Breve histórico da península ibérica

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    Revista Philologus, Ano 15, N 45. Rio de Janeiro: CiFEFiL, set./dez.2009 25

    BREVE HISTRICO DA PENNSULA IBRICA

    Nilsa Aren-Garca (FFLCH USP) [email protected]

    RESUMO

    Este trabalho explora a histria da Pennsula Ibrica como fator extralin-gustico na formao do galego e portugus desde a conquista pelo Imprio Ro-mano at a formao do Reino de Portugal e do final do processo de Reconquista da Pennsula pelos cristos.

    Palavras-chave: Lnguas ibricas. Origens do galego-portugus. Histria social do galego-portugus

    Sabe-se que tanto o galego antigo como o castelhano e as de-mais lnguas histricas e porventura faladas na Pennsula Ibrica fo-ram muito importantes na formao do portugus e do galego atuais, sob diferentes e variados aspectos, tais como: o lxico, a fontica, as estruturas sintticas, morfolgicas e semnticas etc.

    O galego, o portugus, o castelhano, como tambm a maioria das lnguas da regio, exceo feita ao basco, originaram-se do pro-cesso de romanizao da Pennsula aliado ao substrato indo-europeu caracterstico de cada localidade e ainda somado aos superstratos germnicos e aos adstratos vizinhos.

    De acordo com o Mapa 1, podem ser notados os diferentes povos que habitaram a Pennsula Ibrica antes da colonizao do Imprio Romano e que devem ter contribudo decididamente com o substrato local na origem do processo de formao das lnguas atu-ais. Por exemplo, nota-se que a regio que foi o bero do galego-portugus era, no perodo pr-romano, ocupada pelos povos galaicos e lusitanos que ali deixaram um substrato caracterstico de seus fala-res como herana lingustica.

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    Mapa 1: Povos pr-romanos3

    No ano de 210 a. C., iniciou-se a colonizao da Pennsula Ibrica como empreendimento da expanso do Imprio Romano, que inicialmente, conforme o Mapa 2, nota-se que se deteve no litoral mediterrneo principalmente visando a estabelecer o domnio de ci-dades de colonizao grega e fencia. Posteriormente, de 197 a 133 a. C., durante o Imprio de Augusto, houve uma grande investida em direo ao interior da Pennsula com sua quase total incorporao ao Imprio, ficando apenas o extremo norte povoado pelos bascos e cntabros, e extremo noroeste, povoado pelos galaicos margem imperial. Segundo Bassetto (2001, p. 102), somente em 19 d.C. os povos do norte e noroeste foram romanizados, ainda que Estrabo, em sua Geografia (29 a. C.), afirme que estes povos caracterizavam-se pela brutalidade e selvageria.

    3 Adaptao do texto disponvel em: .

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    Mapa 2: A expanso Romana na Pennsula Ibrica4

    Durante o processo de romanizao, foram introduzidos v-rios elementos socioculturais desconhecidos pelos povos autctones, tais como: o direito romano; a lngua latina (processo de latinizao); a organizao militar, civil e poltica; que foram assimilados pelos povos autctones da Pennsula conforme a estratgia de colonizao aplicada a cada localidade, visando manuteno e integridade do Imprio.

    Como reflexo dessa romanizao, nota-se no Mapa 3, que na evoluo da diviso poltica, a regio dos povos galaicos foi a de l-timo interesse para o Imprio Romano. No ano 287, a Gallaecia, provncia do Imprio de Dioclesiano, foi descrita por gegrafos e historiadores como os territrios compreendidos desde o Mar Cant-brico at o rio Douro e, desde Finisterris at a Cantbria. Suas prin-cipais cidades eram Brigantium, atual cidade de A Corunha; Lucus

    4 Adaptao do mapa disponvel em: .

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    Augusti, atual cidade de Lugo; Braccara Augusta, atual cidade de Braga e Portucale, atual cidade do Porto.

    Mapa 3: Diviso da Pennsula Ibrica, durante o Imprio Romano5

    Segundo Monteagudo (1999, p. 62), os fatores fundamentais que contriburam para a latinizao da regio noroeste da pennsula foram: a reorganizao poltico administrativa com a demarcao do territrio, que afetou principalmente as elites locais; o exrcito ro-mano, que afetou diretamente os falares das classes mais baixas; a poltica de concesso de direitos e de cidadania romana; a criao e o crescimento das cidades; a explorao mineira; a escola de Braga; a rede viria que facilitou a mobilidade territorial e possibilitou a inte-grao da Gallaecia ao resto da prefeitura de Hispania, promovendo tambm a intensificao das atividades comerciais e a imigrao de latinos falantes em direo regio. interessante notar que, se por um lado, a mobilidade no territrio promoveu uma grande variedade lingustica, por outro lado se apoiou no uso do latim como lngua franca.

    Segundo Monteagudo (1999, p. 56), em termos sociolingus-ticos, a diglossia proveniente da latinizao acabou desencadeando um processo massivo de assimilao lingustica, que culminou com a

    5 Adaptao do mapa disponvel em: < http://clio.rediris.es/n32/atlas/018.jpg>.

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    extino das lnguas autctones na parte ocidental do Imprio. Dessa maneira, o latim se sobreps s lnguas locais e distintas em pocas diferentes na Pennsula Ibrica, significando que, durante a romani-zao, nunca deve ter havido uma unidade lingustica total na regio peninsular. Tambm, convm notar que os distintos povos conquis-tados ao adotar o latim, devem ter passado a pronunci-lo com seus prprios hbitos articulatrios e a incorporar ao seu lxico palavras autctones, formando variedades dialetais caractersticas. Com a construo das vias romanas, foi estimulada a maior interao entre os povos, propiciando as mais variadas interferncias lingusticas, a-lm do contato permanente com Roma e suas variantes do latim. Se-gundo Bassetto (2001, p. 110):

    A norma vulgar foi preponderante no processo de difuso e fixao do latim nas provncias, uma vez que era falada pelo exrcito, pelos co-lonos civis e militares e pelos comerciantes que mantinham contato di-reto e permanente com as populaes autctones.

    Assim, a Gallaecia, uma das ltimas regies a ser romanizada na Pennsula, j moldava suas caractersticas, como fruto sociolin-gustico, na assimilao do latim.

    Mapa 4: Principais zonas de imigraes na Pennsula Ibrica6

    6 Adaptao do mapa disponvel em: .

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    Com o enfraquecimento do Imprio Romano no final do scu-lo IV, segundo Bassetto (2001, p. 140-142), comearam as grandes migraes de povos no romanos que duraram quase dois sculos. Os vndalos, povos germnicos orientais e linguisticamente ligados ao gtico, estavam divididos em: sdingos e slingos; que, como ali-ados dos suevos (povos germnicos ocidentais) e dos alanos (de ori-gem indo-iraniana), chegaram Pennsula Ibrica. Os suevos e s-dingos seguiram para a regio da Gallaecia, os alanos (povos no germnicos) para a Lusitnia, e os slingos para a Btica. Posterior-mente chegaram os visigodos Pennsula, originrios do sul da Es-candinvia, que dizimaram os slingos na Btica e perseguiram os a-lanos e sdingos, obrigando-os a se fixarem na regio de Vandalusia, terra dos vndalos (atual Andaluzia). De acordo com Mario Paz (1988, p. 59), os povos sdingos (vndalos), que inicialmente se fixa-ram na Gallaecia juntamente com os suevos em 411, se deslocaram da na regio entre o rio Douro e Tejo, j em 419, para o sul da Btica e, posteriormente para o norte da frica, sendo perseguidos pelos vi-sigodos da Pennsula e pelas milcias do Imprio Bizantino. Assim, em 534, a regio de Vandalusia foi tomada pelo Imprio Bizantino de acordo com o empreendimento militar de destruir o reino vndalo, conforme o ilustrado no Mapa 4.

    Segundo Monteagudo (1999, p. 69), os suevos, pouco roma-nizados e, inicialmente, no cristos, seriam os responsveis por dar incio ao particularismo da lngua galego-portuguesa, ao se instala-rem na Gallaecia no incio do sculo V, em 411. A fuso dos povos galaicos-romanos e suevos, foi um processo prolongado que parece somente ter se estabilizado em 559 com a converso destes ao catoli-cismo. Seu reino ocupou desde a regio norte do rio Tejo e toda a provncia da Gallaecia com a capital em Braga, mas sucumbiu em 585 com as campanhas de expanso do reino visigodo de Leovigildo, que em 618 j dominava quase toda a Pennsula Ibrica, conforme o exposto no Mapa 5.

