OUTRAS LETRAS
Canções gravadas em discos de outros artistas
A HORA DOS FOGOS
(música de Maurício Detoni, letra de Thiago Amud)
O ano novo passou
envelheceu
Nosso romance gastou
esmoreceu
Quando se pensa que o sol ‘inda reluz
abre-se o breu
Faz hoje um ano que a gente se entendeu
Assim que a balsa explodiu
seu arsenal
O ano que finda invadiu
o litoral
Que susto a gente sentiu quando se viu
tendo, afinal
motivo de comemoração real
Hoje nos resta achar graça e jogar tudo o mais
pra depois
A multidão nos enlaça e é capaz
de tornar tão pequenos nós dois
Vamos encher essa taça, devemos brindar
Tanto faz
A vida nos ultrapassa
Ironiza, ameaça
Olha os fogos, me abraça
Larguemos o amor para trás
O ano velho se foi
O amor também
Ao mesmo tempo nos dói
E nos convém
A gente pensa que a noite não tem fim
e ela tem
Ano passado se esquece no ano que vem
ALARIDO
(música de Pedro Sá Moraes, letra de Thiago Amud)
Quando invadir o seu ouvido o alarido vai lhe aperrear
É capaz de cutucar dentro da jugular
Os tornozelos e joelhos mal conseguirão lhe suportar
O couro cabeludo é puro formigueiro
Quando então tudo o mais ressoar outra vez
A surdez que ficar será singular
Você vai escutar apesar e através
Com maior lucidez pra separar
Dom de dor
Banal de bom
Tom de cor de som
Mil de um
Amor de ardil
Deus de egum
Mas antes disso o rebuliço dissonante assombrará você
Furioso fuzuê, gozo e misererê
Quedê seu pai, seu dicionário, seu canário, seu valor, quedê?
Só resta essa carranca branca feito gesso
Se no fim regressar sua velha audição
Se a razão corriqueira interferir
Cê já vai ter os nervos no diapasão
E a serena tensão pra distinguir
Dom de dor
Banal de bom
Tom de cor de som
Mil de um
Amor de ardil
Deus de algum egum
Quando bater bem no seu tímpano, seu ímpeto vai ser gritar
Mas fique impávido pro silêncio ouvir a música ímpar
ALÉM DAS HORAS
(música de Afonso Pais, letra de Thiago Amud)
- Ai, viver sem o meu bem
É morrer também
- Meu amor
Meu vivo amor
Não sei quem logrou me amortalhar
Calar a lira, desandar as horas
Mas eu juro pelo sol que ainda vês
Nublado sob a cinza viuvez
Que o teu amor foi cálix bento que me fez
Imune ao elixir do esquecimento
Meu amor
Meu longe amor
Não vi quem mandou eu me ocultar
Cruzar o espelho, ultrapassar a dobra
Mas não há de ser o Nada
O fim da nossa estrada estrelada
Meu amor
Dor
Te aprisiona em vãos agoras
Quando além das horas sou
Vem, amor
A REDE SOCIAL
(Thiago Amud)
Essa Rede num compensa
Sei se volto aqui mais não
Tudo quanto é desavença
Aqui tem mais propulsão.
A vida é tão mais imensa:
Tem Bíblia, Grande Sertão
Tem maldade de nascença,
Bondade de coração
Nisso num há diferença
Da Rede pra Condição
Porém a Rede num pensa
E nem sofre compaixão
E a Condição, viva e tensa
Tem nervo e respiração:
Santidade e mal-querença
Num são cliques num botão;
Amizade é uma presença,
Num vem com numeração;
Miséria, guerra e doença
Num são feitas de jargão;
Nem tudo é like ou ofensa,
Campanha ou conspiração
A Condição, sacra e densa,
Não quer nossa opinião
Quer coragem, quer valença
Quer ato e contemplação
Eu, porque mal tenho imprensa
E arte é meu ganha-pão
Quando for conviniença
Volto pra divulgação
Mas num peço mais a bença
Dos demônio da ilusão
Queira Deus que o mundo vença
Essa nova obsessão
E aprenda que consciença
É silêncio e solidão
(A mim num há quem convença
Que tanta conexão
Não torne a alma propensa a
Se queimar na multidão)
ASSOBIO
(música de Thiago Amud, letra de Brisa Marques)
Mas como pode?
Toda vez que eu assobio
Lembro dos óio do rio
Onde um dia eu quis nadá
Daquelas água
Que era turva e cristalina
Vi sair uma menina
Que me viu assobiá
O assobio
Que cantava meu alento
Era um pedaço do vento
Que queria se casá
E como a gente
Escolhesse a própria sorte
Dei de cara com a morte
Desviei o meu oiá
Mas como pode?
