,
SORTE VIA SATELITCatarinenses gastam milhões na Pimba, a loteria eletrônica lançada há um mês pelo
governo do estado e que já virou vício entre os apostadores
Na central
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
ZEROOUT95
se, eram os velhos camponesesingleses que, entre 1811 e 1813,quebravam máquinas em protesto contra a revolução industri-
al).Algumas pérolas de Sale: "a
civilização é catastrófica, porquedestrói a si mesma e o ambientenatural"; "o uso da ciência e dassuas tecnologias é um atentado
à Natureza, é uma tentativa decriar uma natureza tecnológica,de modo que a humanidade
possa controlar todas as coisasda Natureza"; "nós, luddistas,não somos como os Flintstones:naminha opinião, os Flintstonesdispunham de muita tecnologiasupérflua" .
No paraíso vislumbrado
por Sale desaparecem os produtos tecnológicos : do computador ao forno de microondas, davideocâmera ao telefone digital.Até o automóvel é um demônio:melhor sair por aí numa velhabicicleta. A utopia do último dosluddistas é uma volta ao passado . Como quase todas as uto
pias anticientíficas contem
porâneas.
Com este numero, o ZERO consolida seu projeto de lançaruma edição por semana. A experiência tem se mostradoválida. Maiores responsabilidades estão sendo cobradas
dos alunos que se propuseram a encarar o desafio. Faremos, porém,uma pausa em nossos trabalhos. De 17 a 19 de outubro, a maioriados alunos do Curso de Jornalismo estará em Porto Alegre participando do go Set Universitdrio, o festival de laboratórios de comu
nicação promovido pela PUC-RS. Mas o ZERO voltará a ser
produzido na semana seguinte ao festival.Nesta ediçãoy ZERO denuncia uma forma imoral de se con
seguir uma boa nota na Universidade. Por trás dos anúncios oferecendo serviços de digitação de trabalhos se esconde uma práticaque aos poucos se torna comum na UFSC: profissionais sâo pagospor alunos para não somente digitar mas também elaborar todo o
trabalho.ZERO explica como funciona a Pimba, a nova loteria do go
verno do estado lançada hápouco mais de um mês. Em Florianopolis,já existem pessoas que estão ficando viciadas e nãoperdem um sorteio- que éfeito a cada cinco minutos.
Mais um candidato à reitoria é entrevistado por ZERO. Desta vez é Nilcéa Pelandré, da chapa Universidade Cidadã. Nilcéadeixou o cargo de vice-reitora e agora quer ocupar o cargo de Diomário Queiroz. Apoiada pelo atual reitor, ela quer vencer a eleição
disse Monad, é a base da ne
gação da cultura científica. Épara com os subprodutos tecnológicos da ciência que a aversãose manifesta mais claramente:a bomba atômica, a destruiçãoda Natureza, a "explosão de
mográfica". Confunde-se ciência e tecnologia (quando não se
identifica ambas com ideolo
gia). Não se percebe que o em
prego da energia nuclear se
tornará indispensável à sobrevivência dahumanidade; que a
destruiçãoda Nature-
Mais responsabilidade
Nosso"breve século
XX" registrou os
mais extraordinários
avanços nas ciências e suas aplicações, transformando o mun
do e o nosso conhecimento dele.Sem a ciência, a vida quotidianaem todo o planeta seria inconcebível. Basta lembrar algumastecnologias - das mais simples,como a geladeira e as vacinas,às mais complexas: raios lasers,energia nuclear, veículos moto
rizados, computadores, sa
télites, meios de comunicação,etc.
Todo esse progresso foi
acompanhado de reações de
desconfiança e medo, quandonão de ódio e rejeição do co
nhecimento científico. As ciências erradicaram muitas certezas,sem deixar, em troca, nenhuma
consolação: nem antropomórficas nem antropocêntricas, elasnão projetam o mundo apenasem função dos nossos desejosou valores. Afinal, trata-se deconhecimento objetivo, e este
não tem compromisso com a
"felicidade" humana ou com
a resolução de todos os problemas da espécie. Estadilaceraçãoé o preço da modernidade.
Esse "mal da alma", como
com uma plataforma política baseada na experiência acadêmica.No artigo desta semana, o professor Orlando Tambosi "disse
ca" os neo luddistas, pessoas que sâo totalmente contrárias ao desenvolvimento científico e tecnológico. Organizações que mandambombas a cientistas e universidades e intelectuais que quebramcomputadores a golpes de martelo. Para eles) qualquer espécie dedesenvolvimento tecnológico é altamente nocivo à natureza e àhumanidade.
O jornalismo cientifico, pauta bissexta no ZERO) é abordadocom um pesquisador da UFSC que está entre os que maisproduzemtrabalhos acadêmicos no Brasil. Ele faz parte de uma lista publicada no jornal Folha de S. Paulo com os pesquisadores mais produtivos do país.
O julgamento do nome da capital no dia cinco de outubro élembrado, mas para falar de outra simulação de tribunal do júrina UFSCy um dia depois. A matéria mostra como essa simulaçãofoi muito mais proveitosa para a universidade e para os alunos do
que aquela promovida pelo curso de história.Para fechar o ZERO um perfil de Dozol, o filósofo fundador
da ((República da Caverna", uma casa construída dentro do cam
pus da UFSC. Formado em Filosofia) Dozolluta contra a Univer
sidade) que quer lhe despejar e até já pediu reintegração de possena justiça.
que é mais apropriado falar emracionalidades do que em razão
(retardatários, alguns intelectuais brasileiros vão debatero mesmo tema no final domês). E tome Marcuse, Adorno e Horkheimer: "razão ins
trumental", "razão unidimensional", "razão técnica" - enfim,crítica da Civilização e ataque à"sociedade industrial" ou "tec
nológica" (não por acaso, a
sociedademoderna, baseada na
ciência e na
t e c -
nologia).Com a
informatizaçâo, au
mentam a
tecnofobiae a rejeiçãodas tecno
logias. NosEUA,oUn
abomber envia cartas-bombas
para cientistas, universidades e
linhas aéreas, e um intelectual queescreveu livros como Rebeldescontra o futuro eA revolução verde ilustra suas conferências quebrando computadores a golpesde martelo. Refiro-me a Kirk
patrick Sale (ops!), líder dosneoluddistas (luddistas, recorde-
"As ciênciaserradicaram muitas
certezas, semdeixar nenhuma
consolação"
I
za e conse-
qüência de
tecnologiainsuficiente, e
não demuita tec-
nologia; e que a "ameaça de
mográfica" resulta do fato demilhões de pessoas serem salvasda morte a cada ano (graças aos
avanços daMedicina, da Engenharia Genética, ete.).
O mesmo "mal da alma"
gerou, durante o nosso século,discussões cíclicas sobre a "crise da razão", numa época em
Jornal Laboratório do Curso de Silvestrini, Pablo C/audino, Sérgio Severino Redação: Curso de Jornalismo (UFSC -
Jornalismo da Universidade Federal de Textos: Aline Cabral, Carlito Costa, Eduardo ÇÇf.), Campus Universitétio, Trindade,
Editoração: Clayton Wosgrau, G/adinston Supervisão: Prof. Carlos Locatelli
As ciências no banco dos réus
Or/ando Tambosi
Professor adjunto do curso
de jornalismo da UFSC
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Governo quer rolar dívida de seDívidas do estado com a União
obrigam PauloAfonso a exigirmenos gastos nas secretarias
Crianças sem-terra protestam na capital
6 m mais uma tentativa de aumentar o dinheiro disponível no
caixa do estado, o governadorPaulo Afonso foi a Brasília na
semana passada para discutir a
rolagem da dívida pública deSanta Catarina com o ministroda Fazenda, Pedro Malan. A vi
agem foi um convite do presidente da República, Fernando
Henrique Cardoso, feito no último dia 25 durante a reuniãodos governadores. A equipecatarinense apresentou números da situação fmanceira doestado e espera uma propostade negociação. O Senado vem
analisando uma diminuição de11% para 7% nas parcelas da
dívida, mas o governo do esta
do não acredita na aprovação daidéia. Santa Catarina deve R$ 2bilhões ao governo federal.
Esta semana, Neuto deConto volta a Brasília para um
encontro de negociação com
Malan. A viagem coincide com
a proposta do governo federalde trocar a dívida dos estados
pelo apoio às reformas constitucionais. Mas Santa Catarina
prefere ficar com a dívida,porque o secretário da Fazendanão aprova as mudanças tributárias do jeito que estão. A
solução seria aumentar a validade do Fundo de Compensação dos Estados de um paratrês anos e colocar um rendimento de 1% ao ano sobre o
valor. A reforma tributária tam-
Cerca de 300 crianças fizeram uma passeata em Florianó
polis no último dia 11 de outubro. Eram os filhos dos sem
terra das regiões oeste, planalto e centro de Santa Catarinareivindicando por melhores
condições de vida no campo e
urgência na reforma agrária.Munidos com faixas e cartazes
eles foram no Palácio do Go
verno, na Assembléia Legislativa e na Secretaria de Edu
cação entregar o manifestofeito durante o 10 CongressoInfantil de Areas de Acampamento e Assentamento de SC.
Acesso à escola aos acam
pados e atendimento médico
odontológico para as famíliassem terra são alguns dos ítens
apresentados no documento
que, para frustação do líder infantil Itacir Pereira, não foi entregue direto nas mãos do go-
bém vai ser discutida com o
ministro Nelson Jobim e com a
Comissão de Assuntos Econômicos da Câmara Federal
Com as dificuldades, PauloAfonso começou a sentir queseus secretários não estavam
com o mesmo entusiasmo doinício do ano. Assim que voltoude Brasília, reuniu o colegiadoe deu uma bronca nos seus co
laboradores, exigindo "criatividade" nas soluções. Imediatamente, os secretários combinaram reuniões para encontrar
saídas e adiantaram que vão fazer cortes no custeio - luz, água,telefone, correios - para fazersobrar dinheiro. O estado gastacerca de R$ 30 milhões com
este tipo de despesa. Com R$ 7milhões poderia construir o
Hospital Infantil de Joinville.
