ISSN 2176-1396
INSTALAÇÃO ARTÍSTICA NA ESCOLA: ENTRE OS LIMITES DO
ESPAÇO E AS POSSIBILIDADES DE CRIAÇÃO
Valéria Metroski de Alvarenga1 - UDESC
Eixo – Educação, Arte e Movimento
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
Ao longo da minha experiência como professora de Arte na Educação Básica fui redescobrindo
formas de abordar o mesmo conteúdo de arte contemporânea, a saber: a instalação artística.
Neste texto exemplificarei como houve mudanças na forma de abordagem, nas temáticas e nos
meios/locais de intervenção artística nos colégios em que trabalhei. A própria infraestrutura,
assim como o grande fluxo de pessoas que circulam diariamente pelo ambiente escolar são
impedimentos comuns para esse tipo de atividade na escola. Apresentarei imagens de trabalhos
realizados por alunos do Ensino Médio, dos segundos e terceiros anos do regular e da Educação
de Jovens e Adultos (EJA) sobre essa produção artística, os quais foram realizados em três
colégios, localizados na região metropolitana de Curitiba, entre os anos de 2009 e 2016. Dentre
os subsídios teóricos utilizados, destaco: Freire (2006), Cauquelin (2005), Gardner (1996) e
Pereira (2013). Verifiquei que, ao longo dos anos, consegui ampliar os espaços dentro da
própria escola, pois o que antes ficava restrito à sala de aula foi para os corredores, escadarias
e outros espaços do colégio. A metodologia empregada se manteve a mesma, a saber:
abordagem triangular (contextualizar, apreciar e fazer). Foi possível identificar que os alunos
conseguiram ter uma visão ampliada sobre a produção artística contemporânea e que muitos
encontraram meios de incorporar nos seus trabalhos uma forma de convidar o público a interagir
com os mesmos. Constatei, também, que o processo de refletir sobre a minha própria prática, e
experimentar/ousar, auxiliou no meu crescimento profissional e permitiu que a arte ganhasse
novos espaços na escola.
Palavras-chave: Instalação artística. Arte contemporânea. Escola. Relato de experiência.
Introdução
Repensar a nossa prática docente é essencial para continuarmos progredindo e
melhorando nossas atividades em sala de aula. Avaliar processos, reconhecer falhas e
1 Doutoranda em Artes Visuais pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Professora de Arte pela
Secretaria do Estado da Educação no Paraná (SEED/PR). Membro do Grupo de Pesquisa Educação, Artes e
Inclusão. E-mail: [email protected].
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comemorar os acertos faz parte da formação continuada2 do professor. Afinal, “[...] como se
vem a ser professor? [...] chamo professor o sujeito que se produz em uma prática de ensinar,
de trabalhar na formação de outros sujeitos, em uma prática de educar.” (PEREIRA, 2013,
p.13).
Ensinar arte contemporânea na escola pode ser um grande desafio. Primeiro porque as
pessoas têm uma certa rejeição ao novo por carregar consigo um modelo de arte que está mais
ligado a arte tradicional/acadêmica. “As certezas já arraigadas causam dificuldade para a
compreensão do que os artistas realizaram, sobretudo a partir da segunda metade do século
XX.” (FREIRE, 2006, p.7). No entanto, considero que problematizar e refletir sobre a arte
contemporânea na escola é essencial para integrar os alunos às discussões atuais e para pensar
a arte como um campo fértil para problematizações, não para soluções.
Com este texto, tenho como objetivo mostrar como o refletir sobre a prática, a
experimentação, o planejamento de ações, aliada a fundamentação e a formação continuada,
assim como o apoio pedagógico da equipe pedagógica e diretiva das escolas, auxiliam no
processo de ampliação e ressignificação de novos espaços para apresentação/exposição de
trabalhos artísticos nos colégios, principalmente no que se refere a instalação artística.
Os trabalhos aqui apresentados foram realizados em três escolas, em anos distintos,
localizadas na região metropolitana de Curitiba com turmas do Ensino Médio regular e do
Ensino Médio da EJA. Apresentarei imagens tendo por base uma sequência temporal, que inicia
em 2009 e vai até 2016. Cabe ressaltar que dentro desse período, me afastei da docência por
um ano e meio para estudar e em outros anos optei por trabalhar arte contemporânea a partir da
performance, videoarte, livro de artista, entre outros e não desenvolvi trabalhos de instalação
artística com os alunos. Ainda assim, no período supracitado, foi possível desenvolver diversas
experimentações desse tipo de trabalho nas escolas.
