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Cajuína e cristalina: as transformações espaciais vistas pelos cronistas que atuaram nos jornais de Teresina entre 1950 e 1970 Apresentação para Disciplina Tópico Avançado em História I: Cidades no Brasil, Mestrado em História do Brasil – UFPI José Ribeiro do Nascimento Neto

Cajuína e cristalina (Teresina)

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Cajuína e cristalina: as transformaçõesespaciais vistas pelos cronistasque atuaram nos jornaisde Teresina entre 1950 e 1970 Apresentação para Disciplina Tópico

Avançado em História I: Cidades no Brasil, Mestrado em História do Brasil – UFPIJosé Ribeiro do Nascimento Neto

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Francisco Alcides do Nascimento• Graduação em História UFPI 1976-1980• Mestrado em História UFPE 1981-1985• Especialização em História PUC Minas Gerais

1991-1993• Doutorado em História UFPE 1995-1999• Pós-Doutorado PUC São Paulo 2012-2012• É o atual presidente da Associação Brasileira de

História Oral, possui experiência em diversas universidades brasileiras, projetos de pesquisa concluídos e em desenvolvimento, publicação em diferentes meios e canais, além de prêmios e homenagens de instituições piauienses.

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A edição acompanha publicação de autores como:• Sandra Jatahy Pesavento• Paulo Knauss• Charles Monteiro• Edwar de Alencar Castelo Branco• Emerson Cézar de Campos, dentre outros.São 13 artigos contidos no grupo intitulado Dossiê: Cidades, versando das mais diversas formas de abordagem do tema e problematizando cidades dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais; inserindo-se também nesse contexto as cidades de Fortaleza, Florianópolis e Teresina

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Objetivo Trabalhar o contraste entre o movimento de modernização estrutural vivido em Teresina e a realidade de atraso quando se dedica o olhar para a periferia e os setores pobre da sociedade tomando a visão dos cronistas dos jornais da cidade, que são tidos como “observadores atentos” dos acontecimentos, entre outras fontes ajudando a compor um panorama especifico da cidade de Teresina durante aquelas décadas.O recorte é bastante sugestivo pois está inserido no contexto do Brasil republicano e seus períodos ditatoriais, nesse caso especifico o inicio do recorte remete a um pós ditadura e o fim ao inicio de uma mais duradora, além do período JK de euforia desenvolvimentista coincidindo com as comemoração do centenário desta capital.

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• Ítalo Calvino e Maria Stella Bresciani ajudam a entender o contraste proposto no objetivo, pois é importante pensar nas diversas cidades que compõe a Teresina daquelas décadas.

• Os cronistas tem suas cidades “desejadas e desejáveis” expressas em seus discursos que informam e formam seus leitores da maneira como querem ser entendidos ou não.

• Outra chave de leitura para se compreender a fonte ou meio é Manuel Bandeira que é escolhido como o definidor do gênero crônica: o meio que tem a liberdade de se utilizar do rigor e do prosaico para atingir os assuntos de interesses dos leitores ou torná-los interessantes para os mesmos. Por isso tão cara para o Historiador é a crônica, fato já percebido na historiografia brasileira por Sevcenko e Chalhoub.

• Para o autor, a questão norteadora é pensar:a relação dos habitantes com as configurações físicas e imaginárias e reflete-se sobre como constroem, ocupam, usam e disputam lugares, dando sentido a eles, projetando sonhos, vivendo carências no alinhavar de uma trama de costumes, tradições, crenças, hábitos, códigos, normas, políticas, condições do lugar, rotinas e memórias inscritas no traçado, na paisagem da cidade e no imaginário dos moradores. As crônicas, neste caso, são fontes privilegiadas de informações para o pesquisador.

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Teresina historiada• O momento transformações vivido pela cidade naquelas

décadas é parte do contexto politico brasileiro populista e posteriormente militar.

• Antes da censura dos militares e após as perseguições implacáveis do DIP a zona de disputa politica era tarefa delegada aos jornais, intelectuais da situação e da oposição ou estavam inseridos ou eram proprietários de jornais e por isso apresentavam posições divergentes sobre Teresina.

