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Nossa vida, nossas histórias: experiências de
Mulheres Mil
2014
Título original:Nossa vida, nossas histórias: experiências de Mulheres Mil
OrganizaçãoKarla Goularte da Silva Gründler; Marizete Bortolanza Spessatto; Natalia Palhoza
DireçãoRosangela Aguiar AdamRaul Eduardo Fernandez Sales
Coordenação de ExtensãoAngela Maria Crotti da Rosa
ApoioLiteratura na Redehttp://literatura-na-rede.blogspot.com.br/
FotosVitor Hugo Rebellato
Projeto GráficoCECOM - IFC Câmpus Videira
Marizete Bortolanza Spessatto e Karla Goularte
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Vida e escrita: projeto de incentivo à leitura e à escrita com as participantes do Programa Mulheres Mil
O projeto de extensão Literatura na Rede, desenvolvido desde 2012, visa promover ações que motivem a leitura e a escrita dos alunos do IFC de Videira. Muitos alunos já participaram através de
gincanas de arrecadação de livros, formação das minibibliotecas nas salas de aula (em parceria com o projeto Livro na sala de aula: minibibliotecas e formação de leitores – IFC 2012/2013), publicação de contos e comentários, mesas-redondas sobre leitura, peças teatrais e vídeos. Muitos estudantes se envolveram nessas atividades, desde o Ensino Médio até a graduação. No segundo semestre de 2014, uma das propostas do projeto é incentivar a leitura e produção textual das participantes do Programa Mulheres Mil.O Projeto Mulheres Mil está inserido no conjunto de prioridades das políticas públicas do Governo, combatendo a violência contra a mulher e possibilitando o acesso à educação. Ele é desenvolvido no campus do IFC-Videira desde 2013, com atividades de pintura e produção de sabonetes artesanais; além dessas atividades, as participantes têm aulas de Ética e Cidadania, Língua Portuguesa, noções de administração e informática. Essas atividades têm o intuito de garantir o acesso à educação profissional e à elevação da escolaridade das participantes.Nas aulas de língua portuguesa, com as professoras Karla Goularte da Silva Gründler e Marizete Bortolanza Spessatto, foram trabalhadas diversas formas de expressão verbal e contação de histórias. Com o término das aulas, surgiu a ideia de inseri-las no projeto Literatura na Rede, dando assim continuidade aos trabalhos de leitura e produção textual. A ideia inicial foi produzir textos com as histórias de cada participante e, a partir delas, criar um “livro” com essas produções. O objetivo da atividade é valorizar a produção das alunas, incentivando-as a ler e a escrever.O ponto de partida para a atividade foi ressaltar que todos têm uma história para contar, uma memória, algo bom da infância, da juventude ou mesmo um momento que marcou sua vida para sempre. Ao ouvirmos as histórias tão marcantes dessas mulheres, decidimos incentivá-las a escrevê-las para, posteriormente, uni-las em uma coletânea. O resultado disso tudo são as histórias a seguir que, com muito orgulho, apresentamos aos leitores.
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SumárioMulheres de mil histórias 8Os rostos por trás das narrativas 9Nossa vida, nossas histórias 10Ensinar e aprender 11Memórias 13Minha Melhor Amiga e Eu 15À procura da felicidade 16Vitória 18Encontros e desencontros do amor 19Trajetória 21A viagem inesquecível 22Família, minha benção! 23Samambaiais, Violetas e Begônias 24Soneto inesquecível 25Meus filhos, minha vida! 26O incêndio e a solidariedade 27A reconstrução 29Ester, um presente de Deus 30Toma lá, dá cá 32Laços de amor 33Encontros e desencontros do amor 35Minha trajetória de vida 37Uma criança graciosa 38Uma vida 39Uma filha de Deus 40Era uma vez... Leodi 41Projeto familiar 42O monjolo e a vaca 44Nunca é tarde para recomeçar 45Quando uma avó ama um neto 47
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Foi a partir do projeto “Literatura na Rede”, do qual faço parte como bolsista, que tive a oportunidade de conhecer um pouco mais do programa “Mulheres Mil”. Quando recebi o convite
para ingressar no processo de produção do livro, não tinha ideia de quão especial este trabalho se tornaria justamente por se tratar de histórias de vida reais. Já na primeira análise dos textos fiquei emocionada e me envolvi completamente com as personagens verdadeiras que ilustram cada trecho das histórias. Foi impossível não chorar nos momentos tristes, rir nos engraçados ou suspirar com cada final feliz. Em uma segunda-feira de sol linda realizei a leitura das histórias para as Mulheres Mil, próximo ao lago maravilhoso do IFC Videira enquanto, ao mesmo tempo, nossas autoras eram fotografadas pelo profissional Vitor Hugo. A emoção estampada no rosto de cada mulher ao ouvir sua história narrada por outra voz foi tocante e, certamente, nunca sairá de minha memória. Foram momentos de risos, de lágrimas e recordações de situações marcantes na vida delas, tanto de imensa felicidade, quanto de desafios superados.O que ficou, ao final da leitura das histórias, foi a certeza de que não tinha diante de mim mulheres comuns, mas verdadeiras vitoriosas, guerreiras que precisam ser conhecidas por suas trajetórias de vida. Mães dedicadas, avós corujas, trabalhadoras incansáveis, sonhadoras natas: mulheres em suas mil facetas, com suas mil histórias... Estas sim estou certa de que são dignas de serem chamadas de heroínas, verdadeiras Mulheres Maravilhas do mundo real.
Natalia Palhoza
Mulheres de mil histórias
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Eu conheci o Projeto Mulheres Mil através da Natalia e foi ela quem sugeriu que eu realizasse as fotografias que iriam ilustrar o livro. Até então eu havia apenas lido suas histórias e
baseando-me somente nisso, a “imagem” que eu tinha delas foi sendo construída. Eu imaginava mulheres tristes e sem vontade de viver, face àquelas dificuldades que elas mesmas narraram, mas isto mudou quando as conheci pessoalmente. O dia estava lindo, o que torna a paisagem do IFC perfeita para uma tarde de retratos. De um lado, à beira do lago, eu fotografava as autoras do projeto, e de outro, a Natalia narrava a história de vida daquelas mulheres. Acostumado a ver o mundo por trás de uma câmera, não pude deixar de me tocar com o sorriso espontâneo das Mulheres Mil ao ficarem diante de minhas lentes. A timidez inicial é natural, mas aos pouco elas foram se soltando, deixando suas belezas transparecerem a cada imagem registrada. Cada traço dos rostos delas nos mostra um pouco das provas que o passado lhe impôs. Os olhares, por sua vez, denunciam que já viram muita coisa nesta vida e brilhavam de emoção ao serem ouvintes suas próprias histórias. Mas o que se destaca são os sorrisos sinceros que elas conseguem transmitir, estes sim carregados de vitórias e de superação. Espero ter cumprido a mais difícil das missões: traduzir, em uma imagem, um pouco do que as Mulheres Mil nos contam com suas presenças.
Vitor Hugo Rebellato
Os rostos por trás das narrativas
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Aprendemos na escola a admirar grandes autores e suas grandes
obras literárias. Com eles conhecemos mais sobre a vida, os
sentimentos, as alegrias e misérias deste mundo. Mas não são
só escritores renomados que têm a nos contar e que conseguem imprimir
beleza nas palavras que imortalizam grandes sentimentos no papel. Este
livro é um exemplo disso.
Desafiamos, eu, a professora e amiga Karla e a estudante de Pedagogia
e poetisa Natalia, aos grupos de mulheres que participam do programa
Mulheres Mil no câmpus do IFC Videira, em 2014, a escrever, a pôr no
papel suas vidas. Recebemos de presente este livro que compartilhamos
com todos vocês. Cada uma das autoras, ao partilhar suas histórias, ajuda-
nos a rever nossos pontos de vista, a relativizar sofrimentos, a pensar
que a beleza da vida está ao nosso lado. Basta o olhar sensível de quem
enfrenta as dificuldades com perseverança para perceber.
Aprendi muito com a experiência de trabalho junto ao Mulheres Mil. E
vejo a vida sob diferentes perspectivas acompanhando cada uma dessas
histórias de flores, dores e amores apresentadas aqui.
Nossa vida, nossas históriasMari Bortolanza Spessatto
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Afinal, que histórias são dignas de serem contadas? Quem
merece ser protagonista? O que faz com que uma história
seja interessante? Pois bem: eu digo que todos nós temos uma
história interessante para contar, pelo simples fato de existirmos e de
construirmos nossa própria história.
A minha história com as Mulheres Mil começou quando minha amiga
Marizete Bortolanza Spessatto me falou sobre o projeto Mulheres Mil.
Fiquei muito curiosa, pois ouvia as histórias que ela contava e cada
vez mais minha curiosidade aumentava. Em 2013, o projeto começou
em Videira e atuei como docente de Língua Portuguesa. Foi um grande
desafio, principalmente porque eu achava que ensinaria, mas eu mais
aprendi do que ensinei.
Em 2014, quando a professora Mari e eu pedimos para que nossas alunas
contassem suas histórias, muitas diziam que não sabiam escrever direito,
ou que suas histórias não eram interessantes para serem contadas. Mesmo
assim insistimos! Cada uma contou e escreveu do seu jeito, com toda a
sua emoção. E essa emoção nos contagiou! Choramos, sorrimos e ficamos
orgulhosas! A mesma emoção foi sentida pela estudante de Pedagogia
Natalia Palhosa, que fez um lindo trabalho, narrando à beira do lago as
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas
criar as possibilidades para a sua própria
produção ou a sua construção”. (Pedagogia da
Autonomia - Paulo Freire).
Ensinar e aprenderKarla Goularte da Silva Gründler
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histórias dessas guerreiras da vida real. O fotógrafo profissional Vitor
Hugo Rebellato registrou e também viveu esse momento conosco.
Cada linha escrita por essas mulheres é um degrau a mais na escada da
superação do abandono, das tristezas, dos desencontros e das perdas.
Por isso, eu gostaria de agradecer a todos os parceiros que caminharam
lado a lado para que esta coletânea fosse produzida. Agradeço também
às protagonistas dessas histórias, as Mulheres Mil, que nos emocionaram
e nos ensinaram a ver a beleza na sua forma mais pura, na simplicidade.
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Sempre fui uma jovem muito trabalhadeira. Lembro-me de que
eu era o “Gipinho do papai”. Meu pai me chamava de “Gipinho”
porque eu era sempre ligeira quando estávamos na roça. O pai me
mandava buscar um vinho e eu me lembro que ia correndo. Meus irmãos
se distraíam com tudo no meio do caminho e meu pai ficava bravo.
Nós tínhamos um burrico e sempre íamos buscar pasto com ele. Meu
irmão mais velho ia na frente e amarrava os capins, quando eu passava
em cima do burrico, ele tropeçava e eu caía... acho que meus irmãos
tinham ciúmes porque nosso pai gostava muito de mim e, por isso, eles
me judiavam muito.
Eu também tinha uma irmã mais velha e nós íamos buscar mandioca para
o gado. Lembro que ela nunca queria sujar as mãos. Ela dizia “Eu arranco
e tu quebra”, “Eu abro e tu põe no saco”. E eu fazia o serviço sujo.
Minha irmã mais velha era muito corajosa. Um dia, na época da minha
adolescência, ela me disse que enfrentava todas as vacas e eu disse:
“Duvido você enfrentar a Pintada!”. Então ela disse: “Está bem!” e lá
foi ela em direção à vaca. Então, ela chegou perto da vaca, agarrou nos
chifres e a Pintada fazia minha irmã voar pra lá e pra cá. Ela não soltava
os chifres e eu me matava de tanto dar risadas. Ela era corajosa, mas nem
tanto! No final, ela já estava pedindo para chamar a mãe, que segurou a
Odete Ema Dal Pizzol
Memórias
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Pintada para ela sair.
Em uma Quarta-feira de Cinzas, minhas três amigas e eu lá do sítio íamos
na Matriz receber cinzas. Foi então que meu irmão resolveu aprontar
uma sacanagem para quando chegássemos em casa. Era uma noite bem
escura, não havia a claridade da Lua. Perto da nossa casa tinha um morro,
então ele pegou uma capa preta do meu pai e ficou abaixado no trilho
da rua, no pé do morro. Quando nós passamos, vimos um bicho preto e
corremos morro acima e ele corria atrás de nós chutando pedras. Nunca
mais esqueci do susto e do medo que passamos naquele dia!
