UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
DOCÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
TRAÇOS DA CULTURA LIBANESA NA
SOCIEDADE BRASILEIRA
RENATO BELTRAME
ORIENTADORA: MARY SUE
RIO DE JANEIRO
2002
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
DOCÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
TRAÇOS DA CULTURA LIBANESA NA
SOCIEDADE BRASILEIRA
Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes como requisito parcial à obtenção do título de pós-graduação em Docência do Ensino Fundamental e Médio.
RENATO BELTRAME
RIO DE JANEIRO
2002
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AGRADECIMENTO
A todos que, direta ou indiretamente,
contribuíram para que esta monografia se fizesse
completa.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao Cônsul Geral do Líbano
do Rio de Janeiro, Sr Bahjat Lahoud, e seu
assessor Marc Maurice Moussallem, pois ambos
mantiveram meu espírito iluminado na feitura
desta monografia.
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RESUMO
A idéia central desta monografia é mostrar que o Mundo Árabe, especialmente o
Líbano, se faz presente no continente sul-americano, em geral, e no Brasil, em especial, além
desta presença ser defendida por alguns historiadores como sendo anterior à descoberta do
país pelos portugueses.
No Rio de Janeiro, a descoberta dos fenícios deu-se no século I da era cristã, quando
foi encontrada uma escrita fenícia na Pedra da Gávea. Desde então, a constante identificação
de sua presença na sociedade dá a certeza de que a forma de ser do brasileiro muito se
assemelha ao do libanês, provável herança desse povo desbravador e sábio.
Atualmente o número de libaneses no exterior e seus descendentes, segundo pesquisas,
ultrapassou os 20 milhões, sendo que a sua maior comunidade se encontra no Brasil, contando
com mais de 8 milhões de libaneses e descendentes.
Assim, pode-se afirmar que a cultura libanesa, trazida por esses emigrantes, fundiu-se
de forma conclusiva com a cultura brasileira, contribuindo decisivamente na formação da
sociedade do Brasil.
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METODOLOGIA
Esta monografia foi elaborada através de pesquisas, cujos compêndios estão citados na
bibliografia deste trabalho. Os elementos mais importantes foram selecionados e redigidos na
forma dos capítulos aqui apresentados.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................ 08CAPÍTULO I. PROTO HISTÓRIA.............................................................................. 09 CAPÍTULO II. HISTÓRIA MODERNA E CONTEMPORÂNEA............................. 11 CAPÍTULO III. GEOGRAFIA FÍSICA E HUMANA................................................. 13 CAPÍTULO IV. O NOME DO LÍBANO E COMPOSIÇÃO ÉTNICA...................... 154.1 Composição Religiosa............................................................................................. 16 CAPÍTULO V. HISTÓRIA DA IMIGRAÇÃO LIBANESA NO BRASIL................. 185.1 A Aculturação dos Libaneses E Seus Descendentes............................................... 205.2 Distribuição Geográfica Dos Imigrantes Libaneses................................................ 235.3 Distribuição da População sírio-libanesa por Estados............................................ 25
CAPÍTULO VI. A CULINÁRIA LIBANESA NO BRASIL....................................... 26 CAPÍTULO VII. CONTRIBUIÇÃO DO IDIOMA ÁRABE NA LÍNGUA PORTUGUESA ........................................................................................................... 28 CAPÍTULO VIII. O PAPEL DAS ENTIDADES E CLUBES ASSOCIATIVOS............. 29 CAPITULO IX. O PAPEL DO IMIGRANTE LIBANÊS NO DESENVOLVIMENTO DO BRASIL.................................................................................................................. 329.1 O Mascate................................................................................................................ 339.2 A Lenda de Marataizes............................................................................................ 349.3 Marechal Rondon e o Mascate................................................................................ 349.4 O Crédito e o Mascate............................................................................................. 359.5 O Início do Estabelecimento................................................................................... 369.6 As Profissões........................................................................................................... 399.7 Panorama Atual....................................................................................................... 41 CAPÍTULO X. A IMIGRAÇÃO ÁRABE NO RIO DE JANEIRO E O CLUBE SÍRIO LIBANÊS.......................................................................................................... 43CONCLUSÃO.............................................................................................................. 49REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 50ANEXOS 51FOLHA DE ESTÁGIO 52FOLHAS DE ATIVIDADES CULTURAIS 55ÍNDICE 60FOLHA DE AVALIAÇÃO 61
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INTRODUÇÃO
A história da humanidade tem-nos revelado belos exemplos do que pode um
povo quando seus princípios se baseiam na justiça, na fraternidade e na paz. O Líbano é um
destes países cuja tradição é exemplo de dignidade, respeito e admiração dos tradicionais
povos pacíficos do mundo. Freqüentemente chamado de “Suíça do Oriente Médio” o Líbano é
mais do que isto: é uma ponte entre o Oriente e o Ocidente. É um país onde quase não há
analfabetos, sendo a sua percentagem menor que 10% de sua população, possuindo
universidades de renome internacional. É um país livre e democrático, com mais jornais por
habitante que qualquer outro país, mergulhado em história e cultura, com ruínas que se
equiparam com as de Roma ou com os gloriosos palácios árabes. É um país que possui
cidades bíblicas como Sidon, Tiro e Biblos. É um berço e um líder da renascença política e
literária árabe dos séculos XIX e XX.
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CAPÍTULO I
PROTO HISTÓRIA
O Líbano vem do fundo do tempo, historicamente é contemporâneo das grandes
civilizações que emergiram na Mesopotâmia, no delta do Nilo a na península Arábica. Ao
longo do processo histórico a sua configuração geográfica pode haver mudado: os homens
que resultaram do cadinho, da forja, onde se fundiram e se amalgamaram múltiplas etnias
permitiram ao Líbano moderno defender sua autonomia e conservar para a nação o “caráter
secular da terra de asilo e de liberdade”. Dele disseram “Milagre da inteligência e da
tolerância. pais da alegria, país da beleza, mas também da intrepidez e da coragem. terra do
asilo e de refúgio, encruzilhada entre o Ocidente e o Oriente. tão indispensável a um quanto
ao outro. Destruí-lo seria atingir de golpe irreparável a paz e o equilíbrio do Oriente Médio”.
Já na idade paleolítica, encontra-se a presença humana desenvolvida no
Líbano; a mais antiga é o Sítio de Aadloun. Por volta de 450000aC., no paleolítico médio, há
indicativos que o homem procurava abrigo em grutas e cavernas do vale de Nahr-el-Kalb, de
Ksar Akil (Antekilas) e de Abu Halka, em Trípoli. É consensual, entre os arqueólogos, que
Biblos é a mais antiga instalação de uma cidade libanesa e data do ano 6.000aC fim dos anos
pré-históricos, na Idade que chamam, de neolítica. Em síntese o Líbano como entidade
geográfica e realidade histórica foi conhecido desde muitos séculos. Do povo libanês, porém.
que já vivia na Montanha Libanesa, antes da chegada dos arameus, pouco se sabe.
A maior parte dos vestígios históricos e arqueológicos que esclarecem a pré-história e
mesmo a história são numerosos e referentes as civilizações antigas e esclarecem sobre o
litoral do Líbano-Fenícia.
A partir do 4º milênio aC, a costa libanesa passa a receber o nome de Fenícia. A
Montanha Libanesa entrará plenamente na história. tendo significativa importância a partir do
século VII, época da expansão e conquista árabe. Os cananeus, antepassados dos fenícios, já
praticavam ritos funerários em Biblos (Jbeil) e em Beirute (muros de recinto fechado). A
época da civilização pré-urbana coincide com a presença dos fenícios. Dominam a costa
libanesa e região sul da Síria. Eles, no século XVII aC. inventaram o alfabeto chamado
alfabeto de Biblos e fundam pequenos reinos. Chegam a costa da África e fundam Cartago.
Em vez de entrarem em guerras abertas, os fenícios. por diplomacia levaram os
invasores Persas-Assirios e pagam os seus serviços no mar. O domínio Assírio-Babilônico é
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sucedido da conquista grega de Alexandre, o Grande. Os romanos dominam todas as margens
do Mediterrâneo, destroem Cartago; e, em 63 aC - 330 dC. começa a época romana com a
conquista de Pompeu. É nessa época, em 222 dC, que se dá a fundação da famosa escola de
Direito em Beirute, a cidade denominada: - “Mãe das Leis”. Após o declínio de Roma,
inicia-se a Época Bizantina que, em 1516, levam o Líbano a ficar sob o domínio do Império
Otomano/Turquia, após vencerem os mamelucos.
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CAPÍTULO II
HISTÓRIA MODERNA E CONTEMPORÂNEA
O domínio da "Sublime Porta", como era chamada a Turquia, no Líbano, que durou
mais de 400 anos, foi época de turbulência, choques confessionais, intervenção de algumas
potências européias nas dissensões internas do Líbano. Nesse longo período de dominação da
"Sublime Porta" destacam-se alguns períodos e acontecimentos:
1554-1697- Reino dos Príncipes Maan, cujo mais famoso representante é Fakhreddin II que
reinou 37 anos. Teve aspectos altamente positivos: - Drusos e Cristãos Maronitas se associam
politicamente, a fim de pacificar e diminuir os choques, escolheu para postos-chaves pessoas
de grande capacidade administrativa e cultural de todas as confissões religiosas: ortodoxos,
maronitas, xiitas, drusos, sunitas e judeus.
1840-1842 - Os dirigentes do Império Otomano, adotando a política de dividir para governar.
sutilmente induzem. estimulam e provocam os conflitos confessionais entre cristãos e drusos
na Montanha Libanesa que resultam trágicas conseqüências para a autonomia do Líbano. Os
acontecimentos produziram em decorrência a instalação dos regimes dos dois Kaimaqamiat,
divisão do Líbano em dois distintos um ao norte administrado por maronita, o outro ao sul
administrado por druso.
1860 - O recrudescimento ias lutas confessionais levou a intervenção do exercito francês na
época do imperador Napoleão III, a pressionar o Império Otomano e fazer cessar lutas
confessionais.
1861- Em 9 de junho de 1861, foi assinado o Protocolo de 1861, estabelecendo o Regime de
Mutassaryfiat, reconhecendo a autonomia administrativa do Monte Líbano.
No período que medeia 1866 a 1875, foram fundadas as Universidades Americana de
Beirute a Francesa, Saint Joseph.
Ao eclodir a 1º guerra Mundial (1914/1918), os anos de conflito trouxeram muito
sofrimento, angústia e fome para o Líbano. Mas, em virtude da Turquia haver sido derrotada
junto com a Alemanha a Áustria, houve o fim da época otomana. As tropas vitoriosas inglesas
e francesas ingressaram no Líbano.
A nação libanesa, como um todo, reivindicava a sua independência. Os aliados
vitoriosos, na divisão que fizeram do espolio do Império Otomano, colocaram, em abril de
1920, o Líbano sob mandato francês. Em 31 de agosto de 1920, o Alto Comissário da França
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no Levante decreta o restabelecimento do Líbano em suas fronteiras geográficas e históricas.
A 1º de setembro houve a “Proclamação do Estado do Grande Líbano”, estado independente
sob mandato francês, O Grande Líbano, em 23 de maio de 1926 transformou-se em República
Libanesa. Elaborada a Constituição adotou-se o regime parlamentar elegendo-se, 27 de março
de 1929 Charles Debbas primeiro presidente da República Libanesa, sob mandato da França.
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CAPÍTULO III
GEOGRAFIA FÍSICA E HUMANA
O Líbano goza de situação geográfica singular e importante por ser um ponto de
junção de três continentes e por que resulta da síntese e centro de gravidade das forças que
convergiram das principais civilizações antigas e modernas e de suas confrontações. A sua
superfície equivale ao estado brasileiro de Sergipe.
