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1 JUSTIFICATIVA
Esse projeto nasceu da necessidade de investigar sobre o tema indisciplina, pois é um dos
temas atuais que mais preocupam os professores e todos os envolvidos no processo de ensino.
Além de transformar – se em desordem, a indisciplina dificulta a relação com o professor,
aluno e aprendizagem e pode apresentar sérias complicações no desenvolvimento cognitivo,
moral e social.
Assim, por meio do gerenciamento na Educação Infantil pode-se resguardar que todos os
alunos estejam ativamente envolvidos nas tarefas. Deste modo o professor previne as
questões que desestabilizam a disciplina da sala antes que elas ocorram. O professor torna-se
proativo e deixa de ser reativo. É necessário que a criança inicie o seu convívio com regras.
É interessante que, ao propor uma atividade, o professor já tenha preparado o material e o
ambiente em que trabalhará com o grupo. Além disso, tem que pensar o tempo de duração
das atividades. E a convivência necessita do estabelecimento de algumas regras.
Por meio da disciplina, a criança comunica-se consigo mesma e com o mundo, aceita a
existência dos outros, estabelece relações sociais constrói conhecimentos, desenvolve
integralmente. A sala de aula é e sempre foi um espaço que expressa continuidade da vida,
reflexo do entorno. Se assim não for, não será sala de aula verdadeira, não permitirá que o
aluno contextualize em sua existência os saberes que ali aprende. (ANTUNES, 2005).
Diante disso, gerou a seguinte problemática,Como resolver o problema da indiscipli na na sala
de aula?
É essencial que se restaure a disciplina em sala de aula, que se faça desse valor um objetivo a
se perseguir, não para que a sala se isole da sociedade e também não para que a aula do
professor fique mais confortável, mas antes para que ali ao menos se aprenda como tentar
modificar o caos urbano que o desrespeito social precipitou. (ANTUNES, 2005)
O aluno indisciplinado é aquele cujas ações rompem com as regras da escola, mas também
aquele que não está desenvolvendo suas próprias possibi lidades cognitivas, atitudinais e
morais. (GARCIA, 1999).
Então, o aluno disciplinado terá um bom rendimento na aprendizagem e no comportamento
ético, ou seja, autocontrole, hábitos de obediência, controle da mente e do caráter, que
contribuirá para o convívio em sociedade.
Contudo, transformar a disciplina em um “valor”. Isto é, fazer com que seja vista como uma
qualidade humana, imprescindível à convivência é fundamental para as boas relações
interpessoais. Este projeto é relevante socialmente porque oportunizará maior reflexão no
contexto da escola e cientificamente possibilitará compreender melhor o processo de
indisciplina além de superar lacunas sobre o tema estudado.
Este projeto será realizado na creche turma do pré I no CMEI – João Paulo I, localizado na Rua
13 S/N do bairro João de Deus. Envolvendo as disciplinas de Português, Matemática, Ciências e
Artes com duração de quinze dias serão colhidas as informações com aprofessora da sala
investigada e a coordenadora da instituição.
2 OBJETIVOS
2.1 GERAL:
Investigar o trabalho desenvolvido pelo professor para minimizar a indisciplina na sala de aula
da educação infantil, na creche do bairro João de Deus.
2.2 ESPECÍFICOS:
Verificar que atividades são utilizadas em sala de aula para desenvolver sentimentos e atitudes
necessários a convivência social.
Identificar as causas motivadoras para o comportamento indisciplinar.
Analisar fatores internos que podem interferi nas questões disciplinares da escola.
3 PROBLEMA
Que fatores que geram a indisciplina numa turma do pré I da educação infantil, numa creche
em Petrolina?
3.1 QUESTÕES NORTEADORAS
Que atitudes docentes são usadas para melhoria comportamental dos alunos?
O que deve fazer a escola para desenvolver regras na convivência?
Que atividades são mais importantes para desenvolver a concentração e criatividade das
crianças?
4 DISCURSSÃO TEÓRICA
A Educação Infantil é o nível educacional que, é parte integrante da Educação Básica do País
destinada a todas as crianças de zero a cinco anos de idade. No entanto, este nível de ensino
nem sempre ocupou um espaço relevante na formação da criança, como nos dias de hoje. Seu
surgimento ocorreu lentamente e foi, durante o século XIX, mediante significativas
contribuições teóricas e das mudanças políticas e econômicas daépoca, que se iniciou seu
desenvolvimento.
É nesta fase que a criança aumenta suas relações sociais e adquire noções de convivência com
o coletivo. Começa também a desenvolver as noções de valores, de justiça e de moralidade, e
a aprimorar seu desenvolvimento aprendizagem, motor e cognitivo. Nesta primeira etapa da
Educação Básica, onde as crianças estão no início de seu desenvolvimento social, as noções de
disciplina já começam a ser expostas e os atos de indisciplina já começam a aparecer.
(OLIVEIRA, 2010)
A indisciplina na etapa da Educação Infantil é demonstrada de formas bem particular e
diferente das que ocorrem em idades mais avançadas. Portanto, ao contrário do que alguns
possam pensar, ela já existe desde que a criança entra na escola e vira uma das maiores
preocupação dos professores desta etapa, que estão focados na estimulação do
desenvolvimento da criança como um todo e na educação para a cidadania.
Karlin e Berger (1977, p. 103) complementa, que “algumas crianças desde que começam a
freqüentar a escola, já demonstram algum tipo de indisciplina”. Então caberia ao professor
desta etapa criar possibilidades da criança se desenvolver para a vida em sociedade,
independente do histórico familiar de cada uma delas.
Assim como em qualquer outro lugar, o espaço da Educação Infantil também apresenta
diferentes demonstrações de indisciplina e que só podem ser percebidas se for considerado o
contexto em que elas ocorrem. Os entendimentos sobre a indisciplina, segundo Vergés(2003,
p. 31) variam, pois dependem da vivência familiar de cada criança, dos costumes, da crença e
da cultura em que a criança está inserida, assim como podem depender dos traços de
personalidade de cada uma, das fases do desenvolvimento em que está passando e, também,
da influência do professor, da escola e da metodologia de ensino utilizada. Há uma variedade
de causas e sentidos por trás das demonstrações de indisciplina escolar e, identificá-las é o
primeiro passo para inibi-las.
O importante é identificar o que envolve um ato de indisciplina para melhor compreendê -lo e
defini-lo, destacando se sua manifestação se trata de uma questão pessoal da criança, familiar,
relacional ou escolar. Vergés e Sana (2009, p. 35) sugerem:
O que devemos entender é que nenhum aluno nasce indisciplinado; ele se torna indisciplinado
em determinadas situações, dependendo do sentido da indisciplina para ele naquele
momento, com vários fatores que possam levá-lo a agir dessa forma.
Na Educação Infantil, de uma maneira geral, os atos indisciplinados envolvem a intolerância à
frustração, a necessidade de atenção, o egocentrismo – ainda característico da faixa etária em
que se encontram as crianças, o desinteresse pela aula, a exclusão do diferente, a falta de
limites definidos e a falta de orientação e consistência no ambiente familiar da criança.
(ESTRELA, 1992). Outro aspecto comumente envolvido nas expressões de indisciplina, nesta
fase, se refere ao desenvolvimento do esquema corporal que emalgumas crianças ainda não
está completo, assim, ainda apresenta um comportamento comunicativo devido à falta de
coordenação motora fina, principalmente. Nestes casos, as crianças são identificadas como
“estabanadas”, pisam nos pé das outras, gostam de brincar de luta, exigindo contato físico,
atingem os outros com peças de jogos, abraçam com força, podendo machucar o colega e
podem, até mesmo, ser identificadas como agressivas.
Nos outros casos, o aparecimento de indisciplina demonstra uma condição de aborrecimento,
como já citado, pode ser de ordem familiar, pessoal, relacional ou escolar, revelado como
desinteresse, desatenção, resistência, desrespeito e falta de empatia. Dessa forma percebe-se
que não é apenas o contexto familiar ou pessoal que determina a ocorrência dos atos de
indisciplina em sala de aula, como também, a própria sala de aula, o professor, a metodologia
de ensino e a relação pedagógica podem desencadear a indisciplina escolar. Segundo karlin e
Berger (1977, p. 20), quando a aula não está interessante e atraente para as crianças, elas
perdem o interesse ou ficam desmotivadas, o que as leva a agir de forma indisciplinada para
demonstrar que estão insatisfeita com alguma coisa.
As demonstrações de aborrecimento que envolvem os atos de indisciplina nas crianças da
Educação Infantil podem ser caracterizadas por morder, beliscar ou bater no colega, brincar de
luta, destruir o material escolar, conversar enquanto a professora ou outro colega está
falando, apresentarum comportamento desafiador, fazendo caretas ou respondendo mal à
professora e não fazer a atividade proposta em sala de aula, se recusando ou resistindo a
participar.
É válido destacar que a agitação motora é uma característica própria ao comportamento das
crianças nesta faixa de idade que precisam brincar se movimentar e criar para extravasar a
energia. A movimentação e o barulho podem ser esperado. Neste sentido, Vergés (2003, p. 32)
afirma que:
a criança que questiona, pergunta e se movimenta em sala de aula, não pode ser considerada
indisciplinada, porque na construção do conhecimento, a criança precisa buscar as alternativas
para encontrar o melhor caminho para aprender. Agora, aquele aluno que não tem limites,
não respeita a opinião e os sentimentos dos colegas, esse sim, é um aluno que pode ser
considerado indisciplinado.
Os momentos de brincadeiras e jogos, no parquinho ou em sala de aula constituem,
facilmente, um campo de observação das manifestações de indisciplina, pois expressões de
intolerância à frustração e desrespeito são comuns nestes ambientes na Educação Infantil,
onde as crianças ainda estão desenvolvendo suas noções de moralidade. As crianças que não
têm limites estabelecidos e não respeitam os colegas, a professora e as regras, e brincadeiras,
elas freqüentemente apresentam comportamentos indisciplinados. Cabe a escola e ao
professor transmitir os valores e promover a aprendizagem das regras de convivência social, a
auto-regulagem e a autodisciplina.La Taille diz que “as crianças precisam aderir as regras que
implicam em valores e formas de conduta.” Em outras palavras, o pensador em consideração
estava dizendo que a educação deve começar desde os seus primeiros anos trabalhando,
temas concernentes ao assunto. É um meio de diminuir lá na frente os maus comportamentos
dos alunos.
As brincadeiras podem levar o acontecimento de conflitos, de desrespeito aos colegas e a
agressividade. Essa demonstração de intolerância e frustração que envolve o ato indisciplinado
implica, entre outros fatores, a relação que a criança tem com as regras, ou seja, a não relação
que a criança tem desenvolvida com a moral.
A indisciplina manifestada nesses momentos, além de perturbar o ambiente e as relações em
sala de aula, prejudica o desenvolvimento e o processo de aprendizagem da própria criança.
Estas crianças exigem maior atenção e estímulo para que possam se desenvolver moralmente
e, conseqüentemente, socialmente. O campo de relações sociais que a Educação Infantil
propicia, nas atividades, brincadeiras, lanche e higiene, recreio ou educação física, constitui o
ambiente que a criança necessita para desenvolver todas as suas competências e aprender a
conviver com o coletivo. Parte deste desenvolvimento está o desenvolvimento moral, que
envolve o processo de conscientização das regras na criança e que, conduz as crianças à
autonomia e à autodisciplina, faz com que as manifestações de indisciplina se tornem cada vez
mais improváveis.5 METODOLOGIA
O trabalho será feito por meio de uma abordagem qualitativa, propondo entender como
resolver o problema da indisciplina no desenvolvimento cognitivo das crianças na educação
infantil, na creche – João Paulo l, e entender a vivencia do professor em relação a isso.
A pesquisa será realizada na creche turma do pré I no CMEI – João Paulo I, localizado na Rua 13
S/N do bairro João de Deus em Petrolina Pernambuco, serão investigada a professora e a
coordenadora pedagógica, para identificar como se processa a indisciplina na educação infantil
e que fatores geram a indisciplina.
Para a realização da pesquisa será utilizado o método qualitativo, sendo que esse tipo de
abordagem é essencial ao pesquisador, pois propicia uma interpretação melhor dos dados.
Segundo Rodrigues (2006), é utilizada para investigar problemas em beneficio de sua
complexidade. Assim esse tipo é caracterizado pela construção do conhecimento a partir de
hipóteses e interpretações que o pesquisador constrói.
O projeto empregará a entrevista não estruturada e observação não participante, bem como o
uso do questionário. Para a coleta de alguns dados para o trabalho, a pesquisadora observará
os sujeitos desse alvo, pois ́ ´ a observação consiste em uma técnica de coleta de dados a partir
da observação e do registro, de forma direta, do fenômeno ou fato estudado``. (BARROS;
LENFELD, 2010)
Justifica–se a escolha de entrevista por ser um meio em que o pesquisador obtém informações
maiscompletas e detalhadas. A entrevista é uma técnica utilizada para obter informações por
meio de uma conversa orientada com o entrevistado e deve atender a um objetivo
predeterminado. O questionário também é um instrumento de coleta de dados. Constituído
por uma lista de questões relacionadas com o problema de pesquisa, o questionário deve ser
aplicado a um número determinado de informantes. (BARROS; LENFELD, 2000).
O estudo também contará com o diário de campo, que é importante, pois é o registro de fatos
observados através de observações. (BARROS; LENFELD, 2000). O trabalho será direcionado
aos alunos da educação infantil, professor e coordenador.
Os dados serão analisados a partir de observação em sala de aula e entrevista com o professor
e coordenador, estabelecendo-se um confronto com as leituras realizadas sobre o tema.
6 CRONOGRAMA
PERÍODO
AGOSTO
SETEMBRO
OUTUBRO
NOVEMBRO
DEZEMBRO
ETAPAS
1ª
2ª
1ª
2ª
1ª
2ª
1ª
2ª
1ª
2ª
Reestruturação do projeto
X
Pesquisa Bibliográfica
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Elaboração dos instrumentos
X
Teste dos instrumentos
X
Aplicação dos instrumentos
X
Observação das aulas – entrevistas
X
X
X
Organização dos dados
X
X
Análise dos dados
X
X
Produção final Do TCC
X
X
REVISÃO
X
X
IMPRESSÃOX
ENTREGA FINAL
X
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Celso. A Arte de Comunicar,. Editora Vozes. São Paulo. 2005;
BARROS, Cridil Jesus da Silveira; LENFELDE, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de
metodologia cientifica. 2. ed. emp. São Paulo: Macron Books, 2000.
DE LA TAILLE, Yves. A indisciplina e o sentimento de vergonha. In: AQUINO, Júlio Groppa (Org.).
Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. 14. ed. São Paulo: Summus, 1996. p. 9 –
24.
ESTRELA, Maria Teresa. Relação pedagógica, disciplina e indisciplina na aula. 3. ed. Porto:
Porto, 1992.
GARCIA, Joe. Indisciplina na escola: uma reflexão sobre a dimensão preventiva. Revista
Paranaense de Desenvolvimento, Curitiba, n. 95, p. 101 – 108. Jan/Abr de 1999.
KARLIN, Muriel Schoenbrun; BERGER, Regina. Como lidar com o aluno problema.traduçao de
Ana Cecília de Carvalho Gontijo Belo Horizonte, interlivros,1977.
OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos. Educação Infantil: fundamentos e métodos. 5. ed. São
Paulo: Cortez, 2010.
RODRIGUES, Auvo de Jesus. Metodologia cientifica. São Paulo: Avercampy 2006.
VERGÉS, Maritza Rolim de Moura; SANA, Marli Aparecida. Limites e indisciplina na educação
infantil. 2. ed. Campinas: Alínea, 2009.
VERGÉS, Maritza Rolim de Moura. Os sentidos da indisciplina na educação infantil, 2003.
Trabalho de Conclusão de Curso (Pedagogia) – Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, 2003.
INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Serrinha
2013
CRESCENCIANA JUNQUEIRA SANTOS
INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Artigo científico apresentado ao Instituto Pró Saber, como requisito parcial obrigatório para
conclusão do curso de Pós Graduação em Educação infantil.
Orientador: Wagner Reis
Serrinha
2013
SUMÁRIO
RESUMO:
Com base nas metodologias aplicadas no ensino da Educação Infantil, discutiu-se ideias que se
considerem importantes para compreender situações de indisciplina com agressividade em
crianças nesta fase da educação. Como suporte teórico, o trabalho foi embasado em Rego,
Carvalho, Camargo, Cardoso, Winnicott, Içami Tiba. O estudo da origem da indisciplina e de
suas formas de manifestação na primeira infância pode nos fornecer elementos importantes
para a compreensão desse tema de modo a entender como essa mudança de comportamento
inicia e se transforma em indisciplina. Por assim ser, percebe-se que um estudo profundo
desses fenômenos pode auxiliar pais, professores e gestores a entenderem os elementos que
levam à prática da indisciplina e encontrar soluções para as mesmas.
Será feita uma entrevista semi-estruturada estabelecendo questões/temas que devemser
colocadas aos participantes como instrumento que permite entrar em contato com as posições
singulares de cada indivíduo e deverão ser somados a outros indícios sobre o Fenômeno
estudado. Para tal entrevista serão utilizados dois tipos de questionários a serem aplicados na
Creche Criança Feliz I, Praça Agripino Macedo, S/N, Centro, Teofilândia - BA que atende
crianças na faixa etária de dois a seis anos de idade. Divisão dos questionários: Questionário I –
Pais ou responsáveis de alunos e Questionário II – Professores. É válido salientar que todo
trabalho foi precedido de autorização solicitada previamente a Coordenação da Creche citada
acima e das professoras de cada uma das turmas envolvidas, bem como, foi re alizado um
contato com os pais das crianças selecionadas para a participação deles e dos filhos na referida
pesquisa. Através dos dados levantados na pesquisa foi fácil verificar que existe uma
conformidade entre a família e o comportamento dessas crianças. As mais indisciplinadas são
exatamente as que não encontram em casa a segurança necessária para a formação da
personalidade e na falta dessa segurança, a criança manifesta rebeldia em sala de aula como
forma de chamar a atenção dos professores, visto que em casa ela não encontra apoio e
orientação necessária para a formação de sua educação como cidadão. Já a criança que vive
em um ambiente saudável onde é amparada e recebe total apoio eorientação da família,
torna-se uma criança tranquila e disciplinada. Considerando que a função da Instituição Infantil
é de promover o desenvolvimento integral das crianças em parceria com a família, observamos
durante essa pesquisa que, a Creche não possui pessoal habilitado para lidar com essa referida
adversidade que permeiam as Instituições de Educação Infantil. Sendo assim, decidi fazer meu
artigo seguindo essa linha, pretendendo com esse estudo buscar estratégias, de intervenção
educativa, que possibilite a essas crianças, experiências promotoras das capacidades e
habilidades em complementação a ação das famílias, buscando sempre respeitar a
particularidade de cada uma delas.
Palavra chave: Indisciplina; Educação Infantil; Creche; Família;
INTRODUÇÃO
Ao nos preocuparmos com o fator indisciplina na educação infantil, período em que a criança
se encontra em processo de formação, estaremos trabalhando na construção do próprio
sujeito, envolvendo valores e o próprio caráter necessário para o seu desenvolvimento
integral. Por essa razão tentaremos compreender, sentir, fazer e repartir esse processo de
formação. Há um ditado chinês que diz, “se dois homens vem andando por uma estrada, cada
um carregando um pão e, ao se encontrarem, eles trocam os pães, cada homem vai embora
com um; porém, se dois homens vierem andando por uma estrada, cada um carregando uma
ideia e,ao se encontrarem, eles trocam as ideias, cada homem vai embora com duas”. Quem
sabe é esse mesmo o sentido do nosso fazer: repartir ideias para todos terem pão... (CORTELA,
1998, p. 159).
O presente estudo teve como objetivo identificar e compreender os diferentes tipos de
indisciplina apresentados por crianças de uma referida creche para intervir de forma benéfica.
Temos consciência de que as atitudes do docente na sala de aula e dos pais ou responsáv eis
em casa poderão interferir de forma positiva ou negativa no processo cognitivo e afetivo da
criança e para comprovar o que está sendo dito, realizou-se uma pesquisa de campo em uma
creche da zona urbana na cidade de Teofilândia-BA, que teve como objetivo específico: 1-
Analisar a história de vida e os diferentes comportamentos apresentados pelas crianças na
referida creche e em seu ambiente familiar, sejam eles observáveis diretamente ou inferidos a
partir de gestos, postura corporal ou outras formas de linguagem. 2- Conhecer a dinâmica
familiar de uma criança considerada indisciplinada e de outra considerada disciplinada. 3-
Buscar compreender quais aspectos influenciou essa criança a manifestar a indisciplina. 4-
Contribuir esclarecendo os motivos pelos quais os professores tem sido alvo de atos agressivos
dos alunos e ao mesmo tempo tentar intervir mostrando caminhos para que se possa corrigir
esse tipo de comportamento.
Durante a pesquisa,buscou-se teóricos que se aprofundaram ao tema indisciplina. Afinal o que
vem a ser indisciplina? Segundo o Dicionário Aurélio – ‘procedimento, ato ou dito contrário à
disciplina, desobediência, rebelião’.
O conceito de indisciplina, não é uniforme e nem universal. Ela se relaciona com o conjunto de
valores e experiências que variam ao longo da história, entre as diferenças culturais e numa
mesma sociedade, nas diversas classes sociais. “No plano individual, a palavra indisciplina pode
ter diferentes sentidos que dependerão das vivências de cada sujeito e do contexto e m que
foram aplicados.” (REGO, 1996, p.84).
Os traços de cada ser humano estão vinculados ao aprendizado do seu grupo cultural. Diante
disso, é possível afirmar que o comportamento indisciplinado do indivíduo dependerá de sua
história e das características sociais em que está inserido. O ser humano vai adquirindo a
indisciplina através das influências que recebe no decorrer do seu desenvolvimento em seu
âmbito familiar ou no espaço escolar. De acordo com o sociólogo francês François Dubet
(1997), “a disciplina é conquistada todos os dias, é preciso sempre lembrar as regras do jogo,
cada vez é preciso reinteressá-los, cada vez é preciso ameaçar, cada vez é preciso
recompensar”. Isso nos faz analisar o quanto é importante o respeito às regras dentro de uma
instituição para que seu funcionamento seja positivo. Segundo Içami Tiba (1996) adisciplina
escolar é como um conjunto de regras que devem ser obedecidas tanto pelos funcionários
quanto pelos pais e alunos para que o aprendizado escolar tenha êxito. Portanto, a disciplina
escolar é uma qualidade de relacionamento humano entre o corpo docente e os alunos em
uma sala de aula.
DESENVOLVIMENTO
A indisciplina representa uma grande ameaça à desobediência às regras estabelecidas. A
família transmite valores às crianças e a escola transmite conhecimento histórico, científico,
social e moral. As crianças que no seu seio familiar não são amadas e não compartilham
valores, consequentemente serão alunos com problemas afetivos e se sentirão desprotegidos,
com dificuldade de manter relações sociais positivas com os outros. Carvalho, (1996, p.138),
relata a importância de criar formas próprias de enfrentar os casos de indisciplina. De acordo
com Rego (1996) os chamados pais autoritários valorizam a obediência com normas e regras,
sem se preocupar em explicar às crianças os motivos das ameaças, dos castigos e das
imposições’. A importância que a educação familiar tem sobre o indivíduo, do ponto de vista
cognitivo, afetivo e moral é muito grande, porém, as influências que caracterizarão os jovens
ao longo de seu desenvolvimento não serão somente as vivenciadas na sua família, mas
também as aprendizagens dos diferentes contextos sociais, como naescola. Sendo assim, uma
relação entre professores e alunos baseada no controle excessivo, da ameaça, da punição ou
tolerância permissiva, provocará reações diversas. Para Rego (1996), a escola e os educadores
precisam adequar as suas exigências às possibilidades e necessidades dos alunos. Devem dar
condições para que os alunos construam e interiorizem os valores e as posturas consideradas
corretas na nossa cultura (atitudes de solidariedade, cooperação, respeito aos colegas e
professores). De acordo com Rego (1996), os educadores precisam ser coerentes entre sua
conduta e a que espera dos alunos, pois é através da imitação dos valores externos que a
criança aprende ser normal.
