NOVOS DESAFIOS PARA A ETNOGRAFIA NOS QUOTIDIANOS DAS CRIANÇAS
Professor Pia Christensen
University of Warwick Pia Christensen
Brazil 2012
Pia Christensen Brazil 2012
“ A maioria dos bons investigadores dificilmente têm
certeza acerca da forma mais precisa para recolher
os dados.” (Paul Radin)
Visão global
Pia Christensen Brazil 2012
Uma abordagem multi-método com a observação participante no seu núcleo
Fazer etnografia com crianças necessita combinar ciência, arte e ofício Exemplos do trabalho etnográfico com crianças Para onde vai a pesquisa etnográfica com crianças?
(Passado) DESAFIOS
Para ir além de uma orientação futura da
vida das crianças
Para entender a vida das crianças e dos
jovens no seu contexto das suas vidas
presentes - como momentos de mudança
Utilizar abordagens etnográficas para
facilitar o diálogo na pesquisa com foco na
voz ,agência e significado das crianças,
Compreender a complexidade, as
semelhanças e diferenças na vida e
experiências das crianças.
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(Passado) Desafios
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A perspectiva teórica sobre as crianças e os jovens deve acompanhar a prática da pesquisa - atores, participantes, co-pesquisadores
A relação criança / adulto não é necessariamente o mais importante
Considerar as crianças e os jovens como atores individuais e coletivos – os pares como agentes positivos e negativos
Questionar pensamentos estereotipados e essencialistas sobre crianças e jovens (e famílias) na pesquisa através de uma prática reflexiva dialógica
Observação
participante
Grelhas
Documentos
Expressão
dramática
Papel do
investigador
Vinhetas
Entrevista
etnográfica
Gráficos
designs
Desenhos, Gravuras
Vídeo
Fotografias
Focus group
Grupo de pares
Entrevistas/
discussões Questionários
Histórias de vida
Narrativas
Etnografia – uma perspetiva multi-métodos
GPS -tracking Pia Christensen Brazil 2012
Desafio etnográfico nº1
Aprender
acerca
da criança
ou
Aprender
a partir
da criança
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Etnografia...
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... (trabalho de campo) refere-se a uma forma de investigação em que se mergulha (pessoalmente) durante um período significativo de tempo nas atividades de determinados indivíduos ou grupos para fins de investigação. A etnografia investiga:
Como é que as pessoas vivem e agem nos seus contextos de
vida? O significado social e cultural das ações, práticas e acontecimentos
O estudo detalhado da vida quotidiana!
Não há necessariamente uma relação entre o que as pessoas dizem e o que as pessoas fazem? Portanto, necessitamos tanto da observação (participante)
como das entrevistas / conversas
Etnografia
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Uma premissa fundamental: a de que outros sistemas, outras formas de
saber e fazer exigem esforços contínuos para compreender
Observação naturalista durante longos períodos de tempo com o mínimo possível de intervenção
Os números são pequenos, os relacionamentos de pesquisa são complexos, nada ocorre exatamente da mesma maneira duas vezes - a etnografia visa preservar, transmitir e celebrar essa complexidade
A capacidade para desenvolver trabalho sistemático, mas também a exigência de saber quando a recolha sistemática não tem sentido
Ciência, Arte e Ofício
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Ciência - é a criação de novos conhecimentos através do estudo sistemático e da adesão às provas e a uma lógica de inquérito (desconfirmação - não esquecer Popper!) Enriquece a exceção – Reconhece padrões - Desenvolve a teoria!
Arte - é sobre expressão, insight criativo, inovação, interpretação, criatividade, compreensão empática - ver algo novo no «notoriamente conhecido»
Ofício - a etnografia na prática - métodos, ferramentas, técnicas e competências
Ciência, Arte e Ofício do trabalho de
campo
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Os números são pequenos, os relacionamentos de pesquisa são complexos, nada ocorre exatamente da mesma maneira duas vezes - a etnografia visa preservar, transmitir e celebrar essa complexidade
A capacidade para o trabalho sistemático, mas também a exigência de saber quando os dados sistemáticos não têm sentido
O estudos da mobilidade das crianças – visitas guiadas
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As crianças são convidadas a acompanhar o etnógrafo a pé ou de bicicleta à volta da sua vizinhança: passando pela sua casa, à volta do seu jardim, passando pela escola, floresta, campos e estradas.
O pesquisador obtém experiências em primeira mão acerca dos lugares preferidos das crianças e os seus percursos diários - observar as crianças no seu meio natural (Christensen, 2003).
As "visitas guiadas" permitem ao pesquisador aceder às observações e reflexões das crianças acerca dos seus percursos diários e lugares preferidos para jogar e passar o tempo.
Preservando a agência das crianças
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As crianças decidem os percursos
Companheirismo - se o passeio deve ser realizado por conta própria ou em conjunto com um amigo.
As conversas não têm um formato pré-planeado, mas permitem conversas entre crianças e pesquisador para combinar como é que o passeio em si se desenvolve, influenciado por pessoas que encontram e lugares que visitam.
O Método de loci
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O ‘método de loci’ refere-se ao modo como os contextos
espacial e relacional se entrelaçam na memória (Yates 1966).
Espaços, onde as experiências e os acontecimentos ocorrem e
se tornam mentalmente codificados para posterior
recuperação ou recordação quando os revisitamos.
O método baseia-se nos mapas mentais (emocionais e
cognitivos) que fazemos dos lugares que conhecemos bem,
lugares que visitamos e lugares onde vivemos: a casa , o
bairro e a cidade
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As visitas-guiadas dão uma visão única sobre a
experiência das crianças acerca do lugar, que
ultrapassa o conhecimento que pode ser obtido em
entrevistas tradicionais (baseadas na comunicação
verbal). A compreensão em profundidade dos
movimentos das crianças e as viagens fora de casa e
da escola na sua comunidade local
Resultados
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Exemplos de um subúrbio de Copenhaga:
As crianças gastam o seu tempo depois da escola no centro comercial local;
Expressões de afecto ao visitar uma mulher com deficiência e seus cães
A emoção de descer as escadas pulando de bicicleta na praça da comunidade, juntamente com amigos
As crianças demonstram movimentos, apontam lugares, caves escondidas, as casas das pessoas, lixo, compartilham histórias e escolhem folhas das árvores.
Abordagem sistemática - bem trabalhada
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Jane, etnógrafa no campo:
Duas crianças num passeio guiado na sua
comunidade
O ensaio e o mapa das crianças (cuidados e
interpretação das crianças)
Momento de alegria - a mudança, inesperado!
Metodologia flexível
A arte é sobre criatividade e salto de imaginação:
Como é olhar a partir da perspectiva da criança?
Desafio etnográfico nº 2 Escutar as crianças
Compreensão empática (Weber)
"É claro que escutar as
crianças, ouvir as crianças e
agir sobre o que as crianças
dizem são três ações muito
diferentes, embora
frequentemente não sejam
reconhecidas dessa forma "
Roberts (2000/08)
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O PROCESSO DE PESQUISA VISTO COMO DIÁLOGO
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Uma prática de
pesquisa que está em
consonância com as
experiências,
interesses, valores e
rotinas diárias das
crianças e jovens
Boas conversas não têm fim e, muitas vezes , também não têm início (Gudeman e Rivera1990 :1-4) . O modelo de conversação como prática antropológica e a atividade de outras culturas.
No centro de toda a pesquisa está a comunicação
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An ethnographermust have a ‘good ear’ as well as a facile pen
(Gudeman and Rivera
1990:4).
Notas de campo
"Compre um caderno grande e comece no meio porque nunca sabe como as coisas se poderão desenvolver." (Radcliffe-Brown)
.... Ou arranje dois!
Tomar notas - manutenção de registos Descritivo - acontecimentos, contextos, fragmentos de conversas, ações e interações. As notas de campo dos profissionais são, também, momentos de interpretações e análise
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Extrato de notas de campo que a minha amiga e doutoranda
Susana Rena Cortés Morales, uma antropóloga chilena, tem
compartilhado comigo:
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Eu, Susana, vou falar-vos sobre exemplo da experiência de uma criança com as
artes na cidade, e a experiência tal como foi observada e, inesperadamente,
compartilhada por mim como etnógrafa.
Lila é uma menina de dois anos de idade. Ela vive em Santiago, no centro da
cidade, num apartamento. Todas as manhãs, ela vai para a creche, de metro
com a sua mãe. Ela sai do metro na estação Baquedano. Faz parte da Linha 5,
na qual existe uma tentativa de aliar as artes com o seu design estrutural, com
pinturas murais, esculturas e pinturas. No entanto, os moradores de Santiago que
frequentam a linha 5 não reparam muito nelas, eu acho. Talvez faça parte da
paisagem das estações de metro, e neste sentido pode ser agradável, mas eles
(os viajantes) não parecem notar ou apreciar isto de uma forma explícita
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Eu acompanho Lila e a sua mãe, uma manhã no caminho para a
creche. Saindo do metro, ela sobe as escadas sozinha, um passo
após o outro, com as mãos tocando ao mesmo tempo a parede.
Quando ela chega ao fim das escadas, começa a gritar, animada,
dizendo algo que não posso compreender. A sua mãe diz-me "Oh,
é sobre" os corações "", e vejo Lila que atravessa a estação com
pequenos gritos de excitação.
