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Oficina “Geografia Física para o ENEM”CONFRAGEO/AGB/SINPRO-PA
MAIO, 2011
Tema: “Domínios morfoclimáticos”
Prof.ª Carmena Ferreira de FrançaFaculdade de Geografia e Cartografia
Laboratório de Ensino de Geografia e Material DidáticoUniversidade Federal do Pará
Princípios básicos:
• Geomorfologia Climática: os diferentes climas determinam processos específicos, que propiciam o desenvolvimento de conjuntos individualizados de formas de relevo; daí a delimitação das zonas ou regiões morfoclimáticas e a caracterização dos sistemas morfogenéticos do globo;
• Geomorfologia Climato-Genética: as flutuações climáticas, ao longo do Cenozóico, produzem uma sucessão ou superimposição de formas controladas climaticamente, permitindo a análise evolutiva da paisagem;
• concepção de paisagem como um conjunto fisionômico, ecológico e dinâmico;
• concepção de paisagem como uma combinação, associação e superposição de fatores físicos (morfológicos e hidrológicos) e biológicos (pedológicos e fitogeográficos), dependentes de condições climáticas atuais e de heranças paleoclimáticas e paleoecológicas;
• vegetação como base da delimitação, considerada como síntese do clima;
• sistema de classificação de paisagens em níveis taxonômicos e têmporo-espaciais.
(Cailleux e Tricart 1957; Ab’Saber 1970, 1977; Bertrand 1972; Christofoletti 1980)
Zonas morfoclimáticas e sistemas geomorfogenéticos
Zona dos glaciares: regiões polares e montanhosas
Zona de formação pronunciada de vales: regiões subpolares
Zona extratropical de formação de vales: latitudes médias
Zona subtropical de pedimento e formação de vales: transição entre as latitudes médias e baixas
Zona tropical de formação de superfícies de aplanação: latitudes baixas de florestas úmidas
(Christofoletti 1980)
Sistema geomorfogenético:
• conjunto de processos interrelacionados e dinâmicos, que determinam a esculturação das formas de relevo e refletem a influência do clima regional;
• constitui uma estrutura ordenada e hierarquizada de processos, destacando-se os processos predominantes dentro de cada sistema morfogenético;
• agentes: mar, rio, vento, gelo, chuva, etc;
• processos: gravitacionais, biogeoquímicos, marinhos, pluviais, fluviais, flúvio-marinhos, eólicos, glaciários, etc.
(Christofoletti 1980)
Sistema geomorfogenético:
• conjunto de processos interrelacionados e dinâmicos, que determinam a esculturação das formas de relevo e refletem a influência do clima regional;
• constitui uma estrutura ordenada e hierarquizada de processos, destacando-se os processos predominantes dentro de cada sistema morfogenético;
• agentes: mar, rio, vento, gelo, chuva, etc;
• processos: gravitacionais, biogeoquímicos, marinhos, pluviais, fluviais, flúvio-marinhos, eólicos, glaciários, etc.
(Christofoletti 1980)
Exemplos
Sistema morfogenético
Agentes Processos Características da paisagem
Glacial
Periglacial
Gelo
Vento
Temperat.
Rio
Erosão glaciária
Solifluxão
Meteorização física
Efeito débil da água corrente
Polimento glaciário
Topografia alpina
Morainas
Leques aluviais
Tundra alpina
Tundra e permafrost
cordilheiras com vales em “U”cones de dejeçãorios entrelaçadosglaciareslagos em circomorainas
floresta semi-sempre verde sub-alpina
Depressões interplanálticas semi-áridas com caatinga
Deserto rochoso com cordilheiras e pediplanos revestidos por estepes
Deserto rochoso com platôs, mesetas e depressões com oásis
Sistema morfogené-
tico
Agentes Processos Características da paisagem
Árido
Semiárido
Vento
Temperatura
Dessecação
Pediplanação
Meteorização física
Movimentos coletivos rápidos
Efeito débil da água corrente
Pediplanos
Dunas
Pedimentos
Vertentes côncavas, angulares e detritos grosseiros, cones de dejeção
Leque aluvial
Deserto arenoso com dunas e pediplanos recobertos por savana seca
Morros testemunhos de vertentes côncavas, e
retilíneas e pedimentos grossos
Pediplanos
Sistema morfogené-
tico
Agentes Processos Características da paisagem
Tropical
Temperatura
Chuva
Rio
Movimentos coletivos
Meteorização química
Erosão fluvial
Vertentes suaves e acentuadas
Planícies fluviais e estuarinas
Planície fluvial com floresta ombrófila densa
Pediplano com savana úmidaPlanaltos tabulares com cerrado
www.asvinhasdaira.files.wordpress.com
Chapada Diamantina com vale em berço com cerrado e mata-galeria
Mares de morros com floresta pluvialde encosta
Planície estuarina com floresta de mangue
Paisagem e geografia físicaSegundo Bertrand (1972), a paisagem não é a simples adição de elementos geográficos. É é o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução. Não se trata somente da paisagem “natural”, mas da paisagem total, integrando todas as implicações da ação antrópica. A paisagem é uma entidade global, portanto, todos os seus componentes participam de uma dinâmica comum, definida pelo sistema geral de evolução.