Donald Woods Winnicott, psiquiatra infantil, apresenta sua concepção de criança normal:
Uma criança normal se tem a confiança do pai e da mãe, usa de todos os meios possíveis para
se impor. Com o passar do tempo, põe à prova o seu poder de desintegrar, destruir, assustar,
cansar, manobrar, consumir e apropriar-se. Tudo o que leva as pessoas aos tribunais (ou aos
manicômios, pouco importa o caso) tem o seu equivalente normal na infância, na relação da
criança com seu próprio lar. Se o lar consegue suportar tudo que a criança pode fazer para
desorganizá-lo, ela sossega e vai brincar; mas primeiro os negócios, os testes tem que ser
feitos e, especialmente, se a criança tiver alguma dúvida quanto à estabilidade da
instituiçãoparental e do lar (que para mim é muito mais do que a casa). Antes de mais nada, a
criança precisa estar consciente de um quadro de referência se quiser sentir-se livre e ser
capaz de brincar, de fazer seus próprios desenhos, ser uma criança irresponsável. (WINNICOTT,
1946, p. 121)
Winnicott diz o quanto é importante o ambiente familiar para um perfeito desenvolvimento
psicológico da criança, pois, possibilitam um sentimento de segurança e de amparo e somente
desse modo a criança vai se sentir a vontade porque por mais que ela fantasie seu mundo, o
ambiente se manterá estável. Todavia, quando isso não ocorre, a criança vai se tornar
indisciplinada e arredia em outros ambientes, no meio de outras pessoas para tentar
encontrar um quadro de referência:
Ao constatar que o quadro de referência se desfez, ela deixa de se sentir livre. Torna-se
angustiada e, se tem alguma esperança, trata de procurar um quadro de referência fora do lar.
A criança cujo lar não lhe ofereceu um sentimento de segurança busca fora de casa às quatro
paredes; ainda tem esperança e recorre aos avôs, tios e tias, amigos da família, escola. Procura
uma estabilidade externa sem a qual poderá enlouquecer. Fornecida em tempo oportuno, essa
estabilidade poderá ter crescido na criança como os ossos em seu corpo, de modo que,
gradualmente, no decorrer dos primeiros meses e anos devida, terá avançado da dependência
e da necessidade de ser cuidada, para a independência. É frequente a criança obter em suas
relações e na escola o que lhe faltou em seu próprio lar. (WINNICOTT, 1946, p. 121)
Essa citação reforça o motivo que leva uma criança a apresentar um comportamento hostil.
Winnicott vê isso como uma forma de comunicação da realidade interior dessas crianças, que
assim agem por desespero, tentando encontrar o sentimento de segurança que não encontrou
em seu lar. Winnicott cita outro ponto que ressalto a importância do ambiente familiar para a
criança:
De fato, é a partir das coisas aparentemente pequenas que ocorrem no lar e em torno dele
que a criança tece tudo que uma imaginação fértil pode tecer. O vasto mundo é um excelente
lugar para os adultos buscarem uma fuga para o tédio mas, geralmente, as crianças não sabem
o que seja o tédio e podem ter todos os sentimentos de que são capazes entre as quatro
paredes de seu quarto , em sua própria casa, ou apenas a alguns minutos da porta da rua. O
mundo será mais importante e satisfatório se for crescendo, para cada indivíduo, a parti r da
porta de casa, ou do quintal dos fundos... Sim, a imaginação de uma criança pode encontrar
amplo campo de atividade no pequeno mundo de atividade de seu próprio lar e da rua em
frente; e, de fato, é a segurança real propiciada pelo lar que libera a criança para brincar e
desfrutar de outrasmaneiras de sua habilidade para enriquecer o mundo saído de sua própria
cabeça. (WINNICOTT, 1945, p. 54)
Isso nos faz ver o quanto à criança se sente aceita e segura quando consegue experimentar
suas outras habilidades de imaginação e criação e assim ampliar seu conhecimento do mundo
e de si mesma. Os pais têm a função de dar amor, carinho e limites sem agredi-las:
Às vezes, a agressão se manifesta plenamente e se consome, ou precisa de alguém para
enfrentá-la e fazer algo que impeça os danos que ela poderia causar. Outras vezes os impulsos
agressivos se manifestam abertamente, mas aparecem sob a forma de algum tipo de oposto...
As aparências podem variar, mas existem denominadores comuns nos problemas humanos.
Pode ser que uma criança tenda para a agressividade e outra dificilmente revele qualquer
sintoma de agressividade, desde o princípio, embora ambas tenham o mesmo problema.
Acontece simplesmente que essas crianças estão lidando de maneiras distintas com suas
cargas de impulsos agressivos. (WINNICOTT, 1964, p. 97)
Ao analisarmos o que diz o psiquiatra infantil, podemos afirmar que a disciplina ou indisciplina
depende do ponto de vista de quem analisa a situação, depende do contexto e dos sujeitos
envolvidos. Porém, alunos e sociedade não podem esquecer que a finalidade principal da
escola é a preparação para o exercício da cidadania e para serem cidadãos, precisa de
conhecimento, respeitopelo espaço público, ética, normas e relações interpessoais. Paulo
Freire diz: “(...) bom senso. Autoridade não pode ser entendida como autoritarismo” (FREIRE,
1996, p. 14). O professor precisa perceber em certas ocasiões os pontos falhos do aluno e ao
invés de reprimi-lo, tem que ajudá-lo com humildade e tolerância. Temos sentimentos, desejos
e necessidades e, esses sentimentos precisam ser respeitados tanto pelo educador quanto
pelo educando, pois a maneira como nos relacionamos é que mostra os resultados dessa
relação. Segundo Freire:
O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor
incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal
amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum
desses passa pelos alunos sem deixar sua marca.(FREIRE, 1996, p. 73)
O professor traz dentro dele toda sua história de vida e desconhece totalmente a vida do
aluno. Segundo Charlot:
Um educador não é apenas uma criança de tal família, não é apenas o membro de um grupo
sócio cultural. Ele é também sujeito com uma história pessoal e escolar. É um aluno que
encontrou na escola tais professores tais amigos, tais aulas, e que teve surpresas boas e más. É
uma criança que cujos pais disseram que o que se aprende na escola é muito importante para
a vida, ou ao contrário, que não serve para nada. É umacriança que tem muitos irmãos ou
irmãs ou não, que são bem sucedido na escola ou não, e o que pode ajudar a criança ou não, ...
(CHARLOT, 2002. p. 28)
Ao refletirmos no que disse Charlot, todo educador precisa rever suas práticas pedagógicas. A
busca de especialização para atuar na Educação Infantil é muito importante para tentar
amenizar alguns problemas de indisciplina em sala de aula. Içami Tiba (1996) diz que os
grandes responsáveis pela educação dos jovens, a família e a escola, não estão sabendo
cumprir o seu papel. O que se observa hoje é a falência da autoridade dos pais em casa, do
professor na sala de aula e do orientador na escola. Para Içami, tanto os fatores externos
quanto os internos podem influenciar no comportamento de uma criança. Dependendo do
mimo e do trato, a criança pode ser mais ou menos indisciplinada. Toda criança ao sair do seio
familiar, entra em um mundo totalmente diferente e em virtude disso, o profissional da
educação, o professor, deve ser ético, humilde, conhecedor de seus limites. Içami Tiba faz
referência à geração de pais que confundem autoridade com autoritarismo e optam por não
colocar limites nos filhos: “Cabe os pais delegar ao filho tarefas que ele já é capaz de cumprir.
O que ele aprendeu é dele. A mãe deveria ficar orgulhosa pelo seu crescimento, em vez de se
sentir lesada por não ser mais útil.” (TIBA, 1996, p.35). É por isso que os pais nunca devem
fazertudo pelo filho, basta ajudá-lo até o ponto em que ele consiga realizar suas tarefas
sozinhos para adquirir auto-confiança e elevar sua auto-estima. Içami também cita: “Nenhuma
criança nasce folgada, ela aprende a ser. A indolência constante não é natural. Resulta da
dificuldade de realizar seus desejos. A criança só pode ser considerada folgada quando
conhece as suas responsabilidades e não as cumpre”. (TIBA, 1996, p.37). A partir do momento
que os pais não impõem limites e regras, o filho torna-se folgado: “O filho torna-se folgado
porque deixou de fazer o que é capaz e precisa executar, e a mãe torna-se uma sufocada
porque precisa dar tarefas que não lhe cabem mais, além de muitas outras atividades”. (TIBA,
1996, p. 39).
Hoje em dia, os pais estão permitindo perder a própria autoridade. Costuma-se ouvir muitos
pais se queixarem que os filhos querem a qualquer custo um determinado objeto, e os pais
que acostumaram a fazer todos os gostos do filho, sempre movido por uma desculpa, acaba
cedendo aos caprichos do filho mimando-o. Atualmente, com a perda da autoridade paterna,
os filhos é que se tornam implacáveis com os pais. Quando o pai tenta impor uma disciplina,
negando algo para o filho acostumado a ter de tudo, este vê o pai como um empecilho e tenta
eliminá-lo. Tiba relata que:
“Nessas últimas décadas, a mulher emancipou-se e ganhou destaque sócio econômico,
profissional e cultural, mas namaioria o instinto materno ainda fala mais alto do que todas as
suas conquistas. Em virtude desse instinto é que ainda hoje as mulheres se sentem tão
culpadas por ficarem longe dos filhos.”(TIBA, 1996, p. 40)
Os pais, cada vez mais ausentes dos filhos devido à jornada de trabalho ou separações, estão
causando a desestruturação das famílias e assim, se sentem culpados. Esse sentimento de
culpa leva os pais a fazerem mimos tentando amenizar a situação, e isso obriga o educador à
capacitar-se, buscar habilidades e principalmente gostar de ser professor para lhe dar com
esse tipo de comportamento. A criança já vem de casa com seus mimos, todo folgado,
totalmente cheios de vontade. Segundo Rossini (2001), “crianças gostam de professores que
lhe dêem limites”. É preciso que o profissional da educação estabeleça regras, faça
combinados adotem um padrão básico de atitudes perante as indisciplinas mais comuns.
Quando um aluno não cumpre os combinados, ultrapassam os limites, ele não está
simplesmente desrespeitando um professor em particular, mas as normas da escola. Assim
cabe ao professor atuar com competência profissional e coerência, sentindo-se responsáveis
pelo que ocorre ao seu redor e os pais têm a grande responsabilidade de está ciente de tudo
que se passa com o filho na unidade escolar. Mas a realidade é totalmente diferente, pois, os
pais trabalham muito e têm menos tempo para dedicar à educaçãodos filhos e querem que a
escola assuma a função que deveria ser deles: a de passar para a criança os valores éticos e de
comportamento básicos.
Com o propósito de buscar formas e métodos que possam ajudar a amenizar esse tipo de
comportamento de forma saudável, devemos reforçar qual a principal função das instituições
de educação infantil: As crianças de zero a seis anos de idade têm necessidades específicas de
cuidados, cabendo aos seus responsáveis proporcionar situações que lhes auxiliem a adquirir
capacidades motoras (sentar, andar, controlar os esfíncteres ‘músculos circulares que aperta
as cavidades a que corresponde’) psíquicas, (falar, pensar) e sociais (estabelecer relações com
outras pessoas). Essas instituições de Educação Infantil são reconhecidas na Constituição
Federal de 1988 e dispõe seus objetivos e normas de funcionamento disciplinado pela Lei de
Diretrizes e Base da Educação Nacional. Segundo seu artigo 4º: “O dever do estado com a
educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: [...]; IV – Atendimento
gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade”. (LDBEN nº
9394/96. Art. 04).
Quanto sua finalidade, oferta e forma de avaliação foram definidas da seguinte forma:
Art. 29. A Educação Infantil primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o
desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos
físico,psicológico, intelectual e social complementando a ação da família e da comunidade.
Art. 30. A Educação Infantil será oferecida em:
I- creches ou entidades equivalentes, para crianças de até seis anos de idade;
II- pré-escolas, para crianças de quatro a seis anos de idade.
Art. 31. Na Educação Infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu
desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental.
Conforme o que nos diz a LDBEN, os profissionais da área devem está revendo com frequência
suas práticas pedagógicas, ter como objetivo maior, propiciar um atendimento de qualidade,
socializar e nortear o trabalho educativo criando estratégias que melhorem as condições de
trabalho já que as mães entregam seus filhos nas creches confiando nas boas condições e
cuidados em que os mesmos irão receber. Isso nos leva a acreditar o quanto é importante o
planejamento das atividades a serem desenvolvidas na instituição. Rego chama atenção a isso:
O comportamento indisciplinado está diretamente relacionado à ineficiência da prática
pedagógica desenvolvida: propostas curriculares problemáticas e metodologias que
subestimam a capacidade do aluno (assuntos pouco interessantes ou fáceis demais), [ ...],
constante uso de sanções e ameaças visando ao silêncio da classe, pouco diálogo etc. Isso
aponta que em toda indisciplina existe uma razão que precisa serinvestigada. (REGO, 1996, p.
100)
É muito importante inovar, criar, buscar incessantemente meios para não deixar o aluno
ansioso. Uma das formas de inovação é a inclusão de jogos no planejamento da creche.
Vejamos o que nos diz Freire:
Professores realmente preocupados com o desenvolvimento das características humanas, ao
invés de tentarem eliminar o caráter competitivo dos jogos, deveriam procurar compreendê-lo
e utilizá-lo para valorizar as relações. Creio ser mais educativo reconhecer a importância do
vencido e do vencedor do que nunca competir. (FREIRE, 1997, p. 153).
A inserção de jogos nas aulas de educação infantil é uma forma de fazer com que o aluno
trabalhe o corpo e a cabeça, podendo ser cooperativo ou competitivo, pois apesar dos jogos
cooperativos possuírem inúmeras vantagens, não pode, simplesmente, deixar de lado os jogos
com caráter competitivo, pois se eles forem trabalhados de maneira adequada, a criança
incorpora, igualmente, valores importantes para a vida, como a importância do vencedor e do
vencido, a cooperação entre os colegas e o respeito para com todos os jogadores.
O professor deve oferecer em seu planejamento oportunidades para estimular todos os
sentidos da criança, principalmente o tato, que transmite segurança, Carvalho e Rubiano
(1994) diz que “à medida que características físicas do ambiente convidam ao toque, aumenta
a sensação de segurança, permitindo ácriança explorar o espaço mais prontamente.” A
ludicidade é uma das maneiras de se explorar os sentidos das crianças. Ferreira diz:
Brincar é um dos meios de realizar e agir no mundo, não unicamente para as crianças se
prepararem para ele, mas, usando-o como um recurso comunicativo, para participarem da
vida quotidiana pelas versões da realidade que são feitas na interação social, dando significado
às ações. Brincar é parte integrante da vida social e é um processo interpretativo com uma
textura complexa, onde fazer realidade requer negociação do significado, conduzido pelo
corpo e pela linguagem.” ( FERREIRA, 2004, p. 84)
Toda criança usa a brincadeira como principal modo de ação. Elas não fazem distinção entre
brincar e levar a sério, não consegue separar o real do imaginário e acabam utilizando-as
naturalmente.
Ao considerar pertinentes essas reflexões, relatam-se os resultados obtidos na entrevista semi-
estruturada que permitiu refletir sobre a história de vida de dois alunos em seu ambiente
familiar e na Instituição de Educação Infantil (Creche Criança Feliz I , Praça Agripino Macedo,
S/N, Centro, Teofilândia –BA) que atende crianças na faixa etária de dois a seis anos de idade,
no qual os pais ou responsáveis dos referidos alunos responderam a um determinado
questionário e dois professores responderam a outro tipo de questionário.
É válido salientar que todo trabalho foi precedido deautorização solicitada primeiramente a
Coordenação da Creche. Ademais, antes de cada um dos procedimentos, foi solicitada a
autorização das professoras de cada uma das turmas envolvidas bem como foi realizado um
contato com os pais das crianças selecionadas para a participação deles e dos filhos na referida
pesquisa.
Indisciplina de João Paulo: comportamento (relações no ambiente familiar e na creche).
A mãe de João Paulo, apesar de manter um contato frequente com o filho, está envolvida em
um ambiente de alcoolismo e de agressividade com o marido. O pai de João Paulo representa
uma ameaça constante, onde palavrões fazem parte do vocabulário dessa família. A mãe tem
três filhos e João é o segundo. Testemunha de constantes brigas dos pais, que utilizavam
armas frias, João já relatou detalhes dessas brigas na creche. Em virtude dessa total falta de
estrutura familiar, o mesmo chegou ao ponto de ameaçar matar a própria mãe caso ela não
desse o que ele queria.
Sabemos que para obter disciplina em qualquer ambiente em que vi vemos devemos falar de
respeito e cada pessoa vem junto com sua vida intelectual, afetiva e religiosa uma vida moral e
João, aos cinco anos de idade, não está tendo esse direito e, por conta disso, se tornou uma
criança excessivamente inquieta, agitada e indisciplinada, que se destaca do grupo pela
dificuldade de aceitar e cumprir as normas da creche devido a vivência e experiência de
suacasa. Ele não consegue produzir o esperado para sua idade, e isso representa um desafio
constante para professores e gestores da creche. Sua idade cronológica (a que fornece uma
estimativa aproximada do nível de desenvolvimento do indivíduo, que pode ser mais
precisamente determinado por outros meios, tais como idade óssea, dental, sexual e motora)
não condiz com a estrutura cognitiva prévia. O modo como João explorava os objetos, a
curiosidade diante de situações novas não indicavam um desenvolvimento cognitivo
adequado, sua inabilidade social comprometia todas essas qualidades. João não conseguia
dominar os conhecimentos escolares de reconhecimento de cores, de letras e números. Além
de todos esses problemas, João Paulo apresentava sérios transtornos; não conseguia controlar
os esfíncteres: fazia xixi na roupa, sujava sua cueca de côco, não tinha noção alguma de
higiene e o pior deles era a constante evacuação de fezes com um odor insuportável. No
decorrer dessa pesquisa a professora descobriu que João fazia as necessidades na cueca
porque a mãe não deixava utilizar o sanitário e mandava os filhos fazer as necessidades
fisiológicas no matagal que tinha próximo da residência e assim, na creche, João se sentia
amedrontado no momento de evacuar e com medo acabava defecando na cueca. Esse
constrangimento deixava-o aborrecido porque os colegas riam e isso o irritava levando-a a
cometer vários atos deindisciplina.
Através dos dispositivos legais da LDBEN e de alguns estudiosos da área como Carvalho e
Rubiano, (1994) e Faria, (1999) evidenciam a importância das Instituições de Educação Infantil
promoverem o desenvolvimento integral pela dupla função de cuidar e educar. O cuidar no
sentido mais amplo deve ser pensado como a necessidade de acrescentar no projeto
pedagógico das creches ações direcionado tanto para a satisfação das necessidades fisiológicas
e de higiene quanto para o desenvolvimento psicológico e emocional das crianças e para tanto
é preciso que essa instituição incremente atividades de “cuidado” para assegurar-lhe um
melhor desenvolvimento. Deve-se pensar em atividades de promoção e socialização.
Analisando as idéias de Winnicott quanto à tendência anti-social, a indisciplina de João Paulo
mostra como ele sempre busca chamar a atenção na creche já que em casa ele não encontra a
segurança e a aceitação necessárias para tranquilizá-lo e é preciso que os responsáveis
possuam firmeza e tranquilidade ao mesmo tempo, para proporcionar às crianças atividades
rotineiras capazes de transmitir segurança, sentimento de confiança básica tão fundamental
nas atividades cotidianas.
Disciplina de Tatiane: comportamento (relações no ambiente familiar e na creche).
Tatiane é uma criança modelo na creche. Sua obediência, sua educação, seu compromisso e
seu controle nos movimentos e na fala reforçam oconceito de aluna disciplinada. No entanto,
em casa ela se mostrava uma menina extrovertida, agitada e direta. Ela se encaixa na idéia de
Winnicott quanto à criança “normal” que provoca, manobra tentando se impor.
Tatiane interagia e se relacionava bem com a turma, cumpria os combinados, contava suas
façanhas de final de semana, inventava histórias, repartia os brinquedos e sempre estava com
suas atividades de casa em dia.
A reflexão sobre a disciplina de Tatiane na creche e seu comportamento em casa reforça o
entendimento de que a criança deve está inserida em um ambiente saudável que lhe
proporcione maior satisfação e lhe dê limites: “Para chegar à birra, a mãe foi uma
indisciplinada: proibiu e deu, proibiu e deu. Desrespeitou suas proibições, ensinando seu filho
a fazer o mesmo: desrespeitá-la.” (TIBA, 1996, p. 38). Como Tatiane sempre encontrou em
casa um ambiente equilibrado, onde as regras eram sempre cumpridas e o lazer um direito
dela, não foi difícil para Tatiane se adequar aos combinados da creche. A mãe de Tatiane relata
que nunca deixou a filha ditar as regras, sempre teve autoridade para com a mesma e
concedia sempre o direito de ser criança alegre e feliz. Segundo Içami Tiba:
Quando os pais se submetem aos caprichos do filho, ele fica caprichoso também em relação às
outras pessoas. Seu pensamento pode ser traduzido assim: Se até meus pais que podem
mandar em mim não mandam, quem sãovocês para mandar em mim? Sentem-se então, o
poderoso da casa. (TIBA, 1996, p. 58)
Precisamos está nos policiando quanto educadores, pois, as crianças copiam o comportamento
dos adultos;
Filhos folgados e internamente inseguros fora de casa podem se submeter timidamente ao
primeiro que lhes colocar um limite, um amigo ou professor, por incapacidade de se defender.
Entretanto, como as crianças usam tudo a seu favor, às vezes acontece o inverso: em casa se
submetem e descontam depois na escola.(TIBA,1996, p. 59)
Ao refletirmos sobre a vida dessas duas crianças, observa-se o quanto é importante se
conhecer a realidade dos alunos e como é importante se colocar nas atividades infantis
brincadeiras de faz-de-conta e jogos lúdicos para se garantir um desenvolvimento psicológico
saudável. Vygotsky (1984) considera as experiências sociais como um elemento que influencia
tanto na maturação e aprimoramento do desenvolvimento emocional quanto no
desenvolvimento intelectual.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com isso, ao realizar esse trabalho, gostaria de apresentar minha avaliação em relação ao que
diz os teóricos que me ajudaram a escrever esse artigo sobre a Indisciplina na Educação
Infantil. Rego (1996, p. 100) defende que “o comportamento indisciplinado está diretamente
relacionado à ineficiência da prática pedagógica desenvolvida: propostas curriculares
problemáticas[...], constante uso de sanções e ameaças, etc.” (REGO,1996, p. 100); Içami Tiba
(1996) argumenta a disciplina escolar é um conjunto de regras que devem ser obedecidas
tanto pelos professores quanto pelos alunos para que o aprendizado escolar tenha êxito.
Freire nos diz: “O professor tem que entender, em certas ocasiões, pontos falhos do aluno. Ao
invés de reprimi-lo, tem que ajudá-lo com humildade e tolerância.” (FREIRE, 1996). Os
estudiosos levam-nos a entender a importância das interações sociais como fonte de
desenvolvimento e transformação social. Os problemas estudados indicam que a infância é um
período peculiar, e por isso deve ser definido através da vivência de cada criança. De acordo
com os teóricos acima, ficou constatado que os professores devem buscar inovação,
habilidades, capacitação. Vejamos o que nos diz Freire:
Professores que ministram uma boa aula, uma aula que faça sucesso entre os alunos e pronto;
trata-se de uma preparação para a vida, de dar a eles condições de tornarem-se cidadãos
autônomos, oferecer conhecimentos que se incorporem à vida, possibilitando-os serem livres,
decidindo de acordo com a sua própria consciência, ou seja, educar é mais que transmitir
conteúdos, é ensinar a viver (FREIRE, 2005, p. 06).
Freire nos leva a ver que o professor deve demonstrar segurança naquilo que está fazendo,
para ser respeitado por seus alunos desde o primeiro dia de aula e paraisso faz-se necessário
um bom planejamento, ambiente adequado, estrutura, material didático suficiente e criação
de normas que possam ser cumpridas com eficiência.
Não basta apenas o professor está interessado na boa disciplina e no bom andamento do
aluno, mas, toda a creche juntamente com a família. É na sala de aula que se ajuda a construir
futuros cidadãos com personalidade, onde vão aprender a limitar seus instintos que são
impulsivos e necessitam de correção desde a primeira infância, a começar pela família.
Ao levar os pais a participar de encontros, palestras, reuniões e troca de experiências com
outros pais, eles sairão fortalecidos e sentirão que não estão sozinhos nessa luta. É
exatamente aí que entra a importância do Gestor. Ele precisa ter muita criatividade, iniciativa,
bom humor, respeito humano e disciplina para conscientizar os pais à frequentarem a
instituição que o filho estuda, com o objetivo de participar de eventos que os auxiliarão a
superar e resolver alguns problemas de indisciplina em seu ambiente familiar.
Tendo nesse artigo informações sobre o comportamento de duas crianças diferentes em seu
ambiente familiar e na creche, fica reforçada a necessidade de integração entre família e
instituição no que se refere à garantia de vínculos de qualidade. Para isso é preciso que se
criem políticas públicas concretas e urgentes para auxiliar e organizar melhor a atuação e
aintegração dessas instituições.
Vimos que o estudo da indisciplina e suas diferentes formas de manifestação na primeira
infância nos fornecem elementos importantes para auxiliar pais, professores e gestores a
encontrar soluções para as mesmas. Destaco a necessidade da sociedade e do estado agirem
de modo a subsidiar a atuação dessas instituições melhorando o processo pedagógico, criando
cursos profissionalizantes e estabelecendo medidas concretas para apoiar as famílias e
melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Por fim, recomendamos o aprofundamento de estudos sobre a indisciplina na Educação
Infantil que poderão trazer novos olhares, com novas abordagens e que esses possam servir
como alavanca propulsora de novas reflexões para essa questão polêmica, não como fórmula
mágica, mas, que seja questionada, provada e quem sabe, aprovada, já que o meu objetivo é
identificar e compreender os diferentes tipos de indisciplina apresentados pelas crianças das
creches para intervir de forma benéfica.
REFERÊNCIAS
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partir de relatos de experiência. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 1996.
CARVALHO Mara; RUBIANO, Márcia. Organização do Espaço em Instituições pré-escolares.
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CORTELLA, Mario Sergio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos.
São Paulo: Editora Cortez, 1998.
DUBET, François. Quando o sociólogo quer saber o que é ser professor: entrevista com
François Dubet. São Paulo: Revista Brasileira de Educação, n. 5, maio/ago. 1997.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio. Rio de Janeiro: Editora Nova
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FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 23ª ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1996.
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Paulo: Scipione, 1997.
REGO, Tereza Cristina. A indisciplina e o processo educativo: Uma análise na perspectiva
vigotskiana. São Paulo: Vozes, 1945
ROSSINI, Maria Augusta Sanches. Pedagogia Afetiva. 4ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2001.
TIBA, Içami. Disciplina, Limite na Medida Certa. 38. ed. São Paulo: Gente 1996.
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WINNICOTT , D. W. De novo em casa. Em: Privação e delinquência. 2ª ed. Rio de Janeiro:
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WINNICOTT , D. W. Alguns aspectos psicológicos da delinquência juvenil. Em: Privação e
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WINNICOTT , D. W. Raízes da agressão. Em: Privação e delinqüência. Agressão e suas raízes. 2ª ed. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1964
1 INTRODUÇÃO
Com reflexões sobre a indisciplina na educação infantil, buscamos discutir sobre a necessidade
de ampliação da visão critica em relação à indisciplina, além de atentar para a questão do
papel da escola, pais e da relação professor-aluno nesta estabelecida.
A escola sofre reflexos do meio em que está inserida. O problema disciplinar é,
frequentemente, repercussão dos conflitos da família e do meio social envolvente.
As pessoas que rodeiam o aluno, mais propriamente as pessoas de família, influem muito no
seu comportamento, pois a criança nasce no seio desta, sendo, portanto, os pais os primeiros
educadores. A extraordinária influência dos que quotidianamente tratam com os alunos
reflete-se em muitos dos atos praticados por eles. A ação da Família começa desde o berço,
muito antes da ação da Escola. Sendo a importância da ação familiar na tarefa educativa
reconhecida pela Escola, impõe-se uma íntima colaboração, que deverá significar a ajuda
mútua na consecução do ideal educativo.
Para uma educação idealmente construída, a disciplina deveria ser conseqüência voluntária da
escolha livre e, como consequência da disciplina, a liberdade deveria enriquecer-se de
possibilidades, não sendo antagônicos os dois princípios de liberdade e de disciplina.
O clima da aula deve ser de liberdade e de tolerância, de modo a permitir que os alunos
tomem consciência dos seus valores e ajam em sintonia com eles. A autonomia conduz à
autodisciplina, não significando, no entanto, que o professor tenha uma atitude de
indiferença, ou de apatiaperante os alunos. Pelo contrário, as suas atitudes, embora
democráticas, devem ser firmes.
Nos nossos dias, cada vez é mais difícil estabelecer a disciplina e fazê-la respeitar. Com o efeito
da evolução das condições gerais de vida, em todos os meios, as crianças tornaram-se mais
independentes, menos dispostas a obedecer à autoridade dos adultos.
Hoje, vive-se numa sociedade em que a unidade familiar se encontra desgastada, sem que o
lar possa oferecer aconchego, uma vez que os pais, graças às deslocações para o emprego e às
longas jornadas de trabalho que lhes asseguram a subsistência, deixam de estar presentes nos
momentos mais difíceis.
Este tema é, sem dúvida, demasiado vasto. Tendo em consideração a sua amplitude, serão
tratadas apenas algumas vertentes, não numa perspectiva de meta de chegada de
conhecimentos definitivos, mas de ponto de partida para outras abordagens interativas do ato
educativo. Como a indisciplina constitui, atualmente, uns dos problemas mais graves que a
Escola enfrenta, não podiam deixar de ser referidos, também, os efeitos negativos que ela
produz em relação aos docentes.
Portanto, o objetivo que ora se propõe o presente trabalho será identificar concepções de
disciplina e como professores, pais e alunos as incorporam no seu cotidiano.
Para tanto, tivemos como base os estudos de Groppa (1996) e de Estrela (1994), nos quais,
através da abordagem qualitativa, procuramos demonstrar as várias possibilidades de
entendimento sobre o tema proposto, além de discutir a questão da disciplina e da indisciplina
como elementopertencente ao processo educativo, e por isso mesmo, fomentador deste.
O presente trabalho consta de Introdução, na qual apresentamos o tema, a justificativa e os
objetivos da pesquisa.
Capítulo 1. A Trajetória da Pesquisa (justificativa)
Capitulo 2. Indisciplina escolar, no qual desenvolvemos reflexões acerca dos vári os aspectos
em que pode ser considerada a indisciplina e a disciplina, além dos efeitos sobre os docentes.
Capitulo 3. Onde fala da diferença entre autoridade e autoritarismo na prática do docente e
também do papel da escola e da relação professor-aluno.
Capitulo4. Referencial teórico (A Participação dos pais na Ed. Escolar)
CAPITULO I – A TRAJETÓRIA DA PESQUISA
1.1 JUSTIFICATIVA
Historicamente, a escola e a família, tal qual as conhecemos hoje, são instituições que surgem,
com o advento da modernidade, ambas destinadas ao cuidado e educação das crianças e
jovens. Na verdade, à escola coube a função de educar a juventude na medida em que o
tempo e a competência da família eram considerados escassos para o cumprimento de tal
tarefa. Os saberes diversos e especializados, necessários, à formação das novas gerações,
demandavam cada vez mais ao longo do tempo, um espaço próprio dedicado ao trabalho de
apresentação e sistematização de conhecimentos dessa natureza, diferente, portanto, daquele
organizado pela família.
No Brasil, a escola, como instituição distinta da família, construiu-se aos poucos, às custas das
pressões científicas e dos costumes característicos de uma vida mais
urbana.Aproximadamente dois séculos, sinalizaram para a necessidade de uma organização
voltada à formação física, moral e mental dos indivíduos; missão essa impossível para o âmbito
doméstico.
Esse modelo esteve a serviço, sobretudo durante o século XIX, da moldagem das elites
intelectuais nacionais. A escola era profundamente diferente da família e, oferecia à formação
das crianças e dos jovens a uma educação da qual nenhuma outra instituição poderia se
ocupar. Os primórdios da República, na onda dos movimentos sociais, políticos e culturais que
marcaram a época, impuseram a necessidade de modernizar a sociedade e colocar a Nação
nos trilhos do crescimento, exigindo então um outro modelo e uma maior abrangência da ação
educacional.
Assim, como podemos observar, a discussão sobre a participação da família na vida escolar de
seus filhos não é recente. Há décadas que se vem refletindo sobre como envolver a família,
promover a co-responsabilidade e torná-la parte do processo educativo. Sem dúvida, tal
aproximação trata-se de uma difícil tarefa, isto, em função das inseguranças, incertezas e da
falta de esclarecimento sobre o processo educacional, suas limitações, bem como sua
abrangência.
Compor uma parceria entre escola e família pressupõe de ambas as partes, a compreensão de
que a relação família-escola deve se manifestar de forma que os pais não responsabilizem
somente à escola a educação de seus filhos e, por outro lado, a escola não pode eximir-se de
ser co-responsável no processo formativo do aluno.
A presente pesquisa justifica-se pela necessidade de contribuirno processo ensino-
aprendizagem da criança de zero a seis anos da Educação Infantil, e por entendermos que a
parceria entre a família e a escola é de suma importância para o sucesso no desenvolvimento
intelectual, moral e na formação do indivíduo nessa faixa etária.
Os paradigmas de interpretação e de gestão das realidades sociais defendem modelos
sistêmicos numa perspectiva de integração funcional em que a flexibilidade, a mudança e o
conflito são elementos que devem ser coagidos. Neste sentido, além do estudo das estruturas
e das funções da família e da escola, havemos de considerar, também, as transformações que
estão ocorrendo na sociedade moderna, nas suas instituições e conforme os quadros sociais
que estão instáveis, daí decorrentes que exigem uma compreensão dinâmica e respostas mais
articuladas.
1.2 EDUCAÇÃO INFANTIL
As preocupações com a educação infantil não é um fato recente, desde o inicio das civilizações
que ela tem seu papel na formação do indivíduo. O que mudou foi a maneira de pensar essa
educação.
Na Grécia antiga, o conhecimento era transmitido com o objetivo de elevação intelectual,
porém com o passar do tempo e muitos desgastes nas técnicas educacionais, levaram a
educação a ser resumida a transmissão de conhecimentos, e acessível apenas ás classes
abastadas. Porém com a criação da escola pública (séc. XVI) inspirada nas idéias alemãs,
tornou-se mais acessível á quase todos, porém a educação ainda não era de muita qualidade.
O progresso alcançado em poucos anos nos cuidados e educação das crianças, pode ser
atribuído mais a umdespertar de consciência do que á evolução das condições de vida. Não foi
apenas o progresso devido a higiene infantil que se desenvolveu em especial na última década
do século XVIII, a personalidade da própria criança manifestou-se sob novos aspectos,
assumindo a mais alta importância, como frisa MONTESSORI (1980):"Não é a criança física
,mas a psíquica que poderá dar ao aperfeiçoamento humano um impulso dominante e
poderoso."A concepção de educação infantil implantada no século XVIII,foi de suma
importância para a criança ,pois segundo o educador e fundador dos jardins-de-infância o
alemão FROEBEL (1782-1852) ,a infância é a fase mais importante e decisiva na formação de
pessoas ,e comparava-as a uma planta em sua fase de formação ,exigindo cuidados periódicos
para que cresça de maneira saudável .As técnicas utilizadas até hoje em Educação Infantil
devem muito a Froebel ,pois para ele,as brincadeiras são os primeiros recursos no caminho da
aprendizagem.
É no período pré-escolar, que as crianças têm a oportunidade de trabalhar com conteúdos
adequados para sua idade, sendo manipulados de forma correta para serem absorvidos por
elas, trabalhar com atividades lúdicas, de forma com que esta contribua com seu
desenvolvimento, auxiliando com a construção do conhecimento, e assim, na formação da
criança, pois,já se sabe ,que a criança não aprende apenas com atividades formais e
sistematizadas .
A socialização é outra contribuição fornecida pela Educação Infantil, pois depois da família ,o
primeiro contato que a criança tem,é com um grupo estanho e acontece nascreches e pré –
escolas, oportunizando-as explorar o novo.
Enfim, a Educação Infantil tem um papel um papel significativo no mundo infantil, pois
apresentará atividades que iram auxiliar no seu desenvolvimento social, cultural, psíquico,
motor sensorial e cognitivo, construindo o aprendizado através das experiências vivenciadas
pela criança.
1.3 A EDUCAÇÃO INFANTIL COMO DIREITO DA CRIANÇA
As significativas mudanças ocorridas, no âmbito legal, social e educacional, determinando
novas diretrizes e parâmetros no atendimento á crianças de 0 á 3 anos de idade promoveram a
necessidade de reordenamento na estrutura funcional e organizacional dessas instituições ,e
principalmente naquelas voltadas para o atendimento de crianças vulnerabilizadas pela
situação pela situação de pobreza ,abrangendo além da assistência social , alcançar a
educação.
Estas mudanças se deram não apenas por movimentos sociais organizados, mas pela
promulgação da Constituição Federal de1988 (CF/98),na qual a criança é reconhecida em sua
cidadania ,e portanto como sujeito de direitos.
A CF/88 em seu artigo 208-IV determina que "o dever do Estado com a educação ás crianças
de 0 á 6 anos será efetivado mediante garantia de atendimento em creches e pré-escola."
Por sua vez, o Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990 retificou que é dever do Estado
assegurar..atendimento em creches e pré-escola ás crianças de zero a seis anos de
idade..(ECA,art54-IV).
A lei nº394, de 20 de dezembro de 1996 ,Lei de Diretrizes e Bases(LDB),em seu artigo 4°-
VI,confirmou ,mais uma vez,que o atendimento gratuito em creches e pré-escola é dever do
Estado.Deixou claro também que o atendimento a esta faixa etária está sob a incumbência dos
municípios(art.11-V) ,determinando que todas as instituições de Educação Infantil ,publicas e
privadas,estejam inseridas no sistema de ensino .Como parte integrante da primeira etapa da
educação básica,a Educação Infantil foi dividida em creche(zero a três anos) e pré -
escola(quatro á seis anos),conforme artigo 31-I da LDB/96.
CAPÍTULO II – FATORES CONDICIONANTES DA DISCIPLINA/INDISCIPLINA
São múltiplos os fatores que condicionam a disciplina, tanto no espaço sala de aula, como no
espaço Escola.
Segundo Domingues(1995), podem considerar-se fatores estruturais (escolaridade obrigatória,
número de alunos por turma, currículos escolares e autoridade do professor), fatores sociais
(representações sociais, subculturas docentes e discentes, e poderes dos professores e dos
alunos) e fatores pessoais (objetivos individuais, estilos de ensino e estratégias de
aprendizagem).
2.1 INDISCIPLINA ESCOLAR
Neste momento, discorremos acerca das discussões em torno dos conflitos que permeiam a
educação formal e das várias tentativas de se estabelecer, ou ainda de se encontrar as causas
dos distúrbios no processo de aprendizagem, é que propomos, com este trabalho, confrontar
idéias que têm como fio condutor a questão da indisciplina na sala de aula, sob pensamentos
advindos do processo educativo como um todo.
É a partir da ótica panorâmica de Groppa (1996), a problemática gerada pela indisciplina na
escola esuas relações com os aspectos formadores do homem, tais como os psicológicos,
sociológicos, filosóficos, políticos e éticos, que desenvolvemos nossa pesquisa.
Indisciplina é sempre comportamento impróprio (desobediência, desrespeito ou
agressividade),seja na família quando uma criança faz algo de perigoso ,se ela for agredida ao
invés de orientada pode se tornar agressiva e expressar sua revolta em forma de
indisciplina.No esporte há regras mas se elas forem mal aplicadas também poderá gerar
indisciplina .O mesmo ocorre na escola,quando as regras de convívio não são bem elaborada
se esclarecidas:ocorre a indisciplina. Pois como diz FREIRE (1998): "Disciplina pronta não
existe, é preciso que todos os sujeitos envolvidos no processo educacional (pais, alunos e
escolas) participem da construção do sistema de disciplina".
Num país que prima pela desorganização, pelo desrespeito a todo e qualquer tipo de ordem
ou norma, que coloca interesses de algumas pessoas ou grupos minoritários poderosos acima
de valores humanos de dignidade, respeito e solidariedade, disciplinar é não só uma proposta
temerária, como um grande desafio.
A escola vem estruturada com uma série de regras,diferentes da disciplina da família, e
querendo enquadrar todos nessa regra.A escola toma a disciplina como regra e não como
objetivo educacional,como deveria.
De acordo com o pesquisador, o excesso de indisciplina na escola sugere que a inst ituição não
está cumprindo seu papel. "As escolas de hoje se dizem preocupadas com a formação cidadã
dos alunos e propõem o ensino de regras deconvivência social. Por isso, a indisciplina ou o
excesso dela demonstra fracasso no seu trabalho de socialização", argumenta. A indisciplina
afeta a vida escolar porque perturba a relação pedagógica, impactando negativamente o
aprendizado dos alunos. Segundo Campos, existem pesquisas que demonstram que os alunos
de periferia são mais afetados por esse distúrbio na relação de aprendizado. "Isso é mais uma
barreira, que se soma às outras que a gente já conhece", conclui.
A indisciplina em criança sem idade pré-escolar pode ocorrer também pelo fato de a aula ser
mal planejada ou não planejada, tendo em vista que nessa idade as atividades escolares
devem ser diversificadas e de curto tempo, pois a criança.
2.2 OS VÁRIOS ASPECTOS DA INDISCIPLINA
De acordo com os estudos de Groppa (1996), a problemática gerada pela indisciplina na escola
está relacionada com a interpretação e administração do ato indisciplinado. É o ponto em que
o educador, (por sentir a substituição da autoridade pela perplexidade), se perde e inicia a
busca por soluções imediatistas, uma vez que a linha divisória entre a indisciplina e a violência
é muito tênue.
Desse modo, é sob as considerações de Yves e de La Taille, que encontramos subsídios ou
argumentos, para tratar dos problemas relacionados à aprendizagem, (considerados na
maioria das vezes sob uma visão simplista) à luz de uma ótica em que estão inseridos mais que
as questões escolares e são considerados os aspectos ou elementos formadores do homem.
Assim, a indisciplina passa a ser discutida sob dimensões humanas em que não cabemmais
julgamentos, rótulos ou justificativas culposas, e sim questionamentos, reflexões e a ampliação
do conhecimento acerca do homem contemporâneo, da disciplina, da aprendizagem e do
espaço e da identidade ocupados hoje pela escola.
Para La Taille (1996), trata-se de estender a indisciplina à articulação de várias dimensões em
que não cabem mais a normatização do tema apenas à questão moral, ao seu reducionismo
psicológico sob um único viés, assim como a indiferença pela complexidade que compõe. Sob
tal pensamento, o autor discorre que
[...] Se entendemos por disciplina comportamentos regidos por um conjunto de normas, a
indisciplina poderá se traduzir de duas formas: 1) a revolta contra estas normas; 2) o
desconhecimento delas. No primeiro caso, a indisciplina traduz-se por uma forma de
desobediência insolente; no segundo, pelo caos dos comportamentos, pela desorganização
das relações. (LA TAILLE 1996, p.10)
Sob tais considerações, é tecida a linha de pensamento na qual o autor observa que o
desconhecimento das normas, os conflitos comportamentais e o estremecimento das re lações,
atualmente revelam o quadro em que se encontra a educação brasileira.
Assim, o autor utiliza-se do texto de Yves e de La Taille, para questionar por que as crianças
não obedecem nem aos pais e nem aos professores e por que elas não têm limites.
Tal questionamento também é feito por Estrela (1994), sob o pensamento de que o problema
da disciplina na aula e na escola é um problema de prevenção e é a nível de prevenção, e não
da correção que a pesquisatem avançado e também fornecido material importante para a
reflexão e ação dos docentes.
Desse modo, a autora considera que, a escola enquanto sistema aberto em constante
interação com o meio sofre reflexo de todos os conflitos existentes, como por exemplo:
turmas numerosas, escolas superlotadas, nível de remuneração baixo dos docentes, o que
afasta do ensino os mais capazes, número elevado de alunos oriundos de meios
economicamente degradados.
No entanto, a manutenção da disciplina constitui uma preocupação de todas as épocas, a vida
do professor tem sido sempre amargurada pela indisciplina das crianças que perturbam
‘ordem instituída para seu próprio bem’.
Para Estrela (1994), é importante que tenhamos uma interpretação funcional da indisciplina,
que nos permita fazer distinção entre indisciplina na escola e outras formas de indisciplina
social e nesse sentido, a autora pontua que a indisciplina escolar não deve, portanto,
confundir-se com delinqüência.
Groppa (1996) argumenta que a disciplina pode ser entendida como condição necessária para
arrancar o homem de sua condição natural selvagem e nessa perspectiva, a permanência
quieta na sala de aula, serviria para ensinar a criança a controlar seus impulsos e afetos e não
para o bom funcionamento da escola, já que a questão organizacional da escola não depende
cem por cento do comportamento do aluno e sim da interação deste com o funcionamento de
suas políticas internas. Neste caso, existe um foco dispensado muito mais aos preceitos morais
da disciplina, do que a real dimensão em que esta se insere, uma vez que estetema não se
encerra no contexto escolar, ao contrário, este é apenas um reflexo da situação social vigente.
2.3 – EFEITOS DA INDISCIPLINA SOBRE O PROFESSOR
A indisciplina produz efeitos negativos no aproveitamento escolar e na socialização dos alunos.
Estes efeitos negativos exercem-se também sobre o professor, provocando nele desgaste físico
e psicológico, ansiedade, fadiga, tensão, perda de eficácia educativa, diminuição de auto-
estima, sentimento de frustração e desânimo e "stress". Este conjunto de fatores pode levar,
em último caso, ao abandono da profissão (Estrela, 1992).
Estes aspectos negativos atingem, sobretudo os professores menos experientes e menos
preparados pedagogicamente.
CAPITULO III - AUTORIDADE E AUTORITARISMO NA PRATICA DOCENTE
Muitas vezes a criança se depara com uma aula mal planejada ou não planejada, com
conteúdos incoerentes com sua idade e/ou realidade social da turma, e reage a isso com a
indisciplina, e os professores passam a usar seu cargo de autoridade, em forma de
autoritarismo, para inibir-los.
A autoridade por parte do professor é fundamental para controlar a disciplina, pois como
defende FREIRE (1989):"A criança entregue a ela mesma,dificilmente se disciplinará". Todavia,
ele também prega, que esta autoridade não deve se dar em forma de autoritarismo,pelo
contrario,o professor tem que respeitar as características sócio-culturais dos alunos.
Há uma necessidade de autoridade, pois sem essa não se faz educação; o aluno precisa dela,
seja para se orientar, seja para poder opor-se (o conflito coma autoridade é normal,
especialmente no adolescente), no processo de constituição de sua personalidade. O que se
critica é o autoritarismo, que é a negação da verdadeira autoridade, pois se baseia na
coisificação, na domesticação do outro.
A autoridade se define sempre em contextos históricos concretos. E o primeiro grande desafio
para o resgate da autoridade do professor é a necessidade de ressignificar o espaço escolar,
ganhar clareza sobre qual é de fato o papel da escola hoje, porque será justamente neste
espaço social que o professor deverá exercer sua autoridade, que obviamente carecerá de
sentido se a própria instituição não conseguir justificar sua existência. Um segundo desafio é o
professor conseguir se refazer, se reconstruir depois deste turbilhão todo a que foi - e ainda
está - submetido.
3.1 O PAPEL DA ESCOLA E A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO
Ao abordar a questão do papel da escola na sociedade e sobre a responsabilidade desta em
relação à criação de espaços que proporcionam o exercício da cidadania, La Taille (1996),
considera o ‘olhar admirador’ dos dias de hoje, no qual o homem pós -moderno age de acordo
com a relação vergonha-sociedade, (já sofre as tiranias da intimidade e seu interesse diz
respeito à sua personalidade, a seus afetos), para situar o que ele denomina de declínio do
Homem-Público.
Nesse sentido, discorre sobre as conseqüências morais, que estas são naturais a este processo
do declínio, (não que o homem seja imoral), porém considera que sua ação moral fica
relutante em assumir certos valores que estariam contradizendo sua busca deprazer, o que lhe
seria mais autêntico.
Remetendo tais considerações à indisciplina em sala de aula La Taille, (1996), desenvolve seus
pensamentos sob idéia de que “Toda moral pede disciplina, mas toda disciplina não é moral.”
E desse modo lança o seguinte questionamento: “O que há de moral em permanecer em
silêncio horas a fio, ou em fazer fila?” La Taille (1999, p.19).
Nessa perspectiva, o autor enfatiza considera a importância e a necessidade do exame das
razões de ser das normas impostas e dos comportamentos esperados sob o ângulo do
enfraquecimento da relação vergonha-moral, da atenção dada somente ao que é particular, do
direcionamento das motivações do ser humano ao desejo, da vergonha de ser velho e parecer
jovem e da desvalorização do estudo e da instrução.
Groppa (1999, p.23), defende uma linha de pensamento complexa em que “[...] para ser
cidadãos, são necessários sólidos conhecimentos, memórias, respeito pelo espaço público, um
conjunto mínimo de normas de relações interpessoais, e diálogo franco entre olhares éticos.
Não há democracia se houver completo desprezo pela opinião pública.”
Também as considerações de Estrela (1994), vêm de encontro à concepção humanista de que
é a partir de relações reais que o indivíduo pode aprender a lidar com as mais diversas
situações e considerando a escola como um espaço onde intencionalmente conhecimento e
cultura são exercitados, pode-se lidar com a indisciplina e construir um novo padrão de
disciplina.
Nestes termos, cada escola, cada sala de aula, é um espaço histórico-pedagógico; apesar das
modificações profundasque a escola sofreu na época contemporânea, existem nela, ainda,
heranças do magistrocentrismo tradicional em que o professor é o dono do saber, que
resistem à mudanças dos tempos e das vontades.
Para Groppa (1996), o ponto de vista psicológico entende o ‘reconhecimento da autoridade’
externa que é anterior à escolarização, daí porque a queixa dos educadores sobre a
inexistência, no sujeito da noção de autoridade e ainda que há de se pensar a estrutura escolar
juntamente com a familiar, pois são duas dimensões que se articulam.
Desse modo, a educação não é responsabilidade integral da escola, e sim, um dos eixos que
compõe todo processo. Entretanto, na relação professor-aluno, que ainda existe, percebe-se a
ênfase à normatização individual, esvaziando a escola de seu objetivo maior, que é o trabalho
de recriação do legado cultural, o que faz com que gaste-se muito mais energia e tempo com a
questão disciplinadora do que com a tarefa epistêmica fundamental.
No entanto, para o autor, investir numa sedimentação moral do aluno exigiria uma nova
posição consensual dos envolvidos sobre esta infra-estrutura psíquica e isto não existe. Assim,
a tarefa do professor, ao contrário, é bem definida e diz respeito ao conhecimento acumulado.
De acordo com os estudos aqui apresentados, procuramos atentar para a questão da disciplina
e da indisciplina em seus sentidos mais amplos, de modo que não pairasse a idéia de visão
reducionista entre um e outro tema. Buscamos, ainda, deixar implícitas reflexões acerca do
papel da escola e da importância da relação educador-aluno, para que afunção da escola se
cumpra.
Fica clara, portanto, que a indisciplina há que ser visto como um fenômeno próprio do homem
contemporâneo e das implicações advindas de seu meio social.
A grande questão, é que, quando se trata de observar a indisciplina no contexto escolar, mais
precisamente na sala de aula, entram em confronto a ótica da escola, (pautada em uma
educação tradicional, que tem o autoritarismo como base), a educação democrática
(defendida por vários estudiosos) e o aluno real, freqüentador da escola e que é fruto da
sociedade contemporânea e por isso mesmo, com anseios democráticos, libertadores,
autônomos.
Desse modo, o que deve ser mudado neste conflito, é ótica pela qual a disciplina e a
indisciplina são observadas.
Há então, que se ampliar as visões, os conhecimentos, as considerações, os estudos e as
relações, para que professores, alunos e cidadãos possam inter-relacionarem-se em uma
escola real, com valores reais, e que cumpra seu real papel que é o de fornecer espaços de
cultura e de vida para que o aluno que de lá saia, esteja pronto para praticar a cidadania
apreendida do contexto escolar.
Nessa perspectiva, e de acordo com os autores aqui abordados, a indisciplina deixará de ser o
motivo das dores de cabeça dos educadores, para atuar como agente revolucionador e
construtor dos vários conhecimentos que o indivíduo necessita para viver em comunidade e
em comunhão consigo e com os outros.
CAPÍTULO IV - A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NA EDUCAÇÃO ESCOLAR (REFERENCIAL TEÓRICO)
A escola pode ser pensada como o meio do caminho entre a família e asociedade.
Neste delicado lugar, tanto a família quanto à sociedade lançam olhares e exigências à escola.
No que se refere à família, é necessário dizer que a historiografia brasileira nos leva a concluir
que não existe um “modelo de família” e sim uma infinidade de modelos familiares, com
traços em comum, mas também guardando singularidades. É possível dizer que cada família
possui uma identidade própria, trata-se na verdade, como afirmam vários autores, de um
agrupamento humano em constante evolução, constituído com o intuito básico de prover a
subsistência de seus integrantes e protegê-los.
Estão presentes dessa maneira, sentimentos pertinentes ao cotidiano de qualquer
agrupamento como amor, ódio, ciúme, inveja, entre outros. Em relação às expectativas da
família com relação à escola com seus filhos encontram-se várias fantasias familiares como o
desejo de que a instituição escolar “eduque” o filho naquilo que a família não se julga capaz,
como, por exemplo, limite e sexualidade; e que ele seja preparado para obter êxito
profissional e financeiro via de regra ingressando em uma boa universidade.
A sociedade procura ter na escola uma instituição normativa que trate de transmitir a cultura,
incluindo além dos conteúdos acadêmicos, os elementos éticos e estruturais. É a partir daí que
se constrói o currículo manifesto (escrito em seus estatutos) e o currículo latente (o dia-a-dia).
(Outeiral apud Siqueira, 2002, p.01).
Embora bem delimitadas as diferenças entre casa e escola, passou-se a buscar mais o apoio
desta,entendendo-se a eficácia da ação normalizadora da escola sobre crianças e jovens
quando respaldadas pelo conhecimento e aquiescência da família. A despeito disso, reservava-
se à escola, 24 os direitos sobre o conhecimento científico acerca das áreas disciplinares, como
também sobre aqueles que diziam respeito aos processos de aprendizagem das crianças e
adolescentes, conhecimentos estes informados pela biologia, psicologia e ciências sociais
preservando a escola, desta forma, seu lugar de autoridade no gerenciamento das questões
pedagógico - educacionais.
Hoje vivemos um outro tempo, bem mais complexo, diverso e inquietante do que há algumas
décadas, a escola enfrenta, além do desafio frente ao domínio do conhecimento, em
permanente mudança, também o desafio da relação com seus alunos, sejam eles crianças
pequenas ou jovens.
Sem dúvida esse contexto é perspassado por questões de diferentes naturezas, entre as quais
os dilemas do desempenho curricular a ser proposto na contemporaneidade, os impasses da
escolha dos encaminhamentos metodológicos mais adequados as relações de ensino, os
limites e possibilidades da manutenção de uma relação professor aluno com qualidade e a
família é considerada peça chave nesse momento de crise.
Ao lado da família, a escola permanece sendo um espaço de formação que deve, para tanto,
repensar a sua ação formadora, preocupando-se em formar seus educadores para que os
mesmos reúnam recursos que os permitam lidar com os conflitos inerentes ao cotidiano
escolar. É, portanto, na escola, refletindo sobre o que há para ser ensinadoàs crianças sobre a
metodologia que pode tornar mais coesa a ação do conjunto docente, que a escola poderá
encontrar saídas legítimas à superação dos problemas morais e éticos que assolam o seu dia-a-
dia. Nesse sentido, sem abdicar do lugar reservado ao ensino formal, é preciso que os espaços
destinados à formação dos educadores no interior da escola dêem, também, prioridade à
reflexão político-filosófica sobre os sentidos e possibilidades da ação educacional para que se
possa, desta feita, recuperar ou constituir um novo ideário para a escola.
A escola não é a única instância de formação de cidadania. Mas, o desenvolvimento dos
indivíduos e da sociedade depende cada vez mais da qualidade e da igualdade de
oportunidades educativas. Formar cidadãos na perspectiva aqui delineada supõe Instituições
onde se possa resgatar a subjetividade interrelacionada com a dimensão social do ser humano,
em que a produção e comunicação do conhecimento ocorram através de práticas
participativas e criativas.
Trata-se de uma instituição da sociedade na qual a criança atua efetivamente como sujeito
individual e social. É um espaço concreto e fundamental para a formação de significados e para
o exercício da cidadania: na medida em que possibilita a aprendizagem de participação crítica
e criativa, contribui para formar cidadãos que atuem na articulação entre o Estado e a
sociedade civil. Para a família, o ensino quanto mais individualizado, melhor para seu filho,
pois nessa conjetura vai haver a peculiaridade de melhor ajudá-los e a destacá-lo. As
preocupações transitam, portanto noâmbito do privado. Este enfoque mais social do que
individual, carrega objetivos éticos, pois a escola deve ser um espaço de valorização tanto da
informação, como da formação de seus alunos, dentro de uma estrutura coletiva.
A escola como instituição busca através de seu ensino, que seus alunos possam assumir a
responsabilidade por este mundo, como diz Arendt (apud Castro, 2002):
Ultrapassa os desejos individuais e esta responsabilidade só poderá advir, através do
enlaçamento entre conhecimento, e ação, entre o saber e as atitudes, entre os interesses
individuais e sociais. A escola , como um novo modelo, irá ampliar o mundo dos alunos,
convidando-os a olhar suas experiências com uma outra lente, que não a familiar, o que
alterará os significados já conhecidos. A escola pública tem mais fortemente, então, a
responsabilidade da apresentação de conceitos e conteúdos herdados de nossa cultura, pois
muitas crianças só terão acesso a esta herança, através de sua passagem pela escola, que deve
então, abrir caminhos de acesso à cultura de maneira igualitária para todos e neste sentido,
lutar contra os privilégios de uma classe social. Todo educador enquanto mediador do vínculo
entre aluno e a cultura, entre a escola e a família, está mergulhados e comprometidos nesta
rede de interesses dos dominantes e dos dominados.(p.01).
Existem escolas que trabalham visivelmente no objetivo de reprodução dos valores e
ideologias dominantes, outras tem uma posição mais crítica, mas todas assumem posições
políticas, pois a escolha dos conteúdos aserem ensinados, o estilo e o método deste ensino,
suas regras, sua maneira de avaliar, de receber a família etc., traduzem os objetivos das
instituições, deixando claras as opções e desvelando seus interesses mais específicos.
Partindo de um levantamento da história da participação da família na educação vimos que os
interesses das famílias foram acolhidos mais fortemente na escola brasileira, a partir das
décadas de 60/70, através do movimento de Renovação Pedagógica, que abriu uma grande
lacuna para a entrada de um olhar mais psicológico no âmbito escolar, ampliando a atenção
com cada criança, suas escolhas e desejos, seu tempo de aprender entre tantos.
Enfrentamos, porém, conflitos decorrentes da situação vivida, pois passamos de um valor
centrado no conteúdo e no educador, para um valor centrado na criança e em seu processo de
aprender. O desafio das escolas hoje é sair dos extremos, buscando valorizar tanto a
informação, como a formação, tanto no educador como no educando, tanto o método como
os conhecimentos acumulados, resgatando a importância do grupo na construção de conceitos
e valores. Conforme esclarece Campos (1983):
A palavra família, na sociedade ocidental contemporânea tem ainda para a maioria das
pessoas, conotação altamente impregnada para a maioria das pessoas, conotação altamente
impregnada de carga afetiva. Os apologistas do ambiente da família como ideal para a
educação dos filhos, geralmente evidenciam o calor materno e o amor como contribuição para
o estabelecimento do elo afetivo mãe-filho,inexistente no caso de crianças institucionalizadas.
Um dos representantes deste ponto de vista foi Bowlby. (p.19).
A complexidade do processo de socialização é evidente e torna-se bastante expressiva dentro
do processo ensino-aprendizagem através de aspectos do tipo: imitação, identificação e mais
um conjunto de características determinadas pelo contexto familiar, que irão interagir no
desenvolvimento da criança dentro da instituição escolar.
De uma maneira geral, sobre a relação família e educação, afirma Nérici (1972)
A educação deve orientar a formação do homem para ele poder ser o que é da melhor forma
possível, sem mistificações, sem deformações, em sentido de aceitação social.
Assim, a ação educativa deve incidir sobre a realidade pessoal do educando, tendo em vista
explicitar suas possibilidades, em função das autênticas necessidades das pessoas e da
sociedade (...). A influência da Família, no entanto, é básica e fundamental no processo
educativo do imaturo e nenhuma outra instituição está em condições de substituí-la. (...) A
educação para ser autêntica, tem de descer à individualização, à apreensão da essência
humana de cada educando, em busca de suas fraquezas e temores, de suas fortalezas e
aspirações. (...) O processo educativo deve conduzir à responsabilidade, liberdade, crítica e
participação. Educar, não como sinônimo de instruir, mas de formar, de ter consciência de
seus próprios atos. “De modo geral, instruir é dizer o que uma coisa é, e educar e dar o sentido
moral e social douso desta coisa”. (p.12).
Por outro lado, Connel (1995) faz uma abordagem em que visualiza a família dentro deste
parâmetro sugerindo que a relação entre professores e pais deve ser entendida como uma
relação de classes. Assim, os pais da classe dominante vêem os professores como seus agentes
pagos: capazes e especialistas. Assim, esclarece Connel (1995):
A escola secundária é fortemente determinada pelo modo como age seu diretor. E isto
também é verdadeiro para a escola particular, mas acho que pela razão de o diretor da escola
particular prestar contas a um curador ou diretoria, existe mais pressão sobre ele para obter
resultados do que o diretor da escola secundária estadual que presta contas a uma Secretaria
de Educação. A escola particular produzirá em média melhores diretores porque se estes não
realizarem serão despedidos ou a escola irá decair muito rapidamente. (p.126).
Entretanto, Freire (2000) evidencia que ensinar exige compreender que a educação é uma
forma de intervenção no mundo, uma tomada de posição, uma decisão, por vezes, até uma
ruptura com o passado e o presente. Para este renomado pesquisador e educador, as classes
dominantes enxergam a educação como imobilizadora e ocultadora de verdades.
A educação é uma forma de se intervir no mundo, dentro desta linha de pensamento de Freire
(2000), que fala de educação como intervenção. Ele se refere a mudanças reais na sociedade,
no campo da economia, das relações humanas, da propriedade, do direito ao trabalho, a terra,
a educação, a saúde, com referênciaà situação no Brasil e noutros países da América Latina.
Quanto mais criticamente a liberdade assuma o limite necessário, tanto mais autoridade ela
tem. Eticamente falando, para continuar lutando em seu nome, desta forma se posiciona
Freire (2000):
Gostaria uma vez mais de deixar bem expresso o quanto aposto na liberdade, o quanto me
parece fundamental que ela exercite assumindo decisões. (...). A liberdade amadurece no
confronto com outras liberdades, na defesa de seus direitos em face da autoridade dos pais,
do professor e do Estado. (p.119).
Castro (2002) em recente artigo: O Caos Institucional e a Crise da Modernidade se referem à
falta de parâmetros quanto ao papel que a escola deve assumir em uma sociedade em
permanente mudança e, em conformidade a isto, que sentido deve assumir a prática docente,
quando a própria produção e veiculação do conhecimento, assumem formas cada vez mais
fragmentáveis e, muitas vezes, dissociadas de qualquer significação ética, social e cultural?
Hoje, assistimos ao aprofundamento da desagregação social que impede a constituição de
qualquer consenso sobre os princípios e valores que deveriam reger as relações entre os
sujeitos e instituições sociais, dificultando a definição de qual deve ser e como deve ser forjado
nosso projeto de escola e sociedade.
(...) O tipo de escola e conhecimento que se funda com o capitalismo, legitima-se em um
modelo de arquitetura social voltada à satisfação dos direitos intelectuais de uma elite
econômica, amparada em sólidacomposição familiar que, a princípio, pode fornecer o lastro
moral, ético e civilizacional, necessários ao bom desempenho de todos aqueles que a
freqüentam. Hoje, contudo, a situação é outra. A sociedade pós-industrial alterou,
significativamente, sua maneira de operar e produzir mercadorias, conhecimentos e valores,
afetando diretamente a escola, afetando seus eixos paradigmáticos, tanto no que se refere à
sua organização funcional, curricular e metodológica, quanto aos princípios éticos e
participativos que sustentam sua prática cotidiana. Este panorama dificulta a definição de
rumos, a fim de que se possa determinar as metas a serem atingidas pela escola no campo dos
saberes, mas, também, no campo da participação dos diversos segmentos que a compõem,
principalmente dos pais.( Castro, 2000. p.01).
Atravessamos uma autêntica socialização divergente. Vivemos numa sociedade pluralista, em
que grupos sociais distintos defendem modelos de educação opostos, em que se dá prioridade
a valores diferentes e até contraditórios. Ou seja, a unidade racionalista representada por um
modelo unitário de escola está em crise, em função da ascensão de um paradigma educacional
que não pode mais colocar para debaixo do tapete, a diversidade sócio-cultural como
elemento central dos conflitos que marcam a escola nos dias de hoje.
Toda esta movimentação no plano social produz rupturas na forma como historicamente,
algumas instituições se organizam para gerar conhecimento, condicionar hábitos e impor
comportamento. Destas, as mais afetadas foram, com certeza, a família e a escola. Nãoé por
outra razão que hoje essas duas instituições se vêem compelidas a uma aproximação que, até
a alguns anos atrás, não seria possível ou mesmo desejável.
Tradicionalmente a escola olhou para a família com certa desconfiança e, quando não teve
alternativa, apenas suportou a participação dos pais na condição de ouvintes comportados dos
relatos por eles produzidos, acerca da trajetória discipl inar e pedagógica dos alunos.
Raramente essa participação superou os limites de ação beneficente, envolvendo-se com a
parte organizacional do projeto curricular da escola. Para a escola, a família foi e é o locus de
construção de moralidade, base indispensável para a garantia do projeto moralizador e
civilizacional representado pela escola.
A família fez da escola, sobretudo na etapa que antecedeu a massificação do processo
institucional, uma instituição a serviço da monopolização do capital cultural nas mãos de uma
elite econômica reproduzindo, no plano educativo, as desigualdades do campo social.
Assistimos a uma reviravolta neste cenário decorrente da crise dos modelos forjados pela
modernidade. O modelo de família nuclear predominante até meados da década de 50 deu
lugar a novas formas de representação e organização parental com reflexos diretos no que
concerne às relações entre pais e filhos. Cresceu, vertiginosamente, o número de separações
entre casais, o que tem provocado a perda de referências ético-morais para uma parte
significativa de jovens e crianças.
Além disso, a crescente presença da mulher no mercado de trabalho e sua maior
independência darepresentação de mulher voltada à vida doméstica e à educação da prole
resultaram em certa lacuna com relação ao desenvolvimento afetivo, social e educacional das
novas gerações. Para completar este cenário, as mudanças tecnológicas que prometiam uma
maior disponibilidade de tempo para que os indivíduos se dedicassem a si mesmos e aos
outros, revelaram-se falsas; o trabalho e a velocidade cotidiana só fizeram afastar as pessoas
do convívio comunitário, isolando-as, cada vez mais e, conseqüentemente,
descompromissando-as das responsabilidades públicas, dentre as quais, destaca-se a formação
da juventude.
Os estudos realizados, em vários países, nas últimas três décadas, mostraram que, quando os
pais se envolvem na educação dos filhos, eles obtêm melhor aproveitamento escolar. De todas
as variáveis estudadas, o envolvimento dos pais no processo educativo foi a que obteve maior
impacto, estando esse impacto presente em todos os grupos sociais e culturais.
Quando falamos em colaboração da escola com os pais, estamos a falar de muitas coisas.
Desde logo, a comunicação entre o professor e os pais dos alunos aparece à cabeça,
constituindo a forma mais vulgar e mais antiga de colaboração.
Muitos professores não vão além dessa prática e, muitas vezes, limitam-se a ser os
mensageiros das más notícias. Talvez, por isso muitos pais olhem para a escola com um misto
de receio e de preocupação, porque só são chamados pelo professor quando os filhos revelam
problemas de aprendizagem ou de indisciplina. Mas há outras formas de colaboração. Por
exemplo, o apoio social epsicológico que a escola pode dar aos alunos e respectivas famílias
através dos serviços de apoio social escolar e dos serviços de psicologia e orientação
vocacional. Para muitas famílias no limiar da pobreza, esta é a única forma de colaboração
conhecida.
As famílias da classe média sempre praticaram uma outra forma de colaboração: o apoio ao
estudo, em casa. Essas famílias apóiam os filhos na realização dos trabalhos de casa e no
estudo recorrendo, muitas vezes, a professores particulares. Nos jardins de infância e nas
escolas do ensino básico, começa a ser comum à participação dos pais em atividades
escolares: festas, comemorações e visitas de estudo. Algumas destas formas de colaboração
têm efeitos expressivos na melhoria do aproveitamento escolar dos alunos, aumenta a
motivação dos alunos no estudo, ajuda a que os pais compreendam melhor o esforço dos
professores. Melhora a imagem social da escola, reforça o prestígio profissional dos
professores, ajuda os pais a serem melhores pais. Da mesma forma, estimula os professores a
serem melhores professores.
Não há uma única maneira correta de envolver os pais. As escolas devem procurar oferecer
um menu que se adapte as características e necessidades de uma comunidade educativa cada
vez mais heterogênea. A intensidade do contato é importante e deve incluir reuniões gerais e
o recurso à comunicação escrita, mas, sobretudo os encontros esses agentes (escola e família).
Intensidade e diversidade parecem ser as características mais marcantes dos programas
eficazes.
Nada é pior para o bem estar e desenvolvimentodas crianças e dos jovens do que a ausência
de referências seguras e a privação do contato continuado e duradouro com adultos
significativos.
Quando os pais, por motivos relacionados com o mercado de trabalho e o afastamento do
local de trabalho da sua área de habitação, não dispõem de tempo para estar com os filhos,
deixando, por isso, de tomar as refeições em comum, as crianças e os jovens são obrigados a
crescerem com a ausência de referências culturais seguras. Essa ausência de referências faz
aumentar a necessidade de os professores criarem programas que aproximem as escolas das
famílias, contribuindo para a recriação de pequenas comunidades de apoio aos alunos que
sejam uma presença forte na vida deles.
Quando os valores da escola coincidem com os valores da família, quando não há rupturas
culturais, a aprendizagem ocorre com mais facilidade. Nas comunidades homogêneas, em que
os professores partilham os mesmos valores, linguagem e padrões culturais dos pais dos
alunos, está garantida a continuidade entre a escola e a família. Contudo, são cada vez mais as
escolas com populações estudantis heterogêneas, nas quais os professores e os pais têm raízes
culturais diferentes, provocando, nos alunos, dificuldades de adaptação.
Se tivermos presente a maneira como os alunos aprendem, torna-se evidente à importância da
continuidade cultural entre a escola e as famílias. O aluno aprende assimilando a informação
pela experiência direta com pessoas e objetos, ou seja, professores, pais, colegas, livros,
programas de televisão e Internet. Essa informação éincorporada nas suas estruturas mentais,
modificando-as, tornando-as mais complexas e abrangentes. É o desejo de adquirir sentido, de
tentar compreender, que leva o aluno a aprender.
Quanto mais rico e variado for o seu mundo familiar, mais oportunidades o aluno terá de
adquirir informação relevante. Os alunos movem-se para o estágio cognitivo que lhes está
mais próximo, quando reconhecem que há uma discrepância entre o que experenciam e o
sentido que estão a dar as novas informações. Mas o grau de discrepância não deve ser nem
muito elevado nem muito reduzido. Perante situações moderadamente discrepantes, o aluno
reorganiza a sua estrutura mental, quando descobertas acerca do desequilíbrio cognitivo, é a
necessidade do problema ser apropriado a capacidade da criança para resolvê-lo.
As afirmações anteriores ajudam-nos a compreender o que acontece a um aluno que chega a
uma escola que lhe oferece um currículo sem continuidades com a sua cultura familiar.
Diferenças de linguagem, de proximidade e de distância entre pessoas, de formas de
tratamento e de regras de comportamento tornam mais difícil que o aluno seja capaz de
aplicar as suas experiências e conhecimentos passados às novas aprendizagens escolares.
Confrontados com grandes descontinuidades entre a casa e a escola, incapazes de
compreenderem a cultura escolar e de aplicarem as suas experiências passadas aos novos
contextos, esses alunos podem rejeitar ou ignorar a nova informação. Quando isso acontece,
estão criadas as condições para que o aluno rejeite a cultura escolar. Essa rejeição
podeassumir várias formas: indisciplina, violência, abandono, passividade e resignação. Seja
qual for a forma assumida pela rejeição, os sinais dessa rejeição devem ser interpretados pelo
professor, cabendo lhe traçar um plano de ação que inclua a comunicação com os pais.
O envolvimento dos pais nas escolas produz efeitos positivos tanto nos pais como nos
professores, nas escolas e nas comunidades locais. Os pais que colaboram habitualmente com
a escola ficam mais motivados para se envolverem em processos de atualização e reconversão
profissional e melhoram a sua auto-estima como pais.
O envolvimento familiar traz, também, benefícios aos professores que, regra geral, sentem
que o seu trabalho é apreciado pelos pais e se esforçam para que o grau de satisfação dos pais
seja grande. A escola também ganha porque passa a dispor de mais recursos comunitários
para desempenhar as suas funções, nomeadamente com a contribuição dos pais na realização
de atividades de complemento curricular.
Quando a escola se aproxima das famílias, registra-se uma pressão positiva no sentido de os
programas educativos responderem às necessidades dos vários públicos escolares. As
comunidades locais também ganham porque o envolvimento familiar faz parte do movimento
cívico mais geral de participação na vida das comunidades, sendo, por vezes, uma
oportunidade para os pais intervirem nos destinos das suas comunidades e desenvolverem
competências de cidadania.
Restou para a escola a responsabilidade de estabelecer a ordem neste caos e, como não lhe é
possível reorganizar o quadrofamiliar, resta-lhe abrir mais portas para tentar uma parceria
educativa com os pais, de modo que possa instituir uma nova estabilidade, que traga de volta,
à escola, a legitimidade que a crise da modernidade lhe retirou.
Sem dúvida que este estudo faz parte de uma nova etapa nas relações escola/família, em que
os papéis serão reconstituídos sob novas bases éticas, políticas e culturais.
4.1 CONTEXTUALIZANDO HISTORICAMENTE
Ao longo da história brasileira a família veio passando por transformações importantes que se
relaciona diretamente com o contexto sócio-econômico-político do país.
O Brasil - Colônia, marcado pelo trabalho escravo e pela produção rural para a exportação,
identifica-se um modelo de família tradicional extensa e patriarcal, no qual os casamentos
baseavam-se em interesses econômicos, que à mulher, era destinada a castidade, a fidelidade
e a subserviência. Aos filhos, considerados extensão do patrimônio do patriarca. Ao nascer
dificilmente experimentavam o sabor do aconchego e da proteção materna, pois eram
amamentados e cuidados pelas amas de leite.
A partir das últimas décadas do século XIX, identifica-se um novo modelo de família. A
Proclamação da República, o fim do trabalho escravo, as novas práticas de sociabilidade com o
início do processo de industrialização, urbanização e modernização do país constituem terreno
fértil para proliferação do modelo de família nuclear burguesa, originário da Europa. Trata-se
de uma família constituída por pai, mães e poucos filhos. O homem continua detentor da
autoridade e "rei" do espaçopúblico; enquanto a mulher assume uma nova posição: "rainha do
lar", "rainha do espaço privado da casa". Desde cedo, a menina é educada para desempenhar
seu papel de mãe e esposa, zelar pela educação dos filhos e pelos cuidados com o lar.
No âmbito legal, a Constituição Brasileira de 1988, aborda a questão da família nos artigos
5º, 7º, 201º, 208º e 226º a 230º, trazendo algumas inovações (artigo 226) como um novo
conceito de família: união estável entre o homem e a mulher (§ 3º) e a comunidade formada
por qualquer dos pais e seus descendentes (§ 4º). E ainda reconhece que: ''os direitos e
deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher''
(§ 5º).
Nos últimos vinte anos, várias mudanças ocorridas no plano sócio-político-econômico
relacionadas ao processo de globalização da economia capitalista vêm interferindo na
dinâmica e estrutura familiar e possibilitando mudanças em seu padrão tradicional de
organização.
Conforme Pereira (1995), as mais evidentes são:
- Queda da taxa de fecundidade, devido ao acesso aos métodos contraceptivos e de
esterilização;
- Tendência de envelhecimento populacional;
- Declínio do número de casamentos e aumento da dissolução dos vínculos matrimoniais
constituídos, com crescimento das taxas de pessoas vivendo sozinhas;
- Aumento da taxa de coabitações, o que permite que as crianças recebam outros valores;
menos tradicionais;
- Aumento do número de famílias chefiadas por uma só pessoa, principalmente por mulheres,
que trabalham fora e têm menos tempo paracuidar da casa e dos filhos.
Entretanto, evidenciamos que essas mudanças não devem ser encaradas como tendências
negativas ou sintomas de crise. A aparente desorganização da família é um dos aspectos da
reestruturação que ela vem sofrendo. Por um lado, pode causar problemas, por outro,
apresentar soluções. Trata-se de um processo contraditório que ao mesmo tempo em que
abala o sentimento de segurança das pessoas com a falta ou diminuição da solidariedade
familiar, proporciona também a possibilidade de emancipação de segmentos tradicionalmente
aprisionados no espaço restritivo de muitas sociedades conjugais opressoras.
Com ele, também, os papéis sociais atribuídos diferenciadamente ao homem e à mulher
tendem a desaparecer não só no lar, mas também no trabalho, na rua, no lazer e em outras
esferas da atividade humana.
Embora, a cada momento histórico corresponda um modelo de família preponderante, ele não
é único, ou seja, concomitante aos modelos dominantes de cada época, existiam outros com
menor expressão social, como é o caso das famílias africanas escravizadas. Além disso, o
surgimento desta tendência não impedia imediatamente a outra, prova disto é que neste início
de século podemos identificar a presença do homem patriarca, da mulher "rainha do lar" e da
mulher trabalhadora. Assim, não podemos falar de família, mas de famílias, para que
possamos tentar contemplar a diversidade de relações que convivem em nossa sociedade.
Outro aspecto a ser ressaltado, diz respeito ao significado social da família e qual a sua razão
de existência.
SegundoKaloustian (1988), a família é o lugar indispensável para a garantia da sobrevivência e
da proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou
da forma como vêm se estruturando. É a família que propicia os aportes afetivos e, sobretudo
materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos seus componentes. Ela
desempenha um papel decisivo na educação formal e informal, e é em seu espaço que são
absorvidos o valor ético e humanitário, em que se aprofundam os laços de solidariedade. É
também em seu interior que se constroem as marcas entre as gerações e são observados
valores culturais.
Gokhale (1980) acrescenta que a família não é somente o berço da cultura e a base da
sociedade futura, mas é também o centro da vida social. A educação bem sucedida da criança
na família é que vai servir de apoio à sua criatividade e ao seu comportamento produtivo
quando for adulto. A família tem sido, é, e será a influência mais poderosa para o
desenvolvimento da personalidade e do caráter das pessoas.
E evidenciado no nosso tipo de organização social, o papel crucial da família quanto à
proteção, afetividade e educação, A questão que colocamos a seguir é aonde buscar
fundamentação para a relação educação escola-família.
O dever da família com o processo de escolaridade e a importância da sua presença no
contexto escolar é publicamente reconhecido na legislação nacional e nas diretrizes do
Ministério da Educação aprovadas no decorrer dos anos 90, tais como:
-Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90), nos artigos 4º e5º;
-Política Nacional de Educação Especial, que adota como umas de suas diretrizes gerais: adotar
mecanismos que oportunizem a participação efetiva da família no desenvolvimento global do
aluno.
E ainda, conscientizar e comprometer os segmentos sociais, a comunidade escolar, a família e
o próprio portador de necessidades especiais, na defesa de seus direitos e deveres. Entre seus
objetivos específicos, temos: envolvimento familiar e da comunidade no processo de
desenvolvimento da personalidade do educando.
-Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/96), artigos 1º, 2º, 6º e 12°;
-Plano Nacional de Educação (aprovado pela Lei nº 10172/2002), que define como uma de
suas diretrizes a implantação de conselhos escolares e outras formas de participação da
comunidade escolar (composta também pela família) e local na melhoria do funcionamento
das instituições de educação e no enriquecimento das oportunidades educativas e dos
recursos pedagógicos.
E não podemos deixar de registrar a recente iniciativa do MEC – Ministério da Educação e
Cultura, que instituiu a data de 24 de abril com o Dia Nacional da Família na Escola. Neste,
todas as escolas deveriam convidar os familiares dos alunos para participar de suas atividades
educativas, pois conforme declaração do Ministro Paulo Renato Souza: “Quando os pais se
envolvem na educação dos filhos, eles aprendem mais".
Relacionados os sustentáculos formais da relação família/escola/educação, é importante
pontuar ainda alguns aspectos: em primeiro lugar, é preciso reconhecer que a
famíliaindependente do modelo como se apresente, pode ser um espaço de afetividade e de
segurança, mas também de medos, incertezas, rejeições, preconceitos e até de violência.
Em segundo lugar, na relação família/educadores, um sujeito sempre espera algo do outro. E
para que isto de fato ocorra é preciso que sejamos capazes de construirmos coletivamente
uma relação de diálogo mútuo, em que cada parte envolvida tenha o seu momento de fala,
mas também de escrita, no qual exista uma efetiva troca de saberes. A capacidade de
comunicação exige a compreensão da mensagem que o outro quer transmitir e para tal faz-se
necessário o desejo de querer escutar o outro, a atenção às idéias emitidas e a flexibilidade
para recebermos idéias que podem ser diferentes das nossas.
Assim, é fundamental que conheçamos os alunos e as famílias com as quais lidamos.
Sobretudo que conheçamos quais são suas dificuldades, seus planos, seus medos e anseios.
Enfim, que características e particularidades marcam a trajetória de cada família e
conseqüentemente, do educando a quem atendemos. Estas informações são dados preciosos
para que possamos avaliar o êxito de nossas ações enquanto educadores, identificar
demandas e construir propostas educacionais compatíveis com a nossa realidade.
Uma atitude de desinteresse e de preconceitos pode danificar profundamente a relação
família/escola e trazer sérios prejuízos para o sucesso escolar e pessoal dos educandos.
Geralmente, a família de educandos surdos espera e necessita da escola inúmeras
informações, apoio e orientação sobre como lidar com a situação deconvívio com uma pessoa
surda. A falta de atenção para esta demanda possivelmente terá conseqüências negativas para
educadores, educandos e familiares.
Enfim, muitos podem ser o significado da palavra participar. É preciso que conheçamos as
razões pelas quais as famílias não têm correspondido ao que nós educadores esperamos
enquanto sua participação na escola. Para tal, precisamos nos despir da postura de juízes que
condenam sem conhecer as razões e incorporarmos o espírito investigador que busca as
causas para o desconhecido.
CONCLUSÃO
A partir das abordagens dispostas no presente trabalho, a presente pesquisa procurou tratar
da questão da indisciplina na escola e dos vários aspectos que estão relacionados a este tema.
Dar limites às crianças na Educação Infantil é iniciar o processo de compreensão e apreensão
do outro, ninguém pode respeitar seus semelhantes se não aprender quais são os seus limites,
e isso inclui compreender que nem sempre se pode fazer tudo que se deseja na vida. É de
suma importância uma análise conjunta: família e escola. Afinal, aos “pais” está subtendido
que são os responsáveis pela criança. A parceria entre família e escola é necessária para
detectar as possíveis falhas e tentar solucionar os problemas da disciplina.
A complexidade da vida moderna acaba delegando aos professores papeis antes só de
responsabilidade dos pais. A família de hoje conta muito com a escola, ou seja, com seus
professores na formação das crianças e dos jovens. Ela precisa estar informada sobre a l inha
de conduta que a escola tem com seusfilhos e, o que é fundamental, concordar com esta linha:
é preciso falar a mesma língua. Nos dias de hoje, o professor deve ser um “líder”, deve saber
também que liderança não se impõe, se conquista. Na sala de aula, ele representa a direção, a
própria família. Ali ele é o “dono da lei”. O educador necessita ter qualidades humanas
imprescindíveis como, por exemplo: equilíbrio emocional, responsabilidade, caráter, alegria de
viver, ética e principalmente gostar de ser professor. Além é claro de ter um maior
conhecimento sobre o manejo de sala e de como melhor se relacionar com o aluno. Também o
professor, tem um papel de mediador entre nossa realidade social e a função de educar.
Crianças gostam de professores que lhe dêem limites. Os professores bonzinhos nunca serão
respeitados; cairão no esquecimento com muita facilidade. Ele não deve permitir que somente
as crianças participem do processo de estabelecimento de regras, mas sim discutir o que é o
estabelecimento de regras, oferecer idéias de como criá-las, fixá–las por escrito na sala de aula
e envolvê-las no comprimento destas.
É importante que os professores adotem um padrão básico de atitudes perante as indisciplinas
mais comuns, como se todos vestissem o mesmo uniforme comportamental. Esse uniforme
protege a individualidade do professor. Quando um aluno ultrapassa os limites, não está
simplesmente desrespeitando um professor em particular, mas as normas da escola. Portanto,
faz necessário o professor ter a mentalidade aberta e acompanhar o processo de construção
do conhecimento, agindo como agente entreos objetos do saber e a aprendizagem, ser para o
aluno seu decifrador de códigos e receptador de suas muitas linguagens, significa estabelecer
limites e construir democraticamente uma interação onde em lugar de opressão e da
prepotência eleva-se a dignidade de quem educa, a certeza de quem planta amanhã.
Uma solução possível seria de revitalizar a confiança da família no seu papel de formadora e
trazê-la cada vez mais para dentro da instituição. Ao levar os pais a participar de encontros,
palestras, reuniões e troca de experiências com outros pais, eles saem fortalecidos e sentem
que não estão sozinhos nessa luta.
Enfim, não é apenas o professor que deve estar interessado na boa disciplina, mas toda a
escola como também na família, pois é na sala de aula que se ajuda a construir futuros
cidadãos com personalidade, onde vão aprender a limitar seus instintos que são impulsivos e
necessitam de correção desde a primeira infância.
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A INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
SUMÁRIO
JUSTIFICATIVA
Durante os estágios observamos que em turmas do Ensino infantil há muitos casos de
indisciplina pudemos perceber que a indisciplina está associada diretamente a falta de limites
dos alunos.
A equipe pedagógica precisa ter uma postura mais firme diante dos alunos para a construção
de uma disciplina baseada no diálogo entre educador e educando visando a participação e o
compromisso de ambos. Observando o dia-a-dia das crianças e a atitude do professor
constatamos que os alunos veem de casa com problemas familiares, ou seja, a família também
está dentro deste contexto, pois é a base para que as crianças tenham bom comportamento
na sala de aula e na sociedade, como diz Paulo Freire (1998) “Disciplina pronta não existe, é
preciso que todos os sujeitos envolvidos no processo educacional participem da construção do
sistema de disciplina”.
De outras formas, a indisciplina também pode estar relacionada a aspectos desenvolvidos na
escola, com relações Professor-aluno e aluno-aluno.
Porém, existem várias causas para se chegar á indisciplina escolar como a conduta do
professor, à sua prática pedagógica e até mesmo as práticas da própria escola. Onde, a escola
tem como papel desenvolver estratégias para garantir atividades apropriadas ao processo
deensino-aprendizagem deixando de ser tão tradicional para buscar um pouco mais o lúdico
na sala de aula.
Os alunos precisam compreender que nem sempre podemos fazer tudo que queremos, e que
existem regras a se cumprir, seja na escola ou na vida.
O professor precisa ter autoridade, e não deve usá-la de forma abusiva, mas por ela,
apresentar suas idéias, conhecimentos e experiências, sem desrespeitar o conhecimento do
grupo, sempre os encorajando à participação, como sujeitos conscientes e responsáveis pelos
seus próprios processos de aprendizagem.
DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA
Na realização dos nossos estágios percebemos que os alunos não têm limites, e a indisciplina
está predominando em sala de aula. Os alunos são desordeiros, mau comportados,
desrespeitam os professores.
No entanto, a indisciplina pode ser definida pela instabilidade e ruptura no contato social da
aprendizagem. Sendo assim uma barreira que afeta a relação entre educadores e alunos.
Conquistar os alunos em sala de aula tornou-se um verdadeiro desafio para o ensino, tanto nas
instituições públicas quanto nas privadas.
Por que as crianças não obedecem e causam a indisciplina na sala de aula? Porque o problema
vem de casa, alguns pais dão liberdade excessiva a seus filhos, criando filhos indisciplinados,
cheios de dengos que não sabem lidar com o não; que almejam ser o centro das atenções; os
indisciplinados também vêm de lares desestruturados, sãoagressivos e muitas vezes sem
perspectivas.
Portanto, é necessário disciplina, ordem, limites para estes alunos; aos educadores a missão de
compreender e considerar o educando como um ser em processo de desenvolvimento, com
desejos de integração no meio social. Aos pais (família) reavaliar se está realmente cumprindo
seu papel de fazer da criança um cidadão que respeita os limites impostos pela sociedade que
está inserido.
Ressaltando que a maior arma do professor é atrair estes indisciplinados ao invés de repudiá-
los, é cativá-los com as aulas transformando distração em atenção e consequentemente em
aprendizado.
REFERÊNCIAL TEÓRICO
A INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Naturalmente, o professor não deve permitir que as crianças discutam sobre normas e regras
no que diz respeito a indisciplina, afinal qual seria o método que as crianças usariam?
Provavelmente iriam querer uma sociedade com muita liberdade e com poucas regras, o que
sabemos que na prática não funciona desta maneira.
Sendo assim é importante que os professores adotem parâmetros de atitudes diante das
indisciplinas, e mostrem aos alunos que existem limites a serem seguidos. Quando o aluno
ultrapassar os limites, ele não está simplesmente desrespeitando um professor em particular,
ele estará quebrando as normas.
Aquino (1996. P. 98), afirma que, a tarefa de educar, não é responsabilidade da escola, é tarefa
da família, que aodocente cabe repassar seus conhecimentos acumulados, ele ainda aponta
que a solução pode estar na forma da relação entre professor e aluno, ou seja, a forma que
suas relações e vínculos se estabelecem, aponta também que a solução pode estar no
desenvolvimento do resgate da moralidade descente através da relação com o conhecimento
e que esse conhecimento deve ser construído socialmente, sem rigidez ou autoridade.
Portanto é necessário que o professor tenha a mente aberta e acompanhe o processo de
construção do conhecimento agindo como agente entre os objetos do saber, e a aprendizagem
será para o aluno seu decifrador de códigos e receptor de suas muitas linguagens.
A indisciplina vem sendo vista como uma atitude de desrespeito, de intolerância ao acordo
firmado do não cumprimento de regras capazes de pautar a conduta de um indivíduo ou de
um grupo, é considerada também um reflexo da indisciplina generalizada em que se encontra
a humanidade atualmente, é o resultado de uma sociedade onde não existe mais respeito,
amor, a compreensão e o valor a família. Sendo assim é mais difícil estabelecer a disciplina e
fazê-la respeitar. Com as evoluções da vida em todos os sentidos, as crianças se tornaram mais
independentes dos adultos.
Sendo assim em relação aos conceitos mencionados, os pais optam por não colocar limites.
Outros alegam que a geração atual recebe outros tipos de modelo através da mídia e acabam
sofrendo sua influência paraessa abordagem liberal os pais estão sendo influenciados em
modelos liberais e terminam por assumir um papel mais “moderno” de educar.
Piaget (1973) defende que temos duas alternativas: “formar personalidades livres ou
conformistas”. Se o objetivo da educação for o de formar indivíduos autônomos e
cooperativos, então é necessário propiciar para que ele se desenvolva em um ambiente de
cooperação.
Nesta concepção cabe aos pais delegar ao filho tarefas que ele já é capaz de cumprir. Essa é a
medida certa do seu limite. No entanto os pais nunca devem fazer tudo pelo filho, mas ajuda-
lo somente até o exato ponto em que ele precisa, para que depois, realize sozinhas suas
tarefas. É assim que o filho adquire autoconfiança, pois está construindo sua autoestima.
Contudo é preciso que os pais tenham acima de tudo autoridade, e diálogo com eles.
Para Franco (1986, p.62):
Em geral, quando os educadores referem-se ao problema da disciplina na escola, normalmente
o reduzem a algo quem diz respeito somente ao aluno.
O problema da disciplina passa a ser entendido como o da indisciplina do aluno.
Franco (1986, p.62).
A indisciplina escolar que aos olhos de muitos sempre existiu e sempre vai existir, agora exige
um novo olhar.
Portanto a falta de compreensão por parte do professor das causas da indisciplina do seu
aluno pode ter uma grande repercussão negativa no seu desempenho docente.
Mesmo assim, não faltam denominações paraos específicos.
Nesse caso conforme o contexto sócio histórico vigente (Estrela, 1994). Sendo um problema
recorrente nas escolas nos dias atuais, há uma busca constante por parte dos estudiosos da
educação em colocarem em debate suas impressões a respeito da indisciplina.
De acordo com La Taille (1996) destaca dentre a possível tradução para a indisciplina o
desenvolvimento das normas vigentes.
Normalmente, toda instituição ou empresa tem um regimento a partir do qual se extraem as
orientações para a conduta de convivência do grupo naquele espaço. Portanto o autor
apresenta o tema da indisciplina a partir da disciplina e considerando como sendo perigoso.
A respeito disso Aquino (1996. P.43).
Com a crescente democratização politica dos pais e em tese, a desmilitarização das relações
sociais, uma nova geração se criou. Temos diante de nós um novo aluno, um novo sujeito
histórico, mas em certa medida, guardamos como padrão pedagógico a imagem daquel e aluno
submisso e temeroso.
Aquino (1996, p.13).
Nessa perspectiva é interessante ressaltar que as maiorias dos autores concordam quanto à
noção de exemplos prático do comportamento e falam alheios. A criança então estaria apenas
repetindo as ações e falas observadas daqueles que estão a sua volta. O que se pode entender
que os exemplos dados pelos adultos, sejam eles familiares ou não, tem grande peso na
definição da representação e sua aplicação no seu dia-a-dia.
Acriança dificilmente poderá descobrir valores diferentes daqueles que são vigentes nos
ambientes que o cerca. As estruturas sociais complexas e desequilibradas é nos lúcido
perguntar se a criança fará sempre a melhor escolha.
Estrela (1994, p. 24).
Diante dessas definições a cerca da indiscipl ina percebemos que as crianças seguem o modelo
que eles observam, ou seja, ela imita a própria sociedade o que afeta a tomada de decisão de
quem precisa se impor, no caso dos pais e dos professores. Desta forma a indisciplina está
cada vez maior na escola, porque as crianças utilizam-na como meio para que o adulto perceba
que elas existem.
O que é indisciplina?
É um “fenômeno relacionado e interativo” que se concretiza no descumprimento das regras
que prescindem orientam e estabelecem as condições das tarefas na aula e, ainda, no
desrespeito de normas e valores que fundamentam o convívio entre pares e a relação com o
professor, enquanto pessoa e autoridade.
A respeito disso (Tiba 1996, p.125) afirma:
Haverá interesse do aluno pelo conteúdo do programa escola sempre que houver uma
correlação entre este e o dia-a-dia do estudante. O professor sábio estabelece tal correlação.
(Tiba 1996, p.125)
Alguns estudiosos ressaltam que a grande causa da indisciplina é o fato da escola ter parado
no tempo. O seja estes estudiosos alegam que o modelo quadro e giz já não funcionam Sob
esta visão os alunos querem aulas dinâmicas e criativascom o uso de novidades.
Indisciplina por quê?
A indisciplina na escola e na sala de aula vem sendo uma preocupação de sempre, é hoje um
tema escrito na agenda de todos quando se refletem sobre a educação dos jovens.
Professores, políticos administradores da educação e jornalistas, sobretudo, afirmam a
instabilidade da situação e vão abrangendo acusações fáceis, tantas vezes sem sequer terem
feito algum esforço sério para compreender o fenômeno e as respectivas causas. Por isso é
importante encarar o assunto seriamente, identificando todos os fatores que se conjugam
para produzir a chamada indisciplina escolar.
Segundo D’ Antola (1989, p.86).
O aluno que é deixado de lado, ocupado com tarefas que não lhe interessa, pode tender para
duas atitudes extremas: ou se torna apático e se sente diminuído e alheio aos trabalhos
escolares, ou se torna revoltado, chamando para ser ouvir.
(D’Antola, 1989, p.86)
Dessa forma a escola, mesmo dentro dos parâmetros da sociedade estará contribuindo para a
transformação social e estaria ajudando para a melhoria da qualidade de ensino e para a
socialização do saber. Desta forma a indisciplina resulta de fatores estruturais e sociais e
pessoais deve ser estudada a três níveis; O do ministério da educação, o da escola e os dos
atores. Enquanto produtores de três tipos de regras, legais, institucionais e sociais,
respectivamente.
Sociedade e família
A sociedade é outro fator queinfluência na indisciplina dos alunos. Percebe-se na sociedade
brasileira, mudanças profundas tais como aceleração do processo da industrialização, a
expansão das telecomunicações, crise ética (levar vantagem em tudo, corrupção, desemprego
subemprego, gastos elevadíssimos, falta qualidade da propaganda nos meios de
comunicações).
Sob esta visão esse caminho deveria partir de um trabalho em conjunto entre escola, família, e
sociedade para sonar os problemas disciplinares. É indispensável uma participação coletiva dos
elementos que fazem parte da escola, na construção de regras gerais que a escola tenha e
deva ter para um bom desempenho dos membros pertencentes à escola, inclusive os pais e a
sociedade em geral.
É um processo longo e difícil, mas se essas regras forem bem elaboradas, discutidas e
colocadas em prática realmente colheremos bons resultados.
Na opinião de Tiba (1996, p.169).
Há pais que por manter seus filhos na escola, acham que esta é responsável pela educação dos
mesmos. Quando a escola reclama de maus comportamentos ou das indisciplinas dos alunos,
os pais jogam a responsabilidade sobre a escola.
(Tiba1996, p. 169).
Por sua vez, a família não está cumprindo sua tarefa de estabelecer limites e desenvolver
hábitos básicos. Ou seja, os pais, precisam ser, mas autoritários e terem diálogos com seus
filhos e não ceder aos caprichos deles.
No que á sala de aula diz respeito, a indisciplina está muitorelacionado com a relação que se
estabelece no interior da aula e esta relação depende sobre tudo da motivação dos alunos
para os conteúdos aprendizagem e do clima relacional.
O professor tem um papel essencial como fonte emissora de informação que os alunos vão
transformar em conhecimento. Alguns estudantes adoram ou detestam determinadas
matérias, justamente por causa do professor.
(Tiba, 1996, p.125).
Sob esta visão o professor é um emissor de conhecimentos, mas também precisa deixar seu
lado autoritário e permitir uma participação mais ativa do aluno em sala de aula.
É preciso não esquecer alguns traços essenciais da situação do aluno na escola:
Frequentar a escola por obrigação legal ou por força de condicionamentos sociais e familiares
e não voluntariamente.
É incluído em agrupamentos (turmas) que se não constituem de forma voluntari amente.
O seu papel é definido por um conjunto de obrigações: Aprender matérias que não escolheu
realizar atividades impostas, propostas aceitar ser vigiado nos seus comportamentos.
Fatores relacionados à causa da indisciplina na educação infantil.
Podemos ressaltar a falta de acompanhamentos dos pais no que diz respeito a limites e as
normas estabelecidas pela escola e sociedade. Hoje a punição é cada vez mais rara, tanto na
escola como em casa. Os pais têm larga parcela de culpa, no que diz respeito à i ndisciplina
dentro da classe. È uma situação cada vez mais comum, elestrabalham muito e tem menos
tempo para dedica-se culpados pela omissão, evitam dizer não aos filhos e espera que a escola
assuma a função que deveria ser deles, a de passar para a criança os valores éticos de
comportamentos básicos.
O modo como algumas crianças aprendem a obter atenção e reconhecimentos, por exemplo,
representa uma situação muitas vezes comum de indisciplina no continuo casa-escola. Uma
possibilidade, aqui, reside em aprender a obter atenção sobre si através de condutas
intempestivas. Esta aprendizagem tende a ser mais efetiva à medida que pais e professores
dediquem uma atenção diferenciada, mais intensa, a condutas indisciplinadas.
Portanto os pais e professores precisam cumprir seu papel e trazer as crianças cada vez mais
para dentro da instituição, fazendo com que eles se sintam seguros e fortalecidos, nesta luta
educacional e social.
Pois como diz Paulo Freire (1998) “disciplina pronta não existe, é preciso que todos os sujeitos
envolvidos no processor educacional participem da construção do sistema de disciplina”. Ou
seja, todas as sociedades, família e professores andam junto um é à base do outro para uma
boa disciplina.
Nível cultural dos pais no desenvolvimento
O nível cultural dos, pois também influência a criança, pois ela sempre quer imitá-los. Tal
imitação depende muito do nível em que ela vive. Havendo uma imitação negativa, por
exemplo, falar errado ou expressar-se de forma diferente, travacomo consequência o processo
de construção da identidade e consequentemente na formação da personalidade do individuo
no ambiente social que está inserido. Paro (1973) diz, “a criança é considerada indisciplinada
quando apresenta privação cultural”.
Quando não frequenta pré-escola como prevenção dos problemas infantis. Seria por tanto
aquela criança sem orientação, que fica o dia todo, na rua sem, fazer absolutamente nada. O
ambiente sócio-moralmente praticado. Isso porque o ambiente sócio-moral e toda a rede de
relações entre pessoas em sala de aula. Essas relações para todos os aspectos das experiências
da criança na escola.
Vinte passos para combater a indisciplina com alunos
1º- Estabeleça regras claras.
2°- Faça com que seus alunos as compreendam.
3º Determine uma sanção para a quebra das mesmas.
4º- Determine uma recompensa para seu cumprimento.
5º- Peça apoio de seus colegas de equipe.
6º- Estabeleça estratégias em conjunto com a equipe; os alunos precisam perceber a
hegemonia das atitudes.
7º- Respeite seus alunos.
8º- Ouça-os.
9º- Responda ao que lhe for perguntado com educação e paciência.
10º- Elogie boas condutas.
11º Seja claro e objetivo em suas intervenções.
12º- Deixe claro o que é errado é o comportamento, não o aluno.
13º- Seja coerente em suas expectativas.
14°- Reconheça os sentimentos de seus alunos e respeite-os.
15º- Não diga o que fazer: permita que cheguem às suas próprias conclusões.16°- Não
descarregue a sua metralhadora de mágoas em cima deles.
17º- Encoraje-os sempre.
18º- Acredite no potencial de cada um e no seu.
19º- trabalhe crenças negativas transformando-as em positivas.
20°- Seja afetivo.
CONCLUSÃO
A reflexão sobre indisciplina se expande e não se esgota inúmeros teóricos se debruçam em
pesquisas para desmistificar e melhorar a indisciplina na sala de aula.
A partir dos estudos e das observações realizadas nos estágios percebemos que os alunos não
têm limites e a indisciplina está predominando nas salas de aula.
No entanto está ficando cada vez, mas difícil para os educadores lidarem com essas situações.
O que chamou a atenção foi a falta de respeito dos educandos com os professores.
Com base na pesquisa voltada para indisciplina na educação infantil, considera-se que os
educadores veem a indisciplina como um ponto negativo na aprendizagem dos alunos.
Diante desse, olhar o professor desenvolve suas atividades pedagógicas de forma lúdica para
que os alunos brinquem e aprendam ao mesmo tempo deixando as conversas paralelas, e se
envolvendo no assunto da classe escolar e ao mesmo tempo brincando e aprendendo. A
intensidade e o caráter da indisciplina, hoje, parecem indicar menos a necessidade de
inovação da escola.
Ao observar os contextos no qual se inseri indisciplina, percebe-se que é necessário que o
gestor, pais, sociedade tenham concepções inovadorase cumpram cada um com seus deveres
e a escola reúna os professores e juntos preparem aulas flexíveis dinamicamente adequadas às
necessidades dos educandos para assim melhorar essa indisciplina.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AQUINO, Júlio Groppa (organizador). Indisciplina na escola – Alternativas teóricas e práticas. 4ª
EDIÇÃO. São Paulo: Summus Editorial, 1996, p.43 à 98.
D’ ANTOLA, Arlete (org.). Disciplina na escola São Paulo: E.P.U., 1989 p.79-90.
ESTRELA, Maria Tereza. Disciplina e Indisciplina nas principais correntes pedagógicas
contemporâneas. In: __ Relação pedagógica, disciplina na aula. Porto: Editor Ita das 1994, p.15
á 26.
FRANCO, Luiz Antônio Carvalho. A indisciplina na escola. Revista Ande. Ano 6. Nº 11, 1986, p.
62 a 67.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia 33ª ed. São Paulo: Paz e Terra 1998, p.61 a 90.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. São Paulo: Paz e Terra, 1991, p. 79.
LA TAILLE, Yves de. A indisciplina e o sentimento de vergonha. In: Aquino, Júlio Groppa. (org.).
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PARO Vitor Henrique. Qualidade do ensino: a contribuição dos pais. S.1: Ed. Xamã, 2000.
PIAGET, Jean. Para onde vai á educação. Rio de Janeiro. Livraria José Olímpio (Ed. Orig. 1948),
1973.
TIBA Içam. Disciplina – Limite na medida certa. São Paulo: Editora Gente, 1996 8ª edição. P.
117 a 169.
Introdução
Em um concurso para professores de ensino fundamental e educação infantil realizado na
cidade de São Paulo em 2010 do qual participei, houve uma pergunta sobre indisciplina. Nesta
questão foi descrita uma situação na qual uma criança de quatro anos havia rasgado todos os
trabalhos dos colegas e, com o ocorrido, a professora colocou a criança sentada em um lugar
para “pensar”. O que se queria saber era se a professora havia agido pedagogicamente ao
tomar essa atitude.
Esse fato inquietou-me muito, pois nunca dei aula para crianças e, embora se ouça muito
sobre indisciplina, nunca me questionei sobre o que faria a esse respeito, muito menos o que
seria “pedagogicamente correto”. Percebi que sabia muito pouco sobre indisciplina na
educação infantil, e de maneira geral, resolvi fazer esse trabalho de pesquisa para saber mais
sobre o assunto e, principalmente, como agirei quando estiver em sala de aula.
O tema desse trabalho é, portanto, sobre indisciplina na escola, mais especificamente sobre as
atitudes tomadas pelos professores para resolverem questões de indisciplina na educação
infantil. Por isso, levanta-se a seguinte questão para orientar esta pesquisa: como os
professores poderiam solucionar problemas de indisciplina na educação infantil por meio da
construção de limites bem claros?
Defende-se o posicionamento segundo o qual o professor deve mostrar-se firme,expressando
autoridade, mas também é importante que evite o autoritarismo que, de certa forma, rebaixa
o aluno. A imposição de limites e o respeito às regras, porém, devem ser colocados às claras.
Muitas vezes o professor quer resolver a questão da indisciplina com autoritarismo assim
como seus professores agiam no tempo em que estudavam. Não acreditando muito que o
problema da indisciplina possa ser resolvido, muitos professores não procuram buscar suas
causas, colocando a culpa, simplesmente, na família ou na sociedade.
No intuito de direcionar essa pesquisa à finalidade proposta, traçam-se objetivos para
consolidá-la tais como expor uma síntese do panorama geral da indisciplina nas salas de aula,
abordar os motivos das dificuldades que os professores enfrentam para solucionar problemas
de indisciplina, refletir sobre as atitudes dos professores em relação à indisciplina na educação
infantil, revelar como as crianças adquirem a sua autonomia e propor aos professores algumas
atitudes que visem solucionar problemas de indisciplina.
É justo que se pergunte pela relevância de tal empreendimento, ou seja, de se gastar tempo e
energia com o tema aqui discutido. Porém, ele é importante pela sua atualidade, pois está
vinculado à realidade do professor que, em sala de aula, enfrenta diariamente desafios com
comportamentos indesejáveis das crianças na educação infantil e, muitas vezes, não sabem o
quefazer. Através desse trabalho, procurar-se-á auxiliar o profissional da educação que deve
lidar com a realidade da indisciplina em sala de aula diariamente.
Que este texto possa servir de instrumento de reflexão que leve à prática de ensino “ordeiro”
através da “desordem”; de ensino que, pela irreverência da “indisciplina” das crianças,
subverta o caos em oportunidade de aprendizagem e de crescimento.
A presente pesquisa se divide em três capítulos: no capítulo 1 (“apresentando a realidade”),
apresentará definições de “disciplina” e de “indisciplina”, bem como esses temas no cotidiano
escolar; no capítulo 2 (“refletindo sobre um mundo em transformação”), procurará
compreender o indivíduo no contexto da sociedade, da família e da escola, e sobre a própria
criança nesse contexto, a partir da teoria de Jean Piaget ao abordar os conceitos de
heteronomia e autonomia, e de Lev Semyonovitch Vygotsky e sua teoria interacionista. E,
finalmente, no capítulo 3 (“o professor e a indisciplina em sala de aula”), abordará o tema
“autoridade ou autoritarismo”, seguido da questão relativa à construção da identidade da
criança. E, finalmente, do modo como o professor poderá lidar com esse assunto.
CAPÍTULO I
apresentando uma realidade
É comum hoje em dia referir-se à escola como o lugar caracterizado pela indisciplina, o que
tem levado muitos profissionais da educação à completa desilusão emrelação ao exercício da
docência. Parece que não há mais jeito, que nada que se faça dará bons resultados em relação
a esse aspecto. É necessário, porém, que se tenha em mente que todo problema, mesmo o
que parece insolúvel, pode ter solução ou ao menos ser trabalhado de forma construtiva
quando se reflete sobre ele. E para começar tal exercício, nada melhor do que dar nome ao
problema, ou seja, defini-lo.
Portanto, se um dos problemas que acontecem em sala de aula é o da indisciplina, é
importante que se deixe bem claro o que se entende por esse termo. Daí este capítulo ter
início na definição de “disciplina” e de seu oposto, a “indisciplina”.
1 — Definindo os termos
Costuma-se ouvir que tal aluno é “indisciplinado” ou que falta “disciplina” na escola. O que tais
termos significam ou, em outras palavras, o que as pessoas que os empregam querem dizer? O
que esperam?
1.1 — Disciplina
É possível defini-la segundo o dicionário, como o “conjunto das obrigações que regem a vida
em certas corporações, em assembleias etc. Submissão a uma regra, aceitação de certas
restrições. Ensino, instrução, educação” (FERNANDES, 1993).
Vasconcellos (1998) apresenta a forma idealizada de disciplina que tanto o professor almeja da
parte dos alunos em sua aula: que eles se comportem; que venham, de maneira específica, a
proceder conforme o desejo do professor. Assim, ele localiza bem a questão da“disciplina” ao
associá-la à “obediência”.
Mas “disciplina” não deixa de ser um conceito um tanto vago e passível de inúme ras
interpretações. Depende do tempo e do lugar em que é empregado. E também possui uma
compreensão que expressa interesses sociais e políticos bem definidos. Para Groppa Aquino
(1996), por exemplo, a disciplina escolar que caracterizava a escola na primei ra metade do
século 20 (e depois) não deixava de representar uma instituição de caráter elitista e
conservador, da qual ainda existe o vestígio e que causa o saudosismo. Não deixava, porém, de
manifestar-se ideologicamente através do controle dos corpos dos alunos e do feitio pouco (ou
nada) democrático por não permitir que esses se expressassem, mas que estivessem
completamente submissos às ordens do professor, denominado pelo autor citado de “general
de papel”. Também Vasconcelos (1998) aponta para uma razão sócio-política de se pensar e
defender um tipo de disciplina que prive o aluno o direito de construir autonomia que o levará
a ser cidadão consciente e participativo na vida social; como ele escreve: “na nossa realidade,
no sentido geral, disciplinar corresponde a adequação à sociedade existente; significa, pois,
inculcação, domesticação, resignação à exploração, etc.” (VASCONCELLOS, 1998)
Não se pode deixar de definir disciplina, também, como sendo uma habilidade interna de cada
pessoa que a ajuda a cumprir suasobrigações, é um autodomínio, é a capacidade de utilizar a
sua liberdade pessoal para poder, livremente, atuar na vida diária, tendo a possibilidade de
superar os seus condicionamentos internos e os externos, que se apresentam.
1.2 — Indisciplina
É definida, segundo o dicionário Aurélio, como “desordem; desobediência; rebelião”
(FERNANDES). Pode ser entendida também como “falta de limite dos alunos, bagunça,
tumulto, mau comportamento, desinteresse e desrespeito às figuras de autoridade da escola e
também do patrimônio” (MACHADO). Com isso a indisciplina é sempre um comportamento
impróprio que pode chegar até a agressão.
Rego (1996) aponta que o conceito de indisciplina é dinâmico, pode variar conforme a
situação, mediante os valores de uma cultura, o momento histórico, não somente difere entre
uma sociedade e outra, mas se modifica em uma mesma sociedade em seus diversos aspectos,
sejam eles relativos às classes sociais, sejam em instituições diversas e também em uma
mesma camada social. E continuando o conceito de indisciplina no plano individual: “a palavra
‘indisciplina’ pode ter diferentes sentidos, que dependerão das vivências de cada sujeito e do
contexto em que for aplicada”. Mas o que vem a ser um aluno indisciplinado? A mesma autora
responde a essa pergunta escrevendo que esse sujeito é aquele que não tem limites, que não
sabe respeitar as pessoas, suas opiniões e sentimentos, não secolocando em seu lugar. Ele
apresenta dificuldade em se relacionar com os demais convivendo de forma cooperat iva e
nem mesmo consegue dialogar para entender o ponto de vista da outra pessoa.
Com a definição do conceito de indisciplina, a autora relata a complexidade dessa palavra e
demonstra que este não é um termo consensual e que necessita de maiores pesquisa sobre o
assunto.
É preciso saber o que realmente alguns professores entendem por esses termos aplicando-os
em sala de aula.
2 — Disciplina e a indisciplina no dia a dia
Para muitos professores, o conceito de disciplina se revela quando as crianças se mantê m
sentadas, não conversam alto e não atrapalham o professor na hora que ele está falando ou
explicando algo.
Vaz, na pesquisa que realizou com o tema “A ‘criança-problema’ e a normatização do cotidiano
da Educação Infantil” (2005), apresenta os procedimentos de ADIs, nas creches, e professoras,
nas EMEIs, em relação ao comportamento disciplinar das crianças, procedimentos estes que
envolvem as restrições a que as crianças são submetidas, o controle das conversas sem
objetivos em sala de aula e até os momentos de atividades recreativas regulamentadas. Nos
depoimentos das ADIs e professoras parece ser inconcebível punir severamente as crianças
pela sua “indisciplina”, exceto em casos extremos, como a autora escreve:
Criança disciplinada severamente, sem direito a voz, pareceser considerado algo inapropriado
“pedagogicamente”, algo que as ADIs somente admitem em casos extremos, quando, como
forma de castigo, excluem do grupo a criança que precisa “pensar sobre o que fez”. O mais
comum é a educadora se utilizar da estratégia de chantagem afetiva, em que a criança, com
medo de perder o afeto da “tia”, cede ao controle.
Nesses depoimentos, as ADIs e professoras também relatam que a conversa também serve
para controlar e disciplinar as crianças, o que acontece “na roda” de conversa dedicada para
este fim, na qual elas ouvem como devem ou não se comportar. Para elas, é necessário que as
crianças fiquem “sossegadas” e “obedientes” para que ocorram o seu desenvolvimento e a sua
aprendizagem.
Ao definir os conceitos de disciplina e indisciplina e a maneira como se manifestam no dia a dia
da sala de aula, resta saber os motivos que levam a situação de indisciplina. É o que será
discutido no próximo capítulo.
CAPÍTULO II
Indisciplina, por quê?
Deve-se perguntar pelos motivos que têm levado a situações de indisciplina em sala de aula. O
quadro é conhecido: alunos falando alto ou gritando, saindo de seus lugares, jogando papel
uns nos outros e o(a) professor(a) nervoso(a), às vezes gritando, tentando colocar orde m na
turma. Qual o motivo desse comportamento das crianças?
Neste capítulo, procurar-se-á chegar a respostas para a perguntacolocada em seu título. Para
isso, será necessário refletir sobre situações que não são as mesmas de quando o(a)
professor(a) era aluno(a)... Em outras palavras, grandes mudanças têm ocorrido em todos os
âmbitos da sociedade e da cultura, verdadeiras transformações no modo como se vive, se vê o
mundo e com ele se relaciona. Daí a subdivisão do primeiro item em três pontos básicos, que
poderão ser considerados fundamentais para se compreender o comportamento das crianças
em sala de aula; pontos esses que visam ao “lugar” da criança. São eles: a sociedade, a família
e a escola.
Em um segundo momento, o foco será colocado sobre a criança, considerando seu
desenvolvimento, a aquisição da “autonomia” e, consequentemente, a sua relação com a
discussão a respeito da disciplina em sala de aula.
2.1 — Refletindo sobre um mundo em transformação
Falar de mundo em transformação é dizer que as coisas já não são como costumavam ser.
Muitos valores, costumes, atitudes, visões de mundo, têm sido questionados, abandonados ou
alterados na segunda metade do século XX. Tais processos de mudança também alcançaram
três elementos essenciais que são importantes para a reflexão sobre a disciplina em sala de
aula: a sociedade, a família e a escola.
2.1.1 — Sociedade
Embora haja uma espécie de “saudosismo” em relação a como a escola mantinha a disciplina
de seus alunos no passado, é preciso que osprofessores e demais profissionais da educação
tenham consciência de que o “mundo” está em constante movimento. Em outras palavras, a
sociedade tem passado por mudanças consideráveis que têm afetado diretamente o
comportamento dos alunos e das alunas. E parece inútil aos professores tentar manter o
antigo comportamento disciplinar nos dias de hoje.
O assunto relacionado à sociedade e suas transformações é vastíssimo de maneira que, neste
item, é possível apenas esboçar algumas considerações.
O aspecto “saudosista” presente nas expectativas de muitos professores ocorre pelo fato de
eles idealizarem o sistema educacional de outrora ao compararem-no com o que consideram a
“anarquia” disciplinar atual.
Groppa Aquino (1996:43) observa que o perfil da escola não corresponde mais àquele
idealizado, porque a “democratização política do país” e a “desmilitarização das relações
sociais” abriram espaço para uma nova escola e um novo aluno. Ele escreve: “temos diante de
nós um novo aluno, um novo sujeito histórico (...)”. Dessa forma, a hierarquização anterior deu
lugar a um tipo de relação professor a aluno no qual aquele não é mais considerado o detentor
do saber, enquanto esse deveria ser apenas a pessoa que absorve conhecimento. Ele (GROPPA
AQUINO, 1996:43) ainda escreve:
É presumível, portanto, que as relações escolares fossem determinadas em termos de
obediência e subordinação. O professor não era sóaquele que sabia demais, mas que podia
mais porque estava mais próximo da lei, afiliado a ela. Sua função precípua, então, passa a ser
a de modelar moralmente os alunos, além de assegurar a observância dos preceitos legais
mais amplos, aos quais os deveres dos escolares estavam submetidos.
O mundo tem mudado, princípios e valores também mudaram, dando origem a um novo
tempo, no qual crianças e adolescentes têm assumido novos “lugares” na sociedade.
Vasconcellos (1998:23-24) explica que tais mudanças têm ocasionado vários elementos que
afetam diretamente as pessoas, como “crise ética”, “concentração de renda”, “economia
recessiva” “desemprego” e “subemprego”. Com tudo isso, gerou-se uma “crise dos sentidos e
dos limites” (VASCONCELLOS, 1998:24-26), que repercute na escola, ou melhor, na sala de
aula.
2.1.2 — Família
Mudanças sociais implicam em transformações em todos os âmbitos da sociedade, inclusive o
da família. Considerando a natureza social do indivíduo, a família é o “lugar” por excelência
onde ele desenvolve, em grande medida, sua identidade.
Atualmente, a estrutura familiar tradicional tem deixado de ser um paradigma em relação à
realidade social vigente. A família dita “nuclear” não apresenta mais o caráter normativo de
tempos atrás. Segundo Clarice Ehlers Peixoto, no prefácio que escreve ao livro de François de
Singly (2007:16) e sintetizando a própria opinião destesociólogo: “a família muda de estatuto
ao se tornar um espaço relacional mais do que uma instituição”.
Em outras palavras, já não se pensa como família apenas na existência de um grupo composto
por pai, mão e filhos; atualmente, devido às mudanças no papel da mulher (nesse caso, aos
próprios movimentos feministas), sua emancipação (devido ao trabalho em cujo mercado ela
tem se inserido e ao controle da contracepção), e a tantos outros fatores (por exemplo, o
crescente número de divórcio), “família” passa a se referir à vivência de uma pessoa na sua
relação com outras, mesmo não possuindo laços sanguíneos.
Nesse contexto, inserem-se as crianças que frequentam as escolas. Elas também trazem suas
histórias de vida, produtos dos relacionamentos familiares e extrafamiliares; e assim vivem
seus relacionamentos intraescolares.
A partir dessa nova realidade que se estabelece no âmbito escolar, surge a apreensão dos
professores relativa à “indisciplina” dos alunos e a culpa que lançam na família, como lugar de
desagregação, desestruturação etc.
Partindo de uma visão caracterizada pelos estudos de Vygotsky, Rego (1996:95-97) salienta a
importância da família como contexto ou meio de interação da criança. Dessa forma, o caráter
indisciplinado ou disciplinado do aluno também se relaciona com seu desenvolvimento no
meio histórico-cultural a que pertence. E, aqui, leva em conta o papel dos pais
comoeducadores (REGO, 1996:97):
A família, entendida como o primeiro contexto de socialização, exerce, indubitavelmente,
grande influência sobre a criança e o adolescente. A atitude dos pais e suas práticas de criação
e educação são aspectos que interferem no desenvolvimento individual e, consequentemente,
influenciam o comportamento da criança na escola.
A partir daí, a autora apresenta três modelos de pais: os “autoritários”, os “permissivos” e os
“democráticos”. Os primeiros restringem seus filhos exigindo deles um comportamento
“exemplar”, de maneira que são inibidores das crianças e de suas iniciativas; o segundo grupo
refere-se àquele tipo que não impõe regras aos filhos, permitindo que eles façam o que
queiram; o terceiro grupo trabalha com as crianças de maneira a respeitar sua liberdade, mas
se importam mais em desenvolver nos filhos senso de responsabilidade (REGO, 1996:97-98).
Resumindo, o conceito de “família” atualmente deve levar em conta a multiplicidade relacional
em que se inserem as crianças; consequentemente, seus valores, crenças e comportamentos.
2.1.3 — Escola
“Ir à escola pra quê?” Podemos começar essa reflexão sobre as mudanças na escola com essa
pergunta que, há algumas décadas atrás, seria fácil de ser respondida. Vasconcellos (1998)
apresenta mudanças fundamentais que têm ocorrido no Brasil, no que se refere à escola e ao
professor, nos últimos 30/40 anos.Começa relatando que, antes, a escola era valorizada
socialmente e vista como uma forma de ascensão social; o professor era valorizado, possuía
certo “status”, sendo considerado um mediador da ascensão social, e sua formação era mais
consistente em relação a sua realidade; a remuneração do professor era mais condizente com
sua função; ele era visto pela escola como uma pessoa privilegiada para a transmissão de
informações; a escola tinha total apoio da família em relação à educação de seus filhos; a
“clientela” que freqüentava a escola também tinha mais facilidade em acompanhar os
conteúdos que ali eram ensinados.
Em contraste com esse passado, Vasconcellos (1998:22-23), aponta as transformações radicais
nas últimas décadas, como o aumento do número de escolas para suprir a demanda por um
lado, e queda da qualidade do ensino, do outro; aumento de vagas no Ensino Fundamental e
Médio nas escolas públicas e no Ensino Superior, nas escolas particulares; a formação do
professor um tanto vaga e fragmentada; a “diminuição drástica do salário do professor”; falta
de condições de trabalho no que se refere ao material pedagógico, equipamentos, instalações
etc.
Os dados acima descritos, e que denunciam o que o autor denomina de “crise de identidade
da escola”,revelam as dificuldades que os profissionais da educação têm sentido em relação a
como lidar com os novos tempos e, de maneira específica, com o“novo aluno”
(VASCONCELLOS, 1998:25).
Groppa Aquino (1996:43) tece certas críticas ao modelo tradicional de escola:
Também é possível deduzir que a estrutura e o funcionamento escolares de então espelhavam
o quartel, a caserna; e o professor, um superior hierárquico. Uma espécie de militarização
difusa parecia, assim, definir as relações institucionais como um todo.
Também ele considera esse modelo “elitista e conservador” (GROPPA AQUINO, 1996: 44). Isso
significa que é necessário repensar o nosso modo de ver a escola, não mais segundo a forma
antiquada e conservadora, mas, sim, como espaço democrático da inclusão das maiorias antes
excluídas do processo educacional.
A reflexão sobre as transformações ocorridas na sociedade, na família e na escola auxilia
quando se trata de entender qual a relação do desenvolvimento da criança e sua autonomia
com todas as consequências dessas mudanças. Por isso, uma abordagem à questão relativa a
esses assuntos se faz necessária ao se estudar o tema de disciplina em sala de aula.
2.2 — A criança
Após algumas considerações sobre três aspectos considerados importantes em relação à
educação formal das crianças, ou seja, sobre a sociedade, a família e a escola, cabe agora um
espaço para a reflexão a respeito do desenvolvimento da criança, no sentido de compreendê -
la cada vez mais como sujeito do processo educacional e, por conseguinte, como o
elementofundamental para a questão da disciplina em sala de aula, é claro.
Dois teóricos são muito importantes quando se fala em desenvolvimento infantil, para
compreendê-lo no contexto da escola e da disciplina: Jean Piaget (1896-1980) e Lev
Semyonovitch Vygotsky (1896-1934).
2.2.1 — Jean Piaget
A obra desse pesquisador é fundamental para se refletir a respeito do comportamento da
criança em sala de aula. Primeiramente porque esse ambiente acolhe pessoas com diversas
experiências que deverão ser trabalhadas pelo professor pedagogicamente; mas também
porque, na sala de aula, há o ambiente para a contribuição da formação da autonomia dos
alunos.
Baseado em pressupostos kantianos, Piaget desenvolveu a teoria de que a formação da
moralidade da criança se caracteriza por três “momentos”: o da anomia, o da heteronomia e o
da autonomia.
A anomia diz respeito à fase da criança recém-nascida, que não está submetida a nenhuma
regra, mas, completamente, a um estado de egocentrismo, sendo ela o “centro” do mundo e
cujas necessidades devem ser satisfeitas. Como define Araújo (GROPPA AQUINO, 1996:107):
Utilizando o exemplo da criança recém-nascida, ela encontra-se na anomia, num estado de
egocentrismo radical em que não se diferencia do mundo, sem perceber a existência dos
outros, sem saber que existem regras de convivência social — coisas que devem ou não ser
feitas.
É importante observar que odesenvolvimento do juízo da criança também é compreendido por
Piaget sob o pano de fundo dos trabalhos de Durkheim e de Bovet. Não entrando aqui nos
detalhes elaborados por cada um, basta, porém, perceber o que eles têm em comum:
“consideram o sentimento do bem e a consciência do dever como aspectos essenciais para se
compreender a ação miral” e mais: “quando Durkheim e Bovet fortalecem o papel da
autoridade como única fonte para a sua constituição da moral, acabam por submeter o bem
ao dever”. Com isso Piaget demonstra a sua cumplicidade com os autores citados em relação à
moral autônoma, resultado da ação da criança em ultrapassar a moral do dever, heterônoma,
que procede da autoridade da pessoa adulta. Esse é um desenvolvimento interno, segundo o
qual a criança se sente obrigada a “agir autonomamente de acordo com o bem” (GROPA
AQUINO, 1996: 109). Essas são as conclusões de Piaget concernentes ao assunto; como ele
escreve (PIAGET, 1994:91):
Em suma, quer nos coloquemos num ou noutro dos dois pontos de vista de Durkheim e de
Bovet, é preciso distinguir, para compreender os fatos, dois grupos de realidades sociais e
morais: coação e respeito unilateral, de um lado, cooperação e respeito mútuo, de outro (...).
Piaget escreve a respeito da convivência com os “outros”, isto é, na família, na sociedade,
como o contexto de onde a criança aprende regras mediante a coação. Ele a define
como“unilateral” por se caracterizar pela ordem imposta pelos adultos. Dessa forma, o
pequenino passa da anomia para a heteronomia.
Mas, o último estágio relativo ao desenvolvimento do juízo moral é significativo quando se
trata de estabelecer a autonomia da consciência que agirá, não mais pelo dever, mas por saber
o que é certo e errado, e por respeito aos outros.
Kamii (1994:106), quando escreve sobre a autonomia como finalidade da educação tendo em
vista a teoria de Piaget, formula um questionamento sobre como alguns adultos podem se
tornar moralmente autônomos:
A resposta de Piaget para essa pergunta era a de que os adultos reforçam a heteronomia
natural das crianças, quando usam recompensas e castigos, e estimulam o desenvolvimento da
autonomia quando intercambiam pontos de vista com as crianças.
Na sequência, ela demonstra as consequências da punição e da troca de ponto de vista com a
criança. Em relação à punição, esta tem como consequência o fato da repetição do ato pela
criança, mas desta vez evitará ser pega, pois o medo está em ser descoberta; a criança se torna
uma criança conformista, obedecendo cegamente ao que lhe é imposto e, com isso, não
precisará tomar decisões, bastando obedecer; e a revolta como sendo mais uma das
consequências da punição. Esta última pode se apresentar quando as crianças, que sempre
foram punidas, mas que sempre tiveram um bom comportamento (talvez pormedo de serem
castigadas ou por serem conformista) resolvem se revoltar, cansadas de obedecer a outros e
decidindo seguir por conta própria, apresentando características de indisciplina contra aqueles
aos quais se submeteram, pais e professores. Esta atitude faz com que elas saiam do
conformismo, mas não de maneira autônoma e sim com sentimento de revolta, pois há uma
“vasta diferença entre autonomia e revolta”. Com isso nota-se que a punição reforça a
heteronomia e não permite que as crianças desenvolvam a autonomia (KAMII, 1994:106-108).
Segundo a autora, Piaget diz que não se pode “evitar totalmente a punição”, isto é , não é
possível permitir que a criança faça o que bem quiser, tendo em vista os perigos de algumas
ações, e se ela o fizer, terá as suas consequências. Dessa forma faz uma “distinção entre
punição e sanções por reciprocidade”. Punir, para Piaget, é não fazer relação entre o ato
praticado e o castigo: “privar a criança da sobremesa por dizer mentiras é um exemplo de
punição, pois a relação entre mentira e sobremesa é arbitrária”. Já sanções por reciprocidade,
relacionam o ato com a “consequência” do mesmo. É nesse ponto que se deve aplicar a “troca
de ponto de vista com a criança” para o desenvolvimento da autonomia. Kamii aponta quatro
dos seis exemplos de sanções dadas por Piaget, entre elas: “exclusão do grupo”: isolando a
criança do grupo quando esta não se portaadequadamente, atrapalhando os demais; “apelar
para a consequência direta e material do ato”: quando se diz que não se poderá acreditar mais
na criança quando esta disser uma mentira; “privar a criança da coisa que ela usou mal”:
quando a criança usa determinados brinquedos, por exemplo, e a professora coloca regras
para que sejam obedecidas e a criança não as cumpre, ela é impedida de se utilizar novamente
do brinquedo até que se julgue que ela é merecedora. E por fim o quarto exemplo é o da
“reparação”: quando a criança, por exemplo, estraga um trabalho de um colega e a professora
pede que o culpado a ajude a consertá-lo. A autora finaliza essa colocação sobre o último
exemplo dizendo que “quando as crianças não têm medo de ser punidas, elas se manifestam
espontaneamente e fazem a reparação.”(KAMII, 1994:107-111).
Ao se abordar o assunto da indisciplina em sala de aula, a obra de Piaget sobre a formação
moral da criança se torna relevante ao proporcionar ao professor instrumental importante
para a compreensão e, mais que isso, o discernimento do aluno como pessoa, talvez
“indisciplinada”, mas não “imoral” (Araújo, 1996:110), já que ele traz seus valores, oriundos
das relações familiares e extra-escolares.
E, também, tal conhecimento poderá ser útil ao professor em sala de aula para realizar seu
projeto pedagógico no sentido de estimular o aluno a desenvolver consciência autônoma, ou
seja, queo leve a ser uma pessoa de boa convivência social, que respeite as pessoas porque
isso é o certo a fazer e não porque seja obrigado a tal, e que contribua para uma sociedade
melhor. Nesse caso, o ambiente de sala de aula será adequado como o “espaço da
autonomia”. Mas isso será discutido detalhadamente no capítulo III.
2.2.2 — Lev Semyonovitch Vygotsky
Grande estudioso e representante do “interacionismo”, tendência que acredita que a pessoa
se desenvolve na interação, na ação recíproca, com a sociedade, sendo ela, portanto,
fortemente marcada pela história e pela cultura na qual se criou.
Rego (1996:91-95) apresenta alguns aspectos do pensamento do escritor russo que são
fundamentais para se compreender a formação da pessoa. São eles: a linguagem, “o papel
mediador exercido por outras pessoas nos processos de formação dos conhecimentos,
habilidades de raciocínio e procedimentos comportamentais de cada sujeito” e a
“internalização” desses conteúdos.
Em A formação social da mente, Vygotsky apresenta sua teoria concernente à formação do
que ele denomina “funções psicológicas superiores”. Após apresentar dados extraídos de
experiências realizadas por ele e sua equipe, e de discutir resultados apresentados em
pesquisas de outros cientistas, ele enfatiza como a mente da criança se desenvolve, em seus
primeiros anos, no contato com outras pessoas que contribuem e incentivam o seu
avançopara estágios superiores — de maneira particular, isso ocorre com a brincadeira
(VYGOTSKY, 2007:107-124) e com a linguagem, mediante a qual a criança internaliza “as
formas culturais de comportamento” (VYGOTSKY, 2007:58).
Quando se fala sobre indisciplina em sala de aula, os postulados de Vygotsky são muito
importantes para a compreensão da criança como pessoa que tem interagido com um
contexto social que, de certa forma, tem lhe provido de conteúdos com os quais se
relacionam. Como afirma Rego:
(...) É possível afirmar que um comportamento mais ou menos indisciplinado de um
determinado indivíduo dependerá de suas experiências, de sua história educativa, que, por sua
vez, sempre terá relações com as características do grupo social e da época histórica em que
se insere.
Assim, o contexto social, histórico e cultural, mais o desenvolvimento da criança ao apreendê -
lo por intermédio da linguagem (sobretudo na internalização de signos lingüísticos) e do
brinquedo, são fatores importantes para a compreensão do aluno, não no sentido de se acusar
tal e tal ambiente como o “responsável” por sua “indisciplina”, mas como importante
instrumento pelo qual seja possível a construção de “pontes” que visem à formação do aluno
mediante sua interação com o ambiente escolar. É o que também será discutido no próximo
capítulo.
cAPÍTULO iii
O professor e a indisciplina em sala de aula
Depois da tentativade se definir “disciplina” e “indisciplina’ (o que foi realizado no capítulo I) e
de procurar entender os motivos que levam á indisciplina em sala de aula (capítulo II), é
importante que se reflita a respeito das atitudes do professor frente ao problema, de modo
que sua reação seja construtiva e inserida em um projeto pedagógico que vise o
desenvolvimento dos alunos. Para tanto, três pontos de discussão serão abordados neste
capítulo por se entender serem relevantes: primeiramente uma reflexão sobre os conceitos
“autoridade” e “autoritarismo”; a seguir, outra discussão a respeito da importância de se
compreender como se dá a construção da identidade da criança; e, como terceiro ponto, de
que maneira o professor poderá usar a indisciplina como instrumento pedagógico.
3.1 — Autoridade ou autoritarismo
É comum a confusão que ocorre entre “autoridade” e “autoritarismo”. Quantas vezes, em sala
de aula, o segundo conceito é aplicado pelo professor imaginando que está expressando o
primeiro. Por isso, é relevante uma reflexão sobre ambos, para que o professor tenha
consciência e a habilidade necessária para interagir e/ou reagir aos alunos ditos
“indisciplinados”.
A concepção que normalmente se tem de autoridade em sala de aula relaciona-se ao da
posição do professor como alguém que impõe a ordem e o respeito mediante sanções e gritos.
Geralmente, esse conceito vincula-se a uma ideia deescola que pertence ao passado, a outra
realidade, quando os alunos eram controlados pelo sistema escolar em seus corpos e falas,
como bem aponta Groppa Aquino (1996) ao mostrar, como exemplo, o sistema escolar como é
apresentado pelas Recomendações disciplinares de 1922. Tal descrição é considerada pelo
autor citado como “militar” e expressava, na figura do professor, a encarnação da ordem e da
disciplina. Como ele escreve (GROPPA AQUINO 1996:43):
É presumível, portanto, que as relações escolares fossem determinadas em termos de
obediência e subordinação. O professor não era só aquele que sabia mais, mas que podia mais
porque estava mais próximo da lei, afiliado a ela. Sua função precípua, então, passa a ser a de
modelar moralmente os alunos, além de assegurar a observância dos prece itos legais mais
amplos, aos quais os deveres escolares estavam submetidos.
Tal conceito, porém, traz problemas sérios à formação dos alunos porque idealiza um sistema
escolar do passado (e, diga-se de passagem, deficiente) em relação a uma realidade
completamente diferente. Eis aqui a grande questão: tratar uma situação do presente com
“soluções” do passado.
Em outras palavras, o que está descrito acima se define como “autoritarismo” e não como
“autoridade”.
Ainda nesse sentido, Araújo (1996), tendo por base os conceitos de heteronomia e de
autonomia em Jean Piaget, apresenta uma crítica ao modo que eleentende ser “autoritário” e
que caracteriza muitas posturas e ideais de professores, quando esses entendem que uma
classe “disciplinada” é a que corresponde a seus interesses
Como vimos no capítulo I, no qual Vaz apresenta o resultado de entrevistas efetuadas com
ADIs,em creches, e professoras de EMEIs a respeito da disciplina das crianças, que, segundo a
qual, ela constata a ênfase teórica numa formação democrática com o objetivo de fazer com
que a criança atinja a autonomia. É preciso salientar o que Vaz escreve sobre a “ênfase
teórica”, pois, muitos professores conhecem a teoria de como se deve agir em sala de aula,
mas na hora de por em prática a coisa é outra: agem de maneira autoritária, impondo a sua
vontade, pensando que estão exercendo sua autoridade. Vaz, porém, percebe na prática os
procedimentos que envolvem as restrições a que as crianças são submetidas acabam
enquadrando as crianças num sistema normativo que as desconsidera como crianças “reais”
em nome de uma idealização que se faz delas, caracterizando o processo educativo como
“passagem” de um nível a outro. Como a autora observa: “A ideia de ‘passagem’, recorrente
nas representações das professoras e ADIs, sugere não existir, nessas práticas, tempo e espaço
para a criança de ‘aqui, agora’ ”. (VAZ, 2005)1.
A esse respeito D’Antola (1989:50) também observa que:
(...) nossas escolas têm uma tradição autoritária. Nelas, opoder de decisão está sempre
colocado na autoridade hierarquicamente superior e as relações se dão de cima para baixo.
(...) Ora, os alunos são os sujeitos a quem as ações da escola se destinam. Por que não tomam
parte nas decisões que os envolvem?
A resposta convencional é a de que só os educadores têm competência para decidir o que é
melhor para os alunos (...).
Será que as relações de poder em nossas escolas estão funcionando de acordo com esses
padrões de competência?2
E logo a seguir a autora responde negativamente, pois mostra como o procedimento desses
profissionais da educação ainda se prende a um modelo tradicional autoritária que não traz
benefícios aos alunos em termos de desenvolvimento saudável.
Daí ela observar em vários professores a diferença entre teoria (democrática) e prática
autoritária (D’Antola, 1989) e propõe o que ela denomina de “clima democrático”, no qual,
deverá existir a participação e a voz do aluno até na elaboração de regras a serem seguidas na
escola. Nesse contexto, o professor continua sendo o educador, possuindo autoridade, mas
usando dela de forma respeitosa em relação ao aluno e não impositiva e ditatorial, como
ocorre no caso de autoritarismo do modelo escolar tradicional.
Abrir espaço para o diálogo e a cooperação entre alunos e professores, não significa minimizar
a autoridade desses últimos, nem cair na anarquia. Significa apenas respeitar econsiderar os
alunos como sujeitos do aprendizado e não apenas objetos passivos do ato de “aprender”.
Essa é a opinião de outro educador que deixou suas marcas na história: Paulo Freire. Para ele,
“autoridade”, por um lado, não significa “autoritarismo” e, por outro, não quer dizer
“libertinismo”.
Paulo Freire discute a respeito desses limites entre um conceito e outro. Em outras palavras, é
necessário não confundir “liberdade” com “desordem”. Como ele escreve (FREIRE, 1996:105):
O grande problema que se coloca ao educador ou à educadora de opção democrática é como
trabalhar no sentido de fazer possível que a necessidade do limite seja assumida eticamente
pela liberdade. Quanto mais criticamente a liberdade assuma o limite necessário tanto mais
autoridade tem ela, eticamente falando, para continuar lutando em seu nome.
E mais adiante (FREIRE, 1996:108), afirma esta ideia:
O que sempre deliberadamente recusei, em nome do próprio respeito à liberdade, foi sua
distorção em licenciosidade. O que sempre procurei foi viver em plenitude a relação tensa,
contraditória e não mecânica, entre autoridade e liberdade, no sentido de assegurar o respeito
entre ambas, cuja ruptura provoca a hipertrofia de uma ou de outra.
Se autoritarismo não deve caracterizar a relação entre professor e aluno, autoridade e,
portanto, limites, são fundamentais para o exercício de relações democráticas na escola,
asquais beneficiarão alunos e professores.
3.2 — Construindo a identidade da criança
Ao refletir a respeito do tema “autoridade ou autoritarismo”, tinha-se em mente “preparar o
terreno” para se discutir sobre a relação do professor com os alunos em sala de aula. A
aplicação da autoridade, porém, deve-se ao conhecimento (quanto mais melhor) da criança e
do desenvolvimento de sua identidade. E esse é o assunto deste item.
Após apresentar a aplicação que Jean Piaget faz dos conceitos kantianos de heteronomia e
autonomia, Araújo (1996:114) defende que o professor contribua, em sala de aula, para que os
alunos construam uma identidade autônoma, pautada nos “ideais democráticos de justiça e
igualdade”. Para esse autor, tais princípios são aplicáveis quando o professor dá a liberdade
para os alunos participarem ativamente da elaboração de regras e de um comportamento
cooperativo, fazendo-os sentirem que também são respeitados. Ao mencionar duas posturas
do professor existentes no contexto de sala de aula, a autoritária e a democrática, ele escrev e
(ARAÚJO, 1996:111):
Acredito que se deve buscar uma perspectiva que rompa essa dicotomia. De acordo com o
referencial teórico apresentado, isso só será possível com a democratização das escolas, a
partir de relações de respeito mútuo e reciprocidade que modifiquem a visão sobre o papel
que as regras devem exercer nas instituições.
Sobre aquestão de cooperação, De La Taille (2000:113) escreve que a criança deve viver em
ambientes que não apenas sejam dirigidos pela autonomia, mas que proporcionem a sua
participação na mudança dos destinos dos próprios ambientes. O autor deixa claro que é a
partir da cooperação que a criança terá incorporado a autonomia em sua personalidade, pois
“só assimilamos o que experimentamos”. Cooperar neste caso não teria o sentido de “ajudar”
e sim, de fazer junto com o outro, ser autor em união com o outro e, ao estabelecer essas
relações de cooperação e de construção de regras, a criança envolve toda a sua personalidade
e passa a respeitar essas regras construídas conjuntamente. É por meio da cooperação que a
“criança aprende a organizar seus argumentos e a escutar e compreender os das outras
pessoas”. A cooperação para De La Taille, portanto, significa “acordo, diálogo, envolvimento e
compromisso. E autonomia é respeito pelo outro e exigência de ser respeitado”.
Quando o autor escreve que a autonomia é respeito pelo outro, ele se refere ao surgimento de
um sentimento advindo da admiração, da dependência e do medo: o respeito, o qual a criança
sente pelos pais quando estes a submetem “às suas ordens, às suas vontades, às suas
punições” e “ao respeitar os pais, tende a assumir seus valores e a obedecer às suas ordens.
Ora, o sentimento do respeito moral equivale ao sentimento de obrigatoriedade” (De LaTaille,
2000:92). Sendo assim, a criança se sente no dever de respeitar o outro. Esse sentimento de
respeito, como coloca o autor, tem origem na relação entre o adulto (pais e/ou professores) e
a criança, quando aquele exerce sobre esta a função de autoridade, colocando valores e
limites às suas ações. De La Taille enfatiza que o desenvolvimento da criança em direção a
autonomia nasce dessa relação, que para Piaget, é “pedagogia necessária para a entrada da
criança no mundo da moralidade“ e que também depende de outras relações e maneiras de
colocá-los (De La Taille, 2000:92-93).
Antes de abordar tais relações, De La Taille deixa claro que, embora a criança deva ter
experiências de relações de autoridade com uma educação “bem pensada e bem feita desde a
mais tenra idade”, isso não impede que um adolescente, que não teve essas experiências, não
possa ter a sua educação modificada radicalmente frente a novas situações, decorrentes das
relações com o outro e com acontecimentos na sociedade, a qual também interfere na sua
formação e que “exige” essa mudança.
As relações entre o adulto e a criança, e a maneira de colocar os limites, abrangem três tipos
de educação que se referem ao tema “autoridade” e “autoritarismo”: a “educação autoritária”
(caracterizada pela “imposição de regras”, castradora, no indivíduo, de qualquer autonomia); a
“educação por ameaça de retirada de amor” (chantagememocional que certos pais e
professores fazem com a criança para que ela lhes seja submissa) e a “educação elucidativa”
(que consiste em ordem e/ou repreensão que traz os motivos e as consequências das atitudes
censuradas) (De La Taille, 2000:95-96).
Segundo De La Taille, a “educação elucidativa” possui três dimensões fundamentais para que o
desenvolvimento moral da criança ocorra de modo satisfatório. Primeiramente, é importante
que a criança experimente os valores que lhe são transmitidos nos relacionamentos com seus
pais e professores (em outras palavras, eles devem viver o que ensinam). Também é de se
esperar que ela participe de atividades de cooperação, como já mencionado anteriormente. E,
finalmente, que pais e professores trabalhem a afetividade das crianças, valorizando o bem e
rejeitando o que for prejudicial ao seu convívio com o outro (De La Taille, 2000).
Esse trabalho de explicação das razões da ordem e da repreensão é uma forma que se
aproxima mais de uma educação democrática, sem autoritarismo e sim, com autoridade,
embora não seja uma relação autêntica de democracia, pois ordem e repreensão são
colocadas para a criança sem a participação da mesma, no entanto, possibilitam que ela
alcance e valorize a igualdade essencial para a autonomia.
3.3 — Um novo olhar sobre a “indisciplina”
O ponto a que se quer chegar neste trabalho de pesquisa é justamente o de propor
aosprofessores algumas atitudes que visem solucionar problemas de indisciplina.
Groppa Aquino argumenta que é necessário que as escolas re-criem seus conteúdos e
métodos para que se tornem interessantes para os alunos (AQUINO:52-53). E o professor teria
como papel tornar concreto, na escola e para os alunos, todo aparato conceitual que deverá
ser utilizado. E, dessa forma, disciplina não deverá ser considerada sinônimo de “silêncio”, mas
de aprendizagem, mesmo por meio de um comportamento que se expresse como “barulho” e
“agitação”. Ele escreve:
É presumível, portanto, que uma nova espécie de disciplina possa despontar em relações
orientadas desta maneira: aquela que denota tenacidade, perseverança, obstinação, vontade
de saber. Um outro significado muito mais interessante para o conceito de disciplina, não?
(AQUINO, 1996:53).
Tal abordagem ao tema torna-se interessante por manifestar uma representação do ambiente
escolar mais próximo da realidade atual.
Também foi possível perceber como os novos tempos demandam novas formas de se lidar
com a indisciplina em sala de aula, considerando todas as mudanças ocorridas na sociedade e,
consequentemente, na família e na própria escola. Seguem algumas observações.
É possível que, em muitos casos de indisciplina em sala de aula, o problema esteja no método
pedagógico usado pelo professor. Deve-se perguntar como ele faz o planejamento de sua aula,
se orealiza, ou se tem por hábito improvisá-lo. O “diz-que-diz” sem objetivo específico torna a
aula entediante e, claro, muitos alunos não agüentam ficar parados.
Também é importante que o professor acredite no que faz. Sem essa fé e o amor à sua
profissão, ele mesmo poderá contribuir, sem o querer, para que a aula se torne um “inferno”.
Abrir espaços para a interação dos alunos e aproveitar suas energias para a elaboração
conjunta e a realização de projetos pedagogicamente viáveis. Assim, como escreve Groppa
Aquino (1996:53):
(...) A partir daí, o barulho, a agitação, a movimentação passam a ser catalisadores do ato de
conhecer, de tal sorte que a indisciplina pode se tornar, paradoxalmente, um movimento
organizado, se estruturado em torno de determinadas ideias, conceitos, proposições formais.
Gentile (2002) entra na questão do agir democrático na relação do professor e aluno. Esse
modo não se limita a lidar com o problema de disciplina e indisciplina, mas de compreender o
aluno como ser humano que traz sua própria formação sócio-cultural e familiar. A partir dessa
disposição, compete ao professor construir pontes que façam a ligação entre ele e a pessoa do
aluno em um processo de interação em que ambos contribuam para a efetivação do
amadurecimento e desenvolvimento do aluno. Cabe ao professor se dispor a conhecer e
sensibilizar-se com a necessidade do aluno, procurando dialogar,discutir sobre o caso de
indisciplina e, se preciso for, aplicar sanções que dizem respeito ao ato em questão. Segundo a
autora (GENTILE, 2002)3:
O professor precisa desempenhar seu papel o que inclui disposição para dialogar sobre
objetivos e limitações e para mostrar ao aluno o que a escola (e a sociedade) esperam dele. Só
quem tem certeza da importância do que está ensinando e domina várias metodologias
consegue desatar esses nós. (...) O truque é transformar a contestação em aliada, dando
atenção ao jovem e ajudando-o a entender o que o incomoda.
Nesse contexto, não caberia mais ao professor “colocar a criança sentada em um lugar para
pensar”, pois, consciente de seu papel como educador, ele sabe das implicações desse ato,
que não proporciona a autonomia da criança por ser uma atitude autoritári a, não a respeita
como um ser em formação e impede o seu desenvolvimento.
Vasconcellos (s/d)4 em seu artigo Os Desafios da Indisciplina em Sala de Aula e na Escola, dá
algumas sugestões a respeito do procedimento do professor em relação ao aluno: cuidar para
não cair em modismos, mas levar ideias a sério; a necessidade de se estabelecer “sentido e
exigência” na construção de um projeto pedagógico que seja relevante para a realidade dos
alunos e para o próprio professor, considerando a formação crítica de cada um no que se
relaciona aos diversos aspectos de sua vida; estabelecer “sentido para oestudo”
(VASCONCELLOS:243), percebendo o professor qual seja a importância que sua função de
educador e que a própria escola possuem para a transformação da realidade ( VASCONCELLOS:
243-244)5.
Um ponto que se torna relevante para Vasconcelos6 é o tema do respeito. O professor
conseguirá lidar melhor com a questão de indisciplina em sala de aula, e, portanto, com o
estabelecimento de disciplina ao ganhar o respeito de seus alunos mediante a confiança neles
como pessoas que têm capacidade de crescer e produzir. Isso significa mudança de
perspectivas metodológicas, passando de uma visão “metafísica” do ensino (“isso é ou não é”)
para uma dialética (“isso é e não é”) (VASCONCELLOS:246-247).
Levando a sério o seu papel de educador inserido na realidade de seus educandos, verá o
mestre que essa interação e a abertura de espaço para atuação (“indisciplinada”) deles, agora
utilizada no projeto pedagógico por meio de elaboração conjunta de regras, de atividades etc.,
apenas mostrará com maior clareza a autoridade que ele tem em relação aos alunos, o que
criará um ambiente no qual ele será respeitado (VASCONCELLOS7).
É claro que a discussão em torno da autoridade do professor e do autoritarismo, realizada no
início deste capítulo, também terá aqui o seu desfecho. Com base no respeito e no modo sério
com que demonstrar sua atenção à importância de seu papel de educador, o professor
exercerá legítimaautoridade, como pessoa que agirá segundo “a necessidade do grupo
naquele momento e tendo em vista, com muita clareza, os objetivos que se buscam, para ter
critérios de orientação para a tomada de decisão” (VASCONCELLOS: 248)8.
Considerações finais
Utopia é o lugar que não existe, um ideal com o qual sonhamos, mas nem por isso pode
continuar deixando de existir, é preciso ter o olhar voltado para esse “lugar”, o horizonte a ser
alcançado, para que se seja impulsionado pela vontade de chegar lá, procurando caminhos
que permitam atingir esse alvo essa meta.
Pode-se dizer que esse é o caminho proposto por essa pesquisa: contribuir com algumas
observações para que o professor venha a lidar com o problema da indisciplina em sala de
aula.
Diante da questão da disciplina e da indisciplina em sala de aula, e de sua dura realidade para a
maioria dos professores, buscou-se delimitar o problema perguntando como os professores
poderiam solucionar problemas de indisciplina na educação infantil, por meio da construção
de limites bem claros. Abordaram-se as causas de comportamentos indisciplinados em sala de
aula, e considerou a formação da criança em seu contexto mais amplo, ou seja, o da sociedade
e, consequentemente, da família e da escola.
Delimitado o problema, buscaram-se para ele possíveis soluções mediante uma reflexão sobre
autoridade e autoritarismo, a construçãoda identidade da criança e os procedimentos que
seriam interessantes para que o professor lidasse com a questão da indisciplina em sala de
aula. Constatou-se a necessidade da re-elaboração de conteúdos e métodos pela escola e
pelos professores, da paixão do professor pelo que faz, da abertura de espaços para a
interação com os alunos, implicando em ações conjuntas de cunho democrático, pelas quais se
deixaria evidente a responsabilidade dos alunos para eles mesmos, ao lidar com situações de
disciplina e, principalmente, para cultivar o respeito uns com os outros
Não existem fórmulas mágicas para a resolução de problemas dessa ordem; mas, pode haver
força de vontade no potencial transformador do diálogo, da amizade e da responsabilidade. O
caminho não é curto e muito menos fácil, porém, faz parte de um processo de pequenos
passos, mas de passos concretos, decisivos, conscientes e crendo que a disciplina em sala de
aula, iniciando-se pela educação infantil, poderá deixar de ser uma utopia, transformando-se
em possibilidade.
Referências Bibliográficas
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ARAÚJO, Ulisses Ferreira de. Moralidade e indisciplina: uma leitura possível a partir do
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(Família, geração e cultura).
VASCONCELLOS, Celso dos S. Disciplina: construção da disciplina consciente e interativa em
sala de aula e na escola. São Paulo: Libertad – Cadernos pedagógicos da Libertad, 1998.
VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007
(Psicologia e pedagogia).
Dicionário
FERNANDES, Francisco. Dicionário brasileiro Globo. 30ª ed. São Paulo: Globo, 1993.
Documentos eletrônicos
GENTILE, Paola. A indisciplina como aliada. Revista Nova Escola, 2002. Disponível em:
. Acesso em: 06 mar. 2010.
VAZ, Solange. A criança problema e a normatização do cotidiano da educação infantil. Centro
de Estudos Sobre Intolerância - Maurício Tragtenberg, s/d. Disponível em: . Acesso em: 02 out.10.
INDISCIPLINA E LIMITES NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
São José dos Campos
Junho / 2012
Universidade Anhanguera – Uniderp
Centro de Educação a Distância
Heloisa Helena Pontes do Amaral – 2314341809 – SJC
Kleber Alexandre de Paula – 4336819542 – SJC
Márcio Francisco Martins – 3306507054 – SJC
Maria Cristina Ramos Marinho – 2307349443 – SJC
Thalita de Castro Braga Vilas Boas – 2320370304 – SJC
INDISCIPLINA E LIMITES NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
Trabalho de Projeto Multidisciplinar I apresentado à professora Maria Clotilde Bastos da
Faculdade Anhanguera – Uniderp, polo de São José dos Campos – SP para fins de avaliação
parcial nesta disciplina do curso de pedagogia.
São José dos Campos
Junho / 2012
APRESENTAÇÃO.
Este trabalho trata-se de um projeto para alunos da Educação Infantil sobre Indisciplina e
Limites, um contexto muito rico, porém pouco usado nos dias de hoje.INTRODUÇÃO.
Foi feita uma pesquisa à respeito de tema: “Indisciplina e Limites na educação Infantil. Tema
este muito comentado nas escolas, porém pouco praticado. Talvez por medo, falta de
informações concretas, insegurança por parte dos educadores.
Hoje é gritante a falta de disciplina das crianças na Educação Infantil, muitas vezes as
justificativas dadas são: hiperativismo, carência familiar, falta de convívio social, falta de status
entre outras mais.
Os professores não conseguem impor regras em uma sala de aula, sentem muitas dificuldades
quando se deparam com situações de agressividade, principalmente com crianças na faixa
etária entre 03 e 06 anos.
OBJETIVO.
Nosso objetivo é fazer com que o leitor tenha em mão métodos simples, mas eficaz para
aplicar no dia a dia em suas aulas.
JUSTIFICATIVA.
Atualmente nossas crianças encontram-se totalmente sem limites, nossos educadores
encontram-se encurralados diante de tantas “leis”, que muitas vezes não ajudam, somente
complicam. Vivemos numa sociedade que cada vez mais pede por ética. Mas como agirmos
diante de tais situações, onde a lei muitas vezes favorece o aluno, deixando o professor sem
ação?
Nossa proposta é convencer o professor que ele pode e develevar para sala de aula métodos
que o auxiliará em suas dúvidas, e também conscientizar a família sobre a importância do
convívio escola-família.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.
O educador e psicólogo francês, Yves de La Taille tem várias matérias sobre o assunto, entre
elas:
Labirintos da Moral, Mario Sérgio Cortella e Yves de La Taille, 112 págs., Ed. Papirus.
Limites: Três Dimensões Educacionais, Yves de La Taille, 152 págs., Ed. Ática, tel. 0800-115-
152, Moral e Ética - Dimensões Intelectuais e Afetivas, Yves de La Taille, 192 págs., Ed. Artmed.
Vergonha, a Ferida Moral, Yves de La Taille, 288 págs., Ed. Vozes,
METODOLOGIA.
Foi usado como base de estudo para nosso projeto a experiência do educador e psicólogo
francês, Yves de La Taille. Várias entrevistas dada por ele sobre o contexto.
Yves é especialista em moral, e em uma de suas palestras fala sobre exemplos de pais e falhas
das escolas no ensino de ética. Ele afirma que as crianças são observadoras, e mesmo não
sendo capazes de raciocinar ou fazer deduções com aquilo que estão vendo elas percebem as
contradições entre o discurso dos pais e sua prática. A criança guarda tudo, e com o tempo
constrói seus próprios costumes.
As escolas de hoje não conseguem aplicar a ética para seus alunos, o que se tem são regras
emexcesso. Se por acaso acontecer uma situação fora do que se tem previsto na escola, todos
se perdem, não sabem como agir.
A indisciplina existe quando a postura do aluno é gerada e alimentada no interior da escola.
Precisamos construir um ambiente cooperativo e respeitoso entre professor e aluno e unir
escola e família, pois assim poderá atingir passos importantes para se vencer a indisciplina.
A personalidade da criança é formada por características hereditárias juntamente com o
ambiente familiar.
A agressividade da criança muitas vezes é associada pela: falta de carinho no âmbito familiar,
ou até mesmo quando a família é desestruturada emocionalmente acaba refletindo no
desenvolvimento emocional da criança. Se a criança receber agressão seu comportamento
com os colegas será também de agressividade.
Hoje o que se percebe é que os adultos estão preocupados somente com questões individuais,
ou seja, passam grande parte do tempo fora de casa tentando realizar seus desejos, (às vezes
por necessidade, precisam trabalhar) e acabam inconscientemente, abandonando seus f ilhos,
deixando que outras pessoas façam o papel de “família”.
Na Educação Infantil a palavra LIMITE tem vários significados. Começa no potencial de cada
criança com o grupo e vai até sua tolerância e aceitação com as regras impostas.
Na criança o limite só é alcançado quando se tem um autoconhecimento. O pedagogotem o
papel de dar condições para que a criança adote uma disciplina própria.
A criança traz para sala de aula tudo o que sente tudo o que vivencia em família.
Na sala de aula, em todo momento é cobrado a disciplina e também em qualquer situação
lúdica, pode ser trabalhado o conceito limite, portanto cabe ao professor mediar as relações e
as atitudes das crianças durante as brincadeiras.
A criança quando é indisciplinada não aceita os limites, não cumpre as regras, e por muitas
vezes é agressiva com os colegas.
Para se tentar amenizar a situação devemos como pedagogos, nos unirmos e tentarmos um
trabalho conjunto juntamente com os pais, afinal tudo é iniciado em “casa”, e nós não temos
autoridade diante dos alunos.
Segundo Vasconcellos:
[...] o professor com autoridade é também aquele que deixa transparecer as razões pelas quais
a exerce: não por prazer, não por capricho, nem mesmo por interesses pessoais, mas por um
compromisso genuíno com o processo pedagógico, ou seja, com a construção de sujeitos que,
conhecendo a realidade, disponha-se a modificá-la em consonância com um projeto comum
(1995, p. 44).
Devemos trazer os pais para participar mais ativamente com seu filho, na vida escolar. Fazê -los
entender a importância da presença familiar para a criança. Conscientizá-los que a disciplina é
indispensável para o desenvolvimento da criança, é extremamente importantepara seu
crescimento e seu desenvolvimento social, e que ensinar a criança a seguir regulamentos e
regras ajuda a adaptar-se ao mundo e a ter um comportamento aceitável. Sendo assim a
criança terá noção dos direitos dos outros e passará a respeitá-los.
Fazê-los entender que a disciplina se constrói pela interação do sujeito com outros e com a
realidade, até chegar ao autodomínio e que é muito importante a maneira como a família
valoriza a educação.
Para Vasconcellos:
A construção do relacionamento humano é fundamental para o processo educativo. Os
próprios alunos percebem que uma classe unida, onde há calor humano, respeito, aceitação, é
motivo de “dar gosto vir para a escola”, ajudando, inclusive, cada um a lidar com seus defeitos,
com seus limites. Não podemos perder de vista que a construção do conhecimento em sala de
aula necessita da construção da pessoa e esta depende da construção do coletivo, base de
toda construção (1995, p. 81).
Professores, pais e alunos devem refletir sobre a indisciplina e apresentar pontos diferentes à
ser trabalhados de maneira conjunta na luta pela qualidade educativa e pela criação de um
ambiente adequado ao processo de ensino e aprendizagem.
Segundo Freire:
“Ninguém disciplina ninguém. Ninguém se disciplina sozinho. Os homens se disciplinam em
comunhão, mediados pela realidade” (1981, p.79).
Para que possamos realizar nossoprojeto seguiremos as seguintes etapas:
1ª Etapa: Trazer para escola os pais juntamente com seus filhos, realizando palestras sobre
falta de disciplina de uma forma dinâmica onde haja interação entre todos.
2ª Etapa: Trabalhar com as crianças por meio de jogos educativos, sempre trabalhando a
disciplina para que percebam a importância da mesma.
3ª Etapa: Fazer peças de teatro envolvendo as crianças para que elas percebam na prática
como deve ser uma criança disciplinada.
4ª Etapa: Elaborar cartazes com imagens das crianças que se destacarem disciplinadamente
durante o mês em cada sala, e incentivar os outros para que eles também possam estar nos
cartazes.
CRONOGRAMA.
MÊS / ETAPAS
1º mês
2º mês
3º mês
4º mês
1ª Etapa: Interação: pais – filhos – escola.
Uma vez a cada 15 dias, durante o 1º mês.
2ª Etapa:
Jogos educativos.
Uma vez por semana, durante o 2º mês.
3ª Etapa:
Teatro na escola.
Uma vez a cada 15 dias, durante o 3º mês.
4ª Etapa:
Mural com cartazes.
Uma vez no mês, durante os quatros meses.
Trazer para escola os pais juntamente com seus filhos, realizando palestras sobre falta de
disciplina de uma forma dinâmica onde haja interação entre todos.
Trabalhar com as crianças por meio de jogos educativos, sempre trabalhando a disciplina para
que percebam aimportância da mesma.
Fazer peças de teatro envolvendo as crianças para que elas percebam na prática como deve
ser uma criança disciplinada.
Elaborar cartazes com imagens das crianças que se destacarem disciplinadamente durante o
mês em cada sala, e incentivar os outros para que eles também possam estar nos cartazes.
ORÇAMENTO.
Para realização das etapas será preciso:
Cartazes
Fotos dos alunos.
Vídeos educativos
Palestrantes.
Grupos de teatros.
BIBLIOGRAFIA.
TAILE, Yves de La. As Crianças notam contradições éticas. Disponível em: , Acesso em 30 mai.
2012.
TAILE, Yves de La. Nossos alunos precisam de princípios, e não só de regras. Disponível em: <
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TAILE, Yves de La. Disponível em: < http://2.forumcec.org.br/convidado/yves-de-la-taille/>,
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TODERO, Francieli, Disponível em: , Acesso em 01 jun. 2012.
Revista do Educador, ano4 - nº42 julho 2006. Editora Lua
Revista do Educador, ano5 - nº59 dezembro 2007. Editora Lua.
Projetos Escolares Educação Fundamental, ano3 - nº27. Editora On line.
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Revista Nova Escola, Educação Infantil, edição especial nº9, editora Abril 2006. CHALITA, Gabriel, Educação: A solução está no afeto. 6. Ed. São Paulo: Gente, 2002.