Este texto divide-se em dois momentos. O primeiro intitula-se “Instalação artística:
entre o limitado espaço da escola e as possibilidades de criação”, no qual serão apresentadas
algumas dificuldades de se realizar a instalação artística no ambiente escolar, assim como a sua
conceituação por meio de reflexões sobre a arte contemporânea. O segundo denomina-se “Dos
primórdios tímidos aos pequenos voos...”, neste são apresentados os processos iniciais das
minhas tentativas de realização de instalação artística na escola até os trabalhos mais recentes.
2 Esta é posterior a formação inicial e “[...] como um continuum marca a incompletude humana, o aprendizado
profissional que demanda sempre renovação e ampliação.” (ALVES, 2010, p. 17).
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Em alguns momentos há fotos para exemplificar melhor os resultados e em outros há apenas o
relato, pois nem sempre foi possível capturar imageticamente as atividades.
Instalação artística: entre o limitado espaço da escola e as possibilidades de criação
Antes de tratar propriamente da instalação artística, se faz necessário apresentar
aspectos da arte contemporânea para contextualizar essa prática na escola. Arte contemporânea
é um conteúdo que está previsto nas Diretrizes Curriculares de Arte do Estado do Paraná (2008).
Desde que comecei a lecionar, em 2009, já ensinava arte contemporânea aos alunos devido a
minha formação inicial. Se há resistências/estranhamentos por parte dos alunos quando esse
tema é abordado, claro que há. Porém, considero isso extremamente válido, pois a arte deve
gerar questionamentos, não certezas. E a arte contemporânea é propícia para isso. “Onde
começa a arte contemporânea? Quem devemos incluir na discussão e principalmente quem
devemos excluir dela?” (GARDNER, 1996, p. 9). Respostas para essas questões exigem uma
revisão da história da arte europeia e estadunidense, assim como uma reflexão sobre sistema e
mercado de arte na atualidade. De acordo com Cauquelin (2005) como a arte contemporânea
apresenta pouco tempo de constituição/estabelecimento, ela carece de reconhecimento, o que
dificulta ainda mais seu estudo. Todos esses apontamentos devem ser trabalhados a partir da
relação intrínseca entre a arte e as mudanças da sociedade
Para embasar a prática pedagógica utilizo a abordagem triangular, a qual relaciona o
contextualizar, o apreciar e o fazer (BARBOSA E CUNHA, 2010). Em meio a essas perguntas
costumo passar textos, vídeos e apresentar imagens para apreciação, leitura e análise crítica.
Sempre que possível, também levo os alunos no laboratório de informática da escola para que
estes ampliem o repertório através da pesquisa na internet e organizo visitas em museus.
Procuro trabalhar com os meus alunos os seguintes conteúdos de arte contemporânea:
performance, videoarte, livro de artista e instalação artística. Neste relato de experiência
apresentarei aspectos desta última. O termo instalação apresenta dificuldades de definição que
se estende desde o seu surgimento, na década de 60, até os dias atuais. Em geral, tal termo
designa um tipo de produção que “[...] lança a obra no espaço, com o auxílio de materiais muito
variados, na tentativa de construir um certo ambiente ou cena, cujo movimento é dado pela
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relação entre objetos, construções, o ponto de vista e o corpo do observador. Para a apreensão
da obra é preciso percorrê-la [...]” (ITAÚ CULTURAL, 2017, p.1).
Nesse sentido, instalação artística pode apresentar materiais, temáticas, reorganizações
espaciais diversas permitindo que o público, em geral, interaja com as obras. A instalação
artística está associada a arte conceitual. “As proposições conceituais negam a aura de
eternidade, o sentido do único e permanente e a possibilidade de a obra ser consumida como
mercadoria. É nesse momento que [...] as instalações, transitórias no espaço, tornam-se poéticas
significativas.” (FREIRE, 2006, p.10).
Mas, como fazer instalações no ambiente escolar? A estrutura física das escolas, na
maioria das vezes, possui mobilidade reduzida e espaços próprios para a “doutrinação dos
corpos”. Em algumas escolas, os professores nem podem colar cartazes nas paredes porque isso
pode danificar a pintura. Expor trabalhos de arte na escola, ainda mais de modo não
convencional pode ser muito complicado. Ou seja, montar uma instalação artística exige muito
planejamento e apoio da equipe pedagógica e diretiva. Infelizmente, o espaço escolar se torna
limitado pela circulação habitual dos alunos, a qual é de grande fluxo, fazendo com que os
trabalhos tenham que ficar montados de uma forma que não atrapalhe muito o ambiente
tradicional. Um exemplo de instalação artística que teve que ser retirada por atrapalhar o
trânsito do público foi a obra de Richard Serra, intitulada Tilted Arc, instalada na praça Federal
Plaza em Nova York, em 1981. Segundo Senie (2012), desde a construção da obra, já houve
protestos. A obra, que tinha caráter permanente, ficou em exposição só até 1989, quando foi
removida por atrapalhar a circulação de pessoas. Tal procedimento nos motiva a repensar e
refletir sobre a arte, ou qualquer tipo de interferência, no espaço público.
Ou seja, propor modificações em espaços onde circulam muitas pessoas pode gerar
problemas de descolamento. Em se tratando da escola, pode prejudicar até mesmo o tempo de
acesso às salas de aula na entrada/saída ou até mesmo no intervalo. Claro que esses trabalhos
não teriam caráter permanente e se for combinado com a equipe diretiva e pedagógica da escola
as instalações artísticas podem ser realizadas nesses espaços. Tudo depende, também, do
encaminhamento dado a atividade.
Dos primórdios tímidos aos pequenos voos...
Um conjunto de rádios como se fosse uma torre, todos ligados em estações diferentes;
uma sala onde nos móveis e objetos há um desvio para o vermelho; um ambiente com adesivos
de sombras de animais gigantes ou formas diversas; fios e tecidos criando tramas confusas no
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espaço. Respectivamente, a apresentação de algumas obras dos artistas Cildo Meireles, Regina
Silveira, José Antônio de Lima, dentre muitos outros, fez parte dos momentos de
apreciação/leitura de imagens após, e durante, a contextualização do conteúdo. Tal
procedimento embasou e auxiliou a prática artística dos alunos em relação as instalações. Iniciei
pedindo que os alunos reorganizassem o espaço de modo criativo, sem tema específico, até que,
ao longo dos anos, fui incorporando temas a partir de alguns artistas e ou propondo que as
instalações estivessem relacionas aos temas transversais (meio ambiente, pluralidade cultural,
orientação sexual, etc.).
Comecei pedindo que os alunos reorganizassem o espaço da sala de aula. Mudando
posições de carteiras, cadeiras, mochilas e, como nosso corpo também ocupa espaço, ele
também precisava ser posicionado de modo distinto do habitual. Na maioria das vezes parecia
que os alunos queriam criar uma torre de Babel à maneira de Cildo Meireles. As vezes eles só
invertiam a posição (deixando as pernas das carteiras e cadeiras para o ar) e isso já modificava
totalmente o ambiente da sala de aula. Essas proposições foram realizadas em 2009, quando
comecei a lecionar na Educação Básica.
Depois, timidamente, em 2011, nas aulas do período noturno, que frequentemente tem
menos alunos, expandi a instalação para o corredor, usando bexigas, barquinhos de papel e uma
rede feita com tecido simples e barato. A exposição/interação entre público e obra durou apenas
o período do intervalo das aulas (15 minutos). Mas, isso já foi o suficiente para alguns
comentários dos demais alunos que não faziam ideia do que estava acontecendo na escola: “vai
ter festa junina antecipada”, “que bagunça é essa?”, etc. Os próprios alunos que fizeram o
trabalho tiveram oportunidade de comentar sobre eles. As figuras 1 e 2 exemplificam um pouco
do que foi realizado.
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Figuras 1 e 2 - instalação artística no corredor da escola (2011)
Fonte: a autora
Após essas primeiras tentativas, procurei meios de ganhar mais espaço e ousar mais.
Com as turmas posteriores, em 2015, fomos para o auditório do colégio, que geralmente era
utilizado para as aulas de Educação Física. Dessa vez propus uma temática mais delimitada,
diversidade e inclusão, e a turma foi dividida em grupos. O resultado pode ser observado nas
imagens 3, 4, 5 e 6.
Figuras 3 e 4 – instalação artística na entrada do auditório da escola (2015)
Fonte: a autora
“Pequenos detalhes” foi o nome do trabalho realizado pelos alunos do 3º ano do Ensino
Médio para abordar a diversidade étnico-racial na escola. Os materiais escolhidos foram: CDs,
impressão fotográfica, fio de nylon, fita dupla face e ganchos. A escola atende uma comunidade
indígena, e um dos alunos da turma mora na aldeia que fica na cidade de Piraquara. As fotos
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são de funcionários da escola, professores, mães e pais de alunos e dos próprios alunos. Esse
tipo de trabalho proporcionou a integração da comunidade escolar e da comunidade local e
também contemplou a Lei nº 11.645/2008, a qual trata sobre história e cultura afro-brasileira e
indígena pelo viés da diversidade.