Com 17 anos, conheci um rapaz que não era membro da nossa igreja,
mas ia à igreja comigo. Um dia ele me desafiou: “Se você me convencer
que a tua é verdadeira, eu vou contigo e se eu te convencer você vem
comigo!”. Então, ele me convenceu eu fui com ele. Nós nos casamos,
tivemos três filhas e hoje todas são casadas, tenho três genros e três netos,
por enquanto. Tenho um marido que me respeita e nos amamos muito.
São 36 anos de casamento.
É muito bom poder relembrar as histórias vividas, minhas memórias.
Pensar no meu querido pai, na vida na roça... tudo tão diferente do que
é hoje. Eu me considero uma pessoa realizada e feliz, dentro das minhas
possibilidades.
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Minha melhor amiga era muito pobre, quando conseguiu
começar a construir a sua casa adoeceu seriamente. Eu
a ajudei a arrecadar doações de parentes e amigos e ela
conseguiu morar na casa dos seus sonhos. E esse sonho durou pouco! Nós
éramos irmãs do coração; sabíamos tudo uma da outra! Eu olhava pela
janela da cozinha e via a casa dela de longe.
Durante a sua doença, eu ia visitá-la toda a semana para tomarmos
chimarrão, comer pipoca doce que ela adorava. Passávamos uma tarde
gostosa e isso era muito bom para ambas.
Nós nunca passamos um aniversário longe uma da outra. Quando eu
estava hospitalizada, justo no meu aniversário, lá estava ela ao lado da
minha cama. Por isso, hoje eu não faço nem bolo, porque ela não está
mais entre nós. Já faz quase três anos que ela se foi.
Parei de trabalhar por motivo de saúde e me vi sozinha. Gosto muito de
plantas, tenho coleção de orquídeas, mas, mesmo assim, faltava algo. Por
isso comecei a participar do Programa Mulheres Mil. Gostei tanto que já
estou no segundo ano! Fiz muitas amigas e estou muito bem. Mas minha
grande amiga estará sempre no meu coração. Superar perdas é preciso!
Tocar a vida em frente também! Mas amizades verdadeiras vão além da
vida e da morte.
Minha Melhor Amiga e EuMaria Neusa Dalmolin
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Meu nome é Silvana e minha vida não é um conto de fadas.
Quando criança, não conheci meu pai, pois ele faleceu
quando eu tinha 2 meses. Minha mãe veio trabalhar em
uma casa de família em Videira e só ia me ver uma vez por mês. Então,
comecei a chamar meus avós de pai e mãe e minha mãe de Sirlei.
Sirlei casou novamente e me levou para morar com ela, mas não deu certo
com o meu padrasto. Então, fui morar no Paraná com meu tio, irmão
da Sirlei. Ele era muito bom, mas sua esposa era muito má. Todos os
dias era um pesadelo; meu tio saía para trabalhar e voltava tarde. Já faz
dezenove anos que meu tio João Mattos morreu. Ele foi o meu pai, que
me levava todos os dias às 3 horas da madrugada para a Perdigão. Devo
muito também à minha tia Lurdes que me ensinou a ser dona de casa.
Os anos passaram, eu casei com 17 anos; com 18 anos tive meu primeiro
filho, William. Sempre trabalhei como diarista e o levava junto comigo
para o trabalho, com frio, chuva, vento e sol. Nunca perdi sequer um
dia de trabalho. Cinco anos depois, nasceu o John e William cuidava
dele à tarde para que eu pudesse trabalhar. Mas eu estava pensando em
conseguir um trabalho com carteira assinada, férias e décimo terceiro.
Então peguei minha carteira de trabalho, fiz um teste em uma empresa e
passei. No entanto, tinha estudado apenas três séries e a empresa me fez
À procura da felicidadeSilvana Aparecida Kopp
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assinar um termo de compromisso para que eu voltasse a estudar.
Dois anos depois, nasceu Kim e parei de trabalhar e estudar. Vivia apenas
para a minha família e esqueci-me de mim. Quando Kim tinha 6 anos,
voltei a estudar e a trabalhar como diarista. Um dia, eu estava com o
rádio ligado e o locutor falou que estavam precisando de uma auxiliar de
cozinha. Fui até o local informado e fui contratada. Comecei a trabalhar
e encontrei o que gostava realmente de fazer: cozinhar! Depois de dois
anos, eu me tornei uma cozinheira profissional!
Mas minha felicidade durou pouco. Fiquei doente e não posso mais
cozinhar, pois não tenho mais forças para mexer com as panelas. O doutor
me disse que não sabe se meus braços vão voltar a ser como antes. Tudo
isso aconteceu depois que me separei e meus dois filhos mais novos foram
morar com o pai. Willian, meu filho mais velho, hoje tem 28 anos e é
doutor com doutorado. Eu sempre digo que ele nasceu para brilhar. Não
é fácil ficar longe dos filhos, das pessoas que você mais ama no mundo,
mas se eles estão bem e felizes, eu também fico feliz. A maior felicidade
de uma mãe é ver a felicidade dos filhos.
Acredito que todo o meu esforço valeu a pena. Como eu disse no começo,
minha vida não foi um conto de fadas, enfrentei muitos obstáculos. Já
faz quatro anos que me separei e hoje posso dizer que estou tentando ser
feliz: encontrei um novo amor. Ele tem 46 anos e é o meu príncipe. Não é
fácil viver longe dos meus meninos, eu os amo tanto! Eu sinto que, apesar
de tudo, Deus sempre esteve ao meu lado e, por isso, ainda busco o meu
final feliz.
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Meu nome é Soeli e tenho 46 anos. Tenho um filho de 23
anos e fui casada durante 22 anos. Trabalho em um centro
de educação infantil e adoro o que faço, tanto que já faz
14 anos e nem senti o tempo passar.
Hoje me sinto realizada, vitoriosa, já que há 19 anos tive um sério problema
de saúde e precisei de uma cirurgia. Tive um aneurisma cerebral. Acredito
que houve um milagre na minha vida, pois não fiquei com nenhuma
sequela. Hoje levo uma vida normal: posso dançar e ouvir músicas!
Parecem coisas simples, mas para mim não há nada melhor do que dançar
e ouvir músicas alegres, que celebrem a vida! É muito bom poder viver
e ter saúde. Sou uma mulher de bem com a vida. Espero encontrar um
grande amor e ser feliz até quando Deus permitir.
