8/17/2019 Uma Leitura Da Recusa Do Casamento v.2015
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Diocese do Porto
Conselho Presbiterial
Pe. Emanuel Brandão
Setembro, 2015
- Reflexão sobre a família em busca duma
pastoral adequada -
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Dados sociológicos sobre o casamento
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Total de Casamentos
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Ano
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Ano
Casamentos na diocese do Porto
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Uma leitura da recusa do
Casamento
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Uma leitura do fenómeno da recusa do casamento
• Com o Iluminismo do século XVIII operou-se um processo de
emancipação de cada um em relação à figura do «Outro».Surgiu assim a idade da «razão adulta», dona de si e do destinoem que cada um ordena a própria vida segundo os próprioscálculos e projectos.
• A «morte do Outro» pareceu condição necessária para a vida eglória do homem. Houve a tentativa de libertação de um Deusentendido como árbitro despótico ou contra-poder indiferenteou inerte. Mas contrariamente ao pretendido a morte do Outro
conduziu à morte dos outros, pois o outro deixou de ser«próximo» para passar a ser o rival, alguém que não nos deixaser livre, ou seja, «o inferno» para Sartre. Desta forma, asociedade ficou reduzida a uma multidão de solidões.
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Uma leitura do fenómeno da recusa do casamento
• Ligada à morte dos outros sucede a ameaça do próprio sujeito
«pela sociedade de consumo que nos manipula, ou pelaprocura de um prazer que nos encerra na nossas paixões, comoera no passado pela submissão à lei de Deus ou dasociedade»[1], nas palavras do sociólogo francês Alain Touraine.Surge assim o chamado «pensamento débil», marcado pela
indiferença, pelo relativismo e falta de paixão pela verdade queleva muitos a fechar-se no curto horizonte dos própriosinteresses.
• Se na modernidade a figura de Deus era um adversário a abater
ou um déspota de quem é preciso livrar-se, na chamada «pós-modernidade» torna-se numa figura privada de qualquerinteresse ou atracção.
[1] TOURAINE, Alain –
Crítica da Modernidade. Lisboa: Instituto Piaget, 1994, p. 325.
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Uma leitura do fenómeno da recusa do casamento
• Em última análise, Deus torna-se um ornamento, uma figura
que se concilia com a fraqueza ética e com a condição decontínua queda no não sentido: é um Deus sem força, espelhode um homem decadente. Convivemos com Ele como um ostantos fetiches da existência, sem nos deixarmos assinalar outransformar por Ele.
• Em suma, podemos dizer, citando novamente que a história damodernidade é a história da ruptura lenta, mas inevitável entreo indivíduo, a divindade, a sociedade e a natureza. É a partir
desta tríplice ruptura que iremos enumerar as causas maisdirectas ou mais concretas do fenómeno da desagregação dafamília, mormente das uniões de facto;
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Privatização do divino e da fé: Deus
como mero ornamento
• Se na modernidade se negava Deus para afirmar ohomem, se negava a graça para afirmar a liberdade,
na pós-modernidade o conflito parece resolvido poiso divino torna-se num mero adorno sem implicaçõesconcretas para a vida do homem. Opera-se umaruptura entre a fé e a vida, bem patente na recusa
das propostas da moral católica.
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Falta de esperança
•
Perdeu-se na nossa cultura a dimensão do futuro, que écondição absolutamente necessária para que a nossa vidatenha sentido. É precisamente esta falta de abertura ao futuroque leva a que o homem se entregue aos prazeres dopresente. Só a esperança nos dá a capacidade do definitivo.Por isso, numa sociedade sem esperança, sem um «porquê»nem um «para quê», torna-se difícil comprometer-se com ooutro de maneira definitiva. Por detrás de cada impureza e decada desvio de comportamento estão a carência da íntimaliberdade e o desespero que se agarra à aparência e aoinstante do prazer. E como realça Bento XVI as pequenas
esperanças, sem a grande esperança não bastam. «Estagrande esperança só pode ser Deus»[1].
[1] BENTO XVI – Carta Encíclica «Spe Salvi ». Lisboa: Paulinas, p. 43.
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Privatização da vida conjugal
• Como protesto contra a socialização extrema do serhumano proposta pela modernidade, em que osujeito desempenha apenas um papel social, sendoreduzido a mero funcionário ou a uma pequena peça
de uma grande engrenagem, surgiu na «pós-modernidade» o movimento de dessocialização, quepromove a recusa do institucional e o refúgio noprivado na busca da liberdade e da criatividade
pessoal. Mas, contrariamente ao pretendido, aexperiência parece demonstrar que a privatização domatrimónio pode levar à sua coisificação edespersonalização e à destruição do próprio sujeito.
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Dessublimação da sexualidade • A cultura moderna é «dessublimatória, levando a uma
sexualidade completamente imersa no sexo e na procura dasatisfação imediata e directa das necessidades»[1], rompendo-se deste modo a unidade entre espírito e corpo. O corpo dohomem não é simplesmente corpo, mas expressão ecumprimento da nossa humanidade. De igual modo, a
sexualidade humana não está ao lado do nosso ser pessoa,mas pertence-lhe. Só quando a sexualidade se integra napessoa, consegue dar um sentido a si mesma e se assumircom linguagem do amor. Como diz Viktor Frankl «o sexohumano é sempre mais que puro sexo: é a expressão física doamor. Só no momento em que o sexo cumpre esta função decorporizar o amor, só nesse momento encontrará o seu cumenuma experiência verdadeiramente gratificante»[2].
• [1] TOURAINE, Alain – Crítica da Modernidade. Lisboa: Instituto Piaget, 1994, p. 195.
• [2] FRANKL, Viktor – El hombre en busca del sentido último. Barcelona: Paidós, 1999. Paidós;41, p. 114.
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Dessublimação da sexualidade
• Para além da divisão interior sucede uma desarmonia com acriação. Aquele que reconhece o Criador não se arvora emsenhor de si, mas aceita as leis que criador institui. É nestaperspectiva que se compreende a difusão da ideologia do
«género», em que ser homem ou mulher não seriadeterminado fundamentalmente pelo sexo, mas sim pelacultura.
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Questões económicas
• Não sendo a causa principal, não é de desprezar ainfluência das questões económicas na hora daopção pela união de facto. Do ponto de vista fiscal há
vantagens em manter-se em união de facto, por umlado, e, por outro, toda a tradição que se instalou àvolta das celebrações das bodas - quintas, grandenúmero de convidados, coros, vestidos, flores -
acarreta um grande custo para os noivos e suasfamílias.
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A experiência do divórcio dos pais
• A experiência negativa e traumatizante do divórciodos próprios pais faz brotar em muitos jovens o
sentimento de desconfiança frente à instituiçãomatrimonial. O medo de passar pela mesma situaçãodissuade muitos de arriscar por um compromissodefinitivo.
E l ã
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Em conclusão…
• À partida o fenómeno das uniões de facto pareceinserir-se no apelo moderno à liberdade do sujeito e àsua autodeterminação. Mas podemos perguntar: oenfraquecimento ou diluição das famílias não tornará oser humano, ao contrário do pretendido, um meroconsumidor manipulado pelo poder estabelecido e pela
ideologia dominante?
• Do ponto de vista teológico, parece evidente que estasnovas realidades, principalmente as uniões de facto,trazem à tona a questão da relação, sempre complicada,entre a liberdade e a graça. Deste modo, podemosperguntar: a pastoral matrimonial tem apresentado osacramento do Matrimónio como uma instância que dásentido à vida e que respeita, suscita e promove a
lib d d t i d h ?