QUEM CONTA, ENCANTA E ENSINA O RECONTAR
Autora: Vera Lucia da Silva Miranda1
Orientação: Antônio Carlos Aleixo2
Resumo
O presente artigo tem como objetivo demonstrar que a estratégia de contação de histórias é um instrumento pedagógico capaz de despertar nos alunos o gosto pelo ler, o prazer em ouvir o outro e a capacidade de concentração e de atribuir significados à leitura. Realizou-se o trabalho de contação com alunos da 5ª série E, período da tarde, do Colégio Estadual Polivalente de Goioerê – Goioerê-Paraná. As questões que orientaram o estudo foram: Seria o educador responsável por levar o educando a desenvolver uma atitude crítica e encontrar sentido em tudo o que lê? Por que os métodos de leitura utilizados não atingem a maioria dos alunos? Seria a contação de histórias uma estratégia positiva e eficiente para a aquisição e gosto pela leitura? Uma vez que a prática educacional tem comprovado que não ensinar a ler com compreensão e significado gera uma educação de má qualidade, descomprometida com a cultura erudita e com a apropriação do conhecimento elaborado e do saber sistematizado, buscou-se por meio deste projeto uma prática de leitura que oferecesse acesso às obras e permitisse aos leitores entrarem na aventura com os personagens, viajando para outros lugares e épocas, desenvolvendo a curiosidade e despertando o desejo pela leitura. O referencial teórico para as discussões da temática apoiou-se nos estudos de vários autores. Os resultados do trabalho proporcionaram a reflexão sobre a importância da leitura em sala de aula, pelo incentivo em ler contos de fadas e ouvir histórias de contos populares e maravilhosos por meio da contação. Palavras-chave: Leitura, contação de história, gostar de ler.
Abstract
This article aims to demonstrate that the strategy of storytelling is an educational tool able to awaken in students a taste for reading, glad to hear the other, the ability to
1 LETRAS – UNESPAR/FECILCAM, PEDAGOGIA – FAPI/PINHAIS, Pós em Linguística e Gestão.
2 Mestre em Estudos Literários pela UNESP, professor da Língua Latina UNESPAR/FECILCAM.
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concentrate and give meaning to read. We carried out the work of storytelling with students from grade 5 and the afternoon, the State School Polivalente de Goioerê – Goioerê – Paraná. The questions that guided the study were: Is the teacher responsible for bringing the students to develop a critical attitude and find meaning in everything you read? Why read methods used do not reach the most students? Would the storytelling appositive and efficient strategy for the acquisition and reading habits? Once the practice has proven that education does not teach to read with understanding and meaning creates a poor quality education, uncompromising with high culture and the appropriation of knowledge developed and systematized knowledge, we sought through this project a practical reading that offers access to the works and allow readers to join the adventure with the characters traveling to other places and times, developing curiosity and awaken a desire for reading. The theoretical framework for the discussions of the issue was supported in studies by several authors. The results of the work provided a reflection on the importance of reading in the classroom by encouraging folk tales and stories through wonderful storytelling. Key-words: reading, story-history, enjoy reading.
1 Introdução
Contar histórias para alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental
sempre foi considerado um método para distrair, relaxar e manter as crianças em
silêncio. Ao chegar às séries finais do Ensino Fundamental, a estratégia era
esquecida, achava-se necessário deixar as brincadeiras de lado e encarar com
seriedade o processo ensino aprendizagem da leitura e da escrita.
Hoje, há um resgate desse importante fator para o desenvolvimento da
linguagem oral e escrita. Acredita-se que a formação de um bom leitor passa pela
atividade inicial do escutar e do recontar.
A contação de histórias é uma alternativa para que os alunos tenham uma
experiência positiva com a leitura. Segundo Villardi (1997, p. 02) para formar
grandes leitores, críticos, não basta ensinar a ler, é preciso ensinar o gostar de ler.
O que foi visto e de acordo com vários autores, a contação de histórias é um
valioso auxiliar na prática pedagógica para estimular o gosto pela leitura,
melhorando a capacidade de compreensão e interpretação.
O objetivo da escola, no currículo de formação em linguagem, deve ser
sempre a formação de um leitor competente (capaz), uma vez que a leitura é uma
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das capacidades mais importantes, o instrumento para o desenvolvimento do ser
humano escolarizado e formar bons leitores é uma das condições para o
desenvolvimento de outras funções inerentes à formação integral das pessoas.
Despertar nos alunos o interesse pela leitura é o maior legado de um professor.
Leitores competentes e interessados só se farão com a prática constante do ler e do
ouvir variados tipos de textos.
Assim, o projeto de contação de história: Quem conta, encanta e ensina o
recontar teve como finalidade resgatar a estratégia da contação para crianças de 5ª
série - 6º ano, uma vez que os alunos desta série/ano eram irrequietos, não sabiam
ouvir o outro e segundo alguns professores: “eles também não sabem e não gostam
de ler, porque acham a leitura uma grande perda de tempo, eles gostam de tudo
muito rápido”, “não sabem ficar quietos”, “são briguentos”, “falta concentração e por
isso apresentam dificuldade para interpretar e compreender o que leem”.
Acreditando na estratégia da contação de histórias, o projeto teve como
objetivo utilizar a contação como ação pedagógica capaz de desenvolver os sujeitos
melhorando o seu desempenho escolar, favorecendo e aperfeiçoando sua
aprendizagem, buscando melhorar a oralidade, a concentração, a atenção, o
aprender a ouvir e o gostar de ler.
A metodologia utilizada teve como estratégia aulas-oficinas. A cada aula a
professora-contadora narrava uma história aos alunos, utilizando chapéus, efeitos na
voz, gestos. Alunos sempre em círculos, sentados ou em pé, dançando abraçados;
dinâmicas. Leitura livre, para a qual os livros eram levados para a sala num baú
decorado com personagens dos contos de fadas*. Trabalho em grupo para leitura de
contos de fadas e confecções de materiais. Todas as estratégias utilizadas tinham
como objetivo a concentração, o aprender a ouvir e a melhorar a indisciplina.
Este trabalho tem como objetivo expor o resultado obtido nas atividades
acima enunciadas: num primeiro momento apresenta os aspectos teóricos da leitura,
em seguida, o resultado da implementação, terceiro, as considerações finais e por
último, as referências utilizadas.
*Verificar fotos no blog da professora – veraluciamiranda.blogspot.com.br
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2 ASPECTOS TEÓRICOS DA LEITURA
2.1 O Que é Leitura
Para aqueles que estão envolvidos com o ensino da leitura, mostro que é somente por meio dela que as crianças aprendem a ler, e que os professores devem, portanto, garantir que a leitura seja sempre acessível e agradável a todas as crianças (SMITH, 2005, prefácio).
Para o educador Paulo Freire (2005, p. 11), “a leitura de mundo precede a
leitura da palavra”. Quando se pensa em leitura, logo vem à mente a ideia de
atividade mecânica de decodificação de signos. No entanto, ler é mais do que isso, é
atribuir um significado ao texto, seja ele verbal ou não verbal, o qual é entendido
como processo e não produto, uma vez que o mesmo constitui-se na interação.
Leitura é uma forma de percepção, posto que ela não se reduz ao texto, mas à
realidade, ao mundo que a cerca. Já para Silva e Abjadid (2005), ao se referir à
leitura de textos, é importante saber que só há atribuição de significados quando o
leitor associa ao conhecimento de mundo um conhecimento linguístico. A interação
de diferentes níveis de conhecimento. Ao se apropriar desses saberes, o leitor ficará
apto à leitura e com maiores chances de alcançar o conhecimento.
Para se ter uma visão geral do que vem a ser leitura e sua dimensão,
conceitos de leitura abordados por Silva (2005), e outros, definem o ato de ler como
uma necessidade concreta para a aquisição de significados e de experiências nas
sociedades onde a escrita se faz presente. Leitura sem compreensão e sem
recriação do significado é pseudoleitura. É um entendimento mecânico.
Vigotski (2007) vê a leitura como um ato de reconstrução dos processos de
produção. Para ele a leitura nunca é mera decodificação mecânica. Nos momentos
em que a decodificação dos signos está presente, a leitura vem impregnada de
sentidos e predomina sobre o significado da palavra. As mudanças de sentido não
atingem estabilidade do significado, as palavras obtêm seu sentido no contexto do
discurso; mudando o contexto, varia o sentido da palavra.
