INTRODUO EDUCAO A DISTNCIA
SUMRIO
UNIDADE 1 Fundamentos da Educao a Distncia
1. Abordagens conceituais da EaD ........................................................................................
2. Histria da modalidade a distncia ....................................................................................
3. Polticas pblicas para a EaD.............................................................................................
UNIDADE 2 Estrutura e funcionamento da EaD
1. Planejamento e organizao de sistemas de EaD...............................................................
2. Implementao e desenvolvimento de EaD........................................................................
3. Tecnologias da Informao e Comunicao na EaD..........................................................
4. Ambiente Virtual de Aprendizagem ..................................................................................
UNIDADE 3 Sistemas de Acompanhamento em EaD
1. Sistemas de Tutoria: teoria e
prtica ...................................................................................
2. O professor online .............................................................................................................
3. Experincias de acompanhamento: o aluno virtual ............................................................
REFERNCIAS ..................................................................................................................
UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA EDUCAO A DISTNCIA
1. Abordagens conceituais da EaD
O conceito de Educao a Distncia EaD abrange um vasto territrio de informaes:
suas caractersticas tm mais a ver com circunstncias histricas, polticas e sociais do que com
a prpria modalidade de ensino. Essas condies fazem com que haja um desenvolvimento
vertiginoso das Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC) mediadas com transmisses
via satlite, internet e material multimdia. Tantas variveis contriburam para diversificar
tambm as definies sobre o que se entende por EaD.
Selecionamos para voc alguns conceitos para compreender um pouco essa modalidade
de ensino. Segundo Moran (1998), a EaD est fundamentada nas seguintes caractersticas:
Educao a distncia o processo de ensino-aprendizagem mediado por
tecnologias, no qual professores e estudantes esto separados espacial e/ou
temporalmente.
ensino-aprendizagem quando professores e estudantes no esto normalmente
juntos, fisicamente, mas podem estar conectados, interligados por tecnologias,
principalmente as telemticas, como a internet, mas, tambm, podem ser
utilizados o correio, o rdio, a televiso, o vdeo, o CD-ROM, o telefone, o fax
e tecnologias semelhantes.
Na expresso ensino a distncia, a nfase dada ao papel do professor (como
algum que ensina a distncia). Preferimos a palavra educao, que mais
abrangente, embora nenhuma das expresses, segundo o professor, seja
perfeitamente adequada.
Alm do conceito de Moran (1998), existem algumas outras definies de EaD.
Segundo Moore e Kearsley (1996, p. 206), a definio mais citada de educao a distncia a
criada por Desmond Keegan, em 1980:
O ensino a distncia o tipo de mtodo de instruo em que as
condutas docentes acontecem parte das discentes, de tal maneira que
a comunicao entre o professor e o estudante se possa realizar
mediante textos impressos, por meios eletrnicos, mecnicos ou por
outras tcnicas (apud NUNES, 1992).
Na definio de Otto Peters (1973):
Educao/Ensino a distncia (Fernunterricht) um mtodo racional de
partilhar conhecimento, habilidades e atitudes, atravs da aplicao da
diviso do trabalho e de princpios organizacionais, tanto quanto pelo
uso extensivo de meios de comunicao, especialmente para o
propsito de reproduzir materiais tcnicos de alta qualidade, os quais
tornam possvel instruir um grande nmero de estudantes ao mesmo
tempo, enquanto esses materiais durarem. uma forma industrializada
de ensinar e aprender (apud NUNES, 1992).
Holmberg (1977), por sua vez, alega que o termo educao a distncia esconde-se sob
vrias formas de estudo, nos vrios nveis que no esto sob a contnua e imediata superviso de
tutores presentes com seus estudantes nas salas de leitura ou no mesmo local. A educao a
distncia se beneficia do planejamento, da direo e instruo da organizao do ensino (apud
NUNES, 1992).
Conclui-se que seis (6) elementos so essenciais para uma definio clara de EaD
(MOORE; KEARSLEY, 1996, p.206):
separao entre estudante e professor;
influncia de uma organizao educacional, especialmente no planejamento e na
preparao dos materiais de aprendizado;
uso de meios tcnicos mdia;
providncias para comunicao em duas vias;
possibilidade de seminrios (presenciais) ocasionais; e
participao na forma mais industrial de educao.
No ano de 1996, Moore e Kearsley reformularam sua definio, mencionando a
importncia de meios de comunicao eletrnicos e a estrutura organizacional e administrativa
especfica (MOORE; KEARSLEY, 1996, p.2):
Educao a distncia o aprendizado planejado que normalmente
ocorre em lugar diverso do professor e como conseqncia requer
tcnicas especiais de planejamento de curso, tcnicas instrucionais
especiais, mtodos especiais de comunicao, eletrnicos ou outros,
bem como estrutura organizacional e administrativa especfica.
O conceito elaborado por Peacok (1996), porm, define-a mais simplesmente como os
estudantes no necessariamente devem estar fisicamente no mesmo lugar ou participar todos ao
mesmo tempo.
Para Aretio (1997), a educao a distncia um sistema tecnolgico de comunicao
bidirecional, que pode ser massivo e substitui a interao pessoal na sala de aula entre professor
e estudante, como meio preferencial de ensino pela ao sistemtica e conjunta de diversos
recursos didticos e o apoio de uma organizao e tutoria que propiciam uma aprendizagem
independente e flexvel.
Preti (1996) comenta tal definio, destacando os seguintes elementos:
A distncia fsica professor-estudante: a presena fsica do professor ou do tutor, isto ,
do interlocutor, da pessoa com quem o estudante vai dialogar, no necessria e
indispensvel para que se d a aprendizagem. Ela se d de outra maneira,
virtualmente.
Estudo individualizado e independente: reconhece-se a capacidade do estudante de
construir seu caminho, seu conhecimento, por ele mesmo, de se tornar autodidata, ator e
autor de suas prticas e reflexes;
Um processo de ensino-aprendizagem: a EaD deve oferecer suportes e estruturar um
sistema que viabilize e incentive a autonomia dos estudantes nos processos de
aprendizagem.
O uso de tecnologias: os recursos tcnicos de comunicao, que hoje tm alcanado um
avano espetacular (correio, rdio, TV, audiocassete, hipermdia interativa, Internet),
permitem romper com as barreiras das distncias, das dificuldades de acesso educao
e dos problemas de aprendizagem por parte dos que estudam individualmente, mas no
isolados e sozinhos. Alm disso, as tecnologias oferecem possibilidades de estimular e
motivar o estudante, de armazenamento e divulgao de dados e de acesso s
informaes mais distantes com rapidez incrvel.
A comunicao bidirecional: o estudante no mero receptor de informaes, de
mensagens; apesar da distncia, busca-se estabelecer relaes dialogais, criativas,
crticas e participativas.
Segundo Tripathi (1997), educao a distncia uma experincia de ensino-
aprendizagem planejada que usa um grande espectro de tecnologias para alcanar os estudantes
a distncia. elaborada para encorajar a interao com os estudantes e comprovar o
aprendizado.
Na University of Maryland System Institute for Distance Education, define-se o termo
educao a distncia como uma variedade de modelos educacionais que tm em comum a
separao fsica entre os professores de alguns ou de todos os estudantes (TRIPATHI, 1997).
Na Universidade de Idaho, a EaD definida da seguinte maneira (apud TRIPATHI,
1997):
No seu nvel mais bsico, educao a distncia ocorre quando o
professor e os estudantes esto separados por distncia fsica, e
a tecnologia (voz, vdeo, dados e impressos), frequentemente
associada com comunicao presencial, usada como elemento
de ligao para suprir a distncia.
No guia Distance Education at a Glance (apud TRIPATHI, 1997), da Engineering
Outrech da University of Idaho, o autor selecionou trs critrios bsicos para definir Educao a
Distncia:
separao entre o professor e os estudantes durante a maior parte do processo
instrucional;
o uso de mdias instrucionais para unir professor e estudantes; e
a viabilidade de comunicao em duas vias entre professor e estudantes.
Landim (1997), analisando 21 definies, formuladas entre 1967 e 1994, apresenta as
seguintes caractersticas comuns, com os percentuais de incidncia de cada uma.
Comparando os requisitos apontados por Tripathi (1997) com as quatro caractersticas
com maior incidncia selecionadas por Landim (1997), pode-se construir um quadro
semelhante.
A legislao brasileira apresenta a definio de EaD, em seu artigo 1, contemplando os
itens propostos por Landim (1997) e Tripathi (1997).
Educao a Distncia uma forma de ensino que
possibilita a auto-aprendizagem, com a mediao de
recursos didticos sistematicamente organizados,
apresentados em diferentes suportes de informao,
utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos
diversos meios de comunicao (Dirio Oficial da Unio,
Decreto 2.494, de 10 de fevereiro de 1998).
Analisando as diferentes definies de educao a distncia, verifica-se que cada uma
corresponde a um contexto ou a uma instituio. A validade de cada uma depende do resultado
de seu trabalho junto aos estudantes e comunidade onde atuam (RODRIGUES, 1998).
2. Histria da Modalidade a Distncia
A Educao a Distncia (EaD), tambm chamada de Teleducao, em sua forma
embrionria e emprica, conhecida desde o sculo XIX. Entretanto, somente nas ltimas
dcadas passou a fazer parte das atenes pedaggicas. Surgiu da necessidade do preparo
profissional e cultural de milhes de pessoas que, por vrios motivos, no podiam frequentar um
estabelecimento de ensino presencial. A EaD evoluiu com as tecnologias disponveis em cada
momento histrico, as quais influenciam o ambiente educativo e a sociedade.
Inicialmente na Grcia, e depois em Roma, existia uma rede de comunicao que
permitia o desenvolvimento significativo da correspondncia. As cartas comunicando
informaes cientficas inauguraram uma nova era na arte de ensinar. Segundo Lobo Neto
(1995), um primeiro marco da educao a distncia foi o anncio publicado na Gazeta de
Boston, no dia 20 de maro de 1728, pelo professor de taquigrafia Cauleb Phillips: Toda
pessoa da regio, desejosa de aprender esta arte, pode receber em sua casa vrias lies
semanalmente e ser perfeitamente instruda, como as pessoas que vivem em Boston.
