mais grossos e mais encaracolados.
Localizados na junção da púbis.
Estágio IV: Os pelos são mais grossos, cobrindo uma área maior do que em P 3.
Estágio V: Os pelos cobrem uma área maior – mais espalhados, com aparência
de adulto. Estágio adulto.
59
A seguir serão apresentados os estágios de desenvolvimento feminino.
ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DE MAMAS
Estágio I: O mamilo tem pequeno relevo. O seio é ainda plano. Estágio infantil.
Estágio II: Estágio do broto mamário. Aumento do diâmetro da auréola. Maior
relevo do mamilo do que em M 1. O seio tem uma pequena elevação. Início da
puberdade.
Estágio III: A auréola e o seio são maiores do que em M 2. Similar ao seio
adulto pequeno.
Estágio IV: A auréola e o mamilo sobressaem sobre o seio. Algumas garotas
não apresentam esse estágio, indo direto do M 3 para o M 5.
Estágio V: Estágio adulto. Somente o mamilo sobressai. A auréola toma a forma
do seio.
ESTÁGIO DE PILOSIDADE PUBIANA FEMININA
Estágio I: Sem pelos. Estágio infantil.
Estágio II: Pequena quantidade de pelos longos, finos e esparsos. Devem ser
lisos e levemente encaracolados. Localizados ao redor dos grandes lábios.
Estágio III: Os pelos são mais escuros, mais grossos e mais encaracolados.
Localizados na junção da púbis.
Estágio IV: Os pelos são mais grossos, cobrindo uma área maior do que em P 3.
Estágio V: Os pelos cobrem uma área maior, mais espalhados, com aparência de
adulto. Estágio adulto.
60
3.3.1 Análise dos dados da maturação sexual
Após as avaliações classificou-se o estágio de maturação sexual dos púberes
conforme os indicadores descritos abaixo.
Estágio 1: Pré-púberes;
Estágio 2, 3 e 4: púberes;
Estágio 5: pós-púberes.
A avaliação das características sexuais dos adolescentes serviu como diagnóstico
para incluir ou excluir os sujeitos da pesquisa, pois fizeram parte da mesma apenas os
participantes alocados entre os estágios de maturação sexual de I a IV.
Fez-se necessário avaliar a maturação sexual dos jovens para minimizar os
possíveis vieses. Os jovens com maturação sexual precoce (estágio V), em geral,
iniciam a aceleração do crescimento antes da idade prevista, e, se estiverem alocados
nos grupos com idades inferiores a sua maturação sexual, esses adolescentes iniciarão o
processo de transformações corporais antecipadamente, podendo essas interferir na
organização do esquema corporal precocemente e, consequentemente, nos resultados.
Assim, identificar a maturação sexual dos participantes nos possibilitou analisar apenas
o índice de percepção corporal dos sujeitos alocados na fase que antecede a pós-
puberdade (estágio V).
3.4 Avaliação do Esquema Corporal (IMP)
3.4.1 Instrumentos
A fim de verificar a percepção das dimensões geral e segmentar (altura da
cabeça, largura dos ombros, cintura e quadril) dos adolescentes de ambos os sexos em
cada estágio de maturação sexual. Mensuramos o Esquema Corporal por meio do IMP
(Image Marking Procedure) ou Procedimento de Marcação do Esquema Corporal,
61
proposto por Askevold (1975) com alterações propostas por Thurm (2007). Para a
realização da avaliação, foram utilizados os seguintes materiais:
a. Adesivos da marca Pimaco, nas cores preta, azul e vermelha, com diâmetro
de aproximadamente 1 cm, e um na cor verde com diâmetro aproximado de
1,5 cm;
b. Uma régua;
c. Um esquadro;
d. Fita crepe;
e. Uma câmera digital da marca Sony, modelo Cyber-shot, 5.0 mega pixels
com tripé para câmera digital.
3.4.2. Procedimento para a mensuração do Esquema Corporal (IMP)
O procedimento de marcação do Esquema Corporal (IMP) foi realizado de
acordo com o protocolo de Askevold (1975) com alterações propostas por Thurm
(2007), conforme descrição a seguir.
Para efetuar a realização do teste, sugere-se que adesivos vermelhos sejam
fixados nas seguintes regiões corporais dos participantes: articulações acromioclavicular
direita e esquerda, curvas da cintura direita e esquerda, trocânteres maiores do fêmur
direito e esquerdo (figura 7). O ponto mais alto da cabeça foi tocado pelo avaliador no
momento da realização do teste, porém não foi fixado nenhum adesivo nessa região.
Esse procedimento teve por objetivo garantir que os mesmos pontos fossem tocados
durante as três execuções em que o teste foi efetuado. É aconselhável que durante o
teste os participantes, se possível, estejam trajando roupas justas para facilitar a
marcação dos pontos.
62
Figura 7 – Regiões corporais em que são fixados os adesivos
para a avaliação do esquema corporal por meio do IMP
Para avaliar o esquema corporal através do IMP, os participantes devem ser
posicionados de frente para a parede em posição ortostática, com os pés ligeiramente
afastados e em posição confortável de modo a evitar deslocamentos com os pés durante
63
o teste. Os cotovelos devem estar ligeiramente flexionados (ângulo de 90º
aproximadamente) a uma distância cujas mãos possam alcançar a parede (figura 8).
Figura 8 – Posição inicial para a realização do teste do IMP
Antes de iniciar o teste com os voluntários, são fornecidas as seguintes
instruções verbais:
64
a. Imagine que a parede é um espelho e que você está se vendo refletido nele
(figura 9);
Figura 9 – Ilustração representativa do avaliado
imaginando sua imagem projetada no espelho
b. Tocarei um dos pontos que estão marcados em seu corpo e você deverá
apontar com o dedo indicador, projetando na parede diante de si o ponto
tocado como se você conseguisse se ver no espelho (figura 10);
Figura 10 – Ilustração representativa do avaliado apontando
para a parede com o dedo indicador o ponto tocado em seu corpo,
como se estivesse vendo-se no espelho
c. Os toques efetuados no lado direito do corpo deverão ser indicados com a
mão direita e os no lado esquerdo com a mão esquerda. Apenas os toques
efetuados no alto da cabeça deverão ser indicados sempre com a mão direita;
d. Mantenha as mãos ao lado do corpo entre as marcações.
65
A seguir coloca-se a venda nos olhos do participante e se inicia o procedimento.
O primeiro ponto anatômico a ser tocado é o alto da cabeça. Nesse momento, o avaliado
é orientado a fazer uma apneia inspiratória (MATSUDO, 2005) e em seguida apontar
com o dedo indicador direito, projetando na parede o local correspondente ao ponto
tocado; em seguida, suspende-se a apneia inspiratória e tocam-se as seguintes regiões
corporais: ombro, cintura e quadril do lado direito; e depois: ombro, cintura e quadril do
lado esquerdo; e a cada toque o participante indica o ponto tocado (figura 11).
Figura 11 A – O avaliado efetua a apneia
inspiratória e o pesquisador toca o ponto mais
alto da cabeça
Figura 11 B – O avaliado projeta o dedo
indicador na parede indicando o ponto tocado
Figura 11 C – Tocam-se os pontos demarcados
do lado direito, e o participante aponta para a
parede projetando o ponto tocado
Figura 11 D – Tocam-se os pontos demarcados
do lado esquerdo, e o participante aponta para a
parede projetando o ponto tocado
Figura 11 – Ilustração das etapas do teste (IMP)
66
Realiza-se três medidas consecutivas, sem que o examinado veja as marcações
anteriores. Sugere-se que as marcações referentes aos pontos tocados e indicados pelo
participante sejam efetuadas seguindo a ordem das cores vermelha, preta e azul.
Após a marcação dos pontos indicados pelo participante, referentes à altura da
cabeça, ombros, cintura e quadril, solicita-se que ele se aproxime da parede em linha
reta. Para isso, o avaliador o auxiliará colocando um anteparo ao lado dos seus pés (o
avaliador poderá antes de iniciar o teste e posicionar o avaliado, marcar com fita crepe
duas linhas paralelas no chão), para que ele não se desvie da posição em que projetou os
pontos durante o teste. Em seguida, o avaliador marcará com adesivos verdes as
dimensões reais da cabeça, ombros, cintura e quadril (figura 12).
Figura 12 – Aproximação do participante à parede para a marcação dos pontos reais
A marcação das dimensões corporais reais será realizada com o auxílio de um
esquadro com ângulo de 90º, esse será colocado na parede, e sua extremidade nos
67
pontos em que o sujeito foi tocado para que se possa identificar as dimensões reais,
local em que serão colocados os adesivos verdes de 1,5 cm de diâmetro (figura 13).
Figura 13 – Marcação dos pontos reais com o auxílio de um esquadro de 90º
Para evitar erros de marcação dos pontos reais, o pesquisador solicitará ao
avaliado que efetue um pequeno afastamento lateral dos braços, coloque os dedos das
mãos direita e esquerda na parede na altura dos mamilos, mantenha o olhar para frente e
o corpo imóvel objetivando, assim, evitar possíveis oscilações do corpo durante a
marcação das medidas reais (adaptação proposta por nós durante a realização do teste).
Anteriormente a este estudo, Thurm (2007) propôs que o pesquisador estabilizasse a
região cervical com o apoio da mão impedindo o balanço postural correspondente à
oscilação natural que o corpo apresenta quando está em postura ereta, segundo as
observações efetuadas por Mochizuki & Amadio (2003). Consideramos que o ajuste por
nós proposto, em se tratando de adolescente, além de estabilizar o corpo como
totalidade durante a marcação de todos os pontos reais, evita possíveis constrangimentos
em relação ao toque na região cervical do avaliado.
68
Para cada avaliação efetuada, fixa-se um número próximo às marcações dos
pontos percebidos (vermelhos, pretos e azuis) que foram projetados na parede para que
se possa identificar os avaliados e, a seguir, fotografa-se a imagem para efetuar as
análises posteriores (figura 14).
Figura 14 – Identificação dos pontos projetados pelo participante (pontos vermelhos, pretos e
azuis) e da dimensões reais do avaliado (pontos verdes)
3.4.3 Análise de dados do IMP
3.4.3.1 Análise quantitativa dos dados do IMP
Após a realização do IMP, foi calculado o Índice de Percepção Corporal (IPC)
Segmentar e Geral.
O índice de percepção corporal referente à altura da cabeça foi calculado da
seguinte forma.
69
As imagens digitalizadas com as marcações dos pontos percebidos (vermelho,
preto e azul) e reais (verde) foram impressas (figura 15).
Figura 15 – Ilustração dos pontos representativos da altura para a
realização do cálculo do IPC da cabeça
Para medir as distâncias dos pontos representativos da altura da cabeça,
traçamos uma linha horizontal abaixo das marcações referentes à altura do quadril
(conforme linha A da figura 15) e, com o auxílio de uma régua, anotamos as distâncias
entre a linha traçada até os adesivos: vermelho, preto e azul, que correspondem às
dimensões corporais percebidas da altura da cabeça, e verde, que corresponde à
dimensão corporal real. Em seguida calculamos a média das três marcações vermelho,
preto e azul, correspondentes às dimensões percebidas da altura da cabeça, e
posteriormente dividimos os valores referentes ao tamanho percebido (média das três
distâncias correspondentes aos adesivos vermelho, preto e azul) pelo tamanho real
(distância obtida por meio do adesivo verde) e multiplicamos por 100 (ASKEVOLD,
1975).
Linha A
70
Os índices de percepção corporal segmentares referentes à largura dos ombros,
cintura e quadril foram calculados a partir das imagens impressas contendo as
marcações dos pontos percebidos (vermelhos, pretos e azuis) e reais (verdes). Embora a
distância entre dois pontos possa ser assimétrica, as medidas foram efetuadas sempre na
horizontal conforme ilustração da figura 16. Um erro comum que deve ser evitado
consiste em medir a distância entre dois pontos indicados pela linha vermelha
pontilhada, medindo a distância na diagonal e não na horizontal.
Figura 16 – Pontos representativos das dimensões do ombro, cintura e quadril
Para efetuarmos o cálculo do IPC de cada segmento corporal adotamos os
seguintes passos:
a. primeiramente, com o auxílio de uma régua posicionada na horizontal,
registramos em centímetros as distâncias entre os adesivos vermelhos, pretos, azuis
(dimensões percebidas) e verdes (dimensões reais) de cada segmento corporal (primeiro
dos ombros, depois da cintura e posteriormente do quadril);
71
b. calculamos a média das três distâncias registradas entre os adesivos
vermelhos, pretos e azuis de cada segmento corporal (dimensões percebidas);
c. depois, calculamos o IPC de cada segmento corporal, que consiste em: dividir
o tamanho percebido (obtido por meio da média das três distâncias) pelo tamanho real
(correspondente à distância obtida por meio do adesivo verde) e multiplicar por 100
cujo resultado final é expresso em valores percentuais (ASKEVOLD, 1975).
Após o cálculo dos IPC segmentares, calculamos o IPC Geral que se obtém por
meio do cálculo da média dos IPC segmentares correspondentes à altura da cabeça,
largura dos ombros, cintura e quadril.
3.4.3.2 Escala de Análise da Percepção Corporal
Diante da escassez de estudos no que se refere à interpretação da percepção das
dimensões corporais de adolescentes, idealizamos a Escala de Análise da Percepção
Corporal para identificar o quão próximo ou distante está o índice de percepção corporal
dos púberes em relação às dimensões corporais reais.
Segundo Thurm (2007), Bonnier foi o primeiro autor a classificar o índice de
percepção corporal (IPC) em três categorias, sendo elas o IPC adequado,
hipoesquemático e hiperesquemático. O autor considerou como adequado o valor do
IPC igual a 100%; como hipoesquemático o valor abaixo do IPC de 100%; e como
hiperesquemático o valor acima de 100%.
Segheto (2010), ao referir-se aos estudos realizados pelos integrantes da equipe
do laboratório de Percepção Corporal e Movimento da USJT tais como: Neto (2009),
Pereira et al. (2010), Fonseca, C. (2008) e Thurm, (2007), constatou que nenhum dos
resultados obtidos nas avaliações do IMP foram classificados como adequados quando
os parâmetros de análise tiveram como referência a classificação de Bonnier. Conforme
os apontamentos efetuados, raramente encontraremos sujeitos que tenham uma
percepção corporal adequada, com IPC de 100%. Segheto et al. (2010), considerando os
apontamentos de Campana e Tavares (2009) que relataram que a busca de um padrão de
normalidade é uma questão sem resposta, propuseram parâmetros de categorização da
72
percepção corporal para adultos por meio da distribuição dos valores em percentis,
considerando a Percepção Corporal como adequada quando os valores do IPC estiverem
alocados entre os percentis 25 e 75 e como inadequados quando os valores estiverem
abaixo de 25 ou acima de 75.
Consideramos que, se analisarmos os resultados dos IPC dos adolescentes da
presente pesquisa com base na classificação proposta por Bonnier, ou por Segheto
(Quadro 3), estaremos sujeitos a interpretar os resultados de forma equivocada. Se
efetuarmos as análises de acordo com os critérios de Bonnier, classificaremos apenas os
sujeitos como hipoesquemáticos e/ou hiperesquemáticos sem conseguirmos identificar o
quanto os jovens se afastam ou se aproximam da normalidade (IPC de 100%). Se
interpretarmos os valores dos IPC segundo os percentis propostos por Segheto para
adultos, talvez não consigamos retratar qual é o perfil perceptual das dimensões
corporais dos jovens que passam pelo estirão de crescimento e que, possivelmente,
fujam aos padrões de normalidade do adulto.
Quadro 3. Classificação do Índice de Percepção Corporal segundo os critérios
de Bonnier (1995) e Segheto et al. (2010)
Como não identificamos estudos que propusessem parâmetros para classificar o
IPC na fase da puberdade, sugerimos que se analisem o afastamento e/ou a aproximação
dos valores do IPC das dimensões corporais reais (IPC de 100%), tanto acima como
73
abaixo do valor referente às dimensões corporais reais, por meio da escala de
fracionamento do IPC, por nós idealizada, graduada em frações de 5% a partir do IPC
de 100%. Quanto mais o IPC se afastar de 100% mais desajustada é a percepção das
dimensões corporais. Os valores acima de 100% indicam tendência à superestimação e
abaixo à subestimação.
Podemos visualizar na figura 17, o modelo de Escala de Análise da Percepção
Corporal. A Base Central da Pirâmide corresponde ao IPC de 100%, o Polo Negativo
Esquerdo representa os índices de percepção corporal subestimados e Polo Positivo
Direito os superestimados.
Quanto mais próximos os valores do IPC estiverem da Base Central da
Pirâmide (IPC 100%), mais ajustado será a percepção corporal; quanto mais próximos
os valores do IPC estiverem do Polo Positivo Direito, maior será a superestimação da
percepção corporal; e quanto mais próximo do Polo Negativo Esquerdo, maior será a
subestimação. Os intervalos compreendidos entre os valores de IPC de 65% a 135% são
apenas ilustrativos, pois deverão ser escalonados para mais ou para menos, de acordo
com as necessidades do sujeito ou grupo avaliado.
Figura 17 – Escala de Análise da Percepção Corporal,
a partir do Índice de Percepção Corporal (IPC).
