JUBILEU É UMA PAUSA EM MOVIMENTO
EDITORIAL
Esta edição é especial sobre jubileu porque a Arquidiocese de Vitória
celebra 60 anos de criação. As matérias aqui propostas falam muito sobre
descanso e alegria. Mas, jubileu é também um tempo de movimento, ainda
que dentro de momentos celebrativos e até de revisão. Olhar o passado e
projetar-se para o futuro a partir do "agora". O jubileu provoca-nos a um
movimento prático e reflexivo. O que fizemos? Quais os resultados? Quais os
desafios da evangelização hoje? O que faremos?
Preocupações pastorais para o futuro e gratidão pela história, por tantas
vidas dedicadas e doadas, por tantos feitos e por tantas possibilidades.
Neste mês encerramos as comemorações pelos 60 anos! Que elas revigo-
rem as pastorais, os grupos e movimentos eclesiais, os agentes de pastoral,
os padres, o arcebispo e a todos os fiéis desta Igreja Particular.
Boa leitura!
Maria da Luz Fernandes
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ASPAS
ESPIRITUALIDADE
FAZER BEM
ARQUIVO E MEMÓRIA
DIÁLOGOS
26 CATEQUESE
27 MUNDO LITÚRGICO
REPORTAGEM
IDEIAS
45 ACONTECEFique por dentro do que acontece
41 LIÇÕES DE FRANCISCOJubileu: Revolução na Cultura da Misericórdia
37 ECONOMIA POLÍTICAEconomia Biocentrada
34 BULAUm documento histórico
31 ENTREVISTAcom Padre Renato Criste
42 SUGESTÕESVisitar e Conhecer a Nossa História
24
23
20
18
17
14
05
ATUALIDADE11Jubileu é um momento sublime de comunicação
38 DEPOIMENTOSDepoimentos de Dom Paulo e Dom Dario
28 CAMINHOS DA BÍBLIA
MOMENTOS ESPECIAIS NA CAMINHADA DA ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA
REPORTAGEM
vitória | 05
ssim como a terra precisa de descanso para Avoltar a dar frutos, a Arquidiocese de Vitória
fez algumas pausas ao longo de sua história
com o propósito de que novas ações e ideias surgis-
sem possibilitando a colheita de novos frutos. Nestes
60 anos, esses momentos aconteceram tendo como
ponto de partida o Concílio Vaticano II realizado pou-
co tempo depois da criação da Arquidiocese. Estas
pausas tiveram um significado importante para o
rumo tomado pela Igreja Particular de Vitória.
Tendo participado do Concílio Vaticano II, que acon-
teceu entre 1962 e 1965 e lançou as bases para as
reformas da Igreja Católica, em especial na liturgia e
na ação política e social, Dom João Batista da Mota e
Albuquerque, o primeiro Arcebispo Metropolitano de
Vitória, percebeu o desafio que tinha pela frente;
colocar em prática as determinações do Concílio.
Para esta missão ele contou com seu bispo auxiliar,
Dom Luís Gonzaga Fernandes. Ao retornarem para
Vitória ao término do Concílio, Dom João enviou Dom
Luís para Colatina, e lá, como conta a professora do
Centro de Educação da Universidade do Espírito Santo
(UFES) Marlene Cararo, o bispo auxiliar, inquieto sobre
como faria a transmissão das ideias do Concílio, fez
uma segunda “pausa para reflexão” que teve como
fruto a organização dos Concilinhos, encontros e cur-
sinhos para divulgar a nova forma de ser Igreja.
Nesses encontros, explica Marlene – que atuou co-
mo leiga na Igreja de Vitória -, Dom Luís queria popula-
rizar os quatro pilares do Concílio: Igreja povo de Deus,
liturgia a alma da Igreja; o papel do católico no mundo,
sendo “Sal da terra e luz do mundo” (Mt 5,13-16), e o
acesso dos leigos à bíblia. Para cada tema o Concílio
publicou um documento que era estudado nos
Concilinhos.
“Os Concilinhos começaram em Colatina e imedia-
ções, e aconteciam regionalmente com a assessoria
de padres e religiosas, qualificados para traduzir os
documentos resultantes do Concílio. O material de
apoio foi preparado pelo próprio Dom Luís com apoio
de Dom João, e de maneira popular e pedagógica,
traduzia as ideias força do Concílio Vaticano II para
que todos pudessem assimilar”, comenta.
Em Vitória também ocorriam os Concilinhos, com
duração de uma semana e com o conteúdo básico do
Concílio sendo transmitido às lideranças eclesiais da
Arquidiocese.
06 | vitória
REPORTAGEM
Entretanto, as novas ideias encontraram resistência,
em especial nos grupos mais tradicionais, tanto no
interior como na capital.
A funcionária pública aposentada, Teresa Côgo, que
morava em Governador Lindenberg na época, conta
que quando Dom Luís circulava nos distritos e fazen-
das para fazer, com muito jeito, a divulgação das ideias
do Concílio, elas eram aceitas, já que era o bispo quem
estava falando, mas a aplicação prática dessas ideias,
provocaram desentendimentos.
“Lembro que a retirada dos santos dos altares princi-
pais das capelas foi motivo de muita briga. Muitos
fazendeiros que haviam doado as imagens se revolta-
ram e levaram as imagens para casa. Havia muito
bate-boca entre os que queriam aderir às mudanças e
aqueles que não queriam”, lembrou.
Podemos dizer que como frutos da disseminação das
ideias do Concílio, tivemos os leigos assumindo seu
protagonismo na Igreja, participando cada vez mais de
formações e cursos preparatórios para catequese,
coordenação de grupos de jovens, liderança de círcu-
los bíblicos. A falta de presbíteros para celebrar as
missas também colaborou para que os leigos assumis-
sem as coordenações e condução das celebrações da
Palavra, trazendo a interpretação do Evangelho para
situações do dia a dia e provocando os participantes a
serem agentes transformadores nas questões sócio-
políticas e econômicas. Este foi o modelo que deu
origem às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs),
um movimento que partiu do interior para a Grande
Vitória.
Em Colatina, Dom Luís atuou na linha de frente da
formação dessas Comunidades entre os anos de 1968 e
1970 e a partir de 70, nos municípios da Grande Vitória,
que recebiam grande contingente de pessoas vindas
do interior por causa da erradicação dos cafezais e por
conta da instalação de projetos industriais em Vitória e
imediações.
A partir deste momento, as Comunidades foram
ganhando força e assumiram as decisões, das Confe-
rências de Medellín, na Colômbia, em 1968 e Puebla,
no México, em 1979, que representaram o momento
em que a Igreja da América Latina trabalhou com a
ideia de integração fé e vida e fez opção preferencial
pelos pobres.
Em 1968, com a aprovação de Dom João, criou-se em
Vitória o IPAV (Instituto Pastoral da Arquidiocese de
Vitória), que tinha o objetivo de formar animadores de
CEBs e agentes de pastoral, dando assim formação aos
leigos, e em 1° de maio de 1973, foi criado o Conselho
de Pastoral da Arquidiocese de Vitória (Copav), desti-
nado a reunir os bispos, padres, religiosas e leigos para
juntos pensarem formas de evangelizar as regiões da
Arquidiocese.
Neste período as CEBs incentivaram e apoiaram os
católicos a participarem dos movimentos populares e
associações de bairros que lutavam por melhorias
sociais, justiça e igualdade de direitos. Dentro deste
contexto, Dom Luís teve a ideia de realizar encontros
Intereclesiais de CEBs para celebrar a caminhada e
refletir sobre a realidade. O primeiro aconteceu em
1975 com o tema “Uma Igreja que nasce do povo” e o
segundo, em 1976, com o tema “Igreja, povo que
caminha" ambos em Vitória.
A linha pastoral adotada em Vitória, organizada em
pequenas comunidades e crescente participação dos
leigos foi descrita no documento “Pistas Pastorais”
em 1974, elaborado pelo Copav, Conselho de Pastoral
da Arquidiocese de Vitória. Pouco tempo depois, o
documento foi traduzido para uma linguagem mais
popular por Frei Beto com o título. “A Igreja que a gente
quer”. Este documento ficou conhecido em todo o país
e também no exterior, colaborando para que a organi-
zação da Igreja em Vitória se tornasse um exemplo a
ser seguido.
REPORTAGEM
vitória | 07vitória | 07
Para o ex-deputado estadual
Cláudio Vereza, que iniciou sua
atuação como leigo no surgimento
das CEBs, até 1981 a organização
das CEBs foi crescendo, mas sem-
pre sob alguma tensão das sedes
paroquiais, principalmente em
Vitória, onde foram ficando os
padres que reagiram mais à forma-
ção das Comunidades. Os mem-
bros das CEBs eram vistos por
alguns como pessoas que se afasta-
ram dos trabalhos da Igreja após
terem alcançado certo espaço na
sociedade civil.
“As tensões aumentaram entre os
setores mais conservadores e os
mais progressistas da Igreja de
Vitória, aliados ao crescimento da
Maria Elvira Bazet, que trabalhou
como secretária da Coordenação
de Pastoral da Arquidiocese de
Vitória nesse período, conta que
com a chegada de Dom Silvestre, os
movimentos apostólicos como a
Renovação Carismática Católica,
Cursilhos de Cristandade, Encontro
de Casais com Cristo, entre outros,
se expandiram e geraram um des-
conforto para os participantes das
CEBs que se indagavam sobre os
rumos da Igreja em Vitória.
“Dom Silvestre via os movimen-
tos como legítimos e percebeu que
existiam forças vivas que não esta-
vam se sentindo acolhidas dentro
da estrutura da Arquidiocese. Ele
dizia que tanto as CEBs quanto os
Renovação Carismática Católica e
Encontro de Casais com Cristo e
também a um novo momento que
estava surgindo na Igreja com Papa
João Paulo II”. Nesse contexto
“Dom Luís foi transferido para
Campina Grande, na Paraíba. A
notícia da transferência surpre-
endeu a todos e foi motivo de muita
tristeza”, relembrou Vereza.
Com a saída de Dom Luís, chegou
ao estado como Arcebispo Coadju-
tor da Arquidiocese de Vitória,
Dom Silvestre Luiz Scandian. Dom
Silvestre assumiu o governo da
Arquidiocese em 1984, após a
morte de Dom João. Neste mesmo
ano, foi nomeado Bispo Auxiliar,
Dom Geraldo Lyrio Rocha.
