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Centro Novas oportunidades NEWSLETTER – tiragem única – dezembro 2012
Nota de abertura …… 1
Reflexões …………..….. 2
Conto LER+ ………….… 3
Soneto Gratidão ….... 3
Pensamentos ………… 4
Álbum …………………… 5
Artigo de opinião ….. 7
Carta aos adultos ….. 8
Nota de abertura (José Caldas, Diretor da ESAG e Diretor do Centro Novas
Oportunidades)
Desde o seu início, e já lá vão 40 anos, que a Educação de Adultos faz parte da oferta
educativa da ESAG. Pode-se dizer, como hoje é habitual, que está no ADN da escola. Pelos
Cursos Complementares, Ensino Recorrente, Cursos Tecnológicos, entre outras
modalidades, passaram milhares de adultos, em geral no horário noturno, podendo, assim,
completar os seus estudos. A abertura de um Centro Novas Oportunidades, e a diversidade
de percursos formativos permitidos, atraiu um público diversificado e vasto, provocador de
transformações pedagógicas, administrativas e relacionais na ESAG. Foi deste modo que se
construiu uma equipa de formadores especializados e dedicados, capazes de responder
com qualidade às novas exigências. As diversificadas origens dos novos formandos, que
transportavam percursos escolares e profissionais também muito diferentes, exigiram um
acompanhamento individualizado para a validação, desenvolvimento e reconhecimento de
competências com vista ao seu crescimento pessoal e melhor inserção social.
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NEWSLETTER dezembro 2012
2
Zilda Costa (Coordenadora CNO, 2009-2012)
O ensino de ADULTOS...sim, SEMPRE! A APRENDIZAGEM faz-se ao longo da VIDA.
A Escola Secundária Augusto Gomes é sede de um Centro Novas Oportunidades desde o dia um
de setembro de 2008. Este Projeto veio dar resposta às necessidades de qualificação da
população envolvente, no âmbito da educação e formação de adultos, promovendo o
desenvolvimento pessoal e cívico dos cidadãos, ajudando à sua inserção social e profissional.
Ao longo destes anos, o CNO tentou sempre responder de uma forma ajustada e assertiva às
situações, interesses e expectativas dos diferentes formandos que nos procuraram. Estes
adultos, homens e mulheres, de níveis etários diferentes, com percursos de vida distintos, que
realizaram aprendizagens formais, informais e não formais ao longo da sua vida, em contextos
únicos, tiveram, neste centro, uma resposta formativa adequada à singularidade de cada um e
que se traduziu no aumento das suas competências e qualificações.
A existência do CNO reforçou o papel da nossa Escola na descoberta de novos papéis sociais,
contribuindo para o bem comum e para o desenvolvimento do território.
Reflexões
…
Raiz de Orvalho
Sou agora menos eu
e os sonhos
que sonhara ter
em outros leitos despertaram
Quem me dera acontecer
essa morte
de que não se morre
e para um outro fruto
me tentar seiva ascendendo
porque perdi a audácia
do meu próprio destino
soltei ânsia
do meu próprio delírio
e agora sinto
tudo o que os outros sentem
sofro do que eles não sofrem
anoiteço na sua lonjura
e vivendo na vida
que deles desertou
ofereço o mar
que em mim se abre
à viagem mil vezes adiada
De quando em quando
me perco
na procura a raiz do orvalho
e se de mim me desencontro
foi porque de todos os homens
se tornaram todas as coisas
como se todas elas fossem
o eco as mãos
a casa dos gestos
como se todas as coisas
me olhassem
com os olhos de todos os
homens
Assim me debruço
na janela do poema
escolho a minha própria
neblina
e permito-me ouvir
o leve respirar dos objectos
sepultados em silêncio
e eu invento o que escrevo
escrevendo para me inventar
e tudo me adormece
porque tudo desperta
a secreta voz da infância
Amam-me demasiado
as coisas de que me lembro
e eu entrego-me
como se me furtasse
à sonolenta carícia
desse corpo que faço nascer
dos versos
a que livremente me condeno
MIA Couto
NEWSLETTER dezembro 2012
3
Uma nota de sabedoria
Ninguém sabe dizer o que aconteceu
com Kákua, depois que ele deixou o Palácio
Imperial.
Diz a história que Kákua foi o primeiro
japonês que estudou Budismo Zen na China.
Nunca viajou; meditava apenas.
Sempre que o encontravam, pediam-
lhe que saísse a pregar.
Mas ele dizia meia dúzia de palavras e
desaparecia para outro ponto da floresta,
tornando-se mais difícil encontrá-lo.
Um dia, tendo voltado ao Japão, o
Imperador pediu-lhe que pregasse o Budismo
Zen a ele próprio e a toda a sua corte.
Kákua ficou de pé, muito calado, diante
do Imperador, depois de ouvi-lo; tirou das
dobras do seu manto uma flauta que ali tinha
escondida e soprou nela apenas uma nota.
Inclinou-se, depois, profundamente,
em saudação ao Imperador e foi-se embora.
Eis o que diz Confúcio: “Não ensinar um
homem já maduro é desperdiçar o homem.
Ensinar um homem ainda não maduro é
desperdiçar palavras.”
Anthony de Melo, O canto do pássaro, Lisboa, Ed.
Paulinas, 1998
Soneto de gratidão
Gratidão
O dia corria veloz, envolto
Num tempo, meu, assaz, persistente
Chegando à mudança de repente
Escrevendo tudo como um douto
Histórias duma vida, vivida
Na luta imensa que esta tem
Mas onde a maioria quer o bem
Numa vivência muito sofrida
Senti apoio e compreensão
De todos carinho em plenitude
Entusiasmo com sofreguidão
A entrega, dádiva e ajuda
A companhia plena de virtude
Na mágica duma vida sortuda
Carlos Graça, Adulto de processo RVCC
NEWSLETTER dezembro 2012
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Ilustração: Toshio Ebine - beijo na Lua
O Homem é do tamanho do seu sonho. Fernando Pessoa
Ilustração: maleta de cuentos_Paulo Galindro
Porque as memórias procriam como se fossem
pessoas vivas de Agustina Bessa-Luís, in 'Antes do Degelo'
Ilustração: Armanda Passos
Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino. Paulo Freire
Ilustração: Anna Silivonchik
Não fiques em terreno plano. Não subas muito alto.
O mais belo olhar sobre o mundo. Está a meia encosta.
Friedrich Nietzsche
Ilustração:
Cada Homem
tem a sua parcela
de terreno para
cultivar. O que é
importante é que
cave fundo. José
Saramago
Ilustração:
Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que
precisas passar para atravessar o rio da vida.
Friedrich Nietzsche
NEWSLETTER dezembro 2012
5
Álbum
Sessão de júri
dia 23-7-12
Sessão de júri
dia 21-7-11
Sessão de júri
dia 14-7-11 Sessão de júri
dia 25-6-12
NEWSLETTER dezembro 2012
6
Sessão de júri
dia 20-7-12
Sessão de júri
dia 16-10-12
Sessão de júri
dia 6-11-12
Continuem
…sejam
felizes!
NEWSLETTER dezembro 2012
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Esperança para a Educação
Joaquim Azevedo, presidente do Centro Regional do Porto
da Universidade Católica Portuguesa
Acabo de escrever um livro sobre “Liberdade e política pública de educação” (Ed Fundação Manuel Leão), onde
descrevo a situação atual da educação escolar em Portugal e onde enquadro e alinho um conjunto de ações comuns e
de medidas de política pública que poderiam e deveriam ser tomadas. Vou, por isso, sintetizar essa reflexão,
remetendo o seu esclarecimento e aprofundamento para este livro.
Vivemos numa situação de bloqueio, que a atual crise só vem agravar. Estamos bloqueados, porque:
-entendemos que a educação é uma questão técnica, que se resolve com bons gabinetes e com base na iluminação
que invade a 5 de Outubro, em cada mudança do governo;
-não apoiamos devidamente as famílias na sua insubstituível missão de educar os filhos;
-não focamos a nossa ação no ensino e nas aprendizagens;
-os professores são permanentemente desfocados do seu trabalho essencial, ensinar;
-a administração educacional labora sob o signo da desconfiança, desfazendo o que com liberdade e autonomia se vai
construindo;
-o conjunto dos atores sociais na sociedade portuguesa ainda é pouco chamado a comprometer-se com a melhoria da
educação escolar;
-a demagogia e o cinismo fazem mais caminho do que o trabalho árduo de melhoria da situação da educação.
Pugno pela construção de um referencial em que se possa enquadrar uma nova política pública de educação.
Sumariando:
(i) uma visão antimonopolista e policêntrica da política pública de educação escolar;
(ii) uma conceção do bem público educacional como uma construção social e política realizada no espaço público,
com a participação de toda a sociedade e onde se caminha sempre para a realização de compromissos concretos e
comuns para a melhoria da educação escolar em Portugal e em cada localidade;
(iii) nestes compromissos concretos participam o Estado e toda a sociedade, cada escola e os seus atores, em ordem a
gerar mais valor público educacional, muito mais do que as ditas reformas educativas, que geralmente destroem o
valor entretanto criado;
(iv) é urgente focar a educação em melhor ensino e em melhores aprendizagens por parte de cada criança, jovem ou
adulto, o resto pouco interessa.
Focar os recursos no essencial passa a ser uma prioridade irrenunciável… aplicar o conceito defendido de “serviço
público de educação” que serve a democracia e a liberdade, que compreende, aproveita e integra na rede escolar
todas as iniciativas que contribuem para melhor ensino e melhores aprendizagens.
Os nós que existem, e são muitos, temos de ser nós a desatá-los. Ninguém o fará por nós. Com Confiança, com
Cooperação, com Compromissos e, no fim, com melhor ensino e melhores aprendizagens. Com trabalho, muito
trabalho, árduo e persistente trabalho, o que só faz quem está convencido de que isso vale a pena e que só há
mesmo esse caminho a trilhar. Muita coragem e muita esperança!
Adaptado do texto elaborado por Joaquim Azevedo, professor catedrático da Universidade Católica Portuguesa, publicado pela
Agência Ecclesia, em 21-6-11)
NEWSLETTER dezembro 2012
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Centro Novas Oportunidades da Escola SecundáriaAugusto Gomes
"Só podemos dar aquilo que temos em nós mesmos." (Wayne W. Dyer)
Carta aos formandos
Caros Formandos do Processo de RVCC da Escola Secundária Augusto Gomes de Matosinhos,
Neste momento especial das vossas vidas, que aqui nos reúne em convívio amigo e solidário, gostaria de,
em nome de toda a equipa técnico-pedagógica do Centro de Novas Oportunidades da nossa Escola, dar-
vos, antes de mais, os parabéns pelo êxito por vós alcançado e partilhar convosco alguns pensamentos
de apreço e incentivo para o presente e futuro da vossa realização pessoal, sociocultural e profissional.
O heterónimo Bernardo Soares, uma das muitas personalidades poéticas, saídas da fantástica criação de
Fernando Pessoa, diz numa obra sua, titulada Livro do Desassossego, que “O Homem é do tamanho do
seu sonho”. Parece-me esta afirmação do nosso grande poeta, perfeitamente adequada àquilo que cada
um de vós revelou ser durante o processo de RVCC, ou seja, pessoa, cuja dimensão é a do seu próprio
sonho.
A Vontade, segundo Schopenhauer, um filósofo alemão do século XIX, é “o princípio que norteia a vida
humana”. E foi essa vontade, traduzida em denodo e perseverança, que vos levou a vencer as
adversidades para, desse modo, poderem concretizar o sonho que desejavam alcançar.
Durante o tempo que passámos juntos, o nosso papel, o dos técnicos e formadores, foi, apenas e tão-só,
o de querer ajudar-vos a aperfeiçoar o vosso desenvolvimento individual, e, nesse contexto, a vossa
atitude revelou-se merecedora do nosso empenho, pois, como observa Confúcio, na sua sábia filosofia
oriental, “De nada vale ajudar aqueles que não se ajudam a si mesmos.”
A chegada ao conhecimento é, na sua essência, um acto de partilha. Foi isso que nós, formadores e
formandos, fizemos: partilhámos experiências e conhecimentos, e creio que dessa relação todos
beneficiámos, tornando-nos cidadãos mais enriquecidos. Creio, também, que ficámos a perceber melhor
o que Isaac Newton quer dizer quando afirma que “O que sabemos é uma gota de água, o que
ignoramos é um oceano”. É um ignorante aquele que acha que sabe tudo, e, ao pensar assim, priva-se
de um dos maiores prazeres da vida: o prazer de aprender. Só a aprendizagem desejada e reflectida nos
coloca em situação de nos compreendermos melhor a nós mesmos e compreendermos o Outro e o
Mundo, onde, por condição social, nos envolvemos. Estou ciente que era essa a vossa intenção quando
se inscreveram no processo de RVCC, isto é, tornarem-se pessoas e cidadãos mais apetrechados para o
entendimento dos fenómenos da ciência e da vida, a que, por força da nossa condição social, não
podemos virar costas. Mas não duvido que essa consciência se foi tornando mais clara durante o
desenvolvimento do processo.
Hoje, muitos de vós, senão todos, desejarão chegar mais longe. Para tal, como sabem, basta pôr em
funcionamento o binómio Sonho-Vontade, ou Vontade-Sonho, pois me parece que a ordem dos factores
é aqui arbitrária e que importará, isso sim, ir de encontro à máxima de Fernando Pessoa ao afirmar que
“O sonho é o que temos de realmente nosso”.
Para finalizar este meu singelo texto de parabéns pelo êxito por vós alcançado e de incentivo a novas
conquistas, deixo-vos com uma última citação, desta feita de Henry Ford: “É verdadeiramente velho o
Homem que pára de aprender, quer tenha vinte ou oitenta anos”. Não parem, muito obrigado.
Fernando Hilário, Formador de Língua e Comunicação