20
Expressão Plástica: na companhia de fadas ou de duendes, cavaleiros, princesas e dragões, modelámos o barro, pintámos com aguarelas, trabalhámos a lã, procurámos tesouros, construímos geoplanos em madeira, restaurámos a Casa do Lenhador e construímos o futuro galinheiro. Fizemos fantoches e marionetas. Expressão Dramática: desenvolvemos actividades de expressão corporal, trabalhando a construção de personagens através do jogo dramático: Jogo das Cores e Sentires; Jogo dos Animais e seus Mundos; Jogos de Expressão de Emoções e Afectos; Representação e Dramatização com Fantoches e Marionetas. Expressão Musical: através de actividades ao ar livre, procurámos despertar o interesse e a curiosidade pelos fenómenos do som, do silêncio e da música, experimentando instrumentos de ritmo, escutando os sons da natureza e improvisando para desenvolver a criatividade musical. Aprendemos novas canções, utilizando a guitarra clássica como principal instrumento musical.

ExpressãO PláStica E Expressao Musical

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ExpressãO PláStica E Expressao Musical

Expressão Plástica: na companhia de fadas ou de duendes, cavaleiros, princesas e dragões, modelámos o barro, pintámos com aguarelas, trabalhámos a lã, procurámos tesouros, construímos geoplanos em madeira, restaurámos a Casa do Lenhador e construímos o futuro galinheiro. Fizemos fantoches e marionetas.

Expressão Dramática: desenvolvemos actividades de expressão corporal, trabalhando a construção de personagens através do jogo dramático: Jogo das Cores e Sentires; Jogo dos Animais e seus Mundos; Jogos de Expressão de Emoções e Afectos; Representação e Dramatização com Fantoches e Marionetas.

Expressão Musical: através de actividades ao ar livre, procurámos despertar o interesse e a curiosidade pelos fenómenos do som, do silêncio e da música, experimentando instrumentos de ritmo, escutando os sons da natureza e improvisando para desenvolver a criatividade musical. Aprendemos novas canções, utilizando a guitarra clássica como principal instrumento musical.

A Expressão e Educação Musical e Dramática no 1.º ciclo do Ensino Básico.

 Introdução

É com o corpo que as crianças exploram, aprendem e reagem aos

estímulos do meio envolvente. São os sentidos que recolhem o material

Page 2: ExpressãO PláStica E Expressao Musical

com o qual se constróem as imagens mentais – não só visuais mas também

tácteis, auditivas, ... – necessárias à construção dos conceitos.

A educação do corpo, do gesto, da audição, da voz e da visão

desenvolve nas crianças o campo das possibilidades de interpretar o

mundo, de exprimir o pensamento, de criar.

Este trabalho, embora contenha algumas limitações, procurará dar

uma imagem da importância que a Expressão e Educação Musical e

Dramática tem no desenvolvimento afectivo, social e intelectual das

crianças, na medida em que lhes dá a possibilidade de interpretar o mundo,

de estruturar e exprimir o seu pensamento, de criar, de desenvolver o seu

equilíbrio emocional, de formar o seu carácter e de afirmar a sua própria

identidade.

A Expressão e Educação Musical

O gosto pela música é natural nas crianças. Elas gostam de cantar e

de ouvir música, como gostam de ouvir o ruído da água que corre da

nascente ou o canto de uma ave. A música é uma linguagem universal,

completa, porque puramente intuitiva, e talvez o modo de expressão por

excelência da expontaneidade. I. Stravinsky afirmava: “Considero a

música, pela sua essência, impotente para exprimir o que quer que seja: um

sentimento, uma atitude, um estado psicológico, um fenómeno natural.”

“Expressão de coisa nenhuma, sem dúvida, se não de uma emoção estética

que é tudo, e que o criador transmite e partilha com o auditor. Que a

mensagem seja desprovida de conteúdo preciso, o que conta é a

transmissão de uma experiência vivida, de uma realidade inefável, a

comunhão espiritual que daí resulta e o florescimento pessoal que ela

favorece.” (Gloton & Clero, 1976, p.177).

Page 3: ExpressãO PláStica E Expressao Musical

De acordo com a opinião dos autores, acima referidos, o que

realmente é importante é que a música transmite “uma experiência vivida,

uma realidade inefável, a comunhão espiritual que daí resulta e o

florescimento pessoal que ela favorece”.

Não podemos ignorar a importância da música na formação do

homem, porque ela faz parte da essência do ser humano. Goethe escreveu:

“quem não ama a música, não merece o nome de homem, quem gosta dela

é metade de homem, quem a pratica é um homem completo...” . Apesar de

considerarmos que há algum exagero nas afirmações de Goethe, as suas

palavras mostram claramente a importância que a música tinha para ele. O

que nós podemos afirmar é que o homem, através da música, pode exprimir

os seus sentimentos e libertar muitas vezes emoções que o oprimem

adquirindo uma estabilidade que é importante para a afirmação da sua

própria identidade, na sociedade em que está inserido.

