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ÍNDICE
1. Introdução……… ………………………………………………………………….2
2.Metodologia……………………………………………………………….………….3
2.1.Participantes………………………………………………………………...3
2.2 Instrumentos de recolha de dados…………………………………………4
2.3 Análise de dados…………………………………………………………….4
3.Resultados……………………………………….……………………………………6
4. Discussão final………………………………………………………………………12
Referências bibliográficas…………………………………………………………….14
Anexos (guião e transcrição da entrevista)…………………………………….…....15
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1.Introdução
A escola é uma organização onde os professores exercem o papel activo no
processo ensino - aprendizagem, no entanto estes podem também simultaneamente
assumir cargos que vão para além da transmissão de saberes. Dois exemplos destes
cargos são o de Director de Turma e o de Director de Instalações.
No cargo de Director de Turma, um professor de uma forma geral, tem
responsabilidades na coordenação dos professores da turma, na integração dos alunos na
vida escolar e na interligação entre a Escola, Encarregados de Educação e Comunidade.
“Estas funções do director de turma situam-no assim na interface entre duas áreas de
intervenção: a docência e a gestão “ (Roldão, 2007, pag.3). O Director de Instalações,
tem funções sobre o domínio patrimonial da escola, a este compete genericamente a
coordenação dos recursos materiais e espaços da escola.
Constituiu objectivo deste estudo, apurar quais os cargos que uma professora de
F.Q, de uma escola do Distrito de Lisboa exerce e/ou exerceu na coordenação educativa
e supervisão pedagógica. Para a caracterização dos cargos, tivemos especial atenção aos
seguintes pontos:
Que competências são necessárias para um bom desempenho
Quais as principais limitações, dificuldades
Como se pode melhorar a eficácia
A questão orientadora para este estudo foi:
Quais são as perspectivas dos professores no desempenho de cargos de
coordenação educativa e supervisão pedagógica numa escola?
O trabalho encontra-se estruturado em quatro capítulos. Na introdução,
definimos a questão orientadora e apresentamos a estrutura deste estudo. No segundo
capítulo procedemos à explicitação da metodologia de investigação utilizada, onde
apresentamos a descrição dos participantes em estudo, os instrumentos de recolha de
dados e a análise de dados. No terceiro apresenta-se a descrição dos resultados obtidos.
Por fim, no quarto capítulo temos a discussão final, onde expomos uma reflexão crítica
dos resultados encontrados e algumas sugestões sobre a temática em estudo.
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2.Metodologia
2.1 Participantes
Neste estudo participou uma professora profissionalizada do grupo de Física e
Química, pertencente a uma escola da freguesia de Massamá da cidade de Queluz, no
distrito de Lisboa.
A escolha desta professora foi efectuada de forma aleatória. Para a caracterização do
participante neste estudo, apenas considerámos relevante o seu percurso profissional e
académico. De realçar a sua formação inicial em Engenharia Química, a sua vasta
experiência profissional no ensino e a sua ligação ao quadro da escola onde lecciona. O
Quadro seguinte apresenta a síntese relativa ao perfil da professora participante.
Quadro 1
Caracterização da professora participante
Nome Idade Habilitações
académicas
Habilitações
Profissionais
Situação
Profissional
Anos de
Serviço
Disciplina/
ano
Cargos Escola
Maria
João
Cunha
43
Licenciatura
em Engenharia
Química
Mestrado em
Didáctica das
Ciências
Profissionalizaçã
o em serviço
Quadro de Zona
Pedagógica
(Lisboa)
17 – 18
CFQ/7ºAno
e
F.Q /10ºano
Director de
Instalações e
Directora de
Turma
Escola
Secundária
Stuart de
Carvalhais
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2.2 Instrumentos de recolha de dados
Atendendo ao objectivo deste estudo ser de natureza qualitativa, foi utilizado como
instrumento de recolha de dados uma entrevista semi-estruturada,
O guião da entrevista foi previamente elaborado e estruturado em três partes. A
primeira parte englobava perguntas fechadas com objectivo de caracterizar a professora
participante. Na segunda e terceira parte as perguntas elaboradas eram de resposta
aberta, com o intuito de a professora revelar as suas experiências, conhecimentos e a sua
forma de pensar, em relação à pergunta orientadora do estudo.