REPORTAGEM
08 | vitória
movimentos eram legítimos”,
lembra.
Era o momento de uma nova “pa-
rada” para reflexão, para avaliar
toda a caminhada pastoral da
Arquidiocese e refletir os rumos da
Igreja em Vitória a partir daquele
momento.
Para isso, em uma decisão toma-
da junto ao Copav, Dom Silvestre
decidiu que seria realizada uma
Grande Avaliação (Grava), que du-
rou de 1984 a 1987, na qual, através
de questionários todos os setores e
forças vivas da Arquidiocese foram
ouvidos.
Após três anos de trabalhos foi
realizada a Grava, em Santa Isabel,
com a participação de padres, diá-
conos, religiosos e leigos, na qual,
através de votação, foram definidas
as diretrizes da caminhada pastoral
da Arquidiocese com a elaboração
urbana. Também foi detectado que
no interior da Igreja de Vitória,
continuavam acentuadas as oposi-
ções diferentes entre CEBs e movi-
mentos.
“Quando cheguei aqui em 2003
percebi em Dom Silvestre o desejo
de realizar um Sínodo Arquidi-
ocesano, pois o tempo da Grava já
havia passado. Era um momento
novo, eu fiquei na escuta e assim
que assumi a missão, percebi que
de fato nós precisávamos dar um
passo novo, convocar toda a Arqui-
diocese para uma reflexão sobre si
mesma, sobre o presente e sobre o
futuro”, conta Dom Luiz Mancilha
Vilela, Arcebispo atual.
O Sínodo Arquidiocesano, que
teve como tema “Caminhar juntos
na acolhida fraterna e na espe-
rança”, durou três anos - de 2006 a
2009-. A primeira etapa foi a realiza-
ção de uma pesquisa em duas
modalidades (quantitativa e quali-
tativa). Foram ouvidas pessoas
católicas e de outras denomina-
ções cristãs que expressaram suas
visões sobre a Igreja Católica, avali-
aram as ações evangelizadoras, a
linguagem, o rito e manifestaram
opiniões e desejos considerados
por elas necessários para que a Igre-
ja atendesse aos anseios espirituais
dos fiéis.
Desta escuta surgiram os temas
de reflexão que nortearam os traba-
lhos sinodais: Celebração do Minis-
do Documento Final da Grava:
“Opções e Diretrizes Pastorais da
Igreja de Vitória”.
As diretrizes reafirmaram a opção
preferencial pelos pobres e Comu-
nidades Eclesiais de Base, e a parti-
cipação dos leigos nos diversos
ní-veis de organização na vida da
Igreja. “O documento não deixou
de fora os movimentos, pois eles
foram chamados a viver a experiên-
cia de opção preferencial pelos
pobres nas CEBs”, contou Maria
Elvira.
Em 2006 aconteceu outro grande
momento da Igreja em Vitória, a rea-
lização do Sínodo Arquidiocesano,
que se propôs avaliar o modo como
a Igreja Particular de Vitória evan-
gelizava perante as novidades do
mundo moderno como a globaliza-
ção, o surgimento da Internet,
surgimento de uma nova cultura
REPORTAGEM
vitória | 09
tério Pascal; Igreja missionária,
acolhedora e aberta ao diálogo;
Missionariedade da e na Igreja;
Família; Cultura de paz; Formação
integral para a fé e o agir cristão.
Para cada tema foi realizada uma
Sessão Sinodal, com a participação
dos delegados sinodais, membros
do clero e convidados, para apro-
fundamento dos desafios à luz da fé
e da doutrina da Igreja e ao final o
Arcebispo publicou orientações
para a ação pastoral.
Em cada Sessão Sinodal os parti-
cipantes viveram momentos de
espiritualidade e oração que culmi-
naram na grande celebração de
encerramento na Praça do Papa
com a participação de mais de 70
mil fiéis. O documento conclusivo
reafirmou a opção pelos pobres
incluindo-a no objetivo geral que
acentuou a comunhão: Ser sinal de
esperança para o povo, anunciando
e testemunhando a Boa Nova de
Jesus Cristo, à luz da evangélica
opção pelos pobres, caminhando
juntos, na acolhida fraterna.
“Esse Sínodo produziu um docu-
mento orientador que teve como
consequência mais de 80 projetos
pastorais colocados em prática
durante a coordenação do Pe.
Anderson Gomes. Depois do Sínodo
começamos a trabalhar mais parte
organizacional, atualizando todos
os nossos serviços internos e me-
lhorando nosso diálogo com o
povo”, avaliou Dom Luiz.
No ano que a Arquidiocese de
Vitória completa 60 anos de criação
uma nova “pausa” aconteceu, des-
ta vez mais celebrativa: Abertura
oficial no dia 22 de fevereiro com
caminhada saindo da Praça Pio XII,
o Papa que criou a Arquidiocese –
Via-Sacra pelas igrejas históricas no
Centro de Vitória em 17 de março –
Missa pelos bispos e padres faleci-
dos no dia 26 de abril – Procissão
luminosa da catedral à Basílica
Santo Antônio em 10 de junho –
Peregrinação da imagem de Nossa
Senhora da Vitória pelas paróquias
de fevereiro a agosto – Romaria a
Aparecida em 27 e 28 de julho –
Congresso Eucarístico de 1 a 8 de
setembro – Exposição histórica
imersiva de 30 de agosto a 8 de
setembro.
“Celebrar os 60 anos é dar graças
a Deus por tudo, por Dom João
Batista e Dom Luís Fernandes,
homens santos e justos que tanto
fizeram pelo povo e por nossa Igre-
ja, e por Dom Silvestre, que passou
tempos muito difíceis vivendo tam-
bém muitos conflitos. É importante
celebrar cada etapa, pois cada uma
teve algo maravilhoso para colocar-
mos diante de Deus e agradecer.
Cada etapa teve também sombras e
por elas devemos pedir perdão, por
isso fizemos também nestes feste-
jos uma caminhada penitencial pe-
las igrejas do centro de Vitória.
Agora nós caminhamos de frente
para o futuro. Olhamos no retrovi-
sor da história as belezas do pas-
sado, mas estamos caminhando
para o futuro, procurando lingua-
gens novas para anunciar Jesus
no nosso tempo”, diz Dom Luiz
Mancilha Vilela.
Andressa Mian Jornalista
omo todo evento comemorativo, o Jubileu Cde 60 anos da Arquidiocese de Vitória, cele-
brado em 2018, se reveste de um momento
fundamental da comunicação na Igreja, tanto com os
fiéis, que chamamos de público interno, quanto com a
sociedade em geral, isto é, nosso público externo. Esse
momento ímpar aponta dois caminhos da comunica-
ção que precisamos seguir: como envolver os cató-
licos nesse processo comunicativo; como tocar o cora-
ção dos não católicos com a mensagem cristã.
O enorme leque de comemorações, que envolvem
momentos de oração, celebração, formação e festivi-
dade, é fundamental e precisa ser muito bem difun-
dido. Mas gostaria mesmo de chamar a atenção para
Fazer algo e não
divulgar é como
se isso não existisse.
Vivemos em uma
sociedade
midiatizada.
‘‘
ATUALIDADE
JUBILEU É UM MOMENTO SUBLIME DE COMUNICAÇÃO
1
vitória | 11
ATUALIDADE
12 | vitória
debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o
candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em
casa. Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para
que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso
Pai que está nos céus".
Este é nosso problema: deixamos escondidas nos-
sas obras. Divulgá-las, além de ser uma obrigação cris-
tã, é condição de existir na sociedade atual. Fazer algo
e não divulgar é como se isso não existisse. Vivemos
em uma sociedade midiatizada, isto é, uma sociedade
que se pauta, se comporta, age a partir do que vê,
ouve, lê. Ou seja, a partir do que está na mídia. De
forma que aquilo que a mídia não deu é como se não
tivesse acontecido.
uma outra dimensão do Jubileu, que nem sempre te-
mos presente: a difusão dos nossos feitos. Ou melhor, a
difusão dos resultados da nossa fé. Afinal, o apóstolo
Tiago (2-26) foi enfático: “a fé sem obras é morta”.
A Igreja Católica gera centenas de milhares de obras
Brasil afora há séculos. Ouso dizer que gera milhares de
obras apenas na Arquidiocese de Vitória. Mas nós so-
mos tomados, equivocadamente, pela advertência do
apóstolo Mateus (6:3): “que tua mão esquerda não sai-
ba o que fez a direita”. Aí passamos a achar que não
devemos divulgar nossas obras.
Essa orientação trata da nossa necessária humildade
e não da comunicação, que está também em Mateus
(5:15-16): “nem se acende uma luz para colocá-la
ATUALIDADE
vitória | 13
Portanto, nosso desafio é reeducar nosso olhar, para
ver as grandes maravilhas que acontecem em nossas
comunidades, quase sempre de forma simples, em pe-
quenos gestos de compromisso com o outro. É aquela
senhora ou senhor, jovem ou mesmo criança, que movi-
dos pela fé fazem o bem a outras pessoas: “Sempre que
fizestes a um destes meus irmãos... a mim o fizestes”
(Mt 25:35).
Nossas pastorais, movimentos, serviços de Igreja
estão repletos dessas obras. Quantos resultados con-
cretos temos como fruto da ação das pastorais da
Saúde, da Criança, da Terra, da Sobriedade - só para fi-
car em algumas. São tantas chagas sociais aliviadas
por obra da fé que pedem para ser divulgadas, mas nós
não achamos isso importante. Reduzimos nossa comu-
nicação a divulgar festa, noite de louvor, horários de
missa... Claro que tudo isso é importante. Mas pouco
adiantará se não mostrarmos os resultados de nossas
ações. Essa é a nossa comunicação mais importante,
porque ao mostrar uma fé comprometida com a cria-
ção divina geramos empatia e compromisso, difundi-
mos solidariedade e cidadania. Esta é a única comu-
nicação que alcançará toda a sociedade, além dos já
católicos.
Que este momento do jubileu nos sirva para lançar-
mos um novo olhar sobre nossa Igreja, mas um olhar
sobre os fiéis e suas ações, suas atividades enquanto
agentes sociais movidos pela fé. E ao encontrarmos
tantas lindas histórias, nos empenharmos em contá-
las aos outros, a toda a sociedade.