Toda vez que eu desvio
Na barriga dá um frio
Que é difícil de tirá
Ai, se eu pudesse
Acendia uma fogueira
Me deitava ali na beira
Pra podê me alumiá
Quando assobio
Arrepio de chorá
Olhei pro rio
E fui pra beira assobiá
AVE MARIA
(música de Thiago Amud para texto tradicional em latim)
Ave Maria
gratia plena
Dominus tecum
benedicta tu in mulieribus
et benedictus fructus ventris tui Iesus
Sancta Maria, Mater Dei
ora pro nobis peccatoribus
nunc et in hora mortis nostrae
Amen
AVENIDA ATLÂNTICA
(música de Guinga, letra de Thiago Amud)
Tudo em você me inebria
Deve ser o vinho
Deve ser o mar
Tudo na praia vazia
Vem devagarinho
Pra lhe acarinhar
Concha soprando alegria
Cavalo marinho
Salobro colar
Lua na barra do dia
E algum burburinho
Só pra lhe embalar
Antes da última taça
Passo da vigília
Pra contemplação
Tudo em você me ultrapassa
Feito aquela quilha
A rebentação
Acho que a onda lhe abraça
E a torre da ilha
Lhe manda um clarão
Tocam-lhe as algas por graça
A garça é uma filha
O peixe um irmão
Minha vida é devida
Aos seus olhos, rainha de sal
Pois você, só você
Transfigura esse meu litoral
Tudo em você me namora
Súbito evapora
Não deixa sinal
Nem sinal
Nem sinal
BAIÃO DE CÂMARA
(música de Thomas Saboga, letra de Thiago Amud)
...e se quando o grão
desabrochar n’outra estação
em vez de dar trigo e arroz
se abrir pra nós numa canção
e então, vier da brotação
como de dentro de um sonho
um canto que é medonho
de tão fundo que ele vai,
rachando a terra de onde sai,
purificando os frutos
como a bênção de um pai?
(Broto de voz
ceifando a fome seca do sertão.
A voz de pão.
Harmonia do chão.
Alimento farto a quem pedir,
ungüento santo a se parir
jorrando ao léu
como se Deus resolvesse existir)
Não assustaria se o chão rasgasse um dia
e, ao invés da safra que se esperou
irrompessem ecos de plena poesia.
Não se espantaria quem semeou.
Quem lavrou a terra, o solo arou, pôs água,
entendeu da terra o pulso oculto, a invisível vibração,
ofertou à terra um coração sem mágoa
tomaria a música em sua mão
e a repartiria na proporção mais justa
com os miseráveis da região:
Mantras vegetais, etéreos grãos de sinfonia,
modas cereais e folhas de polifonia.
Ai, quanta folia!
Uma canção aberta em flor.
E quem quisesse os lucros da colheita
teria que enfrentar a multidão
armada de alegria e satisfeita,
comendo a melodia do baião
Baião, baião, baião...
BARRIGUDA
(música de Zé Paulo Becker, letra de Thiago Amud)
Baba de lobo, gogo de zebu
Dama teúda-e-manteúda
Cabra leva-e-traz
Cará-carás
Urucubaca, arranca-rabo e calundu
Porém agrade a Barriguda
E a ajuda vem atrás
(Digo mais)
(Como faz?)
Na soalheira faz zoeira o trinca-ferro
E não vai ninguém
No serro do sol mais além
Na luz aguda, a Barriguda
Espera ali quem traz berenguendém
Quando ela vem, você não vem
(nhen-nhen-nhen-nhen)
Novilho troncho, caruncho no angu
Bila graúda, urtiga em muda, azedume no rim
Quiriquirim
Coró de milho, filho gago e gabiru
Porém ajude a Barriguda
E aguarde o grande fim
(Vai por mim)
(Como assim?)
No breu da hora, caipora cambaleia
E ninguém vai lá
Na areia branca do luar
Na praia muda, a Barriguda
Espera ali quem traz caraminguá
Quando ela tá você não tá
(rá-rá-rá-rá)
Lavoura seca florou
Pranto de agonia secou
Ferida aberta fechou
Desatinado atinou
(Viu só?)
Ói ela ali
Catando oferendas pra si
Para enfeitar o guri
Que virá de seu ventre pra nos redimir
(Que virá novamente pra nos redimir)
BEM ASSOMBRADA
(música de Guinga, letra de Thiago Amud)
Quase nem te lembras
Casa abandonada
Alta madrugada
Volta a ensolarar
Anjo acorda a lenda
Musa invade a prece
Tudo não se esquece
De te encandear
Mãe perdendo a missa
Vó perdendo o tino
Teu menino, teu menino
Onde foi parar?
Quem te fez passar?
