EIXO TEMÁTICO 2: Estratégias, Materiais e Recursos Didáticos na Educação em Ciências e BiologiaMODALIDADE: Comunicação oral – CO.90
O ESTUDO DOS ALIMENTOS INDUSTRIALIZADOS COM ENFOQUE CTS NO ENSINO
MÉDIO: UMA EXPERIÊNCIA DE LICENCIANDOS DE UM CURSO DE CIÊNCIAS
BIOLÓGICAS
Maria Luiza Rodrigues da Costa Neves (Professora/ FAE-UFMG [email protected])
Laila Cíntia Moraes Ferreira( Licencianda /UFMG [email protected])
Luciana Rabello Ferreira(Licencianda/UFMG [email protected])
RESUMO
O artigo apresenta uma reflexão sobre o desenvolvimento de um projeto de ensino como parte das atividades da disciplina Análise Prática e Estágio Curricular em Ciências Biológicas do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais. A temática selecionada foi alimentação industrializada pautada no uso de recursos didáticos variados com enfoque em Ciência Tecnologia e Sociedade. Os resultados da aplicação do projeto são discutidos, quantitativamente, a partir da análise do desempenho dos alunos por meio de um instrumento de avaliação e qualitativamente pelas anotações dos comentários, questionamentos e posicionamentos dos alunos durante o processo de desenvolvimento do projeto até a conclusão.
Palavras-chave: Currículo CTS; Recursos didáticos; Ensino de Biologia.
INTRODUÇÃO:
Existe atualmente no contexto escolar, a tendência de promover currículos voltados às questões
do cotidiano dos aprendizes, objetivando interações interdisciplinares e a formação de um indivíduo
com pensamento crítico não só sobre a ciência e a tecnologia que os circunda, como também sobre
o processo que produz ciência e tecnologia e sobre seu uso. Pinheiro et al.(2007) abordam em seu
artigo Ciência, tecnologia e sociedade: a relevância do enfoque CTS para o contexto do Ensino
Médio, o fato de que as pessoas pouco têm noção de que subjacentes às grandes promessas de
avanços tecnológicos escondem-se lucros e interesses das classes dominantes. Os autores destacam
ainda, o papel do professor neste processo, visto que (...) o professor é o grande articulador para
garantir a mobilização dos saberes, o desenvolvimento do processo e a realização de projetos, nos
quais os alunos estabelecem conexões entre o conhecimento adquirido e o pretendido com a
finalidade de resolver situações-problema, em consonância com suas condições intelectuais,
emocionais e contextuais(...). De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino
Médio (1999), a apropriação de códigos, conceitos e métodos particulares de cada ciência para
interpretação dos fenômenos investigados, bem como, relacioná-los não só à ciência como também
à tecnologia e sociedade, proporciona aos alunos a ampliação das possibilidades de compreensão e
participação efetiva nesse mundo. Chassot (2005) afirma que o ensino de Ciências tem como dever
a formação de cidadãos que compreendam e sejam capazes de melhorar o mundo em que vivem.
Por essa diretriz o ensino de Biologia deve orientar-se de maneira a permitir que o aluno seja capaz
não somente de aprender os conceitos, mas principalmente de compreender e resolver problemas,
posicionar-se e agir diante das questões que esse campo do conhecimento aponta.
Nesta perspectiva, propostas diversas de mudanças no ensino, impulsionadas pela atual
demanda, por um conhecimento de ciências integrado à realidade e às ações cotidianas dos
indivíduos (Maia e Justi, 2008) vem sendo discutidas. Uma dessas mudanças, observada desde a
década de 70, é a abordagem CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade) que tem sido utilizada por
diversos países na elaboração de currículos de ensino de ciências que priorizam a alfabetização
científica e tecnológica no contexto social (Pinheiro, 2007).
Layton (1994) citado por Mortimer e Santos (2002) afirmam que os trabalhos curriculares em
CTS surgiram, assim, como decorrência da necessidade de formar o cidadão em ciência e
tecnologia, o que não vinha sendo alcançado adequadamente pelo ensino convencional de ciências.