Se não as encontrarmos em nossas comunidades,
das duas uma: ou não estamos conseguindo ver,
porque nosso olhar está mais na instituição do que na
verdadeira Igreja; ou nossa fé está morta, por incapa-
cidade de gerar frutos. Aliás, poderíamos aproveitar o
jubileu para fazer uma boa avaliação de nossa fé, a
partir das obras que geramos e divulgamos.
Poderíamos aproveitar o
jubileu para fazer uma
boa avaliação de nossa fé,
a partir das obras que
geramos e divulgamos.
‘‘
Elson FaxinaJornalista e professor da UFPR
14 | vitória
omos o universo admirável e infinito concen-Strado. Somos o mundo de Deus vasto e
maravilhoso sintetizado. Somos as abertas
distâncias e grandiosidades contraídas. Somos
água, terra, luz e ar resumidos num corpo. Somos uma
pequeníssima parte do tecido do cosmo que ao se
dobrar sobre si mesmo nos criou como uma sua inte-
rioridade.
Descobrimo-nos e experimentamo-nos como vida.
Para além do fogo e da imensidão, das luzes e escuri-
dões, dos vazios e das explosões o universo se rejubila
em e através da vida e de cada um de nós. De nossa
parte, vindo à luz e dela tomando posse, nos vemos
encantados com o mundo e com tudo que nos rodeia,
A VIDA SE REJUBILA
IDEIAS
atravessa e constitui. Tomados de admiração perce-
bemos que tudo se conecta e se liga numa dança em
que a vida está sempre se expandindo, se diferenci-
ando, se rejubilando por estar em constante acon-
tecimento. E dando-nos conta desse aconteci-
mento a cada instante, a cada respiro, fazemos a
experiência de que viver é bom, viver é muito bom. A
“experiência” de Deus diante da própria criação
passa a ser a nossa experiência diante da vida. Deus
contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era
bom. Nós, diante da vida, tendo-a e vivendo-a,
contemplando-a e sentindo-a, chegamos à mesma
conclusão: a vida é boa, a vida é bonita.
IDEIAS
Somos convocados pelos tempos atuais, tendo em
vista os muitos prejuízos e ameaças assustadoras que
a vida sofre, a proclamá-la como força, beleza, pleni-
tude. Sim, a vida é. A vida é plena em si mesma e pode
ser experimentada como fonte de bem-estar e felici-
dade nela mesma. Não é preciso isso nem aquilo para
fazer a experiência da vida como bem-estar, satis-
fação e alegria. Em si ela é isso. Ela é a causa e a razão
da satisfação de viver. As crianças – a título de exemplo
– bem expressam isso. As crianças se envolvem com
a vida e com suas possibilidades e vivem a alegria
do seu desfrute simplesmente, nada mais que isso.
Ali, nada falta. Claro, e infelizmente, que ao longo do
tempo e condicionados por isso e por aquilo vamos
buscando fora da vida os contentamentos e satisfa-
ções para viver. Vamos nos amparando nas coisas, nas
identidades, nos papéis, nas pretensas importâncias,
nos poderes, ilusões e efemeridades na esperança de
termos mais vida. Amparamo-nos em todas essas
coisas, mas tudo não passará de muletas... e segui-
remos perdendo a vida.
A necessária compreensão da vida como bem-estar
e satisfação nela mesma deveria nos levar a superar
aquelas ideias que a concebem como carência, sofri-
mento, miséria, incompletude, falta. Ao encarar a vida
afirmativamente pela sua beleza e força estaremos
facilitando a manifestação em nós de sentimentos e
pensamentos que confirmem, a cada dia e em cada
situação que ela é um feliz e jubiloso acontecimento.
Essa afirmação da vida, decerto, não se dará com
bases em ilusões e não negará, portanto, sua tempo-
ralidade, suas contingências, suas delicadezas. Sua
afirmação também não negará que a grande maioria
dos seres humanos não tem experimentado a vida
assim, como força, beleza e alegria. Para tantos e nos
mais diversos lugares desse planeta a vida tem sido
dor, angústia, sofrimento, privação. E, a despeito de
tantos que se colocam como arautos propositores de
sua força e beleza, ela segue prejudicada, maltratada,
explorada de inimagináveis formas.
Sua afirmação se dá com base na certeza de que ela
é o que de mais extraordinário acontece no universo e
que sua valorização segue exatamente pelo resgate de
sua força e presença. Não são poucos os condi-
cionamentos que nos fazem negá-la, desprezá-la
e desvalorizá-la. Logo, bom é estar consciente: a
afirmação da vida se constitui num desafio. Dentre
outras coisas a afirmação da vida exige que permane-
çamos no presente. Somos viciados em carregar
conosco (como fardos) o acontecido em detrimento
do acontecimento. Ou nos limitamos com cultivos
exagerados de esperanças em detrimento do aconte-
cimento. A tentativa de carregar o fardo do acontecido
nos torna ressentidos e tristes. A sobrecarga de espe-
ranças nos faz ingratos e míopes em relação ao dia de
hoje. A vida é acontecimento. A vida é jubilo. A cada
instante somos convocados ao júbilo pelo seu acolhi-
mento no presente, no acontecimento, na abertura
para os seus muitos “milagres” e possibilidades.
Padre, psicólogo e Mestre em
Psicologia Institucional
Dauri Batisti
vitória | 15
‘‘A vida é plena em si
mesma e pode ser
experimentada como
fonte de bem-estar e
felicidade nela mesma.
vitória | 17
Padre Hugo Scheer, svd
ASPAS
Dom Silvestre L. Scandian
citada. Os galhos são diferentes,
mas por todos eles passa a mesma
seiva. No respeito à diversidade de
carismas e dons, a Igreja de Vitória é
chamada a acolher o outro, valorizar
os dons, saber perdoar e dialogar
com todos.
A união com Cristo e a união na
Igreja impulsiona a Arquidiocese
a um amor missionário, que se
direciona àqueles que compar-
tilham o mesmo Batismo, que
acreditam em Deus e que querem
colaborar na construção de uma
sociedade justa e fraterna, partindo
da opção preferencial pelos pobres,
porque cremos em Deus que ama
todos e tem predileção pelos pobres
e oprimidos.
Esta frase faz parte do sermão
proferido por Dom Silvestre L.
Scandian, SVD, por ocasião da sole-
ne celebração eucarística, realizada
no dia 07 de setembro de 1987 no
estádio da Desportiva, que concluiu
o processo da Grande Avaliação
(Grava).
Eu estava dirigindo o carro com
Dom Silvestre , Arcebispo Metropo-
litano, e Dom Geraldo Lyrio Rocha,
bispo auxiliar, descendo de Santa
Izabel, lugar da assembleia que
tinha acabado de elaborar as
opções e diretrizes pastorais da
Igreja de Vitória, promulgadas
pelo Senhor Arcebispo. Era um dia
frio, estava chuviscando. Quando
mais perto estávamos chegando do
estádio, crescia a preocupação de
Dom Silvestre, pois não havia muita
gente na rua. Maior foi a grata e feliz
surpresa, quando nós chegamos,
o estádio estava superlotado e
muita gente fora que não podia
mais entrar. A celebração foi muito
participativa, alegre e festiva e
contou com a presença da imagem
original de Nossa Senhora da
Penha.
A frase citada se relaciona com o
sermão de despedida de Jesus, pro-
nunciado no contexto da última
ceia (Jo 13-17). Jesus pede ao Pai o
dom da unidade para seus discípu-
los (Jo 17,20) e o dom do amor
fraterno que produz frutos concre-
tos (Jo 15,8). E para explicitar e
ilustrar a relação entre Deus Pai, ele
mesmo e nós, Jesus medita sobre
videira e os ramos (Jo 15). Partindo
deste texto, Dom Silvestre fala
sobre a vida unida a Jesus, frutifi-
cando para o Pai, no amor fraterno.
A Grava tinha constatado contra-
dições, tensões, dificuldades e
problemas na ação pastoral de
conjunto, bem como deficiências
na caminhada pastoral da Igreja de
Vitória que agora queria enfrentá-
los, pondo em prática as opções,
as diretrizes e as prioridades
pastorais.
Dom Silvestre, no seu sermão,
chamava a atenção para a união
vital, fundamental e originante com
Cristo, mediante o Batismo e a Fé.
Esta comunhão gera a comunhão
na Igreja, entre os irmãos e irmãs,
e inclui a conversão, pessoal e
comunitária, para que os discípulos
possam produzir frutos (Jo 15,5).
No contexto da comunhão frater-
na, Dom Silvestre formula a frase
“SE SOMOS GALHOS DO MESMO TRONCO, SOMOS MEMBROS DO MESMO CORPO; PASSA POR NÓS A MESMA SEIVA, ANIMA-NOS O MESMO ESPÍRITO, QUE NOS ENSINA A DIZER A DEUS: MEU PAI”
Diretor do Instituto Interdiocesanode Filosofia e Teologia da ProvínciaEclesiástica de Vitória do Espírito Santo
ESPIRITUALIDADE
A MÍSTICA DEUM JUBILEU
ubileu tem a ver etimologicamente e espiritu-Jalmente com ALEGRIA. E a alegria sempre bro-
ta no coração quando nos sentimos amados e
amamos desinteressadamente e gratuitamente. Daí a
teimosia de celebramos pequenos ou grandes jubile-
us. Há o jubileu de um ano de uma criança com direito
a bolo, palmas, cantos e balõezinhos. E as crianças fes-
tejadas nem consciência têm do que acontece. Não
importa. Deixam-se invadir pela alegria que expres-
sam em sorrisos encantadores. E seguem os jubileus:
5, 10, 25 (jubileu de prata) e 50 (jubileu de ouro). Quan-
to mais o tempo passa mais necessitamos de celebrar
o que passou. Não importam as marcas de tristeza,
desenganos, frustrações... o que importa mesmo é o re-
conhecimento de que – “a pesar de” – somos amados e
protegidos. Deus nos quer bem e nos acompanha.
Júbilo. Zerar tudo. Dar razões para um novo começo.
Assim o ano jubilar querido por Deus e retratado na
Bíblia no capítulo 25 do Levítico: “Conte sete semanas
de anos, isto é, sete vezes sete anos; tais semanas de
anos darão um período de quarenta e nove anos. No
dia dez do sétimo mês você fará soar a trombeta. No
dia da expiação vocês façam soar a trombeta no país
inteiro. Declarem santo o quinquagésimo ano e pro-
clamem a libertação para todos os moradores do país.
