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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA, CONTABILIDADE E SECRETARIADO EXECUTIVO INSTITUTO UFC VIRTUAL CURSO SEMIPRESENCIAL DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO ITAMAR GOMES DE SOUSA O PERFIL DA AGRICULTURA FAMILIAR SOB A PERSPECTIVA DE SUSTENTABILIDADE DA CADEIA DE PRODUÇÃO DE FARINHA DE MANDIOCA – O CASO DA COMUNIDADE DO CÓRREGO DA RAMADA, TRAIRI-CE. FORTALEZA, CE 2011

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TCC perfil da agricultura familiar, o caso da mandiocultura no corrego da ramada trairi-ce

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA,

CONTABILIDADE E SECRETARIADO EXECUTIVO INSTITUTO UFC VIRTUAL

CURSO SEMIPRESENCIAL DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

ITAMAR GOMES DE SOUSA

O PERFIL DA AGRICULTURA FAMILIAR SOB A PERSPECTIVA DE SUSTENTABILIDADE DA CADEIA DE PRODUÇÃO DE FARINHA DE MANDIOCA –

O CASO DA COMUNIDADE DO CÓRREGO DA RAMADA, TRAIRI-CE.

FORTALEZA, CE

2011

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ITAMAR GOMES DE SOUSA

O PERFIL DA AGRICULTURA FAMILIAR SOB A PERSPECTIVA DE SUSTENTABILIDADE DA CADEIA DE PRODUÇÃO DE FARINHA DE MANDIOCA –

O CASO DA COMUNIDADE DO CÓRREGO DA RAMADA, TRAIRI-CE.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Coordenação do Curso Semipresencial de Graduação em Administração, da Universidade Federal do Ceará, para obtenção do grau de bacharel em Administração. Orientador: Rosângela Venâncio Nunes

FORTALEZA, CE

2011

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Sousa, Itamar Gomes de

O Perfil da Agricultura Familiar sob a perspectiva de sustentabilidade da cadeia de produção de farinha de mandioca – O caso da comunidade do Córrego da Ramada, Trairi-ce.

Itamar Gomes de Sousa. São Gonçalo do Amarante, 2011. ______150 f.

Monografia – Curso de Administração - Universidade

Federal do Ceará – UFC.

1.Agricultura familiar; 2. Sustentabilidade; 3. Cadeia de Produção; 4. Desenvolvimento sustentável; 5. Farinha de Mandioca. I. Título.

CDU_______

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3

ITAMAR GOMES DE SOUSA

O PERFIL DA AGRICULTURA FAMILIAR SOB A PERSPECTIVA DE SUSTENTABILIDADE DA CADEIA DE PRODUÇÃO DE FARINHA DE MANDIOCA –

O CASO DA COMUNIDADE DO CÓRREGO DA RAMADA, TRAIRI-CE.

Este Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Coordenação do Curso Semipresencial de

Graduação em Administração, da Universidade Federal do Ceará, para obtenção do grau de

Bacharel em Administração, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de

Bacharel em Administração, outorgado pela Universidade Federal do Ceará – UFC e

encontra-se à disposição dos interessados na Biblioteca da referida Universidade.

A citação de qualquer trecho desta monografia é permitida, desde que feita de acordo com as

normas de ética científica.

Data da aprovação ____/____/_____

__________________________________________ Prof. Profa. Ms. ou Dr. Rosângela Venâncio Nunes

Orientador

__________________________________________ Prof. Profa. Ms. Ms. Aline Maria Matos Rocha

Membro da Banca Examinadora

____________________________________________ Profa. Ms. Criseida Alves Lima

Coordenadora do Curso Semipresencial em Administração

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4

Para meus queridos Filhos:

Mateus Sousa Gomes Marx Sousa Gomes Mara Beatriz Sousa Gomes e Maick Sousa Gomes

Page 6: Tcc perfil da agricultura familiar

5

AGRADECIMENTOS

À minha esposa e companheira Maria Luciléia Furtado, pelo amor, confiança e companheirismo. Aos agricultores familiares da comunidade do Córrego da Ramada em Trairi-Ce, pela generosidade com que me receberam. À minha mãe, Josefa Rodrigues de Sousa, pela minha vida, pelo amor, apoio, incentivo e por ter me estimulado a estudar. A minha dedicada tutora Rosângela Venâncio Nunes, que ensina com entusiasmo e sabedoria. À Prof.ª Joana D´arc Oliveira pelo apoio a minha formação profissional. Aos professores, funcionários e colegas do curso de Bacharelado em Administração, da Universidade Federal do Ceará e do pólo de São Gonçalo. A meus amigos do curso de Bacharelado em Administração: Lucia Maciel, Pedro Paulo e Luis Célio pelo apoio e incentivo.

Page 7: Tcc perfil da agricultura familiar

6

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho inicialmente a Deus, que amorosamente nos ofertou a oportunidade de realizar este curso de tamanha importância para nossas vidas; a minha mãe Josefa Rodrigues de Sousa, meus irmãos, amigos, colegas da nossa turma, e finalmente a meu pai, Manoel Gomes de Sousa, in memória e minha irmã, Maria Edivalda de Sousa, in memória.

Page 8: Tcc perfil da agricultura familiar

7

“Viver a vida não significa apenas cumpri- la em seu tempo, mas viver cada momento no seu tempo como se o tempo de viver fosse infinito” .

Claudio Rola

Page 9: Tcc perfil da agricultura familiar

8

RESUMO O presente trabalho aborda como problemática a busca por resposta à seguinte indagação: Qual o perfil da agricultura familiar sob a perspectiva de sustentabilidade da cadeia de produção de farinha de mandioca da comunidade do Córrego da Ramada, Trairi-Ce? Caracterizou-se como estudo de caso e teve como objetivo principal realizar um diagnóstico de modo a traçar o perfil da agricultura familiar sob a perspectiva de sustentabilidade da cadeia de produção de mandioca, usando o caso da comunidade do Córrego da Ramada, Trairi-Ce., e como objetivos específicos: conceituar agricultura familiar e contextualizar sua evolução no Brasil e no Ceará; definir desenvolvimento sustentável e abordar as suas dimensões; contextualizar a agricultura familiar como instrumento para desenvolvimento; apresentar a cadeia produtiva da mandioca e identificar como esta atividade pode ser potencialmente desenvolvida no Ceará, como instrumento de desenvolvimento rural sustentável; pesquisar o perfil socioeconômico e a situação em que se encontram os Agricultores Familiares selecionados. Primeiramente fez-se revisão bibliográfica com o objetivo de contextualizar a agricultura familiar, na sequência, procedeu-se uma exposição acerca dos aspectos conceituais sobre agricultura familiar e suas características; além dos aspectos conceituais sobre desenvolvimento agrícola sustentável; Realizou-se ainda uma descrição da cadeia de produção da mandioca, discorrendo o conceito de cadeia produtiva, composição de cadeia de produção e cadeia produtiva da mandioca. A partir daí, efetuou-se uma pesquisa de campo, através de entrevistas junto a vinte agricultores familiares da comunidade de Córrego da Ramada no município de Trairi – CE. Logo após foi apresentado o estudo de caso da cadeia produtiva da mandioca na comunidade de Córrego da Ramada em Trairi-Ce. Por fim, fez-se uma análise e interpretação dos dados da pesquisa. Concluiu-se por meio desse estudo que a cadeia da mandiocultura na comunidade necessita de muito apoio para atingir a sustentabilidade, embora que já se perceba alguns avanços. Constatou-se também o baixo nível escolar dos agricultores, a fuga dos jovens do meio rural em busca de oportunidade nas cidades, a ausência de tecnologias no campo e muita resistência às mudanças por parte dos agricultores como fatores que dificultam o desenvolvimento sustentável daquela comunidade. Palavras Chave: Sustentabilidade, desenvolvimento sustentável, cadeia produtiva, agricultores familiar, Farinha de mandioca.

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ABSTRACT

This paper discusses how problematic the search for the answer to one question: What is the profile of family farming from the perspective of sustainability of the production of cassava flour in the community of the Stream of Ramada, Trairi-Ce betray? It was characterized as a case study and aimed to make a diagnosis in order to profile the family farm from the perspective of sustainability of the production of cassava, using the case of the community of the Stream of Ramada, Trairi-Ce. and specific objectives: to conceptualize and contextualize family farming in Brazil and its evolution in Ceará, defining sustainable development and to address their dimensions; contextualize family farming as a tool for development; present cassava production chain and identify how this activity can be potentially developed in Ceará, as a tool for sustainable rural development, research the socioeconomic profile and situation in which family farmers are selected. First we reviewed the literature in order to contextualize the family farm, as a result, we proceeded to a presentation on the conceptual aspects of family farms and their characteristics, in addition to the conceptual aspects of sustainable agricultural development, carried out a further description of cassava production chain, discussing the concept of chain, chain composition and production of cassava production chain. Thereafter, we performed a field research through interviews with twenty family farmers of the community of Stream in the city of Ramada Trairi - Ce. Shortly after filing the case study of the production chain of cassava in the Stream Community Ramada in Trairi-Ce. Finally, we did an analysis and interpretation of research data. It was concluded through this study that the chain of cassava in the community needs a lot of support for sustainability, although they're already seeing some progress. It was also the low educational level of farmers, the flight of youth in rural areas in search of opportunity in the cities, the lack of technology in the field and a lot of resistance to change by farmers as factors that hinder the sustainable development of that community. Keywords: Sustainability, sustainable development, supply chain, family farmers, cassava flour.

Page 11: Tcc perfil da agricultura familiar

10

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 19

1.1 IMPORTÂNCIA DO TEMA 19

1.2 PROBLEMA DA PESQUISA 22

1.3 OBJETIVOS 22

1.3.1 OBJETIVO GERAL 22

1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 22

1.4 JUSTIFICATIVA 23

1.5 REFERENCIAL TEÓRICO 24

1.5.1 AGRICULTURA FAMILIAR 24

1.5.2 DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL 26

1.5.3 CADEIA PRODUTIVA DA MANDIOCA 29

1.6 METODOLOGIA 29

1.6.1 MÉTODO DA ABORDAGEM 30

1.6.2 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA 30

1.6.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 31

1.6.4 MÉTODO DE ANÁLISE 31

1.6.5 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS 32

1.6.6 A COLETA DE DADOS 32

1.7 ESTRUTURA DA PESQUISA 34

2 ASPECTOS CONCEITUAIS SOBRE AGRICULTURA FAMILIAR E SUAS CARACTERÍSTICAS

35

2.1 CARACTERIZAÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS AGRICOLAS 35

2.2 CONCEITO AGRICULTURA FAMILIAR 36

2.3 EVOLUÇÃO AGRICULTURA FAMLIAR NO BRASIL 40

2.4 EVOLUÇÃO AGRICULTURA FAMLIAR NO CEARÁ 43

2.5 CARACTERIZAÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS FAMILIARES 45

2.6 GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS DA AGRICULTURA FAMILIAR 46

2.7 AGRICULTURA FAMILIAR E SUA RELEVANCIA NA ECONOMIA CEARENSE

49

3 OS ASPECTOS CONCEITUAIS SOBRE DESENVOLVIMENTO AGRICOLA SUSTENTÁVEL

52

3.1 CONCEITO DE CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

53

Page 12: Tcc perfil da agricultura familiar

11

3.2 DESENVOLVIMENTO X CRESCIMENTO 56

3.3 TIPOS DE DESENVOLVIMENTO 58

3.3.1 DESENVOLVIMENTO HUMANO 58

3.3.2 DESENVOLVIMENTO SOCIAL 59

3.3.3 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 61

3.4 DESENVOLVIMENTO AGRICOLA SUSTENTÁVEL 63

3.4.1 ASPECTOS CULTURAIS 63

3.4.2 ASPECTOS ORGANIZACIONAIS 65

3.4.3 ASPECTOS ECONÔMICOS 67

3.4.4 ASPECTOS FINANCEIROS 69

3.5 DESAFIOS E ENTRAVES DA GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS AGRÍCOLAS FAMILIARES

70

4 CADEIA DE PRODUÇÃO 76

4.1 DEFINIÇÃO DE CADEIA DE PRODUÇÃO 76

4.2 COMPOSIÇÃO DE CADEIAS DE PRODUÇÃO 78

4.3 CADEIA PRODUTIVA DA MANDIOCA 80

5 ESTUDO DE CASO 82

5.1 METODOLOGIA DO ESTUDO DE CASO 82

5.2 CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE DA PESQUISA 84

6 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS 89

6.1 PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS AGRICULTORES 89

6.2 PERFIL DA MANDIOCUTURA NA COMUNIDADE 95

6.3 ANALISE DAS CASAS DE FARINHA TRADICIONAIS 110

6.4 ANÁLISE DA CASA DE FARINHA MODERNA 113

6.5 NÍVEL DE SATISFAÇÃO DOS AGRICULTORES DA COMUNIDADE 120

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 125

APENDICES

REFERENCIAS

Page 13: Tcc perfil da agricultura familiar

12

LISTA DE SIGLAS

ACACE - Associação Aroeira e Associação de Cooperação Agrícola do Estado do Ceará

ACB - Associação Comunitária de Base

ADAO - Associação de Desenvolvimento de Agropecuária Orgânica

ADEC - Associação de Desenvolvimento Educacional e Cultural

AF – Agricultor familiar

BB – Banco do Brasil

BNB – Banco do Nordeste

CAA – Centro de Aprendizado Agroecológico

CEBS - Comunidades Eclesiais de Base

CEPEMA- Centro de Educação Popular em Defesa do Meio Ambiente

CETRA – Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador

CMMAD - Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento

CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento

CONTAG - Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais

CPT - Comissão Pastoral da Terra

DAP – Declaração de Aptidão ao PRONAF

DRS – Desenvolvimento Rural Sustentável

EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária

ESPLAR - Centro de Pesquisa e Assessoria

FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations

FETRAECE – Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais na Agricultura do Estado

FETRAF - Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar

FIPE- Fundação Estudos e Pesquisas Econômicas

FKA - Fundação Konrad Adenauer

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

IPECE – Instituto de Pesquisa Econômica e Estratégia do Ceará

MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário.

MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

Page 14: Tcc perfil da agricultura familiar

13 ONGs – Organização não Governamental

PAA – Programa de Aquisição de Alimentos

PAP – Plano Agrícola e Pecuário

PDP – Plano de Desenvolvimento Participativo

PDRS - Plano de Desenvolvimento Rural Sustentável

PIB - Produto Interno Bruto

PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar

PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento,

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultora Familiar

PSJ – Programa São José.

SAG - Sistema Agroindustrial

SDA – Secretaria de Desenvolvimento Agrário

SDR – Secretaria de Desenvolvimento Rural

SEAGRI - Secretaria de Agricultura

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SINTRAF – Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar

UFC – Universidade Federal do Ceará

USP - Universidade de São Paulo

Page 15: Tcc perfil da agricultura familiar

14

LISTA DE MAPA

Mapa 01 - Mapa do Ceará com foco em Trairi ---------------------------------------------------86

Mapa 02 - Mapa do Território Vales do Curu/Aracatiaçu--------------------------------------87

Mapa 03 - Localização por satélite do Córrego da Ramada------------------------------------88

Page 16: Tcc perfil da agricultura familiar

15

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 - Distribuição da idade dos entrevistados-----------------------------------------------90

Tabela 02 - Distribuição da faixa de renda dos entrevistados------------------------------------91

Tabela 03 - Distribuição do grau de escolaridade--------------------------------------------------92

Tabela 04 - Número de filhos dos entrevistados----------------------------------------------------93

Tabela 05 - Tempo de residência na comunidade--------------------------------------------------94

Tabela 06 - Área de Plantio ---------------------------------------------------------------------------95

Tabela 07 - Produção de mandioca (cargas)--------------------------------------------------------96

Tabela 08 - Produção de farinha de mandioca------------------------------------------------------97

Tabela 09 - Local de compra de insumos e ferramentas-------------------------------------------98

Tabela 10 - Destino da mandioca produzida--------------------------------------------------------99

Tabela 11- Forma de compra de insumos.---------------------------------------------------------100

Tabela 12 - Local de vendas da produção ---------------------------------------------------------100

Tabela 13 - Forma de venda da produção ---------------------------------------------------------101

Tabela 14 - Interferência dos concorrentes --------------------------------------------------------102

Tabela 15 - Peso da mandiocutura para a sobrevivência da família----------------------------103

Tabela 16 - Nível de contribuição da associação para o desenvolvimento da mandiocutura-104

Tabela 17 - Motivação para participar da associação --------------------------------------------105

Tabela 18 - Pontos Positivos e Negativos da mandiocutura-------------------------------------106

Tabela 19 - Há incentivos do governo -------------------------------------------------------------108

Tabela 20 - Tipo de incentivo do governo para a mandiocutura -------------------------------108

Tabela 21 - Qualidade da farinha das casas de farinha tradicional-----------------------------110

Tabela 22 - Avaliação dos equipamentos das casas de farinha tradicional--------------------111

Tabela 23 – Vantagens e desvantagens das casas de farinha tradicional-----------------------112

Tabela 24 – Nº de Conhecedores da casa de farinha----------------------------------------------114

Tabela 25 – Opinião sobre casa de farinha moderna----------------------------------------------114

Tabela 26 - Despesas de produção da casa de farinha moderna--------------------------------115

Tabela 27 – Qualidade da farinha da casa de farinha moderna----------------------------------116

Tabela 28 – Facilidade de venda--------------------------------------------------------------------117

