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Resumo
O conhecimento da dinâmica das
sombras de uma área, podendo ser
possível interpretar e analisar quais as
áreas mais sombrias e vice-versa tal
como o conhecimento de alguns
aspectos do clima solar, como o caso do
Sky View Factor em conjunto com
certos aspectos do clima eólico, como o
caso das áreas de conforto e desconforto
perante os limiares de velocidade de
vento ou a distribuição de poluentes.
Todos estes aspectos analisados em
conjunto permitem traçar um perfil
climático sobre determinada área e
assim dar um importante apoio a
decisões sobre a utilização e
planeamento do espaço urbano com
vista a melhorar as condições de
habitabilidade desses espaços.
Palavras-chave: RayMan, Sombras,
Radiação Solar, Sky View Factor,
ENVI-met, e Vento
Introdução
Com este relatório pretende-se expor,
com o auxílio do software Rayman e do
software ENVI-met, alguns dos
principais aspectos do clima solar e
eólico de um determinado espaço
urbano, neste caso, o bairro da Horta
Nova em Telheiras (Norte de Lisboa).
Muitos dos parâmetros do clima solar e
eólico são afectados pela morfologia
natural ou artificial de uma área, tanto a
uma mesoescala como a uma
microescala (Andreas Matzarakis et al.,
2006).
Através da elaboração de modelos de
sombras para a área em estudo, neste
caso, em microescala, como da
modelação do clima eólico, através dos
diagramas solares para os Solstícios e
Equinócios a várias horas do dia em
diferentes localizações do bairro,
pretende-se mostrar como é que a
morfologia artificial da área em estudo
afecta a dinâmica das sombras e o clima
solar da área em estudo. Também, com
a elaboração de modelos para a
velocidade de vento para a área de
trabalho pretende-se ilustrar de que
forma a morfologia artificial da área
condiciona os níveis de conforto
mecânico (capacidade de movimentação
dos peões) e a distribuição de poluentes
pelo bairro da Horta Nova.
Escala de Clima Urbano
utilizada
Um dos aspectos mais importantes na
compreensão do clima urbano, quer em
termos teóricos, quer aplicados, é o da
sua escala (dimensão temporal e
espacial típica) (Andrade, 2003).
Devido ao facto de que os fenómenos
atmosféricos são, por natureza,
contínuos, existe uma série de divisões
em categorias dos mesmos, podendo,
então, ser definidas 3 categorias
principais: Fenómenos de microescala
(dimensão típica até 2km de extensão),
mesoscala (2 a 2000 km) e macroescala
(> 2000 km). A grande amplitude
dessas classes leva a considerar várias
subdivisões (Wanner e Filiger, 1989,
cit. em Andrade, 2003). No caso de um
estudo sobre o clima urbano podemos
distinguir 3 escalas fundamentais: A
diferenciação térmica entre o parque e a
área urbana envolvente corresponde à
escala local; os factores exteriores ao
parque têm um carácter de mesoescala,
enquanto a diferenciação térmica no
interior do espaço verde é de
microescala (Spronken-Smith et al.,
2000, cit. em Andrade, 2003).
Enquadramento da área de estudo
A área de estudo, designadamente, o bairro da Horta Nova é uma área localizada a
Norte de Lisboa, mais precisamente, na freguesia de Carnide. Esta é uma área,
maioritariamente, urbana composta por prédios com alturas que variam entre os 12m e
os 18m. Esta área apresenta uma geometria única na medida em que os prédios têm a
forma da letra U e estão orientados de forma a cerrar uma área interior onde se encontra
um campo de futebol, como se pode ver na figura número 1.
No que se concerne ao clima, de uma foram muito geral, esta é uma área que apresenta
as temperaturas típicas da região de Lisboa e é uma área onde não existem grandes
alterações no que se concerne à velocidade do vento (Alcoforado et al., 2004).
Figura número 1 – Enquadramento da área de estudo - bairro da Horta Nova
Fontes: ESRI Data e Maps (1999) e Google Earth, 2009
Modelação de sombras e análise do clima solar no bairro da Horta
Nova em Telheiras.