Em 1833, um anncio publicado na Sucia j se referia ao ensino por correspondncia, e
na Inglaterra, em 1840, Isaac Pitman sintetizou os princpios da taquigrafia em cartes postais
que trocava com seus estudantes.
No entanto, o desenvolvimento de uma ao institucionalizada de educao a distncia
teve incio a partir da metade do sculo XIX.
Em 1856, em Berlim, Charles Toussaint e Gustav Langenscheidt fundaram a primeira
escola por correspondncia destinada ao ensino de lnguas. Posteriormente, em 1873, em
Boston, Anna Eliot Ticknor criou a Society to Encourage Study at Home. Em 1891, Thomas J.
Foster, em Scarnton (Pennsylvania), iniciou o International Correspondence Institute com um
curso sobre medidas de segurana no trabalho de minerao.
Em 1891, a administrao da Universidade de Wisconsin aceitou a proposta de seus
professores para organizar cursos por correspondncia nos servios de extenso universitria.
Um ano depois, em 1892, o reitor da Universidade de Chicago, William R. Harper, que
j havia experimentado a utilizao da correspondncia na formao de docentes para as escolas
dominicais, criou uma Diviso de Ensino por Correspondncia no Departamento de Extenso
daquela universidade.
Por volta de 1895, em Oxford, Joseph W. Knipe, aps experincia bem-sucedida
preparando por correspondncia duas turmas de estudantes, a primeira com seis e a segunda
com trinta alunos, para o Certificated Teachers Examination, iniciou os cursos de Wolsey Hall
utilizando o mesmo mtodo de ensino.
Em 1898, em Malmoe, na Sucia, Hans Hermod, diretor de uma escola que ministrava
cursos de lnguas e cursos comerciais, ofereceu o primeiro curso por correspondncia, dando
incio ao famoso Instituto Hermod.
No final da Primeira Guerra Mundial, surgiram novas iniciativas de ensino a distncia,
em virtude de um considervel aumento da demanda social por educao, confirmando, de certo
modo, as palavras de William Harper, escritas em 1886:
Chegar o dia em que o volume da instruo recebida por
correspondncia ser maior do que o transmitido nas aulas de nossas
academias e escolas; em que o nmero dos estudantes por
correspondncia ultrapassar o dos presenciais.
O aperfeioamento dos servios de correio, a agilizao dos meios de transporte e,
sobretudo, o desenvolvimento tecnolgico aplicado ao campo da comunicao e da informao
influram decisivamente nos destinos da educao a distncia. Em 1922, a antiga Unio
Sovitica organizou um sistema de ensino por correspondncia que em dois anos passou a
atender 350.000 usurios. A Frana criou, em 1939, um servio de ensino por via postal para a
clientela de estudantes deslocados pelo xodo.
A partir da, comeou a utilizao de um novo meio de comunicao, o rdio, que
penetra tambm no ensino formal. O rdio alcanou muito sucesso em experincias nacionais e
internacionais, tendo sido bastante explorado na Amrica Latina nos programas de educao a
distncia do Brasil, Colmbia, Mxico, Venezuela, dentre outros.
Aps as dcadas de 1960 e 1970, a educao a distncia, embora mantendo os materiais
escritos como base, passou a incorporar articulada e integradamente o udio e o videocassete, as
transmisses de rdio e televiso, o videotexto, o computador e, mais recentemente, a tecnologia
de multimeios, que combina textos, sons, imagens, assim como mecanismos de gerao de
caminhos alternativos de aprendizagem (hipertextos, diferentes linguagens) e instrumentos para
fixao de aprendizagem com feedback imediato (programas tutoriais informatizados) etc.
Atualmente, o ensino no presencial mobiliza os meios pedaggicos de quase todo o
mundo, tanto em naes industrializadas quanto em pases em desenvolvimento. Novos e mais
complexos cursos so desenvolvidos, tanto no mbito dos sistemas de ensino formal quanto nas
reas de treinamento profissional. Podem-se ver inmeros exemplos visitando-se os sites de
universidades.
Seja um desafio, uma necessidade imperiosa dos tempos modernos ou uma imposio
de que no se pode fugir, a educao a distncia uma das solues para os tempos atuais. As
novas tecnologias de comunicao e informao, como a televiso, o vdeo, a informtica com
a internet ganhando espaos cada vez maiores , sem desprezar os meios tradicionais de correio,
telefone e postos pedaggicos organizacionais, convidam, se que no exigem, a um
aproveitamento amplo de suas possibilidades em benefcio da educao.
De fato, em funo de fatores como o modelo de EaD seguido, os apoios polticos e
sociais disponveis, as necessidades educativas da populao, o desenvolvimento das
tecnologias de comunicao e informao, h grande diversidade de formas metodolgicas,
estruturais e projetos de aplicao para essa modalidade de educao.
A educao a distncia foi utilizada inicialmente como recurso para superao de
deficincias educacionais, para a qualificao profissional e aperfeioamento ou atualizao de
conhecimentos. Hoje, cada vez mais , tambm, usada em programas que complementam outras
formas tradicionais, face a face, de interao, e vista por muitos como uma modalidade de
ensino alternativo que pode complementar parte do sistema regular de ensino presencial. A
Open University, por exemplo, oferece comercialmente somente cursos a distncia, sejam
cursos regulares ou profissionalizantes. A Virtual University oferece cursos gratuitos.
A seguir, voc vai encontrar um apanhado geral sobre o desenvolvimento histrico da
EaD pelo mundo, com destaque para os pases que implantaram cursos nesta modalidade.
Sucia - Registrou sua primeira experincia em 1833, com um curso de Contabilidade.
Inglaterra - Iniciou em 1840, e, em 1843, foi criada a Phonografic Corresponding
Society. A Open University, fundada em 1962, mantm um sistema de consultoria,
auxiliando outras naes a fazer uma educao a distncia de qualidade.
Alemanha - Em 1856, fundou o primeiro instituto de ensino de lnguas por
correspondncia.
EUA - Iniciaram em 1874, com a Illinois Weeleyan University.
Paquisto - Em 1974, a Universidade Aberta Allma Iqbal iniciou a formao de
docentes via EaD.
Sri Lanka - A partir de 1980, a Universidade Aberta de Sri Lanka passou a atender
setores importantes para o desenvolvimento do pas: profisses tecnolgicas e formao
docente.
Tailndia - A Universidade Aberta Sukhothiai Thommathirat tem cerca de 400.000
estudantes em diferentes setores e modalidades.
Indonsia - Criada em 1984, a Universidade de Terbuka surgiu para atender a forte
demanda de estudos superiores, e prev chegar a cinco milhes de estudantes.
ndia - Criada em 1985, a Universidade Nacional Aberta Indira Gandhi tem objetivo de
atender a demanda de ensino superior.
Austrlia - um dos pases que mais investe em EaD, mas no tem nenhuma
universidade especializada nesta modalidade. Nas universidades de Queensland, New
England, Macquary, Murdoch e Deakin, a proporo de estudantes a distncia maior
ou igual de estudantes presenciais.
Mxico - Iniciou em 1972 o Programa Universidade Aberta, inserido na Universidade
Autnoma do Mxico.
Costa Rica - Universidade Estatal a Distncia da Costa Rica, criada em 1977.
Venezuela - Universidade Nacional Aberta da Venezuela, criada em 1977.
Colmbia - Universidade Estatal Aberta e a Distncia da Colmbia, criada em 1983.
As universidades europeias a distncia tm incorporado em seu desenvolvimento
histrico as novas tecnologias de informtica e de telecomunicao. Um exemplo disso o
desenvolvimento da Universidade a Distncia de Hagen, que iniciou seu programa com material
escrito em 1975. Hoje, oferece material didtico em udio e videocassetes, videotexto interativo
e videoconferncias. Tendncias similares podem ser observadas nas Universidades Abertas da
Inglaterra, Holanda e Espanha.
Hoje, mais de 80 pases, nos cinco continentes, adotam a educao a distncia em todos
os nveis de ensino, em programas formais e no formais, atendendo a milhes de estudantes. A
educao a distncia tem sido usada para formao e aperfeioamento de professores em
servio.
Em consequncia dos avanos tecnolgicos, vrias ferramentas de comunicao e
gerenciamento da informao vm sendo oferecidas para os usurios das mdias em geral. A
maioria dessas ferramentas pode ser disponibilizada na internet. Em alguns sistemas hospedados
na rede so encontradas ferramentas reunidas e organizadas em um nico espao virtual,
visando oferecer ambiente interativo e adequado transmisso da informao, desenvolvimento
e compartilhamento do conhecimento. No geral, esses recursos tecnolgicos so agrupados de
acordo com a sua funcionalidade: comunicao e gerenciamento de informao.
Na educao a distncia, as tecnologias de informao e comunicao so adotadas
com o objetivo de facilitar o processo de ensino-aprendizagem e estimular a colaborao e
interao entre os participantes de um curso, habilitando-os para enfrentar a concorrncia do
mercado de trabalho. As ferramentas de gerenciamento no so menos importantes, sobretudo
porque a participao e o progresso do estudante so informaes que precisam ser recuperadas,
para que o professor possa apoiar e motivar o aprendiz durante o processo de construo e
compartilhamento do conhecimento.
Nos cursos a distncia, a interatividade e a comunicao multidirecional so possveis
devido adoo destas ferramentas, que oferecem subsdios para que os participantes dos cursos
possam se comunicar. Possibilitam ainda a integrao desses recursos em um nico ambiente de
aprendizagem, favorecendo a adoo e compreenso da linguagem audiovisual.
No quadro a seguir foram organizadas e descritas as tecnologias utilizadas como
ferramentas em EaD.
Quadro 1 - Exemplos de ferramentas de comunicao e de informao
Alguns Exemplos Categoria Descrio
Correio Eletrnico
Comunicao
Indicado para enviar e receber arquivos anexados s mensagens, esclarecer
dvidas, dar sugestes etc.
Chat
Comunicao
Permite a comunicao de forma mais interativa e dinmica. Em cursos de
EaD, essa ferramenta utilizada como suporte para a realizao de reunies
e discusses sobre assuntos trabalhados no curso. Este recurso tambm
denominado de bate-papo.