Tabela 29 – Melhor preço----------------------------------------------------------------------------118

Tabela 30 – Vantagens e desvantagens da casa de farinha moderna ---------------------------119

Tabela 31 – Satisfação com as Casas de farinha tradicionais -----------------------------------121

Tabela 32 - Satisfação com a Casa de farinha moderna------------------------------------------122

Page 17: Tcc perfil da agricultura familiar

16 Tabela 33 - Nível de satisfação com assistência técnica------------------------------------------122

Tabela 34 - Satisfação com a produção de mandioca -------------------------------------------123

Page 18: Tcc perfil da agricultura familiar

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 - Distribuição da idade dos entrevistados-----------------------------------------------90

Gráfico 02 - Distribuição da faixa de renda dos entrevistados------------------------------------91

Gráfico 03 - Distribuição do grau de escolaridade--------------------------------------------------92

Gráfico 04 - Número de filhos dos entrevistados---------------------------------------------------93

Gráfico 05 - Tempo de residência na comunidade--------------------------------------------------95

Gráfico 06 - Área de Plantio --------------------------------------------------------------------------96

Gráfico 07 - Produção de mandioca (cargas)-------------------------------------------------------97

Gráfico 08 - Produção de farinha de mandioca-----------------------------------------------------98

Gráfico 09 - Local de compra de insumos e ferramentas------------------------------------------98

Gráfico 10 - Destino da mandioca produzida-------------------------------------------------------99

Gráfico 11- Forma de compra de insumos.---------------------------------------------------------100

Gráfico 12 - Local de vendas da produção ---------------------------------------------------------101

Gráfico 13 - Forma de venda da produção ---------------------------------------------------------102

Gráfico 14 - Interferência dos concorrentes -------------------------------------------------------103

Gráfico 15 - Peso da mandiocutura para a sobrevivência da família---------------------------104

Gráfico 16 - Nível de contribuição da associação para o desenvolvimento da mandiocutura----

------------------------------------------------------------------------------------------------------------105

Gráfico 17 - Motivação para participar da associação --------------------------------------------106

Gráfico 18 - Pontos Positivos e Negativos da mandiocutura-------------------------------------107

Gráfico 19 - Há incentivos do governo -------------------------------------------------------------108

Gráfico 20 - Tipo de incentivo do governo para a mandiocutura -------------------------------109

Gráfico 21 - Qualidade da farinha das casas de farinha tradicional-----------------------------110

Gráfico 22 - Avaliação dos equipamentos das casas de farinha tradicional-------------------111

Gráfico 23 – Vantagens e desvantagens das casas de farinha tradicional----------------------112

Gráfico 24 – Nº de Conhecedores da casa de farinha---------------------------------------------114

Gráfico 25 – Opinião sobre casa de farinha moderna---------------------------------------------115

Gráfico 26 - Despesas de produção da casa de farinha moderna-------------------------------116

Gráfico 27 – Qualidade da farinha da casa de farinha moderna---------------------------------117

Gráfico 28 – Facilidade de venda-------------------------------------------------------------------118

Gráfico 29 – Melhor preço----------------------------------------------------------------------------119

Gráfico 30 – Vantagens e desvantagens da casa de farinha moderna --------------------------120

Gráfico 31 – Satisfação com as Casas de farinha tradicionais ----------------------------------121

Page 19: Tcc perfil da agricultura familiar

18 Gráfico 32 - Satisfação com a Casa de farinha moderna-----------------------------------------122

Gráfico 33 - Nível de satisfação com assistência técnica----------------------------------------123

Gráfico 34 - Satisfação com a produção de mandioca ------------------------------------------124

Page 20: Tcc perfil da agricultura familiar

19 1. INTRODUÇÃO

Este estudo faz uma reflexão acerca da agricultura familiar, no Brasil, no Ceará e em

Trairi, e ainda, traça o perfil da mandiocultura na comunidade de Córrego da Ramada.

Discorre sobre os conceitos de Agricultura familiar, sustentabilidade, cadeia produtiva e

desenvolvimento sustentável.

1.1 Importância do tema

O conceito “agricultura familiar” não é novo na estrutura legal brasileira. Outros

conceitos muito semelhantes eram utilizados no Programa Nacional de Fortalecimento da

Agricultura Familiar – PRONAF (Brasil, 2006). Esse conceito, do mesmo modo, não é novo

na academia e foi empregado em inúmeros trabalhos, por exemplo, os da pesquisa da

Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (Food and Agriculture

Organization of the United Nations - FAO)/Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrária - INCRA.

No entanto, não obstante destes conceitos conterem uma forte coincidência de

públicos, não são exatamente iguais, e suas delimitações estão sujeitas a análises concisas

(IBGE, 2006, p. 15).

A agricultura familiar no Brasil teve mais espaço nos debates na década de 90, apesar

de ser praticada há muito mais tempo no Brasil. Com isso, Martins Silva e Mendes ressaltam

que: O aumento das discussões acerca da agricultura familiar, no decorrer da década de 1990, é atribuído a uma série de fatores, entre eles, destacam-se os problemas relacionados à grande concentração fundiária e a diversidade de situações apresentadas pelas regiões brasileiras, ao modelo de organização sociopolítico e econômico, reforçados por segmentos governamentais comprometidos com os interesses dos grandes proprietários, com os interesses internacionais e com o fortalecimento do movimento dos trabalhadores que lutam pelo d ireito de reconquistar a terra (MARTINS SILVA e MENDES, 2009, p 28).

Santana (2008, p. 3) cita que a agricultura brasileira tem sido comumente subdividida

dicotomicamente com base em características sócio-econômicas e tecnológicas.

Historicamente, tem-se diferenciado a agricultura de subsistência, ou a pequena agricultura,

ou agricultura de baixa renda da agricultura comercial ou empresarial. Ultimamente, a

dicotomia passou a caracterizar-se em termos de agricultura familiar e patronal. De acordo

com Abramovay (2000), a agricultura familiar não contrata trabalhadores permanentes,

Page 21: Tcc perfil da agricultura familiar

20 possibilitando, entretanto, ter até cinco empregados temporários. Já a Agricultura patronal

pode contratar empregados permanentes e/ou temporários.

No Ceará, o agricultor era chamado de trabalhador rural, um equívoco considerado,

pois, conforme a revista eletrônica Central Jurídica: Trabalhador rural é toda pessoa física

que, em propriedade rural ou prédio rústico, prestar serviços de natureza não eventual

a empregador, sob a dependência deste, mediante salário (REVISTA CENTRAL JURÍDICA,

2011).

Até bem pouco tempo, agricultura familiar era conhecida como agricultura de

subsistência. Após a reformulação e o surgimento de algumas políticas públicas visando

melhorar a vida dos agricultores, essa atividade teve outro olhar e outra denominação.

Segundo Nunes (2007, p. 1-2) “Mais recentemente, a adoção da noção de agricultura

familiar contribuiu para criar uma nova identidade política entre as organizações e

movimentos sociais do campo, o que também contribuiu para alterar interesses, projetos e

opções políticas”.

Costabeber e Caporal (2003) acentuam que o conceito oficial de Desenvolvimento

Sustentável surge a partir do Relatório Brundtland, em 1987 (CMMAD, 1992), onde o

crescimento econômico contrasta com a noção de sustentabilidade. Dissemina-se a idéia de

que, para ser sustentável, o desenvolvimento precisa combinar crescimento econômico,

distribuição da riqueza e preservação ambiental, empreitada considerada por muitos como

inviável. De acordo com essa orientação, o desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz

as necessidades da geração presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras para

satisfazer suas próprias necessidades.

Picolotto (2009, p. 03) em seu artigo: Sindicalismo da Agricultura Familiar e

Agroecologia no alto Uruguai do RS cita esse trecho:

Um projeto Alternativo de Desenvolvimento que garanta a viabilização da Agricultura Familiar implica em: a) um novo modelo tecnológico que leve em conta as questões sociais e ecológicas da produção agrícola; b) novas formas de organização da produção, comercialização, beneficiamento da produção e abastecimento; c) reforma agrária enquanto instrumento para transformação do atual modelo de desenvolvimento da agricultura brasileira; d) política agrícola diferenciada para o pequeno agricultor; e) pesquisa e extensão rural voltados para o interesse dos trabalhadores; f) construir as bases culturais de um desenvolvimento alternativo, resgatando valores como a solidariedade, a cooperação e estabelecendo uma nova relação homem-natureza (DETR-RS, 1993, p.14-17 apud PICOLOTTO 2009, p. 03).

Page 22: Tcc perfil da agricultura familiar

21

De acordo com o censo de 2006, a agricultura familiar detém 84,4% dos

estabelecimentos brasileiros. Isso aponta para a grande contribuição desse setor para a

produção de alimentos e geração de trabalho e renda. Tendo em vista esta realidade, pode-se

afirmar que o desenvolvimento da zona rural perpassa pela organização da agricultura

familiar (IBGE, 2006, p. 19).

A mandiocultura, tema foco desta pesquisa, é uma atividade disseminada em muitos

municípios cearenses. Os subprodutos da mandioca, como a farinha, a goma, manipueira,

dentre outros, fazem parte dos costumes alimentares culturais da nossa população.

Há no estado do Ceará uma vocação natural para o cultivo da mandioca. O Estado

conta 3,2 milhões de hectares com propriedades edafoclimáticas1 capazes para o cultivo,

sendo uma das principais atividades agrícolas (CIAT 1993 apud SALES, et al, 2004, p. 2-4).

Afirma-se ainda, que no ano 2000 foram colhidas 712,9 mil toneladas de raiz de mandioca

numa área de 84,5 mil hectares, resultando numa produtividade média de 8,5 t/ha. Esses

mesmos autores asseveram que no Ceará o cultivo da mandioca abrange um período médio de

18 meses, ocupando aproximadamente 62 mil pessoas.

Na comunidade de Córrego da Ramada, no município de Trairi, deu-se um processo

de organização dessa cadeia através da instalação de campo experimental de inserção de

novas espécies, instalação de casa de farinha moderna, capacitação, etc. Contudo, em virtude

de vários motivos, dentre eles, culturais, o processo de organização no Córrego da Ramada

não evoluiu muito. A casa de farinha moderna instalada na comunidade do Córrego da

Ramada, no município de Trairi-Ce, foi um empreendimento executado pelo Projeto São José

2. Este projeto de combate à Pobreza Rural no Ceará está incluído no Plano de

Desenvolvimento Sustentável do Governo como um dos programas estruturantes na área de

capacitação da população. Dentro desse enfoque, o programa concentra suas ações na área de

desenvolvimento social, redução das desigualdades e promoção do trabalho.

Os Agricultores Familiares da comunidade apresentam muitas resistências para

utilizar a Casa de Farinha moderna e resolveram continuar produzindo a Farinha d’água e

Farinha branca nas casas de farinha antigas, abandonando assim, a nova casa de farinha da

1 Características definidas através de fatores do meio, tais como o clima, o relevo, a litologia, a temperatura, a humildade do ar, a rad iação, o t ipo de solo, o vento, a composição atmosférica e a precip itação pluvial. As condições edafoclimáticas são relativas à influência dos solos nos seres vivos, em part icular nos organismos do reino vegetal, incluindo o uso da terra pelo homem, a fim de estimular o crescimento das plantas. 2 O Projeto São José é um programa do Governo estadual do Ceará que visa combater a pobreza rural e o atraso da agricultura nos municípios com baixo IDH (SDR,1999, p.02).

Page 23: Tcc perfil da agricultura familiar

22 comunidade adquirida através do Projeto São José, o que despertou o interesse em estudar o

caso.

1.2 Problema da pesquisa

O presente trabalho aborda como problemática a busca por resposta à seguinte

indagação: Qual o perfil da agricultura familiar sob a perspectiva de sustentabilidade da

cadeia de produção de farinha de mandioca da comunidade do Córrego da Ramada, Trairi-

Ce?

1.3 Objetivos

Para responder ao questionamento identificado no problema esta pesquisa tem os

seguintes objetivos geral e específicos.

1.3.1 Objetivo Geral

Realizar um diagnóstico de modo a traçar o perfil da agricultura familiar sob a

perspectiva de sustentabilidade da cadeia de produção de mandioca, usando o caso da

comunidade do Córrego da Ramada, Trairi-Ce.

1.3.2 Objetivos Específicos

Conceituar agricultura familiar e contextualizar sua evolução no Brasil e no Ceará;

Definir desenvolvimento sustentável e abordar as suas dimensões;

Contextualizar a agricultura familiar como instrumento para desenvolvimento;

Apresentar a cadeia produtiva da mandioca e identificar como esta atividade pode ser

potencialmente desenvolvida no Ceará, como instrumento de desenvolvimento rural

sustentável;

Pesquisar o perfil socioeconômico e a situação em que se encontram os Agricultores

Familiares selecionados: idade, escolaridade e renda familiar, número de filhos da

comunidade do Córrego da Ramada – Trairi - Ce.

Page 24: Tcc perfil da agricultura familiar

23 1.4 JUSTIFICATIVA

No nordeste do Brasil a agricultura familiar se apresenta atrasada em relação a outras

regiões brasileiras, por isso a FKA coloca que os produtores familiares no Sul e no Nordeste,

se diferencia por que em média, a produtividade por estabelecimento da agricultura familiar

no Sul é seis vezes maior do que no Nordeste, sendo que a produtividade é cerca de oito vezes

maior do que no Nordeste. Isso se explica pela situação econômica precária das unidades da

agricultura familiar no Nordeste, já que o tamanho médio das unidades produtivas são bem

menores do que no sul. Verifica-se que a produção agropecuária em áreas de 5 a 10 ha, no

nordeste não garante a sobrevivência física (FUNDAÇÃO KONRAD ADENAUER, 2004, p.

26).

Conforme análise do desenvolvimento da agricultura familiar no Brasil tem-se

constatado que a organização e modernização é uma necessidade cada vez mais enfática

dentro do processo de fortalecimento dessa atividade, já que através da transformação dos

produtos agrícolas, é que se pode agregar valor e ampliar a renda dos AF.

A agricultura familiar é uma importante atividade econômica do município de Trairi

–Ce. Segundo a estimativa da população, realizada pelo IBGE para 2007-2008, divulgada

pelo Perfil Básico municipal publicado pelo (2009), 68,78% da população do município

residem na zona rural. Segundo o Perfil socioeconômico do município de Trairi (2009, p. 08),

“a estrutura fundiária do município não difere muito da realidade de outras regiões do estado,

onde existe uma predominância de propriedades com área inferior a 10ha, os chamados

minifúndios, e um pequeno número ocupando extensas áreas”. O que caracteriza a presença

massiva de agricultores familiar.

As grandes dificuldades de produzir, vender e adquirir insumos, bem como, a

ausência dos serviços essenciais à sobrevivência, como água potável, energia, educação,

saúde e etc, ao longo da história colaboraram para que os nordestinos fossem os maiores

contribuintes para o êxodo rural. O desenvolvimento da agricultura familiar vem colaborar

efetivamente para a manutenção das famílias no campo, para qualificar as condições de vida e

gerar segurança alimentar, conforme a Fundação Konrad Adenauer (2004).

Segundo o IBGE (2006), o município de Trairi está inserido na região do litoral oeste

do estado do Ceará, e é um dos maiores produtores de mandioca desse estado. Tem de acordo

Page 25: Tcc perfil da agricultura familiar

24 com o Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA, cerca de 5093 dapianos3, ou seja,

agricultores familiares (MDA, 2011, on line).

Com o fim de organizar a cadeia produtiva da mandioca na comunidade do Córrego

da Ramada, no município de Trairi-Ce, a mesma foi beneficiada com uma casa de farinha

modernizada no ano de 2008, totalmente mecanizada, dentro das especificações técnicas e

sanitárias exigidas. Contudo, de acordo com as observações realizadas, percebeu-se que a

referida casa de farinha não estava sendo usada pela comunidade, quebrando assim o processo

de organização da cadeia produtiva. A partir dessa situação, decidiu-se fazer tal pesquisa para

investigar as causas desse fato e analisar as conseqüências que o mesmo trará para a

comunidade.

1.5 Referencial teórico

1.5.1 Agricultura Familiar

Agricultura familiar só foi reconhecida por lei no ano de 2006, que estabeleceu as

diretrizes da política nacional para o setor e para os estabelecimentos rurais, quando foi

sancionada a Lei 11.326 (Brasil, 2006).

Os agricultores familiares possuem, em seu conjunto de práticas, técnicas de natureza

econômica, social e ambiental, ligados à realidade e finalidade do seu sistema de produção,

uso do solo e com as suas necessidades fundamentais. Destaca ainda que a combinação dos

objetivos familiares com o meio ambiente e a interação produtiva é que motiva cada um deles

às razões que admitem explicar por que agem de maneiras diferentes entre si e em

comparação ao agricultor capitalista (SUNDERHUS, 2008).

Esse autor afirma também que, para compreender a lógica da produção familiar, é

imperativo que impetremos uma visualização da autonomia produtiva com o grau de relação

familiar. É forçoso caracterizarmos as unidades produtivas através dos seus conceitos e

critérios que acolham as necessidades e interesses dos agricultores familiares. Tendo como

base estes critérios sócio-econômicos e ambientais, enfatiza-se que os sistemas de produção

familiar, os sistemas fundiários que permitem o acesso a terra e os sistemas de organização

sócio-familiares é que se configuram na incongruência da subordinação versus autonomia. E

assegura também que a lógica da produção familiar está focada na diversificação e integração

3 Agricu ltores familiares com Declaração de Aptidão ao PRONAF.

Page 26: Tcc perfil da agricultura familiar

25 de atividades vegetais, animais, de transformação primária e de prestação de serviços e, como

trabalham em pequenas áreas, pode ser a oportunidade para desenho de um modelo de

desenvolvimento de uma agricultura ecologicamente social, econômica e ambientalmente

correta e sustentável.