O cenário em que tais currículos foram desenvolvidos corresponde, no entanto, ao dos países
industrializados, na Europa, nos Estados Unidos, no Canadá e na Austrália, em que havia
necessidades prementes quanto à educação científica e tecnológica. Krasilchick (1987), ao discutir a
evolução da inovação educacional dos currículos de ciências no Brasil no período de 1950 a 1985,
assinala que, na década de setenta, os mesmos começaram a incorporar uma visão de ciência como
produto do contexto econômico, político e social. Já na década de oitenta, a renovação do ensino de
ciências passou a se orientar pelo objetivo de analisar as implicações sociais do desenvolvimento
científico e tecnológico. Mortimer e Santos(2002), afirmam que vários materiais didáticos e
projetos curriculares brasileiros foram elaborados, incorporando elementos dessa perspectiva.
Em consonância com este tipo de ênfase curricular desenvolveu-se um projeto como parte das
atividades realizadas na disciplina de Análise Prática e Estágio Curricular em Ciências Biológicas
do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais. A
temática central do Projeto girou em torno dos tópicos curriculares sobre a alimentação
industrializada e suas consequências para saúde da população, pois de acordo com dados do Portal
Brasil, os índices de obesidade e diabetes na população brasileira têm aumentado em grau
preocupante. As indústrias de alimentos industrializados formam uma hegemonia mundial. Segundo
informações na literatura existem aproximadamente dez grandes companhias responsáveis por
controlar essa indústria. As expressões do marketing vinculadas aos alimentos industrializados
garantem uma aparência benéfica ou no mínimo neutra deste tipo de alimentação, porém cada vez
mais é demonstrado por pesquisas e estatísticas que suas consequências são deletérias para a saúde
humana, fato que por vezes não é encarado como atrelado ao hábito alimentar. De acordo com
pesquisa realizada em 2010 pelo IBOPE a pedido da Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo (FIESP), 34% dos entrevistados que confiam na qualidade dos produtos industrializados, ao
mesmo tempo em que priorizam sabor e variedade, declararam estarem dispostos a aumentar o
consumo desses produtos, especialmente se apresentarem preços mais atraentes.
Acreditando no papel formador da escola sobre o desenvolvimento do indivíduo e, reconhecendo
os maus hábitos alimentares dos jovens brasileiros, desenvolveu-se um projeto com a construção de
conceitos sobre os riscos de uma alimentação industrializada com um enfoque CTS.
RELATO DE EXPERIÊNCIA
O projeto desenvolvido durante a realização da disciplina Análise Prática e Estágio Curricular
em Ciências Biológicas teve a sala de aula da Universidade como ponto de referência para debates e
comentários acerca de todo o processo de desenvolvimento até a culminância do projeto na escola
em campo.
O projeto foi desenvolvido em uma escola pública da rede estadual da cidade de Belo Horizonte
em Minas Gerais com alunos dos 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio dos turnos vespertino e noturno.
A temática selecionada envolveu os seguintes tópicos curriculares: Alimentos industrializados e
relação com a diabetes mellitus e obesidade; Aspectos sociais e econômicos da alimentação
industrializada; Composição química dos alimentos; Composição química do corpo humano com
enfoque em compostos orgânicos; Fiscalização da qualidade de alimentos industrializados por parte
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. A realização do projeto ocorreu em três aulas de 50
minutos para alunos de nove turmas do ensino Médio. Os recursos didáticos utilizados foram
variados, como exibição de vídeos documentário e de animação, aula no quadro branco, slides em
PowerPoint e apresentação no Prezzi, modelo confeccionado em cartolina e E.V.A. para representar
a entrada de glicose nas células de pessoas saudáveis e de portadores de diabetes tipo 1 e diabetes
tipo 2, textos complementares com as informações básicas acerca do conteúdo trabalhado,
exercícios e uma avaliação.