Frum
Comunicao
Mecanismo propcio ao desenvolvimento de debates, o frum organizado
em uma estrutura de rvore em que os assuntos so dispostos
hierarquicamente, mantendo a relao entre o tpico lanado, respostas e
contrarrespostas.
Lista de Discusso
Comunicao
Auxilia o processo de discusso por meio do direcionamento automtico das
contribuies relativas a determinado assunto, previamente sugerido, para a
caixa de e-mail de todos os inscritos na lista.
Mural
Comunicao
Estudantes e professores podem disponibilizar mensagens que sejam
interessantes para toda a turma. Essas mensagens, geralmente, so
divulgao de links, convites para eventos, notcias etc.
Portflio Gerenciamento/
comunicao
Tambm chamado de sala de produo, uma ferramenta que auxilia a
disponibilizao dos trabalhos dos estudantes e a realizao de comentrios
pelo professor e colegas da turma.
Anotaes
Gerenciamento/
comunicao
uma ferramenta de gerenciamento de notas de aulas, observaes,
concluso de assuntos etc. Em alguns casos, este recurso possui a opo de
configurao para compartilhamento entre todos os estudantes e
professores, apenas professores e ainda no compartilhado. Neste ltimo
tipo, apenas o autor da anotao poder visualiz-la. Tambm denominada
de Dirio de Bordo.
FAQ Gerenciamento/
comunicao
Tambm conhecida por Perguntas Frequentes, esta ferramenta auxilia o
tutor professor a responder s perguntas mais frequentes. Dessa forma, h
uma economia de tempo e o estudante pode, em vez de questionar o
professor, consultar a ferramenta para verificar se j no existe uma resposta
para sua dvida disponibilizada no ambiente.
Perfil Gerenciamento Auxilia a disponibilizao de informaes pessoais dos estudantes e
professores do curso, tais como: e-mail, fotos, minicurrculo.
Acompanhamento Gerenciamento A ferramenta, geralmente, apresenta informaes que auxiliam o
acompanhamento do estudante pelo professor, assim como o
autoacompanhamento por parte do estudante. Os relatrios gerados por esta
ferramenta apresentam informaes relativas ao histrico de acesso ao
ambiente de aprendizagem pelos estudantes, notas, frequncia por seo do
ambiente visitada pelos estudantes, histrico dos artigos lidos e mensagens
postadas para o frum e correio, participao em sesses de chat e mapas de
interao entre os professores e estudantes.
Avaliao
(online)
Gerenciamento/
comunicao
Esta ferramenta envolve as avaliaes que devem ser feitas pelos estudantes
e os recursos online para que o professor corrija as avaliaes. Do mesmo
modo, fornece informaes a respeito das notas, o registro das avaliaes
que foram feitas pelos estudantes, tempo gasto para resposta etc.
Fonte: Adaptado de Campos e Giraffa (1999).
Na EaD, a informao pode ser, basicamente, transmitida por meio de uma
conversao, utilizando ferramentas de comunicao sncrona e assncrona. Isso acontece, por
exemplo, nas sesses de chat. Em alguns casos, acontece tambm a troca da informao de um
usurio para uma ferramenta. Esta ferramenta recebe a informao, processa-a e emite nova
informao para o usurio. Isso acontece muito quando, em um curso a distncia adotada
alguma ferramenta de avaliao (online), em que a correo automtica.
No quadro 2, as ferramentas de comunicao esto organizadas de acordo com as suas
relaes com os conceitos de tempo e espao.
Quadro 2 - Tempo, espao e mecanismos comunicacionais
Tempo e Espao Sncrono Assncrono
Mesmo Local
Encontros presenciais face a face
Portflio ou sala de produo
Mural
Anotaes
Avaliao (online)
Frum
Local diferente
(distribuda)
Chat: salas de bate-papo,
videoconferncia
Listas de discusso
Correio eletrnico
Fonte: Adaptado de Campos e Giraffa (1999).
A assincronicidade no deve ser vista somente como uma forma
de interao para os participantes que no possuem um horrio
em comum. Mais do que simples alternativa temporal, deve
estar alicerada num projeto pedaggico, e tambm ser
acompanhada e incentivada, para que a comunicao no seja
intensa no incio e fraca ou inexistente no final do curso
(CAMPOS; GIRAFFA, 1999, p.2).
Geralmente, as ferramentas reunidas em um ambiente de aprendizagem tm como
principal objetivo apoiar o desenvolvimento das atividades propostas pelo professor.
importante considerar os pr-requisitos, recomendaes e problemas identificados em relao ao
uso de alguns dos recursos tecnolgicos citados anteriormente. Estas informaes foram
coletadas durante a realizao de dois cursos semipresenciais, em 2002 e 2003, de Engenharia
de Software e, posteriormente, organizados no quadro a seguir (Quadro 3). preciso ressaltar
que alguns pr-requisitos, por serem necessrios para o uso de todas as ferramentas, no foram
includos no quadro. So eles:
o tutor e o professor devem conhecer a ferramenta;
os estudantes devem ser capacitados para utilizar os recursos; e
a interface da ferramenta deve ser amigvel.
A seguir, apresentamos alguns requisitos pedaggicos, recomendaes e problemas
identificados em relao s ferramentas de comunicao e de gerenciamento.
Quadro 3: Ferramentas, pr-requisitos, recomendaes e problemas identificados
Ferramenta Pr-requisitos Recomendaes Problemas identificados
Chat
necessrio haver uma
metodologia para conduzir
a atividade; as turmas
devem ser pequenas no
mximo 20 alunos.
Realizao de debates
sncronos, reunies privadas,
seo de tira-dvidas e
confraternizao dos
participantes.
Tempo mal administrado;
fuga do tema proposto;
metodologia inadequada.
Frum
necessrio haver uma
metodologia para conduzir
a atividade; os assuntos
propostos devem ser
relevantes e estimular a
discusso; os debates
Realizao de debates
assncronos;
exposio de ideias e
divulgao de informaes
diversas.
Fuga do tema;
tema proposto
inadequadamente;
baixa interao.
devem ser encerrados
seguindo o cronograma de
atividades do curso; o
nmero de participantes
pode ser grande.
Lista de Discusso
importante que as
mensagens enviadas sejam
objetivas; fluxo de envio de
mensagens deve ser
dinmico; necessrio
haver um coordenador para
conduzir um debate; os
temas sugeridos devem
estimular a discusso; as
turmas podem ser grandes;
os debates devem ser
encerrados seguindo o
cronograma de atividades
do curso.
Realizao de debates
assncronos;
exposio de ideias e
divulgao de informaes
diversas.
Fuga do tema proposto
inadequadamente;
baixa interao.
Correio Eletrnico importante que as
mensagens enviadas sejam
objetivas;
as respostas devem ser
dadas em um curto perodo
de tempo.
Indicado para a circulao de
mensagens privadas,
definio de cronogramas e
transmisso de arquivos
anexados e mensagens.
Envio de mensagens
extensas;
circulao de mensagens
fora do escopo do curso;
arquivos anexados
contaminados com vrus.
FAQ
Desenvolvimento de
metodologia para a
organizao das perguntas e
respostas;
objetividade e clareza nas
respostas;
atualizao peridica das
respostas.
Divulgao de instrues
bsicas referentes utilizao
das ferramentas e sobre o
ambiente de aprendizagem;
esclarecimento de dvidas
sobre o contedo discutido
no curso.
Respostas e perguntas
formuladas no so claras;
inadequao na
organizao das perguntas
e respostas.
Avaliao
(online)
Escolha de uma
metodologia adequada para
elaborao das avaliaes;
mecanismos de avaliao
dos resultados devem ser
satisfatrios, flexveis e
obedecer a critrios
semnticos.
Acompanhamento do
aprendizado do aluno;
realizao de avaliaes
complementares.
Inexistncia de mecanismo
que garanta que foi o aluno
que fez a avaliao (a no
ser que se utilize a
videoconferncia).
Acompanhamento
Anlise peridica dos
dados.
Acompanhamento da
participao do aluno e do
tutor.
Algumas ferramentas de
acompanhamento no so
confiveis.
Fonte: Adaptado de Campos e Giraffa (1999).
Diante de todas as caractersticas citadas, voc pode notar a importncia da utilizao
das ferramentas computacionais em sistemas de EaD. Elas possibilitam maior interao entre os
professores, os tutores e os estudantes. Entretanto, indispensvel ter conhecimento dos pr-
requisitos que esto associados a cada recurso, bem como sobre as recomendaes e os
problemas relacionados ao seu uso, para se ter o melhor aproveitamento possvel das
ferramentas.
2. As Polticas Pblicas de EaD
O estudo das polticas pblicas uma questo contempornea, e se mostra objeto de
investigao pertinente, tanto por parte dos sistemas poltico e econmico quanto dos sistemas
social e educativo.
Poltica pblica pode ser definida pelo produto de uma autoridade investida de poder
pblico e de legitimidade governamental (MNY; THOENIG, 1989, p. 129). A poltica
curricular a tomada de deciso sobre a seleo, organizao e avaliao de contedos de
aprendizagem, que so a face visvel da realidade escolar, e ainda relacionada com o papel
desempenhado por cada ator educativo na construo do projeto formativo do estudante
(PACHECO, 2000, p.93).
Mesmo em um pas onde as desigualdades sociais e regionais so to grandes e
proporcionais ao imenso espao geogrfico um territrio continental que abriga tantos lugares
que mais parecem cenrios de filmes de poca , impossvel voc, educador, no fazer parte
do contexto de mudanas desencadeado em escala planetria. Virar as pginas do calendrio no
significa necessariamente estar em dia com a sua poca.
Em sntese, afirmamos que, na verdade, nada independente da ao
social e poltica, nem mesmo a possibilidade de que exista uma
sociedade do conhecimento. As caractersticas das polticas pblicas
ou a ausncia delas determinaro se vamos todos entrar nessa tal
sociedade [...] ou se as formas que atualmente adotam a produo,
distribuio e apropriao do conhecimento vo significar um enorme
retrocesso para o conjunto da humanidade - o que pode at resultar em
sua conseqente autodestruio. Precisamente por isso, sugerimos
avanar na reflexo sobre os futuros cenrios da humanidade, tendo
presente o desejo de construir (realmente) uma sociedade do
conhecimento, mas reforando o fato de que a possibilidade de sua
existncia est associada necessidade de articular certas
constituies simblicas: idias, teorias... (BLASLAVSKY;
WERTHEIN, 2004).