Comprometimento-A falta de dinheiro no governo esta
dual se deve ao pagamento de
gratificações por tempo de
serviço aos aposentados, assimcomo são pagos aos ativos. São
porcentagens a mais no salário,que variam de acordo com o
tempo de serviço. Com a in
flação estável, o governo não. ..
consegulU mais Jogar com os
rendimentos. O pagamento deanuênios e triênios aos aposentados é um dos benefícios que a
reforma administrativa quercortar.
A folha de pagamento tam
bém guarda outro motivo para
vernador Paulo Afonso Vieira."Ele escapuliu quando viu quea gente estava chegando", grita o garoto de apenas 13 anos
às demais crianças.Itacirmora no assentamen
to União da Vitória em Fraibur
go onde, segundo o garoto, a
situação é dramática. Quandoalguém fica doente por exem
plo tem 'illf acordar de madrugada, andar 10 km, pegar umônibus para chegar na cidade e
ainda enfrentar fila para con
seguir uma consulta, pois o
único posto do assentameto
está desativado por falta de
profissionais capacitados. Masisso não incentiva o garoto a
sair do campo e vir morar nacidade. "No campo é difícil,mas ninguém é assaltado" dizo garoto que pretende ser técnico agrônomo.
Mais 5 mil cri�nças vivem
o
ZEROOUT95
o fim do dinheiro. O estado tem
que pagar 120 mil servidores, oque compromete 90% da receita mensal. Além destes, aindaexistem outros 24 mil Admitidos por Contrato Temporário -
os ACTs. O secretário da Qualidade e Produtividade, César
Barros Pinto, não vê melhora
para a situação econômica deSanta Catarina e acha que os
problemas ainda vão demorara ser resolvidos.
Flávia Rodrigues ::::��:::;;;�::���!)di���i§l���ii:
em 62 áreas de assentamento e
quatro acampamentos em todoestado. "Nós só queremos nos
sos direitos de educação, saúdee lazer" ,diz o líder infantil, lembrando as normas do estatuto
da criança e do adolescente. Direitos que ele gostaria de ganhar como presente de dia das
cnanças.
Sandra Vieira
o líder infantil Itacir Pereira ficou decepcionado com descaso
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Pimba! Governo lança bingo eletrônico..,..,...
Sorteios sãofeitospor computador e divulgados em
aparelhos de televisãopara 260pontos de apostasavidos pela ten
tação de ganhardinheiro fácil, ousimplesmente
por pura diversão, milhares decatarinenses foram fisgados pelamais nova loteria instantânea doestado, o Pimba. Só em
Florianópolis existem cerca de 65unidades de apostas, que em apenas uma semana de funcionamento faturaram em torno deR$ 2 mil.
O Pimba chegou ao estadoem quatro de setembro desseano. Na primeira etapa de im
plantação do sistema 260 terminais foram instalados em sete cidades: Florianópolis, Criciúma,Joinville, Itajaí, Blumenau,Chapecó e Lages. "Para a segunda etapa pretendemos instalar340 terminais, nas cidades deBalneário Carnboriú, Brusque,Rio do Sul, Tubarão, Joaçaba e
Concórdia", diz o técnico da
Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (Codesc), Izaías Silva.
O jogo, administrado pela loteria estadual, destina 65% dosrecursos à premiação e impostos.
r f'') TI.h
Dos 35% restantes, 13% vão
para a empresa que ganhou a
concorrência para explorar o
jogo no estado, a Racinec Informática Brasileira S.A., 9%fazem parte da comissão do re
vendedor e os últimos 13% vão
para obras assistenciais. Todo os
gastos com a instalação de ter
minais e a divulgação do Pirnba são responsabilidades da Ra
cinec, que deve gastar cerca deUS$ 2,4 milhões na implantação da segunda fase do sistema.
No Pimba, o prêmio máximo é de R$ 70 mil. A pessoaescolhe em quantos númerosjogar (de 1 a 10) e também es
tabelece o valor da aposta, quevaria de R$ 0,50 a R$ 5,00.Segundo a funcionária da Roleta Loterias, Tereza Kunner, o
valor máximo ,pago em SantaCatarina foi de R$ 2mil. Ela ex
plica que os valores superiores a
R$ 200 devem ser retirados em
qualquer agência do BESC, numprazo de 90 dias.
Os terminais de computador das casas lotéricas estão ligados diretamente, através de on-
das de rádio, ao Centro de Processamento de Dados da Racinec em Curitiba. Lá são com
putadas 80 mil apostas por segundo. O computador sorteiaaleatoriamente 20 números, quesão transmitidos para todos os
aparelhos ligados. Os resultadossaem a cada cinco minutos e os
jogadores podem retirar o prêmio em qualquer casa de aposta.
"Esse jogo vicia, caso as pessoas não tomem cuidado", dizo contador S.l. Segundo ele, somente os jogos de azar são ca
pazes de reunir tanta gente no
calçadão da Felipe Schmidt em
plena tarde de segunda-feira.Cerca de 50 pessoas estavam em
frente ao televisor anotando os
resultados do jogo.Para o representante comer
cial Carlos Couto Pereira é a instantaneidade de resultados quemais chama a atenção no Pimba. "A pessoa sabe na hora se
ganhou ou não", diz Pereira.Ele acha que esse tipo de jogotornou-se uma mania nacional
pela falta de cultura do povobrasileiro. "Se tivéssemos bons
teatros, mais folclore e interesse pela leitura, não perderíamostempo com isso". Só naqueledia, Pereira já tinha apostado10 vezes.
