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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - Escola de Comunicações e Artes Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação
Área: Interfaces Sociais da Comunicação Linha: Educomunicação
Disciplina: Educomunicação – Fundamentos, Áreas e MetodologiasProf. Dr. Ismar de Oliveira Soares
As contribuições de Baccega para a construção
do campo comunicação/educação
AutorasAdriana RodriguesMaria Elisabete Rabello
Sumário
1. Introdução ............................................................................... 12. Quem é Maria Aparecida Baccega ..................................................23. O campo da Comunicação/Educação ............................................ 104. Revista Comunicação & Educação: compromisso com o novo campo
do saber ..................................................................................135. Orientações ..............................................................................176. Notas Finais ..............................................................................197. Referências Bibliográficas ............................................................198. Anexo ......................................................................................20
1) IntroduçãoA educação e a comunicação
devem atuar juntas em busca da
transformação da sociedade,
dialogando, conscientizando e
construindo significados. Esse é o
pensamento de Maria Aparecida
Baccega, que dedica sua vida à
educação e à comunicação,
sempre com o objetivo de
contribuir para a construção da
cidadania.
1
Preocupada com a realidade brasileira, lutou contra a repressão durante a
ditadura militar, sem medo de debater com alunos e pais problemas que se
aprofundavam no país, como a pobreza, a injustiça e a violência.
Carregou e carrega consigo a certeza da função libertadora da educação, que
deixa clara em suas aulas, palestras, livros, artigos e encontros dos quais participa.
O campo da comunicação/educação já está construído e é multi e
transdisciplinar, como explica Baccega, criadora, junto com um grupo de professores
da ECA-USP, da Revista Comunicação & Educação.
A revista, que completa 12 anos em 2006, tem por objetivo “dialogar com o
público sobre esse espaço, já construído, onde Educação e Comunicação se encontram.
Trata-se de um espaço cuja ação está presente em cada sala de aula, em cada grupo
de pessoas, em cada um de nós”1.
Para Baccega, a revista desempenhou um papel fundamental na formação do
campo Comunicação/Educação.
Nas próximas páginas deste trabalho, vamos conhecer um pouco da trajetória
de vida, pensamento e contribuições para os estudos do campo
Comunicação/Educação desta “guerreira”, doutora em Letras e Ciências da
Comunicação e professora Livre-Docente do Departamento de Comunicações e Artes
da ECA-USP.
2) Quem é Maria Aparecida Baccega
Rebelde, inquieta frente às desigualdades sociais, engajada politicamente, fiel a
seus princípios. Essas são algumas das características da professora Livre-docente da
USP (Universidade de São Paulo), Maria Aparecida Baccega, mulher que delineou sua
vida a partir de princípios herdados muito antes de sua chegada aos bancos
escolares.
Hoje, aos 63 anos, está aposentada da USP, mas continua a difundir as inter-
relações da comunicação e da educação e as possibilidades de união dessas
ferramentas na luta pela transformação da sociedade.
Nascida em 14 de abril de 1943, em plena Segunda Guerra Mundial, Baccega
sempre teve a vida ligada a situações que estimularam seu envolvimento em causas
sociais. Filha de pai imigrante italiano, operário da Antártica, e mãe semi-
1 BACCEGA, Maria Aparecida. Do mundo editado à construção do mundo. Comunicação e Educação, São Paulo, n. 1, p. 7, set.1994.
2
alfabetizada, dona de casa, presenciou situações de preconceito e exclusão sofridas
por seus familiares em sua cidade natal, Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
A vida árdua era acompanhada pela doçura da música, ora vinda pelos lábios
da mãe, ora pelos instrumentos de sopro tocados pelo pai, músico profissional,
regente da Banda Municipal e integrante da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto.
A leitura e a escrita sempre foram suas paixões. Ingressou no 3º Grupo Escolar
da Vila Tibério, onde confirmou seu prazer pelos estudos. Já na década de 50,
prestou exame de admissão no Instituto de Educação Otoniel Mota, único colégio
estadual da cidade. Naquela época, estudar em colégio público era privilégio apenas
dos filhos da classe dominante. Já as escolas particulares eram para os demais...
A estudante de família humilde, que carregava nos ombros o compromisso
assumido de concluir os estudos, foi a primeira classificada. Logo após a grande
conquista, Baccega, aos 11 anos, perde a mãe, sua maior incentivadora.
Educação e política
Ainda como estudante, começou a trilhar seu caminho na área da educação.
Quando cursava o quarto ano do Ginásio, foi convidada pela professora de Língua
Portuguesa, dona Luci Musa Julião, para dar aulas para a turma da primeira série, em
horário vago que a disposição das aulas havia deixado.
Nesse período também iniciava seus primeiros passos no engajamento político.
Fez campanha para a escolha de uma das chapas do Grêmio Estudantil, integrada
por amigos que ela considerava irmãos, por compartilharem da ideologia de
esquerda e defenderem a valorização e a politização do ser humano.