A educação musical deve começar na família e tem que ter

continuidade no jardim escola, no 1.º ciclo e nos restantes ciclos. A escola

deve ensinar as crianças a cantarem bem, a amarem o canto e dar-lhes a

possibilidade de distinguirem a boa música da má. A música é como uma

segunda língua que permite exprimir os sentimentos, na medida em que há

canções tristes e alegres.

O poder educativo da música traduz-se pelo apuramento do gosto

musical, o que implica uma afinação rigorosa, uma boa pronúncia e um

ritmo certo. No entanto a criança para interiorizar estes conhecimentos

deve ter no seu professor um modelo a imitar e para que isso aconteça ele

deve ter os conhecimentos necessários, na área da Expressão e Educação

Musical.

As canções populares características do nosso folclore dão à criança

a noção de que existiu um passado, o nosso passado que não podemos

ignorar, porque ele contribui para a nossa própria identidade. Conhecendo

Page 4: ExpressãO PláStica E Expressao Musical

outras melodias igualmente populares e tradicionais de outros países, a

criança apercebe-se de que existem outras culturas diferentes da nossa que

é importante conhecer e esse conhecimento despertará nela a simpatia por

seres humanos que não conhece e provavelmente nunca virá a conhecer, o

que não impede de ter por eles simpatia e solidariedade.

A existência de um gravador na escola permite ao professor escolher

boas músicas, porque não só desenvolve o gosto musical das crianças como

permite criar um ambiente propício à boa disposição dos alunos, quando

realizam os seus trabalhos.

As rodas, a dança, a ginástica rítmica, fazem parte da Educação

Musical e são importantes, porque desenvolvem sentimentos colectivos e o

autocontrôle, disciplinam movimentos do corpo, os gestos e as atitudes e

contribuem para uma harmonia corporal e afectiva.

O professor tem que atender à singularidade musical de cada criança,

dando-lhe, oportunidade de desenvolver, à sua maneira, as suas propostas e

os seus projectos, sem contudo esquecer que é professor e como tal deve ter

propostas e projectos para os seus alunos de modo que a música contribua

para a sua formação afectiva, social e intelectual.

Voz, corpo e instrumentos formam um todo, sendo a criança

solicitada a utilizá-los de forma integrada, harmoniosa e criativa.

O professor deve criar nas crianças o gosto pela música, através das

suas canções preferidas e da dramatização das suas histórias preferidas.

A Expressão e Educação Dramática

Ao referirmo-nos à Expressão e Educação Dramática, temos que

afirmar que esta área de expressão não se pode confundir com o teatro, na

Page 5: ExpressãO PláStica E Expressao Musical

medida em que o jogo dramático não se baseia num texto prévio que

embaraça muitas vezes a criança ou nalguns casos a paralisa. O jogo

dramático é um exercício da criança para a própria criança e esse mesmo

jogo esgota-se ao ser realizado.

Para confirmarmos o que referimos, vamos transcrever algumas

palavras de Marie Dienesch, citada no livro, A Criança e a Expressão

Dramática, (1974, p.24): “Partindo de uma acção e não de um texto, a

criança não corre o risco de cair nesta confusão fundamental: as palavras já

não tomam para ela o lugar da acção, pois esta é apreendida antes da

utilização de qualquer forma verbal. Além disso, levada a criar o seu

próprio texto, quando se chega ao momento em que as palavras satisfazem

uma necessidade interior, e só então, ela experimenta a verdadeira natureza

da linguagem dramática, em que tudo o que possa ser indicado por um

meio diferente da palavra não deve ser dito, e em que a palavra assume o

seu valor insubstituível e soberano a fim de ser o ponto final de uma

evolução interior, já contida na vida física do autor.”

Actualmente, o jogo dramático foi banido de algumas escolas, onde a

festa de fim de ano é substituída por um passeio, por uma exposição de

trabalhos dos alunos. No entanto, este tem que tomar o seu verdadeiro lugar

na educação da criança.

A dramatização livre e espontânea dos contos de fadas e dos contos

tradicionais desenvolvem na criança a criatividade e tornam-na mais

comunicativa desenvolvendo, assim, a sua socialização. É, através do

imaginário, do maravilhoso que a criança cresce afectivamente,

ultrapassando, muitas vezes traumatismos que uma educação repressiva

ajudou a criar.

Freud afirmava que os processos de transformação do trabalho

subjacente ao conto, são análogos aos do trabalho do sonho: dramatização,

deslocamento, dissociação e representação por símbolos.