Soeli Ribeiro dos Santos
Vitória
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Vou contar a história de uma velha conhecida minha, cujo
nome não revelarei. Com quinze anos ela descobriu o
primeiro amor. Mas seus pais eram contra o relacionamento,
pois, além de ela ser muito jovem e ter problemas de saúde, precisava
trabalhar. Aos dezessete anos foi para a cidade a fim de trabalhar e
melhorar de vida. Foi nessa época que ela conheceu outro rapaz. Mas,
depois de nove meses, seus irmãos começaram a implicar com o namoro
e mais uma vez o amor foi interrompido. O tempo passou e ela teve mais
uma oportunidade para amar. Mas depois de quatro anos, em virtude da
bebida, eles terminaram o relacionamento.
Então, ela continuou a trabalhar e a fazer outros tratamentos de saúde. Ela
veio para Videira e depois de vários anos teve uma paixão. No entanto,
não teve um final feliz: por causa da bebida ela sofreu mais uma vez!
Com trinta e dois anos ela foi a Porto Alegre para fazer uma cirurgia e, por
acaso, conheceu um rapaz chamado Michel. Um ano depois da cirurgia,
voltou para uma consulta em Florianópolis e encontrou o Alfredo, que
também se tratava lá. Eles voltaram para casa juntos e dois meses depois
Ivone Casagrande
Encontros e desencontros do amor
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pediu que ela fosse com ele em uma consulta. Depois disso, ele a convidou
para morar com ele e ela foi! Eles estão juntos até hoje.
E o que há de especial nessa história? Parece ter um final feliz, não é
mesmo? No entanto, há algum tempo, ela me contou que ficou sabendo
notícias de seu grande amor: ele estava em Porto Alegre! Michel, o rapaz
que conheceu e se apaixonou no passado. Só que hoje ela é comprometida
e ele está sofrendo lá onde mora.
Fiquei muito admirada com essa linda história de amor. Eu vi nos olhos
da minha amiga a grande admiração que ela ainda guarda, daquele amor
perdido do passado. E o mais interessante é saber que no fundo ela ainda
espera a concretização desse amor verdadeiro que a espera.
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Eu me chamo Janes Maria Danielli. Sou natural do Rio Grande do
Sul. Morei com meus pais até os seis anos de idade na cidade de
Passo Fundo. Quando minha mãe faleceu, meus quatro irmãos
(Vilma, Alberto, Oldemar e Madalena) e eu morávamos a cada ano em um
lugar até meus treze anos de idade, quando nos mudamos para a cidade
de Machadinho.
Morei com meu pai até meus 17 anos, quando me casei com Carlos
Menosso e fui morar em Paim Filho, onde fiquei por dez anos e tive três
filhos: Roberto, Reli e Maximino.
Em 1990, viemos para Videira, em Santa Catarina, para trabalhar na
Perdigão e compramos uma casa no bairro Farroupilha. Que alegria ver
meu maior sonho realizado: ter uma casa com o suor do nosso trabalho.
E quando compramos o nosso carro? Que alegria! Não são apenas coisas
materiais, pois a felicidade maior é poder dar conforto aos meus filhos,
genro, nora e meus quatro netos. Felicidade é poder ter dado uma casa
para cada filho e poder ver a felicidade nos seus olhos.
Janes Maria Danielli
Trajetória
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Há alguns anos, lembro que eu estava muito doente e não sabia
o que tinha. Nessa época fui com o curso de Secretariado
conhecer as Cataratas do Iguaçu. Quando me lembro de
algum momento especial na minha vida, recordo dessa viagem, com o
curso de Secretariado. Conhecer as Cataratas, o museu dos animais, fazer
compras no Paraguai, conhecer pontos turísticos da Argentina e lugares
os quais nunca esquecerei! Tudo muito lindo e bem cuidado. Também
visitamos a Usina Hidrelétrica de Itaipu. Foi uma viagem maravilhosa que
nunca esquecerei.
Algum tempo depois desse passeio, tive o diagnóstico de insuficiência
renal; foi um período muito difícil da minha vida. Mas mesmo com todas
as adversidades, quando ficava triste, voltava meus pensamentos para
aqueles lugares lindos, que tive a oportunidade de conhecer e pensava:
viver vale a pena!
A viagem inesquecívelLucimar Pariz
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Sou filha de uma família muito humilde e me casei muito cedo. Tive
quatro filhos e com apenas 24 anos já estava separada. Quando
nos separamos, cada um ficou com dois filhos, mas pouco tempo
depois todos estavam morando comigo. Foi muito difícil, pois nunca
recebi nem um centavo de pensão, mas nunca faltou nada a meus filhos!
Sempre trabalhei muito para conseguir manter a casa e hoje, com 54 anos,
já estou aposentada por tempo de serviço e tenho 8 netos.
Quando penso na vida e olho para minha família, percebo que temos
problemas, como qualquer família, mas também vejo uma família
abençoada. Passei por muitas provações, mas Deus me sustentou,
dando-me forças para continuar. Para o futuro, desejo apenas cuidar de
tudo aquilo que conquistei, apesar de tantos espinhos que encontrei no
caminho.
Família, minha benção!Lourdes Ribeiro
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Em 1967 me casei com Antonio Danielli e fui morar com os pais
dele. Minha sogra me ajudou muito a criar meus filhos. Depois
de 24 anos de casada, meus sogros faleceram com apenas quatro
meses de diferença um do outro. Meus filhos casaram, só a Marilda não
casou. Ela ficou conosco. Ela faleceu há um ano e quatro meses. Quando
as pessoas nos deixam, sempre fica algo: Marilda nos deixou saudades,
samambaias, violetas e begônias, que hoje cuido com muito amor e
carinho.
Samambaiais, Violetas e BegôniasOliva M.R. Danielli
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Quando penso em algo bonito, lembro-me do texto de Albert
Einstein:
“Pode ser que um dia deixemos de nos falar... Mas, enquanto houver
amizade, Faremos as pazes de novo. Pode ser que um dia o tempo passe...
Mas, se a amizade permanecer, Um de outro se há de lembrar. Pode ser
que um dia nos afastemos... Mas, se formos amigos de verdade, A amizade
nos reaproximará. Pode ser que um dia não mais existamos... Mas, se
ainda sobrar amizade, Nasceremos de novo, um para o outro. Pode ser que
um dia tudo acabe... Mas, com a amizade construiremos tudo novamente,
Cada vez de forma diferente. Sendo único e inesquecível cada momento
Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre. Há duas formas
para viver a sua vida: Uma é acreditar que não existe milagre. A outra é
acreditar que todas as coisas são um milagre.”