Em 1958, ingressou no Normal, curso preparatório de professores. A opção foi
por ser um curso profissionalizante que facilitaria o ingresso no mercado de trabalho.
Mal sabia que a escolha foi certeira. Nessa época, o país era governado por Juscelino
Kubitschek.
Segundo Baccega, “pareciam mais concretas as possibilidades de que o mundo,
que continuava cada vez mais fascinante, pudesse vir a ser dividido com os pobres”2.
No entanto, alguns professores tentaram inibir ações libertadoras promovidas
por outros mestres e estudantes de esquerda. Mesmo assim, Baccega e seus
2 BACCEGA, Maria Aparecida. Memorial. Universidade de São Paulo, São Paulo, 1991, p. 4.
3
“irmãos” criaram o Clube Estudantil de Português, responsável pela organização de
todas as atividades culturais da instituição.
A ânsia pela justiça fez com que a recém-formada estudante do Normal
ingressasse, em 1961, no curso superior de Direito da Unaerp (Universidade de
Ribeirão Preto). Naquele ano, Jânio Quadros assume e, pouco depois, renuncia à
Presidência da República, e os militares sentem-se preparados para o golpe. Em meio
às turbulências nacionais, Baccega casa-se e dá à luz seu primeiro filho em 1962.
Sua relação com a educação caminha passo a passo com seu envolvimento em
questões políticas brasileiras e o curso de Direito. Para ajudar a pagar a faculdade,
começa a lecionar no Ensino Fundamental na rede estadual e na rede SESI de Ensino
(Serviço Social da Indústria), em sua cidade. Nesse período, o presidente João Goulart
toma posse na Presidência da República e reacende o sonho de mudanças e
reformas no país.
Os reflexos dos ensinamentos da insistente educadora puderam ser percebidos
muito antes do que imaginava. Num exame de admissão para o antigo ginasial, em
1963, uma de suas pequenas alunas manifestou, em uma redação sobre o tema
“greve”, traços de uma cidadã preocupada com a realidade brasileira.
Em artigo publicado pela Revista Nova Escola, na edição de abril de 1999,
Marina Ferreira, a menina que há 43 anos emocionou a professora, deixa clara a
importância da educação libertadora, principal bandeira de Baccega. “Suas aulas me
fizeram querer ser professora como ela, com sua competência, sua inteligência e sua
coragem. Uma professora que transformasse as aulas num espaço crítico e
democrático. Que depositasse em seus alunos a confiança que ela depositou em
mim”3.
A luta pela justiça
Em 1964, com o Golpe Militar, Baccega afasta-se de Ribeirão Preto na tentativa
de evitar a perseguição. Um mês após o dia 31 de março, voltou às atividades
normais, como professora primária e estudante universitária.
3 FERREIRA, Marina. Na tese como na vida. Disponível em: <http://novaescola.abril.com.br/ed/121_abr99/html/obrigado.htm>. Acesso em: 19 ago. 2006, às 00:44h
4
Lecionar, tanto na cidade quanto na zona rural, foi uma das primeiras
contribuições de Maria Aparecida Baccega na aplicação de práticas educativas como
ação transformadora.
Foi a oportunidade que teve para vivenciar realidades de um Brasil onde o povo
sofria com o descaso de seus governantes, em especial na área da educação.
Oportunidade para experimentar situações totalmente inusitadas (morcegos em sala
de aula, aranha na caixa de giz, crianças caçando preás para garantir a refeição do
dia), as quais alimentavam ainda mais seu compromisso na luta pela construção de
uma sociedade politicamente organizada e crítica diante dos acontecimentos
estarrecedores.
“Fui professora severa, que nunca descuidou da formação-informação. Meus
alunos sabiam pensar o Brasil. Isso custava caro, é claro. Até suspensão do
trabalho”.4
Outra experiência marcante vivenciada pela professora foi o convívio com Paulo
Freire, durante seis meses, entre outubro de 1963 e março de 1964, no Ministério da
Educação e Cultura, em Brasília.
Terminado o curso de Direito, Baccega mudou-se para São Paulo, onde deu
início à pós-graduação na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Porém,
não levou o curso até o fim, pois seus interesses mudaram de rumo. A jovem, que
antes via a profissão de advogada como uma possibilidade para promover a justiça,
chegou à conclusão de que esta poderia ser conquistada a partir dos bancos
escolares, por meio de uma educação libertadora e emancipadora.
Ainda em meados da década de 60, foi coordenadora de uma escola do SESI,
localizada no bairro da Campesina, em Osasco, lugar de população empobrecida
composta em sua maioria por operários. Também advogou por algum tempo, mas
não gostou da experiência.
Na cidade-operária, a atividade como professora não se limitava à sala de aula.
O trabalho de conscientização e politização estendeu-se para os pais de seus alunos,
por meio de orientações sobre o papel do Sindicato dos Metalúrgicos e da Igreja na
luta contra a repressão.