No primeiro encontro realizou-se inicialmente a mostra da compilação de 10 minutos do
documentário Muito além do peso com produção de Maria Farinha Filmes, de novembro de 2012,
patrocinado pelo Instituto Alana. Seguiu-se um breve comentário chamando a atenção dos
alunos para as questões econômicas envolvidas na indústria alimentícia, como o marketing
associado à alimentação saudável e a sentimentos de felicidade e prazer. O documentário aponta
algumas questões relevantes, como: questiona o fato do consumidor, papel este que se configura nos
alunos, estar se alimentando sem consciência como é explicitado com a ingestão de açúcar, apesar
das embalagens conterem a declaração do teor de carboidratos por porção; a substituição de
alimentos naturais por alimentos industrializados estarem ocorrendo nas diversas regiões brasileiras,
entre as várias camadas econômicas e sociais; e finalmente, o alerta de que há uma relação
incontestável entre os hábitos alimentares da sociedade moderna e o aparecimento de doenças como
diabetes. Por meio desta iniciação destacaram-se os objetivos do projeto em promover uma
conscientização do aluno, tornando-o responsável pelas consequências, a médio e a longo prazo,
advindas de sua alimentação.
Associados ao vídeo, buscamos uma reflexão com os alunos levantando perguntas, do tipo:
“Quem bebeu mais água do que refrigerante na última semana?” “Quem comeu mais frutas do que
doces na última semana?” Na tentativa de levar o aluno a pensar sobre suas escolhas alimentares.
Na sequência, apresentamos dados estatísticos sobre a porcentagem de brasileiros com sobrepeso,
obesidade e diabetes, no ano de 2006 comparativamente ao ano de 2013 e construímos uma
organização sobre a constituição orgânica dos alimentos, bem como do corpo humano, no quadro
branco. Ao final de cada seção estudada em cada turma, anotações foram registradas em nosso
diário de bordo. Este encontro foi finalizado com a demonstração da atividade prática de
determinação qualitativa de compostos orgânicos em alimentos. A atividade prática consistiu em
combinar alguns reagentes que alteram sua coloração na presença de carboidratos e proteínas
indicando a constituição química básica de alguns alimentos.
Figura 1. Materiais, tabela e resultados referentes à prática de determinação qualitativa de compostos orgânicos em
alimentos.
O segundo encontro teve início com a explicação simplificada do metabolismo dos carboidratos
no organismo humano. Para tanto, foi iniciada uma conversa com a introdução dos conceitos de
mono, oligo e polissacarídeos. Foi explicado que tanto os açúcares simples quanto os complexos
são convertidos em moléculas menores de carboidratos, sendo a mais simples delas, a glicose. A
partir de então, foi utilizado um modelo confeccionado em cartolina e E.V.A. representando o
caminho da molécula de glicose do sangue para o interior da célula, através de proteínas
transmembrana carreadoras, ativadas por cadeia metabólica iniciada pela insulina. Deixou-se claro
o papel da insulina e sua relação com os diabéticos tipo 1, quando foi então explicado o que é a
diabetes, e a diferença entre diabetes mellitus tipo 1 e tipo 2. Com estes conceitos construídos com
os alunos, alcançamos então a correspondência entre a obesidade e a diabetes tipo 2, associando que
a glicose em excesso é convertida em glicogênio até um determinado limite, que após ser atingido,
leva à conversão da glicose ainda excedente em gordura. Ainda usando o modelo de cartolina e
E.V.A., demonstramos o impedimento físico que ocorre nos receptores de insulina das membranas
celulares devido ao acúmulo de gordura. Passamos, então, para o estudo de outra temática, o papel
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária na promoção da saúde da população enquanto órgão
fiscalizador dos diversos produtos comercializados no país. Para isso, foi utilizada uma
apresentação em Prezzi. O objetivo foi informar aos alunos dos seus direitos enquanto cidadãos
através do consumo de produtos cujas características foram aprovadas pelas análises do Laboratório
Central de Minas Gerais (LACEN-MG) e enfatizar a abordagem CTS do conteúdo proposto. Desta
forma, levantamos a problemática das fraudes econômicas para que os alunos pudessem ter
dimensão do que perpassa a indústria alimentícia e de como devemos ficar atentos e exigir das
autoridades uma constante inspeção, e além disso, tomarmos consciência do que se está ingerindo.