Ela vai diretamente até três esculturas, todas com a mesma
aparência, com uma forma abstrata, e com uma cor verde escuro.
Parecem tubos tensos. Ela entra numa das esculturas e toca nela,
indo em seguida para a próxima, e na terceira faz o mesmo,
olhando para sua mãe e gritando, ainda, entusiasmada.
Ela fica lá, entre as esculturas nomeadas por ela como "Os Corações". Eu penso sobre a forma como ela se relaciona com esta obra de arte, uma peça que alguém decidiu colocar lá, na estação, com um propósito abstrato como é "levando a arte para perto das pessoas", e provavelmente ninguém a vê realmente, mas Lila sim. E não apenas a vê, mas vive, toca, nomeia, é parte da sua vida diária. Todo o espaço da estação Baquedano constitui para ela um lugar especial. Para ela é um lugar, reconhecido através da arte que lá existe.
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Eu olho atentamente para as esculturas. Eu estive lá antes e nunca tinha reparado nelas. E agora que olho para elas, realmente parecem três corações, corações reais, como artérias tensas…
Lila quer ficar lá por mais tempo, mas a mãe força-a a continuar a viagem para a creche. "Todos os dias, é a mesma coisa", diz ela ... (Comunicação pessoal)
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Salto imaginativo
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A vida quotidiana pode ser ilusória.
A mudança acontece em qualquer lugar a qualquer momento.
A magia do dia a dia é a experiência do trivial - muitas vezes sem agitação - reconhecendo, no entanto, que a mudança acontece a toda a hora.
A etnografia das crianças implica gastar tempo em vários contextos diferentes das suas vidas – tornando os momentos e eventos "sense able‘ (mais agradavéis).
No exemplo da Susana "impressionabilidade" é a arte da etnografia: a capacidade de ficar impressionado e de se impressionar
Desafio etnográfico nº 3
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Quando está no campo o etnógrafo está sempre limitado pelo facto de somente
conseguir estar num lugar ao mesmo tempo. De especial desafio são os eventos
momentâneos e ocasionais (Amit 2000).
Como - por exemplo - é que vamos observar interações que acontecem às vezes, mas
não necessariamente quando estamos por perto? Como é que participamos ou
observamos práticas que são desenvolvidas aqui e ali por uma ou mais pessoas?
(Malkki 1997 em Amit 2000 p.15).
Para compensar essa limitação e para produzir um quadro mais completo de um
contexto de investigação, os etnógrafos desenvolvem trabalho de campo
longitudinal baseado em métodos como a observação participante e as entrevistas.
(Christensen et al 2011)
Mobilidade das crianças no espaço
exterior
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a) Geograficamente dispersos - tornava difícil, etnograficamente, a
exploração de padrões de mobilidade das crianças, numa escala
completa e em tempo real.
b) Produzir dados variados e extensos e complementar a profundidade de
dados etnográficos com a amplitude de dados quantitativos.
c) Uma etnografia de métodos mistos que combina a etnografia com as
novas tecnologias móveis.
d) Os dispositivos GPS tornam possível recolher dados sobre os movimentos
geográficos de todas as crianças participantes, independente da
presença de um pesquisador.
Padrões de mobilidade revelados
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Os padrões de mobilidade das crianças e o uso
geográfico do tempo foram projetados em mapas
aéreos individuais
O apoio do trabalho de campo etnográfico e da
análise interpretativa das interações das crianças
com os seus ambientes sociais e materiais.
GPS como arte e tecnologia
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GPS é comunicação – comunicar a informação
acerca da mobilidade das crianças através de
redes de satélite para o investigador.
Projetando uma representação visual num mapa de
camadas com histórias das crianças, experiências e
observações das suas práticas e rotinas, uso e
envolvimento com os espaços e lugares.
‘CULTURAS DE COMUNICAÇÃO’ (CHRISTENSEN 1999)
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O pesquisador necessita estar consciente do envolvimento na prática com as "culturas de comunicação“ das crianças
- Ações sociais - uso da linguagem - os significados que as crianças colocam nas palavras, noções e ações - contexto e tempo
Dar uma imagem diferenciada da vida das crianças, ações e experiências sociais
- Novas tecnologias e meios de comunicação
“Temos de separar o ofício de etnografia da a arte. O ofício pode ser ensinado. A arte pode ser ensinada - até certo ponto – e a prática é uma importante dimensão de se tornar um bom artista. Mas a arte é, em última análise, dependente do talento do artista."
(Werner and Schoepfle 1987:16)
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http://newcitizens.wordpress.com/
The End
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