O Líbano atual, metade costa e metade montanha. incrustado ao flanco ocidental da
Síria Central, é “um microcosmo por suas dimensões. um macrocosmo por sua influência”.
Ele é limitado a Norte pelo mar Mediterrâneo. Possui, em sua localização, clima bastante
temperado, com verões de três meses completos e ensolarados: invernos suaves no litoral e
rigorosos, com muita neve nas montanhas. Na primavera. pode-se esquiar nas montanhas e
banhar-se nas águas tépidas do Mediterrâneo.
A singular geografia do pais permite distinguir quatro regiões naturais bem definidas e
paralelas entre si e o mar; uma planície costeira; uma cadeia de montanhas chamada Monte
Líbano; um planalto central, a Bekaa; e uma segunda cadeia de montanhas chamada
Anti-Libano. Na planície costeira, que se estende ao longo do Mediterrâneo Oriental de norte
ao sul ha vários portos e se encontram, nesse litoral, cidades importantes como Trípoli, Biblos
(Jbeil), Beirute, Sidon(Saída) e Tiro. A espinha dorsal e centro geográfico do país é formada
pela cadeia montanhosa do Monte Líbano. As aldeias laboriosas que neles se erguem guardam
as tradições de sua história. A cadeia se estende no sul com a largura de 56km, no norte 10
km.
A altitude média dos seus picos atinge 3000 metros e o ponto culminante. É a elevação
Qomet EsSawda (3088m) constituindo-se o cume mais elevado do Oriente Médio e onde a
neve é permanente. O Dahr Al-Kadib que atinge 3000 metros. Em suas adjacências
sobrevivem os famosos cedros do Líbano. Os cedros milenares. Perto de 300 que ainda
sobrevivem, se distribuem entre o Qornet Es-Sawda e Dahr Al-Kadib. E a árvore nacional do
Líbano, insere-se como símbolo da nação em sua Bandeira. E da família das Pináceas e os
naturalistas o classificam como cedro verdadeiro E o denominam, na nomenclatura de Lineu
de CEDRO LIBANIS.
A terceira região natural do Líbano é o planalto de nome Bekaa que se situa entre as
cadeias de montanhas Monte Líbano e o Anti-Líbano. Em suas alturas Medias de 900 metros,
encontram-se os grandes centros agrícolas de Zahie, Chtaura, Qab Elias e Baalbeck. Os rios
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Al-Assi e Al-Tani, os dois maiores rios do Líbano Irrigam o planalto da bekaa e o fertilizam.
No passado foi chamado de CELEIRO DO IMPÉRIO ROMANO.
O Anti-Líbano e a Quarta região natural também chamada Cordilheira Oriental. É
menos favorecida de irrigação Em uma das vertentes do Anti-líbano nasce o no Hasbani que
corre em direção ao sul e juntando-se com outros afluentes forma o bíblico rio Jordão onde,
segundo reza a tradição, Jesus de Nazaré foi batizado por João Batista. A potamografia do
Líbano é de rios perenes e caudalosos, diferente da península arábica. pobre de rios. Em razão
de sua topografia. O Líbano tem número de pequenos rios, alguns evocam com seus nomes
aspectos milenares da história e da Mitologia. Nahr E-Kalb, o Rio do Cão, registra o nome de
todos os conquistadores que passaram pelo litoral e pararam para registrar seus nomes ou seus
feitos nos rochedos Que a natureza admiravelmente formou em suas margens. Egípcios,
Assírios, Babilônios, persas, Gregos, Romanos, Selêucidas, Bizantinos, Turcos, Franceses
registraram em seus rochedos a sua passagem pelo Líbano.
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CAPÍTULO IV
O NOME DO LÍBANO E COMPOSIÇÃO ÉTNICA
E controvertida a origem do nome Líbano. Para alguns historiadores, antigos ou
modernos, significa A MONTANHA DOS PERFUMES com referência A árvore denominada
“luban” ou “lubna”, que é abundante no Líbano a exala perfume Inebriante. Outros
pesquisadores admitem que o nome Líbano personifica um herói mítico e divinizado. Há os
que afirmam e se constituem a maioria, que atribuem o Significado “a montanha branca”.
Inclinam-se as historiadores a essa última interpretação. Ele alude às elevadas montanhas com
o seu manto branco de neve, quase perene.
Etnicamente o Líbano é um “melting-pot” onde ao longo da história fundiam-se os
povos de todos os quadrantes. O vocábulo “Fenício” genericamente engloba os Cananeus. Os
Montas e os Arameus que se instalaram em épocas diferentes sobre o litoral do Mar
Mediterrâneo desde o Carmelo, no Sul. até Ugarit no Norte. Os Povos do Mar, apos os
Egípcios, vindos das ilhas e da Costa do Mediterrâneo Ocidental, Assírios, Babilônios,
Gregos Romanos Bizantinos, Francos e Cruzados em suas invasões foram, também, agentes
formadores da etnia Libanesa. Árabes, Maronitas, Roums, Drusos contribuem. na geo-história
do Líbano, à formação do “ethos” étnico e nacional da Nação. A explicação do “ethos”
resultante permitiu que "como todos os povos orientais, o Líbano no decurso das idades
pretéritas, tem quase sempre mudado de religião, de língua, de nome, sem que por isso fossem
modificados a sua personalidade peculiar, seu caráter e sua missão. E em época relativamente
recente, como no decurso de outros períodos excepcionais a descontínuos de sua história. que,
perseguidos de todas as classes, de todas as raças e de togas as religiões têm procurado e
encontrado, na sombra de suas montanhas hospitaleiras e no meio de suas populações
acolhedoras, um clima favorável ao desenvolvimento de suas concepções sociais e religiosas e
de seu ideal de liberdade. O Líbano de fato, possui uma fisionomia particular. É um modo de
pensar, de amar, de crer, de criar, compreender que se encontra similar no Ocidente. Ele é
acima de tudo o país do acolhimento.
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4.1 Composição Religiosa
O Líbano é um mosaico religioso. Não possui, como Estado, religião oficial. As
divergências confessionais do passado são frutos de interesses geopolíticos de forcas
extrínsecas ao processo histórico-político do país.
As relações entre os diversos grupos religiosos se desenvolveram muito desde a época
do Emirado. Entre os Cristãos encontram-se os adeptos das Comunidades ou Igrejas
Maronita. Gregos Ortodoxos, Gregos católicos Melquitas e Armênios Os Muçulmanos do
Líbano se distribuem entre Xiitas, Sunitas e Drusos A divergência entre os Xiitas e Sunitas
remonta na origem sobre a questão da sucessão do Profeta Mohamad.
Os xiitas, que literalmente significa partidários, sustentavam o primado e as
reivindicações ao Califado do primo e genro do Profeta: Ali. O grupo Sunita, que no seu
sentido lato e literal, significa os “ortodoxos”, tinham o entendimento que os fiéis escolhem
os Califas por aclamações.
No Líbano os Xiitas são altamente maioria na região de Baalbeck. Tiro a Jabal Amel.
Os Sunitas, considerados pelos entendidos como Comunidade de formação recente no Líbano
remontando seu grande crescimento nos períodos dos Mamelucos e dos Otomanos. A
predominância Sunita se evidencia em Tripoli. Beirute e Sidon.
A região de Chouf e Wady ElTaym são no Líbano o ponto de concentração dos
Drusos. A religião dos Drusos é um desvio ismaelita tradicional. Teve a sua origem dos
ensinamentos do Califa fatimida Alhakim Biamr Allah (996-1021), primeiro no Egito e
depois se estendeu por outras regiões. Aldrazir, um dos primeiros seguidores de Alhalam, é
organizador da nova seita, dando-lhe um cunho secreto; dividiu os seguidores em um núcleo
de elite de iniciados, que é chamado Aluqqal ou Ajawid, que significa sábios e dirigem a
massa de não iniciados, os juhhal, os que ignoram. Ante as hostilidades que passaram a existir
aos drusos, era permitido a prática xiita da “Taquiya”, isto e, a um fiel, sob pressão, de negar a
própria fé e fingir seguir a religião do grupo dominante. Muitos drusos para se proteger,
praticavam a religião Sunita por “Taquiya”.
Somente os “Uaqal” cumpriam os deveres religiosos a se encontravam em casas ou
lugares especiais de retro denominados Khalaevat. blemas germs da Comunidade. Não se
exige ou se espera os “Juhal” que rezem ou se interessem pelos assuntos religiosos.
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Em face disso, no início do advento do druzismo, das severas perseguições, foi
deixado o proselitismo e declarada sua seita fechada a eventuais convertidos.
O Cristianismo no Líbano se fragmentou em vários ramos ou igrejas. A natureza ao
corpo de Cristo era motivo a duas escolas teológicas; a de Antioquia a de Alexandria. A
discussão em torno da natureza do corpo de Cristo levou a duas diferentes interpretações o
nestorianismo e o monofisismo O nestorismo que recebeu o nome do Patriarca de
Constantinoploa. Nestono. admitia que Jesus seria oriundo de duas naturezas, a divina e a
humana. E a interpretação dualista nestoriana. Contrapondo-se a Nestório surgiu o
monofisismo.
O Concílio da Caledônia. em 451, condenou os Nestorianos e os Monofisistas. A
Igreja Melquita da Antioquia compreendia todos os Cristãos sírios e libaneses que aceitavam
as decisões do referido Concílio.
Razões de ordem política e teológica, em 1054, levaram à cisão entre as Igrejas de
Roma e Constantinopola. Os Melquitas gregos, sírios, libaneses e palestinos seguiram a
orientação de Constantinopola, e por isso, foram considerados sismáticos.
S. Maron permaneceu fiel a Igreja de Roma. Nas montanhas do Monte Líbano em sua
prédica e puro ascetismo ele reuniu inúmeros discípulos que deram origem a Igreja Maronita.
Parte do grupo Melquitas Gregos, no século XVII, influenciados pelo Bispo de Tiro e
Sidon e por missionários jesuítas separaram-se de sua Igreja e entram em comunhão com
Roma O grupo Melquita ficou assim dividido: os Uniatas (aderiram ao Catolicismo), e os
Ortodoxos.
Os Roums são cristãos (Gregos Ortodoxos) que se mantivera fiéis ao Império
Bizantino, isto é, a Constantinopola. São chamados de gregos por seguirem o rito
gregobizantino e utilizarem a língua grega na liturgia. Hoje, vivem no Líbano, também
dezoito comunidades cristãs e muçulmanas, todas reconhecidas pelo Estado Libanês.
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CAPÍTULO V
HISTÓRIA DA IMIGRAÇÃO LIBANESA NO BRASIL
É possível reunir os imigrantes em dois grandes grupos, numa divisão arbitrária.
a) aqueles que entraram como colonos com o propósito de se estabelecer em terras de sua
propriedade;
b) os imigrantes que permaneceram nas cidades, especialmente em São Paulo e no Rio de
Janeiro, tendo ou não passado pela experiência do colonato.
Os alemães, italianos e japoneses, entre outros, tiveram papel relevante na colonização
do Sul e Sudeste do país, enquanto que grupos como os libaneses, espanhóis e portugueses, na
sua maioria, ficaram em áreas urbanas, alguns deles identificados com determinadas
ocupações.
Um dos problemas a enfrentar com relação aos contingentes imigratórios que entraram
no Brasil desde 1824 diz respeito à pouca confiabilidade dos dados estatísticos. Os autores
que trataram do tema apresentam dados divergentes sobre o assunto, e as estimativas quanto
ao número total de imigrantes, seja no conjunto ou por nacionalidade, não se apóiam em
números absolutos comprovados.
Outro problema com relação ás estatísticas é saber quantos imigrantes realmente
permaneceram no país, uma vez que tanto o retorno ao lugar de origem como a reemigração
para outros países do continente foram comuns.