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    Mapa 5: Os reinos dos povos no romanos na Pennsula Ibrica7

    Para Mario Paz (1998, p. 60), o fato de a Gallaecia perma-necer durante um sculo e meio, ou mesmo durante os trs sculos da ocupao germnica, praticamente isolada do resto da Pennsula, favoreceu tendncias de desenvolvimento que j viriam da poca romana e que naquele momento encontraram uma realidade sociopo-ltica que as alimentou. Entretanto, segundo Bassetto (2001, p. 142) a superposio dos visigodos aos suevos tornou difcil distinguir as in-fluncias especficas do superstrato suevo.

    A formao dos reinos germnicos, segundo Wartburg (1979, p. 77-87), rompendo os limites do Imprio, influiu decididamente na formao dos espaos lingusticos romnicos, ao quebrar as linhas de comunicao com as diversas partes imperiais. No caso da Hispnia, os suevos e visigodos, segundo Teyssier (1987, p. 5) tiveram um papel particularmente negativo: com eles a unidade romana rompe-se definitivamente e as foras centrfugas vo ponderar sobre as de coe-so. No obstante, segundo Mario Paz (1998, p. 70), o analfabe-tismo dos povos germnicos contrastava fortemente com a tradio romana, alm disso, a cristianizao destes povos e a grande impor-tncia poltica adquirida pela Igreja Catlica entre os visigodos du-

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    rante os sculos VI e VII, foram os principais fatores que levaram o latim a se consolidar como lngua na Pennsula Ibrica, mesmo dian-te das lnguas dos povos dominantes.

    De acordo com Bassetto (2001, p. 152), no sculo VI, iniciou-se uma grande expanso dos domnios rabes impulsionada, princi-palmente pela incipiente religio Islmica. Aps a morte de Maom, em 632, com a Guerra Santa, em dois anos a expanso, encabeada pelo Califa Ab Bakr, estendeuse por toda a Pennsula Arbica. Com o Califa Omar, o Imprio rabe tornou-se uma teocracia com administrao militar, na qual o comandante militar era tambm o governador civil, chefe religioso e juiz supremo. Em 645, o Imprio rabe j dominara a Sria, a Palestina, o Egito e a Lbia, e, em 698, tambm toda a frica do Norte, conforme ilustrao do Mapa 6. Dessa forma, pouco mais de cem anos foi o tempo bastante para que os rabes tivessem conseguido estender sua religio e lngua bem como seu domnio poltico em um imenso espao que ia desde o O-ceano ndico ao Atlntico. Segundo Saraiva (1999, p. 33), os fatores que explicaram essa rapidez foram a fraqueza dos imprios vizinhos: Imprio Persa e Imprio Bizantino, as ferozes lutas religiosas que en-to se travavam no Oriente Prximo, entre judeus e cristos e a situ-ao das populaes oprimidas das reas conquistadas, que em vrias regies, como por exemplo, no Norte da frica e toda Pennsula A-rbica, os acolheram como libertadores.

    Mapa 6: Expanso do Imprio rabe8

    8 Adaptao do mapa disponvel em: .

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    Devido rapidez da conquista e facilitada pelo traado das vias romanas, em 711, a expanso do Imprio rabe j se iniciava na Pennsula Ibrica, com as conquistas de Trik e Ms, durante a di-nastia dos Omadas. Segundo Bassetto (2001, p. 148), no ano seguin-te, Trik j conseguira a conquista de Toledo, e em 732, quando j conquistara quase toda a Pennsula, foi derrotado na batalha de Poiti-ers pelos Francos, conforme Mapa 7.

    Mapa 7: Expanso do domnio rabe na Pennsula Ibrica9

    De acordo com Saraiva (1999, p. 35-36), tambm a atitude dos povos visigodos da Pennsula favoreceu o seu rpido domnio, pois a situao das populaes perante o domnio rabe dependia da atitude que assumiam diante da nova religio: se a aceitavam, faziam parte da comunidade; se continuavam fiis ao cristianismo, podiam manter suas propriedades, mas eram obrigadas a pagar tributos; se resistiam com armas eram aniquiladas. Portanto a resistncia armada no foi o caso mais geral, afinal os tributos teriam que ser pagos quer o senhor fosse cristo, quer islmico. Assim, segundo Bassetto (2001, p. 149), foi a religio o fator fundamental de distanciamento

    9 Adaptao do mapa disponvel em: .

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    entre as populaes rabes e romnicas, concluindo-se que tambm foi um fator de distanciamento entre as lnguas latinas e arbicas. No entanto, nesse perodo, a populao visigoda dividiu-se em: mora-bes, que permaneceram cristos, e muladis, que se converteram ao islamismo, mas continuaram com a lngua romance.

    Durante o perodo de conquistas, os rabes ampliaram seu co-nhecimento atravs da absoro das culturas de outros povos, levan-do-as adiante a cada nova conquista e espalhando-o por seus territ-rios. A cultura rabe caracterizou-se pela construo de palcios e mesquitas com seus jardins exuberantes. Destacam-se, nestas cons-trues, os arabescos para ilustrao e decorao, nos quais houve o emprego e a disseminao da geometria e lgebra aplicadas. A litera-tura tambm teve um grande valor, com obras at hoje conhecidas no Ocidente, tais como: As mil e uma noites, As minas do rei Salomo e Ali Bab e os Quarenta ladres. Especificamente na Pennsula Ibri-ca, assim como o Imprio Romano floresceu na Btica, tambm o Imprio rabe floresceu ao sul da pennsula. Sevilha foi um grande centro irradiador de sua cultura, principalmente durante o sculo XI e XII, ali se desenvolveram a medicina, filosofia, direito, histria, as-tronomia, teologia e as letras, com grande destaque poesia. Como personalidades importantes culturalmente desse perodo, destacam-se Averris (1126-1198) e Maimnides (1135-1204). Ainda que a cul-tura rabe, com sua tcnica e cincia, tenha sido muito mais refinada e, sob determinados aspectos, muito mais desenvolvida que a dos povos romnicos ali instalados, curioso notar que a lngua dos do-minadores no se sobreps dos dominados.

    interessante notar tambm que a durao do domnio rabe variou muito de regio para regio na Pennsula Ibrica. Nunca che-gou a ser exercido nas terras mais setentrionais, pois ao norte do Rio Ebro j retornara ao domnio cristo em 809. O Porto e Braga foram conquistadas pelos cristos em 868, Coimbra em 1064 e Lisboa em 1147. J Sevilha, Crdoba e Faro fizeram parte do Imprio rabe durante cerca de seis sculos e Granada somente deixou de fazer par-te deste domnio no final do sculo XV. Apesar do grande legado lingustico deixado pelos rabes, principalmente no castelhano, se-gundo Saraiva (1999, p. 34), as variaes do domnio rabe em cada regio repercutiram diretamente na intensidade da influncia da cul-tura rabe sobre as populaes peninsulares, mas foi limitada na lin-

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    guagem: no deixando vestgios na sintaxe e no lxico contribuindo com cerca de oitocentos vocbulos.

    Segundo Barraclough & Parker (1999, p. 110-111), durante o Imprio rabe tambm houve invases na Pennsula Ibrica de nor-mandos (homens do norte), povos provenientes da Escandinvia, guerreiros-marinheiros que entre o sculo VIII e o sculo XI pilha-ram, invadiram e colonizaram as costas da Europa e ilhas Britnicas. Estes povos, que manejavam muito bem as embarcaes vela, mar-caram sua presena nas costas do Atlntico e, posteriormente, do Mediterrneo. Embora sejam conhecidos principalmente como dis-seminadores da destruio, fundaram povoados e fizeram comrcio pacificamente. Entretanto, em 844, costeando a Pennsula Ibrica, desde o Cantbrico at o Mediterrneo, saquearam Gijn, A Coru-nha, Lisboa, Beja, o Algarve, Cdiz e Sevilha. Posteriormente, em 859, atacaram Valncia, as Ilhas Baleares e Barcelona. Porm, pare-cem ter deixado poucas influncias lingusticas em seu rastro pela Pennsula.

