1 Graduanda em Museologia pela Universidade Federal de Sergipe
UM OLHAR MUSEOLÓGICO NO HERBÁRIO ASE: UM ESTUDO DO PERFIL,
EXPOSIÇÃO E PÚBLICO VISITANTE
GEOVANNA MARIA DIAS COSTA1
RESUMO
O presente artigo busca analisar o perfil, a exposição e o público visitante do Herbário ASE,
importante espaço de coleção e pesquisa de espécimes botânicas de Sergipe. Criado em 1975,
localiza-se na Universidade Federal de Sergipe, no campus de São Cristóvão, vinculado ao
Departamento de Biologia, possuindo acervo que se caracteriza como coleção museológica
voltado para pesquisas taxonômicas, anatômicas, genéticas, ecológicas, farmacológicas e
agronômicas. A metodologia empregada foi a observação direta, revisão de literatura,
aplicação de questionários e da SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities e Threats) com
o objetivo de observar os pontos positivos e negativos do Herbário, constituição do acervo,
discurso expográfico, perfil e avaliação de público. A partir da realização de visitas técnicas, o
artigo busca ainda discorrer sobre as tipologias e importância da avaliação de público em
instituições museológicas ou que abrigam coleções, da necessidade de realização periódica e
benefícios para a instituição.
Palavras-chaves: Museologia, Herbário, Público, Exposição.
INTRODUÇÃO
Os primórdios da Museologia surgem dos Gabinetes de Curiosidades a partir das
variadas coleções, principalmente as coleções relacionadas a biologia como: botânica,
paleontologia, geologia, entre outros. É por causa deste tipo de acervo que contribuiu para que
a Museologia se consolidasse e criasse suas teorias e suas diretrizes, dando origem aos
Museus de História Natural os quais têm importância na valorização do patrimônio natural
brasileiro e na divulgação dos resultados obtidos tanto para a comunidade científica como
para a sociedade geral.
1 Graduanda em Museologia pela Universidade Federal de Sergipe
Por conta disso, este artigo busca avaliar o Herbário Aracaju-Sergipe (ASE) sob o
ponto de vista museológico, analisando o seu perfil, o seu público visitante e a sua exposição,
a partir de visitas técnicas realizadas em julho de 2018.
De acordo com o Instituto de Biociências um herbário é uma reunião de coleções de
plantas secas que cataloga espécies novas e já descobertas. O instituto afirma que “As plantas
de um herbário são armazenadas em exsicatas, que são amostras de plantas secas, prensadas
em estufa e fixadas em cartolina especial contendo informações sistemáticas e de coleta da
amostra”. (INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS, 2014). Quando uma nova espécie é descoberta,
para ser reconhecida pelo campo científico precisa primeiramente se registrar em um herbário.
O Herbário ASE está localizado dentro da Universidade Federal de Sergipe (UFS),
Campus de São Cristóvão, na mesma localidade do Departamento de Ciências Biológicas
(DBI). É um espaço que está de portas abertas a toda comunidade podendo visitar a qualquer
momento desde que respeite o horário de funcionamento que é de segunda-feira a sexta-feira
das 08:00 às 12:00 com um intervalo de duas horas voltando às 14:00 até 17:00, se for em
grupo é preciso agendar antes através do número da Secretaria DBI (79) 3194-6663 ou (79)
3194-6666, é regido pela Curadora Prof.ª Dr.ª Marla Ibrahim Uehbe de Oliveira tendo como
sua vice Dr.ª Marta Cristina Vieira Farias. Segundo a página da UFS, o Herbário foi fundado
oficialmente em 1975 e atualmente reúne uma coleção com cerca de 40.000 exemplares
dentre eles estão às gimnospermas, angiospermas, entre outros, a maior parte do material
coletado é do estado de Sergipe e da região Nordeste, porém recebe plantas de outras regiões.
Praticamente quase todo seu acervo já está digitalizado e disponibilizado em um banco de
dados via internet: o Specieslink e a Flora Brasil 2020.
1. DIAGNÓSTICO
A avaliação é uma ferramenta que auxilia no planejamento e na gestão institucional. Ela
deve ser feita periodicamente e não basta apenas aplicá-la, deve-se também analisar e
compreender os resultados obtidos.
Para Crepaldi (1998), uma empresa é uma associação de pessoas para a exploração de um
negócio que produz e/ou oferece bens e serviços, com vistas, em geral, à obtenção de lucros, o
que diferenciaria de uma empresa “comum” para um museu seria que ele não tem como
finalidade obter lucro, muitos não correlacionam que o museu é uma espécie de empresa, pois
da mesma forma ele oferece produtos (cultura) para alguém (visitante do museu) ele também
é uma organização e como tal deve possuir uma gestão administrativa contendo um
planejamento estratégico.