Tinoco (2006, p. 02 ) cita Bittencourt e Bianchini (1996) os quais dizem que:

Em um estudo feito na região sul do Brasil, adota-se a seguinte definição “Agricultor(a) familiar é todo(a) aquele (a) agricultor (a) que tem na agricultura sua principal fonte de renda (+ 80%) e que a base da força de trabalho utilizada no estabelecimento seja desenvolvida por membros da família. É permit ido o emprego de terceiros temporariamente, quando a atividade agrícola assim necessitar. Em caso de contratação de força de trabalho permanente externo à família, a mão-de-obra familiar deve ser igual ou superior a 75% do total utilizado no estabelecimento.”

As formas sociais de produção na agricultura, a superioridade dos grandes

estabelecimentos sobre os pequenos e médios, a maior eficiência do trabalho familiar em

relação ao trabalho assalariado, a supremacia das unidades de produção individuais sobre as

formas coletivas, são pautas de debates há muito tempo dentre os intelectuais e políticos do

mundo todo. Atualmente, o debate está cada vez mais presente no cenário internacional, e as

questões em torno da agricultura familiar conseguem uma dimensão universal (LAMARCHE,

1998, p.17).

Sobre esse tema, Abramovay relata que:

Existem dois preconceitos sem cuja superação é difícil avançar na discussão do tema proposto para esta mesa-redonda. O primeiro é o que assimila, confunde, transforma em sinônimos “agricultura familiar” e expressões como “produção de baixa renda”, “pequena produção” ou até mesmo “agricultura de subsistência”. O segundo é o que considera as grandes extensões territoriais trabalhadas por assalariados como a expressão mais acabada do desenvolvimento agrícola. Os dois preconceitos são evidentemente solidários e respondem pela visão tão freqüente de que, apesar de sua importância social, não se pode considerar a agricultura familiar como relevante sob o ângulo econômico (ABRAMOVAY, 1997, p. 01).

A FAO publicou em 1995 uma pesquisa baseada em grande parte nos documentos

que deram origem ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, apoiam

esta tendência internacional apontando com base em uma amostra que os estabelecimentos

patronais estariam entre 500 e 10.000 hectares, já os familiares entre 20 e 100 hectares, e que

o segmento familiar intensifica mais o uso do solo que o patronal. As lavouras são três vezes

mais importantes no segmento familiar e cinco vezes mais importantes quando se trata de

Page 27: Tcc perfil da agricultura familiar

26 lavouras permanentes. O segmento familiar possui o maior peso na produção de pequenos

animais, ainda que usando área muito menor, supera o patronal em 15 importantes produtos

agropecuários. Além disso, os rendimentos físicos da agricultura familiar são superiores aos

da patronal em mais da metade de suas atividades (ABRAMOVAY, 1997, p. 05).

1.5.2 Desenvolvimento rural sustentável

O Desenvolvimento rural sustentável é um conceito que surgiu na década de setenta,

tendo em vista a degradação ambiental, a extinção de espécies animais e vegetais, como

também o comprometimento da sobrevivência humana. (COSTABEBER e CAPORAL, 2000)

Define-se por Desenvolvimento rural sustentável um modelo econômico, político,

social, cultural e ambiental equilibrado, que satisfaça às necessidades das gerações atuais, sem

comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades. Esta

concepção começa a se formar e difundir junto com o questionamento do estilo de

desenvolvimento adotado, quando se constata que este é ecologicamente predatório na

utilização dos recursos naturais, socialmente perverso com geração de pobreza e extrema

desigualdade social, politicamente injusto com concentração e abuso de poder, culturalmente

alienado em relação aos seus próprios valores e eticamente censurável no respeito aos direitos

humanos e aos das demais espécies (CAVALCANTI , 1994. p. 61).

Almeida (1995, p. 41) coloca que:

A noção de desenvolvimento (rural) sustentável tem como uma de suas premissas fundamentais o reconhecimento da “insustentabilidade” ou inadequação econômica, social e ambiental do padrão de desenvolvimento das sociedades contemporâneas (Schmitt, 1995). Esta noção nasce da compreensão da finitude dos recursos naturais e das injustiças sociais provocadas pelo modelo de desenvolvimento vigente na maioria dos países.

A agricultura familiar e o desenvolvimento rural sustentável estão intrinsecamente

ligados, dependendo um do outro, visto que, segundo Costabeber e Caporal, (2003, p. 01),

A agricultura familiar se apresenta como um segmento que tem sérias dificuldades para sua reprodução social, ao mes mo tempo em que representa a forma de organização mais adequada para potencializar o desenvolvimento agrícola e rural. Nesse contexto, exemplifica-se esse potencial a partir da indicação de algumas estratégias que vêm sendo adotadas pela Extensão Rural do serviço público no Rio Grande do Sul, nos últimos 4 anos. Conclui-se pela necessidade imediata de novas descobertas científicas e produção tecnológica que considere a diversidade biológica e sociocultural presente no rural, o que coloca nas mãos das Universidades, Escolas Agrárias e Institutos de Pesquisa uma importante parcela da responsabilidade que

Page 28: Tcc perfil da agricultura familiar

27

tem o Estado de promover processos de Desenvolvimento Rural compatíveis com o imperativo ambiental e com as expectativas sócio-econômicas e culturais daqueles segmentos da população que até agora ficaram marg inalizados das políticas públicas. Porém, essa produção de conhecimentos e tecnologias, para ser útil e não ser inerte, precisa estar associada organicamente, no seu planejamento, execução e avaliação, ao público a quem se dirige, pois já se assistem novos riscos derivados do processo de ecologização em curso.

Costabeber e Caporal, (2003, p. 02) diz ainda que:

Um conceito oficial de Desenvolvimento Sustentável surge, nesse contexto, a partir do Relatório Brundtland, em 1987 (CMMAD, 1992), onde o crescimento econômico passa a ser contrastado com a noção de sustentabilidade e se difunde a idéia de que, para ser sustentável, o desenvolvimento necessita compatibilizar crescimento econômico, d istribuição da riqueza e preservação ambiental, tarefa considerada por muitos como inviável ou mesmo impossível. Conforme essa orientação, o “desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades da geração presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras para satisfazer suas próprias necessidades”. Segundo o mesmo relatório, esta definição encerra em si outros dois conceitos fundamentais: i) o conceito de necessidades, em part icular as necessidades essenciais dos pobres, as quais se deveria outorgar prioridade preponderante; e ii) a idéia de limitações impostas pelo estado da tecnologia e a organização social entre a capacidade do meio ambiente para satisfazer as necessidades presentes e futuras. O desenvolvimento sustentável implica, ademais, uma transformação progressiva da economia e da sociedade, aumentando o potencial produtivo e assegurando a igualdade de oportunidades para todos. A grande dificuldade que esse conceito nos traz reside na palavra necessidades, que, por ser uma construção social, varia segundo as pessoas e a sociedade em que vivem. Como se verá mais adiante, essa dificuldade conceitual resulta na conformação de distintas correntes do Desenvolvimento Sustentável, com repercussões nas orientações que definem as possibilidades e concepções de DRS e de Agricu ltura Sustentável.

A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,

realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992 (a Rio 92), veio dar início ao grande debate

onde se aprovou uma série de documentos importantes, dentre os quais a Agenda 21, um

plano de ação mundial para orientar a transformação desenvolvimentista, identificando, em 40

capítulos, 115 áreas de ação prioritária. A Agenda 21 apresenta como um dos principais

fundamentos da sustentabilidade o fortalecimento da democracia e da cidadania, através da

participação dos indivíduos no processo de desenvolvimento, combinando ideais de ética,

justiça, participação, democracia e satisfação de necessidades. O processo iniciado no Rio em

92, reforça que, antes de se reduzir a questão ambiental a argumentos técnicos, devem-se

consolidar alianças entre os diversos grupos sociais responsáveis pela catalisação das

transformações necessárias (CAVALCANTI. 1994. p. 09).

Dentre os focos discriminados na Agenda 21, podemos destacar:

Cooperação internacional

Page 29: Tcc perfil da agricultura familiar

28

Combate à pobreza

Mudança dos padrões de consumo

Habitação adequada

Integração entre meio ambiente e desenvolvimento na tomada de decisões

Proteção da atmosfera

Abordagem integrada do planejamento e do gerenciamento dos recursos terrestres

Combate ao desflorestamento

Manejo de ecossistemas frágeis: a luta contra a desertificação e a seca

Promoção do desenvolvimento rural e agrícola sustentável

Conservação da diversidade biológica

Manejo ambientalmente saudável dos resíduos sólidos e questões relacionadas com os

esgotos

Fortalecimento do papel das organizações não-governamentais: parceiros para um

desenvolvimento sustentável

Iniciativas das autoridades locais em apoio à agenda 21

A comunidade científica e tecnológica

Fortalecimento do papel dos agricultores

Transferência de tecnologia ambientalmente saudável, cooperação e fortalecimento

institucional

A ciência para o desenvolvimento sustentável

Promoção do ensino, da conscientização e do treinamento

Para Almeida (1995, p. 52), o grande desafio pode residir na aptidão das forças

sociais envolvidas na procura de outras formas para o desenvolvimento de imprimir sua marca

nas políticas públicas, a fim de que estas venham a afirmar política econômica e socialmente a

opção pela agricultura familiar, forma social de uso da terra que responde muito bem a noção

de sustentabilidade e as carências locais, regionais e do país. As causa das vitórias das

iniciativas atuais na busca de um novo e diferente modo de desenvolvimento reside na razão

direta dos resultados alcançados nesta direção, isto é, através do fortalecimento dos processos

organizativos da agricultura familiar nas suas diferentes formas associativas.

Page 30: Tcc perfil da agricultura familiar

29 1.5.3 Cadeia Produtiva da mandioca

Cadeia produtiva é o processo constituído por etapas consecutivas, nas quais

insumos pertinentes à cadeia passam por certa transformação, para atingir seu grau de

produto final (bem ou serviço) e sua instalação no mercado (MIELKE, 2002 apud

WIKIPEDIA, 2011, on line).

Sobre a cadeia produtiva da mandioca, pode-se dizer que:

A cadeia produtiva envolve desde a fabricação de insumos, a produção nas fazendas, a sua transformação até o seu consumo. Esta cadeia incorpora todos os serviços de apoio, desde a pesquisa e assistência técnica, processamento, transporte, comercialização, crédito, exportação, serviços portuários, dealers, bolsas, industrialização, até o consumo final. O valor agregado do complexo agroindustrial passa, obrigatoriamente, por 5 mercados: o de suprimento; o de produção propriamente dito; o do processamento; o de distribuição; e “o do consumidor final” (SEBRAE-MT, 2003, p. 17).

Conforme o Sebrae-MT, 2003, a mandioca compõe um dos principais alimentos

energéticos para aproximadamente 500 milhões de pessoas, especialmente nos países em

desenvolvimento, nos quais é cultivada em pequenas áreas com baixo nível tecnológico. Ao

todo, são mais de noventa países produtores (SEBRAE-MT, 2003, p. 23).

1.6 Metodologia

Os procedimentos metodológicos servem para apresentar e detalhar os passos da

pesquisa, indicar os caminhos seguidos, as características técnicas e instrumentos

empregados, como foram selecionadas as amostras e o percentual estudado, apresentar os

instrumentos utilizados e demonstrar como se deu o tratamento e a análise dos dados

coletados.

Com o fim de realizar o levantamento de dados como referencial teórico e dados

estatísticos para compor a pesquisa, foram utilizados os passos metodológicos descritos a

seguir.

Page 31: Tcc perfil da agricultura familiar

30 1.6.1 Método da abordagem

Foi aplicado nessa pesquisa o método de estudo de caso, numa abordagem qualitativa

e quantitativa, utilizando estatística descritiva e análise de conteúdo. Segundo Yin (2001, p.

205), a pesquisa, em forma de estudo de caso, investiga fenômenos contemporâneos dentro de

sua realidade, fundamenta-se nas diferentes fontes de evidências reais. Para tanto, foram

utilizados procedimentos exploratório e descritivo: exploratório visto que buscou alçar

questões para este estudo, e descritivo, por incluir acontecimentos e fatos de certas realidades

dentro do setor da agricultura familiar. Para a análise quantitativa dos dados, foram

empregados recursos para elaborar planilhas e gráficos com base no software Excel.

1.6.2 Classificação da pesquisa

Esta pesquisa se classifica como bibliográfica, pois, conforme Gil (1999, p. 48), a

pesquisa bibliográfica é toda pesquisa “desenvolvida a partir de material elaborado,

constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Os dados do material preparado

compreenderam artigos publicados em eventos, dissertações, teses, livros e reportagens

divulgadas sobre temas de Agricultura familiar, desenvolvimento rural sustentável e cadeia

produtiva da mandiocultura.

Vergara (2000, p. 48), diz que pesquisa bibliográfica:

É o estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado em liv ros, revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral. Fornece instrumental analít ico para qualquer outro tipo de pesquisa, mas também pode esgotar-se em si mes ma. O material publicado pode ser fonte primária ou secundária.

Para que se construa uma pesquisa muito bem fundamentada é necessário obter

muita informação inerente ao assunto da análise. Para tanto, a pesquisa bibliográfica vem

corroborar imensamente para que se possa conhecer as diversas opiniões dos autores que se

ativeram a investigar o mesmo assunto.

Page 32: Tcc perfil da agricultura familiar

31 1.6.3 Procedimentos metodológicos

Realizou-se também uma pesquisa documental em jornais, revistas e sites para

conhecer os diversos trabalhos publicados e utilizá- los como referencial teórico, sobre

agricultura familiar, desenvolvimento rural sustentável e cadeia da mandiocultura. Gil (2002,

p.45) afirma que “a pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um

tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da

pesquisa”.

1.6.4 Método de Análise

Gil (1999) e Triviños (1992) acentuam que de acordo com Husserl (19--), o método

fenomenológico não é dedutivo nem indutivo. Este se preocupa em fazer a descrição direta da

experiência da forma como ela se apresenta. A realidade é estabelecida socialmente e

percebida como o compreendido, o interpretado, o comunicado. Desse modo, a realidade não

pode ser considerada única: pode existir uma diversidade de acordo com as suas

interpretações e comunicações. O protagonista é considerado importante no processo de

construção do conhecimento Esse método foi utilizado por fazer entender e respeitar como se

apresentam as sociedades, sua cultura e os fenômenos que ocorrem no seu seio.

Com relação à utilização de métodos e técnicas de análise de dados, na procura de

consolidar os dados quantitativos, foi aplicado o método descritivo de distribuição de

freqüência, apoiado pelo software Excel. Os dados colocados no software foram apresentados

em forma de gráficos estatísticos, o que viabiliza a melhor visualização dos resultados.

Anderson et al (2002, p. 39) apontam que “uma distribuição de freqüência é um sumário

tabular de dados que mostra o número de observações em cada uma das diversas classes não

sobrepostas”. A finalidade da estatística descritiva é gerar a sintetização e a exposição de

dados numéricos para possibilitar um melhor entendimento dos dados (LEITE, 2004), através

do uso de gráficos, para melhor esclarecer os dados sobre os agricultores familiares e a cadeia

produtiva da mandioca.

Os métodos como as técnicas são aconselhados tanto para as pesquisas quantitativas

quanto qualitativas (VERGARA, 2005), no caso deste estudo, caracterizando-se,

especialmente, pela exigência de categorias fatigantes, reciprocamente específicas, práticas e

pertinentes, pela possibilidade que proporciona ao tratamento e armazenamento de grande

Page 33: Tcc perfil da agricultura familiar

32 quantidade de dados, permanecendo a sua interpretação, entretanto, na responsabilidade do

pesquisador.

1.6.5 Instrumento de coleta de dados

Os dados primários foram coletados por meio de formulários de entrevista semi-

estruturada e em penetração, aplicados aos agricultores familiares. “O formulário é um dos

instrumentos essenciais para a investigação social, cujo sistema de coleta consiste em obter

informações diretamente do entrevistado” (LEITE, 2004, p.187).

A coleta de informações abarca outros possíveis vieses, já que as entrevistas estão

sujeitas a vieses tanto na resposta do entrevistado quanto na interpretação do pesquisador.

Finalmente, o uso de amostras pequenas pode não permitir uma generalização confiável em

virtude da ausência de controle estatístico sobre as variáveis relevantes. O roteiro de

entrevista semi-estruturada constitui o Apêndice A.

O indicador de pessoas entrevistadas não pode ser deliberado a priori, já que a

quantidade das entrevistas pode comprometer a qualidade das informações conseguidas em

cada depoimento, assim como, o grau de multiplicação e desavença entre as informações

obtidas (DUARTE, 2002 apud OLIVEIRA, 2006, p. 70).

Segundo Selltiz (1974, p. 272), “A entrevista é a técnica mais adequada para

revelação da informação sobre assuntos complexos, emocionalmente carregados ou para

verificar os sentimentos subjacentes a determinada opinião apresentada”.

Após a escolha do instrumento de pesquisa e escolha da amostra, procedeu-se a

distribuição e aplicação dos questionários na comunidade.