Será para vocês um ano de júbilo: cada um de vocês re-
cuperará a sua propriedade e voltará para sua família.
O quinquagésimo ano será para vocês um ano de
júbilo: vocês não semearão nem ceifarão as espigas
que tiverem nascido espontaneamente, nem colherão
uvas das videiras não podadas.
O jubileu será uma coisa sagrada e vocês comerão o
que o campo produzir. Ninguém de vocês explore os
irmãos , mas temam o Deus de vocês porque Eu sou o
Senhor o Deus de vocês”( Lv 25,8-12.17).
Nesta passagem bíblica condensa-se a mística de
um jubileu: o sonho de Deus é a libertação de todas as
amarras que nos sujeitam à escravidão do maligno.
Deus nos quer irmãos, cada um (a) com o selo de dife-
rentes dons, mas sem qualquer desigualdade que faça
com que uns explorem outros, que uns se sintam me-
lhores do que outros, que alguns se apropriem dos
Nesta passagem bíblica
condensa-se a mística de
um jubileu: o sonho de
Deus é a libertação de
todas as amarras que
nos sujeitam à escravidão
do maligno.
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celebrar o presente e o futuro nos
convida a profetizar o que realmen-
te queremos realizar para que se al-
cance o sonho de Deus: sermos to-
dos irmãos, respeitando a natureza
e construindo solidamente um futu-
ro diferente à semelhança daquele
que foi traçado pelo próprio Filho
de Deus Jesus Cristo Nosso Senhor.
Tudo isso encontramos no cânti-
co de Maria quando de sua visita a
sua prima Izabel. Cantou ela a ale-
gria de ser amada por Deus e mes-
mo sendo pequena escolhida para
ser a mãe do Salvador. Cantou a me-
mória de seus antepassados que
lhe legaram a fé tesouro principal
de seu coração. Cantou as realiza-
ções justas de Deus em favor dos
pequenos e contra a maldade dos
poderosos. Cantou finalmente o
sonho de ver uma sociedade onde o
amor e a misericórdia se estendes-
sem para todas as gerações.
Encontramos aí um pouco daqui-
lo que é a mística de qualquer jubi-
leu. Não é apenas festividade, mas
sobretudo o compromisso de afas-
tar tudo o que indique escravidão e
injustiça e construindo as bases sóli-
das de um mundo justo e fraterno.
bens que deveriam ser partilhados
com todos e que, mesmo a terra cul-
tivada, tenha a possibilidade de des-
cansar e ter também ela a alegria de
produzir no ritmo que Deus lhe deu
e não naquele que nós lhe impomos
para sujeitá-la aos nossos peque-
nos e tacanhos interesses.
A mística de um jubileu tem tam-
bém relação com três palavras que
resumem a história de uma pessoa,
de uma família, de uma instituição
seja ela religiosa ou civil. MEMÓRIA,
CELEBRAÇÃO E PROFECIA.
MEMÓRIA – faz parte essencial de
um jubileu recordar que, quem não
valoriza as raízes, quem não estica o
seu olhar para o que recebeu dos
antepassados, jamais conseguirá
lançar-se para frente. É o mal hoje
de muitos que não querem valori-
zar a sabedoria dos mais velhos, as
experiências positivas e negativas
do passado e somente se fixam no
hoje e no amanhã. É o efeito “bodo-
que”: quanto mais se puxa para trás
mais a pedra vai para frente. O jubi-
leu então é essa oportunidade de
voltar ao passado para que nossa
vida corra bem para o futuro.
ESPIRITUALIDADE
Bispo emérito da Diocese de Colatina e
reitor do Santuário da Saúde, Ibiraçú
Dom Décio Zandonade
CELEBRAÇÃO – um jubileu nos
convida sempre a ter alegria de cele-
brar as conquistas do passado, pe-
dir perdão pelos erros cometidos e
anunciar os grandes sonhos que se
deseja realizar no futuro próximo,
médio e longo.
PROFECIA – todo o jubileu depois
de fazer a memória do passado, e
FAZER BEM
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Entre as formas de dar atenção e cuidar dos mais vulneráveis, a Revista Vitória destaca este mês o bem que fazem algumas das pastorais na Arquidiocese.
Tem um trabalho fantástico e foi responsável pela
queda da mortalidade infantil em todo o Brasil. Mas,
não é só isso! Quantas mães foram orientadas desde
a gravidez, até nos cuidados posteriores com a
criança. É lindo de se ver os depoimentos. E agora,
nos tempos modernos, de fast food e outras práticas,
a pastoral encara outro desafio: a obesidade infantil.
Prontos para o trabalho de novo! Balanças novas,
receitas e muita, muita informação amorosa. Um
caso inesquecível para a Pastoral aconteceu durante
uma ação na qual encontramos uma mãe cadeirante,
grávida do segundo filho, sem muitos recursos. A
acolhia dela em relação aos agentes da foi tão
especial que mais parecia que era ela quem ajudava
a todos. O acompanhamento de sua gestação, bem
como do filho já nascido, foi graças aos ensinamen-
tos e experiência acolhedora dos agentes.
Acompanhamento de gestantes
e crianças até 6 anos Pastoral da Criança
Essa palavrinha saúde, já vem com tanta coisa
atrelada, inclusive um desejo grande de que ela seja
bem feita! Extensa também é a potência do bem que
pode ser feito. Que o diga quem está nos hospitais e
encontra quem agilize seu atendimento, aconselhe ou
simplesmente esteja presente conversando e rezando
por ela; que o diga quem quer ver melhorias no
atendimento público e não pode participar das
instâncias de Conselhos; que o diga quem se esquece
das boas práticas com alimentos, produtos que a
natureza oferece, bem como práticas alternativas de
bem viver.
Este ano o grupo da Pastoral encarregado da visita
aos hospitais ganhou um grande impulso, fazendo-se
presente em grande parte dos hospitais . Uma presen-
ça discreta, mas muito fiel, levando conforto espiritual
aos enfermos e seus familiares.
Presença onde o doente precisaPastoral da Saúde
vitória | 21
FAZER BEM
Muito interessante de se ver que, quem pensava em
ser bem cuidado por causa da idade, descobre que
pode cuidar bem não só de si, mas também dos outros,
dos que se deixam vencer pelo peso dos anos. Idosos
abandonados, ou que se abandonam e perdem as
rédeas de sua vida, ganham mais vida se são simples-
mente bem acolhidos. Quanto bem se pode fazer sem
fragilizar a quem ainda pode contribuir com tantas
coisas! Durante uma visita, agentes da Pastoral da
Pessoa Idosa sensibilizaram uma comunidade sobre a
urgência de uma cirurgia cardíaca a ser realizada em
um senhor, que sozinho cuidava da esposa, também
adoentada. Todos estão empenhados para cuidar e
dar atenção ao casal durante o processo. Vai dar tudo
certo!
Quanto desafio! Mexe interiormente com a gente que
pensa que só o castigo dá jeito. Não dá para esquecer a
visita da imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida
num presídio de Segurança Máxima, feita por vários padres
e agentes. Foi uma visita de silêncio eloquente, de um bem
tão grande que nunca poderá ser medido. Que bem pode
ser feito para quem precisa se redimir e, às vezes, nem
pode colaborar ou caminhar sozinho. “Estive preso...”
Idosos acolhidosPastoral da Pessoa Idosa
A fé na visita aos encarceradosPastoral Carcerária
Parece um sonho. Enquanto se observa pelo
mundo um festival de hostilidade, a gente sabe que é
possível fazer o bem na acolhida. Deixar tudo pra
trás, terra estrangeira, dificuldade de comunicação.
Fazer o bem nesses casos é tanto, mas também tão
pouco! Às vezes uma informação, uma indicação,
uma abertura de portas, outras, cuidados mais
sérios. Temos quem faça bem essas coisas entre nós.
No ano passado, a Pastoral Migratória da
Arquidiocese e a Cáritas Arquidiocesana de Vitória se
uniram a assistentes sociais de Vila Velha para ajudar
o marinheiro mercante Vladimir Dimitrov Andonor,
57 anos, a retornar para a Bulgária, sua terra natal,
após ele ter morado por seis meses em uma abrigo
em Vila Velha. Emocionado ele agradeceu o esforço
de cada um e afirmou ter se sentido acolhido,
protegido e ajudado por todos.
Apoio aos migrante Pastoral Migratória
ARQUIVO E MEMÓRIA
vitória | 23
ARQUIVO E MEMÓRIA
ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA: 60 ANOS PRESENTE NA LUTA DO POVO
Juntamente com outras organizações da sociedade
civil, convoca o povo: Basta de violência.
Caminhada pela Vida, 1999.
Arquidiocese convoca os movimentos
organizados a gritar pela vida.
Grito dos Excluídos, 1996.
Arquidiocese presente na luta do povo pela
Reforma Agrária.
Romaria Libertadora da Terra,
1987.
Giovanna Valfré Coordenação do Cedoc
DIÁLOGOS
Igreja de Vitória do Espírito Santo, Igreja de Cristo!Celebras o teu Jubileu sob dois olhares...Situada no início de um novo milênio...Celebras o presente... Novo século... Novos tempos...Voltas ao passado pelo retrovisor da fé... Contemplas... Quão belos são os teus pés... Cento e treze anos... Anos vividos na fé obediente... No amor total... Anos vividos no Testemunho, No Anúncio, Na Esperança...!
Igreja de Vitória do Espírito Santo, Igreja bem-aventurada... Igreja de Cristo! Formosos são os teus pés..., Caminhas com passos Inquietos..., Passos dinâmicos..., Passos na insegurança dos tempos..., Passos de Igreja Peregrina..., Passos nas Sendas de Jesus! Marcas indeléveis do Amor Doado... Marcas indeléveis da Fé Amorosa... Marcas do lavar dos pés das multidões... Marcas indeléveis das Multidões... Multidões sedentas de Justiça, Multidões sedentas de paz,
Multidões sedentas de cura misericordiosa...
Corações e mãos estendidos...
Igreja Eucarística...!
TUA HISTÓRIA ME ENCANTA!
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Arcebispo Metropolitano de Vitória
Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc.
