Revista do Conselho Regional de
do Rio Grande do Sul
15
0JUNHO - 2013
Governana corporativa: anlise da atuao do comit de auditoria
A mensurao da composio do valor adicionado das empresas participantes do novo mercado da Bovespa no contexto da responsabilidade social
Pesquisa de percepo em relao aplicabilidade da contabilidade gerencial em microempresas na regio de Porto Alegre
SUPLENTES
Revista do Conselho Regional de
do Rio Grande do Sul
ISSN 1981-4666
EXPEDIENTE
Conselho Regional de Contabilidade
do Rio Grande do Sul CRCRS
Rua Baronesa do Gravata, 471
90160-070 Porto Alegre-RS
Fone/fax (51) 3254-9400
www.crcrs.org.br
Periodicidade quadrimestral
CORPO EDITORIAL - MEMBROS
Contador Dr. Ernani Ott - Coordenador
Professor da Unisinos
Contador Dr. Irineu Afonso Frey
Professor da UFSC
Contador Dr. Juan Carlos Viegas
Professor da Faculdade de Cincias Econmicas
da Universidade de Buenos Aires
Contadora Dra. Mrcia Martins
Mendes de Luca
Professora da Universidade Federal do Cear
Contador Dr. Clovis Kronbauer
Professor da Unisinos
Superviso
Mrcia Bohrer Ibaez
Projeto grfico editorial
rea Com Publicidade
Rubens Santos da Cunha
Fone: (51) 3480.6080
permitida a reproduo de qualquer
matria, desde que citada a fonte. os conceitos
emitidos em artigos assinados so de inteira
responsabilidade de seus autores.
2 REVISTA DO CRCRS
PLENRIO DO CONSELHO REGIONAL DE
CONTABILIDADE DO RIO GRANDE DO SUL
Binio 2012/2013
COMPOSIO DA DIRETORIA
COMPOSIO DO PLENRIO
TITULARES
Presidente
Contador Zulmir Breda
Vice-Presidente de Gesto
Contador Antonio Carlos de Castro Palcios
Vice-Presidente de Fiscalizao
Contador Celso Luft
Vice-Presidente de Registro
Contador Moacir Carbonera
Vice-Presidente de Controle Interno
Contador Clio Luiz Levandovski
Vice-Presidente de Desenvolvimento Profissional
Contador Adriel Mota Ziesemer
Vice-Presidente de Relaes com os Profissionais
Contadora Roberta Salvini
Vice-Presidente de Relaes Institucionais
Tcn.Cont. Nair Giacobbo de Lima
Vice-Presidente Tcnico
Contador Paulo Walter Schnorr
Contadores: Zulmir Breda, Adriel Mota Ziesemer, Erineu Clvis Xavier, Luiz
Eurico da Silva Boeira, Paulo Walter Schnorr, Antonio Carlos de Castro
Palcios, Lino Bernardo Dutra, Paulo Ricardo Pinto Alaniz, Tanha Maria
Lauermann Schneider, Gilberto Zanin de Souza, Celso Luft, Roberta Salvini,
Moacir Carbonera, Carlos Osvaldo Pereira Hoff, Paulo Gilberto Comazzetto,
Soeli Maria Rinaldi, Clio Luiz Levandovski, Slvio Lus da Silva Zago.
Tcnicos em Contabilidade: Ibanor Cofferi, Marcos Gilberto Leipnitz
Griebeler, Marlene Teresinha Chassott, Marice Fronchetti Guidugli, Nair
Giacobbo de Lima, Marco Aurlio Bernardi, Lus Augusto Maciel Fernandes,
Slvia Regina Lucas de Lima, Ricardo Kerkhoff.
Contadores: Csar Eduardo Stevens Kroetz, Jos Baldo Bordignon Sordi,
Jos Roberto dos Santos Pires, Ndia Emer Grasselli, Silvio Luiz Taborda,
Joo Carlos Mattiello, Mrio Kist, Magda Regina Wormann, Patrcia Dutra,
Neusa Teresinha Ballardin Monser, Grace Scherer Gehling, Anglica dos
Santos Minasi, Alberto Amando Dietrich, Pedro Gabril Kenne da Silva, Inelva
Ftima Lodi, Rosangela Maria Wolf, Rosemery Dias Gonalves da Silva.
Tcnicos em Contabilidade: Loris Jardim Guimares, Hildegard Rech, Maria
Rosa de Freitas, Marta da Silva Canani, Gerson Dias Fraga, ngelo Giaretton,
Ablio Rozek, Airton Luiz Fleck, Roberto da Silva Medeiros.
SUMRIO
3 REVISTA DO CRCRS
6
24
40
60
Neusa Teresinha Ballardin MonserViviane Oliveira de Azambuja
GOVERNANA CORPORATIVA: ANLISE DA ATUAO DO COMIT DE AUDITORIA
A MENSURAO DA COMPOSIO DO VALOR ADICIONADO DAS EMPRESAS PARTICIPANTES DO NOVO MERCADO
DA BOVESPA NO CONTEXTO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL
Alex Sandro Rodrigues MartinsAlexandre Costa Quintana
Flvia Vernica Silva JacquesPaula Roberta Pereira Costa Valle
LA FORMACION ETICA DEL PROFESIONAL EN CIENCIAS ECONOMICAS EN EL GRADO Y EL POSTGRADO - PARTE 2 (FINAL)
Dr. Juan Carlos ViegasDr. Hctor Julio Grisola
PESQUISA DE PERCEPO EM RELAO APLICABILIDADE DA CONTABILIDADE GERENCIAL EM
MICROEMPRESAS NA REGIO DE PORTO ALEGRE
Cassiane Oliveira VelhoViviane Selau Carlos
EDITORIAL
4 REVISTA DO CRCRS
No dia 18 de maro, o Conselho
Federal de Contabilidade lanou oficialmente
a campanha 2013: Ano da Contabilidade no
Brasil, em ato ocorrido em sesso conjunta
da Cmara dos Deputados e do Senado
Federal. No mbito de nosso Estado, o
lanamento ocorreu na Assembleia Legis-
lativa, no dia 2 de maio, mediante ato solene e
grande expediente proposto pelo deputado
estadual Adilson Troca.
O objetivo da campanha mudar a
imagem do profissional contbil perante a
sociedade. Nesse sentido, a proposta de
divulgar o papel da Contabilidade dentro do
contexto social e promover sua valorizao,
mediante a exposio sobre sua necessidade e
importncia para a vida econmica e em-
presarial, e, igualmente, sobre sua presena
no dia a dia de todo o cidado. Dessa forma, a
campanha surge como movimento para
estimular o reconhecimento da categoria
para alm da esfera contbil.
Sem dvida, a profisso contbil vive
um momento singular e os dirigentes das
empresas sentem, cada vez mais, a neces-
sidade de contar com um profissional
dinmico que os assessore no processo de
tomada de deciso. Esse novo mercado
requer capacitao, tica, seriedade e
comprometimento por parte do profissional
contbil.
Esse um caminho de mo nica: para
alcanarmos o sucesso e atendermos essa
exigncia do mercado temos de ter presente
que isso s possvel pelo aprimoramento de
nossos conhecimentos. A atualizao pro-
fissional vira condio obrigatria para
garantirmos essa conquista. Alcanamos
posio invejvel em relao a outras pro-
fisses, e sua manuteno e tambm ascenso
dever de todos aqueles que fazem da
Contabilidade a sua profisso. Deve ser en-
carado como um compromisso de todos ns.
Tambm em maio ocorreu a 14
edio do mais tradicional evento da classe
contbil gacha, a Conveno de Conta-
bilidade do Rio Grande do Sul, na cidade de
Bento Gonalves, que reuniu mais de 1.600
profissionais e estudantes da rea contbil.
Momentos como este revelam todo o dinamis-
mo e evoluo por que passa a Cincia
Contbil.
2013: Ano da Contabilidade no Brasil
O mercado est em constante mu-
dana e precisamos nos adaptar ao novo
constantemente. Essa uma exigncia no
circunscrita apenas Contabilidade, mas a
todos os ramos do conhecimento. No nosso
caso, especificamente, as mudanas ocor-
ridas na legislao e a necessidade de sua
aplicao nas rotinas de trabalho, requerem
ainda mais dedicao do profissional da
Contabilidade. E a Conveno apontou essa
necessidade. Os temas das palestras e dos
painis abrangeram todos os segmentos da
Cincia Contbil, os quais foram criterio-
samente selecionados de acordo com o mo-
mento da profisso e a demanda apresentada
pelo mercado. Todos que l estiveram cer-
tamente agregaram algum conhecimento
novo ou sentiram a necessidade de renova-
o de conceitos e atitudes.
Tambm tivemos a apresentao de
trabalhos tcnicos e cientficos. A apre-
sentao de trabalhos na Conveno de Con-
tabilidade um espao reservado para a
discusso da Cincia Contbil, visando
contribuio para sua evoluo. o momento
em que os autores compartilham seus estu-
dos e pesquisas e socializam o resultado de
seu trabalho. Foram submetidos ao Comit
Cientfico 64 trabalhos, sendo aprovados 38
para constarem nos anais, e 19 apresentados
nesta edio da Conveno.
Conforme regulamento dos trabalhos
cientficos, nove reas temticas foram
estabelecidas para a formulao de traba-
lhos: Auditoria e Percia; Educao e Pes-
quisa em Contabilidade; Contabilidade Ge-
rencial; Contabilidade Governamental e do
Terceiro Setor; Contabilidade Harmonizada
s Normas Internacionais; Contabilidade
para Usurios Externos; Contabilidade
Tributria; tica e Responsabilidade Social;
e Governana Corporativa.
Como tem sido feito habitualmente,
a Revista do Conselho Regional de Conta-
bilidade do Rio Grande do Sul publicar ao
longo do ano os trabalhos destacados em
cada uma das reas temticas e, por con-
seguinte, foram merecedores do certificado
de mrito, para que possam ser lidos tambm
por aqueles que no puderam estar presentes
no evento.
