Andrea Leinat
Vitoriana Morinigo
Cecília de Campos França
Mediação da Transposição didática na Formação continuada da
Sala de Educador
Pontes e Lacerda-MT 2016
Mediação da Transposição Didática na Formação Continuada da Sala
de Educador na EE São José do Município de Pontes e Lacerda – MT.
Andrea Leinat1
Vitoriana Morinigo2
Cecília de Campos França3
Resumo: Este artigo teve por objetivo divulgar as ações realizadas na Sala de Educador
e que contribuíram com o processo de Formação Continuada dos professores
participantes, destacando a importância da Transposição Didática das teorias para a
práxis pedagógica em sala de aula. Nesse trabalho enfatizamos a importância de uma
capacitação profissional, que busque compreender as premissas de cada teoria e que
abra espaço de diálogo para que seja possível refletir sobre os pressupostos que as
alicerçam e, os efeitos e exigências das ações didáticas em curso. O educador deve
assumir em sala de aula e perante aos alunos e seus pares uma postura que objetive com
coerência a teoria que o embasa em sua ação profissional. Os autores que nos
subsidiaram nesse percurso foram Freire, La Taille, Dantas, Oliveira, Sousa, Verret,
Matos Filho, Imbernón, Zabala, Beauclair, Coll, dentre outros. Apresentamos relatos de
alguns educadores, como mediadores na aprendizagem do educando. Importante
salientar que por meio da vontade e do trabalho comprometido com a construção de
uma sociedade ética é possível construir modificações significativas em nosso ser e agir
no mundo, assim como em nossa atuação docente.
Palavras Chaves: Transposição Didática, Formação Continuada e Sala de Educador.
Introdução
O conhecimento requer disciplina! O
conhecimento é uma coisa que exige muitas
coisas de nós, que nos faz sentir cansados,
1 Autores: Andrea Perez Leinat , Professora Formadora na área da Alfabetização – CEFAPRO -
Município de Pontes e Lacerda-MT. 2 Vitoriana Morinigo Professora Formadora na área das Humanas - CEFAPRO – Município de Pontes e
Lacerda-MT. 3 Cecília de Campos França Profa. Dra.da Unemat, departamento de Letras, campus de Tangará da Serra -
MT.
apesar de felizes. E não é uma coisa que apenas
acontece.
Paulo Freire
Este artigo é resultado de observação e análise da sala de Educador no decorrer
do ano de 2015 em uma escola estadual do município de Pontes e Lacerda do Estado de
Mato Grosso - MT. Durante o ano foram estudados com o coletivo de professores
teorias como de Piaget, Vygostsky e Wallon. O desenvolvimento psicológico foi
discutido tendo como subsídio obra organizada por Cesar Coll, citada nas referências.
Essas teorias e proposições foram discutidas e mediadas pelas coordenadoras da escola,
todas as quartas – feiras no decorrer de quatro horas nos períodos matutino e vespertino.
Os professores realizavam os estudos e depois faziam a transposição didática em
sala de aula com seus alunos após terem estudado e discutido as mesmas na sala de
educador. Como nos confirma Paulo Freire:
Sem dúvida, ninguém pode buscar na exclusividade, individualmente.
Esta busca solitária poderia traduzir-se em um ter mais, que é uma
forma de ser menos. Esta busca deve ser feita com outros seres que
também procuram ser mais e em comunhão com outras consciências,
caso contrário se faria de umas consciências objeto de outra. Seria
“coisificar” as consciências. (FREIRE, 2014, p.34)
Vários estudos foram efetuados a respeito da capacitação profissional dos
educadores, movimentos como este contribuem para que os educadores reflitam acerca
das suas atividades diárias. Nesse sentido, a formação continuada permite aos
educadores acessar conhecimentos importantes para a profissão, e desenvolver assim,
capacidades e habilidades fundamentais para uma ação consciente e crítica. A sociedade
se transforma com o decorrer dos tempos, e os professores, como intelectuais reflexivos,
precisam estar atentos para as mudanças sociais, bem como para as suas práxis
profissionais e os efeitos dessas no contexto. Deste modo:
Ser professor, hoje, significa não somente ensinar determinados
conteúdos, mas, sobretudo ser um educador comprometido com as
transformações da sociedade, oportunizando aos alunos o exercício
dos direitos básicos à cidadania. (SOUSA, 2008, p.42).
