Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 8 • nº1694
Outubro/2014
O amor de dona Arlinda pelas plantas
Arlinda Freitas Silva ou dona Arlinda, como é
conhecida, mora no sítio Mineiro, na comunidade
São Francisco, município de Lagoa Seca/PB. Ela é
casada com Paulo Luiz da Silva. Juntos tiveram 10
filhos, mas apenas 8 se criaram: Dimas, Paulinho,
Francisco, Terezinha, Regina Celi, Lucimar,
Liomar e Lindomar, que faleceu há 10 anos.
Dimas e Paulinho são solteiros e moram com os
pais, Francisco mora em outra casa, no mesmo
terreno, Terezinha mora na cidade e Regina,
Lucimar e Liomar, moram em sítios vizinhos.
Antes, dona Arlinda morava em Campina
Grande, depois do casamento, passou a morar
em Lagoa Seca. Na época que chegou tinha 23
anos de idade. Ela conta que nunca pensou em
viver no sítio. Hoje se sente abençoada por Deus,
por ser agricultora e morar no Mineiro, onde vive
há 45 anos.
O sítio está localizado na região de Brejo do
município. A propriedade em que trabalha tem 2
hectares. Na propriedade a família produz: cará-
babão, feijão carioca, guandu, milho, fava,
batata, macaxeira e jerimum. O sítio também é
bastante diversificado com fruteiras como:
abacate, graviola, jaca, caju, manga, acerola,
goiaba, jabuticaba, banana e laranja. Dona
Arlinda cria umas 15 galinhas e alguns patos,
cria também abelhas que a cunhada deixou para ela. No arredor de casa, cultiva um viveiro de
plantas que somam mais de 300 espécies entre ornamentais e medicinais.
Seu Paulo, dona Arlinda e Paulinho, além de serem agricultores, são comerciantes. Tudo o que é
produzido na propriedade é dividido entre o consumo de casa e a venda nas feiras. Dona Arlinda é
comerciante há 25 anos, iniciou vendendo bolo e café. Paulinho e Dimas eram sua companhia.
Paulinho continuou sendo feirante e tem seu próprio ponto de venda. Seu Paulo deixou de
freqüentar a feira quando houve a implantação do “Plano Cruzado” em 1986. Ele deixou porque não
entendia como funcionava a moeda, explicou dona Arlinda.
Lagoa Seca/PB
Nos últimos 10 anos, dona Arlinda e seus familiares passaram por vários problemas de saúde e
ela precisou se ausentar da comunidade e das atividades por um tempo. Mas, este ano, dona Arlinda
voltou a participar da Comissão de Mulheres, onde contribui com seus conhecimentos acumulados
em tantos anos de experiência. Ela também voltou a estudar e está cursando uma universidade.
Ela vem participando de vários
encontros do Sindicato, reuniões, cursos,
oficinas e também já participou de novas
visitas de intercâmbio. No mês de
setembro de 2014, dona Arlinda e outras
famílias visitaram dona Irene, que também
é uma agricultora-experimentadora e
participante da Comissão de Mulheres do
município de Solânea. Na visita, dona Irene
contou a todas que, a primeira planta que
trouxe para sua faxina foi da casa de dona
Arlinda, há 15 anos, em uma visita igual
aquela que estava recebendo. Nas plantas,
dona Arlinda encontrou forças para
continuar sorrindo e retomar essas
atividades que lhe proporcionam tantas
alegrias.
Através das visitas de intercâmbio, ela também conheceu a experiência das cisternas para
produção de alimentos a qual sua nora foi beneficiada. Como são vizinhas e trabalham em família,
também compartilharão da água da cisterna e juntas pensam em como ampliar o viveiro de
mudas, aumentar a criação de animais e cultivar uma horta de produção natural pertinho de casa.
Realização Apoio
Receita para combater infecção urinária. Planta utilizada: Cajuru
Dona Arlinda escrevendo a receita. Foto editadaDona Arlinda no viveiro de mudas mostrando a planta Cajuru
Articulação Semiárido Brasileiro – ParaíbaBoletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Para levar os produtos para a feira, dona Arlinda encontrava muitas dificuldades: precisava
caminhar por 15 minutos, acompanhada dos filhos ainda pequenos, carregando balaios cheios de
produtos até um determinado ponto da estrada, onde pegavam carona, junto com outros
feirantes. Era uma dificuldade a questão do transporte, conta a agricultora.