Os valores dos IPC inferiores e superiores são apenas limites ilustrativos que devem ser
escalonados de acordo com a população estudada.
74
Esse procedimento de análise possibilitará apenas identificar o quanto o IPC
geral do adolescente se afasta ou se aproxima das dimensões corporais reais. Os valores
mais próximos do IPC 100% sinalizam uma boa percepção das dimensões corporais, e
os mais distantes expressam menor ajuste da percepção das dimensões corporais.
3.4.3.3 Análise da projeção gráfica dos dados do IMP
As marcações das diferentes dimensões corporais sinalizadas por meio dos
adesivos fixados no quadro de avaliação foram digitalizadas, e as respectivas marcações
foram analisadas qualitativamente. Para isso, efetuamos comparações visuais referentes
à presença de distorções e similaridades entre as dimensões reais e percebidas (as
dimensões reais foram representadas pelo traçado preto e as dimensões percebidas pelo
traçado vermelho). Para analisar os diferentes segmentos corporais (cabeça, ombros,
cintura e quadril), verificamos as respectivas projeções mais altas ou baixas, estreitas ou
largas e/ou descentralizadas em relação ao eixo central do corpo, que corresponde à
localização da posição da cabeça e tronco.
Tais traçados são configurados pela união dos pontos referentes à altura da
cabeça, largura do ombro, largura da cintura e largura do quadril. Quanto mais próximas
estiverem as linhas vermelha e preta, melhor será a expressão do Esquema Corporal.
3.4.4 Procedimento para identificação autorreferida do Esquema Corporal
Com o objetivo de identificar se os adolescentes perceberam quais foram as
partes do corpo que mais se modicaram durante o período da puberdade, por meio de
entrevista, efetuamos a princípio, a seguinte pergunta aberta: Você percebeu quais
foram as partes do corpo que mais cresceram nos últimos tempos? Se a pergunta fosse
adequadamente compreendida pelo sujeito e se a resposta atendesse ao objetivo do
avaliador, o interrogatório cessava, caso contrário outras interlocuções eram efetuadas.
Consideramos que esse procedimento foi útil para compreender melhor os dados
referentes ao IPC dos segmentos corporais, pois, por meio das respostas obtidas,
pudemos refletir sobre as discrepâncias existentes entre as medidas reais em relação às
75
percebidas, confrontar as respostas verbais (que sinalizam as partes que mais cresceram)
com os resultados obtidos por meio do IPC dos segmentos corporais e, assim, analisar
se as diferenças identificadas no teste foram também percebidas pelo(a) adolescente.
Em seguida, em casos de respostas afirmativas em que o púbere constatou modificações
corporais, perguntamos se essas alterações interferiram nas atividades do dia a dia.
Perguntamos também se o jovem sentia dor em alguma parte do corpo, a fim de
verificarmos, em casos de discrepâncias entre as dimensões reais e percebidas, se essas
poderiam ser decorrentes da dor e não de outros motivos quaisquer, uma vez que a dor
tende a ampliar a percepção sobre as dimensões corporais, conforme Thurm (2007).
Identificamos também, os meses acumulados de Atividades Motoras Pregressas
– AMP (atividades motoras extracurriculares esportivas ou recreativas, praticadas desde
à infância até o momento da coleta de dados), as horas semanais de Praxia Fina - HPF
(tempo dispendido com atividades de coordenação motora fina como: escrever,
manipular o mouse do computador, teclado, joystick e similares) e as horas semanais de
Inatividade Motora Global – IMG (tempo por semana em que os jovens permanecem
sentados em frente a televisão, computador, videogame e similares sem exercer
atividades motoras globais) com o intuito de analisar as possíveis influências dessas
variáveis sobre os resultados (Questionário Apêndice I).
3.5 Teste de Destreza Manual
3.5.1 Objetivo
O teste Box and Block Test of Manual Dexterity – BBT (MATHIOWETZ et al.,
1985) tem por objetivo verificar o desempenho referente à destreza manual dos lados
dominante e não dominante.
3.5.2 Instrumentos
O teste de destreza manual foi realizado com os seguintes materiais:
76
a. Uma caixa de madeira com comprimento de 53,7 cm X 25,4 cm de largura e
8,5 cm de altura, com uma divisória de madeira mais alta que as bordas medindo 15,2
cm de altura, que divide a caixa em dois compartimentos com dimensões iguais (figura
18);
b. 150 blocos de madeira em forma de cubos medindo 2,5 cm X 2,5 cm;
c. Um cronômetro;
d. Uma planilha para anotações.
A caixa com os blocos pode ser observada na figura a seguir:
Figura 18 – Caixa contendo 150 blocos para a aplicação do teste de destreza manual.
3.5.3 Procedimentos
A avaliação teve como objetivo transportar o maior número de blocos de um
compartimento da caixa para o outro durante o tempo de um minuto. Foram pontuados
os desempenhos considerados corretos segundo os critérios descritos abaixo. Antes do
início do teste, todos os blocos foram colocados em apenas um dos compartimentos da
caixa, localizado do lado oposto ao lado dominante do avaliado, pois o sujeito iniciou o
teste com a mão dominante, conforme podemos observar na ilustração abaixo (figura
19).
77
Figura 19 – Realização do teste de destreza manual (os olhos do avaliado foram vendados
apenas para preservar a sua identidade, pois o teste é realizado sem a venda nos olhos).
O teste foi aplicado em um ambiente silencioso, com o avaliado sentado em uma
cadeira adequada à sua altura. A caixa foi colocada horizontalmente à sua frente em
uma mesa com a altura localizada um pouco acima da linha da cintura para que se
pudesse visualizar a área e os equipamentos a serem utilizados. Antes de iniciar a prova,
diz-se ao sujeito:
a. queremos ver com que rapidez você consegue pegar um bloco por vez,
carregá-lo até o outro compartimento da caixa e soltá-lo;
b. se você pegar e transportar dois blocos ao mesmo tempo, será considerado
apenas um ponto;
c. a ponta dos dedos deve chegar até o outro compartimento. Só então poderá
soltar o bloco para ser considerado ponto;
d. se você derrubar algum bloco na mesa ou no chão tendo a sua mão
ultrapassado a divisória da caixa, será computado um ponto, mas se a mão
não tiver ultrapassado a divisória, não perca tempo em pegá-lo, pois não será
considerado ponto;
e. você tem alguma dúvida?
78
Vale ressaltar que antes da realização do teste foi efetuada uma demonstração
pelo avaliador e, depois, o sujeito teve 15 segundos de treino para que pudesse
compreender a forma correta de proceder.
Antes de iniciar o teste definitivo, o avaliado era avisado: “Lembre-se de realizar
a tarefa o mais rápido que conseguir”.
Utilizamos um cronômetro para poder interromper a tarefa após exatamente 1
minuto. Após a realização do teste com uma das mãos, realizamos o mesmo com a mão
não dominante (avaliado realizou o teste três vezes com cada mão de forma alternada).
3.5.4 Análise dos dados do Teste de Destreza Manual
O resultado do teste foi expresso por um escore que indicou o número de blocos
transportados de um compartimento para o outro por minuto (BL/MIN). Quanto maior é
o número de blocos transportados maior é a habilidade de destreza manual.
Ao término do teste, perguntamos ao sujeito quais são as habilidades manuais
mais efetuadas por ele, a fim de identificar as possíveis relações entre os resultados
obtidos no teste de destreza manual com as habilidades manuais por ele exercidas.
3.6 Teste de Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos (CLPM)
Com o objetivo de identificar um instrumento para avaliar a capacidade de
localização proprioceptiva das mãos, realizamos uma revisão sistemática (foram
analisados 36 artigos na língua inglesa) a fim de verificar os instrumentos e as técnicas
utilizadas para mensurar o desempenho no Espaço Peripessoal que avaliassem com
precisão a capacidade de localização das mãos e que quantificassem o grau de
aproximação ou dispersão das mãos entre si ou em relação a um alvo específico.
Ao efetuarmos o estudo, não localizamos instrumentos e técnicas que avaliassem
com precisão a capacidade de localização das mãos no Espaço Peripessoal e que
quantificassem o grau de aproximação ou dispersão das mãos entre si ou em relação a
um alvo específico. Por não localizar na literatura instrumentos que nos dessem alicerce
para analisar e mensurar a precisão de localização proprioceptiva das mãos e que fosse
79
exequível no âmbito escolar e de baixo custo operacional, idealizamos o teste de
localização proprioceptiva das mãos, a partir dos testes descritos por (GRAZIANO et
al., 1994, 1997, 1999).
3.6.1 Objetivo do teste
O teste tem por objetivo mensurar a precisão referente à capacidade de
localização proprioceptiva das mãos.
3.6.2 Instrumentos
Para a realização do teste de localização proprioceptiva das mãos foram
utilizados os seguintes instrumentos:
a. Uma venda colocada sobre os olhos do avaliado antes da realização do teste
e após o fornecimento das instruções iniciais.
b. Uma plataforma de vidro quadrada (mesinha) (figura 20) com 40 cm de
comprimento por 40 cm de largura, com quatro apoios laterais medindo 10
cm de altura, dispostos em cada uma de suas extremidades, de forma a
permitir que o avaliado coloque a sua mão embaixo da mesa para a
realização do teste, conforme as ilustrações abaixo.
Figura 20 – Plataforma de vidro contendo o alvo para a realização do teste de
localização proprioceptiva das mãos
80
Com distância de 5 milímetros entre si, 30 círculos estão dispostos um dentro do
outro, do menor para o maior, com um alvo central, tendo o círculo exterior o diâmetro
de 30 cm.
A disposição do alvo central e dos círculos permitirá ao avaliador verificar a
aproximação ou o distanciamento do dedo indicador do sujeito sobre o alvo.
Além dos círculos, a partir do ponto central (figura 21), estarão demarcados dois
eixos em forma de cruz, o anteroposterior e o transversal latero-lateral e em cada uma
de suas extremidades as seguintes indicações:
a. Tendo como referência o eixo anteroposterior:
a.1. Pontos proximais do avaliado: (i) inferior.
a.2. Pontos distais do avaliado: (s) superior.
b. Tendo como referência o eixo transversal latero-lateral:
b.1. Pontos localizados à direita do eixo central (d) / à direita do
avaliado.
b.2. Pontos localizados à esquerda do eixo central (e) / à esquerda do
avaliado.
Figura 21 – Plataforma com vidro contendo o alvo
para a realização do teste de localização proprioceptiva das mãos
Latero - Lateral
E S
E I
D S
D I
An
teropo
sterior
81
c. Uma planilha para a anotação dos resultados.
3.6.3 Procedimentos
Nesta avaliação, o sujeito de olhos vendados teve como objetivo colocar o dedo
indicador ativo no centro do alvo de forma a sobrepor o dedo indicador ativo sobre o
passivo. O dedo indicador do participante posicionado pelo pesquisador embaixo da
mesa é chamado de dedo indicador passivo e outro de dedo indicador ativo. O dedo
passivo foi posicionado pelo experimentador no alvo central demarcado embaixo da
superfície de trabalho, antes da realização da tarefa (figura 22).
Dedo indicador passivo
embaixo da mesa
Dedo indicador ativo
sobre o ombro
Figura 22 – Visualização do dedo indicador ativo do avaliado posicionado
sobre o ombro e o passivo sendo posicionado pelo pesquisador no alvo central,
demarcado embaixo da área de trabalho, antes da realização da tarefa
82
Para a realização do teste o avaliado sentou-se em uma cadeira adequada à sua
altura, e à sua frente foi disposto o alvo posicionado aproximadamente à altura do
umbigo para que o participante pudesse movimentar confortavelmente os membros
superiores.
O teste foi explicado ao sujeito com a realização de demonstrações simultâneas
efetuadas pelo avaliador antes que o participante fosse vendado. Explicamos ao avaliado
que o teste seria realizado com uma venda colocada em seus olhos para que ele não
visualizasse o alvo (figura 23).
Figura 23 – Posição inicial do teste de localização proprioceptiva das mãos
A seguir posicionamos o dedo indicador passivo de uma das mãos (não
dominante) no alvo localizado embaixo da mesa e o dedo indicador ativo sobre o ombro
(acrômio) (figura 24).
Figura 24 – Posição das mãos para realização do teste.
83
Em seguida, explicamos que ele teria como objetivo colocar o dedo indicador
que está em seu ombro, em cima da mesa, exatamente sobre a ponta do dedo que está
embaixo da mesa de forma que um fique sobre o outro (figura 25).
Figura 25 – Ilustração da ação de uma das mãos tendo como objetivo sobrepor o dedo
indicador ativo sobre o passivo, exatamente sobre o alvo central
Após as explicações e demonstrações perguntamos se havia dúvidas para que
pudéssemos explicar novamente o teste, se fosse necessário.
Instruções e procedimentos
Instruímos o participante para que fizesse a tarefa com calma e sem pressa e que,
quando encostasse o dedo indicador ativo sobre a mesa, não alterasse o posicionamento
do dedo.
A tarefa foi realizada por três vezes e o intervalo entre as tentativas foi de
aproximadamente 5 segundos, tempo necessário para buscar conforto anatômico para a
realização das próximas tentativas.
O teste foi iniciado com a mão dominante perfazendo três tentativas e em
seguida com a mão não dominante.
Registramos cada tentativa anotando o número referente ao posicionamento do
dedo indicador ativo e as siglas correspondentes aos quadrantes demarcados pelos eixos
vertical e horizontal, que indicam a posição do dedo indicador em relação aos eixos
centrais do alvo, conforme podemos observar abaixo:
84
a. à direita e superiror (ds); ou
b. à direita e inferior (di); ou
c. à esquerda e superior (es); ou
d. à esquerda e inferior (ei).
Para obtermos maior precisão em relação ao registro dos dados, adotamos os
seguintes critérios:
Consideramos como posição medial do dedo indicador ativo, a região medial da
unha. A partir dessa referência, registramos o valor correspondente ao número indicado
entre os círculos, sendo 1, 2, 3 até o número 29 (figura 26). O número 1 está localizado
logo após o círculo central, e o número 29 está localizado entre o penúltimo e último
círculo. Nos casos em que o ponto indicado pelo avaliado coincidiu com uma linha
demarcatória dos espaços entre dois círculos, por exemplo, a linha demarcatória entre os
círculos 4 e 5, consideramos o valor mais distal, ou seja, a pontuação correspondente ao
círculo 5. Esse critério foi estabelecido como forma de padronização para que
pudéssemos manter o mesmo rigor ao registrar cada uma das tentativas.
Figura 26 – Alvo ilustrativo do teste de capacidade de localização proprioceptiva das mãos
85
3.6.4 Análise dos dados do Teste de Capacidade de Localização
Proprioceptiva das Mãos (CLPM).
As anotações referentes à numeração dos círculos indicam a localização do dedo
indicador em relação à aproximação e ao afastamento desse em relação ao alvo central.
O resultado do teste realizado com a mão dominante é expresso por um escore
indicativo registrado em milímetros, representado pela média dos três desempenhos, e o
resultado realizado com a mão não dominante, idem.
Quanto mais o dedo indicador ativo se aproximar do alvo central, mais apurada é
a Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos, assim, quanto mais próximos os
resultados registrados estiverem do alvo central, maior será a sinalização de boa
percepção de localização dos membros superiores.
4 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Com o intuito de analisar os dados, no presente estudo foram utilizadas as
técnicas estatísticas como média, desvio-padrão, frequência e porcentagem a fim de
caracterizar e conhecer a distribuição da amostra estudada. Em seguida, os dados foram
submetidos ao teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov e todas as variáveis
seguiram uma distribuição normal e Levene para verificar homogeneidade das
variâncias. A comparação entre o índice de percepção corporal dos sexos feminino e
masculino foram efetuadas por meio do “t”- Student para variáveis independentes.
Recorremos à Análise de Variância (ANOVA de um fator) para verificar possíveis
diferenças entre os IPC Geral de cada estágio de maturação sexual. Foram realizadas
Análises de Variância (ANOVA) com medidas repetidas para verificar eventuais
diferenças entre a percepção das dimensões corporais da cabeça, ombro, cintura e
quadril e com fator sexo complementado pelo teste de Bonferroni. Com o intuito de
verificar as prováveis correlações entre a destreza manual com a capacidade de
localização das mãos foi aplicada a correlação de Pearson. Em todas as análises foi
adotado o critério de significância de 5%. As análises estatísticas dos dados foram
realizadas por meio da utilização do programa computacional SPSS (Statistical Package
for Social Sciences) versão 21.0, para Windows.
86
5 RESULTADOS
As análises deste estudo foram efetuadas com o propósito de: caracterizar os
participantes da pesquisa; identificar a percepção da dimensão geral e por segmentos
(cabeça, ombros cintura e quadril) utilizando o IPC; analisar qualitativamente os dados
do teste IMP; verificar a influência da maturação sexual, das atividades motoras
pregressas e das horas semanais de inatividade motora global sobre o IPC Geral e dos
ombros; analisar a influência do IPC Geral e dos ombros sobre a destreza manual e
capacidade de localização das mãos; assim como verificar a influência das atividades
motoras pregressas, da inatividade motora global e das horas semanais de praxia fina
sobre os desempenhos da destreza manual e capacidade de localização das mãos.