Finalmente, concluiu-se o segundo encontro, com a mostra dos corantes alimentícios artificiais
permitidos no Brasil e uma rápida explanação sobre a origem dos corantes artificiais e males
decorrentes do uso contínuo dos mesmos, informando os países em que alguns deles já estão
proibidos. Comentou-se da dificuldade de estabelecer conclusões concretas sobre substâncias
alimentícias cujos efeitos na saúde são sentidos à longo prazo e ainda outros fatores como o
desconhecimento acerca do fator genético de cada indivíduo à recepção de desses alimentos
industrializados. Mostrou-se um quadro comparativo do uso do corante caramelo pela mesma
indústria de um refrigerante em diferentes países em cuja concentração varia grandemente em
virtude das exigências de cada população.
No turno noturno, o segundo encontro foi realizado na quadra poliesportiva para toda a escola
durante a semana da “Educação para a vida”. As adaptações para a realização desta palestra
consistiram em trocar o modelo físico por apresentação animada em Power Point e apresentação do
vídeo explicativo Diabetes tipo 2 Academia de Ciência e Tecnologia – Universidade de São José do
Rio Preto. Autores: Dr. Paulo César Naoum e Alia F. M. Naoum, Birdo Studio, 2011 e a inserção de
uma seção para abordagem da rotulagem dos alimentos industrializados com foco na embalagem de
leite de vaca UHT.
Ao final de cada encontro os alunos receberam um texto com resumos e informações
complementares àquelas trabalhadas constando dos principais conceitos sobre o conteúdo estudado
com exercícios variados. O terceiro encontro foi reservado à aplicação de atividade avaliativa
desenvolvida a partir do conteúdo estudado no projeto, apenas para as turmas de 1º ano do turno
vespertino. Aplicou-se avaliação escrita em dupla para 173 alunos de seis turmas do 1º ano do
Ensino Médio, sendo aplicadas, portanto, 91 provas no total. A avaliação era composta de oito
questões objetivas de múltipla escolha, uma questão para relacionar colunas, uma questão para
apontar se a sentença é verdadeira ou falsa e uma questão discursiva.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os resultados serão apresentados sob duas perspectivas, uma qualitativa, obtida durante o
desenvolvimento do projeto, e uma quantitativa, obtida pela análise dos resultados da avaliação
realizada pelos alunos.
A análise qualitativa foi realizada durante o desenvolvimento dos diferentes momentos do
Projeto, através do feedback dado pelos alunos, com expressões faciais, exclamações,
questionamentos, colocações, e participação também quando solicitados. O documentário
apresentado inicialmente cumpriu o papel de promover o envolvimento dos estudantes com a
temática. Estabeleceu-se um diálogo orientado por nós, no sentido de reforçar os diversos aspectos
mostrados no vídeo que estão relacionados à indústria alimentícia, sua propaganda e poder na
sociedade capitalista. Deixamos claro que o Projeto visava a conscientização acerca destes aspectos
e que a escolha sobre a alimentação de cada um é uma questão individual, o que os colocou como
agentes responsáveis por assumir ou evitar riscos relacionados à uma má alimentação. A abordagem
CTS foi bastante explícita neste momento.
Muitos alunos se identificaram com o documentário. Eles se espantaram com a excessiva
quantidade de açúcares e gorduras presentes nos produtos industrializados como refrigerantes,
sucos, biscoitos recheados e salgadinhos. Alguns expressaram nojo ao assistirem a produção de
embutidos e outros se indignaram com as fraudes econômicas citadas e com o fato da legislação
nacional permitir o uso de alguns corantes artificiais já proibidos em determinados países. Outros,
afirmaram que preferem continuar com seus hábitos alimentares atuais. Além dos vídeos, o uso das
outras ferramentas didáticas também proporcionou um retorno positivo, pois no momento em que
aqueles alunos mais dispersos distraiam-se, as mudanças de estratégia didática prendiam novamente
sua atenção.