1.6.6 A coleta de dados

Conforme informações da Associação Comunitária dos Moradores do córrego da

Ramada - ACMCR (2011), a região, universo da pesquisa, possui cerca de 145 famílias que se

dedicam à agricultura familiar, sendo que todos praticam a mandiocultura.

A coleta de dados realizou-se em duas etapas. A primeira refere-se à elaboração de

material, tendo como fonte a pesquisa bibliográfica, enquanto a segunda corresponde à coleta

de dados primários, realizada por meio da pesquisa de campo. A execução destas etapas se

deu entre os meses de novembro a dezembro de 2011.

Page 34: Tcc perfil da agricultura familiar

33

O período de aplicação do formulário de entrevista ocorreu entre os dias 1º a 15 de

novembro de 2011, aplicados pelo entrevistador. A aplicação teve duração aproximada de 1

hora por entrevistado, o que permitiu a obtenção de todas as informações imprescindíveis para

aprontar o estudo.

A população-alvo ou universo consiste nos agricultores familiares da comunidade de

Córrego da Ramada, situada no município de Trairi-Ce. Uma comunidade de agricultores, que

tem na agricultura seu principal meio de sobrevivência. O universo, ou população, significa o

grupo de elementos que possuem as características que serão objeto do estudo (VERGARA,

2004 apud OLIVEIRA, 2006, p. 69).

A amostra, ou população amostral, é uma parcela do universo recomendado,

selecionado a partir de um critério de representatividade (VERGARA, 2004 apud

OLIVEIRA, 2006, p. 69). Ao delimitar a pesquisa, optou-se por estudar uma amostra,

representada por 20 (vinte) agricultores familiares da comunidade, foco da pesquisa.

No segundo momento da análise, empregou-se a técnica de Análise de Conteúdo,

indicada por Bardin (1977), com o desígnio de aferir maior entendimento das análises. Esse

procedimento busca separar os riscos da compreensão espontânea e lutar contra a

proeminência do saber subjetivo, segundo Bardin (1977). Para tanto, faz-se necessário muita

atenção e um bom roteiro metodológico e o emprego de técnicas, apresentando-se muito mais

útil para os pesquisadores das ciências humanas, quanto mais ele tenha sempre uma impressão

de familiaridade em face do seu objeto de análise.

Bardin (1977, p. 115) pondera a análise de conteúdo como um conjunto de técnicas

de análise das comunicações, objetivando conseguir, por procedimentos sistemáticos e

finalidade de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores que admitam a dedução de

conhecimentos referentes às condições de produção e recepção destas mensagens.

Na coleta de dados, destacaram-se como preocupações: averiguar o perfil dos

agricultores e da mandiocultura na comunidade; analisar as casas de farinha tradicionais e

modernas e o nível de satisfação dos agricultores, bem como a opinião destes a respeito da

estrutura de tais casas e da qualidade da farinha produzida nelas; indagar acerca da satisfação

com os equipamentos das casas de farinha tradicional e moderna; procurar entender sobre as

vantagens e desvantagens da casa de farinha tradicional e da moderna; saber se existe

diferença entre as despesas de produção e se há diferença no preço de comercialização do

produto nos dois casos; pesquisar qual tipo de farinha tem mais venda; descobrir as diferenças

da farinha produzida tradicionalmente e a produzida na nova casa de farinha; perceber o nível

de satisfação geral dos agricultores com as casas de farinha tradicional e com a modernizada.

Page 35: Tcc perfil da agricultura familiar

34 1.7 Estrutura do trabalho

Quanto à estrutura do presente trabalho, seu desenvolvimento obedeceu à seguinte

sequência: primeiramente na seção 2, procedeu-se uma exposição acerca dos aspectos

conceituais sobre agricultura familiar e suas características.

Na seção 3, demonstram-se os aspectos conceituais sobre desenvolvimento agrícola

sustentável.

Na seção 4, é feita uma descrição da cadeia de produção da mandioca, descrevendo o

conceito de cadeia produtiva, composição de cadeia de produção e cadeia produtiva da

mandioca.

Na seção 5 é apresentado o estudo de caso da cadeia produtiva da mandioca na

comunidade de Córrego da Ramada em Trairi-Ce.

Por ultimo, na seção 6, é feita a analise e interpretação dos dados da pesquisa.

Traga um desfecho à sua introdução, apresentando de forma breve seu interesse em

contribuir para o avanço das pesquisas sobre o tema, oferecendo subsídios à futuras pesquisas

sobre o desenvolvimento sustentável e a agricultura familiar.

Page 36: Tcc perfil da agricultura familiar

35 ASPECTOS CONCEITUAIS SOBRE AGRICULTURA FAMILIAR E SUAS CARACTERÍSTICAS

A presente seção pretende fazer uma apresentação das características dos

empreendimentos agrícolas, do conceito da agricultura familiar, da evolução da agricultura

familiar no Brasil e no Ceará, da caracterização dos empreendimentos familiares, da gestão de

empreendimentos familiares e da agricultura familiar e sua relevância na economia cearense.

Através desses tópicos poder-se-á ter uma breve visão histórica da agricultura

familiar, das idéias conceituais que permeiam o contexto das pesquisas desse assunto,

conhecer suas características, sua relevância e modelos de gestão adotados e os necessários.

2.1 Caracterização dos empreendimentos agrícolas

Os empreendimentos agrícolas são os entes responsáveis pela produção de alimentos

no campo. Conforme Duarte, (2010, p. 45) “A agricultura foi tipificada em dois seguimentos -

patronal e familiar – com base nos estudos realizados conjuntamente pela Organização das

Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e pelo INCRA – Instituto Nacional

de Colonização e Reforma Agrária.

Segundo o Censo Agropecuário, o IBGE (2006) qualifica como estabelecimento

agropecuário: Toda unidade de produção dedicada, total ou parcialmente, a atividades

agropecuárias, florestais e aquícolas, subordinada a uma única administração: a do produtor

ou a do administrador.

Hoffmann e Ney (2010, p. 9) descrevem que além das unidades voltadas à produção

comercial e de subsistência, são considerados como empreendimentos agrícolas recenseáveis

os hortos, reformatórios, asilos, escolas profissionais, hotéis fazendas e locais para lazer,

desde que tenham algum tipo de exploração agropecuária, florestal ou aquícola, com exceção

dos quintais de residência com pequenos animais e hortas domésticas.

A área dos empreendimentos declarada na PNAD diz respeito a uma unidade de

posse e não necessariamente de propriedade. Os empreendedores agrícolas podem ser

proprietários, posseiros, parceiros, arrendatários e outras condições (IBGE, 2008 apud

HOFFMANN e NEY, 2010, p. 12).

Segundo Schultz os estabelecimentos agrícolas têm características próprias de

organização interna, de repartição do trabalho, bem como de inserção no mercado e no

ambiente de forma geral. Tais características de produção peculiares são originárias das

Page 37: Tcc perfil da agricultura familiar

36 condições sociais e culturais, diferenciando-se dos modos de produção empresariais

tecnicamente administrados. Os seus pequenos negócios agrícolas são geridos com

racionalidades próprias, distinguido-se geralmente, de outras unidades com características

idênticas (SCHULTZ, 2001, p. 02).

De acordo com as explanações dos autores citados acima, os estabelecimentos

agrícolas são complexos e variam conforme sua localização e sua administração. Cada um

possui suas características próprias, podem ser unidades pequenas, médias e grandes, sendo

que os estabelecimentos da agricultura familiar são geralmente pequenos.

Diante do conhecimento acerca dos estabelecimentos agrícolas, é relevante que o

conceito de agricultura familiar seja explicado afim de que se possa ter uma visão das

peculiaridades das unidades produtivas familiares.

2.2 Conceito de agricultura familiar

Conforme Schultz (2001, p. 03), os agricultores familiares são conhecidos também

como colonos, pequenos agricultores, camponeses e ou pequenos produtores rurais. Afirma-se

ainda, que fundamentalmente os conceitos divergem entre si, quando relacionados à origem e

o objetivo para que foram criados. Têm ainda conceitos que possuem visões procedentes da

área sociológica, ou da área econômica, de órgãos governamentais e de organismos

internacionais.

Segundo o autor acima, há uma série de origens dos conceitos. A FAO publicou um

estudo com base no Censo Agropecuário de 1985, publicado em 1996, o qual definiu como

familiares aqueles agricultores com um empregado permanente. Já o Ministério da

Agricultura, baseou-se no PRONAF, e ponderou como familiares todos os agricultores que

possuem até dois empregados permanentes e detinham área inferior a quatro módulos fiscais.

Afirma também que a CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais)

“considera como familiares todos os agricultores que trabalham em menos de quatro módulos

fiscais e que não contratem mão-de-obra permanente” (SCHULTZ, 2001, p. 03).

Antes de usar consensualmente a expressão Agricultura Familiar, até meados dos anos 1990, falava-se em “pequena produção”, “pequena agricultura”, “agricultura de baixa renda” ou até “de subsistência”, expressões que indicavam frag ilidade e falta de perspectivas. Praticamente metade dos estabelecimentos familiares, os 2,8 milhões correspondentes aos segmentos mais pobres, produzem apenas 7,7% do valor bruto da produção agropecuária (FUNDAÇÃO KONRAD ADENAUER, 2004, p. 25)

Page 38: Tcc perfil da agricultura familiar

37

Schultz (2001, p. 03) cita Abramovay (1997) e apresenta como definição para

agricultura familiar: aquela em que a gestão, a propriedade e a maior parte do trabalho vêm de

indivíduos que mantêm entre si laços de sangue ou de casamento. Narra também que esta

definição não é única nem operacional sendo corretamente inteligível, uma vez que os

diversos setores sociais têm construído categorias científicas com o fim de servir a algumas

finalidades práticas: a definição de agricultura familiar, para fins de atribuição de crédito,

pode não ser exatamente a mesma daquela estabelecida com finalidades de quantificação

estatística num estudo acadêmico. O importante é que estes três atributos básicos (gestão,

propriedade e trabalho familiares) estão presentes em todas elas.

Percebe-se que os diversos autores ainda não chegaram a um consenso acerca do

conceito de agricultura familiar. No entanto, há que se concluir que esta categoria possui

características bem definidas e uma organização produtiva capaz de impactar a econômica

local e nacional, como também os costumes e práticas voltadas para o setor agrícola.

Jalcione (1998 apud SCHULTZ, 2001, p. 04) destaca seis estratégias dos pequenos

agricultores: 1. Buscam u ltrapassar a ruptura entre as funções de produção e aquelas de transformação e de comercialização dos produtos, utilizando-se para isso a comercialização direta e a d iversificação das atividades produtivas; 2. São caracterizados por um procedimento que consiste em romper com a separação entre o agrícola e o não agríco la, produzindo produtos não alimentares, ou através de atividade de complemento da renda fora da propriedade; 3. Os agricultores buscam incorporar novas produções ao seu sistema tradicional, diversificando as produções, visando assegurarem a entrada de dinheiro ao longo do ano (porcos, galinhas, piscicultura, hortícolas, etc.); 4. Div isão clara das atividades agrícolas dentro da propriedade, integrando estas a vida familiar, como por exemplo, a mulher torna-se responsável pelo leite, manutenção do lar, o agricultor assegura a ligação com os mercados. 5. São os que procuram manter as práticas tradicionais e um maior respeito ao meio ambiente; 6. Busca uma auto-organização, através de grupos, cooperativas ou associações.

Finalmente, fala que estes tipos de estratégias se cruzam entre si, possibilitando o

encontro de muitos elementos idênticos nos vários modos de produção.

Schultz cita também em seus relatos Carrieri et al (1993) o qual delineia que as

diferenças entre os processos de gestão de unidades de produção familiares e empresas

capitalistas são essenciais. Diz que o pequeno agricultor não procura organizar suas atividades

produtivas para obter lucro, o seu único objetivo visa à satisfação das necessidades sociais do

seu grupo familiar.

Page 39: Tcc perfil da agricultura familiar

38

Contudo, diferentemente, o empresário organiza o seu trabalho visando sempre o

lucro, colocar bem os seus produtos no mercado, administrar o seu empreendimento

tecnicamente, sempre focado na divisão eficiente do trabalho e no controle dos custos, mão de

obra e capital (CARRIERI et al.,1993 apud SCHULTZ, 2001, p. 04).

Schultz diz que:

No modo de produção familiar existe uma unidade de trabalho, produção e consumo, sendo que esta unidade orienta as ações dos agricultores, sendo que o trabalho no processo produtivo é realizado por todos os membros da família. A produção é realizada para autoconsumo e o mercado é considerado o local onde o agricultor comercializa os excedentes e adquire os produtos que não produz e repõe os seus meios de produção, ocorrendo assim uma forma de produção com uma racionalidade própria que se distingue da racionalidade empresarial capitalista (Chayanov, 1974; Heredita, 1979; Garcia, 1989; Ribeiro, 1989 apud Carrieri et al, 1993). Ainda segundo este mesmo autor, o empresário assume as funções decisivas dentro da sua atividade econômica, enquanto que no modo de produção familiar é o grupo familiar que assume as funções e é responsável como um todo pelas decisões e ações do seu processo produtivo (SCHULTZ, 2001, p. 04).

Seguindo os ensinamentos de Altieri (1989 apud SCHULTZ 2001, p. 04) coloca que

os pequenos agricultores usam como estratégia produtiva, a lógica da diversificação e dos

policultivos, visualizando uma dieta diversificada, geração de renda satisfatória, estabilidade,

tendo a subsistência e a diminuição dos riscos como objetivos principais; com isso eles

preferem preservar a posse da terra, a qual é o principal meio de produção do sustento da sua

família, do que alcançar um maior retorno financeiro e maiores lucros.

Com relação ao conceito de agricultura familiar Schultz (2001), traz à baila que:

Patriarca (1998) apresenta o conceito de agricultura familiar utilizado pela Embrapa como sendo “caracterizada por uma forma de organização da produção em que os critérios utilizados para orientar as decisões relativas à exploração não são vistos unicamente pelo ângulo da produção e rentabilidade econômica, mas considera também as necessidades e objetivos da família. Ao contrário do modelo patronal, no qual há completa separação entre gestão e trabalho, no modelo familiar estes fatores estão intimamente relacionados” (SCHULTZ , 2001, p. 04-05).

Os escritos de Schultz (2001) relatam que são muitos os fatores que diferenciam as

unidades de produção empresariais das unidades de produção familiares. Estas devem ser

consideradas sem qualquer estudo das práticas agrícolas e administrativas, que estejam

relacionadas com os aspectos comportamentais e com as intenções e alvos dos sistemas de

produção aspirados pelos produtores. Tais aspectos já foram estudados em várias áreas das

Page 40: Tcc perfil da agricultura familiar

39 ciências sociais e humanas. Notadamente, a área da administração rural possui uma carência

maior de abordagens especiais para interferir adequadamente neste tipo produção agrícolas.

Ainda nesses mesmos estudos, Carrieri (1993 apud SCHULTZ 2001, p. 05), os quais

confirmam certas confusões que acontecem nas abordagens metodológicas empregadas no

meio rural, as quais tratam as diversas unidades de produção agrícolas homogeneamente,

como sendo de caráter capitalista, tendo os mesmos objetivos e tratando os agricultores, como

se tivessem comportamento igual. Ele completa asseverando que as distintas formas de

produção no meio rural, não são contempladas pela administração rural (SCHULTZ, 2001, p.

05).

Por fim, Schultz (2001, p. 05) ressalta que:

As relações de produção que caracterizam a agricultura familiar, tais como a indissociabilidade entre decisão e ação, ou trabalho e gestão e as diversas racionalidades em que se estabelecem as práticas operacionais e estratégicas, sofrem fortes pressões oriundas do mercado, que podem causar conflitos quando se busca uma inserção competitiva adequada. Isto ocorre por se tratar de modos de produção opostos (familiar e capitalista), tendo-se, portanto o desafio de se harmonizar estas diferentes visões, para que não ocorra o rompimento do equilíbrio das relações familiares, que provoque o fracasso das atividades produtivas e relações conflituosas no meio rural, criando-se assim mais barreiras para a inserção dos diversos tipos de agricultura com posicionamentos condizentes, tanto com suas realidades quanto com as características do ambiente de negócios.

Seguindo também o mesmo pensamento, ao citar Salazar (1998) assenta que este

autor deposita que tradicionalmente, nas ciências de gerência empresarial, são empregadas as

palavras “doutrina” e “teoria” com o fim de se instituir as regras que venham servir para todas

as empresas.

Apesar dos agricultores terem características semelhantes, cada um possui vida

própria e métodos particulares. A agricultura familiar não pode ser tratada como

empreendimento capitalista, uma vez que a conduta desse segmento difere muito dos

capitalistas, posto que, primeiramente não tem o lucro como principal objetivo. Contudo

apesar disso, todo empreendimento necessita ter rendimentos para crescer e se tornar um

viável e sustentável. É o lucro que contribui para as melhorias do empreendimento, sem ele

não há como realizar investimentos em tecnologias, capacitação, e estruturação física.

Mediante a análise das características e dos conceitos desse importante segmento

econômico, há que se conhecer melhor a evolução da agricultura familiar no Brasil a fim de

que se possa compreender o seu comportamento e as causas e conseqüências desse setor para

a população brasileira.

Page 41: Tcc perfil da agricultura familiar

40 2.3 Evolução agricultura familiar no Brasil

Segundo Felício (2006 apud OLIVEIRA et al., 2010, p. 4), menciona que a

agricultura familiar se faz presente no mundo desde a origem dos primeiros grupos humanos

sedentários, tendo a família, como proprietária dos meios de produção, é responsável pelo

trabalho no estabelecimento produtivo rural.

Os mesmos autores apontam que a agricultura familiar é responsável por grande

parte da produção agrícola no Brasil e tem um grande peso nesse setor, já que, conforme o

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS) a agricultura familiar no

Brasil é responsável por mais de 40% do valor bruto da produção agropecuária. Suas cadeias

produtivas correspondem a 10% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) do país, além disso, é

responsável pela maioria dos alimentos na mesa dos brasileiros (OLIVEIRA et al., 2010, p.

8).

Esses autores falam também que, de acordo com o Censo Agropecuário de 2006,

foram catalogados no Brasil mais de quatro milhões e trezentos e sessenta mil

estabelecimentos da agricultura familiar, representando 84,4%dos estabelecimentos rurais

brasileiros. E ainda conforme o Censo, existem 12,3 milhões de pessoas trabalhando na

agricultura familiar, correspondendo a 74,4% do pessoal ocupado no total dos

estabelecimentos agropecuários (OLIVEIRA et al., 2010, p. 8).

Sabe-se que há uma extensa representatividade dos agricultores familiares no campo,

mas, a área ocupada por esses importa apenas 24,3% da área ocupada pelos estabelecimentos

agropecuários brasileiros. Deste modo, o IBGE (2006) afirma que esses resultados indicam

uma estrutura agrária ainda concentrada no País, onde, os estabelecimentos não familiares,

mesmo que representem 15,6% do total dos estabelecimentos, ocupavam 75,7% da área

utilizada. Entretanto, não obstante de cultivar uma área menor com lavouras e pastagens, a

agricultura familiar é uma respeitável fornecedora de alimentos para o mercado interno e

garanti parte da segurança alimentar do país (OLIVEIRA et al., 2010, p. 8).

Conforme se vê acima, a agricultura familiar é um importante segmento produtivo

no Brasil, mesmo não ocupando uma área territorial significativa. Apesar das grandes

propriedades serem exploradas pelo agronegócio, e sendo em quantidade bem inferior ao

número de estabelecimentos familiares, estes têm a agricultura familiar como um forte

concorrente, uma vez que sua forma de organização contribui para o barateamento dos custos

de produção, já que usa a mão-de-obra familiar de forma coletiva e solidária.

Page 42: Tcc perfil da agricultura familiar

41

De acordo com um estudo realizado pela Organização das Nações Unidas para a

Alimentação e Agricultura (FAO, 2007) acerca da abertura comercial e a agricultura familiar,

a qual mostra que as políticas encaminhadas à agricultura familiar no Brasil não consideram a

importância do setor, sendo desarticulada dos mecanismos de incentivo e com problemas de

sustentabilidade. Através desse estudo foi também analisado o Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), evidenciando que sozinho esse programa

não é capaz de criar as condições indispensáveis para o fortalecimento da agricultura familiar

(OLIVEIRA, et al., 2010, p. 9).

Com relação às dificuldades da agricultura familiar durante sua evolução no Brasil,

Oliveira, et al., (2010, p. 9) citam:

Batalha et al. (2009) mostra ainda as dificuldades enfrentadas pela agricultura familiar brasileira. Um deles é quanto à modernização da agricultura no Brasil, tendo em vista a baixa adoção de novas tecnologias na produção, principalmente pelo produtor familiar. Esse problema é representado, sobretudo, pela falta de capital dos agricultores familiares, a resistência na adoção de novas tecnologias ou até mes mo pela falta de conhecimento, o que reflete numa produtividade inferio r a média nacional. Contudo, segundo os autores, essa situação vem se alterando gradativamente devido às exigências do mercado consumidor.

Conforme o artigo “Agricultura familiar do agronegócio do leite em Rondônia,

importância e características” o qual cita Batalha et al., (2009), em respeito a assistência

técnica afirma:“que apesar de estar disponível para grande parte dos produtores rurais no

Brasil, essa assistência é incapaz de atender às necessidades do agricultor”. Uma vez que não

atendem as expectativas e condições de cada produtor (OLIVEIRA, et al., 2010, p. 9).

O artigo citado acima menciona ainda que as políticas de crédito são um importante

instrumento de modernização da agricultura familiar, pois possibilitam a aquisição de

maquinário e insumos necessários ao processo produtivo. Mas, no Brasil, essas políticas não

têm sido implementadas, mesmo existindo um leque de recursos institucionais que obrigam

que o valor definido pelo Conselho Monetário Nacional e disponibilizado por instituições

estatais, como o Banco do Brasil são ineficientes e burocráticos quanto à concessão, sendo as

condições de pagamento inadequadas, dessa forma não atendendo a muitos pequenos e

médios produtores rurais (BATALHA et al., 2009 apud OLIVEIRA. et al., 2010, p. 9).

Page 43: Tcc perfil da agricultura familiar

42 Esses autores firmam que diante desses aspectos:

Verifica-se a falta de polít icas públicas que contribuam para o desenvolvimento da agricultura familiar no Brasil. Muller (2007) afirma que o debate estabelecido sobre a relação Estado-Agricultura Familiar no caso brasileiro toma uma d ireção bem diferente daquela dos países de capitalismo avançado, devido, sobretudo, à falta que há de incentivos à agricultura familiar. Portanto, segundo a autora, é preciso que o Estado se faça mais presente com polít icas públicas para manutenção e fortalecimento da agricultura familiar (OLIVEIRA, et al., 2010, p. 9).

Conforme o exposto nos parágrafos acima, compreendem-se que muitos autores

consideram as políticas do estado destinadas ao desenvolvimento da agricultura familiar no

Brasil, são muito tímidas e ineficientes. Contudo, nos últimos anos, notadamente após o inicio

do governo Lula, o Brasil passou por transformações significativas, sendo que os

investimentos no PRONAF cresceram muito nos últimos anos e de certa forma contribuem

para o crescimento do setor, como apresenta o quadro abaixo.

Quadro 1 - Valores aplicados e Anunciados no PRONAF (R$ mil) a partir da safra 1999/2000

Ano-Safra

Valor Programado

Valor Aplicado Aplicado/ programado (% )

Valor aplicado deflacionado IGP-DI*

1999/2000 3.460.000 2.149.434 62,1 4.025.588.612 2000/01 4.040.000 2.168.486 53,7 3.698.567.518 2001/02 4.196.000 2.189.275 52,2 3.382.361.863 2002/03 4.190.000 2.376.465 56,7 2.904.474.769 2003/04 5.400.000 4.490.478 83,2 5.097.087.664 2004/05 7.000.000 6.131.600 87,6 6.206.681.072 2005/06 9.000.000 7.579.669 84,2 7.579.669.303

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário – Secretaria da Agricultura Familiar. * IGP-DI calcu lado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Considerou-se o índice do último dia do ano-safra (31/12/1996, por exemplo). Elaboração: Deser Apesar do quadro 1 apresentar que houve um crescimento no valor do PRONAF

programado e no valor aplicado, observa-se que ainda não atinge a 100% do programado.

Nunes (2009, p. 37) relata que, os pequenos produtores rurais enfrentam algumas

dificuldades para acessarem às linhas de crédito do programa do PRONAF, tais como:

Ausência de título da terra e/ou avalistas;

Condições de pagamento impróprias, com taxas de juros altos e pouco prazo para

pagamento;

Medo de correr risco e de perder o patrimônio;

Desinformações sobre as linhas de créditos;

Dificuldades para elaborar projetos e analisar a sua viabilidade;

Page 44: Tcc perfil da agricultura familiar

43

Despreparo dos agentes financeiros para atender os agricultores;

Com relação ao PRONAF, é chegada a confirmação de que apesar de ter sido um

programa animador para os agricultores familiares, não tem apresentado os resultados

esperados, uma vez que, há muitas dificuldades para acessar o crédito, como também nem

todos que conseguem o crédito aplicam adequandamente. E ainda há os mau intencionados

que se revestem de agricultor familiar para obter o financiamento subsidiado.

2.4 Evolução da agricultura familiar no Ceará

O Ceará, por ser um estado do nordeste com mais de 70% de seu território encravado

no semi-árido brasileiro, onde há muitas irregularidades climáticas, locais com pouca água

doce, terras pouco férteis, dentre outras características, possui uma agricultura ainda muito

atrasada.

A agricultura familiar, por ser a mais praticada dentre as famílias cearenses, é a que

mais enfrenta barreiras, posto que, a maioria dos atores desse setor produtivo, são semi-

analfabetos, praticam uma agricultura rústica sem tecnologias e ou sem conhecimentos.

Contudo, têm-se verificado alguns avanços nos últimos anos através de algumas

políticas públicas, como o projeto São José, programa de reforma agrária, PRONAF,

programa de cisternas, programa Garantia safra, dentre outros.

Segundo Souza:

Historicamente a agricultura familiar enfrenta dificu ldades decorrentes, além de outros fatores, de uma discriminação negativa da política agríco la que sempre favoreceu os grandes produtores, impedindo o desenvolvimento da mesma. A política agrícola sempre favoreceu os interesses dos grandes empresários e, nas ultimas décadas, deu lugar as políticas macroeconômicas e neoliberais, prevalecendo sempre às políticas fiscal, monetária e cambial. Contudo, ela não apenas sobreviveu a essas condições adversas, como reforçou sua posição como produtora de mercadorias para o mercado doméstico e internacional (SOUZA, 2006, p. 9).

No Ceará, a agricultura sempre foi marcada pela dominação, exclusão, concentração

de terras, disputa pela terra, ausência de políticas publicas eficazes e sérias e pela miséria. Ao

analisar o processo histórico do desenvolvimento da agricultura familiar podemos observar

que a concentração de renda e de terra, assim como as diversas formas de exclusão social no

meio rural cearense representa a conseqüência direta do modo como aconteceu o processo de

ocupação do seu território e a gestão patrimonial do poder político (XAVIER, 1999, p. 2).

Page 45: Tcc perfil da agricultura familiar

44 Com relação à situação da agricultura no Ceará, Xavier expõe que:

A predominância no Estado do Ceará de uma agricultura rudimentar de baixo nível tecnológico, constatado pelo Censo Agropecuário (IBGE: 1995-1996), bem como o agravamento da situação sócio-econômica dos trabalhadores rurais não é por falta desconhecimentos técnicos de como conviver de forma sustentável com a realidade de semi-árido. Essa situação é fruto do descaso político e do não compromisso dos que estão no poder com os interesses econômicos dos pequenos produtores, microempresários agrícolas, assalariados rurais e sem terra. Part indo desse pressuposto é que podemos entender, porque as três prioridades – reforma agrária com promoção do acesso a terra, apoio a produção e aumento da produtividade; implantação de um vasto programa de irrigação e apoio a produção pesqueira artesanal – da " revolução social no campo", anunciada por Tasso no seu Plano de Mudanças (1987), até agora não foram implementadas(Xavier, 1999, p 28). A atual estrutura fundiária do Ceará caracteriza-se, ao mesmo tempo, pelo minifúndio improdutivo e pelo latifúndio ocioso (XAVIER, 1999, p. 2).

Conforme Duarte (2009, p. 62) a agricultura familiar no Ceará, tendo como base a

agroecologia teve seu processo implantado e fortalecido por ONGs que propagam tecnologias

sociais e gerenciam projetos sociais. Como exemplo, podemos citar: Instituições como o

Centro de Pesquisa e Assessoria (ESPLAR), CETRA, Comunidades Eclesiais de Base

(CEBS), Florestan Fernandes, Centro de Educação Popular em Defesa do Meio Ambiente

(CEPEMA), Projeto Dom Helder Câmara, Associação Comunitária de Base (ACB),

Associação de Desenvolvimento Educacional e Cultural (ADEC), Cáritas, Centro de

Aprendizado Agroecológico (CAA), Associação de Desenvolvimento de Agropecuária

Orgânica (ADAO), Konrad Adenauer, NIC, Elo Amigo, Comissão Pastoral da Terra (CPT),

Associação Aroeira e Associação de Cooperação Agrícola do Estado do Ceará (ACACE).

Também têm contribuído para o processo os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais,

MST, FETRAECE e mais recentemente o SINTRAF. E ainda as universidades como UFC e

as Escolas Técnicas como a Escola Técnica Federal do Crato e seu anexo no município de

Umirim, (CDT, 2011).

Desde o ano de 2007, Governo do Estado do Ceará, escolheu fortalecer políticas e

estratégias com o fim de beneficiar a agricultura familiar cearense utilizando o modelo do

MDA. A Secretaria da Agricultura (SEAGRI) passou a ser chamada de Secretaria do

Desenvolvimento Agrário (SDA). Por meio dessa alteração de foco, teve início em abril de

2007 o Plano de Desenvolvimento Rural Sustentável (PDRS), congregando 166 municípios e

mais de dois mil representantes. Foram realizados vários encontros seguindo metodologias

participativas que priorizaram quarenta ações mais relevantes com a finalidade de garantir o

crescimento econômico com eqüidade e sustentabilidade, sendo implantado de 2008 a 2011

(DUARTE, 2009, p.64).

Page 46: Tcc perfil da agricultura familiar

45

Outras metodologias utilizadas pelo Estado do Ceará foram a territorialização,

baseando-se no Programa Território da Cidadania do Governo Lula, que tem como objetivo

central: a Superação da pobreza e geração de trabalho e renda no meio rural por meio de uma

estratégia de desenvolvimento territorial sustentável. No Ceará existem seis territórios da

cidadania e oito territórios estaduais. O município de Trairi está inserido no Território Vale do

Curu/aracatiaçu, que congrega 18 municípios (DUARTE, 2009, p. 64)

No Ceará foi desenvolvido também o Projeto São José, Segundo Xavier (2009, p. 14):

O Pro jeto São José é a continuidade de uma linha de projetos como o Polonordeste, Projeto Sertanejo, Projeto São Vicente, Projeto Ceará, Programa de Apoio ao Pequeno produtor rural – PAPP, que desde o final da década de 70 vêm prometendo desenvolver o meio rural nordestino. A cada governo são feita algumas modificações em seus programas e nomes. O mes mo projeto ganha nome d iferente em cada estado do Nordeste. O projeto de Combate à pobreza Rural, executado no Ceará e popularizado como Pro jeto São José, é a continuação aperfeiçoada do PAPP.

O Projeto São José (PSJ) como uma ação social é um projeto que tem como objetivo

apoiar através de investimentos prioritários não reembolsáveis, subprojetos selecionados e

solicitados por grupos de beneficiários das comunidades carentes, através de suas

organizações comunitárias representativas, legalmente constituídas. Xavier, (2009, p 14).

Segundo dados do Governo do Estado, já foi executado o PSJ 1 e 2. Atualmente

estão trabalhando para implantar o PSJ 3 com foco no desenvolvimento produtivo,

abastecimento de água e mecanização (SDA, 2011).

É visível que a agricultura familiar no Ceará teve muitas dificuldades para se

desenvolver. Os autores revelam que os governos não tinham compromisso em apoiar e

desenvolver este setor. Porém, diante de todos os entraves, a resistência dos agricultores

familiares lhes rendeu frutos, e hoje têm reconhecimento social e já surgiram várias políticas

voltadas para seu aprimoramento como citado acima.

Para evidenciar melhor como os empreendimentos da agricultura familiar

conseguiram resistir e se fortalecer, faz-se a seguir uma breve caracterização dos mesmos.

2.5 Caracterização dos empreendimentos familiares

Os empreendimentos familiares se caracterizam por serem pequenos, com áreas de

até 4 módulos fiscais conforme a Lei Federal da agricultura familiar n° 11.326. O modelo de

Page 47: Tcc perfil da agricultura familiar

46 produção desses empreendimentos se caracteriza pela grande diversificação produtiva

(BRASIL, 2006).

De acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária-INCRA

(2010), um módulo fiscal é uma unidade de medida expressa em hectares, fixada para cada

município, considerando alguns fatores, tais como: tipo de exploração predominante no

município; renda obtida com a exploração predominante; outras explorações existentes no

município que, embora não predominantes, sejam significativas em função da renda ou da

área utilizada; e o conceito de propriedade familiar (OLIVEIRA, et al, 2010, p.16).

Segundo a Fundação Konrad Adenauer (2004, p. 25), os segmentos mais pobres dos

agricultores familiares do Brasil se concentram no Nordeste, onde as políticas de geração de

renda se deparam com maior dificuldade em sua implementação. Nessa região a tradição

camponesa é quase imperceptível porque praticamente todas as terras férteis eram

direcionadas para a produção de cana e algodão em grande escala, marginalizando boa parte

da população rural a lugares com baixa fertilidade e produtividade. Diante da comparação

entre os produtores familiares no Sul e no Nordeste as diferenças regionais ficam mais

visíveis: em média, a produtividade por estabelecimento da agricultura familiar no Sul é seis

vezes maior do que no Nordeste. E a produtividade por ha é quase oito vezes maior do que no

Nordeste. A maior causa da baixa produtividade e da situação precária das unidades da

agricultura familiar no Nordeste é o tamanho médio das unidades produtivas.

Como citado anteriormente, os estabelecimentos rurais da agricultura familiar são

unidades pequenas, com produção pequena e com potencial produtivo muito reduzido. A

situação deles na região Nordeste é muito mais grave do que na região Sul, onde o solo é mais

rico e conseqüentemente mais produtivo. Mesmo assim, a produção desses estabelecimentos

significa muito para a sobrevivência das famílias.

Há certa preocupação de acordo com alguns autores sobre a gestão dos

empreendimentos da agricultura familiar, para tanto, procede-se um estudo sobre o assunto a

seguir.

