O enviado de j. j. benitez

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  • 1. J. J. Benitez O Enviado

2. Se o conceito "extraterreno define algum ou alguma coisa como "de fora da Terra", Jesus um dos poucos extraterrenos de que temos constncia histrica. Para Ivn, Satcha, Lara e Tirma - meus filhos - com a esperana de que no precisem de tanto tempo quanto precisei para "descobrir" Jesus de Nazar. Apenas uma Reportagem 3. Sempre que tentei comear esta reportagem sobre Jesus de Nazar de uma forma profunda, douta e complicada, as folhas terminaram na gaveta. Deste modo, instintivamente, me deixei levar... Tampouco entendo por que me envolvi nesta "aventura". Sempre imaginei que falar sobre Cristo fosse coisa de sacerdotes. E, antes de prosseguir, considero imprescindvel advertir o leitor de duas coisas. Por um lado, at bem pouco tempo, minha f neste personagem - Jesus - no era muito profunda. Aos 33 anos, e depois de haver passado por uma famlia crist, por uma universidade crist e por uma sociedade que se classifica como crist, em meu corao havia de tudo menos cristianismo. E durante anos, a vertigem do jornalismo - da prpria vida - acabou por congelar essa f. No me envergonho de confessar: durante anos, Jesus de Nazar me tem conduzido sem cuidado. Mas um dia - em minha tenaz perseguio aos OVNIS - "casualmente" (?) cruzou minha mente o quase esquecido personagem: Jesus de Nazar. E ca na armadilha. A pior em que pode cair um reprter de curiosidade insacivel. A armadilha - como no?! - era uma simples notcia: "Uma equipe de cientistas a servio da NASA no catlicos - demonstrou, aps trs anos de investigao, que o `indivduo' enterrado h dois mil anos numa caverna perto de Jerusalm, e que foi conhecido pelo nome de Jesus de Nazar, emitiu - 36 horas depois de morto - uma misteriosa e desconhecida radiao que `chamuscou' o sudrio que o cobria..." Como jornalista, a notcia me pareceu plena de sensacionalismo. O que pretendiam dizer com "chamuscou o sudrio que o cobria"? E ento, por assim dizer, comeou tudo... pelo menos para mim. Hoje, aps haver investigado o tema com toda profundidade de que fui capaz, decidi pr as idias em ordem. E tentei com este livro-reportagem transmitir ao leitor o que conheci e, sobretudo, senti. Que ningum veja nessas anotaes uma inteno teolgica ou dogmtica. Seria to ridculo quanto presuno de minha parte. Quanto a certos fatos - cientificamente provados pela cincia ultramoderna -, limitei-me a acrescentar, como licena pessoal, algumas hipteses de trabalho sobre um personagem a quem comecei a respeitar... PRIMEIRA PARTE As Sensacionais Descobertas dos Tcnicos da NASA Sobre o Chamado Santo Sudrio de Turim 1. Com Eles Chegou o Escndalo O monumental "escndalo" eclodiu numa manh de setembro de 1977. Os melhores especialistas do mundo sobre o chamado Santo Sudrio de Turim se reuniram em Londres para tomar parte no primeiro simpsio sobre este enigmtico e polmico pano. A assemblia se reunia sob os auspcios da organizao anglicana Institute for Christian Studies. No total, uns duzentos luminares da cincia moderna, correspondentes 4. estrangeiros, a televiso londrina e um personagem mido, carente de carnes - mas no de esprito - e que, para culminar, era navarrino... Jos Luis Carreno Etxeanda - velho missionrio nas terras velhas da sia, teimoso, segundo suas prprias palavras, como o burro de Boal, isento de solenidade e um dos homens mais sbios e santos que conheci no pde resistir tentao e pediu a palavra em meio conferncia. Era a vez do jovem Dr. Eric Jumper, da Academia da Fora Area em Colorado Springs, EUA. Carreno, que dedicou seus setenta anos de vida ao es tudo e investigao do Santo Sudrio de Turim, de p no meio do salo, perguntou ao americano: - Dr. Eric, o senhor deve saber que uma das concluses mais firmes da Comisso de Especialistas a de que se deve descartar categoricamente a hiptese de que as imagens se formaram por contato. Pode nos dizer se seus estudos tridimensionais levam mesma concluso? E o jovem cientista, escandindo e parodiando jovialmente as prprias palavras do navarrino, replicou: - Na minha opinio deve ser... absolutamente... e definitivamente descartada a possibilidade de que as imagens do Sudrio se formam por contato... Aplausos retumbantes encheram o salo, enquanto o velho missionrio murmurava um feliz Thank you! E o "escndalo", por assim dizer, no se fez esperar nos coraes dos ilustres agnsticos que assistiam exposio feita naquele momento. "Uma imagem tridimensional no pano conservado em Turim?" "Uma radiao potente e desconhecida que saiu do corpo do defunto?" "Mas que tipo de hipteses insensatas eram aquelas enumeradas pela equipe da NASA?" "Desde quando um cadver pode causar uma impresso - praticamente queimar - num pano?" A agitao logo alcanou os cinco continentes. No se tratava de uma afirmao gratuita, fruto da imaginao delirante de um cientista. Junto ao Dr. Eric Jumper achava-se uma equipe que foi contando, com a maior sinceridade, o fruto de seus estudos durante os ltimos trs anos. E para isso dispunha dos mais depurados e sofisticados aparelhos. Um instrumental nascido curiosamente sombra da corrida espacial, da conquista do espao... Os americanos referiram-se com especial orgulho ao chamado VP-8, um analisador de imagem utilizado no exame das fotografias que haviam chegado do planeta Marte. Utilizando suas horas livres - com o mesmo entusiasmo de adolescentes construindo um bote - os comandantes, cientistas e peritos da NASA haviam aplicado este mesmo VP-8 a uma fotografia de tamanho natural da imagem que aparece no Sudrio de Turim. Analisaram os vestgios, seguindo o mesmo mtodo usado para as fotos de Marte. Ou seja, decompondo-as em milhes de pontinhos microscpios. E cada ponto foi classificado com trs nmeros, que expressavam suas duas coordenadas cartesianas, mais seu grau de iluminao. 5. Essa informao - explicaram no congresso de Londres - foi submetida a um computador, que finalmente se encarregou de reconstituir a imagem. O resultado foi uma surpreendente revelao: as imagens do Sudrio so TRIDIMENSIONAIS. Mas esta descoberta seria apenas o princpio de uma grande srie de apaixonantes e at agora ignorados detalhes da vida, paixo e morte daquele assombroso "homem" chamado Jesus de Nazar... 2. Autenticidade: Eis a Questo Creio que, como muitas outras pessoas, em alguma ocasio ouvi algo a respeito do mencionado Sudrio de Turim. Mas jamais lhe dei maior ateno da que pude dedicar ao "brao de Santa Teresa" ou caveira de So Cirilo. Para mim, todas essas relquias no possuam o menor valor. E embora sempre tivesse procurado me comportar respeitosamente quando se falava no assunto, no fundo do meu corao eu no cessava de ver com clareza. O obscurantismo, a morbidez ou a distoro sempre acabavam surgindo ante meus olhos quando deparava com qualquer desses relicrios, na maioria das vezes, inclusive, at antiestticos. Por que seria uma exceo o trazido e levado Santo Sudrio de Turim? Alm disso, quantos "santos sudrios" temos conhecido? Em muitas de nossas catedrais, igrejas ou simples capelas so conservados exemplares destes "sagrados" panos, e as pessoas do lugar juram e perjuram que o seu o autntico... Portanto, meus primeiros passos na hora de investigai dirigiram-se em busca de dados que esclarecessem esta pretensa autenticidade. Um dos mais espinhosos obstculos a superar foi o da tardia apario do Sudrio, relativo morte de Jesus. Segundo os dados histricos, o pano s surgiu luz pblica cinco sculos mais tarde, no ano de 525. Era lgico pensar que algum conseguiria falsificar o Sudrio, tanto por razes crematsticas quanto piedosas. Este fato colocou em situao embaraosa - e at muito pouco tempo - a todos que se empenharam em defender a autenticidade do referido pano. Os agnsticos e hipercrticos encontravam nisso um motivo mais do que adicional para tachar o assunto de "puro embuste". E razes no lhes faltavam. A histria assegura que, at a destruio de Jerusalm, o Sudrio ficou escondido em mos crists, que quebraram o tabu hebraico contra panos que houvessem tocado um cadver. E dali, asseguram os estudiosos, o pano passou cidade de Edessa, na Sria (hoje conhecida como Urfa, na Turquia). Os historiadores no sabem quando pde ser efetuado esse traslado. O que parece mais claro que, quando um dos reis de Edessa se tornou apstata, os cristos ocultaram o Sudrio, entaipando-o num buraco nas muralhas. Foi novamente descoberto e venerado em 525. Mas, ao contrrio do que ocorre na atualidade, o pano no foi enrolado numa armao de madeira, mas sim dobrado em quatro partes. E s se podia contemplar a face, que era conhecida pelo nome de "Mandylion". Quatrocentos anos depois - no ano de 944 - foi cedido ao imperador bizantino e trasladado para Constantinopla, onde permaneceu, na igreja de Santa Maria de Blaquerna, at 1204. 6. Neste ano, as hordas sedentas de butim da mal formada Quarta Cruzada saquearam Constantinopla. E o Santo Sudrio desapareceu misteriosamente, para reaparecer quatro anos depois em Besanon (Frana), em poder do padre Otto de Ia Roche, o qual, "casualmente", tinha se incumbido da defesa da referida igreja de Blaquerna. Atravs de vrias vicissitudes, o pano caiu em poder dos prncipes de Savia. Em 1578, para tentar suavizar o duro voto feito por So Carlos Borromeo de ir a p de Milo a Savia para venerar o Sudrio, em ao de graas pelo fim da peste em sua arquidiocese, o prncipe Filiberto o levou a Turim, ao encontro do santo peregrino na metade do caminho. E ali ficou, numa esplndida capela construda por Guarini. Foi enrolado em torno de um cilindro de madeira e alojado, por sua vez, numa urna de prata. Uma pequena arca de madeira acolhe a dita urna, e uma grade dupla de ferro protege a ambas. Se me estendi na rida exposio histrica da rota que, ao que tudo indica, foi percorrida pelo Sudrio, foi com uma dupla inteno. Porque - oh, surpresa! - eis aqui que, com a chegada do sculo XX e de seus revolucionrios conhecimentos, os especialistas em palinologia - moderno ramo da microbotnica - descobriram entre as fibras do linho a melhor prova da idade real do pano... Vejamos. Em 23 de novembro de 1973, e por vontade do cardeal Pellegrino, o Sudrio de Turim foi exposto e mostrado aos italianos atravs da televiso. Nessa noite, um criminologista de renome mundial, o Dr. Max Frei, diretor do laboratrio cientfico da polcia sua, teve acesso ao Sudrio, em companhia de outros cientistas. Em umas modestas tiras de celofane, Max recolheu uma amostra de p existente nas beiradas do pano. E com seu humilde "tesouro" dirigiu-se a Neuchtel, onde submeteu a amostra a seus microscpios eletrnicos. Seu achado seria decisivo. No tecido, apesar do tempo transcorrido, havia gros de plen de plantas desrticas caractersticas da Palestina. Mas isso no era tudo. Max Frei comprovou tambm que o plen mais freqente no Sudrio idntico ao comumente encontrado nos estratos sedimentares do lago Genesar, com uma antiguidade de dois mil anos. E como se isto no bastasse, o palinlogo demonstrou ao mundo que entre as fibras do tecido havia amostras de plen de plantas naturais da sia Menor, mais exatamente das imediaes de Constantinopla. E o mesmo ocorria com gros de origem francesa e italiana. Quer dizer, das zonas por onde o Sudrio havia peregrinado. E Max Frei acrescentou, naquela histrica declarao de 8 de maro de 1976: "...A presena de plen, pertencente a no menos de seis espcies de plantas palestinas, de uma da Turquia e de oito espcies mediterrneas, nos autoriza desde j, mesmo antes de completar a identificao de todos os microfsseis, a chegar seguinte concluso definitiva: o Sudrio no pode ser uma falsificao. Zurique." 