E a tentação dos jogos continua. A partir do dia 23 deoutubro a Codesc lançará o
Jogo dos Símbolos, uma nova
modalidade de loteria onde o
apostador escolhe seis dos 30símbolos disponíveis na tabela."Esses jogos darão uma ótimareceita para o estado de Santa
Catarina", diz Izaías.
Michele OliveiraRenata Lago
Florianópolis terá a primeira estrada privatizada do paísA duplicação da rodovia SC-
401 no trecho entre o balneáriode Canasvieiras e o bairro do Itacorubi, com 19,6 km de exten
são, vai trazer à cidade uma
novidade que deve causar
polêmica- a cobrança de pedágio.Cada vez que um carro pas
sar pela rodovia terá que deixarR$0,77 em dinheiro ou em forma de cartão no caso de quemprecisar passar pela estrada diariamente .. A taxa será cobradanum posto com 11 boxes entre o
acesso a Santo Antônio e a Polícia Rodoviária Estadual. Asobras da duplicação começaramno último dia 21 de agosto com
uma solenidade no trevo de [urerê.
O sistema de concessão criado pelo estado teve como vence
dor da concorrência a empreiteira Engepasa, que tem três anos
para concluir a obra e vai investir
R$ 30 milhões na duplicação.Na privatização à brasileira, a
Engepasa conseguiu um financiamento parcial do custo juntoao BNDES, que será pago com
o lucro da cobrança do pedágio.A empresa fica responsável pelamanutenção e conservação darodovia por um período de 25anos. O diretor geral do DER,Renato Faust, calcula que a co
brança só começará no verão de
97, mas nada impede que a em
presa comece a cobrar a taxa antes do término das obras. O
primeiro trecho a ser concluído será exatamente o do post� de recolhimento do pcdáglO.
Não há precedentes de co
brança de pedágio demoradoresde bairro de uma cidade. Caso
haja problemas com a tarifa, a
Engepasa está amparada poruma cláusula contratual que res-
ponsabiliza o governo do esta
do por possíveis indenizações à
empresa sobre seus investimentos.
Para o gerente da pousadaPetit, em Canasvieiras, MarcosFábregas, quem mora no Norteda ilha e tem carro tem con
dições de pagar o valor do pedágio. Para o gerente, o mais im
portante são as melhorias e a se
gurança da estradá. A SC-401tem capacidade atual de tráfegode 13mil veículos por dia na alta
temporada, número que poderáchegar a 30 mil com a duplicação.
O projeto prevê a construçãode ciclovias e acessos elevados ousubterrâneos no lugar dos trevos.O comércio atualmente estabelecido ao longo da SC-40 1 vai sertransferido para as vias marginais.Os acessos aos balneários de [urerê, Ingleses e Daniela também
serão reformados.
Preço de banana-Para a
passagem da nova estrada, o governo pretende desapropriar 80terrenos. O estado prevê um
gasto de R$ 6 milhões com o
pagamento de indenizações. Osperitos do DER calculam que ometro quadrado naquela áreaestá custando R$ 26,60 em média. Há muita área construída,principalmente na região dobairro Saco Grande. Assim ,
o
governo estaria se propondo a
comprar os terrenos a preço de
banana, mesmo que por uma
razão justificável.A SC-401 foi inaugurada há
dezoito anos e se estende entre
mangues, morros e vegetações.Sua construção causou a re
dução de uma parte do mangueno Saco Grande. Problemascom um relatório de impactoambiental da Secretaria de De-
Um dia de criança de ruaEles não são conhecidos, mas
sâo meninos-prodígios por seus
feitos. Amarildo Fernando da Silva e Leandro Pinheiro Santos,ambos de 12 anos, estão entre os
3,5 milhões de crianças, na faixade 10 a 14 anos, que trabalhamno Brasil. Meninos que perderam- se é que conheceram - a magiada infância. A responsabilidadede sustentar a família os obrigoua trocar as brincadeiras pela jornada de trabalho de doze horas.
Amarildo, um garoto franzino de grandes olhos verdes, carrega uma caixa de engraxate nas
costas de segunda a sábado. Nas
ceu em São Miguel d'Oeste,porém não lembra o dia. Atualmente mora com os pais e maistrês irmãos - dois excepcionais -
numa casinha de quatro cômodosem Formosa, um bairro próximoa Forquilhas, em São José .. Ele éo caçula da família, mas desde os
sete anos de idade ajuda seu pai,um pedreiro de 67 anos, a sus
tentar os irmãos.Todos os dias, o garoto acor
da às seis horas, pega seu material de serviço, entra num ônibus
que leva cerca de quarenta minutos para chegar ao centro de
Florianópolis e só retoma paracasa às sete da noite. "Num diabom dá pra conseguir até três
reais", diz Amarildo. Tirando o
dinheiro da passagem - R$ 1,20
- o restante ele entregue para a� Ai' d
'
mae. em a passagem, as vez-
es ele pega quarenta centavos
para almoçar um croquete."Quando não tenho dinheiro eu
peço emprestado para algumcolega meu, ou então não como",diz.