4 BACCEGA, Maria Aparecida. Memorial. Universidade de São Paulo. São Paulo, 1991, p. 7.
5
Estimular o conhecimento sobre a realidade brasileira era sua principal meta
dentro da escola. Ao mesmo tempo em que era moderadora de aprendizagem de
crianças do Ensino Fundamental, acompanhava os movimentos grevistas e a
resistência cultural, principal arma da população contra a ideologia imposta pelo
regime militar.
Em meio a movimentos pela liberdade política e ideológica, casa-se pela
segunda vez. Granville, companheiro de lutas, passa a ser também companheiro da
casa.
Em 13 de dezembro de 1968, estoura o AI-5 (Ato Institucional número 5).
Baccega sai de cena, mas seu companheiro é pego pelos militares e passa dois anos
preso. Muitos de seus amigos morreram ou foram torturados pelo DOPS
(Departamento de Ordem Política e Social), órgão repressivo do governo brasileiro
durante o regime militar, e OBAN (Operação Bandeirantes).
Já no final dos anos 60, deixa a coordenação da escola do SESI em Osasco e
passa a coordenar a rede SESI de Ensino. Na mesma época, foi professora de Língua
Portuguesa no curso Madureza (antigo nome do curso de educação de jovens e
adultos). Também lecionou durante um ano na escola Olavo Bilac, no bairro da Lapa,
em São Paulo, e num curso técnico de contabilidade.
Minha vida sempre foi voltada para a escola. Em 1968, entrei
em Letras na USP e minha carreira ficou voltada a essa área e
à comunicação. Sempre dando aulas. Dei aulas desde em
escolas de fazenda até a faculdade. Sempre me voltei para a
educação. 5
No dia-a-dia, desempenhava dois papéis: o de professora e o de esposa de
preso político, que semanalmente visitava junto com o filho de seis anos, em
presídios como Tiradentes e Carandiru, ambos de São Paulo. Esse ritmo de vida se
estende até 1971, com a libertação de Granville.
O início da década de 70 marca uma fase de muitas produções de texto da
professora. Ainda no SESI, sua tarefa era escrever para uma rede de 250 escolas e
mais de quatro mil professores. Com a liberdade dada pela instituição de ensino,
além de toda cautela necessária, conseguiu desenvolver junto com outros
5 BACCEGA, Maria Aparecida. Entrevista concedida a Adriana Rodrigues e Maria Elisabete Rabello, em 16 de junho de 2006, em sua residência em São Paulo.
6
professores ações pedagógicas fundamentadas no ensino humanista, dando
condições para que os alunos conquistassem o próprio espaço na comunidade
escolar.
Na mesma época, passou a dar aulas de Língua Portuguesa no curso de
Madureza Santa Inês, na capital paulista, onde era responsável pelo Departamento
Cultural. Com 12 mil alunos, a escola sentia o peso da repressão com agentes
acompanhando as aulas. No entanto, a força bruta não foi capaz de inibir as leituras
e discussões diárias do “Pasquim” (jornal de esquerda) em sala de aula, nem mesmo
os espetáculos culturais repletos de mensagens que os agentes não
obrigatoriamente percebiam. Era o uso da comunicação como ferramenta de
conscientização e libertação dos estudantes.
Em 1972, deixa o Santa Inês e retorna ao curso de Letras na USP, para o qual
prestou vestibular em 68. Apesar de lecionar há um bom tempo a disciplina de
Língua Portuguesa, precisava regularizar a documentação.
Trajetória na USP
Baccega dá seus primeiros passos como professora da USP, em 1976. Na
função de auxiliar voluntário, começa a dar aulas no Departamento de Lingüística e
Línguas Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Também
lecionou na Faculdade Ibero-Americana de Letras e Ciências Humanas, onde
acumulou as funções de chefe de Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas.
Desde aquela época, acreditava na transformação do indivíduo por meio da
educação. A aprendizagem da Língua Portuguesa era trampolim para discussões
sobre a realidade e a cultura nacional.
Em 1978, chega à Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, para dar aula
de linguagem, após ser aprovada em concurso, reivindicação que mobilizou grande
parte dos auxiliares voluntários insatisfeitos com a política de contratação da época.
Nesse novo ambiente, Baccega percebeu que a questão do receptor já fazia
parte de sua realidade em Letras, quando era analisada a estética do leitor.
Trabalhando a linguagem a partir dessa questão, descobriu que em comunicação
essa linha de pesquisa era chamada recepção.
7
Desde então, desenvolve seus trabalhos a partir da teoria da recepção dos
meios de comunicação, em especial às problemáticas que envolvem as interferências
da televisão na formação e transformação dos indivíduos.
A formação acadêmica de Baccega evidencia seu envolvimento com temas que
vão além do estudo da Língua Portuguesa.
No Mestrado em Lingüística, em 1981, a dissertação foi sobre “Redações de
vestibulandos: valores inculcados e desempenho lingüístico”. No doutorado,
concluído em 1986, sua tese recebeu o título “Mayombe: ficção e história (uma
leitura em movimento)”. O pós-doutorado e a livre-docência foram obtidos em 1991,
com o trabalho “Comunicação, ficção e história: a construção da literatura angolana”.