Sombração da bisa
Não mais te apavora
Foste embora, foste embora
Pra nenhum lugar
Palmilhaste o ar
Mas da beira do teu sono
Cai não cai
Vai não vai
Vês teu pai voltar
Quase já relembras
Casa alumiada
Dentro da alvorada
Torna a escurecer
Anjo perde a senda
Musa desfalece
Nada mais parece
Denso de se ver
Nublas a vidraça
Num silêncio aflito
Nem um grito, nem um grito
Sabe acontecer
Pra te socorrer
Já vai longe a casa
Triste feito um vulto
Teu adulto, teu adulto
Onde foi viver?
Quem te faz morrer?
Mas no fundo do teu sono
Mais além
Tem alguém
Pra te bem-querer
BENDIZ
(música de Poiko, letra de Thiago Amud)
Baronesa fulorou
A beleza se alastrou
Tem preá
Perdiz
Oxalá
Dê raiz
Na roça que eu te fiz
Vem
Bendiz
Vem
(Pensava no sol não se pôr
Minguava qual num quarador
Chorava, orava pelo nosso amor)
Juazeiro verdejou
O braseiro se amigou
Te vejo
Feliz
Te beijo
Na Matriz
Vicejo em teus quadris
Vem
Bendiz
Vem
BREU E GRAAL
(música de Francis Hime, letra de Thiago Amud)
Onde o grande amor andou?
Andorinhou
Virou dom sideral
Soprou a rosa cardeal
Desamanheceu
Transpalideceu
Na aurora boreal
Olhai no céu o vago sinal
Que o grande amor mandou
Aldebarou
Pairou paranormal
Girou em roda de orbital
Encandoideceu
Depois se escondeu
No eclipse parcial
Olhai seu véu de Eurídice astral
Cobrindo Orfeu
No carnaval
Saturnal anel
Ozônio e mel
Breu e graal
CAMBONO
(música de Guinga, letra de Thiago Amud)
Orunmilá, ibi keji Edumarê
Eleri ipin, eleri ipin
Mandou de lá dom de oluwó, mão de opelê
Trancelim e o grão do ikin
Mas o Orum tremeu quando a ialorixá
Num transe de amor cantou assim:
Juro pela flor da gameleira
Que eu até a hora derradeira
Vou me queimar, vou me arder
Só de pensar em você
E a última vez
Será como a vez primeira
Será
Juro pela lua minha dinda
Que eu vou preparar a sua vinda
Depois que você se for
Ao Olorum criador
E quando vier
Vou lhe receber mais linda
Ainda
Ouça o que Obá não contou
Lembre que odu lhe saiu
Não vá lá, não me abandone nessa noite
Tem sete gume cruzando a sua sorte
E é minha voz que lhe fecha o coração
Pro corte
(-Ia, não vou
-Iá, não vou)
Juro pela pedra do meu sono
Que a sua cabeça é meu patrono
Ouso até lhe dedicar
As honras de um orixá
Tudo meu é seu
E o amor é meu cambono
Meu dono
O que Iansã me soprou
O que o ifá garantiu
Era segredo guardado den’da noite
Tem sete raio caindo lá do norte
Só meu amor lhe protege o coração
Da morte
(-Ia, não vou
-Iá, não vou
-Não vou, ia
-Não vou)
CANÇÃO DO NONO MÊS
(Thiago Amud, Pedro Sá Moraes, Francisco Vervloet)
Teus números vão trocando
Teus sábados perdem vez
Teus livros se embaralham
na idéia e nas estantes
Passaste para além da lucidez
Quem é
essa criança que vem?
-José,
leva Maria a Belém
CANÇÕES DE MENINA
(música de Thiago Amud, letra de Pedro Sá Moraes)
Canções de menina são
desejos roubados, vãos
esforços de tradução
tristonhos, etéreos
Canções de menina são
Afã e imaginação
palavra, transmutação
de encantos minérios
Canções de menina são
duas diamantinas mãos
nuas, às retinas são
cristais de mistérios
Ser mãe, ser praga
Sermão, ser vaga
Prisão, estrada
O breu na luz
Ser, não ser nada
De alguém, de cada
Tombar, crivada
De espada e cruz
Canções de menina são
o fardo da compaixão
jurar e pedir perdão
a fé e o adultério
Canções de menina são
lampejo de intuição
do assombro da concepção
e dos cemitérios
Canções de menina são
duas diamantinas mãos
nuas, às retinas são
ruínas e impérios
Ser mãe, ser praga
Sermão, ser vaga
Prisão, estrada
O breu na luz
Ser, não ser nada
De alguém, de cada
Tombar, crivada
De espada e cruz
CANZONE PER LEI
(música de Thiago Amud, letra de Cristina Renzetti)
Vista da qui
lontana come un'idea
la tua luna bianca resiste alla luce del dì
Quando ne andavo il tuo sguardo d'addio vede
e poi ritornavo e ridevi di me
perché?
Vista da qui
lontana come una dea
com'è dolce e grande la sera d'inverno
per chi?