O planejamento estratégico consiste em determinar objetivos de longo prazo para a
empresa e que sejam executáveis, nele está contido a criação da missão, visão, valores e perfil
da entidade, no caso dos museus ganha o nome de plano museológico e deve ser sempre feito
ao se adaptar ou criar um espaço museal. O plano museológico é um documento de suma
importância, visto que é nele que contém a tipologia do museu, a finalidade para que ele foi
criado, seu público-alvo e outras coisas que irão nortear o funcionamento deste e é a
partir dele que se faz uma avaliação institucional, não necessariamente precisa ter um plano
museológico para fazer uma avaliação, mas se tiver a avaliação será mais eficiente pois
poderá constatar se o museu está seguindo sua missão, por exemplo.
De acordo com Rudge, “a avaliação institucional consiste num processo que engloba
aspectos do ensino, da pesquisa, da extensão e da gestão das instituições (critério da
globalidade) e o respeito à identidade institucional (perfil, missões, condições, necessidades,
apurações).” (RUDGE, pág. 02, 2010-2014). Como forma de avaliar existe vários métodos:
entrevistas, questionários, formulários, dentre outros; para este trabalho em específico
utilizou-se a análise da SWOT uma sigla inglesa que a traduzindo seria Força, Fraqueza,
Oportunidade e Ameaças sendo aplicada no Herbário ASE.
Toda e qualquer instituição tem seus pontos fortes e fracos, contudo uma excelente
instituição sabe transformar suas fraquezas em grandes oportunidades, neste estudo estará
sendo analisados através da SWOT todos os aspectos institucionais do herbário
indicando seus acertos como também suas falhas, mostrando o potencial que ele pode
alcançar e os cuidados que ele deve ter.
No herbário a documentação que existe dele é o regimento interno ligado a UFS, onde
especifica qual o seu objetivo, o organograma dos seus funcionários e seus deveres, os
procedimentos de recebimento de material bem como as diretrizes de como conservá-lo, entre
outras normas, ou seja, é esse documento que está todo o funcionamento do herbário, que de
acordo com os estudos ele cumpre perfeitamente bem todas as suas regras, o que faz com ele
tenha um ponto bastante positivo.
Em termos de organização e documentação do acervo ele tem um grande ponto positivo e
caso queira consultá-lo na sua própria casa é só acessar o site da Flora do Brasil 2020
ou Specieslink, todavia em algumas plantas faltam algumas informações importantes que não
foram fornecidas pelos coletores (pessoas responsáveis pela coleta dos vegetais). Como plano
tático caso aconteça algum incidente há duplicatas de todas as plantas guardadas em armários
diferentes e em outros locais e os armários que contêm elas já se encontram perto da saída.
Uma grande oportunidade ali seria fazer várias exposições temporárias para divulgação
do conhecimento utilizando as duplicatas para assim preservar e conservar o original e
também para divulgação do próprio herbário já que pela pesquisa quem tem ciência que existe
aquele local em sua maioria só são pessoas ligadas a essa área.
Como o herbário lida com peças orgânicas deve se ter todo um cuidado para o acervo não
se contaminar com agentes biológicos e com agentes químicos já que o material usado para
acondicionamento não é mais adequado e o deteriora mais rápido.
1.1 AVALIAÇÃO DE PÚBLICO
A história dos museus começa nos gabinetes de curiosidades que são locais onde
amontoavam vários objetos sem nenhuma organização, mas isso ao longo do tempo vai se
modificando e se transformando no que hoje denominamos museu, apesar de o museu ter
como propósito divulgar o conhecimento ao maior número de pessoas, não se pensava no tipo
de visitante e nem como oferecer a melhor experiência para ele, porém isso muda e cresce
uma grande preocupação em se conhecer a população que vai até os museus e a partir dos
dados encontrados trabalharem em mecanismos que proporcionassem um ambiente
confortável e prazeroso ao visitante para que assim desejasse voltar àquele local.