Com intensa atuação na Universidade de São Paulo, fez parte de várias equipes
de trabalho e coordenações. Foi membro do Conselho Editorial da Revista da USP,
em 1999; uma das fundadoras, em 1992, do curso de pós-graduação lato sensu
Gestão de Processos Comunicacionais, do qual foi coordenadora até 2004, e
responsável pelo Núcleo de Seminários Internúcleos do curso e pelo Núcleo
Administração e Ação Comunicativa, até 2005.
Foi criadora e diretora editorial da revista Comunicação & Educação, do curso
Gestão de Processos Comunicacionais, entre 1994 e 2005; chefe do departamento de
Comunicações e Artes (CCA) da ECA, entre 1992 e 1996, e, em 2000, foi responsável
pela atividade Pensando a Educomunicação do Projeto Educom.rádio, coordenado
pelo professor Ismar de Oliveira Soares.
Na Faculdade de Letras e na ECA, lecionou as disciplinas: Língua Portuguesa,
Redação e Expressão Oral, Comunicação Lingüística I e II, Administração e Ação
Comunicativa, Sociolingüística e Fonologia I e II, além de todas as atividades
desenvolvidas nas duas faculdades.
Nas décadas de 70 e 80, lecionou também na UNG (Universidade Guarulhos) e
na FIA (Faculdade Ibero-Americana). Atualmente, é docente/pesquisadora do
Programa de Mestrado da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo
(ESPM).
Produções acadêmicas e publicações
8
Ao longo de sua carreira, Baccega escreveu cerca de 50 artigos, nos quais
abordou, em sua maioria, temas relacionados à comunicação e à educação, as inter-
relações dos meios de comunicação e a escola, bem como sua recepção, além da
abordagem sobre a televisão na formação dos indivíduos.
Suas linhas de pesquisa estão voltadas para as áreas de Epistemologia, Teorias
e Metodologia da Comunicação, Comunicação e Educação. Publicou e organizou 14
livros, dentre os quais “Televisão e Escola: uma mediação possível?”, publicado em
2003 pela editora SENAC.
Essa obra trata do domínio soberano da televisão nos lares brasileiros, veículo
que envolve mentes e corações de milhões de telespectadores iludidos com
fragmentos de realidade. Baccega aborda a importância da educação no
desenvolvimento de ações que estimulem a leitura crítica da televisão, num processo
de interação entre a escola e o meio de comunicação.
No seu livro “Palavra e Discurso: História e Literatura”, publicado em 1994 pela
editora Ática, analisa a função da palavra na vida cotidiana e as características do
discurso a partir do ponto de vista histórico e literário.
Baccega publicou outros livros na área de linguagem como: ‘Comunicação e
Linguagem - Discursos e Ciência’, ‘Concordância Verbal’ e ‘Artigo e Crase’.
Também colaborou com capítulos em produções organizadas por colegas como
Ismar de Oliveira Soares, Márcia Kupstas, Tupã Gomes Corrêa, José Marques de Melo,
Roseli Aparecida Fígaro, Giovanni Bechelloni, Maria Immacolata Vassallo de Lopes,
Míriam R. Carvalho e Eugênio Bucci. Na maioria dos textos, tratou das questões
relacionadas aos meios de comunicação, em especial a televisão e as novas
tecnologias e o processo de educação.
3) O Campo da Comunicação/Educação
Comunicação e educação têm que andar juntas. E andam. Prova disso é que
possuem, hoje, um campo próprio. A defesa de que as duas áreas devem caminhar
juntas é feita por Baccega, educadora desde muito jovem e que mais tarde se
embrenhou pela comunicação.
Com sua ampla experiência e profundo conhecimento das duas áreas, Baccega
sente-se muito à vontade para tecer suas críticas à educação brasileira, que “com o
passar do tempo só fica pior”, e não recebe os investimentos de que necessita,
porque isso não é do interesse da classe dominante.
9
Sinceramente eu acho que se de 1500 até agora nós não
saímos do lugar... e saímos para algumas outras coisas... por
que não saímos do lugar em educação? Você não acha muito
estranho que essa coisa não ande? Por volta de 1950, a
professora do grupo escolar ganhava o mesmo salário do juiz
de direito. (...) A educação tinha um lugar importante. Com o
passar do tempo, a educação só fica pior. (...) Eu acho que
isso é uma coisa mais ou menos determinada, pensada, não é
um acaso, não é um acaso há muito tempo. 6
Baccega não tem dúvidas de que a educação é o caminho para a transformação
do país, mas considera que sem o intercâmbio com a comunicação ela não vai a
lugar algum. A educação é o campo mais conservador que existe, acrescenta,
enquanto a comunicação é aberta. A saída, afirma, é transformar a educação em
diálogo.
