7/22/2019 Trovadorismo - Cancioneiros e Cantigas de Santa Maria
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Universidade Federal do CearUFC
Centro de HumanidadesCH
Departamento de LiteraturaDL
Curso de Letras
Disciplina: Literatura Portuguesa IProf. Ms. William Craveiro
Trovadorismo: Cancioneiros e Cantigas de Santa Maria
FortalezaCE
2011
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Cancioneiros Trovadorescos
Cancioneiro: coletnea de canes ou de poemas (a partir do
Humanismo).
Foram confeccionados para evitar que as cantigas trovadorescas
se perdessem, com o passar do tempo. Geralmente, os
responsveis por esses registros de oratura (os cancioneiros) eram
os mecenas (notadamente os reis).
A Idade Mdia portuguesa legou-nos alguns cancioneiros (O Livro
de Trovas de D. Afonso, O Livro de Trovas de D. Dinis...); no entanto,
apenas trs chegaram aos nossos dias:
Cancioneiro da Ajuda: cancioneiro do tempo de D. Afonso III
(sculo XIII). Logo, muito da vasta produo trovadoresca dostempos de D. Dinis no se encontra nesse cancioneiro. No seu
interior h cerca de 310 cantigas, quase todas de amor. O seu
organizador deixou de fora as cantigas de amigo e as cantigas
satricas (escrnio e maldizer), talvez por julgar que eram
demasiadamente vulgares (no bom e no mau sentido da palavra).
Cancioneiro rico em iluminuras.
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Frontispcio do Palcio Nacional da Ajuda
e Biblioteca do Palcio da Ajuda
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Cancioneiro da Vaticana: cancioneiro
descoberto na Biblioteca do Vaticano
(Vaticana). Cpia italiana do sculo XV, de
original do sculo anterior. Possui cerca de
1205 cantigas, entre lrico-amorosas (de
amor e de amigo) e satricas (de escrnio e
de maldizer). Inclui composies do tempo
de D. Afonso III e de D. Dinis.
Biblioteca do Vaticano (Vaticana) e um
dos flios do Cancioneiro da Vaticana
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Cancioneiro da Biblioteca Nacional(ou
de Colocci-Brancutti): o mais completo
dos cancioneiros trovadorescos
portugueses. Traz, no seu interior, cerca de
1647 cantigas, entre lrico-amorosas
(cantigas de amor e de amigo) e satricas
(de escrnio e de maldizer). Essas
produes pertencem tanto poca de D.
Afonso III quanto poca de D. Dinis.
Alm disso, o nico cancioneiro que traz,
nas suas primeiras pginas, um tratado depotica: a Arte de Trovar (ou Arte de
Trobar, ou, ainda, Potica
Fragmentria").
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A Arte de Trovar
Tambm conhecido por Arte de Trobar e
por Potica Fragmentria.
Tratado de potica medieval portugus,
acfalo, encontrado nas primeiras pginas
(flios 03 e 04) do Cancioneiro da Biblioteca
Nacional(ou de Colocci-Brancutti).
Transcrito uma parte por Colocci e outra
parte por um copista identificado por mo
A, de acordo com A. Ferrari.
Diferentemente do que acontece com as
tolosanas Leys dAmors, de Guillem Molinier,e com asArtes catals, que so eivadas de
um didatismo ativo, a Arte de Trovar
procura apenas classificar, com base em
determinadas caractersticas, as cantigas
trovadorescas.
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Num primeiro momento, a Arte de Trovar procura classificar as cantigas (tipos e
subtipos) com base nas caractersticas de cada uma (tanto aquelas ligadas ao contedo
quanto aquelas ligadas forma), com o claro objetivo de levar o leitor ao reconhecimento
dessas cantigas dentro do Cancioneiro.
Num segundo momento, a Arte de Trovar apresenta captulos voltados concordncia
dos tempos verbais, aos tipos rmicos e aos erros que os trovadores cometiam ao realizar
suas composies.
Porm, o objetivo maior da Arte de Trovar era mesmo o classificatrio. Esse foirealizado at a exausto, dando conta de tipos e de subtipos das cantigas trovadorescas.
Apesar de ter realizado muito bem a classificao das cantigas, percebe-se uma grande
preocupao em definir os gneros menores ou subtipos, ao passo que os gneros maiores
e mais importantes carecem de uma melhor descrio.
A Arte de Trovar um tratado de potica bastante breve. Alguns acreditam que foi
feito s pressas ou, ento, que foi elaborado depois do perodo em que foram realizadas as
cantigas trovadorescas, o que justificaria uma possvel incompetncia de seu autor no que
se refere a um agudo conhecimento dos processos poticos do Trovadorismo.