No que diz respeito EaD, essa necessidade evidencia um aprofundamento do debate
sobre os aspectos pedaggicos, o uso das TICs e as diretrizes polticas necessrias para
viabilizar a modalidade como um instrumento poderoso de democratizao do conhecimento a
quem a ele no tem acesso, dentro dos padres de qualidade e exigncia acadmicas.
Diversos autores se dividem entre o entusiasmo, a descrena e a resistncia em relao
EaD, mas em um ponto todos concordam: inegvel seu potencial para a incluso de parte
considervel da populao educacional do Brasil e do mundo.
Cada pas e cada instituio adota diretrizes e legislaes especficas para a
utilizao da EaD. As polticas pblicas se mostram quase sempre inadequadas a essa gama de
situaes que se multiplicam com a oferta de cursos pelo mundo a fora.
Em geral, a nfase conferida tecnologia, em uma escala maior que aquela dada aos
processos educativos, apontada como a causa principal do fracasso de vrias experincias aqui
no Pas. Por isso, tanto na definio de estratgias tcnicas e pedaggicas quanto na produo de
materiais para os cursos, de suma importncia o trabalho integrado de uma equipe
multidisciplinar com psiclogos, pedagogos, produtores e comunicadores que priorize a
didtica, sem nunca perder de vista as caractersticas dos estudantes. Estes dois ltimos tpicos
esto diretamente vinculados discusso sobre polticas pblicas. Afinal, que tipo de educao
se quer desenvolver e para quem?
No Pas das enormes distncias e dos contrastes sociais que as tornam ainda maiores, a
questo inevitvel. A composio do nosso pblico de estudantes se mostra bastante
heterognea.
Outro fator a ser considerado: as mudanas no sistema educacional s vo ocorrer se
primeiro o professor mudar. Cursos de formao de docentes, para serem levados a cabo e a
srio, precisam ter como base teorias pedaggicas centradas em princpios compatveis com o
momento histrico. Currculos, programas, materiais multimdia, softwares educacionais, vdeos
educativos, se forem modernos exclusivamente na aparncia, vo servir como diz o ditado
apenas para enganar.
O futuro est mais presente do que se imagina e influi nas formas de sentir, pensar e
agir das pessoas. Cabe s universidades formar os condutores capazes de trabalhar com a
tecnologia a partir de novas bases tericas, incorporando essas surpreendentes vises de mundo
para atingir diretamente o sistema educacional e, a partir da, em uma reao em cadeia, toda a
sociedade.
Polticas pblicas superficiais que do apenas um retoque mais renovado cara da
educao no Pas j no resolvem. De agora em diante, s uma transformao profunda pode
impor a implantao de polticas educacionais coerentes com as transformaes da sociedade
como um todo (PRETTO, 2005).
Os novos processos de aquisio e construo do conhecimento passam
necessariamente pela utilizao das TICs no processo de ensino-aprendizagem. Mas de que
adianta ter as tecnologias como suporte, instrumento ou material de apoio, se o processo estiver
com as bases tericas comprometidas?
Castro (2000, p. 32) no v outra sada a no ser uma rpida e eficiente capacidade de
adaptao das instituies, sob pena de se fossilizarem, transformando-se em material de estudo
para paleontlogos:
Mudanas que se produzem em escala global esto obrigando os
pases a adequarem suas instituies e seus modos de funcionamento
aos novos cenrios que se configuram. [...] A universidade est diante
de uma encruzilhada. Ou se desenvolve como uma instituio com
valor para a sociedade, por sua tarefa de produo e reflexo acerca do
conhecimento, ou se resigna a ficar como est. A ltima condio
significaria morrer pouco a pouco.
A encruzilhada esconde tambm outras armadilhas. No caso de uma reflexo rasteira,
fica fcil cair no canto de sereia da modernizao a qualquer preo. Uma anlise do ensino
superior no Pas revela a lgica de mercado que se impe EaD, encarada por muitos
educadores e pesquisadores como uma das formas de consolidar a viso dos chamados
empresrios da educao que veem os cursos como um negcio qualquer, os estudantes
como clientes, e por a vai... Alis, muitos investimentos pblicos tm contribudo para a
evoluo deste negcio, e vrias prticas de universidades pblicas e particulares tambm o
reforam (PIMENTEL, 2000).
A EaD pela complexidade e aspectos diferentes do ensino convencional se torna
mais vulnervel a essas relaes entre Estado, sociedade e mercado: [...] Poderamos inclusive
afirmar que muitas vezes a EaD integra um fast food educacional [...], numa confluncia de
interesses entre grupos de empresas, governo e organismos internacionais (PIMENTEL, 2000,
p.54). Trocando isso em midos: so cursos de embalagem tecnolgica sedutora e de
pouqussimo contedo para consumo rpido das massas leia-se estudantes.
A integrao que se espera do processo com certeza no esta. Belloni (2001) identifica
a raiz do problema dentro das prprias instituies escolares nos educadores e seus mtodos ,
como tambm nas escolhas polticas da sociedade.
Mas estabelecer aes de alcance nacional para o planejamento e a aplicao de
programas de integrao das TICs, por exemplo seja na educao presencial ou a distncia ,
torna-se principalmente uma responsabilidade de setores do governo (MARTINEZ, 2000). O
papel das instituies o de empreender a troca de experincias e fazer parcerias para superao
da falta de investimentos financeiros e humanos, na luta por uma educao de qualidade em
todos os nveis. Sobre o financiamento ponto crtico para o desenvolvimento da EaD na rede
pblica , falta uma lei especfica que atenda s peculiaridades da modalidade, porque at o
momento apenas o ensino presencial contemplado nesse aspecto.
A descontinuidade das aes do governo outro fator a ser levado em conta. A Rede
Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), que disseminou a internet de forma definitiva no Pas,
no conseguiu por decreto identificar e estimular a utilizao do sistema de rede na rea
educacional. Dcadas atrs, outro sistema de educao bsica, com aulas via satlite, o Projeto
SACI, tambm deixou a desejar. Depois, vieram a TV e Rdio Escola, o Programa Nacional de
Informtica (PROINFO), Um Salto para o Futuro e o Rede Interativa Virtual de Educao
(RIVED) todos, uns mais, outros menos, foram alvos de crticas do meio acadmico.
Se voltarmos no tempo, aqui no Brasil, por exemplo, verificamos que a EaD ganhou
status de Secretaria em 1995. Em dezembro de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educao
Nacional instituiu oficialmente a modalidade a distncia entre ns. A partir da, A EaD foi cada
vez mais reconhecida como capaz de cumprir metas de polticas pblicas de longo alcance.
Detalhe: onde h grande disperso geogrfica dos estudantes, sua aplicao se torna ainda mais
indicada.
O tempo que se conta para trs, em termos de reflexo e de experincias acumuladas; o
agora, que exige aes imediatas com base nos erros e acertos do passado; e o futuro, balizador
de onde queremos chegar como pessoas formadoras de uma identidade prpria em um contexto
de globalizao, no fundo, tudo se integra nas pginas do nosso calendrio de vida.
UNIDADE 2 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA EDUCAO A
DISTNCIA
1. Planejamento e Organizao de Sistemas de EaD
Agora que voc j viu diversos conceitos sobre EaD e sua histria no Brasil e no
mundo, pode pensar no planejamento. Um dos maiores perigos em qualquer atividade
educacional tem duas faces: uma, a rotina sem inspirao; outra, a improvisao dispersiva e
completamente desordenada. Como no correr esse risco? Planeje!
Educao a Distncia uma modalidade educativa que vai alm da mera difuso de
informaes. Pressupe objetivos definidos, uma proposta pedaggica consistente, mecanismos
de recepo e avaliao. Tudo isso estruturado a partir das necessidades do educando.
Construir um planejamento educacional em EaD estabelecer uma ponte entre a teoria
e a prtica. Nada melhor do que fazer um diagnstico da realidade para selecionar e organizar os
contedos de aprendizagem, escolher os meios e as atividades mais adequadas e definir como
avaliar o ensino.
importante saber pensar o planejamento e a organizao de sistemas de EaD para sua
instituio. Um material valioso encontrado para ajudar a sua elaborao foi apresentado no ano
de 2005, em um dos eventos de repercusso na rea, que vale a pena conferir em todas suas
edies: o Congresso Internacional de Educao a Distncia no Ensino Superior, que foi
realizado no Brasil, no Rio Grande do Sul. Deste congresso, destacamos o processo de
planejamento e organizao dos sistemas de EaD da seguinte forma:
- Articulao entre reas: comunicao e educao
Prticas educativas em EaD demandam processos comunicativos.
Conhecer o poder pedaggico dos meios de comunicao necessrio para que voc,
educador, seja um bom gestor na sua instituio de EaD. Saiba assumir desafios e forme
uma equipe que os assuma com voc.
- Motivao
Desafios para a equipe que voc pode vir a gerir na implantao de EaD na sua instituio:
Habilidades no uso da tecnologia multimdia.
Atitude crtica perante a produo social da comunicao. Voc deve ensinar a equipe a
pensar que o computador no vai salvar a educao. O que salva a forma como todas
as ferramentas de comunicao sero usadas dentro do ambiente educacional e o modo
como ser conduzido este aprendizado. O computador sozinho no d futuro a
ningum!
- Aprimoramento do processo comunicacional professor-aluno e aluno-aluno
Democratizao de saberes.
Desenvolvimento de capacidades intelectuais e afetivas.
Comprometimento com os problemas sociais e polticos de toda a sociedade.
- Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI)
O PDI o elemento primordial para a implantao da EaD. ele que define a misso,
os objetivos e princpios da instituio no que se refere a suas aes de educao a distncia.
Sabe a velha nova de que o projeto pedaggico no s necessrio como
fundamental? A educao a distncia EDUCAO, e, portanto, a distncia circunstancial.