Além de trabalhar a diversidade étnico-racial, os alunos colaram um CD no outro para
deixar os dois lados com reflexo e optaram por deixar um lado do CD com a foto de uma pessoa
e o outro sem nada, apenas para quem chegasse perto pudesse olhar e ver seu próprio reflexo e
“se encontrar” no meio das outras imagens. Este trabalho ocupava um espaço significativo, em
que as pessoas precisavam se desviar para acessar a entrada do auditório.
O trabalho a seguir, ilustrado nas figuras 5 e 6, foi realizado dentro do auditório do
colégio, até porque, se fosse no corredor interferiria demais na circulação das pessoas.
Figuras 5 e 6: instalação artística no auditório da escola (2015)
Fonte: a autora
“Dependentes de classes” foi o título dado ao trabalho pelos alunos. Ele foi realizado
com os seguintes materiais: roupas, sapatos, cabides, notas de dinheiro em miniatura, papel
sulfite, caixa de som, grampeador e ganchos. Em meio a um cenário caótico, de roupas jogadas
no chão e penduradas na parede de modo não convencional, os alunos do terceiro ano do Ensino
Médio queriam tratar sobre desigualdade econômica e classes sociais. No chão havia notas de
dinheiro de mentira, no valor de R$1,00 ou R$2,00. Conforme aumentava a posição das peças
de roupa e sapatos o valor aumentava e a forma de expor mudava. Uma funcionária do colégio
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veio me perguntar o que seria feito com as roupas e sapatos quando o trabalho fosse
desmontado. Eu disse que devolveria os materiais para os alunos, afinal foram eles que
trouxeram tudo. Então ela me pediu para ver com a dona do sapato se ela poderia fazer uma
doação porque ela tinha gostado muito de um par que estava exposto e servia certinho para ela,
pois até já o havia experimentado. Conversei com a aluna e ela doou o par de sapato. Isso mostra
como as interações do público com o trabalho pode ser muito diversificada e surpreendente.
Como o auditório não é um espaço tão frequentado, muitos alunos e funcionários da
escola, nem chegaram a ver os trabalhos expostos. Ou seja, por mais que houvesse um espaço
propício, amplo para montar a instalação, os quais não atrapalhariam o grande fluxo de pessoas,
principalmente na entrada/saída das aulas e no intervalo, os trabalhos foram pouco acessados.
Ainda, em 2015, com turmas distintas, resolvi utilizar os corredores dos colégios novamente,
dessa vez com tempo maior de exposição dos trabalhos (uma semana).
As figuras 7 e 8, exemplificam a exposição intitulada “Arte Moderna”, trabalho
realizado pelos alunos do 2º do ensino médio. O título da exposição foi dado por um funcionário
do colégio, dos serviços gerais, que ficou impressionado com “o tipo diferente de arte” que
estava exposto, o qual diferia dos tradicionais cartazes colados nas paredes das escolas.
Figuras 7 e 8 – instalação artística no corredor da escola (2015)
Fonte: a autora
À maneira da artista Regina Silveira, que trabalha com alterações de espaço, mas em
geral sem utilizar objetos tridimensionais, utilizando apenas “sombras” e adesivos, buscou-se
ocupar um grande espaço do corredor do colégio, dentro do que foi possível, com recortes de
corpos em posições distintas, tendo como molde os corpos dos próprios alunos. Esse trabalho
não causou nenhuma interferência relativa ao deslocamento das pessoas, mas modificou o
espaço habitual. Alguns alunos ficaram comparando a sua altura com os corpos representados,
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outros tiraram fotos próximos a eles, ou seja, houve interação com o público, mas de maneira
sutil. Outro trabalho utilizando recortes de corpos pode ser visto nas figuras 9 e 10.
Figuras 9 e 10 – instalação artística no corredor da escola (2015)
Fonte: a autora
Difentes corpos, estereótipos e moda. Os alunos do 3º ano do Ensino Médio, que
realizaram esse trabalho, mostrado nas figuras 9 e 10, queriam tratar desses assuntos. Os
materais utilizados foram: papel bubina, cartolina e tecido (TNT). Tiraram moldes de corpos
de diversos alunos do colégio, inclusive do diretor, de uma professora e de um aluno com
nanismo, para mostrar esses diferentes corpos “desfilando na passarela”. A passarela foi
representada pelo tecido vermelho que vai do chão até o teto. Esta é uma forma de integrar o
espectador, pois para ver vários detalhes do trabalho ele também precisava andar na “passarela”.
