Vozes superpostas em duetos e solos: um estudo da sobreposição numa reunião
empresarialMaria do Carmo Leite de Oliveira
Universidade de Mogi das CrUzes
estUdos da LingUageMLato sensU
L inguagem e Trabalho Docente
Prof. Dr. F rank van de Wiel
Felipe Maria Cláudia
Raimundo
Considerações iniciais acerca da análise de textos orais
Língua Falada e Língua Escrita:
Contextos Conversacionais;
Planejamento e não
planejamento;
Envolvimento e
distanciamento.
Normas para transcrição
.
Ocorrências Sinais Exemplificação
Incompreensão de palavras ou segmentos
( ) do nível de renda...( )nível de renda nominal...
Hipótese do que se ouviu (hipótese) (estou) meio preocupado (com o gravador)
Truncamento (havendo homografia, usa-se acento indicativo da tônica e/ou timbre)
/ e comé/ e reinicia
Entoação enfática maiúscula porque as pessoas reTÊM moeda
Prolongamento de vogal e consoante (como s, r)
:: podendo aumentar para :::: ou mais
ao emprestarem os... éh::: ...o dinheiro
Silabação - por motivo tran-sa-ção
Ocorrências Sinais Exemplificação
Interrogação ? eo Banco... Central... certo?
Qualquer pausa ... são três motivos... ou três razões... que fazem com que se retenha moeda... existe
uma... retenção
Comentários descritivos do transcritor
((minúsculas)) ((tossiu))
Comentários que quebram a seqüência temática da
exposição; desvio temático
-- -- ... a demanda de moeda -- vamos dar essa notação -- demanda de moeda por
motivo
Superposição, simultaneidade de vozes
{ ligando as linhas A. na { casa da sua irmãB. sexta-feira?
A. fizeram { lá...B. cozinharam
lá?
Indicação de que a fala foi tomada ou interrompida em determinado ponto. Não no
seu início, por exemplo.
(...)
(...) nós vimos que existem...
Citações literais ou leituras de textos, durante a gravação
" " Pedro Lima... ah escreve na ocasião... "O cinema falado em língua estrangeira não precisa de nenhuma baRREIra entre
nós"...
* Exemplos retirados dos inquéritos NURC/SP No. 338 EF e 331 D2.Observações:1. Iniciais maiúsculas: só para nomes próprios ou para siglas (USP etc.)2. Fáticos: ah, éh, eh, ahn, ehn, uhn, tá (não por está: tá? você está brava?)3. Nomes de obras ou nomes comuns estrangeiros são grifados.4. Números: por extenso.5. Não se indica o ponto de exclamação (frase exclamativa).6. Não se anota o cadenciamento da frase.7. Podem-se combinar sinais. Por exemplo: oh:::... (alongamento e pausa).8. Não se utilizam sinais de pausa, típicos da língua escrita, como ponto-e-vírgula, ponto final, dois pontos, vírgula. As reticências marcam qualquer tipo de pausa, conforme referido na Introdução.
PRETI, Dino (organizador). Análise de Textos Orais. São Paulo: Humanitas, 2003.
Terminologia
O tópico discursivo:Tomado no sentido geral de assunto, o tópico pode ser entendido como
“aquilo acerca do que se está falando” (Brown e Yule, 1983:73). Ele é antes
de tudo uma questão de conteúdo, estando na dependência de um processo
colaborativo que envolve os participantes do ato interacional.
FÁVERO, Leonor Lopes. O tópico discursivo. In PRETI, Dino (organizador). Análise de Textos Orais. São
Paulo: Humanitas, 2003.
Terminologia
O turno conversacionalEstruturalmente, o turno define-se como a produção de um falante enquanto
ele está com a palavra, incluindo a possibilidade de silêncio. Na
conversação, ocorre a alternância dos participantes, isto é, os interlocutores
revezam-se nos papéis de falantes e ouvintes.
FÁVERO, Leonor Lopes et al. Oralidade e escrita: perspectivas para o ensino de língua materna.
São Paulo: Cortez, 2002.
Simultaneidade de Falas
Dois tipos de simultaneidade de falas:
1) Sobreposições;
2) Interrupções.