Quanto ao número de perguntas elaboradas, tivemos que ter em consideração o
tempo que a professora tinha disponível para realização da entrevista.
A entrevista foi efectuada com um gravador áudio para registar as respostas e teve
uma duração de aproximadamente 11 minutos. O processo de recolha ficou concluído
com a transcrição da entrevista efectuada.
2.3 Análise de dados
No que respeita à análise dos dados, realizamos uma investigação centrada no
método de análise de conteúdo (Bardin, 2009). Este método é uma ferramenta muito útil
para a compreensão e construção de significado, evidenciado no discurso do
participante no estudo.
Segundo Bardin (2009, p.20), a definição de análise de conteúdo surge no final
dos anos 40-50, com Berelson, auxiliado por Lazarsfeld, ao afirmarem que “a análise de
conteúdo é uma técnica de investigação que tem por finalidade a descrição objectiva,
sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação”. Esta análise de
conteúdo pode ser aplicada na investigação quantitativa ou qualitativa, no entanto com
aplicações distintas. Na primeira, o que serve de informação é a frequência com que
surgem certas características do conteúdo. Na segunda é a presença ou ausência de uma
dada característica ou conjunto de características de conteúdo, num determinado excerto
da mensagem, que é levado em consideração (Bardin, 2009).
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Bardin (2009) apresenta a organização da análise de conteúdo em três etapas
cronológicas, a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados
obtidos. Na primeira etapa é estabelecido um esquema de trabalho que deve ser preciso,
com procedimentos bem definidos, embora flexíveis. O segundo consiste no execução
das decisões tomadas previamente, e finalmente na terceira etapa, o pesquisador
apoiado nos dados recolhidos, procura interpretá-los, torná-los significativos e válidos.
Neste estudo, após a transcrição da entrevista, procedemos a análise de conteúdo
através do processo de categorização. Este defini-se como “uma operação de
classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e,
seguidamente, por reagrupamento segundo o género (anologia), com critérios
previamente definidos”(Bardin, 2009, pg. 145) . Este processo é estrutural e é dividido
em duas fases, a primeira é o inventário, onde se isolam os elementos, a segunda é a
classificação, nesta fase os elementos são divididos no sentido de se aplicar uma certa
organização às mensagens, com base nos objectivos da pesquisa (Bardin, 2009).
Na análise dos dados recolhidos pela entrevista efectuada, emergiram duas
categorias. A primeira é a do Director de Instalações que foi um cargo já desempenhado
pela professora no inicio da sua carreira profissional, a segunda é o Director de Turma
que é o cargo que esta desempenha actualmente. Na segunda categoria foram associadas
subcategorias. No Quadro 2 estão representadas as categorias e subcategorias.
Quadro 2
Categorização dos dados recolhidos da entrevista
QUESTÃO DO ESTUDO CATEGORIAS SUBCATEGORIAS
Quais são as perspectivas dos professores no desempenho
de cargos de coordenação educativa e supervisão
pedagógica numa escola?
O Director de instalações
O Director de Turma
O papel do Director de
Turma
Projecto Curricular de
Turma
Dificuldades
Vantagens/Desvantagens
Relações hierárquicas
legais
Aspectos a mudar
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3.Resultados
Neste capítulo, apresentam-se os resultados pretendendo responder à questão de
estudo. Para se descrever os resultados são apresentados vários extractos da transcrição
efectuada. Os resultados estão organizados em categorias, referentes à questão que
orienta esta pesquisa.
O Director de Instalações
Relativamente a esta categoria, a professora referiu “Eu exerci direcção de
instalação, mas já foi a muitos anos. Foi logo no segundo ano que dei aulas, já nem me
lembro como é que é isso.”, que indica que as competências especificas do director de
instalações foram esquecidas pela professora. Este facto pode dever-se á extinção do
cargo ou ao pouco tempo de serviço no desempenho deste. No entanto, a professora
reconhece as funções gerais e a importância do cargo, como está patente no seguinte
excerto:
E a direcção de instalações também é importante…nós precisamos do
material, precisamos preparar alguma coisa, ééé complicado se as coisas
não tiverem organizadas nos sítios certos e não houver alguém que nos
saiba, às vezes ajudar e preparar as vezes as coisas para nós”.”