5.1 Característica da Amostra
Fizeram parte da presente investigação 100 adolescentes de 9 a 15 anos, sendo
50 do sexo masculino, de 11 a 15 anos, e 50 do sexo feminino, de 9 a 13anos. Cada
grupo foi composto por dez participantes de cada faixa etária (tabela 1).
Tabela 1 – Distribuição dos participantes por faixas etárias e sexo
Feminino n Masculino n
9 anos 10 11 anos 10
10 anos 10 12 anos 10
11 anos 10 13 anos 10
12 anos 10 14 anos 10
13 anos 10 15 anos 10
Total 50 Total 50
As diferenças referentes às faixas etárias dos grupos se deve ao fato de que as
meninas apresentam maturação precoce em relação aos meninos, cerca de dois anos. As
idades correspondentes a cada grupo estão relacionadas ao período em que se processa o
estirão de crescimento. Todos os participantes avaliados são estudantes pertencentes a
uma escola do ensino fundamental da rede Municipal de Ensino de São Paulo-Capital.
87
Como neste estudo muitas análises foram realizadas levando-se em consideração
os estágios de maturação sexual dos participantes, apresentamos na tabela 2 a
classificação maturacional dos participantes do sexo masculino e feminino distribuídos
por faixas etárias. Por meio dos dados expostos, pode-se notar que há uma concentração
maior de participantes no estágio IV, sendo 20% do grupo feminino e 37% do
masculino.
Tabela 2 – Número de participantes distribuídos por faixas etárias, segundo a
classificação da maturação sexual de ambos os sexos (n=100)
Estágios de Maturação
Sexual Feminino (n = 50)
Estágios de Maturação
Sexual Masculino (n = 50)
Idade I II III IV Idade I II III IV
09 04 05 01 -- 11 -- 03 06 01
10 02 04 03 01 12 -- 01 02 07
11 01 03 02 04 13 -- -- 01 09
12 -- -- 03 07 14 -- -- -- 10
13 -- 01 01 08 15 -- -- -- 10
Total 07 13 10 20 Total 00 04 09 37
No gráfico 1, pode-se observar a distribuição dos participantes (n=100) segundo
a classificação dos estágios de maturação de I a IV. Nota-se que mais da metade dos
participantes (57%) apresentaram índices de maturação sexual no estágio IV.
Gráfico 1 – Distribuição dos participantes (n=100) segundo a classificação dos estágios
de maturação sexual, apresentados em porcentagem
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
I II III IV
7%
17% 19%
57%
Estágios de maturação sexual
88
No gráfico 2, segundo as respostas dos participantes, pode-se observar que 40
participantes, desde a infância até o momento da coleta de dados, não participaram de
atividades extracurriculares direcionadas às atividades motoras esportivas ou recreativas
dentro ou fora do âmbito escolar, 45 somaram o tempo de 1 a 20 meses de prática e
apenas 15 relataram acumular um tempo superior a 21 meses. Considerando-se o total
de participantes (n=100), constatamos que 40 não realizaram atividades motoras
pregressas desde à infância e 60 realizaram.
±
Gráfico 2 – Tempo acumulado de atividades motoras pregressas
dos participantes da pesquisa distribuídos por intervalos de vinte meses
Verificamos que os participantes (n=100) acumularam em média 13,8 meses de
atividades motoras pregressas (atividades motoras extracurriculares esportivas ou
recreativas praticadas desde a infância).
Ao calcularmos a média de horas semanais dispendidas com atividades de
coordenação motora fina (praxia fina) que se refere às atividades manuais realizadas
fora do ambiente escolar, como: jogar videogame, manipular teclado/mouse do
computador e similares, verificamos que os participantes (n=100) ocuparam em média
12h46min exercendo atividades de coordenação motora fina.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Zero
1 a
20
21
a 4
0
41
a 6
0
61
a 8
0
81
a 1
00
10
1 a
18
0
40
45
6 5 1 1 2
nú
me
ro d
e p
arti
cip
ante
s
Tempo de prática em meses
89
Na tabela 3, é possível identificar as horas semanais de praxia fina dos
participantes Ativos (AMP) que acumularam meses realizando atividades motoras
extracurriculares (esportivas ou recreativas) desde a infância até o momento da coleta de
dados e dos Inativos (INI) que não realizaram. Ao efetuarmos por meio do teste “t” de
Student, as comparações entre as horas semanais de praxia fina dos ativos em relação
aos inativos, constatamos que não há diferenças estatisticamente significantes.
Tabela 3 – Comparação das horas semanais dispendidas com atividades de Praxia Fina
entre os participantes que acumularam meses de atividades motoras pregressas desde a infância
com os que não realizaram (n=100)
Horas Semanais de Praxia Fina
Participantes n ̅ dp t P
(AMP) Ativos desde a Infância 40 14,37 13,35 1,49 0,139
(INI) Inativos desde a Infância 60 10,17 12,06
(AMP) Ativos desde a Infância: realizaram atividades extracurriculares
esportivas ou recreativas desde a infância; (INI) Inativos desde a Infância: não
realizaram atividades extracurriculares esportivas ou recreativas
extracurriculares desde a infância.
*P≤0,05
Verificamos que os púberes permanecem fora do ambiente escolar, 36h28min
em média (por semana), sentados em frente à televisão e ocupados com atividades no
computador.
Na tabela 4, observam-se as horas semanais de inatividade motora global dos
participantes que acumularam meses realizando atividades motoras e dos que não
realizaram atividades motoras extracurriculares desde a infância até o momento da
coleta de dados. Ao efetuarmos as comparações entre as horas semanais de inatividade
motora global dos ativos em relação aos inativos, por meio do “t” – Student constamos
que não há diferenças estatisticamente significantes.
90
Tabela 4 – Comparação das horas semanais de Inatividade Motora Global entre os
participantes que acumularam meses de atividades motoras pregressas desde a infância com os
que não realizaram (n=100)
Horas Semanais de Inatividade Motora Global
Participantes n ̅ dp t p
(AMP) Ativos desde a infância 40 38,04 18,47 1,42 0,159
(INI) Inativos desde a infância 60 33,20 16,58
(AMP) Ativos desde a Infância: realizaram atividades extracurriculares esportivas ou
recreativas desde a infância; (INI) Inativos desde a Infância: não realizaram atividades
extracurriculares esportivas ou recreativas extracurriculares desde a infância.
*P≤0,05
5.2 Percepção Corporal
Apresentaremos abaixo os dados obtidos por meio do IMP (procedimento de
marcação do Esquema Corporal) para avaliar o Índice de Percepção Corporal dos púberes,
conforme foi descrito no método da presente pesquisa.
Ao analisarmos os dados coletados por meio do IMP verificamos que a média do
IPC Geral dos 100 púberes participantes deste estudo foi de 112,03% e o desvio padrão
de 18,74%.
Na tabela 5, pode-se observar que não há diferenças estatisticamente
significantes entre o Índice de Percepção Corporal dos meninos quando comparados ao
das meninas.
Tabela 5 – Comparação entre o IPC Geral dos jovens do sexo feminino com o do
masculino (n=100)
IPC Geral (%)
Sexo n ̅ dp t p
Feminino 50 124,52% 21,79 1,334 0,185
Masculino 50 119,53% 14,90
*P≤0,05
91
Como não houve diferenças estatisticamente significantes entre o IPC Geral do
sexo feminino comparado ao masculino, não efetuamos análises específicas
direcionadas a cada sexo.
Durante o transcorrer deste estudo, realizamos grande parte das análises tendo
como parâmetros a Escala de Análise da Percepção Corporal a qual nos possibilitou
identificar o quão próximos ou distantes estão os índices de percepção corporal dos
púberes em relação às dimensões corporais reais (IPC 100%).
No gráfico 3, é possível visualizar a porcentagem de participantes distribuídos
segundo a Escala de Análise da Percepção Corporal. Ao analisarmos os resultados,
notamos que 9% dos jovens percebem-se menores do que realmente são e 91%
apresentam uma percepção das dimensões corporais superestimada.
Gráfico 3 – Distribuição dos IPC Geral dos participantes de acordo com os critérios
da Escala de Análise da Percepção Corporal graduada em frações de 10% (n=100)
Na tabela 6, podemos visualizar os valores médios dos IPC Geral dos púberes
em cada estágio de maturação sexual de I a IV. Por meio dos resultados, pode-se
observar que os índices de percepção corporal dos púberes tendem a se ajustar com o
decorrer da maturação. O IPC Geral de 134,43% no estágio I declinou para 119,36% no
estágio IV, se aproximando do índice de 100%, o qual é considerado ideal; no entanto,
ao efetuarmos a Análise de Variância (ANOVA de um fator) para verificar possíveis
0
5
10
15
20
25
30
35
9%
18%
31%
15%
11% 9%
4% 1% 1% 1%
% d
e p
arti
cip
ante
s
Valores do IPC distribuídos em frações de 10%
IPC 100%
92
diferenças entre os IPC Geral de cada estágio de maturação sexual, constatamos
(F=1,57; p=0,200) que não há diferenças estatisticamente significantes.
Tabela 6 – Média e desvio padrão do IPC Geral dos participantes distribuídos pelos
estágios de maturação sexual (n=100)
IPC Geral
Maturação n ̅ dp
I 07 134,43% 37,20
II 17 124,84% 14,90
III 19 122,96% 18,44
IV 57 119,36% 16,46
Na tabela 7, pode-se identificar a média e o desvio padrão dos IPC segmentares
de todos os participantes da pesquisa e dos grupos separados por sexo. Por meio dos
valores dos IPC segmentares expostos, pode-se notar que as percepções sobre as
dimensões dos segmentos corporais do grupo feminino apresentaram-se semelhantes às
do grupo masculino. Ambos superestimaram muito as dimensões corporais da cintura e
depois as do quadril e um pouco menos as dos ombros, percebendo, assim, essas
dimensões maiores do que realmente são, quanto ao IPC da cabeça ambos apresentaram
subestimação, percebendo-se menores. Para verificar eventuais diferenças entre a
percepção das dimensões corporais da cabeça, ombro, cintura e quadril de todos os
participantes, foram realizadas Análises de Variância (ANOVA) com medidas repetidas
(n=100) e com fator sexo. Por meio dos resultados, constatou-se que há diferença
estatisticamente significante entre os IPC segmentares (F=186,89; p=0,001) e pelo teste
de Bonferroni identificou-se que todos os IPC segmentares são estatisticamente
diferentes. Constatou-se também que não há interação entre os IPC segmentares do sexo
feminino com o masculino (F=1,428; p=0,242), assim como não há diferença por sexo
(F=1,78; p=0,185).
93
Tabela 7 – Média e desvio padrão dos IPC Segmentares de todos os participantes
(n=100) da pesquisa e separados por sexo (n=50 cada sexo)
Feminino e Masculino
(n=100)
Masculino
(n=50)
Feminino
(n=50)
IPC ̅ dp ̅ dp ̅ dp
Cabeça 96,35% 5,60% 98,44% 5,58 94,27% 4,83
Ombro 115,50% 21,66% 116,09% 24,97 114,91% 18,00
Cintura 151,01% 34,27% 156,30% 38,99 145,72% 28,21
Quadril 125,24% 23,74% 127,24% 27,67 123,24% 19,10
Na tabela 8, estão dispostos os dados das correlações entre o IPC Geral com os
IPC Segmentares, e, por meio dos resultados, pode-se observar que há correlações
estatisticamente significantes entre todas as variáveis investigadas. As correlações mais
fortes entre os IPC Segmentares com o IPC Geral referem-se primeiro ao IPC da
cintura, depois do quadril, seguida do IPC do ombro. O IPC da cabeça apresentou uma
correlação fraca, desta forma; constatamos que os índices de percepção corporal geral
são mais influenciados pelos IPC Segmentares da cintura, quadril e ombros com menor
influência do IPC da cabeça, talvez porque a percepção referente à altura é a que menos
se altera.
Tabela 8 – Correlação de Pearson entre o IPC Geral com os IPC Segmentares (n=100)
Correlação r p
IPC Geral x IPC da Cabeça 0,290 0,003*
IPC Geral x IPC do Ombro 0,889 0,000*
IPC Geral x IPC da Cintura 0,951 0,000*
IPC Geral x IPC do Quadril 0,905 0,000*
*P≤0,05
94
Além de realizarmos as análises quantitativas sobre os IPC, efetuamos
apreciações qualitativas dos dados do IMP. As imagens projetadas dos pontos
percebidos (tracejado vermelho) e reais (tracejado preto) foram digitalizadas e
analisadas qualitativamente por meio de comparações visuais. Essas tiveram como
objetivo identificar as distorções e similaridades referentes às dimensões reais (tracejado
preto) confrontadas com as percebidas (tracejado vermelho) das dimensões da altura da
cabeça, largura e altura dos ombros, cintura e quadris. Avaliamos também a presença ou
não de assimetrias e centralização.
A seguir, é possível observar quatro ilustrações dos traçados do IMP, sendo duas
do sexo feminino (figuras - 27 e 28) e duas do sexo masculino (figuras 29 e 30)
extraídas da amostra avaliada (n=100); foram selecionadas de forma aleatória com o
intuito de representar o IMP subestimado e superestimado.
Os participantes com o IMP subestimado e superestimado (representado pelas
figuras 27 / 28 e 29 / 30), apresentaram assimetrias distintas uns em relação aos outros,
quanto aos diferentes segmentos corporais, estando esses mais altos ou baixos, estreitos
ou largos e/ou descentralizados em relação ao eixo central do corpo (localização da
posição da cabeça e coluna vertebral). Verificamos que não há padrões de semelhança
entre os traçados e que cada sujeito apresentou particularidades que o diferencia dos
demais, não existindo, portanto, um padrão entre as projeções dos traçados em nenhum
dos grupos analisados.
Ressaltamos a figura 29 que representa um traçado hipoesquemático (IPC
99,64%), cujo valor está muito próximo de um IPC adequado de 100%. Contudo ao
analisarmos as projeções do seu traçado, verificamos assimetrias em relação à
percepção das diferentes partes do corpo, dado que revela que os IPC, mesmo próximos
dos valores ideais (IPC 100%), podem apresentar assimetrias e descentralizações,
traçados esses que revelam uma percepção desajustada das dimensões corporais.
95
Com o intuito de identificar se os adolescentes percebiam quais foram as partes
do corpo que mais se modicaram durante o período da puberdade, por meio de
entrevista efetuamos, a princípio, a seguinte pergunta aberta: Você percebeu quais
foram as partes do corpo que mais cresceram nos últimos tempos? Se a pergunta fosse
adequadamente compreendida pelo sujeito e se a resposta atendesse ao objetivo do
avaliador, a entrevista cessava, caso contrário outras interlocuções eram efetuadas.
Após o registro das respostas sobre as partes mencionadas, elencamos duas
categorias de análise: a) partes do corpo autorreferidas que possuem relação com as
dimensões corporais avaliadas por meio do IMP; b) partes do corpo autorreferidas que
não estão relacionadas com as dimensões corporais avaliadas por meio do IMP.
Conforme os dados apresentados na tabela 9, identificamos que, dos 100 jovens
Subestimação (IPC Geral com valores abaixo de 100%)
Superestimação (IPC Geral com valores acima de 100%)
Figura 28 – 11 anos Feminino
sujeito n° 27
IPC Geral = 145,69%
Figura 30 – 15 anos Masculino
sujeito n° 47
IPC Geral = 125,20%
Figura 27 – 12 anos Feminino
sujeito n° 33
IPC Geral = 91,30%
Figura 29 – 15 anos Masculino
sujeito n° 48
IPC Geral = 99,64%
96
inqueridos, apenas 14 respostas, sendo sete de cada sexo, condizem com as dimensões
corporais que se modificam durante a fase do estirão do crescimento, tais como: altura-
tronco cefálica, dimensão biacromial e trocantérica (CHIPKEVITCH, 1995) e que são
avaliadas por meio do IMP. Observamos que 43 participantes, 27 do sexo feminino e 16
do masculino, indicaram partes que se alteram durante o estirão de crescimento e que
não estão associadas às alterações das dimensões avaliadas por meio do IMP.
Verificamos ainda que 43 jovens, 27 do sexo feminino e 16 do sexo masculino, não
identificaram alterações das parte do corpo, o que talvez denote a falta de percepção
sobre as alterações corporais que se processam durante o estirão de crescimento.
Tabela 9 – Frequência de respostas sobre a percepção dos jovens do sexo feminino e
masculino referentes às partes do corpo que mais cresceram no período do estirão de
crescimento (n=100)
Percepção sobre as partes do corpo n Feminino Masculino
Que se alteram durante o estirão e
são avaliadas por meio do IMP
14 07 07
Que se alteram durante o estirão e que
não são avaliadas por meio do IMP
43 27 16
Sujeitos que não perceberam
alterações corporais
43 27 16
Total 100 61 39
Na tabela 10, pode-se observar a frequência de respostas dos jovens do sexo
masculino e feminino referentes à percepção sobre as partes do corpo que se
modificaram durante o estirão de crescimento e que são avaliadas por meio do IMP e as
partes que se alteraram e não são avaliadas por meio do IMP. As partes do corpo mais
citadas relacionadas ao IMP foram as dimensões dos membros inferiores, sendo duas
respostas do sexo feminino e quatro do masculino. As partes mais indicadas que não
estão relacionadas ao IMP foram as mamas com 19 respostas do sexo feminino e os pés
com 13 respostas, sendo cinco do sexo feminino e oito do masculino.