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Cagliari (1989), ao dizer que ler é compreender, entende-se que a leitura
não se efetiva sem compreensão. Já para Kato (1985), a leitura deve ser entendida
como um conjunto de habilidades que envolvem vários tipos de estratégias. Essas
habilidades seriam: a de encontrar parcelas significativas do texto; a de estabelecer
relações de sentido e de referência entre certas parcelas do texto; a de estabelecer
coerência entre as proposições do texto; a de avaliar a veroassimilação e a
consistência das informações extraídas; a de inferir o significado pretendido pelo
autor do texto.
Para Solé (1998), a leitura é um processo mediante o qual se compreende a
linguagem escrita. Para ler é necessário manejar com destreza as habilidades de
decodificação e aportar ao texto os objetivos, ideias e experiências prévias. Segundo
a autora, para uma pessoa se envolver em qualquer atividade de leitura, é
necessário que ela sinta que é capaz de ler, de compreender o texto, tanto de forma
autônoma, como apoiada em leitores mais experientes.
Fernández (2001, p. 180) salienta que “a tão comentada ‘motivação’, aquilo
de incitar o aluno está em o professor estar apaixonado e interessado pelo conteúdo
que ensina”. Certamente, toda essa atuação do professor, e de outros modelos
identificatórios (pais, irmãos, outros educadores) é reforço positivo para que se dê a
aquisição da linguagem.
Silva (2005), a leitura ensinada, aprendida e praticada de maneira crítica,
pode constituir numa janela para o mundo, uma luz no túnel, um passaporte para a
racionalidade, navegação geradora de descobertas e libertação da uma ideologia
hegemônica.
2.2 Contar história
“Mamãe, me conta uma história”, é o pedido insistente, exigente e constante
da criança que mal começa a achar-se na vida.
Chaves (1963), diz que contar história é uma grande arte. É dos métodos
intuitivos o mais simples, o mais antigo e o mais eficiente na transmissão de
verdades eternas de uma geração a outra. A arte de contar história é a mais antiga
forma narrativa consciente. Muito antes de ter o homem inventado a arte de
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escrever, a linguagem falada já lhe permitia passar suas ideias, suas crenças, suas
tradições, o relato de seus feitos, conservando assim o patrimônio cultural da raça e
despertando nas novas gerações o desejo de imitar os bons exemplos dos
antepassados e evitar os seus erros. Contar história, antes de agradar e entreter
deve educar. O real valor da contação de história é ser instrumento educativo. Do
ponto de vista educativo, contar história atende às necessidades humanas em todos
os seus aspectos: o físico, o moral, o intelectual, o social e o religioso.
Segundo Busatto (2003), Contar histórias é uma arte rara que reatualiza a
memória, conectando o ouvinte com algo que se perdeu nas brumas do tempo. Traz
significações ao propor um diálogo entre as diferentes dimensões do ser.
Na era da globalização, quando o avanço tecnológico afasta mais e mais os
indivíduos, é importante o trabalho com o resgate de se contar histórias para as
crianças desta era digital.
2.3 Contadores de história
Em Chaves (1963), pode-se ver que desde os tempos mais remotos, o
homem, percebendo que cada habilidade que possuía era um recurso à sua
disposição para conquistar o respeito e a veneração dos seus semelhantes,
começou a cultivar o seu talento e a especializar-se nas artes. Para entreter aqueles
que o cercavam e receber sua aprovação e admiração, ele usava, com
especialidade, a arte de contar história.
Chaves (1963), diz que Sócrates, o antigo filósofo, instruía seus discípulos
debaixo dos oleandros da velha Grécia contando-lhes histórias. O diálogo era sua
forma literária favorita, permeado de narrativas cuja finalidade era atualizar a teoria.
Platão, seu discípulo, continuou a adotar seu método. Nas suas obras há numerosas
narrativas, algumas bem curtas, porém verdadeiras, concisas, com o objetivo de
despertar o interesse e afirmar princípios.
Antes de Sócrates e Platão, o sábio Confúcio, na China lendária utilizava o
mesmo processo. Contava histórias para despertar o desejo de um proceder melhor.
Na Idade Média, o contador de histórias era respeitado e bem-vindo em toda parte.
Muitas crônicas atestam que na Boêmia, na Áustria e nas Ilhas Britânicas, os
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trovadores, os segréis, os jograis, os bardos e os menestréis obtinham passaportes
quando outros indivíduos não podiam obtê-los.
Esses eram os que, contando, cantando, recitando e declamando, iam de
palácio em palácio, de aldeia em aldeia, levando suas histórias tão ao gosto popular
da época.
Busatto (2003), diz que o contador de histórias cria imagens no ar
materializando o verbo e transformando-se ele próprio na matéria fluida que é a
palavra. Ele empresta o seu corpo, sua voz e seus afetos ao texto que ele narra, e o
texto deixa de ser signo para se tornar significado.
O contador faz sonhar, porque faz parar o tempo para apresentar outro
tempo. Como um mágico, o contador faz aparecer outro tempo, paralelo ao real, no
qual ele atua muito próximo da essência, não daquilo que se aprende, mas daquilo
que é por si só.
Para Coelho (1998), saber contar uma história é, acima de tudo, saber para
quem se conta. O bom contador de histórias conhece a sua história de cor e
salteado, tem linguagem acessível aos seus ouvintes e escolhe suas histórias
levando em conta a faixa etária que pretende atender.
Já que contar e ouvir histórias, é um momento especial, o contador de
histórias modifica o ambiente físico da sala, tornando-o mais acolhedor e
propiciando um contato mais próximo com os educandos. Sua voz tem sempre a
entonação adequada, transmitindo através da sonorização, a emoção de cada
personagem.
Para que um trabalho cercado de cuidados não se perca, é necessário que
haja bastante cuidado com o espaço de tempo no qual se contará a história, para
que as pessoas mantenham seus interesses na atividade desenvolvida, evitando
projetar a atenção a outras situações.
Coelho afirma ainda, que a duração da narrativa em si depende da faixa
etária e do interesse que suscita. Uma história pode ser contada, cantada, ou
contada e cantada, ilustrada, utilizando objetos, um livro, uma folha de papel
transformada em dobradura. Acredite, uma história pode ser contada como o
contador quiser, como mandar a sua imaginação.
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2.4 Por que contar história
Para Dhome (2010), o contar história é de importância fundamental para a
formação mental da criança. O famoso “Era uma vez...” funciona como uma senha
mágica, o “Abre-te Sésamo” que dá passagem para um mundo fantasioso, o mundo
da imaginação.
Segundo Coelho (1991), a história é uma narrativa que se baseia num tipo
de discurso calcado no imaginário de uma cultura. As fábulas, os contos, as lendas
são organizados de acordo com o repertório de mitos que a sociedade produz.
Quando estas narrativas são lidas ou contadas por um adulto para uma criança,
abre-se uma oportunidade para que estes mitos, tão importantes para a construção
de sua identidade social e cultural, possam ser apresentados a ela.
A autora afirma ainda que as histórias são fontes maravilhosas de
experiências, são meios de ampliar o horizonte infantil, de aumentar o conhecimento
em relação ao mundo que a cerca. É por meio do prazer ou da emoção que as
histórias lhes proporcionam, que o simbolismo, implícito nas tramas e personagens,
vai agir em seu inconsciente, ajudando na resolução de conflitos internos.
A literatura Infantil, principalmente os contos, pode ser decisiva, para a
formação da criança em relação a si mesma e ao mundo a sua volta. As diferenças
mostradas através dos personagens bons e maus, feios e bonitos, poderosos e
fracos, facilitam à criança a compreensão de certos valores básicos da conduta
humana ou do convívio social. Por meio deles a criança incorporará valores que
desde sempre regem a vida humana. Confrontada com o bom e o belo, a criança é
levada a com eles se identificar, por trazerem em si a semente da bondade e da
beleza. Identificando-se com heróis e heroínas, ela é levada a resolver sua própria
situação, superando o medo que a inibe e ajudando-a enfrentar os perigos e
ameaças que sente à sua volta.
O compromisso que o narrador tem, é com a história, enquanto fonte de
satisfação de necessidades básicas das crianças (COELHO, 1991).