Com o auxílio do software RayMan, foi possível modelar as sombras dos prédios da
área de estudo para as várias horas do dia. Neste caso, modelou-se as sombras para os
dois solstícios, 21 de Dezembro e 21 de Junho e o primeiro equinócio, dia 21 de Março.
Nas figuras abaixo estão representadas as sombras dos prédios da área em estudo para
as 3 datas referidas. Também foram elaborados os diagramas solares das 3 datas para a
área em estudo com base em 5 localizações diferentes do bairro e a várias alturas,
nomeadamente, à altura do solo, aos 3m (1º andar), 9m (3º andar) e aos 15m (5º andar).
Sequência de imagens número 1 – Dinâmica das sombras no dia 21 de Dezembro para a área de estudo.
Ordem: 1ª – 10h; 2ª – 12h; 3ª – 14H; 4ª – 16h; 5ª – 17h.
Para a modelação das sombras do solstício de Inverno, retiraram-se todas as árvores do
ficheiro vectorial de obstáculos de input, uma vez que as árvores da área em estudo são
de folha caduca, nomeadamente, choupos e plátanos que, durante esta altura do ano, não
apresentam folhas e, por consequente, não afectam a dinâmica das sombras do bairro.
Como se pode ver pela sequência de imagens número 1, é entre as 12h e as 16h que a
área de estudo se encontra menos sombria. A partir das 16h as sombras dos edifícios
cobrem uma vasta área do bairro, sendo que a zona central do bairro é a mais sombria
como se pode constatar pelas últimas 2 imagens da sequência de imagens. Este facto
deve-se, na sua maioria, à geometria do bairro e à disposição dos prédios que envolvem
a zona central do bairro. A altura dos edifícios deste bairro varia entre os 12m e os 18m,
sendo que os 2 prédios de dimensão maior dispostos mais a Sul são os mais altos, facto
este que faz com que às 10h (1ª imagem da sequência) a zona central do bairro esteja
toda coberta pelas sombras de um desses prédios, neste caso, o central.
© 1999 - 2005 Ray Man Pro
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Sequência de imagens número 2 – Dinâmica das sombras no dia 21 de Junho para a área de estudo.
Ordem: 1ª – 10h; 2ª – 12h; 3ª – 14H; 4ª – 16h; 5ª – 18h; 6ª – 19.30h.
Ao dia 21 de Junho (solstício de Verão) pelas 10h, nota-se que são as paredes viradas a
Noroeste que apresentam a maior parte das sombras. Entre as 12h (altura meridiana
máxima) e as 16h não se notam grandes contrastes ao nível das sombras dos prédios da
área em estudo, uma vez que o sol está numa altura meridiana elevada. Ao contrário do
primeiro solstício, a área mais sombria do bairro em estudo já não é a zona central, mas
sim, a área entre os 2 prédios de maior altura e dimensão como se denota,
principalmente, a partir das 18h.
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Sequência de imagens número 3 – Dinâmica das sombras no dia 21 de Março para a área de estudo.
Ordem: 1ª – 10h; 2ª – 12h; 3ª – 14H; 4ª – 16h; 5ª – 18h.
A dinâmica das sombras dos prédios para a área em estudo na data do primeiro
equinócio é algo semelhante à dinâmica das sombras da situação anterior (dia 21 de
Junho). Como é sabido, aquando dos equinócios o dia tem a mesma duração que a noite,
o que significa que há um período de radiação solar de 12h, daí o facto de entre as 12h e
as 16h, as sombras dos prédios não serem vastas, uma vez que o sol se mantêm numa
altura meridiana elevada por algumas horas. É possível ver na sequência de imagens
acima (1ª e 5ª imagem) que a área mais sombria do bairro é, tal como no dia 21 de
Junho, a área entre os dois prédio de maior dimensão e altura.
Sky View Factor (SVF)
De acordo com Hugo Vieira e João
Vasconcelos (2004), o Sky View Factor
expressa a relação entre a radiação
recebida por uma superfície planar e a
recebida pelo ambiente hemisférico
radiante e é, normalmente, usado nas
florestas, estradas e em climatologia
urbana de forma a caracterizar as
propriedades radiativas. Se a totalidade
do hemisfério é visível o, SVF é igual a
1, sendo que a obstrução visual do céu é
nula e a exposição à radiação solar é
directa, sem a presença de nuvens.