Estudar a paisagem é um problema de método:
• implica em delimitá-la;• implica em dividi-la em unidades homogêneas e hierarquizadas conforme a escala espacial (sistema taxonômico de classificação);• implica em utilizar uma perspectiva espaço-temporal; • deve ser pautada em unidades geográficas globais.
Bertrand (1972)
Paisagem e método
Sistema de classificação de paisagens em seis níveis taxonômicos e têmporo-espaciais.
• ZONA
• DOMÍNIO
• REGIÃO NATURAL
• GEOSSISTEMA
• GEOFÁCIES
• GEÓTOPOwww.asvinhasdaira.files.wordpress.com
Unidades superiores:
• delimitadas pelos aspectos climáticos, estruturais, conjuntos de relevos correlativos e distribuição fitogeográfica
• ZONA
• DOMÍNIO
• REGIÃO
Unidades inferiores:
• delimitadas pelo potencial ecológico, pela exploração biológica e pela ação antrópica
• GEOSSISTEMA
• GEOFÁCIES
• GEÓTOPO(Bertrand 1972)
Unidades superiores:
• delimitadas pelos aspectos climáticos, estruturais, conjuntos de relevos correlativos e distribuição fitogeográfica
• ZONA
• DOMÍNIO
• REGIÃO
Unidades inferiores:
• delimitadas pelo potencial ecológico, pela exploração biológica e pela ação antrópica
• GEOSSISTEMA
• GEOFÁCIES
• GEÓTOPO(Bertrand 1972)
Perspectiva espacial:
• distribuição espacial e localização das unidades de paisagem;
• delimitação e organização espacial;
• classificação taxonômica;
• representação cartográfica.
Perspectiva temporal:
• reconstituição histórica das unidades de paisagem;
• caracterização de fases de equilíbrio e de desequilíbrio sistêmico;
• identificação e explicação das heranças;
• dinâmica ou evolução.
Bertrand (1972)
Perspectiva espacial:
• distribuição espacial e localização das unidades de paisagem;
• delimitação e organização espacial;
• classificação taxonômica;
• representação cartográfica.
Perspectiva temporal:
• reconstituição histórica das unidades de paisagem;
• caracterização de fases de equilíbrio e de desequilíbrio sistêmico;
• identificação e explicação das heranças;
• dinâmica ou evolução.
Bertrand (1972)
• Domínios Morfoclimáticos Brasileiros – Áreas Nucleares (Ab’Saber, 1970)
• Domínios Morfoclimáticos e Fitogeográficos Sul-americanos (Ab’Saber, 1977)
• Domínios Morfoclimáticos Brasileiros – Áreas Nucleares (Ab’Saber, 1970)
• Domínios Morfoclimáticos e Fitogeográficos Sul-americanos (Ab’Saber, 1977)
• Para Bertrand (1972), os domínios são unidades de segunda grandeza, situados dentro das zonas. Definem-se pela combinação de relevo e clima.
• Para Ab’Saber (2003), os domínios morfoclimáticos e fitogeográficos são conjuntos espaciais de certa ordem de grandeza territorial (centenas de milhares a milhões de km2 de área), onde haja um esquema coerente de feições de relevo, tipos de solo, formas de vegetação e condições climático-hidrológicas.
• A classificação dos domínios morfoclimáticos e fitogeográficos resulta dos estudos acerca das zonas fitogeográficas e morfoclimáticas do Quaternário do Brasil (Cailleux e Tricart, 1957) e da macro-compartimentação geomorfológica do Brasil (Ab’Saber, 1970)
• Para Bertrand (1972), os domínios são unidades de segunda grandeza, situados dentro das zonas. Definem-se pela combinação de relevo e clima.