Aproveitamos para agradecer aos
integrantes do Comit Cientfico Clovis
Kronbauer, Ernani Ott, Marcelo Coletto
Pohlmann, Romina Batista de Lucena de
Souza, Jair Antonio Fagundes, Ana Trcia
Lopes Rodrigues, Carlos Eduardo Facin
Lavarda e Euslia Paveglio Vieira cujo
trabalho silencioso e voluntrio garantiu o
sucesso alcanado, bem como aos avalia-
dores dos trabalhos recebidos, coordena-
dores e debatedores das sesses interativas,
nosso muito obrigado!
Portanto, caros colegas, estamos
oportunizando a leitura dos trabalhos desta-
cados, que igualmente concedem a to neces-
sria capacitao profissional.
Um forte abrao.
5 REVISTA DO CRCRS
Contador Zulmir Breda
Presidente do CRCRS
GOVERNANA CORPORATIVA: ANLISE DAATUAO DO COMIT DE AUDITORIA
6 REVISTA DO CRCRS
7 REVISTA DO CRCRS
RESUMOA Governana Corporativa compreende uma metodologia que
visa longevidade das organizaes. No Brasil, surgiu h pouco mais de
uma dcada, sendo criado primeiramente o Instituto Brasileiro de
Conselhos de Administrao (IBCA), passando a denominar-se, a seguir,
como Instituto Brasileiro de Governana Corporativa (IBGC). Nesse
contexto, o Comit de Auditoria tem se destacado como um rgo de
controle principalmente na adoo das melhores prticas de Governana
Corporativa. Este artigo tem como objetivo principal identificar a atuao e
o funcionamento do Comit de Auditoria no contexto da Governana
Corporativa em uma indstria no ramo metalrgico. A pesquisa realizada
caracteriza-se como aplicada, descritiva e qualitativa. A partir da entrevista
com um membro do Comit de Auditoria foi possvel identificar a forma de
atuao desse rgo na empresa pesquisada. O entrevistado graduado
em Cincias Contbeis e Administrao e exerce a atividade de auditor. Por
ser uma pesquisa de carter qualitativo, foram analisados de forma
comparativa os principais quesitos relacionados ao funcionamento do
Comit de Auditoria em relao s recomendaes do IBGC. Em sntese,
como concluso foi identificado que o Comit de Auditoria da empresa
em estudo atua de forma exemplar ao que est previsto no respectivo
manual do IBGC.
PALAVRAS-CHAVE: Governana Corporativa. Comit de Auditoria. Atuao do Comit de Auditoria.
NEUSA TERESINHA BALLARDIN MONSER
Contadora. Professora do curso de Cincias Contbeis do Centro
Universitrio Metodista do IPA.
VIVIANE OLIVEIRA DE AZAMBUJA
Bacharel em Cincias Contbeis, Centro Universitrio Metodista
do IPA.
8 REVISTA DO CRCRS
1 INTRODUO
A Governana Corporativa surgiu no
Brasil h pouco mais de uma dcada. No
princpio, a organizao que a institucionali-
zou era denominada Instituto Brasileiro de
Conselhos de Administrao (IBCA), o qual,
aps contnuas reflexes sobre a sua atuao,
passou a chamar-se Instituto Brasileiro de
Governana Corporativa (IBGC). Ao longo
desse tempo, tem ampliado sua atuao para
diversos estados, entre eles o Rio Grande do
Sul, que sedia o Captulo Sul do IBGC.
A organizao que optar pelas boas
prticas de Governana Corporativa adota
uma gesto pautada por transparncia,
prestao de contas, equidade e responsabili-
dade corporativa. Nesse contexto, o Conselho
de Administrao, como rgo deliberativo,
desempenha um papel fundamental na
conduo do sistema de Governana Corpora-
tiva. O Conselho de Administrao deve
exercer seu papel, estabelecendo estratgias
para a organizao, elegendo o principal
executivo, fiscalizando e avaliando o desempe-
nho da gesto e escolhendo a auditoria
independente. Um dos organismos que
contribui para a consecuo adequada da
atividade desse conselho o Comit de
Auditoria, que se constitui de um rgo de
apoio, com funes especficas, orientadas
pelo IBGC.
Considerando o exposto, este estudo
busca responder seguinte questo de
pesquisa: Qual a atuao do Comit de
Auditoria no contexto da Governana Corpo-
rativa em uma indstria? Portanto este
trabalho tem por objetivo principal identificar
a atuao e o funcionamento do Comit de
Auditoria, no contexto da Governana
Corporativa, em uma indstria. Foram
determinados os seguintes objetivos especfi-
cos: a) descrever a regulamentao do Comit
de Auditoria conforme o IBGC; b) verificar o
funcionamento do Comit de Auditoria na
empresa em estudo; e c) analisar de forma
comparativa a regulamentao do Comit de
Auditoria, segundo o IBGC e a prtica adotada
na empresa.
O motivo da escolha do tema, bem
como a sua relevncia na economia atual,
deve-se ao fato de que a Governana Corpora-
tiva um assunto de destaque em estudos e em
anlises de mercado. Esse tema relevante
pela importncia da perenidade das empresas
ou organizaes. Segundo o Instituto Brasilei-
ro de Governana Corporativa (2006), deve-se
criar um conjunto eficiente de mecanismos,
tanto de incentivos quanto de monitoramento,
a fim de assegurar que o comportamento dos
executivos esteja sempre alinhado com o
interesse dos acionistas. Dada a sua relevn-
cia, o tema possibilita a contribuio na gesto
das organizaes.
2 REFERENCIAL TERICO
A seguir, so apresentados os funda-
mentos tericos que embasaram o presente
estudo.
2.1 FUNDAMENTOS DA GOVERNANA
CORPORATIVA
Ser apresentado um breve histrico
sobre os fundamentos da Governana Corpo-
rativa no Brasil. Segundo Andrade e Rossetti
(2007), a Governana Corporativa surgiu em
1991, criada pela Organizao para a Coopera-
o e Desenvolvimento Econmico (OCDE),
pelo Fundo Monetrio Internacional (FMI), 1pelo Banco Mundial e pelo G7 . Vista
1 Os pases integrantes do grupo G7 so Alemanha, Canad, Estados Unidos, Frana, Itlia, Japo e Reino Unido. No momento denomina-se G8, com a entrada da Rssia.
9 REVISTA DO CRCRS
como base concreta para o crescimento
econmico, a ligao do controle dos riscos dos
investimentos e a conexo global dos merca-
dos determinam o desenvolvimento sustent-
vel em suas trs categorias: econmica,
ambiental e social.
Segundo o Conselho Regional de
Contabilidade do Rio Grande do Sul (2011), a
globalizao da Governana Corporativa se
deu na adoo pelos maiores fruns econmi-
cos mundiais e em suas consideraes, como o
pronunciamento do Comit das Organizaes
Patrocinadoras (COSO The Committee of 2
Sponsoring Organizations Report) , que
uma metodologia para estruturar e avaliar um
sistema de controles internos integrados, com
uma postura de identificar, detectar e reagir
aos riscos de um negcio.
Na atualidade, boas prticas de Governana
Corporativa levam aos preceitos de controles
internos e gerenciamento de riscos que
implantados e em funcionamento auxiliam a
contabilidade e a auditoria com informaes
corretas, de qualidade e asseguradas que so
imprescindveis para o desenvolvimento da
entidade. (CONSELHO REGIONAL DE
CONTABILIDADE DO RIO GRANDE DO SUL,
2011, p. 21).
Analisando o mercado de hoje, a
Governana Corporativa define-se no poder de
controle e direo de uma entidade. Conforme o
CRCRS (ibidem), com a evoluo da economia
brasileira, ter uma boa Governana Corporativa
se tornou primordial, pois aprimorar a
transparncia, melhorar a gesto e a imagem da
empresa, permitir o alinhamento entre os
acionistas e executivos e facilitar o acesso ao
capital essencial para a continuidade e o
sucesso da empresa no mercado, sem esquecer
o respeito sociedade, ao meio ambiente e ao in-
teresse social. Segundo Machado (2006, p. 80),
A aplicao do conceito de Governana
Corporativa trata dos mecanismos externos e
internos para alinhamento de interesses entre
os gestores e os acionistas, que desejam maior
transparncia entre si e os gestores e equidade
entre as partes acionrias minoritrias e
majoritrias.
De acordo com o Cdigo das Melhores
Prticas de Governana Corporativa (INSTI-
TUTO BRASILEIRO DE GOVERNANA
CORPORATIVA, 2009), o Conselho da
Administrao encarregado do processo de
deciso de uma organizao em relao ao seu
direcionamento estratgico, ou seja, recebe
poderes dos scios e tem que prestar contas a
eles. Segundo o mesmo cdigo, o Conselho
Fiscal responsvel por fiscalizar os atos dos
administradores e verificar o cumprimento
dos seus deveres legais e estatutrios, tais
como: opinar sobre os relatrios da adminis-
trao, constando o seu parecer Assembleia
Geral; analisar os balancetes e as demons-
traes financeiras trimestralmente; exami-
nar as demonstraes financeiras, entre outras
responsabilidades.
De acordo com o Instituto Brasileiro de
Governana Corporativa (2006), o trajeto da
Governana Corporativa nos ltimos tempos
pode ter sido silencioso, mas no foi esquecido
nem interrompido. A governana tem marcos
legais, contudo muitas vezes so aes
espontneas e sem exigncias da lei, que juntas
buscam a valorizao para as organizaes e o
fortalecimento do mercado de capitais.
Quando o investidor conhece as vantagens da
governana, ele toma as decises por meio
dela. As boas prticas de Governana
Corporativa j questionavam anteriormente,
por volta dos anos 60 e 80, o papel do Con-
selho da Administrao e do comportamen-
to entre controladores, gestores e acionistas
2 O COSO Report uma entidade sem fins lucrativos, dedicada melhoria dos relatrios financeiros por meio da tica, efetividade dos controles internos e Governana Corporativa (COSIF, 2012).
10 REVISTA DO CRCRS
minoritrios (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GOVERNANA CORPORATIVA, 2006, p.
59). Ou seja, as boas prticas de Governana
Corporativa j eram uma preocupao h
tempos atrs, na ligao entre controladores,
gestores e acionistas minoritrios com o
Conselho de Administrao.
Conforme Silveira (2006), Governana
Corporativa o conjunto de mecanismos que
visam a aumentar a probabilidade de os
fornecedores de recursos garantirem para si o
retorno sobre seu investimento. De acordo
com Lodi (2000), Governana Corporativa
um novo nome para o sistema de relacio-
namento entre acionistas, auditores inde-
pendentes e executivos da empresa, liderados
pelo Conselho de Administrao.