Quando chega em casa ànoite, Amarildo ainda ajuda sua
mãe a lavar a roupa e a louça. Sódepois é que vai dormir, já derrotado pelo cansaço. Sem a opçãoda televisão ou do rádio, quandoele tem tempo - normalmente sóaos domingos - gosta de brincar"de se esconder" com os ami
gos. "Às vezes eu também jogobola", diz o menino, se manifestando pela primeira vez como
uma criança de fato.Sonhando ser pedreiro quan
do crescer, Amarildo só deu ou
tra demonstração que era uma
criança quando disse o que gostaria de ganhar no dia 12 de outubro. Embora não soubesse queesse dia existe, tampouco quando seria comemorado, indagadoa respeito de presentes olhou parafrente e, com um olhar distante,afirmou que gostaria de ganharchocolates, muitos chocolates.
Leandro, amigo e companheiro de trabalho de Amarildo,encontra-se em pior situação.Com 12 anos e um pouco maisalto e mais falante que o colega,
a responsabilidade de Leandro éainda maior. Ele sustenta o pai e a
mãe desempregados, cinco irmãos
menores, a irmã mais velha, com13 anos e já casada, e o cunhado,também sem trabalho.
A vida profissional de Leandro começou cedo. Desde os seisanos de idade já ajudava o pai naroça- quando tinham uma em São
Miguel d'Oeste. Trabalhou tam
bém colocando venenos em plantações de algodão numa fazenda
paraguaia. ''Aquilo queimava as
mãos", diz ele, que prefere o tra
balho de engraxate.Só com a primeira série pri
mária' ele acredita que o estudoseria uma forma de melhorar devida. "Se eu tivesse estudado gostaria de ser cantor sertanejo", falacomo uma pessoa vivida, usandosempre os verbos no passado e
sem muitas perspectivas de futuro,apesar da pouca idade. "Eu sem
pre tive que trabalhar, não possoestudar", conclui.
Leandro, assim como Amarildo, não sabia que no dia 12de outubro comemora-se o diada criança. Porém, quando lem
brado, demonstrou-se mais am
bicioso que o amigo e disse quegostaria de ganhar uma bicicleta.
Sandra Vieira
senvolvimento Urbano e MeioAmbiente e uma liminar na
justiça exigindo o detalhamento do que era Mata Atlântica ao
longo da via obrigaram a Engepasa a alterar o projeto originalda duplicação.
O atual projeto não atingemais a reserva biológica de Ca -
"
rijós, por isso a Fatma permitiuque as obras começassem. ODER ajudará nas demarcaçõese na fiscalização da reserva. Umapedreira em Ratones, a mesma
#
que forneceu matéria prima ii'%.
para a construção da estrada, vaiser reativada para a duplicação.Como compensação pelos possíveis danos ao ambiente, a Engepasa fica comprometida com
a criação de uma reserva bio
lógica com customínimo de 1%do valor total da obra.
AIi.1e Cabral Amarildo eLeandro estão entre as 3,5milhões de crianças brasileiras que trabalhampara sustentar afamiliaAcervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
ZEROOUT95
runs sobre Educação) Cultura)Qualidade Vida e Contribuiçâono Projeto Político Nacional deixaram clara que a educação é o
passaportepara a cidadania e quea universidade é a instituiçãomais qualificada para construiro projeto de uma política nacional) já que trabalhamos com to
das as áreas.Qual é a sua posição so
bre a Lei de Diretrizes e Bases da Educação},
Somos a favor daproposta dosenador Cid Sabóia. Ela é a quecontemplá a manutenção da universidade pública e gratuita. Enecessária a democratizaçâo doensino) pesquisa e extensão.
Vice-reitora quer agora ser atitular do cargo e continuar o
trabalho de Diomário Queiroz
Nilcéa é a candidata da situação
que na semana passada o comitê de articulação já tinha reu
nido 60 pessoas.Eles têm apoio maior jun
to aos professores, mas afirmam que o eleitorado entre os
servidores vem crescendo. "Issoacontece porque a política de
valorização de recursos humanos da atual gestão mostra preocupação com a qualidade devida de nosso funcionários",contabiliza a candidata.
o
que si
gnific a
ser uma
candidaturaacadêmica?
An -
tes de tudo) significu ter
formaçãoacadêmi-
ca. Os outros candidatos têm apenas a graduação. Além disso é
preciso viver a instituição) nós somos professores de dedicação ex
clusiva e temos experiência com
ensino) pesquisa e extensão) alémda administração. O outro can
didato tem somente a experiência administrativa e a universidade não pode ser um trampolimpolítico.
Se vocês prometem se-
US$ 100mil e US$ 170mil". A
recomendação de Nome é paraque o Brasil siga o exemplo do
Japão. "Muitos países copiaramo que os outros produziram e se
saíram muito bem".