Igreja de Vitória do Espírito Santo! Igreja bem-aventurada... Igreja cingida pela toalha da esperança... Por uma Nova sociedade...! Desde a aurora de teu nascimento... És Sinal do Reino, Vives sob o Reinado de Deus...!
Formosos são os teus pés: Ontem, Hoje e no Amanhã da História... És inquieta no anúncio... És ardorosa na alegria do Evangelho...! Pelos olhos da fé em Cristo Luz do Mundo, Quais faróis brilhantes, Proclamas, testemunhas, anuncias...! És Peregrina da Esperança..., Revestida da couraça da Fé..., Cingida com a toalha no lavar dos pés..., És Voz que ecoa no deserto da violência..., Qual Cisne Branco a gorjear, com coragem, No Lago do Mundo Poluído... Clamando em águas mais profundas... Clamando sem perder a esperança...!Igreja de Vitória do Espírito Santo, Igreja de Cristo, Como és bela em tua luta..., Como és formosa em teu anúncio..., Como és forte em teu testemunho...! És povo Santo de Deus... És Corpo Místico de Cristo... És Mistério... Sinal na História... Sinal nas Sendas de Jesus... Sinal da Trindade Santa! Celebra o teu Jubileu...,
Olha para o teu belo horizonte..., Contempla a tua Mãe, Senhora da Vitória..., Ó Igreja Peregrina..., Nos passos do Mestre Vitorioso... Pelo Retrovisor da Fé... Com a Toalha da Esperança... Sob o Farol do Espírito de Amor... Combate o bom combate...! O Horizonte é Belo...! Foste...És...Serás...,
Pelos Séculos dos Séculos...,
Farol, Sinal da Vitória de Cristo:
O Reino e Reinado de Deus Pai!
Sim, Tua História me encanta! ■
CATEQUESE
POR UMA CATEQUESEJUBILAR
omamos como base de Tnossas reflexões diversas
fontes de catequese. Nos
primeiros artigos fomos buscar
informação sobre como se dava a
catequese nos primeiros tempos
do cristianismo e encontramos a
Didaqué, que é o primeiro catecis-
mo cristão. O caminho reflexivo que
estamos construindo está na linha
da continuidade do anúncio de
Jesus para aprofundar e amadu-
recer o cristão na fé. Portanto, não
são aulas de catequese para crian-
ças como normalmente se encontra
nas paróquias e comunidades.
Neste texto queremos estabele-
cer uma referência ao evento do
Jubileu da Arquidiocese de Vitória e
para isso vamos tomar a fonte prin-
cipal da catequese que é a própria
Palavra de Deus. O que a Bíblia nos
instrui a respeito da celebração do
Jubileu? Que sentidos podem ser
encontrados no texto sagrado?
Nos livros de Levítico (capítulos
25 e 27) e Números (cap. 36), encon-
tramos as principais referências a
respeito da vivência do Jubileu para
alimentar a fé do povo judeu. E bro-
ta imediatamente a ideia de que o
Jubileu deve ser vivido e experien-
ciado como um evento libertador. A
base deste evento estava na terra e
objetivava impedir o acúmulo por
parte de algumas pessoas, forman-
do latifúndios; visava também
impedir o aumento da escravidão
por dívida das pessoas que não
tinham como pagar, e impedir a
manutenção da propriedade em
vista da herança.
No ano jubilar, a terra também
descansava e não se devia cultivar
nada. Naquele tempo já se perce-
bia que era possível, através do uso
indiscriminado de plantio, princi-
palmente de cunho monocultor,
exaurir o potencial produtivo da
terra. O jubileu era assim o mo-
mento de recuperação da própria
natureza.
Trazendo esta mensagem para os
dias atuais que vivemos no Brasil, é
preciso reconhecer que nosso povo
foi expulso da terra formando as
grandes periferias urbanas no cha-
mado êxodo rural. Com tanta terra
improdutiva e sem cultivo ainda se
vive com tantas pessoas que não
têm onde trabalhar, onde morar.
Poucos acumulam tantas terras e
tantas habitações e muitos vivem à
míngua. Assim, o desafio para a vi-
vência jubilar é como restabelecer a
ordem original da terra como dom
de Deus e dar vida aos empobre-
cidos! O papa Francisco nos diz que
“se o jubileu não chega aos bolsos,
não é um verdadeiro jubileu”. (Au-
diência geral, 4ª feira de cinzas
2016).
Ao mesmo tempo e por que o grito
da terra também é o grito do pobre,
o desafio para nós é de restabelecer
a vida da terra. A cada dia ela se tor-
na mais deserta e seca. A falta de
água não é um desígnio de Deus. E
por fim, não dá para se falar do ano
jubilar de nossa Arquidiocese sem
restabelecer a vida do Rio Doce.
Somente assim, uma catequese
inspirada pela experiência bíblica
do jubileu poderá educar as pes-
soas e a sociedade para a vivência
como iguais, na partilha e na soli-
dariedade, e recuperando a vida da
terra.
Doutor em Ciência da Religião
Edebrande Cavalieri
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MUNDO LITÚRGICO
JUBILEU: sinal de vida e transfiguração!
Na perspectiva do Livro do
Levítico (Lv 25,8ss), cele-
brar o jubileu é rever e
experimentar a originalidade da
existência conforme o plano do
Criador: vida de plenitude e liberda-
de para todos – princípio, sentido e
essência. É o reconhecimento de
que as desigualdades não provêm
de Deus; é a denuncia do egoísmo
como princípio do poder domina-
dor e escravagista; é o compro-
misso da solidariedade pela vida de
todos!
Jubileu era considerado um ano
de resgate, na vivência de algumas
práticas: descanso dos trabalha-
dores, repouso da terra, liberdade
aos escravos, atos de regularização
e negociação de propriedades, nuli-
dade das dívidas. Enfim, a tônica
era superar o monopólio nas mãos
de uns poucos e suas consequentes
opressões, pois a terra de Israel era
a herança para todos os que consti-
tuíam o povo de Deus: eis um tema
forte de denúncia profética (cf. Is
5,8-10).
Na Igreja, o sentido de jubileu tem
sido aplicado a momentos signifi-
cativos e variados da vida cristã,
marcando ciclos e novas etapas:
pelos anos de matrimônio, vida
religiosa, diaconato, presbite-
rato e episcopado; pelos anos de
consagração de um templo ou da
existência de uma paróquia ou
(arqui)diocese; pelos anos jubilares
proclamados pelos sumos pontí-
fices para todos os católicos ou
aqueles concedidos para as igrejas
particulares em determinada cir-
cunstância. Parece que falta, em
consciência e prática, algo a ser
considerado motivo também de
jubileu, tão importante e decisivo
para um cristão: o seu batismo!
Num jubileu, dentre todas as pos-
síveis vivências pastorais e diversas
atividades, tem aspecto central
a liturgia, celebrada de muitas
formas: a eucaristia, que sempre
abre e conclui um ano jubilar de for-
ma solene; as celebrações peniten-
ciais, como momentos fortes de
revisão de vida, confronto com a
OFMCap
Fr. José Moacyr Cadenassi
Palavra de Deus e gestos de reconci-
liação, incluindo a dimensão sacra-
mental da penitência; celebração do
ofício divino/liturgia das horas;
momentos de culto eucarístico fora
da missa (diante das reservas euca-
rísticas); celebrações específicas
com categorias de fiéis: crianças,
catequizandos em geral, famí-
lias, juventude, idosos, enfermos,
profissionais de diversas áreas etc.;
preces e devocionais conforme a
religiosidade popular e com referên-
cias bíblicas; romarias e procissões;
promoção de momentos orantes
com a Palavra através dos meios de
comunicação.
Enfim, são diversas as possibilida-
des de celebrar liturgicamente um
jubileu, com o objetivo de ressignifi-
car e ampliar a dádiva da vida cristã,
em sensibilização e atitudes de mais
identificação com o Evangelho e a
vida eclesial, na perspectiva de além
fronteiras. Celebrar um jubileu é dei-
xar-se transfigurar pelo mistério pas-
cal de Cristo – centro de toda a fé tes-
temunho dos batizados!
vitória | 27
CAMINHOS DA BÍBLIA
28 | vitória
salmo 67 recitado nas celebrações litúrgicas Onos oferece um hino de louvor a Deus por
toda a sua benção derramada sobre Israel e
sobre toda a terra. São três estrofes bastante significa-
tivas, nas quais o povo do Senhor entoa o seu louvor de
gratidão e reconhecimento, principalmente num tem-
po de recordação da história e da vida. Na primeira
estrofe, o salmista pede ao Senhor que a sua graça lhe
seja dada, a fim de que em todo o Israel resplandeça a
face de Deus. Na segunda estrofe, o salmista reconhece
que a benção oferecida deve se tornar fonte de benção
para todos os povos e nações. Por fim, na terceira
estrofe, o salmista canta os louvores ao Senhor por
reconhecer os frutos produzidos e como a graça aco-
lhida foi frutuosa. Nesse caso, o salmo 67 é provi-
dencial para a celebração do jubileu da Arquidiocese
de Vitória, pois se torna um grande hino de louvor ao
Deus Altíssimo que parte de todas as Comunidades
Eclesiais de Base desse Igreja particular.
Na primeira estrofe do salmo, o salmista apresenta
ao Senhor um pedido ao dizer: "Que Deus nos dê a sua
graça e sua bênção, e sua face resplandeça sobre nós!".
De fato, o sinal da benção percorre todo o salmo, já que
ela se encontra no início e no final do mesmo, quando
se pede a benção sobre todo o povo. Ao pedir a graça e
a benção divinas, o salmista implora ao Senhor o dom
da fertilidade, a fim de que toda a terra reconheça
sobre Israel a face bondosa de Deus, capaz de aben-
çoar e salvar.
"QUE DEUS NOS DÊ A SUA GRAÇA E SUA BÊNÇÃO, E SUA FACE RESPLANDEÇA SOBRE NÓS!"
(Sl 67,1).
CAMINHOS DA BÍBLIA
vitória | 29
Na segunda estrofe, o salmista
convida ao louvor com a seguinte
afirmação: "Exulte de alegria a terra
inteira, pois julgais o universo com
justiça; os povos governais com reti-
dão, e guiais, em toda a terra, as na-
ções". O homem de Deus reconhece
que o sinal da benção conferida ao
povo deve ser comunicada a toda a
terra, de fato, Israel é por vocação
chamado a ser sinal da benção e gra-
ça divinas junto a todos os povos e
nações. Neste caso, a benção rece-
bida que é sinal da graça e do favor
do Senhor, se torna um convite
explícito dirigido a todas as nações,
a fim de que reconheçam a bonda-
de e o amor de Deus. Desse modo,
todas as nações seriam atraídas ao
Senhor e por ele acolhidas, a fim de
que, por sua Palavra fossem evan-
gelizadas, formadas, assistidas e
guiadas.