    Segundo Saraiva (1999, p. 33-36), o que realmente teve im-pacto marcante na formao das atuais lnguas da Pennsula Ibrica foi o processo de reconquista dos territrios peninsulares por pelos cristos, cujo incio a ruptura do Imprio rabe, seu enfraqueci-mento poltico aps a crise dos Omadas, bem como a distncia entre al-Andalus e o centro do Imprio na Pennsula Arbica, alm do de-sinteresse dos rabes pelo norte ibrico.

    Em 756, de acordo com Barraclough & Parker (1999, p. 120-121), Abd ar-Rahmn, o nico sobrevivente dos Omadas da revolu-o rabe que levou os Abssidas ao poder do Imprio, fugiu da Pe-nnsula Arbica e, ao chegar a al-Andalus, proclamou ali sua inde-pendncia com a capital em Crdoba, tornando-se o novo califa da regio. Abd ar-Rahmn I, reestruturou o seu regime monrquico, ba-seado nas anteriores monarquias visigodas, como tambm reestrutu-rou as instituies administrativas e fiscais adaptando-as realidade social da regio. No sculo VIII, Al-Hakam (796-822) conseguiu re-estruturar o exrcito de al-Andalus, entre outras coisas, por meio de incentivos e da manuteno de um salrio permanente, com o qual pode conter diversas revoltas internas e enfrentar o primeiro ataque forte dos povos cristos do norte provenientes do reino de Astrias

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    de Alfonso II. Nas primeiras dcadas do sculo IX, o governo de Abd ar-Rahmn II, centralizado em Crdoba, promoveu uma melho-ria nas condies sociais das populaes andaluzas e introduziu al-gumas regalias aos muladis, incentivando a converso religiosa ao Islamismo. Entretanto, a partir da segunda metade do sculo IX, co-meou a ocorrer uma grande crise poltica com a revolta de vrias regies que estavam submetidas ao poder central do emirado de Cr-doba, conforme o Mapa 8. Alm disso, nesse perodo tambm ocor-rem revoltas e descontentamentos da populao morabe e crist, devido ao processo de hegemonia rabe, a arabizao cultural que deixava margem social os no muulmanos, aliada a brberes e muladis irritados com as diferenas a favor dos rabes e srios.

    Mapa 8: Crise do Emirado de Crdoba10

    Durante o governo de Abd ar-Rahmn III (912-961), o territ-rio de al-Andalus, principalmente a partir de 914, passou a sofrer com as intensas ofensivas dos reinos cristos do norte da Pennsula Ibrica, que j se organizavam ao redor de sua capital Len; bem como, em menor medida, dos Condados Catales. Com o fortaleci-mento de seu exrcito sob um regime repressivo, Crdoba conseguiu

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    o apogeu poltico durante o sculo X, passando de Emirado a Califa-to, conseguido com o prestgio dos generais Galib, Al-Mansr e Abd al-Mlik; e com as diretrizes governamentais de Abd ar-Rahmn III, seguidas por seus sucessores Omedas: Al-Hakam II (961-976) e Hi-sm II (976-1009).

    Durante o sculo X, houve um grande desenvolvimento das cidades e do comrcio provocando um auge cultural que continuou por boa parte do sculo XI, alterando a base da economia e produ-zindo uma mudana social. Os morabes perderam fora e diminu-ram em nmero e passaram a aceitar a lngua e cultura rabes. No mbito poltico, que no mais se respaldava no exrcito j enfraque-cido, o territrio foi dividido em reinos Taifas, cujos governadores eram supostos representantes do poder central de Crdoba. Alguns reinos foram governados por dinastias brberes, outros por muladis ou por rabes j integrados na sociedade autctone. Os Reinos im-portantes absorviam os menores, principalmente na fronteira com os cristos, e ao sul, destacavam-se o Reino Taifa de Sevilha com go-verno andaluz e o de Granada sob o governo brbere dos zries, con-forme o Mapa 9.