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2.5 O que é contar história
Segundo Coelho (1998), contar histórias é transformar um simples relato em
algo que aguce a imaginação daquele que ouve. Pode ser por meio de recursos
mais elaborados ou através de uma simples narrativa. Existem autores que, dentre
todos os recursos e formas de apresentação das histórias, elegem a simples
narrativa como a mais encantadora maneira de contar uma história. Afirma Coelho
(1998), narrar é a mais fascinante de todas as formas, a mais antiga, tradicional, e
autêntica expressão do contador de histórias. Não requer nenhum acessório e se
processa por meio da voz do narrador, de sua postura. Este, por sua vez, com as
mãos livres, concentra toda a sua força na expressão corporal. Que gravura
mostraria o esplendor do baile de Cinderela, ou a emoção da fuga ao soar das
badaladas da meia-noite?
Coelho (1998), diz ainda, para que esta arte atinja os objetivos a que o
contador de histórias se propõe, é necessário que ele opte pelo texto mais adequado
e coerente a cada situação. A história na escola é de grande parceria quando
contextualizada. Esta permite a interligação dos fatos levando à interpretação,
desenvolvendo assim o senso crítico do ouvinte, que neste caso é o educando.
2.6 Gêneros Orais
Para Schneuwly e Dolz (2004), os gêneros orais são formas de enunciados
relativamente estáveis com características próprias relativas a situações de
produção em que são empregados, à organização textual, aos aspectos linguístico-
discursivos e aos meios não-linguísticos.
Marcuschi (2001), diz que, diariamente, fala-se e ouve-se mais do que se
escreve ou lê; contudo, no ensino a situação se inverte e a escrita assume a
primazia sobre a fala. Assim, Schneuwly e Dolz (2004), afirmam que ao trabalhar
gêneros com os alunos deve-se envolvê-los em situações concretas do uso da
língua, para que consigam de forma criativa e consciente, escolher meios
adequados aos fins que deseja alcançar. É necessário ter consciência de que a
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escola é um autêntico lugar de comunicação e as situações escolares são ocasiões
de produção e recepção de textos.
Baseando-se em Vigotski e Bakhtin, Bronckart (2001), afirma que durante o
processo de desenvolvimento, os homens foram travando relações entre si e
propiciando o surgimento da linguagem. O uso da linguagem ocorreu no interior das
comunidades por meio de textos orais e só bem mais tarde por meio dos textos
escritos.
Segundo Schneuwly e Dolz (2004), para se desenvolver um bom trabalho
com gêneros, especialmente os orais, é necessário, construir um modelo didático do
gênero, um levantamento de suas características, consulta a textos de especialistas,
a autores desses gêneros, essas informações indicarão dimensões ensináveis do
gênero a ser estudado.
3 Implementação do Projeto na Escola
3.1 Leitura diária
Todo professor deve oferecer, aos seus alunos, doses diárias de leitura,
instantes prazerosos de contação de uma boa história, um “causo” interessante,
uma boa música, um bom poema declamado; sem forçar nenhuma situação, mas
oportunizar momentos agradáveis de ouvir e ler histórias. Se o professor acreditar
que além de ensinar, instruir e informar, o livro pode proporcionar prazer e magia
aos educandos, com certeza ele encontrará a forma correta de influenciar e instruir
seus educandos para amar e realizar momentos propícios de prazer e estimulação
para a leitura.
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3.2 Praticando a contação
Alunos em círculo, olhos curiosos observam atentamente a contadora a
narrar uma história, um conto popular. Olhares fixos no chapéu, nos gestos, nos
desenhos feitos no ar. As impressões se refletem no espírito dos ouvintes. A visão
dessa roda mágica vai lhes acompanhar pelo resto de seus dias, e a contadora terá
lançado a semente, e nada mais será como antes, agora é esperar os frutos das
sementes lançadas.
Para que a leitura dos nossos alunos se efetive, a contação de histórias é o ponto de partida para que os mesmos criem o gosto pela leitura, projetos como esse deveriam ser implantados em todas as escolas do Estado do Paraná (GISELE ALVES: GTR/2011-PDE 2010). A contação de histórias é uma estratégia viável que possibilita o desenvolvimento afetivo e emocional do indivíduo (IRIA GUERRA PICOLLI: GTR/2011-PDE 2010).