O estudo de público é uma ferramenta que avalia o perfil do visitante e a
partir deste verifica o desempenho da instituição e da exposição para com o público e
desenvolve mecanismos para melhorar ou atrair um maior número de pessoas, por isso:
Os estudos de público podem ser descritos como processos de obtenção de
conhecimento sistemático sobre os visitantes de museus, atuais ou
potenciais, com o propósito de empregar o dito conhecimento na
planificação e pôr em marcha atividades relacionadas com os distintos
grupos de visitantes [...]; pois cada tipo de estudo agrega características,
nuances e perspectivas particulares que renovam e ampliam a percepção e a
construção discursiva sobre o público. (KÖPTCKE, 2012, p. 215-216)
Com base nisso, neste estudo pretende investigar o público que frequenta o herbário,
verificando se há ou não ferramentas de controle de público e se tiver se faz uma análise das
informações, como também examinar o tratamento com o visitante.
A maioria das instituições museológicas tem como público dominante os estudantes,
principalmente o do ensino fundamental e médio. Com o herbário não seria diferente, apesar
dele está sempre aberto a qualquer visitante sem precisar necessariamente de agendamento
(exceto quando for em grupo) seu público está concentrado em sua maioria pesquisadores e
universitários do curso de Ciências Biológicas ou cursos que tem em sua grade curricular algo
relacionado a botânica: Engenharia Agrícola, Engenharia Florestal, Ciências Fisiológicas e
Farmacêuticas e até mesmo alunos de outros cursos, como foi neste caso de Museologia, mas
também da Pós-Graduação e grupos escolares.
Saber dessas informações só foi possível ao perguntar ao guia, pois ainda que tenha um
livro de visitas que separa pesquisador do público geral, o que é bastante formidável para se
ter uma orientação dos grupos que visitaram o local, ele sequer foi lembrado no dia da visita
para ser assinado e também não há numeração e separação de categorias como nome,
procedência, profissão, sexo, idade, e etc., como tipo de instrumento de controle de público
além desse há o agendamento, mas acredito que só sirva como uma questão administrativa,
não há algum dispositivo que possa dar um feedback ao herbário sobre o que visitante achou
da visita, exceto o instagram @herbario.ase que poder-se-ia utilizar como uma ferramenta, já
que no dia da visita tirou-se uma foto do grupo e postou na rede social e através dos
comentários poderia se ter um parâmetro das opiniões do público. Com isso já se pode
imaginar que uma avaliação de público não tem.
Se no requisito avaliação de público o Herbário ASE tem um ponto negativo, em
compensação o atendimento ao público é excelente, embora só se possa visitar com
acompanhamento, as pessoas presentes no dia da visita foram muito simpáticas e acolhedoras
e a qualquer momento que se retorne lá serão assim, respondendo de bom agrado as perguntas
que foram solicitadas, antes de entrar propriamente no herbário foi realizado uma palestra
sobre o que ele é, quando surgiu, sua finalidade entre outras informações referentes ao campo
da biologia, com uma linguagem bastante acessível, mas que somente em alguns momentos
foram um pouco técnicos demais.
1.2 AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO
Depois de passar pelo processo da coleta a planta é direcionada para uma sala onde será
feito o processo de secagem e amarração chamado de exsicata, depois disso é que ela entra no
herbário, fora o nome indicando o local (Foto 01) não tem nenhum texto explicativo seja
dentro ou do lado de fora esclarecendo o que é e o que você encontrará nele.
Ele em si não possui exposições por questões de conservação do acervo, ele até faz
exposições em outros locais, mas não é frequente, foi relatado que no início de março de 2018
em comemoração ao aniversário de 45 anos do curso de Ciências Biológicas da UFS
(Universidade Federal de Sergipe), ocorreu uma exposição temporária no Shopping
Riomar/Aju-SE em que se levaram alguns itens do acervo para lá, por isso este estudo de
avaliação de exposição se dará de uma forma diferenciada, adaptando os armários como se
fossem expositores.
Para se fazer uma boa exposição existe alguns recursos e critérios expositivos que se
utiliza como: circulação e circuito, maneiras de se fazer uma etiqueta, suporte utilizado, textos
de apresentação e explicativos, iluminação, cor, design, como aqui não é propriamente uma
exposição, mas que ao visitar é exposto ao visitante será analisado em como é exibido e como
seria se fosse colocado em exposição.
Segundo Marta Farias, há no acervo mais de 39 mil exemplares divididos em armários
de aço completamente fechados (Foto 02), classificados em famílias, indo da planta mais
simples até a mais complexa, não se tem ideia de quantas plantas há em cada armário. Os
objetos estão em pastas de papel (Foto 03), catalogados por gênero e depois por espécies,
sendo cada espécie de planta depositada em uma folha (Foto 04), ao lado de cada folha há
etiquetas (Foto 05) que trazem informações essenciais sobre o vegetal como: espécie, coletor,
local da coleta, tamanho e etc.