2.6 Gestão de empreendimentos da agricultura familiar

Batalha, et al., (2002, p. 11) afirmam que a gestão do empreendimento rural, a qual

envolve a coleta de dados, geração de informações, tomada de decisões e ações que derivam

destas decisões, não tem sido tratada satisfatória na literatura nacional e internacional. As

pesquisas realizadas nesta área geralmente se prendem aos aspectos financeiros e econômicos

Page 48: Tcc perfil da agricultura familiar

47 da gestão do empreendimento rural (custos, finanças e contabilidade). Dizem que comumente

a questão da gestão na propriedade rural, notadamente aquela de menor porte, é vista de forma

muito compartimentada e específica. Desse modo, os modelos disponíveis existentes são

apenas para controle de custos na produção leiteira ou para programação da produção

pecuária bovina.

Os autores citados no parágrafo anterior consideram também que os esforços

dedicados a outras ferramentas de gestão são ineficazes, por exemplo, os critérios de definição

do produto e do processo de produção que ultrapassem a visão de curto prazo das margens de

contribuição, sistemas de gestão da qualidade, sistemas de planejamento e controle da

produção, sistemas de gestão logística, dentre outras. Relatam também que os mecanismos de

difusão tecnológica são insuficientes e inadequados para preparar o produtor na prática e

utilização das técnicas acessíveis. A inclusão de práticas gerenciais e a completa integração da

produção rural às necessidades do processo de transformação industrial ou de distribuição

estão aquém de serem as usadas com mais freqüência. As técnicas administrativas, tais como:

Noções como planejamento e controle da produção, gestão da qualidade e redução de

desperdícios, logística, desenvolvimento de embalagens apropriadas, bem como outras

técnicas, ainda são olhadas de forma limitada, e os agricultores ainda não percebem a sua

importância diante de suas atividades de produção.

No que diz respeito à sensibilização do agricultor, Batalha, et al., (2002, p. 11)

explanam que:

A falta de atenção e sensibilização do agricultor e de parte importante dos técnicos responsáveis pela assistência rural tem contribuído para a sobrevivência da idéia equivocada de que o bom agricultor é aquele que cuida bem das tarefas exercidas na sua propriedade. Qualquer atividade diretamente vinculada aos trabalhos agropecuários significaria perda de tempo para o agricultor. Esta visão reflete até mes mo na própria caracterização dos agricultores familiares e no peso que atribui às tarefas de campo em detrimento das funções de gestão.

Continuando a relatar sobre o trabalho de Batalha, et al., (2002, p. 11), esses autores

apontam que alguns estudiosos da agricultura familiar são unânimes em constatar a baixa

eficiência gerencial destes empreendimentos. Rezende e Zylbersztajn (1999 apud BATALHA,

et al., 2002, p. 11) relatam em estudo concretizado com produtores agropecuários do Estado

de Goiás, que verificaram que os aspectos relacionados à produção (assistência técnica, nível

dos funcionários e mecanização), de regra, fazem parte da rotina operacional das propriedades

rurais. Confirmaram também que no conjunto das propriedades analisadas, não havia a

Page 49: Tcc perfil da agricultura familiar

48 utilização de instrumentos de gestão (aspectos comerciais e contábeis, planilhas de resultados

etc). Já junto aos grandes produtores foram percebidos os usos de tais ferramentas.

Em referência à utilização de ferramentas gerenciais aplicadas tanto à gestão de redes

de agricultores como nas propriedades, Batalha, et al., (2002, p. 4), enaltecem que se

apresenta como condição para os agricultores familiares à procura de novas oportunidades

que surgiriam a partir da desenvolvimento das redes e do aproveitamento de tecnologias e

práticas que exigem uma gestão da produção mais eficiente. Assim sendo, a utilização dessas

ferramentas permitiria aos agricultores familiares produzir e comercializar sua produção com

mais eficácia.

Ressalte-se ainda que a capacidade de gestão é uma ferramenta de competição dentro

do mercado, Batalha, et al., (2002, p. 5).

Muitas vezes o principal problema dos agricultores familiares não se encontra nas técnicas agropecuárias que, dentro da realidade de cada produtor, estão plenamente disponíveis. Ele reside, sobretudo, na compreensão do funcionamento dos mercados, que impõe articulação com os segmentos pré e pós-porteira, novas formas de negociação e práticas de gestão do processo produtivo. Além d isso, é necessário encontrar um ponto de equilíbrio entre a articu lação com os agentes da cadeia de produção e a conseqüente perda de poder decisório, em troca da maior rentabilidade e estabilidade.

Gaiger (2008, p. 66) comenta Singer (2000, p. 22) o qual fala que é conveniente

recordar que a boa administração de um empreendimento econômico, ainda que cada vez

mais deva apoiar-se no conhecimento profissional especializado, não pode ser considerada

uma questão de competência científica, e sim de habilidade em lidar com problemas diários os

mais variados, isso requer “tarimba e liderança”. A experiência é capaz de conduzir ao

aprendizado coletivo. Na ausência de competência especial ao ramo de negócios escolhido,

ela “será construída ao longo da vida prática da empresa, da mesma forma que acontece na

empresa capitalista. Contudo, nessa o aprendizado está centralizado principalmente aos

integrantes do grupo de executivos, mas, na empresa solidária ele se alarga a todos os

membros.”

O modelo de gestão é de fundamental importância para o bom funcionamento de

qualquer empreendimento. Nos empreendimentos rurais constata-se um total desprezo pelas

técnicas de gerenciamento, o que contribui para a estagnação dos agricultores. Observa-se que

alguns técnicos não sabem como abordar os agricultores e muitos tentam implantar uma

cultura de gestão empresarial no estabelecimento rural, enfrentando muita resistência. O que

se conclui é que para esses empreendimentos, que são geridos por pessoas simples e que

Page 50: Tcc perfil da agricultura familiar

49 muitas vezes possuem um nível de escolaridade muito baixo, há que se implementar um

sistema de gestão simples que favoreça ao agricultor a sua adaptação e compreensão acerca

do processo produtivo, técnico, administrativo.

Diante do conhecimento explicitado sobre as características e da gestão dos

empreendimentos agrícolas, é cabível revelar a relevância dos mesmos para a economia do

estado do Ceará.

No item que se segue, será abordada a agricultura familiar e sua relevância na

econômica cearense.

2.7 Agricultura familiar e sua relevância na economia cearense

Mesmo sendo uma atividade praticada com muitos entraves e sem a estrutura

necessária, a mesma é de suma importância para a economia do Ceará. Tal fato se dá devido

ao grande numero de pessoas vivendo dessa atividade.

A população cearense é tipicamente rural, e tem a agricultura enraizada em seu

sangue, até mesmo nas zonas urbanas é praticada.

Conta-se também no Ceará com uma industrialização tardia, o que contribuiu para

manter a população praticando a agricultura, apesar de muitos terem abandonado e migrado

para outros estados expulsos pelas estiagens e conseqüentemente pelo desemprego e pela

fome.

Conforme o portal de notícias do MDA:

Mais de 90% dos estabelecimentos agropecuários do Ceará são da agricultura familiar. São mais de 341 mil estabelecimentos em 3,5 milhões de hectares que respondem por 62% do valor bruto da produção. Para esse universo de agricultores e agricultoras familiares e assentados da reforma agrária, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, anunciou nesta segunda-feira (10) um investimento de R$ 771 milhões para a safra vigente durante lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar 2011/2012, em Fortaleza. “Estamos disponibilizando mais recursos com as mais baixas taxas de juros dentro do contexto de uma crise internacional e de uma perspectiva nacional de solidez e incentivo à produção”, afirmou Florence, que anunciou as medidas do Plano para o estado reforçando os objetivos do Governo Federal de garantir mais alimentos para a mesa dos brasileiros e a segurança alimentar. Para fortalecer essas ações no Ceará, o ministro Afonso Florence e o governador Cid Gomes assinaram Termo de Compromisso de Execução do Plano Safra 2011-2012, pelo qual o MDA destina R$ 650 milhões para ações do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) no Ceará. Deste montante, R$ 350 milhões são destinados para operações de investimento e R$ 300 milhões para operações de custeio. Os recursos estão disponíveis nas instituições financeiras que operam o PRONAF desde 1º de julho. Na safra 2010/2011 foram destinados R$ 370 milhões ao Ceará (MDA, 2011, online)

Page 51: Tcc perfil da agricultura familiar

50

De acordo com Anchieta Dantas Jr., repórter do Diário do Nordeste, baseado em

dados da FIPE- Fundação Estudos e Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo

(USP), a agricultura familiar é a grande fornecedora dos produtos que compõem a cesta

alimentar da população local. Cerca de dois terços do que chega à mesa do cearense são

produzidos em terras cultivadas por agricultores familiares. A participação de alguns produtos

do que é suprido por estas propriedades é bem superior à média estadual: 82% do feijão é

produzido no Ceará, 81% da produção de milho, 78% da mandioca, 64% do arroz, 77% do

plantel de suínos e cerca de 76% do leite. Já no caso das frutas, mesmo que a produção dos

agricultores familiares permaneça abaixo da média do que é fornecido por esse segmento da

agricultura no Estado, mesmo assim, 55% da fruticultura que é cultivada em território

cearense são de propriedades gerenciadas por agricultores familiares. Segundo a pesquisa da

FIPE, a participação no PIB do agronegócio no Estado é superior a do Brasil, 32% contra

25%. Nesse panorama, o complexo formado pela agricultura familiar, que se compõe pela

produção de lavouras e criações administradas pela gerência familiar e dos setores ligadas a

essas atividades rurais, representa cerca de 12% da economia cearense –ressaltado que já

alcançou 15% em 2003, com a participação da produção patronal, correspondente às grandes

propriedades equivalendo a 20%, tendo chegado a 24%, também naquele ano (DANTAS

JUNIOR, 2011).

Neste capitulo deu-se ênfase a discussão sobre as características dos

empreendimentos agrícolas, onde os autores pesquisados caracterizam esses empreendimentos

procurando nortear uma visão geral das particularidades que fazem a agricultura familiar

persistirem no cenário produtivo. Sobre o conceito da agricultura familiar, apresentou-se

algumas idéias que conceitua a agricultura familiar e mostra como essas categoria se

diferencia das demais atividades. Falou-se também da evolução da agricultura familiar no

Brasil e no Ceará, fazendo uma exposição do passo-a-passo que consolidou esse setor e que o

fortaleceu diante do sistema capitalista e do agronegócio. Enfatiza-se também a caracterização

dos empreendimentos familiares demonstrando a diferença entre esses empreendimentos e os

empreendimentos do agronegócio. Já com relação a gestão de empreendimentos familiares e

da agricultura familiar e sua relevância na economia cearense foi trazido a baila a visão de

vários autores que procuraram contribuir para propiciar novos rumos para agricultura familiar.

Pode-se perceber que a agricultura familiar é uma atividade histórica e cultural no

Brasil e no mundo. Na verdade, faz-se concluir que essa atividade veio contribuir para a

organização e o fortalecimento de uma categoria que já existia, mas que não era reconhecida,

Page 52: Tcc perfil da agricultura familiar

51 nem possuía direitos garantidos por lei. Somente a partir de 2006, através da lei 11.326, é que

foram definidas as características, delimitações, definições, regras e direitos dessa categoria.

Não se pode ignorar que, mediante todos os estudos apresentados nesse capitulo, a

agricultura familiar é um evento mundial e muito mais forte nas economias dos países mais

desenvolvidos. Como a agricultura praticada nos países colonizados tinha como base a

monocultura que teve início com a cana-de-açúcar, os agricultores familiares eram

marginalizados e não possuíam terras para desenvolver suas atividades, o que contribuiu para

o atraso dessa atividade nos países em que foram colonizados visando à exploração de seus

recursos naturais e terras férteis. Até hoje, os considerados agricultores familiares não

possuem terras ou se possuem, são pequenas áreas informais.

No Brasil, a agricultura familiar tem se mostrado como uma solução para a

organização produtiva e para a redução da pobreza na zona rural, permeada por pequenas

propriedades, uma vez que quase toda produção é voltada para o sustento das famílias. Esse

processo se deu movido pelos movimentos sociais, os quais exigiam o reconhecimento do

setor e o respeito do poder publico, através da distribuição de terras, de financiamentos e de

criação de políticas com o fim de oferecer condições aos agricultores familiares para produzir

e se fixar no campo.

No Ceará, apesar de muitas políticas e projetos terem sido desenvolvidos pelos

últimos governos, como o projeto São José, dentre outros, ainda há um atraso na organização

da categoria. Os agricultores ainda não conseguem produzir com regularidade nem inserir

seus produtos no mercado capitalista competitivo e exigente. Enfrentam muitas dificuldades,

desde assistência técnica, que é a base para o sucesso da atividade até mesmo ao acesso a

financiamentos, devido à burocracia dos bancos.

Procura-se desenvolver no capitulo seguinte uma explanação acerca dos aspectos

conceituais sobre desenvolvimento agrícola sustentável.

Page 53: Tcc perfil da agricultura familiar

52 3 OS ASPECTOS CONCEITUAIS SOBRE DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA

SUSTENTÁVEL

Os conceitos de desenvolvimento rural sustentável vêm sofrendo muitas alterações

desde seu surgimento. Atualmente, esses conceitos estão presos à questão ecológica,

alimentar, educacional, cultural e ambiental, devido a problemática da baixa produção de

alimentos e dos problemas climáticos enfrentados pelo mundo, assim como a escassez de

recursos naturais e de terras férteis. Hoje, a busca pela sustentabilidade tornou-se uma práxis

no cotidiano dos agricultores.

Esta seção objetiva apresentar os conceitos debatidos sobre desenvolvimento agrícola

sustentável, Crescimento e Desenvolvimento, assim como, travar um comparativo entre

crescimento econômico e desenvolvimento econômico, analisar e classificar os tipos de

desenvolvimento, tais como desenvolvimento humano, social e econômico; levantar os

conhecimentos acerca dos aspectos culturais, organizacionais, econômicos e financeiros, bem

como explanar os desafios e entraves da gestão dos empreendimentos agrícolas familiares.

Busca também provocar uma discussão e uma compreensão desses temas assim

como levantar novas idéias acerca do desenvolvimento agrícola sustentável no mundo, a fim

de que construir uma visão global do tema.

Quando se fala de natureza e atividade econômica humana, os autores dizem que:

A economia não pode ser vista como um sistema dissociado do mundo da natureza, pois não existe atividade humana sem água, fotossíntese ou ação microbiana no solo. A comparação, nesse contexto, do sistema econômico com um mecanismo não é das mais felizes, pois isto lhe retira o sentido da irreversibilidade própria das mudanças qualitativas que o processo econômico desencadeia (GEORGESCU-ROEGEN, 1974 apud CAVALCANTI, 1994, p. 8).

A humanidade atualmente coexiste com duas realidades. Uma, mais durável, a do

planeta Terra, e outra, mais efêmera, que procede da ação humana e que habitualmente

apelida-se de Mundo (CALDWELL, 1990). Contudo, enquanto a Terra é tida como um

ajuntamento constituído por ecossistemas altamente unificados tem-se o Mundo se

apresentando, de forma antagônica, como uma realidade misturada de sistemas culturais,

sociais, políticos e naturais, onde seus elementos se expõem mais desintegrado e conflitante

do que com sistema de cooperação e solidariedade. A dualidade Terra x Mundo deu origem a

esta crise na qual se vive, melhor dizendo, no extremo desta dualidade na modernidade, uma

que ela é inseparável do princípio ativo da civilização e, por conseguinte, fatal. O

Page 54: Tcc perfil da agricultura familiar

53 ambientalismo anuncia, portanto, uma disposição essencial e orgânica de estilo preservativo,

em conseqüência da extrema entropia do modelo adotado por nossa civilização

(CAVALCANTI, 1994, p 44).

Silva (2006) expõe o desenvolvimento sustentável como o:

[...] resultado da interação social em um determinado espaço, com bases culturais cultivadas no decorrer do tempo, com finalidades econômicas e obedecendo às instituições reconhecidas naquela sociedade e considerando a manutenção do estoque ambiental existente (SILVA, 2006, p. 17).

Tendo em vista o foco no desenvolvimento sustentável, faz-se a seguir uma

abordagem sobre o que é crescimento e desenvolvimento, e explicita ainda os diversos tipos

de desenvolvimento.

3.1 Conceito de crescimento e desenvolvimento econômico.

Matos e Rovella (2011) expõem que o conceito de crescimento econômico aparece

em 1776 no livro “A Riqueza das Nações”, de Adam Smith, obra na qual o autor estuda a

constituição da riqueza de uma nação, ponderando sobre o funcionamento dos mercados e a

relação da expansão destes para proveitos de escala de produção, com o fim de obter a

redução dos custos médios e a geração de lucros. Para Smith, o crescimento econômico é

considerado como condição principal para atingir o desenvolvimento, ou seja, como o próprio

desenvolvimento.

Schumpeter (1961 apud SOUZA 1999, p.16) aproveitou a distinção entre

crescimento e desenvolvimento para ressaltar a falta de lucro econômico no andamento

circular onde adviria no máximo crescimento. O crescimento seria apenas o aumento da renda

per capita, e o desenvolvimento abarcaria transformações sociais e políticas. Foi também

Schumpeter que, em meio às discussões de um conceito distinto de desenvolvimento, no

início do século XX, que atribuiu ao crescimento uma característica exclusivamente

expansiva, e afirma que desenvolvimento, somente aconteceria “na presença de inovações

tecnológicas, por obra de empresários inovadores, financiados pelo crédito bancário. Nesse

caso o processo produtivo não é mais uma mera rotina e sim produtor de lucro

extraordinário.”