3.3 Para ensinar também se aprende
Segundo Dohme (2010), contar histórias é uma arte e todo professor pode
ser um bom contador de histórias, mas se achar que não tem as características e
não dominar a arte da contação, poderá se preparar para a função.
Em Curitiba existem alguns espaços que ofertam cursos para contadores. A
contadora conheceu dois deles e participou de vinte e quatro horas de cursos para
aperfeiçoar a técnica.
A Casa do Contador de Histórias oferta um curso de doze horas aos finais
de semana, sábado o dia todo e domingo até meio dia. Excelentes técnicas, aulas
práticas e ao final, uma plateia para se verificar o bom aprendizado.
O Terreirão do Mundaréu, outro espaço criativo, povoado de recursos, oferta
cursos durante as férias, foram doze horas de terça a sexta, à noite com um
profissional supercompetente, ensinava as técnicas e ainda abrilhantava as noites
com contos maravilhosos.
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Além destes cursos, a contadora leu muitas histórias e assistiu a vídeos do
You Tube para se aperfeiçoar.
A professora Vera promoveu o encontro do aluno com a leitura, possibilitando ao mesmo adquirir um modelo de leitor, desenvolvendo assim o prazer de ouvir e ler, com essa estratégia, fez também com que o aluno assimilasse as funções sintáticas da língua, além de aumentar seu vocabulário e seu campo semântico. Portanto, o aluno foi educando-se para saber ouvir as histórias e consequentemente respeitar a vez do outro contar, e isto, permitiu a eles transcenderem suas dificuldades e avançar no processo de amadurecimento, despertando o interesse pela leitura, fazendo com que a indisciplina inicial fosse melhorando. Dessa forma, alguns alunos já perceberam que a leitura é uma importante via de acesso para uma variedade de informação (SUZERLAINE RIZO CAMPOS: GTR/2011-PDE 2010).
3.4 Por que contar histórias para os alunos selecionados
Estes alunos foram selecionados para fazerem parte do projeto uma vez que
a proponente queria realizar o trabalho com apenas uma turma. No colégio, esta
turma carregava a fama de serem alunos agitados, briguentos, agressivos,
apresentavam dificuldades de leitura, não sabiam ouvir os professores durante as
explicações e os colegas numa apresentação de trabalho.
Acreditando na estratégia da contação de história para sanar parte dos
problemas citados, decidiu-se por eles como desafio do aprender e ensinar.
Faz-se necessário a busca de novos métodos de sedução para nossos educandos, com a contação, acredito que podemos tornar a escola mais prazerosa e com mais facilidade didática para todos (Gisele Alves: GTR/2011-PDE 2010).
3.5 O que foi contar histórias para os alunos do 5º E?
Para Dohme (2010), as histórias podem ir além do encantamento. Quando
bem escolhidas, estudadas e preparadas têm a função de educar.
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Assim, contar histórias para os alunos do 5º E, foi um grande desafio e
também uma experiência gratificante.
A primeira história escolhida foi o conto popular O homem que não tinha
sorte. Observou-se que os alunos gostaram da experiência, pararam para ouvir.
Havia toda uma técnica, um espaço preparado especialmente para a ocasião: baús
de livros, chapéus confeccionados ou adquiridos para o momento, cadeiras em
círculos. Após a contação havia uma dinâmica, música, questionamentos e o
momento para irem até o baú e escolherem um livro para a leitura silenciosa.
3.6 Gênero oral: contação de história
Em Técnicas de Contar Histórias de Vania Dhome (2010), lê-se: “é
afortunado aquele que tem o dom de contar histórias, grandioso será aquele que
tem sensibilidade para perceber como usar esta esplêndida ferramenta
educacional”.
Foi refletindo nessa fala que se escolheu a contação de história para se
trabalhar a oralidade com os alunos do 5º E, por acreditar que por meio do ouvir
histórias, os alunos passassem a gostar de ler e procurassem também a contar as
histórias lidas para os colegas de sala.
Numa proposta interacionista, por meio da sequência didática, realizaram-se
as oficinas, utilizando a contação de história como estratégia pedagógica e os
contos como veículos, os quais transportaram os educandos ao mundo da fantasia e
da imaginação.