Apresenta-se a seguir a categoria de O Director de Turma, onde faremos uma
análise às perspectivas da professora sobre o cargo que desempenha actualmente.
O Director de Turma
Nesta categoria foram identificadas seis subcategorias, o papel do Director de
Turma, o projecto curricular de turma, dificuldades, vantagens/desvantagens, relações
hierárquicas legais e aspectos a melhorar. Importa, em seguida, explicitar os argumentos
expressos pela professora em relação a cada uma destas subcategorias
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O papel do Director de Turma
No que respeita à atribuição do papel do Director de Turma, a professora
respondeu “ÉÉ … a Direcção da Escola que escolhe.”. O excerto seguinte mostra como
a professora desempenha o papel:
Papel do director de turma é, além do papel de servir como de mediador
entre os professores, entre a escola e os encarregados de educação, é
ainda tem quee…aaa…tentar manter uma boa relação … aaa … efectiva
com os alunos ….
Através deste breve excerto podemos inferir que no exercício do cargo de
Director de Turma, a professora mantém uma interacção com actores escolares
(professores, alunos) e educativos (encarregados de educação).
Para a mediação entre os professores e os encarregados de educação, são
efectuadas reuniões do conselho de turma. A preparação destas é uma tarefa exaustiva e
é efectuada pelo Director de Turma. No nosso caso a professora destacou que para a
preparação da reunião é importante a recolha de várias informações, nomeadamente
acerca de:
Quais os contactos que foram realizados com os encarregados de
educação
Participações disciplinares que os alunos tiveram e quais foram as
medidas a que estes foram sujeitos
Alunos com planos individuais de trabalho
Assiduidade dos alunos
Alunos com relatórios psicológicos
Alunos com medicação específica
Alunos com problemas específicos, alertados pelos encarregados de
educação
Alunos que se tenham destacados de uma forma muito positiva
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Alunos que estão a passar dificuldades económicas
Avaliação dos aluno
Na relação com os alunos, a professora através da frase “…manter uma boa
relação … aaa … efectiva com os alunos, para que eles consigam obter sucesso
escolar…….” foca que o papel do Director de Turma passa por estabelecer uma relação
afectiva com estes, de forma a os poder ajudar a ter bons resultados escolares Nesse
sentido, a professora procura informar os alunos acerca dos seus comportamentos e
avaliações. De referir que conforme a situação de cada aluno a professora “premeia”
ou”castiga”. Estas ideias estão patentes no seguinte excerto:
Dizer aos alunos também quando as coisas estão a correr bem e quando
as coisas estão a correr mal, “castigar” nós fazemos muito isso, entre
aspas, os alunos quando fazem alguma coisa mal, premiar os alunos
quando fazem alguma coisa bem … essencialmente é isso!
Finalmente, na resposta à pergunta, sobre a relação que este cargo tinha com a
comunidade, a professora respondeu, “comunidade, nós não temos”, entende-se com
esta afirmação que a professora desempenha o papel do Director de Turma, apenas
dentro do espaço escolar.
Na subsecção seguinte, apresentam-se os resultados referentes à perspectiva da
professora sobre o Projecto Curricular de Turma.
Projecto curricular de Turma
Quando questionada sobre como o conselho de turma aplicava o Projecto
Curricular de Turma, a professora respondeu “É assim, não aplica. O projecto curricular
de turma … é… a ideia surgiu a uns anos atrás pelo ministério…”, isto significa que não
existe interesse na aplicação do Projecto por parte dos professores pertencentes ao
conselho. A professora conclui a resposta, explicando que essa falta de interesse se deve
à falta de tempo dos professores para se reunirem, demonstrado no seguinte excerto:
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O que acontece é que nós temos um horário muito sobrecarregado e
então isso é impossível … então no conselho de turma … os miúdos tem
16 disciplinas, o conselho de turma tem 13 ou 14 professores, é
impossível 13 ou 14 professores estarem com os mesmo horários e terem
uns dias para reunir.