Page 6: ExpressãO PláStica E Expressao Musical

Também Carl Jung referia que os contos são um material discreto

para as projecções necessárias a uma individualização correcta. Igualmente

Gaston Bachelard considerou o maravilhoso como a matéria prima da

imaginação: “é como a grelha mais rigorosa para a análise do real ao

aperceber-se que a razão científica recorta as sua verdades na ordem dos

sonhos e da consciência poética.”

O conto é um espaço de mediação entre o consciente e o

inconsciente, entre o eu e o mundo.

A afirmação de L. Pereira é igualmente elucidativa: “o conto

maravilhoso... respeita a interacção entre o homem e o cósmico para a

formação de imagens, tendo em conta a homologia do psíquico, do

cósmico, do social e do biológico, organizadas numa significação

integrada. O conto ajuda o docente a encontrar o núcleo gerador da

interdisciplinariedade. A sua compreensão leva-o à descoberta dos segredos

da pedagogia: à motivação do espaço interdisciplinar.”

“O conto é um universalismo que denota a persistência de qualquer

coisa de primordial, de irrefreado e de comum à totalidade dos homens.”

(José Gomes Ferreira). Muito antes, já Teófilo Braga fazia a apologia do

conto, no entanto as pretensões pedagógicas desnaturaram-no e ele perdeu

a sua poesia espontânea, a sua singeleza popular e a sua beleza tradicional.

A função ancestral do conto é por o vulgo a sonhar. A civilização destruiu

muita dessa função.

A mensagem do conto de fadas é determinante na educação das

crianças, mas também dos jovens. Essa mensagem, porventura a mais

importante, é a de que a luta contra as dificuldades da vida é inevitável,

mas se o homem se empenhar, com coragem e determinação, acabará por

sair vencedor de todos os obstáculos. Desta maneira a mensagem não é

moral, mas somente a de encarar a vida com confiança, com possibilidade

de vencer de vencer as dificuldades que a todos se colocam. “A nossa

Page 7: ExpressãO PláStica E Expressao Musical

herança cultural encontra expressão nos contos de fadas e através deles é

comunicado às crianças.” (Bruno Betteheim).

A Expressão e Educação Musical e Dramática

O professor pode associar a Expressão Dramática à Expressão

Musical, porque as duas áreas se completam e como são muito importantes

na educação das crianças, o professor deve desenvolver as mais variadas

competências, nas áreas referidas:

. Compreender gestos, sons, ritmos e escrita musical.

. Conhecer músicas e diferentes instrumentos.

. Ser capaz de produzir e / ou criar sons.

. Compreender jogos de comunicação verbal e não verbal.

. Ser capaz de produzir e / ou criar personagens, histórias ou jogos de

imaginação.

. Dominar progressivamente a expressividade do corpo e da voz.

Vamos exemplificar, seguidamente como é que a Expressão e a

Educação Musical e Dramática podem e devem ser dadas em conjunto,

formando um todo imprescindível à formação da criança.

1. Movimento:

a) As crianças estão sentadas em círculo. O professor chama um

aluno e diz-lhe que imite um animal só com mímica. Os

restantes tentam adivinhar que animal é.

Conversar sobre a imitação feita.

Page 8: ExpressãO PláStica E Expressao Musical

b) Falar em outros animais que poderiam ser imitados. Cada

criança vai imitar o animal que desejar (só com mímica).

c) Em círculo vão transformar-se lentamente em diferentes

animais segundo indicações do professor. Por exemplo: girafa,

elefante, galinha, leão, borboleta, burro, etc.

d) Jogo: o professor distribui por cada aluno um pequeno papel

dobrado onde registou, previamente, o nome de um animal. O

nome de cada animal foi escrito em 2 (3) papeis diferentes.

Assim haverá: 2 (3) macacos; 2 (3) elefantes; 2 (3) caracóis; 2

(3) galinhas; 2 (3) girafas; 2 (3) gatinhos; 2 (3) ratinhos e 2 (3)

burrinhos.

Desenvolvimento: Num primeiro momento procuram

transformar-se corporalmente no animal mencionado no papel,

não podendo emitir quaisquer sons. Depois relacionam-se uns

com os outros, tentando organizar-se em pares de animais iguais.

Quando todos os pares estiverem organizados já é permitida a

utilização de sons dos vários animais relacionando-se uns com os

outros aos pares. (o professor vai sugerindo situações para

motivar o relacionamento entre os diferentes pares).

2. Canção:

a) Mímica: Mostrar quatro dedos;

gesto de fugir com as mãos, bater palmas.