Por fim, na terceira estrofe do
salmo encontra-se as seguintes
palavras proferidas pelo salmista:
"A terra produziu sua colheita: o
Senhor e nosso Deus nos abençoa".
É inegável a relação direta de Israel
com a terra, seja pelo reconheci-
mento da terra como dom de Deus,
fruto da liberdade conquistada,
bem como, nos sinais visíveis de sua
fertilidade, frutos da benção ofere-
cida pelo Senhor. Neste caso, dian-
te da fertilidade da terra, fruto da
benção divina, que deve ser conti-
nuamente renovada, nasce um
hino de louvor, uma atitude orante
e cheia de júbilo entre todas as
nações. Todos os povos reconhe-
cem a benção do Senhor derrama-
da abundantemente sobre Israel,
sinal de sua bondade e graça sem
limites. A fecundidade de Israel
torna-se motivo de louvor para
os povos, sinal de que o Senhor
caminha ao lado dos que escolheu,
abençoando o fruto de suas mãos e
confirmando o chamado a eles con-
fiado.
Desse modo, tocados pelas
palavras do salmo e convidados
ao mesmo louvor nelas contido,
cheios de alegria, todos rendam
graças a Deus pelo Jubileu da
Professor de Sagrada Escritura no
IFTAV e Doutor em Sagrada Escritura
Pe. Andherson Franklin
Arquidiocese de Vitória. Um tempo
fecundo, propício para uma refle-
xão profunda, que possibilita a reco-
nhecer os acertos, as conquistas, os
erros e os desafios do tempo que se
abre à frente. É inegável a presença
da graça e da benção de Deus no
caminho e na história dessa Igreja
Particular, Mãe e Mestra das demais
dioceses do Estado do Espírito
Santo. Muitos foram os passos per-
corridos, por tantos homens e
mulheres que entregaram a sua
vida, em todos os sentidos, para
que a Igreja pudesse resplandecer a
bênção do Senhor. Muito foi cons-
truído, muito foi conquistado,
passos firmes e decididos na aco-
lhida e no comprometimento em
fazer a vontade Daquele que a
todos convida à Fé. Por isso, nasce
nos corações o agradecimento
sincero ao Senhor, pois, é Ele quem
sempre faz florescer o trabalho das
mãos de seus filhos e filhas. A fim de
que a graça a todos confiada se tor-
ne sempre uma benção para todo o
povo de Deus. Por isso nesse ano
todos dizem: "Que as nações vos
glorifiquem, o Senhor, que todas as
nações vos glorifiquem".
Todos rendam
graças a Deus
pelo jubileu
da Arquidiocese
de Vitória.
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vitória | 31
ENTREVISTA
Nestes 60 anos de história da Arquidiocese de Vitória, as
diversas pastorais assumem um papel fundamental ao
aproximarem a Igreja aos problemas de cada época, o
que na palavra do coordenador de Pastoral da
Arquidiocese de Vitória, Padre Renato Criste, é sinal de
zelo e cuidado seguindo o exemplo de Cristo.Padre Renato Criste
Qual o significado das pastorais?
Padre Renato - Em primeiro lugar o termo pastoral
vem de pastor, que por sua vez, nos remete a zelo e cui-
dado. A pastoral é fazer as vezes de Cristo-Pastor no
mundo. Porém, ninguém se faz pastor por si mesmo, o
pastor se define para uma missão e não apenas para
uma função, porque se fosse apenas uma função, um
mercenário seria suficiente e não um pastor. Sendo,
assim as diferentes pastorais buscam realizar uma mis-
são, não são simples funções. A tarefa da pastoral é
responder uma missão que não é nossa.
São Paulo afirma que Cristo passou pelo mundo fazen-
do o bem. Então, a pastoral é a atualização do ministé-
rio de Cristo no mundo que passou fazendo o bem. As
pastorais vêm de encontro aos problemas atuais. Hoje
encontramos pastorais que uma década atrás não
existiam, como a Pastoral do Empreendedor ou a da
Pessoa Idosa. A partir das novas demandas a Igreja
busca se organizar e ser uma presença atenciosa e
profética a estes problemas. As pastorais são um olhar
atencioso a estas realidades, isto porque, a práxis
pastoral como a vida do pastor deve estar baseada no
amor e na eclesiologia.
A pastoral está sempre atrás dos problemas atuais?
É esta a sua tarefa, resolver os problemas do mundo?
Padre Renato - O trabalho pastoral não é resolver os
problemas do mundo, mas levar o Evangelho ao
mundo. O cuidado pastoral da família, por exemplo,
deve mostrar o amor de Deus e não é uma questão de
pessoas especializadas. A tarefa da pastoral familiar é
fazer com que as pessoas descubram a vocação ao
amor. A pastoral familiar é a própria família, não é
resolver os problemas, mas mostrar a vocação
familiar.
O Concílio Vaticano II, mostrou que a Igreja não é só
um lugar, mas uma missão.
O risco de a Igreja querer buscar resolver todos os
problemas da sociedade é colocar os próprios temas
atuais e desafiantes à frente do Evangelho. Devemos
buscar entender e responder os desafios atuais à luz
do Evangelho, que necessariamente requer uma
práxis pastoral.
A Igreja, ao invés de resolver problemas, deve iluminá-
los, Jesus diz que “vós sois a luz do mundo”, “vós” já é
uma missão. A luz deve ser humilde, a luz não pode
ser vista mas deve iluminar tudo, a luz tem dois
UMA HISTÓRIA DECAMINHADA PASTORAL
Foto
: Hec
tor S
ique
ira
elementos: a luz da cidade (ponto de luz na noite para
saber aonde ir) e a luz da casa (deve iluminar todas as
pessoas que entram) , é por isso que a Igreja deve ser
Lumen gentium: a Igreja ilumina o mundo e a luz da
casa.
Já no seminário os futuros padres têm o contato com
as comunidades e as suas pastorais. Qual a importân-
cia destes momentos?
Padre Renato - Na nossa formação, no Seminário
Nossa Senhora da Penha, desde o primeiro ano de filo-
sofia, os seminaristas têm a oportunidade de fazer um
estágio pastoral em uma determinada paróquia,
então, desde o início convivemos com as lideranças
nas comunidades e isto encanta o jovem pela oportu-
nidade de associar a teoria com a prática, de nos
tornarmos mais sensíveis a necessidade do outro. A
pastoral durante a formação é essencial para que no
futuro como ministros ordenados possamos nos dedi-
car mais inteiramente a este serviço. A final de contas,
nos tornamos padres para sermos pastores, isto é,
cuidar das ovelhas. Papa Francisco, recomenda que o
pastor deve ter o cheiro de suas ovelhas. Um semina-
rista que não se encanta com o serviço pastoral, pode
indicar que está no lugar errado, e se persistir poderá
ser muito desastrosa sua atuação numa paróquia.
Quais são os principais desafios de hoje para as pas-
torais?
Padre Renato - A própria pluralidade de pastorais. É
um desafio articular estes serviços que não estão isola-
damente. Entender as pastorais com olhares específi-
cos para as realidades distintas, mas todas como
membro de um só corpo. Este é o primeiro desafio,
uma pastoral integral. A Igreja não é uma pastoral frag-
mentada, mas é comunhão.
Um segundo desafio é a capacitação de novas lideran-
ças, porque não basta termos só voluntários, precisa-
mos também de “discípulos-líderes” capazes de assu-
mir com responsabilidade e eficiência o trabalho pas-
toral, como sendo uma missão, e não uma simples
tarefa, como falamos acima. Costumo dizer que quem
trabalha com pastoral não se resume a ser voluntário
ou um ajudante do padre, mas alguém que vai exercer
com responsabilidade e compromisso, a missão do
batizado, e ele faz isto por força do próprio batismo
que recebeu.
Um outro desafio, é compreender a realidade. A pasto-
ral deve ser realista. A realidade é entender qual é a ver-
dadeira realidade. A pastoral não é um conjunto de
dados, mas o plano de Deus que só pode ser visto atra-
vés da fé. A distância entre a fé e a vida é um drama do
cristianismo de hoje. A visão da fé é única na pastoral
para poder viver como Jesus Bom Pastor.
A ação pastoral deve ser realizada por quem tem fé,
sem sujeito cristão não se faz ação pastoral, se faz as
coisas. É errado pensar mais sobre coisas para fazer do
que sobre as pessoas que terão que fazê-las! O sujeito
deve ter um relacionamento com Deus, ele deve dar
seu testemunho mais com a vida do que com palavras.
O sujeito cristão não pode ser tomado como garantido
e, portanto, um elemento do cuidado pastoral é for-
mar o sujeito cristão.
O leigo tem um papel importante neste processo?
Padre Renato - Totalmente. A atividade da Igreja é pas-
toral e o leigo deve intervir ativamente no cuidado pas-
toral. Na época de Pio XII o leigo era considerado o lon-
gus manus do sacerdote, o leigo era visto como repre-
sentante / delegado do pároco, sua missão vinha dire-
tamente do pároco e não a possuía em si, portanto
sem a ordem do pároco o leigo não fazia trabalho pas-
toral (na família, no trabalho ...).
32 | vitória
ENTREVISTA
ENTREVISTA
vitória | 33
Vander Silva
Professor e jornalista
O leigo é fundamental para o serviço pastoral, ele deve
exercer no mundo o seu ministério. Mesmo se fos-
semos em muitos padres, isto não substituiria o lugar e
a importância que o leigo tem na vida da Igreja. A dinâ-
mica é de comunhão e de participação, na qual cada
um vai exercer seu ministério e ocupar o lugar que lhe
compete sem complexo de superioridade ou de
inferioridade, mas a partir do seu lugar.
O que esperar do futuro das pastorais a partir deste
Jubileu de 60 anos da Arquidiocese de Vitória?