Neste ponto de vista, a Sala de Educador proporciona diálogo e experiências
com dimensões diversas que contribuem para o desenvolvimento profissional dos
educadores. As atividades possibilitam pensar, refletir, questionar, discutir
coletivamente as premissas teóricas, a maneira mais eficiente de se realizar a
transposição didática dessas para a sala de aula e, quais contribuições cada uma traz
para a prática docente, orientando metodologias e a condução do processo ensino e
aprendizagem.
O projeto Sala de Educador está previsto na Política Pública de formação do
Estado do Mato Grosso. Em consonância com o documento nomeado de Política de
formação dos Profissionais da Educação Básica de Mato Grosso,
O Projeto Sala de Educador tem como finalidade criar espaço de
formação, de reflexão, de inovação, de pesquisa, de colaboração, de
afetividade, etc., para que os profissionais docentes e funcionários
possam, de modo coletivo, tecer redes de informações,
conhecimentos, valores e saberes apoiados por um diálogo
permanente, tornando-se protagonistas do processo de mudança da sua
prática educativa. (SEDUC/MT, p.23-24, 2010)
Nesta circunstância, o Projeto Sala de Educador, apresenta uma metodologia de
formação continuada que sugere compartilhar, debater, refletir e mediar a respeito das
ações educativas, com a finalidade de fortificar a escola como ambiente formativo, com
o compromisso coletivo na investigação da superação dos desafios, resultando na
organização e construção das aprendizagens. Sendo assim, a formação continuada é
abarcada com toda movimentação em que os educadores se tornam sujeitos agentes,
buscando no espaço escolar conhecimento e entendimento, a respeito das demandas
referentes a sua prática pedagógica. Freire nos diz que:
[...] a escola torna-se fundamental para a modificação e transformação
social. Assim, as ideias surgem num anseio de mudanças e de
maneiras colaborativas de atuar, os educadores conseguem
transformar a escola num espaço para o andamento de metodologias
que fortaleça o seu fazer educativo. (FREIRE, 1987, p. 62).
Compreendemos que os educadores das instituições escolares constroem os
seus saberes e conhecimentos por meio de um processo que implica
teóricos/metodologias/práticas e do encadeamento entre o convívio e da troca de
experiências entre os seus pares. Nesta troca de experiências e através da Transposição
Didática compreende-se a atividade do que é ser profissional. Desta forma assegura
Sousa (2008, p. 66) “[...] ser docente profissional implica, portanto, dominar uma série
de saberes, capacidades e habilidades especializadas que o fazem competente no
exercício da docência.”.
Deste modo, “não é possível continuar formando um professor para uma
realidade diferente daquela que ele terá que enfrentar, [...]” (D’AGOSTINI, 2010, p.
76), dessa maneira, é de suma relevância salientar o planejamento nas ações de
formação, que apresentam como objetivo uma aprendizagem relevante para o avanço
dos educandos.
A importância da Sala de Educador para reflexão da Transposição
Didática Docente.
A expressão Transposição Didática foi apresentada pelo Sociólogo Michel
Verret, em 1975, e posteriormente estudado por Yves Chevallard, professor matemática.
Chevallard no seu livro “A Transposição didática: do Saber Sábio ao Saber Ensinado”
(2005) assegura que a Transposição Didática é organizada em três combinações
complementares: o Saber Sábio, que é o saber preparado por meio dos cientistas; o
Saber Ensinar, associado à didática e a prática da intermediação dos educadores; e o
saber Ensinado, aquele compreendido pelos educandos através das transposições
concretizadas por intermédio dos cientistas e dos educadores.