    Mapa 9: Reinos Taifas em 101211

    11 Adaptao do mapa disponvel em: .

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    Com o estabelecimento da segregao dos territrios cristos e muulmanos, os Taifas fronteirios passaram a pagar impostos aos Reinos Cristos, que aumentavam sua presso militar e tributria. Em 1085, os cristos conquistaram a cidade de Toledo, como conse-quncia, os reinos Taifas aliaram-se militarmente aos almorvidas de Magribi, que passaram da condio de aliados de donos do poder poltico. A entrada dos almorvidas norte-africanos, suas vitrias so-bre os cristos e seu domnio poltico em al-Andalus, frearam, por algum tempo, a expanso do processo de reconquista.

    Entretanto, no incio do sculo XII, com a intransigncia, houve a perseguio e a expulso das minorias no muulmanas, principalmente morabes e judias, que passaram a se fixar em terri-trio cristo. Pouco depois, iniciou-se a decadncia e as divises in-ternas, o que permitiu aos cristos a retomada e o sucesso do seu empreendimento de expanso: a Reconquista.

    Segundo Bassetto (2001, p. 150), no contexto da reconquista situa-se a origem de Portugal. Sabe-se que os rabes no foram alm dos Montes Cantbricos, ao norte dos quais, inicial sob o comando de Pelaio, foi-se formando uma regio independente de cristos que, em 718, veio a ser o reino de Astrias. Com Afonso I, rei de Ast-rias, e suas guerras na Galiza contra os muulmanos, o Rio Douro foi uma das fronteiras entre cristos e rabes, conforme o Mapa 10.

    Mapa 10: Os territrios cristos, no sculo VIII, com Afonso I12

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    De acordo com Alexandre Herculano, apud Saraiva (1999: 39-40), Afonso I reconquistou uma enorme regio que inclua toda a Galiza, o Minho, o Douro e parte da atual Beira Alta, passando os mouros a fio de espada. Entretanto, para Saraiva (1999, p. 41), a guerra no era religiosa, j que os muulmanos permitiam outras re-ligies, mas para apoderar-se das terras por meio das colonizaes. Dessa forma, nasciam poderes representados por chefes locais entre os quais se estabelecia uma hierarquia nem sempre bem definida, in-tercalada de episdios de submisso e de rebeldia. Alguns nobres governavam terras por nomeao dos reis, outros por as terem ocu-pado; na tradio da nobreza ibrica ficaram vestgios dessa nobreza que entendia nada dever aos reis. Seus ttulos eram de condes e se caracterizavam por ser um misto de proprietrios, guerreiros, gover-nadores e salteadores. Faziam a guerra quando os reis os chamavam, mas no faltam exemplos de guerras entre si ou contra os reis e at contra cristos, conforme Saraiva (1999, p. 42).

    As colonizaes deram origem ao processo de regionalizao peninsular. Iniciaram-se na regio galega e organizaram Estados in-dependentes que se aproveitaram do enfraquecimento do Imprio rabe no sculo IX para impulsionar a expanso crist com a Re-conquista de Leste a Oeste, bem como em direo ao Sul, conforme o Mapa 11.

    De acordo com Saraiva (1999, p. 42), os novos pases cristos da pennsula formaram-se a partir de trs ncleos distintos: o asturia-no, que veio a originar o reino de Oviedo, de Galiza e depois de Leo e Galiza e o condado de Castela, independente durante alguns anos, depois transformado em reino e que desde 1037 andou unido ao de Leo; o pirenaico, de onde saram os reinos de Pamplona e depois Navarra, o condado de Arago, que logo se tornou reino, alguns con-dados mais ou menos independentes; e o catalo com o condado de Barcelona, onde os francos tiveram um papel importante.

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    Mapa 11: Colonizaes iniciais13

    No Mapa 12, que ilustra os territrios de Sancho III, pode-se notar claramente os trs ncleos: o reino de Galiza e Leo, e o con-dado de Castela que representam o ncleo asturiano; o reino de Pamplona, os condados de Arago, Sobrarbe e Ribagorza que repre-sentam o ncleo pirenaico; e os condados catales.