É evidente a existência de confusões a respeito das estatísticas quanto ao número de
imigrantes no Brasil.
Sabe-se que após a Abolição, em 1988, e após a proclamação da República em 1880, o
movimento imigratório atinge o seu maior desenvolvimento. Novos contingentes, como os
japoneses, russos, poloneses, espanhóis, judeus, sírios, libaneses, vão se juntar aos alemães e
italianos (Campos, 1987: 47).
De acordo com Mintaha Campos (1987:49), no período de 1820 a 1920, os italianos
lideram o movimento imigratório, após o que viriam os portugueses, seguidos dos espanhóis e
dos alemães.
A partir de então, os portugueses e espanhóis passaram a constituir a leva maior de
imigrantes. Os turcos-árabes já aparecem de maneira bastante expressiva.
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De acordo com o Boletim do Serviço de Imigração a Colonização n°2, publicado em
outubro de 1940, e o nº 4, publicado e dezembro de 1941, segue-se a seguinte ordem de levas
imigratórias: Portugueses (25,4%), Espanhóis (18,7%), Italianos (17,5%), Japoneses (14,7%),
busca de trabalhadores rurais foi a razão primordial desses incentivos. Posteriormente, a
Alemães (4,3%), Turcos-árabes (4,0%), Romenos (2,8%), Lituanos (2,1%), Iugoslavos
(1,9%), Poloneses (1,6%) e Austríacos (l,4%). (Campos, 1987: 50).
O governo brasileiro incentivou e, algumas vezes, subsidiou a imigração. De início, a
necessidade de mão-de-obra para a indústria passou a ser determinante para o incremento dos
fluxos imigratórios.
No período pós-guerra, principalmente na década de 1950, ainda entraram no Brasil
mais de 500.000 imigrantes, e o número decresceu bastante a partir da década de 1960.
Destacam-se, de acordo com o censo de 1950, em ordem de grandeza portugueses,
italianos, espanhóis, japoneses, alemães, poloneses, sírio-libaneses. Em 1970, essas posições
são alteradas pelos maiores contingentes japoneses (142.000) sobre os italianos (128.000) e
espanhóis (115.000), pelos sírio-libaneses (32.000) sobre os poloneses (18.000). Note-se que
a mescla de outras várias nacionalidades não identificadas no censo, soma, em 1950, 197.000
pessoas e, em 1970, 185.000.
Quando se fala em família árabe no Brasil, fala-se principalmente daquela originária da Síria
ou do Líbano , maiores fortes de imigrantes que começaram a chegar aqui no final do século
passado. Mas, há outros países, igualmente árabes, que se identificam por terem os mesmos
traços culturais, a mesma língua e a mesma religião. Ao todo são 21 países que integram o
mundo árabe.
A vinda dos primeiros libaneses ao Brasil verificou-se antes de 1880. A data precisa
depende de pesquisas e de confrontações. "Para Manuel Diegues Júnior, sírios, turcos e
libaneses já viviam no Brasil desde a época colonial, uma vez que Portugal mantinha relações
comerciais com a Síria" (Campos, 1987: 54).
Mas sabemos que na segunda metade do século XIX a imigração árabe se deu de
forma bastante acentuada devido ao período de conflitos políticos e econômicos devido ao
domínio do Império Otomano na região do Oriente Médio. No entanto, no período de maior
fluxo migratório árabe, especialmente sírio-libanês, foi entre 1920 a 1930 (Campos, 1987:
56).
Para Jamil Safady, em sua obra "Panorama da imigração Árabe", a vinda dos
imigrantes, iniciada em 1871, fez-se tradicionalmente com moradores do campo, lavradores
ou proprietários de terras. Esses, porém, não vinham para cá para dedicar-se a igual atividade,
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preferindo atuar no que parecia mais propício á obtenção de lucros rápidos, com os quais eles
pretendiam voltar ás suas terras de origem. A maior parte dos imigrantes sírio-libaneses que
para cá vieram estavam dispostos a trabalharem o que fosse preciso para enriquecerem. Esse
desejo esteve presente durante todos os movimentos de adaptação e todos os passos de
construção da sua vida neste país.
Os libaneses que vieram para o Brasil, não buscavam as fábricas ou as propriedades
agrícolas. Dedicaram-se especificamente ao comércio e ás pequenas indústrias (Hajjar
1985:20).
Hajjar (1985), para melhor explicar a imigração árabe para o Brasil, divide sua vinda
em duas grandes etapas. No entanto, cada etapa é formada por diferentes levas migratórias. A
primeira etapa, teria tido início por volta de 1860/1870 terminado com o inicio da Segunda
Guerra Mundial. Dentro desse período, distinguimos três levas imigratórias. A primeira vai de
1860 a 1900. A segunda começa em 1900 e vai até 1914. E a terceira vai de 1918 a 1935.
A segunda etapa tem início em 1945 e continua até nossos dias atuais. Dentro dessa
segunda etapa, também destacamos três levas imigratórias, dando seqüência às anteriores.
Portanto, a quarta leva inicia-se em 1945 a segue até 1955. A quinta, começa em 1956 e
termina em 1970, e por ultimo, a sexta, vai de 1971 até a atualidade.
Na primeira fase imigratória, os imigrantes na maioria eram cristãos, principalmente
libaneses e sírios que deixavam suas terras por causa do domínio otomano. Esses imigrantes,
ficaram conhecidos como turcos, por causa de o passaporte constar registro turco, devido ao
domínio otomano naquelas regiões.
5.1 A Aculturação dos Libaneses e seus descendentes
Embora a imigração tenha debilitado tanto a família grande como o sistema de
parentelas, ambas desempenharam papéis de relevo no processo imigratório e no ajustamento
do imigrante no Brasil. Os que desejavam imigrar eram auxiliados pelos parentes, que lhes
emprestavam dinheiro e cuidavam de suas famílias enquanto eles estavam longe. A medida
que o imigrante ganhava dinheiro, mandava buscar os pais e irmãos. Depois da chegada
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destes, o pequeno grupo trabalhava para mandar vir os membros da família que desejassem
reunir-se a eles, e com o tempo, outros parentes do grupo de parentela eram trazidos. Embora
os sírios e libaneses imigrassem individualmente, ainda estavam sob o domínio da família
grande e do sistema de parentela.
Poucos grupos de parentela emigraram juntos ao Brasil, muitas famílias ou indivíduos
preferiam permanecer em suas aldeias; outros emigravam para outros países. Com a
continuidade do processo imigratório, tornou-se possível encontrar um membro de cada grupo
de parentela em quase todos os países de imigração. Tais condições enfraqueceram os grupos
que preferiam permanecer na aldeia natal à medida que declinavam numericamente e perdiam
o controle sobre o comportamento dos imigrantes.
Os laços de parentesco, no Brasil, permaneceram fortes durante muitos anos, pois os
imigrantes procuravam, por meio de correspondência ou visitas, manter contato com os que lá
permaneceram. Quando desejava casar, era comum o imigrante preferir escolher a
companheira em seu grupo de parentes da aldeia. Então visitava os parentes para trazer a
escolhida ou mandava buscá-la.
Outro hábito entre imigrantes bem sucedidos era o de enviar grandes somas aos
parentes para comprar terra, construir casas melhores ou aumentar o rebanho, ainda que disso
não derivasse benefício pessoal ao remetente. Estes sinais evidentes de êxito financeiro
elevavam a posição social do grupo não só na aldeia natal, como também no Brasil.
De início, os grupos de parentela moravam próximos uns dos outros, à exemplo da
aldeia natal. Com o tempo, os que iam se diferenciando economicamente acabavam por se
mudar para bairros mais luxuosos. Isto determinou o afrouxamento dos laços de parentesco.
As famílias diferenciadas passaram a envergonhar-se de seus parentes pobres e, muitas vezes,
a sentir-se embaraçadas com sua presença; e, embora freqüentemente os ajudassem em
particular, não gostavam que se soubesse do parentesco em público. Outras famílias,
deslocando-se da colônia primitiva para o interior, perderam o contato entre si a com as que
ficaram na capital.
Presentemente os laços de parentesco entre os membros do mesmo grupo de parentela
estão enfraquecidos embora bastante fortes ainda para influenciar o comportamento dos seus
integrantes. Há vários grupos de parentela que mantém íntimos laços de cooperação em
empresas da família e atividades sociais ou políticas. Esses constituem, porém, uma exceção e
são admirados e temidos por outros grupos de imigrantes. Na atualidade, no entanto, até
nestes grupos muitos membros da geração mais nova estão começando a se dispensar.
22
A família grande ainda é poderosa e relativamente bem organizada. Seus membros
podem já não estar sob o mesmo teto mas, freqüentemente, residem no mesmo bairro. Aos
domingos, membros da família grande encontram-se nas casas dos membros mais influentes,
para passar a tarde conversando, jogando, e até mesmo para jantar. Cerimônias religiosas,
nascimentos, casamentos e feriados reúnem as famílias membros da família grande cooperam
em atividades de negócios e trabalham intimamente juntos, embora esta tendência esteja
começando a enfraquecer. É ainda comum o jovem se casar dentro de famílias grandes
aparentadas, mas esse costume também já está desaparecendo.
A família conjugal tornou-se a unidade de parentela mais importante no Brasil, entre
os imigrantes. A maioria dos casais agora vive em suas próprias casas, embora muitas jovens,
depois do matrimônio, vivam com a família do marido por algum tempo. A família conjugal é
perfeitamente independente na administração de seus próprios negócios, ainda que sujeita a
mexericos e comentários se se desviar dos padrões comuns. Os parentes interferem pouco,
mas isso também já não é tolerado; os avós ainda conservam uma posição de honra e os filhos
casados ainda devem trabalhar com o pai. O pai, todavia, carece da autoridade absoluta que
possuía na terra de origem.
Embora os filhos devam obedecer aos pais ate o casamento, tem, agora grande
liberdade na escolha do parceiro. Os pais esperam que os filhos se casem dentro da colônia e
exercem grande pressão para conseguí-lo; se persistem em querer alguém de fora, os pais
consentem relutantemente. Alguns, entretanto, ainda tentam orientar os filhos nesta questão,
não querendo que eles se casem com brasileiros, italianos ou com pessoas de outras
nacionalidades, pois consideramos imorais e maus cônjuges.
O conceito de castidade ainda prevalece, as moças devem ser virgens ao casar. A
perda da virgindade anula todas as possibilidades de casamento para uma moça na sua classe
social, e a família pode reagir violentamente contra o responsável um contraste com os
brasileiros, os árabes esperam que seus rapazes também permaneçam virgens. O adultério, de
um ou de outro lado, pode desagregar a família, se tomarem conhecimento de alguém de
comportamento incasto, esta pessoa terá dificuldades em encontrar um bom casamento, ou
conseguir uma boa posição na coletividade.
A posição das mulheres, dentro da família conjugal, mudou consideravelmente,
tornandose muito mais sólida do que era,na terra de origem. Durante o período de imigração,
as esposas desempenhavam papéis relevantes nas iniciativas comerciais dos maridos e, muitas
vezes, tinham de cuidar dos negócios em caso de doença ou acidente com eles.
23
Muitas descobriram que eram mais capazes que os maridos, e assumiram posição de
autoridade na família. As meninas já não estão confinadas ao lar, mas se empregam como
secretárias, guarda-livros, caixeiras etc. Muitas moças da classe média freqüentam
universidades e aspiram a uma carreira. Moças da classe alta estão restringidas ao lar, depois
de terminados os estudos, pois perderiam a categoria social se trabalhassem, outras dedicam
seu tempo a obras de caridade e outras atividades nas associações da coletividade.