Para realizarem essas pesquisas e esses estudos os cientistas buscam respostas
para determinados assuntos. Essas respostas originam o conhecimento, no entanto, para
que este seja ensinado são necessárias transformações, a fim de que ele seja
compreendido pelos alunos. A Transposição didática é o instrumento de ensino que
permite ao conhecimento ser palatável pelo processo cognitivo dos educandos. Desta
forma, compete aos educadores:
[...] transformar este saber para os alunos, negociando com eles esta
gestão, o papel que cada um deverá assumir, para que esse saber possa
ser ensinado e aprendido. Neste sentido o professor imbui o saber a
ser ensinado com seus aspectos particulares, subjetivos. (MATOS
FILHO, 2008, p. 11-93)
O movimento da Transposição Didática inicia com a combinação da
compreensão dos educadores a respeito do andamento do ensino em algumas situações,
nos seus desempenhos sociais, nas suas atuações reflexivas a respeito dos conteúdos,
nas suas opções metodológicas, etc. Nessa perspectiva, é indispensável que os
professores analisem o propósito de seus métodos de ensino para a concretização da
Transposição didática de maneira que possa auxiliar na necessidade do espaço
educacional que trabalha, conduzindo o entendimento da heterogeneidade e as
probabilidades de conhecimento da aprendizagem de cada turma.
Desta maneira, a Transposição Didática está pautada como atuação do educador
e do educando ao saber, visto que é da afinidade verdadeira a respeito desta tríade que
acontece o momento de ensino e de aprendizagem. O educador necessita permanecer
prudente quanto às modificações, transformações e as adequações que ordena o seu
saber, de forma que esse seja capaz de construir habilidades de conhecimento pelos seus
alunos. Assim, cabe aos educadores realizarem através das transposições didáticas
recortes dos conteúdos, posicionando, analisando e robustecendo algumas temáticas,
estruturando e organizando sequências didáticas, ou procurando métodos de ensino.
Movimento docente e discente na Transposição Didática em sala de
aula
Na observação e participação dos professores da escola Estadual São Jose do
Município de Pontes e Lacerda-MT, observamos a ação-reflexão dos mesmos, entre a
teoria e prática. Houve movimentação e compromisso dos educadores em conduzir para
a sala de aula as teorias estudadas na Sala de Educador e a socialização aos demais
colegas nos encontros subsequentes, apresentando também, como foi aplicado e o
desenvolvimento dos estudantes.
E para orientação desses modos de fazer as teorias estudadas na sala de educador
eram sobre: Piaget, Vygostsky, Wallon e o desenvolvimento psicológico e educação por
César Coll. E na análise da observação fizemos uso dos escritos de Paulo Freire,
Francisco Imbernón, Antoni Zabala, João Beaurclair e outros.
Essas concepções teóricas possibilitaram aos docentes da instituição mudanças
em suas práticas pedagógicas e levou-os a refletir sobre a possibilidade de mudar suas
ações na sala de aula e analisá-las sob esses vieses teóricos. É no exercício da reflexão/
ação/ reflexão que ocorre a ressignificação das práxis docentes e a aproximação do
processo ensino-aprendizagem às necessidades individuais de aprendizagem de cada
aluno. Quanto a essa movimentação Paulo Freire fala sobre o compromisso da profissão
com a sociedade, como podemos ver a seguir:
Somente um ser que é capaz de sair de seu contexto, de “distanciar-
se” dele para ficar com ele; capaz de admirá-lo para, objetivando-o,
transformá-lo e transformando-o, saber-se transformado pela sua
própria criação; um ser que é e está sendo no tempo que é o seu, um
ser histórico, somente este é capaz, por tudo isso, de comprometer-se
Além disso, somente este ser é já em si um compromisso. Este ser é o
ser humano4. (FREIRE,2014, p. 20)
O profissional docente age de acordo com a realidade, necessidade e a vontade
de transformá-la de acordo com a necessidade e, assim o faz. Na observação do ir e vir
dos docentes ficou claro a nós que eles estavam refletindo sobre suas práxis, pois os
mesmos chegavam na sala de educador com tanto entusiasmo que nos contagiavam
como professores formadores do CEFAPRO. Com diz Paulo Freire:
A prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o
movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer.
O saber que a prática docente espontânea ou quase espontânea
“desarmada”, indiscutivelmente produz um saber ingênuo, um saber
de experiência feito, a que faltava a rigorosidade metódica que
4 Na fala de Paulo Freire a palavra era homem, porém entendemos que a expressão ser humano abarca melhor a intenção do autor.
caracteriza a curiosidade epistemológica do sujeito. (FREIRE, 2013,
p. 39)
Os trabalhos socializados com os demais colegas faziam com que eles
entendessem que para se ter uma prática docente que envolvesse todos os estudantes no
ensino/aprendizagem é necessário ser um professor que busca conhecimento
epistemológico e os coloca em prática. E por isso é tão necessária a formação
permanente dos professores, pois o momento mais importante desta formação é quando
os mesmos fazem a reflexão crítica sobre sua prática pedagógica.
Nas diversas experiências das práxis pedagógicas relatadas pelo docente na
socialização citamos três que muito nos chamaram a atenção:
A primeira foi da professora de Língua Inglesa que fez trabalhos diferenciados
com os estudantes em sala de aula usando didáticas diferenciadas. A referida professora
relatou sua prática emocionada pois os estudantes não se interessavam pela sua aula
sempre dizendo não sei nem o português direito, como posso saber o Inglês? Após
mudar a didática usando metodologias diferenciadas conseguiu êxito em suas aulas,
pois usou o movimento em sala fazendo dupla de estudantes. Em seguida, fez o sorteio
das duplas e um dos estudantes tinha que orientar o colega para chegar até o cartaz que
estava posicionado no quadro e colocar o rabo no cachorro, assim ele cumpriria a
atividade. Esse comando tinha que ser em inglês, segundo a professora todos os alunos
participaram das suas aulas em 2015. Esse foi umas das muitas atividades que a mesma
desenvolveu em sala. Como nos escreve Paulo Freire:
Há uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a
esperança. A esperança de que professor e alunos juntos podemos
aprender, ensinar, inquietar-nos, produzir e juntos igualmente resistir
aos obstáculos a nossa alegria. Na verdade, do ponto de vista da
natureza humana, a esperança não é algo que a ela se justaponha. A
esperança faz parte da natureza humana. (FREIRE, 2013, p.70)
Ao fazer a leitura da fala da professora fica claro que ao ensinar ela aprendeu e
levou a alegria e esperança aos seus alunos de que eles podiam e podem aprender a
língua inglesa.
O segundo depoimento foi do professor de Educação física que desenvolveu um
trabalho sobre alimentação saudável. Esses foram desenvolvidos durante dois meses. O
que chamou a atenção no relato do professor foi a finalização do seu pequeno projeto
em que ele expõe haver nas turmas crianças acima do peso. Durante o tempo que fez o
trabalho sobre alimentação saudável os alunos em sua totalidade participaram das aulas
com muito mais interesse que antes. Os alunos que estavam acima do peso eliminaram
quilos com alimentação saudável agradecendo a ele pelas aulas e que disseram que estas
ficariam marcadas em sua vida escolar. Com a sabedoria recorrente em seus escritos
Paulo Freire diz:
Não importa com que faixa etária trabalhe o educador ou educadora.