O cronista Fonseca Duarte e o governador Helvídio Nunes avaliam a cidade como pobre e necessitada, assolada pela pobreza e falta de estrutura, já José Pinheiro de Carvalho buscou atentar para as potencialidades econômicas e turísticas do estado. Esse contexto remete à disputa politica entre PSD e UDN aliado ao PTB, os intelectuais se utilizavam do espaço do jornal impresso para expor essas disputas e problematizar a cidade.

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• A cidade passava por uma transformação devido o aumento demográfico desde os anos 1940, assim como outras duas importantes cidades as margens do Rio Parnaíba passavam por situações semelhante, mas Teresina se torna atrativa desde o inicio pelos serviços que desenvolveu e desenvolve na área da educação e saúde, o que seria uma forma de desenvolver economicamente a cidade, atraindo o comercio e outros tipos de serviços.

• Um cronista aproveita essa situação para sugerir as soluções necessárias para o problema do aumento da população: melhoria das estruturas básicas, como abastecimento d'água e iluminação, além da necessária melhoria no setor de transporte e divertimento noturno “Os dois cinemas que possui têm muito a desejar.” p. 198

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“Boom” demográfico em números• O aumento demográfico que já vinha sendo constatado

desde a década anterior, tem entre os períodos de 1950 á 1980 seu maior crescimento.

• Um acréscimo de aproximadamente 273 mil habitantes entre os 20 anos que separam 1950-1970 e outro acréscimo de 175 mil habitantes entre os anos 1970-1980.• Representando um aumento de até 5 vezes no tamanho demográfico

da cidade em apenas 30 anos. O período compreendido pelo recorte foi o de chegada de populações rurais do Estado do Piauí e de outros Estados do Nordeste, o que estabelece uma relação pessoal com a maioria da população atual de Teresina.

• Esse aumento demográfico é acompanhado de problemas sociais e a preocupação com eles, as vezes não da maneira mais eficiente, mas nesse caso o foco foi a limpeza urbana. Preocupação manifestada em nota pela Prefeitura culpabilizando os setores mais pobres da cidade, demonstrando tamanha inabilidade no trato com a população que inexoravelmente se transforma. P 199

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MONTE, Regianny Lima. A cidade esquecida: (res) sentimentos e representações dos pobres em Teresina na década de 1970. Dissertação de Mestrado UFPI – 2010.

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Pobreza e forma de interpretação• O povo que tudo quer invadir e muitas vezes, abusivamente, fez da Praça Saraiva, há

muito tempo, local de mercado, pensões ambulantes, fazendo comida, café, montando garapeiras debaixo das árvores, já começou a ser afastado moderadamente pelo Prefeito Petrônio Portella, que ali já permitiu posto de automóveis, que serve à imensa população flutuante que transita a toda hora nos carros de linhas interiores e do Ceará e Pernambuco. A Praça Saraiva é, enfim, um dos pontos pitorescos da cidade e não se pode encobrir o zelo administrativo por parte do nosso dinâmico Prefeito... P. 200

Discurso médico tecnicista dando subsídios ao conchavo politico que o cronista é adepto• A Fundação está entregando a telha aos requerentes ao preço de custo, posta ao pé

da obra ou casa por Cr$2.500,00 (dois mil e quinhentos cruzeiros), para pagamento no prazo estabelecido pelos interessados, enquanto as olarias estão vendendo à vista ao preço de Cr$3.000,00 a Cr$3.500,00, o milheiro. Atendendo ao desejo de atendimento, no mais breve espaço de tempo ao maior número de pessoas... P.201

Medidas paliativas para resolver o “problema” da pobreza urbana e dar uma resposta ao discurso de seus apoiadores. Importante também chamar atenção para as parecerias entre o público e o privado visando lucro de ambos.O modelo da crônica enquanto texto simples e persuasiva é adotado até mesmo pela Prefeitura em suas notas