Per chi resta qui
per tornar
per sognar
i tuoi mari, il canal, le città, le tue mani grandi
i tuoi mille amanti
tristi, matti
Sei tutta qui
in questo ritaglio di cielo
nel vento che viene dall'est
canti i miei giorni
Sei tutta qui
sei solo mia
CARNAVAL EM AGOSTO
(música de Pedro Sá Moraes, letra de Thiago Amud)
Triste folião
a procura de um cordão que não existe
arrastando vãs fantasias
no meio da multidão
Nunca desiste do quinhão
de alegria que não encontra na cidade
mas lhe invade a voz, o pé, a mão
e o coração
Gira e baila e canta
e beija e ama
sozinho
Vira também passarinho
e se põe a voar, voar...
Sabe gozar seu destino
como fosse um menino
rodando pião
Ei-lo pisando n’outro chão*
sem relógio ou profissão
Eis-nos rindo desse
Triste folião...
*sem país e sem razão
Eis-nos rindo por um triz
CICLOTÍMICA
(música de Sylvio Fraga, letra de Thiago Amud)
Ri, dá de rosetar
Racha de rir
Dói desarrazoar
Cala chora cai no chão
Arde morde a mão
Torcicola em convulsão
Cospe o coração
Aí...
Voa
Pra, den’de si,
Se alhear
E se elidir
Voa
Pra, além de si,
Se afundar
Em seu nadir
Dói desarrazoar
Dói derruir
Ri, dá de rosetar
Ar
Roxa de rir
Vai se reinventar
.........................................
Cai do céu, cospe no chão
Goza de aflição
Aí...
Doa
De den’de si
Seu maná
Seu elixir
Voa
Pra, além de si,
Se adensar
Em seu devir
CONTENDA
(música de Guinga, letra de Thiago Amud)
Sou a dobra de mim sobre mim mesmo
Nesse afã de ganhar de quem me ganha
Tento andar no meu passo e vou a esmo
Tento pegar meu pulso e ele me apanha
Eita, sombra rival que me acompanha
Artimanha de encosto malfazejo
Rodopiei, beijei o chão, cambei pra cá
Meu mestre rei foi Salomão, camará
Dou um talho em meu próprio sentimento
Pra que o mundo fulgure na clareira
Que esse nervo me aviva o sofrimento
Que esse olho é motivo de cegueira
Ê, presença difusa, desordeira
Giro de furacão sem epicentro
Desafiei, puxei facão, ponguei pra lá
Vazei no peito esse intrujão, camará
Evém pernada aí
Vem não, foi desvario
Evém navalha aí
Vem não, foi calafrio
A roda vai abrir
Quando eu cair
Por um fio
Camará
Meu sangue arredio, arrevesado
Arranco e derramo em oferenda
Mas não boto fim nessa contenda
Com meu coração esconjurado
Sei de um rosto escondido no espelho
Bem depois do cristal iridescente
Entro no meu juízo e destrambelho
Entro no meu caminho e passo rente
Eita, angústia que vai minando a gente
Capoeira contra Pedro Botelho
Serpenteei, botei pressão, varei o ar
Parei no meio do desvão, camará
Evém pernada aí
Vem não, foi desvario
Evém navalha aí
Vem não, foi calafrio
A roda vai sumir
Quando eu cair
No vazio
Camará
Meu corpo erradio, arrebatado
Debulho na boca da moenda
Mas não boto fim nessa contenda
Com meu coração esconjurado
Camará
DE LENDAS E BARCOS
(Thiago Amud, inspirado em poema de Larissa Goretkin)
Sereia
Ouve tu o meu canto
E encanta-te a delirar
Minha lira põe quebranto
Pois canto com a voz de outro mar
Vai-te ao mastro
Atar por corda
Que eu alastro
A minha horda
Deusa d’água
Aguarda eu zarpar
Deusa d’água
Aguarda eu zarpar
Deusa d’água
Aguarda eu zarpar
Sereia
Ouve tu o meu canto
E encanta-te a delirar...
Minha quilha
Tuas vagas
Tomo a ilha
Tu me afagas
Deusa d’água
Guarda eu...
DOENTIA
(música de Guinga e Francis Hime, letra de Thiago Amud)
Ela parece arder
Em derradeiros graus
Ela morde o lábio
Ela é muito hábil
Pois arrasta quem quiser
Pro seu chalé no caos
Ela parece a flor
De algum jardim do céu
Mas nasceu no lodo
Ela é puro engodo
Que inebria o amador
De aromas a granel
Pra envenenar com seu mel
Ah, se ela fosse um suvenir
Um mero chamariz
Nada teria pra sentir
Por baixo do verniz
Mas ela gosta de mentir
Tem a lábia de uma atriz
E sabe muito discernir
O que se diz ou não diz
E só diz o que não pensa
Bêbada de indiferença
Mais fácil a lua diluir
E o oceano carburar
Que ela amar um homem
Permitir que domem
O animal sem nome
Que um dia ela aninhou
Dentro de seu bibelô
Ela parece arder, arder
Em derradeiros graus...
FARDO
(Thiago Amud)
Eu lhe acuso, natureza
De azular os amarelos
Aguçar o mel dos cios
Apurar a flor do ópio
Só pra me botar nos olhos
Este alumbramento aflito
Que acomete os degredados
Sob a cúpula dos astros
Eu lhe acuso, natureza
De me acorrentar em ciclos
Pra me semear de novo
Tantos vícios esvaídos
De me encandear de sono
Qual lacaio, qual escravo
Pra sovar minha caveira
Com pilões de lua e lírios
Natureza, natureza
Grande Mãe inviolável
Cujo reino é vasto exílio
Eu lhe acuso e me desgarro
De seus vermes, de meus ídolos
Esconjuro os seus desígnios
Sobre a minha liberdade
Eu recuso, natureza
Esse gozo, esse delito
Eu mordia o seio farto
A carne, a cana e o salitre
E morria miserável
E mal distinguia a vida
Entre mil formas larvares
E um rosário de delírios
Mas enfim largo esse fardo
No seu chão, e nele sigo
Tendo assim transfigurado
O calvário do destino
JERIMBAMBA
(música de Ian Faquini, letra de Thiago Amud)
No que nêgo camba pra cá
Comigo vai se esmolambar
Zanga minha vira jerimbamba
Luto pra caramba, ê lambá
Vagabundo, deixe eu sambar
Que eu sangrei o dia na caçamba
Bem lhe conheço, é você que vem me acorrentar no fim
Desde o começo é você que só faz me rondar assim
Sei muito bem, você quer me pegar com a diamba
Tem um porém, dessa vez você não me esculhamba
Passa co’essa guimba pra lá
Álibi seu pra me bimbar
Só que eu saco bem sua catimba
Toco mi’a curimba, ê timbá
É melhor não vir pinimbar
Que eu lhe taco dentro da cacimba
É você mesmo o covarde que vem me ensinar a lei
Porém você chegou tarde e agora o que eu sei, já sei
Se quer ser meu inimigo tem que ter tarimba
Tome tenência comigo ou senão você ‘pimba’!
MÃE DO MAR
(música de Stefania Tallini, letra de Thiago Amud)
Mãe do mar
Do cabelo azul
Mande o mar
Me levar pro sul
Lorelei, odoiá
Quero encontrar o meu amor
Lorelei, odoiá
Quero passar do Bojador
Mãe do mar
Meu país é frio
Molho a flor da espera no vazio do lar
Mande algum navio
Que eu já varei serões a fio
Sem par
Mãe do mar
Guardiã dos sóis
Se eu cruzar
Mares espanhóis
Mande o ar
Ir ensaiando um assovio
Pra avisar
Meu namorado fugidio
Que eu larguei a trama no sombrio tear
Pra seguir meu cio
Que já varou serões a fio
Sem par
MEADA
(música de Marcelo Fedrá, letra de Thiago Amud)
Diz o poeta que o rei judeu
Subordinado à Roma Imperial
Manda matar quem nem mal nasceu
Vara Belém, cada varão fere a punhal
Teme um rival rei plebeu
Reza a razão que a imperatriz
É condenada por traição
Perde a cabeça oca em Paris
Morre com os seus e morre com Deus e não morre em vão
Revolução, cicatriz
O rei que sangra todos por um
E o tribunal que mata uma só
Devem ter muita coisa em comum
Porém a mente mente e quando a gente sente há um nó
Um quiprocó sem norte algum
Negar
Que há um sentido superior
Que a gravidade quer soterrar
Mas se a coragem virar compaixão é capaz de ela pôr
Tudo o que é dor no mesmo altar
Cala a esquerda sobre o Islã
Cala a direita sobre Israel
Morre-se ontem, hoje, amanhã
Calam-se todos, Caim, Abel, Abraão, Ismael
Que há só um céu e um satã
Para colonizar o porvir
E se apossar do que já passou
O homem consegue se bipartir
Joio no trigo, lobo no amigo, queda no voo
Nem sei quem sou sem mentir
Mas se a mentira não cai tão bem
Pra saciar a honra do herói
Meia verdade já lhe convém
Sua virtude violenta afugenta os vilões que constrói
E ele remói ser mau também
Saber
E prosseguir fingindo que é bom
O guardião de um grão de poder
Eurasiano, norte-americano, homem bomba em Hebrom
Baixo Leblon, tudo é prazer
Onde a palavra 'povo' se lê
Leiam-se mais de mil intenções
Banto, ariano, maia, malê,
Até que ponto há um povo que pensa, que inventa nações?
Nas multidões quem se vê?
Quem sabe o povo sabe o que quer?