A análise quantitativa foi feita a partir dos resultados dos alunos na avaliação realizada após
o Projeto. De maneira geral o resultado foi satisfatório. Na parte objetiva da prova, somente duas
questões, a primeira e a quarta, tiveram baixo índice de acerto, sendo eles 36% e 38,25%,
respectivamente. Na questão de número um os alunos deveriam ser capazes de identificar o
colesterol como exemplo de lipídio e as fibras como exemplo de carboidrato. Essa informação havia
sido estudada em sala de aula e constava no texto de apoio entregue aos alunos como suporte aos
estudos do conteúdo. Erroneamente, 41,5 % das respostas apontaram as fibras como proteínas. A
questão de número quatro avaliava conhecimentos sobre o metabolismo do excesso de açúcar
ingerido. Os alunos deveriam responder que comer doces em excesso e levar uma vida sedentária
pode promover o ganho de peso porque a glicose em excesso é convertida em gordura no fígado e
armazenada nos adipócitos. Nesta questão a alternativa mais marcada pelos alunos, 39,25%,
afirmava que a gordura se acumula na parede dos vasos sanguíneos. Essa alternativa, apesar de
consistir numa afirmação correta, não responde à questão, o que nos leva a concluir que os alunos
apresentam dificuldades na identificação, entre sentenças verdadeiras, da sentença que de fato
responda à pergunta.
A questão com maior índice de acerto foi a de número três, em que os alunos deveriam
identificar uma característica do diabetes. Nesta, 82,25% dos alunos apontaram de maneira
assertiva que diabetes é caracterizada pelo aumento da concentração de glicose no sangue
(hiperglicemia). O desempenho foi considerado bom nas demais questões com índice de acerto
médio de 66,15%. Em duas questões foram expostos alguns alimentos e suas constituições químicas
básicas para que os alunos identificassem quais alimentos deveriam ser evitados por uma pessoa
com colesterol elevado (questão dois) e quais deveriam ser preferidos por um atleta antes da
competição (questão sete). 68,25% dos alunos acertaram ao responder carnes de ganso e porco,
ricas em lipídeo, e 69% deles responderam arroz com farinha de mandioca, ricos em carboidratos,
respectivamente.
Para responder às questões de número cinco e seis, os alunos deveriam considerar a seguinte
situação: Marta sai de casa para ir à escola, dobra a esquina e vê seu ônibus chegando ao ponto.
Para não ter que esperar o próximo, começa a correr. Na questão cinco 69% dos alunos
responderam corretamente que ao fim da corrida Marta estará ofegante porque sua freqüência
respiratória aumentou, já que seu corpo precisou de mais energia, que é produzida por meio da
respiração celular, processo que utiliza a glicose como metabólito. Na questão seis, 59%
responderam corretamente que Marta ficou mais cansada do que uma pessoa num estado de saúde
perfeito porque a produção de energia numa pessoa com diabetes não controlada é deficiente já que
há falta de glicose dentro das células.
A questão de número oito contemplava o experimento de identificação de compostos
orgânicos nos alimentos que foi demonstrado em sala de aula. A partir da observação da tabela com
os resultados, os alunos deveriam marcar a opção com alimentos que devem ser evitados por uma
pessoa com diabetes. Nesta questão o índice de acerto foi de 65,5%.
As questões de número nove e dez requeriam conhecimentos sobre a composição química
dos alimentos, água, sais minerais, vitaminas, carboidratos, proteínas e lipídios, suas principais
características, funções no corpo humano e alimentos onde são encontrados em maior quantidade. O
índice de acerto médio (ou seja, a média aritmética da quantidade de acertos em relação ao total de
sentenças) foi de 66,2% e 61,4%, respectivamente.
A questão discursiva da avaliação solicitou que os alunos apresentassem três argumentos em
defesa de uma alimentação saudável. Vinte e uma duplas de estudantes não foram capazes de
discernir o comando do enunciado, de atitudes que devem ser tomadas em prol de uma alimentação
saudável. Assim, foram comuns respostas a esta questão como as transcritas a seguir: (1)Comer
bastante frutas, verdura, não ingerir doces em excessos, comer bastante proteínas e carboidratos.;
(2)Não tomar refrigerantes; não exagerar em alimentos gordurosos; (3)Comer frutas e verduras;
comer carne de frango grelhada ao invés de frita, comer arroz integral; (4)Não tomar refrigerante,
suco de caixa, salgado, porque esses alimentos contém muito açúcar e gordura e isso faz mal á
saúde.; (5)Tomar bastante água; fazer exercícios físicos; evitar ingerir lipídios; (6)É preciso
ingerir carboidratos para manter a energia; ingerir proteínas em função estrutural do corpo;
ingerir “gordura” na medida certa para constituir o corpo saudável.