7. No ano seguinte, no mencionado simpsio de Londres, o sbio respondeu, ao ser questionado por um cientista de Cambridge: - absolutamente certo que o Sudrio estava na Palestina no sculo I. Para Max Frei, a grande dificuldade desta transcendental investigao havia recado na identificao daqueles gros de plen que hoje esto extintos. Como dizia Max, "se esses grozinhos microscpicos de plen so provenientes da vestimenta de um criminoso, relativamente fcil determinar por que regies e pases andou, j que o plen de plantas atuais j est catalogado. Mas quando se trata de plen antigo - j desaparecido - e de regies remotas, seria preciso consultar incontveis colees de livros... que porm ainda no foram escritos". Apesar disso, Max Frei percorreu Chipre, Palestina, o Negev, Edessa, Anatlia e Istambul, identificando mais de um milho de gros de plen. Cinco anos depois daquele primeiro e definitivo achado, Max Frei voltou a dirigir-se aos estudiosos do Santo Sudrio, no II Congresso Internacional realizado em 1978, em Turim, e apresentou uma lista com 48 espcies de plen, descobertos at agora no tecido do Sudrio. O pano - definitivamente - estava exposto ao ar na Palestina h exatamente dois mil anos. Assim demonstrado categoricamente pela palinologia. Mas as dvidas continuam fluindo em meu crebro... Por exemplo, como um microscpico gro de plen podia resistir passagem do tempo durante dois mil anos? 3. Um Zurbarn Sobre Terilene Quem podia suspeitar que, dois mil anos depois, os especialistas em botnica iam chegar a uma das provas decisivas da autenticidade do Sudrio de Turim? Quando - tocado pela curiosidade - me tranquei na biblioteca da Faculdade de Cincias da Universidade de Bilbao, em busca de informaes referentes ao meu recm descoberto mundo da palinologia, deparei com um dado que respondia a minha dvida sobre a resistncia do gro de plen atravs dos sculos. A cincia explica que os gros de plen, sempre tendentes a formas esfricas ou elipsoidais de dimetros entre dez e duzentos micra, tm seu tecido frtil revestido por uma membrana protetora (esporoderme), composta de substncias de altssima inrcia qumica, que apresenta ao microscpio variadssimas e elegantes estruturas, facilitando com isso o reconhecimento de sua espcie. Se a esta formidvel "resistncia" da "couraa" que cobre cada gro de plen se une a sua fossilizao, a conservao do espcime resultar quase ilimitada. E exatamente isso o que aconteceu com os restos de plen encontrados no tecido que nos interessa. Mas "minhas" descobertas no morreram a... Estudando o plen, soube, por exemplo, que o planeta inteiro (seres vivos, campos, montanhas, edifcios, mquinas) est coberto por mantos de plen. 8. A produo anual de plen das plantas alcana valores impressionantes. Entre a catalogao realizada por Erdtman figura, por exemplo, a Calluna vulgaris (urze), com 4.060 milhes de grozinhos de plen por metro quadrado de bosque... O amieiro, o Alnus glutinosa, alcana igualmente 2.160 milhes de gros... So nmeros to astronmicos - apesar da simplicidade de tais plantas - que, se dispusssemos de viso microscpica, nossa imagem do mundo mudaria por completo. Tudo - at o interior de nossas casas - seria coberto por um manto vegetal de plen, cuja cor mudaria segundo a planta dominante e a estao... A tal ponto o plen impressionante que, para os paleontlogos e antroplogos, chega a constituir uma e muito vital parte da histria de um territrio, convertendo-se assim num precioso documento das variaes do conjunto vegetal. A denominada "revoluo do neoltico", por exemplo (a transio da cultura nmade do homem caador para a sedentria do homem agricultor), ficou registrada pelos ndices de plen; a curva de vegetao florestal declina, enquanto a curva ascendente de plantas herbceas, principalmente as gramneas, sobe a olhos vistos. Contudo, como numa cadeia inesgotvel, a descoberta do plen mostrou aos cientistas outro fator importante, que refora a autenticidade do pano. Refiro-me estrutura e idade do tecido em si. Em sucessivos estudos foi possvel verificar que o Sudrio era feito por um tecido cuja fibra era de linho - segundo o professor Raes -, com uma ou outra fibra de algodo. Foram feitas ampliaes de sua textura at de cinco mil dimetros, porm jamais se encontrou o menor trao de pintura. No ltimo congresso sobre o Sudrio, realizado em Turim, mais dois professores - Baima Bollone e Ettore Morano - mostraram ao mundo que a sarja de quatro em espiga, ou "rabo- de-peixe", que forma o Manto Sagrado idntica da de outro tecido achado numa tumba egpcia datada do ano 137 de nossa era. E o mesmo se d com a urdidura e composio. No devemos tambm nos maravilhar com isto, j que em qualquer museu egpcio ou pr- incaico, por exemplo, h tecidos que remontam a quatro ou cinco mil anos antes de nossa era, e sua perfeio at hoje surpreende nossos melhores fabricantes. Em compensao, o tecido "em sarja" s foi conhecido na Europa semibrbara bem depois do sculo XIV... Como entender ento o j referido absurdo de uma falsificao? Pensar, enfim, que a imagem do Sudrio de Turim produto de uma manipulao com pintura no sculo XIII - como tm acusado os detratores - juntar o disparate ao absurdo. Algo assim como assegurar que algum descobriu uma pintura de Zurbarn sobre terilene... Como se sabe, historicamente, a indstria txtil era fundamental na vida social e econmica do Egito. Subvencionavam o jovem aprendiz de tecelo, cuja formao tcnica podia durar at cinco anos. A cidade de Palmira, por exemplo, emprio da sarja do linho, distava algumas jornadas de caravana de Jerusalm. Jos de Arimatia no deve ter tido dificuldade em encontrar este pano nobre em qualquer tenda judia. 9. Mas os achados da cincia ultramoderna - que foi posta a estudar o Sudrio de Turim - mal comearam. E no ltimo simpsio, em 1978, Max Frei e Aurelio Ghio iniciaram uma experincia que, algum dia, pode se tornar revolucionria. Estes cientistas introduziram entre o forro e o pano uma espcie de "aspirador" em miniatura, absorvendo o p que se encontrava no Sudrio. Esse material foi depositado sobre lminas e analisado com os mais potentes microscpios eletrnicos. A finalidade da experincia consiste em isolar os microcristais e confront-los com aqueles que se encontram no interior das cavernas do monte Glgota. Mas esses resultados at agora no foram tornados pblicos. O que temos intudo que Jesus de Nazar "sabia" que vinte sculos depois de sua morte chegaria s mos do homem um curioso invento: a fotografia... 4. Um As na Manga de Jesus. de Nazar Quando consultei meus amigos e companheiros, profissionais de fotografia - Fernando Mgica, Manu Cecilio, Giani Ferrari, Alberto Schommer, e um grande etctera - todos terminaram com um dar de ombros. Ningum podia compreender como a imagem que aparece numa tela de 4,36X1,10m pode ser, na verdade, um "negativo fotogrfico". E da se segue que, tal como tem ocorrido com outras revelaes sensacionais, no momento no temos explicao para esta "caracterstica" do Sudrio de Turim. Mas faamos um pouco de histria. Imagino a cara de surpresa do bom e esforado Secondo Pia, um advogado e aficionado recm-estreado na arte fotogrfica, quando, na noite de 28 de maro de 1898, viu entre suas mos o verdadeiro rosto de Jesus de Nazar... No era freqente o Sudrio de Turim ser exposto curiosidade das pessoas. Na primavera de 1898, em razo do casamento do futuro rei Vtor Emanuel III, abriu-se uma nova exceo. O pano seria exibido por oito dias e visto por nada mais nada menos que oitocentos mil peregrinos de todo o mundo. Mas aquela nova exibio teria um carter muito especial, para no dizer histrico. E o protagonista seria o citado advogado, Secondo Pia, o primeiro ser humano a contemplar o "auto-retrato" de Cristo. Eis aqui, em resumo, sua peripcia: Pia herdara um tal amor pela sua formosa terra de Piemonte, que desde jovem era visto percorrendo os vales de Asti, lpis na mo, e penetrando nos templos e mosteiros para admirar e esboar seus afrescos, colunas, grades e vitrais. De modo que, ao fazer vinte anos, por volta de 1870, e inteirar-se das maravilhas que comeavam a fazer com a fotografia - inventada uns trinta anos antes por Daguerre -, viu abrir-se um cu de possibilidades para registrar suas descobertas artsticas de cada dia. J em 1876, elaborando ele mesmo em casa seus prprios negativos em placas de cristal, produzia excelentes fotografias. Claro que, embora formado em Direito, seu corao 10. seguia o objetivo. E com isso se desenvolvera nele uma grande fora para superar obstculos. Muitas vezes, por exemplo, tendo de retratar o interior de templos, e vendo que a luz solar no o atingia, ele montava uma bateria de espelhos que refletiam a claridade do ar livre da praa. Outras vezes deparava com a rabugenta hostilidade dos aldees e senhores da terra. E isso era algo mais difcil de domar do que as leis da natureza. Mas, de qualquer modo, de uma coisa pde gabar-se por toda a vida: de no ter jamais retocado um negativo. Foi lgico, pois, que a Associao dos Aficionados da Fotografia de Turim o elegesse seu presidente. E seguem as "casualidades"... Naquela primavera das bodas reais, parece que um grande devoto do Sudrio de Turim, o sacerdote salesiano Noguiera de Valslice, estava namorando uma idia: aproveitar aquela ocasio para tirar as fotografias do pano. E, sem perda de tempo, levou sua proposta ao palcio. Mas Sua Majestade o rei Humberto I, chefe da casa de Savia, e portanto proprietrio da relquia, no gostou da coisa. No seria isso uma intruso desrespeitosa no sacrossanto? As cpias tiradas seriam tratadas com venerao? No era uma sordidez venderem no mercado fotografias de algo sagrado? Uma vez mais, o progresso esbarrava nas paredes refratrias do tradicionalismo mal- entendido... Foi o baro de Manno quem se encarregou de aquietar as perplexidades da conscincia real. No era um dever fixar a figura do Sudrio em fotografias, uma vez que um dia ela pereceria sem deixar uma cpia fidedigna? No esteve o Sudrio efetivamente a ponto de sucumbir nos vrios incndios de sua histria? E quem podia garantir que, enquanto milhares de pessoas desfilavam diante do Sudrio durante os oito dias de exposio, algum fotgrafo sub-reptcio no conseguisse tirar uma pssima cpia clandestina que o desprestigiaria? E o rei se deixou convencer. E o nome de Pia foi apontado como o profissional mais honesto e capacitado para obter as primeiras chapas fotogrficas do Sudrio. Ningum podia suspeitar ento no que resultaria daquela audcia... Mas o que Secondo Pia tampouco imaginava era a fileira de obstculos que o aguardava para poder realizar a tarefa. Ele mesmo o contou nove anos depois, em seu Memoria sulla riproduzione fotografica della Santissima Sindone. Com efeito, a catedral de So Joo Evangelista - onde ficaria exposto o Sudrio - era simplesmente tenebrosa. Como obter luz para a impresso das chapas? - foi a primeira pergunta que o fotgrafo se fez. Iam desfilar, por