Em 1994, dona Arlinda foi convidada para participar da Feira-Agro de Campina Grande,
ganhou dois pontos de venda na cidade. Um espaço está localizado no Parque do Povo, as sextas-
feiras e outro no mercado das Malvinas, aos sábados. Ela conta que o local da feira é fixo, mas
quando tem festa no Parque do Povo, os feirantes ficam sem lugar. Há um ano, ela também
negocia com plantas ornamentais, troca, compra e vende.
Além da atividade de agricultora e de feirante, dona Arlinda trabalhou de enfermeira no
município de Lagoa Seca. Na comunidade exercia o papel de catequista e, quando necessário, era
parteira. No Sindicato dos Trabalhadores Rurais, foi a primeira secretária mulher, representando as
companheiras por duas gestões e fiscal em outra. Foi uma das fundadoras da Comissão de Mulheres
do Sindicato e na Comissão, sempre participava das visitas de intercâmbio dentro e fora do Estado.
Foi uma das fundadoras da Pastoral da Criança
no município de Lagoa Seca. Recentemente
recebeu uma homenagem pelos 25 anos da
criação da Pastoral. Foi representante da
paróquia por vários anos.
Para o Polo da Borborema, dona Arlinda é
uma referência no processo de formação e
organização do trabalho com as mulheres. É
uma agricultora-experimentadora que através
do cultivo de plantas medicinais e ornamentais,
incentiva outras mulheres a melhorarem seus
arredores de casa e perceberem a importância
desse espaço para a família.
A formação
Dona Arlinda explica que o amor pelas plantas
é tradição familiar. A mãe cultivava plantas
ornamentais e a avó gostava de plantas
medicinais. Quando dona Arlinda se casou, a avó
veio morar com ela no sítio e, durante 20 anos, foi
lhe passando os conhecimentos sobre as plantas.
Conta também que, as visitas de intercâmbio
foram fundamentais para aprofundar e ampliar o
conhecimento sobre as p lantas e suas
propriedades medicinais.
Através da Comissão de Mulheres, conheceu a
experiência da Fitoterapia, com Dr. Celerino, em
Recife. Fitoterapia consiste na utilização das
plantas para produzir medicamentos naturais a
partir do conhecimento tradicional das famílias. Na
Bahia, conheceu outros trabalhos com plantas
medicinais e junto à Comissão de Mulheres,
iniciaram uma série de visitas de intercâmbio
dentro do município, para trocar conhecimentos e
repassar o que tinham aprendido nas visitas.
Ela conta que conhece todas as plantas
medicinais que estão no seu quintal e sabe como
usá-las, guarda as receitas na memória. Entre as
ornamentais, as que não conhece pelo nome, ela
coloca apelido. São muitas variedades no viveiro
como: violetas, orquídeas, trepadeiras e muitas
plantas medicinais que ela cuida com muito amor e
carinho. Para dona Arlinda, as plantas lhe
proporcionam muito prazer e energia positiva.
Quando não amanhece bem, vai até as plantinhas,
conversa com elas e, elas melhoram sua auto-estima.
Para cuidar e manter as plantas não é fácil, precisa de muito tempo e dedicação. Ela sempre
utiliza água limpa para aguar as plantas. Na seca, pega água em uma cacimba que fica perto de
casa. Há plantas que são mais delicadas, o manejo é diferenciado, como é o caso das violetas.
Dona Arlinda tem o hábito de trocar mudas
com as vizinhas e amigas por outras que não
possui. Tem plantas que ela faz para doar e
também compra. As plantas raras, ela compra
nas casas de plantas ornamentais na cidade de
Campina Grande quando vai para feira. As
plantas medicinais são distribuídas paras as
pessoas quando há necessidade, não vende.
Também não gosta de vender orquídeas
porque ganhou de presente.