Precisa de Projeto Pedaggico, com identificao das necessidades do curso, considerando os
seguintes aspectos: definio dos objetivos a alcanar; seleo e organizao dos contedos;
elaborao dos materiais didticos; definio do esquema operacional; sistemas de
comunicao; infraestrutura de suporte, monitoria e tutoria; organizao das condies de
aprendizagem, tanto por parte do professor quanto do estudante; gesto pedaggica, tecnolgica
e administrativa; forma de avaliao da aprendizagem.
- Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) mais Projeto Pedaggico (PP)
Arquitetura pedaggica, topologia de suporte tecnolgico, ambiente de aprendizagem,
gesto do ambiente de aprendizagem, vrias so as terminologias que existem por a, mas o
importante ter um projeto pedaggico consistente: pedagogos, comunicadores,
desenvolvedores, webdesigners e outros que se unam ao propsito. Todos vamos ganhar.
Planejamento j!
- Proposta para infraestrutura
Propomos que as necessidades de infraestrutura sejam determinadas pelos objetivos
pedaggicos e que eles possam fornecer subsdios no mapeamento tecnolgico para a criao, o
suporte e a gesto de um curso ou programa a distncia.
Portanto, planejamento educacional uma atividade multidisciplinar que exige trabalho
conjunto e integrado de administradores, educadores, pedagogos, consultores, socilogos,
estatsticos, especialistas, e outras tantas funes quanto for necessrio. A seguir, selecionamos
para voc um texto que trata da Gesto de Sistemas de Educao a Distncia.
Gesto de sistemas de educao a distncia
Cada vez mais torna-se evidente a importncia da gesto em programas educacionais.
Quando no se d a devida ateno a este requisito, idias boas podem se perder ou resultar
em programas pobres e ineficazes.
No caso da educao a distncia, isso no diferente. Sistemas de EaD so complexos
e exigem uma gesto eficiente para que os resultados educacionais possam ser alcanados.
Uma vez definidos os objetivos educacionais, o desenho instrucional, etapas e atividades, os
mecanismos de apoio aprendizagem, as tecnologias a serem utilizadas, a avaliao, os
procedimentos formais acadmicos e o funcionamento do sistema como um todo, fundamental
que se estabeleam as estratgias e mecanismos pelos quais se pode assegurar que esse sistema
v efetivamente funcionar conforme o previsto.
Eu quero apresentar aspectos relacionados gesto de sistemas de EaD, considerando
a gesto como um fator-chave para assegurar a qualidade e o sucesso de programas e cursos
nessa modalidade. Apresentam-se, primeiramente algumas caractersticas de sistemas de EaD,
passando, em seguida, para aspectos relacionados gesto dos mesmos.
Espera-se, com essa anlise, contribuir com o debate em torno da viabilidade e
qualidade de sistemas de EaD, bem como oferecer alguns subsdios aos que esto envolvidos no
planejamento ou implementao desta modalidade de ensino.
- Sistemas de Educao a Distncia
Um primeiro aspecto a ser colocado na discusso sobre a gesto de sistemas de EaD se
refere natureza dos sistemas de EaD. Ao contrrio do que muitos pensam, trata-se de um
sistema complexo, que exige da instituio que o promove no s uma infraestrutura adequada,
mas a definio e operacionalizao de todos os processos que permitem o alcance dos
objetivos educacionais propostos.
Os bons sistemas de EaD so compostos por uma srie de componentes que devem
funcionar integrados. Trata-se da formalizao de uma estrutura operacional que envolve
desde o desenvolvimento da concepo do curso, a produo dos materiais didticos ou fontes
de informao e a definio do sistema de avaliao, at estabelecimentos dos mecanismos
operacionais de distribuio de matrias, disponibilizao de servios de apoio
aprendizagem e o estabelecimento de procedimentos acadmicos.
Obviamente, dependendo da instituio, da abrangncia de sua rea de atuao, dos
objetivos educacionais propostos, da natureza dos cursos oferecidos, esta estrutura pode ser
mais ou menos complexa.
De um modo geral, pode-se dizer que sistemas de EaD apresentam:
1. Estrutura/mecanismos de planejamento e preparao/disponibilizao de materiais
instrucionais (sejam eles escritos, audiovisuais ou online).
2. Estrutura/mecanismos para a proviso de servios de apoio aprendizagem aos cursistas
(tutoria, servios de comunicao, momentos presenciais).
3. Servios de comunicao que possibilitam o acesso do cursista s informaes necessrias
ao desenvolvimento de suas atividades no curso.
4. Sistemtica de avaliao definida e operacional.
5. Estrutura fsica, tecnolgica e de pessoal compatvel com a abrangncia da atuao da
instituio e o tipo de desenho instrucional dos cursos oferecidos.
6. Estrutura e mecanismos de monitoramento e avaliao do sistema.
Vejamos o exemplo de sistemas de EaD nas Universidades Abertas, como as da
Inglaterra e da Espanha. Estas instituies, que so na verdade universidades que funcionam a
distncia, possuem toda uma estrutura que lhes garante o funcionamento sistemtico. Possuem
equipes que elaboram os materiais didticos, mecanismos para que os estudantes os recebam,
uma equipe de tutoria que atua no acompanhamento do trabalho dos estudantes, um sistema
formalizado de avaliao, servios de comunicao, uma infraestrutura fsica, tecnolgica e de
pessoal central e tambm organizada em centros regionais, secretarias e mecanismos
institucionalizados para os servios acadmicos, mecanismos de monitoramento e avaliao
dos servios prestados, enfim, constituem sistemas completos.
Um exemplo brasileiro o Proformao, um curso em nvel mdio com a habilitao
no Magistrio, que oferece a formao a distncia para aproximadamente 25.000 professores,
promovido, em parceria, pelo Ministrio da Educao, os estados e municpios. O Proformao
no desenvolvido por uma instituio, mas sim por um conjunto de atores: uma equipe
elaborou a proposta do curso e produziu os materiais, outra equipe responsvel por todo o
processo de implementao, incluindo a definio da estratgia de implementao e sistema
operacional, monitoramento e avaliao, e foi estabelecida uma estrutura operacional que
viabiliza a consecuo do curso.
Nessa estrutura, os cursistas tm o apoio dos tutores e das Agncias Formadoras
(AGF). As AGF so apoiadas pelas equipes estaduais de gerenciamento e assessores tcnicos, e
as equipes estaduais contam com o apoio da Coordenao Nacional. Foi formado, assim, um
sistema ou uma rede de formao que permite que o curso se desenvolva e atinja seus objetivos
educacionais.
Assim como os sistemas apresentados, existem outros, como os que se organizam nas
instituies chamadas duais, ou seja, universidades que oferecem cursos presenciais e tambm
a distncia. De qualquer forma, os elementos apresentados devem estar formalizados.
- A Gesto de Sistemas de Educao a Distncia
Quando falamos em gesto, estamos falando da maneira como se organizam e
gerenciam as partes que compem um sistema, com vistas ao alcance dos objetivos propostos.
Por exemplo, quando falamos em gesto escolar, estamos falando de como a escola organiza
sua estrutura, sua proposta pedaggica, seus servios, seu pessoal etc., para que a
aprendizagem do estudante ocorra com qualidade, de acordo com sua proposta educacional.
No caso da Educao a Distncia no diferente. A gesto importantssima, uma vez
que ela que garante o perfeito funcionamento do sistema e, consequentemente, sua qualidade,
eficincia e eficcia.
Para fins de ilustrao, podemos separar a gesto de sistemas de EaD em dois grupos:
a) gesto pedaggica e b) gesto de sistema.
a) Gesto pedaggica
Na gesto pedaggica, encontra-se o gerenciamento das etapas e atividades do curso,
bem como do sistema de apoio aprendizagem e avaliao. preciso que as etapas e
atividades estejam claramente definidas e que tudo seja planejado e coordenado de tal maneira
que elas ocorram eficientemente, da maneira programada e no tempo previsto.
Tambm preciso que, qualquer que seja o sistema de apoio aprendizagem do
estudante previsto no sistema, este funcione eficientemente. Assim, se o sistema estabelece uma
tutoria para o acompanhamento dos estudantes, esta deve estar claramente definida, com as
funes e as atividades do tutor estabelecidas e todos os procedimentos para o exerccio desta
funo formalizados. Mais do que isso, preciso estabelecer mecanismos gerenciais para o
acompanhamento do trabalho dos tutores.
Se o sistema estabelece um sistema de comunicao, preciso garantir que ele
efetivamente esteja servindo ao seu objetivo: possibilitar a comunicao efetiva entre os
participantes. Se, de um lado, temos que garantir a possibilidade real do estudante se
comunicar com uma instncia do sistema para obter informaes ou esclarecer dvidas, por
outro, preciso garantir que, da parte da instituio, haja um atendimento eficiente, com
respostas precisas e em tempo hbil.
No Proformao, por exemplo, foi criada toda uma rede de tutores, articulados com as
AGF, e estabelecidos plantes pedaggicos (telefnicos e presenciais) nas AGF para que este
apoio aprendizagem pudesse ocorrer. Todos esses elementos tiveram suas funes e seus
mecanismos de atuao definidos. Mais do que saber o que fazer, preciso que todos os
elementos do sistema saibam "como fazer", quais os procedimentos a ser empregados no
desenvolvimento de suas atividades.
Para uma boa gesto pedaggica preciso ainda que o sistema de avaliao esteja
claramente definido e seja conhecido por todos. Assim, alm de determinar qual a sistemtica
de avaliao formativa/somativa adotada na proposta pedaggica, preciso que se definam
indicadores e instrumentos que possibilitem o desenvolvimento desta avaliao na prtica, e
quem sero os agentes encarregados desse processo.
Assim, em sua gesto, todo sistema de EaD deve prever a definio, a estruturao, o
funcionamento sistemtico de tudo aquilo que compe a proposta pedaggica desse sistema,
bem como prever, como veremos a seguir, a preparao, o acompanhamento, o monitoramento
e a avaliao das equipes para assegurar o bom funcionamento do mesmo.
b) Gesto de sistema
Na gesto de sistema, podemos situar todas as outras necessidades de gerenciamento:
de recursos financeiros, de pessoal, de treinamentos, de produo e distribuio de materiais,
da tecnologia empregada, dos processos acadmicos, do monitoramento e avaliao. Trata-se
do gerenciamento de processos que so inerentes ao funcionamento eficiente do sistema.