Dei muito curso para professor e, num certo momento,
comecei a ficar brava por ver que as coisas não andavam, não
saíam do lugar. Houve um momento em que eu disse ‘não
vou mais trabalhar com a educação, não quero mais saber
disso’, o que também não era verdade, pois a educação é um
vício e você não fica longe dela.7
Comunicação é muito mais do que os meios de comunicação. “É o espaço onde
se constroem os sentidos que pautam a nossa vida cotidiana”8, através da
confirmação das construções simbólicas do grupo, de pequenas mudanças e mesmo
de modificações de valores, o que acontece mais raramente.
O campo da comunicação/educação, explica Baccega, é multi e transdisciplinar,
formado por Economia, Política, Estética, História, Linguagens, entre outros saberes.
“Cada um deles dialoga com os outros, elaborando, desse modo, um aparato
conceitual que coloca os meios no centro das investigações e procura dar conta da
complexidade do campo”9.
6 BACCEGA, Maria Aparecida. Entrevista concedida a Adriana Rodrigues e Maria Elisabete Rabello, em 16 de junho de 2006, em sua residência em São Paulo.7 BACCEGA, op. cit.8 BACCEGA, Maria Aparecida. Comunicação e Educação. In: FÍGARO, Roseli (Org.). Gestão da Comunicação. São Paulo: Atlas, 2005, p. 47.9 BACCEGA, Maria Aparecida. A construção do campo comunicação/educação. Comunicação & Educação, São Paulo, n. 14, p. 9, jan./abr. 1999.
10
Além de se relacionar com as ciências humanas, o campo da
comunicação/educação tem pés, tem tentáculos também nas
correntes básicas da educação, como Jean Piaget, Emília
Ferreiro e Paulo Freire, as quais ele (o campo da
comunicação/educação) reelabora de acordo com ele próprio.
Eu acho que o chão, a solidez da questão da educação e da
questão da comunicação está na obra de Paulo Freire.10
Para a pesquisadora, “os meios de comunicação são os maiores produtores de
significados compartilhados que jamais se viu na sociedade humana”, e é
reconhecida sua incidência sobre a realidade social e cultural.
A comunicação é, portanto, “a grande mediadora entre nós e a realidade
objetiva”. Através dos meios, ela traz o mundo para dentro de nossas casas, um
mundo editado, modificado, que forma a base do nosso conhecimento. Daí, a
necessidade de uma postura crítica diante das mensagens que recebemos a todo
momento.
Presente em grande parte das residências, a mídia desempenha também o
papel de educadora, sendo considerada uma “escola paralela”, que estaria em
disputa com a educação formal e a família, responsáveis primeiras pela formação dos
cidadãos. A escola reage à força dos meios, temendo perder sua função de educar e
assustada diante das novas linguagens.
Enquanto a mídia atua como educadora e a escola continua se considerando o
único lugar de legitimação do saber, os alunos “são deixados à deriva em sua
condição de telespectadores, ou seja, não lhes é facultado um instrumental que lhes
permita selecionar a programação e passar a exigir qualidade. O novo sensorium
criado com a amplificação tecnológica da mídia tem que estar presente no horizonte
dos que se dispõem a educar”11.
Nessa nova realidade, o professor não pode apenas “dar aulas”. Deve
possibilitar que seus alunos “aprendam a aprender”. Ele deve estar informado,
conhecer o funcionamento dos meios de comunicação, ter acesso e saber usar as
novas tecnologias para provocar no aluno a criticidade cada vez mais necessária.
10 BACCEGA, Maria Aparecida. Entrevista concedida a Adriana Rodrigues e Maria Elisabete Rabello, em 16 de junho de 2006, em sua residência em São Paulo11 BACCEGA, Maria Aparecida. Comunicação e Educação. In: FÍGARO, Roseli (Org.). Gestão da Comunicação. São Paulo: Atlas, 2005, p. 49.
11
A inter-relação comunicação/educação não se resume ao uso das tecnologias
nas salas de aula. Elas podem ser utilizadas, mas essa não é a questão central da
comunicação/educação, na visão de Baccega.
No centro da questão está o “choque de culturas que é preciso harmonizar: a
cultura da sociedade como um todo, a cultura que os alunos trazem versus a cultura
que predomina na escola de que os professores são porta-vozes”12.
Para a pesquisadora, um programa de televisão, por exemplo, pode ser levado
para a sala de aula desde que se ofereçam condições de os alunos discutir seu
conteúdo e formato.
A questão é trazer para a sala de aula uma telenovela e
discutir a temática com os alunos. Deixar que eles interfiram
na história, prolonguem a história e que digam como acham
que ela deveria continuar13.
A utilização dos meios de comunicação pela escola tem de estar subordinada ao
objetivo maior dessa instituição, que é a formação de cidadãos críticos. A escola
deve se adaptar a uma nova realidade, na qual não é mais o único lugar onde se
adquire o saber.