Padre Renato -O que a Igreja de Vitória precisa para o
futuro, com as comemorações do jubileu não é de
novos dogmas, mas de uma conversão pastoral e foi
pensando assim, por exemplo, que o Papa João XXII
indicou um concílio pastoral, centrado na pergunta:
“Igreja que diz de si mesma?”.
Por isso este tempo jubilar, em que nos reunimos para
pedir perdão, agradecer e celebrar. Há quem pensa
que a pastoral esta parada ou ausente, é um engano
pensar assim. O fazer pelo fazer pode gerar estresses,
desgastes nas relações e finalmente pouca pastoral. O
agente de pastoral, é um homem de fé, que está inseri-
do no mistério de Cristo e da Igreja. Alimentar esta fé é
essencial para prosseguir adiante com nossa missão e
obter muitos bons frutos gradativamente e no tempo
certo.
As comemorações do jubileu constituem para nós um
momento de rever nossa caminha e uma pausa restau-
radora que encontra na Eucaristia sua convergência e
vida para a missão em vista de um futuro. A Eucaristia
faz a Igreja e não o contrário.
O ponto alto das comemorações do ano jubilar é o 1º
Congresso Eucarístico Arquidiocesano. No encontro
com o “Senhor-Eucaristia” queremos professar nossa
fé na Eucaristia e agradecer por nossa caminhada pas-
toral. Devemos lembrar as palavras de Jesus “sem
mim, nada podeis fazer”.
A Igreja não é uma associação, mas uma convocação:
responde a um chamado prévio. Portanto, somos uma
assembleia convocada.
As pessoas se unem não porque são boas, mas porque
há um dom que as precede e este dom é o dom de
Deus, e essa realidade transcendente é aquela que nos
permite a comunhão.
A ação pastoral não pode ser pensada somente como
uma ação eficaz, mas deve ser testemunha do misté-
rio, é este testemunho que faz a Igreja, não reduz a
ação eficaz, mas centra-se no mistério, não mais ação
eficaz, mas ação misteriosa. A ação da Igreja deve ser
testemunha do mistério. Devemos testemunhar que
há um amor maior que salvou o mundo.
Como continuar esta história da Igreja de Vitória com
a presença das pastorais?
Padre Renato - Se cada um fizer um exercício de escu-
ta e de discernimento vai ouvir os apelos de Deus e vai
procurar responder servindo em sua comunidade
e mais especificamente dentro de uma pastoral,
sempre numa dinâmica de comunhão.
É difícil compreender a história da Arquidiocese de
Vitória sem enxergar as pastorais. São 60 anos de
caminhada pastoral, os leigos através das pastorais
atuam com responsabilidade e dedicação seguindo
cada carisma pessoal.
Precisamos sempre animar as lideranças, fortalecer o
trabalho delas e reconhecer este lugar que elas
ocupam. Não enxergar as pastorais na caminhada da
Igreja de Vitória é quase como perder a nossa identida-
de. Que este carisma perdure por toda a história da
Arquidiocese de Vitória.
Bula de constituição dasDioceses de Cachoeiro deItapemirim e São Mateuse elevação da Diocese doEspírito Santo a Arquidiocesede Vitória.
34 | vitória
ECONOMIA POLÍTICA
assagem do tempo é sem-Ppre momento para refletir
sobre conquistas / equívo-
cos no passado, e desafios e oportu-
nidades para o futuro. Um momen-
to ímpar de passagem do tempo – a
mudança de milênio – foi vivido
pela Igreja de Roma ao buscar em
Levítico - principal estatuto de con-
vívio entre seres vivente da tradição
judaico-cristã – inspiração para a
reflexão sobre a passagem do
segundo para o terceiro milênio da
era cristã.
A reflexão proposta em escala
mundial foi a que indicava a neces-
sidade do perdão da dívida dos paí-
ses pobres. Inspirava-se na ideia de
que a concentração de poder eco-
nômico leva ao empobrecimento
da maioria da população, e o ano
sabático deve ser o momento para
realinhamento entre os que muito
têm e os despossuídos.
No Brasil, a reflexão sobre a pas-
sagem do milênio ganhou força na
medida em que a Constituição de
1988 já previa a auditoria da dívida
e tinha no seu bojo o reconheci-
mento do direito à saúde, educa-
ção, seguridade social e meio ambi-
ente como fundamental à dignida-
de das pessoas. Reconhecimento
a partir de forte mobilização de
segmentos da sociedade na cons-
trução de uma Carta Magna que bus-
casse conciliar crescimento econô-
mico com sustentabilidade social e
ambiental.
No Espírito Santo, o processo
centrou-se na conscientização dos
cristãos sobre os custos sociais de
uma dívida financeira contraída
através de processos pouco legíti-
mos, inclusive nos anos da ditadura
militar. Conscientização que come-
çou com levantamentos junto às
diversas comunidades sobre o
quanto de dívida social existia.
Dívida social escancarada no bai-
xo acesso da maioria da população
a bens essenciais como alimentos e
vestuário e a serviços básicos como
educação, saúde, saneamento,
transportes, dentre outros. Dívida
social também a ser contabilizada
pelo crescente processo de deterio-
ração do meio ambiente, o que já
colocava em risco direitos de gera-
ções futuras.
Resultados objetivados dessa
mobilização e conscientização
podem ser questionados em função
da baixa adesão ao processo por
parte dos meios de comunicação de
mercado e da baixa sensibilidade
do governo da época, preocupado
majoritariamente em ‘honrar a dívi-
da’ contraída junto ao mercado
financeiro. Apesar disso, o exercício
ECONOMIA BIOCENTRADA
Professor de Economia
Arlindo Villaschi
vitória | 37
feito de construção da consciência
cristã baseada na necessidade
de responder a necessidades da
maioria da população e da Mãe
Terra deve servir de inspiração no
mo-mento presente.
Inspiração para que a Igreja aja no
sentido de identificar na crescente
marginalização social e econômica
de parcelas substanciais da popula-
ção uma óbvia agressão aos precei-
tos cristãos. Inspiração para que a
Igreja, junto à sua comunidade reu-
nida em paróquias, ressalte a
importância de cuidarmos do meio
ambiente como forma de valoriza-
ção da criação divina.
Criação divina presente em todos
os seres viventes e que é crescente-
mente subordinada à lógica de mer-
cado que a poucos beneficia e que
cada vez mais pune os perdedores
no jogo do individualismo exacer-
bado.
Explicitar o individualismo exa-
cerbado e seus efeitos nocivos pode
ser a mais nobre tarefa da Igreja
comprometida com uma economia
centrada na vida, biocentrada.
DEPOIMENTOS
Dom Paulo Bosi Dal´BóBispo da Diocese de São Mateus
38 | vitória
o espírito dos 60 anos de caminhada de fé, eu NDom Paulo Bosi Dal´Bó, num espírito de
comunhão e unidade, em nome de todos os
que fizeram e fazem parte da história desta abençoada
Diocese de São Mateus, desmembrada da antiga Dio-
cese do Espírito Santo, agradecemos ao Senhor da mes-
se, as inúmeras bênçãos e graças derramadas ao longo
desses anos. Agradecemos também a atual Arquidi-
ocese de Vitória-ES, na pessoa de Dom Luis Mancilha
Vilela, Arcebispo Metropolitano, por todas as sementes
do Reino lançadas abundantemente em nossa amada
terra diocesana.
Muitas são as virtudes que recebemos “como heran-
ça” e outras são próprias da Diocese de São Mateus a
ressaltar: as dicas pastorais e de organização, que num
primeiro momento foram tão necessárias para fazer
caminhar a nova Diocese.
Destacamos também a “opção preferencial pelos
pobres”, assumida por nossa Diocese e plasmada nas
palavras do saudoso Dom João Batista da Mota e
Albuquerque, quando disse alto e em bom tom: “só o
povo, salva o povo”. Ainda, a opção pelas “Comunida-
des Eclesiais de Base” (CEBs), fortemente incentivada
pelo Bispo Auxiliar Dom Luis Gonzaga Fernandes e que
nossa Diocese assumiu como “seu verdadeiro rosto
de Igreja”, com comunidades mais participativas,
superando o esquema “de diretorias” para aderir ao
atual esquema de Conselhos.
A criação de um Centro de Formação para leigos tam-
bém veio da inspiração da Arquidiocese. Ainda é lou-
vável destacar que o Cursilho de Cristiandade chegou
também na Diocese por recomendação de Dom João
Batista, chegando ele próprio a participar conosco
naquela época, sendo que não houve continuidade. O
Cursilho foi retomado em 2010 e continua organizado
até os dias atuais. A criação da Cáritas diocesana, que
muito caminhou. No início parecia estar mais voltada
para o assistencialismo. Hoje ela continua, porém
fortemente enraizada num trabalho de promoção e
libertação, chegando com esta mentalidade pratica-
mente em quase todas as paróquias de nossa Diocese.
Também foi inspiração da antiga Diocese do Espirito
Santo, a criação de um folheto litúrgico para as cele-
brações do “culto” em todas as comunidades e que
até hoje continua sendo usado pelas 721 comunida-
des que compõe a nossa Igreja Particular de São Mate-
us. Outro marco forte no período dos 60 anos de cami-
nhada de fé em nossa Diocese, foi a criação do Semi-
nário Diocesano; a interação com a Arquidiocese na
festa de Nossa Senhora da Penha; a criação do Mostei-
ro das Beneditinas e a iniciativa das Leigas Consa-
gradas. Houve ainda nossa interação e participação
nos encontros nacionais de Comunidade Eclesiais de
Base (CEBs), com um esfriamento posterior devido ao
caráter que esses encontros foram adquirindo.
Com toda esta riqueza, fica bem claro que nossa
Diocese de São Mateus é filha da Arquidiocese de
Vitória e a ela devemos nossa existência. Hoje só te-
mos a agradecer a Deus e a esta Igreja Mãe. Deus seja
louvado por esta solene dádiva! Parabéns!
Que a Virgem Mãe das Alegrias e São Mateus interce-
dam a Deus por todos nós, para que juntos enquanto
Igreja do Estado do Espírito Santo, caminhemos cada
vez mais unidos.
DEPOIMENTOS
vitória | 39
Diocese de Cachoeiro de Itapemi-Arim foi desmembrada da Diocese
do Espírito Santo, hoje Arquidioce-
se de Vitória, em 1958. Isso ocorreu devida à
necessidade de presença eclesial num terri-
tório tão vasto quanto o da recém-criada Dio-
cese. Em sua criação, a nova Diocese foi for-
mada por dezoito Paróquias, dentre elas a
mais antiga de todas, a de Nossa Senhora do
Amparo, em Itapemirim, marco da coloniza-
ção e evangelização de toda a região do sul
do Espírito Santo.