Page 55: Tcc perfil da agricultura familiar

54 Sachs (2004, p. 13 apud MATOS e ROVELLA 2011):

[...] os objetivos do desenvolvimento vão bem além da mera mult iplicação da riqueza material. O crescimento é uma condição necessária, mas de forma alguma suficiente (muito menos é um objetivo em si mesmo), para se alcançar a meta de uma v ida melhor, mais feliz e mais completa para todos.

Furtado (1974 apud VEIGA 2005) afirma que:

[...] a idéia de desenvolvimento econômico é um simples mito. Graças a essa idéia, diz ele, tem sido possível desviar as atenções da tarefa básica de identificação das necessidades fundamentais da coletividade e das possibilidades que abre ao homem o avanço da ciência, para concentrá-lo em objetivos abstratos, como são os investimentos, as exportações e o crescimento.

A partir da década de 1960, a idéia de desenvolvimento sugerida ao Terceiro Mundo

foi baseada na mesma seguida pelas nações ocidentais, consideradas “ricas” ou “avançadas”

industrialmente. Acreditava-se que para países mais pobres se tornarem também “ricos” e

“avançados”, era necessário seguir o mesmo caminho do processo de industrialização

desenvolvido nos países ocidentais (ALMEIDA, 1995, p. 04).

Almeida, diz também que,

De um modo geral, as teorias desenvolvimentistas querem sejam (neo)liberais ou marxistas, inspiram-se nas sociedades ocidentais para propor modelos para o conjunto do mundo. A idéia-mestre de desenvolvimento que fundamenta esta visão reside no paradigma do humanismo ocidental (MORIN, 1977); ou seja, no desenvolvimento socioeconômico provocado pelos avanços técnico-científico, assegurando ele próprio o crescimento e o progresso das virtudes humanas, das liberdades e dos poderes dos homens. O que parece emergir como verdade suprema desta visão de desenvolvimento pode ser sintetizado como: desenvolvimento técnico-científico,desenvolvimento socioeconômico, progresso e crescimento (ALMEIDA, 1995, p.04).

Segundo a autora citada acima, esta analogia, é falsa e enganosa, uma vez que, Morin

(1977 apud ALMEIDA, 1995, p. 04) afirmam que “cada desenvolvimento biológico é a

repetição de um desenvolvimento precedente inscrito geneticamente”. Isso significa que é o

retorno cíclico de um passado, e não a construção inédita do futuro. Diante disso, percebe-se

que há uma quebra com o pensamento “oficial” de desenvolvimento, ou seja, aquele que vê o

desenvolvimento socioeconômico volvido basicamente para a construção do futuro.

Page 56: Tcc perfil da agricultura familiar

55 De acordo com Almeida desenvolvimento é,

[...] um bem para todos os lugares. É por isso que foi pensado e aplicado de maneira uniformizante. Ao invés das originalidades se exprimirem e se fortificarem, aparecem as características singulares dos povos e das culturas. É um modelo idêntico que se propaga em detrimento de todas as diferenças de situação, de regime e de cultura (ALMEIDA, 1995, p. 05).

Ainda seguindo as idéias de Almeida, a qual relata que comumente o conceito de

desenvolvimento é confundido com o de modernização, tendo como conseqüência, o

julgamento dos países do Terceiro Mundo “à luz dos padrões dos países desenvolvidos”. Isto

contribuiu para a aplicação no mundo inteiro de um modelo único de modernização e, deste

modo, classificando como atrasados os países “subdesenvolvidos”. A diferença entre

modernização e desenvolvimento ainda não foi bem esclarecida. Podendo dizer que a primeira

indica a “capacidade que tem um sistema social de produzir a modernidade; a segunda se

refere à vontade dos diferentes atores sociais ou políticos de transformar sua sociedade”

(ALMEIDA, 1995, p. 05).

José Eli da Veiga defende a idéia de que:

O desenvolvimento pode permitir que cada indivíduo revele suas capacidades, seus talentos e sua imaginação na busca da autorealização e da felicidade, mediante esforços coletivos e individuais, combinação de trabalho autônomo e heterônomo e de tempo gasto em atividades não econômicas. Maneiras viáveis de produzir meios de vida não podem depender de esforços excessivos e extenuantes por parte de seus produtores, de empregos mal remunerados exercidos em condições insalubres, da prestação inadequada de serviços públicos e de padrões subumanos de moradia (VEIGA, 2005, p. 80-81).

Sobre desenvolvimento, Antunes (2004 apud Revista Lusófona de Ciências Sociais

2004, p. 05 on line) insere: Entendo por desenvolvimento a simplificação e eficiência organizat iva dos processos de produção, distribuição e consumo, a todos os níveis , de um sistema social - econômico, jurídico, político, ideológico, cultural -, com vista à realização do ser humano, em harmonia com a Natureza.

Os julgamentos acerca dos temas desse tópico, apesar de estarem em constante

flexibilização, apresentam um entendimento dos diversos modelos de crescimento e de

desenvolvimento utilizados pelos governos e idealizados pelos economistas.

No processo de desenvolvimento, há algumas subdivisões, tais como

desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e humano, os quais reservam suas

particularidades, que serão anunciadas nos tópicos a seguir.

Page 57: Tcc perfil da agricultura familiar

56

Também se apontam as diferenças entre desenvolvimento e crescimento, para melhor

compreender os conceitos e suas peculiaridades.

3.2 Crescimento x Desenvolvimento

Uma das conclusões extraídas do contraste entre crescimento e desenvolvimento é

que somente o crescimento econômico, não traz automaticamente o desenvolvimento. Como

se observa, a relação entre crescimento e desenvolvimento, não conta ainda com suas

variáveis contrabalançadas; os economistas ainda são desafiados e questionam se o

desenvolvimento socialmente justo e ambientalmente sustentável confronta com crescimento

econômico (VECCHIATTI, 2004, p. 90).

O crescimento econômico não está ligado diretamente ao processo de

desenvolvimento, posto que, nem sempre os dois acontecem em conjunto e nem de forma

global.

Sachs (2001, p. 157-158) contribui ao enfatizar:

Por outro lado, o fato de que o desenvolvimento não está contido no crescimento econômico não deve ser interpretado em termos de uma oposição entre crescimento e desenvolvimento. O crescimento econômico, se repensado de forma adequada, de modo a minimizar os impactos ambientais negativos, e colocado a serviço de objetivos socialmente desejáveis, continua sendo uma condição necessária para o desenvolvimento. [...] Precisamos de taxas mais altas de crescimento econômico para acelerar a reabilitação social, uma vez que é mais fácil operar nos acréscimos do PNB que distribuir bens e rendas numa economia estagnada

O desenvolvimento, apesar de compreender o crescimento econômico, não abrange

toda a complexidade estrutural da sociedade. Para que haja desenvolvimento paralelo com o

crescimento é preciso que seus efeitos satisfaçam toda a coletividade.

Matos e Rovella (2011) mencionam Furtado (1983, p. 90) o qual diferencia os

conceitos de crescimento e desenvolvimento da seguinte forma:

Assim, o conceito de desenvolvimento compreende a idéia de crescimento, superando-a. Com efeito: ele se refere ao crescimento de um conjunto de estrutura complexa. Essa complexidade estrutural não é uma questão de nível tecnológico. Na verdade, ela traduz a diversidade das formas sociais e econômicas engendrada pela divisão do trabalho social. Porque deve satisfazer às múltip las necessidades de uma coletividade é que o conjunto econômico nacional apresenta sua grande complexidade de estrutura. Esta sofre a ação permanente de uma mult iplicidade de fatores sociais e institucionais que escapam à análise econômica corrente. O conceito de crescimento deve ser reservado para exprimir a expansão da produção real no quadro de um subconjunto econômico. Esse crescimento não implica,

Page 58: Tcc perfil da agricultura familiar

57

necessariamente, modificações nas funções de produção, isto é, na forma em que se combinam os fatores no setor produtivo em questão.

No que diz respeito ao modelo de desenvolvimento aplicado atualmente, conclui-se que

esse modelo não está preocupado com a sustentabilidade, não controla o uso dos recursos naturais,

distribuição de riquezas igualmente, inclusão social e bem estar social.

Por isso Brasileiro (2006, p.88 apud Matos e Rovella , 2011) aponta que:

[...] os resultados alcançados com a implantação do modelo de desenvolvimento vigente, baseado na otimização dos lucros, na industrialização como única via de desenvolvimento, no uso indiscriminado dos recursos naturais, no crescimento econômico como fator antecedente ao desenvolvimento, propiciaram a emergência de novas formas de pensar o desenvolvimento, procurando atender ou mesmo explicar, a questões até então negligenciadas, tais como: a d istribuição desigual das riquezas; o agravamento da pobreza e exclusão social; a precarização das relações de trabalho; e o esgotamento dos recursos naturais.

Em todas as idéias que se referem às diferenças entre crescimento e desenvolvimento

econômico, observa-se que há uma clara diferença entre esses temas. O crescimento

econômico está intrinsecamente ligado ao acúmulo de capital e reprodução dos investimentos

realizados; enquanto o desenvolvimento econômico é muito mais abrangente e envolve toda a

complexidade estrutural da sociedade. Todos os segmentos, tais como humano, social e

econômico, perfazem um tripé, cuja satisfação dos mesmos é relevante para que o processo de

desenvolvimento seja sustentável.

Silva (2005, p. 38), a despeito do desenvolvimento sustentável, conclui que:

O conceito de desenvolvimento sustentável deve ser visto como uma nova forma de enxergarem, teoricamente, os fatos. A sociedade evolui esteada em sua inter-relação nas dimensões sociais, ambientais, culturais, econômicas e espaciais e, por isso, não se pode analisar, parcialmente, o processo de desenvolvimento. Visto esse processo como um sistema adaptativo complexo, nota-se que as mudanças são irreversíveis e contínuas, ampliando a responsabilidade de toda sociedade com o seu presente e com o das futuras gerações. Essa responsabilidade demanda ações construtivas de uma base de discussão teórica e aplicada que se sustenta na busca contínua da evolução da sociedade e das alternativas decisórias, com as quais conta para otimizar os recursos existentes, considerando as dimensões inter-relacionadas, com a intenção de avançar de forma harmoniosa para o objetivo da sustentabilidade.

O desenvolvimento sustentável perpassa pela produção de alimentos. Tendo em vista

esse foco, o desenvolvimento agrícola sustentável é primordial para garantir o

desenvolvimento humano e social no meio rural.

Page 59: Tcc perfil da agricultura familiar

58 Com o fim de complementar a discussão acerca de desenvolvimento, no próximo

tópico será apresentado um estudo sobre desenvolvimento e seus subtemas, os quais serão

dissecados sucessivamente para propiciar o melhor entendimento desse debate.

3.3 Tipos de desenvolvimento

A complexidade social e econômica exige que o processo de desenvolvimento seja

dividido em três linhas, a fim de que se possa analisá- los e entendê- los. Essa tríade,

constituída por desenvolvimento humano, social e econômico, é sem dúvida a base para que a

população possa atingir um nível equacionado de avanço econômico sustentável, socialmente

justo e humanizado.

3.3.1 Desenvolvimento humano

O conceito de desenvolvimento humano se originou como observou Amartya Sen,

(2011) no pensamento clássico e, notadamente, com as ideias de Aristóteles, o qual acreditava

que conseguir a plenitude do florescimento das capacidades humanas é o sentido.

Desenvolvimento humano pode ser considerado como:

O processo pelo qual uma sociedade melhora a vida dos seus cidadãos através de um aumento de bens com os que pode satisfazer suas necessidades básicas e complementares, e a criação de um entorno que respeite os direitos humanos de todos elos. Também é considerado como a quantidade de opções que tem um ser humano em seu próprio médio, de ser ou fazer o que ele deseja ser ou fazer. O desenvolvimento humano também pode ser definido como uma forma de medir a qualidade da vida humana no médio que se desenvolve, e uma variável chave para a classificação de um país ou região (WIKIPÉDIA, 2011, on line).

Conforme o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (1990), o

desenvolvimento humano associa aspectos de desenvolvimento concernentes ao

desenvolvimento social, o desenvolvimento econômico (incluindo o desenvolvimento local e

rural) e desenvolvimento sustentável. Ainda pode-se falar que o desenvolvimento humano

sugere satisfazer as carências identificadas por Abraham Maslow na chamada pirâmide de

Maslow.

O novo modelo de desenvolvimento propõe um modelo com foco no

desenvolvimento comunitário, ou seja, priorizando o desenvolvimento local sustentável.

Page 60: Tcc perfil da agricultura familiar

59

O novo modelo de promover o desenvolvimento que possibilita o surgimento de comunidades mais sustentáveis, capazes de suprir suas necessidades imediatas, descobrirem ou despertar suas vocações locais e desenvolver suas potencialidades (FRANCO, 1998, p.55).

Conforme Martins (2011) a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225,

adotou o desenvolvimento sustentado, ao dispor: “Todos têm o direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de

vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê- lo para as presentes e

futuras gerações”.

Sabe-se que as Nações Unidas durante décadas, apostaram tudo no crescimento

econômico, do qual os Relatórios do Desenvolvimento Mundial, do Banco Mundial,

começaram, por meio do PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, a

publicar o seu Relatório do Desenvolvimento Humano, tendo início na década de 1990, onde

começa um novo modelo de desenvolvimento.

Para enfrentar o crescente desafio da segurança humana é necessário um novo modelo de desenvolvimento que coloque o povo no centro, que olhe o crescimento econômico como um meio e não como um fim, que proteja as oportunidades de vida das futuras gerações, assim como das atuais e respeite os sistemas naturais dos quais a vida depende (ANTUNES, 2004, p. 5)

As variadas colocações acerca de desenvolvimento humano deixam claro que o

processo de crescimento econômico deve estar vinculado ao desenvolvimento humano com o

intuito de proceder a um complexo de ações que venham colaborar para o desenvolvimento

coletivo.

Tão relevante nessa discussão, quanto o desenvolvimento humano é o social, uma

vez que um não acontece sem o outro, portanto, discorre-se também nos itens seguinte o que é

desenvolvimento social e como este se insere no contexto do desenvolvimento agrícola

sustentável.

3.3.2 Desenvolvimento Social

O desenvolvimento social só acontece quando se colocam políticas que aprimorem as

relações entre os componentes de um conjunto e a forma como interagem entre si e com o

meio externo. Percebe-se como conjunto uma pequena comunidade rural, um centro urbano

ou, inclusive, uma nação inteira.

Page 61: Tcc perfil da agricultura familiar

60

Para se ter uma imagem mais conceitual, expõe-se sobre o conceito de

desenvolvimento social:

O conceito de “desenvolvimento social” é algo que não constava originalmente da Carta das Nações Unidas. Emerg ira, aos poucos, na década de 60, quando a questão do desenvolvimento, na esteira do processo de descolonização, passara a ocupar o centro das atenções internacionais. Nunca fora, porém, definido com clareza. Envolvia basicamente a adição, às vezes sucessiva, outras vezes cumulativa, de setores como os da educação, da saúde, do trabalho, da morad ia, dos serviços sociais e da previdência social à avaliação do funcionamento geral das sociedades (ALVES, 1997, p. 144)

Desenvolvimento social e sustentabilidade estão intimamente ligados, haja vista que,

para se promover um precisa conhecer e praticar o outro.

A sustentabilidade do desenvolvimento requer a descoberta das potencialidades locais, no enfrentamento das desigualdades na esfera econômica. Tem, por conseguinte, três princípios básicos: a conservação do meio ambiente, a justiça social e o crescimento econômico. É essencial, portanto, criar condições favoráveis às negociações políticas e à mobilização social. A estratégia de ação deve se concentrar na busca da equidade social, a preservação ambiental e da racionalidade econômica. Obviamente, sem esquecer a ampliação do regime democrático. É importante, portanto, considerar as características de cada região ou localidade, tendo em vista as realidades diferenciadas (BARRETO, 2011 apud MARTINS 2011, p 21).

Conforme o site pesquisado, o “desenvolvimento social só ocorre se todos os

componentes da sociedade forem beneficiados”. Assim, uma determinada comunidade pode

acender economicamente, mesmo não tendo um desenvolvimento social.

Dizemos que um país é socialmente desenvolvido quando a sua população tem um ótimo n ível de qualidade de vida. Mas o "ótimo" é sempre relat ivo a um " menos ótimo", o que significa que só a comparação entre duas ou mais populações é que permite avaliar o nível de desenvolvimento social de um país.Então, o que deve ser considerado para se fazer a avaliação? Em primeiro lugar, a proporção de pessoas que têm as suas necessidades básicas satisfeitas (alimentação necessária para atender aos requisitos nutricionais mínimos, trabalho, escola, hospital e assistência médica, morad ia servida de água tratada, esgotamento sanitário, energ ia elétrica e coleta de lixo). Em segundo lugar, a comparação destas proporções entre países, ou entre regiões de um mes mo país (WIKIPÉDIA, 2011, on line).

O desenvolvimento sustentável está intimamente ligado ao desenvolvimento social,

posto que um dos principais objetivos do primeiro é a garantia e a preservação dos recursos

naturais para atender as necessidades das sociedades futuras.

