UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE ECONOMIA
O LOCAL E OS SISTEMAS DE INOVAÇÕES EM PAÍSES
SUBDESENVOLVIDOS: O CASO DO ARRANJO PRODUTIVO DE MODA
PRAIA DE CABO FRIO/RJ
FLÁVIO JOSÉ MARQUES PEIXOTO
Dissertação de mestrado submetida ao
Instituto de Economia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, como parte
dos requisitos necessários à obtenção
do título de Mestre em Economia
Orientador: Prof. Dr. José Eduardo Cassiolato
Rio de Janeiro, Agosto de 2005
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE ECONOMIA
O LOCAL E OS SISTEMAS DE INOVAÇÕES EM PAÍSES
SUBDESENVOLVIDOS: O CASO DO ARRANJO PRODUTIVO DE MODA
PRAIA DE CABO FRIO/RJ
FLÁVIO JOSÉ MARQUES PEIXOTO
Dissertação de mestrado submetida ao
Instituto de Economia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, como parte
dos requisitos necessários à obtenção
do título de Mestre em Economia
Banca Examinadora:
_______________________________________
Prof. José Eduardo Cassiolato (Orientador)
_______________________________________
Profª. Helena M. M. Lastres (Suplente)
_______________________________________
Prof. Renato Ramos Campos
_______________________________________
Prof. Victor Prochnik
Rio de Janeiro, Agosto de 2005
3
Resumo
Este trabalho discute a importância do local nos estudos de arranjos e sistemas
produtivos locais tendo como foco o aprendizado, o conhecimento, a cooperação e a
inovação no âmbito dos países subdesenvolvidos. O objetivo é demonstrar que o
conhecimento e a inovação representam fatores cruciais para o sucesso competitivo,
onde o aprendizado – em especial o aprendizado pela interação – está vinculado à visão
sistêmica do processo de inovação. Tais processos tomam forma através da criação e
manutenção dos espaços de aprendizado interativo (representados pelos arranjos e
sistemas produtivos), que representam uma condição essencial para a superação do
processo de exclusão dos países subdesenvolvidos. Nesse contexto, a análise da
evolução do arranjo produtivo local de moda praia de Cabo Frio/RJ, a partir do
referencial teórico de base neo-schumpeteriana utilizado pela RedeSist (Rede de
Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais), em relação à inovação,
cooperação e aprendizado, discute a importância de políticas públicas que busquem, a
partir das especificidades locais, promover e gerar os processos que estimulem o
aprendizado, acumulação e difusão de conhecimentos capazes de não apenas alavancar
a competitividade das micro e pequenas empresas locais, mas também promover o
desenvolvimento econômico e social.
4
Abstract
This work discusses the importance of the locality in the local productive
systems and arrangements studies by focusing on learning, knowledge, cooperation and
innovation in the context of underdeveloped countries. The aim of this dissertation is to
demonstrate that knowledge and innovation represent crucial factors to the competitive
success, where learning – in special learning-by-interacting - is attached to the systemic
perspective of the innovation process. Such processes are mainly shaped by the creation
and maintenance of the so-called “interactive learning spaces” (represented by the
productive systems and arrangements), being an essential condition to the overcoming
of the underdeveloped position. Therefore, the next step consists at the trajectory
analysis of the beach wear local productive arrangement in Cabo Frio/RJ. This analysis
is made by taking the neo-shumpeterian literature – which recognizes the central role of
cooperation, innovation, learning and capacity building on development processes,
utilized by RedeSist - as the theoretical reference. In order to implement policies to
promote “real competitivity” of the local productive arrangement’s micro and small
enterprises, local specificities should be taken into consideration, not only to better
stimulating those policies, but also to real foster social and economic development.
5
Dedicatória
Dedico este trabalho aos meus pais,
José Antonio Assunção Peixoto
E
Edir Marques Peixoto
Sem vocês eu não seria.
6
Agradecimentos
Difícil resumir em poucas palavras a gratidão por todos que fizeram parte, direta
ou indiretamente, da elaboração deste trabalho. No entanto, pior seria não fazê-lo. Por
isso, desculpo-me desde já qualquer esquecimento momentâneo.
Ao professor e orientador José Eduardo Cassiolato, meus sinceros
agradecimentos por toda paciência, dedicação e incentivo durante todo o tempo. Por
toda seriedade e competência, sua postura constituiu-se um grande exemplo.
À professora e co-orientadora Helena Lastres, que também esteve presente
durante todo o tempo, não saberia como agradecer de forma diferente toda sua
paciência, dedicação e incentivo. Foi um privilégio trabalhar com vocês!
Aos professores Renato Campos e Victor Prochnik, que gentilmente aceitaram
fazer parte da banca examinadora.
Aos colegas da Redesist, Max Santos, Fabiane Moraes, Tatiane Moraes, Marcelo
Pessoa, Paula Schatz, Gustavo e, em especial, Eliane Pires, meus agradecimentos por
todo o suporte e incentivo.
Ao Sebrae nacional e a coordenação NEITEC do Departamento de Economia da
UFSC, a oportunidade de fazer parte do Programa de Financiamento de bolsas de
mestrado, coordenado pelos Professores Renato Ramos Campos, José Antônio Nicolau
e Silvio Antonio Ferraz Cario.
À Renato Dias Regazzi, Gerente da Área de Desenvolvimento
Setorial/Empresarial do Sebrae-RJ, Sérgio Tostes, Gerente Regional do Sebrae de Cabo
Frio e a Cláudia Magalhães, Técnica Articuladora do Sebrae de Cabo Frio, por facilitar
o contato com as empresas de moda praia de Cabo Frio.
À Associação Comercial, Industrial e Turismo de Cabo Frio (ACIA) pelo
fornecimento de uma lista de empresas que foi fundamental para que as entrevistas
fossem agendadas.
Aos empresários das confecções de Cabo Frio que responderam ao questionário
pacientemente meus sinceros agradecimentos. Em especial, agradeço Maurício
Nogueira Brito por todas as informações a respeito do História da Rua dos Biquínis, que
foi fundamental para este trabalho. Sem vocês este trabalho não existiria.
Aos professores, funcionários e alunos do mestrado do Instituto de Economia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro que de alguma maneira fizeram parte desde
7
caminho percorrido até aqui, em especial Bruno Moretti, Clarice Braga e Vicente
Guimarães.
Aos meus pais e irmãos Rafael e Fernanda, pela paciência e incentivo em todas
as etapas da minha vida.
Aos meus familiares, por toda a torcida durante todo o tempo.
À Paula, minha quase esposa, pela lição de paciência, compreensão e,
principalmente, pelo amor e dedicação incondicionais.
À todos os amigos que têm estado presentes, ainda que não fisicamente.
Obrigado a todos!!!
8
“Não se deve confundir o conhecimento ponderado
do que é do outro com uma submissão mental às
idéias alheias, submissão esta de que estamos
muito lentamente aprendendo a nos livrar”.
Raúl Prebisch
9
SUMÁRIO
Introdução ................................................................................................................... 1
Capítulo I – Sistemas de inovação em países subdesenvolvidos: uma breve análise a
partir da perspectiva latino-americana de dependência ........................................... 7
1) Introdução ................................................................................................................ 7
2) Conexões do pensamento latino-americano da CEPAL e a abordagem dos Sistemas
Nacionais de Inovação .................................................................................................. 9
3) A dinâmica da dependência a partir de Prebisch e Furtado: as grandes empresas do
sistema capitalista ....................................................................................................... 12
4) Pensando Sistema Nacional de Inovações numa perspectiva de países menos
desenvolvidos: a visão do Sul...................................................................................... 15
5) Considerações parciais............................................................................................ 18
Capítulo II – Cenário da importância do local na abordagem de arranjos e
sistemas produtivos e inovativos locais em países subdesenvolvidos ...................... 20
1) Introdução: a importância do local .......................................................................... 20
2) Arranjos e sistemas produtivos locais: aprendizado, conhecimento, cooperação e
inovação numa abordagem neo-schumpeteriana .......................................................... 26
2.1) O aprendizado local e o conhecimento tácito ................................................ 28
2.2) Cooperação e capital social: elementos para o desenvolvimento local........... 30
2.3) A inovação como um processo de interação local ......................................... 31
3) Conclusões parciais ................................................................................................ 34
Capítulo III – Panorama da indústria de confecções............................................... 36
1) Introdução .............................................................................................................. 36
2) Características da cadeia têxtil – confecções ........................................................... 37
3) Panorama mundial de confecções............................................................................ 41
3.1) Perspectivas pós-2005: o fim das barreiras à importação de têxteis e
confeccionados.................................................................................................... 45
4) A nova organização da indústria têxtil-confecções nos países desenvolvidos: as
cadeias produtivas globais........................................................................................... 48
10
4.1) As cadeias de commodities/valores............................................................... 50
4.2) Mecanismos de sub-contratação ................................................................... 55
4.3) Aprimoramento (Upgrading) Industrial na cadeia de commodities/valores de
confecções a partir da perspectiva das cadeias produtivas globais: o caso dos tigres
asiáticos .............................................................................................................. 57
5) Diferentes abordagens da cadeia de valores e os limites ao aprimoramento industrial
................................................................................................................................... 60
6) O panorama nacional de confecções na década de 1990 .......................................... 62
6.1) A abertura comercial dos anos 1990 ............................................................. 63
6.2) Regime tecnológico...................................................................................... 65
6.3) Comércio exterior ........................................................................................ 67
7) Considerações parciais............................................................................................ 70
Capítulo IV – O arranjo produtivo local de moda praia de Cabo Frio .................. 73
1) Introdução .............................................................................................................. 73
2) A moda praia: evolução e características específicas deste nicho de mercado .......... 73
3) Características da cidade de Cabo Frio.................................................................... 77
3.1) Principais atividades produtivas ao longo do tempo...................................... 78
4) Origem e desenvolvimento ..................................................................................... 81
5) Perfil dos principais agentes ocupados nas empresas do arranjo .............................. 85
6) Infra-estrutura local................................................................................................. 90
7) Vantagens dinâmicas locais para a competitividade ................................................ 92
7.1) Quanto à localização .................................................................................... 92
7.2) Quanto à mão-de-obra.................................................................................. 94
7.3) Principais determinantes da competitividade ................................................ 95
8) Interação e processos de aprendizagem: treinamento e informação.......................... 96
9) Principais esforços inovativos ............................................................................... 102
10) Formas de cooperação no arranjo produtivo ........................................................ 107
11) Síntese parcial..................................................................................................... 110
Capítulo V – Perspectivas do APL de moda praia de Cabo Frio: políticas de
promoção e a questão da inserção no mercado externo ........................................ 113
1) Introdução ............................................................................................................ 113
11
2) Principais dificuldades enfrentadas pelas empresas do arranjo............................... 114
3) Considerações de políticas para promoção do arranjo produtivo de moda praia ..... 118
4) O Consórcio Pau-Brasil de Moda Praia e a questão da exportação......................... 122
5) Exportação e cadeia de commodities/valores: o Consórcio de Exportação Pau-Brasil
................................................................................................................................. 126
5.1) A busca de uma “inserção virtuosa” no mercado externo............................ 127
5.2) A relevância do mercado interno e regional ................................................ 129
6) Síntese parcial....................................................................................................... 130
Considerações finais................................................................................................ 132
Referências bibliográficas....................................................................................... 135
Anexo....................................................................................................................... 146
12
ÍNDICE DE TABELAS E FIGURAS
TABELAS
TABELA III.1 – Principais Países Produtores de Confecções – 2000............................41
TABELA III.2 – Principais Exportadores de Confecções, 1980-2002...........................42
TABELA III.3 – Principais Importadores de Confecções, 1980-2002...........................43
TABELA III.4 – Percentagem mínima do volume de importações de cada país, em
relação à 1990, que deve ter cota removida.....................................................................46
TABELA III.5 – Brasil, Exportações de confecções por volume e valor (1997-
2001)................................................................................................................................64
TABELA III.6 – Brasil, Importações de confecções por volume e valor (1997-2001)..
.........................................................................................................................................65
TABELA III.7 – Balança Comercial Têxtil e de Confecções – 1975 a
2004.................................................................................................................................69
TABELA IV.1 – Produto Interno Bruto, em valores absolutos e per capita, segundo as
Regiões de Governo e Municípios...................................................................................78
TABELA IV.2 – Número de estabelecimentos – Cabo Frio – 2002...............................81
TABELA IV.3 – Porte das Empresas da Amostra do Arranjo Produtivo de Confecções
em Cabo Frio/RJ..............................................................................................................85
TABELA IV.4 – Tipo de Relação de Trabalho nas Micro e Pequenas Empresas do
Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ.......................................................86
TABELA IV.5 – Perfil dos Sócios Fundadores das Micro e Pequenas Empresas do
Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ.......................................................87
TABELA IV.6 – Número de Sócios Fundadores das Micro e Pequenas Empresas do
Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ.......................................................87
TABELA IV.7 – Escolaridade dos Proprietários das Micro e Pequenas Empresas do
Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ.......................................................88
TABELA IV.8 – Atividade Anterior dos Proprietários das Micro e Pequenas Empresas
do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ..................................................89
TABELA IV.9 – Escolaridade do Pessoal Ocupado nas Empresas do Arranjo Produtivo
de Confecções em Cabo Frio/RJ.....................................................................................90
TABELA IV.10 – Vantagens da Localização para as Micro e Pequenas Empresas do
Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ.......................................................93
13
TABELA IV.11 – Transações Comerciais Realizadas no Local pelas Micro e Pequenas
Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo
Frio/RJ.............................................................................................................................94
TABELA IV.12 – Avaliação da Mão-de-Obra Local segundo as Micro e Pequenas
Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo
Frio/RJ.............................................................................................................................95
TABELA IV.13 – Fatores Determinantes da Competitividade das Micro e Pequenas
Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo
Frio/RJ.............................................................................................................................96
TABELA IV.14 – Atividades de Treinamento e Capacitação de Recursos Humanos das
Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo
Frio/RJ.............................................................................................................................97
TABELA IV.15 – Fontes de Informação empregadas pelas Micro e Pequenas Empresas
do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ................................................100
TABELA IV.16 – Resultados Obtidos com os Processos de Treinamento e
Aprendizagem das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em
Cabo Frio/RJ..................................................................................................................101
TABELA IV.17 – Número de Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo
Frio/RJ que Introduziram Inovações entre 2000 e 2002................................................102
TABELA IV.18 – Constância da Atividade Inovativa ns Micro e Pequenas Empresas do
Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ.....................................................105
TABELA IV.19 – Impactos Gerados pela Introdução de Inovações nas Micro e
Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo
Frio/RJ...........................................................................................................................107
TABELA IV.20 – Participação em Atividades Cooperativas em 2002 das Empresas do
Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ.....................................................108
TABELA IV.21 – Atividades Cooperativas Desenvolvidas pelas Micro e Pequenas
Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ em
2002...............................................................................................................................109
TABELA IV.22 – Resultados Obtidos com as Parcerias Realizadas pelas Micro e
Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo
Frio/RJ...........................................................................................................................110
TABELA V.1 – Grau de Dificuldade Operacional das Empresas do Arranjo Produtivo
de Confecções em Cabo Frio/RJ...................................................................................115
14
TABELA V.2 – Obstáculos que Limitam o Acesso a Financiamento das Micro e
Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo
Frio/RJ...........................................................................................................................117
TABELA V.3 – Fonte de Financiamento do Capital das Micro e Pequenas Empresas do
Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ.....................................................117
TABELA V.4 – Políticas Públicas que Poderiam Contribuir para o Aumento da
Eficiência Competitiva segundo avaliação das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo
Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ (Grau de
Importância)...................................................................................................................119
FIGURAS
FIGURA III.1 – Configuração Básica da Cadeia Têxtil.................................................38
1
INTRODUÇÃO
A teoria da concorrência schumpeteriana tem como principal característica sua
inserção numa visão dinâmica e evolucionária do funcionamento da economia. A
evolução desta economia é vista ao longo do tempo como baseada num processo
ininterrupto de introdução e difusão de inovações em sentido amplo, isto é, de quaisquer
mudanças no “espaço econômico” no qual operam as empresas, sejam elas mudanças
nos produtos, nos processos produtivos, nas fontes de matérias-prima, nas formas de
organização produtiva, ou nos próprios mercados, inclusive em termos geográficos.
Nesse sentido, qualquer inovação é entendida como resultado da busca constante de
lucros extraordinários, mediante a obtenção de vantagens competitivas entre os agentes
(empresas), que procuram diferenciar-se uns dos outros nas mais variadas dimensões do
processo competitivo, tanto tecnológicos quanto os de mercado (Dosi, 1988; Possas,
2002).
No entanto, é importante ter em mente que esta perspectiva de inovações em
sentido amplo não se trata apenas de enfatizar a mudança tecnológica – como às vezes
se supõe ao interpretar erroneamente, de forma reducionista, a concorrência
schumpeteriana – mas toda e qualquer mudança no espaço econômico, promovida pelas
empresas em busca de vantagens e conseguintes ganhos competitivos (Ibdem).
Nesse contexto, novas abordagens teóricas que exaltam a importância da
inovação e do aprendizado no processo de desenvolvimento econômico surgiram a
partir da idéia inicial desta teoria.
Ressaltando a importância do conhecimento como requisito fundamental ao
processo de inovação e o aprendizado como o mais importante processo de geração
deste conhecimento, a teoria evolucionária/neo-schumpeteriana vem, cada vez mais,
ganhando espaço nas discussões a cerca da atual conformação industrial. Esses enfoques
teóricos destacam a importância do conhecimento (resultado do processo de
aprendizado) como principal insumo deste padrão de desenvolvimento. Segundo
Lundvall (1998, p.33), “the starting point is the assumption that the current economy is
one where knowledge is the most important strategic resource and learning the most
important process (…) where information technology revolution makes more kinds of
knowledge become even more important for economic performance and success than
before”.
2
Vargas (2002) destaca que a percepção de que o conhecimento e a inovação
representam fatores de suma relevância para o sucesso competitivo, e o
desenvolvimento de indivíduos, firmas, regiões e países não se constitui num fato novo
na literatura. Entretanto, no decorrer das últimas décadas, a emergência de um novo
paradigma tecnológico1 aliada ao debate em torno do fenômeno da globalização
contribuíram consideravelmente para reforçar o interesse em torno da importância que
assume o processo de geração, distribuição e uso do conhecimento no atual estágio de
desenvolvimento do sistema capitalista.
Nesse sentido, o aprendizado – em especial o aprendizado pela interação – está
vinculado à visão sistêmica do processo de inovação, onde a capacidade de geração,
difusão e utilização de novos conhecimentos consolida-se como um processo que
transcende a esfera da firma individual e passa a depender da contínua interação entre
firmas e entre estas e as diferentes instituições que constituem sistemas de inovação em
diferentes âmbitos.
Dessa forma, a abordagem sobre os sistemas de inovação reside na constatação
de que a inovação consiste num fenômeno sistêmico no sentido de que os processos de
inovação que têm lugar no nível da firma são, em geral, gerados e sustentados por
relações inter-firmas e por uma complexa rede de relações institucionais.
Percebe-se que este cenário não consiste numa mera delimitação geográfica, mas
antes constitui uma unidade própria de análise, que condiciona o desempenho
competitivo e inovativo de empresas articuladas em torno de arranjos e sistemas
produtivos.
Frente à polarização econômica e social existente entre os países desenvolvidos
e subdesenvolvidos, a criação de condições adequadas ao pleno desenvolvimento de
processos de aprendizado constitui um fator essencial para a própria dinâmica do
crescimento econômico. Nesse sentido, a criação e manutenção dos chamados espaços
de aprendizado interativo (representados pelos arranjos e sistemas produtivos)
representam uma condição essencial para superação deste processo de exclusão dos
países subdesenvolvidos.
Dessa forma, a localização, a interação entre indivíduos, grupos e firmas e os
aspectos particulares – as especificidades – de um determinado local, região e país são
elementos fundamentais na discussão do papel dos arranjos e sistemas produtivos para o
1 Ver Freeman & Perez, 1988.
3
desenvolvimento econômico e social. Este papel está intimamente relacionado à
discussão, desenvolvimento e implementação de políticas especificas de
desenvolvimento, de acordo com as particularidades de cada local onde ela está sendo
implementada, atendendo aos interesses de seus agentes, e não de poucos indivíduos
(firmas estrangeiras) com interesses bastante específicos (privados).
Nesse contexto, o objetivo é ter claro as diferenças entre as políticas de
desenvolvimento local daquelas elaboradas sob uma perspectiva “global” generalizada,
para não mais se confundir a lógica do chamado mercado global com a lógica individual
das empresas candidatas a permanecer ou a se instalar num dado país; o que exige a
adoção de um conjunto de medidas que acabam assumindo um papel de condução geral
da política econômica e social. O argumento, fundado no chamado “pensamento único”,
inclui um receituário de soluções, sem as quais – diz-se – um determinado país se torna
incapaz de participar do processo de globalização. Em nome da inserção desse país na
nova modernidade e no mercado global são estabelecidas regras que acabam por
constituir um conjunto irrecusável de prescrições. Isso equivale, para cada país, a uma
abdicação da possibilidade de efetuar uma verdadeira política nacional, tanto econômica
quanto social (Santos e Silveira, 2001).
Para Santos e Silveira, o discurso do mercado global faz pensar que essa
entidade dita universal atua quase automaticamente sobre o mundo, isto é, sobre todos
os países. Na prática, a ação efetiva dá-se por intermédio de empresas, diferentes
segundo os países, cada qual trabalhando exclusivamente em função dos seus próprios
interesses individuais e buscando adaptar a esses interesses as práticas correntes em
cada nação. Todavia, o que se chama de lógica global na verdade não existe
empiricamente senão por um conjunto de idéias aplicadas a todos os países,
independentemente do que cada um deles na verdade é. Os atores desse enredo atribuído
ao “mundo” são, na realidade, as empresas que dispõem de força suficiente para induzir
os Estados a adotar comportamentos que respondam aos interesses privatistas, ainda que
isso se dê a partir da idéia mais geral de globalização, tal como hoje ela é oficialmente
entendida e aceita.
Quando se fala em mundo, está se falando, sobretudo, em mercado que hoje
atravessa tudo, inclusive a consciência das pessoas. Mercado das coisas, inclusive da
natureza; mercado das idéias, inclusive da ciência e da informação; mercado político.
Justamente, a versão política dessa globalização perversa é a democracia de mercado.
Além desta democracia de mercado, o neoliberalismo é o outro braço dessa
4
globalização necessário para reduzir as possibilidades de afirmação das formas de viver
cuja solidariedade é baseada na contigüidade, na vizinhança solidária, isto é, no
território compartido (Santos, 2005).
Dessa forma, esta concepção do desenvolvimento baseada na livre atuação do
mercado num mundo globalizado, seguindo os moldes dos países desenvolvidos, não se
constitui uma solução para uma distribuição automática e igualitária tanto do
conhecimento quanto da riqueza entre setores, regiões e, menos ainda, entre nações.
Nesse sentido, uma nova perspectiva do desenvolvimento e das relações sociais onde a
“racionalidade do mercado” não se faça tão presente é o que se busca nesta perspectiva.
Assim, a participação do Estado adquire especial relevância devido ao papel que este
pode desempenhar não apenas na condução econômica, mas no desenho e consecução
de objetivos econômicos e sociais. Este tema chave do papel do Estado se encontra
estreitamente ligado a dois outros: um é o das relações sócio-políticas que servem de
base de sustentação; o outro é a das relações geo-políticas em que se encontra imerso
(Rodríguez, 2001).
Ainda que a igualdade seja uma utopia no sistema capitalista – que tem como
principal fator dinâmico a “produção” de desigualdade -, enquanto houver capitalismo
nosso objetivo é tentar “humanizá-lo” o máximo possível, tanto através de teorias
(como fazer teorias sem utopias?)2 quanto de políticas que busquem o desenvolvimento
em geral.
Neste contexto, o principal objetivo desta dissertação é analisar a evolução do
arranjo produtivo local de moda praia de Cabo Frio/RJ, a partir do referencial teórico
neo-schumpeteriano em relação à inovação, cooperação e aprendizado.
Especificamente, pretende-se discutir a importância de políticas públicas que busquem,
a partir das especificidades locais, promover e gerar os processos que estimulem o
aprendizado, acumulação e difusão de conhecimentos capazes de alavancar a
competitividade das micro e pequenas empresas locais; sendo esta competitividade, o
resultado da interação entre indivíduos, firmas e instituições, interagindo no mesmo
território, gerando o aprendizado necessário para as oportunidades de inovação.
A pesquisa de campo que serviu de base para a elaboração deste trabalho foi
realizada em julho e agosto de 2004, na qual foram entrevistadas 18 empresas
formalmente constituídas e, em todas, foi aplicado o questionário padrão do “Programa
2 Santos (2000, p. 48).
5
de Pesquisa Micro e Pequenas Empresas em Arranjos Produtivos Locais no Brasil”3. O
programa foi realizado através do convênio celebrado entre a Fepese/UFSC e o
SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) Nacional, que
concedeu bolsa de estudo e suporte financeiro para a pesquisa de campo. O programa
foi coordenado pelo Professor Renato Campos do Núcleo de Economia Industrial e da
Tecnologia do Departamento de Economia da Universidade Federal de Santa Catarina.
A amostra foi selecionada a partir de uma lista de empresas fornecida pelo
SEBRAE de Cabo Frio (defasada, pois, a grande parte das empresas listadas já não se
encontrava mais em operação no período da pesquisa) e de uma lista de empresas em
funcionamento fornecida pela Associação Comercial, Industrial e Turismo de Cabo Frio
(ACIA)4.
A dissertação está estruturada em cinco capítulos.
O primeiro capítulo procura apresentar a abordagem latino-americana da
CEPAL com o intuito de relacionar a discussão dos sistemas de inovação com a
dinâmica da dependência existente no sistema capitalista. O objetivo é justamente
pensar o desenvolvimento desses sistemas de inovação a partir de uma visão focada na
realidade (e limitações) desses países subdesenvolvidos.
O segundo capítulo tem como objetivo apresentar a importância do local nos
estudos de arranjos e sistemas produtivos locais tendo como foco o aprendizado, o
conhecimento, a cooperação e a inovação a partir da perspectiva dos países
subdesenvolvidos, em especial da América Latina. Nesse sentido, busca-se realizar uma
análise multidisciplinar, em especial tomando emprestado objetos da geografia, que
sugerem exatamente a visão sistêmica da teoria.
O terceiro capítulo pretende apresentar as características gerais da indústria de
confecção no Brasil e no mundo. Partindo de um panorama geral da organização da
produção e distribuição na indústria de confecções, o capítulo se concentra na análise
das cadeias produtivas globais de confecções –que é uma forma de interpretação da
dinâmica desta indústria -, com o objetivo de deixar aparente as relações de poder
existente entre as grandes empresas dos países desenvolvidos e dos demais localizados
nos países subdesenvolvidos. Dessa forma, procurou-se demonstrar, brevemente, como
atuam estas empresas em todo o mundo, apontando o lugar ocupado pelo Brasil neste
3 Ver questionário em anexo.
6
cenário e as mudanças ocorridas ao longo dos últimos quinze anos. Ademais, o capítulo
procura apontar a possível direção do comércio mundial de têxteis e confeccionados
com o fim das barreiras à importação em 2005.
O quarto capítulo apresenta as principais características do arranjo produtivo
local de moda praia de Cabo Frio desde sua origem e desenvolvimento, examinado o
perfil dos principais agentes ocupados nas empresas do arranjo, a infra-estrutura local,
as vantagens dinâmicas locais para a competitividade, a interação e processos de
aprendizagem, os principais esforços inovativos e as formas de cooperação ali existente.
O quinto e último capítulo se concentra na análise das principais perspectivas
para o arranjo produtivo de moda praia. Em primeiro lugar, são discutidas as principais
dificuldades enfrentadas pelas empresas do arranjo. Em seguida, conhecendo as
principais fragilidades a serem enfrentadas, são feitas considerações de políticas para a
promoção do APL de moda praia. Conhecendo o objetivo do consórcio de exportação
existente no APL, destaca-se os perigos de uma inserção passiva na cadeia produtiva
internacional. A este respeito, o capítulo procura deixar evidente que mais importante
do que conquistar grandes mercados externo, no momento é preciso priorizar o
desenvolvimento do APL para que esta mesma inserção seja “virtuosa” e bem sucedida
a longo prazo.
4 Alguns empresários não puderam ou não quiseram responder o questionário e aqueles que o responderam foram bastante receptivos e responderam as perguntas sem maiores problemas, pedindo sigilo em determinadas questões, principalmente relacionada ao faturamento.
7
CAPÍTULO I – SISTEMAS DE INOVAÇÃO EM PAÍSES
SUBDESENVOLVIDOS: UMA BREVE ANÁLISE A PARTIR DA
PERSPECTIVA LATINO-AMERICANA DE DEPENDÊNCIA
1) Introdução
Diferentemente do antigo padrão de acumulação baseado em recursos tangíveis,
dispersos ao redor do mundo, o conhecimento exerce o papel central (ainda mais
visivelmente) no novo padrão de acumulação no âmbito do novo paradigma das
tecnologias de informação e comunicação (TICs)5.
Apesar de se tratar de um recurso intangível, cujo "uso" é inesgotável, sua
“apropriação” e uso não se dão em bases de igualdade entre diferentes lugares. Pelo
contrário, quanto mais ele é consumido maior o seu acúmulo. Seu consumo não o
destrói. Quando é “vendido ou transferido”, não significa que esteja perdido. Por isso, o
conhecimento não se dá em bases de igualdade. Quando já se possui conhecimento,
senão impossível, é difícil perdê-lo. É possível compartilha-lo sem, necessariamente,
esgotá-lo.
Por isso, o interesse nos Sistemas de Inovação é tão importante para os países,
principalmente os subdesenvolvidos. Este interesse se dá, principalmente, porque se
acredita que a abordagem dos Sistemas de Inovação representa uma importante
ferramenta analítica para se entender o processo de criação, uso e difusão do
conhecimento (Vargas, 2002; Campos et al., 2003).
Além disso, a análise dos Sistemas (Nacionais) de Inovação permite levar em
consideração contextos geopolíticos específicos de diferentes sistemas nacionais. É
nesse sentido que esta abordagem considera que a geração de inovação está localizada e
limitada às fronteiras nacionais e regionais, diferentemente da idéia do tecno-globalismo
tão ressaltada na atualidade6. Por isso, questões relacionadas à assimetria de poder
político e econômico entre os países são de fundamental importância para uma melhor
compreensão das especificidades dos contextos sócio-econômicos nos quais os Sistemas
de Inovação de diferentes países, em especial os subdesenvolvidos, estão inseridos
(Lastres, 2003).
5 Ver Cassiolato (1999); Lastres & Ferraz (1999); Castells (1996). 6 Ver Edquist & Johnson (1997); Lundvall et al. (2001); Campos et al (2003); Maldonado (1999).
8
Partindo da idéia de que existem diferenças entre os sistemas de inovações dos
países desenvolvidos e subdesenvolvidos, onde há uma clara relação de poder entre eles,
numa típica relação centro x periferia da antiga divisão internacional do trabalho –
porém agora com uma nova “roupagem” -, esta seção procura mostrar como esta antiga
dinâmica de dependência (mais do que nunca) se faz presente7. Também apresenta,
brevemente, uma nova visão em relação ao desenvolvimento a partir de um “olhar do
Sul”, diferentemente da antiga idéia do mimetismo em relação aos países
desenvolvidos, como se a simples implementação das práticas e instituições que lá
existem fosse suficiente para que os países fizessem o tão desejado catching-up.
Ressalto, entretanto, a necessidade de certa cautela quanto à utilização da idéia
de catching-up. Em primeiro lugar, é preciso ter uma clara idéia da diferença entre
modernização e difusão da inovação. O primeiro se refere à transmissão, a partir do
mais desenvolvido industrialmente, para o menos desenvolvido, da imagem projetada
do próprio futuro deste último. O segundo está relacionado ao reconhecimento do papel
central do conhecimento como principal elemento do processo de inovação, e de que
seu uso geralmente proporciona o seu aumento. A modernização é aquele processo de
adoção de modelos sofisticados de consumo sem a existência de uma correspondente
acumulação de capitais ou de progresso nos meios de produção, ou seja, a modernização
está relacionada ao subdesenvolvimento, isto é, ao desenvolvimento dependente
(Furtado, 1974).
Por isso, utilizar a idéia de catching-up como um mecanismo para o
desenvolvimento pode ser falaciosa, se pensarmos o mesmo como um processo de
modernização sem a acumulação dos conhecimentos (e capitais) necessários ao
progresso dos meios de produção, organização e etc.
No entanto, isto não significa que não aceito a relevância do conceito de
catching-up ao longo da História. Pelo contrário, é inegável que países como a
Alemanha, Japão e Coréia, por exemplo, obtiveram sucessos relativos e/ou absolutos
neste emparelhamento. Estes países – utilizando a terminologia de Perez e Freeman
(1988; 1997) - aproveitaram "janelas de oportunidades" únicas num determinado
momento histórico para seus respectivos processos de desenvolvimento8. Por outro
7 Um exemplo desta perspectiva será dado no capítulo III quando analisada, em linhas gerais, a dinâmica internacional da indústria de confecções no mundo. 8 Sobre o sucesso do catching-up na Alemanha, Coréia e Japão, ver: FIORI (1999), “Estados e Moedas no Desenvolvimento das Nações”.
9
lado, para que os atuais países subdesenvolvidos façam o emparelhamento tecnológico
em relação aos desenvolvidos, seria necessária uma estrutura tão complexa quanto
inviável; não pela capacidade de aprendizado existente nesses países, mas,
principalmente, pela utilização dos recursos disponíveis, em especial os naturais9. Nesse
sentido, pensar o desenvolvimento a partir de uma outra perspectiva é o que se espera
dos países subdesenvolvidos.
2) Conexões do pensamento latino-americano da CEPAL e a abordagem dos
Sistemas Nacionais de Inovação
Muito há em comum entre a Escola Estruturalista – ou o que conhecemos de
forma menos rigorosa como “Pensamento Cepalino” – e a discussão do
desenvolvimento de um Sistema Nacional de Inovações nos países subdesenvolvidos,
em especial na América Latina.
O ponto de partida do “pensamento cepalino” se dá com os trabalhos de Raúl
Prebisch e Celso Furtado através de uma análise de longo prazo dos problemas
econômicos e sociais da América Latina através de uma “visão sistêmica e global sobre
as condições periféricas e as restrições externas ao crescimento” (Fiori, 2001) latino-
americano.
De forma simplificada10, as condições periféricas e as “restrições externas” se
referem ao papel desempenhado pela América Latina na divisão internacional do
trabalho – derivada do ideal ricardiano das vantagens comparativas – “proposta” pela
Inglaterra. Dessa forma, os países latino-americanos se especializaram na produção e
exportação de produtos primários de baixo valor agregado e baixa produtividade em
relação aos produtos manufaturados dos países centrais11. Tal diferença (produtividade e
valor agregado) produzia longos períodos de deterioração nos termos de troca da
produção exportável comprometendo a acumulação de capitais para a própria
manutenção e crescimento do setor agro-exportador; sem contar a possibilidade de
9 Não pretendo, no entanto, me estender nesta discussão a respeito da validade do conceito de catching-up neste contexto. Apesar de reconhecer a importância da discussão, acredito que esta não faça parte do escopo mais amplo desta dissertação. Para uma discussão neste sentido, ver AROCENA & SUTZ, 2004. 10 Esta questão é bastante discutida na literatura Cepalina. 11 Como veremos no capítulo III, em relação ao setor têxtil mundial, este tipo de relação se torna cada vez mais presente.
10
acumulação de capitais para importação de bens de capitais para o processo de
industrialização.
Neste contexto, Prebisch propôs a industrialização e a incorporação de progresso
técnico, como as ferramentas mais poderosas do desenvolvimento, capazes de retirar o
continente de sua dinâmica dependente e reflexa do centro cíclico principal (Tavares,
2001). Tal proposta teve grande influência na origem ao Processo de Substituição de
Importações que naquele momento se tornara uma necessidade para ‘suavizar’ o
problema do ‘gargalo’ das importações. Dá-se início, a partir desse processo, a uma
tentativa de um catching-up industrial (e, ainda que em menor grau, tecnológico) por
parte dos países latino-americanos em relação aos países centrais, encontrando na ação
ativa do Estado o principal agente propulsor desse processo12.
A participação do Estado é o que Bielschowsky (2000) identifica como o
princípio “normativo” da contribuição cepalina: “Seu princípio normativo é a idéia da
necessidade da contribuição do Estado ao ordenamento de desenvolvimento econômico
nas condições da periferia latino-americana. Trata-se (...) do paradigma
desenvolvimentista latino-americano” (Bielschowsky, 2000, p.16).
Fiori vai além e identifica na Teoria Estruturalista a preocupação pela descrição
e interpretação dos fenômenos econômicos reais, na sua complexidade social e
histórica. Segundo ele, “o estruturalismo compartilhou com o nacionalismo alemão (...)
a visão do papel do Estado, da importância da industrialização e da necessidade da
construção de um sistema econômico integrado e capaz de auto-reproduzir-se, de forma
relativamente endógena, graças a uma integração virtuosa entre a agricultura e a
indústria, ao incentivo estatal, ao desenvolvimento tecnológico e à criação de um
sistema econômico nacional que priorize o crescimento das forças produtivas” (Fiori,
2001, p.43).
É a partir da figura de Friedrich List como um dos principais representantes do
nacionalismo alemão que se torna possível falar num sistema nacional de inovações.
List criticava os economistas clássicos por darem pouca atenção principalmente à
ciência e tecnologia no processo de crescimento das nações. Segundo Freeman e Soete
(1997, p.295), “his book on The National System of Political Economy (1841), might
12 A dinâmica substitutiva consiste na forma como a economia reage a sucessivos estrangulamentos do balanço de pagamentos. Por progressiva compressão na pauta de importação, a industrialização vai
11
just as well have been called ‘The National System of Innovation’ (…) He clearly
anticipated many contemporary theories on ‘national systems of innovation’”.
List estava preocupado em analisar de que maneira a Alemanha e outros países
menos desenvolvidos em relação à Inglaterra poderiam “ultrapassá-la” em
desenvolvimento. Para ele, tanto a proteção às indústrias nascentes quanto uma série de
políticas estatais capazes de acelerar a industrialização e o crescimento econômico eram
os principais fatores deste catching-up. Tais políticas baseavam-se, principalmente, no
aprendizado e aplicação de novas tecnologias.
Além disso, ele também reconhecia a interdependência da importação de
tecnologia estrangeira e o desenvolvimento tecnológico doméstico. Entretanto, na sua
visão13, “nations should not only acquire the achievements of other more advanced
nations, they should increase them by their own efforts” (Freeman e Soete, 1997,
p.297).
Para tanto, a promoção do que seria um sistema nacional de inovações14, na
forma de instituições de educação e treinamento, acumulação de conhecimento tácito,
adaptação de tecnologias estrangeiras às particularidades locais15, estratégias industriais
e etc., com a participação ativa do Estado coordenando e promovendo políticas de longo
prazo tanto para a indústria quanto para a economia foram resultados da análise de List.
Dessa maneira, “a base da superioridade industrial alemã consolidava-se através
de inovações tecnológicas, as quais se nutriam de um enfoque pertinente quanto ao
papel da educação (...). Esse sistema educacional era parte do que hoje se designaria um
“sistema nacional de inovações” (Braga, 1999, p.199).
No caso da América Latina, (principalmente Brasil e México) apesar de seu
relativo êxito, o Processo de Substituição de Importações cessa com o fim do fluxo
internacional de capitais da década de 1980 e a crise da dívida na região, sem que ela
alcançasse um grau de complexidade tecnológica16 necessária para seu crescimento
passando de setores de instalação “fácil”, pouco exigentes em matéria de tecnologia, capital e escala, a segmentos cada vez mais sofisticados e exigentes (Bielschowsky, 2000, p. 29). 13 Ver Friedrich List: “National System of Political Economy”. Book I: The History. 14 Apesar de List não ter utilizado esta expressão, sua análise reflete o que hoje conhecemos por Sistema Nacional de Inovações. 15 Este tipo de proposta se assemelha à concepção de inovação proposta por Mytelka (1993, 2000) e Mytelka e Farinelli (2003). 16 Durante o Processo de Substituição de Importações, o progresso tecnológico orientou-se, basicamente, para a economia de mão-de-obra em detrimento à produtividade física do capital. Em outras palavras, substituiu-se certos itens das importações - substituídos no mercado por produção interna - e ampliou-se
12
sustentável e sustentado. De acordo com Tavares (1972, p.50), “um dos aspectos que
mais se tem acentuado é o fato de que os países subdesenvolvidos importam uma
tecnologia que foi concebida pelas economias líderes de acordo com as suas
constelações de recursos totalmente diversos das nossas. A necessidade de importar essa
tecnologia estaria dada pelo próprio caráter substitutivo da industrialização, e pela
impossibilidade de criarmos técnicas novas mais adequadas às nossas condições
peculiares”.
Dessa forma, durante a década de 1980 a diferença tecnológica entre os países
latino-americanos e os do centro se ampliou de forma significativa.
A década de 1990 na América Latina é marcada pela estabilização
macroeconômica, as reformas estruturais e o rápido processo de “globalização”. Havia a
“esperança” (alimentada principalmente pelos economistas ortodoxos) de mudanças
tecnológicas no sentido do aumento da produtividade e crescimento, ou seja, na
diminuição da lacuna existente entre a América Latina e os países centrais. Esperava-se
uma convergência à organização da produção a níveis de produtividade internacionais.
No entanto, “not only have most countries in the region not been able to grow faster, or
significantly reduce the productivity gap they exhibit vis a vis more mature industrial
societies, but they have now become more unequal than in the past” (Katz, 2003).
Por isso, mudanças significativas na estrutura e comportamento no “sistema de
inovações” na América Latina se fazem necessárias, principalmente num contexto onde
a tecnologia de informação, telecomunicação, o sistema financeiro etc. impõem um
outro tipo de dependência, mais sutil e perigosa, que se traduz numa espécie de
“colonização” ideológica e cultural.
3) A dinâmica da dependência a partir de Prebisch e Furtado: as grandes
empresas do sistema capitalista
A dinâmica da dependência nos países subdesenvolvidos, em especial da
América Latina vem sendo desenvolvida por diversos autores ao longo dos anos. No
entanto, dois se destacam como pioneiros do pensamento latino-americano sobre a
(a importação) daqueles itens de substituição mais difícil, com maior intensidade de capital. Nesse sentido, a produção substitutiva não se verificou em setores de maior complexidade tecnológica,
13
questão da dependência dos países subdesenvolvidos e a relação centro x periferia: Raúl
Prebisch e Celso Furtado.
Desde o século XIX, a dependência latino-americana em relação aos países
centrais se deu nos diferenciais de poder entre sociedades industriais e agrárias.
Prebisch (1949, 1963) demonstrou esta relação em termos do diferencial de
produtividade (e da renda média) do setor agrário e o industrial, principalmente, em
função do progresso técnico. Ele demonstrou que, além da relação de preços ter se
movido de forma adversa à periferia - onde os frutos do progresso técnico não foram
divididos (como se esperava) com os países periféricos causando enorme concentração
de capitais nos países centrais -, “os centros preservavam integralmente o fruto do
progresso técnico de sua indústria, e os países periféricos transferiram para eles uma
parte do fruto do seu próprio progresso técnico” (Prebisch, 1949, p.83). Esta relação
ressaltava a própria impossibilidade dos países da periferia de se desenvolverem já que
dependiam do comércio exterior, ou seja, eram bastante sensíveis às repercussões
econômicas dos países centrais. Em outras palavras, até o estímulo para se acionar o
mecanismo dinâmico da própria dependência em relação aos países centrais estava
fortemente relacionados aos impulsos dos mesmos. Nesse sentido, Prebisch nos mostra
que é preciso incorporar o progresso técnico ao processo produtivo. Para ele, o
problema da produtividade além de relacionado com a escassez de poupança para
investimento em bens de capital, também está relacionado à “capacitação de homens
que saibam aproveitar eficazmente esses bens nas diferentes fases do processo
produtivo” (CEPAL, 1949). Nesse sentido, ele reconhece - mesmo implicitamente - a
importância da capacitação e do conhecimento para este processo de desenvolvimento:
“Aqui deparamos, mais uma vez, com outro dos contrastes sugeridos do grau
muito desigual de desenvolvimento. Nos grandes países industrializados, as referidas
aptidões, assim como a habilidade dos trabalhadores, desenvolveram-se
progressivamente, à medida que foi evoluindo a técnica produtiva. As aptidões, a
destreza e a técnica foram, na realidade, manifestações de um mesmo fenômeno geral,
que (...) vinha-se preparando no decorrer de longos séculos de trabalho artesanal e de
um desenvolvimento crescente da experiência do comércio” (CEPAL, 1949, p.175).
mantendo os países que a praticaram ainda dependentes da importação de bens mais intensivos em tecnologia e capital.
14
Dessa forma, podemos perceber de que maneira para Prebisch a industrialização
e a incorporação do progresso técnico se traduzem em importantes meios para o
desenvolvimento, capazes de tirar a América Latina da dinâmica dependente dos países
centrais e o seu reconhecimento da importância de políticas específicas para a América
Latina, de acordo com suas especificidades e possibilidades.
Furtado (1961), também aponta a (baixa) produtividade e a deterioração nos
termos de troca como fatores que não permitem a acumulação de capitais necessária
para dar impulso ao progresso tecnológico. No entanto, reconhece que é “possível
industrializar-se e crescer sem romper com a estrutura de dependência e dominação que
perpetuam o subdesenvolvimento” (Tavares, 2001). Para ele, é perfeitamente possível
estas economias atingirem um alto grau de complexidade produtiva sem romperem os
laços da dependência, principalmente tecnológica, em relação aos grandes centros. “O
subdesenvolvimento não constitui uma etapa necessária do processo de formação das
economias capitalistas modernas. É, em si, um processo particular, resultante da
penetração de empresas capitalistas modernas em estruturas arcaicas” (Furtado, 1961,
p.191).
Vejamos um exemplo deste processo17. A grande empresa controla a inovação
(num sentido amplo) – a introdução de novos produtos e processos – dentro das
economias nacionais, certamente o principal instrumento de expansão internacional;
elas são responsáveis por grande parte das transações internacionais e operam
internacionalmente sob orientação que escapa em grande parte à ação isolada de
qualquer governo.
Além disso, “o dinamismo econômico no centro do sistema decorre do fluxo de
novos produtos e da elevação dos salários reais que permite a expansão do consumo de
massa. Em contraste, o capitalismo periférico engendra o mimetismo cultural e requer
permanente concentração de renda a fim de que as minorias possam reproduzir as
formas de consumo dos países cêntricos. Esse ponto é fundamental para o conhecimento
da estrutura global do sistema capitalista” (Furtado, 1974, p.45). Esta estrutura permite,
dessa forma, que “a grande empresa, ao organizar um sistema produtivo que se estende
do centro à periferia, consegue, na realidade, incorporar à economia do centro os
recursos de mão-de-obra barata da periferia”, ou seja, “uma grande empresa que orienta
seus investimentos para a periferia está em condições de aumentar sua capacidade
15
competitiva graças à utilização de uma mão-de-obra mais barata, em termos do produto
que lança nos mercados” (Ibdem, p.50).
Dessa forma, está se configurando uma situação que permite à grande empresa
utilizar técnica e capitais do centro e mão-de-obra (e capital) da periferia, aumentando
consideravelmente o seu poder de manobra, o que reforça tanto a tendência à
internacionalização das atividades econômicas dentro do sistema capitalista quanto o
aumento da dependência dos países periféricos em relação aos centrais18.
Neste cenário, pensar num outro tipo de desenvolvimento se torna de
importância fundamental. Um Sistema Nacional de Inovações numa perspectiva do sul
se apresenta como uma forte opção.
4) Pensando Sistema Nacional de Inovações numa perspectiva de países menos
desenvolvidos: a visão do Sul
A visão estruturalista, inaugurada pela CEPAL nos anos 1950, empenhou-se em
destacar a importância dos parâmetros não-econômicos dos modelos macroeconômicos.
Como o comportamento das variáveis econômicas depende em grande medida desses
parâmetros, que se definem e evoluem num contexto histórico, não é possível isolar o
estudo dos fenômenos econômicos de seu quadro histórico. A observação é
particularmente pertinente com respeito a sistemas econômicos heterogêneos, social e
tecnologicamente, como é o caso das economias subdesenvolvidas (Furtado, 2002).
Lastres e Cassiolato (2000, 2002) destacam que os principais problemas
enfrentados pelo Brasil e outros países latino-americanos na virada do milênio se
refletem no entendimento equivocado da natureza e conseqüências das transformações
da economia mundial. As políticas adotadas pela maioria desses países refletem estes
equívocos e levaram a subestimação das atividades inovativas pelas firmas, assim como
à perda de capacitação e “desaprendizagem”.
Nesse sentido, buscando o desenvolvimento a partir de uma “perspectiva
meridional”, faz-se necessário no atual cenário político e econômico mundial, uma
17 Baseado em Furtado (1974): “O mito do desenvolvimento econômico”. 18 Um exemplo deste tipo de “funcionamento” é dado ao longo do capítulo III ao analisar o sistema internacional de produção e distribuição do setor têxtil e confecções.
16
análise das questões relacionadas ao desenvolvimento que levem em consideração o
conhecimento, a inovação e o aprendizado.
Em primeiro lugar, como destacado pelos referidos dois autores, é preciso
considerar que o desenvolvimento não deve ser entendido como se a história econômica
de todos os países seguisse trajetórias de desenvolvimento comuns. Cada país, ao seu
tempo e velocidade, traça sua própria trajetória, de acordo com as especificidades e
possibilidades que lhes são apresentadas. Em segundo lugar, não menos importante, é o
reconhecimento de que a evolução de sistemas econômicos nacionais (e regionais)
depende, fundamentalmente, de sua posição na estrutura hierárquica e de poder do
sistema capitalista mundial. Por último, nesse sentido, é importante ressaltar que as
condições locais e nacionais podem levar a diferentes trajetórias e a crescentes
diversidades, diferentemente da estandardização e convergências sugeridas pelas teses
baseadas na influência da globalização nos sistemas nacionais e sub-nacionais.
Arocena e Sutz (2004) destacam que o estudo da inovação a partir do Sul
procura combinar a teorização da inovação tecno-produtiva desenvolvida desde a
década de 1980 nos países do Norte, com a análise das especificidades da “condição
periférica”. Para isso, consideram a teoria dos Sistemas de Inovação como uma
ferramenta conceitual bastante útil para o estudo dos processos sociais de inovação nos
países do Sul, em especial os latino-americanos. No entanto, para dar conta de tais
processos, certos elementos da teoria em questão devem ser revisados e até modificados
substancialmente. “No se trata pues de trasladar la teoria desde el Norte, ni tan solo de
adaptarla al Sur, sini de ponerla a prueba, aprovecharla y discutir con ella desde el
Sur”. Nesse sentido, esta perspectiva do Sul poderia se beneficiar da incorporação de
algumas premissas da teoria do subdesenvolvimento latino-americano, em especial
quando se trata da análise da posição destes países na estrutura hierárquica e de poder
do sistema capitalista mundial.
Nesse sentido, não é possível falar em Sistemas de Inovação melhores ou piores.
Os Sistemas de Inovação não são bons ou ruins. “Não existe o sistema de inovação
“ótimo”; qualquer tentativa de se fazer benchmarking comparando os Sistemas de
Inovação tendo algum outro como referência contradiz a especificidade sociocultural,
historicamente constituída, dos sistemas (...) de inovação” (Arocena e Sutz, 2004).
Pode-se dizer, portanto, que os sistemas de inovação são “sistemas abertos”, estão num
constante processo de mudança.
17
Entretanto, dizer que não se trata de um sistema fechado não significa dizer que
não existem parâmetros básicos. Arocena e Sutz (2004) destacam que a teoria dos
Sistemas de Inovação possui um aspecto normativo: um sistema “melhora” se, em
paralelo, sua conectividade se fez mais densa, a cooperação entre atores prevalece sobre
os conflitos, se multiplicam os espaços interativos de aprendizagem e a inovação se
orienta preferencialmente à satisfação de genuínas necessidades coletivas. Dessa forma,
os sistemas de inovação são legítimos objetos de política: a teoria busca formular
propostas, que não significa a pretensão de criar sistemas por decreto, mas que podem
ajudar a fortalecer vínculos, a estimular aprendizagem e a orientar a inovação até a
solução de problemas sociais substantivos.
Nesse sentido, pensar os sistemas (nacionais) de inovação sobre a perspectiva do
Sul é mais do que simplesmente propor políticas que, em última instância, promovam a
inovação. É também um instrumento de grande importância para se pensar numa nova
concepção de desenvolvimento que busque a promoção da igualdade, através de
estratégias econômicas alternativas, orientadas para a elevação do nível de
conhecimento e qualificação do conjunto das atividades produtivas de bens e serviços;
renovação das políticas públicas, para que o Estado possa se apresentar como o
articulador de atores, esforços e iniciativas várias que busquem a concepção de sistemas
de inovação; e transformação na educação, entendida como o principal instrumento de
aprendizagem.
Neste cenário, a própria concepção da inovação pensada por Mytelka (1993,
2000)19, utilizada como base na pesquisa de campo deste trabalho, já reflete a inovação
pensada num ambiente que propõe elaborar um tipo de desenvolvimento mais
sustentável.
A este respeito Furtado (1974, p.70) se refere da seguinte forma:
“Se fosse mais bem distribuído no conjunto do sistema capitalista, o
crescimento dependeria menos da introdução de novos produtos finais
e mais da difusão do uso de produtos já conhecidos, o que significaria
um mais baixo coeficiente de desperdício”.
19 Como veremos no próximo capítulo, Mytelka se refere à inovação como um processo incremental e de adaptação pelo qual as empresas dominam e implementam o desenvolvimento e a produção de bens e serviços, que sejam novos para elas, independentemente de serem novos para seus concorrentes.
18
Em outras palavras, num ambiente onde haja maior igualdade, a constante busca
(por uma reduzida camada da sociedade) por novos produtos e estilos de vida que
consomem cada vez mais recursos seria, ao menos, amenizada, uma vez que a difusão
dos mesmos atingiria maior parte da sociedade, não sendo necessário, então, constante
introdução desses novos produtos20.
Por último, uma vez ressaltada a heterogeneidade, tanto social quanto
tecnológica, dos países latino-americanos - em especial do Brasil – e a importância dada
à discussão em torno das políticas de desenvolvimento, a abordagem dos sistemas locais
de inovação21 apresenta-se bastante relevante22.
5) Considerações parciais
Ao destacar a importância dos parâmetros não-econômicos dos modelos
macroeconômicos em consonância com uma visão global derivada da história, o
enfoque “estruturalista” vem se esforçando para compreender o “atraso” brasileiro não
apenas pela sua posição relativa atual, mas também pela ótica da especificidade do
subdesenvolvimento.
Para Furtado (2002), o subdesenvolvimento é a resultante de um processo de
dependência, e que para compreendê-lo é necessário estudar a estrutura do sistema
global: identificar as invariâncias no quadro de sua história. Somente a partir desta
perspectiva é que se cabe considerar uma política de desenvolvimento nacional.
A economia de qualquer país, mas particularmente a de um país
subdesenvolvido, necessita assimilar o progresso tecnológico numa frente mais ampla
possível. No caso do Brasil, o progresso tecnológico tem sido uma conseqüência do
“desenvolvimento” e não o seu motor, um subproduto de certos investimentos e não
algo inerente ao processo de formação de capital. À falta de uma política de fomento e
disciplina da assimilação do progresso tecnológico, chegou-se a uma situação em que
20 Ver também Furtado (2003): "Raízes do subdesenvolvimento", para uma discussão à cerca dos diferentes padrões de consumo das diferentes camadas da população dos países da América Latina. 21 O que se denomina Local certamente pode se referir a uma determinada região ou a um país. No entanto, quando faço esta distinção entre Sistema Local e Sistema Nacional desejo não mais do que ressaltar o ambiente heterogêneo que um Sistema Nacional pode estar inserido, principalmente nos países subdesenvolvidos. Por isso que tento abordar os Sistemas Locais como espécies de subsistemas do Sistema Nacional. Procurarei deixar claro quando estiver me referindo a estes conceitos como sinônimos. 22 Diversos pesquisadores, estudos de caso e outros trabalhos analíticos e conceituais desenvolvidos nos países latino-americanos reafirmam a importante difusão deste conceito na região.
19
empresas estrangeiras são as principais beneficiárias do avanço da técnica que se
assimila. Trata-se de problema que requer uma abordagem global, no quadro de uma
política que vise fomentar a criação e a adaptação de novas técnicas, bem como sua
assimilação (Furtado, 2003).
Nesse sentido, uma nova visão em relação ao desenvolvimento a partir do local
– em especial das especificidades locais -, é necessário no contexto dos países
subdesenvolvidos. A abordagem de arranjos e sistemas produtivos locais se apresenta
como um importante instrumento para este fim.
20
CAPÍTULO II – CENÁRIO DA IMPORTÂNCIA DO LOCAL NA
ABORDAGEM DE ARRANJOS E SISTEMAS PRODUTIVOS E INOVATIVOS
LOCAIS EM PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS
1) Introdução: a importância do local23
A emergência do “novo paradigma tecno-econômico”, associado ao processo de
globalização atual, está associado a um amplo conjunto de transformações centrados
num novo padrão tecnológico e produtivo relacionado às modernas tecnologias de
informação e comunicação (TICs). A intensificação desse processo deu início a um
intenso debate sobre a dicotomia entre o espaço global e o espaço local enquanto esferas
de organização e condução das atividades produtivas, tecnológicas, e até culturais24.
Diversos autores (principalmente os pós-modernistas) se utilizam de diversas
metáforas geográficas (em especial) para sugerir, com base nesta “aceleração”
contemporânea centradas nas modernas TICs, que o espaço não existe, a região não
existe, e o lugar também não existe mais. Daí se falar em desvalorização do território;
de desterritorialização; de banalização e homogeneização; de precedência do tempo
sobre o lugar; de esvaziamento do tempo como condição para o esvaziamento do
lugar25. Nesse sentido, a noção de territorialidade é posta em xeque. Alguns autores
(Ianni, 1992; Margolin, 1991) falam em desterritorialidade, atribuindo significados
como o da supressão do espaço pelo tempo (Harvey, 1993; Virilio, 1984) ou da
emergência do que chamam “não-lugar” (Augé, 1992)26. A mobilidade, não apenas da
23 Situado ante o global, local pode referir-se a uma dada localidade (cidade, bairro, rua), região ou nação, constituindo, em qualquer dos casos, um subespaço ou um subconjunto espacial, e envolvendo algum modo de delimitação ou recorte territorial, que se expressa em termos econômicos, políticos, sociais e culturais. Usualmente, local tem sido identificado com a idéia de lugar. Dentro de uma acepção geográfica estrita, lugar pode ser definido como uma porção do espaço na qual as pessoas habitam conjuntamente, implicando, portanto a idéia de co-presença. Lugar é associado à idéia de localidade, enquanto cenário físico da atividade social, com uma localização geográfica determinada (RedeSist, 2004). Para Giddens (1991, p.26), “lugar é melhor conceitualizado por meio da idéia de localidade, que se refere ao cenário físico da atividade social como situado geograficamente”. Em diversas passagens a idéia de local estará associada à de espaço, e até mesmo de território. O importante, no entanto, é a idéia de local como um conjunto de especificidades sociais, políticas, econômicas e culturais inerentes a um território geográfico. Apesar de saber que se tratam de conceitos diferentes numa análise mais elaborada, tomarei a liberdade de analisá-los, muitas vezes, como sinônimos. Ver Santos (1994, 2001, 2004), Giddens (1991) e Albagli (1999). 24 Ver Santos e Silveira (2001) e Santos (2003, 2004, 2005) para a discussão da dicotomia entre o espaço global e local relacionada às transformações associadas ao moderno processo de globalização. 25 Sobre estas questões, ver B. Badie e M.C. Smouts, J.L Margolin; J. Chesneaux, J. Steiner, O. Ianni; F. Oliveira; Virilio; Giddens. 26 Apesar de considerar esta discussão de suma relevância, não abordarei mais profundamente esta questão por não fazer parte do escopo mais amplo deste trabalho.
21
informação, mas dos próprios homens, se tornou praticamente uma regra. O movimento
se sobrepõe ao repouso. A circulação é mais criadora que a produção. Mas também os
produtos, as mercadorias, as imagens, as idéias.
Esta pretensa separação entre tempo e espaço é fundamental para a dinâmica
deste novo cenário nesta perspectiva, uma vez que “serve para abrir múltiplas
possibilidades de mudança liberando das restrições dos hábitos e das práticas locais”
(Giddens, 1991). Em outras palavras, este “desencaixe” possibilita um deslocamento
das relações sociais de contextos locais de interação e sua reestruturação através de
extensões indefinidas de tempo-espaço, ou seja, estas transformações “anulam o espaço
através do tempo” (Harvey, 1993), revolucionando as relações espaço-temporais. Daí a
idéia de desterritorialização. Utilizando uma expressão marxista, segundo Santos (2004,
p.328), desterritorialização é, frequentemente, uma outra palavra para significar
estranhamento, que é, também, desculturização.
Entretanto, diferentes contribuições interdisciplinares - conceituais e
metodológicas, cuja análise recai sobre a proximidade geográfica, as especificidades dos
locais, o aprendizado interativo, o conhecimento, a inovação e etc. - vêm evoluindo ao
longo do tempo no sentido de resgatar a importância da diversidade e das
especificidades que caracterizam os diferentes formatos de aglomerações produtivas
territoriais. Considerando-se os diferentes contextos sociais, políticos e institucionais,
estas contribuições apresentam uma clara contraposição aos argumentos sobre a
crescente desterritorialização da economia contemporânea induzida pelo fenômeno da
globalização e tecno-globalismo.
Segundo Santos (2005), ao contrário do que muitos foram levados a imaginar e a
escrever, na sociedade informatizada atual nem o espaço se dissolve, abrindo lugar
apenas para o tempo, nem este se apaga. Seria impossível pensar em evolução do espaço
se o tempo não tivesse existência como tempo histórico27; é igualmente impossível
imaginar que a sociedade possa realizar-se sem o espaço ou fora dele. A sociedade
evolui no tempo e no espaço. “Tempo e espaço conhecem um movimento que é, ao
mesmo tempo, contínuo, descontínuo e irreversível. Tomado isoladamente, tempo é
sucessão, enquanto o espaço é acumulação, justamente uma acumulação de tempos (...).
Somente a partir da unidade do espaço e do tempo, das formas e do seu conteúdo, é que
27 Grifo meu.
22
se pode interpretar as diversas modalidades de organização espacial” (Santos, 2005,
p.63).
Se a informação (ou fluxo de informação possibilitado pelas TICs), por um lado,
é capaz de criar esta idéia de “separação” do espaço-tempo28, por outro, o conhecimento
gerador e codificador destas informações é um dos elementos que os une através dos
lugares.
A informação, segundo Santos (2004, 2005), é o motor da divisão do trabalho,
tornada claramente internacional. Esta divisão do trabalho, movida pela produção,
atribui, a cada movimento, um novo conteúdo e uma nova função aos lugares. Assim, o
mundo humano se renova e diversifica, isto é, reencontra sua identidade e sua unidade
enquanto os seus aspectos se tornam outros. A divisão internacional do trabalho apenas
nos dá a maneira de ser do modo de produção dominante, apontando as formas
geográficas portadoras de uma inovação e, por isso mesmo, carregadas de uma
intencionalidade nova. É através da incidência num país da divisão internacional do
trabalho e da conseqüente divisão interna do trabalho que as especificidades começam a
repontar. A divisão internacional do trabalho é processo cujo resultado é a divisão
territorial do trabalho.
A divisão do trabalho pode ser vista como um processo pelo qual os recursos
disponíveis se distribuem social e geograficamente. Os recursos do mundo constituem,
juntos, uma totalidade. Santos (2004, p.132) define como recursos a toda possibilidade,
material ou não, de ação oferecida aos homens (indivíduos, empresas, instituições).
Recursos são coisas, naturais ou artificiais, relações compulsórias ou espontâneas,
idéias, sentimentos, valores. É a partir da distribuição desses dados que os homens vão
mudando a si mesmos e ao seu entorno. O valor real de cada recurso não depende de sua
existência separada, mas de sua qualificação geográfica, isto é, da significação conjunta
que todos e cada qual obtêm pelo fato de participar de um lugar. Fora dos lugares,
produtos, inovações, populações, dinheiro, por mais concretos que pareçam, são
abstrações. A definição conjunta e individual de cada qual depende de uma localização.
Por isso, a formação sócio-espacial, e não apenas o modo de produção, constitui-se
como instrumento adequado para entender a história e o presente de um país.
28 Nesta perspectiva, a instantaneidade da informação globalizada aproxima os lugares, torna possível uma tomada de conhecimento imediata de acontecimentos simultâneos e cria, entre lugares e acontecimentos, uma relação unitária na escala do mundo.
23
Nesse sentido, o espaço tem um papel privilegiado na medida em que ele
cristaliza os momentos anteriores, e é o lugar de encontro entre o passado e o futuro,
mediante as relações sociais do presente que nele se realizam.
Neste cenário, tanto a informação quanto o conhecimento necessário para sua
geração e interpretação, também se caracterizam como recursos.
O acesso às mais novas tecnologias de informação: informática,
telecomunicações, microeletrônica etc. possibilitou a ampla difusão da informação em
todo o mundo. Porém, acesso ao uso da tecnologia não significa acesso à geração e
desenvolvimento da mesma. Nesse sentido, verifica-se a distinção entre informação e
conhecimento, sendo este último, o “verdadeiro” recurso diferenciador29. A informação
é, simplificadamente, subproduto (codificado) do conhecimento (que, por sua vez,
resulta do processo de aprendizagem).
Dessa forma, no âmbito da globalização atual, uma nova dinâmica de
diferenciação se instala no território. Em primeiro lugar, distinguem-se zonas servidas
pelos meios de conhecimento e áreas desprovidas dessa vantagem. E dentro das próprias
áreas “conhecidas” as empresas se distinguirão pela sua maior ou menor capacidade de
utilização da informação30. É possível imaginar que tal seletividade espacial e
socioeconômica conduza a mudanças rápidas na divisão territorial do trabalho, com as
firmas mais dotadas do ponto de vista técnico e financeiro tendendo a buscar uma
localização onde o lucro potencial será mais forte, deixando o resto do território, ainda
que com virtualidades naturais semelhantes, a firmas menos potentes (Santos, 2004,
p.243). O conhecimento exerceria assim seu papel de recurso.
29 Apesar de estarem intimamente relacionados, é necessário destacar que informação é diferente de conhecimento. Conhecimento é um conceito muito mais amplo do que informação. É a partir do conhecimento e da aprendizagem que se gera e difunde informação.
Lundvall (1998) destaca a distinção entre dois tipos de conhecimento – o tácito e o codificado – que se referem ao grau no qual o conhecimento pode ser escrito e transferido. A codificação do conhecimento é, basicamente, um processo de redução e conversão que implica sua transformação em informação. Tal processo permite que a transmissão, tratamento, armazenamento, reprodução e até a comercialização do conhecimento (transformado em informação) se tornem possíveis e mesmo tarefas simples. Por outro lado, o conhecimento tácito é aquele que sua geração e difusão dependem de toda uma estrutura de relações sociais, institucionais e, até mesmo, políticas. Tal conhecimento não pode ser facilmente transferível por não ser passível de se colocar num formato explicitado. O conhecimento tácito é um conhecimento de caráter localizado, específico, dependente de uma série de relações entre indivíduos e instituições, e possuem um papel fundamental ao processo inovativo, sendo difíceis (senão impossíveis) de serem transferidos. 30 Capacidade esta intimamente relacionada ao conhecimento necessário para a utilização de tais informações.
24
Por isso, fica claro que a divisão territorial do trabalho cria uma hierarquia entre
lugares e, segundo a sua distribuição espacial, redefine a capacidade de agir de pessoas,
firmas e instituições, gerando muitas vezes conflito e desordem. Os espaços assim
requalificados atendem sobretudo a interesses dos atores hegemônicos da economia e da
sociedade, e assim são incorporados plenamente às correntes de globalização.
Esta nova “ordem” gera desordem (localmente), não apenas porque conduz a
mudanças funcionais e estruturais, mas, sobretudo, porque essa ordem não é portadora
de um sentido, uma vez que seu objetivo (o mercado global) é uma auto-referência, sua
finalidade sendo o próprio mercado global. Nesse sentido, a globalização, em seu
estágio atual, é uma globalização perversa para a maior parte da humanidade. Por isso,
esta noção de “desterritorialidade” vem sendo questionada frente à ampla percepção de
“que a globalização constitui-se num processo assimétrico e incapaz (...) de diminuir a
tanto a desigualdade como a incerteza e a entropia do sistema mundial” (Vargas, 2002,
p.37).
Milton Santos chama de espaços de horizontalidades, aqueles que são “alvos de
freqüentes transformações, (onde) uma ordem espacial é permanentemente recriada,
onde os objetos se adaptam aos reclamos externos e, ao mesmo tempo, encontram, a
cada momento, uma lógica interna própria, um sentido que é seu próprio, localmente
constituído” (2004, p. 334).
Dessa forma, pode-se dizer que é o lugar que oferece ao movimento do mundo a
possibilidade de realização. Para se tornar espaço31, o mundo depende das virtualidades
do lugar. Então, a ordem global é “desterritorializada”, no sentido de que separa o
centro da ação e a sede da ação, ela busca impor a todos os lugares uma única
racionalidade. Por outro lado, a ordem local, que “reterritorializa”, reúne numa mesma
lógica interna todos os seus elementos: homens, empresas, instituições, formas sociais e
jurídicas e etc., ou seja, os lugares respondem ao mundo segundo diversos modos de sua
própria racionalidade32.
31 Considerando a dimensão geográfica o foco central de sua análise, Santos (2004) define o espaço como um conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações, cuja dinâmica atual encontra-se marcada pela emergência das redes e do processo de globalização. Por um lado, tais redes são globais na medida em que, através do avanço tecnológico, ‘transportam o universal ao local’, unindo pontos distantes numa mesma lógica produtiva. Tal movimento é definido como o funcionamento vertical do espaço geográfico contemporâneo. Por outro lado, as redes também são locais e refletem localmente as condições técnicas de trabalho que são determinadas a partir de uma divisão do trabalho em nível global (Vargas, 2002). 32 Segundo Santos (2004, p.45), “o processo de globalização, em sua fase atual, revela uma vontade de fundar o domínio do mundo na associação entre grandes organizações e uma tecnologia cegamente
25
Para Santos (2005, p.154), “a regulação mundial é uma ordem imposta, a serviço
de uma racionalidade dominante, mas não forçosamente superior. A questão, para nós,
seria descobrir e pôr em prática novas racionalidades, em outros níveis e regulações
mais consentâneas com a ordem desejada, desejada pelos homens, lá onde eles vivem”.
É buscando maior compreensão dessa racionalidade relacionada ao local que
este trabalho busca discutir o mesmo (o local) “como elemento de transformação
sócio-político-econômico, representando o lócus privilegiado para novas formas de
solidariedade e parceria entre os atores” (Albagli, 1999), onde a cooperação faça parte
dos mecanismos de competição. O local, dessa forma, constitui-se em espaço de
articulação, sinalizando a possibilidade de gerarem-se, a partir de sinergias geradas por
estas interações, soluções inovadoras para muitos dos problemas típicos da sociedade
contemporânea.
Por isso, segundo minha interpretação, quando Milton Santos afirma que a
informação é o motor da divisão do trabalho, ele está se referindo àquela informação já
resultado da diferenciação instalada no território em relação às zonas servidas pelos
meios de conhecimento e áreas “desprovidas” dessa vantagem33. Em outras palavras, a
informação se torna, de fato, um recurso quando o conhecimento já o é anteriormente.
Daí a importância do local, e suas especificidades nesta discussão. Lundvall e Bórras
(1997) enfatizam que a mobilidade espacial do conhecimento constitui-se num dos
limites mais importantes da globalização (como ela é proposta atualmente), que
subestima o papel desempenhado pela proximidade geográfica no processo de
transmissão de formas tácitas de conhecimento e no desenvolvimento de processos de
aprendizado interativo. É exatamente esta possibilidade de transmissão de conhecimento
tácito e aprendizado interativo que faz toda a diferença quando se busca a análise do
local e suas especificidades.
Dessa forma, o desenvolvimento local ganha uma nova dimensão. O ambiente
local não consiste numa mera delimitação geográfica, mas antes constitui uma unidade
própria de análise, que condiciona desempenho competitivo e inovativo de empresas
articuladas em forma de arranjos e sistemas produtivos (Vargas, 2002).
utilizada. Mas a realidade dos territórios e as contingências do “meio associado” asseguram a impossibilidade da desejada homogeneização”. 33 “(...) é preciso relacionar o conhecimento do lugar com o conhecimento produzido no lugar. Essa informação endógena (grifo meu) nutre-se da força da contigüidade territorial e da energia de um acontecer homólogo, e constitui uma possibilidade de dinamizar, pela base, a economia. Ela também fundamenta a divisão territorial do trabalho” (Santos, 2001, p.100).
26
Nesse sentido, este trabalho procura relacionar a importância da inovação,
cooperação e do aprendizado (como principal mecanismo de geração de conhecimento),
no processo de desenvolvimento econômico a partir da análise do local e suas
especificidades.
2) Arranjos e sistemas produtivos locais: aprendizado, conhecimento, cooperação e
inovação numa abordagem neo-schumpeteriana
A formação de arranjos e sistemas produtivos locais encontra-se geralmente
associada a trajetórias históricas de construção de identidades e de formação de vínculos
territoriais (regionais e locais), a partir de uma base social, cultural, política e
econômica comum. Sistemas são mais propícios a desenvolverem-se em ambientes
favoráveis à interação, cooperação e confiança entre os atores. Estes vínculos territoriais
muitas vezes estão ligados à proximidade geográfica, levando ao compartilhamento de
visões e valores econômicos, sociais e culturais, constituindo fonte de dinamismo local,
bem como de diversidade e vantagens competitivas em relação a outras regiões
(RedeSist, 2005).
Nesse sentido, existe espaço para se falar em territorialidade, que está ligada a
interdependências específicas da vida econômica, não podendo ser definida meramente
como localização das atividades. Ela reflete o vivido territorial, em toda sua abrangência
e em suas múltiplas dimensões – cultural, política, econômica e social. A territorialidade
de uma atividade ocorre quando sua viabilidade econômica está enraizada em ativos
(incluindo práticas e ações) que não estão disponíveis em outros lugares e que não
podem ser facilmente ou rapidamente criadas ou imitadas em lugares que não as têm.
Ela desenvolve-se a partir da existência comum dos agentes exercendo-se sobre um
mesmo espaço geográfico (RedeSist, 2005; Cassiolato e Lastres, 2003).
A proposta para se entender arranjos e sistemas produtivos locais fundamenta-se
na visão neo-schumpeteriana sobre inovação e mudança tecnológica. Dessa forma, não
é a inovação como um processo independente a responsável pelas mudanças na
dinâmica local, econômica e setorial (possibilitando maior possibilidade de
desenvolvimento), mas a inovação relacionada ao aprendizado, conhecimento e
cooperação, ora afetando, ora sendo afetada por estes fatores.
Nesse sentido, tanto o reconhecimento de que inovação e conhecimento
colocam-se cada vez mais visivelmente como elementos centrais da dinâmica e do
27
crescimento de nações, regiões, setores, organizações e instituições, quanto a
compreensão de que a inovação e o aprendizado, enquanto processos dependentes de
interações (refletidas na cooperação), são fortemente influenciados por contextos
econômicos, sociais, institucionais e políticos específicos são fundamentais para se
compreender esta questão.
Segundo Cassiolato e Lastres (1999, 2003), é fundamental nesta análise o
entendimento das relações e interações entre os diferentes agentes visando ao
aprendizado, as quais apresentam forte especificidade local. Diferentemente do que é
sugerido por aqueles que defendem que o que importa na atual fase da globalização é a
aquisição – através, na maioria das vezes, da importação - de altas tecnologias, passam a
ter maior relevo os objetivos de promover e gerar, localmente, os processos que
estimulem o aprendizado e a acumulação de conhecimentos. “Esse conhecimento pode
ser um dos pilares para criar uma base de vida que amplie a coesão da sociedade civil, a
serviço do interesse coletivo” (Santos, 2001, p.101).
Nesse sentido, arranjos e sistemas produtivos locais podem ser definidos como
conjuntos de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto
específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes.
Geralmente envolvem a participação e a interação de empresas – que podem ser desde
produtoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros – e suas
variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras
instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos
humanos (como escolas e universidades); pesquisa, desenvolvimento e engenharia;
política, promoção e financiamento. Em geral, trata-se de agentes econômicos, políticos
e sociais, localizados em um mesmo território, desenvolvendo atividades econômicas
correlatas e que apresentam vínculos de produção, interação, cooperação e
aprendizagem, com potencial para gerar o incremento da capacidade inovativa
endógena, da competitividade e do desenvolvimento local (Cassiolato & Lastres, 2003;
Redesit, 2005).
Para diversos autores34, a participação em arranjos e sistemas produtivos locais
se caracteriza como uma oportunidade única para micro e pequenas empresas,
principalmente em países subdesenvolvidos, se aproveitarem da sinergia gerada por este
tipo de configuração que estimule o aprendizado e a inovação.
34 Nadvi, 1995; Nadvi & Schmitz, 1997; UNCTAD, 1998.
28
Nesse contexto, novas abordagens teóricas que exaltam a importância da
dimensão localizada do processo de aprendizado, da cooperação e da inovação enquanto
fonte de vantagem competitiva de firmas, regiões e países surgiram a partir da idéia
inicial da teoria schumpeteriana.
2.1) O aprendizado local e o conhecimento tácito
A possibilidade de codificação do conhecimento e sua difusão não significa
pleno acesso a essas informações por todos os indivíduos se eles não possuem
‘conhecimento’ necessário para a compreensão e utilização desses conhecimentos
transformados em informação. Em outras palavras, a transferibilidade de conhecimentos
codificados encontra-se intimamente associada a processos de aprendizagem.
A importância do aprendizado e do conhecimento está ainda mais fortemente
relacionada ao novo paradigma tecno-econômico por duas razões: i) na medida em que
a competência humana encontra-se no centro do processo de desenvolvimento de
qualquer sociedade, a constituição de uma visão que focaliza o aprendizado e o
conhecimento em qualquer processo histórico de formação sócio-econômico constitui-
se num elemento analítico importante; ii) partindo-se de uma perspectiva histórica
específica que remete às condições atuais de desenvolvimento, na qual a economia
encontra-se profundamente enraizada na produção, distribuição e uso de conhecimentos,
justifica-se a ênfase no surgimento de uma nova era caracterizada como Economia do
Conhecimento e do Aprendizado (Foray & Lundvall, 1996; Lundvall, 1996).
Nesse contexto, o aprendizado se torna um processo ainda mais fundamental
para a construção de novas competências e obtenção de vantagens competitivas, “o
qual, pela repetição, experimentação, busca de novas fontes de informação e outros
mecanismos, capacita tecnologicamente as firmas e estimula as suas atividades
produtivas e inovativas” (Campos et al., 2003, p. 52).
Estes processos de aprendizagem decorrentes da cumulatividade da experiência
dos indivíduos e firmas na produção e suas conseqüentes inovações incrementais em
produtos e processos podem caracterizar mecanismos informais ou não estruturados que
também criam capacidades inovativas internas às firmas: learning by doing e learning
by using. Além desses mecanismos de aprendizagem internos às firmas, existe uma
29
outra fonte de conhecimento que não se restringe unicamente à firma: o aprendizado por
interação (learning by interacting).
Este tipo de aprendizado se destaca quando se reconhece que quase todos os
processos de aprendizado são sociais e interativos, sendo o conhecimento afetado e
transformado através de processos permeados pela interação social e onde as próprias
instituições mudam como resultado dessa interação voltada para criação de novos
conhecimentos (Vargas, 2002, p. 29).
Nesse contexto, um aspecto da característica do conhecimento que é importante
para a discussão dos processos de aprendizagem é a natureza tácita e codificada do
conhecimento. As possibilidades de transferência de conhecimento tácito estão
relacionadas à demonstração e experiência. Isto implica a necessidade do contato face-
a-face e, por conseqüência, a proximidade espacial entre os agentes e a importância dos
códigos de compartilhamento, fazendo com que o contexto social seja decisivo para as
possibilidades de transferência.
Dessa forma, os processos de aprendizagem por interação pressupõem cinco
características fundamentais para que esta relação se efetive (Lundvall, 1998): i) Fluxo
sistemático de informações entre os agentes, com a necessidade da constituição de
canais de comunicação e do estabelecimento de códigos comuns que viabilizem esta
troca de informações35; ii) confiança mútua entre os agentes; iii) sistema de incentivos
que evite o rompimento dos vínculos entre os atores; iv) aprofundamento das relações
de confiança e cooperação entre os atores; e v) a consolidação desses processos de
interação e cooperação leva à constituição de um espaço econômico próprio.
Então, diferentemente do que ocorre com o conhecimento codificado, o
conhecimento tácito não pode ser facilmente transferido, dado que sua
“transferibilidade” encontra-se condicionada pelo contexto social e institucional onde
ocorre a interação entre indivíduos, firmas e organizações. Esta dificuldade inerente à
transmissão do conhecimento tácito, por sua vez, contribui para que ele geralmente
encontre-se associado a contextos organizacionais ou geográficos específicos,
dificultando ou mesmo impedindo o seu acesso por atores externos a tais contextos.
Dessa forma, o conhecimento tácito permanece sendo um elemento chave no processo
de apropriação e uso de conhecimentos.
35 O que só é possível num ambiente específico, ou seja, num contexto social e local específico.
30
Segundo Vargas (2002), na medida em que se concebe o ambiente local como
um conjunto de configurações institucionais e organizacionais inseridas num rol de
interações com diferentes atores econômicos, percebe-se a importância que assume a
dimensão localizada dos processos de aprendizagem e capacitação inovativa das firmas.
Por isso, a noção de arranjos e sistemas produtivos locais possibilita o destaque
da importância do local, pelas especificidades que se formam em espaços geográficos e
institucionais particulares, criando possibilidades únicas para interações e
desenvolvimento de competências dos agentes nos processos inovativos. Esta interação
possibilita a discussão de um outro tipo de relação entre os agentes igualmente
importante para a análise dos processos inovativos numa dimensão local: a cooperação.
2.2) Cooperação e capital social: elementos para o desenvolvimento local
Em linhas gerais, o significado de cooperação é o de trabalhar em comum,
envolvendo relações de confiança mútua e coordenação, em níveis diferenciados, entre
os agentes. Em arranjos e sistemas produtivos locais, identificam-se diferentes tipos de
cooperação, incluindo a cooperação produtiva visando à obtenção de economias de
escala e de escopo, a melhoria dos índices de qualidade e produtividade; e a cooperação
inovativa, que resulta na diminuição e riscos, custos, tempo e, principalmente, no
aprendizado interativo, dinamizando o potencial de criação de capacitações produtivas
e inovativas.
Uma outra forma de se pensar na cooperação é através do conceito de capital
social. O capital social pode ser pensado como “traços da vida social – redes, normas e
confiança – que facilitam a ação conjunta em prol de objetivos comuns”36 (Puttman,
1993). Segundo este autor, a confiança é alcançada a partir do conhecimento mútuo
entre os membros da comunidade e de uma forte tradição de ação comunitária.
Arranjos e sistemas produtivos locais, como visto, não envolve apenas empresas,
mas também outros atores (organismos governamentais, associações, instituições de
pesquisa, educação e treinamento, entre outros). Ambientes ricos e dinâmicos de
aprendizagem coletiva, favorecem os processos de interação e de articulação entre os
agentes, estimulando assim a geração e difusão de conhecimentos e inovações que ali se
31
situam (Albagli e Maciel, 2003). Nesse sentido, a noção de cooperação e capital social
ganha força na medida em que as relações puramente de mercado mostram-se incapazes
de estimular a interação entre os diferentes agentes, bem como o compartilhamento de
informações e conhecimentos requeridos neste processo de inovação e aprendizado. São
os comportamentos associados à idéia de cooperação e capital social (confiança,
compromisso com outros, redes e valores compartilhados) que contribuem para os
processos de inovação e de aprendizado interativos, de criação e de intercâmbio de
conhecimentos e habilidades.
Cabe ressaltar que a idéia de cooperação de forma alguma é contraditória a de
concorrência. Uma vez enfatizado o papel da inovação e do aprendizado para o
dinamismo econômico, sendo este último visto como processo contínuo e interativo de
aquisição de diferentes tipos de conhecimentos e habilidades por parte dos agentes
individuais e coletivos, propiciando a inovação, a cooperação (e o capital social) é um
elemento que reforça esta dinâmica. Porém não com ênfase apenas no que se
denominou mercado, mas com um olhar sobre os indivíduos e o ambiente no qual eles
estão inseridos. Por isso, a noção de territorialidade e da importância do local são tão
comentados ao longo deste trabalho.
Dessa forma, a noção de interação cooperativa se torna um fator de grande
relevância para o desenvolvimento local e, de acordo com Albagli e Maciel (2003),
deve ser considerada uma peça importante – mas não a única – na mobilização de
arranjos (e sistemas) produtivos locais.
2.3) A inovação como um processo de interação local
Segundo Dosi (1988), a inovação se caracteriza pela busca, descoberta,
experimentação, desenvolvimento, imitação e adoção de novos produtos, processos e
novas técnicas organizacionais. O que se busca, por definição, não pode ser conhecido
com precisão antes das atividades de descoberta e experimentação. Dessa forma, a
inovação envolve um elemento fundamental de incerteza. No entanto, o conhecimento
científico acumulado ao longo do tempo, aliado às atividades de pesquisa integradas a
diversas organizações formais, são características fundamentais para as atividades
36 Existem outras definições de Capital Social que não serão discutidas neste trabalho. Ver: Albagli e Maciel, 2003.
32
inovativas. Ademais, as atividades de interação - formais e informais - são fundamentais
para o aprendizado cumulativo, que também se caracterizam como elementos
fundamentais à inovação.
Nesse sentido, inovação é aqui entendida como o processo pelo qual as
organizações incorporam conhecimentos na produção de bens e serviços que lhes são
novos. O foco principal de análise recai sobre as mudanças técnicas, e outras correlatas,
tidas como fundamentais para o entendimento dos fatores que levam organizações,
setores, regiões e países a desenvolverem-se mais rápida e amplamente que outros
(RedeSist, 2005).
Em linha gerais, as inovações podem ser de dois tipos: i) inovação tecnológica
de produto e processo: refere-se à utilização do conhecimento sobre novas formas de
produzir e comercializar bens e serviços; e ii) inovação organizacional: refere-se à
introdução de novos meios de organizar a produção, distribuição e comercialização de
bens e serviços. Estas inovações podem ser: i) inovação radical: refere-se ao
desenvolvimento de um novo produto, processo ou forma de organização da produção
inteiramente nova; e ii) inovação incremental: refere-se à introdução de qualquer tipo
de melhoria em um produto, processo ou organização da produção.
Até o final dos anos 1960, a inovação era vista como ocorrendo em estágios
sucessivos e independentes de pesquisa básica, pesquisa aplicada, desenvolvimento,
produção e difusão (visão linear da inovação).
A partir da década de 1970, a inovação passou a ser visto não mais como um ato
isolado, mas como um processo, de múltiplas fontes, derivando de complexas
interações entre agentes. Dessa forma, a inovação passa a ser definida como processo
não linear, que pode envolver, inclusive simultaneamente, conhecimentos resultantes
tanto da contratação de recursos humanos, da realização de atividades de treinamento e
de pesquisa e desenvolvimento (P&D), assim como das demais atividades e
experiências acumuladas pela empresa a partir de sua interação com outros agentes e
com o ambiente que a cerca.
A partir da década de 1980, particular atenção passou a ser dada ao caráter
localizado e sistêmico da inovação e do conhecimento. Desfaz-se também o
entendimento de que a inovação deve ser algo absolutamente novo, em termos mundiais
- restritos às áreas de tecnologia de ponta - passando a ser percebida como o processo
33
pelo qual as empresas dominam e implementam o desenvolvimento e a produção de
bens e serviços, que sejam novos para elas, independentemente do fato de serem novos
para seus concorrentes – domésticos ou internacionais37 (Mytelka & Farinelli, 2003;
RedeSist, 2005).
Esta abordagem é utilizada por Mytelka (1993, 2000), onde a inovação não
precisa necessariamente ser algo totalmente novo, mas enfoca a inovação sob o ponto de
vista do agente econômico que a está implementando. Sua abordagem tem por objetivo
principal apontar as possibilidades de inovação em países subdesenvolvidos, que além
de não se encontrarem na fronteira do desenvolvimento tecnológico, também se
caracterizam pela grande presença de micro e pequenas empresas como fundamentais
para a economia.
Nesse sentido, esta nova proposta de abordagem do conceito de inovação não
propõe negar a importância do papel da P&D na geração de conhecimento, mas permitir
a extensão do mesmo (conceito) destacando a importância de inovações incrementais,
como melhoria nos produtos em relação ao design e à qualidade, mudanças
organizacionais e no processo de produção, práticas de marketing, entre outros, de
modo a aumentar a capacidade competitiva das empresas localizadas nestes países38.
Estas práticas caracterizam a inovação como um processo interativo, que
envolve a contribuição de vários agentes econômicos e sociais que possuem diferentes
tipos de informação e conhecimentos, realizados dentro e fora da empresa. Este
“conhecimento é a base do processo interativo, e sua criação, uso e difusão alimentam a
mudança econômica, constituindo-se em importante fonte de competitividade
sustentável, associando-se às transformações de longo prazo na economia e na
sociedade” (RedeSist, 2005).
37 “(...) innovation should then be understood as the process by which firms master and implement the design and production of goods and services that are new to them, irrespective of whether or not they are new to their competitors – domestic or foreign” (Mytelka & Farinelli, 2003, p.250). 38 “To emphasize innovation in this sense is not to deny the role that R&D can play in generating new knowledge. Its purpose is rather to permit the extension of the concept of innovation to cover continuous improvement in the product design and quality, changes in the organization and management routines, creativity in marketing and modifications to production processes that bring costs down, increase efficiency and ensure environmental sustainability. Innovation of this sort is critical to firms in the developing world today. Adopting such a definition will encourage policy-makers to take a broader perspective on the opportunities for learning and innovation to pay greater attention to innovation in SMEs and in the so-called traditional industries than has been the case in the past” (Mytelka, 2000, pp. 18-19).
34
Santos (2003), numa discussão acerca da difusão das inovações, toma por base
alguns autores39 para destacar que o efeito-proximidade permitiria uma propagação mais
rápida da inovação, e as barreiras que dificultam a intercomunicação seriam algo
dependentes dos indivíduos, uma vez que o nível de resistência muda de um indivíduo
para o outro. Por isso, o controle sobre o processo de difusão de inovações requer a
utilização de redes interpessoais de comunicação.
Dessa forma, a localização, a interação entre indivíduos e grupos, e os aspectos
particulares – as especificidades – de um determinado local, região e país, devem ser
levados em conta na discussão do papel não só da inovação40 mas dos processos de
aprendizado e capacitação, uma vez que estes elementos são influenciados e
influenciam os ambientes sócio-econômico-políticos onde se realizam.
3) Conclusões parciais
Este capítulo procurou demonstrar como questões relacionadas às
especificidades locais, principalmente quanto ao aprendizado, conhecimento,
cooperação e inovação, são importantes para se pensar em estratégias de
desenvolvimento local, regional e nacional.
Partindo da análise da importância das especificidades locais (territoriais) frente
ao mundo globalizado, a abordagem de arranjos e sistemas produtivos locais na
perspectiva neo-schumpeteriana foi utilizada para se analisar questões relacionadas ao
conhecimento tácito, cooperação e inovação. Esta abordagem destaca o papel do
aprendizado e da inovação, como fatores de competitividade dinâmica e sustentada e
engloba empresas e outros agentes, assim como atividades conexas que caracterizam
qualquer sistema de produção.
Esta relação foi feita procurando-se adaptar tais conceitos à realidade dos países
subdesenvolvidos, principalmente em relação à inovação, vista aqui como um processo
incremental e de adaptação pelo qual as empresas dominam e implementam o
39 HAGERSTRAND, T. (1952). “Aspects of Spatial Structure of Social Communications and the Diffusion of Innovations”. PPRSA 16, pp.27-42. 40 “A country’s (or region’s) innovative capacity derives from the relations among its social actors, movements, organizations and institutions. And this capacity is its ability to make the most adequate choices, and to apply the results of those choices where they will be most productive, socially and economically” (Cassiolato, Lastres e Maciel, 2003, p.16).
35
desenvolvimento e a produção de bens e serviços, que sejam novos para elas,
independentemente do fato de serem novos para seus concorrentes.
Esta perspectiva da realidade dos países subdesenvolvidos (apresentada no
capítulo I), num mundo com relação de poder claramente definido, foi feita a partir da
visão latino-americana de dependência da CEPAL, buscando apresentar o fomento aos
sistemas de inovação locais como reflexo do esforço da implementação de políticas que
visem o desenvolvimento local (regional e nacional). Para isso, segundo Cassiolato e
Lastres (2003), do ponto de vista normativo, não basta desenvolver indicadores e mapas
objetivando identificar a quantidade de arranjos existentes e suas diferentes
configurações e graus de desenvolvimento. Por ser baseado no reconhecimento das
especificidades dos diferentes arranjos, as políticas para sua promoção são
incompatíveis com modelos genéricos que utilizam idéias de benchmarking e best
practices, como implicitamente ressaltado na última seção.
Dessa forma, a mobilização de um determinado arranjo produtivo local
geralmente implica conjuntos específicos de requerimentos que variam no tempo e
podem levar a diferentes caminhos de desenvolvimento, uma vez que as interações e
diferentes modos de aprendizado criam diferentes complexos ou aglomerações de
capacitações que, no seu conjunto, definem as diferenças específicas entre as
localidades.
Nesse sentido, a discussão da impossibilidade do desenvolvimento a partir de
modelos pré-determinados é ratificada pela discussão das especificidades locais em
arranjos e sistemas produtivos locais.
Adicionalmente, destaca-se que ainda que não sejam suficientes, as políticas de
promoção aos APLs são complementares àquelas que focalizam setores e cadeias
produtivas, e "não devem ser implementadas de forma isolada" (Lastres e Cassiolato,
2003). Para que obtenham maiores chances de sucesso, estas devem representar os
rebatimentos locais dos setores, cadeias produtivas e demais prioridades elencadas por
um projeto de desenvolvimento de sistemas produtivos e inovativos locais na busca de
um desenvolvimento local, regional e nacional de longo prazo.
36
CAPÍTULO III – PANORAMA DA INDÚSTRIA DE CONFECÇÕES
1) Introdução
Este capítulo pretende apresentar, de forma geral, as principais características da
cadeia produtiva da indústria têxtil e confecções no Brasil e no mundo. Busca-se, em
seguida, apresentar resumidamente o panorama mundial da indústria no que diz respeito
aos principais produtores, importadores e exportadores, e a evolução deste quadro ao
longo das décadas. Dentre os fatores de destaque para a compreensão desta dinâmica
evolutiva está o papel das barreiras à importação de têxteis e confeccionados. Nesse
sentido, a apresentação de algumas perspectivas com o fim destas barreias é de grande
relevância nesta análise, principalmente num cenário onde se trata das diferenças na
estrutura de poder representados pelos países desenvolvidos e subdesenvolvidos.
Tendo em vista a hierarquia criada entre os lugares, numa típica divisão
territorial (internacional) do trabalho existente na cadeia produtiva têxtil-confecções, o
capítulo avança na discussão da inserção das empresas dos países subdesenvolvidos no
cenário da globalização atual no que diz respeito à indústria têxtil-confecções. Para isso,
uma visão sobre a nova organização desta indústria nos países desenvolvidos,
representada pelas cadeias produtivas globais, é discutida neste capítulo.
O papel das grandes empresas (lead firms) é de fundamental importância nesta
dinâmica. São elas que, dotadas dos conhecimentos técnicos e financeiros, buscam uma
localização para produção onde o seu lucro potencial será maior através,
principalmente, de uma “vantagem comparativa” relacionada ao custo da mão-de-obra.
Nesse sentido, argumenta-se que as empresas dos países subdesenvolvidos deva fazer
parte desta cadeia para que, através da aprendizagem (mimetismo), possa melhorar suas
posições no comércio mundial.
Tendo esta perspectiva sido ressaltada, o capítulo procura, em seguida,
apresentar diferentes visões quanto à inserção dos países subdesenvolvidos nas cadeias
produtivas globais, tendo como principal argumento o fim da subordinação dos países
periféricos em relação aos centrais que está dinâmica proporciona.
Em seguida, as principais mudanças ocorridas no Brasil ao longo da década de
1990 são apresentadas, tanto no que diz respeito à participação e evolução do Brasil no
comércio mundial, e os efeitos da abertura no segmento, quanto em relação aos esforços
de atualização tecnológica no período.
37
Por último, é necessário ressaltar que a literatura não trata da “indústria de
confecções” em separado da têxtil. Ela está sempre relacionada à dinâmica da indústria
têxtil, na qual está inserida. Por isso, ao longo do capítulo, confecção estará, em geral,
relacionada downstream com a cadeia têxtil, e upstream com a comercialização em
geral.
2) Características da cadeia têxtil – confecções
O complexo têxtil-confecção – que engloba a produção de fibras (naturais,
artificiais ou sintéticas), fiação, tecelagem, malharia, acabamento e confecção – vem
passando, em nível mundial, por transformações estruturais, acompanhando a própria
evolução da microeletrônica, que permitiu a automação e o conseqüente aumento de
produtividade em várias etapas do processo de produção (Gorini et al.1997), assim
como da organização, distribuição e comercialização.
O setor é atualmente intensivo em capital nos segmentos de fiação e tecelagem,
todavia, apresenta-se intensivo em mão-de-obra no segmento de confecção, difícil de
ser automatizado. Esta dificuldade não se dá somente pelo custo da automatização, mas,
sobretudo, pelo fato do uso intensivo de mão-de-obra ser mais barato no processo de
produção.
A cadeia têxtil – confecções é formada por diversas atividades e está associada a
outros complexos produtivos num intenso relacionamento tanto downstream com a
agropecuária, a indústria petroquímica e a metal-mecânica (fornecedora de maquinário
industrial) quanto upstream com o comércio atacado e varejo. A figura III.1 apresenta
os principais elos do processo produtivo desta cadeia.
O primeiro segmento consiste na produção de fibras naturais (algodão, seda,
rami/linho, lã e juta) e artificiais (viscose, acetato, nylon, poliéster, lycra e
polipropileno). A mistura destas fibras permite uma variada gama de fios mistos. De
acordo com Soares (2003), em relação ao tipo de matéria-prima utilizada pelo setor
têxtil brasileiro, constata-se que cerca de 70% é fibra de algodão, 25% fibras artificiais e
sintéticas e 5% composto de linho, lã, seda, etc.
A fiação compreende a segunda etapa deste segmento. A fiação de algodão
compreende diversas operações através das quais as fibras seguem uma mesma direção
– paralelizadas – e torcidas de modo a se prenderem umas às outras por atrito. A fiação
de fibras artificiais é composta das etapas de extrusão – operação na qual uma
38
substância pastosa é pressionada através da fieira -, resultando em filamentos que são
endurecidos através da operação de solidificação. As empresas que compõem este
segmento são intensivas em capital, criando barreiras à entrada de pequenas e médias
empresas.
Figura III.1 – Configuração Básica da Cadeia Têxtil.
Fonte: Adaptado a partir de IEL et al., 2000.
A terceira etapa consiste na tecelagem, que é dividida, basicamente, em
tecelagem plana e malharia. Na tecelagem plana existem três linhas importantes de
Acabamento
Tecelagem Malharia
Fiação
Fibras Artificiais Fibras Naturais
Nylon
Poliéster
Lycra
Polipropileno
Viscose
Acetato
Algodão
Seda
Rami/Linho
Lã
Juta
Confecção
Comércio (Atacado e Varejo)
Marketing e Distribuição
39
tecidos: i) os tecidos pesados (índigos, brins e roupas profissionais); ii) tecidos de
camisaria e; iii) tecido para cama, mesa e banho e para decoração.
A etapa seguinte é o acabamento. Uma série de operações é realizada nesta etapa
nas quais proporcionam ao tecido conforto, durabilidade e propriedades específicas ao
produto.
Em seguida, apresenta-se o setor de confecções, um dos últimos elos da cadeia
produtiva têxtil-confecção. Este setor é um segmento específico e tem como principais
etapas de produção o corte, a costura e o acabamento.
Por fim, a comercialização apresenta-se como a última etapa desta cadeia. Ela
pode ser tanto no varejo quanto no atacado, e está intimamente relacionada às atividades
de marketing e distribuição.
O predomínio de pequenas empresas, com utilização intensiva de mão-de-obra, e
a diversidade, heterogeneidade e pulverização da demanda são algumas características
marcantes no setor de confecções no Brasil. O equipamento básico utilizado nestas
empresas continua sendo a máquina de costura, o que diminui a possibilidade de criação
de barreiras tecnológicas à entrada. Além disso, e fortemente relacionada à intensiva
utilização da mão-de-obra, é a presença da informalidade (que se intensificou ao longo
da década de 1990, devido tanto ao baixo crescimento da economia e aumento do
desemprego quanto, e relacionado a isto, a intensificação do processo de terceirização).
Por isso, trata-se de um segmento bastante competitivo, competição essa que tem se
intensificado em função das constantes mudanças na moda e pelo ciclo sazonal da
produção.
Existe uma grande heterogeneidade das unidades produtivas, associada à
existência de grande número de empresas de tamanhos variados41, que pode ser
considerada como característica estrutural básica da indústria de confecções.
Características tecnológicas e, principalmente, forte segmentação do mercado são
responsáveis por esta estrutura. Se, por um lado, poucas grandes empresas estão
modernamente equipadas42, por outro, existe uma grande segmentação do mercado,
tanto no que diz respeito ao número de produtos (lado da oferta), quanto ao mercado
41 Em 1996, estavam em funcionamento (formalmente) no país 18.036 empresas empregando 905.003 pessoas diretamente na produção. Do conjunto das empresas 70% correspondem às que empregam até 60 pessoas, 28% de 61 a 300, e apenas 2% das unidades produtivas empregam acima de 300 funcionários (ABRAVEST/IEMI). 42 Como veremos nas próximas linhas, a própria segmentação da demanda é um dos principais fatores que limitam a utilização de tecnologias de produção mais modernas.
40
consumidor que atinge (lado da demanda), com diferentes níveis de renda, idade, padrão
cultural, entre outras características.
Dentre alguns ramos do setor de confecções destacam-se: Roupas íntimas, de
dormir, de praia/banho, de esportes, de lazer, sociais, de gala, infantis, protetoras,
profissionais, de segurança, artigos para cama, mesa, banho, copa/cozinha, decorativos,
entre outros.
Como se trata de um segmento intensivo em trabalho, os custos, a gestão e a
qualificação da mão-de-obra são fatores fundamentais na competitividade das empresas,
assim como os investimentos em outros fatores intangíveis como design e marketing
pois, em grande parte, são eles que definem o posicionamento das empresas em setores
de maior ou menor valor adicionado e lucratividade.
Segundo Coutinho e Ferraz (1994), o emprego intensivo da força de trabalho
decorre das dificuldades de introdução do progresso tecnológico na etapa de montagem
ou de costura. Além das dificuldades de manuseio da matéria-prima – tecido – e a
existência de uma grande variedade de texturas, que colocam sérios obstáculos à
automação da etapa de montagem das peças, destaca-se, outrossim, a questão já
mencionada do custo da mão-de-obra, tão importante para a competitividade (espúria)
das empresas.
Na etapa de desenho e corte das peças, foram obtidos avanços significativos a
partir da introdução da tecnologia CAD/CAM (Computer Aided Design/Computer
Aided Manufacturing), o que proporcionou uma redução nas perdas de tecido e um
grande aumento de velocidade na criação, especificação técnica das peças e modelagem
dos tamanhos (Coutinho e Ferraz, 1993). No entanto, a costura ainda é a fase principal
do processo produtivo, o que faz com que o processo de confecção, como um todo, seja
altamente dependente da habilidade e do ritmo da mão-de-obra.
Por fim, cabe destacar que as novas tecnologias permitem uma maior
especialização da produção. Em geral, este tipo de especialização está relacionado a
nichos específicos que são mais viáveis às grandes empresas que, em geral, estão
inseridas no mercado internacional e já possuem marcas consolidadas em todo o
mundo; ou seja, a demanda existente para estes produtos é que viabiliza
economicamente a alta escala de produção. No caso do Brasil, não existe esta demanda
suficiente, tanto no mercado interno quanto no externo, que viabilize a concentração da
produção em apenas um artigo em uma unidade confeccionista, o que justifica (aliado à
sazonalidade da produção e às variações da moda) maior flexibilização na produção.
41
Dessa forma, as maiores empresas produzem peças mais padronizadas e com
menos influência da sazonalidade, inerente à moda, como as roupas de dormir, roupa de
esporte, roupa íntima, camisetas de malha de algodão, roupa de lazer (jeans), artigos de
cama, mesa e banho. Estes produtos são mais padronizados e, portanto, melhor
adaptados a maiores escalas produtivas, o que não quer dizer especialização num único
produto.
Por isso, na indústria de confecções brasileira as micro e pequenas unidades
produtivas têm maior tendência à diversificação da sua produção, e maior tendência a
especialização cresce com o tamanho da empresa (ABRAVEST).
O segmento de confecções é o segmento de maior contato com as preferências
dos consumidores com relação a tipo de tecido, padrões de corte e de cores sendo,
portanto, responsável direto pela comunicação de alterações nos padrões de consumo
para os outros elos da cadeia têxtil. Nesse sentido, o conhecimento no segmento de
confecções é compartilhado com o resto da cadeia, sendo responsável, muitas das vezes,
pelas inovações ao longo da mesma. Em outras palavras, o maior conhecimento em
relação às preferências dos consumidores, aliado às inovações no desenho dos produtos
pode levar, em última instância, a significativas mudanças no padrão tecnológico ao
longo do setor, seja em relação à inovação em matérias-prima, seja em relação às
máquinas utilizadas.
3) Panorama mundial de confecções
Dentre os principais produtores mundiais de confecções, destacam-se: China43,
Estados Unidos, Índia, Taiwan e Brasil, que ocupa a 5ª posição no ranking, à frente de
países como México e Coréia do Sul no ano 2000 (Tabela III.1).
Tabela III.1 – Principais Países Produtores de Confecções - 2000
Países Produção (em toneladas)
1. China 5.331.744
2. EUA 3.954.787
3. Índia 3.922.768
4. Taiwan 1.376.321
5. Brasil 1.286.826
43 Para maiores detalhes sobre o caso chinês, ver: Abernathy et al., 1999.
42
6. México 1.111.738
7. Coréia do Sul 891.665
8. Turquia 785.324
9. Paquistão 641.716
10. Japão 631.490
11. Alemanha 415.836
12. Rússia 315.810
13. Outros 1.384.786
Total 22.050.810 Fonte: ITMF – Países membros Apud IEMI, 2002; in: Castro, 2004.
No entanto, quando analisamos os principais exportadores de confecções no
mundo (Tabela III.2), percebemos claramente que os maiores produtores não são,
necessariamente, os maiores exportadores. De acordo com a tabela III.2, observa-se que
a União Européia vem se destacando como a maior exportadora de confecções desde
1980, apesar desta participação nas exportações mundiais estar decrescendo ao longo
dos últimos vinte anos. É interessante observar que pela tabela III.1 (principais países
produtores de confecção), o único país da UE que aparece entre eles é a Alemanha,
mesmo assim, ocupando a 11ª posição no ranking.
Os principais países exportadores de confeccionados da UE em 1997 eram a
Itália, com 8,4% das exportações mundiais, seguida pela Alemanha com 4,1% e França
e Reino Unido, ambas com 3% das exportações de confeccionados mundiais (Gorini,
2000).
Por outro lado, a China que em 1980 participava com 4% das exportações
mundiais, vê sua participação chegando a 21% em 2002, atrás apenas da UE. No
entanto, trata-se apenas de um país contra vários países exportadores da UE, ou seja,
trata-se do maior exportador de confecções. Já em 1997, a China participava com 18%
das exportações mundiais de confeccionados, bem acima dos países europeus. Ademais,
como já vista acima, além de ser o maior país exportador, a China é também a maior
produtora de confecções mundial.
Tabela III.2 – Principais Exportadores de Confecções, 1980-2002
Valor (US$ Bilhões) Participação nas exportações mundiais Exportadores
2002 1980 1990 2000 2002
União Européia (15)
Exportações extra - UE
50,45
16,59
42,0
10,4
37,7
10,5
24,1
7,4
25,1
8,3
43
China 41,30 4 9 18,3 21
Honk Kong, China
Exportações de origem local
Reexportação
22,34
8,31
14,04
-
11,0
-
-
9,0
-
-
5,0
-
-
4,0
-
Turquia 8,06 0,3 3,1 3,3 4,0
México 7,75 0,0 0,5 4,4 3,9
Estados Unidos 6,03 3,1 2,4 4,4 3,0
Índia 5,48 1,7 2,3 3,1 2,8
Bangladesh 4,13 0,0 0,6 2,1 2,1
Indonésia 3,95 0,2 1,5 2,4 2,0
República da Coréia 3,69 7,3 7,3 2,6 1,8
Tailândia 3,37 0,7 2,6 1,9 1,7
Romênia 3,25 ... 0,3 1,2 1,6
República Dominicana 2,71 0,0 0,7 1,5 1,4
Tunísia 2,69 0,8 1,0 1,1 1,3
Filipinas 2,61 1,4 1,6 1,3 1,3 Fonte: OMC, 2003; in: Castro, 2004.
Em relação aos principais importadores de confecções entre 1980 e 2002,
destacam-se a União Européia, os Estados Unidos e o Japão, sendo os Estados Unidos o
principal país importador, responsável, isoladamente, por 31,7% do total das
importações mundiais no segmento em 2002.
Tabela III.3 – Principais Importadores de Confecções, 1980-2002
Valor (US$ Bilhões) Participação nas importações mundiais Importadores
2002 1980 1990 2000 2002
União Européia (15)
Importações extra - UE
84,88
51,02
54,3
23,0
50,6
25,2
38,8
22,9
40,3
24,2
Estados Unidos 66,73 16,4 24,0 32,5 31,7
Japão 17,60 3,6 7,8 9,5 8,4
Honk Kong, China
Importações definitivas
15,64
1,60
-
0,9
-
0,7
-
0,8
-
0,8
México 4,06 0,3 0,5 1,9 1,9
Canadá 4,01 1,7 2,1 1,8 1,9
Rússia 3,86 - - 1,3 1,8
Suíça 3,45 3,4 3,1 1,6 1,6
República da Coréia 2,17 0,0 0,1 0,6 1,0
Austrália 1,82 0,8 0,6 0,9 0,9
44
Singapura
Importações definitivas
1,81
0,54
0,3
0,2
0,8
0,3
0,9
0,3
0,9
0,3
Emirados Árabes unidos 1,55 0,6 0,5 0,7 0,8
Noruega 1,36 1,7 1,1 0,6 0,6
China 1,36 0,1 0,0 0,6 0,6
Arábia Saudita 0,86 1,6 0,7 0,4 0,4 Fonte: OMC, 2003; in: Castro, 2004.
O comércio internacional de artigos de vestuário vem demonstrando grande
dinamismo. Entre 1995 e 2000, o comércio mundial de confecções cresceu 5,9% ao ano,
enquanto as trocas internacionais para todos os produtos cresceram a uma taxa anual de
4,6% e as de produtos têxteis aumentaram apenas 2,6% ao ano (Prochnik, 2002). Esse
dinamismo é acompanhado por importantes mudanças no segmento de vestuário ao
longo dos anos 1990 que se articulam às transformações na indústria têxtil mundial
desde meados da década de 1970.
A perda de competitividade dos tradicionais produtores de confecções, como os
Estados Unidos e Europa, em relação aos países periféricos como Coréia do Sul,
Taiwan, Honk Kong, Indonésia, Tailândia, Índia e Paquistão, levou os primeiros a
promoverem importantes mudanças em suas estratégias competitivas. Para enfrentar a
concorrência, os produtores norte-americanos e europeus investiram pesadamente em
novas tecnologias de criação e processo, além de adotar estratégias de marketing
altamente agressivas, ampliando a velocidade do lançamento de novas coleções e
diversificando as linhas de produtos. As estratégias dinâmicas da indústria contribuem
para tornar cada vez mais voláteis as demandas da moda, pressionando, dessa forma,
pela redução dos tempos de criação, produção e comercialização de artigos
confeccionados.
Além disso, segundo Castro (2004, p.5), “a proximidade com os centros
consumidores e/ou a existência de acordos regionais ou bilaterais, envolvendo
preferências tarifárias, (também) têm sido fatores decisivos para a integração de
economias periféricas a essas redes dinâmicas. No caso da Europa, a sub-contratação
tem se dirigido para a Turquia, alguns países do Norte da África e do leste europeu. Já
os EUA têm integrado em seu circuito de produção de confecções, principalmente, o
México e a América Central. A proximidade é um fator relevante, na medida em que se
exige grande agilidade para se atender aos ditames de moda cada vez mais volátil. De
outro lado, como toda a cadeia têxtil conta com uma proteção tarifária bastante superior
45
à média dos demais setores, a existência de acordos de preferência tarifária tem forte
impacto sobre os custos”.
Entretanto, a proximidade não é o único fator relevante. O preço e a habilidade
da mão-de-obra também contam. Apesar de haver uma tendência à regionalização na
cadeia de commodities na Ásia, América do Norte e Europa, no caso dos Estados
Unidos, por exemplo, os países que conseguiram acesso ao seu mercado foram aqueles
capazes de exportar “pacote completo” (Honk Kong, Taiwan e Coréia do Sul) ou
aqueles que vêm tentando fazê-lo, e que possuem custos mais baixos (caso da China).
Dessa forma, a proximidade não é o fator crucial nesta cadeia global44. O tipo de
serviço (especialmente “pacote completo”) é bastante relevante neste cenário, tanto que
as grandes empresas de varejo e as comercializadoras de marcas conhecidas, que
utilizam encomendas do tipo “pacote completo”, o fazem nos países asiáticos (Honk
Kong, Taiwan e Coréia do Sul). Países como México e do Caribe, se quiserem competir
no mercado norte americano com produtos de maior valor agregado terão que
desenvolver este tipo de serviço.
Nesse sentido, a tendência à proximidade co-existe com a visão de cadeia global
neste setor. Não é desejável sua abordagem em separado, já que a existência de uma não
implica, necessariamente, na exclusão da outra. Além disso, tanto a proteção quanto a
existência de acordos de preferência tarifária têm forte impacto sobre os custos e a
competitividade na cadeia têxtil-confecções.
3.1) Perspectivas pós-2005: o fim das barreiras à importação de têxteis e
confeccionados
Após a Segunda Grande Guerra, diversos países em desenvolvimento (inclusive
o Japão) passaram a exportar crescentes quantidades de têxteis e confeccionados de
algodão para diversos países desenvolvidos. Países como Estados Unidos, França e
Reino Unido, entre outros, ao perceberem sua indústria doméstica ameaçada, sobretudo
empregos, por importações mais baratas, assinaram uma série de acordos limitando a
quantidade exportada por aqueles países em têxteis de algodão.
Em 1961, trinta países assinaram um Acordo de Curto Prazo sobre o Algodão,
no qual haveria uma cota em volume por exportação de têxteis de algodão (produtos
44 As principais cadeias globais serão analisadas na próxima seção.
46
contendo 50% ou mais de algodão por peso). Este acordo foi seguido pelo Acordo de
Longo Prazo sobre o Algodão (1962 – 1973).
À medida que os países exportadores atingiam o limite quantitativo de suas
cotas, começaram a procurar novas maneiras de aumentarem sua participação no
mercado através da produção de fibras sintéticas. Por isso, alegando procurar atender
aos interesses da indústria e dos trabalhadores, os países desenvolvidos procuraram um
novo acordo que abrangesse uma maior gama de produtos têxteis.
Em 1974 foi assinado o acordo Multifibras que objetivava, principalmente, a
contenção de exportações, através do estabelecimento de cotas e tarifas. Neste acordo,
predominavam as negociações bilaterais e os países em desenvolvimento foram os mais
prejudicados, pois, além das restrições quantitativas, era permitido que os países
desenvolvidos adotassem certas medidas de caráter extraordinário para defender os
produtos nacionais (Prochnik, 2003). Em 1995, os Estados Unidos negociou 750 cotas
restritivas com quarenta países exportadores, incluindo a China e o Japão. Centenas de
categorias de produtos foram estabelecidas nas quais cotas (em unidades físicas) e taxas
de crescimento anuais foram determinadas individualmente (Chiron, 2004).
No entanto, em 1994, o Acordo sobre Têxteis e Vestuário (ATV) nasce como
resultado de oito anos de negociações (1988 – 1994), na Rodada do Uruguai. O novo
ATV tem o intuito de liberalizar o comércio deste setor em dez anos, entre 1995 e
janeiro de 2005. Neste período, as regras do antigo Acordo Multifibras foram
gradualmente desmanteladas, eliminando-se as restrições quantitativas impostas aos
produtos. O ATV reduz, gradualmente, a quantidade de produtos que estão sujeitos às
restrições e aumenta o tamanho das cotas de importações. Com isso, os produtos,
gradativamente, deixam de ser governados pelo ATV e passam a submeter-se às regras
da OMC (Prochnik, 2003).
A tabela III.4 resume as quatro fases deste processo: Tabela III.4 – Percentagem mínima do volume de importações de cada país, em relação à 1990, que
deve ter cota removida
Data inicial
% do volume físico de
comércio de cada país,
em relação a 1990, cuja
cota deve ser removida
% cumulativa do volume
físico de comércio de
cada país, em relação a
1990, cuja cota deve ser
removida
Fase 1 01/01/1995 16% 16%
Fase 2 01/01/1998 17% 33%
47
Fase 3 01/01/2002 18% 51%
Fase 4 01/01/2005 Restrições eliminadas 100% Fonte: Chiron, 2004.
No entanto, mesmo no período pós-2005, espera-se que existam limites para a
liberalização total do comércio45. Estes limites podem ser agrupados em quatro grupos
(Chiron, 2004):
I) Salva-Guardas genéricas dentre das regulações da OMC: Sob o artigo XIX
do GATT, um membro da OMC pode restringir importações por um período
de até oito anos para proteger uma específica indústria doméstica caso um
aumento das importações “cause sérios danos à indústria”.
II) Permanência do velho regime para não-membros da OMC: Mesmo após
2005, países exportadores não-membros da OMC ainda terão cotas sobre
suas exportações de têxteis e confeccionados, definidos por acordos
bilaterais.
III) Salva-Guardas específicas negociadas com a China: Apontada como a
principal beneficiada da liberação comercial de têxtil e confeccionados, a
China é vista como a maior ameaça ao emprego nos Estados Unidos,
segundo o Instituto Americano de Fabricantes Têxteis (IAFT) e outras
organizações. De acordo com o IAFT, num estudo focado sobre a China,
durante os seis primeiros meses de 2003 (3ª fase), a malharia chinesa
exportada para os Estados Unidos cresceu 22%; no mesmo período, a
exportação de luvas da China para os Estados Unidos triplicou, e a
exportação de roupa de dormir e vestidos mais que quadruplicou.
Dessa forma, até 2013 o comércio com a China de têxteis e confeccionados
será sujeito a regras de limites e salva-guardas específicas.
IV) Continuação de tarifas preferenciais nos acordos de comércio regionais
(como o NAFTA e a União Européia): Após 2005, espera-se que tarifas
especiais tome o lugar das cotas por volume como fator determinante do
comércio de têxteis e confecções.
Segundo Prochnik (2003, p.9), “também existe um receio de que as quotas
possam vir a ser substituídas, nos países desenvolvidos, por outros tipos de barreiras não
45 Ver também: Abernathy, Dunlop, Hammond & Weil (1999, 2004) e Abernathy, Volpe & Weil (2004).
48
tarifárias. Entre estes, são usualmente mencionadas as mudanças nas regras de origem,
investigações antidumping (o número de investigações vem crescendo rapidamente) e
medidas que, em princípio, deveriam ter como objetivo a proteção do meio-ambiente e
os padrões de trabalho”.
Nesse cenário, parece pouco provável que o Brasil encontre um lugar de
destaque nesses mercados. Uma vez que o comércio internacional é muito assimétrico, e
os acordos parecem ser essenciais para assegurar a continuidade das exportações dos
grandes grupos, tais acordos poderiam beneficiar as empresas mais competitivas caso
elas protegessem os mercados externos contra uma “invasão asiática”. O aprimoramento
da qualidade, produtividade e inovatividade (produtos e processos) são fatores
determinantes para uma política de competitividade para a busca do verdadeiro mercado
potencial do Brasil: o interno e o regional (Mercosul, principalmente). E a abordagem
de arranjos produtivos locais parece essencial para a busca desses fatores,
principalmente em relação à inovatividade, que depende, além dos fatores políticos,
também de especificidades particulares locais que estes arranjos façam parte.
4) A nova organização da indústria têxtil-confecções nos países desenvolvidos: as
cadeias produtivas globais
A indústria de confecções tem sido uma das mais profundamente afetadas pela
difusão das tecnologias de base microeletrônica e pelo processo de globalização a ela
associado. Nos últimos 20 anos, tais tecnologias permitiram a reorganização da
produção e distribuição de confecções em escala mundial de maneira a alterar
significativamente o padrão de concorrência no setor. As taxas de crescimento das
exportações de confecções têm se situado, nas últimas duas décadas, acima das taxas de
crescimento do comércio mundial como um todo.
Esta reorganização da produção em escala global tem significado, de fato, que
grandes distribuidores de confecções nos países mais avançados (lojas de departamento
e alguns supermercados, como o Wal-Mart, K-Mart e Sears) têm constituído e
coordenado cadeias de commodities às quais empresas – particularmente MPEs –
organizadas em arranjos produtivos em diferentes países do Sudeste Asiático, Leste
Europeu e América Central têm se integrado. Tal integração tem se realizado de forma
tal que as atividades de maior agregação de valor (design, inovação, etc.) tem se
mantido nos países centrais, restando às MPEs dos países em desenvolvimento um
49
papel de produção com baixo valor agregado e pequena geração de renda local (Peixoto
& Cassiolato, 2004). A Benetton foi provavelmente a primeira empresa cujo
funcionamento ilustrou essa nova dinâmica.
As empresas do setor de confecções nos países desenvolvidos foram
gradualmente se desfazendo das operações de menor valor agregado, mais
especificamente as atividades de montagem, as quais sendo realocadas em países
subdesenvolvidos. Passaram, então, a se concentrar nas atividades de marketing, design
e de desenvolvimento dos produtos.
Nesse sentido, observa-se uma clara tendências das grandes empresas de
abandonarem a produção de commodities e, mantendo a liderança tecnológica e/ou
mercadológica, passarem a organizações de cadeias produtivas (globais) através da
terceirização da produção.
Para muitos países subdesenvolvidos, a entrada no mercado internacional vem
sendo feita através da indústria têxtil-confecções. Isto se aplica em especial ao caso dos
países asiáticos, que a iniciaram dentro de uma estratégia essencialmente manufatureira,
passando, posteriormente, a dominar determinadas etapas do processo produtivo, de
design e marketing. No entanto, este tipo de estratégia de aprimoramento na posição de
mercado está extremamente dependente da demanda, pois, esta cadeia produtiva passou
a ser comandada pelos compradores. Dessa forma, uma empresa (ou grupo de empresas)
que ocupe posição estratégica na cadeia produtiva, estabelece como deverão se
comportar as demais participantes da cadeia e que resultados poderão almejar.
Por isso, a abordagem de cadeias produtivas globais se refere a um tipo de
organização voltada a atender especificidades/características dos mercados
consumidores dos países desenvolvidos, não estando preocupada com o real
aprimoramento da produção nos países subdesenvolvidos. As cadeias globais atendem,
basicamente, aos países do Norte, ou seja, atendem às camadas de renda média e alta
desses países. A maior camada da demanda, que se situa nos países subdesenvolvidos e,
conseqüentemente, possuem rendas mais baixas, estão fora desta lógica produtiva. Por
isso, a inserção nestas cadeias de produção e os mecanismos de aprimoramento
sugeridos no seu âmbito não atende às reais necessidades dos países subdesenvolvidos,
pelo contrário.
Neste sentido, esta abordagem pode ser utilizada, também, como uma forma de
interpretar o próprio movimento da globalização, relacionado à estrutura de poder
mundial no sentido de uma “triadização” em relação ao mercado global.
50
Vejamos em seguida os principais modelos de organização de empresas que
exercem o controle de cadeias produtivas na indústria de confecções.
4.1) As cadeias de commodities/valores46
Uma cadeia de commodities/valores se caracteriza como uma seqüência de
atividades requeridas para trazer um produto (ou serviço) desde sua concepção até o
consumidor final, contando com uma organização produtiva onde há uma típica divisão
(internacional) do trabalho nas diferentes etapas produtivas. As etapas referentes,
principalmente, à montagem - intensiva em mão-de-obra mais barata -, estão designadas
aos países periféricos, enquanto as atividades que são responsáveis por maior agregação
de valor - atividades envolvidas, principalmente, em design, produção e marketing - se
concentram nos países centrais.
Esta divisão internacional do trabalho “é um processo cujo resultado é a divisão
territorial do trabalho” (Santos, 2004, p.132), que “cria uma hierarquia entre lugares e,
segundo a sua distribuição espacial, redefine a capacidade de agir de pessoas, firmas e
instituições” (Santos, 2004, p.135). Nesse contexto, as “vantagens comparativas” da
típica divisão do trabalho não se dão apenas em relação aos recursos disponíveis, social
e geograficamente, como matérias-primas específicas e habilidade da mão-de-obra, mas,
principalmente, em relação aos custos desta mão-de-obra e capacidade tecnológica de
diferentes regiões e países. Ou seja, dependendo da cadeia considerada, determinados
segmentos do processo produtivo estarão em melhores condições de definir a dinâmica
de funcionamento da própria cadeia e mesmo suas futuras trajetórias de
desenvolvimento (Rochlin, 2004), como ocorre na cadeia produtiva global de
confecções.
Para Gereffi (1999, 2002), no capitalismo global a “internacionalização” se
refere ao espalhamento geográfico das atividades econômicas além das fronteiras
nacionais. Já a “globalização”, implica numa integração funcional entre atividades
dispersas internacionalmente. O funcionamento das cadeias produtivas globais, na sua
visão, atende a esta lógica, sem que alguma consideração quanto às diferenças
existentes os países seja considerada. Pelo contrário, para ele, a participação nesta
46 Abordarei, nesta seção, as cadeias de commodities e valores como sinônimas, baseadas, principalmente, nos trabalhos de Gereffi (1999, 2002) e Gereffi & Memedovic (2003), que se tornaram a referência
51
configuração não só se torna desejável como necessária para o aprimoramento industrial
das empresas nos países periféricos “because it puts firms and economies on potentially
dynamic learning curves” (Gereffi, 1999, p.39).
No entanto, como já ressaltado anteriormente, configura-se uma situação que é
permitida à grande empresa utilizar técnicas e capitais do centro, e mão-de-obra (e não
raras vezes capitais) da periferia, reforçando tanto a tendência à internacionalização das
atividades econômicas dentro do sistema capitalista quanto o aumento da dependência
dos países periféricos em relação aos centrais. Esta configuração não permitirá aos
países subdesenvolvidos aprender para se desenvolverem como os países
desenvolvidos, como acredita Gereffi, mas sim exercerem um papel de submissão
participando de uma concorrência predatória.
Para ele, a configuração da globalização fora promovida por empresas
industriais e comerciais que estabeleceram dois tipos básicos de estruturação das
cadeias econômicas internacionais: as lideradas por produtores (Producer-driven
commodity chains) e aquelas lideradas por compradores (Buyer-driven commodity
chains).
As primeiras encontram-se as cadeias onde os setores fornecedores dos produtos
assumem papel preponderante na dinâmica das relações intra-setoriais. São aquelas em
que grandes firmas, em geral transnacionais, exercem o controle central da cadeia
produtiva (incluindo as ligações para trás e para frente da cadeia produtiva). São
características de indústrias intensivas em capital e tecnologia como a automobilística,
aérea, computadores, semicondutores e maquinário pesado.
Por outro lado, o segundo tipo se refere àquelas indústrias nas quais grandes
empresas de varejo, de empresas que comercializam, mas não produzem, produtos de
marcas conhecidas e de grandes trading companies exercem o controle da rede global
de fornecimento, descentralizada numa variedade de países exportadores, tipicamente
subdesenvolvidos.
De acordo com Rochlin (2004), nesse tipo de cadeia as grandes empresas de
varejo e as empresas que comercializam marcas consagradas ocupam-se das etapas da
produção relativas às atividades de design, marketing e varejo, encomendando o
fornecimento do produto final, segundo especificações estritas, às unidades localizadas
em regiões onde os custos de produção são relativamente mais baixos. Não por acaso,
principal para esta análise. No entanto, retomarei esta discussão no item 5 deste capítulo apresentando uma outra perspectiva sobre a questão.
52
essas unidades concentram as etapas da produção mais intensivas no uso do fator
trabalho, como a costura das peças e a aplicação de acessórios, que representam as
etapas de menor valor agregado.
Uma vez que tais unidades utilizam intensivamente o fator trabalho – em geral
pouco qualificado – nas confecções, as companias transnacionais optaram por não
estimular as vantagens potenciais específicas das firmas beneficiadas pelo investimento
direto estrangeiro em cada localidade. Ao invés disso, elas priorizaram outras formas de
atividades transnacionais, como a importação de artigos de vestuário prontos, licenças
para utilização de marcas registradas e sub-contratação internacional de operações de
montagem. Estas várias atividades levaram ao surgimento de diversas empresas
controladoras (lead firms) nas cadeias de commodities lideradas por compradores.
O que, de fato, distingue as empresas controladoras (lead firms) das demais
(non-lead firms) é que elas detêm o controle do acesso aos recursos (design, novas
tecnologias, marcas consagradas ou controle sobre o mercado consumidor) que geram
maior lucratividade.
Existem, basicamente, três tipos de empresas controladoras na cadeia de
commodities de confecções: i) Grandes empresas de varejo (retailers); ii) Empresas que
comercializam, mas não produzem, marcas conhecidas (marketers); e iii) Grandes
empresas produtoras que exercem o controle da rede global de fornecimento (branded
manufactures). Como a produção no segmento de confecções se tornou global (no
sentido empregado por Gereffi, principalmente) e a competição entre estas empresas
tem se intensificado, cada uma delas vem desenvolvendo, ao longo do tempo, uma
capacidade de organizar os recursos globalmente.
I) Varejistas (Retailers): Estas grandes empresas de varejo estão ocupando espaços cada
vez mais significativos na comercialização de confecções. Elas eram, até pouco tempo,
os grandes fregueses das confecções nos seus países. No entanto, elas vêm se tornando,
cada vez mais, suas principais concorrentes, principalmente em função da demanda do
consumidor por melhores preços, recorrendo, dessa forma, à importação. A simples
comercialização através de grandes redes de distribuição já cria um canal alternativo de
comercialização que privilegia empresas de confecções que adotem estratégias de
padronização, alta escala e preços baixos. Nesse sentido, sua capacidade competitiva se
concentra nesses quesitos (preços baixos, grandes quantidades e produtos
padronizados). Apesar disso, sua lucratividade é bastante alta.
53
Em geral, tais empresas recorrem a mecanismos de sub-contratação onde
fornecem a matéria-prima para as montadoras (assembly), ou ainda fazendo
encomendas do tipo full-package47. São exemplos: Wal-Mart, K-Mart, Sears entre
outros.
II) Branded Marketers: São empresas que comercializam, mas não produzem, produtos
de marcas conhecidas. Estes ‘fabricantes sem fábricas’ incluem empresas como Nike,
Reebok, Calvin Klein, entre outras. Este tipo de atividade vem se difundindo entre estas
grandes empresas desde meados dos anos 1970 como uma reação à competição dos
países produtores de confecção em todo o mundo.
Como as grandes empresas varejistas, estas empresas que comercializam marcas
consagradas ocupam-se das etapas da produção relativas às atividades de design e
marketing, encomendando o fornecimento do produto final, segundo especificações
estritas, às unidades localizadas em regiões onde os custos de produção são mais baixos.
No entanto, sua capacidade competitiva não se dá via preços e sim pela qualidade e
marca.
III) Branded Manufactures: Estas grandes empresas ‘produtoras’ de grandes marcas se
caracterizam, principalmente, por exercer o controle da rede global de fornecimento.
Uma vez que a produção estrangeira (em relação às grandes empresas
localizadas em países desenvolvidos) é capaz de prover o mercado consumidor de forma
similar – em relação à quantidade, qualidade e serviço – às empresas domésticas (países
desenvolvidos), mas a preços mais baixos, os grandes produtores se viram numa
posição difícil. Dessa forma, diferentes empresas estão respondendo de diferentes
maneiras. As pequenas empresas americanas e européias, percebendo a impossibilidade
de competir com os custos estrangeiros mais baixos, passaram a importar desses países.
As grandes empresas, no entanto, não mais se preocupam com a possibilidade de se
utilizarem da produção estrangeira e sim como organizá-la e controlá-la. Estas firmas
fornecem insumos intermediários como peças cortadas de fábrica, linhas, botões e
outros ornamentos, para grandes cadeias de fornecedores estrangeiros, em geral países
com proximidade geográfica que gozam de acordos comerciais favoráveis, permitindo
47 Estes tipos de sistemas produtivos serão apresentados na próxima seção.
54
que o produto final seja reimportado com tarifa incidente somente sobre o valor
agregado relativo ao trabalho.
É necessário ressaltar que, cada vez mais, estas empresas estão deixando de
produzir nos seus países de origem, não raro transferindo quase toda a planta produtiva
para outros países48. Dessa maneira, pode-se prever que, se este tipo de relação
internacional continuar, as branded manufactures deixarão de produzir o que ainda resta
para se tornarem branded marketers de uma marca única.
As possibilidades surgidas deste novo quadro, de se encomendar a fabricação de
produtos sob estrita especificação do comprador e de se realizar etapas distintas da
produção em diferentes países, sob a coordenação das empresas transnacionais, tem
implicado no acirramento da concorrência entre grandes varejistas e fabricantes
tradicionais, americanos e europeus. Tanto os varejistas têm promovido a criação de
redes globais de fornecedores, para os quais indicam as especificações relativas ao
design do produto, recebendo o produto final de acordo com estas instruções, como os
grandes fabricantes de marcas próprias têm estabelecido redes regionais de fabricação
que incluem a indicação não só das especificações do produto mas também o
fornecimento dos próprios insumos envolvidos na produção. Junto a isso, verifica-se a
criação de parcerias estratégicas com empresas dos países subdesenvolvidos e a
constituição de redes de sub-contratação baseadas nesses mesmos países. Enquanto os
varejistas intensificam suas estratégias de atuação, internacionalizando suas fontes de
fornecimento, e deslocando com isso a oferta de empresas tradicionais, os fabricantes
americanos e europeus buscam se adaptar a nova configuração do mercado, utilizando-
se de estratégias que contemplam o estabelecimento de associações com fabricantes dos
países subdesenvolvidos ou a abertura de suas próprias unidades produtoras nesses
países (Rochlin, 2004).
Este sistema de sub-contratação internacional existe em cada região do mundo.
Em relação aos Estados Unidos, este tipo de relação se dá, predominantemente, com o
México, América central e Caribe; na Europa, os principais fornecedores estão no norte
48 O exemplo italiano é indicativo desta tendência: “According to empirical evidence and personal interviews, Italian manufactures tend to keep at home the global study, product development, organization and commercialization phases, while relocating the productive phases in low labour cost countries. Progressively, companies tend to maintain in Italy only the productive structures that are capable of responding to small runs and emergency orders in very brief delays or else in upmarket and niche production, requiring specific expertise. From the cost point of view, relocation is more convenient the bigger and more standardized are the amounts of products required. In this sense, the bigger the dimension of the firm, the bigger the frequency of relocation should tend to be”(Graziani, 1998).
55
da África e Europa Oriental; e na Ásia, fabricantes como Honk Kong subcontratam da
China e outros países de salários mais baixos.
Nesse sentido, a indústria de confecção é ideal para se analisar a dinâmica destas
cadeias lideradas por compradores, principalmente quando se leva em consideração que
estas cadeias são caracterizadas pela alta competitividade e pelo sistema de produção
descentralizado com baixas barreiras à entrada, além do protecionismo ainda existente
por parte dos paises desenvolvidos no setor. Dessa forma, convém analisar como se dá o
sistema de produção internacional com seus mecanismos de sub-contratação e os
mecanismos de aprimoramento (upgrading) sugerido nesta abordagem.
4.2) Mecanismos de sub-contratação
A liberação do comércio internacional ao longo dos últimos anos, aliada ao
grande desenvolvimento dos meios de comunicação e informação49, possibilitaram às
grandes empresas transnacionais reestruturarem suas estratégias produtivas em relação à
sua demanda por confecções. Por um lado, existe a contratação da montagem do
produto final onde etapas intermediárias como costura das peças, na qual se utilizam
insumos e especificações técnicas que são fornecidas pelas empresas transacionas
contratantes. Por outro lado, existe a aquisição do produto já acabado, ainda segundo
especificações do comprador, no entanto, não havendo envolvimento deste no processo
de confecção. Neste caso, o comprador não fornece insumos e componentes para a
realização do processo de montagem, sendo de responsabilidade do fabricante a entrega
do produto final acabado. Em ambos os casos, as etapas de criação, design e marketing
49 A modernização das manufaturas na qual uma variedade de avanços tecnológicos que estimularam as empresas a produzirem uma maior diversidade de produtos mais rapidamente e eficientemente tem recebido bastante atenção nos últimos anos. Segundo Hwang & Weil (1998, p.4), “the adoption of advanced manufacturing practices by apparel business units occurs in the context of change in the basic relationship between apparel suppliers and their retail customers. Retail practice is being transformed by the incorporation of information processing technologies, major investments in automated distribution centers, and the creation of new pricing, inventory, and logistic strategies which draw on these investments. Innovative retailers who have made these investments attempt to reduce their exposure to demand risk by adjusting the supply of products at retail outlets to match consumer demand on the basis of daily, point of sale information flowing from bar-code scanners within individual stores. These retailers consolidate this data and use it to generate orders from suppliers based on actual sales. As a result, they require that suppliers compete not only on the basis of price, but on their ability to meet “rapid replenishment” requirements (i.e. a reduced amount of time from receipt of the retail order to arrival of the ordered goods at the retail distribution center), and provide associated services required to move supplier shipments rapidly through retail distribution centers and to individual stores for stocking”. Apesar de reconhecer a importância desta questão na dinâmica produtiva global na indústria de confecções, as especificidades da mesma não serão amplamente discutidas neste trabalho.
56
(atividades de maior valor agregado) permanecem sob a responsabilidade das grandes
empresas contratantes.
Existem, basicamente, três mecanismos de sub-contratação internacional:
I) Montagem (Assembly): Forma de sub-contratação industrial na qual as
plantas produtivas de confecção se utilizam de insumos importados para
montagem; comum em Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs).
II) Fornecedores de Pacote Completo (Full-Package ou OEM – Original
Equipment Manufacturing): Forma de sub-contratação comercial na qual a
empresa fornecedora faz o produto de acordo com o design especificado pelo
comprador; o produto é vendido com a marca do comprador; o fornecedor e
o comprador são empresas separadas; e o comprador não tem controle sob a
distribuição.
III) Fabricante Original de Marca Própria (OBM – Original Brandname
Manufacturing): Forma de aprimoramento na qual o fabricante passa de
‘fornecedor de pacote completo’ para desenvolver seu próprio design e
vender os produtos com marca própria.
Na cadeia de commodities de confecções tanto as grandes empresas de varejo
quanto aquelas que comercializam, mas não produzem, grandes marcas, em geral,
contam com a cadeia de fornecimento do tipo ‘Pacote Completo’. Por outro lado, as
grandes produtoras de grandes marcas contam com as cadeias produtivas focadas na
montagem utilizando insumos importados. Segundo Gereffi et al.(2003), a cadeia de
fornecimento do tipo ‘Pacote Completo’ é geralmente global, enquanto a cadeia
produtiva das produtoras de grandes marcas são predominantemente regionais.
Nesse sentido, as empresas transnacionais, a partir da redução das barreiras
tarifárias dos países desenvolvidos (inicialmente por força do Acordo Internacional
Multifibras – MFA)50, aliadas à formação de grandes blocos regionais, adotando a
estratégia de coordenar a formação de redes globais de produção, passaram a buscar na
Ásia, México, Europa Oriental, norte da África e Caribe outras fontes de fornecimento.
De acordo com Gorini (2000, p.20), “cabe destacar a forma de atuação de alguns
blocos de comércio. Dentro do NAFTA, por exemplo, os Estados Unidos exportam
50 O item 3.1 deste capítulo tratou da evolução das barreiras tarifárias, bem como a perspectiva do fim das mesmas a partir de janeiro de 2005.
57
tecidos pré-cortados e outras matérias-prima para o México, que fica responsável pela
confecção e re-exportação para o mercado norte-americano, em condições de acesso
privilegiadas. Não obstante, as matérias-prima utilizadas devem ser obrigatoriamente
provenientes do NAFTA. Nesses mesmos moldes, os países do Caribe, sob o
“Caribbean Basin Economic Recovery Act” (CBERA), também têm vantagens de
acesso ao mercado norte-americano, com a presença de grandes confecções, bastante
modernas, especializadas em fornecer para o mercado norte-americano. As ZPEs
caribenhas desenvolveram nichos de exportação altamente especializados, tais como
roupas íntimas, cabendo destacar que República Dominicana, Costa Rica, Honduras e
El Salvador fornecem mais de 40% de todas as importações norte-americanas desse
segmento. Assim como o NAFTA, o CBERA e o mercado dos Estados Unidos, os
países da Europa Central e Oriental, incluindo a Turquia, são outro exemplo de acesso
privilegiado ao mercado europeu, através do chamado “Outward Processing Trade”
(OPT), que consiste na exportação de tecidos para os países vizinhos, de mão-de-obra
barata, para serem confeccionados e re-exportados para a União Européia, com tarifas
(quando aplicáveis) somente sobre o valor adicionado”.
Nesse sentido, fica claro que “a inserção desses países no comércio internacional
faz crer que os padrões de organização e produção adotados implicam na promoção de
determinados atributos produtivos (...) que possibilitaram uma maior ou menor
capacitação das empresas locais para o atendimento da demanda das empresas
transnacionais” (Rochlin, 2004), ou seja, é a combinação dos interesses dos grandes
compradores (big buyers) com as potencialidades colocadas por cada um dos modelos
de organização produtiva que as atendem que vai condicionar a promoção de uma dada
inserção competitiva das indústrias desses novos países competidores.
Em outras palavras, a própria dinâmica competitiva desses países depende, em
última instância, da dinâmica inovativa, organizacional, entre outras, das grandes
empresas dos países desenvolvidos.
4.3) Aprimoramento (Upgrading) Industrial na cadeia de
commodities/valores de confecções a partir da perspectiva das cadeias produtivas
globais: o caso dos tigres asiáticos
A idéia de “aprimoramento industrial” é associada à posição de que existe uma
trajetória através da qual empresas evoluem para etapas mais sofisticadas da cadeia
58
produtiva. O processo no qual isto ocorre se dá através do aumento na capacidade de
uma firma (ou uma economia) de evoluir para nichos de mercado mais lucrativos e/ou
mais intensivos tecnologicamente, em detrimento do uso intensivo do fator trabalho
para nichos econômicos intensivos em capital e maiores habilidades (capital and skill).
Em outras palavras, é a evolução dentro da cadeia produtiva para etapas responsáveis
por maior agregação de valor.
Segundo esta perspectiva, a participação nas cadeias de commodities global é
uma condição necessária para o aprimoramento industrial. Ainda que as condições
pareçam restritivas e impeditivas para uma evolução significativa, as empresas que
adotarem uma postura de aprendizagem, e conseguirem aproveitar os espaços que a
dinâmica das cadeias produtivas oferecem, serão capazes de tornar este progresso
possível51.
No caso das empresas asiáticas, o aprimoramento envolveu um extensivo
processo de aprendizagem organizacional que se deu na própria estrutura da cadeia
produtiva. Inicialmente, estas empresas eram fornecedoras OEM das grandes marcas
mundiais. Baseadas num forte processo de aprendizagem sobre as preferências de
clientes estrangeiros, assim como sobre os critérios de estabelecimento dos padrões
internacionais de preços, qualidade e entrega, e a preocupação com o desenvolvimento
de máquinas e equipamentos, algumas empresas passaram de fornecedoras de “pacote
completo” (OEM) para fabricante de seu próprio design e marca. Em Honk Kong, as
empresas de vestuário têm sido as de maior sucesso nesta transição. A cadeia de roupas
femininas Episode, controlada pelo Honk Kong’s Fang Brothers Group, um dos maiores
fornecedores OEM para a Liz Clairbone nos anos 1970 e 1980, tem lojas em 26 países,
sendo apenas um terço delas na Ásia. A Giordano, marca de roupas mais famosa de
Honk Kong, adicionou à sua base inicial de fábricas de vestuário 200 lojas em Honk
Kong e China, e mais 300 lojas de varejo espalhadas pelo sul da Ásia e Coréia.
Recentemente, entrou nos Estados Unidos através da aquisição das marcas Tommy
Hilfiger e Liz Clayborne.
51 Adotar uma postura de aprendizagem, nesta perspectiva, implicitamente, significa adotar uma postura de submissão à organização produtiva comandada pelos países centrais. A idéia que se tem aqui é que a não adoção desta postura significa um "estado estacionário" de subdesenvolvimento. Como veremos nas próximas linhas, o caso asiático se caracterizou mais por uma postura da adoção de políticas de desenvolvimento do que por uma "aprendizagem passiva" nas cadeias de commodities.
59
Para Gereffi (1999), o sucesso do caso asiático se deu porque as empresas se
aproveitaram do fluxo de informações associados às relações com os compradores, para
ele, fundamentais neste processo:
“At the organization level, industrial upgrading in East Asia’s apparel
commodity chain was produced by the information flows and learning
potential associated with the buyer-seller links established by different
types of lead firms (retailers, marketers and manufactures), and also
by a distinctive pattern of organization sucession among these lead
firms, who placed varied kinds of demands on their overseas
suppliers”(Gereffi, 1999, p.52).
Fica claro, dessa forma, que o aprimoramento destas firmas está, segundo esta
abordagem, fortemente relacionado à dinâmica dos grandes compradores quando estes
passam a demandar produtos mais sofisticados, de melhor qualidade52. É o típico
cenário dos países subdesenvolvidos que dependem da dinâmica dos desenvolvidos,
mais especificamente, das grandes empresas localizadas naqueles países.
Entretanto, algumas observações merecem destaque. Em primeiro lugar, o
desenvolvimento de equipamentos, como ocorreu nas empresas asiáticas, é uma parte
indissociável do processo de aprendizagem sobre uma determinada indústria; ele
representa o real entendimento e o domínio das tecnologias de produção de um
determinado produto. Dificilmente, um país poderá almejar uma posição forte na
indústria têxtil se, em algum estágio de sua trajetória, não dominar os conhecimentos
sobre a produção de máquinas e equipamentos. Em segundo lugar, a forma na qual
ocorreu o desenvolvimento na indústria têxtil nos países asiáticos foi, em grande parte,
justificado pela necessidade de contornar uma série de restrições provenientes das cotas
impostas pelo Acordo Multifibras. Por isso, acredito que o asiático seja mais um caso de
implantação de políticas de desenvolvimento com objetivos estruturados de
concorrência do que um caso de aprimoramento proveniente da sinergia existente
daquelas empresas com as grandes dos países desenvolvidos.
Nesse sentido, fica claro que estratégias de aprimoramento mais “ambiciosas”
podem ir de encontro aos interesses dos grandes compradores. Uma das grandes
52 “This sucession of foreign buyers thus permitted manufactures to upgrade their facilities as they met buyer demands for more sophisticated products” (Gereffi, 1999, p.39).
60
“fragilidades” desta abordagem ocorre, principalmente, ao não se levar em conta a
importância de políticas de desenvolvimento e das estruturas de concorrência, tratando,
em última instância, a possibilidade ou não de aprimoramento de acordo com os
interesses e dinâmica das grandes empresas líderes. Por isso, diferentes abordagens a
respeito das cadeias produtivas de commodities/valores, que apontem os limites ao
aprimoramento, devem ser discutidas.
5) Diferentes abordagens da cadeia de valores e os limites ao aprimoramento
industrial
Até aqui procurei tratar cadeia de commodities e cadeia de valores como
sinônimos, baseada na análise de Gereffi (1999, 2002), que se tornou a principal
referência nesta literatura. No entanto, algumas limitações vêm sendo observadas a
respeito desta abordagem.
Schmitz (2003) destaca que o termo cadeia de commodities é “traiçoeiro”. O
problema com o termo é que “commodity” tende a ser associada a produtos
estandardizados, produzidos em larga escala, enquanto a maior parte das pesquisas se
volta para a fabricação e comercialização de produtos diferenciados - que é a principal
característica na cadeia têxtil-confecções na busca de agregação de valor. Nesse sentido,
o termo cadeia de valores tem a vantagem de chamar a atenção para a questão de quem
adiciona valor onde ao longo da cadeia.
A abordagem de Gereffi (1994, 1999) procura ressaltar que a analise sobre
cadeias globais resgata a dimensão internacional de cadeias produtivas e os modos de
coordenação ao longo destas cadeias como um elemento chave na busca de vantagens
competitivas. Além disso, considera que a inserção em uma cadeia oferece aos
produtores locais a possibilidade de embarcar numa trajetória progressiva de
capacitação (aprimoramento) através dos processos de aprendizado e novos
conhecimentos adquiridos a partir da interação com compradores globais.
No entanto, Vargas (2002) destaca que na medida em que a literatura sobre
aglomerações industriais passou a avançar na discussão sobre o impacto de vínculos
externos no processo de aprimoramento de produtores locais nos países
subdesenvolvidos, seus pontos de divergência com relação à abordagem sobre cadeias
globais de produção foram explicitados.
61
Em primeiro lugar, o enfoque sobre cadeias globais de Gereffi ainda apresenta
um alcance limitado na análise sobre o papel de atores locais nas estruturas de
coordenação e estratégias de capacitação em arranjos e sistemas produtivos. Dessa
forma, a ênfase nas formas de coordenação que operam ao longo da cadeia produtiva
global tende a subestimar o papel de outros mecanismos de coordenação tais como
vínculos locais de cooperação e formas de regulação governamental em âmbito nacional
ou internacional.
Em segundo lugar, apesar da inserção em cadeias globais haver facilitado a
capacitação de produtores locais nos países subdesenvolvidos em esferas associadas à
produção, o mesmo não pode ser dito quanto à capacitação desses produtores em esferas
que se estendem além da produção, ou seja, a inserção em cadeias globais pode
dificultar o acesso de produtores locais a etapas da cadeia produtiva que incorporam
maior valor agregado, tais como atividades relacionadas à comercialização e design53.
Por último, Mytelka e Farenelli (2003, p.254) destacam que “where competition
is based on price and wage reductions rather than on quality, technological upgrading
and product innovation, cooperation relationships are rended more difficult”. Em
outras palavras, uma vez que o que realmente interessa aos países centrais quando
transferem a etapa de montagem de sua produção para os países periféricos é o custo da
mão-de-obra, pelo lado dos países periféricos, basear sua capacidade competitiva
(espúria) no baixo custo desta mão-de-obra é estar, quase que conscientemente, se
submetendo e corroborando um contínuo processo de dependência.
Dessa forma, entendendo o aprimoramento enquanto o processo de capacitação
produtiva e inovativa das empresas que integram arranjos e sistemas produtivos locais,
principalmente em países subdesenvolvidos, que resulta da necessidade de enfrentar
pressões competitivas, a inserção destes nestas cadeias globais deve ser feita (se feita)
levando-se em consideração estes limites em relação ao aprimoramento. Ou seja, antes
de fazer parte das cadeias globais, determinado arranjo deve explorar seu potencial de
aprimoramento baseadas na sinergia criada pelo mesmo e sua capacidade de ação
conjunta.
Nesse sentido, Prochnik (2003) chama a atenção para o fato de que o
aprimoramento não depende apenas do aprendizado e do espaço do produtor, de um
53 Esta dificuldade está relacionada aos limites impostos pelos países desenvolvidos ao aprimoramento das empresas localizadas nos países periféricos para se alcançar maior agregação de valor ao longo da cadeia.
62
lado, e do interesse do consumidor do outro. As regras norte-americanas de importação,
por exemplo, desincentivam a iniciativa de aprimoramento nas ZPE’s situadas em
países do Caribe, pois apenas componentes feitos nos EUA são isentos de tarifas,
quando o produto final é exportado de volta para aquele país.
Dessa forma, é relevante para a política comercial brasileira (em especial do
caso estudado no próximo capítulo) procurar evitar esta configuração geral, que
dificulta o aprimoramento de possíveis exportadores.
Schmitz (2003) destaca que melhores oportunidades podem existir em cadeias
de valores de alcance nacional ou em países vizinhos, uma vez que tais cadeias tendem
a ser menos dominadas por grandes compradores, a relação comprador x produtor tende
a ser mais igualitária e o tamanho dos pedidos tendem a ser menos “opressivos”,
abrindo espaço para a possibilidade de novas experiências.
6) O panorama nacional de confecções na década de 1990
A década de 1990 foi marcada por uma grande reestruturação produtiva na qual
as empresas optaram por estruturas desverticalizadas e terceirizadas. Além disso, o
baixo dinamismo da economia devido, principalmente, à estabilização decorrente da
aplicação do Plano Real, teve grande impacto na indústria têxtil-confecções no Brasil.
A indústria têxtil, incluindo fiação, tecelagem, malharia e acabamento, encolheu
em número de unidades industriais (declínio acumulado de 25% entre 1990 1999) e
empregos (declínio acumulado de 67% no mesmo período). Por outro lado, o número de
confecções aumentou em 13% (taxa acumulada), passando a gerar menos empregos
(declínio acumulado de 9% no período considerado). Apesar do aumento do número de
confecções, a baixa geração do número de empregos, característica marcante desta
década, contribuiu para o aumento da informalidade nas confecções.
Por outro lado, a produção têxtil cresceu moderadamente entre 1990 e 1999: a
produção de fios (em t) teve uma taxa acumulada de 10% nesse período, a de tecidos
planos acumulou 3% e a de malhas 30%. Já a de confeccionados, incluindo vestuário,
cresceu à taxa acumulada de 84% no mesmo período. O consumo também apresentou
uma significativa expansão na década, passando de 8,27 kg/habitante para 9,50
kg/habitante (Gorini, 2000).
Este fato pode ser compreendido, principalmente, pela substituição da produção
de tecidos planos pelos de malhas de algodão, cujos investimentos são mais baixos e o
63
produto em geral também é mais barato, estando mais acessível à nova parcela de
consumidores que o Plano Real (muitos temporariamente) incorporou ao mercado54.
Entretanto, o Brasil, apesar de grande produtor de confecções, como mostrado
na tabela III.1, tem uma participação muito pequena no processo de reestruturação da
indústria em nível internacional. Ao mesmo tempo em que o país ocupa o quinto lugar
no ranking mundial por volume de produção no segmento, sua participação nas
exportações mundiais de artigos de vestuário e confecção, além de inexpressivas, foi
declinante ao longo da década de 1990. Ela era de 0,2% em 1990 e caiu para 0,1% em
2001 (OMC, 2003), ainda que o segmento de confeccionado seja o que mais cresce em
termos de valor mundial exportado. Ademais, a participação do Brasil no comércio
mundial de têxteis se aproxima de 1%, sendo a parcela mais relevante das exportações
nacionais relacionadas ao segmento têxtil.
Nesse cenário, dois fatores merecem destaque. Em primeiro lugar, apesar do
declínio da participação das exportações mundiais de confeccionados brasileiro ao
longo da década, tanto a produção quanto o consumo por habitante cresceu no período.
Este fato se deve, principalmente, ao aumento relativo da renda da camada mais pobre
da população num primeiro momento, ou seja, por um aumento do mercado consumidor
(beneficiada também pelo barateamento dos produtos importados proveniente da
Ásia)55. Em segundo lugar, e como extensão do primeiro, é exatamente este mercado
consumidor representado por uma camada de renda mais baixa na população que é o
maior consumidor deste setor no Brasil. Em outras palavras, é o mercado interno – em
especial de renda mais baixa– que, historicamente, se caracteriza como o dinamizador
do setor têxtil-confecções no país.
6.1) A abertura comercial dos anos 1990
A indústria de confecções foi fortemente impactada pela abertura comercial do
início dos anos 1990.
A redução tarifária dos primeiros anos da década, aliada à sobrevalorização
cambial como processo de estabilização do Plano Real após 1994, produz uma sensível
54 Desde que o Real entrou em circulação, o setor têxtil elevou seus preços em apenas 12,72%, enquanto a inflação medida pelo IPC-Fipe, no período, acumulou uma alta de 161,48%. 55 Segundo a OECD (1983), o crescimento da renda per-capita tem efeito positivo sobre a demanda, embora sua “elasticidade-renda da demanda aparente”, a preços constantes, seja bem menor que a unidade.
64
redução nos preços relativos dos bens importados e, consequentemente, uma expressiva
expansão de sua participação no mercado nacional. O coeficiente de penetração das
importações do setor têxtil-vestuário no Brasil, por exemplo, que era de 1,7 em 1990,
cresce substancialmente ao longo da década, alcançando um pico de 14,8 em 1997,
caindo para 11,2 em 2002 (Castro, 2004). Segundo Gorini (2000), o setor têxtil no
Brasil historicamente desenvolveu-se através da internalização de todas as suas
atividades produtivas (tendo como foco um mercado praticamente imune a produtos
estrangeiros), com baixos índices de produtividade e baixos investimentos em
tecnologia de ponta (também em função da grande instabilidade macroeconômica da
década de 1980).
Dessa forma, somando-se ao grande aumento das importações, as elevadas taxas
de juros e o baixo crescimento da década, o setor se encontrou obrigado a fazer uma
profunda reestruturação. No segmento de confecções, as estratégias utilizadas foram,
principalmente, a redefinição das linhas de produtos e a ampliação da terceirização
como forma de redução de custos. Esta terceirização é, sem dúvida, concomitante ao
grande aumento da informalidade no segmento, que afeta negativamente a
competitividade no mesmo.
A partir de 1997, o segmento recupera uma trajetória de crescimento. As
exportações de confecções no Brasil entre 1997 e 2001 mais do que duplicaram em
volume, principalmente após 1999 com a desvalorização cambial de janeiro, e
cresceram cerca de 37% em valor.
Tabela III.5 – Brasil, Exportações de confecções por volume e valor (1997 – 2001)
1997 1998 1999 2000 2001
Volume (Ton ./Ano) 10.617 10.194 11.464 20.593 22.876
Valor em US$/mil (FOB) 199.594 178.199 166.835 273.928 273.521 Fonte: SECEX/IEMI Apud Abravest, 2003.
Em relação às importações do segmento no mesmo período, elas caíram para
menos da metade em volume e apresentaram uma redução de 58,3% em valor.
Tabela III.6 – Brasil, Importações de confecções por volume e valor (1997 – 2001)
1997 1998 1999 2000 2001
Volume (Ton ./Ano) 36.921 21.149 13.683 15.851 17.506
Valor em US$/mil (FOB) 369.580 301.812 160.180 140.801 153.933 Fonte: SECEX/IEMI Apud Abravest, 2003.
65
Dessa forma, o país saiu de um déficit comercial no segmento em 1997 de cerca
de US$ 170 milhões, para um superávit de aproximadamente US$ 120 milhões em
2001.
Com a abertura comercial, foram adotadas uma série de medidas defensivas e de
reestruturação industrial. Um fenômeno importante na dinâmica competitiva do setor foi
a relocalização da produção, com o direcionamento de investimentos para as regiões
Nordeste e Centro-Oeste, em busca de menores salários e incentivos fiscais estaduais
(Melo & Hansen, 2004).
Nesse sentido, a abertura comercial revelou que o Brasil, tomando como
referência os custos da mão-de-obra no Nordeste, é “competitivo”56 neste quesito em
relação aos grandes exportadores de confecção como México, Tailândia e Turquia57.
Contudo, sua maior distância relativa (quando se pensa no caso asiático) aos mercados
atendidos por aqueles países, os Estados Unidos no caso do México e a União Européia
nos demais, e, sobretudo, o nível mais elevado de barreiras tarifárias que ele enfrenta
nesses mercados, limitam sua capacidade de expandir suas exportações. Sua
possibilidade de ampliação das vendas de confeccionados para aqueles países está,
principalmente, em nichos de mercado de maior valor agregado nos quais o país possui
determinadas vantagens comparativas58, como na moda praia, ou mesmo jeans de
melhor qualidade.
6.2) Regime tecnológico
Após a abertura comercial, a indústria de confecções realizou um importante
esforço de atualização tecnológica que, ao lado do aumento das importações, apresentou
forte impacto sobre o nível de emprego na cadeia produtiva.
No setor de confecções, o parque industrial brasileiro contaria com cerca de 875
mil máquinas em 2003. Entre 2000 e 2002 foram adquiridas 230 mil máquinas, o que
56 Naturalmente que se trata de uma “competitividade espúria”, numa clara relação de poder centro x periferia. 57 O custo da mão-de-obra (dólar/hora) no setor de confecções em 2001 no nordeste brasileiro era de US$ 1,00, enquanto na Turquia, Tailândia e México estes custos eram, respectivamente, US$ 1,95, US$ 1,56 e US$ 1,50. No entanto, este custo na China, Índia e Indonésia era, respectivamente, US$ 0,52, US$ 0,50 e US$ 0,24. Por outro lado, no Sul do Brasil o custo da mão-de-obra era de US$ 2,40 (GHERZI Apud ABRAVEST, 2003). 58 Estas vantagens comparativas aqui referidas são aquelas vantagens “criadas” como resultado de uma dinâmica social específica de cada lugar (território). Milton Santos (2004) utiliza o termo espaço, como sinônimo de território, para se referir a “uma construção horizontal, uma situação única” (2004, p.103).
66
seria um investimento considerável, mesmo considerando que 165 mil delas tenham
sido descartadas, ainda que este descarte não signifique sua inutilização. A maioria dos
equipamentos acaba sendo revendida ao mercado informal. As máquinas que estão
sendo adquiridas pela indústria de confecção brasileira são, na sua maioria,
consideradas de 2ª geração, contando com acessórios auxiliares, como cortadores de
linha, motores de passo com velocidades e pontadas programáveis, posicionamento da
agulha, arremate automático e refiladores. Nas máquinas de 3ª geração, o processo de
costura é executado automaticamente, mas devido ao custo elevado, ainda não estão
sendo introduzidas massivamente59 (Melo & Hansen, 2004).
As inovações tecnológicas no setor concentram-se nas primeiras etapas, do
desenho ao corte, onde não há a necessidade de haver manuseio dos tecidos, com a
utilização de sistemas CAD (Computer Aided Design)/CAM (Computer Aided
Manufacturing) e dispositivos de controle numérico, o que possibilitou nesta fase da
confecção diminuir o tempo de produção e de desperdício de matéria-prima, além de
aumentar a flexibilidade produtiva. No entanto, a costura ainda é a fase principal do
processo produtivo, que continua baseada na máquina de costura, com intensa utilização
da mão-de-obra.
A escassez de inovações radicais na fase de montagem se dá pelas dificuldades
de manipulação do tecido, em função de sua grande maleabilidade e variedade de
texturas, e da realização de costuras tridimensionalmente. Essas dificuldades impedem a
automatização da fase da costura, o que faz com que essa etapa do processo seja
altamente dependente da habilidade e ritmo da mão-de-obra.
Alguns avanços, entretanto, mesmo que parciais, têm sido obtidos com a
incorporação de alguma tecnologia microeletrônica na máquina de costura, bem como
na automatização de algumas atividades.
Uma vez que a produção pode ser dividida em etapas isoladas, onde
predominam estágios distintos de desenvolvimento tecnológico, é possível graus
crescentes de especialização entre empresas – que operam em etapas e patamares
técnicos de produção diversa. No entanto, conforme já ressaltado, no Brasil não há
demanda suficiente no mercado interno de forma a viabilizar a concentração da
59 “As máquinas hoje existentes pertencem a modelos de três gerações: as de primeira geração são máquinas simples, como motor acoplado por fricção mecânica; as de segunda são dotadas de acessórios para corte de linha etc, que podem ser acionados por meios eletromecânicos comandados pelo próprio motor da máquina; por fim, as de terceira geração têm operação controlada por microprocessador, cabendo ao operador o manuseio do tecido” (Bastos, 1993, p. 24 , in:Castro, 2004).
67
produção de uma unidade confeccionista em apenas um artigo. Dessa maneira, existe
certa flexibilidade na produção, conforme a preferência e necessidade do mercado, para
não correr o risco de ter estoques encalhados.
Ademais, esta flexibilidade na produção também se justifica tanto pela
sazonalidade da produção em alguns nichos de mercado (como o caso da moda praia)
como ao próprio ajuste das empresas às novas tendências da moda através do
lançamento contínuo de novas coleções ao longo do ano. Essa flexibilidade, assim como
a simplicidade administrativa, é mais facilmente encontrada nas empresas de pequeno
porte do que nas de grande porte, capazes de produzir uma alta quantidade de produtos
padronizados sem diferenciação de estilos (IEL et al. 2000).
Segundo estudos realizados pelo Sebrae, poucas empresas no segmento
confeccionista brasileiro são atualizadas tecnológica e organizacionalmente, sendo que a
maioria é composta por empresas defasadas que competem no mercado via custo da
mão-de-obra ou terceirização, além da informalidade. Portanto, de um modo geral, esse
segmento no Brasil não é competitivo, precisando-se buscar um maior grau de
utilização de equipamentos CAD/CAM, maior organização da produção das pequenas,
via políticas de fomento aos pólos existentes e/ou cooperativas e maior treinamento da
mão-de-obra envolvida na produção60.
6.3) Comércio exterior
O saldo da balança comercial da cadeia têxtil brasileira era positivo até 1994. No
entanto, uma série de fatores contribuiu para a reversão deste quadro: entre 1995 e 1997,
o déficit comercial foi crescente, de US$ 800 milhões em 1995 a US$ 1,1 bilhão em
1997, diminuindo em 1999, quando a balança fechou em US$ 400 milhões negativos,
devido à desvalorização cambial de janeiro de 1999 e à queda das importações (Gorini,
1997, 2000). O impacto da desvalorização de janeiro de 1999 foi principalmente
sentido nas importações, que sofreram uma queda de 25% entre 1998 e 1999,
alcançando US$ 1.443 milhões em 1999. Entretanto, os efeitos sobre as exportações
apareceram com uma certa defasagem, declinaram cerca de 9% no mesmo período,
caindo para, aproximadamente, US$ 1 bilhão em 1999. Em 2000 tiveram um aumento
de 21% em relação ao ano imediatamente anterior.
60 Em 2004, as empresas que atuam no segmento investiram, , US$ 103,6 milhões, principalmente na compra de máquinas e equipamentos. A expectativa para este ano é de um crescimento da ordem de 10%.
68
A partir de 2001, o saldo comercial volta a ser positivo. Entre 2001 e 2002, o
saldo registra um crescimento de 108%, apesar da queda de, aproximadamente, 10% nas
exportações, porém com uma queda ainda maior (16%) nas importações. Entre 2002 e
2003, o crescimento no saldo chega a 290% (aumento de 40% nas exportações) e, entre
2003 e 2004, este crescimento é de apenas 10%, registrando um saldo positivo de US$
657 milhões, o maior desde 1992. A tabela III.7 apresenta a balança comercial têxtil e
de confecções entre 1975 e 2004.
Não só o aumento das importações, devido à sobrevalorização do Real, foi o
responsável pela reversão do saldo comercial. Também, as exportações diminuíram no
mesmo período. O crescimento do comércio intra-blocos, em especial a partir da criação
do NAFTA em 1994, deslocou parte das exportações brasileiras para o Mercosul.
Paralelamente, as exportações nacionais para os Estados Unidos, o maior importador
mundial de confecções, vêm declinado ano após ano, enquanto as exportações
mexicanas para os Estados Unidos alcançaram valor superior a US$ 5 bilhões em 1998,
entre tecidos planos e confeccionados (Prochnik, 2003).
Paralelamente, a Turquia e outros países do leste europeu vêm aumentando suas
exportações, afetando os tradicionais mercados de cama, mesa e banho brasileiros.
69
Tabela III.7 - Balança Comercial Têxtil e de Confecções– 1975 a 2004
(em US$ 1.000.000)
ANO
EXPORTAÇÃO
IMPORTAÇÃO
SALDO
1975
535
114
421
1980
916
120
796
1985
1.001
72
929
1990
1.248
463
785
1991
1.382
569
813
1992
1.491
535
956
1993
1.382
1.175
207
1994
1.403
1.323
80
1995
1.441
2.286
(845)
1996
1.292
2.310
(1.018)
1997
1.267
2.416
(1.149)
1998
1.113
1.923
(810)
1999
1.010
1.443
(433)
2000
1.222
1.606
(384)
2001
1.306
1.233
73
2002
1.185
1.033
152
2003
1.656
1.061
595
2004
2.079
1.422
657
Fonte: MDIC – Alice Web Elaboração: ABIT
Dessa maneira, durante a década de 1990 observou-se a perda de importantes
mercados internacionais - devido à reestruturação produtiva mundial analisada ao longo
deste capítulo, na qual o Brasil não é um participante de peso - e a crescente
concentração das exportações têxteis brasileiras na América Latina, em especial o
Mercosul.
No que se refere ao destino das exportações têxteis brasileiras por blocos
econômicos, em 1996 o Mercosul absorvia 31% dessas exportações – especialmente
70
para a Argentina, que passou a ser nosso maior parceiro comercial individual no setor
têxtil, com participação de 22% das exportações nacionais – contra 18% dos Estados
Unidos (que em 1995 absorvia 22%) e 16% da União Européia. Em 1999, o Mercosul já
absorvia 39% dessas exportações e a América Latina (exceto Mercosul) outros 18%,
sendo a participação da América do Norte de 22% e da União Européia de 14% (Gorini,
1997, 2000).
7) Considerações parciais
Para a maioria dos países subdesenvolvidos a integração na economia global não
se trata de uma escolha. O que, de fato, se busca escolher é como fazer parte desta
configuração. Apesar de ser a "porta de entrada" para muitos países periféricos na
indústria de confecções, as cadeias produtivas globais não atendem aos reais interesses
desses mesmos países na busca do aprimoramento necessário para obter real
competitividade nesta cadeia, aumentando o valor agregado dos produtos a serem
exportados e, consequentemente, o nível de renda nos mesmos.
A (re)organização das cadeias produtivas globais se refere a uma lógica voltada
a atender as especificidades/características dos mercados consumidores dos países
desenvolvidos, em especial das suas classes médias com poder aquisitivo relativamente
alto, ávidos por consumir produtos de marca, com matéria-prima de qualidade e a
preços mais baixos. Neste caso, são os países subdesenvolvidos que trabalham na
montagem desses produtos que atendem esta demanda, principalmente através do baixo
custo da mão-de-obra. Na verdade, a principal vantagem das cadeias globais para os
países desenvolvidos é exatamente este baixo custo da mão-de-obra.
Nesse sentido, as cadeias produtivas globais pode ser considerada uma formas
de interpretação do processo de globalização onde existe uma divisão internacional do
trabalho na qual, como ressaltou Furtado (1974), a grande empresa organiza um sistema
produtivo do centro à periferia, incorporando mão-de-obra barata desta última, de modo
que haja um aumento da capacidade competitiva dos países centrais graças à utilização
desta mão-de-obra.
Assim como no resto do mundo, no Brasil a lógica das cadeias globais também
atende a apenas uma parte da produção e consumo; este último também representado
por uma camada de maior renda. A maior camada da demanda, representada pelas
71
classes mais baixas, escapam a esta estrutura. Na verdade, esta é a lógica do capitalismo
periférico na dinâmica da estrutura do capitalismo global.
A grande maioria das empresas da indústria têxtil-confecções no Brasil volta-se
unicamente para o mercado doméstico, e boa parte não teria realmente capacitação para
participar do mercado internacional, apesar dos baixos salários que vigoram no país.
Algumas adotam estratégias de diferenciação de produtos, fabricando artigos de
qualidade e que incorporam design e atualização de estilos, mas com pouca eficiência
produtiva, praticando preços incompatíveis com os principais mercados. Outras
privilegiam baixos preços em suas estratégias, mas em detrimento da qualidade, e sem
alcançar níveis satisfatórios de produtividade. A heterogeneidade de capacitações e
estratégias competitivas é característica desses setores em todo o mundo. Mas no Brasil,
acompanhando a extrema desigualdade na distribuição da renda, essa característica
parece exacerbada.
As maiores dificuldades por que passa a indústria de confecções no Brasil estão
relacionadas, em grande parte, com o tamanho das empresas, o produto elaborado e suas
articulações com o mercado. Os segmentos hoje identificados com os que mais crescem
são aqueles de empresas bem estruturadas em termos gerenciais que produzem com
qualidade para mercados mais exigentes. Na maior parte das vezes, elaboram produtos
padronizados em média/grande escala. As menores que se inserem neste grupo são
empresas que trabalham sob encomenda para as maiores ou para grandes cadeias de
lojas varejistas. Portanto, há micro e pequenas empresas com potencial para se lançarem
em fatias de mercado mais exigentes de qualidade e, portanto, aumentarem sua
capacidade competitiva.
Por outro lado, aqueles segmentos que apresentam certa estagnação são aqueles
que produzem para as classes de renda mais baixa. Na verdade, não se trata de falta de
demanda por parte desta camada da população. A concorrência de produtos importados
e de produtos nacionais a preços mais baixos, desbancam mercadorias de melhor
qualidade –e mais caras- com facilidade. Isto significa que o fator preço, mais que a
qualidade, se mostra cada vez mais relevante por parte desta camada de demanda
(segmentação da demanda em função da renda).
Nesse sentido, as estratégias das empresas que fabricam produtos padronizados
(empresas de maior porte) com marca própria ou não é buscar a automatização e a
eficiência produtiva, enquanto a estratégia das empresas que produzem moda com
72
marca própria é baseada na flexibilidade da produção, no design e na agilidade
organizacional.
Dessa forma, é na criação de novos modelos, sujeitos à sazonalidade, que reside
o processo inovativo das empresas da indústria de confecções, em geral de menor porte.
A criação e a comercialização são os principais elementos para a competitividade desta
indústria. Dito de outra maneira, é a capacidade de agregar valor aos produtos que, em
última instância, garante a capacidade competitiva destas empresas, tanto no mercado
nacional quanto no internacional.
Então, devido às características dos mercados dos países subdesenvolvidos, em
especial do Brasil, principalmente em relação à demanda, a falta de políticas de
desenvolvimento que busquem uma inserção competitiva nestas cadeias produtivas
globais apenas acarretaria a contínua precarização do trabalho, renda, e etc. e o
conseqüente aumento da informalidade, processo indissociável a esta dinâmica.
Por estas e outras características das economias periféricas, é realçada a
fragilidade (ou ingenuidade) propositiva da inserção nas cadeias globais como a única
(ou melhor) forma de participar do comércio mundial.
73
CAPÍTULO IV – O ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE MODA PRAIA DE
CABO FRIO
1) Introdução
Este capítulo apresenta as principais características do arranjo produtivo local de
moda praia de Cabo Frio desde sua origem e desenvolvimento, examinado o perfil dos
principais agentes ocupados nas empresas do arranjo, a infra-estrutura local, as
vantagens dinâmicas locais para a competitividade, a interação e processos de
aprendizagem, os principais esforços inovativos e as formas de cooperação ali existente.
Tendo em vista a análise do funcionamento das cadeias produtivas globais de
confecção realizada no capítulo III, onde fica evidente a estrutura de poder ali presente,
na qual aos países subdesenvolvidos cabe o papel de fornecedores de mão-de-obra
barata – referentes a uma lógica voltada a atender os mercados consumidores dos países
desenvolvidos -, este capítulo procura, ainda que implicitamente, apontar as
potencialidades e fragilidades quanto à uma inserção competitivas das empresas do
arranjo produtivo de moda praia de Cabo Frio nas cadeias produtivas globais. Reforçado
pelo capítulo V, o presente capítulo sugere que políticas de fomento à competitividade
são fundamentais para o desenvolvimento do arranjo.
Nesse sentido, a apresentação do APL de moda praia de Cabo Frio é
fundamental para a compreensão deste processo no qual a ausência de tais políticas de
desenvolvimento não apenas reforçam o caráter da dependência dessas empresas frente
às demais – na lógica do mercado global –, como também explicitam as fraquezas da
perspectiva das cadeias produtivas globais como um instrumento de desenvolvimento e
inserção dos países subdesenvolvidos no mercado externo.
2) A moda praia: evolução61 e características específicas deste nicho de mercado
Um setor do vestuário em que o Brasil realmente se destaca é, sem dúvida, o de
moda praia. Além de ser o país que mais fabrica e consome esse tipo de roupa, o Brasil
avançou em tecnologia e modelagem ao longo dos anos. O biquíni brasileiro é
conhecido e reconhecido internacionalmente, seja por seu estilo mais ousado, por sua
61 Baseado no artigo de Cláudia Garcia na Folha de São Paulo.
74
qualidade ou mesmo pela criatividade dos modelos, que o diferencia dos outros
fabricados em outros países (Folha de São Paulo).
Apesar de toda essa vocação natural em relação aos trajes de banho, o biquíni
não é uma invenção nacional. Ele foi inventado pelo estilista francês Louis Réard que o
batizou com o nome do pequeno atol de Bikini, no Pacífico, onde os americanos haviam
realizado uma série de testes atômicos.
O lançamento do primeiro biquíni foi em 26 de junho de 1946 e causou grande
euforia. Apesar de toda a euforia em torno do novo traje de banho, descrito por um
jornal da época como "quatro triângulos de nada", o biquíni não emplacou de imediato.
O primeiro modelo, todo em algodão com estamparia imitando a página de um jornal,
se comparado aos atuais, era bastante “comportado”. Entretanto, para os padrões da
época, um verdadeiro escândalo. Tanto, que nenhuma modelo quis participar da
divulgação do pequeno traje. Por isso, em todas as fotografias do primeiro biquíni,
pousava a Stripper Micheline Bernardini, a única a aceitar o desafio.
Na década de 1950, as atrizes de cinema e as pin-ups americanas foram as
maiores divulgadoras do biquíni. Em 1956, a francesa Brigitte Bardot imortalizou o
traje no filme "E Deus Criou a Mulher", ao usar um modelo xadrez vichy adornado com
babadinhos.
No Brasil, o biquíni começou a ser usado no final dos anos 50. Primeiro, pelas
vedetes, como Carmem Verônica e Norma Tamar, que juntavam multidões nas areias
em frente ao Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, e, mais tarde, pela maioria decidida
a aderir à moda dos novos trajes. A partir daí, a história do biquíni viria se tornar parte
da história das praias cariocas, verdadeiras passarelas de lançamentos da moda praia
nacional.
Na década de 1960, a imagem da atriz Ursula Andress dentro de um biquíni, em
cena do filme "007 contra o Satânico Dr. No" (1962) entrou para a história da peça. Em
1964, o designer norte-americano Rudi Gernreich dispensou a parte de cima do traje e
fez surgir o topless. No Brasil, essa moda não fez tanto sucesso quanto em algumas
praias da Europa, mas mesmo assim o então prefeito de São Paulo, Prestes Maia,
chegou a proibir o uso do topless em piscinas públicas. Um modelo muito usado nos
anos 60 era o chamado “engana-mamãe”, que de frente parecia um maiô, com uma
espécie de tira no meio ligando as duas partes, e, por trás, um perfeito biquíni.
Mas foi no início dos anos 70, que um novo modelo de biquíni brasileiro, ainda
menor, surgiu para mudar o cenário e conquistar espaço no mercado mundial: a tanga.
75
Durante os anos 80 surgiram outros modelos, como o provocante enroladinho, o
asa-delta e o de lacinho nas laterais, além do sutiã cortininha. E quando o biquíni já não
podia ser menor, surgiu o imbatível fio-dental, ainda o preferido entre as mais jovens.
Nos anos 90, a moda praia se tornou cult62 e passou a ocupar um espaço ainda
maior na moda. Um verdadeiro arsenal, entre roupas e acessórios passou a fazer parte
dos trajes de banho, como a saída de praia, as sacolas coloridas, os chinelos, óculos,
chapéus, cangas e toalhas. Os modelos se multiplicaram e a evolução tecnológica63
possibilitou o surgimento de tecidos cada vez mais resistentes e apropriados ao banho
de mar e de piscina.
As principais matérias-prima utilizadas na fabricação de biquínis são o
elastano64, a poliamida (Nylon)65 e, para a fabricação de biquínis de crochet,
principalmente, o algodão. As proporções de cada material variam de acordo com a
qualidade dos biquínis. Em geral, os biquínis considerados de boa qualidade são
compostos por 85% de poliamida e 15% de elastano. Os biquínis de crochet, em geral,
são feitos de fibras de algodão.
A poliamida é um material mais resistente que o algodão em relação à tração e
ao desgaste. São fios com resistência cerca de 3,5 vezes superior a dos fios de algodão.
O elastano é utilizado na fabricação de tecidos com elasticidade e não deformáveis. Seu
espichamento é altíssimo, o que confere o confere a capacidade de esticar e retornar ao
seu estado inicial sem danificação. Empregado juntamente com outras fibras (neste caso
a poliamida) tem como finalidade aumentar a elasticidade do tecido sem prejuízo da sua
forma, o que é importante no caso do biquíni em relação a um melhor ajustamento ao
corpo (aderência adequada).
O elastano trata-se de um fio constituído de multifilamentos, colados
irregularmente entre si. A estrutura multifilamentar proporciona flexibilidade e os
pontos de aderência facilitam o processamento dos fios. Propriedades de força e
62Dicionário Michaelis: Culto; seita. Expressão inglesa utilizada para designar algo realmente admirado, uma espécie de adoração, que pode ou não estar na moda. 63 Em especial as fibras sintéticas. 64 Fibra artificial proveniente do poliuretano. O mais conhecido é a Lycra, da DuPont, nome tão difundido que hoje é usado como denominação genérica para os fios elásticos têxteis. Ela surgiu na década de 1950, sendo comercializada pela DuPont a partir de 1958. 65 Primeira fibra sintética produzida pelo homem. Tem como característica a alta resistência, fácil lavagem, resiste ao amarrotamento, baixa absorção de umidade, toque agradável e secagem rápida. Os tecidos de malha produzidos com nylon associado a um elastano são amplamente utilizados na confecção de roupas de banho.
76
extensibilidade diferem sensivelmente de outras fibras. A extensibilidade até a ruptura é
de 500-600%, ou seja, em torno de dez vezes maior que a poliamida.
Entretanto, alguns cuidados são necessários: Para se efetuar o tingimento é
necessário o uso de produtos químicos que sejam capazes de combinar com a molécula
da fibra têxtil; devem ser alvejados quimicamente, sem branqueadores óticos e sem o
uso de produtos clorados; no processo de preparação devem ser eliminados os resíduos
de cálcio e magnésio; entre outros.
Nesse sentido, a combinação dos materiais é um fator de grande relevância para
se determinar a qualidade, a flexibilidade, a aderência, a durabilidade, e até o preço
neste segmento.
Em relação ao processo de produção, a confecção do biquíni não possui uma
característica especial que o diferencie na cadeia têxtil-confecção. O corte, a costura e o
acabamento são as principais etapas da produção neste segmento. A inovação do
produto no segmento se dá, principalmente, no desenho e corte das peças. É possível
também diferenciações no tipo de costura, como num dos casos analisados neste
capítulo, e inovações incrementais no acabamento. A diferenciação no segmento ocorre
mesmo no tipo de comercialização e marketing.
Tecnologias do tipo CAD/CAM não são comuns no setor, uma vez que a imensa
maioria das empresas que confeccionam biquínis é micro e pequenas empresas que não
possuem acesso a estas tecnologias devido, principalmente, aos altos custos envolvidos.
A costura é a principal fase do processo produtivo, sendo também altamente
dependente da habilidade e ritmo da mão-de-obra.
Por fim, vale ressaltar que, ainda que exista uma combinação de materiais capaz
de resultar num produto de boa qualidade, invariavelmente, haverá um tempo de “vida
útil” não muito diferenciado. Esta “necessidade” implícita de materiais que confiram
todas as características necessárias esperadas neste segmento, aliada a uma “vida útil”
mais longa do produto, abre espaço para se pensar numa maior interação dentro da
própria cadeia produtiva têxtil-confecção, onde todos os elos da mesma possam
interagir sistematicamente. Em outras palavras, um sistema inovativo onde o
conhecimento “circulasse” em todos os elos da cadeia produtiva.
77
3) Características da cidade de Cabo Frio
A cidade de Cabo Frio pertence à Região das Baixadas Litorâneas do Estado do
Rio de Janeiro, composta pelos municípios de Araruama, Armação de Búzios, Arraial
do Cabo, Cabo Frio, Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu, Iguaba Grande, Rio
Bonito, Rio das Ostras, São Pedro da Aldeia, Saquarema e Silva Jardim.
O município tem uma área total de 410,6 km², correspondentes a 7,6 % da área
da Região das Baixadas Litorâneas e encontra-se a 148 Km da cidade do Rio de Janeiro.
De acordo com o censo de 2000, Cabo Frio tem uma população de 126.828
habitantes, correspondentes a 19,9 % do contingente da Região das Baixadas
Litorâneas, com uma proporção de 98,7 homens para cada 100 mulheres. A densidade
demográfica é de 308,9 habitantes por km². Apresenta uma taxa média geométrica de
crescimento, no período de 1991 a 2000 de 5,81 % ao ano. A taxa de urbanização do
município corresponde a 83,8 % da população66.
Com uma população correspondente a, aproximadamente, 0,91 % e 20,08 % das
populações do Estado do Rio de Janeiro e da Região das Baixadas Litorâneas em 2001,
respectivamente, a cidade de Cabo Frio é responsável por 22,17 % do PIB da Região
das Baixadas Litorâneas e apenas 0,4% do PIB do Estado do Rio de Janeiro. A tabela
IV.1 apresenta esta situação em valores absolutos, inclusive a renda per capita da
população correspondente.
O rendimento per capita da população de Cabo Frio representou neste ano
(2001) 44,67 % (R$ 5.349) do rendimento per capita da população do Estado (R$
11.073), valor maior do que o rendimento per capita da população da Região da
Baixada Litorânea (40,50 %) em relação ao Estado. Ainda que a cidade de Cabo Frio
esteja inserida na Região da Baixada Litorânea, esta diferença de rendimento per capita
sugere maior dinamismo relativo da primeira em relação à segunda.
66 Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE RJ) - Estudos Socioeconômicos dos Municípios do Rio de Janeiro 1997-2001.
78
Tabela IV.1: Produto Interno Bruto, em valores absolutos e per capita, segundo as Regiões
de Governo e Municípios
Estado do Rio de Janeiro - 2001
PIB
Regiões de Governo e Municípios Valores absolutos
(1.000 R$) População Valores per
capita (1,00 R$)
Número índice (Estado=100)
Estado 174 558 834 14 578 903 11 973 100,00
Região das Baixadas Litorâneas 3 206 056 661 137 4 849 40,50
Cabo Frio 710 857 132 813 5 349 44,67 Fonte: Fundação CIDE - Anuário Estatístico do Estado do Rio de Janeiro 2003
3.1) Principais atividades produtivas ao longo do tempo
Com a abolição da escravatura em 1888 e a proclamação da República no ano
seguinte, desorganizaram-se algumas atividades produtivas de Cabo Frio, como a
agricultura do café que fora substituída pela pecuária em pequena escala.
Os ex-escravos da zona rural reagruparam-se e fundaram uma povoação na Praia
Rasa, em Búzios, passando a trabalhar na pesca e em horticulturas próprias, enquanto os
ex-escravos da cidade de Cabo Frio tomaram posse e fundaram a povoação da
Abissínia, que mais tarde deu origem ao atual bairro da Vila Nova, trabalhando no
fornecimento de carvão vegetal aos antigos senhores.
Embora a atividade pesqueira fosse bastante desenvolvida, em especial depois da
introdução das traineiras na captura em alto-mar, até pouco mais da metade do século
XX, o parque salineiro de Araruama dominou a produção econômica da região. Com a
substituição do trabalho dos ex-escravos pelos imigrantes portugueses do Aveiro, que
trouxeram e adaptaram técnicas artesanais consagradas, houve um incremento da
qualidade e quantidade de cristalização marinha artificial de Araruama.
A ferrovia Niterói - Cabo Frio, as melhorias no porto de Arraial do Cabo e a
posterior inauguração da Rodovia Amaral Peixoto contribuíram para o aumento da
produção de sal e para o transporte eficiente até na cidade do Rio de Janeiro e outros
importantes centros consumidores do país. O auge do desenvolvimento setorial ocorreu
na década de 1960, com a instalação de duas grandes usinas de beneficiamento de sal
em Cabo Frio, e com a construção do complexo industrial da Cia. Nacional de Álcalis,
79
no Arraial do Cabo, que abriu salinas e passou a extrair cálcicos dos moluscos,
depositados no fundo da laguna ao longo de milhares de anos, para a produção de
barrilha. Atualmente, apesar da baixa produção, assegura a proteção física da laguna,
uma vez que impede o crescimento imobiliário em boa parte de sua margem.
Com o aumento da produção do nordeste brasileiro, que conta com âmbito mais
produtivo para esta atividade, como clima, técnicas e equipamentos mais produtivos,
aliado a uma pureza superior ao sal produzido em Arraial do Cabo, além da vantagem
geográfica para a comercialização, a produção de sal perdeu a importância de outrora.
O declínio desta atividade torna-se responsável pela diminuição das fontes de
empregos diretos e indiretos, sendo dificultada sua reimplantação, principalmente pela
lacuna na cultura popular (técnica) intimamente relacionada à extração do sal.
Não obstante estas ocorrências, a desativação das salinas induz as ocupações das
áreas dantes utilizadas naquelas atividades para o crescimento imobiliário, através de
loteamento dos terrenos - muitas vezes desorganizado e prejudicial ao meio ambiente - e
para fins turísticos.
A atividade pesqueira tradicional da região, que durante muitos séculos foi de
grande importância, tem declinado nos últimos anos devido a uma série de fatores, entre
eles: obsolência da frota e das técnicas pesqueiras, deficiente estruturação de
comercialização e beneficiamento do pescado, e da falta de terminais pesqueiros
adequados. Como conseqüência, os profissionais desta atividade estão migrando para
outras atividades, como a construção civil e o turismo. Dessa forma, esta atividade,
fortemente relacionada ao conhecimento local adquirido durante séculos, sofre ameaças,
que afetam tanto os pescadores como também os carpinteiros navais, os tecelões de
rede, entre outros.
No entanto, existe a possibilidade destas dificuldades serem diminuídas - e
talvez superadas - com a criação de escolas de pesca em São Gonçalo (que tem tradição
na atividade pesqueira e industrialização do pescado) e em Arraial do Cabo, como um
primeiro passo rumo à recuperação da vocação pesqueira do Estado e da região, uma
vez que Cabo Frio apresenta condições favoráveis para esta indústria, além do
aproveitamento da sinergia entre o turismo e a pesca, para a manutenção da imagem de
uma "aldeia de pescadores".
A região possui forte tradição turística devido, principalmente, aos atrativos
naturais do litoral de Cabo Frio.
80
A exploração turística na região se intensificou após a construção da ponte Rio-
Niterói, que trouxe também investimentos, principalmente, na construção civil, além da
migração de mão-de-obra para estas atividades, dando início a uma ocupação urbana
mais intensa, em especial na periferia da cidade.
Esta imigração se intensificou no final da década de 1980. Se num primeiro
momento este fluxo era oriundo da Região Norte Fluminense, passou a ser também da
Baixada Fluminense e da cidade do Rio de Janeiro, em busca de emprego e melhor
qualidade de vida que a região oferecia com a intensificação do turismo.
Esta tendência se manteve ao longo da década de 1990, onde esta mão-de-obra
encontrava ocupação na construção civil e no mercado informal do comércio ambulante
das praias e ruas da cidade.
Sem dúvida este intenso crescimento populacional e turístico ocorrido na cidade
foi responsável pela alavancagem do comercio local e regional, gerando emprego para a
população, principalmente no verão.
No entanto, este mesmo intenso crescimento da população e das atividades
turísticas, que foram acompanhadas de grande especulação imobiliária, também trouxe
consigo graves problemas ambientais. A estrutura sanitária não cresceu na mesma
proporção do número de pessoas da cidade (que aumenta consideravelmente no verão)
ocasionando considerável aumento do despejo de esgoto doméstico e pluvial na laguna,
colocando em risco o principal fator responsável pelo dinamismo econômico da cidade:
o turismo.
A tabela IV.2 aponta o número de estabelecimentos por setor e porte das
empresas em Cabo Frio no ano de 2002. Do total de estabelecimentos (2.852) divididos
nos setores indústria, comércio, serviços e agropecuária, 2.609 estabelecimentos se
concentram apenas nos setores comércio e serviços. Ou seja, aproximadamente, 91,5 %
das atividades na cidade se concentram nestes setores fortemente relacionados à
atividade turística.
Além disso, cabe observar que quase 99 % destes estabelecimentos são micro e
pequenos negócios, característica marcante de setores intensivos em mão-de-obra.
81
Tabela IV.2: Número de estabelecimentos – Cabo Frio - 2002
Número de estabelecimentos - Cabo Frio - 2002
Porte/Setor Indústria Comércio Serviços Agropecuária Total %
Micro 193 1.018 1.307 24 2.542 89,13%
Pequena 21 113 139 2 275 9,64%
Média 3 13 11 0 27 0,95%
Grande 0 2 6 0 8 0,28%
TOTAL 217 1.146 1.463 26 2.852 100,00% Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) - RAIS 2002
É neste contexto que este trabalho procura analisar a dinâmica do arranjo
produtivo de moda praia de Cabo Frio, em especial as confecções especializadas nesta
atividade tão peculiar aos atributos locais, e ao mesmo tempo tão dependente de fatores
externos, principalmente o turismo.
4) Origem e desenvolvimento
As origens do arranjo produtivo de moda praia de Cabo Frio podem ser
encontradas em 1953 quando a cabofriense Nilza Rodrigues Lisboa, até então sem
profissão, pegou emprestado roupas da atriz Tônia Carrero, na época freqüentadora
assídua da cidade, para copiar os moldes. A atriz se encantara com a habilidade da então
jovem e talentosa costureira e acabou sendo uma das primeiras clientes.
Utilizando uma máquina de manivela (que ainda guarda de lembrança) e
trabalhando à luz de lampião, criou a primeira roupa de praia na região: um biquíni
samba canção. As atividades de produção de confecções de moda-praia são, desta
maneira, originadas com o desenvolvimento do turismo (Peixoto & Cassiolato, 2004).
Com a ajuda da família, a produção de Nilza foi crescendo, contando, pouco
tempo depois, com 32 costureiras e 22 máquinas. Além de autodidata, ela foi professora
e incentivadora de muitas das costureiras, ajudando, inclusive, várias delas na abertura
de seus próprios negócios.
82
É nesse contexto que a Rua dos Biquínis (Rua José Rodrigues Povoas), que era a
única passagem para Búzios67 e diversas praias de Cabo Frio, foi crescendo e ficando
famosa68.
No entanto, a história da Rua dos Biquínis vai além da ação pioneira de D.
Nilza. Em meados dos anos 1980 alguns microempresários já haviam se instalado no
local em lojas adaptadas: salas e quartos das famílias de pescadores que as alugavam
para a abertura de estabelecimentos comerciais. Como a oferta de salas e quartos com
potencialidade de virar loja se extinguiu, uma vez que alguns destes microempresários
abriram mais de uma loja, os moradores locais, fomentados pelas “luvas” cobradas no
ato da assinatura do contrato de locação, começaram a construir pequenas lojas que
rapidamente ocuparam a quase totalidade do primeiro quarteirão da Rua José Rodrigues
Povoas. Como conseqüência, observou-se, durante aquele período, grande valorização
imobiliária das residências daquele quarteirão e aumento do nível financeiro daquelas
famílias.
Esses microempresários introduziram na cidade novos maquinários, novas
técnicas de produção, tecidos, modelos e padronagens que acompanhavam as tendências
da moda resultando no aumento da oferta de empregos tanto de balconistas como,
principalmente, de costureiras. Assim, houve um estímulo para que as mulheres - que
sabiam o básico da técnica de costura - se capacitassem para desenvolver uma melhor
produção e produtividade para serem absorvidas nestas novas confecções ou
terceirizando suas atividades em suas residências.
A partir de então novos empresários, não só de Cabo Frio, mas também do Rio
de Janeiro, Petrópolis, São Paulo e Minas Gerais, se instalaram na Rua. Estes novos
empreendedores, principalmente os de Petrópolis, ampliaram a produção local além dos
biquínis, introduzindo outros itens da moda praia como vestidos, “shortinhos”,
camisetas femininas e camisas de malha com estampas náuticas e da fauna marinha
levando o nome de Cabo Frio. Dessa forma, a Rua dos Biquínis deixou de ser apenas
especializadas na produção deste item, apesar de que ele ainda representa a imensa
maioria das confecções comercializadas.
67 A cidade de Armação de Búzios, ou simplesmente Búzios, se localiza a 180 Km da cidade do Rio de Janeiro. O antigo distrito situado ao norte de Cabo Frio ficou famoso após a visita da atriz francesa Brigitte Bardot em 1964. A cidade cresceu e deixou de ser uma aldeia de pescadores para se transformar num dos lugares mais procurados do Estado do Rio de janeiro. Uma vez mais o turismo se mostra de grande importância para o desenvolvimento da região. 68 Agradeço Cláudia Magalhães, técnica do SEBRAE de Cabo Frio/RJ, pelas informações a respeito desta história e pela ajuda na identificação das empresas.
83
Diversos lojistas e “sacoleiros” tanto de outras cidades como de outros estados
encontravam na Rua dos Biquínis uma boa opção para suas compras. Pequenas vendas
no atacado somadas a intensa venda no varejo, principalmente na alta temporada, e
viagens de alguns microempresários para a venda no atacado nas regiões Norte,
Nordeste e Sudeste, eram fatores que ajudavam a difundir o nome da Rua dos Biquínis
por todo o país.
Dessa forma, pequenos comerciantes de outras localidades foram atraídos para
Cabo Frio. Com a chegada desses novos comerciantes que, em geral, já possuíam
experiência em comércio e confecções – principalmente os vindos de Petrópolis e da
cidade do Rio de Janeiro –, a concorrência entre os empresários se intensificou,
resultando num aumento de produtividade no setor para níveis bastante satisfatórios
para a época.
Este crescimento do comércio foi acompanhado pelo crescimento dos aluguéis e
“luvas” cobradas pelos proprietários, que começaram a fazer investimentos mais
expressivos em construções comerciais. Diversas lojas foram construídas, além de dois
pequenos shoppings, saturando os espaços específicos para o comércio. Então, novas
lojas surgiram nas ruas e praça adjacentes, transformando o quarteirão inteiro num
ponto comercial.
No entanto, até este período, a Rua dos Biquínis ainda era carente de uma infra-
estrutura básica: iluminação pública, coleta de lixo, segurança, organização do
transito69, melhoria da rede elétrica, entre outros, o que dificultava a prosperidade do
69 Existe nas proximidades da Rua dos Biquínis (a margem do Canal do Itajurú) uma grande área da Marinha do Brasil, utilizada como estacionamento, que é muito importante para o desenvolvimento do comércio local, principalmente do ponto de vista turístico, pois é lá que os compradores da Rua estacionam seus veículos. No entanto, em 1998, a Marinha resolveu reintegrar esta área que, segundo os lojistas, só não foi apropriada por posseiros porque sempre foi utilizada pelos moradores locais, tanto para o lazer (partidas de futebol) como pelos pescadores, que atracavam seus barcos para desembarcar o pescado e fazer pequenos consertos, principalmente reparos nas redes de pesca. Dessa forma, diversos lojistas, moradores e pescadores se organizaram para protestar contra esta atitude da Marinha. Organizaram protestos e impediam a construção do muro tapando os buracos feitos pelos operários contratados para a empreiteira. Diversas viaturas da Marinha fora deslocada para o local e por pouco não houve um confronto violento, uma vez que um Capitão empunhou arma contra os manifestantes. Com o tumulto causado pelos protestos, os meios de comunicação e as autoridades locais não tardaram em aparecer, se posicionado a favor dos protestantes. Um amplo círculo de negociações fora aberto entre a Marinha do Brasil e a comunidade local, demarcando a divisão da área, além da transferência imediata do Capitão. Sem dúvida, este episódio foi de suma relevância para a definitiva estruturação e crescimento das atividades de confecção de moda praia no local. Além disso, pode-se dizer também, que foi o primeiro ato de cooperação, não só entre os empresários, mas também entre a comunidade como um todo, para a consolidação do arranjo produtivo de moda praia de Cabo Frio.
84
comércio local. Várias destas atividades eram exercidas pelos próprios empresários,
principalmente na alta temporada.
A partir da segunda metade dos anos 1990, a Rua dos Biquínis começa a receber
maior atenção por parte do poder público com a introdução de serviços públicos de
coleta de lixo, segurança, iluminação, entre outros. Com a intensa urbanização ocorrida
em Cabo Frio, a Rua dos Biquínis recebeu um volumoso investimento estrutural com a
reforma total da antiga Rua José Rodrigues Povoas que se transforma no Gamboa
Shopping70.
Atualmente a Rua dos Biquínis se esforça na busca de um novo desafio: a
exportação. Tal empreitada já conta com um consórcio exportador, o Consórcio Pau
Brasil, formado por sete empresas que já exportam, principalmente, para a Europa,
tendo como parceiros a prefeitura de Cabo Frio, o SEBRAE (Serviço Brasileiro de
apoio às Micro e Pequenas Empresas) e a FIRJAN (Federação das Indústrias do Estado
do Rio de Janeiro). Um dos principais objetivos do consórcio é a busca de novos
mercados para diminuir o problema da sazonalidade da produção e a rotatividade da
mão-de-obra71.
Nesse contexto, o Gamboa Shopping, além de ser o principal ponto comercial da
região voltado ao turismo, é também um destacado pólo de confecção de moda praia no
país, com potencial gerador de empregos diretos e indiretos- além dos já gerados,
principalmente no verão- na região.
É nesta perspectiva que uma melhor compreensão do impacto e especificidade
desta atividade local se torna tão relevante. Tanto os empresários quanto as costureiras
já vêem seus filhos (segunda geração) assumindo essa atividade como profissão,
indicando o caráter de uma atividade com especificidades locais, uma característica
cultural da região, que ainda conta com o primeiro Museu do Surfe do país, o que só
vem a reforçar esta característica cultural.
É nesse sentido que existe espaço para se falar da questão da territorialidade,
tratada no capítulo II deste trabalho, que está ligada a interdependências específicas da
vida econômica, não podendo ser definida meramente como localização das atividades.
A territorialidade de uma atividade ocorre quando sua viabilidade econômica está
70 Agradeço imensamente a Maurício Nogueira Brito, sócio-gerente da confecção Mauna Loa, pela exposição desta história da Rua dos Biquínis e o papel dos empresários na sua constituição. 71 Uma discussão sobre alguns benefícios e problemas relacionados à exportação será feita no próximo capítulo, levando-se em consideração a discussão da competitividade na cadeia produtiva de confecções feita no capítulo III.
85
enraizada em ativos (incluindo práticas e ações) que não estão disponíveis em outros
lugares e que não podem ser facilmente ou rapidamente criadas ou imitadas em lugares
que não as têm (Cassiolato e Lastres, 2003).
5) Perfil dos principais agentes ocupados nas empresas do arranjo
O arranjo produtivo de moda praia em Cabo Frio congrega diversas confecções
responsáveis tanto pela produção de biquínis quanto por outras peças do vestuário
relacionadas à moda praia. Segundo a base de dados da RAIS (2001), haviam 48
confecções de artigos do vestuário em Cabo Frio no ano de 200172. No entanto, este
número não reflete a realidade das confecções de moda praia em Cabo Frio dada a
existência de diversas confecções que operam na informalidade. Empresários do setor
estimam que, em meados de 2004, existiam em torno de cem empresas voltadas à
confecção de moda praia, enfatizando que este número pode dobrar na alta temporada,
no verão.
Do total das empresas entrevistadas, apenas uma é de pequeno porte sendo as
demais micro empresas, conforme a tabela IV.3 apresentada abaixo. Estas empregam,
em média, 8 pessoas e a pequena empresa tem 30 pessoas ocupadas na atividade
produtiva principal (biquíni).
Tabela IV.3 - Porte das Empresas da Amostra do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ
Porte Nº de Empresas % Nº de Empregados %
Micro 17 94,4 145 82,9 Pequena 1 5,6 30 17,1 Média 0 0,0 0 0,0 Grande 0 0,0 0 0,0
Total 18 100 175 100 Fonte: Pesquisa de campo.
Entretanto, é importante ressaltar que a sazonaliadade do emprego é a
característica principal da atividade no arranjo, com a maioria destas empresas
contratando serviços temporários no verão, quando a produção e as vendas aumentam
consideravelmente. Com o fim da alta temporada, esta mão-de-obra temporária é
72 Apesar de não haver uma classe de atividade econômica especifica de moda de praia na classificação da CNAE, esta se encontra agregada em artigos de vestuário (CNAE 18.12).
86
novamente dispensada, criando um sério problema de rotatividade. Quando há alguma
costureira muito boa, o empresário a mantém na confecção. No entanto, a maioria das
costureiras é demitida e quando são novamente admitidas na temporada seguinte, os
empresários já não conseguem a mesma pessoa, tendo que admitir outras diferentes e,
algumas vezes, até treiná-las novamente.
É sob esta perspectiva que devem ser entendidos os dados da tabela IV.4 abaixo
que apresenta informações sobre os diferentes tipos de relação de trabalho nas Micro e
Pequenas Empresas do arranjo produtivo de confecções em Cabo Frio, conforme
informações obtidas na pesquisa de campo. De acordo com os dados desta tabela, 80%
dos trabalhadores são empregados com contrato formal e apenas 1% da mão-de-obra se
encontra em serviços temporários nas micros empresas do arranjo. Como no período da
pesquisa, nos meses de julho e agosto, as empresas encontravam-se na baixa temporada
produtiva, pode-se supor que tal relação deva ser significativamente diferente no
período de verão quando se intensifica a atividade produtiva.
Tabela IV.4 - Tipo de Relação de Trabalho nas Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ
Micro Pequena Relação Nº
Empregados % Nº
Empregados % Sócio Proprietário 27 14,9 2 6,3 Contratos Formais 145 80,1 30 93,8 Estagiário 0 0,0 0 0,0 Serviço Temporário 2 1,1 0 0,0 Terceirizados 0 0,0 0 0,0 Familiares sem contrato formal 7 3,9 0 0,0
Total de Postos de Trabalho 181 100 32 100 Fonte: Pesquisa de campo.
A tabela IV.5 aponta o perfil dos sócios fundadores das micro e pequenas
empresas do arranjo produtivo de confecções de moda praia em Cabo Frio. Ela aponta
que 23,5% dos proprietários possuíam menos de 30 anos de idade, e quase metade
(47,1%) entre 31 e 40 anos de idade nos anos das respectivas fundações no caso das
micro empresas, e 100% entre 31 e 40 anos de idade no caso da pequena. Ademais,
pouco mais de 70% desses empresários não tiveram os pais como referência na gerência
dos seus próprios negócios.
87
Tabela IV.5 - Perfil dos Sócios Fundadores das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ
% Perfil dos Sócios Fundadores Micro Pequena Idade no ano da fundação
Até 20 anos 5,9 0,0 Entre 21 e 30 anos 17,6 0,0 Entre 31 e 40 anos 47,1 100,0 Entre 41 e 50 anos 29,4 0,0 Acima de 50 anos 0,0 0,0
Total 100 100 Sexo
Masculino 58,8 100,0 Feminino 41,2 0,0
Total 100 100 Filho de Empresário
Sim 29,4 100,0 Não 70,6 0,0
Total 100 100 Amostra (Nº de Empresas) 17 1 Fonte: Pesquisa de campo.
Além disso, a maior participação masculina (58,8% no caso das micro empresas
e 100% no caso da pequena) dos sócios fundadores das confecções também merece
destaque. No entanto, é importante ressaltar que a maioria dos empresários do sexo
masculino não estava só no ato da fundação das confecções. Seus respectivos cônjuges,
em geral, eram (ainda são) suas sócias ou trabalham nas confecções. A tabela a seguir
reflete um pouco esta situação.
A tabela IV.6 abaixo aponta o número de sócios fundadores das micro e
pequenas empresas do arranjo produtivo. Observa-se que 35,3% (6 empresas) das micro
empresas só tiveram um sócio fundador. Apesar de não ser possível observar pelas
tabelas IV.5 e IV.6, quatro destes micro empresários são do sexo masculino, e todos
eles trabalham com suas respectivas esposas nas confecções.
Tabela IV.6 - Número de Sócios Fundadores das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ
Micro Pequena Número de Sócios Fundadores Nº Empresas % Nº Empresas %
Um 6 35,3 0 0,0 Dois 11 64,7 1 100,0 Três 0 0,0 0 0,0 Quatro 0 0,0 0 0,0
Total 17 100 1 100 Fonte: Pesquisa de campo.
88
Em relação à escolaridade dos proprietários das micro empresas, observa-se,
pela tabela IV.7, que a maioria dos empresários (35,3%) possui o ensino médio
completo, seguido do superior, tanto incompleto quanto completo, representando 23,5%
dos empresários. Apenas um dos empresários possuía pós-graduação na área de
finanças, pela FGV-SP, e trabalhava em empresa privada em São Paulo (tabela IV.8).
Chama a atenção nesta tabela o alto grau de escolaridade dos empresários, uma vez que
88,2% deles possuem, pelo menos, o ensino médio completo. Este fato não passa
despercebido, principalmente quando se trata da percepção por parte dos empresários da
necessidade e formas de organização, conhecimento do mercado em que atuam, e da
capacidade de formular uma análise conjuntural bastante aguçada. Eles conhecem muito
bem o mercado em que atuam, sabem onde buscar a informação necessária para fazer
melhorias e conquistar maior espaço no mercado, além de estarem dispostos à
realização das mudanças necessárias. No entanto, esbarram com o principal fator
restritivo: (falta de) recursos financeiros. Tabela IV.7 - Escolaridade dos Proprietários das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções
em Cabo Frio/RJ % Grau de Ensino Micro Pequena
Analfabeto 0,0 0,0 Fundamental
Incompleto 5,9 0,0 Fundamental Completo 5,9 100,0 Médio Incompleto 0,0 0,0 Médio Completo 35,3 0,0 Superior Incompleto 23,5 0,0 Superior Completo 23,5 0,0 Pós-Graduação 5,9 0,0
Total 100 100 Amostra (Nº de Empresas) 17 1
Fonte: Pesquisa de campo.
Somente 17,6% dos proprietários das micro empresas de confecções já possuíam
experiência como empresários anteriormente (tabela IV.8). O mesmo percentual é
observado em relação àqueles que eram estudantes universitários. O percentual é menor
(11,8%) quando se trata de antigos funcionários de instituições públicas (Álcalis e
CERJ). Além disso, 23,5% dos empresários trabalhavam como empregados de empresas
fora do arranjo (Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais). A maioria dos empresários
(29,4%), no entanto, exerciam outras atividades, sendo algumas diretamente
89
relacionadas com confecções. Um dos empresários, junto com a esposa, herdou a
confecção de sua sogra. Outras já possuíam suas confecções em casa e costuravam
"para fora". Além desses que já se ocupavam em confecções, há vendedores autônomos
e donas-de-casa.
Alguns empresários, que trabalhavam em empresas privadas fora do arranjo e
um dos que eram funcionários de instituição pública, utilizaram suas respectivas
indenizações para abrirem suas empresas. Outros, que trabalhavam em empresas
privadas fora do arranjo, decidiram morar em Cabo Frio por diversas razões, entre elas
questões relacionadas ao desemprego e violência, principalmente na cidade do Rio de
Janeiro. Entre os empresários encontram-se bancário, engenheiro, biólogo,
administrador de empresas e zootecnista, sendo que alguns nem chegaram a exercer
atividades relacionadas às suas formações.
Tabela IV.8 - Atividade Anterior dos Proprietários das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ
% Atividade Micro Pequena
Estudante Universitário 17,6 0,0 Estudante de Escola Técnica 0,0 0,0 Empregado de micro ou pequena empresa local 0,0 0,0 Empregado de média ou grande empresa local 0,0 0,0 Empregado de empresa de fora do arranjo 23,5 0,0 Funcionário de instituição pública 11,8 0,0 Empresário 17,6 100,0 Outra 29,4 0,0
Total 100 100 Número de empresas 17 1
Fonte: Pesquisa de campo.
Em relação à escolaridade do pessoal ocupado nas empresas do arranjo, mais da
metade (56,2%) possui apenas o ensino fundamental completo contra 32,8% que possui
o ensino médio completo, sendo este o maior grau de escolaridade do pessoal ocupado
nas micro empresas do arranjo produtivo, e também onde pode se concentrar o potencial
de expansão para uma qualificação mais formalizada e especializada. Ademais, todos os
30 empregados da pequena empresa possuem o ensino médio incompleto, segundo a
entrevista realizada nesta empresa.
90
Tabela IV.9 - Escolaridade do Pessoal Ocupado nas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo
Frio/RJ % Grau de Ensino Micro Pequena
Analfabeto 0,0 0,0 Fundamental Incompleto 3,6 0,0 Fundamental Completo 56,2 0,0 Médio Incompleto 7,3 100,0 Médio Completo 32,8 0,0 Superior Incompleto 0,0 0,0 Superior Completo 0,0 0,0 Pós-Graduação 0,0 0,0
Total 100 100 Total de Pessoal Ocupado 145 30
Fonte: Pesquisa de campo.
O baixo grau de escolaridade reflete o fato de que esta atividade, intensiva em
mão-de-obra, requer um tipo de conhecimento diferente daquele encontrado nas
empresas mais intensivas em capital. O aprendizado no arranjo ocorre através de
processos informais de transmissão de conhecimentos tácitos e práticas no processo de
produção (learning by doing). A experiência de cada firma e indivíduo é disseminada
pelo arranjo, formal ou informalmente, seja através da troca de informações, seja
através da transmissão de conhecimentos por parte dos trabalhadores que transitam por
diferentes empresas e dentro das próprias empresas através da interação e capacitação
de familiares (learning by interacting). Apesar disso, como já dito, existe espaço para
maior capacitação desta mão-de-obra.
6) Infra-estrutura local
Ainda que o componente tácito do conhecimento local seja bastante forte nesta
atividade produtiva, a cidade de Cabo Frio não conta com uma infra-estrutura local,
principalmente educacional e científico-tecnológica, adequada para o fomento deste
segmento. Ela é bastante deficitária tendo-se em conta a demanda dos empresários por
qualificação da mão-de-obra e programas de treinamentos regulares.
De acordo com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Universitário de
Cabo Frio, existem quatro instituições de ensino médio que oferecem cursos técnicos
91
complementares (4° ano) regularmente, entretanto, nenhuma delas voltadas às
necessidades específicas do arranjo73.
Quanto à educação superior, quatro instituições74 oferecem diversos cursos tanto
de graduação e extensão quanto de pós-graduação, além do Instituto de Pesquisa da
Marinha em Arraial do Cabo.
Ademais, a cidade conta com dois centros de capacitação profissional, sendo que
ambos relacionados à educação75, e com a presença do SENAC (Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial) e com uma unidade do SEBRAE para a Região dos Lagos.
Não obstante a presença destas instituições de ensino superior, técnico e de
capacitação profissional, é curioso o fato de que nenhuma delas oferece cursos
diretamente relacionados às atividades de confecção, em especial de moda praia, cuja
vocação local é mais do que visível. A grande maioria dos empresários entrevistados
ressaltou exatamente esta carência como o principal problema da qualificação da mão-
de-obra local. Quando existe a necessidade de fazer treinamentos, é necessário recorrer
ao SENAI/CETIQT (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial/Centro de
Tecnologia da Indústria Têxtil) na cidade do Rio de Janeiro, o que torna bastante
custoso, e muitas vezes inviável.
Existe uma expectativa muito grande por parte dos empresários das confecções
de moda praia em relação tanto à implementação de cursos especializados como
também à criação de cursos superiores de Moda e Design nas universidades locais, o
que, já fora solicitado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Universitário.
Dessa forma, apesar da vocação local existente para a moda praia e o
componente tácito bastante peculiar desta atividade produtiva, fica claro que os
empresários estão cientes da importância de cursos especializados que serão bastante
importantes para a competitividade dessas empresas. Esta maior capacitação da mão-de-
obra aliada ao conhecimento local já existente pode ser bastante relevante para o futuro
da atividade do arranjo produtivo local de moda praia de Cabo Frio.
73 Estas são: Simetria (Técnico em Enfermagem e Informática), Instituto Educacional Professor Ismar Gomes (Formação de Professores), Colégio Aplicação (Técnico em Enfermagem) e Colégio Estadual 31 de Março (Técnico em Enfermagem e Informática). 74 Universidade Veiga de Almeida, Universidade Estácio de Sá, Faculdades da Região dos Lagos e Curso de Ciências Contábeis (Universidade Federal Fluminense). 75 Centro Fernando Azevedo (Educação Inclusiva) e Centro Educação Natália Caldonazzi (Educação de Professores).
92
7) Vantagens dinâmicas locais para a competitividade
7.1) Quanto à localização
A principal vantagem em relação à localização das empresas apontada na
pesquisa de campo (tabela IV.10) foi a proximidade com os clientes e consumidores,
onde 94% dos empresários das micro empresas atribuíram como médio ou alto o grau
de importância deste fator. A micro empresa que atribuiu baixa importância a este fator
é porque vende maior parte de sua produção para outras empresas no Brasil, e a pequena
empresa, que atribuiu importância nula, é porque vende em torno de 60% de sua
produção para o mercado externo. Apesar de muitos empresários vislumbrarem a
possibilidade de exportação, a maioria vende seus produtos nas suas lojas localizadas,
principalmente, na Rua dos Biquínis. No entanto, vale ressaltar que a maioria dos
consumidores é constituída de turistas que visitam a cidade, principalmente, nos fins de
semana.
Principalmente depois da constituição do Gamboa Shopping, a infra-estrutura
física local também foi apontada como importante para a maioria dos empresários76. No
entanto, apesar de terem ganhado o direito de usufruírem o estacionamento no terreno
da Marinha, ainda persiste o problema da construção de um estacionamento apropriado
para os clientes da Rua, que deixam seus veículos sob a lama quando há chuva.
De acordo com a tabela IV.10, é possível observar que a maioria dos
empresários compra seus insumos, matéria-prima e equipamentos fora da localidade,
principalmente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Dessa forma, estas atividades
não são uma vantagem do arranjo, exceto na compra de equipamentos usados e algumas
poucas matérias-prima.
Em relação à disponibilidade de serviços técnicos especializados, as empresas
atribuíram considerável relevância nesse sentido por existirem somente três técnicos
especializados para a manutenção das máquinas das confecções, ainda que não possuam
nenhuma qualidade diferenciada.
76 Apenas um dos empresários entrevistados se queixou a respeito da reforma feita na Rua. Segundo ele, uma vez que os carros que por ali passavam agora são obrigados a fazerem outro trajeto, a “vitrine
93
Tabela IV.10 - Vantagens da Localização para as Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ
%
Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela Pequena Vantagens
Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*Disponibilidade de mão-de-obra
qualificada 11,8 29,4 41,2 17,6 100 0,51 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30
Baixo custo da mão-de-obra 5,9 88,2 0,0 5,9 100 0,32 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30 Proximidade com fornecedores
de insumos e matéria prima 64,7 29,4 5,9 0,0 100 0,12 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00
Proximidade com clientes e consumidores 0,0 5,9 17,6 76,5 100 0,89 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00
Infra-estrutura física Local 0,0 17,6 29,4 52,9 100 0,76 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30 Proximidade com produtores de
equipamentos 70,6 17,6 11,8 0,0 100 0,12 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00
Disponibilidade de serviços técnicos especializados 5,9 11,8 41,2 41,2 100 0,69 0,0 0,0 100,0 0,0 100 0,60
Existência de programas de apoio e promoção 41,2 17,6 17,6 23,5 100 0,39 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00
Proximidade com universidades e centros de pesquisa 82,4 17,6 0,0 0,0 100 0,05 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00
Outra 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Amostra (Nº de Empresas) 17 1 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte).
Fonte: Pesquisa de campo.
Uma vez que não existem cursos especializados oferecidos pelas universidades
ou centros de pesquisa, a proximidade com estas não possui praticamente nenhuma
relevância para as firmas.
Em relação à mão-de-obra, quase 60% dos entrevistados apontaram a
disponibilidade de mão-de-obra qualificada como um fator de média e alta relevância.
No entanto, é necessário ressaltar que esta qualificação apontada se refere ao
conhecimento tácito no processo produtivo local. Os empresários têm clareza a respeito
da necessidade de treinamento da mão-de-obra para se obter maior competitividade,
aproveitando a sinergia deste conhecimento tácito local.
Ademais, em relação à existência de programas de apoio e promoção, é
importante ressaltar que sua existência é importante para aquelas empresas pertencentes
ao consórcio de exportação. Para as demais, segundo os entrevistados, estes programas
de apoio e promoção são irrelevantes.
A tabela IV.11 reforça o que foi dito anteriormente. Tanto na tabela IV.10
quanto na tabela IV.11, a proximidade e aquisição de insumos e matéria-prima por parte
natural” da Rua dos Biquínis fora perdida. No entanto, todos os demais empresários se mostraram bastante satisfeitos com a mudança.
94
das micro empresas apresentam praticamente o mesmo índice (0,12 e 0,11,
respectivamente). O mesmo pode ser dito em relação a proximidade com clientes e
consumidores e as vendas de produtos no local (0,89 e 0,96, respectivamente),
ressaltando a importância da localização para a dinâmica comercial das empresas.
Ademais, apesar da pequena empresa ter atribuído nenhuma importância para a
proximidade com clientes e consumidores na tabela IV.10, ela aponta a venda de seus
produtos localmente como bastante relevante. Ainda que grande parte de suas vendas
seja feita para fora do país e do Estado, percebe a importância da venda local para a
dinâmica de sua empresa, principalmente no verão. Os índices 0,96 e 1,00 apontam este
grau de importância levando-se em consideração todas as micro empresas no primeiro
caso, e a pequena empresa no segundo.
Tabela IV.11 - Transações Comerciais Realizadas no Local pelas Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ
%Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela Pequena
Tipo de Transação Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*
Aquisição de insumos e matéria prima 70,6 23,5 5,9 0,0 100 0,11 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00
Aquisição de equipamentos 82,4 11,8 0,0 5,9 100 0,09 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Aquisição de componentes e peças 23,5 52,9 23,5 0,0 100 0,30 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Aquisição de serviços especializados 0,0 17,6 29,4 52,9 100 0,76 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Vendas de produtos 0,0 5,9 0,0 94,1 100 0,96 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00
Amostra (Nº de Empresas) 17 1 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte).
Fonte: Pesquisa de campo.
A aquisição de insumos e matéria-prima e de equipamentos no arranjo é
apontada como pouco relevante do ponto de vista das transações locais, pois, como já
ressaltado, as empresas realizam estas transações fora do arranjo. Os índices 0,11 e 0,09,
respectivamente, refletem esta situação.
7.2) Quanto à mão-de-obra
O conhecimento prático e técnico na produção e a capacidade de aprender novas
qualificações foram apontados por mais de 94% dos micro empresários e por todos os
pequenos como fatores de alta relevância como características da mão-de-obra local.
Este fator, mais uma vez, revela a importância do conhecimento tácito no processo de
produção. Além disso, outras características como disciplina, flexibilidade e criatividade
também foram apontadas como importantes características da mão-de-obra local,
95
características importantes quando se pensa num ambiente onde a inovação é uma
característica fundamental para a dinâmica destas empresas.
Tabela IV.12 - Avaliação da Mão-de-Obra Local segundo as Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ
%Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela Pequena
Característica Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*
Escolaridade formal de 1º e 2º graus 11,8 52,9 35,3 0,0 100 0,37 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30 Escolaridade em nível superior e técnico 88,2 11,8 0,0 0,0 100 0,04 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Conhecimento prático/ técnico na produção 0,0 5,9 11,8 82,4 100 0,91 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Disciplina 11,8 11,8 29,4 47,1 100 0,68 0,0 0,0 100,0 0,0 100 0,60 Flexibilidade 5,9 23,5 17,6 52,9 100 0,71 0,0 0,0 100,0 0,0 100 0,60 Criatividade 11,8 0,0 29,4 58,8 100 0,76 0,0 0,0 100,0 0,0 100 0,60 Capacidade para aprender novas
qualificações 0,0 5,9 29,4 64,7 100 0,84 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00
Outras 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Amostra (Nº de Empresas) 17 1 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte).
Fonte: Pesquisa de campo.
Não surpreendente é o fato da escolaridade formal de 1º e 2º graus ter sido
apontada por apenas 35% das empresas como tendo média importância, e a de nível
superior apontada por todas as empresas como tendo baixa ou nula importância,
refletindo a importância do caráter tácito do conhecimento local em relação ao setor.
7.3) Principais determinantes da competitividade
A tabela IV.13 apresenta os fatores determinantes da competitividade das MPEs
do arranjo produtivo de confecções em Cabo Frio/RJ segundo a percepção dos
empresários. Em primeiro lugar, pode-se apontar que a qualidade da matéria-prima e
outros insumos e, conseqüentemente, a qualidade do produto, foram apontadas como
sendo extremamente importantes para a competitividade por praticamente todos os
empresários. O único que atribuiu baixa importância não confecciona biquínis e sim
roupas esportivas e relacionadas ao surf e enfrenta séria competição em preços com os
produtos chineses. Ainda assim, preza pela qualidade dentro do possível e oferece prazo
de garantia, uma diferenciação não observada nas demais empresas (Peixoto &
Cassiolato, 2004).
96
Tabela IV.13 - Fatores Determinantes da Competitividade das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ
%Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela Pequena
Fator competitivo Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*
Qualidade da matéria-prima e outros insumos 0,0 5,9 5,9 88,2 100 0,94 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00
Qualidade da mão-de-obra 0,0 35,3 17,6 47,1 100 0,68 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30 Custo da mão-de-obra 0,0 82,4 5,9 11,8 100 0,40 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30 Nível tecnológico dos equipamentos 5,9 11,8 23,5 58,8 100 0,76 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Capacidade de introdução de novos
produtos/ processos 5,9 0,0 52,9 41,2 100 0,73 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00
Desenho e estilo dos produtos 0,0 0,0 5,9 94,1 100 0,98 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Estratégias de comercialização 0,0 5,9 17,6 76,5 100 0,89 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Qualidade do produto 0,0 0,0 5,9 94,1 100 0,98 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Capacidade de atendimento (volume e
prazo) 0,0 0,0 17,6 82,4 100 0,93 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00
Outros 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Amostra (Nº de Empresas) 17 1 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte).
Fonte: Pesquisa de campo. Além destes fatores, a capacidade de introdução de novos produtos/processos
também foi mencionada como sendo importante por mais de 90% dos entrevistados.
Como se sabe, tal capacidade está fortemente relacionada às inovações em desenho e
estilo dos produtos, e ambas também foram apontadas como fatores muito importantes
para se manter a capacidade competitiva. Na verdade, aliada à qualidade dos produtos,
esta capacidade de inovar em design, e novas estratégias de comercialização é que
diferenciam a competitividade da grande maioria das empresas (Peixoto & Cassiolato,
2004).
8) Interação e processos de aprendizagem: treinamento e informação
Não obstante a já referida carência de cursos de capacitação para a mão-de-obra
local, o conhecimento tácito existente nos indivíduos e sua interação é que, em última
instância, garante a dinâmica produtiva das empresas do arranjo. O aprendizado no
arranjo ocorre, principalmente, através de processos informais de transmissão de
conhecimentos tácitos e práticas no processo de produção. A experiência de cada firma
e indivíduo é disseminada pelo arranjo, formal ou informalmente, seja através da troca
de informações, seja através da transmissão de conhecimentos por parte dos
trabalhadores que transitam por diferentes empresas (a já referida questão da
97
rotatividade da mão-de-obra) e dentro das próprias empresas através da interação e
capacitação de familiares.
Dessa forma, diversos empresários, na constituição de suas empresas, optaram
por entrar no setor através da aquisição de mão-de-obra com experiência (com
conhecimento tácito do processo de produção) e aquisição de equipamentos usados (o
que ainda ocorre atualmente).
Treinamento e Capacitação
A tabela IV.14 apresenta a visão dos empresários quanto ao grau de importância
das atividades de treinamento e capacitação de Recursos Humanos das MPEs do arranjo
produtivo de confecções de moda praia em Cabo Frio.
Em primeiro lugar, observa-se que todas as empresas respondentes77 consideram
o treinamento na empresa de média ou alta importância. Na verdade, para muitas, esta é
a única forma de treinamento possível. Este fato não causa estranheza já que não há
cursos técnicos especializados e a mão-de-obra, como já mencionado, é bastante
rotativa.
Tabela IV.14 - Atividades de Treinamento e Capacitação de Recursos Humanos das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ
%Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela Pequena
Atividades Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*
Treinamento na empresa 6,3 0,0 43,8 50,0 100 0,76 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Treinamento em cursos técnicos no arranjo 18,8 31,3 18,8 31,3 100 0,52 0,0 0,0 100,0 0,0 100 0,60 Treinamento em cursos técnicos fora do
arranjo 68,8 0,0 18,8 12,5 100 0,24 0,0 0,0 100,0 0,0 100 0,60
Estágios em empresas fornecedoras ou clientes 81,3 0,0 6,3 12,5 100 0,16 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00
Estágios em empresas do grupo 62,5 12,5 12,5 12,5 100 0,24 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Contratação de técnicos/engenheiros de outras
empresas do arranjos 93,8 0,0 0,0 6,3 100 0,06 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00
Contratação de técnicos/engrenheiros de empresas fora do arranjo 87,5 12,5 0,0 0,0 100 0,04 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00
Contratação de formandos dos cursos universitários localizados no arranjo ou próximo 87,5 6,3 6,3 0,0 100 0,06 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30
Contratação de formandos dos cursos técnicos localizados no arranjo ou próximo 93,8 0,0 6,3 0,0 100 0,04 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00
Amostra (Nº de Empresas) 16 1 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte).
77 A empresa que atribuiu importância nula é porque sua empresa não confecciona as peças que vende. Além disso, uma das empresas entrevistadas não forneceu qualquer informação a este respeito, uma vez que não realizou qualquer atividade de treinamento e capacitação de recursos humanos no período (quem confecciona é somente a própria empresária), optando, dessa forma, por não atribuir nenhum grau de importância à referida questão. Por isso, a amostra das micro empresas nesta tabela é 16.
98
Fonte: Pesquisa de campo.
Em relação ao treinamento em cursos técnicos realizados no arranjo, 50% das
empresas consideraram este tipo de treinamento como sendo de média ou alta
relevância, ainda que sua participação efetiva seja esporádica. No entanto, este número
reflete uma questão importante a ser mencionada. Pelo menos sete destas empresas que
participam de forma regular de treinamentos oferecidos, principalmente, pelo SEBRAE
local fazem parte do Consórcio de Exportação Pau-Brasil78, que conta com o apoio do
mesmo.
Se analisarmos o treinamento em cursos técnicos realizados fora do arranjo, em
geral ligados ao SENAI/CETIQT na cidade do Rio de Janeiro, percebemos que um
número reduzido (seis empresas – cinco micro e uma pequena) considera este item
como sendo de média ou alta importância. A maioria das empresas não realizou
qualquer treinamento nos últimos anos fora do arranjo, principalmente por não poderem
custear estes treinamentos. Curiosamente, apenas uma destas empresas que considerou
esta atividade de elevada importância faz parte do consórcio de exportação.
Neste cenário, muitos empresários reclamam quanto à atuação do SEBRAE
local, que se preocuparia em apoiar somente as empresas que fazem parte do consórcio.
Pouca importância também é dada tanto a estágios, seja em empresas
fornecedoras ou clientes seja em empresas do grupo79, quanto à contratação de
técnicos/engenheiros de empresas do arranjo ou fora dele.
Ademais, sem causar surpresa, é a pouca importância dada pelas empresas em
relação à absorção de formandos em cursos técnicos e universidades. Quando isso
ocorre, se dá através de estágios temporários e apenas na área administrativa. No
entanto, é preciso ressaltar que existe demanda por parte dos empresários por estes
formandos, tanto de nível técnico quanto superior, porém, em outras áreas de atuação já
mencionadas, principalmente Moda e Design.
Informação para o aprendizado
As fontes de informação para o aprendizado empregadas pelas MPEs do arranjo
estão sintetizadas na tabela IV.15. As principais fontes são explicitamente internas, com
78 Será feita uma apresentação mais detalhada sobre este Consórcio no próximo capítulo.
99
maior relevância da área de produção, onde ocorre tradicionalmente a transmissão de
conhecimento tácito e, em segundo lugar, as áreas de venda e marketing e serviço de
atendimento ao cliente, onde o empresário passa a conhecer melhor os demandantes dos
seus produtos e obter maiores informações de outros potenciais.
Quanto às fontes externas de informação, observa-se a importância que a troca
de informação com os clientes é dada pelas empresas. Esta via é, na verdade, um
complemento do serviço de atendimento ao cliente, onde o empresário, além de
conhecer os demandantes de seus produtos, passa a saber o que fazer para melhorar,
tanto os produtos quanto a relação com o próprio cliente.
Em relação às fontes externas, um fato extremamente interessante refere-se aos
itens que tentam identificar a importância do treinamento em outras empresas dentro do
grupo (informações de empresas do grupo e do setor). Nestes itens, 47,1% e 35,3% das
micro-empresas, respectivamente, informaram ser este tipo de fonte de informação de
alta importância e praticamente todas fazem parte do consórcio de exportação. Assim,
pode-se inferir que a formação do consórcio tem, de fato, levado as empresas que dele
fazem parte a se aproveitar de conhecimentos e capacitações de ordem tácita das demais
participantes (Peixoto & Cassiolato, 2004).
As universidades, institutos de pesquisa e instituições de testes, ensaios e
certificações foram apontadas por quase todos os empresários como sem relevância na
obtenção de informações para o aprendizado, dado que esta interação praticamente não
existe no arranjo. Algumas empresas apontaram alguma relevância aos centros de
capacitação profissional, de assistência técnica e de manutenção, sendo que sete delas
fazem parte do consórcio de exportação.
Outra forma de obtenção de informações que fora bastante ressaltada é através
de publicações especializadas e participações em feiras e exibições. Ainda que as
participações em tais feiras sejam consideradas relevantes para a maioria das empresas,
em geral, não existe uma ação conjunta para a realização desses eventos, exceto as
empresas participantes do consórcio. Este fato também foi bastante ressaltado por
alguns empresários quanto à atuação do SEBRAE, propondo que a instituição se
preocupasse mais com a promoção da Rua dos Biquínis em geral, e não apenas com a
participação das empresas do consórcio nestes eventos e outras ações fomentadoras.
79 Aqui, como empresas do grupo, considerei empresas que realizam a mesma atividade que fazem parte do arranjo produtivo de moda praia local.
100
Tabela IV.15 - Fontes de Informação empregadas pelas Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ
% Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela Pequena Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*1. Fontes Internas
Departamento de P & D 70,6 11,8 11,8 5,9 100 0,16 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Área de produção 5,9 5,9 5,9 82,4 100 0,88 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Áreas de vendas e marketing 5,9 0,0 23,5 70,6 100 0,85 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Serviços de atendimento ao cliente 5,9 0,0 23,5 70,6 100 0,85 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Outras 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00
2. Fontes Externas Outras empresas dentro do grupo 23,5 23,5 5,9 47,1 100 0,58 0,0 0,0 100,0 0,0 100 0,60 Empresas associadas (Joint Venture) 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Fornecedores de insumos 11,8 29,4 29,4 29,4 100 0,56 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30 Clientes 11,8 0,0 11,8 76,5 100 0,84 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Concorrentes 58,8 11,8 17,6 11,8 100 0,26 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Outras empresas do Setor 29,4 23,5 11,8 35,3 100 0,49 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Empresas de consultoria 94,1 0,0 0,0 5,9 100 0,06 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00
3. Instituições de Pesquisa, Capacitação e Serviços Tecnológicos
Universidades 94,1 0,0 0,0 5,9 100 0,06 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Institutos de Pesquisa 94,1 0,0 0,0 5,9 100 0,06 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Centros de capacitação profissional,
de assistência técnica e de manutenção 29,4 5,9 11,8 52,9 100 0,62 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00
Instituições de testes, ensaios e certificações 94,1 0,0 0,0 5,9 100 0,06 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00
4. Outras Fontes de Informação Licenças, patentes e “know-how” 82,4 0,0 0,0 17,6 100 0,18 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Conferências, Seminários, Cursos e
Publicações Especializadas 11,8 5,9 11,8 70,6 100 0,79 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00
Feiras, Exibições e Lojas 23,5 17,6 0,0 58,8 100 0,64 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30 Encontros de Lazer 23,5 58,8 17,6 0,0 100 0,28 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Associações empresariais locais 52,9 0,0 5,9 41,2 100 0,45 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00 Informações de rede baseadas na
internet ou computador 11,8 5,9 5,9 76,5 100 0,82 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00
Amostra (Nº de Empresas) 17 1 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte)
Fonte: Pesquisa de campo.
Finalmente, a utilização da Internet como fonte de informação foi apontada pela
maioria dos empresários como importante instrumento de aprendizagem. Além de
realizarem consultas na rede sobre diversas questões relacionadas ao setor produtivo, a
maioria destas empresas também possui, ou estão em via de construção, de sites com
informações sobre as mesmas.
101
Alguns resultados obtidos com os processos de treinamento e aprendizagem
A tabela IV.16 apresenta o grau de importância sugerido pelas empresas com
relação aos resultados obtidos com os processos de treinamento e aprendizagem das
MPEs do arranjo produtivo de moda praia em Cabo Frio. O maior conhecimento por
parte das empresas sobre as características do mercado em que atuam foi o item
considerado como mais importante (94% dos entrevistados80 consideraram média ou
alta importância).
Tabela IV.16 - Resultados Obtidos com os Processos de Treinamento e Aprendizagem das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ
%
Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela Pequena Resultados
Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*Melhor utilização de técnicas
produtivas, equipamentos, insumos e componentes
5,9 0,0 29,4 64,7 100 0,82 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00
Maior capacitação para realização de modificações e melhorias 5,9 0,0 11,8 82,4 100 0,89 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00
Melhor capacitação para desenvolver novos produtos e processos
5,9 5,9 11,8 76,5 100 0,85 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00
Maior conhecimento sobre as características dos mercados de atuação
0,0 5,9 5,9 88,2 100 0,94 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00
Melhor capacitação administrativa 0,0 0,0 35,3 64,7 100 0,86 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 Amostra (Nº de Empresas) 17 1 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte).
Fonte: Pesquisa de campo.
Além disso, a maior capacitação para realização de modificações e melhorias e
melhor capacitação para desenvolver novos produtos e processos também foram
apontados como itens bastante relevantes.
De acordo com os empresários entrevistados, o que determina a sobrevivência
das empresas neste setor é a capacidade de introdução de produtos diferenciados por
cada empresa individualmente, seja em relação à qualidade seja no que se refere
especificamente ao design de cada nova coleção. Nesse sentido, conhecer o mercado em
que atuam (considerado o item mais importante), ter idéia das tendências da moda que
possam agradar os consumidores (através de publicações especializadas, participação
80 Não confundir esta percentagem com o índice ponderado (0,94) em relação ao grau de importância atribuído pelas micro empresas neste quesito.
102
em feiras e exibições e, principalmente, acompanhar as tendências propostas pela
mídia) e ter a capacidade de perceber quando e quem será o principal demandante é de
fundamental importância para a dinâmica produtiva do setor.
Um fato interessante relatado por alguns empresários, cada um a seu modo, foi a
existência de “empresas inovadoras” e “empresas copiadoras” (Peixoto & Cassiolato,
2004). As primeiras seriam aquelas que saem na frente em relação às novas tendências e
modelos, enquanto as outras, ficam esperando para copiar e até mesmo obter os novos
moldes diretamente de dentro das empresas inovadoras. Segundo um dos empresários
entrevistados, a maneira mais eficaz de se evitar a cópia é através da diferenciação dos
produtos81.
Nesse sentido, entender esta dinâmica do processo de inovação no arranjo
produtivo de moda praia de Cabo Frio – levando-se em consideração o processo de
aprendizagem e o conhecimento gerado - é de fundamental importância para a
compreensão da discussão que este trabalho procura travar.
9) Principais esforços inovativos
Uma vez reconhecida a importância da inovação para a dinâmica do arranjo de
confecções de moda praia em Cabo Frio, a análise do seu processo se faz necessária. A
tabela IV.17 apresenta o número de empresas do arranjo produtivo que introduziram
inovações entre 2000 e 2002.
Tabela IV.17 - Número de Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ que
Introduziram Inovações entre 2000 e 2002 Micro Pequena Descrição Sim Sim
1. Inovações de produto 5,9% 0,0% 1 0 1.1. Produto novo para a sua empresa, mas já existente no mercado?
5,9% 0,0% 0 0 1.2. Produto novo para o mercado nacional?
0,0% 0,0% 0 0 1.3. Produto novo para o mercado internacional?
0,0% 0,0% 2. Inovações de processo 11,8% 0,0%
2 0 2.1. Processos tecnológicos novos para a sua empresa, mas já existentes no setor? 11,8% 0,0% 2.2. Processos tecnológicos novos para o setor de atuação? 1 0
81 Como se verá adiante, esta diferenciação dos produtos se traduz, basicamente, a novos modelos. Ou seja, não há a introdução de novos produtos para a empresa e sim modificações no mesmo produto (novos designs).
103
5,9% 0,0% 3. Outros tipos de inovação 100,0% 100,0%
3 1 3.1. Criação ou melhoria substancial, do ponto de vista tecnológico, do modo de acondicionamento de produtos (embalagem)? 17,6% 100,0%
17 1 3.2. Inovações no desenho de produtos? 100,0% 100,0%
4. Realização de mudanças organizacionais (inovações organizacionais) 82,4% 100,0%
3 1 4.1. Implementação de técnicas avançadas de gestão ? 17,6% 100,0%
7 1 4.2. Implementação de significativas mudanças na estrutura organizacional? 41,2% 100,0%
11 1 4.3. Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de marketing ? 64,7% 100,0%
14 1 4.4. Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialização ? 82,4% 100,0%
1 0 4.5. Implementação de novos métodos e gerenciamento, visando a atender normas de certificação (ISO 9000, ISSO 14000, etc)? 5,9% 0,0% Amostra (Nº de Empresas) 17 1
Fonte: Pesquisa de campo. No que diz respeito à inovação de produto, apenas uma empresa (5,9% da
amostra) afirmou ter introduzido algum produto novo para a sua empresa, mas já
existente no mercado. Neste caso único, a empresa que diversificou introduziu a
confecção de roupas de ginástica. Entretanto, a inovação não representou um sucesso,
pois, segundo informações obtidas em entrevista, a produção continuada de tais
produtos era mais custosa, além de requerer investimento em novos equipamentos.
A aquisição de novos equipamentos é parcialmente refletida quando se analisa as
inovações de processo. Assim como no caso das inovações de produto, poucas empresas
informaram ter introduzido processos tecnológicos novos para sua empresa, mas já
existente no setor (11,8% da amostra). Trata-se, basicamente, da aquisição de novas
máquinas (porém não as mais modernas) que ainda não eram utilizadas pelas empresas.
Quanto aos processos tecnológicos novos para o setor de atuação, apenas uma empresa
(5,9% da amostra) respondeu ter introduzido este tipo de inovação. Esta inovação se
trata de uma modificação feita pelo próprio empresário no funcionamento da máquina
(que ele já possuía) que, segundo ele, produz uma diferenciação na costura que
nenhuma outra empresa do setor possui. Tal modificação é o típico resultado de
processos produzidos por learning by using. A carência desse tipo de inovação é
104
resultado de uma grande dificuldade enfrentada pelas empresas para a aquisição de
novas e modernas máquinas e equipamentos82.
As empresas, porém, têm efetuado importantes inovações organizacionais. De
fato, 82,4% das empresas entrevistadas afirmaram terem implantado, entre 2000 e 2002
mudanças organizacionais. Dentre tais mudanças, as mais importantes têm sido as
mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialização (82,4% das
empresas pesquisadas) e mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de
marketing (64,7% das empresas). As mudanças nas práticas de gestão não parecem ter
sido tão significativas. Apenas 17,6% das empresas informaram terem implementado
técnicas avançadas de gestão e 41,2% das empresas implementaram mudanças
significativas na estrutura organizacional.
Além disso, como já previsto, a totalidade das empresas informou ter efetuado
inovações no desenho de produtos. Pelo menos uma vez por ano (às vezes duas ou três
vezes), as empresas efetuam o lançamento de uma nova coleção. Dessa forma, é nesta
atividade que se concentra o principal diferencial de cada empresa, ou seja, é na
inovação constante no design dos produtos que ocorre a competição entre as empresas.
Segundo o depoimento de alguns empresários, apesar de existirem muitas lojas na Rua
dos Biquínis especializadas na produção deste produto, percebe-se que muitas marcas
possuem seu próprio estilo de biquíni. Este tipo de estratégia responde, então, pela
elevada percentagem acima apontada com relação a mudanças tanto nas práticas quanto
nos conceitos de marketing e comercialização (Peixoto & Cassiolato, 2004). Este tipo
de estratégia está associado ao próprio padrão de concorrência observado no arranjo,
sendo responsável para que as empresas mantivessem a sua participação no mercado,
apesar do acirramento da concorrência que as mesmas estão enfrentando,
principalmente em relação à própria comercialização.
A tabela IV.18, que aponta a constância das atividades inovativas nas MPEs do
arranjo produtivo, reforça o que foi dito ao longo desta seção. As novas formas de
comercialização e distribuição são apontadas por 82,4% das empresas como atividades
inovativas que são rotineiramente realizadas. Este tipo de inovação sistêmica, como dito
anteriormente, está associado ao padrão de concorrência das empresas do arranjo.
Ainda que, aproximadamente, 94% das empresas efetuem aquisição de máquinas
e equipamentos, a maior parte (58,8%) apenas o faz ocasionalmente. Este tipo de
82 Ver tabela V.1 no próximo capítulo.
105
atividade inovativa possui o mesmo “grau de constância”83 para as empresas que os
programas de treinamento orientado à introdução de produtos/processos, apesar da
enorme relevância na inovação constante no design destes produtos.
A pesquisa e desenvolvimento na empresa não é uma atividade amplamente
realizada pelas empresas do arranjo. O que existe, como já dito anteriormente, é uma
ampla difusão do conhecimento tácito e práticas no processo de produção que são
transmitidos, principalmente, através de processos informais de interação entre os
agentes.
Tabela IV.18 - Constância da Atividade Inovativa nas Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ (%)
Atividade Inovativa Micro Pequena
Não
desenvolveu
Rotineiramente
Ocasionalmente Total Índice*
Não desenvol
veu
Rotineiramente
Ocasionalmente Total Índice*
Pesquisa e Desenvolvimento na empresa
58,8 29,4 11,8 100 0,35 0,0 100,0 0,0 100 1,00
Aquisição externa de P&D 94,1 5,9 0,0 100 0,06 100,0 0,0 0,0 100 0,00
Aquisição de máquinas e equipamentos
5,9 35,3 58,8 100 0,65 100,0 0,0 0,0 100 0,00
Aquisição de outras tecnologias (licenças, patentes)
82,4 5,9 11,8 100 0,12 100,0 0,0 0,0 100 0,00
Projeto industrial ou desenho associados à produtos / processos
82,4 5,9 11,8 100 0,12 100,0 0,0 0,0 100 0,00
Programa de treinamento orientado à introdução de produtos/ Processos
11,8 41,2 47,1 100 0,65 0,0 0,0 100,0 100 0,50
Programas de gestão da qualidade ou de modernização organizacional
58,8 5,9 35,3 100 0,24 0,0 0,0 100,0 100 0,50
Novas formas de comercialização e distribuição
5,9 82,4 11,8 100 0,88 0,0 100,0 0,0 100 1,00
Amostra (Nº de Empresas) 17 1
*Índice = (0*Nº Não desenvolveu + 0,5*Nº Ocasionalmente + Nº Rotineiramente) / (Nº Empresas por Porte).
83 Este “Grau de Constância” referido significa apenas que estas atividades possuem o mesmo índice, calculado como uma média ponderada em relação às constâncias inovativas das empresas.
106
Fonte: Pesquisa de campo.
Dessa forma, pode-se dizer que a produção de moda-praia na região não é
intensiva em inovação (radical) tecnológica e de produto. O que torna, de fato, a
empresa competitiva é a capacidade de introdução de inovações no design e estilo dos
produtos, aliados a melhoria de acondicionamento dos produtos e estratégias de
marketing e comercialização.
No entanto, é necessário ressaltar que inovações no processo, principalmente
através da aquisição de máquinas e equipamentos que implicariam em significativas
melhorias tecnológicas, aquisição de tecnologias (principalmente softwares
relacionados a tais máquinas) e que seriam de grande relevância para a competitividade
das empresas, não têm sido objeto de preocupação dos empresários locais. Enfrentando
difícil concorrência e não encontrando políticas adequadas de financiamento, os
empresários de Cabo Frio não conseguem atualizar seus processos produtivos. Este fato
pode significar uma barreira significativa, particularmente, para atender um mercado
externo em expansão. Este é de fundamental importância para a dinâmica de longo
prazo do arranjo, principalmente se for levada em consideração a sazonalidade, tanto da
produção quanto da mão-de-obra.
A tabela IV.19 aponta os impactos gerados pela introdução de inovações nas
MPEs do arranjo produtivo de moda praia de Cabo Frio. A maioria dos empresários
apontou o aumento da qualidade dos produtos como o fator mais importante resultante
da introdução de inovações. Ainda que enfrentem grandes dificuldades84,
principalmente em relação à concorrência dos produtos chineses, o que afeta,
consideravelmente, a comercialização dos seus produtos, este aumento na qualidade é
uma maneira de se diferenciarem em relação a estes produtos que são, em geral, de
baixa qualidade. Esta diferenciação, aliada à ampliação da gama de produtos ofertados,
é responsável, em última instância, pela manutenção na participação nos mercados de
atuação, resultado, outrossim, da introdução de inovações.
Algumas empresas conseguiram aumentar sua participação no mercado nacional
e até alcançar o mercado internacional. Este aumento, no entanto, se deveu não apenas
às atividades inovativas, mas também a novas formas de cooperação entre algumas
empresas.
84 As principais dificuldades na operação das empresas serão melhores analisadas no item 2 do próximo capítulo.
107
Deve-se ressaltar ainda que poucas empresas tiveram seus custos (trabalho,
insumo e consumo de energia) reduzidos devido às práticas inovativas. Pelo contrário, a
maioria teve ampliação dos mesmos, tanto pela aquisição de novas máquinas quanto
pela utilização de novos insumos e matéria-prima.
Por último, de acordo com os empresários, houve ampliação da gama de
produtos ofertados e aumento da produtividade de algumas empresas como resultados
da introdução de inovações.
Tabela IV.19 - Impactos Gerados pela Introdução de Inovações nas Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ
%
Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela PequenaImpacto
Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*Aumento da produtividade 11,8 17,6 41,2 29,4 100 0,59 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30 Ampliação da gama de
produtos ofertados 0,0 5,9 29,4 64,7 100 0,84 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00
Aumento da qualidade dos produtos 0,0 11,8 11,8 76,5 100 0,87 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00
Manutenção na participação nos mercados de atuação 0,0 5,9 23,5 70,6 100 0,86 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00
Aumento da participação no mercado interno 11,8 35,3 23,5 29,4 100 0,54 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00
Aumento da participação no mercado externo 35,3 29,4 5,9 29,4 100 0,42 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00
Abertura de novos mercados 5,9 41,2 17,6 35,3 100 0,58 0,0 0,0 100,0 0,0 100 0,60 Redução de custos do trabalho 52,9 35,3 5,9 5,9 100 0,20 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30 Redução de custos de insumos 64,7 11,8 17,6 5,9 100 0,20 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30 Redução do consumo de
energia 64,7 17,6 5,9 11,8 100 0,21 0,0 100,0 0,0 0,0 100 0,30
Enquadramento em regulações e normas / padrão relativas ao Mercado Interno
70,6 29,4 0,0 0,0 100 0,09 0,0 0,0 100,0 0,0 100 0,60
Enquadramento em regulações e normas / padrão relativas ao Mercado Externo
88,2 5,9 5,9 0,0 100 0,05 0,0 0,0 100,0 0,0 100 0,60
Redução do impacto sobre o meio ambiente 88,2 0,0 11,8 0,0 100 0,07 100,0 0,0 0,0 0,0 100 0,00
Amostra (Nº de Empresas) 17 1 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte).
Fonte: Pesquisa de campo.
10) Formas de cooperação no arranjo produtivo
Dados da pesquisa de campo sugerem claramente uma nítida diferenciação, por
parte dos empresários, em relação à cooperação. Esta diferenciação se dá,
evidentemente, entre aqueles que participam e os que não participam do consórcio de
exportação. Entre os do primeiro grupo, a noção e a importância da cooperação são
108
muito mais claras em diversos sentidos, seja na compra de insumos e matéria-prima,
participação em eventos, venda conjunta, etc. No segundo grupo, entretanto, não apenas
a noção de cooperação, mas a interação e troca de informações não são claramente
compreendidas. Apesar de estarem em constante contato com outros empresários, seja
na própria Rua dos Biquínis ou mesmo na Associação Comercial, da qual alguns fazem
parte, trocando informações e até mesmo discutindo formas de ações conjuntas para a
melhoria local, diversos empresários alegaram não participar de atividades cooperativas.
Alguns até demonstraram certa ironia em relação às mesmas, carregando muito forte a
noção de concorrência. Percebe-se, claramente, que consideram a existência de uma
barreira entre cooperação e concorrência, não percebendo que a interação entre as
mesmas pode ser benéfica. Segundo Regazzi et at. (2004), tais atitudes seriam
obstáculos colocados pela cultura empresarial da região: em geral, muito individualista,
desconfiada, pouco estratégica e incapaz de perceber vantagens competitivas na
cooperação.
A tabela IV.20 aponta a participação em atividades cooperativas das empresas
do arranjo. Observa-se que metade das empresas (micro e pequenas) respondeu que
participaram de atividades cooperativas em 2002, ressaltando que sete das mesmas
fazem parte do consórcio de exportação. Das duas que não fazem parte do consórcio,
uma delas realizou compra de insumos e participou de atividades de marketing comum
às empresas da Rua. A outra, participou da realização de uma feira com outras
empresas.
Tabela IV.20 - Participação em Atividades Cooperativas em 2002 das Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ %
Porte Participa Não Participa Total Amostra
(Nº de Empresas) Micro 52,9 47,1 100 17 Pequena 0,0 100,0 100 1
Fonte: Pesquisa de campo.
Dentre as principais atividades cooperativas desenvolvidas pelas empresas do
arranjo em 2002 destacam-se compra de insumos, venda de produtos, desenvolvimento
de produtos e processos e no design e estilo de produtos, reivindicações e participação
conjunta em feiras (tabela IV.21).
Aproximadamente 67% das empresas consideraram de média e alta importância
a cooperação na compra de insumos e 77,8% na venda conjunta de produtos, no
109
desenvolvimento de produtos e processos e no design e estilo dos produtos. Não menos
importantes são as cooperações visando a participação conjunta em feiras e buscando
organizar processos reivindicatórios.
Tabela IV.21 - Atividades Cooperativas Desenvolvidas pelas Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo FrioRJ em 2002
%
Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela Pequena Finalidade da Cooperação
Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*Compra de insumos e equipamentos 22,2 11,1 22,2 44,4 100 0,32 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Venda de produtos 22,2 0,0 0,0 77,8 100 0,41 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Desenvolvimento de Produtos e
processos 22,2 0,0 11,1 66,7 100 0,39 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00
Design e estilo de Produtos 22,2 0,0 0,0 77,8 100 0,41 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Capacitação de Recursos Humanos 33,3 44,4 0,0 22,2 100 0,19 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Obtenção de financiamento 44,4 0,0 22,2 33,3 100 0,25 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Reivindicações 11,1 0,0 22,2 66,7 100 0,42 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Participação em feiras, etc 11,1 0,0 11,1 77,8 100 0,45 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Outras 0,0 0,0 50,0 50,0 100 0,09 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00
Amostra (Nº de Empresas) 9 0 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Total de Empresas)
Fonte: Pesquisa de campo.
Apesar da importância da capacitação de Recursos Humanos, apenas 22,2% dos
empresários consideraram esta forma de cooperação como de alta importância. No
entanto, o que este número reflete é exatamente a carência local deste tipo de serviço, e
não que os empresários não a considerem importante. Ainda assim, mesmo os
empresários participantes do consórcio não consideraram esta atividade tão relevante,
uma vez que eles não se mobilizaram, de fato, para este fim.
Quanto à obtenção de financiamento, 55,5% dos empresários consideraram esta
forma de cooperação de média e alta relevância, sendo todos participantes do consórcio
de exportação. Segundo eles, é mais fácil conseguir crédito quando se está em conjunto,
pois as garantias podem ser “diluídas” entre os empresários85. Ainda assim, existe muito
receio por parte dos micro empresários, em geral, na busca de financiamento para seus
negócios.
Como principais resultados destas ações cooperativas destacam-se: melhorias
nas condições de fornecimento dos produtos, melhoria nas condições de
85 Este fato abre espaço para se pensar na possibilidade da introdução do microcrédito na região para atender as necessidades mais básicas dos empresários. No entanto, é necessário ressaltar que este tipo de financiamento, ao meu ver, é insuficiente para atender às reais necessidades de fomento do arranjo produtivo de moda praia da região, principalmente para o aumento de sua competitividade para atingir o mercado que se pretende. No entanto, esta questão específica não faz parte do escopo que este trabalho propõe discutir, ainda que se reconheça a enorme relevância da questão.
110
comercialização, novas oportunidades de negócios, promoção de nome/marca das
empresas no mercado nacional e, principalmente, maior inserção das empresas no
mercado externo. A tabela IV.22 resume estes resultados.
Tabela IV.22 - Resultados Obtidos com as Parcerias Realizadas pelas Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ
%
Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela Pequena Resultados
Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*Melhoria na qualidade dos produtos 11,1 11,1 0,0 77,8 100 0,43 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Desenvolvimento de novos produtos 22,2 0,0 0,0 77,8 100 0,41 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Melhoria nos processos produtivos 22,2 11,1 55,6 11,1 100 0,25 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Melhoria nas condições de fornecimento
dos produtos 0,0 0,0 55,6 44,4 100 0,41 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00
Melhor capacitação de recursos humanos 33,3 55,6 11,1 0,0 100 0,12 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Melhoria nas condições de
comercialização 0,0 0,0 0,0 100,0 100 0,53 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00
Introdução de inovações organizacionais 22,2 44,4 11,1 22,2 100 0,22 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Novas oportunidades de negócios 0,0 0,0 11,1 88,9 100 0,51 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Promoção de nome/marca da empresa no
mercado nacional 0,0 0,0 22,2 77,8 100 0,48 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00
Maior inserção da empresa no mercado externo 22,2 0,0 0,0 77,8 100 0,41 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00
Outras 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Amostra (Nº de Empresas) 9 0 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Total de Empresas).
Fonte: Pesquisa de campo.
Naturalmente, os maiores beneficiados destas atividades de cooperação foram as
empresas participantes do consórcio de exportação, principalmente em relação à
melhoria nas condições de comercialização, novas oportunidades de negócios,
promoção de nome/marca da empresa no mercado nacional e inserção no mercado
externo. No entanto, estas empresas ainda dependem da atuação de órgãos fomentadores
para que o consórcio funcione.
11) Síntese parcial
Este capítulo apresentou as principais características do arranjo produtivo local
de moda praia de Cabo Frio desde sua origem e desenvolvimento, examinado o perfil
dos principais agentes ocupados nas empresas do arranjo, a infra-estrutura local, as
vantagens dinâmicas locais para a competitividade, a interação e processos de
111
aprendizagem, os principais esforços inovativos e as formas de cooperação no arranjo
produtivo.
Observou-se que a sazonaliadade do emprego é a característica principal da
atividade no arranjo, com a maioria destas empresas contratando serviços temporários
no verão, quando a produção e as vendas aumentam consideravelmente. Apesar disso, o
aprendizado no arranjo ocorre através de processos informais de transmissão de
conhecimentos tácitos e práticas no processo de produção (learning by doing). A
experiência de cada firma e indivíduo é disseminada pelo arranjo, formal ou
informalmente, seja através da troca de informações, seja através da transmissão de
conhecimentos por parte dos trabalhadores que transitam por diferentes empresas e
dentro das próprias empresas através da interação e capacitação de familiares (learning
by interacting).
Além disso, observou-se, também o tipo de aprendizado learning by using nas
empresas do arranjo, seja no treinamento interno das firmas seja através da modificação
em equipamentos para melhor utilização na busca da inovação.
Apesar disso, o arranjo não conta com uma infra-estrutura adequada no que diz
respeito à capacitação de mão-de-obra voltada para as atividades relacionadas à moda
praia. Existe uma expectativa muito grande por parte dos empresários das confecções de
moda praia em relação tanto à implementação de cursos especializados como também à
criação de cursos superiores de Moda e Design nas universidades locais.
Dentre as principais vantagens dinâmicas para a competitividade destacam-se: a
proximidade com clientes e consumidores, venda de produtos, conhecimento
prático/técnico da produção por parte da mão-de-obra, qualidade da matéria-prima e
outros insumos, além do desenho, estilo e qualidade dos produtos. Observou-se,
outrossim, que é esta capacidade de inovar em design, aliadas à novas estratégias de
comercialização que diferenciam a competitividade da grande maioria das empresas do
arranjo.
Nesse sentido, a principal atividade de treinamento e capacitação de Recursos
Humanos das MPEs do arranjo produtivo de confecções de moda praia em Cabo Frio
baseia-se no treinamento nas empresas, uma vez que não há cursos técnicos
especializados no arranjo. As principais fontes de informação para o aprendizado são as
áreas de produção das empresas, venda e marketing, informações provenientes do
contato com o cliente e informações baseadas na internet ou computador.
112
Os principais resultados desta busca de informações são melhor capacitação para
desenvolver produtos e processos, melhor capacitação para a realização de melhorias e
modificações e maior conhecimento sobre as características dos mercados de atuação.
Dentre os principais esforços inovativos realizados pelas empresas destacam-se
inovações nos desenhos do produto e mudanças significativas nos conceitos e/ou
práticas de comercialização, resultando, principalmente, na ampliação da gama de
produtos ofertados, aumento da qualidade dos produtos e manutenção na participação
nos mercados de atuação.
Entretanto, poucas empresas participaram de atividades cooperativas. Dentre as
que participaram, os principais resultados obtidos com as parcerias realizadas pelas
micro e pequenas empresas do arranjo produtivo foram as seguintes: melhoria nas
condições de comercialização, novas oportunidades de negócios, promoção de
nome/marca da empresa no mercado nacional, e maior inserção da empresa no mercado
externo. Os maiores beneficiados destas atividades de cooperação foram as empresas
participantes do consórcio de exportação, que ainda dependam da atuação de órgãos
fomentadores para funcionar.
113
CAPÍTULO V – PERSPECTIVAS DO APL DE MODA PRAIA DE CABO FRIO:
POLÍTICAS DE PROMOÇÃO E A QUESTÃO DA INSERÇÃO NO MERCADO
EXTERNO
1) Introdução
Com base no que foi apresentado nos capítulos anteriores deste trabalho, em
especial na análise do arranjo produtivo local de moda praia, este capítulo procura fazer
um exercício de análise quanto a possível trajetória a ser seguida pelas empresas do
arranjo no âmbito da competição internacional do setor de confecções.
É claro que num cenário de possibilidades a análise pode apresentar certa
fragilidade caso o contexto histórico e, principalmente, político não seja levado em
consideração. Para isso, toda a análise desenvolvida no capítulo I e II em relação à
dinâmica do capitalismo dependente deve ser levado em consideração quando pensamos
na inserção das empresas na cadeia competitiva global.
Dessa forma, as políticas de promoção de APLs, na medida em que refletem a
capacidade de determinados atores de estimular o desenvolvimento de atividades
econômicas que apresentam vínculos de produção, interação, cooperação e
aprendizagem, com potencial para gerar o incremento da capacidade inovativa
endógena, da competitividade e do desenvolvimento local, representam elementos
fundamentais nesta discussão. Por isso, é fundamental a compreensão do papel de
determinados atores na coordenação e promoção de atividades que busquem o
desenvolvimento do APL considerado.
Uma vez ressaltada a importância do aprendizado nesta discussão, quando se
considera o papel de políticas que busquem a promoção de diferentes formas de
aprendizado, devemos considerar que “o locus do aprendizado deixa de ser
exclusivamente a firma individual e passa a incluir também a interface com outros
agentes – firmas, agências públicas e privadas de P&D, consumidores, provedores etc.”
(Mytelka, 2000). A existência de instituições e arranjos capazes de coordenar e
potencializar essas interações assume um papel extremamente importante.
Nesse sentido, abre-se espaço para potencializar a competitividade e a
participação tanto no comércio interno quanto no externo. Este seria o espaço de
sobrevivência e expansão das MPEs como parte de uma estrutura de rede ou de um
arranjo inovativo capaz de viabilizar processos de aprendizado. As políticas públicas,
114
orientadas a fortalecer essas redes de interação, poderiam assim desempenhar um papel
crucial no processo de construção da competitividade, seja aumentando-a no âmbito
interno seja abrindo espaço para a inserção no âmbito externo.
Nesse cenário, o capítulo aponta as principais dificuldades enfrentadas pelas
empresas do arranjo para, então, fazer considerações de políticas para o fomento do
mesmo. Em seguida, é apresentado o consórcio Pau-Brasil de moda praia e seu principal
objetivo que é a inserção no mercado internacional. No entanto, apesar de reconhecer a
importância da conquista desses mercados, a análise sugere cautela, principalmente,
quanto à atuação das grandes empresas e outras formas hierarquizadas de coordenação
no arranjo capazes de articular os atores locais com o mercado internacional. É preciso
estar ciente dos desafios específicos que a condição periférica impõe para a adoção de
políticas em favor do aprimoramento da/para inserção internacional destas MPEs.
2) Principais dificuldades enfrentadas pelas empresas do arranjo
Os dados levantados pela pesquisa, principalmente, com relação à inovação,
aprendizado e cooperação parecem refletir a precariedade institucional e os problemas
estruturais geradores das principais dificuldades enfrentadas pelas empresas do arranjo
produtivo de moda praia de Cabo Frio.
A tabela V.1 apresenta o grau de dificuldade operacional das empresas do
arranjo produtivo de confecções de moda praia em Cabo Frio tanto no ano de
estabelecimento da empresa quanto em 2002. A análise da tabela mostra que a principal
dificuldade enfrentada pelos empresários, seja no primeiro ano de funcionamento da
empresa seja em 2002, é em relação à contratação de empregados qualificados.
Conforme já ressaltado, a falta de cursos regulares de capacitação profissional voltados
para as confecções é uma das principais carências percebidas em relação à qualificação
da mão-de-obra local.
Em relação à produção com qualidade, praticamente todas as empresas alegaram
que suas principais preocupações residem na produção de alta qualidade, utilizando
matéria-prima e demais insumos de qualidade. Pela tabela V.1, é possível perceber que
este tipo de dificuldade diminuiu para as empresas desde o primeiro ano de
funcionamento até o ano 2002.
115
Tabela V.1 - Grau de Dificuldade Operacional das Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ %
Grau de Dificuldade Atribuído pelas empresas do arranjo 1º Ano de Atuação Em 2002 Dificuldade
Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*Contratar empregados qualificados 11,1 0,0 5,6 83,3 100,0 0,87 16,7 0,0 11,1 72,2 100,0 0,79 Produzir com qualidade 50,0 22,2 11,1 16,7 100,0 0,30 55,6 22,2 16,7 5,6 100,0 0,22 Vender a produção 22,2 50,0 16,7 11,1 100,0 0,36 11,1 22,2 33,3 33,3 100,0 0,60 Custo / falta de capital de giro 27,8 5,6 11,1 55,6 100,0 0,64 16,7 11,1 5,6 66,7 100,0 0,73 Custo/falta de capital para aquisição
de máquinas e equipamentos 27,8 22,2 16,7 33,3 100,0 0,50 16,7 27,8 16,7 38,9 100,0 0,57
Custo / falta de capital para aquisição / locação de instalações 55,6 22,2 11,1 11,1 100,0 0,24 88,9 5,6 0,0 5,6 100,0 0,07
Pagamento de juros 66,7 11,1 5,6 16,7 100,0 0,23 50,0 22,2 11,1 16,7 100,0 0,30 Outras dificuldades 50,0 0,0 0,0 50,0 100,0 0,50 0,0 0,0 33,3 66,7 100,0 0,87
Amostra (Nº de Empresas) 18 18 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte).
Fonte: Pesquisa de campo.
Não obstante a preocupação com a qualidade dos produtos, as empresas estão
também enfrentando, cada vez mais, dificuldade para vender sua produção. Um dos
fatores apontados pelos empresários é a “invasão chinesa” com mercadorias bem mais
baratas e algumas de boa qualidade. Além deste tipo de concorrência, muitos
empresários se referiram à “concorrência desleal” gerada pela informalidade, que vem
crescendo continuamente ao longo dos últimos anos como resultado do aumento do
desemprego e da queda do nível de renda da população. Reconhecem os empresários
que não há possibilidade de competir em preços, por isso tentam direcionar sua
produção para mercados de maior poder aquisitivo, preocupando-se, portanto com a
qualidade. No entanto, é significativo que diversos empresários observaram que, talvez
como resultado da diminuição da renda de significativa parcela da população brasileira,
principalmente nos últimos quinze anos, tem havido, nestes anos uma mudança no perfil
do consumidor brasileiro: tem aumentado o número dos que passam a se preocupar mais
com preços em relação aos que enfatizam a qualidade do produto. Este fato é percebido
quando analisado o grau de dificuldade para se vender a produção na tabela V.1.
O aumento dos problemas relativos ao custo ou falta de capital de giro, de
capital para a aquisição de máquinas e equipamentos e dificuldades encontrada com o
pagamento de juros, está relacionado ao obstáculo encontrado pelas empresas ao acesso
ao financiamento. A maioria das empresas resiste em adquirir financiamentos. E quando
o fazem, tomam emprestado baixos montantes para questões emergenciais. Esta questão
está fortemente relacionada à própria viabilidade do arranjo produtivo de moda praia no
116
longo prazo. Sem melhores condições na obtenção de empréstimos, principalmente para
a compra de modernas máquinas e equipamentos, a competitividade das empresas corre
sério risco de se extinguir, não obstante às questões relacionadas às especificidades
locais.
O Banco do Brasil é a principal instituição lembrada pelos empresários para a
obtenção de crédito tanto para capital de giro quanto para estímulo à exportação. Dentre
estas modalidades de financiamento destacam-se o Programa de Financiamento às
Exportações (Proex), Adiantamento sobre Contratos de Câmbio (ACC) e Adiantamento
sobre Cambiais Entregues (ACE), que consistem na antecipação total ou parcial de
recursos financeiros ao exportador, em moeda nacional, correspondentes ao pagamento
em moeda estrangeira que será efetuado pelo importador no futuro por conta de uma
exportação.
No entanto, poucos empresários utilizam tais modalidades de financiamento. Em
geral, se limitam a pequenos empréstimos para capital de giro quando há necessidade.
Sua verdadeira carência, como já dito, se encontra num financiamento adequado para
compra de máquinas e equipamentos. A maioria demonstrou grande interesse nesse
sentido, reconhecendo, porém, a total impossibilidade de viabilizar tais financiamentos,
tendo em vista a total inadequação das estruturas de financiamento existentes. As
informações obtidas com os dados da tabela V.2 abaixo, que se referem aos obstáculos
que limitam o acesso ao financiamento por parte das MPEs do arranjo produtivo de
confecções em Cabo Frio, comprovam e qualificam tal assertiva. Pelos dados da tabela,
mais de 60% das micro empresas apontaram as “dificuldades ou entraves burocráticos
para se utilizar as fontes de financiamento existentes” e “exigência de aval/garantias por
parte das instituições de financiamento” como fatores de limitação média e alta ao
acesso ao financiamento86.
86 Como algumas empresas nunca recorreram a empréstimos, optaram por considerar de baixa ou nenhuma importância tais obstáculos.
117
Tabela V.2 - Obstáculos que Limitam o Acesso a Financiamento das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ
%
Grau de Importância Atribuído pela Micro Grau de Importância Atribuído pela Pequena Obstáculos
Nula Baixa Média Alta Total Índice* Nula Baixa Média Alta Total Índice*Inexistência de linhas de crédito
adequadas 17,6 35,3 17,6 29,4 100 0,51 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00
Dificuldades ou entraves burocráticos para se utilizar as fontes de financiamento
11,8 17,6 23,5 47,1 100 0,66 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00
Exigência de aval/garantias por parte das instituições de financiamento 11,8 23,5 23,5 41,2 100 0,62 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00
Entraves fiscais que impedem o acesso às fontes oficiais de financiamento
23,5 17,6 17,6 41,2 100 0,57 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00
Outras 0,0 0,0 0,0 100,0 100 1,00 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0,00 Amostra (Nº de Empresas) 17 1 *Índice = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº Empresas por Porte).
Fonte: Pesquisa de campo.
Não é surpreendente, portanto que nenhum empresário tenha recorrido a
empréstimos em instituições financeiras direta ou indiretamente através de
adiantamento de materiais e recursos por fornecedores ou clientes para a constituição
das empresas. A tabela V.3 abaixo aponta as fontes de financiamento das micro e
pequenas empresas no seu primeiro ano de funcionamento e no ano de 2002. Das 18
empresas entrevistadas, apenas uma utilizou, na totalidade, recursos de parentes para
abrir sua empresa. Uma empresa utilizou metade do capital próprio e a outra metade de
parentes. Uma utilizou recursos provenientes de indenização trabalhista para tal. As
demais utilizaram recursos próprios dos sócios fundadores para abrirem seus negócios.
Em 2002, a totalidade das empresas operava apenas com recursos próprios dos sócios.
Tabela V.3 - Fonte de Financiamento do Capital das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo
Produtivo de Confecções em Cabo Frio/RJ %
Micro Pequena Fonte de Financiamento 1º Ano 2002 1º Ano 2002
Recursos Próprios (sócios) 85,3 100,0 100,0 100,0 Empréstimos de parentes e amigos 8,8 0,0 0,0 0,0 Empréstimos de instituições financeiras 0,0 0,0 0,0 0,0 Empréstimos de instituições de apoio as MPEs 0,0 0,0 0,0 0,0 Adiantamento de materiais por fornecedores 0,0 0,0 0,0 0,0 Adiantamento de recursos por clientes 0,0 0,0 0,0 0,0 Outra 5,9 0,0 0,0 0,0
Total 100 100 100 100 Amostra (Nº de Empresas) 17 1 Fonte: Pesquisa de campo.
118
Uma outra questão, também relacionada ao sistema financeiro, que segundo os
empresários é geradora de grandes entraves, se refere às administradoras de cartão de
crédito que retêm entre 3% e 4% da receita bruta nas vendas no cartão. É claro que não
é possível a não utilização desta forma de pagamento uma vez que, para algumas
empresas, em torno de 60% das vendas é realizada desta maneira. Dessa forma, esta
questão, relacionada ao aumento da competição – especialmente a informal já referida –
se torna uma das responsáveis para a queda da margem de lucro das empresas ao longo
do tempo.
3) Considerações de políticas para promoção do arranjo produtivo de moda praia
Ainda que o arranjo produtivo local de moda praia de Cabo Frio não apresente
vínculos expressivos desejados de produção, interação, cooperação e aprendizagem para
que, segundo diversos autores, seja considerado um sistema produtivo e inovativo local,
constatou-se, ao longo deste trabalho, a importância da rede de interações locais – ainda
que na maioria das vezes informais – na dinâmica do arranjo.
Nesse sentido, políticas de promoção ao APL se fazem necessárias levando-se
em consideração as especificidades do arranjo e tendo em mente o potencial existente
nestas interações entre os atores para o fomento do mesmo. Além da existência desse
potencial, acredito que para se alcançar os objetivos de crescimento e expansão dos
mercados nacionais e internacionais que os empresários do arranjo almejam, torna-se
necessário uma estrutura sistêmica que viabilize este objetivo numa dinâmica não
apenas de crescimento e expansão mas, sobretudo, de desenvolvimento local, de forma
que a dinâmica do arranjo seja “controlada” pelos próprios agentes do mesmo, e não por
outros externos a este.
Tomando como ponto de partida a tabela V.4 (Políticas Públicas que Poderiam
Contribuir para o Aumento da Eficiência Competitiva), como resultado da pesquisa de
campo, todas as empresas entrevistadas consideram que programas de capacitação são
de grande relevância como forma de política de contribuição ao desenvolvimento do
arranjo. Não obstante a importância que o conhecimento tácito local e seus mecanismos
(informais) de transmissão possuem na dinâmica produtiva do arranjo, estes não se
apresentam como condições suficientes para garantir a inserção do arranjo num
ambiente competitivo mais dinâmico, onde outros tipos de conhecimento (não apenas
119
do processo produtivo, mas também da concepção e comercialização do produto) são
fundamentais.
Tabela V.4 - Políticas Públicas que Poderiam Contribuir para o Aumento da Eficiência Competitiva segundo a Avaliação das Micro e Pequenas Empresas do Arranjo Produtivo de Confecções em Cabo
Frio/RJ (Grau de importância) - % Micro Pequena Objetivo das Políticas
Nula Baixa Média Alta Total Nula Baixa Média Alta TotalProgramas de capacitação 0,0 0,0 11,8 88,2 100 0,0 0,0 100,0 0,0 100 Melhorias na educação básica 0,0 11,8 41,2 47,1 100 0,0 0,0 100,0 0,0 100 Programas de apoio à consultoria técnica 0,0 5,9 41,2 52,9 100 0,0 0,0 0,0 100,0 100 Estímulos à oferta de serviços tecnológicos 5,9 0,0 23,5 70,6 100 0,0 0,0 100,0 0,0 100 Programas de acesso à informação 0,0 5,9 52,9 41,2 100 0,0 0,0 100,0 0,0 100 Linhas de crédito e outras formas de financiamento 0,0 5,9 35,3 58,8 100 0,0 0,0 0,0 100,0 100
Incentivos fiscais 0,0 11,8 23,5 64,7 100 0,0 0,0 0,0 100,0 100
Políticas de fundo de aval 0,0 17,6 52,9 29,4 100 0,0 0,0 100,0 0,0 100 Programas de estímulo ao investimento 5,9 5,9 47,1 41,2 100 0,0 0,0 100,0 0,0 100 Outras 0,0 0,0 0,0 100,0 100 0,0 0,0 0,0 0,0 0 Amostra (Nº de Empresas) 17 1 Fonte: Pesquisa de campo.
A combinação do conhecimento local já existente, as formas de transmissão dos
mesmos aliados à, por exemplo, programas de capacitação e treinamento regulares da
mão-de-obra local poderiam criar uma sinergia bastante interessante. A carência de
cursos técnicos e universitários relacionados ao setor (principalmente Moda e Design) é
um fator bastante ressaltado pelos empresários como alvo de políticas no sentido de
fomento ao arranjo.
Ainda que o arranjo tenha apresentado significativas formas de aprendizado,
principalmente por uso e no processo produtivo (Learning by using e doing), observa-se
que outras formas de aprendizado, formais ou informais, devem ser estimuladas,
principalmente quando se vislumbra aumento da competitividade e conquista de novos
mercados consumidores. Mesmo que o aprendizado por interação tenha sido observado
dentro das empresas, esta interação ainda é muito embrionária nas relações interfirmas.
Esta troca de informações entre as empresas do arranjo ainda são bem escassas.
120
Nesse cenário, é necessário mais do que ter pleno domínio do processo
produtivo resultando num produto de boa qualidade, ainda que seja essencial. É
necessário também conhecer os consumidores (efetivos e potenciais), saber o que eles
querem e onde estão. Práticas de marketing e comercialização eficazes são
extremamente importantes num cenário onde aqueles outros fatores são conhecidos.
Aliados á diferentes desenhos dos produtos, o marketing e práticas de comercialização
estão fortemente relacionados à dinâmica inovativa deste arranjo.
Outro fator bastante relevante que pode ser alvo de políticas, e relacionado ao
aprendizado por interação, é em relação ao estímulo à cooperação. Maior
esclarecimento não apenas quanto à importância e estímulo à cooperação e atividades
cooperativas, mas quanto ao próprio conceito de cooperação pode ser uma maneira
eficaz de dinamizar a concorrência nas empresas do arranjo. Apesar de algumas ações
cooperativas terem gerado resultados positivos, apenas algumas empresas se
beneficiaram delas. A maioria ainda desconhece, e até mesmo evita, a cooperação e
atividades cooperativas.
Segundo a tabela V.4, outras políticas que merecem destaque são as de estímulos
à oferta de serviços tecnológicos e linhas de crédito e outras formas de financiamento. É
possível que haja uma correlação entre esses itens como reflexo da carência de
máquinas mais modernas que os empresários gostariam de obter, mas não possuem
recursos para tal, muito menos uma forma de financiamento adequada que lhes
possibilite estas aquisições.
Quanto aos incentivos fiscais, todos os empresários reclamaram da alta carga
tributária que as micro empresas devem pagar. Uma das empresas, inclusive, já fora
uma pequena empresa, porém, devido à carga tributária, teve que voltar para o status de
micro empresa. Além disso, outra questão também relacionada à questão tributária, é a
grande presença da informalidade no arranjo. Vários empresários reclamaram a respeito
da presença de algumas confecções (que vendem bem) operando na informalidade na
Rua dos Biquínis, o que consideram uma competição desleal.
Ainda que o APL de moda praia de Cabo Frio não seja intensivo em inovações
radicais - tecnológica e de produto -, observou-se grande capacidade quanto à inovação
incremental por parte das empresas do arranjo. A capacidade de introdução de
inovações no design e estilo dos produtos, aliados a melhoria de acondicionamento dos
mesmos, e estratégias de marketing e comercialização são o que torna, de fato, as
empresas competitivas. Este tipo de estratégia ganhou maior destaque, principalmente,
121
ao longo da última década quando as empresas tiveram que forçosamente se adaptar à
nova realidade da “nova era” da globalização, além da constante crise econômica.
Outro tipo de ação também merece destaque. Trata-se da promoção de uma
marca (ou marcas) que carregue(m) a idéia da vocação natural local para a moda praia.
Para o mercado externo, poder-se-ia explorar aspectos da “intimidade” brasileira
relacionada à praia, explicada pelo clima (em alguns Estados brasileiros é “verão”
durante a maior parte do ano) e pela extensão do litoral que tem mais de sete mil kms de
praias, procurando transformar o país no lançador mundial de tendências desse
segmento. No mercado interno, tem-se a idéia do Rio de Janeiro como uma espécie de
“vitrine” da moda praia do país, sendo Cabo Frio e Búzios as principais praias turísticas
do Estado. Dessa forma, trata-se de promover algo que já pode existir no imaginário dos
consumidores de moda praia, como os vinhos, perfumes e moda franceses e as massas e
calçados italianos, por exemplo.
Uma vez criada condições reais para que as empresas do arranjo sejam, de fato,
competitivas, através da utilização de equipamentos mais modernos, maior organização
da produção, treinamento da mão-de-obra envolvida na produção, seja em nível
operacional, gerencial ou controle, e acesso ao financiamento, principalmente, para a
modernização tecnológica das empresas e consolidação de marcas e design próprios,
abre-se espaço para se pensar em franchising.
Entretanto, pensar em franquia não é trivial. A rapidez do varejo, a organização
do estoque e relacionamento com o cliente são fatores de extrema importância para a
gestão do negócio. Além disso, é condição básica que se trate de marcas sérias e
estruturadas.
É claro que este trabalho não pretende abordar todas as questões relevantes para
que esta tarefa seja concluída. No entanto, o objetivo é contribuir para que ela se realize.
Nesse sentido, estas sugestões estão baseadas, principalmente, no que foi observado na
pesquisa de campo.
Observou-se que o APL de moda praia é capaz de crescer horizontalmente, sem
institucionalidade. É exatamente a possibilidade de inserção de tal institucionalidade
que estas políticas poderiam visar, ou seja, é a busca da promoção de um sistema
produtivo e inovativo local de moda praia que se pretende alcançar.
Um primeiro passo nesse sentido já foi dado com a criação do consórcio de
exportação e a participação do SEBRAE e algumas outras instituições públicas. A
promoção de uma marca (Pau-Brasil) como sinônimo de um produto específico da
122
região parece promissor, no entanto, é necessário considerar esta iniciativa como sendo
um primeiro passo para o desenvolvimento do arranjo como um todo. Para que isto
aconteça, políticas mais abrangentes devem ser desenhadas e implementadas.
4) O Consórcio Pau-Brasil de Moda Praia e a questão da exportação
O Consórcio Pau-Brasil foi formado há pouco mais de dois anos a partir de um
projeto do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas),
desenvolvido em parceria com a FIRJAN (Federação das Indústrias do Estado do Rio de
Janeiro) e conta com a participação de sete micro empresas de confecção de moda praia
da cidade de Cabo Frio, que possuem uma capacidade de produção de cerca de 40 mil
peças/mês. O principal objetivo das empresas que compõem o consórcio é aumentar as
exportações, sejam “internas” ou “externas”, como uma forma de diminuir os problemas
enfrentados no período da baixa temporada, principalmente em relação à mão-de-obra.
Durante bastante tempo, os empresários tocavam seus negócios vendendo para o
turista durante os três meses de verão e auferiam renda para o ano todo. No entanto, há
pouco mais de cinco anos o setor de moda praia da região passou a enfrentar um novo
problema. Houve uma mudança na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB) que reduziu as férias escolares no verão para 35 dias, “reduzindo o verão” para
os empresários locais, pois o grande cliente de uma cidade praiana é o jovem e o
adolescente.
Diante desta mudança no perfil da economia local os empresários se assustaram,
uma vez que suas vendas se realizavam apenas no varejo local.
Neste cenário, o SEBRAE local começou a agir na região desde o início da
Agência de Desenvolvimento Regional. Os primeiros projetos que objetivavam a
formação de um modelo cooperativista não foram bem sucedidos. No entanto, o
SEBRAE começou a atuar procurando demonstrar a necessidade de atuar de forma
distinta àquela até então em prática. A idéia, em primeiro lugar, seria criar um novo
produto para vender na baixa estação. Além disso, seria importante começar a vender
também no atacado. Apesar de sua importância fundamental, a Rua dos Biquínis não
deveria ser a única prioridade. Seria necessário uma mudança na forma de
comercialização do produto e buscar a exportação, tanto para o mercado interno quanto
para o mercado externo.
123
Dessa forma, os diversos atores sociais da região foram percebendo a
necessidade de se definir uma ação que seria capaz de mobilizar as empresas de
confecções de moda praia no sentido de elaborar um projeto que visasse o
desenvolvimento econômico e social local, a partir de ações capazes de fomentar o setor
que pudesse integrar o território (Regazzi et al., 2004).
Nesse sentido, o SEBRAE/RJ tomou a iniciativa de realizar um estudo87 sobre
alguns ícones culturais que representassem a cultura local e que pudessem ser utilizados
pelas empresas de confecção como uma maneira “não só de alavancar sua
competitividade (agregando valor), mas também de promover um sentimento de
pertencimento a uma coletividade (iniciar a integração entre atores, instituições e
localidade)” (Regazzi et al., 2004).
Em março de 2003 foi, então, elaborada uma proposta de trabalho com foco na
participação das empresas do setor de confecções de moda praia de Cabo Frio, na forma
de um consórcio de exportação, no maior evento de Moda do Rio de Janeiro e o
segundo maior do país: o Fashion Rio e o Fashion Business, realizados no MAM/RJ
(Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro). Este último trata-se de uma grande rodada
de negócios que tem por objetivo aproximar compradores nacionais e estrangeiros das
empresas ofertantes de produtos de confecção.
Para participar deste evento, decidiu-se pela criação de uma coleção única
focada em elementos culturais locais. Contando com a assistência do historiador local
Márcio Werneck, realizou-se um estudo que explorasse a cultura local dos índios
Tupinambás, antigos habitantes da região.
O segundo momento se deu com a atuação da designer Joana Pessoa, “que
soube com grande maestria ‘costurar’ os vários aspectos culturais presentes nas
diferentes culturas locais: Tupinambá, das rendas e da pesca e do cotidiano das
confecções” (Regazzi et al, 2004). Os biquínis e acessórios concebidos pela estilista
utilizaram bordados artesanais, adereços com miçangas e madrepérola, com o objetivo
de criar uma coleção exclusiva.
Como resultado, o consórcio realizou vendas de 35 mil peças para o mercado
espanhol, continuando a exportar, ao longo do ano, pequenas quantidades para os EUA,
Itália, Alemanha, Grécia, Austrália e Portugal. Também foram conquistados
compradores no mercado interno, com vendas para São Paulo, Brasília e Goiás. Além
87 Estudo elaborado pela FP Engenharia Cultural, coordenado por Fernando Portela e Marcio Werneck intitulado Programa Tupinambá (GECAY) de Moda Praia, em 2003.
124
disso, a Prefeitura e a Câmara Municipal de Cabo Frio incluíram a Coleção Tupinambá
na celebração dos 500 anos do Município de Cabo Frio no ano de 2003.
Neste processo, a FIRJAN, através do SENAI, teve importante papel ao auxiliar
o SEBRAE local na definição do grupo das sete empresas que constituiriam o
consórcio. De acordo com o documento elaborado pelo responsável pela avaliação e
seleção das empresas, Domenico Caputo, Coordenador de Produto Têxtil e Confecção
do SENAI/RJ, os critérios utilizados estavam relacionados “aos valores organizacionais
e ao modo como os empresários gerenciam as empresas a curto, médio e longo prazos”.
Foram eles: sazonalidade, canais de distribuição, área geográfica das vendas,
relacionamento com os clientes, planejamento estratégico, qualificação de RH,
aparência, arrumação e limpeza do local de trabalho, sistemas produção, métodos
operacionais corretos, balanceamento da produção, capacidade instalada x utilizada,
qualidade, produtividade, desperdício, registros, custos, modelagem, design, gestão
centrada nos clientes, foco nos resultados, comprometimento da direção, valorização da
equipe, visão de futuro, resposta rápida e melhoria contínua (Regazzi et al., 2004).
Entretanto, o início deste consórcio não foi tão simples. Segundo Cláudia
Magalhães, técnica do SEBRAE, “a maior dificuldade no processo de articulação após a
seleção, foi trabalhar a falta de cultura associativista, o individualismo, e durante muito
tempo era evidente a dificuldade que os empresários possuíam em distinguir quando
estavam representando o consórcio de quando estavam representando o empresário
enquanto dono de uma micro empresa. Só após a realização do Programa do
SEBRAE/RJ, de redes associativas, com os empresários do consórcio, conseguimos
começar a reverter este quadro (...). A partir deste trabalho, demos um salto enorme,
eles começaram a ter consciência do que realmente implica participar de um consórcio,
entendendo, de fato, a proposta do SEBRAE”88.
A realização deste workshop organizado pelo SEBRAE sobre Redes
Associativas pode ser considerado como um importante ponto de inflexão na
mentalidade dos empresários participantes do consórcio. O outro foi, sem dúvida, a
participação no Fashion Week. Segundo uma das empresárias que participam do
consórcio, “o workshop sobre associativismo foi excelente, serviu como uma ‘lavagem
de roupa suja’ final. Chegamos a conclusão de que temos que nos unir. O mercado está
muito competitivo, a indústria têxtil é muito cara. Não adianta só ter o produto se não
88 Entrevista realizada em outubro de 2003 com a técnica do SEBRAE de Cabo Frio, Cláudia Magalhães, responsável pela articulação do Consórcio de Exportação Pau-Brasil, in:Regazzi et al., 2004.
125
tiver uma marca, nem visibilidade no mercado. Pode se ter um produto de qualidade,
mas de nada adianta se o seu marketing for fraco e se você não souber como atingir o
cliente. Não há como concorrer com as grandes empresas. Precisamos nos unir ou
seremos em breve um conjunto de empresas quebradas no Brasil”.
Este depoimento parece bastante esclarecedor depois da análise feita ao longo do
último capítulo. Os empresários que participam do consórcio parecem que entenderam a
importância da cooperação para o futuro de suas empresas. No entanto, ainda há um
ambiente com forte resistência ao cooperativismo entre os empresários do arranjo
produtivo de moda praia de Cabo Frio.
Por fim, com a perspectiva de crescimento, resta saber se as empresas estão
preparadas para atender grandes volumes de pedidos. Com uma capacidade de produção
de 40 mil peças ao mês, e tendo que atender também o mercado interno, o consórcio
parece enfrentar um grande desafio de se organizar de forma totalmente diversa para se
defrontar com os problemas específicos da busca pelo mercado externo. No entanto, o
equacionamento desta questão, implicitamente sugerido ao longo do capítulo, depende
de se enfrentar várias outras. Em primeiro lugar, existe a questão da mão-de-obra.
Apesar de possuírem um conhecimento tácito na área de produção, fica claro que para
atingir outros mercados (principalmente externo) é necessário uma mão-de-obra
qualificada que saiba, entre outros atributos, operar máquinas de última geração e esteja
familiarizada com as novas tendências. Em segundo lugar, tem-se a questão da
atualização dos equipamentos. Não basta comprar as máquinas (o que por si já é uma
tarefa complicada), é necessário operá-las com eficiência. Informações obtidas com as
entrevistas sugerem que o empresariado local tem plena consciência desta questão.
Diante deste cenário, é necessário pensar qual o verdadeiro objetivo de um
consórcio de exportação. A resposta parece clara, entretanto, algumas questões devem
ser levadas em consideração: i) quem são e qual o perfil dos consumidores
internacionais?; ii) qual o perfil das empresas atuantes do arranjo produtivo local, não só
as que fazem parte do consórcio?; iii) quantas e quais empresas seriam capazes de fazer
parte de um grande consócio? e; iv) é importante se formar outros consórcios ou um
grande consórcio de exportação?
O próximo item procurará responder algumas destas perguntas quando se tentará
fazer uma análise crítica das reais condições de uma inserção virtuosa no mercado
externo, e não via inserção passiva em cadeias de commodities buyer-driven,
características de setores de bens de consumo intensivos em mão-de-obra, e que
126
inexoravelmente delegam às MPEs dos países em desenvolvimento um papel
subordinado e secundário e que não permite uma agregação de valor local e, portanto,
uma mais significativa geração de renda (Peixoto & Cassiolato, 2004).
5) Exportação e cadeia de commodities/valores: o Consórcio de Exportação Pau-
Brasil
Apesar de toda a discussão da desterritorialização, dos espaços econômicos
abertos, o território continua sendo uma realidade atuante, ainda que o Estado Nacional,
igualmente sobrevivente, tenha mudado de figura e de definição segundo os países. A
economia de todos os países conhece um processo mais vasto e profundo de
internacionalização, mas este tem como base um espaço que é nacional e cuja regulação
continua sendo nacional, ainda que guiada em função dos interesses de empresas
globais.
A economia globalizada reclama condições territoriais indispensáveis para a sua
produção e regulação. Esses espaços globalizados tanto são espaços agrícolas como
industriais e de serviços, e caracterizam-se pela sua inserção numa cadeia produtiva
global, pelas relações distantes e, freqüentemente, estrangeiras que criam e também pela
sua lógica extravertida. Mas o território não é “global”, ele não é completamente
globalizado. No entanto, e seja como for, o comportamento dos agentes e dos lugares
que não são globalizados é, direta ou indiretamente, influenciado e, em muitos casos,
subordinado, acarretando com isso efeitos não desejados e não previsíveis. Produz-se
um efeito de entropia das empresas globais e das grandes empresas sobre nações e os
lugares, na medida em que, para melhor funcionarem, tais empresas criam ordem para si
mesmas e desordem para o resto. De modo geral, e como resultado da globalização da
economia, o espaço nacional (local) é organizado para servir às grandes empresas
hegemônicas e paga por isso um preço, tornando-se fragmentado, incoerente, anárquico
para todos os demais atores (Santos e Silveira, 2001, p. 257-258).
No momento atual da globalização, e com o avanço do processo de fusões, as
lógicas ditas globais ampliam e aprofundam sua força. Quando examinamos o processo
de adoção dessas lógicas planetárias, o chamado imperativo de exportação é outro dado
a ser levado em conta na medida em que acelera a necessidade de adoção dos modelos
da economia global (Ibdem, p.258).
127
É nesse cenário que se busca analisar a questão da exportação no APL de moda
praia de Cabo Frio, ressaltando os cuidados quanto à inserção no mercado externo de
uma forma passiva em cadeias de commodities/valores buyer-driven, características de
setores de bens de consumo intensivos em mão-de-obra e que inexoravelmente delegam
às micro e pequenas empresas dos países subdesenvolvidos um papel subordinado e
secundário e que não permite uma maior agregação de valor local e, portanto, uma mais
significativa geração de renda, além de deixar tais empresas à mercê da dinâmica das
grandes empresas dos países desenvolvidos.
5.1) A busca de uma “inserção virtuosa” no mercado externo
A inserção (virtuosa) no mercado externo se trata, em grande parte, de uma
questão política. Num ambiente onde as relações internacionais se dão através de uma
clara relação de poder nas quais aos países periféricos cabe um papel subordinado de
profunda dependência, a dimensão da política industrial e da promoção de instituições
que viabilizem o desenvolvimento dos APLs é, nesse sentido, uma dimensão chave da
ruptura do círculo vicioso de reprodução da condição periférica.
Nesse cenário, algumas observações merecem destaque quanto ao caso do APL
de moda praia de Cabo Frio, pois apesar de fazer parte de um setor (confecção) onde há
baixa barreira à entrada, as grandes empresas são dominadoras no contexto do comércio
internacional.
Em primeiro lugar, é necessário maior clareza quanto ao perfil e localização do
mercado consumidor potencial para exportação. Ainda que as empresas do consórcio
participem de feiras e exposições nacionais e internacionais, esta prática ainda á
bastante tímida. Diversos empresários, não só os participantes do consórcio, se queixam
da impossibilidade de participarem de feiras no exterior, por exemplo na França e Itália,
por falta de recursos financeiros. É necessário “buscar” o consumidor para exportação
tendo as ferramentas necessárias para negociar um produto reconhecido e de qualidade.
Nesse sentido, em segundo lugar, é necessário definir os objetivos do consórcio
quanto às empresas participantes, o mercado que se deseja atingir, a capacidade de
produção e a própria viabilidade de se formarem outros consórcios, ou a ampliação do
já existente. Quanto às empresas participantes, ficou claro nas entrevistas que diversas
empresas gostariam de participar do consórcio de exportação. No entanto, alguns fatores
ainda impedem esta participação. Destacam-se: i) ainda há pouca compreensão da
128
importância da cooperação em todo o arranjo; ii) ainda que muitos desejem exportar em
conjunto, diversos empresários resistem à idéia de padronização, principalmente pelas
diferenças em relação ao maquinário; e iii) diferenças quanto ao acesso as máquinas e
equipamentos mais modernos. Quanto ao mercado que se deseja atingir, é preciso maior
clareza quanto a inserção num mercado consumidor preocupado com preços e,
conseqüentemente grandes quantidades, ou um mercado que procure qualidade e
diferenciação de produto. Neste último caso, fatores como marca e design são
fundamentais. Quanto à capacidade de produção, fica claro que as empresas do
consórcio, com uma produção estimada em 40 mil peças/ano, não seriam capazes de
atender um grande aumento do mercado consumidor. Esta questão está amplamente
relacionada à possibilidade de ampliação do consórcio de exportação.
Por último, é necessário destacar que a inserção no mercado externo não se
traduz apenas em exportar. O capítulo III deste trabalho procurou apontar as diferentes
posições das empresas localizadas nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos quanto
à subordinação dos últimos em relação às primeiras.
Ainda que o APL de moda praia de Cabo Frio tenha começado a busca por
consumidores estrangeiros, sua posição ainda é bastante frágil dada a realidade do
arranjo. Um exemplo desta fragilidade fora narrada por um empresário e demonstra
claramente a posição do APL no mercado externo: um comprador alemão adquiriu
diversas peças ao preço de US$ 8,00 cada e as revende por 30 Euros. Em outras
palavras, caracteriza-se uma típica inserção passiva na cadeias de commodities/valores
onde o país subdesenvolvido produz a um preço bem mais baixo, principalmente em
função do custo da mão-de-obra, e o país desenvolvido revende a um preço bem mais
alto devido à sua marca, estratégia de comercialização e etc.
Dessa forma, fica claro que a posição do consórcio de exportação ainda é
bastante frágil no contexto da competição das cadeias globais.
Ainda que o primeiro passo (com a formação do consórcio de exportação) na
busca de novos mercados já tenha sido dado, muito há para ser feito. Em primeiro lugar,
é necessário o planejamento de políticas mais abrangentes em relação às empresas do
arranjo produtivo e não apenas àquelas que fazem parte do consórcio. Em segundo
lugar, está claro que somente a formação de um ou outro consórcio não seria suficiente
para resolver o problema do setor. Conforme explicitado ao longo deste trabalho, é
necessário criar condições reais para que estas empresas sejam competitivas através da
busca da utilização de equipamentos mais modernos, maior organização da produção,
129
treinamento da mão-de-obra envolvida na produção, seja em nível operacional,
gerencial ou controle, e acesso ao financiamento, principalmente, para a modernização
tecnológica das empresas (Peixoto & Cassiolato, 2004).
Dessa forma, pode-se criar reais condições para uma inserção virtuosa no
mercado externo, por exemplo, através de marcas e design próprios, exportação direta,
franchising, etc. e não via inserção passiva em cadeias de commodities buyer-driven,
características de setores de bens de consumo intensivos em mão-de-obra (Gereffi,
1999) e que inexoravelmente delegam às MPEs dos países em desenvolvimento um
papel subordinado e secundário e que não permite uma maior agregação de valor local
e, portanto, uma mais significativa geração de renda. As empresas se juntariam
(estímulo à cooperação) no sentido de desenvolver estratégias de comercialização,
procurando nichos de valor agregado em design, marca etc.
Nesse sentido, a promoção da marca Pau-Brasil como sinônimo de um produto
específico da região parece promissor, desde que se pense no desenvolvimento do
arranjo como um todo. Para que isso ocorra, políticas mais abrangentes têm que ser
desenhadas e implementadas, de modo que se constitua um sistema produtivo e
inovativo com vínculos bastante expressivos.
5.2) A relevância do mercado interno e regional
Diante as dificuldades de inserção nas cadeias globais devido tanto a estrutura de
dominação existente das grandes empresas quanto as “novas” barreiras tarifárias
utilizadas pelos países desenvolvidos em substituição às quotas extintas em janeiro de
2005, parece pouco provável que o Brasil encontre um lugar de destaque nesses
mercados. Nesse sentido, levando-se em consideração a realidade do APL de moda
praia de Cabo Frio, esta inserção parece arriscada num cenário onde diversas questões
devem ser solucionadas para se criar reais condições de competitividade.
Dessa forma, paralelamente ao desenvolvimento do APL, maior importância
poderia ser dada aos mercados interno e regional.
O mercado interno consiste no mercado local (Cabo Frio e Estado do Rio de
Janeiro) e nacional (demais Estados), sendo difícil, entretanto, uma separação rigorosa
entre eles. Cabo Frio é uma cidade com grande atividade turística. O turista que visita a
cidade não é apenas do Estado do Rio de Janeiro mas também de outros Estados do
Brasil. Ainda que a venda no atacado para outros Estados do país seja feita por diversos
130
empresários, a maioria ainda concentra suas vendas no varejo nas lojas locais, sendo o
turista o maior consumidor, mesmo na baixa temporada. Por isso, é difícil distinguir o
consumidor “local” do “nacional”.
Por isso, uma vez ressaltada a importância do Rio de Janeiro como uma “vitrine”
da moda nacional, apresentar a moda praia de Cabo Frio como o local capaz de perceber
o comportamento das pessoas, num verdadeiro exercício de observação, procurando
mostrar que a moda não se trata de imposição e sim de uma sutil observação daquilo
que as pessoas gostariam de vestir, poderia ser de grande importância para a promoção
da moda praia de Cabo Frio em todo o país.
Quanto ao mercado regional, duas observações merecem destaque. Em primeiro
lugar, o turista regional, principalmente vindo dos países do Mercosul, também se faz
bastante presente na cidade. Estratégias parecidas poderiam ser pensadas para se atingir
o mercado desses países. Em segundo lugar, conforme já ressaltado no capítulo III, o
crescimento do comércio intra-blocos, em especial a partir da criação do NAFTA em
1994, deslocou parte das exportações brasileiras para o Mercosul. Em 1999, o Mercosul
já absorvia 39% das exportações brasileiras de têxteis e a América Latina (exceto
Mercosul) outros 18%. Nesse cenário, este mercado regional não deve ser ignorado,
pelo contrário.
6) Síntese parcial
O capítulo apresentou algumas perspectivas esperadas para o arranjo produtivo
de moda praia de Cabo Frio. Partindo das principais dificuldades enfrentadas pelas
empresas do arranjo na condução de seus negócios, buscou-se a elaboração de algumas
propostas de políticas para promoção do mesmo. Nesse sentido, o consórcio Pau-Brasil
de moda praia foi apresentado como um elemento promissor para o desenvolvimento do
arranjo, principalmente em relação à questão da exportação, ainda que o consórcio
esteja apenas no seu começo e ainda enfrente diversas barreiras, principalmente em
relação ao financiamento de algumas atividades e a sua inserção no mercado externo.
Nesse tocante, o capítulo procura apontar o papel a ser desempenhado pelo
consórcio na cadeia de valores internacional caso sua inserção no mercado externo não
seja feita de maneira "virtuosa", ou seja, com reis condições de competitividade, e não
de forma passiva como simples fornecedor de mão-de-obra barata. Ademais, e
131
relacionado a isto, o capítulo termina com a sugestão para se reconhecer a relevância do
mercado interno e regional para o desenvolvimento do arranjo.
132
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho procurou demonstrar como questões relacionadas às
especificidades locais, principalmente quanto ao aprendizado, conhecimento,
cooperação e inovação, são importantes para se pensar em estratégias de
desenvolvimento local, regional e nacional.
Partindo da análise da importância das especificidades locais (territoriais) frente
ao mundo globalizado, a abordagem de arranjos e sistemas produtivos locais na
perspectiva neo-schumpeteriana foi utilizada para se analisar questões relacionadas ao
conhecimento tácito, cooperação e inovação no APL de moda praia de Cabo Frio. Esta
relação foi feita procurando-se adaptar estes conceitos à realidade dos países
subdesenvolvidos, principalmente em relação à inovação, vista aqui como um processo
incremental e de adaptação pelo qual as empresas dominam e implementam o
desenvolvimento e a produção de bens e serviços, que sejam novos para elas,
independentemente do fato de serem novos para seus concorrentes. Ainda que estas
inovações sejam imitações, elas não são possíveis sem um processo de aprendizado. É
necessário aprender para imitar. Esta imitação não precisa ser, necessariamente, idêntica
ao que foi imitado. Por isso, nesse processo gera-se um conhecimento específico do
processo, adaptado às especificidades de quem imitou.
Esta perspectiva da realidade dos países subdesenvolvidos, num mundo com
relação de poder claramente definido, foi feita a partir da visão latino-americana de
dependência da CEPAL, buscando apresentar o fomento aos sistemas de inovação locais
como reflexo do esforço da implementação de políticas que visem o desenvolvimento
local (regional e nacional). Dessa forma, concluiu-se que os arranjos e sistemas
produtivos e inovativos locais representam o locus para a implementação destas
políticas de desenvolvimento local, pois é ali onde há a interação entre os agentes,
acrescido dos aspectos territoriais específicos, que são capazes de criar oportunidades de
aprendizagem, geração e difusão de conhecimento e inovação.
Considerando que o processo de globalização vigente é um processo assimétrico
onde existe uma hierarquia na divisão internacional do trabalho, no qual aos países
subdesenvolvidos cabe, geralmente, o papel de mão-de-obra barata, considerou-se neste
trabalho a cadeia produtiva global têxtil-confecções como uma representação deste
processo de globalização considerado.
133
Levando em consideração estas questões, foi apresentado (capítulo III) o
funcionamento das cadeias produtivas globais de confecção, onde a estrutura de
dominação e as dificuldades enfrentadas pelos países subdesenvolvidos ficam evidentes
frente aos países desenvolvidos. Esta apresentação foi feita com o intuito de apontar as
armadilhas que a inserção nestas cadeias apresenta para arranjos que não possuem
condições reais de competitividade, como o caso do APL de moda praia de Cabo Frio.
As principais conclusões deste capítulo mostraram que a (re)organização das
cadeias produtivas globais se refere a uma lógica voltada a atender as
especificidades/características dos mercados consumidores dos países desenvolvidos,
em especial das suas classes médias com poder aquisitivo relativamente alto, ávidos por
consumir produtos de marca, com matéria-prima de qualidade e a preços mais baixos.
Neste caso, são os países subdesenvolvidos que trabalham na montagem desses
produtos que atendem esta demanda, principalmente através do baixo custo da mão-de-
obra. Na verdade, a principal vantagem das cadeias globais para os países desenvolvidos
é exatamente este baixo custo da mão-de-obra.
No Brasil, a lógica das cadeias globais também atende a apenas uma parte da
produção e consumo; este último também representado por uma camada de maior renda.
A maior camada da demanda, representada pelas classes mais baixas, escapam a esta
estrutura. Na verdade, esta é a lógica do capitalismo periférico na dinâmica da estrutura
do capitalismo global.
Nesse sentido, a análise do APL de moda praia de Cabo Frio foi apresentada
posteriormente, procurando deixar claro tanto suas potencialidades quanto suas
deficiências, tanto para se pensar em estratégias de desenvolvimento como para se
pensar nos riscos inerentes a inserção em cadeias globais; ainda que a exportação seja
de grande relevância para o crescimento do mesmo. Esta análise é complementada no
capítulo seguinte ao se apresentar algumas políticas de fomento ao arranjo que podem
ser essenciais para o desenvolvimento do mesmo, principalmente em relação à questão
do comércio internacional.
Dessa forma, observou-se que caso o arranjo não conte com uma estrutura de
fomento que realmente dê condições para o aumento de sua competitividade, o papel a
ser desempenhado pelo consórcio na cadeia de valores internacional será,
inevitavelmente, de simples fornecedor de mão-de-obra barata. A inserção no mercado
externo deve ser feita de maneira "virtuosa", ou seja, com reais condições de
competitividade, e não de forma passiva.
134
Nesse contexto, o trabalho procurou mostrar que no estudo de arranjos e
sistemas produtivos locais é fundamental ter em vista a sinergia existente entre
territorialidade de uma atividade e o conhecimento local existente naquela atividade, de
modo que se crie vantagens competitivas dinâmicas que, mais do que não ser facilmente
replicáveis, sejam únicas. Ademais, a territorialidade representa, também, uma forma de
reação às questões colocadas ao paradigma pós-moderno do não-lugar, como
apresentado no capítulo II.
No entanto, apesar da importância dada ao local ao longo deste trabalho, não é
possível descartar a “questão global”. Pelo contrário, elas estão amplamente conectadas
e são, de certa maneira, inter-dependentes pois é no âmbito local que se criam as
condições globais, que, por seu turno, exercem grande impacto nas questões locais.
Dessa forma, falar em inserção internacional e globalização sem falar em
políticas (macroeconômicas), principalmente em relação à educação e conhecimento,
que promovam o desenvolvimento, é ignorar a realidade do permanente vínculo ao
“ciclo de subdesenvolvimento”. A elaboração e a especificação de políticas que visem
estes objetivos são cada vez mais necessários, e sua aplicação é tarefa que compete a
cada país (localidade), pois somente no âmbito de cada sociedade nacional é possível
determinar as prioridades, desenhar os planos de ação e colocá-los em prática,
conjugando as condições, os recursos e os apoios para viabilizar as reformas propostas e
compatibilizá-las com a conservação e o enriquecimento da pluralidade e diversidade de
canais de conhecimento na cultura de cada país89.
Nesse sentido, principalmente em relação ao caso do APL de moda praia de
Cabo Frio, é preciso pensar a questão do desenvolvimento local como forma de se criar
reais condições de competitividade no comércio internacional, numa gama de políticas
industriais e tecnológicas que assim o façam.
89 CEPAL/UNESCO, 1992, p.918.
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VIRILIO, P. (1984). “L’espace critique”. Paris, Christian Bourgeois, 1984.
Anexo
REDESIST - QUESTIONÁRIO PARA OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES SOBRE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS
- Bloco A: Para coleta de informações em instituições locais e de fontes estatísticas oficiais sobre a
estrutura do arranjo produtivo local - Bloco B: Para coleta de informações nas empresas do arranjo produtivo local
BLOCO A - IDENTIFICAÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
Este primeiro bloco de questões busca uniformizar as informações gerais sobre a configuração dos arranjos a serem estudados a partir do uso de estatísticas oficiais. Tais informações são obtidas a partir de fontes secundárias tais como a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego, Base de informações Base de Informações Municipais (BIM), Censo, entre outras. A RAIS é fonte obrigatória para todos os estudos, de forma a permitir sua comparabilidade. As informações desta fonte referem-se ao número de empresas, seu tamanho e pessoal ocupado, obedecendo à classificação CNAE do IBGE. Neste bloco deve-se identificar também a amostra de empresas pesquisadas,, estratificada por tamanho. As demais fontes de informação devem ser definidas pelos pesquisadores de acordo com as características específicas de cada arranjo, observadas previamente, e devem possibilitar a identificação da estrutura educacional, de coordenação, tecnológica e de financiamento90.. Arranjo Nº____________ 1. Municípios de abrangência do arranjo:
Municípios abrangidos População residente
Pessoal ocupado nas atividades
pesquisadas*
Pessoal total ocupado nos municípios**
Notas: * Somatório do pessoal ocupado (empregado) nas classes de atividade econômica (classe CNAE – 5 dígitos) inseridas no arranjo produtivo, com base nos dados da RAIS91 – MTe. ** Emprego total nos municípios que compõem o arranjo, com base nos dados da RAIS – MTe. 2. Estrutura produtiva do arranjo:
Número total de empresas conforme tamanho92 Classificação CNAE (Classe de atividade econômica – 4
dígitos) Micro Pequena Média Grande Total
90 Identificar as fontes de informações usadas para o preenchimento de cada tabela. 91 A base de dados RAIS e RAIS - ESTABELECIMENTOS do Ministério do Trabalho e Emprego deve ser usada pelos pesquisadores, para o levantamento dos dados referentes ao emprego formal e ao número e tamanho de estabelecimentos. 92 Pessoas ocupadas: a) Micro: até 19; b) Pequena: 20 a 99; c) Média: 100 a 499; d) Grande: 500 ou mais pessoas ocupadas.
147
3. Estratificação da amostra: Número de empresas selecionadas conforme tamanho Classificação CNAE (Classe
de atividade econômica – 4 dígitos) Micro Pequena Média Grande Total
4. Infraestrutura educacional local/regional:
Cursos oferecidos Número de cursos Número de alunos admitidos por anoEscolas técnicas de 2ograu Cursos superiores Outros cursos profissionais regulares Cursos profissionais temporários
5. Infraestrutura Institucional local: Associações, Sindicatos de empresas/trabalhadores, cooperativas e
outras instituições públicas locais.
Nome/Tipo de instituição Criação Número de filiados Funções
6. Infraestrutura científico-tecnológica:
Tipo de instituição Nº. de instituições Nº. de pessoas ocupadas Universidades Institutos de pesquisa Centros de capacitação profissional e de assistência técnica
Instituições de testes, ensaios e certificações. 7. Infraestrutura de financiamento:
Tipo de instituição Número de instituições Volume de empréstimos concedidos em 2002
Instituição comunitária Instituição municipal Instituição estadual/Agência local
Instituição federal/ Agência local
Outras. Citar
148
8. Financiamento por tamanho de empresa seguindo o tipo de instituição no ano 2002: Percentual de empréstimo por tamanho de empresa Tipo de Instituição Micro Pequena Média Grande
Instituição comunitária Instituição municipal Instituição estadual/Agência local Instituição federal/ Agência local Outras (Citar):
149
BLOCO B - AS EMPRESAS NO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
Código de identificação: Número do arranjo ____________________Número do questionário___________________ I - IDENTIFICAÇÃO DA EMPRESA 1. Razão Social: ___________________________________________________________________ 2. Endereço_______________________________________________________________________ 3. Município de localização: ___________________________(código IBGE)__________________ 4. Tamanho. ( ) 1. Micro ( ) 2. Pequena ( ) 3. Média ( ) 4. Grande 5. Segmento de atividade principal (classificação CNAE): _________________________________ 6. Pessoal ocupado atual: ___________ 7. Ano de fundação: _______________ 8. Origem do capital controlador da empresa: ( ) 1. Nacional ( ) 2. Estrangeiro ( ) 3. Nacional e Estrangeiro
9. No caso do capital controlador estrangeiro, qual a sua localização: ( ) 1. Mercosul
( ) 2. Estados Unidos da América
( ) 3. Outros Países da América
( ) 4. Ásia ( ) 5. Europa ( ) 6. Oceania ou África 10. Sua empresa é: ( ) 1. Independente ( ) 2. Parte de um Grupo
150
11. Qual a sua relação com o grupo: ( ) 1. Controladora ( ) 2. Controlada ( ) 3. Coligada EXPERIÊNCIA INICIAL DA EMPRESA (As questões a seguir, do item 12 a 18, são específicas para a pesquisa sobre Micro e Pequenas Empresas em Arranjos Produtivos Locais). 12. Número de Sócios fundadores: ______________ 13. Perfil do principal sócio fundador:
Perfil Dados Idade quando criou a empresa Sexo ( ) 1. Masculino ( ) 2.Feminino Escolaridade quando criou a empresa (assinale o correspondente à classificação abaixo)
1. ( ) 2. ( ) 3. ( ) 4. ( ) 5. ( ) 6. ( ) 7. ( ) 8. ( )
Seus pais eram empresários ( ) 1. Sim ( ) 2. Não 1. Analfabeto; 2.Ensino Fundamental Incompleto; 3. Ensino Fundamental Completo; 4. Ensino Médio Incompleto; 5. Ensino Médio Completo; 6. Superior Incompleto; 7. Superior Completo; 8. Pós Graduação. 14. Identifique a principal atividade que o sócio fundador exercia antes de criar a empresa:
Atividades ( ) 1. Estudante universitário ( ) 2. Estudante de escola técnica ( ) 3. Empregado de micro ou pequena empresa local ( ) 4. Empregado de média ou grande empresa local ( ) 5. Empregado de empresa de fora do arranjo ( ) 6. Funcionário de instituição pública ( ) 7. Empresário ( ) 8. Outra atividade. Citar
15. Estrutura do capital da empresa:
Estrutura do capital da empresa Participação percentual
(%) no 1o. ano
Participação percentual (%) Em 2002
Dos sócios Empréstimos de parentes e amigos Empréstimos de instituições financeiras gerais
Empréstimos de instituições de apoio as MPEs
Adiantamento de materiais por fornecedores
Adiantamento de recursos por clientes Outras. Citar: Total 100% 100%
151
16. Evolução do número de empregados:
Período de tempo Número de empregados
Ao final do primeiro ano de criação da empresa Ao final do ano de 2002 17. Identifique as principais dificuldades na operação da empresa. Favor indicar a dificuldade utilizando a escala, onde 0 é nulo, 1 é baixa dificuldade, 2 é média dificuldade e 3 alta dificuldade.
Principais dificuldades No primeiro ano de vida Em 2002 Contratar empregados qualificados ( 0 ) ( 1) ( 2 ) ( 3 ) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Produzir com qualidade ( 0 ) ( 1) ( 2 ) ( 3 ) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Vender a produção ( 0 ) ( 1) ( 2 ) ( 3 ) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Custo ou falta de capital de giro ( 0 ) ( 1) ( 2 ) ( 3 ) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Custo ou falta de capital para aquisição de máquinas e equipamentos
( 0 ) ( 1) ( 2 ) ( 3 ) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Custo ou falta de capital para aquisição/locação de instalações ( 0 ) ( 1) ( 2 ) ( 3 ) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Pagamento de juros de empréstimos ( 0 ) ( 1) ( 2 ) ( 3 ) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Outras. Citar ( 0 ) ( 1) ( 2 ) ( 3 ) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) 18. Informe o número de pessoas que trabalham na empresa, segundo características das relações de trabalho:
Tipo de relação de trabalho Número de pessoal ocupado Sócio proprietário Contratos formais Estagiário Serviço temporário Terceirizados Familiares sem contrato formal
Total II – PRODUÇÃO, MERCADOS E EMPREGO. 1. Evolução da empresa:
Mercados (%)
Anos Pessoal ocupado
Faturamento Preços correntes
(R$) Vendas nos municípios do arranjo
Vendas no Estado
Vendas no Brasil
Vendas no
exterior Total
1990 100% 1995 100% 2000 100% 2002 100%
152
2. Escolaridade do pessoal ocupado (situação atual):
Ensino Número do pessoal ocupado Analfabeto Ensino fundamental incompleto Ensino fundamental completo Ensino médio incompleto Ensino médio completo Superior incompleto Superior completo Pós-Graduação Total
3. Quais fatores são determinantes para manter a capacidade competitiva na principal linha de produto? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.
Fatores Grau de importância Qualidade da matéria-prima e outros insumos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Qualidade da mão-de-obra ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Custo da mão-de-obra ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Nível tecnológico dos equipamentos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Capacidade de introdução de novos produtos/processos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Desenho e estilo nos produtos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Estratégias de comercialização ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Qualidade do produto ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Capacidade de atendimento (volume e prazo) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Outra. Citar: ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
III – INOVAÇÃO, COOPERAÇÃO E APRENDIZADO
BOX 1 Um novo produto (bem ou serviço industrial) é um produto que é novo para a sua empresa ou para o mercado e cujas características tecnológicas ou uso previsto diferem significativamente de todos os produtos que sua empresa já produziu. Uma significativa melhoria tecnológica de produto (bem ou serviço industrial) refere-se a um produto previamente existente cuja performance foi substancialmente aumentada. Um produto complexo que consiste de um número de componentes ou subsistemas integrados pode ser aperfeiçoado via mudanças parciais de um dos componentes ou subsistemas. Mudanças que são puramente estéticas ou de estilo não devem ser consideradas. Novos processos de produção são processos que são novos para a sua empresa ou para o setor. Eles envolvem a introdução de novos métodos, procedimentos, sistemas, máquinas ou equipamentos que diferem substancialmente daqueles previamente utilizados por sua firma. Significativas melhorias dos processos de produção envolvem importantes mudanças tecnológicas parciais em processos previamente adotados. Pequenas ou rotineiras mudanças nos processos existentes não devem ser consideradas.
153
1. Qual a ação da sua empresa no período entre 2000 e 2002, quanto à introdução de inovações? Informe as principais características conforme listado abaixo. (observe no Box 1 os conceitos de produtos/processos novos ou produtos/processos significativamente melhorados de forma a auxilia-lo na identificação do tipo de inovação introduzida)
Descrição 1. Sim 2. Não Inovações de produto Produto novo para a sua empresa, mas já existente no mercado?. ( 1 ) ( 2 ) Produto novo para o mercado nacional?. ( 1 ) ( 2 ) Produto novo para o mercado internacional? ( 1 ) ( 2 ) Inovações de processo Processos tecnológicos novos para a sua empresa, mas já existentes no setor? ( 1 ) ( 2 ) Processos tecnológicos novos para o setor de atuação? ( 1 ) ( 2 ) Outros tipos de inovação Criação ou melhoria substancial, do ponto de vista tecnológico, do modo de acondicionamento de produtos (embalagem)? ( 1 ) ( 2 )
Inovações no desenho de produtos? ( 1 ) ( 2 ) Realização de mudanças organizacionais (inovações organizacionais) Implementação de técnicas avançadas de gestão ? ( 1 ) ( 2 ) Implementação de significativas mudanças na estrutura organizacional? ( 1 ) ( 2 ) Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de marketing ? ( 1 ) ( 2 ) Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialização ? ( 1 ) ( 2 ) Implementação de novos métodos e gerenciamento, visando a atender normas de certificação (ISO 9000, ISSO 14000, etc.)? ( 1 ) ( 2 )
2. Se sua empresa introduziu algum produto novo ou significativamente melhorado durante os últimos anos, 2000 a 2002, favor assinalar a participação destes produtos nas vendas em 2002, de acordo com os seguintes intervalos:(1) equivale de 1% a 5%; (2) de 6% a 15%;(3) de 16% a 25%; (4) de 26% a 50%; (5) de 51% a 75%; (6) de 76% a 100%.
Descrição Intervalos
Vendas internas em 2002 de novos produtos (bens ou serviços) introduzidos entre 2000 e 2002 ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) ( 5 ) ( 6 )
Vendas internas em 2002 de significativos aperfeiçoamentos de produtos (bens ou serviços) introduzidos entre 2000 e 2002
( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) ( 5 ) ( 6 )
Exportações em 2002 de novos produtos (bens ou serviços)introduzidos entre 2000 e 2002 ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) ( 5 ) ( 6 )
Exportações em 2002 de significativos aperfeiçoamentosde produtos (bens ou serviços) introduzidos entre 2000 e 2002
( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) ( 5 ) ( 6 )
3.Avalie a importância do impacto resultante da introdução de inovações introduzidas durante os últimos três anos, 2000 a 2002, na sua empresa. Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Descrição Grau de Importância Aumento da produtividade da empresa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Ampliação da gama de produtos ofertados ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Aumento da qualidade dos produtos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Permitiu que a empresa mantivesse a sua participação nos mercados de atuação ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
154
Aumento da participação no mercado interno da empresa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Aumento da participação no mercado externo da empresa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Permitiu que a empresa abrisse novos mercados ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Permitiu a redução de custos do trabalho ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Permitiu a redução de custos de insumos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Permitiu a redução do consumo de energia ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Permitiu o enquadramento em regulações e normas padrão relativas ao:
- Mercado Interno ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) - Mercado Externo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Permitiu reduzir o impacto sobre o meio ambiente ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) 4. Que tipo de atividade inovativa sua empresa desenvolveu no ano de 2002? Indique o grau de constância dedicado à atividade assinalando (0) se não desenvolveu, (1) se desenvolveu rotineiramente, e (2) se desenvolveu ocasionalmente. (observe no Box 2 a descrição do tipo de atividade)
Descrição Grau de Constância Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na sua empresa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) Aquisição externa de P&D ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) Aquisição de máquinas e equipamentos que implicaram em significativas melhorias tecnológicas de produtos/processos ou que estão associados aos novos produtos/processos
( 0 ) ( 1 ) ( 2 )
Aquisição de outras tecnologias (softwares, licenças ou acordos de transferência de tecnologias tais como patentes, marcas, segredos industriais)
( 0 ) ( 1 ) ( 2 )
Projeto industrial ou desenho industrial associados à produtos/processos tecnologicamente novos ou significativamente melhorados
( 0 ) ( 1 ) ( 2 )
Programa de treinamento orientado à introdução de produtos/processos tecnologicamente novos ou significativamente melhorados
( 0 ) ( 1 ) ( 2 )
Programas de gestão da qualidade ou de modernização organizacional, tais como: qualidade total, reengenharia de processos administrativos, desverticalização do processo produtivo, métodos de “just in time”, etc
( 0 ) ( 1 ) ( 2 )
Novas formas de comercialização e distribuição para o mercado de produtos novos ou significativamente melhorados ( 0 ) ( 1 ) ( 2 )
4.1 Informe os gastos despendidos para desenvolver as atividades de inovação: Gastos com atividades inovativas sobre faturamento em 2002.....................( %) Gastos com P&D sobre faturamento em 2002...............................................( %) Fontes de financiamento para as atividades inovativas (em %) Próprias ( %) De Terceiros ( %) Privados ( %) Público (FINEP,BNDES, SEBRAE, BB, etc.) ( %)
155
BOX 2
Atividades inovativas são todas as etapas necessárias para o desenvolvimento de produtos ou processos novos ou melhorados, podendo incluir: pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e processos; desenho e engenharia; aquisição de tecnologia incorporadas ao capital (máquinas e equipamentos) e não incorporadas ao capital (patentes, licenças, know how, marcas de fábrica, serviços computacionais ou técnico-científicos) relacionadas à implementação de inovações; modernização organizacional (orientadas para reduzir o tempo de produção, modificações no desenho da linha de produção e melhora na sua organização física, desverticalização, just in time, circulos de qualidade, qualidade total, etc); comercialização (atividades relacionadas ao lançamento de produtos novos ou melhorados, incluindo a pesquisa de mercado, gastos em publicidade, métodos de entrega, etc); capacitação, que se refere ao treiname0nto de mão-de-obra relacionado com as atividades inovativas da empresa. Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) - compreende o trabalho criativo que aumenta o estoque de conhecimento, o uso do conhecimento objetivando novas aplicações, inclui a construção, desenho e teste de protótipos.
Projeto industrial e desenho - planos gráficos orientados para definir procedimentos, especificações técnicas e características operacionais necessárias para a introdução de inovações e modificações de produto ou processos necessárias para o início da produção. 5. Sua empresa efetuou atividades de treinamento e capacitação de recursos humanos durante os últimos três anos, 2000 a 2002? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Descrição Grau de Importância Treinamento na empresa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Treinamento em cursos técnicos realizados no arranjo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Treinamento em cursos técnicos fora do arranjo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Estágios em empresas fornecedoras ou clientes ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Estágios em empresas do grupo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Contratação de técnicos/engenheiros de outras empresas do arranjos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Contratação de técnicos/engrenheiros de empresas fora do arranjo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Absorção de formandos dos cursos universitários localizados no arranjo ou próximo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Absorção de formandos dos cursos técnicos localizados no arranjo ou próximo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
BOX 3
Na literatura econômica, o conceito de aprendizado está associado a um processo cumulativo através do qual as firmas ampliam seus conhecimentos, aperfeiçoam seus procedimentos de busca e refinam suas habilidades em desenvolver, produzir e comercializar bens e serviços. As várias formas de aprendizado se dão: - a partir de fontes internas à empresa, incluindo: aprendizado com experiência própria, no
processo de produção, comercialização e uso; na busca de novas soluções técnicas nas unidades de pesquisa e desenvolvimento; e
- a partir de fontes externas, incluindo: a interação com fornecedores, concorrentes, clientes, usuários, consultores, sócios, universidades, institutos de pesquisa, prestadores de serviços tecnológicos, agências e laboratórios governamentais, organismos de apoio, entre outros.
156
Nos APLs, o aprendizado interativo constitui fonte fundamental para a transmissão de conhecimentos e a ampliação da capacitação produtiva e inovativa das firmas e instituições. 6. Quais dos seguintes itens desempenharam um papel importante como fonte de informação para o aprendizado, durante os últimos três anos, 2000 a 2002? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Indicar a formalização utilizando 1 para formal e 2 para informal. Quanto à localização utilizar 1 quando localizado no arranjo, 2 no estado, 3 no Brasil, 4 no exterior. (Observe no Box 3 os conceitos sobre formas de aprendizado). Grau de Importância Formaliza
ção Localização
Fontes Internas Departamento de P & D ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) Área de produção ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) Áreas de vendas e marketing, serviços internos de atendimento ao cliente ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 )
Outros (especifique) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) Fontes Externas
Outras empresas dentro do grupo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )Empresas associadas (joint venture) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )Fornecedores de insumos (equipamentos, materiais ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )
Clientes ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )Concorrentes ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )Outras empresas do Setor ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )Empresas de consultoria ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )Universidades e Outros Institutos de Pesquisa Universidades ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )Institutos de Pesquisa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )Centros de capacitação profissional, de assistência técnica e de manutenção ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )
Instituições de testes, ensaios e certificações ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )
Outras fontes de informação Licenças, patentes e “know-how” ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )Conferências, Seminários, Cursos e Publicações Especializadas ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )
Feiras, Exibições e Lojas ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )Encontros de Lazer (Clubes, Restaurantes, etc) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )
Associações empresariais locais (inclusive consórcios de exportações) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )
Informações de rede baseadas na internet ou computador ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )
BOX 4 O significado genérico de cooperação é o de trabalhar em comum, envolvendo relações de confiança mútua e coordenação, em níveis diferenciados, entre os agentes. Em arranjos produtivos locais, identificam-se diferentes tipos de cooperação, incluindo a cooperação produtiva visando a obtenção de economias de escala e de escopo, bem como a melhoria dos índices
157
de qualidade e produtividade; e a cooperação inovativa, que resulta na diminuição de riscos, custos, tempo e, principalmente, no aprendizado interativo, dinamizando o potencial inovativo do arranjo produtivo local. A cooperação pode ocorrer por meio de: • intercâmbio sistemático de informações produtivas, tecnológicas e mercadológicas (com clientes,
fornecedores, concorrentes e outros) • interação de vários tipos, envolvendo empresas e outras instituições, por meio de programas
comuns de treinamento, realização de eventos/feiras, cursos e seminários, entre outros • integração de competências, por meio da realização de projetos conjuntos, incluindo desde
melhoria de produtos e processos até pesquisa e desenvolvimento propriamente dita, entre empresas e destas com outras instituições
7. Durante os últimos três anos, 2000 a 2002, sua empresa esteve envolvida em atividades cooperativas , formais ou informais, com outra (s) empresa ou organização? (observe no Box 4 o conceito de cooperação). ( ) 1. Sim ( ) 2. Não 8. Em caso afirmativo, quais dos seguintes agentes desempenharam papel importante como parceiros, durante os últimos três anos, 2000 a 2002? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Indicar a formalização utilizando 1 para formal e 2 para informal. Quanto a localização utilizar 1 quando localizado no arranjo, 2 no estado, 3 no Brasil, 4 no exterior. Agentes Importância Formaliza
ção Localização
Empresas Outras empresas dentro do grupo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Empresas associadas (joint venture) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Fornecedores de insumos (equipamentos, materiais, componentes e softwares) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )
Clientes ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Concorrentes ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Outras empresas do setor ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Empresas de consultoria ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Universidades e Institutos de Pesquisa Universidades ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Institutos de pesquisa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Centros de capacitação profissional de assistência técnica e de manutenção ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )
Instituições de testes, ensaios e certificações ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )
Outras Agentes Representação ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Entidades Sindicais ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Órgãos de apoio e promoção ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) Agentes financeiros ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) 9. Qual a importância das seguintes formas de cooperação realizadas durante os últimos três anos, 2000 a 2002 com outros agentes do arranjo? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.
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Descrição Grau de Importância Compra de insumos e equipamentos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Venda conjunta de produtos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Desenvolvimento de Produtos e processos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Design e estilo de Produtos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Capacitação de Recursos Humanos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Obtenção de financiamento ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Reivindicações ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Participação conjunta em feiras, etc ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Outras: especificar ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
10.Caso a empresa já tenha participado de alguma forma de cooperação com agentes locais, como avalia os resultados das ações conjuntas já realizadas. Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Descrição Grau de Importância Melhoria na qualidade dos produtos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Desenvolvimento de novos produtos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Melhoria nos processos produtivos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Melhoria nas condições de fornecimento dos produtos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Melhor capacitação de recursos humanos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Melhoria nas condições de comercialização ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Introdução de inovações organizacionais ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Novas oportunidades de negócios ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Promoção de nome/marca da empresa no mercado nacional ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Maior inserção da empresa no mercado externo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Outras: especificar ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
11.Como resultado dos processos de treinamento e aprendizagem, formais e informais, acima discutidos, como melhoraram as capacitações da empresa. Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Descrição Grau de Importância Melhor utilização de técnicas produtivas, equipamentos, insumos e componentes ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Maior capacitação para realização de modificações e melhorias em produtos e processos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Melhor capacitação para desenvolver novos produtos e processos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Maior conhecimento sobre as características dos mercados de atuação da empresa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Melhor capacitação administrativa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
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IV – ESTRUTURA, GOVERNANÇA E VANTAGENS ASSOCIADAS AO AMBIENTE LOCAL
BOX 5 Governança diz respeito aos diferentes modos de coordenação, intervenção e participação, nos processos de decisão locais, dos diferentes agentes — Estado, em seus vários níveis, empresas, cidadãos e trabalhadores, organizações não-governamentais etc. — ; e das diversas atividades que envolvem a organização dos fluxos de produção, assim como o processo de geração, disseminação e uso de conhecimentos. Verificam-se duas formas principais de governança em arranjos produtivos locais. As hierárquicas são aquelas em que a autoridade é claramente internalizada dentro de grandes empresas, com real ou potencial capacidade de coordenar as relações econômicas e tecnológicas no âmbito local. A governança na forma de “redes” caracteriza-se pela existência de aglomerações de micro, pequenas e médias empresas, sem grandes empresas localmente instaladas exercendo o papel de coordenação das atividades econômicas e tecnológicas. São marcadas pela forte intensidade de relações entre um amplo número de agentes, onde nenhum deles é dominante.
1. Quais são as principais vantagens que a empresa tem por estar localizada no arranjo? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.
Externalidades Grau de importância
Disponibilidade de mão-de-obra qualificada ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Baixo custo da mão-de-obra ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Proximidade com os fornecedores de insumos e matéria prima ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Proximidade com os clientes/consumidores ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Infra-estrutura física (energia, transporte, comunicações) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Proximidade com produtores de equipamentos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Disponibilidade de serviços técnicos especializados ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Existência de programas de apoio e promoção ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Proximidade com universidades e centros de pesquisa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Outra. Citar: ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) 2. Quais as principais transações comerciais que a empresa realiza localmente (no município ou região)? Favor indicar o grau de importância atribuindo a cada forma de capacitação utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.
Tipos de transações Grau de importância
Aquisição de insumos e matéria prima ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Aquisição de equipamentos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Aquisição de componentes e peças ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Aquisição de serviços (manutenção, marketing, etc.) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Vendas de produtos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
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3. Qual a importância para a sua empresa das seguintes características da mão-de-obra local? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.
Características Grau de importância Escolaridade formal de 1º e 2º graus ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Escolaridade em nível superior e técnico ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Conhecimento prático e/ou técnico na produção ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Disciplina ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Flexibilidade ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Criatividade ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Capacidade para aprender novas qualificações ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Outros. Citar: ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
4.A empresa atua como subcontratada ou subcontratante de outras empresas, através de contrato ou acordo de fornecimento regular e continuado de peças, componentes, materiais ou serviços? Identifique o porte das empresas envolvidas assinalando 1 para Micro e Pequenas Empresas e 2 para Grandes e Médias empresas. 4.1 Sua empresa mantém relações de subcontratação com outras empresas ?
( 1 )Sim ( 2 )Não Caso a resposta seja negativa passe para a questão 7 4.2 Caso a resposta anterior seja afirmativa, identifique:
Sua empresa é: Porte da empresa subcontratante Subcontratada de empresa local ( 1 ) ( 2 ) Subcontratada de empresas localizada fora do arranjo ( 1 ) ( 2 )
Porte da empresa subcontratada Subcontratante de empresa local ( 1 ) ( 2 ) Subcontratante de empresa de fora do arranjo ( 1 ) ( 2 )
5.Caso sua empresa seja subcontratada, indique o tipo de atividade que realiza e a localização da empresa subcontratante: 1 significa que a empresa não realiza este tipo de atividade, 2 significa que a empresa realiza a atividade para uma subcontratante localizada dentro do arranjo, e 3 significa que a empresa realiza a atividade para uma subcontratante localizada fora do arranjo.
Tipo de atividade Localização
Fornecimentos de insumos e componentes ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Etapas do processo produtivo (montagem, embalagem, etc.) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Serviços especializados na produção (laboratoriais, engenharia, manutenção, certificação, etc.) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Administrativas (gestão, processamento de dados, contabilidade, recursos humanos) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Desenvolvimento de produto (design, projeto, etc.) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Comercialização ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Serviços gerais (limpeza, refeições, transporte, etc) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
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6. Caso sua empresa seja subcontratante indique o tipo de atividade e a localização da empresa subcontratada: 1 significa que a empresa não realiza este tipo de atividade, 2 significa que sua empresa subcontrata esta atividade de outra empresa localizada dentro do arranjo, e 3 significa que sua empresa subcontrata esta atividade de outra empresa localizada fora do arranjo.
Tipo de atividade Localização
Fornecimentos de insumos e componentes ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Etapas do processo produtivo (montagem, embalagem, etc.) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Serviços especializados na produção (laboratoriais, engenharia, manutenção, certificação, etc.) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Administrativas (gestão, processamento de dados, contabilidade, recursos humanos) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Desenvolvimento de produto (design, projeto, etc.) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Comercialização ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Serviços gerais (limpeza, refeições, transporte, etc) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
7. Como a sua empresa avalia a contribuição de sindicatos, associações, cooperativas, locais no tocante às seguintes atividades: Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.
Tipo de contribuição Grau de importância Auxílio na definição de objetivos comuns para o arranjo produtivo ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Estímulo na percepção de visões de futuro para ação estratégica ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Disponibilização de informações sobre matérias-primas, equipamento, assistência técnica, consultoria, etc. ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Identificação de fontes e formas de financiamento ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Promoção de ações cooperativas ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Apresentação de reivindicações comuns ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Criação de fóruns e ambientes para discussão ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Promoção de ações dirigidas a capacitação tecnológica de empresas ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino e pesquisa local ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Organização de eventos técnicos e comerciais ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
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V – POLÍTICAS PÚBLICAS E FORMAS DE FINANCIAMENTO 1. A empresa participa ou tem conhecimento sobre algum tipo de programa ou ações específicas para o segmento onde atua, promovido pelos diferentes âmbitos de governo e/ou instituições abaixo relacionados: Instituição/esfera governamental
1. Não tem conhecimento
2. Conhece, mas não participa
3. Conhece e participa
Governo federal ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Governo estadual ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Governo local/municipal ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) SEBRAE ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Outras Instituições ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
2. Qual a sua avaliação dos programas ou ações específicas para o segmento onde atua, promovido pelos diferentes âmbitos de governo e/ou instituições abaixo relacionados:
Instituição/esfera governamental
1. Avaliação positiva
2. Avaliação negativa 3. Sem elementos para avaliação
Governo federal ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Governo estadual ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Governo local/municipal ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) SEBRAE ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Outras Instituições ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
3. Quais políticas públicas poderiam contribuir para o aumento da eficiência competitiva das empresas do arranjo? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.
Ações de Política Grau de importância Programas de capacitação profissional e treinamento técnico ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Melhorias na educação básica ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Programas de apoio a consultoria técnica ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Estímulos à oferta de serviços tecnológicos ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Programas de acesso à informação (produção, tecnologia, mercados, etc.) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Linhas de crédito e outras formas de financiamento ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Incentivos fiscais ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Políticas de fundo de aval ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Programas de estímulo ao investimento (venture capital) ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Outras (especifique): ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
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4. Indique os principais obstáculos que limitam o acesso da empresa as fontes externas de financiamento: Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.
Limitações Grau de importância
Inexistência de linhas de crédito adequadas às necessidades da empresa ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Dificuldades ou entraves burocráticos para se utilizar as fontes de financiamento existentes ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Exigência de aval/garantias por parte das instituições de financiamento ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) Entraves fiscais que impedem o acesso às fontes oficiais de financiamento ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )
Outras (Especifique): ( 0 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 )