Quem leva o povo leva um paiol
Que quer o povo sem ver sequer
Até que ponto Deus é nativo e Dom Pedro espanhol?
Quer futebol, quer mulher
Pois a palavra ‘povo' é covil
Casa onde o falo põe e dispõe
Mas já tá murcha a voz varonil
Baixa na tropa, crise na Europa que se decompõe
E nos propõe um desafio
Maior
E que não foi sonhado jamais:
Votar às Mães a terra, o suor
Pra que elas gerem o povo que saiba negar Barrabás
Que faça a Paz, mel do melhor
MININO
(Pedro Sá Moraes, Fernando Vilela, Thiago Amud)
Sorriso de sinhá
Alçapões no terreiro
Quaresma no Pilar
Altar
Sobre o cajueiro
Sol nos bogaris
Mel, sangria e cal
Maleita de raiz
Goteira no jirau
Temporal
Trombas do rio
Tudo a se perder:
Meu avô, meu engenho
Amor de massapé
Bangüê
Que eu agora empenho
Medo de aceitar
Nova obrigação
O ócio a me picar
Remorso no vagão
Temporão
Sombras do pai
Choro de sinhá
O OLHO DA PEDRA
(música de Pedro Sá Moraes e Ivo Senra, letra de Thiago Amud)
Pedra, cadê teu olho
Para que eu possa magoar com meu cálcio provisório?
Cadê teu olho, lago de mansuetude
Onde eu possa boiar qual memória da terra?
Pedra, teu silêncio é um pasmo, um susto engastado na cidade.
Onde estão, em tua carnadura, as senhas do céu de onde caíste?
Quem sabe ler teu olho?
Quem sabe não te olhar com olhos de pedra, com os meros olhos da cara?
Quem não põe lágrimas na tua erosão?
Pedra, no entroncamento de teu alheamento com a urgência dos oceanos dá-se mundo.
(Oceanos são cérebros de criaturas incomensuráveis.
Por isso ninguém pode beber o mar, por maior que a noite seja.)
Eu quero apenas ver teu olho, pedra.
Olhá-lo fundo e te dizer:
Quando, pedra, me darás a honra desta contradança?
PAISAGEM INVISÍVEL
(música de Marcelo Fedrá, letra de Thiago Amud)
Cai o véu, tremeluz além-céu
Uma d’alva estrela que ninguém viu
Ao redor giram os sonhos da manhã
A nostalgia aldebarã
Que o astrolábio não mediu
Com seu metal frio
Dobra o ar, entrevê-se o além mar
Pela fresta aberta da saudade
Chegam lá todos os barcos e canais
As correntezas e os fanais da intuição
E a chuva oblíqua sobre o cais
É como haver outro porto por trás do coração
De onde a dor sai
E se lança no real
Nubla o sol meridional
Com lágrimas de Portugal
Oh, mar salgado
Quanto em mim é sal
E quanto em ti é solidão!
Nosso fundo igual
Nos sagrou eterna comunhão
Além do céu, tremeluz o chão
PARTO
(música de Antônio Loureiro, letra de Thiago Amud)
Ouro na romã
Aves alaranjando no beiral
Hálito recendendo a temporal
Hora temporã
Águas intumescidas no lençol
Halo de lua nova den’do sol
Música de mirar
Despencando sobre a telha-vã
Lágrimas na cumeeira e na cunhã
Dando-me ao luzeiro da manhã
Horizonte de encandear
As cem mil retinas que sou eu
Arregalando meu peito
Para o mundo que recém-nasceu
Oração pagã
Árvores soletrando seu missal
Verbo na boca do manancial
PINHÉM-PINHÉM
(música de Ian Faquini, letra de Thiago Amud)
Ela vem
Na janela, vem
Na cancela, eu vou lá também
Pinhém-pinhém
E passa o trem
E eu gosto dela
Que nem de mais ninguém
Ela tem
Uma trança, tem
Fala mansa e berenguendém
Pinhém-pinhém
De dengo em dengo
Eu dou lembrança
Um doce, algum terém
Mas ontem cedo
Tinha um segredo
Que ela não revelou
Beijou-me um dedo
Morri de medo
Nosso brinquedo bom se acabou, ô
Ela é bem
Esquisita, é bem
Mais bonita que não sei quem
Porém, porém
Quando ela vem
Eu faço fita
Assim de nhenhenhem
Ela nem
Veio hoje, nem
Me avisou, gente, o que ela tem?
Belém, belém
O sino é lento
O tino foge
Não fico mais de bem
Ontem bem cedo
Tinha um segredo
Que ela não revelou
Beijou-me um dedo
Morri de medo
Nosso brinquedo bom se acabou, ô
POLVO, SEREIA, FARÓIS
(letra e música de Thiago Amud composta sobre tema de Ivo Senra e Lúcio Vieira)
A razão é um molusco
De tentác'los dilatados.