    13 Adaptao do mapa disponvel em: .

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    Mapa 12: Territrios cristos no perodo de 1000 a 103514

    Nessa impreciso poltica, aparece com frequncia o nome da Galiza, ora como reino, ora como condado. Seu limite ia at o curso do rio Douro, mas dentro dele havia outros territrios governados por condes que dependiam do reino de Leo. Nos primeiros anos da Reconquista, a importncia da regio galega aumentou ao se desco-brir em 813 o tmulo do Apstolo Santiago em Compostela, que se tornou o patrono da Reconquista crist.

    Segundo Monteagudo (1999, p. 97-98), no final do sculo XI e durante o sculo XII, no mundo cristo houve uma retomada da re-ligiosidade: com um auge de peregrinaes, bem como a organizao das primeiras Cruzadas contra aos infiis. Nesse contexto, por sua

    14 Adaptao do mapa disponvel em: .

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    vez, o mosteiro de Cluny liderou o movimento de reforma na vida religiosa catlica. Da, com o fortalecimento do clero galego cuja se-de em Lugo, Santiago de Compostela tornou-se o terceiro maior ponto de peregrinao, posio conservada at hoje, somente per-dendo em importncia para Jerusalm e Roma.

    Por influncia de Cluny, o caminho original Santiago foi ampliado at o reino dos francos tornando-se conhecido como a rota francesa, que no sculo XI foi reformada para atender a demanda de peregrinos, conforme Mapas 13 e 14.

    Mapa 13: Caminho Santiago de Compostela, no sculo IX15

    Mapa 14: Caminho francs Santiago de Compostela16

    15 Adaptao do mapa disponvel em: .

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    Em muitos dos antigos territrios cristos, os Caminhos de Santiago de Compostela, que em sua maioria retomavam as vias ro-manas, ajudaram a formar grande parte dos fenmenos de imigrao e transformao da colonizao crist desde o sculo XI at o sculo XIII. Pode-se lembrar tambm a importncia, at o sculo XIV, da rota portuguesa (Mapa 15) a Santiago, partindo das Cidades: do Por-to, Braga e Coimbra (posteriormente prolongado at o Algarve), na manuteno dos territrios bem como da lngua e cultura galego-portuguesas nos novos territrios.

    Mapa 15: Caminho Portugus Santiago de Compostela17

    16 Adaptao do mapa disponvel em: .

    17 Adaptao do mapa disponvel em: .

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    Segundo Monteagudo (1999, p. 97-98), desde meados do s-culo XII, na Galiza comeou-se uma grande reestruturao rural e urbana, concomitantemente na Catalunha, graas a numerosas cartas que outorgavam terras a condes, que favoreciam o renascimento ur-bano e acolhiam imigrantes, peregrinos, comerciantes e membros dos exrcitos. Esse modelo de colonizao colocava os falares rom-nicos sobre o rabe, e a reforma de Cluny retomava o latim no mbi-to religioso, espalhando-os com a reconquista, pela Pennsula Ibri-ca. Segundo Bassetto (2001, p. 123), no avano rumo ao sul, a re-conquista encontrava populaes morabes, mais ou menos arabi-zadas, mas que haviam conservado, pelo menos em parte, seus fala-res romnicos, agora associados f crist. Dessa forma, os falares romnicos passaram a designar a identidade de um povo.

    Mapa 16: O processo de reconquista crist na Pennsula Ibrica18

    Apesar do Mapa 16 fornecer uma viso conjunta das conquis-tas crists sobre os territrios muulmanos, o processo no foi to unificado. Por volta do ano 800, Castela era apenas um condado de Astrias e, posteriormente, de Leo. Em 1029, Sancho II, rei de Na-varra herdou Castela e depois dividiu o seu reino em trs: Arago, Navarra e Castela. Com Fernando I (1035-1065) o reino de Castela

    18 Adaptao do mapa disponvel em: .

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    se uniu ao de Leo, que em conjunto com Berenguer I de Barcelona passaram a cobrar impostos dos reinos Taifas. Com Alfonso VI de Castela e Leo (1065-1109) houve a anexao de Toledo em 1085 e o reino Taifa, com el Cid como heri. No reinado de Alfonso VII (1126-1157), Castela tornou-se o centro cristo, enquanto Arago e a Catalunha se uniram a Berenguer IV desde 1137 e o condado de Por-tugal tornou-se independente desde 1139 com Afonso Henriques. Enquanto Alfonso VII completava o domnio do rio Tejo (1147), Afonso I de Portugal tomava Lisboa (1147) e Berenguer IV conquis-tava Tortosa, Lrida e Fraga. Com a morte de Alfonso VII, Leo e Castela separaram-se at 1230. Na segunda metade do sculo XII, as alianas e guerras entre cristos e os reforos muulmanos frearam parcialmente a reconquista, obrigando os cristos a reorganizarem seus exrcitos.