O nosso é um trabalho realizado com gente, miúda, jovem ou adulta,
mas gente em permanente processo de busca. Gente formando-se,
mudando, crescendo, reorientando-se, melhorando, mas porque gente,
capaz de negar os valores, de distorcer-se, de recuar, de transgredir.
Não sendo superior nem inferior a outra prática profissional, a minha,
que é a pratica docente, exige de mim um alto nível de
responsabilidade ética de que a minha própria capacitação científica
faz parte. (FREIRE, 2013, p. 141).
A profissão docente exige que se faça diferente em relação a mediação do
ensino/aprendizagem dos estudantes e, assim, teremos no processo educativo gente
mudando, crescendo, reestruturando, melhorando e o que é mais importante aprendendo
no decorrer de sua escolarização e isso percebemos na fala do professor de educação
física e de seus alunos. O gostar de gente, o compromisso com sua trajetória de
construção de conhecimento, a postura ética são elementos indissociáveis da profissão
docente. Dissociá-los da atuação do professor é impossibilitar-se de seguir na profissão.
Devemos enquanto profissional da educação ter a clareza de qual é o papel da
educação para nos posicionarmos como profissionais críticos e em busca de uma prática
pedagógica sistematizada e assim sempre questionarmos para que educar? para que
ensinar? Essas são perguntas essenciais a nossa prática docente. Como diz Zabala:
Estas são perguntas capitais. Sem elas nenhuma prática educativa se
justifica. As finalidades, os propósitos, os objetivos gerais ou
intenções educacionais, ou como se queira chamar, constituem o
ponto de partida primordial que determina, justifica e dá sentido à
intervenção pedagógica. (ZABALA, 2010, p. 21)
Desta feita só podemos fazer uma intervenção pedagógica com conhecimento
sistematizado se realmente buscarmos concepções epistemológicas. Francisco Imbernón
diz que:
A especificidade dos contextos em que se educa adquire cada vez
mais importância: a capacidade de se adequar a eles
metodologicamente, a visão de um ensino não tão técnico, como
transmissão de um conhecimento acabado e formal, e sim como um
conhecimento em construção e não imutável, que analisa a educação
como um compromisso político prenhe de valores éticos e morais (e,
portanto, com a dificuldade de desenvolver uma formação a partir de
um processo clínico) e o desenvolvimento da pessoa e a colaboração
entre iguais como um fator importante do conhecimento
profissional...: tudo isso nos leva a valorizar a grande importância que
têm para a docência a aprendizagem da relação, a convivência , a
cultura do contexto e o desenvolvimento da capacidade de interação
de cada pessoa com o resto do grupo, com seus iguais e com a
comunidade que envolve a educação. (IMBERNÓN, 2006. p.13)
Assim a professora de matemática que usou um livro de literatura para trabalhar
as formas geométricas e mostrar ao mesmo tempo que não importa o quão diferente
possa ser o ser humano sempre irá encontrar seu par, assim ela ensina matemática e
inclusão social ao mesmo tempo. Mas o interessante foi que em sua fala ficou claro que
os seus alunos não gostavam muito de matemática, porém ao mudar sua didática na sala
de aula, os estudantes mostraram interesse pela matemática, chegando a perguntar nos
corredores da escola que dia eles teriam aulas com ela. Quando chegava o dia de suas
aulas os alunos estavam todos presentes e participativos. A professora relatava sua
experiência com tanta alegria que os professores da sala de educador ficavam com os
olhos brilhantes. Sobre aprendizagem significativa João Beauclair diz que:
As aprendizagens significativas só ocorrem quando a integração de
novos conhecimentos se dá no contexto real do aprendente,
proporcionando vínculos afetivos e efetivos, possibilitadores de
ampliação de referenciais e de novas visões de mundo. Desta forma, é
possível admitir que todos nós, com cada uma de nossas
individualidades, constituímos uma subjetividade própria e, por conta
disso, possuímos habilidades, capacidades e disponibilidades
diferenciados. (BEAUCLAIR, 2008, pp. 33 e 34).