Sorrateira, o que ela busca
É te cegar, camuflada.
De remotos oceanos
Vem o som dos silogismos.
Navegante, ele te engana:
Seus harmônicos te abismam.
Os faróis norteiam mastros
Mas da popa do navio
Notarás que eles te mostram
Celacantos, aporias.
PROFECIA (JOÃO DE PATMOS)
(música de Vinícius Castro, letra de Thiago Amud)
Quero ver a pedra virar poço de sol
Quero ver o leito do mar tocar o céu
Ou eu vim pra ver o fim
Ou quis Deus o que de mim?
Quero ver o rei recorrer ao Grande Rei
Ver o réu moer, remoer tudo que rói
Ou já não seremos sós
Ou quis Deus o que de nós?
Há sinais
Ausências que gemem
Leviatãs no sêmen
Há punhais
Nos berços, nos esponsais
Nas manhãs de paz
Quero ver cair o capuz do grande algoz
Sob a luz do cravo, da cruz, da cicatriz
Ou aqui é o limiar
Ou pra que posso enxergar?
Quero ver o Bem se vingar
Amém
RELÍQUIA
(música de Sergio Assad, letra de Thiago Amud)
Acho que o floricultor
Cuidou do principal
Deu às rosas o esplendor
Já murcho no casal
Penso que o pintor
Embora à beira do artificial
Roubou das rosas o rubor
Pra acender as faces com rubor igual
Triste quadro flagra o amor
Já no final, tal qual sol-pôr
Tempo, esse desinventor
Passou pelo casal
Sem nenhum rumor
Voaram horas mil no vendaval
E repousaram den'da cor
Dessa velha peça de um memorial
(Antepassadas vidas idas a Deus)
Nenhum colecionador
Nenhum sentimental
Acharia algum valor
No pobre do casal
Alda e Antenor
Quem sabe Julieta e Juvenal
Irão pra onde tudo for
Embrulhados numa folha de jornal
REMIÇÃO DA FLOR
(música de Milena Tibúrcio, letra de Thiago Amud)
Dá-se a flor: corola, cor
E essência
Dádiva de puro amor
E urgência
Pois sua existência não
Demora
Tem a mesma duração
Do agora...
Quem tem a respiração
Precária de muito querer
Calará
Quando a flor morrer
Ah, se o tempo (e não a flor)
Caísse
E a inocência do penhor
Saísse
Ah, se houvesse a remição
Do impasse
E o jardim dessa aflição
Fanasse...
Quem faz da imaginação
O orvalho de todo porvir
Cantará
Quando a flor se abrir
SEM PALAVRAS
(música de Francis Hime, letra de Thiago Amud)
Vai, meu samba, mas não fala nada
Vai calado pela madrugada
Espera a mulher destinada te aparecer
Na barra do amanhecer
No fundo de teu poder
Guardada
Se ela demorar, tem paciência
Não te exaltes que ninguém convence assim
Aprende comigo a ciência de emudecer
Palavra é pra não dizer
Promessa é pra não fazer
Silêncio é pra merecer
Clemência
Vai, meu samba, sobe mansamente
Vai como um estandarte transparente
Por sobre a cidade luzente em febril torpor
Se és meu embaixador
Desvela meu grande amor
Ausente
Mas se não valer tua constância
Caso teu silêncio não lhe alcance enfim
Aprende a não dar importância ao teu criador
E apela feito um cantor
Que jura com despudor
Em rimas cheias de ardor
E ânsia
Vai...
SENHORA DAS SETE DORES
(Thiago Amud)
Ó, Mãe, lastimosa Mãe
Senhora das Sete Dores
Minguaram os meus pendores
Mas restou a minha fé
Meu sangue virou vinagre
Sou véspera de um milagre
São tantos os meus clamores
E é viva chaga a flor da fé
São minhas as vossas dores
E é toda vossa a minha fé
SOL DE CLAVE
(música de Clarice Assad e Sergio Assad, letra de Thiago Amud)
O tempo não passou
Na melodia
O som cristalizou
O dia
Parado em seu revoo
Pra a noite adiar,
O sol fez a música
Irradiar
O céu virou papel
De pauta e claves
E a solfejar o céu
As aves
Foi assim
Que Deus refez
O paraíso uma vez
Ou foi talvez
Orfeu pra mim
Tocando seu bandolim
Ou querubim
Que às vezes sai
Do violão de meu pai
SONÂMBULO
(música de Edu Kneip, letra de Thiago Amud)
Vou revirar os cabarés
Vou vasculhar os botequins
Marcar presença nos cafés, sim...
Baixar aos últimos confins
Vagar ao léu, desafiar
a madrugada e seus ardis
Depois querer me embriagar
pra diluir quem não me quis
Vou farejar nos calçadões
Vou enfrentar policiais
Bater ladeiras, escadões, ai...
