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Page 1: Politica como Vocação

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

DISCIPLINA: SOCIOLOGIA III

PROFESSOR: Franz Josef Brüseke

ALUNO: Luan Souza Araujo

Política como vocação – Parte 4

Max Weber afirma que a carreira política concede a alegria do sentimento de poder, mesmo para os políticos profissionais que não ocupam altos cargos, pois eles têm “a consciência de influir sobre outros seres humanos, o sentimento de participar do poder, à consciência de figurar entre os que detêm nas mãos um elemento importante da história que se constrói...” e veem que estão “acima da banalidade da vida cotidiana”(WEBER, 2000, P.105). No decorrer deste texto veremos sob a perspectiva weberiana as “qualidades necessárias” para o político “situar-se a altura desse poder”, e as responsabilidades que esse poder lhe impõe, estas reflexões vão nos levar aos problemas entre o universo da ética e da política.

São três as qualidades que determinam o homem político: a paixão, o sentimento de responsabilidade e o senso de proporção. O líder político deve ser apaixonado, mas no sentido de trabalhar por uma causa, a natureza desta depende apenas “das convicções pessoais de cada um” como fins humanitários, nacionais, ou mesmo a uma idéia. Também é muito importante ter responsabilidade perante a causa, pois “Quando se põe a serviço de uma causa, sem que o correspondente sentimento de responsabilidade se torne a estrela polar determinante da atividade, ela não transforma um homem em chefe político” (WEBER, 2000, P.106), isso impede que o político cometa os dois “pecados mortais” na política: “não defender causa alguma e não ter sentimento de responsabilidade” (WEBER, 2000, P.107). Para isso o líder deve ter senso de proporção ou senso de realidade que “é a qualidade psicológica fundamental”. “Quer isso dizer que ele deve possuir a faculdade de permitir os fatos ajam sobre si no recolhimento e na calma interior do espírito, sabendo, por conseqüência, manter à distancia os homens e as coisas”(WEBER, 2000, P.106), o distanciamento é necessário para o político pois ele tem a necessidade de refletir sobre a realidade, para ter maior objetividade em suas ações.

As qualidades que foram citadas anteriormente são importantes para distinguir o homem político do simples “diletante de excitação estéril”, mas ele deve evitar a vaidade, esta faz com que o líder coloque-se acima de sua causa, não tenha responsabilidade, e deixe o objetivo da causa para exaltar a si mesmo, esse comportamento político narcisista “não passa jamais de produto de um espírito embotado soberanamente superficial e medíocre, incapaz de apreender qualquer significação da atividade humana” (WEBER, 2000, P.108). É fato que o

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“resultado final da atividade política” normalmente não esteja de acordo com a proposta inicial, este paradoxo não deve servir de pretexto para abandonar a causa, a premissa da necessidade de uma crença seja ela qual for é de fundamental importância para o homem político, se ela estiver ausente “a inanidade da criatura eclipsará até mesmo o êxito político aparentemente mais sólido” (WEBER, 2000, P.108).

Depois de compreendermos as qualidades necessárias para ser um homem político Weber discorre sobre “o problema do ethos da política enquanto causa a defender”, mas antes disso ele faz questão de combater a “ética usada para justificar-se perante a própria consciência” (WEBER, 2000, P.109), para exemplificar isso autor utiliza alguns exemplos como o caso do homem que sente a necessidade de justificar o abandono de sua esposa utilizando-se de argumentos depreciativos como o “de que ela o havia enganado”, esta atitude é semelhante a do vitorioso depois da batalha que diz “venci porque a razão estava comigo”, segundo Weber qualquer argumento desse tipo é desnecessário, pois é uma afronta a honra do outro e pode inflamar o ódio de qualquer nação, além disso, “esta espécie de ética só se preocupa com a culpabilidade no passado, questão estéril do ponto de vista político porque insolúvel...” (WEBER, 2000, P.110), e não é uma questão que cabe ao homem político, pois este deve agir com responsabilidade e para o futuro, “essa ética para ter razão” pode impedir de ver quais os interesses que estão por traz desta atitude.

Weber separa os valores religiosos dos valores políticos, porque a política utiliza-se da força, violência e autoridade, portanto nada tem haver com o espaço da bondade, do amor, e da verdade que são muito difundidos na ética religiosa, parar exemplificar essa oposição Weber nos diz:

O mandamento do evangelho é incondicional e unívoco: dá tudo o que possuas – absolutamente tudo, sem reservas. O político dirá que esse mandamento não passa de uma exigência social irrealizável e absurda, que não se aplica a todos. Em conseqüência, o político proporá a supressão da propriedade por taxação, imposição, confisco – em suma, coação e regulamentação dirigida contra todos. O mandamento ético não se preocupa, entretanto, com isso e essa despreocupação é sua essência. Ele ordena ainda: “Ofereça a outra face!” Imediatamente sem indagar por que o outro se acha no direito de ferir. Dir-se-á que é uma ética sem dignidade. Sim exceto - para o santo. (...) Conseqüentemente, se a ética cósmica do amor nos diz: “Não resistas ao mal pela força” o político ao contrário, dirá: Deves opor-te ao mal pela força ou serás responsável pelo triunfo que ele alcance. (WEBER, 2000, P.111-112)

Sendo assim a ética cristã também não admiti a resistência, as revoluções, e menos ainda a guerra, logo ela tem um compromisso com a bondade e a verdade que são invioláveis mesmo que essa postura tenha conseqüências ruins, pois “O cristão cumpre seu dever e, quanto aos resultados da ação, confia em Deus”, já o político se preocupa com os resultados e diz “Devemos responder pelas previsíveis consequências de nossos atos”, esses dois tipos de conduta Weber denomina respectivamente como “ética da convicção” e “ética da responsabilidade” e afirma que não são totalmente opostas devido serem complementares pois todo homem político como foi dito deve ter sua convicção, mas é de fundamental importância que ele assuma a conseqüência de seus atos.

Para Weber então o homem político deve resistir a qualquer forma as tentações do desencantamento e ter a consciência que “a política é um esforço tenaz e enérgico para atravessar grossas vigas de madeira. Tal esforço exige, a um tempo, paixão e senso de

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proporções. É perfeitamente exato dizer – e toda experiência histórica o confirma – que não se teria atingido jamais o possível, se não tivesse tentado o impossível”. Vemos então que o homem de “vocação política” tem a paixão como fonte de força para resistir às dificuldades que ele encontra na sua carreira, caso contrario “melhor teriam feito, se cultivassem modestamente a fraternidade do homem para o homem e, quanto ao resto, se entregassem, com simplicidade, ao trabalho cotidiano” (WEBER, 2000, P.123).

Referência:

WEBER, Max. “A Política como vocação”. In: ____ Ciência e política. Duas vocações. 16ª ed. tradução de Leônidas Hegenberg e Octany Silveira da Mota. – São Paulo: Editora Cultrix. 2000.