Portanto quando a professora de matemática realizou atividades usando
metodologias diferenciadas houve então uma aprendizagem significativa. Essa pode
resultar nas estudantes mudanças singulares em suas próprias subjetividades e no modo
como se colocam no mundo.
No cotidiano da sala de aula, o tratamento didático precisa se aproximar mais da
investigação, em função da necessidade de incentivar os educandos a construir o seu
saber. Por isso, a postura que o professor tem diante do conhecimento condiciona a
qualidade da aprendizagem e a atitude do aluno frente ao saber. Portanto, a reflexão
sobre todas as dimensões do saber deve ser constante.
A escola pode e deve se constituir no espaço de formação de uma criança, jovem
ou adulto, pois os faz se aproximar da realidade sob outras perspectivas. Esse
deslocamento de posicionamento faz com que aprendam de modos diferentes e que
possam construir novos saberes para a cultura de seu tempo. Essa mudança de prisma é
fundamental para que o professor fique também no centro do processo, tal como todos
os sujeitos envolvidos. Vale salientar que na educação existem muitos modismos e isso
é preocupante. Nem sempre algo que se apresenta como novo, o é de fato. Mas ainda
que seja, precisa ser pensado, avaliado em suas consequências para que se tenha clareza
se vale ou não a pena incorporá-lo. Nem tudo o que é tradicional em educação é
desprezível. Não podemos ser ingênuos em acreditar que o “novo” é melhor do que o
que já temos, pois corremos o sério risco de fazer o que nos alerta o ditado: de jogar
fora junto com a água suja do banho o neném. A busca constante por melhores
estratégias para levar o aluno a construir o conhecimento deve ficar como um
compromisso profissional. No entanto construir e exercer a sua autonomia intelectual e
tornar-se capaz de gerar novos saberes, a partir da produção individual e coletiva
iniciada no cotidiano da sala de aula, subsidiada por teorias e questionamentos
constantes é imprescindível para uma atuação docente de qualidade.
Considerações finais
Procuramos, neste artigo, apresentar o resultado da transposição didática da sala
de Educador no ano de 2015, realizada na Escola Estadual São Jose do município de
Pontes e Lacerda.
Os pontos levantados no decorrer do texto indicam a necessidade que um
docente tem em sua função de educador de buscar e promover práticas pedagógicas e
atividades que não excluam nenhum dos alunos, ou seja, devem ser práticas que levem
em consideração as especificidades de cada sujeito.
Nessa relação entre docência e ensino/aprendizagem vinculada à prática
pedagógica, interpõe-se um aspecto relevante que é a formação continuada do professor.
Como tratar de questões referentes à prática pedagógica, experiência profissional e
conhecimento docente sem necessária vinculação à formação inicial e continuada? A
construção de práticas pedagógicas que promovam o pensar crítico, a autonomia na
construção de conhecimentos, que estimulem relações equitativas entre as pessoas passa
pela mobilização pessoal para aprender e pela sensibilização das pessoas em reconhecer
a própria ignorância e entender o papel que essa tem no processo de
ensino/aprendizagem. O conhecimento científico do professor tem relação com sua
formação profissional, com a experiência docente e suas práxis pedagógica. Já a sua
sensibilidade para o conhecimento e para com o outro é resultado da maneira como
construiu sua visão do mundo e das coisas, os valores atribuídos aos elementos da
sociedade, aos objetivos que têm na trajetória educacional, bem como do
posicionamento político que assume e sua disposição para o diálogo autêntico5. Esses
elementos são constitutivos da pessoa e do profissional que se consolidam no exercício
diário de sua atividade docente. Importante salientar que por meio da vontade e do
trabalho comprometido com a construção de uma sociedade mais ética é possível
construir modificações significativas em nosso ser e agir no mundo, assim como em
nossa atuação docente.
5 Expressão criada por Paulo Freire.
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