Armar quizumba em pleno cais
Fazer furdunço, ameaçar
Mostrar do que que eu sou capaz
Depois querer me aniquilar
pra não perdê-la nunca mais
Vou, de repente, ensandecer
Deitar nos trilhos do metrô
Deixar a fome me comer
Mamar dez litros de cointreau
Sorver um gole de aguarrás
Jurar que o mundo vai ter fim
Virar manchete nos jornais
pr’ela querer voltar pra mim
Vou suplicar nos botequins
Vou rastejar nos calçadões
Lamber o chão dos cabarés, vou
me flagelar em pleno cais
Ajoelhar nos escadões
Vou respeitar policiais
Chorar baixinho nos cafés
pr’ela querer voltar atrás
Ou, simplesmente, alucinar
Incendiar meu violão
Xingar a cruz, cuspir no altar
Abrir as grades da prisão
Entrar sem roupa no quartel
Pintar a boca de carmim
Comprar um casarão no céu
pr’ela querer voltar pra mim
TRANSBEATRIZ
(música de Poiko, letra de Thiago Amud)
No que eu pensar
algum radar
volúvel
pega o teu olhar
de fogo e céu
neon quasar
O teu rumor
um transistor
amplia
’té virar motor
pra me ligar
ao reator nuclear do amor
Transbeatriz
eletromotriz
de transes
e ardis
No que eu disser
sem voz sequer
‘Te amo
dínamo mulher’
posso explodir
ou derreter
O meu pudor
teu gerador
solerte
converte em calor
mas te mantém
um bólido além do além do amor
Radiação
estrela, avião
tu voas
eu não
TRATAMENTO DE CHOQUE
(música de Edu Kneip, letra de Thiago Amud)
Escuta só
vou lhe contar:
fui num forró
de estropiar.
Achei que fosse um daqueles
dias de zebedeu
Baile na corte e eu um reles
bufão dublê de plebeu
Bicho da bosta da besta do bandido
e um mundaréu de marido
pra me dar pescoção
Que bela noite de sexta, que caído!
Ficar num canto enrustido
ruminando tesão...
Chegando lá, a bagaceira
era pior que imaginei
Os galalau na geladeira
as dama num fuá sem lei
Elas até davam nó
Incendiavam o salão
Eles até davam dó
Tudo de olho pidão
Falei “comigo isso não!
Vai tomá no fiofó!
Tomei um puta pifão
e me enfiei no forró!”
Nem quis saber, fui direto
aprontando tereré
Demonstrando meu afeto
pra tudo que era mulher
Sem mais nem menos, já ia me esfregando
Nem vi que vinha se armando
o mulherio contra mim
Uma me aponta: “olha aí, ta precisando!”
e era um banho, era um bando,
era porrada sem fim
Agora, manja o grau do porre
que o papai aqui tomou
Fica estirado, quase morre
mas jurando que arrasou
“No baticum fui o tal”
Foi meio assim que eu pensei
Enchi a voz de moral,
virei pros cabra e mandei:
”Vocês são tudo é gay
Vocês não honram o pau!”
Daí pra frente não sei:
só acordei no hospital...
Os mulherão
no xá-xá-xá
e os marmanjão
de blá-blá-blá
Mosca da merda da mula do malfeitor,
declaro, cheio de dor:
homem tem mais que apanhar!
VOCÊ NÃO É LINDA
(música de Thiago Thiago de Mello, letra de Thiago Amud)
Você não é linda
Você é a própria beleza de tudo que existe
Não pode haver isso
Isto que agora é seu colo, é seu rasgo, é seu riso
Você não é isto
Um corpo que agora se move, se joga, se tolhe
Na certa há de ser outra coisa: uma ideia, uma cifra
O anúncio de uma primavera
Primeira corola entreaberta
A fim do orvalho que lhe molhe
Você não existe
Porque se existisse faria uma guerra de Tróia
E o pacificado sertão quedaria coalhado do sangue dos machos
Você aí se evolaria rajando o infinito
E os olhos do mundo arderiam de constelações impossíveis
Não pode haver isso
Isto que agora é seu beijo, é seu medo, é seu visgo
Jamais a beleza cairia na terra
Virando meu tino
Com tal violência
Você, criatura, é um tapa
Uma lapa de desinocência
Que um nume bendito maldito bendito
Verteu sobre mim feito essência
Guardada no último cântaro
E me iniciou neste rito
De ver a beleza de frente
Com olhos de crente
Você quando existe
É lua vermelha é gorjeio de ave alumbrada
É ouro de abelha é leite jorrando de pedra
É ciclo é ninhada
Maré montante do meu sonho
Nó cego, eixo do destino
(Não posso ver isto)
Menina, seu rosto encantado
Se existe, sou eu que inexisto:
Caí na caldeira do Outro
Beijando o coração do Cristo