Ainda para a mesma questão, foram encontradas respostas contendo conceitos errados ou vagos
e incompletos. Embora alguns alunos tenham respondido com maior exploração de argumentos
técnicos (Uma alimentação saudável evita diabetes; evita a obesidade; além de ajudar a retardar o
envelhecimento de células), e outros tenham respondido de forma mais abrangente (A alimentação
saudável é boa para que a pessoa mantenha seu corpo em sua plena forma física, para que ela
fique livre de doenças e para que ela viva uma saudável vida) todos estes, desde que coerentes,
foram considerados corretos, pois são argumentos válidos. Uma dupla de alunos, possivelmente
não envolvida com o projeto, respondeu a esta questão de maneira irônica, listando atitudes
condenáveis do ponto de vista da saúde. Este foi um fato interessante que nos levou a pensar na
aplicação de uma ferramenta no qual os alunos não precisariam se identificar, a fim de saber, ainda
que qualitativamente, o grau de impacto do assunto abordado sobre a consciência dos alunos. Das
seis provas do total de 91 apresentaram a questão discursiva em branco. Atingir 60% da nota
total é um critério utilizado pela escola como índice de desempenho mínimo aceitável. Analisando-
se as notas totais das provas, considerando este critério, constatamos que 61% dos alunos atingiram
a média, o que é satisfatório, embora seja uma análise muito limitada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Buscando o enfoque Ciência Tecnologia e Sociedade –CTS- o projeto desenvolvido sobre o
tema da alimentação industrializada permitiu explorar e inter-relacionar diversos conteúdos da
Biologia. Foi possível apresentar a função de nutrição relacionando-a a outras funções no
organismo, como circulação e respiração; o corpo humano como um conjunto integrado, com
diferentes níveis de organização: células, tecidos, órgãos e sistemas; e o metabolismo como um
conjunto de processos químicos que garantem a transformação e distribuição de energia. Em vários
momentos da aula foi possível retomar conceitos já aprendidos pelos alunos durante sua trajetória
escolar. Além dos conceitos biológicos foram discutidos também os aspectos sociais e econômicos
que permeiam a produção da alimentação industrializada versus alimentação saudável, instigando
criticidade sobre a dieta alimentar de cada aluno em seu dia-a-dia e apresentando problemas de
saúde que podem surgir em decorrência de uma alimentação inadequada.
Desta forma, concluiu-se que a aprendizagem dos conteúdos com enfoque em CTS foi
atingida com êxito. Contudo, as questões da avaliação que procuraram apontar uma interação com o
cotidiano associado a alguns comentários espontâneos dos alunos sobre determinados aspectos
relativos à qualidade da alimentação, indicaram, pelo menos em parte, que os alunos conseguem
relacionar os conceitos de biologia com aspectos sociais por meio de uma abordagem com enfoque
em CTS demonstrando mais interesse e motivação. Além disso, foi possível verificar também que o
uso de recursos didáticos variados pode proporcionar, aos alunos, diferentes olhares sobre o
conteúdo estudado e, consequentemente, diferentes formas de construção de significados,
ampliando a apropriação dos conceitos. Esta abordagem, portanto, se configura no vislumbramento
do que seja uma abordagem com enforque CTS: garantir que os conceitos adquiridos estejam
contextualizados e produzam um entendimento da ciência como saber em produção e constante
transformação, além de contribuir para a formação de cidadãos capazes de entender a produção
científica e suas implicações sociais, permitindo, então, um posicionamento e a tomada de decisão
frente às questões de ciência e tecnologia na sociedade.
REFERÊNCIAS:
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Curriculares Nacionais do Ensino Médio/ Ministério da Educação – Brasília: Ministério da
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CHASSOT, Attico Inácio. Para que(m) é útil o ensino da ciência. Revista: Presença pedagógica.
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MAIA, Poliana Flávia. JUSTI, Rosária. Desenvolvimento de habilidades no ensino de ciências e
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PINHEIRO,N.A.M.S;Rosemari,M.C.F.;Walter,A.B. Ciência, tecnologia e sociedade: a relevância do
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