2.2 CDIGO DAS MELHORES PRTICAS DE
GOVERNANA CORPORATIVA
O referido cdigo teve vrias verses,
uma dando origem outra, com mltiplas assi-
milaes do que estava acontecendo. Segundo
o Instituto Brasileiro de Governana Corpora-
tiva (2006), o Cdigo das Melhores Prticas
de Governana Corporativa teve sua primeira
edio lanada em 1999. Observando as novas
mudanas nos Estados Unidos e na Europa, o
IBGC conseguiu rapidamente absorver os con-
ceitos internacionais da moderna Governana
Corporativa. Entre 1999 e 2005 houve trs ver-
ses do Cdigo de Governana Corporativa do
IBGC:
A primeira edio concentrou-se no Conselho
de Administrao, pois na poca seu funciona-
mento, sua composio e atribuies eram
refletidos claramente, e foi elaborado sobre a
lei das Sociedades Annimas vigente, com isso
podemos dizer que a primeira face teve duas
concepes uma tradicional ou formal e a outra
moderna, ou seja, atuante. (ibidem, p. 61).
Observando-se o cdigo, havia lacunas
quanto proteo aos acionistas minoritrios,
conforme se aprofundava a evoluo da Gover-
nana; portanto havia necessidade de adapta-
es. Em abril de 2001, a segunda verso do
Cdigo das Melhores Prticas recomendou o
pagamento do tag along extenso do prmio
de controle aos acionistas preferencialistas ,
mostrando o amadurecimento do mercado (ibi-
dem). Mesmo sem a exigncia da lei, as empre-
sas comearam a oferecer o benefcio aos mino-
ritrios. O cdigo tambm ofereceu argumen-
tos tcnicos e princpios slidos aos diferentes
acionistas.
Em maro de 2004, houve a terceira
edio do cdigo, com novos e importantes
avanos (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GOVERNANA CORPORATIVA, 2006). Ele
ressalta que a melhor maneira de distribuir o
prmio de controle a oferta prvia em bolsa
de valores, adotada em alguns mercados
desenvolvidos. Pelo sistema, para comprar
mais de 30% de uma empresa, preciso lanar
uma oferta ao mercado, j incorporado o valor
do prmio de controle, que passa a ser
distribudo entre todos os acionistas. um
sistema mais transparente, adotado especial-
mente em mercados do modelo anglo-saxo,
onde as empresas tm estrutura pulverizada.
Em pouco tempo, o cdigo equilibrou
todos os tipos de sociedade por aes de
capital aberto ou fechado, limitadas ou civis,
com o intuito de aumentar o valor da compa-
nhia e contribuir para sua perenidade. Um
leque de oportunidades foi aberto para o
crescimento e o desenvolvimento da Go-
vernana Corporativa e foi tambm uma
influncia construtiva para o IBGC nas
organizaes que tm um passado importan-
te e que renem todos os atributos para um
futuro ainda melhor.
11 REVISTA DO CRCRS
2.3 O PAPEL DA AUDITORIA INDEPENDENTE NA
GOVERNANA CORPORATIVA
A auditoria exerce um papel importan-
te no contexto da Governana Corporativa,
pois, entre outras atividades, analisa e verifica
as demonstraes e as normas exigidas no
pas. Segundo Andrade e Rossetti (2007), a
responsabilidade primordial da auditoria
independente dentro da Governana Corpo-
rativa analisar as demonstraes contbeis
das empresas, verificando se esto de acordo
com as leis exigidas no pas e as internacionais,
e se refletem a realidade da empresa quanto
aos resultados e s variaes patrimoniais.
Essas responsabilidades so de interesse dos
proprietrios, do Conselho de Administrao e
de seu Comit de Auditoria; analistas e
investidores do mercado de capitais tambm
buscam essas informaes.
No Brasil, a Auditoria Independente
destacada na Lei das Sociedades Annimas,
Lei n 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e em
respectivas alteraes, que observaram as
normas emitidas pela Comisso de Valores
Mobilirios (CVM) e obrigatoriamente au-
ditadas por auditores independentes registra-
dos na mesma comisso.
Outra parte importante do trabalho dos
auditores independentes revisar e avaliar os
controles internos da organizao, com isso
emitir um relatrio especfico com melhorias e
aperfeioamento. A organizao, se quiser, pode
contratar outros servios de auditoria externa
independente para informaes no finan-
ceiras. (INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVER-
NANA CORPORATIVA, 2009, p. 59).
No Quadro 1, a seguir, so apresentadas
as exigncias para contratao da auditoria
independente. Pode-se notar que, para um bom
desempenho da auditoria independente, alm
da segurana dos administradores e da
confiana dos investidores, h trs aspectos
importantes: 1) a independncia em relao
empresa e a ausncia de conflitos de interesse;
2) a rotatividade; e 3) a competncia tcnica e a
atualizao. Todos esses aspectos so exigidos
pela CVM em instrues normativas.
FONTE: Andrade e Rossetti (2007 p. 268).
Quadro 1 Exigncias para a contratao da auditoria independente
Ausncia de quaisquer outras relaes de trabalho com a companhia, no apenas as relacionadas com o ambiente de auditoria e de fiscalizao, mas tambm com quaisquer outras formas de consultoria e assessoria.
Preferencialmente, recomendvel que seja baixa a dependncia financeira em relao companhia auditada.
Mesmo nos pases em que no estejam definidas normas quanto a este aspecto, recomendvel que a contratao seja por prazo determinado. A renovao de contrato estar tambm sujeita a critrios rigorosos quanto independncia, capacitao e avaliao dos trabalhos.
Competncia tcnica necessariamente certificada por rgo externo de controle. Exemplos: Instituto dos Auditores Independentes, no Brasil.
Sintonia com as mudanas na lei, nas instituies normativas, nos tratamentos contbeis alternativos e nos instrumentos mais eficazes de verificao.
EXIGNCIAS
Independncia profissional
Independncia financeira
Rotatividade
Capacitao
Atualizao
QUESITOS
12 REVISTA DO CRCRS
No Quadro 2, apresentam-se as principais funes da auditoria independente, as quais
devem ser observadas na execuo dos trabalhos. Pode-se notar que, para um bom desenvolvi-
mento da auditoria independente, h quatro funes importantes: 1) verificao de conformidade;
2) atualizao quanto a erros e irregularidades; 3) avaliao dos controles; e 4) indicao de
preocupaes relevantes. Todas essas funes so exigidas para desempenhar um bom trabalho.
Segundo o IBGC (2009), as normas profissionais que tratam sobre a rotatividade da
auditoria, alm de terem um perodo predefinido, precisam ser renovadas aps o prazo mximo de
cinco anos e devem ser submetidas aprovao da maioria dos scios presentes em assembleia
geral. Se aps cinco anos o servio for recontratado, o Conselho de Administrao/Comit de
Auditoria deve confirmar que o auditor independente promova a rotao dos profissionais-chave
da equipe.
O auditor no pode auditar seu prprio trabalho nem realizar trabalhos de consultoria para a organizao que
auditar. Para evitar conflitos de interesses e nem colocar em dvida a independncia do auditor o Comit de
Auditoria ou, na ausncia, o Conselho de Administrao deve ter cincia de todos os servios incluindo os
honorrios. Os auditores independentes no podem depender financeiramente da empresa auditada. (ibidem,
p. 60).
Anualmente, o auditor independente deve assegurar sua independncia em relao
organizao, isso feito por escrito ao Comit de Auditoria ou, na sua ausncia, ao Conselho de
Administrao.
2.4 FUNO DO CONSELHO DE ADMINISTRAO
Tanto o Conselho de Administrao quanto o Comit de Auditoria so elementos que
compem a gesto de organizaes que instalam a Governana Corporativa. Para fins de compre-
enso da sua funo, so tratados nesse contexto. De acordo com o Instituto Brasileiro de
Fonte: Andrade e Rossetti (2007, p. 268).
Quadro 2 Funes da auditoria independente
Verificar se as demonstraes financeiras elaboradas pela Diretoria Executiva expressam corretamente a realidade e a evoluo da companhia.
Recomendar administrao procedimentos para correo de erros ou irregularidades contbeis.
Avaliar a qualidade dos controles internos, especialmente quanto sua confiabilidade e sua capacidade preventiva em relao a fraudes.
Reportar ao Comit de Auditoria ou, em sua ausncia, ao Conselho de Administrao os riscos relacionados a tratamentos contbeis, discordncias quanto a mtodos e a critrios adotados pela companhia e deficincias relevantes.
FUNES
Verificao de conformidade
Atualizao quanto a erros e irregularidades
Avaliao dos controles
Indicao de preocupaes relevantes
QUESITOS
13 REVISTA DO CRCRS
Governana Corporativa (2009, p. 29), o Con-
selho de Administrao consiste em:
rgo colegiado do processo de deciso de uma
organizao em relao ao seu direcionamento
estratgico, o principal componente do
sistema de governana. Seu papel ser o elo
entre a propriedade e a gesto para orientar e
supervisionar a relao desta ltima com as
demais partes interessadas.
Segundo Andrade e Rossetti (2007), o
Conselho de Administrao o rgo guardio
dos interesses dos proprietrios. Isso o
mesmo que afirmar que um rgo de carter
forte, dotado de poderes adquiridos da
Assembleia Geral, em torno do qual giram os
demais rgos da administrao. Entre suas
funes, cabe destacar sua ligao fiduciria
entre a propriedade e a Diretoria Executiva,
no monitoramento de todo um conjunto de
riscos de gesto e de conflitos e custos de
agncia. Assim, o Conselho de Administrao
torna-se a mais importante fora interna de
controle das corporaes, dando o tom de seu
envolvimento com a gesto. Define em
regimento a sua misso e os seus papis,
estabelecendo regras para suas formas
de atuao.
Conforme Steinberg (2003), o Con-
selho de Administrao deve ter pleno
conhecimento dos valores da empresa, dos
propsitos e das crenas dos scios e zelar pelo
seu aprimoramento. Deve ainda prevenir e
administrar situaes de conflitos de interes-
ses ou de divergncia de opinies, a fim de que
o interesse da empresa sempre prevalea.
