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Mestrado em Ensino de Matemática no 3º Ciclo e no Secundário Raquel Cristina Sousa Camacho Síntese Crítica ao livro de Seymour Papert “A Máquina das Crianças Repensando a escola na era da informáticaFunchal 2010

Síntese Crítica ao livro de Seymour Papert "A Máquina das Crianças: Repensando a escola na era da informártica"

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Mestrado em Ensino de Matemática no 3º Ciclo e no Secundário

Raquel Cristina Sousa Camacho

Síntese Crítica ao livro de 

Seymour Papert 

“A Máquina das Crianças 

Repensando a escola na era da informática” 

Funchal

2010

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Raquel Cristina Sousa Camacho

Síntese Crítica ao livro de 

Seymour Papert 

“A Máquina das Crianças 

Repensando a escola na era da informática” 

Trabalho académico apresentado

na disciplina de Ciências da

Educação IV da Universidade da

Madeira.

Orientador: Professor Carlos Fino

Funchal

2010

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Sumário

1. Resumo 4

2. Síntese Crítica 5

3. Reflexão Pessoal 13

4. Referências Bibliográficas 14

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Resumo

O presente trabalho é uma síntese crítica ao livro do pedagogo Seymour Papert,

a “Máquina das Crianças – repensando a escola na era da informática”, onde

procurámos incidir sobre as ideias chave do autor, reflectindo sobre as suas propostas e

explorando novas possibilidades.

A implementação de novas tecnologias na sala de aula, o papel do professor e do

aluno no processo educativo e a mudança de mentalidade na educação serão alguns dos

temas enfoque nesta síntese crítica.

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Síntese Crítica

Papert viveu o período em que os computadores foram inventados e evoluíram

nos E.U.A.. E esta era influenciou o autor de tal maneira que foi ele um dos

responsáveis pela implementação da linguagem de programação Logo no ensino.

Através da programação Logo, os alunos ganharam a autonomia que era, normalmente,

reservada aos adultos, pois programavam um computador e sentiam que estavam a

comandar a máquina, algo que, até então, estava destinado apenas aos adultos.

Os educadores de hoje enfrentam um grande desafio, já que lidam com a

implementação massiva de novas tecnologias na escola. Observamos que no meio

escolar e académico é cada vez mais frequente utilizarmos as novas tecnologias e há

inúmeros benefícios em relação a essas novas ferramentas de trabalho, mas também há

uma componente negativa. Nas escolas e universidades há agora a tendência de “copiar

da internet, colar, enfeitar e imprimir trabalhos escolares”, não respeitando o autor do

trabalho e tomando como seu o trabalho alheio. Mas aprender é muito mais do que

copiar, é através do esforço e persistência que podemos realmente aprender.

O papel da escola já não passa apenas por treinar pessoas que vão desempenhar

uma determinada função para o resto da vida, porque o “emprego para a vida” já não

existe. A escola deverá ter o papel de facultar ao indivíduo a “capacidade de aprender

novas habilidades, assimilar novos conceitos, avaliar novas situações, lidar com o

inesperado”. Assim, teremos indivíduos competentes e capazes de se adaptar a qualquer

situação e, consequentemente, capaz de desempenhar qualquer tarefa que a sociedade

lhes confie.

Reparamos que não são apenas as mudanças tecnológicas a ocorrer no nosso

mundo que têm reflexos na educação. Também a própria necessidade do Homem em

alterar o seu comportamento, devido às mudanças ambientais e climatéricas, tem tido

um impacto profundo na educação, pois será através da educação que poderemos mudar

esse comportamento nocivo e destrutivo que o Homem tem para com o seu planeta.

As novas tecnologias abrem um portal para uma nova era, a era da informação.

E as novas tecnologias conduzem-nos para um ambiente propício para a aprendizagem

e, consequentemente, para o ensino por excelência.

Assim, o objectivo do autor será tentar perceber o relacionamento entre as

crianças e os computadores e de que forma esta relação influencia a aprendizagem.

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Papert inicia o seu livro com uma parábola (termo utilizado pelo autor) onde

descreve qual seria a reacção de um grupo de viajantes do tempo oriundos do final do

século XIX e que teriam a oportunidade de visitar o mundo no final do século XX. Este

grupo era composto por médicos e professores do ensino básico.

Papert refere que o grupo de médicos ficaria espantadíssimo com os avanços da

medicina e dificilmente conseguiria exercer a sua profissão nesta época com os

conhecimentos que tinha. Já o grupo de professores entraria na sala de aula e,

desconhecendo apenas uns quantos materiais novos, não teria dificuldade em assumir a

aula.

Com esta parábola, o autor questiona porque é que as mudanças que se

verificaram em tantas áreas da actividade humana, não se verificaram também na escola

e rotula as pessoas conforme a resposta que dão à sua pergunta em Yearners e

Schoolers. Estes neologismos de Papert tornam-se difíceis de traduzir sem perder um

pouco do seu sentido na língua original. Paulo Cysneiros atribui ao termo Yearner o

significado de uma pessoa que “deseja fortemente algo difícil de tornar-se realidade”.

Schoolers, por seu turno, serão os “defensores da instituição escolar na sua estrutura

actual”.

Assim, de um lado temos os Schoolers que reconhecem que a escola actual tem

problemas e mostram-se interessados em resolvê-los, mas não acreditam numa

“megamudança”. Por outro lado, os Yearners querem mudanças, mas respondem que

uma megamudança na instituição escolar teria custos muito superiores aos aceitáveis.

Os Yearners caracterizam-se por serem pessoas alternativas, mas não têm a

intenção de inovar a escola, procuram sim um ensino alternativo. Nos E.U.A. é

frequente os pais manterem os filhos em casa a estudar e estes jovens acabam por não

ter qualquer contacto com o ambiente escolar. Também é recorrente os pais procurarem

escolas alternativas para os filhos.

No entanto, existe outra categoria de Yearners que mantém uma relação com a

escola, digamos, tradicional. Estes Yearners são, habitualmente, professores que

conseguem criar programas alternativos dentro do Sistema Escolar.

A megamudança proposta por Papert passa necessariamente pela introdução de

novas tecnologias na sala de aula e o reconhecimento da importância desta nova

realidade na formação das crianças. O autor refere, por exemplo, a importância que os

vídeo jogos têm no desenvolvimento intelectual das crianças e como uma ferramenta

pode ser, ao mesmo tempo, útil à aprendizagem e divertida. No entanto, esse amor das

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crianças pelo computador é visto, muitas vezes, como um vício, ignorando-se os

conhecimentos que as crianças adquirem através das actividades proporcionadas por

essa ferramenta.

Papert fala na “Máquina do Conhecimento” (uma ideia utópica do autor) que

teria por objectivo “tornar todo o conhecimento disponível”. Podemos ver no

computador uma espécie de “Máquina do Conhecimento”, pois é uma ferramenta que

não só proporciona o divertimento e a motivação necessária ao jovem/criança para

aprender, como também ajuda a responder às perguntas dessas crianças, sem a

supervisão de um adulto. Ou seja, proporciona a autonomia necessária para que a

criança aprenda sem estar dependente das respostas de um adulto.

São muitos os esforços feitos para compreender de que forma ocorrem os

fenómenos de aprendizagem, no entanto, segundo Papert, os investigadores na área da

Educação abordam o tema de uma forma fria. Papert afirma que há um excessivo

distanciamento entre os investigadores da educação e o objecto de estudo, neste caso as

crianças.

Noutras áreas científicas esse distanciamento é necessário, pois a compreensão

de um fenómeno envolve a objectividade do observador/pesquisador. No entanto, na

educação tem de haver um reconhecimento da “individualidade do estudante”, algo que

os professores, a Escola e os investigadores da educação tendem a ignorar.

Esta individualidade assume a importância de que a escola veja as crianças como

seres individuais, com pensamento próprio e com reacções diferentes a um mesmo

estímulo. Portanto, a escola não pode simplesmente ver os alunos como um grupo de

indivíduos cujos comportamentos podem ser comandados.

Se fossem proporcionadas as ferramentas necessárias para que as crianças

pudessem tomar as rédeas do seu próprio desenvolvimento, poderíamos ter no futuro

uma sociedade formada por cidadãos competentes, livres, com capacidade de agir por

juízo próprio e capaz de tomar as rédeas da sua aprendizagem.

Para Papert a ferramenta que poderá proporcionar esta mudança na educação é o

computador, pois o computador proporciona às crianças a capacidade de descobrirem e

pesquisarem segundo os seus próprios interesses.

O autor é ainda apologista da ideia de que as tentativas falhadas são uma fonte

de desenvolvimento inegável e faz uma abordagem às várias tentativas e erros que a

Humanidade cometeu aquando da sua ânsia por voar. Papert faz uma transição desta

ideia para a Educação: porque não incentivar a exploração, mesmo que isso signifique

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errar e tentar de novo? Não é a partir dos erros que se aprende? E o que dizer da

satisfação que se sente quando finalmente se atinge o que nos tínhamos proposto? Não

se passará o mesmo com as crianças?

E o que Papert propõe é isso mesmo, é o incentivo à exploração e à criatividade,

já que “entender é inventar”. Neste caminho rumo à exploração, o autor sugere que a

tecnologia poderá ser a ponte que ligará a escola ao futuro.

Nesta fase do livro, Papert fala em mais pormenor sobre a linguagem Logo e

sobre a sua implementação na sala de aula. Para tal, relata várias experiências vividas

com alunos que frequentavam o 4º e 5º anos de escolaridade.

Num primeiro relato, o autor refere que dois alunos que nunca tinham falado um

com o outro, viram-se na situação de poderem colaborar num projecto que interessava a

ambos. Este projecto estava a ser levado a cabo no computador e utilizando a linguagem

Logo. Houve, portanto, um incentivo à colaboração e a uma interacção social entre estes

jovens, contrariando a ideia actual de que o computador isola as pessoas e que as

incentiva a uma vida com pouca interacção social. Uma ideia, na minha opinião, errónea

e temos as redes sociais na internet que podem comprovar que o computador

proporciona uma grande interacção social, incentivando até a troca de ideias com

pessoas de culturas diferentes. Portanto, neste contexto, podemos perceber que o

computador ajuda a ultrapassar as diferenças.

Os alunos referidos neste relato não só interagiram um com o outro, como

também, através da linguagem Logo e do uso do computador, conseguiram

compreender várias matérias, entre as quais geometria e física. Conseguiram ainda,

através dos movimentos que observavam e dominavam através da linguagem Logo no

ecrã do computador, aplicar a Matemática a algo que eles conseguiam realmente

compreender.

Um dos grandes problemas do ensino actual é a falta de motivação dos

estudantes que, em parte, é determinada pelo facto de os jovens não perceberem a

utilidade do que estão a aprender. E os professores tendem a não tentar mudar essa

perspectiva.

Aqui podemos referir o segundo relato de Papert que faz referência a esse

comportamento dos professores. Uma professora, quando questionada sobre o facto de

um dos seus alunos não estar a trabalhar com a linguagem Logo, respondeu que o aluno

já dominava a linguagem, logo tinha sugerido que ele fizesse outras actividades que não

estivessem relacionadas com essa linguagem. Portanto, os alunos não têm, segundo a

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perspectiva de muitos professores, de utilizar os conhecimentos adquiridos, têm apenas

de saber. Este é o tipo de “modelo bancário” da educação (metáfora de Paulo Freire) em

que “o conhecimento é tratado como dinheiro, para ser guardado num banco para o

futuro”.

No entanto, Papert reconhece a existência de outro tipo de professores,

professores criativos e que têm vontade de melhorar a educação. A linguagem Logo

permitiu a muitos professores criarem modelos de ensino personalizados.

Na minha opinião, o autor entra um pouco em contradição neste excerto do livro.

Papert refere um dos seus professores preferidos e como este professor teve influência

na sua visão do mundo. Segundo Papert, teria sido a linguagem Logo a proporcionar

uma visão mais criativa aos professores que a utilizavam nas suas aulas, mas o professor

de Papert não tinha um computador e, mesmo assim, era criativo e conseguia cativar os

alunos.

Um professor que tenha os meios físicos para incentivar as crianças, mas sendo

ele um professor sem criatividade, de pouco lhe valem esses meios. Não quero com isto

dizer que a linguagem Logo não tenha ajudado a emergir a criatividade dos professores

que a utilizaram, apenas entendo que não é uma condição necessária (a utilização da

linguagem Logo) para que isso acontecesse.

Embora Papert admita que, no passado, tinha uma especial aversão aos

professores, confessa que as suas experiências nas salas de aula permitiram-lhe ver uma

outra faceta dos professores. Para Papert é a escola, com a sua estrutura hierarquizada e

natureza superficial, que transforma os professores em seres abomináveis.

A natureza institucional da escola reflecte-se na hierarquia vigente no meio

escolar. A política em vigor controla a directoria que, por sua vez, controla os

professores. Estes têm o papel de controlar os alunos e treiná-los, pois, segundo a

escola, os professores são técnicos.

O autor incentiva uma exaltação por parte dos professores para que rejeitem o

controlo da escola e que dêem azo à sua criatividade e ainda que sejam co-aprendizes na

sala de aula. Ou seja, que os professores não tenham receio em mostrar que não

dominam um determinado assunto e que aprendam com os alunos, tal como os alunos

aprendem com o professor.

Mas, afinal, o que é aprender? Porque não existe uma palavra que defina a arte

de aprender? Papert propõe uma palavra para uma disciplina sobre a arte de aprender –

a Matética.

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Esta necessidade de encontrar um termo que pudesse colmatar essa lacuna no

nosso vocabulário surge do facto de, como dissemos anteriormente, Papert enfatizar a

hierarquia na escola e atribuir a essa disposição hierárquica a importância que se dá ao

ensino e à arte de ensinar (pedagogia) e a pouca ênfase à aprendizagem. Isto porque o

professor é quem ensina à criança, ou seja, é o sujeito activo, é ele quem está “no

comando e é quem precisa de competência”.

O autor defende que deveríamos dar mais ênfase à aprendizagem e é neste

contexto que surge a palavra Matética. Papert faz questão de relacionar a heurística com

a matética, mas define claramente que a heurística é a “arte da descoberta intelectual” e,

nos dias actuais, é aplicada à resolução de problemas. Enquanto a matética envolve

pensar sobre o problema e é isso que “promove a aprendizagem” e não o saber as regras

para resolver um problema.

Na matética é, portanto, fundamental “dar-se tempo a si mesmo” para poder

observar e reflectir sobre o problema e promover a discussão, pois a comunicação

promove a aprendizagem. Essa comunicação deve ser livre de qualquer repressão e

encorajada pelos professores nas suas aulas, já que será através dessa reflexão e

discussão que os alunos vão começar a fazer conexões com outros temas e até com

outros problemas que ajudarão no seu desenvolvimento intelectual.

No entanto, na escola actual não é dado tempo suficiente aos alunos para

reflectirem sobre os problemas que lhes são propostos, quanto mais para discutirem

sobre as possíveis estratégias a seguir. Desta forma, não conseguirão passar por todo o

processo, de uma beleza e complexidade raras, que permite fazer conexões e abrir novos

horizontes na aprendizagem. Essa é uma das duras críticas de Papert à escola.

Numa fase posterior do livro, mas que interpreto que tenha relação com a

hierarquia da escola, Papert procura explicar a diferença entre o Instrucionismo e

Construcionismo. Segundo Santanchè e Teixeira (s.d.), o “Instrucionismo fundamenta-

se no princípio de que a acção de ensinar é fortemente relacionada com a transmissão de

informação”. O Construcionismo, por seu lado, segundo os mesmo autores,

fundamenta-se pela “atitude activa” do aluno que adquire a capacidade de construir “o

seu próprio conhecimento”.

Seguindo o raciocínio de Papert, o Instrucionismo é a ideologia presente na

escola actual, já que o papel principal no processo de ensino-aprendizagem é do

professor, pois é ele o transmissor de conhecimento. Ao aluno cabe apenas assimilar e

assumir como verdade o que o professor transmite. Esta atitude faz do aluno um agente

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passivo no processo ensino-aprendizagem e dá ênfase à ideia de hierarquia analisada

anteriormente.

Para explicar a ideia construcionista, Papert refere um provérbio africano: “se

um homem tem fome, poderás dar-lhe um peixe, mas no dia seguinte ele terá fome

novamente. Se lhe deres uma cana de pesca e lhe ensinares a pescar, ele nunca mais terá

fome”. Podemos dizer que a atitude de dar o “peixe” assemelha-se à atitude

instrucionista de “dar conhecimento”. No entanto, essa será uma solução a curto prazo.

O construcionismo propõe que sejam fornecidas as ferramentas necessárias para que as

crianças possam descobrir e explorar o conhecimento. Essas ferramentas, segundo

Papert, são os computadores. Mas para pescar não são suficientes o conhecimento e as

ferramentas, é também necessário que pescamos em águas férteis. Isso leva-nos a

perceber o conceito de “micromundos” proposto por Papert, como a “Matelândia”, ou

seja, as “águas férteis” para “pescar” o conhecimento matemático.

Papert propõe, ainda, a criação de uma nova disciplina, a “Cibernética para as

crianças” que pode ser caracterizada como o “grão de conhecimento necessário para

uma criança inventar e construir”, sendo que esta disciplina teria conexões com outras

áreas intelectuais. Assim, com a Cibernética os conhecimentos adquiridos seriam

realmente utilizados e não apenas aprendidos. Esta disciplina permitiria às crianças

terem um feedback sobre o que aprenderam e não, como acontece na escola actual,

absorver o que lhes é transmitido e fechar numa gaveta. Tem de haver uma aplicação

daquilo que se aprende e todas as áreas intelectuais têm de estar interligadas para

cumprirem o propósito da educação: formar um ser humano na sua totalidade.

Podemos dizer que o computador parece ser o meio mais apropriado para se

atingir essa ideia, já que permite à criança a liberdade de descobrir novas realidades e,

nos dias de hoje, permite uma ligação com o resto do mundo como nunca antes foi

possível.

No fundo, temos nas nossas mãos a capacidade de conhecer novas culturas,

novas maneiras de pensar e essa interacção permite-nos alargar os nossos próprios

horizontes, não ficando presos às ideias “preconcebidas” dos nossos antepassados.

A megamudança proposta por Papert é comparada à Perestroika (slogan de

Gorbachev que significa “reconstruir”). Portanto, Papert não defende apenas uma

mudança no sistema educacional, mas uma reconstrução do mesmo.

O autor é muito crítico em relação à avaliação da escola actual e sobre o que é

considerado sucesso educacional. Papert faz uma analogia entre os testes (forma de

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avaliação mais comum) e a história dos pregos da fábrica Ilyanova. O objectivo era

produzir 100 toneladas de pregos. O director teve a ideia de produzir pregos maiores e

conseguiu uma produção de 150 toneladas. O director foi recompensado com um bónus,

no entanto, os pregos produzidos eram grandes demais para serem utilizados.

“Definir sucesso educacional por resultados em exames não é muito diferente de

contar pregos fabricados em vez de pregos utilizados”. Portanto, a escola não incentiva

a utilização dos conhecimentos adquiridos, apenas mede a quantidade de conhecimento

dos alunos nos testes, que sabemos nem sempre corresponder ao real esforço e trabalho

dos alunos.

Papert propõe que a “única opção racional é investir no encorajamento da

diversidade educacional com um comprometimento dedicado não apenas a expandir os

seus benefícios para todos os que o desejam, mas também assegurar que os que optam

por não tê-los estejam a fazer uma escolha informada”. Neste contexto, o autor fala das

vantagens das pequenas escolas na Dinamarca que correspondem a escolas alternativas.

Estas escolas podem proporcionar essa diversidade de que fala Papert e produzir

ambientes intelectuais férteis onde a verdadeira “cultura matética” poderia surgir.

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Reflexão Pessoal

Após a leitura do livro “A Máquina das Crianças”, de Seymour Papert, é

impossível não fazer um balanço sobre a nossa educação e apontar algumas críticas ao

nosso sistema educativo. Papert faz mais do que isso: propõe soluções.

A grande solução de Papert é fazer uma megamudança na educação que permita

acabar com a natureza hierárquica da escola. Assim, os professores poderiam dar azo à

sua criatividade e serem co-aprendizes na sala de aula. Haveria, portanto, uma partilha

de informação entre professor e alunos.

Partilho da opinião do autor quando menciona que a verdadeira aprendizagem

surge das tentativas falhadas. Se dermos aos alunos as ferramentas necessárias, eles

terão a autonomia para comandar o seu próprio desenvolvimento intelectual, mesmo que

isso signifique errar e tentar de novo.

Para Papert, a grande ferramenta que poderá proporcionar esta mudança de

mentalidade na educação é o computador, já que é, ao mesmo tempo, uma ferramenta

que traz conhecimento e divertimento às crianças.

Concordo, em parte, com esta ideia, mas acrescento que é necessário

proporcionar outras ferramentas que facultem aos alunos outro tipo de experiência. Por

exemplo, no estudo da geometria poderíamos utilizar a linguagem Logo para abordar o

tema, incentivando os alunos a desenvolverem um determinado projecto. E porque não

incluir nesse projecto uma saída ao exterior da sala e olhar para a geometria na natureza,

observando, por exemplo, as plantas?

Podemos conciliar o uso das novas tecnologias com as ferramentas que já temos.

Penso que o grande desafio nesta ideia de Papert não é implementar os

computadores na sala de aula, pois isso já acontece nos nossos dias. O grande desafio é

mudar a mentalidade dos intervenientes de todo o processo educativo, desde o

ministério, passando pelas direcções das escolas e professores, até chegar aos alunos.

Por isso, Papert fala numa reconstrução total da Escola.

Mudar mentalidades nunca é fácil, mas a persistência é uma arma poderosa dos

lutadores. Felizmente, no mundo da educação temos muitos lutadores que tudo farão

para tornar a arte de aprender numa exploração permanente.

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Referências Bibliográficas

PAPERT, Seymour (1993). A Máquina das Crianças: Repensando a Escola na Era da Informática. Porto Alegre: Artmed Editora

Sítios da Internet:

SANTACHÈ, André ,TEIXEIRA, César (s.d.). Integrando Instrucionismo e

Construcionismo em Aplicações Educacionais através do Casa Mágica.

Consultado a (2010-05-28) em:

http://www.nuppead.unifacs.br/artigos/IntegrandoInstrucionismo.pdf

CYSNEIROS, Paulo Gileno (1999). Resenha Crítica. Consultado a (2010-05-

29) em:

http://www.google.pt/url?sa=t&source=web&ct=res&cd=1&ved=0CBcQFjAA

&url=http%3A%2F%2Fwww.sbc.org.br%2Fbibliotecadigital%2Fdownload.php

%3Fpaper%3D896&ei=CnwFTLj-Nozb-QbL3vikCg&usg=AFQjCNGV-

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