De salientar, que embora não haja reuniões, a professora elabora um Projecto
curricular de Turma, com base nas informações que lhe são fornecidas pelos colegas,
sendo depois aprovado sem nenhum tipo de discussão. Pensamos que este processo já
está incutido na cultura da escola e é feito quase de maneira automática, esta ideia surge
com base no seguinte excerto:
……portanto, o que acontece com nos projectos curriculares de turma…também
estava a esquecer desta…os professores dão as informações iniciais ao director
de turma e o director de turma faz o projecto curricular de turma, dá aos outros
professores para ler, que ninguém lê, toda gente aprova e toda gente…pronto!
(risos).
A seguir descrevem-se as dificuldades sentidas pela professora, na execução das
funções inerentes ao cargo de Director de Turma
Dificuldades
Quando questionada sobre quais as dificuldades sentidas no desempenho do
cargo, a professora realçou a relação com os Encarregado de Educação, patente na
afirmação “eu tenho algumas dificuldades …principalmente com os encarregados de
educação”. A professora completa a resposta, afirmando que estes não prestam um
apoio suficiente aos filhos e que gostaria que esse facto fosse alterado, como se consta
no seguinte excerto:
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…..eu gostaria que os encarregados de educação prestassem um
acompanhamento mais efectivo aos filhos…. eu queria que eles
prestassem um acompanhamento mais efectivo, os miúdos são
pequeninos…, são pequenos e mesmo os grandes, muitas vezes andam
muito soltos porque os pais não lhe prestam tanta atenção.
Na perspectiva da professora, o maior ou menor acompanhamento dos pais é
influenciado pelos resultados dos filhos na escola, evidenciado no seguinte excerto:
Porque é difícil, porque assim, os miúdos bons, os pais vem sempre cá.
Os miúdos mais problemáticos, em termos de aproveitamento ou em
termos de problemas disciplinares é difícil fazerem os pais virem cá.
Vamos analisar em seguida as Vantagens/desvantagens que a professora
considerou estarem associadas ao cargo.
Vantagens/Desvantagens
A professora foi sucinta a enumerar vantagens/ desvantagens do cargo de
Director de Turma. Realçou como vantagem a relação afectiva que se cria como os
alunos, e os respectivos encarregos de educação “As vantagens é que se acabam por
ficar com uma relação de maior proximidade com os alunos e também com os
encarregados de educação.”. A desvantagem evocada foi que o tempo que este cargo
requer, não é compatível com a redução de horário que um Director de Turma tem em
termos legais, “A grande desvantagem é o tempo que ocupa, nós temos uma redução de
90 minutos por semana e 90 minutos não chegam, eu passo horas cá com a direcção de
turma.”
Em seguida, descrevem-se as interpretações da professora relativas às Relações
hierárquicas do cargo.
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Relações hierárquicas legais
Na relação hierárquica o Director de Turma é orientada pelo coordenador de
Directores de Turma e este recebe instruções da Director da Escola. Esta relação foi
salientada pela professora no seguinte excerto:
… vai do director de escola para os directores … coordenadores de
directores de turma, os coordenadores para os directores e os directores
para os professores. Se for um problema disciplinar é directamente com o
director da escola, especificamente nesta escola, o director normalmente
concorda com tudo que os directores de turma fazem.
O excerto também mostra uma confiança absoluta do Director da Escola nas
pessoas nomeadas para o cargo de Director de Turma, quando a professora afirma que
“o director normalmente concorda com tudo que os directores de turma fazem”.
Julgamos que este facto seja normal, pois é a Direcção da Escola que nomeia o director
de Turma.
Para finalizamos a nossa descrição dos resultados, vamos apresentar na
subsecção seguinte, os aspectos inerentes às funções do cargo de Director de Turma,
que na perspectiva da professora poderiam ser alvo de alterações.
Aspectos a mudar
A professora sugere que poderia haver mudanças a nível Legal, ao afirmar que
“Eu mudava ooo… eu mudava um bocadinho o sistemaaa que o ministério tem …”. A
professora sugere especificamente um sistema de retenção para os alunos pouco
assíduos, patente na frase ” Primeiro os alunos para mim reprovavam por faltas,
portanto, isso era logo a primeira.”. Outra sugestão de mudança mencionada na resposta
da professora, está relacionada com formas de responsabilizar os pais no
acompanhamento escolar dos filhos, pois esta sugere “…aluno que ficasse retido pela
segunda vez os pais tinham que pagar multas.”. Julgamos que esta sugestão está
relacionadas com o facto de a professora pensar que o apoio dos pais é fundamental
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para o sucesso dos seus alunos e esta ser uma das dificuldades que encontra no exercício
do cargo de Director de Turma.