Marilene Aparecida da Silva
Soneto inesquecível
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Às vezes, a história de uma vida toda pode ser contada em poucas
linhas, de maneira simples. Mas só Deus sabe os detalhes de tudo
o que vivi, dos dias que chorei e sofri com o peso das minhas
responsabilidades. Eu tenho três filhos e sofri muito para criá-los. Fui
mãe e pai e trabalhei muito para dar o que eles precisavam. Hoje, quando
olho para meus filhos, todos já casados, só vejo coisas boas. Eles hoje
me ajudam muito e me deram quatro lindos netos. Eles são minha força,
minha missão cumprida. Eu consegui, com a graça de Deus! Os momentos
mais felizes da minha vida foram quando meus filhos nasceram; eles são
a minha fortaleza! Não quero mais saber de lembrar do passado, quero
enterrar os momentos tristes. Daqui para frente, vou cuidar da minha
família, que é o que tem mais valor no mundo!
Meus filhos, minha vida!Sonia Regina Ramos de Souza
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Minha história não é muito boa; é sofrida, mas diz o ditado:
“A vida de cada um de nós dá uma novela”.
Nasci em Aparecida, onde há grandes festas religiosas.
As pessoas vão a pé, pagando promessas e fazendo pedidos.
Meus pais eram pobres, tinham apenas três alqueires de terra e
precisávamos plantar nas terras dos outros. Como diz o ditado, “Cada
um por si e Deus por todos”. Nós éramos uma família grande: pai, mãe e
mais oito irmãos. Por isso, todos tinham que trabalhar desde pequenos.
Como a terra era arrendada, boa parte da colheita de trigo ia para o dono
do terreno.
Certo dia, eu tinha já 18 anos e estávamos capinando a roça de milho
quando minha tia chegou e disse: “Gente, a casa de vocês queimou tudo!”
Minha tia sentou-se em uma pedra e estávamos bem preocupadas, pois
tínhamos deixado em casa três crianças com 6, 4 e dois aninhos. A tia
falou que elas estavam bem, que a neném estava dormindo, mas a mais
velha a salvou. Na roça estavam a mamãe, eu e três irmãos; meu pai estava
em outras bandas trabalhando.
Ao chegar perto da casa, avistamos as árvores todas queimadas e quanto
mais nos aproximávamos da casa, aumentava a nossa tristeza. Queimou
tudo! Não sobrou nada! Ficamos apenas com a pior muda de roupas,
O incêndio e a solidariedadeIvanir Pariz
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pois na roça íamos com as roupas remendadas e muitas vezes descalços.
Tínhamos apenas um calçado para irmos à missa ou à cidade. Mas naquele
momento não tínhamos nada além das cinzas. Minha mãe sentou em um
tronco de árvore, chorava e gritava: “Meu Deus! Por que isso?”. E nós
ficávamos todos ao redor dela chorando também, pois não havia mais
nada a fazer.
Era uma tarde de setembro e o sol foi se pondo. Papai chegou e os vizinhos
ficaram bem preocupados. “E agora? O que vamos fazer? Onde vamos
dormir? O que vamos comer?”
Meu tio, irmão da minha mãe, falou para irmos para a casa dele, mas lá
havia mais sete pessoas e não daria para acomodar tanta gente. Então,
meus irmãos foram para a casa de amigos vizinhos e minhas irmãs
pequenas e eu fomos para a casa do meu tio com meus pais.
No outro dia bem cedo começaram a chegar as doações, como carne,
comida e móveis. Não eram novos, mas servia muito para quem nada
tinha. A casa do meu tio não era muito grande e fomos empilhando como
dava.
Muitos anos ainda vão se passar e acredito que essa história jamais sairá
da minha cabeça. Apesar de toda aquela tragédia de perdermos o pouco
que tínhamos, pudemos contar com a solidariedade. Disso também jamais
esquecerei.
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Eu sempre achei que eu fosse uma pessoa forte, como uma
parede de concreto. Até o dia 23 de março de 2012, quando em
um acidente de caminhão perdi meu amado filho, que tinha
apenas 33 anos. Quem já passou por isso sabe que não há dor maior no
mundo; é como se alguém tivesse retirado meu coração sem anestesia.
Meu marido, que já estava se tratando de um câncer, não resistiu ao choque
de perder o amado filho e também faleceu treze dias depois. Eu fiquei sem
meus dois amores, fiquei sem chão, sem nada. Eu, que acreditava ser forte
como uma parede de concreto, virei apenas pó.
Na nossa vida nós cultivamos sonhos, alguns sonham alto, querem tudo.
Eu sempre sonhei em ter uma família, sonhei em vê-los com saúde ao
meu lado, apenas isso... e, de repente, eu não tinha mais nada!
O tempo passou e meu coração ainda não cicatrizou, ainda sangra. Mas
eu continuo a viver, sem saber a razão. Quando me pediram para contar
uma história, a história da minha vida, eu me perguntei: “Que vida?”, pois
a cada passo que dou eu me pergunto: “Por quê?”.
Não sei se algum dia voltarei a ser aquela parede forte, não sei se voltarei
a sorrir, mas estou tentando me reconstruir e me reerguer do pó, com um
“tijolo” por dia. Hoje tenho certeza de que meu marido e meu filho não
gostariam que eu perdesse a razão de viver, então, eu construo “minha
parede” todos os dias por amor a eles. Quem sabe um dia, por amor, eu
volte a sorrir.
Lucia Rosa Machado
A reconstrução
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Em uma bela manhã eu ouvi o telefone tocar: era a minha neta
me ligando desesperada! Minha filha havia caído ao descer a
rua da sua casa e não conseguia se mover. Quando cheguei lá,
minha filha estava caída no meio da rua chorando e não conseguia se
movimentar, pois sentia muita dor. Eu a ajudei a levantar-se e a levei ao
hospital. Lá fizeram radiografias e viram que seu pé estava quebrado em
três lugares e necessitaria de pinos. Então, ela fez a cirurgia e ficou por
um ano com gesso e muletas.
Após três meses do acidente, minha filha descobriu que estava grávida.
Foi uma gravidez de risco, já que sua pressão estava alta. Em todos os
dias de consulta, o médico a deixava internada em observação. Quando
ela estava no sexto mês de gestação ela foi internada novamente; sua
pressão não regularizava, mesmo tomando medicamentos e o médico não
conseguia ouvir os batimentos cardíacos do bebê. Com isso, o médico a
internou na UTI neonatal em Lages e lá nasceu a nossa princesa, com
apenas 970 gramas. Ester, minha netinha maravilhosa, ficou cinquenta e
oito dias em Lages.