Normalmente, os sistemas envolvem o gerenciamento dos recursos financeiros
disponveis (que so finitos) e a prestao de contas a entidades ou rgos associados a eles.
Um sistema de EaD exige recursos, e estes devem ser gerenciados de modo a garantir a
eficincia e eficcia do mesmo.
Do mesmo modo, os sistemas envolvem um quadro de pessoal e, dependendo de sua
estrutura, a capacitao tcnica especfica desse quadro e /ou treinamentos sistemticos. Como
j salientamos, todos os envolvidos devem saber claramente "o que fazer" e "como fazer". Por
outro lado, a boa gesto acompanha o trabalho dos envolvidos para identificar pontos que
ainda no foram bem compreendidos e que devem ser reforados.
A gesto deve preocupar-se, ainda, com a preparao de bons materiais instrucionais e
o funcionamento das tecnologias empregadas. Se, por exemplo, optou-se pela utilizao de
materiais impressos, h toda uma organizao necessria para a definio de tais materiais,
das pessoas ou equipes que trabalharo nesta elaborao, dos prazos para elaborao,
produo e distribuio dos mesmos.
Se, por outro lado, optou-se por tutoria online, deve-se assegurar que a rede de
computadores esteja disponvel e em funcionamento, mantendo um sistema de manuteno
constante.
Alm disso, como ocorre nos sistemas de educao presencial, cursos a distncia
geralmente demandam mecanismos especiais ligados ao registro da vida acadmica do
estudante. Isso pode incluir desde o modo como o estudante se inscreve nos cursos oferecidos e
o registro de sua efetiva participao at a avaliao e certificao.
Finalmente, no podemos deixar de salientar a necessidade que todo sistema tem de
estabelecer e operar uma sistemtica contnua de monitoramento e avaliao. Somente
estabelecendo mecanismos para obter dados e acompanhar o funcionamento do sistema, tanto
no que se refere ao alcance dos objetivos propostos quanto ao desenvolvimento dos processos,
que o gestor pode buscar o aperfeioamento do sistema. Lembremos sempre que estamos
falando de sistemas complexos, que envolvem uma srie de partes que devem funcionar
articuladamente. No momento em que uma dessas partes apresenta problemas, o todo pode ser
comprometido. Assim, melhor estabelecer, desde o incio, alguns mecanismos que possibilitem
a identificao de problemas, de modo que estratgias possam ser definidas para a sua
imediata resoluo.
- Consideraes Finais
Percebemos, assim, que h muitas variveis envolvidas em um sistema de EaD e que
sua complexidade no deve ser subestimada. Necessita-se, sim, pensar em todas essas
variveis, estabelecer mecanismos que permitam o gerenciamento das mesmas e a efetividade
nos processos, sempre com vistas concretizao dos objetivos educacionais traados.
Torna-se bastante claro, tambm, que no basta o desenvolvimento de uma boa
proposta pedaggica ou a produo de bons materiais instrucionais para garantir o sucesso de
um curso ou Programa de EaD. Embora essas condies sejam absolutamente necessrias ao
desenvolvimento de um programa ou curso, no so suficientes para propiciar que o estudante
possa se engajar em um processo de aprendizagem efetivo. A formalizao de estruturas,
mecanismos e procedimentos que viabilizem tanto a gesto pedaggica quanto a gesto de
sistema fundamental qualidade e sucesso de qualquer sistema de EaD.
2. Implantao e desenvolvimento de EaD
Muitas questes relacionadas educao a distncia devem ser cuidadosamente
averiguadas. Algumas so institucionais, outras pedaggicas e outras individuais (estudantes e
professores).
Segundo Raabe (2000), Melo (2004) e Marcheti (2003), algumas das questes mais
importantes para a implantao comeam a ser analisadas bem antes da estruturao ou
reestruturao do projeto pedaggico do curso. Dentre elas, podem ser citadas:
Ter claro o tipo de projeto que se deseja implantar: se um programa, curso,
disciplina, 20% de uma disciplina, treinamento, atividade complementar etc.
Ter claros os objetivos parciais e finais a serem alcanados.
Conhecer a demanda do pblico: se h necessidade mercadolgica ou apenas vontade
e iniciativa de alguns.
Ter o pblico-alvo bem definido: para definir o pblico necessrio avaliar os
parmetros da realidade em que a instituio se enquadra, o projeto educativo
institucional e sua viabilidade.
Analisada a viabilidade poltica e institucional, o prximo passo a analise das questes
pedaggicas, que podem ser agrupadas em:
Quantas horas de durao ter o projeto definido anteriormente?
Desse total de horas, como ser dividida a dedicao em semanas? Por exemplo, um
curso de 60 horas poder ter durao de seis semanas/unidades, sendo necessria a
dedicao de 10 horas por semana dos estudantes inscritos. Dentro dessa diviso de
carga horria, deve ser descrito, de forma coerente e concisa, o objetivo principal de
cada unidade/semana, para que o estudante consiga ficar atento aos objetivos de
aprendizagem propostos.
A escolha adequada da forma de comunicao determinante na busca dos objetivos de
uma atividade de aprendizagem. Para isso, devem ser conhecidos os recursos e as caractersticas
especficas de cada um deles, permitindo identificar seu potencial e sua aplicao.
As atividades de aprendizagem se tornam mais atreladas leitura do que oralidade.
Com isso, a organizao dos textos bsicos e complementares aos cursos deve considerar a
situao de ausncia do professor. A aplicao dos mesmos textos usados em sala de aula pode
se tornar inadequada. Nesse particular, a elaborao de material especialmente para essa
modalidade se torna bastante oportuna.
Esse material deve incorporar os diferentes estilos de aprendizagem, explicitar com
clareza os objetivos de aprendizagem e estar amparado em uma estratgia de ensino-
aprendizagem.
necessria a adoo de posturas voltadas cooperao. Os recursos tecnolgicos de
apoio ao ensino por si s no promovem mudanas, mas a forma como so utilizados que
pode provocar. A internet possibilita a aprendizagem pela colaborao, os estudantes dos cursos
estaro imersos em um novo ambiente mediado por uma tecnologia que possibilita o
estabelecimento de interaes em tempo real, desenvolvendo vrias conexes internas e
externas.
Muitas das questes citadas derivam das caractersticas dos estudantes a distncia, cujos
anseios e objetivos devem ser completamente diferentes dos estudantes tradicionais. Segundo
Melo (2004) e Marcheti (2003), o papel preliminar do estudante aprender. Sob as melhores
circunstncias, esta desafiante tarefa requer motivao, planejamento e habilidade para analisar
e aplicar a informao que est sendo transmitida.
Em EaD, o processo de aprendizado do estudante mais complexo pelos seguintes
fatores, dentre outras razes:
- Anseios e intenes:
Os estudantes a distncia tm uma variedade de razes para fazer um curso, que vai
desde a necessidade de obteno de um grau at a atualizao dos conhecimentos. Esses fatores
so considerados fundamentais para o desenvolvimento de aprendizagens significativas, pois
partem de uma necessidade real do indivduo, dentre outras: falta de tempo, distncia e custo, a
oportunidade de fazer cursos e a possibilidade de entrar em contato com outros estudantes de
diferentes classes sociais, culturais, econmicas e experimentais. Como consequncia, eles
ganham no s conhecimento, mas tambm novas habilidades sociais, incluindo a habilidade de
se comunicar e colaborar com colegas distantes, que eles podem nunca ter visto (MELO, 2004).
- Estilos e ritmos de aprendizagem:
Podem ser cooperativo, competitivo ou individualizado. Muitos projetos de educao a
distncia incorporam aprendizado cooperativo, projetos colaborativos e interatividade entre
grupos de estudantes e entre sites. Um aspecto decisivo que cada pessoa tem seu modo
preferido de aprender, isto , seu prprio estilo de aprendizagem.
Segundo Felder (1996), as pessoas aprendem de diferentes maneiras: vendo, ouvindo,
interagindo, fazendo, refletindo, de forma lgica, intuitiva, memorizando, por analogias, criando
modelos e imagens mentais. Ao se considerar que quem ensina tambm um aprendiz, pode-se
depreender, se baseando na mesma concepo do pargrafo anterior, que alguns educadores
possuem preferncias diferentes em relao aos seus mtodos de ensino, o que pode acarretar
uma dissonncia entre o mtodo de ensinar e o mtodo de aprender. Essa dicotomia pode ser
evidenciada pelo fato de que nem tudo que ensinado pelo educador aprendido e apreendido
pelo educando.
Diferentes contedos possuem caractersticas prprias de abordagem, e essa
flexibilidade deve ser utilizada a favor do processo de educao a distncia que permite que, ao
se abordar de formas e nveis diferentes o mesmo contedo, diferentes estilos de aprendizagem
sejam satisfeitos, transferindo maior efetividade ao processo educacional.
- Estratgia de ensino e administrao de tempo de estudo:
Uma das grandes dificuldades estabelecer o contedo e a sequncia que motivem o
estudante e o levem autoaprendizagem. O ciclo de aprendizagem proposto por Kolb (1984)
oferece um referencial para conduzir o processo educacional. O ciclo contribui tambm para
descobrir o ritmo de estudo e a forma como administrar o tempo para que a aprendizagem
ocorra de forma organizada e disciplinada. Essa caracterstica propicia o desenvolvimento da
autonomia do aprendizado.
- Suporte ao estudante:
Uma vez que cada indivduo possui, alm da sua preferncia, ritmos de aprendizagem
diferentes, definir e delimitar o suporte ao estudante uma das principais caractersticas de
sucesso dessa modalidade.
- Avaliao da aprendizagem:
Esse um tema polmico, mas, uma vez que existe um objetivo de aprendizagem, deve
existir um processo de mensurao que indique se o objetivo foi atingido e em que grau. A
definio de objetivos normalmente no uma tarefa fcil, consideramos que se devem
estabelecer os comportamentos esperados do estudante aps o ato educacional. Nesse particular,
a classificao de objetivos educacionais proposta por Bloom (1976) se apresenta como uma
alternativa bastante vivel.