Em suma, o grupo de parentela agora já perdeu muito de suas funções, e esta em vias
de lenta extinção. Podem sobreviver na aldeia rural, onde há estabilidade, mas dificilmente no
ambiente urbano, em constante transformação. Muitas de suas funções terminaram, mas ainda
desempenham papel considerável na vida da coletividade.
A família conjugal, de significado relativo na terra de origem, veio a ser, o mais
importante grupo familiar. Sua estrutura está mudando lentamente, mas ainda é bastante
diferente dos agrupamentos familiares entre os brasileiros, a separação, o divórcio e a segunda
união já estão sendo melhor assimiladas pela comunidade.
5.2 Distribuição geográfica dos Imigrantes Libaneses
Os recenseamentos de 1920 a 1940 revelam o número de imigrantes sírios e libaneses
fixados nos Estados dos Brasil, conforme observamos na tabela da página seguinte São Paulo
destacou-se como principal centro da absorção de imigrantes, calculado entre 38,4% e 49,0%
respectivamente. Os libaneses não só aportaram em São Paulo como também chegaram dos
outros Estados brasileiros, atraídos pelos desenvolvimentos da lavoura cafeeira e,
principalmente, pelo seu parque industrial onde marcavam presença.
O Estado de Minas Gerais recebeu o segundo maior contingente de libaneses. Muitos
se dedicaram á lavoura, á criação de gado e especialmente, ao comércio. Em muitas cidades
dominaram o comercio varejista. Foram, por exemplo, os precursores de confecções de roupas
em Juiz de Fora.
O Distrito Federal ocupou o terceiro lugar, seguido do estado do Rio de Janeiro. Ao
porto da antiga capital da república chegavam grandes contingentes de imigrantes libaneses
Quando não tinham destino certo, procuravam entrar em contato com comerciantes
estabelecidos nas ruas da Alfândega e Senhor dos Passos. Muitos desses negociantes
24
esperavam a chegada de navios procedentes do Líbano, para contratar o trabalho de seus
patrícios, mão-de-obra farta e barata.
Todos os estados receberam imigrantes libaneses, em maior ou menor escala.
Muitos libaneses estabelecidos no Amazonas, que trabalhavam com látex, mudaram-se
para São Paulo e Rio de Janeiro após a Primeira Guerra Mundial, quando houve o declínio do
preço da borracha. Outros se estabeleceram como comerciantes e mascates ao longo do
Amazonas.
Na Região Sul a grande concentração ocorreu no Rio Grande do Sul e no Paraná. No
estado de Santa Catarina, os libaneses encontraram dificuldades de harmonizar-se com as
comunidades alemãs.
Os Estados da Região Nordeste, especialmente aqueles cujo economia entrara em
processo de estagnação, dos Sergipe ao Piauí, receberam as mais baixas porcentagens de
sírios e libaneses. Corresponde a esse processo o mecanismo inverso ocorrido nos estados de
maior desenvolvimento econômico, onde se registraram as mais altas taxas de imigrantes.
25
5.3 Distribuição da População Sirio-Libanesa por Estados
1920 – 1940
1920 1940 ESTADOS
NUMERO % NUMERO %
BRASIL 50.246 100 46.614 100
Acre 627 1,2 230 1,5
Amazonas 811 1,6 461 1
Pará 1.460 2,9 848 1,7
Maranhão 625 1,2 305 0,6
Ceará 268 0,5 190 0,4
Piauí 188 0,4 85 0,2
Rio Grande do
Norte
55 0,1 69 0,1
Paraíba 60 0,1 41 0,1
Pernambuco 355 0,7 270 0,5
Alagoas 6 / 20 /
Bahia 1.206 2,4 947 2
Espírito Santo 810 1,6 636 1,3
Distrito Federal 6.121 12,2 6.510 13,4
Rio do Janeiro 3.200 6,4 2.541 5,2
Mato Grosso 1.232 2,5 1.066 2,2
Goiás 528 1,1 659 1,4
Minas Gerais 8.684 17,3 5.902 12,1
São Paulo 19.285 38,4 23.948 49,2
Sergipe 47 0,1 26 0,1
Paraná 1.625 3,2 1.576 3,2
Santa Catarina 488 1,0 377 0,8
Rio Grande do Sul 6.656 5,1 1.903 4
26
CAPÍTULO VI
A CULINÁRIA LIBANESA NO BRASIL
No passado, com a chegada dos imigrantes pioneiros, a questão da comida, uma vez
que não encontravam aqui as mesmas frutas, verduras e legumes que consumiam na terra
natal, constituíam um problema. Mesmo os produtos que eram importados não eram
encontrados em quantidade necessária pelos imigrados. Nas principais capitais brasileiras,
eram encontrados alguns produtos, que acabam por acompanhar o processo de imigração,
facilitando assim o transporte de mantimentos a mesmo de produtos ausentes do Brasil.
Com a consolidação do processo de imigração, alguns produtos, antes importados,
passaram a ser tão necessários que aqui iniciou seu plantio e produção.
Surgiram as fábricas de Raha (gomas síria), Halawi (doce de gergelim), Tahine (massa
de óleo de gergelim), Mlabas (amêndoas e amendoim glaceados) nas torrefações de
amendoim foi introduzido o processo de torrefação do Biser (semente de abóbora) e do grão
de bico (Adame). A bebida sírio-libanesa, o Arak, passou a ser produzida pela fábrica de
champagne George Albert. O trigo usado na elaboração do quibe era importado até 1960;
após essa data o Brasil começou a produzir o trigo para quibe, o trigo grosso para cozinha e o
Hanta (trigo integral). Esses 3 produtos são extremamente necessários para o dia-a-dia da
cozinha síria.
As frutas eram questão importante para imigrante árabe, pois ele estava acostumado ao
paladar peculiar das frutas da região do mediterrâneo onde as frutas naturais se adaptaram ao
clima e a ás mudanças de estação. O árabe tentou trazer as sementes mais diversas, bem como
um pouco de cultura culinária para as terras brasileiras. No entanto, o solo, o clima e o sabor
eram fatores importantes que ele não podia determinar ou influir. Hoje, comemos a maçã da
Bahia, mas ela jamais será igual à maçã do Líbano ou da Síria e, certamente, o imigrante
acabará preferindo o abacaxi ou a manga, pois são frutas tropicais com sabor autêntico do
meio que as produziu.
Durante muitos anos o Brasil importou da Argentina o trigo para o quibe, a maçã, a
uva, a pêra, a cereja e outras frutas que vinham das regiões mais frias daquele país. Foi
iniciado, então, o cultivo das frutas mediterrâneas, mais ou menos nos anos 60, no Rio Grande
do Sul, e hoje não ficam a dever em nada, nem em beleza nem qualidade, d'os frutos do
mediterrâneo. Porém, o sabor natural de cada fruta regional permanece diferente se a semente
27
é importada Portanto, no Mediterrâneo, se come maçã, damasco, pêra, uva, e no Brasil, onde
o clima é tropical, come-se jaca, carambola, abacaxi, laranja, etc.
As panificadoras e as docerias árabes proliferam em abundância nas capitais
brasileiras. É difícil encontrar um bairro que não tenha uma panificadora síria que faz o pão, a
esfiha, o quibe, o homs, a coalhada seca etc... Enfim, existe à disposição do consumidor o
melhor dos hábitos culinários árabes.
A esfiha e o quibe são encontrados em qualquer bar de esquina, junto as cotinhas,
empadas e outros. Já não é mais privilégio de festa de árabe a presença dos dois primeiros
entre os salgadinhos servidos para os convidados.
Os charutos de uva e de repolho hoje são pratos que agradam e fazem parte do
cardápio dos bons cozinheiros que circulam pelas casas e restaurantes das capitais.
A cozinha é um dos aspectos que mais positivamente marcou a presença árabe na
cultura brasileira. Isto tem muito a ver com a relação de incorporação, de afeto e identidade
que o povo brasileiro e árabe mantiveram em seu convívio. A aculturação do árabe no Brasil
se evidencia com a sua contribuição dos hábitos gastronômicos do povo brasileiro, sobretudo
nas regiões urbanas.
O doce sírio, apesar das tentativas de seu aperfeiçoamento e produção, ainda deixa
muito a desejar frente aos doces de lá trazidos. Os doces caseiros foram produzidos aqui, mas
há aqueles que dependem de algo mais, como o pistache e a manteiga, que lhes conferem um
outro valor, superior ao do produzido no Brasil.
O número de restaurantes árabes é bastante grande. Em São Paulo já possuímos alguns
considerados de classe internacional e que só oferecem cozinha árabe em suas múltiplas
formas de apresentação.
28
CAPÍTULO VII
CONTRIBUIÇAO DO IDIOMA ÁRABE NA LÍNGUA PORTUGUESA
As contribuições dos árabes, que invadiram a península em 711, deram-se na
agricultura (arroz, azeite, azeitona, bolota, açucena,alface), ciências e técnicas (alfinete,
alicerce, alicate, azulejo, almofada), profissões (alfaiate, almocreve), organização
administrativa (alcaide. almoxarife, alfândega), culinária (acepipe, açúcar, javali), vida militar
(alferes, refém), e urbana (arrabalde, aldeia). As palavras de origem árabe começam
geralmente com o artigo definido al (p. ex. almofada, de al + mohada), sendo às vezes o "1"
assimilado pela consoante seguinte (p. ex. azeitona, de al + ceitun). Além desses substantivos,
o árabe deixou também alguns adjetivos (mesquinho, baldio) e uma preposição (até). No séc.
XI, com a Reconquista, o centro-sul de Portugal foi repovoado por cristãos que falavam
galego-português, idioma adotado pelos moçárabes (os cristãos que se tinham submetido aos
invasores árabes).
29
CAPÍTULO VIII
O PAPEL DAS ENTIDAES E CLUBES ASSOCIATIVOS
A medida que a coletividade libanesa de São Paulo começou a crescer, várias
associações organizaram-se para desempenhar funções que no Líbano eram da alçada da
família ou da aldeia.
O surgimento dessas associações deveu-se, principalmente, à incapacidade dos grupos
familiares em atenderem ás necessidades de seus membros a enfrentar novas situações que
não existiam nas aldeias da terra de origem. Essas associações formais tinham como funções
principais o amparo aos necessitados, sustentação das instituições religiosas, despertar um
senso de unidade na coletividade a representá-la na sociedade em geral.
As associações formais mais importantes são as sociais, beneficentes e religiosas.
Cada uma das seitas religiosas possui suas associações, nas quais arrecadam fundos para a
construção de seus retiros religiosos. Muitas dessas associações têm função social, pois o seu
desempenho confere prestígio aos que nelas atuam.
As entidades de benemerência não ficaram só por coma de entidades religiosas a nem
mesmo só em mãos femininas; grande número dessas entidades surgiram a partir de um
trabalho conjunto a coletivo da própria coletividade, organizados especialmente para fins de
benemerência. Mantém clínicas gratuitas, sanatórios, hospitais, orfanatos a asilos. Também
coletam contribuições para os necessitados, tanto daqui como da terra de origem.
A coletividade árabe, em geral, está de tal forma dividida por diferenças religiosas e
econômicas, rivalidades de famílias e de região, ciúmes pessoais, que não foi possível
organizar uma sociedade que representasse a coletividade como um todo.
As associações religiosas são o equivalente da comunidade de origem. São fundadas
por imigrantes de determinada região que acabam tornando centralizadores de seus
conterrâneos e formam núcleos iguais aos da aldeia ou região de origem. Essas entidades têm
fins recreativos, coletam fundos para projetos para essas aldeias ou cidades, cuidam dos
necessitados da coletividade a recriam a comunidade aldeã nas grandes cidades brasileiras.
Tais sociedades representam o apego intenso desses imigrantes às suas aldeias e regiões.