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Cantigas de Santa Maria
Originrias do Sul da Frana (Provena),
encontraram, na Pennsula Ibrica, muitosadeptos; dentre estes, notabilizou-se,
sobremaneira, D. Alfonso X, o sbio rei de Castela.
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D. Alfonso X, antes de se dedicar s Cantigas de
Santa Maria, havia j se aventurado por cantigas
profanas; notadamente pelas Cantigas de Amor,
do que nos d prova o Cancioneiro da Biblioteca
Nacional.
As Cantigas de Santa Maria, como o prprio
nome j sugere, so composies realizadas com o
intuito de exaltar Nossa Senhora. Na Baixa Idade
Mdia, composies desse tipo tornaram-se muitocomuns, devido atmosfera de cristianizao que
varria a Europa de ponta a ponta.
As Cantigas de Santa Maria, de D. Alfonso X,
podem ser classificadas da seguinte forma:
Cantiga-prlogo: a primeira cantiga docdice. Nela podemos obter todas as informaes
acerca do cdice: desde quem comps as cantigas
(D. Alfonso X) at o que o compositor esperava
receber por galardo (presente), passando, claro,
pelos motivos que o levaram a realizar tais
composies (ser agraciado com milagres).
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Miragres: cantigas de carter narrativo.
Tinham por intuito contar/cantar os milagres
realizados pela Virgem Maria. A simples cura de
uma doena ou a resoluo de um problema do
Reino, em termos administrativos, geralmente
era considerado um milagre. Merecia, portanto,
ser contado/cantado. Geralmente, os milagres
estavam ligados D. Alfonso X e sua famlia. As
cantigas tinham, portanto, um carter
autobiogrfico e autopromocional.
Loores: cantigas de teor lrico. Tinham por
objetivo exaltar a Virgem Maria, sozinha ou ao
lado do Menino Jesus. Maria era
constantemente apresentada, nas cantigas do
tipo loor, como advogada dos homens perante
seu filho.
Pition: ltima cantiga do cdice. Nela, D.
Alfonso X, depois de exaltar a Virgem Maria em
cantigas anteriores (loores) e de contar/cantar os
milagres por ela realizados (miragres), resolve,
ento, pedir-lhe um galardo, um presente.
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As Cantigas de Santa Maria, diferentemente do
que ocorre com as cantigas lrico-amorosas e
com as cantigas satricas, profanas, no se
encontram reunidas em cancioneiros, mas em
cdices, nomeados, estes, com letras do
alfabeto.
Chegaram at ns trs redaes (ou edies)
de cdices. O cdice mais completo traz 420
textos.
Os cdices em que podemos encontrar as
Cantigas de Santa Maria so bastante completos:
no s trazem belas iluminuras como tambm a
pauta musical das cantigas.
Na organizao das Cantigas de Santa Maria hum constante trabalho com a numerologia
(misticismo cristo): o nmero 5 e seus
mltiplos, ligados ao culto mariano, e o nmero
7, ligado perfeio, aparecem o tempo todo, ao
longo do cdice.
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Audio das Cantigas
Martin Codax
Mia irmana fremosa, treides comigo
a la igreja de Vigo, u o mar salido,
e miraremos las ondas.
Mia irmana fremosa, treides de grado
a la igreja de Vigo, u o mar levado,e miraremos las ondas.
A la igreja de Vigo, u o mar salido,
e verr i, mia madre, o meu amigo
e miraremos las ondas.
A la igreja de Vigo, u o mar levado,
e verr i, mia madre, o meu amado
e miraremos las ondas
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Audio das Cantigas
Martin Codax
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
E ai Deus, se verr cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!E ai Deus, se verr cedo!
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro!
E ai Deus, se verr cedo!
Se vistes meu amado,
por que hei gran cuidado!
E ai Deus, se verr cedo!
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Audio das Cantigas
Martin Codax
Ai ondas que eu vin veer,
se me saberedes dizer
por que tarda meu amigo
sen m?
Ai ondas que eu vin mirar,se me saberedes contar
por que tarda meu amigo
sen m?
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Audio das Cantigas
Martin Codax
Quantas sabedes amar amigo
treides comig'a lo mar de Vigo
e banhar-nos-emos nas ondas.
Quantas sabedes amar amado
treides comig'a lo mar levadoe banhar-nos-emos nas ondas.
Treides comig'a lo mar de Vigo
e veeremo-lo meu amigo
e banhar-nos-emos nas ondas.
Treides comig'a lo mar levado
e veeremo-lo meu amado
e banhar-nos-emos nas ondas.