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Expansão da cidade e contrastes sociais e estruturais• Entre 1940 e 1950 Teresina ganha novas áreas. Na zona Norte, o

crescimento se deu em direção aos bairros Mafuá, Vila Operária, Vila Militar, Feira de Amostra e Matadouro. Nas proximidades do Centro, isso ocorria nos bairros Cabral e Ilhotas, enquanto na zona Sul, a expansão acontecia em direção aos bairros Piçarra, Vermelha, São Pedro e Tabuleta. P. 201(FAÇANHA)

Teresina cresce. O pode público tenta organizar essa demanda, mas ela é maior que o planejamento, sendo que esse calculo já nasce insuficiente pois não promove sequer as estruturas básicas da vivencia em sociedade.Cunha e Silva nos esclarece sobre a deficiência nos sistemas de energia, água, transporte e etc. E ao tecer sua crítica este se mune da “ideia de modernização” pós-construção de Brasília, para cobrar providencias, pois não é mais aceitavél que Teresina viva em tamanho atraso

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Cada tempo têm o seu velho

O Estado do Piauí, Teresina, ano 34, nº 522, capa, 27 jun. 1963

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As estruturas não montadas e o moderno finalmente chega á Teresina• As empresas de economia mista são criadas no Piauí a fim de

setorizar a administração de cada ponto de deficiência da estrutura de Teresina. São atendidos setores como água, energia, telecomunicações, abastecimento, indústria e financeiro.

• A década de 1960 seria o “auge” da modernização do país. O governo militar implanta a ditadura, exercendo o perfil que visava o desenvolvimento técnico do país, padronizando os investimentos para esse fim.

• O transporte também é contemplado com o Campo de Pouso de Teresina, o projeto do que seria o Aeroporto de Teresina é visto com bastante euforia na época.

• Seria finalmente esse o momento em que a capital se “encaixaria nos trilhos do desenvolvimento”? Não nos “trilhos”.

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Zona Leste, Zona Nobre• Iracilde Moura Fé, Arimatéia Tito Filho e cronistas de época nos

esclarecem sobre a origem da expansão espacial da cidade para a zona Leste. Aquilo que foi construído distante era para atender á burguesia teresinense: o lazer caro e o acesso a educação de alto nível, marcam o caminho no qual deveriam se projetar as moradias burguesas e de alto padrão. (Sevcenko)

“na década de 1960, foi construída uma pista para corrida de cavalos, embrião do Jóckei Club do Piauí, bem como foram abertos os primeiros loteamentos residenciais do bairro ... As corridas de cavalos se transformaram em atividades de lazer de determinado segmento social da cidade, esta é uma das razões para que a região passe a ser interpretada como área de moradia dos ricos, a ser símbolo de status social e econômico, ficando toda a região conhecida por zona do Jóquei Clube.”“poderás seguir pela esquerda, até que encontres o Poti e alcances bairros novos — o do Jóckei Clube e o de São Cristóvão, nos quais habita uma pequena burguesia quase classe média.”• “Universidade do Piauí a melhor Universidade do Nordeste.” “Aumento de Renda per

capita do Piauí é o objetivo do Governo Alberto Silva”. Estado do Piauí, 15 jul. 1971, p.3.

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Alberto Silva o engenheiro do Piauí• Projeto Piauí: estudo das necessidades do Estado• Planejamento habitacional da cidade: o norte com o ponta pé

dado pela fabrica de refrigerantes e o leste morada burguesa com limites mínimos dos lotes maiores que o restante da cidade.

Percebe-se que a organização sócio-espacial e a diferenciação entre ricos e pobres é de grande interesse o Poder Público, Teresina é segregada socialmente aos poucos pela força avassaladora do estado. Mas cultiva-se a visão de que aquilo tudo era necessário para que se conseguisse o tão desejado desenvolvimento no futuro.“A cidade cresceu. Nascida com a igreja do Amparo — edificada entre dois rios — o Parnaíba e o Poti, a cidade atravessou o Poti, onde sugiram novos bairros, e caminha nesse sentido, acompanhando o asfalto, no rumo de outra cidade, Altos...” P. 205

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Estado, habitação e favela• Parceria federal, financiamento BNH e

Parque Piauí.O estado condicionava a moradia da população pobre e ordenava o crescimento do espaço urbano á favor que achava mais adequado, mas esse controle definitivo do espaço por parte do poder público é ilusório, a população busca seu espaço e como um organismo ocupa, nomeia e torna seu determinado lugar. Antônia Jesuíta de Lima nos apresenta a favela da COHEBE, ocupação que ganha notoriedade pela violência policial e “solução” através da intervenção do estado transformando-a no atual Promorar.