• Para Ab’Saber (2003), os domínios morfoclimáticos e fitogeográficos são conjuntos espaciais de certa ordem de grandeza territorial (centenas de milhares a milhões de km2 de área), onde haja um esquema coerente de feições de relevo, tipos de solo, formas de vegetação e condições climático-hidrológicas.
• A classificação dos domínios morfoclimáticos e fitogeográficos resulta dos estudos acerca das zonas fitogeográficas e morfoclimáticas do Quaternário do Brasil (Cailleux e Tricart, 1957) e da macro-compartimentação geomorfológica do Brasil (Ab’Saber, 1970)
A macro-compartimentação geomorfológica do Brasil e sua distribuição fitogeográfica foram determinadas por processos morfoclimáticos ...
...prevalecentes entre o Cretáceo e o Terciário (65 a 2 M.A. a. p.):
•pediplanação e circundesnudação periférica;•preenchimento e aplainamento de depressões regionais estruturais por sedimentação grossa em leques aluviais;•pedogênese incipiente, descontinuidade dos revestimentos florísticos e formação de refúgios de caatingas.
...prevalecentes no Quaternário (2 M.A. até o presente):
•intemperismo químico com decomposição profunda e laterização;•mamelonização e dissecação fluvial;•terraceamento fluvial e afogamento glácio-eustático; •aplainamento por preenchimento de depressões regionais estruturais ou não por sedimentação fina fluvial, lacustre, estuarina e marinha;•pedogênese e expansão das florestas;•esquema atual de paisagens zonais e azonais.
(Ab’Saber 1970, 2003)
A macro-compartimentação geomorfológica do Brasil e sua distribuição fitogeográfica foram determinadas por processos morfoclimáticos ...
...prevalecentes entre o Cretáceo e o Terciário (65 a 2 M.A. a. p.):
•pediplanação e circundesnudação periférica;•preenchimento e aplainamento de depressões regionais estruturais por sedimentação grossa em leques aluviais;•pedogênese incipiente, descontinuidade dos revestimentos florísticos e formação de refúgios de caatingas.
...prevalecentes no Quaternário (2 M.A. até o presente):
•intemperismo químico com decomposição profunda e laterização;•mamelonização e dissecação fluvial;•terraceamento fluvial e afogamento glácio-eustático; •aplainamento por preenchimento de depressões regionais estruturais ou não por sedimentação fina fluvial, lacustre, estuarina e marinha;•pedogênese e expansão das florestas;•esquema atual de paisagens zonais e azonais.
(Ab’Saber 1970, 2003)
Exemplo de unidade de paisagem de grandeza II
Domínio das terras baixas florestadas equatoriais da Amazônia: planícies de inundação labirínticas e/ou meandrantes; tabuleiros extensos com vertentes semi-mamelonizadas; morros baixos mamelonares nas áreas cristalinas; terraços de cascalho e/ou laterita; rios negros e drenagens perenes (Ab’Saber, 1970).
Paisagens associadas:
• faixas de transição e contato
• paisagens de exceção: • enclaves ou redutos
• topografias ruiniformes• pontões rochosos e inselbergs
• canyons• deltas, estuários e planícies de restinga
(Ab’Saber 2006)
A paisagem é sempre uma herança:
• herança de processos fisiográficos, biológicos e bioclimáticos de atuação antiga, remodelados e modificados pelos processos de atuação recente;
• herança das sociedades que, historicamente, a ocuparam enquanto território de atuação.
Ab’Saber (2003)
Paisagens e feições de exceção(heranças)
Ab’Saber (2003)
Tabuleiro pediplanado e morro-testemunho em Santarém-PA
Cerrados de Salvaterra-PA(enclave)
Campos sujos do Alto Rio Branco-RR(enclave)
Rio Tapajós, em Santarém-PA
Borda de tabuleiro com valouse em Santarém-PA
(DNPM 1974)
Rio de Janeiro, 2010 (foto gentilmente cedida por Flávio Assunção)
pontões rochosos e
terraços fluviais
(Maio 1987)
Suguio e Bigarella, 1990
Nas áreas continentais
1. Após o fim do Terciário, raras foram as regiões do Globo que conheceram condições estáveis e que evoluíram sob a ação de um único sistema morfoclimático;
2. Assim, foi comum a evolução poligênica da paisagem (a paisagem conserva traços de sistemas morfogenéticos diferentes e sucessivos).