2. Tecnologias da Informao e Comunicao na EaD
Em uma sociedade mundial, na qual o saber ou as competncias e os conhecimentos
exigidos mudam rapidamente, a aprendizagem e a capacidade de aprender revelam uma
importncia social e econmica fundamental. Um melhor acesso aprendizagem permanente
imprescindvel para o desenvolvimento pessoal e profissional de cada indivduo. Nesta
perspectiva, a educao a distncia se mostra como um instrumento eficaz nas demandas de
educao permanente da sociedade atual, uma vez que pode facilitar a aprendizagem ao longo
da vida e contribuir, ao mesmo tempo, para viabilizar a igualdade de chances de acesso
formao, sem sacrificar a qualidade do ensino.
Com efeito, a educao a distncia, por sua flexibilidade de tempo (horrios) e lugares
de aprendizagem e, sobretudo, a facilidade de fornecer resposta s necessidades de formao
profissional, pode auxiliar na insero de jovens e reinsero de adultos no mundo do trabalho.
Para que se destine a tal fim, entretanto, se faz necessrio que a EaD seja introduzida,
progressivamente, em diferentes tipos e graus de ensino, de forma a ser aceita pelos atores
envolvidos no processo (professores, tutores e pblico-alvo). Neste particular, vrias estratgias
podero ajudar os estabelecimentos de ensino quando o desafio for a implementao da EaD nas
universidades.
- Alguns indicadores
Uma das estratgias consiste em adotar uma aproximao e adaptao progressiva e
sistemtica, pela introduo de cursos e programas a distncia na graduao. Aps a avaliao
da eficcia dos tipos de EaD ofertados, incorporar progressivamente as experincias bem-
sucedidas. Isso no se faz sem uma apreciao crtica e sistemtica sobre a concepo dos
contedos, do curso e dos programas a distncia. Nesse sentido, ser vital a definio de uma
estratgia institucional prpria na matria e na adoo de um processo integrado de
planificao: um projeto de ensino claro, no qual, a partir do envolvimento de professores de
diferentes centros de ensino, se possam planejar os passos concretos para desenvolvimento das
formas de ensino a distncia que sero adotadas pela instituio, de forma a serem aceitas pelos
professores da instituio e pelo pblico visado.
Outra estratgia consiste em avaliar os cursos j ofertados. necessrio indagar sobre a
eficcia destes cursos junto aos atores que j participaram de experincias de EaD na instituio
de ensino. Na mesma perspectiva, os estabelecimentos de ensino devem buscar adequar os
cursos ao pblico a que se destinam, por meio de amplas pesquisas de mercado sobre as
demandas da sociedade e sobre as caractersticas particulares do pblico-alvo.
Outra importante estratgia consiste em adotar medidas para motivar os membros do
corpo docente a se engajarem no desenvolvimento de programas a distncia. A introduo da
EaD ainda constitui uma inovao/desafio que pressupe um longo perodo de preparao e
maturao dos atores envolvidos, imprescindveis ao desenvolvimento de competncias
pedaggicas e tcnicas necessrias, bem como sedimentao de processos de sensibilizao
sobre o real valor pedaggico da EaD.
So medidas que se referem, portanto, exposio dos reais benefcios profissionais
que os professores e/ou tutores podem retirar desta inovao, como perspectivas de ganhos
salariais, acesso a novas formas (mais amplas e coletivas) de relao professor/estudante,
elaborao de novas dinmicas de trabalho em equipe, o surgimento de novas concepes
didticas, dentre outras. Ademais, devemos levar em conta que a concepo das unidades, dos
cursos e dos programas a distncia pode demandar muito tempo, devido necessidade de
superar problemas tcnicos e tambm em funo das dificuldades prprias da
concepo/definio didtica a ser desenvolvida. Seria pertinente a adoo de medidas com o
fim de liberar tempo aos profissionais envolvidos na efetivao de programas a distncia.
As horas empregadas no aperfeioamento da pedagogia a ser implementada, alm das
horas de preparao dos cursos, devem ser contabilizadas (como horas-aula) e levadas em conta
no plano de cargos e carreira dos professores envolvidos no processo.
Qualquer que seja o processo de ensino a ser adotado, o planejamento e a
implementao de uma formao a distncia requerem recursos financeiros e humanos. Dessa
forma, seria conveniente o investimento anual no desenvolvimento de projetos pedaggicos.
Alm disso, firmar parcerias (colaborao entre instituies de diferentes tipos, cooperao
empresas/universidades, convnios com organizaes pblicas e/ou organizaes no
governamentais) pode ser uma soluo racional e medida eficiente na diminuio dos custos da
formao a distncia. Esse tipo de ao poder permitir investimentos razoveis no
desenvolvimento coerente e pertinente da EaD nas universidades. Os recursos humanos ocupam
um lugar importante na eficcia e na qualidade dos cursos a distncia. Os diferentes papis a
serem desempenhados (tutores, especialistas, professores e monitores) devem ser
regulamentados, respeitando-se a formao e as titulaes dos envolvidos.
- A estrutura de produo bsica
De maneira mais global, seria recomendada a criao de uma estrutura de Planejamento
e Avaliao (grupo de trabalho formado por profissionais de diferentes reas) na organizao do
ensino a distncia, que atue na estruturao e avaliao dos programas e/ou projetos
pedaggicos a serem implementados. No mesmo contexto, seria adequada, por exemplo, a
criao de um Conselho Consultivo de Ensino e Aprendizagem (equipe/grupo de trabalho
multidisciplinar), composto por pedagogos, profissionais representantes dos diferentes centros e
de tcnicos (especialistas em tecnologia educacional). Essa estrutura poder, dentre outras
vantagens, organizar modelos e portflios uniformes/flexveis de avaliao (para os diferentes
centros) e atuar na criao de projetos comuns para as diferentes reas do conhecimento
(cincias humanas, tecnolgicas, administrativas, jurdicas), bem como promover a pesquisa em
EaD, otimizando os recursos humanos e financeiros aplicados.
Dever, igualmente, contribuir para a estruturao de uma linha de ao clara na criao
de uma estratgia eficaz na socializao (com a comunidade acadmica e com a sociedade em
geral) da imagem e da marca da EaD (linha de ao, projeto pedaggico) na instituio de
ensino. A estrutura bsica sugerida poder tambm motivar, em longo prazo, a criao de um
Observatrio de Ensino a Distncia, composto por pesquisadores e profissionais ligados ao
ensino e extenso, cuja misso estaria ligada atualizao de conhecimentos em matria de
inovaes tecnolgicas, informaes, demandas de cursos da sociedade (mundo do trabalho),
produo de materiais didticos e de formao e apoio s novas iniciativas de EaD.
Por fim, em funo da formao acadmica, bem como da atuao e da prtica
profissional, os atores envolvidos na formao a distncia podero ser classificados em:
- Coordenador pedaggico: analisa as necessidades de formao; determina os objetivos e o
contedo dos cursos; define os mtodos (paradigmas ensino/aprendizagem), os critrios e as
estratgias de avaliao; concebe os dispositivos de aprendizagem (individual e coletiva).
- Autor: produz o contedo luz das orientaes pedaggicas.
- Tcnico de produtos e multimdias educativas: examina a pertinncia da escolha da mdia;
previne os contextos de utilizao; prev as interaes homem-mdia-mquina e define o plano
de avaliao da tecnologia utilizada.
- Tutor: gere as aprendizagens individuais; planeja os passos da aprendizagem, aconselha e
orienta; ajuda a montar o percurso da formao; gere a comunicao; organiza os grupos de
trabalho; analisa as interaes; gere os recursos mediando a utilizao e o manejo de
equipamentos; responde s questes individuais e/ou coletivas, bem como as modera.
Acreditamos que as instituies de ensino devem definir com clareza o papel do
formador a distncia. O acompanhamento e a coordenao pedaggica (formada por equipe
multidisciplinar) deve se desenvolver por meio de um trabalho colaborativo, no dispensando o
apoio de uma equipe de pesquisadores na rea.
De acordo com a demanda, esta estrutura poder ofertar cursos e servios, tambm, a
outros estabelecimentos de ensino. Alm disso, seria imprescindvel o desenvolvimento de
pesquisa sistemtica e constante sobre que tipo de tecnologia pode favorecer a aprendizagem
coletiva, funcionando como base de apoio para uma formao a distncia de qualidade.
necessria, ainda, a definio da linha de ao da EaD na instituio: a inteno, a organizao e
a implementao das aes concretas devem estar claras e acessveis, desde o incio, no
contexto acadmico (LINARD, 1995).
A preparao pedaggica e, mais particularmente, o desenvolvimento de competncias
de comunicao e de colaborao dos atores envolvidos na formao a distncia tambm
parecem indispensveis. Finalmente, a concepo de um modelo de formao a distncia deve,
necessariamente, incluir, em sua linha de ao, investimento na pesquisa e na estruturao de
cursos destinados ao desenvolvimento de competncias dos atores envolvidos. Neste sentido,
cremos que os indicadores acima descritos constituem princpios fundamentais e pr-requisitos
na implementao e
Voc j se deu conta de como o termo rede est sendo bastante utilizado atualmente?
Ser que sempre que o encontramos ele est relacionado ao seu verdadeiro sentido? Vamos
discutir este conceito?
Podemos pensar no conceito de rede levando em considerao os vrios nveis fractais
possveis em uma rede. Em uma rede neural, um indivduo pensa com seus bilhes de neurnios
ou, mudando de nvel fractal, podemos ter duas pessoas formando uma rede em dyad (a menor
unidade de comunicao realizada entre duas pessoas), onde os dois ns de comunicao so as
pessoas que formam o canal desta rede. Mudando novamente de nvel, podemos imaginar uma
famlia, ou uma sala de aula, em que um nmero relativamente pequeno de pessoas forma uma
rede de comunicao direta. Pensando em um nvel fractal maior, podemos considerar essa sala
de aula parte de uma escola, sendo que agora a sala se torna apenas um n desta nova rede. Por
meio deste raciocnio, podemos imaginar outros nveis fractais maiores: escolas municipais,
estaduais e nacionais, cidades, estados, pases, continentes, planetas e universos (TIFFIN;
RAJASINGHAM, 1995). No nosso curso, so vrias pessoas, grupos locais, instituies
federais, estaduais...