Quando existem obstáculos que ocultam
o hemisfério, o SFV é reduzido
(chegando ao valor de 0 se o céu estiver
completamente obstruído), dependendo
da posição dos obstáculos, o sol pode
ser dissimulado na sua trajectória.
Nas áreas urbanos, como é o caso da
área em estudo, o valor do SVF
depende, principalmente, da forte
presença de edifícios e da geometria dos
mesmos. O aumento da ocultação do
hemisfério leva a menores valores de
SFV o que tem uma grande importância
no balanço radiativo do solo. O estudo
do SFV é importante aquando do estudo
do clima urbano mas é,
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maioritariamente, utilizado em estudos
de microescala e em áreas restritas,
como no caso da área de estudo. No
caso do software utilizado para a análise
do SFV neste trabalho, o software
RayMan, este permite com que o
utilizador represente graficamente o
hemisfério celestial e os obstáculos,
usando um sistema de vectores onde os
edifícios e as árvores podem ser
desenhados. Estes obstáculos são
projectados no diagrama solar de forma
a calcular o SVF e a trajectória do sol,
como se podem ver nas sequências de
imagens seguintes.
O software RayMan permite elaborar outputs do horizonte (natural ou artificial) com
base no SVF. Este é um aspecto muito importante e a ter em conta ao modelar o clima
de uma área urbana como o caso do bairro em estudo, uma vez que, para se adquirir
informação sobre o conforto térmico ou as condições térmicas bioclimáticas, tanto em
ambientes simples como complexos, o conhecimento da duração da luz do sol e dos
fluxos de radiação de ondas de tamanho curto é necessário (Andreas Matzarakis
et al.,
2006). Assim sendo, com base nos obstáculos desenhados a priori no software foi
possível calcular o SVF para 5 localizações na área em estudo a 5 alturas diferentes de
forma a estabelecer as diferenças de SVF entre as respectivas localizações e alturas.
Figura número 2 – Localização do ponto central para a modelação do SVF para o primeiro modelo.
Sequência de imagens número 4 – Outputs resultantes da modelação do Sky View Factor para a
localização do primeiro ponto, no dia 21 de Junho (Solstício de Verão). Ordem: 1ª - à altura do solo; 2ª -
aos 3m; 3ª - aos 12m; 4ª - aos 15m.
Sequência de imagens número 5 - Outputs resultantes da modelação do Sky View Factor para a
localização do primeiro ponto, no dia 21 de Março (1º equinócio). Ordem: 1ª - à altura do solo; 2ª - aos
9m; 3ª - aos 15m.
Figura número 3 – Localização do ponto central para a modelação do SVF para o segundo modelo.
Sequência de imagens número 6 - Outputs resultantes da modelação do Sky View Factor para a
localização do segundo ponto, no dia 21 de Junho (solstício de Verão). Ordem: 1ª - à altura do solo; 2ª -
aos 3m; 3ª - aos 9m; 4ª - aos 18m.
Sequência de imagens número 7 - Outputs resultantes da modelação do Sky View Factor para a
localização do segundo ponto, no dia 21 de Março (1º Equinócio). Ordem: 1ª - à altura do solo; 2ª - aos
9m; 3ª - aos 18m.
Figura número 4 – Localização do ponto central para a modelação do SVF para o terceiro modelo.
Sequência de imagens número 8 - Outputs resultantes da modelação do Sky View Factor para a
localização do terceiro ponto, no dia 21 de Junho (Solstício de verão). Ordem: 1ª - à altura do solo; 2ª -
aos 9m; 3ª - aos 15m.
Sequência de imagens número 9 - Outputs resultantes da modelação do Sky View Factor para a
localização do terceiro ponto, no dia 21 de Março (1º Equinócio). Ordem: 1ª - à altura do solo; 2ª - aos
9m; 3ª - aos 15m.