Movimento com o corpo, mãos nas ancas.

requebrando, seguindo o ritmo da música.

b) Dramatização:

c)  

d)                 Siricoté

e)  

1. Eram quatro pretinhos

Page 9: ExpressãO PláStica E Expressao Musical

Todos quatro da Guiné Deitaram a fugir Cantando o Siricoté.

Siricoté, siricoté

Eram quatro pretinhos da

Guiné.

2. Logo, logo encontraram

O amigo Chimpanzé

A ele ensinaram

A canção siricoté.

Siricoté, siricoté

Eram quatro pretinhos da

Guine

3. Depois veio a girafa

Toda airosa a dançar

Tocava numa garrafa

Pois não sabia cantar.

Siricoté, siricoté

Eram quatro pretinhos da

Guine

4. Pouco a pouco a bicharada

Foi chegando à clareira

E com toda a sua graça

Entrando na brincadeira

Siricoté, siricoté

Eram quatro pretinhos da

Guine

Foi assim que na floresta

Todo o bicho bateu pé

Foram os quatro pretinhos

Page 10: ExpressãO PláStica E Expressao Musical

A cantar Siricoté

Siricoté, siricoté

Eram quatro pretinhos da Guine

 

Estas actividades de Expressão e Educação Musical e Dramática

destinam-se ao 3.º ano do 1.º ciclo do ensino básico.

A interdisciplinariedade

Seguidamente, vamos exemplificar como pode haver

interdisciplinariedade entre a Expressão e Educação Musical e Dramática e

as outras áreas curriculares:

Estudo do Meio – trabalho de pesquisa sobre os animais quanto à:

. alimentação

. respiração

. reprodução

Este trabalho será feito em grupo e terá como fontes de consulta:

vídeos, visitas de estudo, livros e enciclopédias.

O professor deve orientar o trabalho, motivando a criança para a

recolha de dados.

Língua Portuguesa – Escrita de relatórios sobre o trabalho

realizado, sua leitura e explicação por um dos elementos do grupo.

Escrita de textos sobre os animais preferidos de cada criança.

Os diferentes tipos de frase.

Matemática – situações problemáticas elaboradas e resolvidas por

cada grupo.

Consolidação do algoritmo das quatro operações.

Todas estas actividades terão como base os animais.

Page 11: ExpressãO PláStica E Expressao Musical

Expressão e Educação Físico-Motora – Exercícios de lateralização,

equilíbrio e coordenação.

Realização de um jogo: “A toca e os coelhos”

Expressão e Educação Visual – Recorte, colagem e pintura de

alguns animais.

Desenho livre sobre os animais que existem na comunidade, onde

está inserida a escola.

Educação Cívica – Interiorizar o respeito que merecem os animais e

os outros seres vivos que existem na Natureza.

Preservação da Natureza e do património histórico existente na

localidade, onde residem.

Respeito pelas diferenças.

Conclusão

A Expressão e Educação Musical e Dramática, assim como as outras

áreas de expressão têm sido frequentemente tratadas como secundárias na

formação da criança ou apenas como momentos de diversão. No entanto, a

prática das actividades expressivas contribui declaradamente para a

expressão da personalidade, para a estruturação do pensamento e para a

formação do carácter.

A Expressão e Educação Musical e Dramática desenvolve o domínio

das capacidades corporais, na criança, e a sua utilização como instrumentos

expressivos. Pretende-se alargar de experiência das crianças, de forma a

que possam desenvolver a sua sensibilidade, imaginação e sentido estético.

Page 12: ExpressãO PláStica E Expressao Musical

O prazer e o gosto que as crianças manifestam ao realizar estas

actividades levarão, progressivamente, o professor a proporcionar

momentos em que se verbalizem experiências, se combinem e organizem

outras situações de aprendizagem, contribuindo para uma maior

interligação das áreas curriculares.

O professor deverá estar atento ao percurso de cada criança,

encorajando novas possibilidades e dando sempre espaço para que as

crianças, individualmente ou em grupo, encontrem a sua forma de

expressão e, progressivamente, a consigam utilizar para comunicar.

Bibliografia:

Leenhardt Pierre (1974). A Criança e a Expressão Dramática.

Editorial Estampa.

Fontes Vítor, Botelho L. M. & Sacramento M. A Criança e o

Livro. Livros Horizonte.

Chateau Jean (1975). A Criança e o Jogo. Coimbra: Atlântida

Editora.

Gloton Robert, Clero C. (1976). A Actividade Criadora na

Criança. Editorial Estampa.

Lei de Bases do Sistema Educativo. Lisboa: Ministério da

Educação.

Page 13: ExpressãO PláStica E Expressao Musical

Dottrens Robert (1974). Educar e Instruir III. Editorial

Estampa.

Programa do 1.º Ciclo do Ensino Básico (1990). Lisboa:

Ministério da Educação