Foto 01 - Entrada do Herbário
Fonte: Fotografado por Geovanna Costa
Data: Agosto de 2018
Foto 02 – Armário do Herbário
Fonte: Fotografado por Geovanna Costa
Data: Agosto de 2018
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Foto 03 – Pastas onde ficam as plantas
Fonte: Fotografado por Geovanna Costa
Data: Agosto de 2018
Como o herbário não foi pensado em ser exposto a circulação dele é feita em
corredores um pouco estreitos (Foto 06) como consequência ali não pode ter muitas pessoas
circulando, não há indicação de onde começa (Foto 07) a não ser que o guia explique como
está organizado a lógica da disposição dos armários, em compensação em cada suporte há
uma etiqueta informando o que tem dentro dele (Foto 08) e caso queira encontrar uma família
em específico para não ficar olhando de um por um, ele dispõe de um dispositivo de
orientação (Foto 09 e 10). A iluminação é suficiente para iluminar o local e poder
trabalhar nas bancadas (Foto 11) e por último as etiquetas dos armários e do objetos tem o
tamanho de letras razoavelmente pequenas.
Foto 04 – Exemplar da planta
Fonte: Fotografado por Geovanna Costa
Data: Agosto de 2018
Foto 05 – Etiqueta da planta Fonte:
Fotografado por Geovanna Costa
Data: Agosto de 2018
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Foto 06 – Corredor do Herbário
Fonte: Fotografado por Geovanna Costa
Data: Agosto de 2018
Foto 08 – Etiqueta do Armário
Fonte: Fotografado por Geovanna Costa Data: Agosto de 2018
Foto 07 – Começo da “Exposição”
Fonte: Fotografado por Geovanna Costa
Data: Agosto de 2018
Foto 09 - Dispositivo de Orientação (Anverso)
Fonte: Fotografado por Geovanna Costa
Data: Agosto de 2018
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Foto 10 - Dispositivo de Orientação (Verso)
Fonte: Fotografado por Geovanna Costa
Data: Agosto de 2018
Foto 11 – Local de Trabalho
Fonte: Fotografado por Geovanna Costa
Data: Agosto de 2018
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A atividade realizada foi fruto de visitas técnicas cujo objetivo inicial era ensinar aos
alunos de Museologia da turma 01-Avaliação de Museus de 2018.1 da UFS os procedimentos
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de uma avaliação e a sua importância, além disto, serviu para que as avaliações feitas no
herbário não se estabilizem, pois isso é um incentivo para que o ato de avaliar seja
sempre praticado, não tendo o pensamento de somente aplicar questionários e depois guardá-
los em arquivos, mas sim em conscientizar os responsáveis seja de qual organização for
de como é fundamental e que isso se torne uma obrigação a ser sempre realizada.
Além do mais, engrandeceu mais o acervo da botânica e ajuda na sua difusão de seus
conhecimentos a outros campos científicos proporcionando uma intertextualidade e
apresentando outras possibilidades onde o museólogo pode atuar e sua contribuição nessa
instituição e quiçá em outras que aparentemente a primeira vista não é um local de trabalho
para este profissional, apesar de que os primeiros conceitos originaram-se justamente das
coleções científicas biológicas, mas que ainda é difícil o trabalho em conjunto de museólogos
com outros profissionais dessas áreas científicas tais como: biólogos, paleontólogos,
botânicos, geólogos e etc.
REFERÊNCIAS
Conceito de Empresa. Disponível em: <https://www.portal educacao.com.br/conteudo/arti
gos /contabilidade/conceito-de-empresa/42997>. Acesso em: 18 de ago. 2018.
RUDGE, Marilza Vieira Cunha. Avaliação sobre a Gestão da USP. São Paulo: Universidade
de São Paulo, 2010 – 2014.
SOARES, Ednaldo. Planejamento Estratégico: Ferramenta Indispensável na Gestão Eficiente
de Museus. Museologia & Interdisciplinaridade, São Paulo, vol. IV, nº 8, 2015.
KÖPTCKE, Luciana Sepúlveda. Público, o X da questão?: a construção de uma agenda de
pesquisa sobre os estudos de público no Brasil.Museologia & Interdisciplinaridade-Revista
do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brasília,
Brasília, vol.1, nº1, jan/jul de 2012. Você sabe o que é um Herbário?. Disponível em: <http://www.ib.usp.br/mais-noticias/705-
voce-sabe-o-que-e-um-herbario.html>. Acesso em: 19 de ago. 2018.
Breve Histórico do ASE. Disponível em:<http://herbarioase.ufs.br/pagina/20693-breve-
historico-do-ase>. Acesso em: 07 de set. 2018