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Audio das
Cantigas
Martin Codax
Eno sagrado, en Vigo,
bailava corpo velido:
amor hei!
En Vigo, no sagrado,bailava corpo delgado:
amor hei!
Bailava corpo velido,
que nunca
houver'amigo:amor hei!
Bailava corpo delgado,
que nunca
houver'amado:
amor hei!
Que nunca
houver'amigo,
ergas no sagrad',
en Vigo:
amor hei!
Que nunca
houver'amado,
ergas en Vigo, no
sagrado:
amor hei!
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Audio das Cantigas
D. Alfonso X
Porque trobar cousa em que jazentendimento, porm que-no faz
h-o d' haver, e de razom assaz,
per que entenda e sbia dizer
o que entend' e de dizer lhe praz,
ca bem trobar assi s' h de fazer.
E, macar eu estas duas nom hei
com' eu querria, pero provarei
a mostrar ende um pouco que sei,
confiand' em Deus, ond' o saber vem;
ca per Ele tenho que poderei
mostrar, do que quero, alga rem.
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Audio das Cantigas
D. Alfonso X
Porque trobar cousa em que jazentendimento, porm que-no faz
h-o d' haver, e de razom assaz,
per que entenda e sbia dizer
o que entend' e de dizer lhe praz,
ca bem trobar assi s' h de fazer.
E, macar eu estas duas nom heicom' eu querria, pero provarei
a mostrar ende um pouco que sei,
confiand' em Deus, ond' o saber vem;
ca per Ele tenho que poderei
mostrar, do que quero, alga rem.
E o que quero dizer loor
da Virgem, madre de Nostro Senhor,Santa Maria, que st' a melhor
cousa que El fez; e por aquest' eu
quero seer hoimais seu trobador,
e rogo-lhe que me queira por seu
trobador e que queira meu trobar
receber, ca per el quer' eu mostrar
dos miragres que ela fez; e ar
querrei-me leixar de trobar des i
por outra dona, e cuid' a cobrar
per esta quant' enas outras perdi.
Ca o amor desta senhor tal
que que-no h, sempre per i mais val,
e, poi-lo gaanhad' h, nom lhe fal,
senom se per sa grand' ocajom,
querendo leixar bem e fazer mal
(ca per esto o perd', e per al nom).
Porm dela nom me quer' eu partir,
ca sei de pram que, se a bem servir,
que nom poderei em seu bem falir
de o haver, ca nunca i faliu
quem lho soube com mercee pedir,
ca tal rogo sempr' ela bem oiu.
Onde lhe rogo, se ela quiser,
que lhe praza do que dela disser
em meus cantares, e, se lh' aprouguer,
que me d galardom com' ela d
aos que ama; e que-no souber,
por ela mais de grado trobar.
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Audio das Cantigas
D. Alfonso X
Rosas das rosas e Fror das frores,Dona das donas, Sennor das
sennores.
Rosa de beldad' e de parecer
e Fror d'alegria e de prazer,
Dona en mui piadosa seer,
Sennor en toller coitas e doores.
Rosa das rosas e Fror das frores...
Atal Sennor dev' ome muit' amar,
que de todo mal o pode guardar;
e pode-ll' os peccados perdar,
que faz no mundo per maos sabores.Rosa das rosas e Fror das frores...
Devemo-la muit' amar e servir,
ca punna de nos guardar de falir;
des i dos erros nos faz repentir,
que nos fazemos come pecadores.Rosa das rosas e Fror das frores...
Esta dona que tenno por Sennor
e de que quero seer trobador,
se eu per ren poss' aver seu amor,
dou ao demo os outros amores.
Rosa das rosas e Fror das frores...
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Audio das Cantigas
D. Alfonso X
Santa Maria, strela do dia,mostra-nos via pera Deus e nos guia.
Ca veer faze-los errados
que perder foran per pecados
entender de que mui culpados
son; mais per ti son perdados
da ousadia que lles fazia
fazer folia mais que non deveria.
Santa Maria, strela do dia,
mostra-nos via pera Deus e nos guia.
Amostrar-nos deves carreira
por gar en toda maneira
a sen par luz e verdadeiraque tu dar-nos podes senlleira;
ca Deus a ti a outorgaria
e a querria por ti dar e daria.
Santa Maria, strela do dia,
mostra-nos via pera Deus e nos guia.
Guiar ben nos pod' o teu siso
mais ca ren pera Paraysou Deus ten senpre goy' e riso
pora quen en el creer quiso;
e prazer-m-ia se te prazia
que foss' a mia alm' en tal compannia.
Santa Maria, strela do dia,
mostra-nos via pera Deus e nos guia.