4.Discussão final
A Professora Maria João (PMJ) possui uma larga experiência como docente (18
anos) e estava bem a vontade à entrevista. Lecciona para o 7 e 10º ano actualmente, mas
já leccionou para outros anos. Em sua carreira de docência exerceu dois cargos: Director
de Instalações e Director de Turma. Destes dois a PMJ foi nomeada mais vezes para
Director de Turma, o qual exerce actualmente na escola. Considerando a própria que os
dois cargos são importante e a mesma descreve que o Director de Instalações é um
agente organizador em termo dos materiais escolares, bem como orientador em
auxiliando os professores na escolha destes. O Director de Turma para PMJ é um agente
mediador entre a escola e os alunos, os encarregados de educação e os professores. O
papel de Director de Turma descrito por PMJ está de acordo com o texto de Roldão
(2007, pag. 3) em que o define como agente de gestão curricular, onde este se entende
como todo o conjunto de processos e procedimentos através dos quais se tomam as
decisões necessárias quanto aos modos de implementação e organização de currículo
proposto, no quadro de uma instituição escolar.
Na preparação das reuniões com o conselho de Turma valoriza PMJ as
informações, ou seja, as informações das participações dos pais, dos contactos com os
encarregados de educação, da assiduidade dos alunos, bem como comportamento,
problemas de saúdes e destaques positivos por partes destes. De acordo com Roldão
(2007, pag. 5) esta é uma outra área em que o director de turma deve actuar com gestor
do desenvolvimento curricular, promovendo o debate e a convergência do trabalho que,
isoladamente, os professores desenvolvem neste sentido.
Em relação as desvantagens do exercício do cargo, as principais dificuldades da
professora são gerir o tempo de reunião, ter atenção dos encarregados de educação para
os filhos e atenção dos pais dos filhos com problemas disciplinares para as reuniões.
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No melhoramento do cargo, a professora sugeria uma pequena mudança no
sistema do ministério em relação ao número de faltas dos alunos, justificações destas e
multas por mau comportamento.
Com a comunidade, embora este seja um aspecto a melhorar (ou melhor passar a
existir na escola) a professora menciona que não há uma relação do cargo de Director de
Turma com a comunidade. Menciona que a escola talvez possa ter um projecto que
inclua a comunidade, mas que isto não é inerente ao seu cargo.
Da entrevista realizada verificou que PMJ possui um bom conhecimento do
sistema do ministério, mas a mesma admite que nem tudo pode ser aplicado, como por
exemplo a aplicação do projecto curricular. De acordo com a mesma é “impossível”
aplicar devido ao número de turmas e ao número de professores de FQ. Isto mostra as
pequenas falhas que o sistema do ministério tem, o que é teórico e o que é prático, o que
é “bonito e correcto” e o quê se pode fazer na realidade. É difícil fazer uma análise
crítica dos cargos que PMJ exerceu, entretanto é fácil perceber que estes dois cargos,
bem como todos os outros são importantes para que uma escola funcione, que apesar
das dificuldades do tempo, das faltas de alguns pais, dos horários sobrecarregados e das
“falhas” do ministério, existe um esforço por parte dos docentes para cumprir o que
manda o sistema escolar e o ministério. E verifica-se que todo esforço é direccionado
para o sucesso do aluno e o seu bem-estar na sociedade.
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Referências bibliográficas
Bardin, L. (2009). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70 (Trabalho original em
francês publicado em 1977).
Roldão (2007). O director de Turma e a Gestão Curricular. Cadernos de Organização e
Administração Escolar, 1, pp.1-16.
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Anexos
Guião da entrevista
Parte 3 – Cargos que exerce ou que já exerceu (específico)
Quanto ao cargo que exerce actualmente, como foi lhe atribuído?
Qual o papel do director de turma?
Qual a ligação que faz com os encarregados de educação?