97
Tabela 10 – Percepção dos púberes do sexo feminino e masculino sobre as partes do
corpo que mais cresceram durante o período do estirão de crescimento, que estão relacionadas
ao IMP e que não estão relacionadas (n=100)
Partes do corpo relacionadas ao IMP Partes do corpo não relacionadas ao IMP
Partes do Corpo Feminino Masculino Partes do Corpo Feminino Masculino
Altura 02 01 Bigode x 01
Abdômen x 02 Mamas 19 X
Cintura 01 x Membros superiores 02 X
Região Glútea 01 x Mãos x 03
Membros inferiores 02 04 Pelos 01 X
Corpo Todo 01 x Genitália x 04
X x x Pés 05 08
Total 07 07 Total 27 16
Sabe-se que há vários agentes que podem interferir na percepção das dimensões
corporais durante o período de estirão de crescimento. Como os jovens estão expostos a
vários estímulos, consideramos relevante identificar se as atividades motoras pregressas
– AMP (atividades recreativas e/ou esportivas praticadas desde a infância) e as horas de
inatividade motora global semanal - IMG (que correspondem ao tempo dispendido
sentado em frente à televisão, computador, videogame e similares) poderiam ser fatores
contribuintes que explicassem as variações do IPC geral na fase da puberdade, uma vez
que 99% dos jovens desta pesquisa apresentaram IPC Geral superestimado, de acordo
com os dados expostos no gráfico 3. Ao efetuarmos as correlações entre o IPC Geral
com as atividades motoras pregressas e com as horas de inatividade motora global,
constatamos (tabela11) que tanto o acúmulo de meses dispendidos com atividades
motoras pregressas (atividades recreativas e/ou esportivas praticadas desde a infância),
assim como o tempo de inatividade motora global semanal (tempo dispendido sentado
em frente à televisão, computador, videogame e similares) não tiveram influência sobre
a percepção das dimensões corporais, pois não foram encontrados valores
estatisticamente significantes.
98
Tabela 11 – Correlações de Pearson entre o IPC Geral de todos os participantes com os
meses de atividades motoras pregressas e com as horas semanais de inatividade motora global
(n = 100)
Correlação r p
IPC GERAL x Atividades Motoras Pregressas 0,003 0,974
IPC GERAL x Inatividade Motora Global -0,089 0,379
*P≤0,05
A fim de verificarmos se os diferentes valores do IPC Geral apresentados em
cada estágio de maturação sexual (tabela 12) foram influenciados pelos meses
acumulados de atividades motoras pregressas (AMP) e pelas horas semanais de
inatividade motora global (IMG), por meio da correlação de Pearson identificamos que
não há correlação estatisticamente significante entre as variáveis correlacionadas.
Tabela 12 – Correlação entre IPC Geral de cada estágio de maturação sexual com as
Atividades Motoras Pregressas (AMP) e com a Inatividade Motora Global (IMG) (n=100)
Estágios Maturação Sexual
I II III IV
r P r p r p r p
IPC Geral x AMP
IPC Geral x IMG
0,74 0,06 -0,24 0,33 0,34 0,14 0,30 0,82
-0,25 0,57 -0,17 0,49 0,20 0,40 0,22 0,87
*P≤0,05
Na tabela 13, é possível identificar o IPC Geral dos participantes Ativos (AMP)
que acumularam meses praticando atividades motoras extracurriculares esportivas ou
recreativas, desde a infância até o momento da coleta de dados e dos Inativos (INI) que
não realizaram. Ao efetuarmos a Análise de Variância (ANOVA de um fator) para
verificar possíveis diferenças entre o IPC Geral dos participantes Ativos (AMP) com os
Inativos (INI), constatamos (F=1,64; p=0,203) que não há diferenças estatisticamente
significantes.
99
Tabela 13 – Comparação dos IPC Geral entre os participantes Ativos (AMP) que
acumularam meses de atividades motoras pregressas extracurriculares com os Inativos (INI) que
não realizaram (n=100)
IPC Geral
Participantes n ̅ dp F p
(AMP) Ativos desde a infância 60 123,98% 20,81 1,64 0,203
(INI) Inativos desde a infância 40 119,10% 14,90
*P≤0,05
Com o intuito de verificar se os meses acumulados de atividades motoras
pregressas e o tempo semanal de inatividade motora global influenciaram os resultados
do IPC Geral, efetuamos a correlação de Pearson entre o IPC Geral com as Atividades
Motoras Pregressas (AMP) e com a Inatividade Motora Global (IMG) no grupo de
Ativos e não constatamos valores estatisticamente significantes (tabela 14). Dessa
forma, as atividades motoras pregressas e o tempo de inatividade motora global não
influenciaram o IPC Geral. Ao realizarmos a correlação de Pearson entre o IPC Geral
com a IMG no grupo de inativos (INI), também não identificamos valores
estatisticamente significantes e assim consideramos que tanto as atividades motoras
pregressas como as horas semanais de inatividade motora global não interferiram nos
resultados do IPC Geral.
Tabela 14 – Correlação de Pearson entre IPC Geral com os meses acumulados de
(AMP) atividades motoras pregressas no grupo de ativos e com as horas semanais de (IMG)
inatividade motora global no grupo de ativos e de não ativos (n=100)
Participantes Correlação r p
(AMP) Ativos desde a infância
(n=60)
IPC GERAL x AMP 0,24 0,057
IPC GERAL x IMG -0,23 0,690
(INI) Inativos desde a infância
(n=40)
IPC GERAL x IMG -0,28 0,833
(AMP) Ativos desde a Infância: realizaram atividades extracurriculares esportivas ou recreativas
desde a infância; (INI) Inativos desde a Infância: não realizaram atividades extracurriculares
esportivas ou recreativas extracurriculares desde a infância; (IMG) tempo semanal em que os jovens
permanecem sentados em frente a televisão, computador, videogame e similares sem exercer
atividades motoras globais.
*P≤0,05
100
Propusemo-nos também investigar a relação entre o IPC Geral com os
desempenhos referentes à destreza manual (dominante e não dominante) e a capacidade
de localização das mãos (dominante e não dominante). Foi possível observar (tabela 15)
que o IPC geral não apresentou correlação estatisticamente significante com a destreza
manual, nem com a capacidade de localização das mãos; portanto, podemos afirmar que
os desempenhos referentes à destreza manual e à capacidade de localização das mãos
não são influenciados pelo índice de percepção corporal geral (IPC Geral).
Tabela 15 – Correlações de Pearson efetuadas entre o IPC Geral (IPCG) com a destreza
manual dominante (DMD), a destreza manual não dominante (DMND), a capacidade de
localização da mão dominante (CLMD) e a capacidade de localização da mão não dominante
(CLMND) (n = 100)
Correlação r p
IPC GERAL x DMD 0,05 0,58
IPC GERAL x DMND 0,71 0,48
IPC GERAL x CLMD -0,60 0,55
IPC GERAL x CLMND -0,05 0,61
*P≤0,05
Como já mencionamos anteriormente, suspeita-se que as acentuadas
transformações corporais decorrentes da puberdade podem desajustar a percepção das
dimensões corporais dos púberes e refletir em prejuízos à coordenação motora.
Levando-se em consideração que, de todos os segmentos corporais avaliados nessa
pesquisa, a cintura escapular é a única que está diretamente relacionada à coordenação
motora fina e que as modificações das dimensões desse segmento (dimensões dos
ombros, comprimento dos antebraços e braços e comprimento das mãos e dedos),
poderiam alterar a percepção dos púberes sobre a dimensão dos ombros e refletir em
prejuízos ao desempenho da destreza manual e capacidade de localização das mãos,
propusemo-nos inicialmente identificar o IPC dos ombros que corresponde à 115,50% +
21,67 e, posteriormente, verificar (tabela 16) se a percepção sobre a dimensão dos
ombros dos púberes foi influenciada pelas (AMP) atividades motoras pregressas
(atividades recreativas e/ou esportivas praticadas desde a infância) e pelas (HPF) horas
semanais de praxia fina (tempo dispendido sentado em frente a televisão, computador,
videogame e similares). Ao efetuarmos as correlações entre o IPC dos ombros com as
101
variáveis explicitadas, constatamos que há correlação estatisticamente significante
apenas entre o IPC dos ombros com as horas de praxia fina. Por meio dos dados
obtidos, verificamos que a aproximação entre as dimensões corporais percebidas em
relação às reais, é influenciada pelo aumento do número de horas semanais exercidas
com atividades de coordenação motora fina.
Tabela 16 – Correlações de Pearson efetuadas entre o IPC dos ombros de todos os
participantes (n =100) com as atividades motoras pregressas (AMP) e com as horas dispendidas
com praxia fina (HPF)
Correlação r p
IPC Ombro x Atividades Motoras Pregressas -0,11 0,91
IPC Ombro x Horas Praxia Fina -0,21 0,03*
*P≤0,05
Analisamos também as possíveis correlações entre o IPC dos ombros com os
desempenhos referentes à destreza manual (dominante e não dominante) e com a
capacidade de localização das mãos (dominante e não dominante), e, após efeturarmos
as análises (Tabela 17), foi possível constatar que não há correlações estatisticamente
significantes, o que nos permite afirmar que o IPC dos ombros não influenciou os
desempenhos referentes à destreza manual e a capacidade de localização das mãos dos
lados dominante e não dominante.
Tabela 17 – Correlações de Pearson efetuadas entre o IPC dos ombros de todos os
participantes (n =100) com a destreza manual dominante (DMD), a destreza manual não
dominante (DMND), a capacidade de localização da mão dominante (CLMD) e a capacidade de
localização da mão não dominante (CLMND)
Correlações r p
IPC Ombro x Destreza Manual Dominante 0,09 0,33
IPC Ombro x Destreza Manual Não Dominante 0,10 0,31
IPC Ombro x Capacidade de Localização das Mãos Dominante -0,05 0,58
IPC Ombro x Capacidade de Localização das Mãos Não Dominante -0,04 0,66
*P≤0,05
102
Na tabela 18, é possível observar a média e o desvio padrão dos IPC do ombro
dos púberes em cada estágio de maturação sexual (de I a IV). Nota-se que, nos estágios
mais adiantados de maturação sexual, localizam-se os IPC mais ajustados. Por meio da
análise estatística Kruskal Wallis, constatamos que não há diferenças estatisticamente
significantes dos IPC dos ombros entre os estágios de maturação sexual.
Tabela 18 – Média e desvio padrão do IPC do ombro em cada estágio de maturação
sexual (n = 100)
IPC do Ombro
Maturação Sexual n ̅ dp F P
I 07 127,28% 40,15 0,95 0,81
II 17 116,52% 17,99
III 19 115,57% 23,53
IV 57 113,75% 19,12
*P≤0,05
Ao analisarmos, por meio da correlação de Pearson, se o IPC do ombro em cada
estágio de maturação sexual fora influenciado pelo acúmulo de meses de atividades
motoras pregressas e pelas horas semanais de atividades de praxia fina (Tabela 19), nos
certificamos que não há correlação estatisticamente significante entre o IPC do ombro
com as atividades motoras pregressas e com as horas de praxia fina, em nenhum estágio
de maturação sexual; assim sendo, consideramos que essas variáveis não influenciaram
a percepção sobre as dimensões corporais do ombro.
Tabela 19 – Correlações de Pearson entre os meses acumulados de atividades motoras
pregressas (AMP) com as horas semanais dispendidas com atividades de praxia fina (HPF) e
com IPC dos ombros (n=100)
IPC Ombro – Estágios de Maturação Sexual de I a IV
I II III IV
Correlação r p r p r p r p
AMP x IPC Ombro 0,73 0,59 -0,30 0,23 0,83 0,73 0,03 0,80
HPF x IPC Ombro 0,34 0,45 -0,12 0,96 -0,36 0,12 -0,19 0,15
*P≤0,05
103
Com o intuito de analisar em cada estágio de maturação sexual (I, II, III e IV), as
possíveis correlações entre o IPC dos ombros com os desempenhos referentes à destreza
manual (dominante e não dominante) e a capacidade de localização das mãos
(dominante e não dominante), efetuamos por meio da correlação de Pearson as análises
mencionadas e, por meio dos dados apresentados na tabela 20, observamos que não há
correlação estatisticamente significante entre as variáveis analisadas.
Tabela 20 – Correlações de Pearson entre o IPC dos ombros com a destreza manual
dominante (DMD) e não dominante (DMND) e com a capacidade de localização das mãos
dominante (CLMD) e não dominante (CLDND) em cada estágio de maturação sexual (n=100)
Estágios de Maturação Sexual
I II III IV
Correlações r p r p r p r p
IPC Ombro x DMD 0,10 0,83 0,39 0,11 0,15 0,52 0,14 0,29
IPC Ombro x DMND -0,61 0,14 0,37 0,14 0,24 0,31 0,21 0,10
IPC Ombro x CLMD 0,09 0,83 -0,26 0,31 -0,10 0,67 0,03 0,80
IPC Ombro x CLMND 0,57 0,18 0,26 0,29 -0,30 0,20 -0,13 0,30
*p≤0,05
Para verificarmos se as atividades motoras pregressas e as horas dispendidas com
atividades de coordenação motora fina poderiam influenciar os desempenhos da
destreza manual e da capacidade de localização das mãos, efetuamos as correlações
entre as variáveis explicitadas e nos certificamos (tabela 21) que há correlação
estatisticamente significante apenas entre os meses acumulados de atividades motoras
pregressas com a destreza manual dominante e não dominante. Constatamos que as
atividades motoras globais efetuadas desde a infância ocasionaram melhorias ao
desempenho da destreza manual.
Identificamos também correlação estatisticamente significante apenas entre as
horas semanais de atividades exercidas com atividades de coordenação motora fina
104
(HPF) com a destreza manual dominante indicando que a quantidade de horas
dispendidas com atividades de coordenação motora fina ocasionou melhorias ao
desempenho da destreza manual dominante.
Tabela 21 – Correlações de Pearson entre as Atividades Motoras Pregressas (AMP)
com a Destreza Manual (DM) e Capacidade de Localização das Mãos (CLM) e entre as horas de
praxia fina (HPF) com a destreza manual (DM) e capacidade de localização das mãos (CLM)
(n=100)
Correlações r p Correlações r p
AMP x DMD 0,25 0,01* HPF x DMD 0,19 0,05*
AMP x DMND 0,25 0,01* HPF x DMND 0,15 0,12
AMP x CLMD -0,76 0,45 HPF x CLMD 0,13 0,19
AMP x CLMND -0,01 0,85 HPF x CLMND 0,11 0,25
*p≤0,05
Buscamos identificar, nos quatro estágios de maturação sexual, se os resultados
da destreza manual e da capacidade de localização das mãos estariam relacionados ao
acúmulo de atividades motoras pregressas e às horas dispendidas com atividades
motoras finas. Efetuamos as devidas correlações e de acordo com os resultados
apresentados na tabela 22, constatamos que há correlações estatisticamente significantes
entre as atividades motoras pregressas com a destreza manual dominante e não
dominante apenas no estágio de maturação sexual IV. Esse dado indica que o acúmulo
de atividades praticadas desde a infância influenciou positivamente na melhoria do
desempenho da destreza manual.
Pudemos identificar também, no estágio de maturação sexual I, correlação
estatisticamente significante entre as horas de praxia fina (HPF) com a capacidade de
localização da mão não dominante (CLMND), nos revelando que a imprecisão da
capacidade de localização da mão não dominante pode estar relacionada às quantidades
inexpressivas de horas de praxia fina. A correlação positiva indica que a imprecisão
105
referente à localização manual do lado não dominante está associada ao pouco tempo de
atividades dispendidas com tarefas manuais específicas.
Tabela 22 – Correlações de Pearson entre as Atividades Motoras Pregressas (AMP)
com a Destreza Manual (DM) e com a Capacidade de Localização das Mãos (CLM) nos
estágios de maturação sexual e correlações entre as Horas de Praxia Fina (HPF) com a Destreza
Manual (DM) e com a Capacidade de Localização das Mãos (CLM), nos estágios de maturação
sexual (n=100)
Estágios de Maturação Sexual
I II III IV
Correlações r p r p r p r p
AMP x DMD 0,28 0,53 -0,13 0,62 0,08 0,72 0,28 0,03*
AMP x DMND -0,18 0,68 -0,09 0,73 -0,13 0,57 0,31 0,01*
AMP x CLMD 0,13 0,76 -0,13 0,59 0,16 0,51 -0,17 0,20
AMP x CLMND 0,44 0,31 -0,23 0,36 -019 0,42 -0,06 0,62
Estágios de Maturação Sexual
I II III IV
Correlações r p r p r p r p
HPF x DMD -0,51 0,23 0,27 0,29 -0,24 0,31 0,15 0,24
HPF x DMND -0,56 0,23 0,20 0,43 -0,25 0,28 0,16 0,22
HPF x CLMD 0,23 0,61 -0,03 0,89 0,06 0,80 0,07 0,57
HPF x CLMND 0,83 0,01* -0,15 0,54 0,04 0,84 0,05 0,69
AMP – Meses Acumulados de Atividades Motoras Pregressas; HPF – Horas Semanais de Praxia
Fina; DMD – Destreza Manual Dominante; DMDN – Destreza Manual não Dominante; CLMD –
Capacidade de Localização Manual Dominante; CLMND – Capacidade de Localização Manual Não
Dominante
*p≤0,05
Por meio da correlação de Pearson, investigamos as possíveis associações entre
as horas semanais de praxia fina com as horas semanais de inatividade motora global e
constatamos que há correlação estatisticamente significante (r=0,58 ; p=0,001) entre as
horas de praxia fina (HPF) com as horas de inatividade motora global (IMG).