São estudadas em cenários pessoais em que há uma
livre distribuição de turnos:
Modelo de sistema de turno – fala um de cada vez. (SACKS, et al, 1974)
Intenção do falante de dominar ou participar do turno do falante
concorrente. (Zimmerman e West, 1975)
Do estilo do contato de quem sobrepõe / interrompe. (Tannen, 1989)
Objetivos
Reexaminar o fenômeno da simultaneidade de fala:
À luz das contribuições teóricas de Goffman (1963) – interação face
a face.
Verificar como os participantes reconhecem ou negociam o direito de
quem tem a vez de falar:
Situações de monólogo dirigido a uma audiência.
Metodologia
Análise de uma reunião empresarial do tipo informativa e da
sobreposição de falas entre dois coordenadores.
Verificação de estratégias utilizadas pelos participantes para realizar
duetos durante os monólogos (solos) de cada um.
Exame de como cada participante minimiza a segunda voz superposta
ou retoma o solo, marcando seu status de primeira voz ou coordenador
principal da reunião.
A sobreposição/interrupção e o sistema de tomada de turno
Sobreposição/interrupção vista como uma propriedade de um modelo de
conversação;
Sistema de turnos em que cada um fala de uma vez e em que a troca
de falantes recorre, ou pelo menos, recorre uma vez.
Foram identificados desvios mais ou menos suaves no sistema de
turnos entre falantes – sobreposição e interrupção.
Sobreposição – vista por alguns estudiosos apenas como uma fala
durante o turno.
Interrupção – vista como uma superposição de dois turnos e, como tal,
uma violação potencial ao direito de falar.
A sobreposição e o processo interativo
A abordagem de Goffman sobre as interações face a face:
Há uma ordem pública;
Os participantes de uma interação contribuem, conjuntamente, para
uma definição única da situação em que estão envolvidos;
Os participantes de uma interação são fonte de informação uns para
os outros.
O estudo das interações implica o estudo das relações sintáticas
entre os atos de diferentes pessoas mutuamente presentes.
A sobreposição e o processo interativo
Brown & Levinson (1987) – Teoria da Polidez – 3 padrões
característicos de membros de uma comunidade:
1) Hierárquico;
2) Deferência;
3) Solidadariedade.
Contexto do estudo
Breve histórico;
Natureza da reunião;
Espaço da reunião;
Direitos de falar:
Primeiro momento;
Segundo momento;
Terceiro momento.
O papel da sobreposição durante os solos
O direito discursivo e pragmático ao solo implica o direito de fazer
longos monólogos, selecionar outros falantes quando oportuno e não ser
interrompido livremente;
O solo é visto como uma manifestação de poder.
Sobreposições e duetos harmoniosos
As sobreposições durante os solos funcionam como uma segunda voz,
um modo de se fazer ouvir, durante os monólogos do outro participante;
Com relação à função discursiva, as sobreposições ora fazem
repetições, ora fazem expansões da fala que foi superposta;
O dueto é constituído harmoniosamente porque os participantes
recorrem ao que foi introduzido para criar a impressão de um único texto,
uma só ideia, uma só linguagem.
Sobreposições e duetos dissonantes
O segundo e terceiro momentos da reunião se caracterizam pelas
sobreposições que desconstroem a impressão de monólogo, produzido a
duas vozes para uma audiência;
As aparentes divergências manifestas nas sobreposições têm função
interacional de contestar a voz daquele que faz o monólogo, seja como
especialista, seja como coordenador da reunião.
As sobreposições não implicam disputa de turno, mas de competência.
A dissonância provocada deixa a plateia sem saber a quem ouvir.
Conclusão
O significado social da sobreposição deve ser visto como uma
construção conjunta dos participantes, a partir de pressuposições sobre
regras rituais que governam os relacionamentos públicos em
determinadas situações.
São essas regras que definem quem tem o direito de falar e como esse
direito pode ser negociado.
Referências Bibliográficas
FÁVERO, Leonor Lopes et al. Oralidade e escrita: perspectivas para o ensino de língua materna. São
Paulo: Cortez, 2002.
OLIVEIRA, Maria do Carmo Leite de. Vozes superpostas em duetos e solos: um estudo da sobreposição
numa reunião empresarial. In SOUZA-E-SILVA, Maria Cecília Perez; FAÎTA, Daniel. Linguagem e
trabalho: Construção de objetos de análise no Brasil e na França. São Paulo: Cortez, 2002.
PRETI, Dino (organizador). Análise de Textos Orais. São Paulo: Humanitas, 2003.
Recommended