4) Revista Comunicação & Educação: Compromisso com o novo campo do saber
A revista foi absolutamente fundamental para estruturar o campo da
comunicação/educação no Brasil.
Dialogar com o público sobre o campo da Comunicação e Educação. Esse é o
objetivo da Revista Comunicação & Educação, criada em 1994 por um grupo de
professores do Departamento de Comunicações e Artes da ECA – Escola de
Comunicações e Artes – da Universidade de São Paulo.
A idéia inicial de Baccega, após ser eleita chefe do Departamento de
Comunicação da USP, em 1992, era fazer duas revistas, e a de pós-graduação, para
ela, tinha prioridade. No entanto, o projeto foi engavetado diante da dificuldade de
obter financiamento. Em contrapartida, a Editora Moderna manifestou interesse em
financiar a outra revista, a de Comunicação e Educação. E, assim, a revista nasceu,
12 BACCEGA, Maria Aparecida. Meios de comunicação na escola. Comunicação & Educação. São Paulo, n. 25, set./dez. 2002. p. 11.13 BACCEGA, Maria Aparecida. Entrevista concedida a Adriana Rodrigues e Maria Elisabete Rabello, em 16 de junho de 2006, em sua residência em São Paulo.
12
comprometida com a busca da solidificação do campo comunicação/educação, tendo
como meta a construção da cidadania.
Esse compromisso consta da Carta de Princípios, publicada no número 1 da
revista (setembro de 1994), que apresenta seus objetivos, premissas e seções, e
republicada no número 3 do Ano X (set/dez 2005) que comemorou os 10 anos da
revista.
A Revista Comunicação & Educação é uma publicação do Curso de Pós-
graduação Lato Sensu Gestão de Processos Comunicacionais da ECA-USP, que inclui
um Núcleo de Comunicação e Educação. O objetivo básico do Núcleo é a formação de
profissionais capazes de:
a) usar recursos da comunicação/cultura no processo ensino/aprendizagem.
Tais recursos são tanto os equipamentos que eventualmente a instituição
educacional possua, quanto os programas dos meios de comunicação que os alunos
trazem consigo, pelo simples fato de, no cotidiano de suas vidas, serem também
“receptores”; além da comunicação inter-pessoal, aquela que se faz utilizando-se o
mais democrático de todos os equipamentos: o boca a boca.
b) saber planejar os processos de comunicação/cultura próprios do ambiente
educacional. Esses processos incluem inter-relações
alunos/pais/professores/autoridades escolares/funcionários; inserção da instituição no
bairro ou na cidade; utilização dos equipamentos de comunicação/cultura que o
bairro ou a cidade oferecem (museus, casas antigas, grupos musicais, grupos
teatrais, etc.), entre outras.
c) desenvolver critérios e métodos para a análise das políticas e dos processos
comunicacionais que se produzem através da indústria cultural, dos chamados meios
massivos como o cinema, a televisão, o rádio, os jornais, as revistas. O conhecimento
e a análise dessas políticas são indispensáveis para se saber os objetivos, interesses
e pontos de vista, a partir dos quais estão sendo construídos os programas dos
meios.
A Carta de Princípios declara ainda que “o suporte da formação desse
profissional é o que poderíamos chamar de uma ‘pedagogia dos meios’, enfocada
com base na ciência da comunicação, que apresenta uma natureza multidisciplinar e
se constitui com base na transdisciplinaridade”.
Os professores responsáveis pela Revista Comunicação & Educação assumem
que seu objetivo é tentar superar o “ranço” tradicional com que os meios de
comunicação são tratados na área de Educação.
13
A publicação, voltada especificamente para as inter-relações Comunicação/
Cultura/Educação, está embasada nas premissas de que os meios de comunicação
estão nas salas de aula, pobres e ricas, e estão presentes no cotidiano das pessoas e
nela introjetados.
Consideram ainda que “compete ao educador conhecer os meios e saber utilizá-
los a favor de seus objetivos, e, para tanto, professores e educadores precisam ser
informados sobre a construção e edição desse ‘mundo de representações’. Desse
modo, ao ‘receber’ os produtos culturais, sua percepção será diferenciada,
possibilitando uma leitura mais adequada do mundo”.
A revista, nos seus primeiros dez anos, era dividida em dez seções: Editorial,
Apresentação, Artigos Nacionais, Artigos Internacionais, Entrevistas, Crítica,
Depoimentos, Experiência, Serviços e Boletim Bibliográfico.
Mundo Editado
No artigo que escreveu para o primeiro número da revista, Maria Aparecida Baccega
explicou que a Educação e a Comunicação se encontram em um mesmo espaço, já
construído, “cuja ação está presente em cada sala de aula, em cada grupo de
pessoas, em cada um de nós” 14.
Lembrou Paulo Freire, para quem nós vivemos no mundo e com o mundo. E
que, diante da impossibilidade de estarmos em todos os lugares ao mesmo tempo,
vendo todos os acontecimentos, sabemos dos fatos a partir do que relatam para nós.