Observou-se que do estágio de maturação sexual I ao IV, há uma concentração maior de
jovens que apresentam maior quantidade de horas semanais exercendo atividades de
106
coordenação motora fina e, assim, permanecendo mais tempo sentados, navegando na
internet, vendo televisão, etc.
Nos resultados da tabela 23, pode-se observar que a cada estágio de maturação
sexual, em geral, os jovens aumentam os meses acumulados de atividades motoras
pregressas, aumentam o número de horas semanais exercidas com atividades de praxia
fina e as horas semanais de inatividade motora global. Ao efetuarmos a Análise de
Variância (ANOVA de um fator), constamos diferenças estatisticamente significantes
entre os estágios de maturação sexual, apenas em relação às horas de praxia fina e às
horas semanais de inatividade motora global. Esses dados indicam que com o avanço
dos estágios maturacionais os jovens tendem a exercer menor número de horas semanais
de atividades motoras globais e a aumentar a quantidade de horas semanais exercidas
com atividades de coordenação motora fina.
Tabela 23 – Média, desvio padrão e comparação dos meses acumulados de atividades
motoras pregressas, das horas semanais de praxia fina e das horas semanais de inatividade
motora global entre cada estágio de maturação sexual (n=100)
AMP HPF IMG
Maturação n ̅ dp ̅ dp ̅ dp
I 07 4,71 5,96 2,84 4,18 13,70 4,78
II 17 5,18 11,19 8,04 7,12 30,61 12,88
III 19 9,42 9,49 9,33 8,80 28,85 13,15
IV 57 18,95 32,62 16,00 14,25 42,20 18,27
F 1,87 F 4,39 F 8,94
p 0,139 P 0,006* P 0,000*
AMP = Média de meses acumulados de atividades motoras pregressas; HPF = Média de horas semanais
dispendidas com atividades de praxia fina; IMG = Média de horas semanais de inatividade motora global.
*P≤0,05
107
6 DISCUSSÃO
Neste estudo, avaliamos os aspectos quantitativos e qualitativos da percepção
das dimensões corporais dos púberes entre os sexos feminino e masculino.
Verificamos a influência da maturação sexual, das atividades motoras
pregressas, das horas semanais de praxia fina e das horas semanais de inatividade
motora global sobre a percepção das dimensões corporais.
Analisamos a influência da percepção da dimensão corporal geral e dos ombros
sobre os desempenhos da destreza manual e capacidade de localização das mãos.
Investigamos a influência da maturação sexual, das atividades motoras
pregressas, da inatividade motora global e das horas semanais de praxia fina sobre os
desempenhos da destreza manual e capacidade de localização das mãos.
Por fim, nos quatro estágios de maturação sexual, analisamos a percepção da
dimensão corporal geral e dos ombros e sua relação com os desempenhos da destreza
manual e da capacidade de localização das mãos.
Para facilitar a compreensão das discussões efetuadas, organizamos o texto na
seguinte ordem de análise: Percepção da Dimensão Corporal Geral; influência da
maturação sexual, das atividades motoras pregressas, das horas semanais de praxia fina
e das horas semanais de inatividade motora global sobre a percepção das dimensões
corporais; Percepção Corporal Segmentar; Desempenho da Destreza Manual e do
Desempenho da Capacidade de Localização das mãos.
Ao analisar a percepção das dimensões corporais, identificamos que 91% dos
jovens de ambos os sexos percebem as dimensões corporais maiores do que realmente
são e que as percepções corporais geral e segmentar do sexo feminino não diferiram do
masculino.
Segheto et al. (2011), ao analisar o esquema corporal de 52 adultos de
aproximadamente 22 anos de ambos os sexos, por meio do Image Marking Procedure
(IMP), verificaram que a maior porcentagem do sexo feminino apresentou
hiperesquematia e a maior porcentagem dos homens apresentou hipoesquematia e
esquema corporal adequado. A superestimação apresentada pelas mulheres adultas
coincide com os resultados por nós encontrados; já os dados referentes à adequação e
subestimação da percepção corporal dos homens adultos divergem da percepção
108
corporal dos púberes do sexo masculino, pois, assim como as meninas do presente
estudo, rapazes também apresentaram superestimação das dimensões corporais.
Baseados nos apontamentos de Segheto et al. (2011) e nos dados obtidos nesta
pesquisa, consideramos que estes resultados merecem atenção no sentido de propor
intervenções desde a adolescência para ambos os sexos, com o intuito de evitar que os
desajustes da percepção corporal, tais como a subestimação, superestimação, assimetrias
e descentralizações se acentuem.
Conforme discutimos anteriormente, segundo Gallahue (2013), Haywood &
Getchell (2010), o desenvolvimento (da percepção das dimensões corporais) se processa
devido às interações entre as restrições do indivíduo, da tarefa e do ambiente; assim,
neste estudo indagamos se essas interações, durante a puberdade, poderiam influenciar a
percepção das dimensões corporais. Verificamos por meio dos resultados obtidos nesta
pesquisa (figura 31) que o processo de maturação sexual, as horas semanais de praxia
fina, as horas semanais de inatividade motora global e os meses acumulados de
atividades motoras pregressas não tiveram influência sobre a percepção da dimensão
corporal geral. Portanto, inferimos que os desajustes da percepção das dimensões
corporais identificados nos jovens deste estudo podem estar associados às alterações
anatômicas (transformações corporais) que ocorrem na puberdade.
Figura 31. Correlação entre as Atividades Motoras Pregressas, as Horas de Praxia Fina, a
Maturação Sexual e as Horas Semanais de Inatividade Motora Global sobre a Percepção Corporal Geral.
Notamos que as restrições estruturais do indivíduo referentes à alteração
somática das dimensões corporais parecem ocasionar desajustes à percepção das
dimensões corporais, pois há indícios de que as transformações corporais decorrentes da
puberdade talvez não tenham sido reintegradas ao esquema corporal anteriormente
estabelecido a essa fase. Ivanenko et al. (2011) avaliaram recentemente o papel
109
desempenhado pela percepção das dimensões do corpo durante a locomoção e o cálculo
da distância percorrida quando alterações no tamanho do corpo são adquiridas
artificialmente. Para isso, os autores investigaram o desempenho de adultos andando
com pernas de pau por um trajeto com uma distância previamente determinada. Os
autores notaram que a coordenação dos membros inferiores modificou-se
acentuadamente após o alongamento dos membros, ocasionando esse aumento,
mudanças no movimento angular dos segmentos, com passadas mais curtas durante a
caminhada e com velocidade mais lenta. Os pesquisadores relataram que os erros
reportados possivelmente sejam decorrentes do desajuste referente à representação do
comprimento do passo, indicando que a perna de pau não foi incorporada ao esquema
corporal, fato que talvez tenha impossibilitado uma boa adaptação à tarefa proposta. Os
investigadores citaram que todos os indivíduos antes da execução da tarefa estavam
cientes de que o comprimento dos membros inferiores aumentou em 50%, porém esse
conhecimento imediato que se processou em posição estática não foi efetivamente
adaptado à situação dinâmica. Os autores explicaram que a inadaptação à tarefa possa
ser derivada da dissociação entre o esquema corporal anteriormente estabelecido (sem a
perna de pau) em confronto com as informações atuais (com a perna de pau).
Ivanenko et al. (2011) citaram ainda o experimento de Nobre efetuado com
usuários experientes de pernas de pau, que utilizaram esse instrumento diariamente por
mais de seis anos. Esse estudo revelou que os experientes realizaram a tarefa
apresentando menor redução no comprimento do passo e menor cautela que o grupo de
novatos. Com base nesses dados, Ivanenko et al. (2011) descreveram que a adaptação
incompleta às proporções dos membros modificados parece indicar que os mapas
somatotópicos do córtex não são fixos e podem ser alterados pela experiência. Dessa
forma, suspeitou-se que a inconsistência apresentada na adaptação ao uso de pernas de
pau pelos novatos talvez seja derivada do pouco tempo de experiência oferecido. Os
investigadores relataram que os participantes novatos, em suas ações do cotidiano, eram
menos habituados a usar uma ferramenta com os pés do que, por exemplo, com as
mãos. Segundo Holmes & Spence (2004), Iriki e colaboradores demonstraram que o uso
de uma ferramenta pode estender a representação visuotátil do espaço peripessoal, dado
também observado por Canzoneri et al. (2013); Cardinali et al. (2009) e ainda, segundo
Holmes & Spence (2004), para Farnè & Làdavas a ferramenta é incorporada ao espaço
peripessoal (esquema corporal) com pouco tempo de uso. Tais afirmações emergiram de
experimentos em que Farnè & Làdavas propuseram aos participantes que fossem
110
desafiados a alcançar objetos usando um instrumento (ferramenta/haste) com as mãos.
Com base nesses apontamentos, Ivanenko et al. (2011) relataram que se pode incorporar
o tamanho de uma ferramenta ao modelo postural (esquema corporal) com pouco tempo
de uso (manual), da mesma forma que se incorpora ao esquema corporal as dimensões
dos segmentos corporais que são utilizados de forma habitual, o que não aconteceu com
os novatos ao usarem as pernas de pau, pois elas não são uma ferramenta usual e, desta
forma, parece que o Sistema Nervoso (esquema corporal) não as integra em um espaço
curto de tempo. Com base nesses apontamentos e fazendo analogias entre o estirão de
crescimento e o uso de pernas de pau, elucubramos que, durante o estirão, os desajustes
perceptuais das dimensões corporais podem ser derivados das alterações corporais que
não são imediatamente incorporadas ao esquema corporal. Talvez algumas partes do
corpo que se modificam rapidamente durante o período da puberdade possam ser
incorporadas ao esquema corporal pelo seu uso habitual e principalmente em função da
especificidade dos estímulos direcionados aos esquemas: Postural e de Tamanho e
Forma do corpo (nomenclatura utilizada por Longo et al., (2010); Medina & Cosllet,
(2010)), como talvez tenha ocorrido com o ajuste da percepção das dimensões dos
ombros por influência das atividades de coordenação motora fina, relações que serão
discutidas com maior propriedade mais adiante.
Segundo Head e Holmes (1911), o esquema corporal é adaptável e conservador.
A criança em crescimento, até a fase da puberdade, parece se adaptar rapidamente às
transformações corporais, assim como o ser humano é capaz de integrar ao esquema
corporal a extensão de uma ferramenta (como um bastão), por meio de seu uso. No
entanto, o esquema corporal é conservador, pois as sensações corporais organizadas em
mapas corticais se mantêm permanentes. Parece que o esquema corporal, para se
adaptar a transformações corporais mais acentuadas como o aumento do comprimento
dos membros superiores, inferiores e dimensões horizontais do corpo no período da
puberdade, sofre resistência de sua própria característica conservadora a qual parece
manter os registros armazenados antes da puberdade e, assim, dificultar a incorporação
de novas dimensões corporais que não são habitualmente utilizadas nas atividades do
cotidiano.
Segundo os autores, as diferentes e novas posturas corporais adotadas pelo ser
humano são constantemente confrontadas com as anteriormente armazenadas no córtex
cerebral, onde se localizam os mapas corporais permanentes que foram adquiridos e
atualizados ao longo da vida, de forma a configurar os modelos posturais atuais. No
111
entanto, parece que as informações derivadas das ações recentes (novos modelos
posturais) perduram pouco tempo no córtex, e seus registros tendem a se diluir a não ser
que sejam constantemente acionados, de forma a produzir informações corporais
constantes, advindas das diferentes sensibilidades somáticas, principalmente das vias
proprioceptivas, as quais, uma vez atualizadas de forma frequente, tendem a se tornar
permanentes, como ocorreu com os indivíduos experientes que incorporaram as pernas
de pau ao esquema corporal e, por isso, se adaptaram à tarefa de se locomover com esse
instrumento, apresentando melhor desempenho que os inexperientes.
Assim, com base nos apontamentos de Segheto et al. (2010), consideramos que
para haver ajustes da percepção das dimensões corporais talvez seja necessário
promover atividades corporais direcionadas a canais perceptuais específicos, como o
esquema corporal Postural e de Tamanho e Forma (esquema proposto por Longo et. al.,
2010), ativado pela sensibilidade proprioceptiva. Assim, inferimos que os meses de
atividades motoras globais, realizadas desde a infância pelos púberes desta pesquisa,
não propiciaram a ativação de canais sensoriais específicos. Talvez por não realizarem
as ações de forma mais constante, com estímulos específicos e com a atenção
direcionada as particularidades das ações corporais.
Ao efetuarmos análises qualitativas sobre a percepção das dimensões
corporais, por meio das projeções dos traçados do contorno corporal (IMP),
verificamos que não há padrões de semelhança entre os traçados, pois cada jovem
apresentou características peculiares que diferiram dos demais, tais como: distorções,
assimetrias e descentralizações entre os traçados (figura 32).
Figura 32. Figura ilustrativa dos desajustes das projeções gráficas dos traçados do IMP.
112
Os desajustes referentes à percepção das dimensões corporais nessa fase, além
dos apontamentos efetuados anteriormente sobre a necessidade de promover ações
corporais constantes que estimulem os canais sensoriais específicos e as características
conservadoras do esquema corporal, podem também ser derivados, conforme Longo et
al. (2010), com base nos apontamentos de Tanner, aos desajustes da propriocepção dos
adolescentes advindos do estirão de crescimento. Os autores relataram que as alterações
do crescimento nos adolescentes podem ultrapassar a capacidade somatoperceptiva
(esquema corporal) para atualizar o modelo de corpo por meio da localização
proprioceptiva, produzindo essas alterações, equívocos sistemáticos sobre a localização
de partes do corpo no espaço exterior. Ainda segundo Longo et al. (2010), estudos
recentes demostraram que o início dos desajustes de coordenação são intensificados
com o aumento da velocidade de crescimento, porém pouco se sabe sobre a natureza
específica do modelo de localização do corpo. Baroni et al. (2006), considerando os
apontamentos de Ekert e Gallahue, relataram que a aceleração do crescimento do
tamanho e forma do corpo parece não se adaptadar ao ritmo do desenvolvimento do
sistema sensório-motor, provocando assim baixo desempenho devido aos desajustes da
propriocepção. Embora haja apontamentos referentes à desorganização proprioceptiva
que ocorre durante a puberdade, Quatman-Yates (2012) manifestaram inquietações
referentes ao amadurecimento dos mecanismos sensório-motores relatando que não se
sabe ao certo quais mecanismos estão amadurecidos até a fase da adolescência.
Conforme relatamos anteriormente, por meio da análise dos traçados do
contorno corporal (IMP), constatamos que as dimensões dos diferentes segmentos
corporais são percebidas de forma irregular e, por meio dos dados obtidos através da
entrevista semiestruturada sobre a percepção das partes do corpo que se modificaram
durante a puberdade, verificamos que 86% dos púberes não identificaram as regiões
corporais (avaliadas por meio do IMP) que se alteraram durante o estirão de
crescimento. Esses dados revelam a imprecisão perceptual sobre as partes do corpo que
se alteram nesse período. Tais resultados evidenciam a desorganização da
somatopercepção (esquema corporal) e somatorepresentação (imagem corporal) e nos
permitem inferir que os jovens, durante a puberdade, desajustam a percepção sobre as
dimensões corporais, conforme ocorrem as alterações somáticas, as quais não são
identificadas e/ou são distorcidas também pelas influências do contexto sociocultural.
Os indivíduos poderão não identificar suas dimensões corporais reais, por decorrência
das transformações aceleradas do corpo e por estarem com sua atenção focada nas
113
gratificações exteriores, ao idealizarem que seus corpos sejam semelhantes aos modelos
considerados ideais (TAVARES, 2003). Não tendo a atenção focada no próprio corpo,
mas no exterior, e ao confrontar o corpo real com o idealizado, os indivíduos poderão
distorcer a percepção referente ao corpo real sobrepondo a esse o modelo ideal. Lawler
e Nixon (2011), ao investigarem 239 adolescentes com idade média de 16 anos,
verificaram que os diálogos entre os pares revelaram o emergir de críticas ao contrapor
a aparência ideal com o modelo real internalizado. Essa contraposição parece ser um
dos preditores significativos de insatisfação corporal; os autores relataram que, embora
a massa corporal exerça um diferencial para a insatisfação corporal, o anseio pelo corpo
ideal pode representar um processo psicológico subjacente à insatisfação corporal.
Mendonça et al. (2012) investigaram a influência de diferentes programas de
exercício físico na composição corporal e nas dimensões psicológicas de mulheres no
que se refere à satisfação corporal. Os autores relataram que poucas mulheres
investigadas nesse estudo tinham corpos com dimensões ideais (magro e menos
volumoso) e por esse motivo demonstraram-se insatisfeitas. Eles relataram ainda um
experimento realizado com o intuito de verificar a satisfação referente à imagem
corporal atual quando confrontada com o tipo físico ideal de mulheres e verificaram que
55% das mulheres almejaram atingir uma silhueta mais esguia e que apenas 24%
mostraram-se satisfeitas.