Sendo assim, em nvel social e poltico, a sociedade contempornea tem trabalhado o
conceito de rede em vrias esferas e contextos. Atualmente, na era da informao, a economia, a
sociedade e a cultura esto sendo estudadas como uma sociedade em rede (CASTELLS,1998).
Muitas reas de estudo tm trabalhado esse conceito, dentre elas, a rea organizacional,
administrativa e empresarial, onde vrios autores utilizam a terminologia de rede. Temos nesta
rea trabalhos polmicos, como a Network Marketing, que utilizada como um recurso de
vendas revolucionrio (POE, 1968), mas que estudos e investigaes recentes mostram que se
trata de novas verses da velha rede em pirmide, que de tempos em tempos acabam iludindo
certo nmero de pessoas e explorando outras tantas.
Mas tambm temos estudos srios na rea administrativa que veem a atividade como
uma rede de informaes e trabalham como teamnets (LIPNACK; STAMPS, 1994), ou
estudos que analisam as empresas em sua atual forma organizacional em formato de redes
(SANTOS, 1999), e tambm trabalhos com nfase geogrfica nas redes urbanas e redes de
telecomunicaes. Porm, atualmente, a rede das tecnologias de informao e da comunicao
tem sido o carro-chefe de qualquer anlise da sociedade em rede, tendo a internet como rea de
estudo e trabalho.
2.1 - AS REDES FSICAS (TECNOLGICAS) E AS REDES
SOCIAIS (DE MOVIMENTOS)
Atualmente vem se desenhando uma nova trade nas concepes de desenvolvimento: o
Estado, o Mercado e a Sociedade Civil (WOLFE, 1992). A professora Ilse Scherer-Warren
(1994) relaciona as principais correntes tericas do pensamento atual, no contexto da rea de
pesquisa dos movimentos sociais, por meio de duas tendncias principais: uma que trata a
questo a partir de uma relao dual sociedade civil versus Estado; e outra que considera uma
relao tripartite estado-mercado-sociedade civil.
Para Norberto Bobbio (1999), que segue a primeira tendncia, a sociedade civil o
campo das vrias formas de mobilizaes, associaes e organizao das foras sociais, que se
desenvolvem margem das relaes de poder que caracterizam as instituies estatais. Dentro
desta viso, Calhoun (1997) distingue a sociedade civil por sua capacidade de associativismo e
autodeterminao poltica independente do Estado. Estas associaes, que podem assumir a
forma de comunidades, movimentos ou organizaes, advindas da igreja, de partidos ou de
grupos de mtua ajuda, tm o papel de intermediao junto instituio Estado (apud
SCHERER-WARREN, 1994).
A segunda tendncia, que considera a relao tripartite Estado-mercado-sociedade civil,
aponta a sociedade civil como integrante de um terceiro setor, em contraste com o Estado e o
Mercado. Se refere genericamente a uma ao por parte de entidades no governamentais,
independentes tanto da burocracia estatal e sem fins lucrativos quanto dos interesses do
mercado. A prpria noo de Organizao No Governamental (ONG) tende a ser
compreendida como parte deste setor.
Entretanto, Wolfe (apud SCHERER-WARREN,1994), seguindo esta tendncia
tripartite, considera o terceiro setor como a prpria sociedade civil, que denomina tambm de
setor social. A noo de Wolfe de associativismo na vida cotidiana se aproxima daquela de
Tocqueville, incluindo a mtua ajuda, aes de solidariedade comunitria e familiar, alm de
ONGs e outros movimentos. Alm disso, segundo este autor, altrusmo/gratuidade seriam outros
elementos constitutivos da sociedade civil.
A sociedade civil brasileira tem destacado outra trade enquanto agente poltico na
busca de articulao de redes de movimentos e na articulao entre organizaes populares, no
sentido de formar um coletivo mais abrangente. Alguns agentes so oriundos do movimento
sindical, e h ainda aqueles que realizam um trabalho de mediao junto a movimentos
populares por meio das ONGs (SCHERER-WARREN, 1993). dentro deste quadro
conjuntural, que conta com novos movimentos sociais, que surgiu nos anos 1980 o Movimento
pela Democratizao da Comunicao no Brasil.
Na dcada de 90 do sculo passado, estes movimentos se caracterizaram pelo
fortalecimento em forma de rede, as chamadas redes de movimentos. Segundo Ilse Scherer-
Warren, as redes de movimentos que vm se formando no Brasil apresentam algumas
caractersticas em comum: busca de articulao de atores e movimentos sociais e culturais;
transnacionalidade; pluralismo organizacional e ideolgico; atuao nos campos cultural e
poltico (ibidem, p.199). Podemos ainda acrescentar a horizontalidade como caracterstica
dessas redes de movimentos sociais no Brasil (SOUZA, 1996).
interessante notar que as redes das quais falamos at aqui so redes sociais, formas de
organizao humana e de articulao entre grupos e instituies. Porm, importante salientar
que estas redes sociais esto intimamente vinculadas ao desenvolvimento de redes fsicas e de
recursos comunicativos. O desenvolvimento das novas tecnologias e a possibilidade de criao
de redes de comunicao, de interesses especficos, tcnicas, utilizando os mais variados
recursos, meios e canais, fundamental para o desenvolvimento destas redes de movimentos
sociais.
Podemos dizer que o desenvolvimento da multimdia, as novas formas interativas de
acesso informtica, as conferncias e redes via computao representam o mais novo territrio
de disputa e luta na sociedade. As redes de movimentos sociais se utilizam da possibilidade que
as redes tecnolgicas oferecem de troca horizontal de informao para fortalecer suas estratgias
de conquista de espao na sociedade. Atualmente, muitas redes de movimentos sociais e
culturais esto surgindo, estimuladas pelas redes informacionais e a partir de seu lcus.
Dialogicamente, o territrio, o mar das redes eletrnicas, est encontrando novos marinheiros
que comeam a naveg-lo. Especialistas em informtica comeam a se interessar pelas cincias
humanas, cientistas sociais principiam a atuar em conferncias informatizadas, sindicalistas
trocam informaes e recebem dados via satlite, e todos participam de redes de comunicao.
importante salientar que este fenmeno no acontece somente com as redes de movimentos
sociais, como j falamos antes, os agentes do mercado e do setor estatal tambm esto entrando
com fora neste novo territrio.
Randolph (1993), analisando as atuais transformaes sociais e o surgimento de novas
redes, observa que este processo ocorre em duas frentes: a primeira na esfera privada, onde as
transformaes das empresas capitalistas ocidentais aglutinadas em redes estratgicas ocorrem
sob o signo do LEAN Management, que representa um pacote de medidas de flexibilizao e
emagrecimento particularmente da grande corporao capitalista, e que englobam uma gama
heterognea de novas relaes entre formas de empreendimentos econmicos. A segunda
frente acontece na esfera pblica, onde ocorrem modificaes relativas ao relacionamento entre
Estado e sociedade, por meio da criao de redes de solidariedade, caracterizadas igualmente
por uma grande diversidade de relaes. Essas redes ganharam visibilidade e notoriedade maior
com a proliferao das chamadas Organizaes No Governamentais (ONGs), a partir da crise
do Estado do Bem-Estar e da proliferao de propostas polticas neoliberais.
Em sntese,
tanto redes estratgicas como redes de solidariedade no apenas
questionam a fronteira entre o quadro institucional e o sistema, mas a
prpria consolidao de duas esferas (relativamente) separadas de
pblico e privado. Teramos, ento, transformaes em duas
direes: tanto horizontal, com a reformulao e mutao das
racionalidades comunicativa e instrumental, quanto vertical com a
redefinio de espaos privados e pblicos nas novas sociedades
(RANDOLPH, 1993, p.4-5).
Podemos dizer que esses questionamentos e mudanas de
conceituao sobre pblico e privado podem ser verificados com
nfase na disputa do chamado ciberespao (espao mundial de
comunicao eletrnica), ou seja, o mar onde navegam os primeiros
viajantes destas novas tecnologias a comunicao. importante
salientar, porm, que, no bojo do projeto das super-rodovias da
comunicao, pode-se potencializar e desenvolver o esprito e o
embrio, j experimentado pela Internet, de convivncia num espao e
esprito democrticos, ou podem simplesmente transform-lo num
grande mercado de servios nas mos dos grandes cartis das
telecomunicaes (AFONSO, 1994, p.13).
3 - A WEB COMO AMBIENTE DE APRENDIZAGEM
Para gerir cursos que tenham a preocupao de aproveitar todos os recursos de
multimdia em favor do ensino, necessrio saber como funciona a web como ambiente de
aprendizagem. Collis (1998), falando sobre aprendizagem colaborativa, diz que ningum uma
ilha, que no h um projeto to simples que uma s pessoa possa realizar sozinha e que aprender
com os outros, reformulando o conhecimento a partir da crtica do outro, importante para o
fortalecimento das habilidades de comunicao e o raciocnio.
A noo de aprendizagem colaborativa de que a aquisio de conhecimentos,
habilidades ou atitudes no um processo inerentemente individual, mas resulta de interao
grupal. Esse tipo de aprendizagem se baseia nas seguintes premissas:
cada participante tem conhecimentos e experincias individuais para oferecer e
compartilhar com os outros membros do grupo;
quando trabalham juntos como um time, um membro ajuda o outro a aprender;
para construir uma equipe, cada membro do grupo deve desempenhar um papel para
realizar a misso do grupo; e
o intercmbio de papis desempenhados no grupo adiciona valor ao trabalho da equipe,
porque o estudante pode assumir um ou outro papel com o qual esteja mais
familiarizado em uma dada situao.
As novas tecnologias criam novas chances de reformular as relaes entre estudantes e
professores e de rever a relao da escola com o meio social, ao diversificar os espaos de
construo do conhecimento e revolucionar processos e metodologias de aprendizagem,
permitindo escola um novo dilogo com os indivduos e com o mundo. Neste contexto,
fundamental colocar o conhecimento disposio de um nmero cada vez maior de pessoas, e,
para isso, preciso dispor de ambientes de aprendizagem em que as novas tecnologias sejam
ferramentas instigadoras, capazes de colaborar para uma reflexo crtica e para o
desenvolvimento da pesquisa, sendo facili
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