Assim, “o mundo que nós é trazido, que conhecemos e a partir do qual
refletimos, é um mundo que nos chega EDITADO, ou seja, ele é redesenhado num
trajeto que passa por centenas, às vezes milhares de filtros, até que ‘apareça’ no
rádio, na televisão, no jornal. Ou na fala do vizinho e nas conversas dos alunos. São
esses filtros – instituições e pessoas – que selecionam o que vamos ouvir, ver ou ler;
que fazem a montagem do mundo que conhecemos”.
Para Baccega, esse é um dos pontos básicos da reflexão sobre o espaço onde
Comunicação e Educação se encontram. Nesse mundo editado, o que chega até nós,
ou seja, a edição, obedece a interesses diversos, sobretudo econômicos. “Editar é
reconfigurar alguma coisa, dando-lhe novo significado, atendendo a determinado
14 BACCEGA, Maria Aparecida. Do mundo editado à construção do mundo. Comunicação e Educação, São Paulo, n. 1, p. 7, set.1994.
14
interesse, buscando um determinado objetivo, fazendo valer um determinado ponto
de vista.”
Ela lembra que esse é um dos lados da comunicação: o da produção das
mensagens, o lado do emissor. Do outro lado estão os receptores. Só quando esses
dois lados se encontram é que há comunicação. “Se é certo que a comunicação só se
efetiva quando a ‘mensagem’, aquilo que é dito, foi apropriada por quem recebe, por
nós, então torna-se fundamental conhecer como funcionam os meios, para que
tenhamos condições de conhecer melhor o mundo, buscando desvendar os
mecanismos usados na sua edição. Só desse modo poderemos trabalhar
adequadamente esses meios em nossas atividades educacionais.”
Baccega considera fundamental o papel da Educação como espaço de incentivo
da reflexão e do debate sobre o conteúdo das mensagens e sobre como funcionam
os meios de comunicação, contribuindo para a formação do senso crítico nas
crianças e nos jovens.
Se você não sabe como funciona a mídia, você se deixa levar
pelo encantamento, pelo espetáculo. Se você sabe como
funciona, se você conhece esses processos de edição, da
maneira mais simples até a mais complexa, você passa a
atuar de forma crítica. O caminho é realmente transformar a
educação em diálogo.”15
Onze anos depois...
A Revista Comunicação & Educação completou, em 2006, 11 anos de vida.
Conta agora com mais quatro seções: Gestão da Comunicação, Poesia, Videografia e
Atividades em Sala de Aula.
Os dez anos da revista, um marco na história da publicação, foram
comemorados na edição número 3 do Ano X, de setembro/dezembro de 2005.
Em seu artigo intitulado “Dez anos a serviço da construção do campo
comunicação/educação”, Baccega, autora dos textos de Apresentação ao longo
desse período, reafirmou o compromisso da Comissão de Publicação com a busca da
15 BACCEGA, Maria Aparecida. Entrevista concedida às alunas Adriana Rodrigues e Maria Elisabete Rabello, em 16 de junho de 2006, em sua residência em São Paulo.
15
“solidificação do campo comunicação/educação, colaborando, desse modo, de
maneira decisiva, para a construção da cidadania”.
Ela considera que a revista “foi absolutamente fundamental para estruturar o
campo” da comunicação/educação no Brasil 16.
Para isso, a publicação apresentou para reflexão e discussão temas de interesse
fundamental para o campo da comunicação/educação, como Cidadania, Direitos
Humanos, Meios de Comunicação, Cultura, o papel da Escola, Novas Tecnologias,
Educação e Mercado de Trabalho, Mediações, Violência, Globalização, entre tantos
outros presentes no cotidiano da sociedade e, conseqüentemente, da escola.
Ao longo desses anos, a revista passou pela Editora Moderna, depois pela
Segmento, pelas Salesianas e atualmente é editada pelas Paulinas.
5) Orientações
Baccega sempre dedicou grande parte de seu tempo como educadora na
orientação de monografias, dissertações de mestrado e teses de doutorado.
Entre mestrados e doutorados, orientou mais de 20 dissertações e teses. No
curso de Pós-graduação Lato Sensu Gestão de Processos Comunicacionais, da ECA-
USP, foi orientadora de mais de 30 alunos durante a elaboração das monografias.
Sua atuação como orientadora não é diferente da postura como professora:
atenciosa, dedicada e exigente.
Entre seus orientandos, estão atuais professores da USP, como Maria de
Lourdes Motter, Clóvis de Barros Filho e Roseli Fígaro.
Margaret de Oliveira Guimarães foi orientanda de Baccega no Mestrado em
Comunicação da ECA-USP, e sua dissertação é citada pela orientadora como um dos
trabalhos que apresentou importante contribuição aos estudos do campo da
comunicação/educação.
O título da dissertação, aprovada em 2002, é “Ponto de interseção entre os
Campos da Comunicação e da Educação. Uma proposta de investigação do Campo
da Comunicação como território onde se reconstruirá o Campo da Educação”.