É importante mencionar que, além dos fatores discutidos, há também aspectos
relacionados aos estados de humor que poderão ocasionar desajustes à percepção das
dimensões corporais. Lawler e Nixon (2011) descreveram que a insatisfação com a
imagem corporal pode gerar depressão e que esse é um foco importante de investigação.
Lautenbacher et al. (1992) investigaram, por meio de diferentes técnicas, a percepção
sobre as dimensões corporais e a satisfação sobre o corpo de dois grupos de jovens do
sexo feminino, um que se alimentava de forma exacerbada e um de maneira restrita. Por
meio dos resultados obtidos, os autores relataram que os sujeitos que se privaram de
alimentação tendiam a superestimar o tamanho das dimensões corporais. A insatisfação
referente às dimensões corporais parece estar relacionada também aos estados
depressivos, e o estado depressivo pode afetar os aspectos visuais ou sentitivos que
predispõem os sujeitos a equívocos evidentes sobre a percepção do tamanho corporal.
É importante ressaltar também que as sociedades em um determinado momento
histórico e cultural estabelecem um modelo de corpo ideal, que, veiculado através dos
meios de comunicação de massa, propõem a noção de normalidade e do que é aceitável
114
esteticamente, o que de certa forma traz em si a competitividade. Sendo o adolescente
um questionador nato de sua própria normalidade, compara-se constantemente com os
modelos idealizados e tende, em suas buscas, a assemelhar-se com o modelo ideal, seja
ele um cantor, um jogador ou um ídolo. As diferentes tentativas de moldar o corpo são
influenciadas pelos valores culturais, os quais geram em meninas e rapazes
preocupações distintas quanto à aparência física (CHIPCKEVITCH, 1995).
Bell e Dittirma (2011) examinaram o tipo de mídia consumida, a respectiva
identificação com os modelos de corpos ideais e seus impactos sobre a imagem corporal
de 199 adolescentes do sexo feminino, de 14 a 16 anos do Sudeste da Inglaterra. Após
os resultados, concluiu-se que os modelos de corpos perfeitos veiculados por meio da
mídia geram insatisfação à imagem corporal, principalmente às meninas que se
identificam com os modelos expostos na mídia. Para Chipckevitch (1995), de forma
geral, os adolescentes que vivem imersos em uma sociedade consumista, repleta de
imagens, informações e conceitos que os direcionam ao consumo, tendem a se
transformar em consumidores potenciais. Seu corpo ao modificar-se rapidamente leva-
os a trocar roupas e sapatos frequentemente, seu apetite acentuado os faz consumidor de
alimentos, muitas vezes industrializados, sua curiosidade proveniente das
transformações emocionais e cognitivas os leva a interessar-se por jogos, videogames,
computadores, etc. Consideramos que nessa condição os adolescentes são movidos a
agir por impulsos que foram e são reforçados pelo meio exterior e que os levam ao
consumo e ao distanciamento de uma leitura corporal mais ajustada.
Com base nesses argumentos, percebe-se que a superestimação das dimensões
corporais da grande parcela de jovens desse estudo pode ser decorrente das alterações
corporais provenientes do período de estirão de crescimento, como também estar
associada a hábitos alimentares inadequados (que não foram investigados neste estudo),
inspirados pelo modelo ideal de corpo, induzida pelos estados de humor e pelos meios
de comunicação de massa.
No início da vida, o processo de recompensas iniciou-se diante das ações mais
singulares como engatinhar e andar, por exemplo; tais recompensas, em geral, são
fornecidas pelas pessoas do entorno ao valorizar os desempenhos das crianças, e
posteriormente, durante o curso do desenvolvimento, pelas pessoas do convívio social
mais amplo e pelo macrossistema. As gratificações sociais que se recebe desde criança
pelos vários comportamentos adotados não garantem a satisfação pela vida (figura 33).
Elas tendem a deslocar a atenção do indivíduo para o exterior que passa a se satisfazer
115
com o que culturalmente é aceitável; assim, as gratificações sociais poderão ao longo
dos anos levar o ser humano a se desconectar de suas sensações corporais e a agir de
forma inconsciente em busca de recompensas, direcionando, portanto, sua atenção ao
mundo exterior e não às sensações corporais que emergem diante das ações, aspecto
limitante para o desenvolvimento do ajuste da Percepção Corporal (TAVARES, 2003).
Dessa forma, consideramos que talvez a satisfação deslocada às recompensas advindas
do ambiente durante seu processo de formação e o anseio por realizar tarefas aceitas
socialmente se traduzam em um dos motivos do desajuste da percepção das dimensões
corporais na fase da puberdade, pois dessa forma a atenção não está centrada em si, em
seu corpo, mas no mundo exterior.
Figura 33. Influência das gratificações externas sobre o foco da atenção (esquema elaborado
com base nos apontamentos de (TAVARES, 2003)).
Segundo Oliveira (2011) e Tavares (2003), para que ocorra o desenvolvimento
da percepção corporal é necessário direcionar a atenção ao corpo e suas partes. Segundo
Meijsing (2000) e Mullis (2008), o processo inicial de aprendizagem de novas
habilidades exige grande esforço cognitivo e demanda de atenção. Nesse sentido,
consideramos que para o adolescente perceber, interiorizar e integrar as novas
dimensões do corpo que se alteram durante o estirão de crescimento, talvez seja
necessário promover estimulações específicas direcionando a atenção do adolescente às
dimensões corporais particulares, de forma a possibilitar que uma nova referência
interna de corpo seja estruturada. Para tanto, é importante considerar que a atenção
evolui com o avanço da maturação. Segundo Ladewig (2000), no início da vida a
atenção da criança é exclusiva, posteriormente inclusiva e na adolescência seletiva, e,
116
segundo Andrade (2004), o lobo frontal tende a amadurecer no final da puberdade
permitindo ao jovem que aprimore a atenção seletiva e tenha maior capacidade para
direcionar sua atenção aos aspectos relevantes ignorando os irrelevantes. No entanto,
vimos que só a maturação atencional não é suficiente para que o jovem processe
seletivamente as informações sobre o próprio corpo e suas partes (figura 34).
Consideramos que é necessário também, para promover o ajuste da percepção corporal,
direcionar a atenção a si de forma a identificar, conforme Damásio (2009), os marcos
somáticos que correspondem ao reconhecimento das emoções derivadas do corpo (self
objeto) e inerentes ao corpo, que propiciam o emergir (self conhecedor) da consciência
de si e do próprio corpo.
Figura 34. Desenvolvimento da atenção durante o processo de maturação (modelo elaborado
com base nos apontamentos de (LADEWIG, 2000 E ANDRADE, 2004)).
Ao analisarmos a percepção das dimensões corporais segmentares,
identificamos que os púberes de ambos os sexos da presente pesquisa perceberam as
dimensões segmentares de forma distinta. Identificamos que a percepção de cada
segmento corporal do sexo feminino não diferiu do masculino, dado que demonstra que
a percepção de ambos são similares para todos os segmentos. Verificamos ainda que os
adolescentes de ambos os sexos superestimaram as dimensões corporais dos ombros,
quadril e cintura sendo a cintura e depois o quadril as dimensões mais superestimadas.
117
Quanto à percepção das dimensões da cintura, identificamos que não houve
diferença estatisticamente significante entre os sexos e que essa foi a região que
apresentou maior superestimação em relação aos demais segmentos.
Embora tenhamos verificado que a percepção das dimensões corporais das
meninas não diferiu estatisticamente dos meninos, identificamos que as meninas
superestimaram as dimensões da cintura mais que os meninos. Ao contrapormos os
resultados da presente pesquisa com os dados obtidos por Segheto et al. (2010),
notamos que a superestimação da cintura das mulheres adultas é ainda maior que a dos
adolescentes do sexo feminino do nosso estudo. Esses dados nos fazem inferir que o
período da puberdade talvez sinalize o início dos desajustes da percepção das dimensões
corporais do sexo feminino, pois a superestimação da cintura das mulheres adultas é
maior que a dos adolescentes do sexo feminino. Essas informações podem demonstrar
que, da adolescência à fase adulta, a superestimação tende a se intensificar.
Na tentativa de compreender esse fenômeno, apresentaremos algumas reflexões
acerca dos fatores que talvez possam ter ocasionado tais desajustes perceptuais.
Identificamos em nosso estudo que os jovens de ambos os sexos com o avanço
da maturação sexual aumentaram o tempo de inatividade motora global. Inferimos que,
como consequência, também apresentem baixa concentração de atividades motoras
efetuadas com a região da cintura, resultando em não expansão da representação cortical
dessa região no homúnculo sensitivo. Segundo Medina & Cosllet (2010), as partes do
corpo mais estimuladas por meio de seu uso têm representações corticais mais
expandidas. A reduzida atividade corporal, somada à baixa concentração dos receptores
sensoriais localizados na região da cintura, talvez leve os indivíduos a ter uma
percepção difusa dessa região. Vale ressaltar ainda que a cintura não tem limite ósseo;
assim, sua constituição anatômica, associada aos estados variantes de vacuidade e
repleção gástrica, pode gerar imprecisão perceptual dessa região.
Consideramos ainda que o aumento do tempo de inatividade motora global,
associado aos aspectos anátomo-funcionais da região da cintura, somados aos
apontamentos de Tavares (2003), de que muitos idealizam um corpo perfeito, talvez seja
outro aspecto relevante a ser considerado na tentativa de explicar os motivos pelos quais
os púberes da presente pesquisa apresentaram uma percepção superestimada da cintura.
Graup et al. (2008) investigaram a percepção da imagem corporal e as possíveis
associações com alguns indicadores antropométricos, como o IMC, a porcentagem de
gordura, o perímetro da cintura e do quadril, de 467 escolares de 9 a 16 anos. Seus
118
achados revelaram que a insatisfação entre a imagem corporal atual com relação à ideal
está relacionada ao excesso de peso em ambos os sexos, principalmente no que se refere
à porcentagem de gordura. Segundo os autores, o sexo masculino idealiza ter um corpo
mais magro e robusto (musculoso) e o feminino, um corpo mais esguio.
Consideramos que, se tal região não for devidamente estimulada por meio de
atividades corporais específicas, que ativem principalmente os esquemas: superficial,
postural e o de tamanho e forma, essas representações corticais do esquema corporal
talvez sejam pouco estimuladas, e se paralelamente os jovens não forem instigados a
refletir sobre os aspectos sociais inerentes à cultura em que estão inseridos, que
estabelece um modelo ideal de corpo, dificilmente ocorrerão ressignificações da
somatorepresentação, e dessa forma, tendemos a considerar que os desajustes
perceptuais das dimensões corporais se perpetuarão da adolescência à fase adulta.
Em nosso estudo, verificamos que os jovens de ambos os sexos percebem as
dimensões da altura da cabeça menores do que realmente são, porém há pouca
diferença entre as dimensões percebidas com relação às reais (100%). Verificamos que
os resultados do nosso estudo são semelhantes aos dados de experimentos realizados
com adultos. De acordo com Segheto et al. (2011), Gama et al. (2009) e Thurm (2007),
a percepção das dimensões da cabeça são as que mais se aproximam de uma percepção
corporal segmentar real (100%). Segundo Segheto et al. (2011), a pouca diferença entre
a percepção da altura da cabeça em relação à dimensão real (100%) talvez se deva ao
fato de que a cabeça, por conter o encéfalo, possibilite ao indivíduo ter uma percepção
mais apurada do senso de posição e direção. Consideramos que esse dado é interessante
de se observar, pois o adolescente poderia desajustar muito a percepção da altura uma
vez que, ao passar pelo estirão de crescimento, sua estatura se modifica aceleradamente.
No entanto, observamos, de acordo com os resultados obtidos, que a percepção da altura
da cabeça parece ter se ajustado rapidamente às dimensões reais (IPC – 100%).
Supomos que a pequena diferença entre a dimensão real e percebida talvez possa ser
decorrente também da postura cifótica adotada por muitos adolescentes. Embora não
tenhamos avaliado as atitudes posturais, denotamos importante relatar os apontamentos
de Smith et al. (2011), que revelaram a combinação entre a inatividade física e o
aumento de peso como fatores associados à adoção de atitudes posturais inadequadas,
sendo uma delas a cifótica (tronco fletido). Inferimos que, ao adotar tal postura, os
púberes, possivelmente, quando estão em pé, passam grande parte do tempo olhando
119
para o chão, fato que pode fazer com que os jovens distorçam o senso de posição da
cabeça em relação à dimensão real, mesmo sendo a altura da cabeça uma das dimensões
corporais que é constantemente notada, principalmente quando o jovem se vê no
espelho. Fonseca, C. (2008), ao analisar a influência da dança de salão no esquema e
imagem corporal de indivíduos iniciantes, identificou que os praticantes constantemente
olhavam para baixo por apresentarem dificuldades referentes à sincronização dos pés. A
autora relatou que a atenção constante do olhar direcionado para baixo pode ter
resultado na percepção subestimada da dimensão da altura (dimensão da cabeça).
Portanto, seria importante pesquisar a relação da direção do olhar e a adoção de atitudes
posturais cifóticas com a percepção da dimensão corporal da altura. Além das
considerações efetuadas, Caetano (2010) relatou que para Gomes quando os indivíduos
são envergonhados, tendem a adotar uma postura cifótica (com anteriorização da
cabeça) como ocorre com algumas meninas que, na fase da adolescência, tentam
esconder as mamas. Esse é um dado importante a se considerar, pois, segundo
Chipkevitch (1995), a fase da adolescência é caracterizada por um processo de
elaboração e reelaboração, de autorreformulações constantes, e a incompreensão
referente às alterações somáticas podem gerar desconforto emocional.
No que se refere às dimensões do quadril, identificamos que essa foi a segunda
região mais superestimada. Valença e Germano (2009) relataram o estudo realizado por
Conti que objetivou verificar a percepção da imagem corporal de 147 adolescentes, 52
meninos e 95 meninas; para tal, avaliou o estado nutricional (IMC) e a imagem
corporal. Seus resultados revelaram que a maior insatisfação corporal dos meninos
concentrou-se nas regiões dos ombros e costas (região dorsal) e das meninas nas partes
como o rosto, cabeça, quadril, abdômen, cintura, tórax e mamas. Os autores concluíram
que na adolescência há conflitos referentes à percepção da imagem corporal que estão
relacionados aos distintos padrões de beleza socialmente impostos para os sexos
feminino e masculino, que estimulam os indivíduos a almejar transformar as partes do
corpo consideradas indesejáveis. De acordo com esse estudo, apenas as meninas
demostraram insatisfação em relação ao quadril.
Se levarmos em consideração que, durante o período do estirão de crescimento,
segundo os apontamentos de Malina & Bouchard (2002), a largura dos quadris
(bitrocantéricas) nas meninas se expandem mais que nos meninos, inferimos que a
percepção corporal do quadril de ambos os sexos deveria se diferir, as garotas
120
apresentando uma percepção mais superestimada das dimensões do quadril do que os
rapazes. No entanto, de acordo com os resultados obtidos nesta pesquisa, constatamos
que a percepção das dimensões dos quadris entre os sexos não diferiu (IPC do quadril
feminino = 127,24% e masculino = 123,24%), porém as alterações (somáticas) dos
quadris dos jovens do sexo masculino e feminino diferem, o que nos faz indagar que
talvez não sejam as alterações somáticas que promovem uma percepção superestimada
dessa região.
Se tentarmos justificar a percepção superestimada do quadril como um
fenômeno derivado dos anseios de se ter um corpo perfeito, talvez fosse um relato
afirmativo para as meninas ao serem influenciadas por um modelo de corpo esguio, mas
seria essa justificativa plausível aos anseios do sexo masculino? Segundo o estudo de
Valença e Germano (2009), os rapazes não indicaram insatisfação referente à região do
quadril, apenas as meninas. Por não encontrarmos justificativas aceitáveis,
consideramos que essa inquietação merece investigações mais específicas.
Quanto às dimensões do ombro, identificamos que os jovens de ambos os sexos
perceberam as dimensões dos ombros maiores do que são. Verificamos que as horas
semanais de atividades de coordenação motora fina proporcionaram ajustes à percepção
da dimensão corporal dos ombros. Segundo Gama et al. (2009), as ações corporais
ativam as aferências cinestésicas e proprioceptivas, e essas enriquecem os inputs
sensoriais ocasionando ajustes do esquema corporal. Contudo, de acordo com Segheto
et al. (2011) as influências das atividades motoras sobre o desenvolvimento do esquema
corporal ainda não foram bem esclarecidas. Os autores, ao analisarem a relação entre o
nível de atividade física e o esquema corporal de adultos, não encontraram relações.
Eles relataram que os resultados encontrados foram contraditórios aos da literatura e
supuseram que as atividades precisariam ser direcionadas a um canal perceptual
peculiar a fim de promover efeitos no ajuste do esquema corporal.