30
Muitas delas mantêm clubes muito bem aparelhados, onde os associados se reúnem
para jogar camas, fazer apostas, conversar, ler, assistir a conferências e dançar.
Importantes associações da coletividade se dedicam ao patrocínio da literatura árabe.
A escola de poetas em língua árabe desenvolveu-se no Brasil e teve grande influência em todo
o mundo árabe.
O interesse pela literatura, poesia a antes, tão característicos de diversos grupos árabes
no Oriente Médio, não era tido como atividade de prestígio no Brasil. Os homens de letras
eram tidos por muitos como fracassados, pois sobreviviam, em sua maioria, com o auxílio de
homens ricos, ou da ajuda vinda do mundo árabe.
Os intelectuais libaneses no Brasil sentem a falta de interesse por atividades culturais
entre seus compatriotas e consideram-na como parte do processo de secularização e
materialização que o ajustamento á vida comercial a industrial provocou na coletividade.
Todavia, é evidente que esta falta de interesse não pode ser atribuída às condições materiais
de vida no Brasil.
Como em sua terra de origem, o imigrante árabe recebeu uma formação cultural insuficiente,
e levando-se em conta a pobreza e a opressão que eles experimentavam na terra de origem,
estes vinham com idéias já pré-concebidas de que o recurso financeiro era o único meio que
os ajudaria a tirar a si e a seus familiares da penúria e elevariam sua nação de dependente e
reacionária para independente e progressista.
Outros, desde a terra de origem, sempre acreditaram que o que faltava aos seus
patrícios e à sua nação era a informação, a cultura e o desenvolvimento intelectual. Estes
vinham para cá e não conseguiam canalizar suas forças de produção para o comércio e a
indústria, pois, por ideologia, não acreditavam que esta era a "falta" que viria redimir a nação
abandonada.
Essas duas posições são encontradas até hoje na coletividade árabe no Brasil. E essas
são características muito mais do imigrante, pois o seu descendente tem um pouco mais claro
que ambas as posições são importantes e nenhuma nação pode vingar sem a cultura e a
informação, sustentadas por uma forte forma de produção.
Daí o sentimento, ainda hoje arraigado de muitos imigrantes, de que o homem de
letras é um fracassado e este em realidade perde muito de seu prestígio na terra de imigração,
pois os valores são outros e em sua maioria esses homens mantiveram o libanês como a sua
língua de comunicação e expressão, acabando por se asfixiarem dentro da própria coletividade
para a qual quiseram dedicar-se e da qual eles não receberam o devido reconhecimento.
31
Esse reconhecimento, em verdade, é muito mais expressivo na terra de origem, onde a
“Literatura do Mahjar” acabou por representar o verdadeiro sentido de independência e
aspiração de todos os conterrâneos lá deixados e na qual eles se nutriam para dar vazão aos
seus sentimentos de independência, liberdade, dinamismo e renovação.
Como exemplo da arte e literatura árabe que tiveram seus reflexos e frutos colhidos na
terra de origem, citamos Nagib Hankach, que criou um estilo próprio, com o qual marcou
época.
Em 1923 ele participou de uma peça intitulada "Ibn Hámid", que foi consagrada no
Teatro Municipal.
As qualidades de imitador, humorista e cantor de grandes recursos em música popular
fizeram com que Nagib Hankach se consagrasse, sendo a sua presença indispensável para o
brilhantismo de qualquer festa.
Importante notar que a sua participação em qualquer espetáculo estava previamente
vinculada à exigência de que este fosse para alguma entidade ou bem coletivo. Nagib
Hankach foi o artista por excelência, fruto da imigração que retorna para sua terra de origem e
prossegue na sua atuação humorística e literária.
1 - Entidades Femininas
2 - Entidades Sociais e Esportivas
3 - Centros Culturais
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CAPITULO IX
O PAPEL DO IMIGRANTE LIBANÊS NO DESENVOLVIMENTO DO BRASIL
"O trabalho é o amor feito visível. E se não podeis trabalhar com amor, mas somente com desgosto, melhor seria que abandonásseis vosso trabalho e vos sentásseis a porta do templo a solicitar esmolas daqueles que trabalham com alegria. Pois se cozerdes o pão com indiferença, cozereis um pão amargo, que satisfaz somente à metade da fome do homem. E se espremerdes a uva de má vontade, vossa má vontade se destilará no vinho como veneno. E ainda que canteis como os anjos, se não tiverdes amor ao canto, tapais o ouvido do homem às vozes do dia e às vozes da noite".
Gibran Khalil Gibran
A maioria dos primeiros imigrantes libaneses no Brasil era constituída por rapazes
solteiros, de classes inferiores, originários de cidadezinhas rurais e vilas. Embora muitos deles
fossem artesãos, a grande maioria era mão-de-obra agrícola. A agricultura fora seu modo
tradicional de vida durante muitos séculos, e muitos deles haviam emigrado para melhorar
suas terras, adquirir gado, construir casas melhores e comprar mais terras. Vindo do meio
rural, mostraram preferência pela vida urbana e atividades comerciais em todos os países para
os quais emigraram, estabelecendo-se em cidades e evitando o emprego na agricultura e na
indústria.
As principais razões para que evitassem a agricultura no Brasil são as seguintes:
1. O sistema agrícola brasileiro, de monocultura fundiária, voltado para produtos como o café,
algodão e açúcar, era completamente estranho aos árabes, que cultivavam cereais, árvores
frutíferas, oliveiras, vinhedos ou criavam gado em pastos arrendados ou de propriedade da
família.
2. A falta de capital para a compra de terras impedia que fossem os donos da mesma,
restando-lhes o trabalho de mão-de-obra nas fazendas e este não lhes interessava pela baixa
33
remuneração oferecida. Mascateando pela zona rural, viam a miséria da população e sentiam
repulsa por este tipo de vida.
3. O seu objetivo na terra de imigração não era a fixação definitiva; e sua expectativa era
enriquecimento rápido e o retorno à terra de origem, e o comércio oferecia esta possibilidade.
4. Sua experiência na terra de origem com a agricultura não havia atendido às suas
expectativas. Tinham conhecimento de como o armênio e o judeu, também imigrantes nesta
terra, ganhavam dinheiro e faziam fortuna. Em sua concepção, se utilizassem o mesmo
método, certamente enriqueceriam.
No Brasil, a atividade de mascate foi seguida por muitos grupos de imigrantes como
uma fórmula de obtenção do capital. Os primeiros a utilizarem esse expediente foram os
portugueses, dos tempos coloniais até fins do Século XIX; quando os italianos emigraram
para o Brasil e se iniciaram no mascatear, buscaram seu lugar e fizeram com que os
portugueses gradualmente se retirassem e se iniciassem no comércio varejista e atacadista
com secos e molhados, produtos agrícolas e na importação e venda de tecidos, sua nova fonte
de lucros.
9.1 O Mascate
De espírito empreendedor, desbravou florestas com coragem e persistência.
Este trabalho, o de mascatear, era escolhido pelos imigrantes libaneses, não
necessitava de capital, mas sim espírito independente. Não se sujeitavam às ocupações servis
nas cidades ou fazendas. Traçavam eles próprios o seu caminho e destino, assumindo suas
responsabilidades e enfrentando o perigo das selvas e o desconhecido que o aguardava.
Caminha o mascate, confiante em si a nó futuro, protegido que estava pela figura de seus
antepassados também pioneiros nas terras a nos mares.
A contribuição do imigrante libanês na lavoura do café, na exploração da borracha e
na mineração foi indireta, trazendo conforto e alegria, exuberância e principalmente o contato
com a grande cidade e que os moradores do sertão e das fazendas não tinham acesso.
Era o mascate o homem esperado para a compra da jarra, da panela, do vestido novo,
do sapato, da galocha, enfim das novidades da metrópole. Ele era o distribuidor da produção
manufaturada ou importada das grandes capitais brasileiras pelo sertão e pelos povoados
espalhados pelos 8.500.000 km2 de terras brasileiras.
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O mascate promoveu, certamente, a comunicação interbrasileira, trazendo e levando
estas experiências, vivências, esperanças e unindo a produção da população rural e urbana. É
o verdadeiro cultural carrier.
9.2 A Lenda de Marataizes
"Um mascate, que tinha uma tropa de mulas junto com outros companheiros,
adentravam o sertão de Espírito Santo para mascatear.
Acredita-se que a sua mulher exercia uma liderança sobre as esposas dos mascates da
redondeza e que estas mulheres iam todas lavar as roupas num local hoje chamado de "bacia
das turcas.
A cidade à qual pertenceu Aziz chama-se Marataize que, desmembrada no árabe,
Marat-Aziz esposa do Aziz".
Outras regiões próximas a esta cidade lembram nomes árabes e levam a crer que a
lenda do Aziz mascate e de sua esposa é que teria dado o nome para a cidade.
Outra versão do nome Marataize seria a sua origem indígena.
Fica aqui registrada a lenda e a sua outra versão para quem se interessar em
desvendá-la.
9.3 Marechal Rondon e o Mascate
Em suas andanças pelo Estado de Mato Grosso, quando da instalação da rede
telegráfica, ainda no Século XIX, Marechal Rondon encontra, em uma clareira na selva, um
jornal árabe.
Este episódio está registrado no museu Marechal Rondon a no Instituto Histórico e
Geográfico.
Tal fato leva-nos a crer que teria passado por lá um dos primeiros mascates, isto ainda
antes do final do Século XIX.
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9.4 O Crédito e o Mascate
O mascate contribuiu ainda para a implantação do crédito que é o sinônimo da
autoconfiança que um ser humano pode, por tê-la em si, delegá-la a outro. Esta história
transcrita do livro de Taufik D. Kourban,76 ilustra bem este processo iniciado pelo mascate a
que posteriormente foi deturpado pela agiotagem internacional chamada hoje de inflação. "O
meu pai estava formando uma fazenda em Jaú. No segundo ano escasseou-lhe o dinheiro e ele
tinha de esperar ainda dois anos para tirar a primeira colheitinha. Um belo dia apareceu na
fazenda um mascate de nome Antonio Mussi. Este ofereceu a sua mercadoria, tecidos e
armarinhos. Meu pai disse categoricamente que não comprava. Mas o mascate não é tão mole
para ceder à primeira resposta negativa. Insistiu. Papai revelou-lhe a causa, não podia comprar
porque não tinha dinheiro. O Antônio respondeu: não preciso pagar agora. Mas, redargüiu
papai, nem depois posso lhe pagar, porque a primeira safra é daqui a dois anos. O Mussi, com
aquele amor ao trabalho e ardente propósito de produzir, disse: senhor, paga quando pode. A
luta entre o mascate e o fazendeiro terminou pela vitória do primeiro; papai comprou e,
cedendo à insistência de Antônio, chamou todos os colonos. A fazenda foi sortida de tudo,
inclusive uma máquina de costura, coisa não muito comum naquela época. O Antonio Mussi
voltava à fazenda de quatro em quatro meses, não para fazer cobrança, mas para ver o que
faltava. Agora, sabe quando foi paga aquela conta? Dois anos mais tarde, depois de vendida a
primeira safra. Meu amigo, não foi o americano que inventou a venda à prestações muito
folgadas. O americano vende com reserva de domínio e a prestação consecutiva de curto
intervalo; mas o Antônio Mussi e seus colegas vendiam a dois anos de prazo e sem reserva de
domínio. Quantas fazendas não teve o seu “Antônio Mussi” como a fazenda do meu pai teve o
seu?"