Margaret considera que estão na Comunicação as bases da ressignificação dos
papéis da Educação. “Porque a função intrínseca dos dois campos é a mesma: falar
para transformar, isto é, persuadir, seduzir, manipular.” 17
16 BACCEGA, Maria Aparecida. Op. cit.
16
No campo comunicação/educação existe uma luta simbólica entre classes, a
partir da qual se torna possível identificar o perfil do receptor. Lembra que a
comunicação existe quando há o encontro do emissor com o receptor, e afirma que a
relação dos dois pólos, da emissão e da recepção, faz surgir um novo lugar na
comunicação, que está presente no discurso dos meios de comunicação e nos
discursos dos professores.
Margaret defende que os meios de comunicação obrigam a escola a
transformar sua maneira de organizar os currículos e todo o seu modo de
socialização. “Desta forma podemos começar a compreender o Campo
Comunicação/Educação como um território possível de cruzamento entre uma
pedagogia crítica e as mediações culturais, ambas capazes de promover a educação
como ação libertadora.” 18
Para Baccega, a dissertação de Margaret de Oliveira Guimarães foi o melhor
trabalho que orientou sobre comunicação e educação.
Sem desmerecer suas publicações e orientações, a professora faz questão de
afirmar que elas são tão importantes quanto as palestras e encontros dos quais
participou, e falou sobre o tema, principalmente a professores de diferentes regiões
do país.
Entre suas atividades fora da sala de aula, Baccega destaca o Projeto
Educom.rádio19, desenvolvido pelo Núcleo de Comunicação e Educação da ECA sob a
coordenação de Ismar de Oliveira Soares, do qual participou junto com outros
colegas da USP. Considera esse projeto um exemplo de movimento contrário ao uso
da escola pela classe dominante para a reprodução dos seus valores.
Para ela, a classe dominante utiliza a escola e a mídia para reproduzir seus
valores, a partir da persuasão, e, embora minoritário, existe um movimento contrário
a essa situação.
O Educom.rádio é um movimento contrário a essa reprodução
dos valores dominantes. Pelo menos deu lugar para várias
17 GUIMARÃES, Margaret de Oliveira. Ponto de Interseção entre os campos da comunicação e da educação. Uma proposta de investigação do campo da comunicação como território onde se reconstruirá o campo da educação. 2002. 317 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002, p. 311.18 GUIMARÃES, Margaret de Oliveira. Op. cit., p.313.19 O Projeto Educom.rádio, que tinha por objetivo levar a linguagem radiofônica às escolas, foi desenvolvido de 2001 a 2004 pelo Núcleo de Comunicação e Educação da ECA-USP. O trabalho foi realizado em 455 escolas do município de São Paulo, a maioria da periferia, e formou 12 mil educomunicadores.
17
pessoas que pensam de uma maneira diferente da ideologia
dominante de estarem com professores nos mais recônditos
lugares de nossa cidade. E não fui só eu. Estiveram também o
Adilson Citelli, o Mauro Wilton de Souza e outros professores
da ECA.20
6) Notas Finais
A comunicação é própria da natureza do ser humano. É diálogo, procura
persuadir, convencer. A educação faz o mesmo, quando nos traz o saber, quando
forma a base do nosso conhecimento.
Através dos meios, a comunicação traz o mundo para nós, um mundo
modificado, que devemos receber e conhecer com uma postura crítica. Cabe à
educação nos fornecer ou contribuir para a formação desse olhar crítico.
É isso que nos ensina Maria Aparecida Baccega, professora e pesquisadora da
comunicação, incansável na sua luta em favor da justiça, em favor da
conscientização e libertação do ser humano. A educação e a comunicação têm o
papel de contribuir para essa conscientização, mesmo que tenham de nadar contra a
‘corrente’ determinada pela classe dominante.
Crítica da resistência da educação formal às novas tecnologias utilizadas pela
comunicação, Baccega defende o surgimento de um campo específico para os
estudos da inter-relação da comunicação e educação. Esse novo campo assume
tarefas desafiadoras, dentre as quais possibilitar que façamos uma leitura mais
adequada do mundo.
A contribuição de Baccega para os estudos da comunicação e para a
construção do campo da comunicação/educação é valiosa. Suas aulas, textos,
palestras, entrevistas revelam suas teorias, entendimentos, pontos de vista, sempre
defendidos com a convicção de quem domina o tema e com a humildade de quem
sabe que o aprender não termina nunca.
7) Referências Bibliográficas
20 BACCEGA, Maria Aparecida. Entrevista concedida a Adriana Rodrigues e Maria Elisabete Rabello, em 16 de junho de 2006, em sua residência em São Paulo
18
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8) Anexos
Maria Aparecida Baccega: artigos completos publicados em periódicos
BACCEGA, M. A. Comunicação e Cultura: a construção de significados. Revista
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Gestão da Comunicação no mundo do trabalho, educação, terceiro setor e
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