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Alberto Silva e o apoio federal• Teresina entra nesse contexto, marca disso é a construção

do Anel Viário de Teresina, o qual seria a integração e melhoramento de diversas avenidas da cidade visando melhor movimentação ao transito da capital.

• O Plano de Desenvolvimento Local Integrado (PDLI)• Integrar o Piauí de sul ao norte ao restante do Brasil,

especialmente sua capital, por meio de estradas.• A euforia da Copa de 70 “todos juntos vamos, pra frente

Brasil!”• O terminal ferroviário de combustíveis chamado de Polo

Petroquímico de Teresina.• O alargamento da Av. Miguel Rosa e os impactos sociais.

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A modernização festejada por A. Tito Filho e a fala dos (re)sentimentos dos moradores• Tito Filho celebra a Frei Serafim moderna e cheia de

automóveis, celebra também a CEPISA e a nova iluminação que recobre a vitrine da cidade, tudo isso propiciado pela situação econômica pelo qual passava o Estado, a vontade de tornar moderno estava sendo confirmada, mas Francisco de Assis e Maria do Livramento desalojados da parte sul e próxima da cidade, não nos deixam esquecer dos traumas vividos por pessoas assim como eles quando foram levados para a parte norte e distante da cidade sem ao menos a infraestrutura básica de água, luz e transporte. O Surgimento dos bairros Buenos Aires e Água Mineral são a marca da contradição de sentimentos que a cidade envolve.

• Teresina é a cidade de Tito Filho assim como é a cidade de Assis e Livramento.

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Modernização, contradição e as múltiplas cidades que habitam Teresina• Os discursos médico e técnico que apoiam a mudança nunca conseguiram

dar conta dos traumas surgidos no seio das reformas modernizantes, esses discursos se apoiam na condição econômica para se tornar realidade, mas antes ele já foi amplamente disputados e debatidos.

“A cidade, ao ter o espaço urbano modernizado e com maior visibilidade, expulsa os mais pobres para áreas periféricas, sem criar meios para atender às suas demandas, o que não significa necessariamente que os pobres não resistam, até mesmo usando os espaços modernizados.” P. 211• Para o autor, percebe segundo Bermam, que “o modernismo do

subdesenvolvimento é forçado a se construir de fantasmas e de sonhos de modernidade, a se nutrir de uma intimidade e lutar contra miragens (...) é forçado a ser estridente, grosseiro e incipiente, e se dobra e se tortura por sua incapacidade de, sozinho, fazer a história, ou lançar as tentativas extravagantes de tomar para si toda a carga da história.” P. 211-212

A Teresina das fontes luminosas da Frei Serafim e das casas demolidas na Av. Miguel Rosa é a mesma e ao mesmo tempo várias.

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Produção cientifica e papel politicoCajuína e cristalina: as transformações espaciais vistas pelos cronistas que atuaram nos jornais de Teresina entre 1950 e 1970.• Francisco Alcides do Nascimento UFPI Revista Brasileira 2007Sonhos e pesadelos dos moradores da periferia de Teresina nas décadas de 1960 e 1970 • Prof. Dr. Francisco Alcides do Nascimento ANPUH 2009 O OLHAR DO OUTRO SOBRE OS POBRES URBANOS DE TERESINA NA DÉCADA DE 1970• Francisco Alcides do Nascimento História Oral 2010O exercício de constituição do lugar de pesquisador é também a busca de inserção da cidade de Teresina, tida como tão provinciana, num contexto acadêmico nacional, fazendo com que ela seja vista de igual pra igual perante as outras. • Seria esse um exemplo do papel politico que deve ser exercido

pelos aprendizes de historiador(a)?