Consideramos que as atividades do cotidiano efetuadas pelos adolescentes,
realizadas com as mãos, possivelmente tenham ativado a sensibilidade proprioceptiva e
cinestésica da articulação dos ombros. Tais movimentos, além de estimularem a
sensibilidade proprioceptiva e cinestésica, conforme Longo et al. (2010), também
ativam a representação cortical referente ao esquema corporal de tamanho e forma das
dimensões dos segmentos estimulados, o que pode ter levado os púberes da presente
pesquisa, por meio de movimentos efetuados cotidianamente, como escovar os dentes,
121
pentear os cabelos, coçar, escrever, manipular o mouse do computador, teclado,
joystick, etc., a ajustarem a percepção das dimensões corporais deste segmento.
Observamos ainda, que a percepção da largura dos ombros das meninas e
meninos desta pesquisa, não diferiu, contudo as alterações corporais (somáticas) dos
ombros dos jovens do sexo feminino e masculino diferem. Segundo Malina &
Bouchard (2002), durante o estirão de crescimento os meninos expandem a largura dos
ombros (dimensões biacromiais) mais do que as meninas. Conforme Chipkevitch
(1995), o ganho masculino da puberdade à fase adulta, referente à largura dos ombros
(biacromial) corresponde a 21% e do feminino a 17%. Por não encontrarmos respaldo
científico que explicasse a não distinção da percepção corporal dos ombros entre os
sexos, sugerimos que investigações a respeito sejam efetuadas.
Antes de discorrermos sobre a análise do desempenho da Destreza Manual, é
interessante refletir sobre os apontamentos de Schimidt & Wrisberg (2010), defendidos
por Schimidt, de que, ao nos movimentar, utilizamos um programa motor generalizado
que corresponde à existência de um padrão de movimento flexível e não específico, o
qual possibilita ao ser humano movimentar-se de forma variada sem necessitar de um
esquema para cada alteração do movimento corporal. Segundo o autor, o programa
motor generalizado possibilita ao indivíduo o ajuste das ações corporais em função das
demandas do ambiente para alcançar um determinado fim. Vignemont et al. (2010)
relataram que o Esquema Corporal permite ao ser humano localizar as partes do corpo,
identificar os ângulos articulares, suas dimensões e formas, possibilitando ao indivíduo
guiar suas ações. De acordo com os apontamentos de Vignemont e Schimidt,
consideramos que o Modelo Postural de Corpo (Esquema Corporal) opera de forma
semelhante ao Programa Motor Generalizado, pois ambos são esquemas que
possibilitam ao indivíduo guiar suas ações. Deduzimos então que os autores atribuem
nomenclaturas diferentes a uma estrutura corporal com características muito similares.
Schimidt & Wrisberg (2010) citaram o estudo de Raibert que investigou o
fenômeno da flexibilidade do Programa Motor Generalizado demonstrando que, ao
escrever uma sentença utilizando diferentes sistemas efetores, tais como: escrever com a
mão direita (dominante), com o punho imobilizado, com a mão não dominante, com a
caneta presa entre os dentes e com o pé, embora se tenha utilizado diferentes sistemas
efetores, os desempenhos foram semelhantes. Dessa forma, o autor relatou que o
programa motor generalizado é flexível e possibilita que diferentes movimentos possam
122
ser adaptados às situações, para isso recorre-se à percepção corporal (esquema corporal)
para o planejamento e organização de respostas imediatas, diante de diferentes situações
ambientais. Considera-se então que o programa motor generalizado possibilita que se
efetuem habilidades motoras de caráter filogenético (alcançar, segurar, soltar, andar,
correr, girar) com variações sem que haja a necessidade de programas específicos para
cada variação das ações.
No entanto, vimos por meio dos resultados obtidos nesta pesquisa que as
atividades motoras pregressas (atividades motoras generalizadas praticadas desde a
infância) não ocasionaram ajustes à percepção da dimensão corporal geral e dos ombros
(figura 35) e tais dimensões não apresentaram relações com a destreza manual, nem
com a capacidade de localização das mãos (figura 36).
Figura 35. Relações entre as Atividades Motoras Pregressas com o IPC Geral e dos Ombros.
Figura 36. Relação entre a Percepção das Dimensões Corporais Geral e dos Ombros com a
Destreza manual e com a Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos.
123
Se o esquema corporal, conforme Vignemont et al. (2010) é dotado de um
sistema flexível que possibilita ao indivíduo guiar as diferentes ações de forma
eficiente, consideramos que deveria existir relações entre a percepção da dimensão
corporal geral e dos ombros com a destreza manual e capacidade de localização das
mãos, mas não houve. Contudo identificamos que as atividades motoras pregressas
associadas às atividades motoras específicas, como as horas dispendidas com atividades
de coordenação motora fina, promoveram progressos do desempenho da Destreza
Manual Dominante (figura 37), lado mais estimulado pelas atividades do dia a dia, dado
que nos faz pensar que há esquemas corporais específicos que especializam suas
funções por meio de estimulações corporais mais particularizadas, uma vez que as
representações corticais de cada parte do corpo apresentam representações
somatotópicas específicas. Assim, consideramos que talvez haja um esquema corporal
geral e outros específicos. Conforme Gallahue & Ozmunn (2013), as habilidades mais
específicas (ontogenéticas) necessitam de estimulações apropriadas para serem
aprendidas, como foi o caso da melhoria do desempenho da destreza manual dominante.
Tabela 37. Relação entre as Atividades Motoras Pregressas e as Horas Semanais de Praxia Fina
com os desempenhos da Destreza Manual.
Embora tenhamos exposto as considerações acerca das estruturas gerais e
específicas do esquema corporal, de acordo com os resultados encontrados no teste de
destreza manual, inferimos que, para efetuar habilidades motoras mais complexas e
específicas (ontogenéticas) como transportar blocos com as mãos, é necessário que se
pratique ações corporais de forma específica até que essa seja integrada ao esquema
corporal. É possível que as práticas específicas direcionadas a cada parte do corpo
possibilitem a melhoria de desempenhos particulares, por estabelecerem alças
exclusivas entre sistemas sensório-motores peculiares, com representações específicas
124
do esquema corporal, formando dessa maneira mapas neuromotores específicos que,
uma vez integrados, poderão possibilitar ações diversificadas (generalizadas) para
atender às demandas do ambiente.
Constatamos também que o desempenho da destreza manual dominante
melhorou no estágio de maturação IV. Conforme Haywood & Getchell (2010), com o
processo de desenvolvimento do indivíduo, ocorre o aumento do número de sarcômeros
e a melhoria da capacidade de ativar maior número de unidades motoras. Consideramos
que talvez esses fatores possam resultar em melhoria da coordenação neuromuscular
quando associadas a atividades do cotidiano. Inferimos que esses controladores de taxa
(sarcômeros e capacidade de ativar unidades motoras) associados às atividades motoras
pregressas tais como segurar, arremessar, lançar, volear, empurrar, puxar, etc., são ações
que estimulam também o movimento dos membros superiores e das articulações dos
ombros e que, conciliadas às horas semanais dispendidas com atividades de
coordenação motoras fina, são fatores relevantes que contribuíram para a melhoria do
desempenho da destreza manual dominante.
Identificamos também que as horas de praxia fina não ocasionaram progressos
do desempenho da destreza manual do lado não dominante, mas influenciaram
positivamente os desempenhos do lado dominante. Possivelmente, pelo tempo de
prática e pela especificidade do seu uso. Isso nos permite pensar que apenas as
restrições do indivíduo (maturação, sarcômeros e a capacidade de ativar unidades
motoras) não são, por si só, suficientes para ocasionar a melhoria do desempenho da
destreza manual.
Pensamos que seja necessária a interação entre as restrições do indivíduo, do
ambiente e da adequação das tarefas (prática), principalmente no que se refere ao
emprego de tarefas específicas, que possibilitem o desenvolvimento de esquemas
corporais específicos. Para Mulllis (2008), há esquemas que permitem affordances
naturais na relação com o meio e um sistema integrado de programas motores que
permitem a realização de movimentos específicos como os artísticos e esportivos e que
refletem affordances diante de objetos e contextos específicos. Portanto, consideramos
que o esquema corporal é flexível e possibilita o planejamento de ações corporais para
guiar as habilidades motoras mais habituais; contudo, sugerimos que talvez haja
esquemas corporais específicos, que, uma vez desenvolvidos, darão sustentação à
125
solução de ações particularizadas. O autor relata ainda que a prática é essencial para
desenvolver affordances de natureza específica.
Com base nessas considerações, julgamos que, para avaliar a relação do
esquema corporal com os desempenhos motores, será necessário avaliar o desempenho
de habilidades motoras específicas que talvez sejam provenientes de modelos posturais
específicos (esquemas corporais específicos) e da integração de capacidades motoras
específicas que se expressam durante a realização de ações particularizadas, pois os
indivíduos dotados de excelentes desempenhos manuais não necessariamente terão bons
desempenhos pedais. Tais desempenhos poderão diferir pela localização da
representação cortical de cada parte do corpo, pelas capacidades motoras geneticamente
estabelecidas e pelas especificidades das tarefas propostas a cada indivíduo.
Ao analisar os desempenhos da capacidade de localização proprioceptiva das
mãos, verificamos que as horas dispendidas com atividades de coordenação motora fina
e os meses de atividades motoras globais praticadas desde a infância, não ocasionaram
progressos aos desempenhos da capacidade de localização das mãos (figura 38).
Figura 38. Relações entre as Atividades Motoras Pregressas e as Horas Semanais de Praxia Fina
com a Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos.
Com base nos apontamentos de Longo et. al (2010), consideramos que o
indivíduo, para efetuar tarefas que exijam a capacidade de localização das mãos, antes
de realizar a ação, recorre aos esquemas de tamanho e forma e ao modelo postural, e,
com base em Bremner et al. (2009), durante a ação o sistema nervoso é orientado e guia
o movimento por meio da sensibilidade proprioceptiva, pois a tarefa é efetuada sem o
auxílio da visão. Dessa forma, os desempenhos referentes à capacidade de localização
das mãos estão associados essencialmente às informações proprioceptivas e às áreas
corticais correspondentes.
126
Conforme discutimos anteriormente, inferimos que o esquema corporal não se
adaptou às alterações corporais na mesma velocidade com que as transformações
anatômicas se processaram durante a puberdade. Segundo Vignemont (2010), durante a
realização de ações motoras, há um confronto entre as informações atuais de curto prazo
(posições corporais atuais) com as informações corporais de longo prazo anteriormente
armazenadas (adquiridas ao longo dos anos). Tais informações são confrontadas para
ajustar as ações atuais e para prever ações futuras. Presumimos que as dimensões
corporais atuais (comprimento dos membros superiores, largura dos ombros)
provenientes da fase da puberdade, não sendo rapidamente incorporadas ao esquema de
tamanho e forma, provavelmente levem os indivíduos a ter dificuldades para atualizar
com precisão a angulação das articulações para predizer e planejar ações futuras; talvez,
por esse motivo, os jovens não demonstraram progressos referentes aos desempenhos da
capacidade de localização das mãos.
Segundo Ivanenko et al. (2011), perceber as dimensões espaciais do corpo e
segmentos é essencial para que uma pessoa possa se mover no espaço; é necessário
também perceber a posição de cada articulação e do corpo como um todo para elaborar
um programa de ação e reconhecer a posição do corpo em relação ao espaço e objetos
móveis e imóveis. Se levarmos em consideração que os desempenhos da capacidade
proprioceptiva de localização das mãos, diferentemente da destreza manual, dependem
mais das representações de tamanho e forma associadas à sensibilidade proprioceptiva,
sem o auxílio da visão, deduzimos que, para promover melhorias, é necessário estimular
suas vias específicas de representação para a concretização dos movimentos,
conciliando ao movimento o toque sobre a pele nas regiões corporais específicas
envolvidas na ação.
Cañeiro et al. (2003) averiguaram o efeito do uso de Brace no senso de posição
articular do tornozelo de 14 indivíduos sadios: os achados indicaram que esse
instrumento pode ser benéfico como um instrumento facilitador para sensibilizar as vias
proprioceptivas, uma vez que ele estimula o fuso neuromuscular, via receptores
cutâneos, possibilitando assim o aumento da capacidade de reconhecimento e
reposicionamento de determinados ângulos articulares. Conforme os autores, a pressão
exercida pelo Brace flexível pressiona a musculatura, a cápsula articular subjacente e a
pele do segmento estimulado, excitando assim os receptores de adaptação rápida
(corpúsculos de Meisser, discos de Merkel e folículos pilosos). Por meio desse
127
experimento, os autores concluíram que a pressão exercida sobre os receptores cutâneos
aumentou a precisão do senso de posição.
Constatamos em nosso estudo que o desempenho da capacidade de localização
proprioceptiva das mãos dos púberes não sofreu influência das horas semanais de praxia
fina, nem das atividades motoras pregressas, talvez porque as atividades do dia a dia não
estimulem de forma associada os receptores proprioceptivos e táteis. O estímulo
proprioceptivo ativa o esquema corporal de tamanho e forma, responsável pela
localização e pela identificação do tamanho das partes do corpo, e os estímulos táteis
ativam o esquema corporal superficial, referente à percepção das dimensões do contorno
corporal.
Medina & Cosllet (2010) relataram que os estudos efetuados por Penfield e
colaboradores revelaram que diferentes áreas da superfície da pele têm organizações
somatotópicas específicas. Segundo os autores, as partes do corpo mais estimuladas por
meio do uso têm representações corticais mais ampliadas e com maior desenvolvimento
da sensibilidade. Segundo Medina & Cosllet (2010), Penfield e colegas não
investigaram desde a infância como a organização somatotópica do cérebro se altera de
acordo com as experiências. Os autores relataram que estudos realizados com animais
indicaram que a estimulação específica na superfície da pele resultou na expansão das
representações somatosensoriais das áreas estimuladas. Eles revelaram também que a
falta de estimulação tátil ocasiona a deteriorização de mapas somatosensoriais, como no
caso da amputação. Ainda segundo os autores, estudos efetuados com humanos
indicaram também que a estimulação sobre a pele ocasiona a expansão de
representações corticais. Medina & Cosllet (2010) relataram que um estudo efetuado
com violinistas e não violinistas indicou que as representações no sulco intraparietal
referentes à área dos dígitos dos violinistas eram significativamente maiores do que os
indivíduos não violinistas do grupo controle. Os autores citaram ainda um estudo
efetuado com leitores da escrita Braile revelando que as áreas dos dígitos mais
utilizadas ocupavam maior representação somatosensorial do que as menos estimuladas
e principalmente ao se comparar a mão treinada com a não treinada. Os autores
descreveram também que os pianistas desenvolvem maior discriminação tátil em
relação aos não músicos pertencentes ao grupo controle. Esses estudos demonstraram
que o uso diferencial da superfície da pele ocasiona aumento do tamanho da
representação somatosensorial e melhoria da percepção tátil. Segundo Longo et al.
(2010), para identificarmos as dimensões das partes do corpo é necessário recorrer ao
128
esquema superficial e ao modelo de tamanho e forma do corpo. Com base nos
apontamentos efetuados, inferimos que para isso é imprescindível estimular esse
esquema por meio de vias específicas para o alcance de um bom desempenho da
capacidade de localização das mãos, não sendo qualquer atividade motora inespecífica
responsável por ocasionar melhorias de seu desempenho. Segundo Ivanenko et al.
(2011), o processamento proprioceptivo tende a diferir em posições estáticas e em
movimento. Quando em movimento, o sistema de controle da ação tende a estabelecer
relações entre os parâmetros da ação com as proporções do tamanho dos segmentos. De
acordo com Ivanenko et al. (2011), segundo Capaday & Cooke (1981), em condições
dinâmicas a sensibilidade dos receptores dos fusos nos músculos encurtados é
diminuída, e a informação relativa à posição do membro durante o movimento é
originária principalmente dos músculos alongados. Assim, vemos que a entrada
sensorial que vem de vários canais proprioceptivos é processada de maneira diferente
em condições estáticas e dinâmicas. Dessa forma, nota-se que para efetuar ações
motoras com os segmentos corporais que exijam precisão, como a tarefa de localização
proprioceptiva das mãos, não basta apenas identificar o tamanho e a forma dos
segmentos corporais, é necessário incorporar o tamanho e a forma, também de maneira
dinâmica ao modelo postural, ou seja, por meio da ação corporal. Vimos anteriormente
que os praticantes novatos ao utilizar pernas de pau não incorporaram esse instrumento
ao esquema corporal, mesmo tendo consciência em posição estática do tamanho
adicionado aos membros inferiores, conforme o experimento de Ivanenko et al. (2011).
Portanto, utilizam-se de forma integrada os seguintes componentes do esquema
corporal: o postural, o de tamanho e forma (métrico) e o superficial que são
representações do corpo evocadas para o planejamento das ações motoras, ou seja, tais
elementos antecedem a ação. Tal processo envolve a construção perceptual de mapas do
estado presente do corpo e das entradas dos estímulos sensoriais. A integração dos três
componentes do esquema corporal são essenciais para que as ações corporais sejam
ordenadas de forma eficiente, e o desajuste de um desses componentes pode ocasionar
prejuízos ao desempenho das ações motoras.