Como se pode ver pela sequência de imagens número 4, ao nível do solo (0m) o valor
do SVF é de 0.673, como se pode constatar pela tabela de dados e índices resultante, a
título de exemplo, deste primeiro modelo, presente nos anexos na figura10. Este valor
de SVF significa que obstrução visual do céu não é elevada a esta altura e a esta
localização, como se pode ver pelo desenho do bairro, esta área está no centro do bairro
onde a envolvência dos prédios é baixa. Este valor de SVF também significa que a esta
altura e localização o arrefecimento é médio, uma vez que esta localização tem um
período de exposição ao sol de cerca de 10h.
O SVF a uma altura de 15m para a mesma localização é superior ao anterior, atingindo
um valor próximo de 1 (0.966). Este valor significa que a esta altura há um maior
período de exposição aos fluxos de radiação solar, aproximadamente, o dia inteiro, o
que, por outro lado, provoca um forte arrefecimento do dia para a noite devido à perca
de radiação infravermelha que se dá em período nocturno.
Continuando com a análise dos diagramas solares e do factor SVF, agora para o ponto 2
localizado entre os dois prédios de maior dimensão, os valores do SVF foram de 0.319
ao nível do solo, às 10h e à data do Solstício de Verão (os valores para o Equinócio são
iguais), indicando que esta é uma área caracterizada por um arrefecimento fraco, uma
vez que há um baixo número de horas de insolação nesta área, o arrefecimento dá-se de
forma diminuta ao fim do dia. Ao contrário da mesma localização aos 18m de altura
(aproximadamente o topo do prédio). Aqui o SVF aumentou para 0.964 significando
que o arrefecimento é forte a esta altura, o que se explica pelo elevado número de horas
de insolação a que localização está exposta, aproximadamente, 11h, como se pode ver
pela última imagem da sequência de imagens número 6.
Para a localização número 3, os valores do SVF foram de 0.262 ao nível do solo, 0.827
aos 12m de altura e de 0.985 aos 15m de altura. Pode-se dizer que o arrefecimento desta
área vai aumentando desde o nível do solo até aos 15m de altura, sendo que a partir dos
12m de altura as diferenças de arrefecimento começam a notar-se menos.
Conclui-se, assim, que a área com melhores condições de insolação e arrefecimento
térmico, segundo os parâmetros analisados, é a área da primeira localização, sendo que
é a área que apresenta um maior valor de SVF ao nível do solo, comparando com as
outras 3 localizações.
Modelação do vento e análise do clima eólico do bairro da Horta Nova
em Telheiras.
Algumas considerações importantes a
ter no que se concerne com a
dinâmica dos ventos na cidade de
Lisboa, designadamente, a
diminuição da velocidade do vento
desde os anos 80.
Segundo Maria João Alcoforado e
António Lopes (2004), tem havido um
decréscimo notado da velocidade do
vento na cidade de Lisboa devido ao
crescimento da cidade. Estes autores
defendem que a velocidade do vento
tem diminuído na cidade desde 1980 em
cerca de 30% aos 10m de altura e cerca
de 20% abaixo dos 10m. Segundo estes
autores as grandes reduções notam-se,
principalmente, no centro da cidade, o
que é óbvio, uma vez que, as áreas dos
centros das cidades são áreas muito
compactas e, consequentemente, existe
um aumento da rugosidade que provoca
grandes diminuições na velocidade do
vento.
A área em estudo neste trabalho,
designadamente, o bairro da Horta
Nova, um bairro localizado em
Telheiras situa-se na parte Norte de
Lisboa onde estes autores afirmam que
não existem grandes alterações no que
se concerne à velocidade do vento
devido ao facto de o número de
construções ser reduzido nessa área.
Sendo assim, existe uma grande
diferença de velocidade do vento de
Noroeste para Sudoeste. Esta
diminuição da velocidade dos ventos,
apesar de não ser muito acentuada nas
áreas a Norte de Lisboa, afectará a
saúde pública em Lisboa, na medida em
que tem havido uma diminuição da
velocidade do vento Norte, vento este
que é extremamente eficaz na remoção
de poluentes e que funciona como
regulador térmico da cidade. Apesar de
o crescimento não ser tão grande e
compacto como no centro da cidade
tem-se notado que começam a surgir
barreiras ao vento Norte nas zonas a
Norte de Lisboa e este facto aumentará
com certeza a ocorrência de picos
críticos de poluição provocando
doenças e ondas de calor.