Química fina - Outra saída
para o Brasil, segundo Nome,seria investir na química fina.Esse setor da química fabrica
produtos pouco volumosos, mascom um custo elevado porquepassam por várias etapas e exi
gem equipamentos sofisticados.Estão incluídas aí a perfumaria e
a síntese de remédios como o
AZT, já produzido na UFRJ."Empresas grandes não tem interesse em produzir nessa área.Preferem investir em coisas mais
simples".Para aumentar o número de
químicos qualificados, o professor Faruk Nome e sua equipepriorizaram a formação de dou-
guir o que foi proposto peloatual reitor, o que ainda falta e deve ser feito se a chapaUniversidade Cidadã for e
leita?Nossa chapa vai ser eleita.
Do atual programa nós ainda
queremos implementar a revisãodas normas de extensão) o que jáfoi avaliado dentro da universidade. Agora nós queremos sabera opiniifo dos usuários destes ser
viços. E preciso também elaborar uma política cultural. Na
eleição anterior nós tínhamos a
idéia de criar uma orquestra sinjônica. Com a estruturação da
Orquestra Sinfônica de SantaCatarinafica a dúvida: será queFlorianópolis comporta duas or
questras?Durante o mês de setem
bro sua can-""""'c=-..",.......--------�--
didatura
Joice Sabatke
AIilcéa Lemos Pelandré e Carlos Alberto Szücs encabe
çam a chapa Universidade Ci
dadã, que pretende dar conti-nuidade ao trabalho do atualreitor da UFSC. Nilcéa deixouo gabinete de vice-reitora paraconcorrer à vaga titular da ad
ministração universitária. Aos44 anos, ela está em doutoramento na área de Educação. Ele tem 43 anos e é doutor em Engenharia Civil. São
professo-res dededica- "O outro candidato tem
somente experiênciaadministrativa e a
UFSC não pode servirde trampolimpolítico"
Químico aponta saída para pesquisa no país
ção ex
clusiva àUFSC e
se utilizam desta carac
terística
para determinaro perfilde sua
campanha. "Somos urna candidatura acadêmica", defineNilcéa.
A campanha é financiada
por doações de simpatizantes e
promoções. Até o dia dois deoutubro, já tinham sido arreca
dados R$ 11.537,05 e gastosR$ 6.362,49 em publicidade.Nilcéa não avalia quantas pessoas estão diretamente en
gajadas na chapa, mas relata
Não há uma empresa nacional na área de química que possa competir em igualdade de
condições com o mercado exter
no. Tudo porque falta ao país urndos fatores essenciais para o desenvolvimento tecnológico:profissionais qualificados. Porisso as multinacionais não investem no Brasil em projetos queexijam mão-de-obramuito especializada , como é o caso das indústrias de ponta. A conclusão édo professor Faruk Nome, doDepartamento de Química daUFSC e um dos mais importantes cientistas do país. "Edifícil desenvolver tecnologiacom urn índice de analfabetismocomo o do Brasil".
Apesar do quadro desanimador, o professor Faruk Nome
apontou urna alternativa: a có
pia. "Não tem outro jeito de produzir, pois formar um fármacoleva tempo e custa caro. Entre
promoveuquatro debates. Quaispropostas foram recebidas atravésdeles?
Os Fórunsda Universidade Cidadãtrouxeram ao
nosso programa a participação que queremos manter
durante nosso
m a n d a t o .
Queremos fazer da UFSCuma untverst
dade mats
comprometid,!,com a comuns
dade. Os fó� Nilcéa: perfil acadêmico contra administrador
,
tores em química na UFSC."Esse foi o único jeito de a
menizar a deficiência de especialistas no estado". As estatísticas apresentadas pelo professorassustam. Há quase 20 anos em
presas particulares nos EUA tinham centros de pesquisa com
mais demil doutores em química. O Brasil só alcançou esse
número agora.
sor FarukNome e só se comprometeu a fazer a divulgação. Oapoio fmanceiro, segundo ele, é"capenga". No ano passado, a
secretaria liberou apenas US$400 mil dos US$ 8 milhões destinados a pesquisa científica.
A formação profissional doprofessor FarukNorne começouno Chile, sua terra natal. Entre1964 e 1970 estudou Bioquímica na Universidade do Chile,único curso com vagas na época.A partir de 1971 trabalhou como presidente Salvador Allende na
produção de leite a partir dafarinha de peixe. Isso porque,segundo Nome, a prioridade do
governo era saciar a fome doschilenos. De 1974 a 1976,Nome fez doutorado no estadoamericano do Texas, e está no
Brasil desde 1977.
Central de análises- Alémda formação de recursos hu
manos, o cientista decidiu montar uma Central de Análises.Nela serão estudadas amostras demateriais. O serviço pretendeatender a todo o estado e isso
permite economia de pelomenosUS$ 500 mil. Dinheiro gasto,atualmente, com esse tipo de
pesquisa feita em laboratórios doRio de Janeiro e São Paulo. Asecretaria de Ciência e Tecnolo
g.ia aprovou o 'projeto do P�?t:es.- Luciene Lemos
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Alunos pagamparanãoestudarEstudantesdesembolsamaté R$ 300portrabalhosuniversitários
6ntreanúncios de lu
gares para morar e
computadores paravender, nos murais da UFSCencontram -se também "fabricantes de trabalhos universitários". Com a garantia de sigilo absoluto e o pagamento que variade R$ 100,00 a R$ 300,00qualquer pessoa pode enc9mendar seu trabalho escolar. E claro
que a maioria dos anúncios oferece apenas a digitação do con
teúdo - obedecendo as regras daABNT e atendendo às exigênciasdos professores - mas alguns"prestadores de serviço" fazemtodas as etapas do trabalho, desde a pesquisa até a elaboração dotexto.