Como prepara as reuniões de conselho de turma?
Como é que o conselho de turma aplica o projecto curricular de turma?
Quais as dificuldades que enfrenta?
O que é mais difícil?
O que é que mudava?
Quais as vantagens e/ou desvantagens de exercer o cargo de directora de turma?
Qual a relação do director de turma com os outros professores? E com o
coordenador dos directores de turma? E com a direcção da escola? Fora da escola
(câmara municipal)?
Parte 1 – Dados pessoais do professor (recolhidos anteriormente)
Qual é o seu nome e a sua idade?
Qual é a sua formação académica?
Quais são as disciplinas e anos de ensino que lecciona?
Qual a é sua experiência profissional?
Parte 2 – Cargos que exerce ou que já exerceu (geral)
Que cargo exerce actualmente na escola?
Exerceu outro cargo antes deste? Qual?
Que cargo permaneceu por mais tempo?
Qual/Quais destes cargos gosta mais e quais considera mais importante? Porquê?
(ABERTO)
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Transcrição da entrevista
Legenda:
Nuno Lourenço(NL)
Elisângela Silva (ES)
Professora Maria João (MJ)
(NL) – [silêncio] Ok, a Elisângela vai fazer as perguntas, tu?
(ES) – Sim sim.
NL – ok.
ES – Pronto, Já foi feita a apresentação e já conhecemos é … pronto, conheço da última
entrevista que realizei a professora … jáá … é …em relação já sei o quê que a senhora
já, sua formação … ham … quantos anos tem de experiência profissional porque na
altura fui perguntando isso e tanto, …e portanto vamos para parte, portanto do cargo em
relação aos cargos que a senhora já exerceu ou o que senhora já exerce na escola
actualmente [silêncio grande].
MJ – Que cargo que eu exerço actualmente!?
ES – Exacto professora, que cargo exerce actualmente na escola?
MJ – Direcção de turma.
ES – Direcção de turma (repete logo a seguir a professora)
ES – E … a senhora exerceu outro cargo antes deste, qual?
MJ – Eu exerci direcção de instalação, mas já foi a muitos anos. Foi logo no segundo
ano que dei aulas, já nem me lembro como é que é isso.
ES – Aaa…e…desses…pronto…dee…
MJ – Mas tem sido sempre de direcção de turma.
ES – Aa … de direcção de turma
ES – Do cargo de hoje até o… até o que exerce actualmente, o que já exerceu
anteriormente, em qual deles a senhora permaneceu mais tempo?
MJ – Na direcção de turma.
18
ES – direcção de turma
ES – E destes cargos, pronto, destes dois cargos que a senhora já exerceu ou que
continua a exercer o que a senhora considera mais importantes e porquê?
MJ – Aa…eu considero os dois. Direcção de turma é importante porqueee… tem que
haver algum agente mediador entre a escola eee os encarregados de educação. Portanto,
e os agentes mediadores são os directores de turma. E a direcção de instalações também
é importante porque se não houver director de instalações…aaa…nós precisamos do
material, precisamos preparar alguma coisa, ééé complicado se as coisas não tiverem
organizadas nos sítios certos e não houver alguém que nos saiba, às vezes ajudar e
preparar as vezes as coisas para nós. Ainda por cima nessa escola, somos 16 professores
de Físico - Química, quer dizer, seria caótico se cada um andasse com o seu material.
ES – Exacto.
MJ – Portanto.
Parte 3 – Cargos que exerce ou que já exerceu (específico)
ES – Pronto, a terceira parte da entrevista … éé… é quanto ao cargo que … de direcção
de turma que exerce actualmente, como é que foi lhe atribuído esse cargo?
MJ – ÉÉ … a direcção da escola que escolhe.
MJ – Ee qual então o papel do director de turma?
MJ – Papel do director de turma é, além do papel de servir como de mediador entre os
professores, a escola e os encarregados de educação, é ainda tem quee…aaa…tentar
manter uma boa relação … aaa … efectiva com os alunos, para que eles consigam obter
sucesso escolar, alertar os encarregados de educação quando há algum problema com os
alunos, enviar faltas, aaa … dizer aos alunos, dizer aos encarregados de educação
quando as coisas estão a correr bem. Dizer aos alunos também quando as coisas estão a
correr bem e quando as coisas estão a correr mal, “castigar” nós fazemos muito isso,
entre aspas, os alunos quando fazem alguma coisa mal, premiar os alunos quando fazem
alguma coisa bem … essencialmente é isso!
ES - E … [interrompe a professora].
MJ - …e aplicar os planos que… que o ministério manda.
ES – E … a senhora já…[interrompe a professora].
19
MJ – …e informar os alunos sobre as leis também. É isso.
ES – Hum.
ES – É… e… a senhora já pode ter respondido a próxima pergunta, mas vou perguntar
na mesma. Qual a ligação que faz com os encarregados de educação? [Risos].
MJ – Sempre que há algum problema chato com os encarregados de educação.
ES – Como é que a senhora prepara as reuniões do conselho de turma?
MJ – Vejo a ordem de trabalhos, vejo o que é tem de ser tratado em cada ponto e
preparo isso previamente, faz sempre parte da ordem dos trabalhos … é …
informações. As informações são sempre preciso dizer quais são os contactos com os
encarregados de educação, quais são as participações disciplinares que as pessoas
tiveram, quais foram as medidas que foram sujeitos, se os alunos tiveram planos
individuais de trabalho ou não, por causa do número de falta. Sempre dizer aos alunos
que estão em, numa assiduidade irregular. Nosso caso trabalha muito com … nosso caso
[ironiza a sua frase], toda gente! É preciso, é onde tem o relatório psicológico, é preciso
informar, alunos que estejam a tomar medicação específica, alunos que tenham algum
problema específico, seja alerta com os encarregados de educação, preciso informar o
conselho de turma, alunos que se tenham destacados de uma forma muito positiva, por
terem feito uma coisa muito boa … é … também é preciso informar. Às vezes acontece
alunos que estão a passar dificuldades económicas, normalmente o conselho de turma é
alertado para isso e normalmente até é também a direcção da escola para ver se
consegue fazer alguma coisa …haam…isso faz sempre parte, depois quando são as
reuniões de avaliação, é preciso entregar, é preciso pedir, aliás, nas intercalares também
… é preciso pedir as informações dee … avaliação, comportamento, assiduidade aos
professores para ser tratados na reunião … e pronto essencialmente é isso. Eu como sou
directora de turma do básico, não tenho problemas das anulações de matrículas, os do
secundário têm, depois preenche-se os planos todos, preenche-se a documentação toda
do ministério, que é mais muita (risos).
ES – Aa como é que o conselho de turma aplica o projecto curricular de turma?
MJ – Como é que aplica?!! (risos).
NL – [murmura, tentando explicar a pergunta].
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MJ – Qual é a resposta que vocês querem? A politicamente correcta ou a certa? (risos).
NL – A que a professora acha que seja… seja ajustada a esta … (risos).
MJ – É assim, não aplica. O projecto curricular de turma … é… a ideia surgiu a uns
anos atrás pelo ministério…
NL – exacto.
MJ – …e a ideia era que os professores trabalhassem em conjunto para que a turma
conseguisse superar as suas dificuldades. O que acontece é que nós temos um horário
muito sobrecarregado e então isso é impossível … então no conselho de turma … os
miúdos tem 16 disciplinas, o conselho de turma tem 13 ou 14 professores, é impossível
13 ou 14 professores estarem com os mesmo horários e terem uns dias para reunir,
portanto, o que acontece com nos projectos curriculares de turma…também estava a
esquecer desta…os professores dão as informações iniciais ao director de turma e o
director de turma faz o projecto curricular de turma, dá aos outros professores para ler,
que ninguém lê, toda gente aprova e toda gente…pronto! (risos).
NL – exacto.
MJ - … continua suas aulas normalmente (risos). O projecto curricular também … a
ideia é boa, mas na realidade aquilo é um bocado fantochada, aquilo não funciona, é
assim, o que funciona é que normalmente as nossas acções são consertadas, mas são
consertadas em termo de escola, por causa do regulamento interno. Como o nosso
regulamento interno é muito explícito, é assim, pode haver fugas ou pequenas fugas ao
regulamento interno, mas acções, as acções acabam por ser consertadas por causa do ter
que cumprir o regulamento interno.
ES – Claro.
MJ – Pronto, …e…hum…o plano, o plano anual de actividades que é da escola e o
projecto curricular sempre acabam por ser muito idênticos, visa sempre a mesma coisa –
o sucesso dos alunos e o facto dos alunos é … além de terem boas notas ou obterem
notas pelo menos para transitar de ano ou ficarem aprovados, conseguirem também sair
daqui com alguns valores e depois essa escola também tem uma vantagem, a maior
parte dos professores já cá estão a muitos anos, portanto, a maior parte das pessoas
sabem mais ou menos como é que os outros trabalham, e trabalhamos todos da maneira
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mais ou menos idênticas, é lógico que de vez enquanto aparece alguém que foge, mas,
mesmo cá da casa, há sempre alguém que foge mas, pronto.
ES – E quais as dificuldades que a senhora enfrenta então como directora de turma?
MJ – Aa…eu tenho algumas dificuldades …principalmente com os encarregados de
educação tenho algum…eu gostaria que os encarregados de educação prestassem um
acompanhamento mais afectivos aos filhos, eu tenho sempre bastante pais nas reuniões,
mas … eu queria que eles prestassem um acompanhamento mais efectivo, os miúdos
são pequeninos…, são pequenos e mesmo os grandes, muitas vezes andam muito soltos
porque os pais não lhe prestam tanta atenção.
ES – E o quê é mais difícil na…neste cargo?
MJ – O quê que é mais difícil?! Não percebi!
ES – O que é mais difícil ao exercer esse cargo?
MJ – É o contacto com os pais …
ES – Os contactos com os pais.
MJ – Porque é difícil, porque assim, os miúdos bons, os pais vem sempre cá. Os miúdos
mais problemáticos, em termos de aproveitamento ou em termos de problemas
disciplinares é difícil fazerem os pais virem cá.
ES – E o quê que a senhora mudava?
MJ – Eu?!
ES – Se pudesse mudar, o quê que a senhora mudava? (risos).
MJ – Eu mudava ooo… eu mudava um bocadinho o sistemaaa que o ministério tem …
ES – [risos].
MJ – Eu obrigava. Primeiro os alunos para mim reprovavam por faltas, portanto, isso
era logo a primeira. Segundo, as faltas são justificáveis com atestado médico. Haaa … e
depois um aluno que ficasse retido pela segunda vez os pais tinham que pagar multas.
ES – Quais as vantagens ou desvantagens de exercer o cargo de directora de turma?
MJ – As vantagens é que se acabam por ficar com uma relação de maior proximidade
com os alunos e também com os encarregados de educação. A grande desvantagem é o
tempo que ocupa, nós temos uma redução de 90 minutos por semana e 90 minutos não
chegam, eu passo horas cá com a direcção de turma.
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ES – Hum…
ES – E qual a relação do director de turma com os outros professores?
MJ – É a também de mediador.
ES – Mediador.
ES – E com os coordenadores de director de turma?
MJ – Um coordenador de directores medeia os directores de turma, dá as informações
legais do que é para fazer, medeia o trabalho dos directores de turma.
ES – E com a direcção da escola?
MJ – Normalmente com a direcção da escola, quando é a direcção de turma … é … vai
do director de escola para os directores … coordenadores de director de turma, os
coordenadores para os directores e os directores para os professores. Se for um
problema disciplinar é directamente com o director da escola, especificamente nesta
escola, o director normalmente concorda com tudo que os directores de turma fazem.
ES – Hum
MJ – É perfeitamente normal … não é propriamente bater no aluno.
ES – Pois.
ES – E fora da escola …
MJ – Fora da escola como???
ES – Sim, qual a relação do director de turma por exemplo com a câmara municipal?
MJ – A .. não sei!
NL – Com a comunidade.
MJ – Comunidade, nós não temos.
ES – Não temos.
MJ – Eu quero eu.., pode haver num projecto, mas isso já não é inerente a direcção de
turma.
ES – Muito bem, está terminada então a nossa entrevista.
NL – Exactamente.
MJ – Ahh eu gosto tanto imensamente a essas entrevistas
[risos]
NL – Foi um prazer, exacto, ok!