Modelo numérico utilizado pelo software Envi-met
Os modelos numéricos de microescala oferecem a oportunidade de simular diferentes
tipos de cenários com o intuito de optimizar decisões de planeamento. Especialmente
em climatologia urbana, a lista de processos físicos e o número de interacções não
lineares torna impossível modelar os impactos de mudanças e modificações sem recurso
a sistemas inteligentes tais como softwares de modelação numérica (Bruse, 1999).
O modelo numérico utilizado pelo software Envi-met para o cálculo dos factores físicos
é o modelo das equações de Navier-Stokes, este tipo de equações são designadas como
equações diferenciais que descrevem o escoamento de fluidos, ou seja, permitem
determinar os campos de velocidade e pressão. As equações de Navier–Stokes são
derivadas dos princípios da conservação da massa, energia, momento e momento
angular. Estas equações estabelecem que as mudanças no momento e aceleração de uma
partícula fluida são simplesmente o produto das mudanças de pressão e forças
dissipativas actuando dentro do fluido1.
Processamento dos modelos da velocidade e direcção do vento e
dispersão de poluentes e análise dos mesmos.
O vento condiciona o conforto término, o conforto mecânico, a dispersão de poluentes e
a segurança das pessoas e edifícios2. O conhecimento da dinâmica do vento em torno
dos edifícios é vantajoso na protecção contra a destruição provocada pelo vento e
também é útil para economizar a manutenção ligada aos problemas causados pelo vento
e a custos intrinsecamente ligados a este fenómeno. Este conhecimento é também
importante para a segurança e conforto tanto das pessoas que habitam na área em estudo
como também para as que lá circulam e também é importante para o entendimento do
fenómeno da dispersão de poluentes. (OKE, 1987).
Para o estudo em causa considerar-se-á a análise dos limiares de conforto mecânico e a
dispersão de poluentes, não serão considerados neste estudo os limares térmicos e a
segurança das pessoas e edifícios. Assim sendo, para a modelação da velocidade e
direcção do vento, tal como para a modelação da dispersão de poluentes, foi utilizado,
como já foi referido, o software Envi-met que dispõe dos modelos numéricos, como é
exemplo o modelo descrito no ponto anterior, necessários para modelar os respectivos
fenómenos.
Foram elaborados dois modelos para a área em estudo: primeiro, modelou-se um vento
fraco (3m/s) vindo do quadrante Sul de forma a representar a dispersão de poluentes
vindos da fonte de emissão considerada para a área em estudo, designadamente, a
Segunda Circular situada a sul da área de estudo, como se pode ver na figura número 5.
O segundo modelo foi baseado num vento forte (20m/s) do quadrante Norte com vista a
1 http://www.envi-met.com/
2 Adaptado de OKE, 1987
afigurar a direcção e velocidade do vento no bairro da Horta Nova para uma análise dos
confortos mecânicos na área de estudo.
Figura número 5 – A vermelho, a área de estudo e a amarelo, a
fonte de emissão de poluentes considerada para este estudo,
designadamente, a Segunda Circular.
Fonte: Google Earth, 2009
x (m) Edifícios
Figura número 6- modelo da velocidade do vento a 20m/s de Norte para o bairro da Horta Nova –
Telheiras.
x (m) Edifícios
Figura número 7 - modelo da direcção do vento a 20m/s de Norte para o bairro da Horta Nova –
Telheiras.
x (m) Edifícios
Figura número 8 - modelo da direcção do vento a 3m/s de Sul para o bairro da Horta Nova – Telheiras.
Edifícios
Figura número 9 - modelo da dispersão de poluentes, em valores percentuais, vindos de Sul (3m/s)
(Segunda Circular) para o bairro da Horta Nova – Telheiras.3
Começando por analisar o segundo modelo, o modelo da direcção e velocidade do vento
forte (20m/s) do quadrante Norte, pode-se constatar pela figura número 6 que as
maiores velocidades do vento registam-se na área do canto superior direito da imagem
(Este) e também entre o edifício localizado ao canto superior esquerdo (Norte) e o
edifício de dimensão reduzida localizada na área à direita da imagem (Oeste). Pode-se
explicar as velocidades de vento superiores a 14m/s nesta última área devido ao facto de
as paredes destes dois edifícios estarem orientadas no sentido do vento e formarem um
afunilamento ou canalização4 (efeito Venturi
5) do vento que vem de Norte, fazendo,
assim, com que haja um efeito de aceleração da velocidade do vento. Esta área pode ser
considerada, segundo a escala do Building Research Estabilishment6, como uma área de
desconforto mecânico para os peões que lá circularem. Uma vez que a referida escala
considera que a partir dos 10m/s começa a surgir um efeito desagradável para todos os
3 A direcção da seta que indica o Norte está em desacordo com a orientação dos edifícios nos outputs,
visto que o software Envi-met não altera a orientação dos edifícios nos outputs.
4 Adaptado de OKE, 1987
5 O efeito Venturi está associado à redução de pressão de fluxo aquando um fluido flui por uma secção
mais estreita de um tubo. A velocidade do fluido aumenta por entre essa secção mais estreita, satisfazendo
a Equação da Continuidade. Adaptado de http://en.wikipedia.org/wiki/Venturi_effect
6 http://www.bre.co.uk/index.jsp
<9.99 %
9.99% - 19.98%
19.98% - 29.97%
29.97% - 39.96%
39.96% - 49.96%
49.96% - 59.95%
59.95% - 70.02%
70.02% - 80.01%
80-01% - 90%
>90%
Concentração de poluentes em valores percentuais:
peões onde acontece um levantamento de poeiras e lixo, pode-se afirmar que esta área
encontra-se nessa situação perante o modelo realizado. Ainda segundo a escala Building
Research Estabilishment, os ventos que apresentem velocidades iguais ou superiores a
20m/s são considerados perigosos para os peões, assim, pode-se dizer que esta é uma
área de perigo médio no que se concerne à velocidade do vento.
Conclui-se, ainda, ao olhar para a figura número 6 que as maiores velocidades do vento,
à excepção da situação referida acima, dão-se em torno do bairro da Horta Nova, o que
seria de esperar, uma vez que o interior do bairro é pouco penetrável à excepção dos
túneis.
As velocidades do vento dentro do bairro em análise rondam valores abaixo dos
1.61m/s e valores entre os 1.61m/s e os 3.17m/s à excepção da área localizada entre os
dois edifícios a Norte, onde acontece, novamente, o efeito Venturi entre as duas paredes
dos dois prédios, provocando o aumento da velocidade do vento. Também se pode ver
que há um registo de velocidades um pouco superiores (entre os 3.17m/s e os 4.73m/s)
às velocidades do interior da área de estudo no túnel esquerdo do prédio a Sul da
imagem.
As árvores presentes na área de estudo não condicionaram de forma notória as
velocidades do vento registadas pelo modelo, isto deve-se, em grande parte, ao facto de
as árvores serem de carácter flexível e permeável, ao contrário dos edifícios que são de
carácter rígido e impermeável, o que faz com que gerem grandes turbulências e fortes
variações de velocidade e direcção do vento, tal como se pode constatar pelos outputs
resultantes do modelo, figuras número 6 e 7. Na figura número 7 pode-se ver que as
ruas com orientação perpendicular à velocidade do vento geram, em geral, uma
diminuição da velocidade média do vento e provocam um aumento da turbulência com
flutuações bruscas da direcção do vento (figura número 6), como é o caso da rua entre
os dois edifícios de maior dimensão.
Quanto à análise do modelo de dispersão de poluentes, é importante, primeiro, frisar
que a poluição atmosférica é um fenómeno que apresenta uma repartição espacial
complexa, resultante da interacção entre os domínios biofísicos e sócio-económicos
(Andrade, 1994). Pretende-se neste ponto analisar o impacto da expansão de poluentes
provenientes da Segunda Circular na qualidade do ar na área em estudo. Devido às
limitações inerentes ao software utilizado ao nível de modelação de poluentes, é apenas
medido o impacto das partículas em suspensão (PM10), sendo que este tipo de poluente
juntamente com o ozono, constituem os poluentes que maior impacto têm para o ser
humano7. A Poluição atmosférica é definida como uma modificação qualitativa ou
quantitativa da composição normal da atmosfera (Coin, 1974, cit. em Alcoforado,
1988).
A concentração de poluentes num dado local depende de dois conjuntos de factores: as
emissões, por um lado e o estado da atmosfera, por outro (Oke, 1992, cit. em Andrade,
1994). As emissões são determinadas essencialmente por factores de carácter sócio-
económico. As condições atmosféricas influenciam a dispersão, transformação e
remoção de poluentes (Andrade, 1994). Os principais poluentes que, actualmente, estão
em voga são: o ozono e as partículas em suspensão, estes dois poluentes são,
presentemente, os que constituem maior risco em termos de saúde pública, devido ao
facto que, segundo a Agência Europeia de Ambiente, foram os únicos que desde 1997
não registaram qualquer melhoria significativa apesar da redução das emissões.
A direcção e velocidade do vento são os factores mais importantes na distribuição da
poluição atmosférica. Assim sendo, assumindo que a dispersão de poluentes se propaga
de Sul (Segunda Circular) em direcção ao Bairro da Horta Nova o modelo (figura
número 9) representará de que forma o vento condiciona a trajectória dos poluentes
desde a fonte de emissão e a sua difusão, através das flutuações da direcção (Andrade,
1994). Além disto, a direcção do vento é um indicador das condições sinópticas gerais,
encontrando-se cada rumo associado a determinadas condições de dispersão (Andrade,
1994).
A distribuição de poluentes na área em estudo foi simulada a uma velocidade de 3m/s,
como já foi referido. A opção desta velocidade reside no pressuposto definido por OKE,
no qual este afirma que, com ventos fortes o poluente pode ser transportado a longas
distâncias mas a concentração do mesmo torna-se tão fraca que há, relativamente,
poucas consequências. O grande potencial da poluição existe, realmente, com ventos
fracos porque o transporte horizontal e a difusão da turbulência estão condicionados.
Na análise ao modelo gerado, foram considerados valores relativos de emissão, isto é,
através da equação da recta de regressão, os valores foram convertidos de µg/m3
para
valores percentuais de forma a possibilitar uma melhor compreensão dos resultados
7 Adaptado de http://www.apambiente.pt/Instrumentos/Planoaccao/PartSupens/Paginas/default.aspx
finais. O software Envi-met utiliza um valor padrão a nível da emissão de poluentes.
Para o presente modelo, os valores máximos de emissão na fonte são de 11.44 µg/m3
correspondendo este valor a 90%, ou seja, em termos relativos, a área em estudo é
afectado por valores abaixo dos 9.99% respectivamente aos valores emitidos pela fonte
de emissão de poluentes. Estes baixos valores podem, em parte, ser atribuídos à longa
distância da fonte emissora, contribuindo este facto para a pouca incidência deste
poluente na área em estudo e, também, podemos atribuir esta fraca dispersão à
velocidade do vento (3m/s). Outro factor a ter em conta é a geometria do edificado,
nomeadamente no edifício mais a Sul com uma altura de 18m que condiciona a
distribuição do poluente tal como é observado na figura número 9, podendo mesmo
afirmar que a emissão do poluente é fortemente condicionada por este edifício que
origina uma alteração na direcção do vento que, por sua vez, vai alterar a distribuição do
poluente em estudo. Um pressuposto a ter em conta nesta análise é a direcção do vento
porque esta tem um papel importante na distribuição do poluente na medida em que
determina o caminho percorrido por o poluente depois da emissão (Oke, 1987).
Anexo
Figura número 10 - Data Table (tabela de dados) resultante do primeiro modelo (1ª localização) do
diagrama solar, às 10h, ao nível do solo, Solstício de Verão, a título de exemplo.
Bibliografia
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