Neste estudo identificamos algumas limitações como: a constatação de que o
teste de marcação do esquema corporal (IMP) não foi suficiente para avaliar a relação
entre a Percepção das Dimensões Corporais com os desempenhos manuais, pois o IMP
avalia os Esquemas: Superficial, Postural e o de Tamanho e Forma das regiões da
129
cabeça, ombros, cintura e quadris, porém não avalia a percepção sobre as dimensões dos
membros superiores, informações fundamentais para o controle das ações manuais
(destreza manual/capacidade de localização das mãos). Por meio dos estudos realizados
constatamos que o esquema superficial tem relações com as adaptações do corpo ao
espaço e não com o controle das ações motoras, as quais necessitam de provas motoras
específicas para serem avaliadas. Identificamos que a distribuição dos participantes
pelos estágios de maturação sexual de I a IV caracterizou-se como heterogênea.
Julgamos que, para obter resultados ainda mais precisos referentes aos aspectos
investigados, se faz necessário compor a amostra com grupos homogêneos em termos
de distribuição da maturação sexual e, por fim, consideramos que a realização de uma
avaliação da classe social e econômica possibilitaria compreender melhor as
características particularizadas do grupo e suas influências sobre a percepção das
dimensões corporais.
130
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio dos resultados obtidos, constatamos que os púberes apresentaram
desajustes da Percepção das Dimensões Corporais e que não há diferença entre os sexos.
A desorganização das projeções dos traçados do IMP e a não identificação das
partes do corpo que se alteram durante a puberdade evidenciaram desajustes da
Somatopercepção (Esquema Corporal) e Somatorepresentação (Imagem Corporal).
As atividades motoras praticadas desde a infância, as horas semanais
dispendidas com atividades de coordenação motora fina e as horas semanais de
inatividade motora global não apresentaram relações com os resultados da percepção
das dimensões corporais gerais dos jovens. Consideramos que o desajuste da percepção
das dimensões corporais geral e segmentar dos púberes talvez se deva à falta de
estimulação proprioceptiva conciliada à tátil e a falta de consciência dos fatores sociais
e culturais que direcionam a percepção dos púberes. Embora apresentemos essas
hipóteses, estudos referentes precisam ser realizados.
As horas semanais de praxia fina ocasionaram ajustes à percepção da dimensão
corporal dos ombros.
Identificamos que os desajustes da Percepção das Dimensões Corporais Geral e
dos Ombros não influenciaram os desempenhos motores (destreza manual e capacidade
de localização proprioceptiva das mãos).
As atividades motoras pregressas ocasionaram melhorias ao desempenho da
destreza manual dominante e não dominante; contudo, as horas semanais de praxia fina
promoveram melhorias apenas ao desempenho da destreza manual dominante.
Deduzimos que a melhoria do desempenho ocorreu porque o uso mais contínuo da mão
dominante ativou predominantemente o Esquema Postural e de Tamanho e Forma por
meio da estimulação de vias neurais específicas, indicando que possivelmente, as
práticas específicas ativam representações corporais específicas (Modelo Postural e de
Tamanho e Forma) e estas, favorecem o planejamento adequado das ações resultando
em melhorias do desempenho motor.
131
Identificamos que, ao amadurecer, os jovens diminuem o tempo dispendido com
atividades motoras globais, permanecem mais tempo sentados e aumentam o tempo
dispendido com atividades de coordenação motora fina, escrevendo, manipulando o
mouse do computador, teclado, joystick, etc.
Os desempenhos da capacidade de localização proprioceptiva das mãos não
foram influenciados pelas atividades motoras pregressas, pelas horas semanais de
inatividade motora global e nem pelas horas semanais de coordenação motora fina.
Consideramos que, para haver melhoria do desempenho da capacidade de localização
proprioceptiva das mãos, talvez seja necessário estimular por meio de atividades
específicas os receptores proprioceptivos e os táteis, de forma a ativar a representação
cortical de tamanho e forma e superficial dos segmentos corporais. No entanto,
propomos que sejam efetuadas pesquisas específicas para comprovar tal suposição.
Entendemos que atividades motoras pregressas efetuadas pelos púberes não
estimularam o Esquema Superficial responsável pela percepção das dimensões do
contorno corporal, pois os desajustes referentes à percepção da dimensão corporal geral
não apresentaram relações com as atividades motoras globais praticadas desde a
infância. Talvez o Esquema Superficial para ser ativado necessite principalmente das
estimulações táteis integradas às proprioceptivas. O Esquema Superficial é estimulado
principalmente por meio do toque sobre a pele. Dessa forma, inferimos que para ajustar
a percepção sobre a dimensão corporal geral seja necessário estimular, além do
Esquema Superficial, o Esquema Postural e o de Tamanho e Forma, associados aos
marcos somáticos (emoções derivadas do corpo), a fim de que as sensações corporais
possam emergir de forma consciente (self conhecedor) possibilitando ao indivíduo
ampliar a percepção sobre suas dimensões corporais reais.
A percepção das dimensões corporais podem ter apresentado desajustes também
por falta de amadurecimento atencional, o que pode ter impossibilitado o direcionar da
atenção às partes corporais que se modificaram na fase da puberdade.
Julgamos não ser correto relatar que o Esquema Corporal está ajustado ou
desajustado, pois ao nosso ver, isso é uma afirmação genérica. Se considerarmos que há
três componentes do esquema corporal que o constituem, como o Postural, o de
132
Tamanho e Forma e o Superficial, é necessário identificar qual deles está defasado ou
ajustado. Portanto, sugerimos reflexões acerca da avaliação do esquema corporal no
sentido de identificar seus atributos, tais como, a percepção sobre: a dimensão do
contorno corporal, a localização das partes, o tamanho e forma dos segmentos, a
localização tátil do toque sobre a pele etc. Assim procedendo, poderemos obter
informações mais específicas para promover intervenções apropriadas.
Para finalizar, consideramos importante que novas pesquisas sejam efetuadas
como:
– Relacionar o esquema superficial que corresponde à percepção referente às
dimensões corporais (mensurado por meio do teste de marcação do esquema corporal–
IMP), à adequação do corpo ao espaço.
– Efetuar pesquisas com o mesmo desenho experimental ampliando o número de
participantes e com distribuição homogênea dos índices de maturação sexual de I a IV.
– Avaliar a reprodutibilidade dos testes de Marcação do Esquema Corporal
(IMP) e do teste de Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos.
– Analisar os efeitos da estimulação proprioceptiva conciliada à estimulação do
toque sobre a pele, sobre a percepção das dimensões corporais aplicadas a grupos
controle e experimental.
– Analisar o efeito de intervenções que levem os indivíduos a direcionar a
atenção de forma a reconhecer as emoções derivadas do corpo (marcos somáticos – self
conhecedor) relacionadas à percepção das dimensões corporais, aplicadas a grupos
controle e experimental.
– Analisar a relação entre a percepção das dimensões de diferentes segmentos
corporais com habilidades motoras efetuadas com distintos segmentos corporais.
133
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VIGNEMONT, F. Body schema and body image-pros and cons. Neuropsychologia,
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141
ANEXO – I
PRANCHAS DE AVALIAÇÃO DOS CARACTERES SEXUAIS FEMININO
Compare-se com cada figura e assinale com um X a que mais se parece com você.
Compare-se com cada figura e assinale com um X a que mais se parece com você.
142
FICHA CADASTRAL – SEXO FEMININO – No. _____________
Nome: _____________________________________________ Série: ______________
Idade: _________________ Período: _____________ Data: _____/ ________ / ______
ESTÁGIO DE DESENVOLVIMENTO DAS MAMAS
( ) M 1
( ) M 2
( ) M 3
( ) M 4
( ) M 5
ESTÁGIO DE PILOSIDADE PUBIANA FEMININA
( ) P 1
( ) P 2
( ) P 3
( ) P 4
( ) P 5
Já teve a primeira menstruação?
( ) Sim: com quantos anos?_____________ ( ) Não
143
PRANCHAS DE AVALIAÇÃO DOS CARACTERES SEXUAIS MASCULINO
Compare-se com cada figura e assinale com um X a que mais se parece com você.
Compare-se com cada figura e assinale com um X a que mais se parece com você.
144
FICHA CADASTRAL – SEXO MASCULINO – No. _____________
Nome: _____________________________________________ Série: ______________
Idade: _________________ Período: _____________ Data: _____/ ________ / ______
ESTÁGIO DE DESENVOLVIMENTO DOS GENITAIS
( ) G 1
( ) G 2
( ) G 3
( ) G 4
( ) G 5
ESTÁGIO DE PILOSIDADE PUBIANA MASCULINA
( ) P 1
( ) P 2
( ) P 3
( ) P 4
( ) P 5
147
APÊNDICE – I
Questionário de Atividades Motoras Atuais e Pregressas
Ficha de dados Pessoais:
Nome:______________________________________________________
Idade: _______________________ Data de nascimento ___/ ____/ _____
Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
Você percebeu alguma parte do corpo que cresceu rapidamente nos últimos tempos (durante a
sua adolescência)? Quais? Essas alterações interferem (ou interferiram) em alguma atividade do dia a dia?
Explique?_____________________________________________________________
________________________________________________________________
1. Além das aulas de Educação Física você pratica alguma atividade física, recreativa
(passeios, etc.) ou esportiva?
a. ( ) Sim b. ( ) Não
2. Se não, por quê?
a. ___________________________________________________________________
_____________________________________________
3. Se sim, quais?
Modalidades Vezes /
Semana
Tempo de
Duração
Tempo Total Observações
1-
2-
3-
4-
5-
4. Quais foram as atividades físicas, recreativas ou esportivas que você já praticou?
Atividades Desde quando Até quando Tempo Total
1-
2-
3-
5. Quanto tempo você gasta assistindo TV, jogando Videogame, mexendo no Computador ou
realizando outras atividades (sentado(a) ou deitado (a))?
Modalidades Vezes /
Semana
Tempo de
Duração
Tempo Total Observações
1- 1-TV
2- Game
3-Computador
4-
5-
148
APÊNDICE – II
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
Eu, ________________________________________________________________, responsável pelo (a)
menor_______________________________________________________________ tenho ciência que o
mesmo foi convidado (a) para participar da pesquisa sobre IMPACTO DAS TRANSFORMAÇÕES
SOMÁTICAS DO PÚBERE SOBRE A PERCEPÇÃO CORPORAL, RELAÇÕES COM A DESTREZA
MANUAL E CAPACIDADE DE LOCALIZAÇÃO PROPRIOCEPTIVA DAS MÃOS, de
responsabilidade dos pesquisadores Maurício José de Siqueira Cagno e Eliane F. Gama, do Programa de
Pós Graduação em Educação Física da Universidade São Judas Tadeu em São Paulo. Fui informado (a)
que o participante será submetido a uma avaliação sobre a Percepção da dimensão corporal e localização
de partes do corpo. Assim declaro que tomei conhecimento dos seguintes pontos que envolvem a
pesquisa:
1. O objetivo da presente pesquisa consistirá em identificar qual é a Percepção Corporal de
adolescentes de ambos os sexos em cada faixa etária que compõe o período do estirão de crescimento
(período de crescimento acelerado que ocorre na fase da adolescência) e verificar se a Percepção Corporal
do adolescente condiz com a dimensionalidade (proporções que o corpo tem) corporal real;
2. O teste será realizado nas dependências da escola, sempre acompanhado por um representante
da instituição e em horários que os responsáveis pela escola julgarem mais adequados para que não haja
prejuízos no rendimento escolar. Para a realização do teste de Percepção Corporal (Esquema Corporal), o
avaliado deverá usar camiseta, bermuda e ficar sem calçado. Durante a avaliação ele (a) ficará com os
olhos fechados e vendados em posição ortostática (isto é, em pé). O examinador tocará nos seguintes
pontos do corpo: cabeça, ombros, cintura e quadril e o avaliado deverá apontar com o dedo indicador
onde se projetam esses pontos na parede à sua frente, como se estivesse diante de um espelho. Em
seguida, será aproximado à parede pelo examinador para que ele faça a marcação real do seu Esquema
Corporal dos mesmos pontos;
3. Com o objetivo de identificar a Percepção do sujeito sobre o seu crescimento perguntaremos
ao (a) adolescente. Você percebeu alguma modificação (ou alteração) no crescimento de alguma parte do
seu corpo durante este ano? Essa alteração interfere (ou interferiu) em alguma atividade do dia a dia?
Explique?
4. Para a avaliação da maturidade biológica, será proposta a autoavaliação das características
sexuais secundárias, o adolescente receberá uma prancha (folha), elaborada por profissionais da área da
saúde e largamente utilizada em diversas pesquisas científicas. A prancha masculina (meninos) contém
cinco desenhos diferentes dos órgãos genitais e pelos pubianos, e a prancha feminina contém cinco
desenhos diferentes das mamas (seios) e pelos pubianos. Com explicação prévia e de forma individual, o
adolescente indicará uma imagem que corresponde a um dos cinco estágios em que seu corpo se encontra
naquele momento. As imagens focalizam apenas a silhueta (contorno) das regiões citadas, e cada uma se
refere a um estágio de maturação biológica. Cada desenho representa uma etapa de maturação biológica
da adolescência em que as aparências se modificam com o avanço da idade.
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5. Para verificarmos a relação entre a coordenação das mãos com a percepção das dimensões
corporais, aplicaremos um teste cujo objetivo consistirá em transportar com uma das mãos o maior
número de blocos de madeira de um lado para o outro lado da caixa, durante o tempo de um minuto. O
teste será aplicado em um ambiente silencioso, com o avaliado sentado em uma cadeira adequada à sua
altura. A caixa será colocada horizontalmente à sua frente (com a parte central da caixa coincidindo com
o eixo central do avaliado) em uma mesa com a altura localizada um pouco acima da linha da cintura. Ao
término do teste perguntaremos ao sujeito quais são as habilidades manuais mais exercidas por ele, a fim
de identificarmos as possíveis relações entre os resultados obtidos no teste de destreza manual com as
habilidades manuais por ele exercidas.
6. Com o objetivo de identificarmos a percepção de localização das mãos, será utilizado o teste
de Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos. Nessa avaliação, o sujeito de olhos vendados
será solicitado a colocar o dedo indicador de uma das mãos sobre o outro que estará localizado embaixo
de um alvo que estará sobre uma mesa à sua frente. O teste será aplicado em um ambiente silencioso. O
avaliado deverá se sentar em uma cadeira adequada à sua altura e à sua frente será colocada uma mesa de
vidro contendo o alvo. O teste será explicado ao sujeito com a realização de demonstrações simultâneas
efetuadas pelo avaliador. O teste será realizado com uma venda colocada em seus olhos para que ele não
visualize o alvo. A seguir, o dedo indicador de uma das mãos (mão não dominante) será posicionado no
alvo localizado na parte central da mesa e embaixo da mesma e o outro dedo indicador sobre o ombro
(acrômio) correspondende a este segmento. Em seguida, o sujeito será orientado a colocar o dedo
indicador que está em seu ombro (em cima da mesa) exatamente sobre a posição em que está a ponta do
dedo que está embaixo da mesa, de forma que um fique sobre o outro. Após as explicações e
demonstrações será perguntado a ele se há alguma dúvida; caso haja, a tarefa será explicada quantas vezes
forem necessárias. A tarefa será realizada por três vezes. Após a realização de cada tentativa serão
anotados os números correspondendes à localização do dedo colocado sobre o alvo.
7. Ele não será obrigado(a) a participar da pesquisa e não terá nenhum prejuízo se não quiser
participar ou desistir a qualquer momento;
8. O menor que represento não terá nenhum gasto financeiro e também não será remunerado (a)
pela sua participação nesta pesquisa.
9. Os resultados serão utilizados para fins acadêmicos e científicos o que inclui a publicação dos
resultados em revistas científicas e apresentação em eventos, tais como congressos e simpósios, porém a
minha identidade e a do(a) adolescente serão preservadas em absoluto sigilo, pois não haverá menção dos
nossos nomes ou imagens. Ao final da pesquisa, serei notificado sobre os resultados obtidos;
10. Eu tomei conhecimento que não haverá riscos previsíveis à saúde do avaliado ao participar
desta pesquisa, porém estou ciente que o adolescente ao identificar como se avalia a maturidade biológica
(indicação de uma dos desenhos contendo as características sexuais) poderá se constranger e até se
recusar em efetuar a avaliação;
11. Sei que o teste é uma avaliação e não tem poderes de desenvolver a Percepção Corporal a
não ser que haja orientação específica durante os testes.
12. Os resultados obtidos na pesquisa são confidenciais. Sei que se eu tiver qualquer dúvida
sobre esta pesquisa poderei procurar os pesquisadores para esclarecimento, através dos e-mails:
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[email protected] e [email protected], ou pelos telefones: xxxx-xxxx (Maurício José de
Siqueira Cagno) e xxxx-xxxx (Eliane F. Gama). Ou ainda, para obter informações da veracidade do
projeto ou denunciar qualquer irregularidade, posso contatar o Comitê de Ética da Universidade São
Judas Tadeu, nos telefones 2799-1944/2799-1946, ou pessoalmente na sede da Universidade São Judas,
sito a Rua Taquari, 546, Mooca, São Paulo.
13. Assino este original e fico com uma cópia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Afirmo que fui suficientemente esclarecido sobre a pesquisa e seus procedimentos e desta forma autorizo
a participação do menor nesta pesquisa.
Data: ____/____/____.
________________________________
Assinatura do responsável pelo menor
Pesquisadores Responsáveis
Data ___/_____/_______
Eliana F. Gama
Data ____/____/________
Maurício José de Siqueira Cagno