2.5 COMIT DE AUDITORIA
De acordo com Andrade e Rossetti
(2007), o Comit de Auditoria foi destacado
como o elemento forte dos sistemas de
controle, conforme o Relatrio Cadbury de
1992, mostrando assim a sua importncia. a
autoridade para investigar qualquer assunto
em sua rea de responsabilidade, os recursos
para desenvolver investigaes, para o total
acesso s informaes e a fim de assegurar que
os pontos de preocupao no deixaram de ser
solucionados. O comit poder recorrer a
profissionais externos, como peritos com
experincia reconhecida, para participar de
suas reunies.
Conforme o Instituto dos Auditores
Independentes do Brasil (IBRACON, 2012), o
Comit de Auditoria uma ferramenta que
auxilia, apoia e acompanha a contabilidade e
as finanas. De forma independente, oferece
um grau de segurana, por meio de profissio-
nais qualificados.
Segundo Andrade e Rossetti (2007, p.
265), as funes tradicionalmente atribudas a
esse rgo de governana so:
1 Superviso da integridade e da qualidade das
prticas contbeis e dos demonstrativos
convencionais de resultado.
2 Verificao da conformidade dos atos da
administrao em relao ao ordenamento legal
e aos estatutos sociais.
3 Orientao das relaes da companhia com
os analistas, os mercados e os investidores.
4 Levantamento e anlise de riscos vitais.
Os autores complementam informan-
do que o mundo corporativo e os mercados
norte-americano e europeu fazem parte do
Comit de Auditoria desde o seu incio, tanto
que nos Estados Unidos se tornou obrigatrio,
para as companhias abertas e as sediadas no
exterior.
No Brasil h uma controvrsia referente ao
Comit de Auditoria que atende as exigncias da
Sarbanes-Oxley, a Securities and Exchange
Commission (SEC) levou a duas posies: de um
lado os que concordam em aceitar o Conselho
Fiscal (eleito pela Assembleia Geral), em substi-
tuir o Comit de Auditoria (eleito pelo Conselho
de Administrao) com isso poupariam custos e
respeitariam as limitaes das empresas brasi-
leiras. Por outro lado h os que discordem, ale-
gando que com isso se abra uma lacuna no
monitoramento da estratgia corporativa.
(ibidem, p. 266).
No Quadro 3, so apresentados os prin-
cipais quesitos para a constituio do Comit
de Auditoria. Pode-se notar que o Comit de
Auditoria exige na constituio de seus mem-
bros uma qualificao ampla dos negcios da
companhia, uma familiaridade com as nor-
mas, experincia em gerenciamento de risco,
proatividade na comunicao com o Conselho
de Administrao e, acima de tudo, indepen-
dncia, transparncia e franqueza.
A seguir, no Quadro 4, so evidencia-
das as funes e as responsabilidades do Comi-
t de Auditoria. Pode-se notar que o Comit de
Auditoria um rgo com origens e atribui-
es distintas. Reconhece-se claramente a
necessidade do Conselho Fiscal para que possa
efetivamente preencher as exigncias legais
estabelecidas no mercado dos Estados Unidos.
14 REVISTA DO CRCRS
Fonte: Andrade e Rossetti (2007, p. 267).
Quadro 3 Constituio do Comit de Auditoria
CONSTITUIO: QUALIFICAO DOS MEMBROS
Amplo conhecimento dos negcios da companhia.
Familiaridade com normas contbeis, de elaborao de relatrios financeiros e de auditoria.
Experincia em sistemas de gerenciamento de risco.
Independncia, transparncia e franqueza.
Proatividade na comunicao ao Conselho de Administrao de preocupaes sobre decises de risco.
Quadro 4 Funes e responsabilidades do Comit de Auditoria
FUNES E RESPONSABILIDADES
Avaliar a Auditoria Interna: abrangncia do escopo geral; direcionamento para reas de risco; qualidade dos relatrios; adequao dos recursos; papel na melhoria de processos de gesto e rotinas de trabalho.
Avaliar a Auditoria Independente: qualificaes, experincia e recurso; reviso do escopo, dos nveis de materialidade e dos contedos dos relatrios; nvel de responsabilidade com referncia a informao; sistemas contbeis e de controle a serem revisados; reas de particular interesse, antecipao e identificao de novas exigncias regulatrias; coordenao com os trabalhos da auditoria interna.
Acompanhar e avaliar o ambiente de controle
Definir nveis de aceitao de risco pela companhia.
Atentar para adequao dos controles-chave dos riscos corporativos: estratgicos: concorrncia, suprimentos, clientes; conformidade: legais e regulatrios; contratuais, tecnologia de informao; financeiros e de operaes cambiais; fraudes contbeis e fiscais; meio ambiente; marca, imagem, reputao; segurana pessoal e patrimonial; estruturar programas de gerenciamento de riscos: sistemas de alerta e mecanismos de reduo.
Identificar, avaliar e analisar riscos
Instituir processos e protocolos formais: calendrio anual e extenso das revises.
Examinar, adequar e aprovar as prticas contbeis.
Auxiliar a administrao no entendimento completo das demonstraes.
Identificao de descumprimento e proposio de correes.
Orientar comunicaes com analistas de mercado e investidores.
Orientar a produo de relatrios de interesse especial.
Supervisionar a elaborao de relatrios financeiros
Fonte: adaptado de Andrade e Rossetti (2007, p. 267).
15 REVISTA DO CRCRS
Segundo o Instituto Brasileiro de
Governana Corporativa (2009), o comit
deve agir no sentido de operacionalizar os
deveres e as responsabilidades da funo de
superviso da gesto dos processos internos
e assegurar a integridade e a efetividade dos
controles internos para a produo de
relatrios financeiros, visando a proteger
interesses de acionistas e outras partes
interessadas. O objetivo do comit assegu-
rar ao Conselho de Administrao o controle
sobre a qualidade dos demonstrativos fi-
nanceiros e controles internos que asse-
guram a sua confiabilidade, bem como
para a identificao e a gesto de riscos
da organizao.
Pereira e Werneck (2006 apud
OLIVEIRA; NIYAMA; OLIVEIRA, 2009, p.
6) definem o Comit de Auditoria como um
grupo independente e qualificado, preferen-
cialmente externo companhia que contribui
para a gesto da mesma no acompanhamento
e avaliao das prticas de gesto, padres de
conduta, informes financeiros e controles
internos.
Na Instruo Normativa CVM 509 de
2011 que altera a IN CVM 308, de 2004 ,
no art. 31, importante destacar que a
empresa auditada possua o Comit de
Auditoria Estatutrio (CAE), que deve ser
previsto no estatuto da companhia:
ser rgo de assessoramento vincu-
lado diretamente ao Conselho de
Administrao;
reunir-se sempre que necessrio, mas
no mnimo bimestralmente, de forma
que as informaes contbeis sejam
sempre apreciadas antes de sua
divulgao;
possuir regimento interno prprio,
aprovado pelo Conselho de Adminis-
trao, que preveja detalhadamente
suas funes, bem como seus proce-
dimentos operacionais;
possuir coordenador, cujas atividades
devem estar definidas no regimento
interno;
possuir meios para receber denncias,
inclusive sigilosas, internas e externas
companhia, em matrias relaciona-
das ao escopo de suas atividades; e
possuir autonomia operacional e
dotao oramentria, anual ou por
projeto, dentro de limites aprovados
pelo conselho de administrao para
conduzir ou determinar a realizao
de consultas, avaliaes e investiga-
es dentro do escopo de suas ativida-
des, inclusive com a contratao e
utilizao de especialistas externos
independentes.
Segundo a Comisso de Valores
Mobilirios (2011),
As reunies do CAE devem ser registradas em
atas, o coordenador acompanhado de outros
membros quando necessrio ou conveniente
deve:
I reunir-se com o conselho de administrao,
no mnimo, trimestralmente; e
II comparecer assembleia geral ordinria da
companhia. (COMISSO DE VALORES
MOBILIRIOS, 2011).
A Resoluo 3.198-2004, do Conselho
Monetrio Nacional (CMN), em relao ao
Comit de Auditoria, determina:
Art. 17. O comit de auditoria deve elaborar, ao
final dos semestres findos em 30 de junho e 31
de dezembro, documento denominado relatrio
do Comit de Auditoria contendo, no mnimo,
as seguintes informaes:
I - atividades exercidas no mbito de suas
atribuies, no perodo;
II - avaliao da efetividade dos sistemas de
controle interno da instituio, com nfase no
16 REVISTA DO CRCRS
cumprimento do disposto na Resoluo 2.554,
de 24 de setembro de 1998, e com evidenciao
das deficincias detectadas;
III - descrio das recomendaes apresentadas
diretoria, com evidenciao daquelas no aca-
tadas e respectivas justificativas;
1 O comit de auditoria deve manter dispo-
sio do Banco Central do Brasil e do conselho
de administrao da instituio o relatrio do
comit de auditoria, pelo prazo mnimo de cinco
anos, contados de sua elaborao.
2 O comit de auditoria deve publicar, em con-
junto com as demonstraes contbeis semes-
trais, resumo do relatrio do comit de audito-
ria, evidenciando as principais informaes con-
tidas naquele documento.
3 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
A seguir so apresentados os procedi-
mentos metodolgicos os quais embasaram a
realizao da pesquisa com a finalidade de
atingir o objetivo deste estudo. Segundo Beu-
ren (2004), os procedimentos na pesquisa
cientfica referem-se maneira pela qual se
conduz o estudo e, portanto, se obtm os
dados. Assim, este estudo classifica-se como:
quanto natureza, aplicada; quanto aos obje-
tivos, descritiva; quanto abordagem do pro-
blema, qualitativa; e quanto aos procedimen-
tos, estudo de caso.
Quanto natureza, este estudo se
caracteriza como uma pesquisa aplicada, pois
requer determinadas teorias ou leis mais
amplas como ponto de partida, e tem por obje-
tivo pesquisar, comprovar ou rejeitar hipte-
ses sugeridas pelos modelos tericos e fazer a
sua aplicao s diferentes necessidades huma-
nas (OLIVEIRA, 1997).
Quanto ao objetivo, esta uma pesqui-
sa descritiva, que, para Gil (2010), tem como
foco a descrio das caractersticas de deter-
minada populao, ou seja, estudar um deter-
minado grupo.