assim dizer, oitocentas mil pessoas em oito dias. Como cada grupo - sem contar os empurres - tinha seus minutos de desfile e contemplao estritamente marcados, como arranjaria ele um intervalo de sossego para a sua complicada operao? Nem ele nem ningum em Turim tinham qualquer experincia no uso da eletricidade para fotografar interiores. Alm disso, nem na catedral nem na cidade havia fiao eltrica ou 11. rede pblica... Ao problema se juntava a necessidade de montar - e desmontar imediatamente aps - uma plataforma diante do Sudrio onde coubessem ele e sua parafernlia fotogrfica, j que o pano estaria elevado para ser visto pela multido. Teria tempo para isso? Homem de luta, Pia comeou a treinar para a tarefa. Como no tinha instalao eltrica em sua casa, ps-se a experimentar nos laboratrios de fsica: retratava objetos luz do dia e voltava logo a retrat-los na luz eltrica dos laboratrios, anotando intensidades de luz, tempo de exposio, sensibilidade das chapas... Em meados de maio se considerou suficientemente preparado para a tarefa. Mas as coisas no seriam to simples... Antes de mais nada descobriu, examinando o programa, que na exgua ordem de acontecimentos restaram apenas dois intervalos que ele podia aproveitar. Um, do meio-dia s trs do dia 25 de maio; outro, na tarde do dia 28. A primeira tentativa deu-se no dia 25. Tinha pouco mais de duas horas para montar sua plataforma, instalar a enorme cmera fotogrfica, acionar seus dnamos, estender a fiao eltrica, fixar as luzes, testar todos os detalhes, expor as chapas e logo desmontar todo aquele aparato para deixar entrar a piedosa multido. Sua cmara escura para revelao j estava instalada na sacristia, atrs da catedral, j que urgia ver os resultados. E foi a que chegaram os dramticos momentos... Avanando lentamente sob uma carga de madeira de vrios tamanhos e formas, de ferramentas e porcas, os ajudantes de Pia cruzaram a porta do comungatrio e penetraram no presbitrio, onde estava exposto o Sudrio. Primeiro estenderam uns trilhos de madeira, como uma pequena linha de trem, e logo comearam a atarraxar o estrado construdo dias antes e posteriormente desmontado para o transporte. Terminada a operao, ficava pronta uma plataforma de 1,5X2m, esperando a chegada da cmera. As pernas que sustinham a plataforma, de 1,70m de altura, possuam rodinhas que permitiam sua locomoo frente ou atrs sobre os trilhos, enquanto que sobre ela descansava outro suporte de madeira. Pia subiu e se colocou atrs deste. Ento, seus ajudantes lhe passaram a volumosa cmera de madeira, com braadeira de metal, que Pia colocou cuidadosamente sobre o suporte. J estava carregada com chapa sensvel, que media 51X63cm. A lente Voiglnder estava focalizada diretamente no centro do Sudrio. Foram acesos os dois focos de ambos os lados da plataforma, inundando a relquia com uma vvida luz. Mas a corrente era irregular, e as luzes se avivavam ou se debilitavam quase a cada minuto. Cada grupo era alimentado por seu prprio gerador, e Pia logo notou que o esquerdo era mais brilhante que o direito. Contudo, j havia preparado filtros translcidos de vidro esmerilhado. E no momento certo ordenou que seus ajudantes os fixassem diante dos focos, enquanto ele colocava outro delgado filtro amarelo sobre a lente. Alguns minutos depois, anunciou que estava pronto. 12. E, com uma prece silenciosa, exps a chapa. Tirou seu relgio de bolso e comeou a cronometrar. Havia decidido, como resultado de suas experincias, levar a cabo duas exposies: uma de quatorze minutos e outra de vinte. E ali estava Pia, de p em sua plataforma, atrs de uma enorme cmera, penosamente consciente de que a intermitncia daquela corrente pulsava de modo desigual seus arcos voltaicos. Mas j no havia nada a fazer para remediar. Deu uma olhada no relgio: mais nove minutos e sua primeira chapa estaria pronta para ser revelada. Exporia porm a segunda, enquanto comeava a revelao da primeira em sua cmara escura na sacristia. Logo, um estalido como cristal se rachando o fez levantar a vista, sobressaltado. Efetivamente, com o enorme calor dos focos, os filtros se haviam partido, ficando imprestveis. Pia se deteve um momento... No fim, deu de ombros e desceu da plataforma. J no havia nada a fazer. Era intil seguir tentando sem os filtros. No havia tempo para procurar outros. J passava das duas e logo a catedral se abriria de novo ao pblico. Pia teria de esperar trs dias para a segunda e ltima tentativa. Afinal, pensou para consolar-se, havia resolvido alguns problemas. Por exemplo, durante aqueles trs dias de graa, seus eletricistas regulariam a corrente dos geradores. A prxima tentativa tinha que sair perfeita... Mas Secondo Pia no contava com outras mobilssimas interferncias. Na vez seguinte, quando focalizasse sua lente sobre a relquia, a luz de seus focos teria de atravessar um espesso cristal. O que havia acontecido? A princesa Clotilde, que havia chorado ao beijar aquele pano, ficara horrorizada ao ver que se achava exposto, segundo ela, a contaminaes e destroos. A fumaa das velas, o incenso que pairava no ar, e sobretudo aqueles refletores do fotgrafo que vertiam um jorro de calor e luz sobre o tecido indefeso, deixavam-na inquieta. Era preciso voltar a pr o grosso cristal na moldura de proteo. Clotilde tinha uma venerao clida e personalssima pelo Sudrio. E, com efeito, tinha sido ela a escolhida - depois da exposio de 1868 - para substituir o velho forro gasto do Sudrio. E realizou toda a tarefa de joelhos. Por fim, o grosso cristal protetor foi novamente colocado sobre o Sudrio. s nove e meia da noite do dia 28, Secondo Pia chegou catedral para descobrir que lhe haviam roubado as porcas que deixara na sacristia, junto com a plataforma desmontada. Com um profundo suspiro, ordenou a seus ajudantes que montassem a plataforma com qualquer material que pudessem encontrar. Logo Pia notou que o espesso cristal que protegia o Sudrio refletia seus dois focos e os ornamentos dourados do presbitrio. s 10:45 a plataforma j estava montada, sustentada por cordas e arames. Para dar lente uma viso mais despojada, Pia moveu para trs sua plataforma, fazendo-a deslizar 13. sobre os trilhos at uma distncia total de uns oito metros e meio. Agora, os dois refletores davam uma iluminao constante, enquanto os novos filtros de vidro esmerilhado suavizavam seu brilho. J eram onze da noite quando Pia destampou a lente, expondo sua primeira chapa para uma durao de quatorze minutos. Depois do fracasso do dia 25, desistira de instalar a cmara escura na sacristia. Faria a revelao em sua casa, a cinco minutos de carruagem. Devia ser meia-noite quando, ao fim de sua exposio de vinte minutos, o advogado recolheu suas duas chapas e se apressou a voltar para casa. Seus ajudantes ficaram para trs, desmontando a plataforma. E aconteceu o inesperado... "Havia naquela mesma regio pastores que viviam no campo, e guardavam o seu rebanho durante as viglias da noite. E um anjo do Senhor veio sobre eles, e a glria do Senhor os cercou de resplendor, e ficaram tomados de grande temor. E o anjo lhes disse: `No temais, pois vos trago novas de grande alegria: nasceu hoje o Salvador... "' (Lucas, 2, 8- 11). Brilhava apenas uma luzinha vermelha em sua cmara escura quando Pia depositou com extremo cuidado suas duas enormes chapas na soluo de oxalato de ferro. E comearam a aparecer umas linhas tmidas... Pia soltou um suspiro de alvio. Pelo menos alguma coisa se havia obtido... A primeira coisa que percebeu naquela primeira chapa gotejante, ao levant-la at a luz vermelha, foi a parte superior do altar e, sobre ele, a imponente moldura que continha a relquia. Mas aquela grande mancha pardacenta relativa ao relevo do corpo comeava a assumir uma caracterstica insuspeitada. Fez ento a chapa girar sobre um dos ngulos e se ps a observar o rosto. Santo Deus!... As mos comearam a tremer. E a grande chapa, ainda mida e escorregadia, quase caiu ao solo. Aquela figura, ainda com os olhos revirados pela morte, era real... Aquele - assombrosamente - era o autntico rosto do chamado Jesus de Nazar. E Secondo Pia era o primeiro ser humano a contempl-lo aps dezenove sculos... Mas isto significava que a figura visvel no pano era um "negativo" fotogrfico em tamanho natural. Por isso, a chapa fotogrfica em negativo de Secondo se convertia num retrato em positivo. "Encerrado em minha cmara escura", escreveu Pia mais tarde, "totalmente concentrado em meu trabalho, experimentei uma intensa emoo quando, durante a revelao, vi pela primeira vez surgir o Santo Rosto na chapa, com tal clareza que fiquei gelado." E - como no?! - quando a notcia, uma das mais sensacionais que o homem da Terra pde conhecer, foi destacada nas manchetes dos jornais, os agnsticos, os desmancha- prazeres e assemelhados repeliram o fato, afirmando olimpicamente que aquele negativo, sem dvida, era obra de algum falsificador... Neste caso, a argumentao dos cticos era frgil como um recm-nascido. Todos os estudiosos, especialmente os profissionais da fotografia, assinalaram que era inconcebvel que, dezenove sculos antes, "algum" pudesse ter criado um "negativo fotogrfico" em tamanho natural... 14. Eu inclusive, em pleno sculo XX, e com as sofisticadas tcnicas fotogrficas hoje disponveis, acho difcil igualar a imagem em negativo daquele pano. Como devem estar lembrados, o primeiro negativo que a atual humanidade produziu em laboratrios chegou 1.800 anos depois do Sudrio. E isto graas ao trabalho de inmeros cientistas: uns, melhorando a cmara escura; outros, aperfeioando as lentes; uns, investigando os sais de prata sensveis luz; outros, procurando achar o modo de eliminar os sais no afetados, e outros, enfim, tentando fixar aqueles modificados pela ao da luz... Foi s em 1841, quando o grande astrnomo, matemtico, qumico e humanista ingls, Sir U.W.F. Herschel, pde batizar a sua criatura pela primeira vez com o nome de "negativo", coroando assim as descobertas de Niepce, Daguerre, Talbot etc. O assunto, definitivamente, era coisa de enlouquecer. Na investigao do Santo Sudrio de Turim, os mistrios se encadeiam s surpresas, e estas - como num jogo - quelas... E comecei a crer, em vista do que havia estudado, que Jesus de Nazar - que devia levar em conta tambm os custicos homens do sculo XX - tinha guardado um s na manga... 5. A Imagem No Tem Origem Qumica O caso que, como se a confuso dos cientistas fosse pouca, nas ltimas anlises ticas do pano, os investigadores observaram outro detalhe surpreendente. Enquanto a imagem do rosto est em negativo, os fiozinhos de sangue aparecem em positivo. Algo como se o sangue se houvesse pregado por contato tela, enquanto o rosto somente deixou seus traos. Mas, ao conhecer este detalhe, recordei as palavras do jovem comandante da NASA, Eric Jumper: - "...Uma hipottica ao qumica ou bacteriolgica fica excluda na formao da imagem no pano. Quer dizer, h que descartar a formao dos traos por contato." No conseguia entender. Ali, em minha opinio, existia uma contradio. Se a imagem era o misterioso produto de uma radiao ou energia, como diabos se haviam formado as estrias e manchas de sangue? Porque eram rastros de sangue... Ou no? Vejamos as provas e opinies dos mais renomados especialistas em sangue. A imagem no se formou sobre o tecido por uma transposio da matria. Assim no se pde formar um acontecimento externo, como a pintura teria podido provocar. Tampouco, asseguram os cientistas, resultado de uma reao qumica... Esta ltima tese havia sido at ento, tal e como assinalava anteriormente, a "explicao" total da formao dos relevos no Sudrio de Turim. O primeiro cientista a estudar a gnese dos relevos de carter fotograficamente negativo foi o bilogo Dr. Paul Vignon, adjunto do professor Yves Delage, da Sorbonne, acadmico da Frana. Estudando as propriedades qumicas do alos, constatou que este oxidava facilmente em presena de substncias alcalinas, produzindo-se nessa reao uma matria pardacenta que penetrava com facilidade nas fibras de um tecido, aderindo tenazmente a ele. E que reativos alcalinos havia no cadver de Jesus de Nazar? 15. Emanaes amoniacais, conclui Vignon, provenientes do suor e sobretudo do sangue, ambos lquidos orgnicos que contm uria e, portanto, amonaco em estado potencial. O Dr. Vignon aplicou teias de alos embebidas em soluo oleosa sobre moldes de gesso umedecidos com uma soluo de carbonato de amnia, obtendo assim impresses que apresentavam certa analogia com as do Sudrio. Vignon batizou de "processo vaporigrfico" este procedimento para obter imagens positivas. A inevitvel objeo a esta hiptese foi a de que a difuso dos vapores no ortogonal, ou seja, os gases amoniacais no teriam se elevado em ngulo reto, e sim teriam se difundido em todas as direes. E isto por mais quieta que tivesse estado a atmosfera da gruta... Alm disso, objeta o Dr. Dezani, da Universidade de Turim, para se obter uma figura to uniforme como a conservada no Sudrio, seria preciso uma emanao regular do amonaco, que biologicamente difcil de explicar. Com efeito, a distribuio das glndulas sudorparas no uniforme no corpo humano, como tampouco o sua atividade, nem a composio do lquido secretado. Mais ainda, "o suor de sangue de Jesus no Getsmani e a caminho do Calvrio devia ter sido absorvido pela tnica, no que respeita hiptese de Vignon", prossegue o Dr. Dezani. Finalmente, "o suor do crucificado exposto nu ao sol e ao ar durante vrias horas teve de evaporar-se, a uria cristalizando-se". Quer dizer, passando esta a um estado fsico no qual ficaria difcil o processo de fermentao. Esta se verifica facilmente a uma temperatura superior a vinte graus. Por outro lado o faz lentamente, a temperaturas inferiores. E temos de recordar que a morte do Cristo teve lugar, segundo parece, em abril, nas horas prximas ao entardecer e a uma altitude, em relao ao mar, similar a de Madri. Ou seja, abaixo dos citados vinte graus. Mas antes de passar ao excepcional captulo da misteriosa radiao ocorrida na escura gruta onde repousava aquele cadver, quero expor os resultados das investigaes dos mdicos sobre as torturas e morte do chamado Jesus de Nazar. "Detalhes" de causar calafrios e que s pudemos conhecer agora, estudando o manto de Turim. Um captulo que me encheu de horror e assombro... Depois de dezessete anos na fascinante profisso jornalstica, creio que aprendi algo, ao menos no que se refere tcnica - "mecnica" - da busca, elaborao e transmisso das notcias. Considero-me sobretudo um reprter. Um "impenitente" caador de boas ou ms- novas, que, quase com certeza, vai "ralar" atrs da notcia... E digo isto porque, no caso que me ocupa agora - esta grande reportagem de Jesus de Nazar -, lendo e relendo os Evangelhos, pude intuir que ali faltam muitos dados... Em minha opinio - exceo feita a So Mateus -, os evangelistas no fariam um papel muito brilhante como reprteres nos dias de hoje. s vezes me pergunto o que teria acontecido se uma equipe completa de jornalistas pudesse ter acompanhado Jesus de Nazar pelo menos em seus trs ltimos anos de vida. 16. Quantos detalhes, episdios, notcias ou enfoques sobre o Nazareno se conservariam at hoje! Mas estava claro que - por alguma razo que quase todos ignoramos - os jornalistas, mais uma vez, foram deixados de fora... E que fique registrado que, se eu algum dia puder chegar at Jesus, esta uma das primeiras perguntas do "questionrio" que tenho preparado. Embora, a bem da verdade, parea que o Nazareno "sabia o que estava fazendo". A est esse "documento" nico - o pano conservado na cidade de Turim - e que, como comentava no incio, comeou a revelar a mdicos, cientistas e especialistas uma infinidade de notcias que no conhecamos. Uma srie de dados que simplesmente me encheram de horror. Ainda que eu esteja acostumado a ver cadveres e a realizar reportagens e cobrir todo o tipo de calamidades, desastres e morticnios, fiquei abalado com a anlise do que agora nos mostrado em relao s torturas e morte que sofreu Jesus. E senti tanto averso quanto espanto. Vejamos, a ttulo de resumo, alguns desses "detalhes" que no aparecem nos Evangelhos e que ficaram patentes no referido manto: 1. Jesus de Nazar foi aoitado selvagemente, recebendo golpes at nos testculos. Apenas a rea do corao foi poupada - intencionalmente do castigo. 2. O Nazareno no foi pregado pelas palmas das mos, e sim pelos pulsos. 3. Por alguma razo que ignoramos, o cravo destinado ao pulso direito no entrou bem, sendo preciso despreg-lo e tentar de novo por duas ou trs vezes... 4. Certamente, Jesus de Nazar no era coxo, como se chegou a dizer. 5. Hoje sabemos que Jesus tinha 1,81m de altura. 6. Os Evangelistas, Esses "Reprteres" Medocres 6. Esta grande corpulncia, porm, tornou mais penosa sua agonia, ao ter que apoiar-se no cravo - ou cravos - que atravessou ambos os ps. 7. A "coroa" de espinhos no era tal. Tratava-se de um "capacete" de espinhos. 8. Teve parte da barba brutalmente arrancada. 9. No caminho at o Glgota, Jesus de Nazar carregou um nico tronco nos ombros, pesando uns sessenta quilos. 10. Foi amarrado por um dos tornozelos aos demais que iam ser justiados. 11. A lana perfurou-lhe a parte direita do corao, embora Jesus j estivesse morto. 17. 12. Sobre suas plpebras, uma vez morto, foram colocadas duas moedas de bronze. 7. "Projeo Mental" da Paixo e Morte do Nazareno: Uma Experincia Inesquecvel Sempre imaginei que Jesus de Nazar havia sido um judeu tpico. Ou seja, dono de uma altura similar mdia mediterrnea. Talvez com 1,60 a 1,65m de estatura. Mas no. Tambm me enganava quanto a isso. Muito antes, certamente, que os cientistas da NASA decidissem trabalhar no Sudrio de Turim, outros peritos - especialmente mdicos de grande renome - extraram suculentas concluses das minuciosas checagens a que submeteram o manto. Um destes prestigiosos cirurgies, o Dr. Cordiglia, atravs de quatro pginas de medidas antropomtricas, afirma, em importante estudo, que o "homem" do Sudrio media 1,81m. Segundo o mdico, "a partir destes dados vemo-nos diante de um homem antropometricamente perfeito. Extraordinrio em toda a sua imponente formosura, que se transluz das delicadas linhas do rosto". E acrescenta: "Se levarmos em conta o conceito unitrio do organismo e o significado biolgico do psiquismo... e se aceitarmos a correlao que os vrios autores sustentam entre as caractersticas psquicas e somticas, temos que ver nele tambm um indivduo psiquicamente perfeito." Em compensao, Cordiglia no consegue situar Jesus - pelo menos atravs de anlises de suas medidas corporais - em nenhum grupo tnico. Isto resulta num extremo paradoxo se levarmos em conta as "razes" do Nazareno ao longo da Histria do povo judeu... A cabea do "homem" que esteve envolto no Sudrio de Turim, assegura o especialista, era claramente mesocfala, seu ndice sendo de 79,9. E embora a considervel estatura de Jesus no parea corresponder ao citado ndice, todos os relatrios mdicos, no entanto, apontam para o tipo mediterrneo. "Mas afirmar, como muitos tm feito, fiando-se apenas na fisionomia", enfatiza Cordiglia, "que reflete as caractersticas semticas, ignorar os demais elementos especiais e excepcionais que, por seu alto grau de perfeio corporal, nos obrigam a classific-lo fora e acima de qualquer grupo tnico." Do ponto de vista teolgico, esta concluso no de surpreender, j que, segundo os Evangelhos, Jesus foi concebido por obra do Esprito Santo. No houve, portanto, interveno alguma do cdigo gentico do homem. De minha parte - e sempre considerando estas afirmaes como uma pura opinio pessoal -, depois de ler e refletir sobre o Antigo Testamento, inclino-me a pensar que a vinda de Jesus a este planeta exigiu toda uma complexa e, para ns, incompreensvel srie de "medidas" prvias. E uma dessas condies, talvez bsica, foi a "eleio" e lenta preparao de um povo ou grupo tnico. Uma raa, enfim, conhecida por todos e que, precisamente, foi classificada como "o povo eleito"... "Eleito", sem dvida, a partir do ponto de vista fsico, mas que - e nisto compartilho o critrio de Cordiglia - ia desempenhar um nico papel coadjuvante. E a melhor prova, 18. enfim, aqui est: as "anormais" medidas corporais do Nazareno, se tomarmos como referncia as caractersticas tpicas dos judeus. Mas voltemos ao tema central. Outras obras tero tempo de analisar com um mximo de objetividade este e outros pontos reveladores do Antigo Testamento que, na minha humilde opinio, no esto suficientemente claros. Tal e como fiz notar no incio deste captulo, a raiz das descobertas dos tcnicos da NASA, a paixo e morte de Jesus de Nazar, foi se enriquecendo com exatides e dados que no conhecamos atravs dos Evangelhos e outros escritos e que, do ponto de vista puramente narrativo ou do conhecimento daquele fato, revelam-se apaixonantes. Juntando estas novas informaes aos testemunhos dos quatro evangelistas, tomei a liberdade de "reconstituir" a parte final dessa paixo e morte do Nazareno. Um relato, hora aps hora, tal e como o escreveria, talvez, um reprter dos nossos dias... Mas, procurando o mximo de realismo, introduzi uma novidade muito especial em tal "reconstituio". Trs pessoas, entre as quais me incluo, levaram a cabo - em separado - o que a moderna cincia da parapsicologia define como "projeo mental". Tentarei explicar brevemente. Cada membro da "equipe" - atravs de umas tcnicas concretas da relaxao (quase hipnose) - "projetou-se" mentalmente no tempo - o perodo - em que decorreu o suplcio e a crucificao do Nazareno. Estas tcnicas - bem conhecidas de todos os que praticam ioga, controle mental, meditao transcendental etc. - visam basicamente a um declnio dos ciclos cerebrais por segundo. Desta forma, o crebro emite um tipo concreto de ondas, passando a um estado especial de conscincia. Um "mundo' no qual a mente cai livre: fora do tempo e do espao. Pois bem, um dos mltiplos "exerccios" ou "experincias" que o ser humano pode viver ou sentir em tal estado Alfa exatamente o de "projetar" sua mente a outro tempo ou outro lugar. Os resultados - como nesta ocasio - so sempre fascinantes. Com grande surpresa de nossa parte, na hora de comparar os resultados, observamos que no havia grandes diferenas entre o que cada um de ns havia "visto", "ouvido" e, sobretudo, "sentido" na Jerusalm de dois mil anos atrs. Eis aqui o resultado daquele apaixonante salto no tempo: SEXTA-FEIRA, 8:45 OURO DO TEMPLO CONTRA JESUS ...Pilatos, cada vez mais contrariado ante o aspecto que ganhava aquele sbito assunto dos judeus e do chamado Jesus de Nazar, mandou que trouxessem o detido novamente sua presena. A guarda no demorou em levar Jesus diante do procurador. E Pilatos, uma vez mais, passeou em silncio diante daquele polmico galileu, que tanto conseguira irritar os sacerdotes e fariseus. Aquela circunstncia - para que ocultar? -, e dado o profundo desprezo de Pilatos pelos judeus incultos e venenosos, havia despertado no procurador uma certa corrente de simpatia pelo "suspeito". 19. O romano, conhecedor das aes dos escribas e esbirros do Sindrio, soube desde o princpio que o chamado Jesus, o Nazareno, j havia sido golpeado no rosto. Aquele hematoma na face era a prova mais clara. Jesus seguia com a cabea ligeiramente inclinada para o solo. Aquela posio, submissa e silenciosa, crispou os nervos de Pilatos, j mais do que alterados pela intransigncia e agressividade dos judeus que lhe haviam trazido o Nazareno e que, desde as primeiras horas da manh, se aglomeravam diante das escadarias do pretrio. Erguendo a vista para Jesus, Pilatos tornou a perguntar: - s o rei dos judeus? O detido fitou o procurador e, com voz grave, contestou: - Dizes isto por ti mesmo ou outros te disseram sobre mim? Aquilo exasperou o romano, que, gesticulando, encarou Jesus enquanto gritava, a curta distncia do seu rosto: - Sou por acaso judeu?... Teu povo e os pontfices te entregaram a mim! Que fizeste? Responde, maldito sejas! Mas Pilatos no observou a menor sombra de temor naquele gigante. O olhar de Jesus continuava fixo nos olhos do procurador. E o romano se preveniu no mesmo instante contra algo inslito, pelo menos para ele, acostumado a lidar com todo tipo de ladres, traidores e meliantes: o rosto, o olhar e as palavras daquele homem nada tinham a ver com os delinqentes e sediciosos que havia julgado e condenado. Aquele gigante lhe inspirava respeito. - Meu reino no pertence a este mundo - replicou Jesus. - Se meu reino fosse deste mundo, meus sditos lutariam para que eu no fosse entregue aos judeus... Mas meu reino no fica aqui. A surpresa transformou Pilatos. - Ento, tu s rei?... - Tu o dizes... Eu sou rei. Pilatos fez um gesto de incompreenso e, dando as costas a Jesus, comeou a caminhar at a grande porta do pretrio, onde a inquieta multido aguardava. Mas as palavras do Nazareno o obrigaram a parar e escutar. - E para isso nasci e para isso vim ao mundo. Para testemunhar a verdade... Todo aquele que da verdade escuta minha voz. Pilatos esboou um meio sorriso ctico e, sinalizando com o dedo a seus pretorianos, e posteriormente at o lugar onde a turba clamava, resmungou: 20. - A verdade... e o que a verdade? E, sem esperar resposta, seguiu seu caminho at o exterior do pretrio. Junto dele seguiram alguns centuries e parte da guarda, incumbidos de zelar pela segurana do representante do Csar. A multido voltou a inflamar-se ao ver Pilatos. E irrompeu em gritos contra Jesus de Nazar. Um dos centuries se aproximou do procurador e sussurrou-lhe no ouvido: - Sabemos que gente paga pelo Sindrio est agitando a massa e subornando-a para que soltes Barrabs e condenes o Nazareno. Ans repartiu esta noite o ouro do tesouro do templo e apontou o nome daqueles que o receberam. Supomos que os porcos desses sacerdotes tentaro recuper-lo... Pilatos no fez o menor comentrio e, erguendo o brao direito, pediu silncio. Segundos depois, a multido se acalmou. Apenas alguns latidos eram ouvidos nas ruas pr mas. At os animais pareciam alterados naquela luminosa manh de abril. E Pilatos, adotando um tom solene, gritou: - Eu no vejo nele culpa alguma... costume vosso soltar um prisioneiro durante a Pscoa... Um murmrio comeou a crescer entre as centenas de manifestantes. O procurador, erguendo a voz, perguntou: - Quereis que eu solte o rei dos judeus? As palavras do procurador foram abafadas por uma exploso de imprecaes e mau humor. Os judeus se sentiram enganados pelo romano e aquilo precipitou os acontecimentos. E o que a princpio foram gritos isolados em favor de Barrabs, misturados com alguns em defesa de Jesus, acabou convertendo-se numa nica e atroadora voz, que repetia, j presa da mais absoluta histeria: - Barrabs! Barrabs! Ao ver esta situao, Pilatos pediu uma bacia. E, com a teatralidade que o caracterizava, ergueu-a sobre a cabea, mostrando-a excitada multido. Depois lavou as mos, ao tempo que gritava: - Sou inocente deste sangue! E, dando meia-volta, entrou novamente no aposento onde Jesus esperava. Mas Pilatos no se atreveu a fitar o rosto do detido. E, nutrindo ainda uma certa esperana, deu instrues a seus soldados para que fosse aoitado de tal forma que, ao v-lo, a multido se acalmasse. SEXTA-FEIRA, 9:15 URINARAM SOBRE 0 GALILEU 21. A guarda conduziu o Nazareno at o espaoso ptio interno do palcio. Jesus pde ver um dos romanos desatar alguns cavalos e traz-los at o extremo oposto do local. Ali voltou a atar as rdeas argola de ferro existente sobre um moiro de pedra. E lentamente, com um amplo sorriso de mofa, dirigiu-se at o Nazareno, que ainda esperava sob os prticos que rodeavam o ptio retangular. A empurres, Jesus atravessou o espao empedrado, encharcado aqui e ali pelos pestilentos esterco e urina das cavalgaduras. O Nazareno mal pde se aperceber da macia entrada no ptio de quase todos os soldados de folga que formavam a coorte do procurador. O romano que momentos antes desatara a meia dezena de cavalos, o despojou com violncia do manto, fazendo o mesmo com a tnica branca. Outro soldado comeou a amarrar-lhe pelos pulsos com uma grossa corda, obrigando-o a inclinar-se sobre o moiro, que acabava de ficar livre e que no mediria muito acima de quarenta centmetros. Aquela postura forada fez com que Jesus - devido a sua considervel altura - tivesse que separar ao extremo suas pernas. E os compridos cabelos logo caram diante de seus olhos. Aquela postura forada fez com que Jesus - devido a sua considervel altura - tivesse que separar ao extremo as suas pernas. E os compridos cabelos logo caram diante de seus olhos. Mas aquilo foi feito ouvindo-se o alegre e constante canto dos bandos de andorinhas que comeavam a chegar a Jerusalm. No tardou a sentir brutal costas que o fez estremecer Mas logo um golpe seco e seus joelhos se vergaram. De ambos os lados da brbara chuva de golpes, uma sistemtica agresso ao corpo do prisioneiro Utilizavam para isso grandes chicotes, dotados por sua vez de tiras de couro com pelotas de chumbo nas pontas. Logo os gritos e xingamentos da soldadesca se confundiram como estalar das tiras sobre a carne de Jesus, co o arfar dos verdugos e com os relinchos dos cavalos, perturbados com a presena dos soldados. E o sangue comeou a brotar ao longo das costas, costelas, coxas e panturrilhas do Nazareno. A princpio no era muito abundante, mas, conforme os golpes eram cantados pelos prprios algozes, as feridas - especialmente das largas costas - foram se abrindo cada vez mais. E os regueiros de sangue se tornaram to copiosos que, a cada novo golpe, gotas eram expelidas e lanadas sobre as paredes prximas, assim como sobre as vestimentas dos romanos mais prximos do moiro. Este, tal como boa parte do cho empedrado, ficou salpicado tambm por aquele gotejar... No meio do castigo, os verdugos foram substitudos por outros dois romanos, que retomaram a flagelao com idntica sanha. Quando a contagem dos golpes aproximou-se dos oitenta, Jesus terminou por cravar os joelhos nas pedras, deixando-se cair sobre o moiro. A esta altura, suas costas e pernas brilhavam ao sol, midas de suor e sangue. Mas o espetculo comeava a inquietar alguns dos soldados romanos e a cansar a maioria. E parte da coorte comeou a retirar-se. Foi ento - quando o castigo atingiu o total de cem aoites - que um centurio se adiantou e mandou que interrompessem a carnificina. 22. - Soltem-no! - acrescentou o oficial. No silncio do ptio s se ouvia a respirao agitada dos verdugos, que, ainda com os chicotes nas mos, contemplavam aquele gigante cado e ensangentado. Um dos verdugos, banhado de suor, sentou-se sombra do prtico, tratando de limpar o sangue das tiras de couro. Jesus, porm, mal se movia. O oficial, temendo que ele Pudesse morrer, ordenou aos soldados que trouxessem gua. Prontamente, os romanos regaram o corpo de Jesus. E um dos soldados comeou a desat-lo da argola, tentando em vo levantar o Nazareno. Ao solt-lo, o corpo caiu pesadamente no cho. Era evidente que o prisioneiro havia recebido um durssimo castigo. E novos baldes de gua foram derramados violenta mente sobre as costas e cabea de Jesus. Em poucos minutos, o Nazareno tentou levantar-se. E o centurio que fora encarregado do suplcio respirou. Ele prprio, ajudado por outros soldados, terminou por levantar o prisioneiro. Jesus mantinha os olhos fechados. Algumas moscas e vespas zumbiam entre as feridas. Algum colocou sobre os ombros de Jesus uma velha capa prpura, enquanto outros o acomodaram num dos bancos de pedra dos prticos. E ali aumentaram as piadas, cusparadas e insultos. No era muito freqente os centuries terem diante de si algum que se proclamava "rei dos judeus". Rei de um povo to desprezado quanto odiado por aqueles soldados, a maioria longe da ptria e de suas famlias. Mas as zombarias e afetaes sentimentais logo aumentaram numa das extremidades do grande ptio. Um dos soldados se acercava de Jesus em passo marcial. Levava entre as mos um capacete tranado com espinhos, daqueles que cresciam junto s muralhas da cidade. Rodeando o romano, outros membros da guarda, que haviam adivinhado as intenes daquele e celebravam o acontecimento. Entre reverncias e petulncia, o soldado ficou de frente para o Nazareno e levantou o capacete de espinhos sobre a cabea do aoitado, que continuava com os olhos fechados e sem proferir o menor lamento ou protesto. Em meio a uma mrbida expectativa, o romano enfiou o capacete de espinhos na cabea de Jesus. E um rugido de satisfao se elevou de novo no ptio, assustando as j inquietas cavalgaduras. As empoeiradas e arroxeadas bochechas do Nazareno se viram logo percorridas por estrias de sangue. E os cabelos, j pastosos pela gua e sangue da flagelao, se umedeceram novamente. Com um canio entre os dedos, o prisioneiro assistiu ento a uma "coroao" cruel e mordaz por parte da soldadesca. E entre saudaes cerimoniosas, os romanos terminaram de encaixar a pancadas - com paus e com as prprias hastes de suas lanas - o afiado capacete de espinhos. 23. Mas as gargalhadas atingiram o auge quando um daqueles soldados, colocando-se a curta distncia de Jesus, soltou seus cales, urinando sobre o peito, ventre e pernas de Jesus. Muito poucos daqueles romanos se aperceberam ento das lgrimas que, sutilmente, haviam comeado a misturar-se com os cogulos de sangue no rosto do galileu. Foi novamente a chegada do centurio que ps um ponto final naquele escrnio. E os soldados recolheram a capa e o canio e o vestiram com suas roupas. Em passos trpegos, Jesus foi reconduzido presena do procurador. RELATRIO DOS ESPECIALISTAS "UNS CEM GOLPES" Vamos fazer uma pausa na narrao, na "projeo mental". O que dizem os especialistas e estudiosos do manto de Turim em relao s feridas provocadas nesta primeira "fase" do suplcio? Os recentes achados dos cientistas da NASA, assim como de outros especialistas em medicina, deixaram claro que o homem do sudrio de Turim foi aoitado ao estilo romano e no judeu. Esta ltima modalidade constava de quarenta golpes menos um. Mas a romana - more romanoru - no tinha limite. Simplesmente era suspenso quando sim achava conveniente o executor sententiae... E estudando o "mapa" dos relevos do manto de Turim, os especialistas puderam constatar que a flagelao constou de mais de cem golpes. Chicotadas - a julgar peIas feridas - que caram especialmente nas costas ou peito da vtima, curvada como estava sobre alguma pequena luna qual lhe haviam atado as mos. No obstante, julga-se que os aoites alcanaram igualmente as pernas, ventre, ndegas e at os testculos. Todos os especialistas notaram, pela distribuio feridas, que a flagelao deve ter sido metdica e aplica por dois verdugos to peritos quanto resistentes fadiga. Um exemplo do primeiro caso a rea do corao: na dita rea no aparecem tantos vestgios quanto no resto do corpo. O motivo parece bvio. Um acmulo de impactos nessa rea do trax poderia ter provocado um colapso. E os carrascos teriam se tornado responsveis perante o magistrado romano... Em compensao, so fartos no pano os vestgios de escoriaes "figuradas" ou impresses de aoites, desde o tronco at as pernas. Essas marcas so batizadas com os qualificativos de "manivela de ginstica" e "estrias e lingetas", e correspondem ao par de pelotas de chumbo do chicote e s suas tiras de couro. Praticamente todos os investigadores se mostram de acordo no fato de que os golpes foram aplicados em dupla. Em outras palavras: que quase certo que o suplcio foi aplicado por dois verdugos ao mesmo tempo. E muito possvel tambm que cada chicote estivesse dotado de duas correias, cada uma com seu correspondente par de pelotas e chumbo ou talvez ossinhos do tarso do boi. Quanto s manchas de sangue que aparecem em sua cabea, o professor Cordiglia afirma em seus estudos: 24. "Trata-se de singulares calcaduras de gotas sanguneas que interessam regio frontal, parietal-temporal e occipital. So a expresso de leses sobre o couro cabeludo. Considerando sua distribuio em forma de aurola, devemos deduzir que foram causadas por objetos pontudos, aguados, guarnecidos com pregos, friccionados na copiosamente regada pele da cabea, sob a forma de coroa ou coifa de espinhos." E acrescenta um detalhe arrepiante: "Uma gota mais acentuada se encontra na regio mediana da fronte, que apresenta a forma de um `3' invertido. O sangue abriu caminho entre as rugas da fronte em dois momentos: primeiro, quando foram contrados os msculos da pele, no espasmo da dor. Por ltimo, em seu relaxamento final, no momento da morte." Nos vestgios do Sudrio se observa igualmente como a frico da madeira que Jesus carregou nos ombros a caminho do Glgota, com este "elmo" de espinhos, lesionou marcadamente a regio occipital e prxima nuca. E, com a mesma preciso, os cientistas puderam deduzir e demonstrar o que j se aponta nos Evangelhos: Jesus de Nazar foi golpeado em pleno rosto. Vejamos. O desvio do arco do nariz at a esquerda claramente visvel no manto. Como tambm , alinhado com ele, a contuso em forma triangular na regio zigomtica direita. Os mdicos afirmam textualmente: "Exatamente ali onde a cartilagem se encontra com o osso nasal, e onde se observa uma rea escoriada e contusa, o nariz inicia um ligeiro desvio at a esquerda... Trata-se, evidentemente, de uma paulada, aplicada com um porrete bem curto, redondo, de um dimetro mximo de quatro a cinco centmetros, cuja fora de contuso foi mais violenta em sua extremidade. Quer dizer, sobre o nariz. E de violncia um tanto menor debaixo da regio zigomtica direita. "O golpe foi desferido por um indivduo que se encontrava direita do agredido e empunhava o porrete com a mo esquerda." Recordemos que durante o interrogatrio na casa de Ans, o Nazareno foi golpeado por um dos criados ou esbirros do Sindrio. E Joo, em seu Evangelho, emprega a palavra rapisma para descrever tal golpe. Este vocbulo significa em grego - e em geral - um golpe dado com pau, garrote ou basto. A Vulgata, ao invs, o traduz como "bofetada". Tambm no devemos esquecer que, enquanto os ro manos golpeavam com a direita, os judeus o faziam com a esquerda. Esta ltima maneira era lgica j que o povo judeu escrevia no estilo semtico: da direita para a esquerda, utilizando comumente a mo esquerda. Se o que o golpeou era um servidor do sumo pontfice, natural imaginar que sua mo esquerda tivesse sido muito mais hbil que a direita. E em ltimo e curioso detalhe, abordado pelos cientistas: a planta utilizada pela guarda romana para confeccionar o "capacete" de espinhos talvez seja a que os botnicos conhecem como espinho-de-cristo (Ziziphus spina Christi), que cresce na Sria. Trata-se de um arbusto ou rvore de pequeno porte, de uns dois ou trs metros de altura, com ramos brancos que se curvam com facilidade. As bordas das folhas apresentam dois espinhos em forma de gancho. Segundo o botnico G.E. Post, esta planta crescia nos arredores de Jerusalm, sobretudo nos lugares prximos ao Glgota. 25. SEXTA-FEIRA, 10:15 CHANTAGEM POLTICA CONTRA PILATOS O procurador Pncio Pilatos fitou atentamente o prisioneiro. Muito perto de Jesus, o centurio responsvel pela flagelao seguia com ateno o menor piscar de olhos do Nazareno, pronto a intervir com mais dois soldados em caso de desfalecimento do galileu. Em silncio, Pilatos caminhou em torno de Jesus de Nazar, que continuava com a cabea ligeiramente inclinada at o brilhante mrmore do pretrio. Sua respirao foi pouco a pouco se normalizando. O romano no dissimulou um esgar de horror quando, ao olhar para as costas, observou extensas manchas de sangue na tnica. Depois reparou nas lajes daquele mrmore de brocatelo, orgulho da fortaleza Antnia, e ficou contrariado ao v-las salpicadas por grossas gotas de sangue. E enquanto assinalava com o dedo indicador o elmo de grossos espinhos, interrogou o centurio com o olhar. Este limitou-se a dar de ombros como resposta. Pncio Pilatos sentiu pena daquele filho de Israel. Mas ele era o procurador e no podia exteriorizar seus sentimentos, ao menos perante seus subordinados. Contudo, algo no fundo do corao o obrigava a desejar a liberdade daquele assombroso Jesus de Nazar. E tentou novamente salvar o homem. Fez um gesto para que os soldados o levassem at a multido que continuava concentrada diante do palcio, como era costume naquelas festividades da Pscoa, espera da libertao de um ru. Quando Pilatos exibiu Jesus turba, uma nova gritaria quase sufocou as palavras do procurador: - Vede, eu vos trago o prisioneiro para que saibais que no vejo nenhuma culpa nele! Mas os sumos sacerdotes haviam feito circular instrues e moedas entre os judeus para que se manifestassem a favor da morte do Nazareno. E a partir do instante em que Jesus surgiu diante da turba, s se ouvia uma palavra: - Crucificai-o... crucificai-o! Pncio Pilatos, irritado, ordenou silncio. E, mostrando o galileu, disse-lhes: - Tomai-o vs... e crucificai-o! No vejo nenhuma culpa nele. Um dos sumos sacerdotes, tomando a palavra, respondeu ao procurador: - Temos uma lei, e segundo essa lei, ele deve morrer... porque se considera o Filho de Deus! E os milhares de judeus que j se agrupavam em frente fortaleza Antnia, no alto da colina, irromperam em novos gritos e protestos, exigindo que o romano crucificasse Jesus. - Filho de Deus?... Aquilo era novidade para Pilatos. Um tanto confuso e surpreso, ordenou que voltassem com o ru ao pretrio. Nesse meio-tempo, a guarda do palcio havia sido reforada para prevenir qualquer ato de violncia por parte do irritado povo judeu. O prprio procurador havia advertido a seus oficiais para que interviessem com todo rigor em caso de 26. desordem. Aquela situao comeava realmente a incomodar Pncio Pilatos. Uma vez l dentro, perguntou a Jesus: - De onde vens? Mas o ru se limitou a fit-lo fixamente, o que exasperou Pilatos. - No queres me falar?... Ante o silncio do prisioneiro, o centurio avanou para Jesus, disposto a castigar aquela insolncia. Mas o procurador se adiantou ao oficial e, encarando o galileu, voltou a perguntar com voz ameaadora: - No sabes que tenho poder para soltar-te e poder para crucificar-te?... De imediato, ainda com as mos atadas, Jesus murmurou: - No terias nenhum poder sobre mim, se ele no te tivesse sido dado de cima... Por isso, aquele que me entregou a ti cometeu pecado maior. E Jesus enfrentou o olhar do procurador. Pilatos tinha certeza. No havia soberba naquele homem. No tinha o olhar nem o tom de um arrogante. Seria um louco?... Ou estaria realmente diante de um profeta? Mas como era possvel que um indivduo que havia sido to duramente aoitado e humilhado pudesse falar assim? "Pena no t-lo conhecido antes", pensou o procurador. Era a hora sexta quando chegaram ao romano gritos que o intranqilizaram sobremaneira: - Se soltardes esse homem - clamava a turba -, no sois amigo do Csar! Todo aquele que se faz rei enfrenta o Csar! Aquilo era demais. Se a crescente rebelio dos judeus, s vsperas da Pscoa, chegasse aos ouvidos do Csar, seus favores junto quele corriam srio risco. E embora consciente da chantagem de que estava sendo vitima por parte do Sindrio, Pilatos titubeou. Sentou- se novamente no tribunal, no lugar conhecido como "pavimento", e colocou Jesus a seu lado. Ento o procurador gritou: - Aqui tendes o vosso rei! Mas os manifestantes clamaram, com fora: - Fora... fora! Crucificai-o! O romano insistiu: - Crucificar o vosso rei?... Os sumos sacerdotes, que foram ocupando um lugar prximo ao pretrio, ergueram os braos ao cu e explodiram: 27. - Csar nosso nico rei! E a chusma seguiu vociferando e apupando... Pilatos golpeou ento os braos de pedra do tribunal com a palma das mos e se levantou bruscamente, desaparecendo no interior do pretrio. E ordenou a seus oficiais que providenciassem tudo para a imediata execuo da sentena de morte: crucificao. SEXTA-FEIRA, 10:45 AMARRADOS PELOS TORNOZELOS Jesus de Nazar foi reconduzido ao centro da praa d'armas. Fazia algum tempo que as centrias romanas tinham sido retiradas, especialmente alertadas e distribudas ao redor da fortaleza Antnia - sede do procurador Pncio Pilatos durante sua estada em Jerusalm - e posicionadas para repelir a menor exploso de violncia naquela inquietante manh. A atitude dos soldados que o custodiavam - e, sobretudo, a do centurio encarregado por Pilatos do cumprimento da execuo - mudara sensivelmente desde que o procurador tornara pblica sua deciso de terminar com a vida do prisioneiro. A partir daquele instante, as zombarias cessaram. E na face da maioria dos soldados que cruzavam com o galileu era fcil notar certa compaixo. Desde o primeiro instante em que Jesus comeou a ser interrogado pelo romano, a totalidade da guarnio se apercebeu dos desejos do procurador, que tentava inutilmente coloc-lo em liberdade. Um dos guardies soltou Jesus de suas amarras. E, por um instante, o Nazareno ergueu o rosto ensangentado at aquele tpido sol do meio-dia. Mas seus olhos estavam to inflamados em conseqncia dos golpes e chicotadas que mal se apercebeu da ntida transparncia daquele cu turquesa. Isso mesmo, as andorinhas haviam desaparecido, evitando, como sempre, o rigor da cancula. A uma ordem do centurio, um dos soldados, posicionando-se s costas do condenado, ergueu seus braos para coloc-los em cruz. E assim o manteve enquanto outro membro da escolta, pela parte frontal, e aps empurrar violentamente a cabea de Jesus para trs, uniu sua lana ao corpo do galileu, alinhada com os braos. Desta maneira pde medir sua envergadura, transmitindo ao intendente da guarnio a medida exata do patibulum que o condenado devia carregar. O intendente sumiu na penumbra do portal que conduzia s galerias subterrneas da fortaleza, no sem antes expressar suas dvidas acerca da existncia de uma viga das dimenses exigidas pela grande altura do Nazareno. Embora os depsitos do palcio estivessem repletos destas vigas especficas - principalmente desde a chegada de Herodes, o Grande -, no era freqente aparecer entre os judeus condenados algum com 1,81m de altura.Naquele instante, e pelas mesmas escadas pelas quais acabava de se afastar o oficial-intendente, irromperam no ptio 28. ensolarado quatro soldados munidos de lanas e aoites. E, imediatamente atrs, dois judeus que haviam sido surpreendidos roubando nas ruas de Jerusalm e que vinham se aproveitando das grandes aglomeraes dos festejos da Pscoa. A guarda havia colocado vigas de pouco mais de um metro de longitude sobre seus ombros e nuca. E seus braos e mos estavam fortemente amarrados a elas. O peso das vigas os obrigava a caminhar ligeiramente inclinados enquanto foravam a cabea para no perder a visibilidade. Uma corda havia sido atada ao tornozelo direito do primeiro, prolongando-se cerca de dois metros at chegar a segundo condenado, que aparecia igualmente amarrado altura do tornozelo direito. Um quinto soldado fechava a comitiva, trazendo mos o resto da grossa corda de esparto. A guarda conduziu os ladres at a extremidade do tio onde ainda estava Jesus. Mas o Nazareno continua com a cabea inclinada sobre o trax e quase no se d conta de como os prisioneiros eram empurrados at cair a poucos passos dele. Um dos ladres, chamado Dimas, fixou seus olhos naquele terceiro e desconhecido condenado, que no vira nas masmorras. E sussurrou para seu companheiro: - Jesus, o profeta!... Mas o que fizeram com ele?... Vergado sob o peso do patibulum, Dimas notou, trmulo, que em volta das sandlias do galileu tinha se formado um charco de sangue, alimentado ininterruptamente por filetes que escorriam por dentro da tnica. O ladro notou que o sangue tambm gotejava das tmporas do "profeta". E, sem saber por que, sentiu pena... "Ele um bom homem", pensou. "Por que est aqui?" Mas Dimas no achou resposta em seu corao. O centurio demonstrou impacincia. E mandou um dos soldados descer para procurar o intendente. Ao mesmo tempo, outro legionrio, a uma ordem do oficial, colocou os ladres de costas para Jesus, estendendo a corda at o p direito daquele. Mas antes de atar a corda em volta do tornozelo, o soldado dobrou a perna do Nazareno, prendendo-a com suas mos enormes, tal como os ferreiros costumam fazer com as patas dos cavalos ao colocar ferraduras. E comeou a desamarrar a primeira sandlia. Aquela brusca e inesperada manobra fez cambalear o gigante, que esteve a ponto de cair sobre o empedrado da praa-d'armas. O soldado que estava a seu lado pde impedir a queda. Mas as imprecaes da soldadesca e o entrechoque de seus peitorais e espadas chamou a ateno dos ladres, que se voltaram ao mesmo tempo para o grupo, com tanta m sorte que um dos condenados, ao girar, atingiu duramente o romano mais prximo com sua viga, derrubando-o. O incidente incitou o resto da guarda, que atacou Dietas e o companheiro com chicotadas e pontaps. O castigo prolongou-se at que o intendente e o legionrio se aproximaram de Jesus de Nazar. Tal como anunciara o responsvel pela intendncia da fortaleza Antnia, no havia sido fcil encontrar um patibulum suficientemente grande para a cruz do galileu. 29. Mas, por fim, devido ajuda do soldado enviado pelo centurio, o intendente havia conseguido localizar um pesado tronco de oliveira, de uns sessenta quilos de peso e quase 1,70m de altura. Aquele seria suficiente. E a guarda se disps a colocar o patibulum sobre a nuca e os ombros do Nazareno. Enquanto um dos legionrios sujeitava em forma de cruz os braos do condenado, outro colocava o tronco. E, com extrema diligncia e preciso, mais dois soldados foram amarrando o tronco aos pulsos, braos e axilas. A operao foi perfeita, ficando a corda, em sucessivas e apertadas voltas, atada ao peito de Jesus. Desta forma o patibulum ficava firmemente preso ao condenado. Uma segunda corda ligou por fim os trs troncos que os judeus carregavam. Estava tudo pronto. Jesus, sob o peso do patibulum, aparecia agora encurvado e com as pernas ligeiramente fletidas. A tnica, esmagada pelo grosso tronco, acabara por tingir-se de vermelho. E os longos cabelos deslizaram at o rosto, ocultando-o quase por completo. Jesus tentou em vo levar atrs a cabea. Cada vez que tentava, os espinhos afiados como adagas eram pressionados pela madeira, cravando-se no couro cabeludo. E quase s cegas comeou a seguir os dois condenados que o precediam. Mas seus passos, vacilantes e lentos, foram percebidos de imediato pelo centurio que marchava frente dos vinte legionrios designados pelo procurador para conduzir condenados at o chamado Glgota, a colina do Crnio. As turbas de judeus esperavam a passagem da comitiva, e seus nimos e maneiras no infundiam excessiva confiana aos romanos. Da que tivesse sido triplicada a guarda habitual para esses casos. Ao atravessar o corpo de guarda, o ladro que abria o cortejo deu uma cusparada nos romanos que observavam a passagem dos condenados. E o centurio encarregado da custdia partiu sobre o judeu, aplicando uma durssima pancada na genitlia do prisioneiro. A violncia do golpe fez o ladro cair por terra, arrastando Dimas e, por fim, Jesus. Os soldados, acostumados a este tipo de queda em cadeia, reagiram no mesmo instante, forando-os a levantar fora de chicotadas e sonoros pontaps em costelas e ventres. Aos poucos, e no sem ingentes esforos, os dois primeiros conseguiram se erguer. Mas no o Nazareno, que permanecia esmagado pelo peso do patibulum. Como Jesus no reagia s novas chicotadas, um dos guardas o aferrou pela barba, puxando-a com raiva. O gesto foi to violento que o romano arrancou um tufo e o Nazareno voltou a cair pesadamente, seu rosto batendo contra as lajes. O sangue se derramou aos borbotes sobre o corredor. O centurio exigiu silncio. E, junto com outros legionrios, foi ver o Nazareno, que estava imvel, preso sob o patibulum e banhado em suor e sangue. - No vai resistir - comentou um dos soldados. - Est bem! - ordenou o oficial. - Colocai-o de p! Com a respirao entrecortada, o galileu foi erguido e apoiado por vrios romanos. O sangue continuava brotando dos ferimentos e as mos, por causa das fortes ligaduras, 30. comearam a arroxear. Mas o centurio no parecia disposto a perder o dia inteiro com aquele tedioso assunto e mandou seguir at o interior do pretrio. J a caminho da Porta Judiciria, e pouco antes de iniciar a ngreme descida desde a fortaleza at as muralhas da cidade, a guarda se viu obrigada a desembainhar as espadas. Centenas de judeus, instigados pelos sumos sacerdotes e ancios, esperavam a passagem do Nazareno, vociferando e gesticulando de forma ameaadora das ruas e terraos. Algumas mulheres jogaram pelas janelas urina e excrementos sobre a comitiva. O oficial apressou ento o passo dos prisioneiros amarrados que se entrechocavam, s vezes golpeando a multido que se apinhava de ambos os lados das estreitas vielas de Jerusalm. Num daqueles arrancos, o galileu perdeu de novo o equilbrio, caindo e obrigando a cortejo a parar. Como era o costume naquelas circunstncias, a escolta cercou os presos mais estreitamente, de frente para a multido e com as armas preparadas. Mas as pedras e frutas podres continuavam caindo sobre soldados e condenados. - Ele est perdendo muito sangue - informou um dos legionrios ao oficial aps examinar Jesus, que permanecia por terra, esmagado sob aqueles sessenta quilos. 0 centurio o observou com crescente preocupao. O Nazareno, com a bochecha esquerda sobre a arei amarelada que cobria a rua, respirava agitadamente. A cada aspirao e expirao, Jesus levantava uma minscula nuvem de p. Logo se fez silncio entre os judeus. O centurio ha sacado sua espada e, com um gesto grave, abriu caminho entre os soldados, caminhando at a multido, que retrocedeu de imediato. Fazendo sinal com a ponta da arma a um dos mais corpulentos curiosos, instou- o a se aproximar. O judeu, conhecido como Simo de Cirene, que voltava de seu trabalho no campo, foi obrigado, tal como determinava a praxe romana, a carregar o patibulum de Jesus de Nazar. Uma vez desamarrado, o Nazareno foi posto de p e o cortejo retomou seu caminho. Simo, um homem simples e afastado das intrigas dos fariseus, aceitou a ordem do centurio sem o menor protesto. Aquilo, depois de tudo, era algo extraordinrio na rotina de sua vida. E ele caminhou atrs do "profeta", de quem j ouvira falar. Ao ultrapassarem as altas muralhas da cidade, Jesus de Nazar, um pouco mais recuperado, comeou com os demais soldados e condenados a ligeira subida at o penhasco do Crnio, que se erguia a pouco mais de trezentos metros acima de Jerusalm. Dimas ficou paralisado pelo terror ao divisar no alto da colina vrias estacas cravadas na terra. Eram os stipes, ou estacas verticais das cruzes, rematadas por amplas vergnteas nas quais seriam encaixadas as vigas que agora carregavam. Um grito quase animalesco escapou da garganta do meliante, alarmando toda a escolta e as pessoas que, em numeroso grupo, seguiam os romanos a prudente distncia. Dimas se recusou a caminhar. E foi preciso aoit-lo at o sangue brotar por entre os fios de suas roupas para que concordasse, quase maquinalmente, em seguir em frente. A partir da, suas lgrimas e seus gemidos tornaram-se constantes. 31. Foi naquela pausa forada que algumas mulheres, em prantos e lamentos, se destacaram da multido e tentaram se aproximar de Jesus. Mas foram impedidas pelos legionrios. O Nazareno, voltando-se para elas, disse, com voz entrecortada: - Filhas de Jerusalm! No choreis por mim! Chorai, isso sim, por vs e por vossos filhos! Porque eis que viro os dias em que se dir: bem-aventuradas as estreis, os ventres que no geraram e os seios que no amamentaram! Um dos soldados tentou calar Jesus, mas o centurio, que ouvia atento, o impediu. E o galileu concluiu: - Ento comearo a dizer aos montes: ca sobre ns! E aos outeiros: cobri-nos! Porque, se lenha verde fazem isto, o que se far lenha seca? E Jesus ficou em silncio, prosseguindo em seu caminho at o Glgota. "ARRANCARAM-LHE TUFOS DE BARBA" Os mdicos que examinaram o pano guardado em Turim concordam num fato: o "homem" coberto h dois mil anos com aquele sudrio carregou algo muito pesado sobre os ombros. Sobre o ombro direito - regio supraescapular e acromial direita - "v-se uma vasta rea escoriada e contusa, de forma quase retangular, que se estende meio obliquamente de cima a baixo e de fora adentro, de uns 10X9cm. Outra rea de iguais caractersticas observada na regio escapular esquerda". E prossegue o Dr. Cordiglia, catedrtico legista: "Um exame atento das duas reas nos revela que sobre ele gravitou, embora fosse atravs de alguma pea de vesturio, um instrumento enrugado, de peso considervel, movvel e friccionante, de uns quatorze centmetros de espessura, que aplanou, deformou e tornou a abrir as leses produzidas pela flagelao, lacerando os lbios das feridas e produzindo outras. Este conjunto traumtico de contuses e escoriaes induz a pensar que foi causado pelo patibulum (viga transversal da cruz) que o condenado sustinha com ambas as mos sobre os ombros (regio supraescapular) em seu trajeto para o local do suplcio." Este fato - demonstrado, insisto, cientificamente - rompe de certo modo com a tradicional imagem de Jesus com a cruz nas costas. Segundo os clculos dos peritos, esta viga transversal que Jesus carregou sobre os ombros podia medir entre 1,60 e 1,70m, com um peso aproximado de sessenta a setenta quilos. H outras surpresas, porm. Os cientistas da NASA deduziram - pelas marcas que aparecem no pano de Turim - que o tornozelo direito do Nazareno foi amarrado com uma corda. Uma corda que, sem dvida, uniria todos os condenados, evitando assim uma possvel fuga. Esta estreita unio entre Jesus e os dois ladres foi o que, talvez, causou as quedas. E, quanto a isto, os mdicos afirmam: "Os tornozelos oferecem um notvel interesse (referem-se aos do Sudrio de Turim). O direito, alm de ter mais contuses, apresenta inmeros desgastes de tamanho variado, de aspecto e forma pouco definidos. Estas leses", concluem os relatrios clnicos, "por sua direo e situao determinada, nos indicam como puderam se produzir: ou seja, 32. acusam a ao descontnua de um agente escoriador e feridor, que poderia ter sido um terreno acidentado contra uma superfcie cutnea convexa, um joelho, sobre o qual a ao lesiva foi atenuada pela interposio de objeto macio, como um tecido, uma vestimenta." Por fim - e tambm luz dos achados dos comandantes da NASA, Jumper e Jackson - temos tido notcia da falta de tufos de plo na barba de Jesus de Nazar. Segundo os cientistas, estes tufos s poderiam ser arrancados pela raiz, possivelmente por algum dos legionrios romanos. SEXTA-FEIRA, 11:30 0 CARRASCO, UM ESPECIALISTA Sucedeu que Jesus tomou consigo a Pedro, a Joo e a Tiago, e subiu ao monte a orar. E estando ele orando, transfigurou-se a aparncia do seu rosto, e seu vestido ficou branco e mui resplandecente. E eis que f lavam com ele dois vares... " (Lucas, 9, 28-30). "E desceu uma nuvem que os cobriu com sua sombra, e saiu da nuvem uma voz que dizia... " (Marcos, 9, 7). Sem pronunciar nenhuma palavra, Simo de Cirene deixou cair a viga ao p das trs estacas de quase trs metros que, desde a invaso romana, haviam sido profundamente cravadas na terra e utilizadas habitualmente pelos estrangeiros para execues. Depois, Simo se retirou em direo s altas muralhas da Cidade Santa. Sabia o que aguardava aqueles infelizes e fazia questo de afastar-se o quanto antes. Aproximava-se a hora sexta e o sol havia transformado a brilhante cpula do segundo templo de Jerusalm numa montanha mgica coberta de neve. Por trs da torre de Davi, o Nazareno, ainda em p, pde ver, quase perceber, o Cdron com suas guas planas, recortando os pequenos bosques de tamarineiros e choupos. E talvez seu corao tenha voado aos galhos do Getsmani e s restantes rvores de alcauz e rcino, to solitrias a partir daquela hora... Mas os lamentos crescentes dos que acompanhavam o cortejo o trouxeram de volta realidade. Cada salteador foi libertado de seu patibulum. E enquanto um dos soldados lhes arrancava os andrajos, o resto dos romanos formou um crculo em torno dos condenados, situando as pontas das lanas a to curta distncia de seus corpos que, no caso de tentativa de fuga, seriam fatalmente trespassados. Dimas, gemendo como um menino, cobriu instintivamente o baixo-ventre. E todo o seu corpo se viu sacudido por calafrios e contraes. Os dentes no demoraram a chocalhar, e um ftido odor fez os legionrios olharem para a parte posterior das coxas do ladro, por onde seus excrementos comearam a escorrer. Uma torrente de insultos e escrnio desabou sobre ele... O pavor havia garroteado Dimas, que, numa ltima tentativa para fugir da realidade, fechou os olhos, chorando e suplicando. A uma ordem do centurio, parte dos soldados desce cerca de cinqenta passos do liso penhasco do Crnio. E depois utilizando suas lanas, eles impediram que a multido curiosos - entre os quais se achavam os sumos sacerdote familiares de Jesus - desse um passo sequer at o local da execuo. 33. Quando, ao cabo de alguns segundos, voltou a abri-los, o ladro tinha diante de si mos nodosas e brancas que lhe ofereciam uma vasilha de barro. Era uma anci de rosto e olhos abatidos, coberta por uma manta negra. E, junto a ela, outras trs mulheres de Jerusalm, carregando recipientes idnticos. - Se queres, podes beber - disse o centurio. E o condenado, trmulo, aproximou a vasilha dos lbios. E, consciente do que aquilo significava para ele, bebeu at o fim a mistura verde-amarelada formada pelo fel e o vinagre. O mesmo se deu com o segundo salteador quando outra das mulheres lhe ofereceu a mesma beberagem. Mas este, no podendo suportar as nuseas, terminou vomitando tudo o que havia ingerido. Uma terceira mulher se acercou do Nazareno, que ainda no havia sido despojado de suas vestes. Ela levou at seu rosto uma cuia com uma no menos abundante rao do pastoso anestsico. Mas Jesus, aps levar a cuia aos lbios, devolveu-a mulher, negando-se a beber. Sem perda de tempo, os legionrios obrigaram Dimas a deitar no cho, de modo que suas costas ficassem apoiadas no patibulum. E cada brao foi estendido e colocado ao longo da madeira por outros tantos romanos. Em nova tentativa para escapar, o prisioneiro atingiu com os ps um terceiro soldado, o qual - munido de um martelo e uma bolsa com cravos - dispunha-se a crucific-lo. No limite de sua pacincia, o oficial empunhou uma lana e assestou com a haste um golpe certeiro na testa do ladro. Aqueles minutos de hesitao por parte de Dimas foram aproveitados pelo carrasco, que, afundando o joelho esquerdo no diafragma do comocionado judeu, colocou-lhe um grosso cravo no pulso direito, erguendo o martelo no ar. Um violento impacto sobre a redonda e grossa cabea do cravo fez com que este abrisse caminho facilmente entre ossos e tecidos, perfurando tambm a madeira. A dor intensa contraiu at o ltimo msculo de Dimas. E um berro chegou s muralhas da cidade. Mais duas marteladas certeiras fixaram definitivamente o pulso do condenado extremidade direita do patibulum. O romano encarregado de segurar aquele brao abandonou sua tarefa, dirigindo-se a Jesus de Nazar. E comeou a desnud-lo. Uma vez pregado por ambos os pulsos, o peito de Dimas foi cingido com a mesma corda que servira para atar pelos tornozelos os trs prisioneiros. E com ajuda de outros dois cabos, ligados s extremidades do patibulum, a guarda, colocando-se na parte de trs da stipes, preparou-se para iar o condenado at o alto da vergntea, que deveria encaixar no molde da madeira transversal. O oficial encostou uma escada de mo na face posterior da stipes e subiu at situar-se acima da vergntea. E nesta posio, aps descansar as cordas sobre as ombreiras de bronze de sua couraa, ordenou que seus soldados puxassem. Ao primeiro puxo, a madeira foi iada a um metro do solo. Mas o crucificado havia perdido a conscincia e a operao pde efetuar-se com relativa rapidez. Animando-se com rtmicos monosslabos, os legionrios terminaram por iar o patibulum e, com ele, o desfalecido corpo de Dimas. A 34. cada puxo dos soldados, um jorro de sangue manava por entre os cravos, empapando a base da viga vertical, assim como boa parte do penhasco. O patibulum chegou at o centurio e este, controlando-o com mos e trax, o acoplou vergntea. As cordas foram retiradas do corpo e da madeira e o legionrio que havia martelado os pulsos do ladro se disps a fazer o mesmo com os ps, que pendiam de ambos os lados da stipes. O carrasco, perito nesse mister, a julgar pela preciso de seus movimentos, levou boca um dos cravos de meiaquarta e ali os reteve entre os dentes, enquanto, com ambas as mos, Puxava com fora at abaixo do p direito de Dimas. E, forando-o, ajustou a planta do p superfcie da madeira. Com um som quase ininteligvel e um brusco movimento de cabea, o soldado deu a entender a seu companheiro mais prximo que segurasse com fora aquele p, tal e como ele o fazia. Com aquela manobra, o ossinho do tarso se tornou perfeitamente visvel sob a pele. E o romano, que tinha o p do condenado ao nvel de seus olhos, colocou o cravo sobre aclara referncia do astrgalo - e desferiu a martelada. O cravo penetrou obliquamente: da frente para trs at abaixo, pregando-se com firmeza na madeira. A dor intensa tirou Dimas de seu desmaio. Abrindo os olhos at quase desorbit-los, berrou com tal intensidade que at a guarda que impedia a passagem da multido se virou para o Iocal do suplcio. Aquele berro foi diminuindo e enfraquecendo, e o condenado comeou a bater o crnio contra a cruz, numa desesperada tentativa de acabar com o martrio. Ao ser pregado o outro p, o ladro mergulhou outra vez na inconscincia. E todos sentiram-se aliviados... Ainda que aqueles crucificaes se repetissem com freqncia - em especial desde que a famlia Herodes chegou ao poder -, tanto os oficiais quanto a maior parte dos legionrios romanos acabavam quase sem preangustia dos ante gritos e as longas horas de agonia de todos os crucificados. Com o segundo ladro, os problemas se tornaram m simples. Antes que o condenado se apercebesse da sua iminente crucificao e prevendo novas violncias, o carrasco lhe assestou na base do crnio e pelas costas um seco golpe de clava. Aquilo o desacordou e os romanos se aproveitaram para fixar os pulsos no patibulum. Jesus de Nazar, sempre escoltado por um dos legionrios, pde ver como o judeu era iado tambm at o alto do tronco, tendo seus ps ali pregados. Quando o ltimo cravo prendeu o calcanhar do ladro stipes, o carrasco retrocedeu um passo e - ainda com o martelo entre as mos - perguntou-se se no teria exagerado na violncia do golpe sobre a cabea do prisioneiro. Aquele homem no conseguia recuperar os sentidos. Mas o soldado, dando de ombros, girou nos calcanhares e, suarento, dirigiu-se ao Nazareno, ao mesmo tempo acenando, ameaador, com sua ferramenta. 35. SEXTA-FEIRA, 11:55 ALGO FALHA: 0 CRAVO DO PULSO DIREITO NO ENTRA... Dois dos legionrios romanos seguraram Jesus pelos antebraos. E assim foi obrigado a caminhar at o p da madeira vertical. A uma ordem do centurio - e ante a aparente docilidade do galileu -, um terceiro soldado desembainhou a espada e se disps a auxiliar o carrasco e seu companheiro na fixao do primeiro cravo. Sem a menor resistncia, a guarda havia derrubado o prisioneiro, de modo a ficar com as largas e fortes costas sobre o patibulum. O Nazareno, aps sustentar sua cabea no ar durante breves segundos, deixou-a cair por terra. E os espinhos, com o choque, fizeram nova penetrao em seu couro cabeludo. Os olhos fecharam-se e os lbios do galileu tremeram levemente. Enquanto um dos romanos segurava firmemente seu brao direito, j estendido sobre a madeira, um outro, de joelhos, fez o mesmo com o esquerdo. Este ltimo soldado - a um sinal do carrasco, que j havia enterrado o joelho no esterno do condenado - aferrou com a mo direita a extremidade do antebrao, na altura da articulao do cotovelo, enquanto a esquerda estirava os dedos de Jesus, obrigando-o a manter as mos totalmente abertas. Logo os legionrios perceberam que todas aque