Nem oMinistério da Edu
cação, nem as instituições deensino realizam qualquer tipo de
repressão a essa atividade que,embora ilegal e fraudulenta, temgrande procura pelos graduandos. A profissão deghost-writer(escritor-fantasma) não faz milionários, mas garante um bom
reforço no orçamento. J,M. é formado em História pela UFSC e,além de aulas particulares, faztrabalhos de História e disciplinas similares como Educação e
Geografia. S.S. é amiga de J.M.
Um dia depois que o curso
de História resolvia julgar se o
nome da capital catarinense era
homenagem ou humilhação, o
Direito da UFSC realizou o Tribunal do Júri Simulado, urn tipode julgamento-laboratório envolvendo professores e alunos do curso. O Tribunal aconteceu no au
ditório do centro Sócio-Econômico das 15 às 20 horas do dia 6, e
teve urn público razoável. Embora o julgamento tenha sido urna
atividade acadêmica, o caso julgado foi verídico.
Em 1993 Pedro Antônio
Prudêncio, de 54 anos, matou seu
genro com seis tiros, em Braço doNorte, sul do estado. No julgamento oficial, foi condenado porhomicídio a 12 anos de prisão .
No simulado, a defesa conseguiua absolvição, alegando legítima defesa. Venceu com quatro votos
contra três.Na falta do-verdadeiro réu e
e tem como característica a polivalência. "Encaro qualquerdisciplina", gaba-se. A maioriados textos que os dois
produzem sâo trabalhos nor
mais de graduação, custando aproximadamente R$100,00. Mas as chamadas
monografias de bacharelado também são
"fabricadas", podendo chegar a R$300,00. "Já fiz atéum trabalho demestrado para um
conhecido doParaná", revela J.M.
Agilidade na
produção - O tra
balho dos ghostwriters é bem-feito e
pode garantir boasnotas. O custo paracada página lida é deR$ 0,80, o que fez com
que J .M. freqüentasse umcurso de leitura dinâmica
para agilizar a produção. A página escrita sai por R$ 4,00 ouR$ 5,00. Tanto J.M. quantoS.S. sabem que o que estão fazendo não é certo. "Nós esta
mos cometendo uma irregularidade, mas é só porque alguémnos procura", defende-se S.S.
Um estudante de Direitoda UFSC que também não quisse identificar é cliente assíduode S.S. e, recentemente, tirounota 9,0 em um trabalho sobredireito trabalhista. "Trabalho o
dia inteiro e não tenho tempopara ler e escrever", explicavao aluno de Direito enquantopagava R$ 96,00 por um tra
balho de 20 páginas. "Sei quenão é nada ético, mas precisome formar", justifica o futuro
advogado.Segundo pesquisas, os
fantasmas não sâo um privilégio nacional. Na Alemanhauma investigação recente cons
tatou que pelo menos 300 doutores se formam todos os anos
às custas de trabalhos alheios.No Brasil não se tem idéia dosnúmeros e muito menos do quefazer com relação ao assunto. A
pedagoga Maria Scolatti defende a aproximação do professor com o aluno. "Um bom ori
entador, exigindo dedicação e
Em 93 o réu foi condenado a doze anospormatar o cunhado
testemunhas, defesa e acusação se
valeram dos autos do processopara as argumentações. O juiz foiJúlio César de Mello, do fórumda UFSC, que iniciou o Tribunal
didaticamente, mostrando os procedimentos-padrão.:Primeiro fa-
lou a acusação, composta pelosalunos Juliano Frohner e VivianeNocetti Graciosa. Uma hora e
meia depois foi a vez da defesa, acargo dos alunos Adolfo Penkuhn, Werner Kurth e MarceloDantas.
acompanhando de perto o tra
balho de seu aluno, consegueevitar as fraudes e melhorar a
qualidade dos trabalhos", expli-ca.
J.M. já fez aproximadamente 100 trabalhos para ter
ceiros. Desses, nenhum voltou
para reclamar da qualidade.Três voltaram para agradecer.E provável que não tenhamtido dificuldades para a ob
tenção de uma boa nota.
Eduardo Mira
Tanto a defesa como a a-s:� cusação tiveram orientação de� professores e encararam com se
fi? riedade suas tarefas. Vestidos::.
� com as tradicionais togas, capri-� charam nas argumentaçôes, mos� trando conhecer o oficio. Os âni-mos se acirraram em alguns momentos, mas nada comparável aoúltimo Tribunal, realizado hádois anos e que terminou em
confusão.O que valeu para os dois la
dos foi a reprodução de um am
biente profissional do trabalho
jurídico. "Participamos deste julgamento para aprender e, mesmo sem ganhar, atingimos o nosso objetivo", afirmou JulianoFrohner. Foi um julgamentomais útil para a Universidade do
que aquele que julgou Floriano
Peixoto, um ex-presidente queestá há décadas debaixo da terra.