Conforme Oliveira (1997), o trabalho
descritivo procura abranger aspectos gerais e
amplos de um contexto social, como: salrio e
consumo, mo de obra ativa, populao econo-
micamente ativa, situao social, economia e
poltica das minorias e opinies comunitrias,
entre outros, buscando o funcionamento no
presente que ser fundamental para alcanar o
objetivo do trabalho.
Para Oliveira (1997), em relao abor-
dagem do problema, este se caracteriza como
pesquisa qualitativa, pois no emprega dados
estatsticos como centro do processo de anli-
se de um problema e no tem a pretenso de
numerar ou medir unidades ou categorias
homogneas.
Quanto aos procedimentos, este estudo
consiste em um estudo de caso, devido neces-
sidade de anlise aprofundada e da compreen-
so das informaes por meio de mltiplas fon-
tes de dados. De acordo com Gil (2010, p. 37),
O estudo de caso uma modalidade de pesquisa
amplamente utilizada nas cincias biomdicas e
sociais. Consiste no estudo profundo e exausti-
vo de um ou poucos objetos, de maneira que per-
mita seu amplo e detalhado conhecimento, tare-
fa praticamente impossvel mediante outros
delineamentos j considerados.
Furast (2007) aponta que, nesse tipo
de pesquisa, feito um estudo exaustivo de
algum caso em particular, de pessoa ou de ins-
tituio, para analisar as circunstncias espe-
cficas que o envolvem.
Como delimitao da pesquisa, esta foi
realizada em uma indstria, localizada na cida-
de de Santa Catarina, sendo entrevistado um
membro do Comit de Auditoria. A escolha do
entrevistado parte do pressuposto de ser audi-
tor e ter formao em Cincias Contbeis. Con-
forme Beuren (2004), uma amostra geralmen-
te mais adequada ao processo investigatrio
17 REVISTA DO CRCRS
por apresentar custos reduzidos, maior
rapidez, facilidade no controle e possibilitar
uma anlise mais exata. Beuren (2004 apud
GIL, 1999, p. 65) ressalta que o elemento mais
importante para a identificao de um
delineamento o procedimento adotado para
a coleta de dados.
A coleta de dados foi realizada por meio
de um roteiro de entrevista, sendo realizada
com um membro do Comit de Auditoria da
empresa em estudo. Cita-se como limitao ao
estudo o acesso aos documentos do Comit de
Auditoria da empresa pesquisada, por serem
documentos sigilosos, o que restringiu a
anlise de forma mais ampla.
A tcnica de anlise dos dados utilizada
foi a anlise de contedo. Por ser uma pesquisa
de carter qualitativo, foram analisados de
forma comparativa os principais quesitos
relacionados ao funcionamento do Comit de
Auditoria. Considerando que o roteiro de
entrevista foi estruturado de acordo com
categorias especficas, a apreciao dos dados
obedeceu sequncia destas categorias.
4 RESULTADOS E DISCUSSO DA PESQUISA
Neste tpico so apresentados os
resultados da pesquisa, com base na entrevista
realizada a partir do roteiro.
4.1 APRESENTAO DA EMPRESA
A empresa em estudo uma indstria
fabricante de produtos fundidos e usinados,
constituda por dois scios, em maro de 1938,
localizada no estado de Santa Catarina. Os
scios j se dedicavam a fabricar artefatos de
ferro, utilizando conhecimentos rudimentares
de fundio. Com foco cada vez maior no
negcio de blocos e cabeotes de motor, a
empresa volta a anunciar investimentos de
vulto em 2011, destinados ampliao da
capacidade de produo desses componentes,
bem como a projetos de usinagem, adequaes
tecnolgicas, automao, infraestrutura,
logstica e meio ambiente.
4.2 RESULTADOS DA PESQUISA
A pesquisa foi realizada com o membro
do Comit de Auditoria, o qual formado em
Cincias Contbeis e em Administrao e ps-
-graduado em auditoria. Scio snior de
empresa de auditoria desde 1977, exerce
atividades como: auditoria, consultoria
empresarial, Governana Corporativa,
Conselho Fiscal, Conselho de Administrao e
Comit de Auditoria.
O roteiro de entrevista foi estruturado
com base em cinco categorias, sendo a
primeira que trata sobre os dados da empresa e
do entrevistado; a segunda refere-se
composio do Comit de Auditoria; a terceira,
sobre a atuao do Comit de Auditoria; a
quarta, sobre as reunies do Comit; e a
quinta, sobre o relacionamento do Comit com
as partes. O roteiro composto por 32
questes, com uma mdia de seis questes
para cada categoria.
A seguir so apresentados os resulta-
dos da segunda a quinta categoria, pois a
primeira j foi abordada no item anterior.
4.2.1 COMPOSIO DO COMIT DE AUDITORIA
O Comit de Auditoria faz parte da
empresa desde 2007, sendo composto de trs
membros que tenham comprovado conheci-
mento nas reas de Contabilidade, Auditoria
e Finanas (pelo menos um dos membros),
18 REVISTA DO CRCRS
alm de reunir experincia em Gesto de Ris-
cos de Negcios. O entrevistado afirmou
desempenhar a funo de coordenador do
comit.
O Comit de Auditoria da empresa pos-
sui regimento interno, aprovado pelo Conse-
lho de Administrao e contemplando as com-
petncias e responsabilidades do comit, as
diretrizes para o seu funcionamento, a fre-
quncia das reunies e a forma de apresenta-
o dos relatrios dos resultados de sua atua-
o. Este deve ser periodicamente revisado e
divulgado a todas as partes interessadas da
organizao.
A empresa no possui Comit de Audi-
toria Estatutrio (CAE), mas o entrevistado
apontou que este serviria para assessoramen-
to diretamente vinculado ao Conselho de
Administrao da companhia, com a compo-
sio e as competncias fixadas no regimento
interno. Ainda informou que ao CAE compe-
te: supervisionar a efetividade dos controles
internos; supervisionar a efetividade dos
auditores independentes; e examinar os fatos
relevantes. Outro questionamento feito foi
referente formao de cada membro do
CAE. O entrevistado respondeu que a forma-
o preferencial de Cincias Contbeis, j
que finanas, contabilidade e auditoria so as
principais reas.
A segunda categoria do roteiro de
entrevista foi finalizada com respostas objeti-
vas, pelas quais se percebeu a importncia da
formao contbil nesse segmento.
4.2.2 ATUAO DO COMIT DE AUDITORIA
O Comit de Auditoria funciona com
superviso forte e permanente no processo de
elaborao das demonstraes financeiras,
com foco nos controles internos e riscos.
O plano de trabalho do comit estruturado
anualmente, contendo os seguintes itens:
processo de gerenciamento de risco;
demonstraes financeiras e demais
relatrios;
risco de tecnologia da informao;
riscos fiscais, legais e trabalhistas;
relacionamento e monitoramento da
auditoria externa e interna;
controles internos;
aspectos regulatrios;
transaes com partes relacionadas;
relacionamento e comunicao com o
Conselho de Administrao, outros
comits e diretoria;
tempo;
agenda, formalizao e avaliao do
Comit de Auditoria.
Cada membro responsvel pelo
arquivamento e pela organizao de seus
documentos analisados, sejam eles em papel
ou eletrnicos.
Quanto regularidade dos relatrios, o
entrevistado respondeu que mensalmente so
feitas atas, as quais so o instrumento que com-
prova a atuao do Comit de Auditoria, pre-
venindo, mas tambm criando responsabilida-
de para aqueles nela qualificados. O relatrio
do Comit de Auditoria deve: conter atas com
numerao sequencial, data, horrio, local e
presenas; registrar convidados e quem quer
que tenha participado da reunio ou compare-
cido ao recinto, dada a disponibilizao de
documentos confidenciais; referir assuntos tra-
tados, esclarecimentos e novos documentos
solicitados; consignar tambm as recomenda-
es pertinentes e reiterar as solicitaes pen-
dentes de atendimento. Para a finalizao
dessa categoria, foi questionado a quem
encaminhado o relatrio, e o entrevistado
19 REVISTA DO CRCRS
respondeu que encaminhado ao Conselho de
Administrao via intranet, assim todos
sabem das decises do Comit de Auditoria.
Finalizou-se a terceira categoria do
roteiro de entrevista com respostas objetivas,
referentes atuao do Comit de Auditoria
quanto ao seu funcionamento. Foi falado sobre
a estrutura do plano de trabalho do Comit e de
como so arquivados e organizados. Outro
ponto discutido foi a regularidade dos rela-
trios o que deve conter neles e a quem
encaminh-los.
4.2.3 REUNIES DO COMIT
As reunies so realizadas mensalmen-
te, para o controle da atuao do Comit, tra-
tando de assuntos discutidos no dia, com suas
solues e decises. O nmero de reunies
deve ser determinado de acordo com o volume
e a complexidade dos assuntos a serem exami-
nados pelo Comit. Deve ser suficiente para
permitir aos conselheiros a produo de rela-
tos e recomendaes para o Conselho de Admi-
nistrao com conhecimento da situao da
organizao. Como consequncia, sugere-se
uma reunio mensal como periodicidade mni-
ma, com a participao de todos os membros
que o comit julgar necessrio.
Finalizou-se a quarta categoria do rotei-
ro de entrevista com respostas objetivas sobre
as reunies do Comit de Auditoria, com que
frequncia acontecia, os assuntos tratados nas
reunies e quais membros devem participar.
4.2.4 RELACIONAMENTO COM AS PARTES
Esta categoria de perguntas tem a
finalidade de evidenciar a forma de como o
Comit de Auditoria se relaciona com as
partes. Para o relacionamento com o Conselho
de Administrao, so feitas reunies de dois
em dois meses. Como integrante do Conselho
de Administrao, o entrevistado tem o
compromisso especial de assegurar e avaliar
continuamente a atitude da administrao
com relao produo de relatrios ntegros e
precisos aos controles internos, cultura de
gesto de riscos e aos aspectos relativos tica
e conduta na organizao.
A Diretoria chamada para as reu-
nies, que devem ser pautadas por recomen-
dar melhorias e apresentar opinies relaciona-
das aos aspectos relativos produo de
informaes para o mercado, aos controles
internos e gesto de riscos.
Para relacionar-se com o Conselho
Fiscal, o Comit de Auditoria realiza duas
reunies por ano. um rgo de acionistas,
instalado pela assembleia para, em seu nome,
exercer a fiscalizao dos deveres legais e
estatutrios dos administradores.
Com a Auditoria Interna, so feitas
reunies todos os meses, relatando questes
controversas ao Comit de Auditoria, especial-
mente aquelas que envolvem, direta ou
indiretamente, a alta administrao da
organizao. O Comit de Auditoria deve
avaliar se a alta administrao utiliza plena-
mente os instrumentos de auditoria interna e
se lhe proporciona o suporte necessrio.
Com a Auditoria Independente so
feitas reunies todos os meses, sob forma de
colaborao e no numa dimenso de presta-
o de contas. Seu principal foco assegurar-
se da efetiva independncia dos auditores no
desenvolvimento de seus trabalhos de reviso
das contas e dos controles internos da
organizao.
E, por fim, sobre o relacionamento
dos rgos de superviso, o entrevistado
20 REVISTA DO CRCRS
respondeu que a empresa pesquisada no tem rgos reguladores e nem de superviso.
Finalizou-se a quinta e ltima categoria do roteiro de entrevista com respostas objetivas
sobre como se d o relacionamento com o Conselho de Administrao, a Diretoria, Conselho
Fiscal, Auditoria Interna, Auditoria Independente e rgos de superviso.
No Quadro 5, sintetiza-se o relacionamento com as partes, conforme regulamento do IBGC.
Quadro 5 Resumo do relacionamento com as partes do Comit de Auditoria
Fonte: a autora (2013)
RELACIONAMENTO CONFORME IBGCCOMIT DE AUDITORIA EMPRESA
Conselho de Administrao
Diretoria
Conselho Fiscal
Auditoria Interna
Auditoria Independente
Periodicamente
Periodicamente
Periodicamente
Periodicamente
Periodicamente
Reunies de dois em dois meses
Chamada para as reunies
Duas reunies por ano
Reunio todos os meses
Reunio todos os meses
A seguir, so apresentadas as concluses e sugestes deste estudo.
5 CONCLUSO
Esta pesquisa teve por objetivo identificar a atuao e o funcionamento do Comit de Audi-
toria no contexto da Governana Corporativa. A empresa pesquisada caracteriza-se como uma
indstria que atua no ramo metalrgico.
A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista com um membro do Comit de Audi-
toria da empresa em estudo. A pesquisa foi orientada por um roteiro de entrevista estruturada, con-
templando as seguintes categorias: a) dados da empresa e do entrevistado; b) composio do Comi-
t de Auditoria; c) atuao do Comit de Auditoria; d) reunies do comit; e e) relacionamento com
as partes.
A seguir so apresentadas as principais concluses a partir do item b:
Composio do Comit de Auditoria: o comit composto por trs membros que tenham
comprovado conhecimento nas reas de contabilidade, auditoria e finanas, alm de reunir
experincia em gesto de riscos de negcios.
Atuao do Comit de Auditoria: o funcionamento do comit na empresa cumprido
com exatido e dedicao, conforme as normas exigidas, superviso forte e permanente
no processo de elaborao das demonstraes financeiras, com foco nos controles
internos e de riscos.
b)
c)
21 REVISTA DO CRCRS
Reunies do Comit: so estipuladas reunies mensalmente para o controle da atuao do
comit, contendo nelas assuntos discutidos no dia com suas solues e decises. O nmero
das reunies determinado de acordo com o volume e a complexidade dos assuntos a
serem examinados pelo comit.
Relacionamento com as partes: o relacionamento com o Conselho de Administrao feito
por meio de reunies de dois em dois meses. J a Diretoria sempre convocada para todas as
reunies. No Conselho Fiscal, so feitas reunies duas vezes no ano, e com a Auditoria Inter-
na e a Auditoria Independente so feitas reunies mensalmente para o controle e o anda-
mento dos assuntos relevantes da empresa.
Considerando que o Comit de Auditoria da empresa pesquisada cumpre com exatido as
normas exigidas, bem como mantm a regularidade de reunies recomendadas com as partes inte-
ressadas previstas no Guia de Orientao para as Melhores Prticas de Comit de Auditoria, do
IBGC , conclui-se que esse comit atua plenamente de acordo com as recomendaes do IBGC.
d)
e)
22 REVISTA DO CRCRS
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23 REVISTA DO CRCRS
A MENSURAO DA COMPOSIO DO VALOR ADICIONADO DAS EMPRESAS PARTICIPANTES DO NOVO MERCADO DA BOVESPA NO CONTEXTO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL
24 REVISTA DO CRCRS
25REVISTA DO CRCRS
RESUMONo contexto da responsabilidade social, a Cincia Contbil ocupa
uma posio privilegiada de ser o agente fornecedor de meios para as
empresas e a sociedade em geral conhecerem as consequncias do
desenvolvimento econmico em relao ao meio ambiente. Os dados
evidenciados por meio da Contabilidade podem ajudar no
acompanhamento das aes organizacionais focadas na preservao do
planeta e na busca do desenvolvimento sustentvel. O foco do presente
estudo abrange a Demonstrao do Valor Adicionado, em relao
evidenciao de como a riqueza gerada pelas companhias foi distribuda
para a sociedade e, tambm, a mensurao de resultados direcionados ao
meio ambiente. O objetivo geral deste trabalho analisar os indicadores e
o comportamento da Distribuio do Valor Adicionado no perodo de 2008
a 2011 das empresas participantes da carteira Novo Mercado da Bovespa e
quais relatrios socioambientais so elaborados. Em termos
metodolgicos, trata-se de um estudo descritivo, documental, com
abordagem quantitativa, por meio da estatstica descritiva e da anlise de
conglomerados. Constatou-se que a elaborao de relatrios
socioambientais est, provavelmente, mais ligada obrigao legal do
que inteno voluntria de fornecer tais informaes. A Demonstrao
do Valor Adicionado ainda mostrou-se como um instrumento capaz de
gerar informaes relevantes quanto identificao das riquezas geradas
pelas empresas, bem como a identificao do retorno quantitativo para a
sociedade, e tambm valores destinados aos colaboradores.
PALAVRAS-CHAVE: Valor adicionado. Responsabi-lidade social. Novo Mercado.
ALEX SANDRO RODRIGUES MARTINS
Contador graduado e especialista em Cincias Contbeis pela Universidade Federal do Rio
Grande (FURG).
ALEXANDRE COSTA QUINTANA
Contador. Doutorando em Controladoria e Contabilidade
pela Universidade de So Paulo (USP), mestre em Administrao
pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor
da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
FLVIA VERNICA SILVA JACQUES
Contadora. Mestre em Cincias Contbeis (Unisinos), especialista
em Gesto Pblica (Faculdade Atlntico Sul). Professora do
Instituto de Cincias Econmicas, Administrativas e Contbeis
(ICEAC) da Universidade Federal do Rio Grande e Coordenadora do
Curso de Ps-Graduao Lato Sensu em Cincias Contbeis.
PAULA ROBERTA PEREIRA COSTA VALLE
Graduanda em Cincias Contbeis pela Universidade Federal do Rio
Grande (FURG).
1 INTRODUO
No atual organograma empresarial, em
mbito mundial, observa-se que as questes
relacionadas com os aspectos sociais e
ambientais esto ganhando cada vez mais
importncia no processo de tomada de
decises. A partir dessa premissa, os gestores
esto procura de ferramentas capazes de
evidenciar a sua responsabilidade social.
Ferraz e Rafael (2012) afirmam que na atual
conjectura do mercado globalizado os proble-
mas ambientais e sociais esto influenciando
no desenvolvimento de novos comportamen-
tos empresariais, assim fo-mentando as
organizaes a pensarem na valorizao da
responsabilidade social corporativa.
Nesse contexto, a Cincia Contbil tem
uma posio privilegiada de ser o agente
fornecedor de meios para as empresas e a
sociedade em geral conhecerem as consequn-
cias do desenvolvimento econmico em relao
ao meio ambiente, e assim os dados evidencia-
dos podem colaborar no acompanhamento das
aes empresariais focadas na preservao do
planeta e na busca do desenvolvimento
sustentvel. As demonstraes contbeis
podem auxiliar no processo de prestao de
contas das organizaes aos seus stakeholders
(usurios). Exemplos disso so o Balano
Social (BS) e a Demonstrao do Valor
Adicionado (DVA), demonstrativos apropria-
dos para o processo de evidenciao de
informaes, no s financeiras, mas tambm
relacionadas com a sustentabilidade, aos seus
interessados (MARETH; SALVALAIO;
RIBEIRO, 2010).
A responsabilidade social tem sido
abordada por vrios pesquisadores em seus
artigos, dissertaes e teses, demonstrando a
importncia desse tema na atual vertente das
pesquisas cientficas contemporneas.
Podem-se citar os seguintes trabalhos na rea:
Macedo et al. (2011) tiveram o objetivo de
evidenciar a reputao corporativa, a partir da
identidade da imagem associada e a imagem
desejada da Celpe (Companhia de Energia
Eltrica do Nordeste), quanto aos aspectos da
responsabilidade social corporativa (RSC), por
intermdio da viso dos usurios internos e
externos inseridas no contexto da organizao.
J Carvalho et al. (2011) procuraram estudar as
prticas gerenciais de responsabilidade social
trabalhadas nas indstrias da cidade de
Sousa/PB. Dantas, Garcia e Targino (2012)
trabalharam com a conceituao em torno da
expresso responsabilidade social da Cincia
da Informao, fomentando discusso terica
acerca dessas temticas.
Nessa mesma linha encontra-se o
trabalho de Snchez-Fernndez (2012), que
buscou um enquadramento terico ao analisar
e correlacionar os fundamentos tericos da
teoria institucional e a RSC, baseando-se na
literatura acadmica relacionada.
No mbito da Contabilidade, Freitas,
Pfitscher e Filho (2012) trabalharam num
estudo para verificar, em empresa de servios
contbeis, a sustentabilidade ambiental e a
responsabilidade social voluntria, utilizando
de forma parcial o Sistema Contbil Gerencial
Ambiental (Sicogea) Gerao II.
Magalhes (2011) fez um estudo com o
objetivo de achar solues para um conjunto de
questes sobre a RS e a forma como esta se
encontra integrada na estrutura dos trs
principais times de Portugal Futebol Clube do
Porto, Sporting Clube de Portugal e Sport
Lisboa e Benfica.
A dissertao apresentada por Antunes
e Amorim (2012) teve o objetivo de estudar a
divulgao de informao sobre a RS por parte
de 35 organizaes portuguesas listadas no
26 REVISTA DO CRCRS
Evronext Lisboa, durante o
perodo de 2004 a 2008.
O foco do presente estudo
abrange a Demonstrao do
Valor Adicionado, a qual se
apresenta como um instru-
mento contbil capaz de con-
tribuir no apenas no que
tange mensurao de resul-
tados econmico-financeiros,
mas tambm na evidenciao
de como a riqueza gerada foi
distribuda para a sociedade e
assim possibilitar a mensura-
o de como as organizaes
esto direcionando os seus
resultados ao meio ambiente.
O objetivo geral deste tra-
balho analisar os indicado-
res e o comportamento da
Distribuio do Valor Adicio-
nado no perodo 2008 a 2011
das empresas participantes da
carteira Novo Mercado da
Bovespa e identificar quais os
relatrios socioambientais
so utilizados por essas com-
panhias. Os resultados obtidos
neste estudo podero contri-
buir para futuras pesquisas
na rea e, consequentemente,
na evoluo das pesquisas
contbeis e de responsabili-
dade social.
2 FUNDAMENTAO TERICA
Apresentam-se os concei-
tos referentes responsabili-
dade social, Normas Brasileiras
Contbeis (15) NBC T 15,
Global Reporting Initiative
(GRI), relatrio integrado,
Demonstrao do Valor Adi-
cionado e sobre o Novo
Mercado, para que seja poss-
vel obter um melhor en-
tendimento sobre o estudo
em questo.
2.1 RESPONSABILIDADE
SOCIAL
A responsabilidade social
(RS) teve incio no Perodo
Liberal no sculo XIX, impul-
sionado pela Revoluo In-
dustrial na Inglaterra e nos
Estados Unidos. Nesse pero-
do, a RS era dirigida aos acio-
nistas, maximizao do lucro,
criao de postos de trabalho,
ao pagamento de tributos,
filantropia e ao assistencia-
lismo (TATIM, 2009).
A partir da dcada de
1960 e at os dias atuais, com a
expanso das organizaes, o
crescimento da produo e o
consequente aumento dos
ganhos dos empresrios, as
questes relacionadas a pro-
blemas sociais e ambientais
comearam a ganhar destaque
na mdia e, por conseguinte,
comeou a ser cobrada pela
sociedade a adoo de solu-
es corporativas para esses
problemas. A responsabilida-
de social, dessa forma, come-
ou a ampliar seu conceito, e a
busca por um comprometi-
mento maior entre a empresa
e seus stakeholders passa a
ser o foco na busca pelo
desenvolvimento sustentvel
(ibidem).
A responsabilidade so-
cial, conforme Ferreira (2010),
trabalha com trs preocupa-
es bsicas: a transparncia,
a equidade e a prestao de
contas. Juntas, formam um
alicerce consistente para
implantao da RS de forma
concreta e objetiva pelas
empresas. A RS ainda faz com
que as empresas busquem ir
alm do cumprimento das nor-
mas legais, ou seja, adotem
formas de evidenciar os seus
resultados econmicos junto
com o impacto destes no meio
ambiente.
Trata-se de uma exigncia
da sociedade s organizaes
de modo geral, com o objetivo
de cobrar solues para a pre-
servao do planeta, e tam-
bm uma postura socialmente
responsvel por parte das ins-
tituies, as quais devem estar
pautadas em ideias e aes
concretas, e no apenas em
marketing social (SOARES,
2012).
Para ajudar as compa-
nhias nesse processo, surge o
chamado Triple Bottom Line
(TBL, trip da sustentabilida-
de), o qual tem a finalidade de
auxiliar as organizaes a
implementar e desenvolver
27 REVISTA DO CRCRS
polticas e controles em prol da susten-
tabilidade do planeta. O TBL uma nova
abordagem proposta aos empresrios para
que organizem polticas e aes relacionadas
ao desenvolvimento econmico e conser-
vao ambiental (MITCHELL; CURTIS;
DAVIDSON, 2008).
O TBL, de acordo com Lages, Lages e
Frana (2010), teve como seu mentor o
britnico John Elkington, na dcada de 1990.
Seu trabalho teve ascenso no ano de 1997,
quando o TBL se fundamentou em um
conjunto de princpios, objetivos e processos
que uma empresa deve adotar como meta na
gerao de valores em trs dimenses (econ-
mica, social e ambiental), para que assim haja
um equilbrio nas suas atividades operacionais
sem afetar o meio onde ela est inserida. As
informaes evidenciadas pelo TBL, segundo
Christen et al. (2006), podem ser de grande
valia na elaborao dos relatrios socioambi-
entais e nos demonstrativos contbeis,
portanto tornando-se uma fonte de auxlio na
prestao de contas aos seus usurios.
Com o passar dos tempos, procuraram-
-se instrumentos capazes de evidenciar as
preocupaes sociais e ambientais das
empresas. Uma maneira encontrada a
elaborao do Balano Social (BS).
O disclosure (evidenciao) da
responsabilidade social por parte das organi-
zaes aos seus stakeholders uma exigncia
da sociedade, a qual no pode ser abdicada
pelos empresrios que almejam ter perenida-
de e sucesso nos seus negcios. Uma forma de
concretizar esse pedido por intermdio da
elaborao e divulgao de re-latrios
socioambientais (BALDO, 2002).
A Contabilidade, nesse panorama de
valorizao da responsabilidade social, est
envolvida intrinsecamente nessa vertente e
possui ferramentas contbeis que podem
auxiliar no processo de evidenciao de
informaes sociais e ambientais. O demons-
trativo oportuno para evidenciao de tais
informaes denomina-se Balano Social, o
qual tem capacidade tcnica de fornecer aos
interessados o perfil da organizao tanto do
ponto de vista financeiro como social e
ambiental (CRUZ; AZEVEDO, 2006).
Em 2004, a edio da NBC T 15 veio
para nortear os profissionais contbeis na
elaborao de demonstrativos voltados para
questes sociais e ambientais.
2.2 NBC T 15
O Conselho Federal de Contabilidade
(CFC), por intermdio da NBC T 15 (Informa-
es de Natureza Social e Ambiental), de 6 de
setembro de 2004, aprovada pela Resoluo
n 1.003-04, introduziu a Demonstrao de
Informaes de Natureza Social e Ambiental
para evidenciar os dados e as informaes de
cunho social e ambiental das organizaes,
levantados ou no pela Contabilidade, con-
forme normatizado por essa instruo, com o
objetivo de contribuir para o processo de
sustentabilidade do planeta e desse modo
auxiliar os profissionais da rea contbil a
estarem atualizados s novas expectativas do
mercado (CONSELHO FEDERAL DE
CONTABILIDADE, 2013).
Essa norma enfatiza que as informa-
es de natureza social e ambiental so as
relacionadas com:
a gerao e a distribuio de riqueza;
os recursos humanos;
a interao da organizao com o
ambiente externo;
a interao com meio ambiente.
De acordo com a NBC T 15, os dados
contbeis, expressos na demonstrao, so
28 REVISTA DO CRCRS
a)
b)
c)
d)
de responsabilidade tcnica do profissional contbil devidamente registrado no Conselho Regional
de Contabilidade (CRC), sendo que as informaes no contbeis devem indicar sua fonte de ori-
gem para ter autenticidade. As demonstraes de informao de natureza social e ambiental devem
ser auditadas e publicadas no relatrio do auditor independente, assim como as demonstraes
contbeis obrigatrias. Uma alternativa de evidenciar questes de natureza social e ambiental
pelas empresas (no contemplando as informaes contbeis) so os relatrios elaborados pela
Global Reporting Initiative (GRI).
2.3 GLOBAL REPORTING INITIATIVE
A Global Reporting Initiative (GRI) uma instituio conhecida no mundo inteiro, a qual
trabalha na elaborao de relatrios de sustentabilidade, com o intuito de fornecer informaes
sobre as polticas socioambientais das organizaes perante seus stakeholders (BEUREN;
DOMENICO; CORDEIRO, 2011). Os relatrios gerados pela GRI possuem uma estrutura
pr-definida, e alguns aspectos podem ser observados no Quadro 1:
29 REVISTA DO CRCRS
Quadro 1 Resumo do relacionamento com as partes do Comit de Auditoria
Fonte: Rohenkohl e Kroetz (2008)
QUANTO AOS OBJETIVOS QUANTO METODOLOGIA QUANTO FINALIDADEQUANTO AOS CRITRIOS DE INCLUSO
Trabalha com instrues
padronizadas para
elaborao dos relatrios e
utiliza-se de premissas
preestabelecidas para
elaborao dos relatrios.
As organizaes que se
propuserem a programar
esse documento tm que
seguir os mtodos
propostos pelo GRI, para
que tenha validade.
No h necessidade de
seguir regras ou cumprir
metas conforme exigidos
pelas certificaes ISO para
a obteno do direito de
publicao do Relatrio GRI;
basta apenas se delinear
com as instrues de
preenchimento do relatrio
A finalidade dos relatrios
da Global Reporting
Initiative ajudar no
processo de prestao de
contas das empresas aos
seus usurios internos e
externos nas questes
relacionadas com o lado
social e ambiental.
A verso atual utilizada pelas organizaes do relatrio da GRI o G3, cujo conceito evi-
denciar a transparncia das instituies junto aos seus usurrios (GLOBAL REPORTING
INITIATIVE, 2013). A verso G3 do relatrio de sustentabilidade da Global Reporting Initiative
fomentou um crescimento na ideia de desenvolvimento sustentvel nas empresas e, com isso, a
GRI instalou escritrios locais em vrias partes do mundo, inclusive no Brasil.
Com os avanos tecnolgicos e a globalizao, certos conceitos comearam a ser aprimora-
dos e, seguindo essa mesma tendncia, os relatrios socioambientais necessitavam agregar outras
novas informaes. Assim, o relatrio integrado comea a ser usado por diversas empresas.