Na véspera do Natal, Deus nos deu um presente maravilhoso: Ester teve
alta e veio para casa. Após alguns dias, percebemos que ela não ganhava
Iris Deves
Ester, um presente de Deus
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peso, só aumentava sua barriga. O médico achava normal, pois ela havia
nascido prematuramente. Então, nós a levamos a outro médico, pois
não aceitávamos que aquilo fosse normal, já que mesmo com todos os
cuidados, com 7 meses ela pesava 3,9 kg. Ao verificar o caso, o doutor
Amarildo a encaminhou ao hospital para fazer os exames e constataram
que seu intestino estava trancado. Com isso, encaminham Ester às pressas
para Chapecó, a fim de ser submetida a uma cirurgia.
Graças a Deus, tudo ocorreu bem; em cinco dias ela voltou para casa.
Ester ficou bem por dez dias; depois disso, o intestino trancou novamente.
Voltamos a Chapecó e nossa princesinha passou por uma nova cirurgia.
Hoje Ester é uma criança saudável, cheia de vida e só nos dá alegrias.
Quem viu aquele bebê tão pequeno e frágil jamais acreditaria que se
trata da mesma criança. Um ser tão pequeno, iniciando a vida com tantos
desafios! É muito emocionante contar essa história e ver que tudo deu
certo! Ester é nosso presente, um presente de Deus!
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Esta é uma história que poderia ter um final trágico, mas foi até
engraçada.
São outros tempos! Algum tempo atrás, se uma mulher fosse
traída, não poderia sequer reclamar ao marido; sofria calada. Se um
homem descobrisse a traição de uma mulher, jogava-a fora de casa, sem
nada ou poderia ser espancada ou assassinada em nome da honra! Mas
hoje os tempos são outros...
Eu tinha um vizinho muito safado! A mulher dele trabalhava à noite e
ele aproveitava para traí-la, na casa dela, a cada noite com uma mulher
diferente. Um dia, a mulher descobriu o que ele fazia e fez a mesma
coisa: arranjou um amante e o levava para casa todos os dias. Quando ele
descobriu o que ela fazia, deu a maior bronca e ela disse: “Fiz o mesmo
que você!” Então, depois de muita discussão, eles pediram perdão e
prometeram se respeitarem para sempre. Um final feliz, afinal, “toma lá
dá cá”!
Toma lá, dá cáLurdes R. Heemonn
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Em um dia muito frio, próximo do anoitecer do dia 20 de agosto de
1975, eu nasci. Em um tempo em que os partos eram realizados
pelas parteiras, a que fez o parto da minha mãe biológica me
levou para ser adotada por um casal que não podia ter filhos. Meus novos
pais me receberam à meia-noite do mesmo dia, com muita alegria. Eles
me deram de tudo o que eu precisava para uma criança crescer, todos os
cuidados, mas principalmente amor!
Aos dezesseis anos me casei com meu noivo. A festa foi muito linda, com
parentes e amigos. Ficamos morando com meus pais e tivemos três lindos
filhos: Deyvidi, Daiane e Dyame. Eles são minha herança do céu, meus
amores.
Sempre digo a meus filhos que não temos o sangue da família de meus
pais adotivos, mas temos o essencial: amor e carinho! O que é um laço de
sangue diante de um forte laço de amor?
Tivemos dificuldades e doenças na caminhada da vida, mas com a ajuda
de Deus chegamos juntos até hoje, firmes! Moro há 32 anos em Videira
e há dezessete anos meu esposo teve um câncer maligno do pâncreas.
Tivemos um milagre, pois sem nenhum remédio ou tratamento ele foi
curado e hoje está com toda a saúde e vigor. Isso aconteceu pois nunca
Laços de amorDioneide Aparecida Ferreira dos Santos
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perdemos a fé!
Cremos que nosso caminho ainda é longo e teremos forças para continuar.
Ainda há muito que aprender e viver. Medos e angústias podem aparecer
em nosso caminho, mas enquanto houver amor e fé, encontraremos
forças para superá-los.
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Vou contar a história de uma velha conhecida minha, cujo
nome não revelarei. Com quinze anos ela descobriu o
primeiro amor. Mas seus pais eram contra o relacionamento,
pois, além de ela ser muito jovem e ter problemas de saúde, precisava
trabalhar. Aos dezessete anos foi para a cidade a fim de trabalhar e
melhorar de vida. Foi nessa época que ela conheceu outro rapaz. Mas,
depois de nove meses, seus irmãos começaram a implicar com o namoro
e mais uma vez o amor foi interrompido. O tempo passou e ela teve mais
uma oportunidade para amar. Mas depois de quatro anos, em virtude da
bebida, eles terminaram o relacionamento.
Mesmo com tantos desencontros amorosos, ela continuou sua vida,
trabalhando e fazendo tratamentos de saúde. Não me lembro ao certo
quando essa minha amiga veio para Videira, mas sei que depois de vários
anos ela teve uma paixão. No entanto, não teve um final feliz: por causa
da bebida ela sofreu mais uma vez!
Com trinta e dois anos ela foi a Porto Alegre para fazer uma cirurgia e, por
acaso, conheceu um rapaz chamado Michel. Um ano depois da cirurgia,
voltou para uma consulta em Florianópolis e encontrou o Alfredo, que
também se tratava lá. Eles voltaram para casa juntos e dois meses depois
pediu que ela fosse com ele a uma consulta. Depois disso, ele a convidou
Encontros e desencontros do amorIvone Casagrande
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para morar com ele e ela aceitou! Eles estão juntos até hoje.
E o que há de especial nessa história? Parece ter um final feliz, não é
mesmo? No entanto, há algum tempo, ela me contou que ficou sabendo
notícias de seu grande amor: ele estava em Porto Alegre! Michel, o rapaz
que conheceu e se apaixonou no passado. Só que hoje ela é comprometida
e ele está sofrendo lá onde mora.
Fiquei muito admirada com essa linda história de amor. Eu vi nos olhos
da minha amiga a grande admiração que ela ainda guarda, daquele amor
perdido do passado. E o mais interessante é saber que no fundo ela ainda
espera a concretização desse amor verdadeiro que a espera.