    Mapa 17: Diviso poltica dos reinos cristos no sculo XII19

    Em 1212, Alfonso VIII de Castela conquistou Tolosa. Portu-gal, depois do tratado de Sabugal (1231) com Castela e Leo sobre a expanso, conquistou o Alentejo em 1232 e o Algarve em 1239, j definindo, praticamente, suas atuais fronteiras. Em 1230, com Fer-nando III, os reinos de Castela e Leo uniram-se fortalecendo e au-mentando o poder poltico. Nesse perodo, com o enfraquecimento dos reinos muulmanos, a reconquista avanou em direo a Valn-

    19 Adaptao do mapa disponvel em: .

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    cia, Ilhas Baleares e Mrcia, com Jaime I de Arago, em 1238; e com Fernando III conquistou Crdoba, Jan e Sevilha em 1248. No perodo de 1262 a 1263, Alfonso X (1252-1284), rei de Castela, in-corporou as serras da baixa Andaluzia, conquistou Cdiz e Niebla em 1264, e expulsou quase todos os muulmanos da Andaluzia cris-t. Com ajuda de Jaime I, completou o domnio de Mrcia. Entretan-to, as circunstncias polticas e econmicas para completar a coloni-zao puseram um fim no avano da reconquista no final do sculo XIII, conforme os Mapas 18a e 18b. A capacidade defensiva do rei-no de Granada ao receber apoio entre 1275 e 1350, fez com que re-sistisse at 1492, quando a fora militar da unio dos reinos de Cas-tela e Arago, com Isabel e Fernando, o anexou.

    Mapa 18: Evoluo da reconquista crist no sculo XIII

    Mapa 18a: Incio do sc. XIII20 Mapa 18b: Meados do sc. XIII21

    Dessa maneira, cada falar romnico foi-se desenvolvendo de acordo com o prestgio poltico de seu reino e sua importncia dentro do contexto da reconquista crist. Segundo Bassetto (2001, p. 235), at meados do sculo XI, o castelhano era apenas o falar da regio de

    20 Adaptado do mapa disponvel em:

    21 Adaptado do mapa disponvel em: .

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    los castillos, Castela, que convivia com outros falares provenientes do latim. Durante o reinado de Alfonso X, sculo XII, o castelhano j era a lngua oficial do reino de Castela e Leo, ainda que outros falares tambm fossem usados nos seus devidos contextos.

    Segundo Menndez Pidal (1968, p. 16), a fora poltica que o reino de Castela veio a exercer sobre a Pennsula teve um papel fun-damental na definio de seus falares. Para o autor, Castela cresceu politicamente anexando os reinos a sua volta e estendeu o seu dom-nio poltico e lingustico em forma de cunha, em direo ao sul. Assim, a fora poltica do castelhano no deixou que outro falar se desenvolvesse, apenas em suas periferias o galego e o catalo o con-seguiram diante da sua forte presena, ao passo que impediu o leons e o aragons, sem, contudo, conter o euskera. O portugus, no entan-to, por representar um reino forte e independente, desenvolveu-se e irradiou-se desde seu centro cultural, para as regies que foram con-quistadas por Portugal, e, posteriormente, pelas regies de alm-mar dos descobrimentos. Pode-se notar que a diviso dos reinos cristos no sculo XIII, ilustrada no Mapa 19 muito semelhante diviso atual dos falares na Pennsula Ibrica (Mapa 19) atestando Menndez Pidal (1968) e Bassetto (2001).

    Mapa 19: Atual diviso dialetal da Pennsula Ibrica22

    22 Adaptado do mapa disponvel em: .

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