2.4 RELATRIO INTEGRADO
O relatrio integrado foi criado pelo International Integrated Reporting Committee (IIRC)
em 2011, com o intuito de criar um documento abrangente para todos os anseios da sociedade
e empresrios envolvidos
direta ou indiretamente no
processo produtivo de cada
organizao (REPORT, 2013).
Esse projeto ter seu
grande impulso em 2013, pois
o objetivo do comit imple-
mentar o relatrio integrado.
Nesse perodo, ser possvel
mensurar a real contribuio
desse documento e realizar os
devidos ajustes e, assim, a
partir de 2014, realizar imple-
mentao do relatrio em
nvel mundial (ibidem).
O objetivo do IIRC, de
acordo com a Fundao Ins-
tituto de Pesquisas Contbeis,
Atuariais e Financeiras
(FIPECAFI, 2013), criar um
relatrio integrado que evi-
dencie informaes econ-
micas, sociais e ambientais em
um s documento, o qual
possa ser lido em qualquer
parte do mundo.
No Brasil, existem quatro
empresas participantes do
programa piloto desse rela-
trio, denominado mundial-
mente como Piloto IIRC
Business Network. So elas
(REPORT, 2013):
AES Brasil;
BNDES;
Natura Cosmticos S/A;
Via Gutenberg.
Para evidenciar a respon-
sabilidade social, as organi-
zaes podem utilizar-se
tambm da Demonstrao do
Valor Adicionado (DVA), pois
esta gera informaes de
como foi distribuda a sua
riqueza gerada pela institui-
o aos seus usurios.
2.4 DEMONSTRAO DO
VALOR ADICIONADO
A Cincia Contbil, com o
auxlio da Demonstrao do
Valor Adicionado (DVA),
dispe aos seus interessados a
possibilidade de conhecer
como a riqueza das empresas
foi distribuda aos seus agen-
tes de produo. Ambrogi
(2007) conceitua o valor
adicionado como sendo o
resultado do produto das
transaes econmicas ocor-
ridas dentro dos limites de
uma companhia, com base no
total das vendas realizadas, e
no do seu processo produtivo
como um todo.
A DVA torna-se um
componente importante no
processo de evidenciao de
sustentabilidade e, junto com
o Balano Social, forma uma
base de demonstrativos con-
tbeis capazes de subsidiar o
processo de tomada de de-
cises dos gestores, consi-
derando no apenas o aspecto
econmico, mas tambm o
social e o ambiental (SILVA,
2010).
A Demonstrao do Valor
Adicionado teve sua origem
no Brasil, pela publicao da
Lei n 11.638-07, tornando
obrigatria para companhias
de capital aberto e facultando
a elaborao para as de capital
fechado. O Conselho Federal
de Contabilidade (CFC)
emitiu a norma NBC TG 09
para auxiliar e incentivar a
elaborao desse demonstra-
tivo. Essa norma orienta sobre
a finalidade, a estrutura e a
elaborao da DVA (ibidem).
A elaborao da DVA,
segundo Santos (2003), deve
ser feita com base nas infor-
maes contidas na Contabili-
dade, as quais podem ser
decorrentes ou no da De-
monstrao do Resultado do
Exerccio (DRE). Cabe sa-
lientar que a DVA no tem
o objetivo de substituir a DRE,
porque a finalidade desta
informar ao acionista como foi
composto o lucro ou prejuzo
do exerccio, j a primeira
demonstra como foi distribu-
da a riqueza gerada para os
seus stakeholders (TINOCO,
2001). De acordo com Moraes
(2008), a DVA no pode ser
confundida com a DRE,
tampouco com a Economic
Value Aded (EVA).
A DVA, alm de demons-
trar como a riqueza foi gerada
e distribuda pela empresa,
pode ser ainda mais til pela
sua complexidade, pois tem a
capacidade de ajudar na
gerao de informaes para o
clculo o Produto Interno
30 REVISTA DO CRCRS
a)
b)
c)
d)
B r u t o ( P I B ) ( S A N T O S ;
HASHIMOTO, 2003).
Para evidenciar a respon-
sabilidade social das empre-
sas, o uso da Demonstrao do
Valor Adicionado apresenta-
-se como uma boa alternativa.
Conforme Corra (2010), esse
demonstrativo tem caracters-
ticas voltadas tanto para o
aspecto econmico, quanto
social e ambiental e, portan-
to, satisfaz a necessidade de
acionistas/empresrios e da
sociedade.
As organizaes a serem
estudadas no trabalho perten-
cem carteira de aes cha-
mada Novo Mercado da
Bovespa, cujo histrico ser
apresentado a seguir.
2.5 NOVO MERCADO
O Novo Mercado um
segmento empresarial para
investimento que foi lanado
em 2000, com o escopo de
gerar um padro de governan-
a diferenciado para fortalecer
o mercado acionrio e, por
conseguinte, diminuir a assi-
metria de informaes entre
controladores, administrado-
res das organizaes e partici-
pantes da Bolsa de Valores
(BM&FBOVESPA, 2013). No
ano de 2002, o Novo Mercado
lanou a primeira lista de
empresas participantes, e a
partir desse marco inicial, ao
passar dos anos, ela tornou-se
um padro em transparncia e
governana exigido pelos
investidores para as novas
aberturas de capital (ibidem).
As principais regras de
funcionamento do Novo
Mercado esto relacionadas
com a estrutura de governan-
a e aos direitos dos acionis-
tas, conforme disposto a
seguir (ibidem):
o capital deve ser com-
posto exclusivamente por
aes ordinrias com di-
reito a voto;
no caso de venda do con-
trole, todos os acionistas
tm direito a vender suas
aes pelo mesmo preo
(tag along de 100%);
em caso de deslistagem
ou cancelamento do con-
trato do Novo Mercado
com a BM&FBOVESPA,
a empresa dever fazer
o fer ta pbl ica para
recomprar as aes
de todos os acionistas
no mnimo pelo valor
econmico;
o Conselho de Adminis-
trao deve ser composto
por no mnimo cinco
membros, sendo 20% dos
conselheiros indepen-
dentes e o mandato m-
ximo de dois anos;
a companhia tambm se
compromete a manter no
mnimo 25% das aes em
circulao (free float);
divulgao de dados fi-
nanceiros mais comple-
tos, incluindo relatrios
trimestrais com demons-
trao de fluxo de caixa e
relatrios consolidados
revisados por um auditor
independente;
a empresa dever dispo-
nibilizar relatrios finan-
ceiros anuais em um
padro internacional-
mente aceito;
necessidade de divulgar
mensalmente as negocia-
es com valores mobili-
rios da companhia pelos
diretores, executivos e
acionistas controladores.
3 METODOLOGIA
O presente estudo carac-
teriza-se como descritivo. De
acordo com Ponte et al.
(2007), o objetivo descrever
as caractersticas de determi-
nada populao ou fenmeno,
estabelecendo relaes entre
as variveis. Assim sendo, o
estudo contribui com uma
viso mais ampla do pro-
blema, neste caso, por in-
termdio da mensurao dos
dados extrados da Demons-
trao do Valor Adicionado do
perodo de 2008 a 2011 das
empresas participantes do
Novo Mercado da Bovespa do
ano de 2012.
31 REVISTA DO CRCRS
32 REVISTA DO CRCRS
Quanto aos procedimentos, uma pesquisa documental, pois analisa a documentao das
companhias envolvidas nesse segmento de mercado. Gil (2002) afirma que este tipo de trabalho
vale-se de materiais que no receberam um tratamento especfico, ou que podem ser estudados
conforme a inteno do estudo, para depois tentar extrair ilaes que possam contribuir
para o estudo.
A abordagem desta pesquisa essencialmente quantitativa, a qual, segundo Martins e
Thephilo (2009), envolve organizar, sumarizar, caracterizar e interpretar dados numricos. Neste
estudo, os dados foram organizados por meio da estatstica descritiva e da anlise multivariada,
para sua interpretao. Em termos descritivos, foi usada a apurao de percentuais e, de forma
multivariada, foi aplicada a anlise de conglomerados, para atingir os objetivos propostos.
A coleta de dados foi realizada com base nos dados da Bovespa, sendo escolhidas as
organizaes participantes da carteira de investimento mais rigorosa da Bovespa, o Novo Mercado
do ano de 2012, com o intuito de estudar o comportamento da Demonstrao do Valor Adicionado
do perodo de 2008 a 2011.
4 ANLISE DE RESULTADOS
A amostra selecionada para a presente pesquisa abrange as organizaes participantes da
carteira de investimento da Bovespa denominada Novo Mercado de 2012. Entre as participantes
estavam 130 empresas de 76 segmentos empresariais diferentes, as quais tm sedes em oito
estados brasileiros.
As informaes apresentadas na Tabela 1, que servem para atingir os objetivos propostos
neste estudo, foram coletadas no site das empresas participantes da carteira de investimento Novo
Mercado de 2012.
Tabela 1 Relatrios socioambientais atualmente utilizados pelas empresas participantes do Novo Mercado da Bovespa de 2012
Fonte: os autores (2013)
Nmero de empresas que
elaboram os documentos citados
Nmero de empresas que no
elaboram os documentos citados
TOTAL
EMPRESAS BALANO SOCIAL MODELO IBASE NBC T 15 GRI RELATRIO INTEGRADO
18
112
130
3
127
130
130
0
130
0
130
130
O relatrio socioambiental mais utilizado pelas empresas participantes do Novo Mercado
da Bovespa o fornecido pelo Global Reporting Initiative (GRI), ou seja, 100% da amostra faz uso
dessa ferramenta para evidenciar as suas prticas sociais e ambientais aos seus stakeholders. J o
Balano Social (Modelo Ibase) a forma de evidenciao de 13,84%, juntamente com os ndices do
GRI. A Demonstrao de Informaes de Natureza Social e Ambiental indicada pela NBC T 15
utilizada por 2,30%, concomitantemente aos
relatrios do GRI. O relatrio integrado no foi
utilizado por nenhuma das instituies do
segmento Novo Mercado da Bovespa de 2012.
A demonstrao contbil utilizada pela
totalidade das empresas, em funo das
exigncias legais, a Demonstrao do Valor
Adicionado, que analisada em conjunto nas
tabelas 2 a 6.
O comportamento da distr