37
Eu me chamo Joelma Morais de Souza, natural de Videira, tenho
35 anos. Venho de uma família de catorze irmãos; fui a primeira
filha. Depois que meus pais tiveram cinco filhos homens, tive
uma infância muito sofrida. Aos oito anos, eu cozinhava, lavava roupas
e ainda cuidava dos meus irmãos menores porque meus pais precisavam
trabalhar para nos sustentar.
Aos 22 anos eu me casei com um rapaz chamado Edemar e tive minha
primeira filha com dez anos de casada. Infelizmente, Deus a quis para
Ele, mas depois de dois anos nasceu nosso segundo filho, Eliezer. Depois
veio o Samuel e depois de cinco anos nasceu o Gustavo. Todos estão com
muita saúde e, por isso, somos muito felizes.
Quando eu lembro daquela infância difícil, não guardo mágoa em meu
coração, mas quero dar o melhor a minha família. Apesar de tudo, eu me
considero uma pessoa abençoada.
Joelma Morais
Minha trajetória de vida
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A minha infância foi muito boa. Eu brincava muito com as
minhas irmãs! Minhas brincadeiras favoritas eram pular corda,
jogar peteca e bolinha de gude. Fui a última dos sete filhos. Fui
muito amada pelos meus pais e irmãos mais velhos. Nasci em um dia de
Páscoa. Minha irmã mais velha já estava com doze anos e nem sabia que
nossa mãe teria um bebê. Ela foi à missa cedo e, quando voltou, encontrou
uma criança: uma menina. Ela nos conta que cantou e gritou o dia todo de
felicidade. Até hoje nós nos amamos muito.
Uma criança graciosaGraciosa Vanz
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Certo dia, nasceu Angelita, uma menina linda, cheia de graça.
Ela cresceu cheia de amor e carinho. Os anos se passaram e ela
foi crescendo. Angelita estudou até quando foi possível, pois
suas condições não permitiram que ela continuasse seus estudos.
Com o passar do tempo, ela sentia que havia uma missão para ela neste
mundo. Então ela foi atrás de seus sonhos. Nesse caminho, encontrou uma
pessoa com quem desejou partilhar sua vida e formar uma família. Mas,
como a vida não é um mar de rosas, ela passou por muitas dificuldades.
Mesmo assim, ela não perdeu a esperança, sempre confiando em Deus.
Ela sempre pensou que nem mesmo em dias em que a chuva cai e nos
meses dos anos em que as folhas caem e secam, não devemos desanimar!
Por isso, devemos sempre regar nossa vida como se fosse a coisa mais
preciosa e tentar enxergar as coisas boas.
Depois que Angelita passou por um grande desafio, decidiu ter atitudes
diferentes, como aproveitar mais a vida e curtir seus filhos e família.
Deus faz milagres em nossas vidas. Ela aprendeu que “além do horizonte
existe um lugar bonito e tranquilo pra gente se amar” e viver em paz!
“Um dia, a luz da vida se apagou, mas veio o Senhor e acendeu. Deu
um brilho nos olhos e acendeu a chama da vida”. Por isso, apesar das
dificuldades, nunca abandone quem te deu a mão.
Uma vidaDani Vicari Zago
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Eu me casei muito jovem. Meu marido bebia e, por isso, foi
muito ruim para os nossos filhos e para mim. Por conta do
vício do meu marido, trabalhei em dobro na roça e nos aviários.
Morávamos em propriedades rurais como empregados.
Meus filhos são muito unidos e nunca me incomodaram. Eles são meu
tesouro! Tive oito filhos, mas Deus me levou um. Fomos muito pobres e
hoje me considero uma pessoa muito feliz, pois tenho minha casa própria,
seis netos e cinco netas. Graças a Deus, meu marido não bebe há 15 anos.
Eu os amo muito. Minha família é a razão da minha felicidade.
Uma filha de DeusOdila G. Koch
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Era uma vez uma menina muito sofrida. Essa é a minha história:
cresci, fiquei adolescente e casei. Depois do casamento, minha
vida foi dedicada ao meu marido, aos filhos e ao serviço.
Tive sete filhos; o mais novo nasceu com um problema e sofri com isso
durante quatro anos. Depois de quinze dias no hospital ele veio a falecer,
mas com Deus fui tocando a vida. Mais tarde, meu marido faleceu e foi o
fim da picada! Meu marido era ciumento e eu acabava ficando só em casa,
nunca tinha entrado em um mercado, nem em um banco; ele era quem
fazia os negócios na cidade. Depois que ele morreu, isso me causou muito
sofrimento! Eu só trabalhava e nunca tinha tempo para mim.
Mas, com fé em Deus, superei tudo isso. Agora vou fazer o que sempre
quis: novas amizades e pintura, graças ao Programa Mulheres Mil.
Era uma vez... LeodiLeodi Lima de Paula
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Em 1984, fui contratada como voluntária para trabalhar na
prefeitura de Laranjeiras do Sul, no Paraná, por um ano. Eu ficava
na prefeitura meio período e no outro íamos para a periferia.
Era um projeto familiar no qual deveríamos ir até as periferias distribuir
preservativos e anticoncepcionais para as mulheres. Um dia chegamos
à casa de Mariazinha e Antônia e tínhamos que fazer a demonstração
de como usar os preservativos. Então, levamos um pedaço de cabo de
vassoura para mostrar como se colocava a camisinha. A Mariazinha não
podia mais tomar os comprimidos porque fazia mal, então demos a ela as
camisinhas. Já a Antônia podia tomar os comprimidos.
Nesse programa, a mulher que chegasse a engravidar teria por um ano
roupas para o bebê e leite, mas nós tínhamos que fazer a cabeça delas para
que elas não engravidassem, somente quando fosse planejado. Certo dia,
Mariazinha e Antônia apareceram para fazer a ficha para gestante, então
perguntei: “E as camisinhas?” e uma delas me respondeu: “Doutora Luiza,
eu encapei todas as vassouras, até as dos vizinhos, mas não adiantou... eu
estou grávida!”. Em seguida, perguntei a Antônia o que havia acontecido
com os anticoncepcionais e ela me respondeu: “Eu doei para a vizinha,
pois o filho dela ficou com dor de barriga e demos os comprimidos para
ele. Então, fiquei sem e engravidei!”.
Projeto familiarLuiza Hupalo
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Trabalhei nesse programa durante seis meses; já faz muito tempo que isso
aconteceu, mas ainda me lembro e me divirto com as histórias que ouvi.