O mascate não vagava pelo interior sem ideal. Com paciência e tolerância, ele chegava
cada vez mais perto de seu objetivo que é o de se fixar e ter o seu armazém e mais tarde quem
sabe a sua indústria ou ele ou até seu filho, se tudo correr bem. Esse sonho, que a grande
maioria de mascates transformou em realidade, era perseguido pelo mascate tido como
analfabeto, apesar de trazer como herança cultural toda a bagagem de 6.000 anos de
civilização e história. Com humor, ele enfrentava a arrogância, grosserias e deboches,
daqueles menos esclarecidos e, persistia na luta pelo seu ideal de fixar-se a progredir trazendo
o progresso à terra que o acolhia.
36
O acaso não pode transformar o mascate em comerciante que se impõe à fibra
constitucional do indivíduo, aliada à aptidão em aprender aproveitando todas as lições da
experiência. Muitos desses nômades da floresta" aprenderam a ler a escrever a sua própria
língua aqui no Brasil.
O analfabeto árabe coleta informações de ouvido, aprendeu a sua aritmética pelo
cálculo mental, estudou história escutando as narrações dos "saraus" concorridos das noites de
inverno; adquiriu os seus conhecimentos sociais decorando e expondo as dezenas e centenas
de provérbios de um povo de tradições milenares; cada provérbio é o resumo de um capítulo
de sabedoria social e filosófica. Assim explicam-se a presteza do cálculo, e forte memória e a
precocidade do árabe.
A competição instalada entre italianos e árabes foi bastante séria, pois as duas
correntes imigratórias chegaram quase juntas no inicio, e o seu processo de produção e
fixação caminhou quase paralelo. Os italianos sentiram-se ameaçados, por volta de 1900, com
a crescente onda imigratória de árabes, e chegaram a preparar-lhes um boicote no
fornecimento de mercadoria. Esta tentativa de frustrar o processo de crescimento dos árabes
teve como resposta maior unidade da coletividade e um esquema de conquista de crédito e
credibilidade, que fez fracassar a tentativa de boicote dos italianos.
O árabe trabalhou como mascate apenas no seu primeiro período de imigração, em
seguida, voltou-se para o comércio varejista. Na capital, a condição de mascate passou
rapidamente para a de comerciante atacadista devido á maior demanda.
9.5 O Início do Estabelecimento
Já em fins de 1900, um pequeno número de árabes puseram-se a manufaturar em
pequenas fábricas de baixo capital e com número de pessoal reduzido. Ali a produção era de
qualidade inferior. Produziam fazendas, fitas, bordados, meias e confecções que eram depois
revendidos pelos mascates e viajantes.
O Almanaque de 1895 registra seis lojas árabes de fazenda e armarinhos, localizadas á
Rua 25 de Março e arredores.
Os dados fornecidos pelo Censo Industrial de 1920 aponta 91 firmas - sírias em maior
número - 73 firmas dedicavam-se à confecção de calçados, malharias, meias e camisetas;
37
outras dedicavam-se à fabricação de perfumes, produtos alimentícios; outras 2 trabalhavam
em tecelagem e fiação e apenas 1 dedicava-se à cultura, fiação e tecelagem de seda natural."
Até 1950, os árabes tinham poucas organizações econômicas regulares, tais como
Câmara de Comércio, comuns entre comerciantes de outras nacionalidades. Várias tentativas
foram feitas no sentido de organizar uma Câmara de Comércio, mas as linhas divisórias de
religião, parentesco e origem não puderam ser transpostas.
Entre eles havia vontade de cooperar informalmente, pois não se dispunham a pôr no
papel o que seu governo não permitia e a união de uma Câmara de Comércio árabe
significaria, para o libanês, o princípio de considerar-se mais árabe. Deparamo-nos aí com um
dos núcleos mais ferozes do conflito, que é o da identidade nacional.
Aparentemente, essas linhas divisórias não são muito visíveis e, realmente, não
chegaram a interferir na cooperação informal dos árabes no Brasil, chegando este grupo a ser
considerado como o que mais se auxilia e se protege, conseguindo separar as diferenças
religiosas a políticas das nacionais.
O Almanaque de 1930, aponta os sírios e libaneses como possuidores de:
468, dos 800 estabelecimentos de fazendas e confecções;
6, das 10 fábricas de camisas;
22, das 96 fábricas de meias a malharias;
14, das 48 fábricas de roupas brancas;
3 únicas fábricas de chapéus;
3 únicas fábricas de gravatas;
67 mercearias.
As aplicações árabes, fora do ramo de tecidos e confecções, começaram, em grande
proporção, entre os anos de 1920 e 1930 e esta tendência acentuou-se a partir da Segunda
Guerra Mundial. O capital árabe, atualmente, é muito ativo na indústria pesada; companhias
árabes estão ingressando nas indústrias básicas de ferro e aço, bancos, construções civis,
mineração e navegação. Sua entrada nestes campos está encontrando a mesma espécie de
hostilidade por parte dos grupos já estabelecidos, ou seja, a mesma que encontraram ao
tentarem se estabelecer no ramo de tecidos.
Também desempenharam importante papel no estabelecimento de uma indústria de
seda natural, até seu desaparecimento provocado pela concorrência de fibras artificiais e com
a instalação de diversas fábricas de fibra de rayon. Muitos árabes passaram para a fiação e
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tecelagem do rayon de qualidade inferior com bastante sucesso, o que incentivou outros
imigrantes a aderirem ao ramo e, no início de 1930, os árabes dominaram a produção dos
tecidos de rayon.
De 1900 a 1930, uma rede de estabelecimentos varejista e atacadista árabes
espalhou-se pelo Brasil. Em todas as vilas, cidades e encruzilhadas da zona rural eram
encontradas lojas; viajantes e representantes comerciais árabes faziam a ligação entre as lojas
e atacadistas e industriais árabes na cidade de São Paulo, comercializando quase que
exclusivamente entre si. A distribuição de centenas de lojas de atacado e varejo uniu a
coletividade num sistema econômico difícil de ser integrado.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a coletividade como um todo melhorou
sensivelmente sua posição financeira. Muitas fortunas se fizeram por meio de especulações,
preços inflacionários e exportação crescente de tecidos e armarinhos de baixa qualidade.
O comércio exterior, neste período, começou a exercer atrativo sobre eles, pois muitos
deles estavam estabelecendo contatos comerciais e formando sociedades com árabes
instalados em outros países latino-americanos e na África.
Após a Segunda Guerra Mundial, esses contatos ficaram mais intensos, principalmente
quando a importância dos países árabes ficou mais explícita para o mundo ocidental, dada a
dependência do mundo industrial em relação ao petróleo.
Desta forma o árabe enquanto imigrante se conscientizou de seu papel no panorama
econômico mundial e da importância do fato de ele se constituir numa das maiores presenças
imigratórias na maioria dos países do mundo.
A aliança entre todos esses imigrantes poderia promover benefícios tanto para o país
que os recebe como para o país de origem.
Em 1950, começa a se processar um lento e hesitante movimento de árabes para fora
dos seus campos tradicionais de ocupação, adentrando eles em todos os setores de negócios da
cidade, despontando como contadores, guarda-livros, corretores, empregados em firmas com
bons salários. Outros se interessaram pela montagem de lojas varejistas para a elite
consumidora da cidade. Há presença ainda, no rádio, televisão, jornais, revistas; enfim, suas
atividades estão bastante diferenciadas e seus interesses mais voltados ao trabalho/prazer e
não mais para a necessidade imediata de sobrevivência.
Na mesma medida em que o brasileiro ajudou na ambientação do árabe, este
contribuiu para introduzir no Brasil novos estereótipos econômicos. Para muitos brasileiros e
alguns grupos de imigrantes europeus, o comércio e a indústria não eram considerados
ocupações adequadas aos homens de inteligência. A propriedade de latifúndios e as profissões
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liberais como direito, medicina, jornalismo etc., tinham sido a meta tradicional de suas
ambições. Para o brasileiro tradicional e diferenciado, dedicar-se ao comércio e à indústria era
vergonhoso e considerado atividade passageira e nunca constante.
Os árabes, estimulados pela pobreza e ambição, trabalharam duramente e empregaram
seus ganhos na expansão dos negócios, uma vez que entre eles alcançava-se posição através
da riqueza. Diante disso, muitos membros da coletividade desejavam melhorar sua condição
financeira; eram astuciosos e não hesitavam diante de qualquer método, para expelir
competidores a alargar seus mercados. Popularizavam a venda à prestação, liquidações,
consultas às preferências do consumidor e desenvolveram um mercado maciço por meio de
preços baixos e escoamento rápido de estoque.
Muitos dos descendentes adotaram atitudes abrasileiradas frente ao comércio e à
indústria, optando por uma vida ociosa e perdulária, aniquilando verdadeiros impérios
comerciais e industriais. No entanto, este comportamento não é próprio da maioria dos
descendentes, os quais possuem visão objetiva e dedicada aos negócios, bem como o desejo
de melhorar a própria situação financeira. O comércio e indústria são suas ocupações
preteridas, dão maiores compensações econômicas e garantem prestígio e consideração social.
9.6 As Profissões
Até 1920-1930, os estudantes árabes tinham grande preferência pelo comércio e os
negócios. Com a aculturação, maior proximidade e mesmo parentesco com a elite brasileira,
nota-se que as profissões liberais começaram a fazer parte da escolha dos estudantes da
coletividade. A importância que o brasileiro-quatrocentão dá à carreira de médico, advogado
etc., leva o estudante brasileiro-árabe e também optar pelas profissões liberais.
Os primeiros estudantes da coletividade entraram na Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo em 1920, embora sua presença fosse mais constante a partir de
1927. Em 1950, havia 97 alunos matriculados.
A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, quando abriu, em 1913, já
contava com 2 alunos da coletividade nela inscritos. Este número aumentou
consideravelmente após 1928. Em 1950, havia 42 alunos matriculados.
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Dentre os ramos da medicina, a cirurgia foi o preferido pelos descendentes de árabes
no Brasil. Em 1945, havia 80 médicos atuantes e inscritos na Sociedade Paulista de Medicina,
como estudantes da Universidade de São Paulo, quando abriu, em 1913, já contava com 2
alunos da coletividade nela inscritos. Este número aumentou consideravelmente após 1928.
Em 1950, havia 42 alunos matriculados.
Dentre os ramos da medicina, a cirurgia foi o preferido pelos descendentes de árabes
no Brasil. Em 1945, havia 80 médicos atuantes e inscritos na Sociedade Paulista de Medicina,
como segue:
27 cirurgiões
14 clínicos
15 ginecologistas
04 pediatras
03 oftalmologistas
02 dermatologistas
02 fisiólogos
02 aparelhos digestivos (gastroenterologistas)
02 vias urinárias
01 eletroterapeuta etc.
O primeiro estudante da coletividade formou-se no curso de Engenharia em 1925.
Apesar de o Mackenzie ser freqüentado por descendentes de árabes muito antes disso, e do
curso de engenharia já existir desde 1896, o número de engenheiros nunca foi muito
significativo na coletividade árabe. A maior escola de engenharia de São Paulo é a Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo, fundada entre 1890-1900; os primeiros membros
da coletividade matricularam-se em 1917. Esse número aumentou gradativamente até 1942,
quando 22 estudante matricularam-se; este número de matrícula declinou até que,em
1949,havia somente 5 inscritos. Em 1950, havia 79 engenheiros de origem árabe inscritos na
Sociedade Paulista de Engenharia; a grande maioria era de engenheiros civis, sendo seguidos
pelos engenheiros eletricistas a os agrônomos.
Odontologia a Farmácia constituem outro ramo de interesse dos membros da
coletividade árabe. Fundada em 1935, a Faculdade de Odontologia e Farmácia da USP já
formou 40 estudantes em Odontologia a 22 em Farmácia.
Até 1950, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras não desperta grande interesse na
escolha da carreira a ser seguida pelos estudantes brasileiros-árabes. Os primeiros estudantes
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de descendência árabe aí matricularam-se em 1937. A cadeira de Filosofia despertou maior
interesse nos estudantes do interior e isso se deve, talvez, ao maior contato que estes
estudantes tinham com a população local, assimilando seus valores, preocupando-se mais com
a realidade nacional.
Em 1946, foi fundada a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Esta faculdade
dedica-se à área de Ciências Humanas, seu diretoror em 1950 era de origem árabe, bem como
vários membros do pessoal administrativo. Desde sua fundação, o número de estudantes
brasileiros-árabes foi bastante significativo.
9.7 Panorama Atual
O panorama encontrado hoje, no Brasil, após mais de 100 anos do início da imigração,
mostra as diferentes etapas transpostas pelas famílias dos imigrantes. Na maioria dos casos,
iniciavam sua vida na nova terra sem recursos e também como mascates, para depois de
alguns anos transformarem-se em comerciantes. Muitas vezes, foi difícil para este imigrante
original chegar a ser um grande industrial.
A segunda geração,já foi formada a entrosada com a realidade brasileira, prosseguiu
um caminho iniciado pelo pai e o comércio transformou-se em indústria, podendo assim dar
maior expressão ao "status" e ao esforço da família. Nesta segunda geração, encontramos os
profissionais liberais atuando em seus respectivos campos de atividades, apesar de já
vislumbrarmos o interesse pela participação política a social, buscando também aí uma outra
forma de expressão.
No entanto, na terceira geração é que esta participação política e social tem maior
destaque, pois, supridas as necessidades de sobrevivência, segurança, assegurada a
continuidade e conquistado um nível sócio-econômico, a busca de expressão político-social
torna-se uma seqüência natural de atuação.
Hoje encontramos grande número de novos imigrantes refazendo percursos
anteriormente trilhados por seus antecessores, inclusive na escolha da primeira moradia, do
clube e toda a trajetória que se delineia à sua frente, até atingir o "status" de político
reconhecidamente brasileiro.
42
Na periferia da cidade de São Paulo é que vamos encontrar o maior contingente de
novos imigrantes, instalados com suas lojas ou pequenas fábricas, não apenas de roupas mas
também de móveis. O exemplo disto está no Grande ABC e mesmo nas imediações de São
Miguel Paulista. Hoje eles optam, em princípio, pela periferia, pois o centro de São Paulo está
totalmente tomado, e o núcleo da Rua 25 de Março e adjacências já não se presta a um início
de vida pela valorização do local, hoje dedicado às lojas de alto porte no atacado, e mesmo
grandes magazines que trabalham no varejão.
As famílias que no inicio da imigração residiam na zona da Rua 25 de Março, hoje
estão instaladas nos luxuosos bairros da zona sul. Seus filhos a netos já não se identificam
com os valores árabes, que nortearam a vida de seus pais a avós. Reconhecem sua origem
árabe pelo nome e porque isto é sempre lembrado pelos que os rodeiam.
Vamos encontrar estes filhos a netos hoje dedicados à mais diversas atividades: desde
à construção civil, onde merecem todo destaque, ou até mesmo no exercício da advocacia e
medicina.
Se, nos primeiros setenta anos da imigração, os imigrantes não mostravam grande
predileção por letras e ciências sociais, o que vemos hoje é que os filhos dos novos imigrantes
têm dado especial ênfase à escolha de profissões desta área, tais como assistência social,
psicologia, matemática, arquitetura, sociologia; enfim, áreas mais ligadas às ciências humanas
e sociais Estas profissões hoje merecem interesse maior do imigrado, que chega com um
maior nível de politização e assiste à distância dos acontecimentos que cotidianamente estão
abalando sua terra de origem, fazendo com que ele busque respostas que possam satisfazer
seu constante questionamento frente a essa avalanche de fatos. Tudo isso faz que este filho de
imigrante das novas levas se identifique com as classes brasileiras mais oprimidas do que com
os detentores do poder, representados por seus conterrâneos de origem árabe.
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CAPÍTULO X
A IMIGRAÇÃO ÁRABE NO RIO DE JANEIRO E O CLUBE SÍRIO LIBANÊS
Em 1841, instigada pelos otomanos, eclodiu uma guerra confessional entre drusos e
maronitas. Para contrapor-se ao poderio cristão a comunidade drusa buscou auxílio junto aos
otomanos. No ano seguinte, a Europa também entrou na guerra e impôs uma solução que
consagrou pela primeira vez a diferenciação confessional. Os drusos foram protegidos pelos
britânicos e os maronitas pela França.
O Império Otomano estava em ruínas. A difusão das idéias da Europa Ocidental a
respeito de nacionalidade e nação-Estado, havia provocado uma série de revoltas. A reação do
governo otomano, em regiões sob sua dominação, foi cruel e sanguinária. Em 1894, o
movimento pela autonomia existente na Armênia, uma província cristã, foi reprimido com a
morte de dezenas de milhares de armênios.
Foi para fugir da sangrenta repressão turca que os primeiros emigrantes árabes
embarcaram com destino ao Brasil. Em 1880, chegou ao Rio de Janeiro o libanês Yussef
Mussa Miziara, estabelecendo o marco da emigração árabe contemporânea.
Os imigrantes dessa primeira leva destacavam-se por serem da elite política e cultural
do mundo árabe, caracterizando a imigração como espontânea e livre, fruto de uma decisão
individual. Diferia, portanto, das correntes italiana e japonesa, que possuíam toda uma
organização e o próprio Estado por trás da empreitada.No caso do árabe, nem mesmo uma
nacionalidade existia, uma vez que no seu passaporte constava a denominação genérica de
Turco.
Não eram apenas imigrantes em busca de soluções econômicas. Muitos tiveram que
vender jóias e bens para conseguirem lugar nos porões dos navios que saíam da Península
Ibérica para a América do Sul. A viagem durava em torno de um mês, às vezes sem luz e com
água racionada. Sofrimento e revolta confundiam-se com a esperança de riquezas e da volta
ao lar. O êxito do patrícios e dos portugueses, judeus e armênios, que se tornaram prósperos
comerciantes estabelecidos, era lembrado pelo árabe ao mascatear por todo Brasil.
43
44
No difícil começo esse imigrante revendia, de porta em porta, os produtos que o
comerciante ou fabricante de bugigangas lhes repassava: uma caixa com pentes, vidros de
perfumes etc. A atividade de mascate era uma forma de trabalho e acumulação de dinheiro,
primeiro entre os portugueses, seguindo-se os italianos e árabes.
Por volta de 1900, os italianos sentiram-se ameaçados com a crescente onda
imigratória árabe e iniciaram um boicote de fornecimento de mercadorias. A tentativa de frear
o crescimento árabe uniu toda a colônia, que fez fracassar o boicote italiano através de um
esquema de conquista do crédito e credibilidade. Foi a resposta do chamado "Ahlal Kacha"
(povo da caixa) como eram conhecidos esses mercadores, até mesmo no mundo árabe.
A participação do árabe no comércio, através da "venda a domicílio", cresceu ainda
mais com a chegada ao Brasil da segunda corrente imigratória, entre os anos de 1900 e 1914.
Jovens solteiros, de classes mais pobres, originários de cidadezinhas e vilas da Síria e do
Líbano, a maioria composta de mão-de-obra agrícola e artesãos. Nesse tempo não havia terras
à venda, sobrando o trabalho de mão-de-obra agrícola com baixa remuneração, o que não lhes
permitiria acumular capital. Esses imigrantes viram no trabalho do mascate uma forma de
enriquecimento rápido.
O árabe trabalhou como mascate apenas no seu primeiro período de imigração,
voltando-se em seguida para o comércio varejista. Nas grandes capitais – Rio e São Paulo,
notadamente – a condição de mascate transformou-se, em bem pouco tempo, na atividade do
comerciante atacadista, bem mais rentável devido à uma crescente demanda. Já no final do
ano de 1900, existia um pequeno número do fábricas de baixo capital, com pessoal reduzido.
Os produtos – fazendas, fitas, bordados, meias e confecções – mesmo de qualidade inferior,
eram revendidos com sucesso pelos mascates e viajantes.
Em 1895, a cidade de São Paulo registrava a presença de seis lojas árabes de
fazendas. Vinte e cinco anos depois, no censo industrial de 1920, eram em número de 91
firmas – sírias, na maioria – sendo 73 delas dedicadas à confecção de calcados, malharias,
meias e camisetas, além do outras que produziam perfumes e produtos alimentícios. Apenas
duas trabalhavam em tecelagem e fiação e somente uma dedicava-se à cultura, fiação e
tecelagem de seda natural.
O Almanaque de 1930 aponta sírios e libaneses como possuidores de mais de 50% dos
800 estabelecimentos de fazendas e confecções; seis das dez fábricas de camisas; 22 fábricas
de meias e malharias; 14 fábricas de roupas brancas; três únicas fábricas de chapéus e três de
gravatas, também únicas existentes no país. No início daquele ano, os árabes passaram a
dominar a produção do tecidos de rayon, substituindo a indústria de seda natural por fábricas
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de fibra artificial, de qualidade inferior, mas com muito sucesso por ser bem mais acessível às
diversas classes da emergente população urbana.
No Rio de Janeiro, os primeiros imigrantes árabes instalaram-se nas ruas do Ouvidor e
Alfândega, esta originária do caminho do Capueruçu que, em 1600, transformou-se em rua.
Em 1622, recebeu o nome de Rua do Governador ou Travessa dos Governadores, quando o
Governador Salvador Correia de Sá e Benevides adquiriu um imóvel em frente à porta da
antiga Alfândega. A rua recebeu outros governadores, até que, em 1840, a Câmara Municipal
deu-lhe o nome de Rua da Alfândega.
Essa rua central do Rio de Janeiro tornou-se um importante ponto comercial graças à
sua localização estratégica, uma vez que era passagem obrigatória entre o mar e o Engenho
Velho dos Jesuítas e ainda, o caminho para São Cristóvão. Um grande contingente da
população por ela transitava, atraindo assim a massa dos novos imigrantes italianos,
portugueses e árabes que se dedicavam ao comércio ambulante.
Nesse período, destacava-se a vinda dos irmãos Zacarias que chegam ao Brasil
procedentes da Palestina, onde o imperador Pedro II estiveram em 1871. Esses pioneiros da
imigração árabe no Brasil instalaram-se na Rua da Alfândega e na Rua dos Ouríveres, onde se
dedicaram à comercialização de produtos de artesanato religioso.
Em mais de cem anos, desde o início da imigração árabe, milhares de imigrantes e
seus descendentes viveram e trabalharam nesta rua, no início instalados em pequenas
moradias. Eles foram progredindo graças às atividades iniciais de mascatear e comercializar,
que, depois, viraram pequenas confecções.
A mudança da barraca, ou da mala de mascate, pelo comércio estabelecido, tornou
comum os comerciantes da área possuírem uma loja no andar térreo e residirem no sobrado
acima. Sentiam-se, assim, mais integrados na tarefa de trabalhar e acumular capital.
Este período da imigração árabe no Brasil termina com a Segunda Guerra Mundial
que, como a anterior, vai causar mudanças radicais no curso da imigração. Hoje a Rua da
Alfândega é um grande shopping a céu aberto, com centenas de estabelecimentos comerciais
em torno de uma entidade: a Saara – Sociedade de Amigos da Rua da Alfândega e
Adjacências. Uma das transversais mais importantes é a Rua República do Líbano que merece
destaque, uma vez que foi aberta antes de 1769 em terras da Ordem das Carmelitas (daí o
primitivo nome de Rua do Carmo). O nome atual foi instituído pelo Decreto nº 10.012, de 23-
11-1945, que justifica a mudança como “uma homenagem à pátria dos numerosos negociantes
sírios e libaneses que têm ali o seu comércio, dando ao local um aspecto de bairro levantino”.
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A idéia da fundação de um clube para os membros da comunidade árabe do Rio de
Janeiro, surgiu há 60 anos durante uma reunião informal de jovens num restaurante da Rua da
Alfândega. O objetivo inicial era criar para as comunidades Síria e libanesa, da ex-Capital
Federal, um local de atividades sócio-recreativas para pessoas de até 30 anos, idade limite
para ingressar na nova associação.
No dia 17 de setembro de 1926 realizou-se a primeira reunião oficial, no escritório do
Dr. Alberto Oakin, à rua São José, nº 84, com a presença de 38 membros. Na pauta de
deliberações, “a fundação do novo clube, a denominação social, a eleição da Diretoria, a
elaboração dos estatutos e outras providências”. Assim foi criada a União da Mocidade Árabe
do Rio de Janeiro, tendo sido eleita uma Diretoria Provisória, assim composta: Presidente –
Alberto Oakim; Secretário – Alfredo Safadi; Tesoureiro – André Murad; Comissão de
Propaganda – Nascimê Mathias, Alfredo Ferreira Simão, Chicralla Abrahão Racy, Miguel
Arab, Elias Gosn, Michel Caram e Chiafi Neif Abras.
Na segunda reunião, realizada no dia 24 de setembro de 1936m a nova agremiação
passou a se chamar “Clube Sírio e Libanês do Rio de Janeiro”, segundo proposta do sócio
Waldemar Chame aprovada por aclamação. Na assembléia geral extraordinária do dia 12 de
novembro de 1936, foi eleita a primeira Diretoria efetiva do CSL, assim constituída:
Presidente – Taufic Safady;
1o Vice-Presidente – André Murad;
2o Vice-Presidente – José Neder;
1o Secretário – Alfredo Safadi;
2o Secretário – Danilo Palermo;
1o Tesoureiro – Alfredo Pereira Simão;
2o Tesoureiro – Victor Majdalany;
Diretores Sociais – Chicralla Abrahão Racy e Michel Caram.
Conselho Fiscal – Elias Gosn, Chafi Abras e João Nagib Cury.
Na ocasião, foi concedido o primeiro título de Sócio Benemérito ao Dr. Alberto
Oakin, por serviços relevantes prestados ao Clube. Finalmente, no dia 12 do dezembro de
1936 foi realizado o Baile Inaugural do Clube Sírio e Libanês do Rio de Janeiro, nos salões da
Associação dos Empregados do Comércio, precedido de sessão solene.
Já oficialmente constituído, o Sírio e Libanês ocupou a sua primeira sede na Rua da
Alfândega, 132 – sobrado, seguindo-se a mudança para uma nova sede social na Praça
Floriano, n° 55 – 2° andar, em cima do bar Amarelinho, onde permaneceu até o ano de 1948.
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Outra curiosidade: entre os anos 194o e 1945, em conseqüência da II Grande Guerra, o Sírio e
Libanês chamou-se "Clube Nacional do Rio de Janeiro". Em agosto de 1948, na gestão do
presidente Demétrio Migheul Ajuz, o clube finalmente adquiriu a sua sede própria, à rua
Marques de Olinda, nº 38, em Botafogo. Relatos da época contam que a alegria de Demétrio
Ajuz foi tanta, que na primeira festa realizada na nova sede, ele entrou tocando um enorme
bumbo.
Os serviços prestados pelo Sírio e Libanês já eram notáveis, quando veio o
reconhecimento do governo brasileiro através do título de Utilidade Pública outorgado à
agremiação, em 1952, pelo Decreto Lei 756, assinado pelo então prefeito do Distrito Federal,
Dulcídio do Espírito Santo Cardoso.
O casarão da Marquês do Olinda viveu momentos grandiosos, até que, em 21 de junho
do 1959, foi lançada a pedra fundamental do novo edifício-sede seis andares. Aqui,
resgatemos a lembrança do gesto magnânimo do Presidente do Honra do Sírio e Libanês,
Tuffy Nicolau Habib, que doou um milhão de cruzeiros, em moeda da época, para as obras de
construção. A construção do prédio de seis andares começou na administração Fouad
Chalfun, sendo terminada alguns anos depois. Na gestão seguinte, do presidente Chicralla
Racy, a nova sede social foi finalmente inaugurada com grande e merecida pompa. Ainda
hoje Clube dispõe do mais belo e avançado projeto arquitetônico jamais realizado para um
clube social.
Hoje, a Marquês de Olinda é conhecida, por todos os cariocas, como a rua do Sírio e
Libanês (ao lado), graças às notáveis realizações sociais empreendidas por seus dirigentes.
Muitos projetos foram realizados, ainda maiores do que imaginavam os seus sócios
fundadores, nesses 60 anos de existência. As suas dimensões foram ditadas pelo crescimento e
prestígio do Clube, por seu quadro social, do mais alto nível, e pelas intensas atividades
sociais, recreativas e esportivas.
O Sírio e Libanês sempre conseguiu brilhar nos vários segmentos esportivos
disputados no Rio de Janeiro, com exceção do futebol. No voleibol e no futebol de salão
conquistamos até os dias de hoje grandes e notáveis conquistas, mas, sem dúvida, foi o
basquetebol do clube o seu maior destaque durante o período em que estivemos filiado às
federações.
É tristemente famosa a "melhor de três" que o Sírio a libanês participou com
Flamengo, em 1958, quando na última partida vencíamos por diferença de um ponto, a menos
de um minuto do final da partida. O time rubro-negro venceu com uma cesta de 2 pontos mas
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não chegou a comemorar a vitória, pois seu diretor de esportes, Gilberto Cardoso, foi
dominado pela intensa emoção a caiu fulminado por um infarto.
Mas se a vida é feita de histórias tristes, temos as alegrias para contrapor-se a elas. E o
nosso Clube Sírio e Libanês é todo feito de histórias e exemplos felizes. Mesmo quando
pranteamos nossos saudosos amigos, com quem convivemos todos esses anos, seja através
dos registros históricos, ou mesmo pessoalmente, é com alegria que relembramos as suas
passagens por essa vida, por esses mesmos salões e áreas comuns do nosso querido Clube.
Nossos amigos continuam alegres, festivos, ruidosos, afetivos.
Encontramos eles nas imagens dos melhores bailes carnavalescos que a Cidade
Maravilhosa jamais presenciou. Ou nos domingos árabes, nos festivais de chopp, nos eventos
culturais homenageando as comunidades árabe, Italiana, espanhola e portuguesa, nos
tradicionais almoços da Comissão de Senhoras, com bolos desfiles do moda. Encontramos a
mesma confraternização e alegria a nos unir, nos concorridos e animados reveillons, onde
cantamos e brindamos ao futuro cheio do esperanças, nas concorridas festas juninas; a
domingueiras dançantes; no Salão de jogos; e nos almoços dos Pais e na Homenagem às
Mães, sempre emotivos.
Alimentamos nossos corpos e espíritos em volta da boa e farta mesa árabe,
continuando a cultivar amizades eternas, que só nos enchem de prazer e orgulho. O
sentimento e o espírito dos idealistas e fundadores do nosso Clube, vemos agora nos jovens
atletas que participam das Olimpíadas internas, ou representam as cores do Clube em
competições externas. Tudo isso torna o CSL imortal. Somos parte dele, desse espírito, dessa
força poderosa que se alimenta de amor, somos também imortais.
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CONCLUSÃO
A emigração libanesa foi de tal forma marcante e diferente das outras tantas quantas,
sendo que o Líbano foi o único país cujos emigrantes contribuíram de forma decisiva para o
seu crescimento, mantendo laços e, sobretudo, atividades econômicas políticas e sociais.
Para cada Norte que se enderece, depara-se com sua presença, pois banhado pelo
Mediterrâneo, os fenícios tornaram-se grandes navegadores, levando aos quatro cantos do
mundo a sua cultura, os seus costumes que, de tão bem aceitos na sociedade brasileira,
tornaram-se parte dela e de sua própria cultura.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CONSULADO GERAL DO LÍBANO.Caderno Cultural.
CAMPOS, Mintaha Alcuri. Turco pobre, Sírio remediado, libanês rico. Vitória:
Departamento de Comunicações e Recursos audiovisuais do Instituto Jones dos Santos.
Neves, 1987.
HAJJAR, Claude Fahd. Imigração Árabe 100 anos de reflexão. São Paulo: Clone 1985.
KHATLAB, Roberto. Brasil – Líbano. A amizade que desafia a distância.
DELEGAÇÃO DA LIGA DOS ESTADOS ÁRABES.O mundo árabe.
EDDÉ, Padre Dr. Emile. (M.L). O Líbano através dos Séculos. Tomo 1 e 2.
SAFADY, Jamil. Panorama da Imigração Árabe. Ed. Comercial Safady Ltda. SP.
Sírio e Libanês, 60 anos 1936 a 1996.
51
ANEXOS
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FOLHA DE ESTÁGIO
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FOLHA DE ATIVIDADES CULTURAIS
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ÍNDICE
AGRADECIMENTO 03DEDICATÓRIA 04RESUMO 05METODOLOGIA 06SUMÁRIO 07INTRODUÇÃO............................................................................................................ 08CAPÍTULO I. PROTO HISTÓRIA.............................................................................. 09 CAPÍTULO II. HISTÓRIA MODERNA E CONTEMPORÂNEA............................. 11 CAPÍTULO III. GEOGRAFIA FÍSICA E HUMANA................................................. 13 CAPÍTULO IV. O NOME DO LÍBANO E COMPOSIÇÃO ÉTNICA...................... 154.1 Composição Religiosa............................................................................................. 16 CAPÍTULO V. HISTÓRIA DA IMIGRAÇÃO LIBANESA NO BRASIL................. 185.1 A Aculturação dos Libaneses E Seus Descendentes............................................... 205.2 Distribuição Geográfica Dos Imigrantes Libaneses................................................ 235.3 Distribuição da População sírio-libanesa por Estados............................................ 25
CAPÍTULO VI. A CULINÁRIA LIBANESA NO BRASIL....................................... 26 CAPÍTULO VII. CONTRIBUIÇÃO DO IDIOMA ÁRABE NA LÍNGUA PORTUGUESA ........................................................................................................... 28 CAPÍTULO VIII. O PAPEL DAS ENTIDADES E CLUBES ASSOCIATIVOS............. 29 CAPITULO IX. O PAPEL DO IMIGRANTE LIBANÊS NO DESENVOLVIMENTO DO BRASIL.................................................................................................................. 329.1 O Mascate................................................................................................................ 339.2 A Lenda de Marataizes............................................................................................ 349.3 Marechal Rondon e o Mascate................................................................................ 349.4 O Crédito e o Mascate............................................................................................. 359.5 O Início do Estabelecimento................................................................................... 369.6 As Profissões........................................................................................................... 399.7 Panorama Atual....................................................................................................... 41 CAPÍTULO X. A IMIGRAÇÃO ÁRABE NO RIO DE JANEIRO E O CLUBE SÍRIO LIBANÊS.......................................................................................................... 43CONCLUSÃO.............................................................................................................. 49REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 50ANEXOS...................................................................................................................... 51FOLHA DE ESTÁGIO................................................................................................. 52FOLHAS DE ATIVIDADES CULTURAIS................................................................ 55ÍNDICE......................................................................................................................... 60FOLHA DE AVALIAÇÃO.......................................................................................... 61
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
Instituto de Pesquisa Sócio-Pedagógicas
Pós-Graduação “Latu Sensu”
Título da Monografia
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Data da Entrega:__________________________________
Avaliado por:_____________________________________ Grau:______________________
Rio de Janeiro,_________ de _______________________ de ____________
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Coordenação do Curso