RenêMüller
Julgamento simulado absolve homicida
ZEROOUT95
.::::#!��f:i��W"
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
ii
A república da cavernaEx-aluno constrói casa no campus e adota universidade como lar
Há quatro anos ex-aluno ''filosofa "...
L . '.
\ Q �'\'l
II}
·i
... escreve A Voz da Caverna à mão...
... e quer o direito de viver no campus
Dozol construiu a casa em 91 e é o único morador. Vizinhos nem o cumprimentam
araMoacirde Oliveira Dozol a univetsidade não é o seu segundo lar -
é o primeiro. Aos 36 anos, ex-alunoda Universidade Federal de Santa
Catarina, ele é o único habitante da "Repúblicada Caverna". A casa, construída por ele, fica numdos lugares mais bonitos do campus - a 100mda Igrejinha da UFSC.
Na porta, 10 sementes de urucum penduradas e algumas colagens. Um recorte de jornaldiz: "Hazel Rodgers, 75, furna maconha no
Cannabis Baver) Club de San Francisco." Urnadesivo sugere a reformulação do tratamento
psíquico: "Manicômio. Tire essa idéia da cabeça".E um pensamento grego completa a decoraçãoda entrada: "Onde entra o sol não entra-omédico".
coelhos que Dozol criava. Com a morte doscoelhos, que para ele foi criminosa, não tez maissentido continuar o curso de Agronomia iniciado em 90.
Na varanda da república, as bandeiras doPC do B, do PT e da cidade canadense de Quebec combinam-se tanto quanto as linhas deraciocínio de Dozol. Perguntado sobre a sua
atual ocupação, improvisa urn discurso querelembra o feudalisrno, passa pela RevoluçãoIndustrial e termina na constatação: "E ... acho
que isso que eu falei não ficou muito claro ...".Dentro da Caverna a única coisa nova é a
geladeira Consul - urna das poucas aquisiçõesdepois damotoHonda Super Sport. No tanqueda moto, um adesivo: "Use cinto". O relógio,que marca sempre a mesma hora, fica I}a parede próximo à escada que leva ao sotão. E lá queo filósofo faz as suas reflexões noturnas e dorme.
Muro de Berlim-Depois de ter comomorador o atual coordenador da central de segurança do campus, Sálvio José Vieira, a CEU
abriga hoje estudantes que nem cumprimentam o morador da casa ao lado. ''Existe um
muro deBerlim entre nós", confessa Dozol.Em 83, no primeiro dos cinco números do
jornalA TfJzda Caverna, que ele escreve à mão,Dozol publicou a carta do companheiro defaculdade Júlio Balthazar. Na carta, urn con
selho que fez questão de não atender: "Cósmico Dozol. Nós aboliremos o Estado, a família,a escola, a religião, o exército e todos os aparelhos de dominação do Estado. Continue comigo que sereis grande". Dois anos depois, Júliose enforcou com a própria cinta.
O dinheiro queDozol consegue como professor de filosofia no colégio AníbalNunes Piresé o suficiente para a sobrevivência. Prestes a
terminar de ler O Capital, de Karl Marx, ele jádefendeu junto à reitoria o direito de permanecer na casa. O argumento "Sou um cidadão e
não tenhopara onde ir", deu certo. Mesmo como pedido de reintegração de posse feito pelaUFSC, que tramita na Justiça Federal, ele continua no lugar que considera seu por direito.
Em 1979, Dozol deixou Laguna para cursar Filosofia na UFSC, que a partir daí seria a
sua residência definitiva. Até 81 ele morou em
pensão, barraca e no Centro Acadêmico de
Filosofia, até fundar, com mais sete companheiros, a Casa do Estudante Universitário - tam
bém chamada de CEU.Dozol já havia concluído o bacharelado e a
licenciatura quando largou a pós-graduação em
89. Na mesma época surgiram as primeiras intrigas entre os moradores da CEU. "Quando as
diferenças de hábitos e costumes tomaram-se in
suportáveis, comecei a ,construir uma casinha demadeira do lado da CEU", conta.
Depois de ter a integridade física ameaçadapor um ex-boxeador, Dozol diz que veio a "gotad'água". ''Eu cheguei em casa e vi a porta do
meuquarto arrombada. Meus pertences tin'wnsido revirados", conta. No dia 3 de agosto de 91ele fundou a República da Caverna. O nome
república sugere uma pensão onde o dono é oúnico hóspede. A palavra caverna define um
lugar quase escondido.
Gatos e coelhos -A casa é o centro de um
pomar onde, entre a predominância de bana
neiras, é possível encontrar outros 16 tipos defruta. Inclusive uma amarela que o morador dacaverna chama de "cabeluda". Os gatos que rodeiam a casa não se assustam quando uma pessoa se aproxima. Eles tomam a água dos bebedouros que já serviram paramatar a sede dos 30 Sérgio Negrão
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina