15
Os novos pastores Com menos ênfase no sobrenatural e mais investimento em técnicas de auto-ajuda, a nova geração de pregadores evangélicos multiplica o rebanho protestante e aumenta a sua penetração na classe média Camila Pereira e Juliana Linhares Valéria Gonçalves/AE REBANHO QUE CRESCE Evangélicos na Marcha para Jesus, evento que reuniu 3 milhões de pessoas em São Paulo em junho A informação foi divulgada pela primeira vez no último mês de maio, para perplexidade dos 320 bispos católicos reunidos na 44ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Indaiatuba, no interior de São Paulo: nas últimas décadas, a Igreja Católica brasileira perdeu nada menos do que 15 milhões de almas, segundo pesquisa de mobilidade religiosa feita pelo Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris). O trabalho, coordenado pela socióloga Sílvia Regina Fernandes, abrangeu cinqüenta municípios brasileiros, sendo 23 capitais, e foi realizado entre agosto e novembro de 2004. De acordo com o estudo, o primeiro motivo pelo qual o católico vem abandonando a doutrina é a discordância em relação aos seus princípios. O segundo é a sensação de não ser acolhido pela igreja e o terceiro é o fato de não ter encontrado nela apoio para os momentos difíceis. Os resultados da pesquisa do Ceris embutiam um desconcertante corolário: de que, de cada dez ex-católicos, sete se tornaram evangélicos. De 2000, ano do último censo, a 2003, o número de evangélicos brasileiros passou de 15% para quase 18% da população, conforme estudo inédito feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e coordenado pelo economista Marcelo Neri. Em valores absolutos, isso significa dizer que, em três anos, quase 6 milhões de brasileiros aderiram ao protestantismo, que continua crescendo com fôlego renovado graças ao trabalho de uma nova geração de pastores. NESTA EDIÇÃO Como se forma um pregador

Rprtgns rlg

  • Upload
    cdbbb

  • View
    79

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Rprtgns rlg

Os novos pastores

Com menos ênfase no sobrenatural e mais investimento em técnicas de auto-ajuda, a nova geração de pregadores evangélicos multiplica o rebanho protestante e aumenta a sua penetração na classe média

Camila Pereira e Juliana Linhares

Valéria Gonçalves/AE

REBANHO QUE CRESCE

Evangélicos na Marcha para Jesus, evento que reuniu 3 milhões de pessoas em São Paulo em junho

A informação foi divulgada pela primeira vez no

último mês de maio, para perplexidade dos 320

bispos católicos reunidos na 44ª Assembléia Geral da

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),

em Indaiatuba, no interior de São Paulo: nas últimas

décadas, a Igreja Católica brasileira perdeu nada

menos do que 15 milhões de almas, segundo pesquisa de mobilidade religiosa feita

pelo Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris). O trabalho,

coordenado pela socióloga Sílvia Regina Fernandes, abrangeu cinqüenta municípios

brasileiros, sendo 23 capitais, e foi realizado entre agosto e novembro de 2004. De

acordo com o estudo, o primeiro motivo pelo qual o católico vem abandonando a

doutrina é a discordância em relação aos seus princípios. O segundo é a sensação

de não ser acolhido pela igreja e o terceiro é o fato de não ter encontrado nela

apoio para os momentos difíceis. Os resultados da pesquisa do Ceris embutiam um

desconcertante corolário: de que, de cada dez ex-católicos, sete se tornaram

evangélicos. De 2000, ano do último censo, a 2003, o número de evangélicos

brasileiros passou de 15% para quase 18% da população, conforme estudo inédito

feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e coordenado pelo economista Marcelo

Neri. Em valores absolutos, isso significa dizer que, em três anos, quase 6 milhões

de brasileiros aderiram ao protestantismo, que continua crescendo com fôlego renovado graças ao trabalho de uma nova geração de pastores.

NESTA EDIÇÃO

Como se forma um pregador

Page 2: Rprtgns rlg

Das três grandes correntes evangélicas presentes hoje no Brasil(veja quadro), a

neopentecostal é a que mais cresce. Surgida na década de 70, ela teve como

principais expoentes pregadores como o pastor Romildo Ribeiro Soares, conhecido

como R.R. Soares, e o bispo Edir Macedo. Juntos, eles fundaram a Universal do

Reino de Deus e lotaram estádios com seus brados de cura e suas performances

exorcistas. Eram tempos muito diferentes para os evangélicos: no início dos anos

90, eles não passavam de 9% da população brasileira. Na tentativa, então, de abrir

portas para o neopentecostalismo nascente, alguns pastores acabaram por

arrombá-las. Um dos episódios mais famosos ocorreu em 1995, durante a

transmissão do programa Despertar da Fé, na TV Record. Para salientar a diferença

entre os evangélicos e os "adoradores de imagem" católicos, o pastor Sergio

vonHelde, da Universal do Reino de Deus, desferiu socos e pontapés em uma

estátua de Nossa Senhora Aparecida. A cena foi ao ar no dia 12 de outubro, data

que os católicos devotam à santa, e ganhou tamanha repercussão que, quatro dias

depois, o bispo Edir Macedo foi obrigado a ir à TV pedir desculpas públicas aos

católicos. Embora Macedo continue a ocupar o posto de líder máximo da Universal e

R.R. Soares, hoje líder de uma igreja dissidente, mantenha no ar seu programa

religioso há mais de 25 anos, ambos os religiosos pertencem a uma geração

passada. Na pregação das novas estrelas evangélicas não há espaço para

destruição de santos ou descrições sobre o apocalipse e o demônio. O Deus que

pregam os telepastores da segunda geração não tem na ira sua característica

principal. Tampouco cultiva o hábito de espreitar as carteiras de fiéis à procura de

tostões secretamente sonegados, como sugeriam, ameaçadores, muitos dos

pastores antigos, defensores da tese de que uma boa graça tem seu preço.

Claudio Rossi

VELHA-GUARDA

Decano dos televangelistas brasileiros, o pastor R.R.

Soares está há mais de 25 anos no ar

A nova geração de líderes evangélicos achou um caminho muito mais certeiro e útil

de chegar ao coração dos fiéis: o da auto-ajuda. A promessa é a mesma que

ofereciam pentecostais e neopentecostais da geração passada: o da felicidade e

prosperidade aqui e agora. Só que, para alcançá-las, os novos pastores sugerem

outras ferramentas: além da fé, o bom senso; somado à intervenção divina, o

esforço individual. "O discurso atual dá mais ênfase ao pragmatismo e à pró-

atividade do fiel do que ao sobrenatural", avalia o pesquisador da PUC-SP Adilson

José Francisco. "Em vez de pregar, como fazem algumas igrejas, a libertação de

todos os males por meio do exorcismo, por exemplo, esses pastores adotam alguns

conceitos da psicologia: para se livrar dos problemas, é preciso uma mudança de

Page 3: Rprtgns rlg

atitude, na maneira de ver o mundo", explica o antropólogo Flávio Conrado,

pesquisador do Instituto de Estudos da Religião. Um indicativo claro dessa

transformação está na comparação da produção literária dos velhos e dos novos

pastores. Títulos comoA Fé de Abraão ou Estudo do Apocalipse, assinados pelo

bispo Edir Macedo, abrem lugar nas prateleiras das livrarias evangélicas para obras

com títulos como Jamais Desista!, do pastor metodista Silmar Coelho, ou Vencendo

Obstáculos e Conquistando Vitórias, de autoria de Silas Malafaia. Um dos nomes

mais conhecidos da Assembléia de Deus, o pastor Malafaia chega a vender, por

ano, 1 milhão de DVDs e CDs de pregações de conteúdo motivacional. Em seus

discursos, as parábolas bíblicas dão lugar à objetividade de um Lair Ribeiro. Conflito

amoroso? "Vem cá, minha filha: o sujeito é bonitão e sarado, mas não trabalha

nem estuda? Então, fica com o magrinho narigudo que é melhor! Ele pode ser feio

mas é trabalhador", brada o pastor. Perda de emprego? "Meu amigo, você ganhava

700 reais e viu abrir uma porta de 300 reais? Mete a cara! Não fica dizendo que

Deus está olhando, que vai abrir uma porta melhor... Deus tá vendo o quê, rapaz?

Vai trabalhar!" "Os neopentecostais pregam o faça-você-mesmo", afirma o

historiador e especialista em religiões da Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Eduardo Bastos de Albuquerque. "E, muitas vezes, a técnica funciona. Ao deixar de

beber, fumar, brigar dentro de casa e ao passar a trabalhar, o fiel alcança, de fato,

uma melhoria de vida."

Para o sociólogo Ricardo Mariano, da PUC do Rio Grande do Sul, o sucesso do

discurso dos novos pastores está diretamente relacionado ao que ele chama de

"desencanto" dos fiéis em relação à idéia da "barganha" com Deus proposta pelos

antigos pregadores. "Há certa decepção com esse discurso fácil de que bastaria dar

o dízimo e orar que Deus deixaria todo mundo feliz, vitorioso e saudável", diz. O

sociólogo chama ainda atenção para o fato de que, ao enfatizarem a importância da

racionalidade em detrimento da magia, os novos pastores estão mirando um

segmento que, embora ainda incipiente, começa a crescer: o dos fiéis de classe

média. As últimas pesquisas indicam que a maior parte dos evangélicos ainda

pertence às classes econômicas mais pobres. O estudo "Retratos das religiões no

Brasil", divulgado no ano passado pela FGV, mostra que, enquanto o porcentual de

evangélicos em todo o país, em 2000, era de 15%, na periferia das regiões

metropolitanas ele chegava a 20%. Na comparação com fiéis de outras religiões, a

situação socioeconômica dos evangélicos também é desfavorável. Em média, eles

ganham 7% a menos do que os trabalhadores católicos, diz a pesquisa. Alguns

indícios, no entanto, sugerem que as igrejas evangélicas começam a penetrar de

forma mais intensa nas classes econômicas mais altas. A formação dos próprios

pregadores é um desses indicativos. O decano R.R. Soares, por exemplo, é filho de

pedreiro, não tem curso superior e, antes de ingressar na carreira religiosa, era

comerciante, assim como Edir Macedo. Dos cinco pastores da nova geração ouvidos

por VEJA, quatro têm curso superior e dois deles possuem pós-graduação: Malafaia,

da Assembléia de Deus, é teólogo e psicólogo; Rinaldo de Seixas Pereira, da Bola

de Neve Church, é formado em propaganda e marketing, com pós-graduação em

marketing; Silmar Coelho, da Igreja Metodista Wesleyana, é teólogo, com

doutorado em teologia e liderança; e Robson Rodovalho, da Sara Nossa Terra, é

físico, com especialização em ressonância magnética nuclear.

A qualificação desses novos pregadores não contribuiu apenas para que eles

modernizassem seus discursos, mas, em alguns casos, para que aprimorassem

técnicas de gerenciamento de suas igrejas também. O conceito de segmentação

está presente nos espaços e eventos dedicados ao público jovem da igreja Sara

Nossa Terra. "Dar um tratamento diferenciado a jovens ou idosos é uma

preocupação que não existe nas igrejas evangélicas mais antigas", diz o professor e

pesquisador da Universidade de Brasília Rogério Rodrigues da Silva. Os evangélicos

são hoje o grupo religioso que mais cresce no Brasil – e nada indica que isso vá

mudar. Basta ver a rapidez com que a igreja cria novas lideranças. Atualmente, o

Page 4: Rprtgns rlg

número de pastores evangélicos por fiel é dezoito vezes maior que a proporção de

padres por católico. Enquanto a Igreja Católica não consegue ordenar mais do que

900 padres por ano, só um único instituto evangélico de São Paulo forma, no

mesmo período, 200 pastores(veja reportagem). O sucesso da doutrina, a

facilidade de comunicação com os fiéis e a eficiência na gestão das igrejas

permitem vislumbrar templos evangélicos cada vez mais cheios. Projeção feita pelo

economista Marcelo Neri indica que em 2015 mais de 20% da população brasileira

será evangélica. É o rebanho cada vez mais satisfeito com o que lhe proporciona

sua fé.

Lailson Santos

SANDY DOS EVANGÉLICOS

A pastora e cantora batista Ana Paula Valadão, entre o

pai, Márcio (à esq.), e o irmão André: show para um 1 milhão de fiéis

Nélio Rodrigues/1º Plano

Nome: Ana Paula Valadão

Idade: 30 anos

Formação: superior incompleto

Igreja: Igreja Batista (Convenção Batista Nacional)

Sede: Brasília (DF)

Número de templos: 2 200

Com seu rosto bonito, voz afinada, ar de moça comportada

e sorriso eternamente pregado no rosto, Ana Paula Valadão

mais parece uma estrela pop de público adolescente do que

pastora da Igreja Batista da Lagoinha, de Belo Horizonte –

função que exerce há seis anos. Na verdade, ela é as duas

coisas. À frente da banda Diante do Trono, essa mineira de

30 anos se tornou uma das maiores estrelas brasileiras da

Page 5: Rprtgns rlg

música gospel. Dos oito CDs lançados por seu grupo, sete já

ultrapassaram a marca de 400 000 cópias vendidas. Em

2004, em uma apresentação em Salvador, a banda reuniu 1

milhão de pessoas. Nos shows, as músicas (quase todas

compostas por ela) são acompanhadas em uníssono pelo

público. Em ritmos que vão de baladas românticas a

animadas canções pop, as letras falam de um Deus bom,

que ama a todos e oferece proteção. Nenhuma referência

ao demônio ou ao mau-olhado, comuns no receituário dos

primeiros superpregadores. Filha do pastor Márcio Valadão,

que preside a Igreja da Lagoinha há 35 anos, Ana Paula

começou a cantar em hospitais, festas familiares e no coral

da igreja. Hoje, também faz sucesso na TV. Seu programa,

que tem o mesmo nome da banda, é um dos mais vistos da

Rede Super, canal de sua igreja. O irmão e o marido – a

família é formada por quatro gerações de evangélicos –

também são pastores e têm seus próprios programas. Ana

Paula, no entanto, faz questão de ressaltar que o sucesso

não passa de uma conseqüência menor de sua missão.

Como diz, docemente, a pastora: "Nós não fazemos

entretenimento. Queremos que as pessoas se divirtam, mas

louvando ao Senhor, e não a nós".

Fotos Lailson Santos

FÉ SOBRE AS ONDAS Rinaldo Pereira, fundador da Church Bola de Neve: entre

pranchas de surfe (acima) e pregando para a "galera"

Page 6: Rprtgns rlg

Nome: Rinaldo de Seixas Pereira

Idade: 34 anos

Formação: publicitário Igreja: Bola de Neve Church

Sede: São Paulo (SP)

Número de templos: 26

Rinaldo Luiz de Seixas Pereira, o pastor Rina, gosta de dizer

que a coisa que mais gosta de fazer na vida é orar – e, em

segundo lugar, surfar. Aos 34 anos, cabelo espetado,

figurino surfwear, ele é o fundador da igreja neopentecostal

Bola de Neve Church. Com seis anos de existência, ela tem

um público formado essencialmente por jovens, em sua

maioria surfistas e skatistas – e vem daí o seu nome,

explica Rina. "Bola de Neve é porque eu sabia que seria

uma coisa que cresceria. Church porque era como os

primeiros freqüentadores, esportistas que costumam usar

muitas palavras em inglês, chamavam carinhosamente o

templo. Acabei incorporando", conta o pastor. Pouca coisa

na Bola de Neve lembra uma igreja evangélica tradicional.

No púlpito, uma prancha de surfe faz as vezes de altar. Na

platéia, o que se vê são jovens de boné, tatuagem e

piercing. Imagens de paisagens e animais são projetadas

nas paredes do templo enquanto Rina fala. "Está

estressado? Anda tomando Yakult com o chinelo na mão

para matar os lactobacilos vivos? Pensa, 'cabeção'! Em vez

de estourar uma 'bucha' (fumar um cigarro grande de

maconha, na gíria do surfe) e ficar 'doidão' por aí, ora para

Deus." Se, na forma, a pregação de Rina soa moderna, no

conteúdo é mais tradicional. O pastor defende a

manutenção da virgindade até o casamento, é favorável ao

aborto apenas em casos de estupro e só aceita no templo

gays dispostos a "converter-se" ao heterossexualismo.

Fotos Anderson Schneider

PREGAÇÃO DE RESULTADOS

Robson Rodovalho: rombo no cartão de crédito se

resolve com economia, e não com oração

Page 7: Rprtgns rlg

Nome: Robson Rodovalho

Idade: 50 anos

Formação: físico

Igreja: Sara Nossa Terra

Sede: Brasília (DF)

Número de templos: 650

"Quem aqui está com o cartão de crédito estourado que

levante a mão", pede o bispo Robson Rodovalho, fundador

da igreja Sara Nossa Terra. Depois de observar as dezenas

de braços erguidos na platéia, ele diz: "Então, hoje nós

vamos fazer uma lista dos gastos que podemos cortar e

planejar nossas contas para os próximos três meses". Na

igreja do bispo Rodovalho – dono da Rádio Sara Brasil FM e

da Rede Gênesis, canal de programação gospel em que ele

é a principal estrela –, cartão de crédito no vermelho se

resolve com aperto de cinto, e não com oração. Judoca,

praticante de corrida e musculação, o bispo conta com a

ajuda da mulher, Maria Lúcia, para administrar os negócios

e a igreja que fundou em 1992 – e que, por causa de

incursões ocasionais de atrizes como Deborah Secco e de

cantores como Rodolfo (ex-integrante da banda de rock

Raimundos), ficou conhecida como "a igreja dos famosos".

A também bispa Maria Lúcia é a encarregada do segmento

jovem da Sara Nossa Terra. Além de introduzir nos templos

aulas de hip hop, capoeira e funk – tudo embalado ao som

de música gospel –, a bispa criou o que batizou de "point",

um encontro dominical de jovens. "Lá, eles podem cantar,

dançar e até beijar na boca", explica.

Page 8: Rprtgns rlg

"CASAMENTO É COMO CONTA BANCÁRIA" "Só saca quem deposita", diz o pastor Silmar

Coelho(acima, na academia de seu prédio)

Nome: Silmar Coelho

Idade: 55 anos

Formação: teólogo

Igreja: Igreja Metodista Wesleyana

Sede: Petrópolis (RJ)

Número de templos: 500

Em arrastado sotaque carioca, o pastor Silmar Coelho

provoca os fiéis do sexo masculino: "Meu irrrrmão,

casamento é que nem conta bancária. Só saca quem

deposita. Tem de dar flores, elogiar todo dia. Depois, não

adianta reclamar que o saldo tá zerado". Foi assim,

recorrendo mais a conselhos práticos do que a citações

bíblicas, que esse pastor metodista se tornou uma

celebridade do mundo evangélico. Seu sucesso é tão grande

que ele hoje é convidado a dar palestras para as mais

diferentes correntes evangélicas do país: virou uma espécie

de consultor para pastores com dificuldades de ibope. O

segredo de Silmar está na capacidade de usar piadas, cenas

de cinema e metáforas futebolísticas para ilustrar os

preceitos da doutrina evangélica e dar suas receitas de

felicidade conjugal, resumidas em livros como Manual de

Namoro e Sexo e Quanto Vale Quem Você Ama, dois dos

dezoito títulos que ele publicou nos últimos anos.

Page 9: Rprtgns rlg

Fotos Roberto Setton

CAMPEÃO DE VENDAS Silas Malafaia, que vende 1 milhão de CDs e DVDs de

pregação: "Naquilo que o homem pode resolver, Deus

não move uma palha"

Nome: Silas Malafaia

Idade: 48 anos

Formação: psicólogo

Igreja: Assembléia de Deus

Sede: Rio de Janeiro (RJ)

Número de templos: 180 000

Há 24 anos no ar, o telepastor Silas Malafaia, da Assembléia

de Deus, tem idade e tempo de estrada suficientes para ser

considerado um pregador da antiga geração. Basta que

comece a falar, no entanto, para que se perceba que sua

oratória não poderia ser mais atual. Malafaia tornou-se o

campeão brasileiro de venda de DVDs e CDs de pregação (1

milhão de unidades comercializadas por ano) com o

discurso evangélico da moda: aquele que defende que, na

busca pela felicidade, recorrer ao bom senso e ao esforço

individual pode ser muito mais eficaz do que ficar

aguardando a providência divina. Seu grande ensinamento

é: "Deus move o céu inteiro naquilo que o ser humano é

incapaz de fazer. Mas não move uma palha naquilo que a

capacidade humana pode resolver".

http://veja.abril.com.br/120706/p_076.html

Edição 1964 . 12 de julho de 2006

Page 10: Rprtgns rlg

"É possível acreditar em Deus usando a razão", afirma William Lane Craig

O filósofo e teólogo defende o cristianismo, a ressurreição de Jesus e a veracidade da Bíblia a partir de construção lógica e racional, e se destaca em debates com pensadores ateus

Marco Túlio Pires, de Águas de Lindóia

William Lane Craig: "Sem Deus, não é possível explicar a existência de valores e deveres morais

objetivos" (Divulgação)

"Se você acha que a religião é um conto de fadas, não acredite. Mas se o cristianismo é a

verdade — como penso que é — temos que acreditar nele independente das

consequências. É o que as pessoas racionais fazem, elas acreditam na verdade. A via

contrária é o pragmatismo. 'Isso Funciona? Não importa se é verdade, quero saber se

funciona'"

William Lane Craig

Quando o escritor britânico Christopher Hitchens, um dos maiores defensores do ateísmo,

travou um longo debate nos Estados Unidos, em abril de 2009, com o filósofo e teólogo

William Lane Craig sobre a existência de Deus, seus colegas ateus ficaram tensos.

Momentos antes de subir ao palco, Hitchens — que morreu em dezembro de 2011. aos

62 anos — falou a jornalistas sobre a expectativa de enfrentar Craig.

"Posso dizer que meus colegas ateus o levam bem a sério", disse. "Ele é considerado um

adversário muito duro, rigoroso, culto e formidável", continuou. "Normalmente as pessoas

não me dizem 'boa sorte' ou 'não nos decepcione' antes de um debate — mas hoje, é o

tipo de coisa que estão me dizendo". Difícil saber se houve um vencedor do debate. O

certo é que Craig se destaca pela elegância com que apresenta seus argumentos, mesmo

quando submetido ao fogo cerrado.

Page 11: Rprtgns rlg

O teólogo evangélico é considerado um dos maiores defensores da doutrina cristã na

atualidade. Craig, que vive em Atlanta (EUA) com a esposa, sustenta que a existência de

Deus e a ressurreição de Jesus, por exemplo, não são apenas questões de fé, mas

passíveis de prova lógica e racional. Em seu currículo de debates estão o famoso químico

e autor britânico Peter Atkins e o neurocientista americano Sam Harris (veja lista com

vídeos legendados de Craig). Basta uma rápida procura no Youtube para encontrar uma

vastidão de debates travados entre Craig e diversos estudiosos. Richard Dawkins, um

dos maiores críticos do teísmo, ainda se recusa a discutir com Craig sobre a existência de

Deus.

Em artigo publicado no jornal inglês The Guardian, Dawkins afirma que Craig faz

apologia ao genocídio, por defender passagens da Bíblia que justificam a morte de

homens, mulheres e crianças por meio de ordens divinas. "Vocês apertariam a mão de um

homem que escreve esse tipo de coisa? Vocês compartilhariam o mesmo palco que ele?

Eu não, eu me recuso", escreveu. Na entrevista abaixo, Craig fala sobre o assunto.

Autor de diversos livros — entre eles Em Guarda – Defenda a fé cristã com razão e

precisão(Ed. Vida Nova), lançado no fim de 2011 no Brasil, — Craig é doutor em filosofia

pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra, e em teologia pela Universidade de

Munique, Alemanha. O filósofo esteve no Brasil para o 8º Congresso de Teologia da

Editora Vida Nova, em Águas de Lindóia, entre 13 e 16 de março. Durante o simpósio,

Craig deu palestras e dedicou a última apresentação a atacar, ponto a ponto, os

argumentos de Richard Dawkins sobre a inexistência de Deus.

Perfil

Nome: William Lane Craig

Profissão: Filósofo, teólogo e professor universitário na Universidade de Biola, Califórnia

Nascimento: 23 de agosto de 1949

Livros destacados: Apologética Contemporânea – A veracidade da Fé Cristã; Em Guarda, Defenda a fé

cristã com razão e precisão; ambos publicados no Brasil pela editora Vida Nova

Principal contribuição para a filosofia: Craig foi responsável por reformular o Argumento Cosmológico

Kalam (variação do argumento cosmológico que defende a existência de uma primeira causa para o

universo) nos seguintes termos: 1) Tudo que começa a existir tem uma causa de existência. 2) O universo

começou a existir. 3) Portanto, o universo tem uma causa para sua existência.

Informações pessoais: William Lane Craig é conhecido pelo trabalho na filosofia do tempo e na filosofia

da religião, especificamente sobre a existência de Deus e na defesa do teísmo cristão. Escreveu e editou

mais de 30 livros, é doutor em filosofia e teologia em universidades inglesa e alemã e desde 1996 é

pesquisador e professor de filosofia na Universidade de Biola, na Califórnia. Atualmente vive em Atlanta,

nos EUA, com a esposa. Craig pratica exercícios regularmente como forma de combater a APM (Atrofia

Peronial Muscular) uma doença degenerativa do sistema nervoso que lhe causou atrofiamento dos nervos

das mãos e pernas. Especialista em debates desde o ensino médio, o filósofo passa a maior parte do

tempo estudando.

Por que deveríamos acreditar em Deus?Porque os argumentos e evidências que

apontam para a Sua existência são mais plausíveis do que aqueles que apontam para a

negação. Vários argumentos dão força à ideia de que Deus existe. Ele é a melhor

explicação para a existência de tudo a partir de um momento no passado finito, e também

a para o ajuste preciso do universo, levando ao surgimento de vida inteligente. Deus

também é a melhor explicação para a existência de deveres e valores morais objetivos no

mundo. Com isso, quero dizer valores e deveres que existem independentemente da

opinião humana.

Page 12: Rprtgns rlg

Se Deus é bondade e justiça, por que ele não criou um universo perfeito onde todas

as pessoas vivem felizes? Acho que esse é o desejo de Deus. É o que a Bíblia ensina. O

fato de que o desejo de Deus não é realizado implica que os seres humanos possuem

livre-arbítrio. Não concordo com os teólogos que dizem que Deus determina quem é salvo

ou não. Parece-me que os próprios humanos determinam isso. A única razão pela qual

algumas pessoas não são salvas é porque elas próprias rejeitam livremente a vontade de

Deus de salvá-las.

Alguns cientistas argumentam que o livre-arbítrio não existe. Se esse for o caso, as

pessoas poderiam ser julgadas por Deus? Não, elas não poderiam. Acredito que esses

autores estão errados. É difícil entender como a concepção do determinismo pode ser

racional. Se acreditarmos que tudo é determinado, então até a crença no determinismo foi

determinada. Nesse contexto, não se chega a essa conclusão por reflexão racional. Ela

seria tão natural e inevitável como um dente que nasce ou uma árvore que dá galhos.

Penso que o determinismo, racionalmente, não passa de absurdo. Não é possível

acreditar racionalmente nele. Portanto, a atitude racional é negá-lo e acreditar que existe o

livre-arbítrio.

O senhor defende em seu site uma passagem do Velho Testamento em que Deus

ordena a destruição da cidade de Canaã, inclusive autorizando o genocídio,

argumentando que os inocentes mortos nesse massacre seriam salvos pela graça

divina. Esse não é um argumento perigosamente próximo daqueles usados por

terroristas motivados pela religião? A teoria ética desses terroristas não está errada.

Isso, contudo, não quer dizer que eles estão certos. O problema é a crença deles no deus

errado. O verdadeiro Deus não ordena atos terroristas e, portanto, eles estariam

cometendo uma atrocidade moral. Quero dizer que se Deus decide tirar a vida de uma

pessoa inocente, especialmente uma criança, a Sua graça se estende a ela.

Se o terrorista é cristão o ato terrorista motivado pela religião é justificável, por ele

acreditar no Deus ‘certo’? Não é suficiente acreditar no deus certo. É preciso garantir

que os comandos divinos estão sendo corretamente interpretados. Não acho que Deus dê

esse tipo de comando hoje em dia. Os casos do Velho Testamento, como a conquista de

Canaã, não representam a vontade normal de Deus.

O sr. está querendo dizer que Deus também está sujeito a variações de humor? Não

é plausível esperar que pelo menos Ele seja consistente? Penso que Deus pode fazer

exceções aos comandos morais que dá. O principal exemplo no Velho Testamento é a

ordem que ele dá a Abraão para sacrificar seu filho Isaque. Se Abraão tivesse feito isso

por iniciativa própria, isso seria uma abominação. O deus do Velho Testamento condena o

sacrifício infantil. Essa foi uma das razões que o levou a ordenar a destruição das nações

pagãs ao redor de Israel. Elas estavam sacrificando crianças aos seus deuses. E, no

entanto, Deus dá essa ordem extraordinária a Abraão: sacrificar o próprio filho Isaque. Isso

serviu para verificar a obediência e fé dele. Mas isso é a exceção que prova a regra. Não é

a forma normal com que Deus conduz os assuntos humanos. Mas porque Deus é Deus,

Ele tem a possibilidade de abrir exceções em alguns casos extremos, como esse.

O sr. disse que não é suficiente ter o deus certo, é preciso fazer a interpretação

correta dos comandos divinos. Como garantir que a sua interpretação é

objetivamente correta? As coisas que digo são baseadas no que Deus nos deu a

conhecer sobre si mesmo e em preceitos registrados na Bíblia, que é a palavra d‟Ele.

Refiro-me a determinações sobre a vida humana, como “não matarás”. Deus condena o

Page 13: Rprtgns rlg

sacrifício de crianças, Seu desejo é que amemos uns ao outros. Essa é a Sua moral geral.

Seria apenas em casos excepcionalmente extremos, como o de Abraão e Isaque, que

Deus mudaria isso. Se eu achar que Deus me comandou a fazer algo que é contra o Seu

desejo moral geral, revelado na escritura, o mais provável é que eu tenha entendido

errado. Temos a revelação do desejo moral de Deus e é assim que devemos nos

comportar.

O sr. deposita grande parte da sua argumentação no conteúdo da Bíblia. Contudo,

ela foi escrita por homens em um período restrito, em uma área restrita do mundo,

em uma língua restrita, para um grupo específico de pessoas. Que evidência se tem

de que a Bíblia é a palavra de um ser sobrenatural? A razão pela qual acreditamos na

Bíblia e sua validade é porque acreditamos em Cristo. Ele considerava as escrituras

hebraicas como a palavra de Deus. Seus ensinamentos são extensões do que é ensinado

no Velho Testamento. Os ensinamentos de Jesus são direcionados à era da Igreja, que o

sucederia. A questão, então, se torna a seguinte: temos boas razões para acreditar em

Jesus? Ele é quem ele diz ser, a revelação de Deus? Acredito que sim. A ressurreição dos

mortos, por exemplo, mostra que ele era quem afirmava.

Existem provas que confirmem a ressurreição de Jesus? Temos boas bases

históricas. A palavra „prova‟ pode ser enganosa porque muitos a associam com

matemática. Certamente, não temos prova matemática de qualquer coisa que tenha

acontecido na história do homem. Não temos provas, nesse sentido, de que Júlio César foi

assassinado no senado romano, por exemplo, mas temos boas bases históricas para isso.

Meu argumento é que se você considera os documentos do Novo Testamento como fontes

da história antiga, — como os historiadores gregos Tácito, Heródoto ou Tucídides — o

evangelho aparece como uma fonte histórica muito confiável para a vida de Jesus de

Nazaré. A maioria dos historiadores do Novo Testamento concorda com os fatos

fundamentais que balizam a inferência sobre a ressurreição de Cristo. Coisas como a sua

execução sob autoridade romana, a descoberta das tumbas vazias por um grupo de

mulheres no domingo depois da crucificação e o relato de vários indivíduos e grupos sobre

os aparecimentos de Jesus vivo após sua execução. Com isso, nos resta a seguinte

pergunta: qual é a melhor explicação para essa sequência de acontecimentos? Penso que

a melhor explicação é aquela que os discípulos originais deram — Deus fez Jesus

renascer dos mortos. Não podemos falar de uma prova, mas podemos levantar boas

bases históricas para dizer que a ressurreição é a melhor explicação para os fatos. E como

temos boas razões para acreditar que Cristo era quem dizia ser, portanto temos boas

razões para acreditar que seus ensinamentos eram verdade. Sendo assim, podemos ver

que a Bíblia não foi criação contingente de um tempo, de um lugar e de certas pessoas,

mas é a palavra de Deus para a humanidade.

O textos da Bíblia passaram por diversas revisões ao longo do tempo. Como

podemos ter certeza de que as informações às quais temos acesso hoje são as

mesmas escritas há 2.000 anos? Além disso, como lidar com o fato de que

informações podem ser perdidas durante a tradução? Você tem razão quanto a

variedade de revisões e traduções. Por isso, é imperativo voltar às línguas originais nas

quais esses textos foram escritos. Hoje, os críticos textuais comparam diferentes

manuscritos antigos de modo a reconstruir o que os originais diziam. O Novo Testamento

é o livro mais atestado da história antiga, seja em termos de manuscritos encontrados ou

em termos de quão próximos eles estão da data original de escrita. Os textos já foram

reconstruídos com 99% de precisão em relação aos originais. As incertezas que restam

são trivialidades. Por exemplo, na Primeira Epístola de João, ele diz: “Estas coisas vos

Page 14: Rprtgns rlg

escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra”. Mas alguns manuscritos dizem: “Estas

coisas vos escrevemos, para que o nosso gozo se cumpra”. Não temos certeza se o texto

original diz „vosso‟ ou „nosso‟. Isso ilustra como esse 1% de incerteza é trivial. Alguém que

realmente queira entender os textos deverá aprender grego, a língua original em que o

Novo Testamento foi escrito. Contudo, as pessoas também podem comprar diferentes

traduções e compará-las para perceber como o texto se comporta em diferentes versões.

É possível explicar a existência de Deus apenas com a razão? Qual o papel da

ciência na explicação das causas do universo? A razão é muito mais ampla do que a

ciência. A ciência é uma exploração do mundo físico e natural. A razão, por outro lado,

inclui elementos como a lógica, a matemática, a metafísica, a ética, a psicologia e assim

por diante. Parte da cegueira de cientistas naturalistas, como Richard Dawkins, é que eles

são culpados de algo chamado „cientismo‟. Como se a ciência fosse a única fonte da

verdade. Não acho que podemos explicar Deus em sua plenitude, mas a razão é suficiente

para justificar a conclusão de que um criador transcendente do universo existe e é a fonte

absoluta de bondade moral.

Por que o cristianismo deveria ser mais importante do que outras religiões que

ensinam as mesmas questões fundamentais, como o amor e a caridade? As pessoas

não entendem o que é o cristianismo. É por isso que alguns ficam tão ofendidos quando se

prega que Jesus é a única forma de salvação. Elas pensam que ser cristão é seguir os

ensinamentos éticos de Jesus, como amar ao próximo como a si mesmo. É claro que não

é preciso acreditar em Jesus para se fazer isso. Isso não é o cristianismo. O evangelho diz

que somos moralmente culpados perante Deus. Espiritualmente, somos separados d‟Ele.

É por isso que precisamos experimentar Seu perdão e graça. Para isso, é preciso ter um

substituto que pague a pena dos nossos pecados. Jesus ofereceu a própria vida como

sacrifício por nós. Ao aceitar o que ele fez em nosso nome, podemos ter o perdão de Deus

e a limpeza moral. A partir disso, nossa relação com Deus pode ser restaurada. Isso

evidencia por que acreditar em Cristo é tão importante. Repudiá-lo é rejeitar a graça de

Deus e permanecer espiritualmente separado d‟Ele. Se você morre nessa condição você

ficará eternamente separado de Deus. Outras religiões não ensinam a mesma coisa.

A crença em Deus é necessária para trazer qualidade de vida e felicidade? Penso que

a crença em Deus ajuda, mas não é necessária. Ela pode lhe dar uma fundação para

valores morais, propósito de vida e esperança para o futuro. Contudo, se você quiser viver

inconsistentemente, é possível ser um ateu feliz, contanto que não se pense nas

implicações do ateísmo. Em última análise, o ateísmo prega que não existem valores

morais objetivos, que tudo é uma ilusão, que não há propósito e significado para a vida e

que somos um subproduto do acaso.

Por que importa se acreditamos no deus do cristianismo ou na ‘mãe natureza’ se na

prática as pessoas podem seguir, fundamentalmente, os mesmos

ensinamentos?Deveríamos acreditar em uma mentira se isso for bom para a sociedade?

As pessoas devem acreditar em uma falsa teoria, só por causa dos benefícios sociais? Eu

acho que não. Isso seria uma alucinação. Algumas pessoas passam a acreditar na religião

por esse motivo. Já que a religião traz benefícios para a sociedade, mesmo que o

indivíduo pense que ela não passa de um „conto de fadas‟, ele passa a acreditar. Digo que

não. Se você acha que a religião é um conto de fadas, não acredite. Mas se o cristianismo

é a verdade — como penso que é — temos que acreditar nele independente das

consequências. É o que as pessoas racionais fazem, elas acreditam na verdade. A via

contrária é o pragmatismo. “Isso Funciona?", perguntam elas. "Não importa se é verdade,

Page 15: Rprtgns rlg

quero saber se funciona”. Não estou preocupado se na Suécia alguns são felizes sem

acreditar em Deus ou se há alguma vantagem em acreditar n‟Ele. Como filósofo, estou

interessado no que é verdade e me parece que a existência desse ser transcendente que

criou e projetou o universo, fonte dos valores morais, é a verdade.

http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/e-possivel-acreditar-em-deus-usando-a-razao-afirma-

william-lane-craig