Na contação, utilizaram-se os contos maravilhosos da autora Marina
Colassanti, contos populares de Câmara Cascudo entre outros. Para o trabalho em
grupo, foram apresentados aos alunos, os contos de fadas: Cinderela, Chapeuzinho
Vermelho, Branca de Neve, Rapunzel, O Gato de Botas, A Bela e a Fera e outros.
Dando oportunidade das equipes escolherem um livro para leitura e preparo da
história para ser contada para os colegas de sala.
Eles aprenderam a ler, resumir a história a ser contada por meio do trabalho
em grupo, onde a professora passava de equipe em equipe: ensinando-os a
adequar a história à fala, orientando, direcionando, ouvindo as interpretações e o
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desempenho dos alunos. Foram realizadas oficinas para treinar o contar, confecção
de aventais e luvas como recursos visuais para auxiliar a contação, aplicação da
proposta interacionista.
Foram várias aulas. Toda aula a contadora iniciava com uma história, alguns
questionamentos e o trabalho em equipe, onde percorria os grupos para auxiliá-los
nos trabalhos propostos para o dia, ao final havia sempre uma música onde todos se
abraçavam e cantavam juntos, num grande circulo.
Nas primeiras aulas a contadora achou que não fosse atingir os objetivos
traçados. Os alunos eram falantes, barulhentos. Durante o trabalho em grupo, as
primeiras histórias ficaram mecânicas, decoradas, mas com o decorrer das oficinas
tudo foi se aperfeiçoando e comprovaram que houve assimilação do trabalho
proposto.
No coquetel de encerramento ninguém invadiu a mesa de salgados, todos
comeram e beberam usando de muita educação, permaneciam sentados enquanto
alguns se propuseram a servir os demais, constatou-se que houve melhor
sociabilização, devido ao trabalho em grupo.
Muitas vezes, os professores não realizam atividades diferenciadas por
achar que vai dar muito trabalho, que não vai dar certo, que os alunos não
conseguem, mas quando se propõe a realizar, persistindo no trabalho proposto,
acreditando em si e no outro, com certeza atinge-se os objetivos e metas traçados.
Pensar na contação de história como ferramenta para a sala de aula, é pensar na aprendizagem de forma agradável, cativante, onde o ouvinte e o contador viajam para mundos encantados tornando a aula um momento onde todos aprendem de maneira curiosa e satisfatória. Esta proposta cabe a qualquer escola, pois envolve a oralidade, a percepção, a atenção e principalmente a imaginação de todos (Márcia Cristina Simões: GTR/2011-PDE 2010).
4 Considerações Finais
Constatou-se que o contar histórias desempenha um importante papel no
desenvolvimento da linguagem, auxiliando na aquisição da leitura com significados e
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sentidos e melhorando a capacidade de atenção, concentração e do aprender a
ouvir.
Observou-se que a experiência de ouvir histórias causa um impacto nos
ouvintes e apontam possibilidades para a aquisição e gosto pela leitura e para a
compreensão das palavras.
Foi notável observar que os alunos ao ouvir, passam a construir significados
e sentidos sobre o que está sendo contado, passando a exercer o poder do
imaginário, formulando imagens e ideias a respeito do texto.
Alunos que escutam as histórias incorporam uma atitude analítica
exemplificada pelo orador por meio dos seus comentários e questões durante a
contação das histórias, permitindo o desenvolvimento do senso crítico. O professor,
contador de história é modelo para a formação de leitores e contadores.
É certo que a leitura em voz alta constitui uma oportunidade favorável ao
desenvolvimento do vocabulário e, com efeito, o contexto verbal das histórias, assim
como a entonação e o ritmo do contador constituem uma fonte rica para o
desenvolvimento da escrita e da leitura.
A partir desta vivência prática, acredita-se que a contação de história pode
ensinar e oportunizar os alunos a desenvolver o senso crítico no processo de
decodificação de textos e sob a função de educar, ela prepara o educando para um
melhor convívio social, exercendo assim sua plena cidadania.
Inesgotáveis são as possibilidades de trabalho utilizando a estratégia da
contação de histórias, esta foi apenas mais uma experiência possível e outras
poderão ser experimentadas.
Referências
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