Processos e mudanças quaternárias da paisagem
• Domínio dos morros mamelonares superúmidos recobertos por floresta densa de encosta;
• Domínio das planícies intermontanas tropicais e savanas úmidas
Classificação fisionômica e ecológica de unidades de paisagem de grandeza II de acordo com metodologia de Bertrand (1972):
Domínio + pot. ecol. (relevo e clima) + expl. biol. (formação vegetal)
• Domínio dos morros mamelonares superúmidos recobertos por floresta densa de encosta;
• Domínio dos planaltos pediplanados tropicais revestidos por floresta ombrófila densa sobre latossolos;
• Domínio das planícies aluviais tropicais e campos mistos sobre solos hidromórficos.
• Domínio das pediplanos intermontanos e depressões interplanálticas semiáridas com inselbergs;
Thomas, 1994
Nas áreas continentais
Nas áreas continentais:terraços fluviais
(Strahler, 1992)
Nas áreas costeiras
48º28’02”W
01º30’47”S
51º04’21”W
00º02’25”N
O Golfão Marajoara é um macrocompartimento da costa paraense, compreendida entre a margem direita da Baía de Marajó e a margem esquerda do rio Amazonas. Limita-se a sudoeste pelo Arco de Gurupá e, a nordeste, pelo Oceano Atlântico.
Ilha deMarajó
Oc. Atlântico
Ilha de Mosqueiro
Soure
Foz do Amazonas
Foz do Amazonas
Nas áreas costeiras:deltas e estuários
IBGE, 1990
48º22’11”W
0º17’02”S
44º02’07”W
02º24’57”S
Baía do Marajó
Golfão Maranhense
O Litoral de Rias ou Reentrâncias Pará-Maranhão localiza-se entre o nordeste do Pará e o noroeste do Maranhão, limitando-se a oeste com a Baía de Marajó e a leste com o Golfão Maranhense.
IBGE (1990)
Contexto estuarino e deltáico da RMB
Fonte: CPRM
Falésia próxima à praia do Maraú, Mosqueiro (2009)
A estrutura sedimentar é um registro das mudanças da paisagem, controladas por processos morfogenéticos durante o Neógeno:
• mudanças climáticas
• flutuações do nível de base
Geossistema e ecossistema: semelhanças e diferenças
Geossistema Ecossistema
Método sistêmico, estruturalista e funcionalista Método sistêmico, estruturalista e funcionalista
Conceito geográfico associado à concepção de paisagem e sua classificação taxonômica
Conceito ecológico associado à concepção de biocenose (comunidade integrada de organismos bióticos) e sua relação com o meio físico
Relações horizontais e verticais (potencial ecológico, exploração biológica, ação antrópica)
Relações verticais (cadeia trófica)
Unidade dimensional definida (espacialidade) Unidade dimensional não definida
Cartografável em escala média Cartografável em qualquer escala
Referências:
AB’SABER, A.N. Províncias geológicas e domínios morfoclimáticos no Brasil. Geomorfologia, São Paulo, n. 20, p. 1-26, 1970.
AB’SABER, A.N. Os domínios morfoclimáticos na América do Sul. Geomorfologia, São Paulo, 52:1-23, 1977.
AB’SABER, A.N. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
AB’SABER, A.N. Brasil: paisagens de exceção: o litoral e o Pantanal Matogrossense: patrimônios básicos. Cotia: Ateliê Editorial, 2006.
BERTRAND, G. Paisagem e geografia física global: esboço metodológico. Caderno de Ciências da Terra, 13: 1-27, 1972.
CAILLEUX, A. e TRICART, J. Zones phytogéographiques et morphoclimatiques au Quaternaire au Brasil. C. R. Somm. de la Soc. de Biogéographie, Paris, n. 296, p. 7-41, 1957.
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfología. São Paulo: Edgard Blücher, 1980.
IBGE. Geografia do Brasil. Região Norte. Rio de Janeiro: IBGE, volume 3, 1989. MAIO, C.R. Geomorfologia do Brasil. Fotos e comentários. Rio de Janeiro, IBGE, 3.ª Edição, 1987.
SUGUIO,K. & BIGARELLA, J.J. Ambientes fluviais. Florianópolis: Editora da UFSC,1990.
STRAHLER, A.N. Geografía Física. Barcelona: Omega 1988.
STRAHLER, A.N. Geologia Fisica. Barcelona: Omega, 1992.
THOMAS, M. F. Geomorphology in the tropics: a study of weathering and denudation in low latitudes. New York: John Wiley & Sons, 1994.