Os corpos flutuantes de diferentes alturas e formatos foram complementados com diversos
desenhos feitos por uma aluna que queria fazer design de moda. Segundo ela, tais desenhos
podiam ser associados a ambiguidade do interior/exterior das pessoas. Num momento
subsequente, ainda em 2015, e com outra turma do 3º ano, outros trabalhos foram colocados no
corredor, mas sem afetar tanto o deslocamento, tal como pode ser visto nas figuras 11 e 12.
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Figuras 11 e 12 – instalação artística no corredor da escola (2015)
Fonte: a autora
O trabalho da esquerda, figura 11, abordava questões de diversidade religiosa e exigia
que a pessoa se desviasse, ou seja, interferia muito no espaço. Os materiais utilizados foram:
cartolina, CDs, fio de nylon e pincel atômico. Os alunos realizaram desenhos com símbolos de
religiões distintas e corpos com mãos dadas para incentivar a tolerância religiosa. O trabalho
da direita, figura 12, quase encostava nas cabeças das pessoas mais altas e muitos poderiam
tocá-lo com as mãos. Os alunos utilizaram recortes de revista, caixas de papelão, fio de nylon
e tecido (TNT) para mostrar a diversidade étnico-racial e perceberam a falta de
representatividade de pessoas negras, indígenas e orientais nesses materiais. Esses dois
trabalhos se assemelharam mais à “móbiles” do que à instalação artística, mas ainda assim
modificaram e interferiram no espaço habitual de modo significativo. As figuras 13 e 14
referem-se a instalação que os alunos realizaram, sob minha orientação, em 2016.
Figuras 13 e 14 – instalação artística nas escadas da escola (2016)
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Fonte: a autora
Este trabalho foi realizado pelos alunos do Ensino Médio da EJA, em uma escola que
possui três andares. Diferentemente do ensino Regular, o público da EJA é bastante
diversificado. Os alunos possuem idades e experiências de vida extremamente distintas. Por
esse motivo não direcionei o tema, deixei que os alunos pensassem em algo coletivamente e a
turma toda participou do processo de confecção do trabalho.
O título da instalação foi escolhido pelos alunos, a saber: “Quem curte ler,
compartilha!”. Os materiais utilizados foram: os livros doados pela biblioteca do colégio, tecido
(TNT) em tiras e fita adesiva que foi colada nos livros com frases “orientando o público” em
relação ao trabalho, a saber: “Leve e leia!”, “Aprecie!”, pois a intenção era que tanto alunos
quanto funcionários pegassem os livros e levassem embora para ler. Ou seja, o objetivo era
incentivar a leitura na escola e mostrar as mudanças da relação público/obra na
contemporaneidade. Nesse processo, descobri que muitos alunos da EJA gostavam de ler
durante as horas de lazer ou para seus filhos. Como esse colégio era alugado, não se podia fazer
nada que pudesse danificar as paredes ou outras partes do espaço, por esse motivo, os alunos
apenas amarraram as fitas de tecidos aos livros e na base das escadas. Considero que essa foi a
instalação artística que ocupou o maior espaço da escola (pois foi realizada nos três andares),
tendo como referência as apresentadas anteriormente.
Considerações finais
Os registros fotográficos, aliados a memória, permitiram que o processo e o
desenvolvimento das atividades de instalação artística nos colégios fossem mostrados e a partir
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disso foi possível notar as mudanças na forma de expor trabalhos de instalação artística nos
espaços das escolas entre os anos de 2009 e 2016. Tais alterações foram possíveis através de
experimentações diversas referentes ao mesmo conteúdo, minha própria formação
complementar e continuada ao longo deste período e do apoio da equipe pedagógica e diretiva
dos colégios, além da reflexão constante sobre a minha prática docente. Ou seja, o que antes
era realizado dentro da sala de aula, de maneira tímida se expande e atinge públicos maiores
causando reações diversas. Ainda assim, em geral, os trabalhos apresentaram meios de interferir
no espaço escolar de modo relativamente sutil, no entanto já foi suficiente para causar
estranhamentos. Espero que em breve, a instalação artística possa ocupar espaços ainda mais
amplos na escola.
REFERÊNCIAS
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