INTERAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADES E INSTITUTOS DE PESQUISA COM EMPRESAS NO BRASIL
The Underestimated Role of Universities for Development:
notes on historical roots of Brazilian system of innovation
Wilson Suzigan, DPCT-IG/UNICAMPEduardo da Motta e Albuquerque, Cedeplar/UFMG
• Por trás de cada produto brasileiro bem sucedido no mercado internacional há um instituto de pesquisa ou uma instituição de ensino superior.
• Exemplos: vacinas, soja e outras commodities agrícolas, aço e minérios, petróleo e gás, aviões.
• Em todos há um longo processo de criação de instituições e construção de interações
Questão central:
• Conjunto de instituições, agentes econômicos e políticas públicas atuando de forma conjunta tendo em vista a inovação.
• Críticas ao conceito: (1) só se preocupa com instituições do próprio sistema; (2) pouca atenção com funding; (3) melhor aderência a países desenvolvidos: alta renda, coesão social, instituições estáveis.
Abordagem – Sistema Nacional de Inovação (NSI):
• Tardio e problemático desenvolvimento das instituições-chave de um NSI: universidades e institutos de pesquisa.
• Industrialização também tardia e restrita.
• Instituições monetárias e financeiras tardiamente criadas e pouco funcionais ao NSI até os anos 1990.
Causas do atraso C-T no Brasil:
• “Ondas” de criação de instituições de ensino superior e IP; contexto social adverso (escravidão e sequelas), educação superior elitista, desagregação social.
• Em suma: universidades tardias, pequena escala, foco em humanidades, pouca relação com atividades econômicas, pesquisa aplicada restrita a ciências da saúde, agrárias, mineração e metalurgia. Engenharias se desenvolveram muito tardiamente, e a integração ensino-pesquisa só começou nos anos 1960 com a criação de cursos de PG.
• Institutos de pesquisa especializados é que tiveram papel relevante nos primórdios da ciência no país, especialmente em agrárias e saúde.
Universidades e Institutos de Pesquisa:
• Atrasado e defasado em relação aos padrões industriais e tecnológicos vigentes entre fins séc. 19/meados 20.
• Características estruturais e tecnológicas implicavam pouca demanda ao sistema C-T.
• Diversificação só ocorreu, e de forma limitada, a partir dos anos 1930, com políticas de forte proteção no mercado interno e pouca ênfase na exportação;
• Por isso, demanda por soluções tecnológicas ainda eram tímidas e direcionadas à importação.
• Estrutura da produção evoluiu até a década de 1970, estagnando depois.
Processo de industrialização:
Source: Bonelli (1996: 74, Table 2.2) based on industrial censuses data.
• Sistema monetário/financeiro rudimentar até década 1960; primeira “autoridade monetária”: SUMOC (1945); bancos comerciais: descontos de títulos comerciais; BB: crédito agrícola e industrial.
• Banco Central (1964); inovação financeira - correção monetária: possibilitou diversificação de ativos financeiros e créditos de médio/longo prazo (governo, agricultura, indústria, habitação, bens de consumo).
• Porém, financiamento para investimentos e desenvolvimento tecnológico: só BNDES e FINEP.
• Causa primordial: inflação endêmica.
Finanças:
• Vários não explorados no artigo: ciências da saúde – Institutos O. Cruz e Butantan; agrárias – trigo, algodão, celulose, carnes; geociências – petróleo e gás. E alguns na indústria.
• Em todos há longas histórias de bem-sucedidas interações de governo, produtores, instituições de ensino e pesquisa, agentes financeiros.
• Três casos ilustrativos foram selecionados para discussão: soja, aço, aeronaves.
Casos de sucesso
• Longa história de interação de múltiplos agentes para introduzir, adaptar e transformar a soja no mais importante produto agrícola do país.
• Principais atores: universidades e institutos de pesquisa (ESALQ, UFV, IAC, IAS/RS), produtores agrícolas, empresas sementeiras, agribusinesses, governo (pesquisa/Embrapa, financiamento, legislação).
• Avanços C-T: formação de melhoristas; variedades adaptadas a longos períodos de luz; inoculantes que geram nitrogênio; mecanização da lavoura, plantio direto, produção de sementes, controle de pragas.
Soja
Soja
Source: Authors’ elaboration based on data available at IpeaData (www.ipea.gov.br)
• Produção rudimentar de ferro no século 19. EMOP (1876): formação geólogos/engenheiros minas e metalurgia; localização e mapeamento de reservas ricas em minério de ferro; divulgação internacional atrai empresas estrangeiras no início do século 20. Surgem primeiras usinas. Avanço decisivo: CSN e Vale (anos 40), e outras nos anos seguintes.
• Anos 1970: Dep. Engenharia Metalúrgica e de Materiais/UFMG inicia cursos de PG nessa área e oferece às empresas siderúrgicas. Interação c/ apoio Finep gera (1975- 2006) 256 dissertações M de técnicos de 36 empresas, e 20 teses D de técnicos de 10 empresas.
• Interação deu excelência ao curso e gerou inovações de produto e processo nas empresas (bake-hardenability, aços especiais, materiais resistentes, aços elétricos e magnéticos, ligas aço inox ...).
Aço
Aço
Source: Authors’ elaboration based on official Brazilian foreign trade data available at IpeaData (www.ipea.gov.br).
• Embraer: posição atual resulta de processo histórico de esforços conjuntos de governo, empresa, fornecedores e instituições de ensino e pesquisa.
• Desde anos 1930 convergiam interesses militares e civis visando criar indústria aeronáutica (estratégia: integração territorial, correio aéreo, industrialização).
• Criação Ministério da Aeronáutica (1941), curso de engenharia aeronáutica (ITA) e centro de pesquisa (CTA), 1945.
• Primeiro protótipo do Bandeirante voou em 1968, e a Embraer foi criada em 1969, depois privatizada em 1994.
• Domínio da tecnologia aeronáutica precedeu produção de aviões: exemplo de interação ensino, pesquisa, produção industrial.
Aeronaves
Aeronaves
Source: Authors’ elaboration based on official Brazilian foreign trade data available at IpeaData (www.ipea.gov.br).
• Têm importante papel nos casos de sucesso; • Demandam longo processo de formação das
instituições (ensino/pesquisa) e construção das interações;
• Sucesso resulta de longo período de maturação e têm raízes históricas;
• Dimensão monetária e financeira é indispensável.• Questões para pesquisa: por que tão poucos
casos de sucesso? Como superar o contexto social desfavorável? Como formular políticas públicas que permitam o catching up tecnológico?
Conclusão - Interações Universidades/IP-Empresas no
Brasil: