Vidas Secas em
Cordel
Este trabalho foi realizado com base na obra “Vidas Secas”, do escritor Graciliano Ramos.
A vida do sertanejoé uma luta constante sobrevivente da seca vítima do mal governante atirado a própria sorte, sai por aí retirante
Um exercício de rimaspara em cordel transformar“Vidas Secas” a denúncia de um problema secularDesrespeito ao sertanejo que vive pra trabalhar
Graciliano Ramos, o autorEscreveu bem detalhadoAs mazelas de um povoSofredor e desprezado,Trabalhador incansávelQue não é valorizado
Vagando sertão afora, andavam seis retirantes fugindo da seca hostil daquele sol calcinantesuas forças exauridas Refletia no semblante
Fabiano, os dois filhos,A mulher e uma cadelaUm papagaio sem nomeQuase secando a titelaPra não morrerem de fomeLevaram o bicho à panela
E seguiram pela estradaSem saber onde chegarUm dos meninos caiuO pai tentou levantarA criança já sem forçasFoi preciso carregar
Depois de muito andaremAo longo daquela estradaEncontraram uma fazendaCom a casa abandonadaFabiano ali se arranchaResolve fazer morada
Baleia a cadela esperta Fareja a frente e os ladosA família observandoO olhar muito cansadoEm pouco tempo ela voltaCom um preá abocanhado
Saciada a fome braba Em meio a tanta canseiraSinhá Vitória recordaSeu Tomás da bolandeiraDa cama feita de couroMaterial de primeira
Observando a moradaApós comer o preáFabiano então cogitaAli mesmo se instalarMas logo aparece o donoPros seus direitos cobrar
Um fazendeiro arroganteContrata o pobre coitadoFabiano era vaqueiroE agora estava empregadoEra mais um nordestinoPra viver sendo explorado
Sinhá Vitória, a mulherPensava na sua camaDar estudo para os filhosAndar igual uma damaSeu Tomás da bolandeiraAquele sim tinha fama
No acordo com o patrãoA renda é quem decidiaA cada quatro animaisQue na fazenda nasciaFabiano tinha um,Para a sua garantia
A mulher por sua vezFazia as contas em casaJuntando várias pedrinhasEra assim que calculavaNa hora de prestar contasO dinheiro nunca dava
Já estavam acostumadosNa vida de exploraçãoDe um jeito ou de outroSempre deviam ao patrãoViviam inconformadosCom aquela situação
Fabiano foi à feiraComprar coisa na praçaInsatisfeito com o preçoResolveu beber cachaçaDepois entrou para o jogoOnde se deu a desgraça
Um soldado amareloConvidou-o pra jogarIriam ser dois parceirosE a disputa começarPor ter perdido dinheiroO soldado quis brigar
Pisou o pé de Fabiano E pôs ele na prisãoAchando que era poucoDeu-lhe surra de facãoFabiano ficou tristeAbatido igual um cão
O patrão assim que soubeFoi lá soltar o vaqueiroTentou assim demonstrarSeu valor politiqueiroFabiano foi pra casaSem a feira e sem dinheiro
Sinhá Vitória ralhouComo é que pode serPra ter uma vida dessaÉ muito melhor morrerPois o pouco que haviaO marido foi perder
Chegou uma rezadeiraPra benzer suas feridasPorque o pobre maridoQuase fica sem a vidaPrecisava se tratarPra continuar na lida
Nada ali se alteravaTudo parecia eternoAté que uma perguntaFranziu o olhar maternoQuando o filho perguntou :-mamãe o que é inferno?
Sinhá Vitória falou:Inferno é um lugar quenteTem fogo e tem o diaboEspetando toda a gente“As alma ruim vai pra lá”E o diabo fica contente
Passado alguns minutos ele torna a perguntar:-O inferno é muito quente?-A senhora já esteve lá?A resposta veio na horaUm tabefe de lascar.
O menino chorou muito com o cascudo na moleiraPensando consigo mesmo-Será que eu falei besteira?Diabo, espeto, alma ruimIsso é mais uma doideira.
Ficou meio inconformadoNo seu mundo de criançaBuscava uma explicaçãoMas não tinha segurançaVia entre o inferno e seu larUm pouco de semelhança
A chegada do invernoCausou preocupaçãoSinhá Vitória temiaProblema com inundaçãoDe ter que subir o morroE perder a plantação
Fabiano imaginavaQue tudo ia melhorarMontou-se num animale o mais novo a espiarAdmirando o seu paiCom vontade de imitar
Baleia assistia a tudo Com seu olhar desditosoQueria se protegerDaquele clima chuvosoOs meninos a tratavamCom um jeito carinhoso
Para aquecer as noitesDo frio que incomodavaUma fogueira era acesaE todos se recostavamEscutando as históriasQue Fabiano inventava
Veio a festa de natalBotaram roupa e calçadoRumaram para a cidadeBem vestidos e engomadosCaminhavam em silencioCom andar desengonçado
O trajeto pra cidadeFicou meio complicadoO caminho que era longoSe tornou mais demoradoPor causa das roupas justasE do sapato apertado
Fabiano incomodado Afrouxou o paletóTirou meias e sapatosAfrouxou tudo que é nóOs outros fizeram o mesmoE caminharam melhor
Se lavaram no riacho Antes de entrar na cidadeOs meninos caminhavamCheios de felicidadeFabiano se queixavaQue ali havia maldade
Na saída da igreja Houve uma discussãoPorque a mulher pediu:-por favor não jogue nãoFabiano se afastouFoi procurar um balcão
Tomou pinga até cairFicou meio atormentadoPassava na sua menteO episódio com o soldadoPensava em uma vingançaMas se achava um coitado
A mulher e os meninosFicaram preocupadosEla acendeu o cachimboDeu a volta no mercadoEm frente à porta do barViu Fabiano estirado
Enquanto ele roncavaPor causa da bebedeiraSinhá Vitória lembravaSeu Tomás da bolandeiraA cama feita de couroQue sonhou a vida inteira
Baleia se aproximouVeio lamber Fabiano Que logo se levantouCom cara de desenganoForam direto pra casaEsperar o outro ano
Sinhá Vitória em casa Começou a se queixarAmaldiçoando a vidaQue nunca iria prestarFalou na cama de couroQue ela queria deitar
O ano novo chegouPior que o ano passadoA chuva não quis cairDe sede morria o gadoSe assim continuasseEstava tudo acabado
A água dos bebedourosAs avoantes bebiamQuanto mais ele atiravaMais água elas consumiamDerrotado pelas avesFabiano se sentia
A coisa foi arruinandoO patrão veio acertarMandou ajuntar os bichosPra outras terras levarDeixou uma vaca velhaQue não pôde levantar
E lá no fornecimentoFabiano indignadoPela conta exorbitanteE pelos juros cobradoO vendedor se afobou,Dizendo: pague calado
A revolta era grandeNão dava pra aguentarComentou com a mulherAqui não dá pra ficarPorém foi primeiro a roça,Um bezerro procurar
Embrenhou-se na caatingaProcurando com cuidadoNo meio de uma varedaEncontrou com um soldadoO amarelo do jogoQue havia lhe humilhado
Quando avistou FabianoFicou meio assustadoFabiano foi pra cimaCom o facão empunhadoPensou em parti-lo ao meioRetalhar o desgraçado
Depois se arrependeuResolveu deixar de ladoPois embora mau caráterO homem era soldadoFabiano percebeuQue ele tava areado
Embora insatisfeitoFabiano apontou O caminho pro sujeitoQue ligeiro se mandouEm seguida foi atrásDo bezerro fugidor
Encontrado o bezerroArrastou na mesma horaChegando em casa matouE chamou Sinhá VitóriaQue foi preparar o bichoPra comerem estrada afora
A família reunida Já pronta pra viajarQueriam pegar estradaSair daquele lugarMas baleia estava malNão podia acompanhar
Muito velha e acabadaNão pegava mais preáFabiano preparouA espingarda pra matarMirou bem no rumo delaNão conseguiu atirar
Sinhá Vitória tentavaAcalmar suas criançasTodas muito apegadasA amiga de infânciaEnquanto o pai, FabianoCalculava a distância
Após várias tentativasBaleia tombou sem vidaOs meninos acenaramNum sinal de despedidaO choro foi comoventePela cadela querida
O céu se mantinha azulE o sol não se arredavaFugiram de madrugadaDa seca que os castigavaQuem sabe lá pelo sulO sofrimento acabava
A saga dos retirantesNo nordeste é assimIsto sempre se repeteQuando o governo é ruimEntra ano e sai anoE nunca chega o fim.
FIM
Autor:José Holanda Oliveira
SITES CONSULTADOS
http://www.google.com.br/imageshttp://www.mundovestibular.com.br/http://mundocordel.blogspot.com/
Observação: Inicialmente a pretensão era apenas fazer uma ou duas páginas, resumindo o máximopossível. Porém, o fascínio de trabalhar o cordel me fez ousar um trabalho maior, e mesmosendo aprendiz me senti orgulhoso ao vê-lo concluído. O parto é doloroso, mas vale a pena.JOSÉ HOLANDA OLIVEIRA