Os desafios dos primeiros passos foram
sentidos, visto que se tratava de uma região
em desenvolvimento, com poucos sacerdo-
tes e uma zona rural de difícil acesso. É
necessário ressaltar o heroísmo e pioneiris-
mo de toda a Diocese nascente, algo que foi
sustentado pela experiência anterior, quan-
do ainda a Diocese estava unida à Diocese do
Espírito Santo. De fato, a preocupação do
novo bispo, do clero e de todo o povo era a de
dar continuidade ao caminho até então per-
corrido, seja no cuidado em sustentar a fé,
seja na atenção dada às muitas neces-
sidades que se apresentavam.
Durante os primeiros passos e, ainda hoje,
é possível sentir a unidade e a colaboração
mútua existente entre a Diocese de Cachoei-
ro de Itapemirim e a então Diocese do Espíri-
to Santo, hoje Arquidiocese de Vitória. A Dio-
cese de Cachoeiro nunca perdeu as suas raí-
zes, reconhecendo o fato de que foi gerada e
sustentada, em seus primeiros passos, pela
então Diocese do Espírito Santo. Algo que
com o tempo foi se tornando motivo para a
manutenção dos vínculos e para a criação
de espaços novos e significativos de Comu-
nhão e Participação da vida eclesial de
ambas as Dioceses. Algo que se dá na parti-
lha das alegrias e conquistas, bem como, na
presença solidária e atenta diante dos mais
diversos desafios da Ação Evangelizadora e
Missionária, como uma só Igreja em Saída, a
exemplo do que nos pede o Papa Francisco.
Dom Dario Campos,ofmBispo da Diocese de Cachoeiro de
Itapemirim
Dom Paulo Bosi Dal’Bó
Foi nomeado bispo para a Diocese de São Mateus no dia
21 de outubro de 2015.
Ordenação episcopal: 12 de dezembro de 2015
Dom Dario Campos, ofm
Foi nomeado bispo coadjutor de Araçuaí no dia 05 de
julho de 2000.
Ordenação episcopal: 26 de setembro de 2000.
Tornou-se bispo diocesano de Araçuaí em 08 de agosto de
2001.
Foi nomeado bispo para a Diocese de Cachoeiro de
Itapemirim no dia 27 de abril de 2011.
LIÇÕES DE FRANCISCO
vitória | 41
LIÇÕES DE FRANCISCO
JUBILEU: revolução na cultura da misericórdiaeste número especial da Revista Vitória em Nque se celebra o Jubileu de 60 anos de sua
criação, caberia perguntar sobre que men-
sagem jubilar Francisco nos presentearia neste
momento festivo. Percorremos primeiro a Sagrada
Escritura para relembrar a origem deste evento onde
encontramos a ideia central do que constitui a cele-
bração do Jubileu. Trata-se de um tempo para descan-
so da terra por um ano para que ela possa renovar-se
em suas forças e produza ainda mais frutos nos próxi-
mos anos. Descanso também dos trabalhadores e
liberdade para os que foram escravizados.
O Papa Francisco já instituiu alguns eventos jubila-
res e participou de vários outros. O que nos chama
mais para a vivência de um ano de júbilo é sem sombra
de dúvida o “Jubileu da Misericórdia”, que aconteceu
entre o mês de dezembro de 2015 a novembro de 2016.
Em seu anúncio, ele assim nos convoca: “Em meio à
violência, é preciso ter misericórdia. No mundo violen-
to de hoje, os cristãos são chamados a esta experiên-
cia com Deus, que desce até nossa miséria”.
Ao instituir este jubileu ele nos convida para uma
revolução cultural que exige uma cultura da misericór-
dia. Diz-nos que “as obras de misericórdia tocam toda
a vida de uma pessoa” e assim será possível uma ver-
dadeira revolução. Na simplicidade de cada gesto
torna-se possível alcançar o corpo e o espírito. A terra
sobre a qual pisamos necessita deste tempo de jubileu
para que se renove e nela possam crescer as árvores da
bondade e da ternura para alimentar principalmente
os mais humildes e indefesos, os que vivem sozinhos e
abandonados.
Sessenta anos de caminhada do povo de Deus da
Arquidiocese de Vitória. Muitos sinais concretos de
misericórdia são visíveis e testemunhados pelas
pessoas. Nesta terra temos muitas delas que deram a
própria vida para que crescessem as árvores com os
frutos da misericórdia. Muitos eventos eclesiais foram
celebrados ao longo destes anos. O caminho foi longo,
contudo o povo de Deus desta terra soube caminhar
junto na fé e na esperança.
O jubileu descrito nas Sagradas Escrituras nos indica
um tempo para descanso, tanto da terra para que ela
possa se recuperar em sua potencialidade produtiva
como para as pessoas que trabalham esta mesma
terra.
Contudo, o Papa nos convoca para olharmos para o
chão e reparar como ainda sofrem os desempregados,
os sem-abrigo, as crianças exploradas, as novas formas
de pobreza espiritual e material. Não temos condições
para descansar enquanto esta realidade estiver pre-
sente em nosso meio.
Então, é preciso cultivar a misericórdia para que a
terra seja revigorada com novas plantas, novas teste-
munhas, novos profetas, mais cristãos.
Assim, o jubileu, conforme nos ensina Francisco, será
um tempo propício para a prática mais elevada da vida
cristã: a misericórdia.
Doutor em Ciência da Religião
Edebrande Calalieri
42 | vitória
VISITAR E CONHECER A NOSSA HISTÓRIA
ara o turista e o próprio morador do Estado Pdo Espírito Santo visitar monumentos arqui-
tetônicos, construídos pelos padres regula-
res e ordens religiosas, é de alguma maneira revisitar a
nossa própria memória a partir de igrejas, conventos,
capelas, cruzeiros, festejos e outras tantas manifesta-
ções culturais.
Difícil seria escolher algumas dentre tantas preciosi-
dades que representam nossa fé edificada. Então,
sugiro um giro começando pelo Centro Histórico de
Vitória, que abriga grande concentração de igrejas.
Citemos algumas:
No marco zero da Cidade Alta está a Catedral de
Vitória que com suas torres góticas se destaca na pai-
sagem. Mas, a beleza também está na riqueza de deta-
lhes dos vitrais da Catedral, que a embelezam. De
todos esses vitrais a porta de entrada retratando a luta
de São Miguel Arcanjo e, ainda, o vão do coro na facha-
da em homenagem à Santa Cecília (padroeira dos
músicos) se mostra objeto único de contemplação.
Mas, não se demore nesse espaço porque ainda na
Cidade Alta, em Vitória, é possível visitar a pequena
Capela de Santa Luiza (mais antiga construção da
ilha), a igreja de São Gonçalo (dos casamentos dura-
douros), o Convento São Francisco (sede administra-
tiva da Arquidiocese), o tradicional Colégio do Carmo,
a igreja do Rosário dos Homens Pretos e ainda o
Palácio Anchieta, mesmo que esse tenha perdido,
suas características de colégio Jesuíta.
SUGESTÕES
Foto
: M
arc
os
de A
larc
ão
Catedral Metropolitana de Vitória
SUGESTÕES
vitória | 43
Diovani FavoretoHistoriadora
No morro de São Francisco a pequena capela dedica-
da a nossa Senhora das Neves intercala o velho e o
novo ente o piso lustroso e as paredes descascadas,
que demonstram a passagem dos anos e que abrigou
inclusive o Museu de Arte Sacra do Espírito Santo.
Saindo da Ilha de Vitória, do alto da penha a Padro-
eira do Espírito Santo, Nossa Senhora das Alegrias,
intercessora do povo capixaba, nesses últimos quatro
séculos.
Mais distante, do fundo da pequena baia de Nova
Almeida, os Três Reis Magos velam o Menino Deus
enquanto preservam outros tantos anos de memória
da Igreja Católica no Espírito Santo.
E, do que não pode ser rotulado como
“pedra e cal”, ou seja, que extrapola as edi-
ficações religiosas podemos observar
(mas apenas alguns poucos dias do ano) a
procissão de Nossa Senhora da Boa Morte
e Assunção, os festejos de São Benedito do
Rosário dos Homens Pretos, a Festa do
Divino Espírito Santo, a grandiosa Festa da
Penha e ainda acompanhar os Passos de
Anchieta.
Muito mais do que manifestações de
devoção e fé esses símbolos da Igreja
Católica no Espírito Santo demonstram a
inesgotável fonte de conhecimento e
cultura ali depositada como pequenas
amostras do patrimônio material e imate-
rial dos capixabas.
Fo
to: H
elio
Filh
o
Foto
: Pre
feitu
ra d
e V
itória
Capela do Rosário - Vitória
Igreja dos Reis Magos - Serra
vitória | 45
Até o dia 08 de setembro estará aberta ao público a exposição “A história da Igreja no
Espírito Santo”, preparada pela Arquidiocese de Vitória por ocasião da comemoração dos
60 anos de sua criação. A mostra está instalada na praça da Catedral Metropolitana de
Vitória e fica aberta das 14 horas às 21 horas. Quem visitar a exposição vai conhecer como
foi a chegada dos jesuítas franciscanos ao Espírito Santo e os principais marcos na história
desta Igreja Particular até os dias atuais.
A HISTÓRIA DA IGREJA NO ESPÍRITO SANTO
ACONTECE
No dia 15 de setembro, de 8 às 17 horas, acontece
um encontro de formação em preparação ao mês
missionário, celebrado em outubro. O objetivo do
encontro é promover reflexões para aqueles que pro-
movem atividades nas comunidades e paróquias da
Arquidiocese de Vitória.
Interessados podem se inscrever através do
e-mail: [email protected]
Os agentes da Pastoral do Batismo têm um
encontro marcado no dia no 15 de setembro
Santuário de Vila Velha, quando será realizado o
Encontro Arquidiocesano para os agentes desta
pastoral. O evento terá a assessoria do Pe. Antônio
Francisco Lelo e será realizado de 8 às 17 horas.
As inscrições podem ser feitas através do e-mail:
PASTORAL DO BATISMOMÊS MISSIONÁRIO