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Aos quinze anos, eu morava em uma colônia com meus pais. Nos
fundos do terreno havia um rio, onde gostávamos de tomar
nosso banho e brincar. Mas como gostávamos de plantar os
alimentos, descascar arroz, fazer canjicas e tratar dos animais, papai
resolveu montar um monjolo que é formado por uma haste de madeira
suspensa de forma que a parte que suporta o pau do pilão maior que a
outra, que termina por um recipiente que enche com a água de uma calha,
fazendo assim levantar o pau do pilão. Quando está cheio o cocho, este
faz baixar a haste e, quando o cocho despeja a água, a outra extremidade
cai sobre o pilão. No monjolo, fazíamos farinha de beiju.
Em um belo dia, mamãe colocou milho para moer farinha e quando foi
pegá-la, não tinha nem o milho, nem a farinha; só havia uma vaca com o
focinho cheio de farinha. Nem as vacas conseguem esconder seus erros,
coitadas! Mas que a vaca ficou satisfeita ficou! Mesmo com dor na cara!
O monjolo e a vacaLenira Antunes de Matos
Monjolo
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No dia 10 de abril de 2000, casei toda bonita e cheia de sonhos
com Vanderlei dos Santos. No dia 7 de agosto do mesmo ano
nasceu Willian, minha riqueza. Quando o peguei no colo, senti
uma felicidade inexplicável: vontade de chorar, sorrir. Depois de algum
tempo, decidimos ter outro filho e no dia 3 de março de 2002 nasceu a
Ariane, minha princesa!
A minha vida parecia um conto de fadas, mas foi então que começaram
as mentiras e traições. Sete anos foi o tempo que durou o meu conto de
fadas, pois perdi tudo! Meu marido me trocou por uma moça muito mais
jovem, vendeu nossa casa e tudo o que tínhamos. O pior de tudo foi que
minha ex-sogra ficou com o meu filho e entrei em depressão. Em virtude
disso, saí do emprego; minha única alegria era a minha princesinha e mais
nada! Tive que recomeçar do nada.
No meio de tanta decepção, conheci uma pessoa incrível, Sidmar Boniatti,
então resolvi me arriscar em um novo amor. Já faz quatro anos que estamos
juntos. Neste tempo, minha sogra conseguiu levar também a minha
princesinha e hoje ela tem a guarda dos meus dois filhos. Mas eu ganhei
um presente lindo de Deus, ele se chama Marco Aurélio (Marquinho). Ele
veio para preencher o vazio que ficou no meu coração pela falta dos meus
dois tesouros.
Nunca é tarde para recomeçarOdete Aparecida Mineiro Santos
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Hoje, sempre que levanto, minha força é maior. Aprendi que todo dia é um
recomeço; isso meu filho Marquinho me ensina todos os dias. Meu marido
é mais que um companheiro, ele é o meu chão. É ele quem estende a mão
e não me deixa cair quando tropeço. Aprendi também que a felicidade se
constrói a cada dia e que minha maior riqueza são meus filhos: Willian,
Ariane e Marquinhos.
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Yuri Bocca foi meu primeiro neto, um lindo menino. No dia do
seu nascimento, por causa da infecção na bexiga durante a
gravidez de sua mãe, ele nasceu com infecção no sangue. Sem
perceber a infecção, logo depois do seu nascimento, quando sua mãe já
estava no quarto, levaram-no para amamentá-lo, mas ele chorava muito.
Yuri nasceu às 13h15min e fiquei com ele até anoitecer, pois o parto foi
cesariana. Perto de anoitecer eu ainda estava com minha filha e meu neto.
Quando ele dormiu, fui vê-lo e percebi que estava gelado. Achei muito
estranho, pois estava com roupas bem quentinhas. Diante disso, chamei
as enfermeiras que me disseram que era normal. Briguei muito com elas!
Disse a elas que eu já era mãe de três filhos e nunca havia visto uma coisa
daquelas. Pedi que chamassem o médico com urgência! O médico veio e o
levou para fazer alguns exames que constataram uma infecção no sangue.
Com o diagnóstico do médico, levaram-no para uma incubadora na ala do
berçário e fizeram um pequeno corte embaixo do bracinho dele, colocando
um pequeno tubo para retirar toda aquela infecção. Ele ficou seis dias na
incubadora sem tomar leite materno, somente no soro e medicamentos.
Yuri ficou mais quatro dias em observação e depois ganhou alta. Então,
dia 30 de julho de 2009, fomos todos para casa muito felizes.
Quando uma avó ama um netoElizete Aparecida Morais
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Em uma manhã enquanto eu lavava a calçada de minha casa, meu neto
brincava com seu amiguinho Vinícius, que mora em frente a minha casa.
Eles brincavam na garagem de casa quando o pai do Vinícius chegou. Ele
logo foi de encontro ao pai e meu neto Yuri, que na época tinha 4 anos,
foi atrás dele e não deu tempo de atravessar a rua. O pai do Vinícius o
atropelou, passando por cima do pé dele.
Quando olhei meu neto caído no chão no meio da rua gritando e chorando,
saí correndo. Quando cheguei perto, só vi sangue que não parava de sair.
Então, nesse momento, meu neto olhou pra mim e disse: “vó, cuide de
mim! Ele quebrou o meu pé!”. Ao vê-lo daquele jeito, só pedi a Deus
que não tivesse quebrado nada, pois seu tênis havia rasgado. Um tempo
depois, chegou o SAMU e fizeram os primeiros socorros. Depois, levaram-
no para o hospital Divino Salvador. Eu fiquei ao lado dele o tempo todo e
ele repetia: “vó, cuide de mim! Ele quebrou o meu pé!”.
No hospital, Yuri foi atendido imediatamente e foi medicado em por causa
da dor. Graças a Deus tudo foi apenas um susto: só havia saído um pedaço
da pele de cima do pezinho, não chegou a quebrar. Logo fomos para casa
e tudo ficou bem. Depois desse acidente, ele ficou com pouco de medo de
ir para a rua, mas hoje eu percebo que Deus é grande e sempre o protegeu
de todo o mal.
Quando uma avó ama seus netos, é capaz de fazer qualquer coisa. Tive
muito medo de perdê-lo quando ele nasceu e tive medo de que ele sofresse
no dia do acidente. Participei de momentos muito tensos com meu netinho
e faria qualquer coisa para protegê-lo. De uma coisa meu neto nunca terá
dúvida: sempre o amarei e estarei do seu lado, enquanto Deus permitir.