Page 62: Tcc perfil da agricultura familiar

61

Retomando Fernandes (2003), a autora analisa que a preocupação central da política ambiental, sob a égide do conceito de desenvolvimento sustentável, tem sido a de assegurar a gestão internacional dos principais ecossistemas, com o objetivo de garantir a durabilidade e disponibilidade de importantes estoques de recursos naturais funcionais ao desenvolvimento econômico, para assegurar àqueles povos que são privilegiados em seu desenvolvimento social, a manutenção de seus níveis de desenvolvimento e consumo (MATOS E ROVELLA, 2011, p. 8).

O desenvolvimento social, muito bem conceituado nos termos acima, é um dos tripés

do processo de desenvolvimento agrícola sustentável. Constata-se que como os modelos de

desenvolvimento eram baseados estritamente no desenvolvimento econômico, deu-se um

atraso no desenvolvimento social muito acentuado, o que levou aos pensadores a rever seus

conceitos e concluir que se não construir um processo desenvolvimentista focado na tríade

humana, social e econômica, não há como obter a sustentabilidade.

3.3.3 Desenvolvimento econômico

O conceito de desenvolvimento que serviu de base para aquele debatido atualmente,

diferente do conceito puro de crescimento econômico, deu-se no período pós-guerra

(BOISIER 2001; SACHS 2004).

Sachs (2004, p. 31-31) conclui que:

Em grande medida, o trabalho da primeira geração de economistas do desenvolvimento foi inspirado na cultura econômica dominante da época, que pregava a prioridade do pleno emprego, a importância do Estado de bem-estar, a necessidade de planejamento e a intervenção do Estado nos assuntos econômicos para corrig ir a miopia e a insensibilidade social dos mercados.

O processo de desenvolvimento econômico sugere que são necessários ajustes

institucionais, fiscais e jurídicos para incentivar as inovações e investimentos, bem como para

fornecer condições para um sistema eficiente de produção e distribuição de bens e serviços à

população.

O desenvolvimento econômico é

Um processo pelo qual a renda nacional real de uma economia aumenta durante um longo período de tempo. A renda nacional real refere-se ao produto total do país de bens e serviços finais, expresso não em termos monetários, mas sim em termos reais: a expressão monetária da renda nacional deve ser corrigida por um índice apropriado de preço de bens e consumo e bens de capital. E, se o ritmo de desenvolvimento é superior ao da população, então a renda real per capita aumentará. O processo implica a atuação de certas forças, que operam durante um longo período de tempo e representam modificações em determinadas variáveis. Os detalhes do processo variam sob condições diversas no espaço e no tempo, mas, não obstante, há algumas características comuns básicas, e o resultado geral do processo

Page 63: Tcc perfil da agricultura familiar

62

é o crescimento do produto nacional de uma economia que, em si própria, é uma variação particular a longo prazo (WIKIPÉDIA, 2011,on line).

Matos e Rovella (2011) fazem referência que Sen (2000) questiona o atual modelo de

desenvolvimento econômico, e qualifica-o como uma política cruel de desenvolvimento. Este

modelo possibilita o colapso da base de recursos naturais, e pode ampliar as deformidades

sociais. Em virtude disso, segundo o autor, o alicerce de desenvolvimento não deve se basear

somente na busca pela dimensão econômica, mas também na dimensão sociocultural, em cujo

contexto os valores e as instituições são fundamentais.

No cenário agrícola, o desenvolvimento perpassa pela visão dos agricultores. Por isso

a orientação técnica desses deve estar focada num único modelo de desenvolvimento que lhe

propicie uma vida equilibrada dentro de sua organização produtiva e familiar.

Um agricultor com dupla orientação, que considera a razão técnico-econômica e ao mes mo tempo a questão ambiental, envolvendo outros elementos de ordem cultural ou subjetiva, isto é, um agricultor que tende a construir um pro jeto de vida segundo uma razão socioambiental ou eco-social”. Nesse sentido, as mudanças não tenderiam a reorganizar a agricultura segundo um novo paradigma de mudanças, mas seriam; “uma forma de organização da produção que ao incluir elementos de um outro padrão técnico de produção forma um outro personagem na agricultura: o agricultor alternativo-sustentável (BRANDENBURG, 1999, p. 264).

Confere-se que o desenvolvimento econômico é o maior foco dos economistas.

Devido ao fato de ter centralizado o crescimento econômicos das sociedades apenas no

processo de industrialização, exploração dos recursos naturais descontrolado, acúmulo de

capitais, crescimento de lucro, etc, obteve-se como conseqüência o desequilíbrio social e

ambiental, que ameaça a sobrevivência humana.

O desenvolvimento agrícola sustentável é, sem dúvida uma modalidade de técnica

eficiente que possibilitará a segurança alimentar e produtiva das gerações futuras. “[…] o

desenvolvimento para ser sustentável, deve ser não apenas economicamente eficiente, mas

também ecologicamente prudente e socialmente desejável” (ROMEIRO, 1998, p. 248).

Foram explicadas nesse tópico, as muitas visões existentes acerca dos conceitos de

Crescimento econômico, desenvolvimento econômico, suas diferenças e relações; e ainda, as

subdivisões dos conceitos de desenvolvimento, a saber, desenvolvimento humano, social, e

econômico.

Para promover o melhor entendimento sobre esse assunto, será travado daqui em

diante, uma exploração do tema desenvolvimento agrícola sustentável, traçando-se um estudo

sobre os aspectos culturais, organizacionais, econômicos e financeiros que se relacionam entre

Page 64: Tcc perfil da agricultura familiar

63 si, com o fim de compor todo esse corpo processual que culmina com o acumulo de

experiências que provocam o estado pleno de desenvolvimento humano e melhoria de vida

coletiva.

3.4 Desenvolvimento agrícola sustentável

Mediante as diversas conceituações de desenvolvimento sustentável, faz-se

necessário conhecer os diversos aspectos que constituem o contexto social, cultural,

organizacional, econômico e financeiro.

“Desenvolvimento sustentável significa atender às necessidades do presente, sem

comprometer a capacidade das gerações futuras de atender suas próprias necessidades”

(CMMAD, 1988, p. 28).

3.4.1 Aspectos culturais

Cultura, conforme Mowen e Minor (2003) é a acumulação de significados, rituais,

normas e tradições compartilhadas entre os membros de uma organização ou de uma

sociedade.

Faz-se necessário implantar efetivamente e com urgência uma política agrícola

diferenciada em relação ao desenvolvimento rural sustentado. Para isso é preciso muito mais

do que decisão política, é imperativo que o conhecimento técnico, teórico e metodológico

identifique e proponha, de forma participativa um planejamento estratégico participativo, que

permita recomendar caminhos entre as distintas formas de interpretar e entender a lógica de

produção da agricultura familiar e sua sustentabilidade.

Todo agricultor familiar tem em seu conjunto de práticas técnicas de natureza econômica, social e ambiental coerentes com a sua realidade e finalidade do seu sistema de produção, uso do solo e com as suas necessidades essenciais, que compatibilizam os objetivos familiares com o meio ambiente e a interação produtiva é que determina a cada um deles as razões que permitem exp licar por que atuam de maneiras diferentes entre si e em relação ao agricultor capitalista (SUNDERHUS, 2011, p. 3)

É essencial que se relacionem as dinâmicas sociais com diversos sistemas técnicos e

ambientais existentes neste cenário cultural, a fim de que possa obter uma concepção de um

planejamento estratégico que esteja comprometido com a sustentabilidade da agricultura

familiar de forma real.

Page 65: Tcc perfil da agricultura familiar

64

Sunderhus (2011, p.5) afirma que

A valorização do conhecimento através da interação do conhecimento científico com o conhecimento e saber do agricultor familiar são interpretados e valorizados como um fator de poder que promove a auto-suficiência e a sustentabilidade. Cada vez mais o grande desafio das políticas públicas busca como eixo central d iminuir as desigualdades sociais. No entanto estas desigualdades se acentuam.

Almeida (1995, p. 14) enaltece que em meio às distintas visões, a estratégia de

desenvolvimento agrícola sustentável apresenta como filosofia, neutralizar ou minimizar os

efeitos das perturbações antrópicas no meio ambiente. Tais perturbações, que tornam um

agroecossistema “insustentável”, manifestam-se quando indicam, segundo Altieri (1993 apud

ALMEIDA 1995), a redução: 1º - da capacidade homeostática, tanto nos mecanismos de

controle de pragas como nos processos de reciclagem de nutrientes; 2° - da capacidade

“evolutiva” do sistema, em função da erosão ou da homogeneização genética provocada pelas

monoculturas; 3º - da disponibilidade e qualidade de recursos que atendam as necessidades

básicas (acesso a terra, água, etc.); e 4º da capacidade de utilização adequada dos recursos

disponíveis, principalmente devido ao emprego de tecnologias impróprias.

Em termos culturais verifica-se, atualmente, uma hibridização entre o local e o global. Ou seja, os traços da globalização se encontram nos mais diversos e longínquos lugares,expressos principalmente pela oferta de mercadorias cujas marcas são globalmente conhecidas. A oferta de mercadorias produzidas em diferentes locais do mundo, o avanço das comunicações e dos transportes e a “mercantilização dos produtos culturais” têm promovido rápidas mudanças na cultura e nos “modos de vida”, inclusive e até mais rapidamente no meio rural. No entanto, isso não significa que o global, representado pela cultura e pelas mercadorias, tenha substituído o local, mas o que ocorre é uma h ibridização. O que praticamente não há mais é o local isento das interferências do global (NUNES 2007, p. 16).

A observância dos aspectos culturais de uma civilização é fundamental para que se

possam desenvolver técnicas e sistemas de desenvolvimento calcados nos costumes da

sociedade, nos seus conhecimentos e até mesmo nas deficiências sociais, a fim de que se

construa um modelo social justo, equilibrado e sustentável.

Outro ponto importante nesse processo são os aspectos organizacionais, que são

responsáveis pelo tipo de organização que caracteriza os grupos sociais, os quais serão

relatados a seguir.

Page 66: Tcc perfil da agricultura familiar

65 3.4.2 Aspectos organizacionais

Segundo Giessman, as políticas de produção agrícola são improvisadas e as

produções agropecuárias no semi-árido comumente se caracterizam pela natureza do produto

e pela localização, pelo modo de obtenção e pelo calendário a que estão atreladas e

conjugadas na empresa rural e agro- industrial, fundamenta-se na economia de mercado sem

preocupação com a cultura organizacional do meio socioambiental do semi-árido

(GIESSMAN, 2000).

Ana Rita Nogueira diz que a gestão participativa é a que mais se adapta as empresas

do terceiro setor, as micro empresas, sobretudo as organizações do meio rural (NOGUEIRA,

2007).

Conforme MENDONÇA (1987), os objetivos genéricos da gestão participativa se

resumem em: responsabilidades sociais da empresa; equilíbrio dos interesses dos vários

envolvidos; cultura democrática; redução da alienação; utilização de todo o potencial das

pessoas; diminuição de conflitos através da cooperação; satisfação das pessoas e maior

competitividade.

Segundo Leite (2000, p. 32) a gestão participativa é o conjunto de conhecimentos científicos, sistematizados e específicos, com técnicas e métodos próprios, que estuda a aglutinação de pessoas em organizações ou empresas, unidades de produção de bens ou serviços, para alcançar sua missão seus objetivos, com a participação direta e ativa dos recursos humanos: de direção (staff), intermediário e operativo, sobretudo nas decisões.

Albuquerque (1996, p. 47) compreende que adotar sistemas de gestão mais

participativos é premissa essencial dentro da nova compreensão de sistemas de gestão na

empresa competitiva. Segundo o autor, a administração participativa se concretiza ao utilizar

um número satisfatório de programas com a intenção de desenvolver um senso de inclusão

entre os empregados. Portanto, a administração participativa, amplia o ambiente para estudos

sobre o comportamento humano nas organizações, onde se propõe superar o conflito entre o

indivíduo e a organização. Se constitui de várias técnicas para a implementação de uma

cultura participativa, no qual os estudos sobre tópicos pertinentes são desenvolvidos,

motivando o nascimento das mais diferentes propostas. Por exemplo: o enriquecimento e

ampliação das tarefas, o trabalho em equipe, a rotação de cargos, etc.

Na concepção de Motta (1991, p. 42), a gestão participativa brota da consciência de

que o alcance dos objetivos empresariais está diretamente dependente do uso apropriado do

poder e da solução de conflitos organizacionais. Assim sendo, o autor enfatiza que a

Page 67: Tcc perfil da agricultura familiar

66 administração participativa abrange cinco dimensões básicas: econômica, social, política,

organizacional e psicológica. A econômica refere-se à melhora de eficiência, a intenção é

proporcionar melhor produção e produtividade.

Carmo (1998, p. 12) coloca que as três principais funções apostas à exploração

familiar: produção, consumo e acumulação do patrimônio, conferem-lhe uma coerência de

produção e reprodução, na qual cada geração busca garantir um nível de vida estável para o

grupo familiar e a reprodução dos meios de produção.

O funcionamento de uma exploração familiar passa necessariamente pela família enquanto elemento básico de gestão financeira - destinação dos recursos monetários auferidos e do trabalho total disponível internamente na unidade do conjunto familiar. Nesse sentido, as decisões sobre a renda líquida obtida com a venda da produção, fruto do trabalho da família, pouco tem a ver com a categoria lucro "puro" de uma empresa, representado pela diferença entre renda bruta e custo total (CARMO, 1998, p. 12 -13)

Para os agricultores familiares o sentido da remuneração do seu capital, terra e meios

de produção, são reduzidos diante, da quantia de dinheiro que obtêm do sistema de produção,

quantidade tal, que lhes favoreçam viver e propiciar o prosseguimento da família. É o projeto

familiar que vai definir a aplicação do dinheiro angariado (CARMO, 1998, p. 13).

Ao longo das últimas três décadas, surgiram e se consolidaram no Brasil diversas formas de organização socioeconômica da agricultura familiar quese contrapõem ao sistema hegemônico (associações de produção, de comercialização direta, agroindústrias, cooperativas de produção,cooperativas de crédito, cooperativas de habitação, feiras). Esse conjunto de experiências, apesar de terem uma participação pequena no conjunto da produção e de abrangerem um número de agricultores (as) restrito, revelaram-se instrumentos importantes no processo de construção e de implementação do projeto de desenvolvimento sustentável e solidário (FETRAF-SUL, 2007, p. 75 apud NUNES, 2007, p. 64).

Segundo a mesma autora, cada agricultor tem um grupo de práticas e técnicas,

econômicas e sociais, conexos entre si, com o fim unido ao seu sistema de exploração.

Combinando os desígnios familiares com o meio ambiente, integrando informações e

subsistemas muito longe da verificação da sua composição produtiva e das sugestões técnicas.

Com relação à organização da produção da agricultura familiar, Carmo (1998),

também fala que:

A produção familiar, dada as suas características de diversificação/integração de atividades vegetais e animais, e por trabalhar em menores escalas, pode representar

Page 68: Tcc perfil da agricultura familiar

67

o lócus ideal ao desenvolvimento de uma agricultura ambientalmente sustentável. É fundamental, porém, que seja alvo de uma política estruturada e implementada para este fim. Um novo padrão de desenvolvimento definido pela auto-sustentabilidades, potencializa a participação da agricultura familiar na oferta agrícola, embora não seja um segmento homogêneo (CARMO, 1998, p. 15)

Os aspectos organizacionais corroboram para a unificação dos formatos sociais que

se juntam para promover suas ações coletivas ou individuais com o fim de construir o

desenvolvimento econômico, social e humano. A organização é fundamental para atingir os

objetivos, uma vez que, isoladamente ou desorganizados os seres humanos são fracos e nem

sempre conseguem atingir seus intentos.

Foi relatado nos itens anteriores que os aspectos sociais e organizacionais são

estruturantes para embasar o desenvolvimento econômico familiar.

Conclui-se, pois, que realmente esses aspectos são fundamentais para que o processo

de desenvolvimento seja bem estruturado e sustentável. Sem uma base social organizada e

capacitada, não há como propagar a sustentabilidade econômica.

A organização produtiva da agricultura familiar depende da organização social, por

isso a metodologia produtiva usada nos empreendimentos familiares está focada na unidade e

na cooperação da família. Esses aspectos se ligam aos aspectos econômicos que geralmente

são a base para a sobrevivência dos grupos sociais.

Face a isso, oferecem-se em seguida os detalhes dos aspectos econômicos que

disporão como esses incidem no processo de desenvolvimento.

3.4.3 Aspectos econômicos

Conforme Lamarche (1993 apud CARMO, 1998, p. 14), o nível de conexão familiar

e a afinidade entre autonomia e dependência da exploração ao mercado, apontam variadas

tipologias de exploração agrícola. Dentre suas pontualidades, podem-se determinar quatro

categorias de exploração: a empresa agrícola, a empresa familiar, a exploração moderna e a

exploração camponesa. Desse modo, em um sistema de eixos cartesianos da autonomia em

relação ao grau de relação familiar, as empresas agrícolas e colocariam como totalmente

dependentes do mercado e não familiar; a empresa familiar como dependente do mercado e

familiar; a exploração moderna como de máxima autonomia e não familiar e o camponês

como autônomo e totalmente familiar.

Page 69: Tcc perfil da agricultura familiar

68 Em relação às explorações familiares, Carmo diz que:

A maioria das explorações familiares se localiza entre esses extremos em d iferentes níveis de autonomia em relação ao mercado e em múltip los planos de atuação, acarretando uma ampla variedade na constituição desse segmento. Afirma também que a existência simultânea de unidades produtivas, com d istintas dinâmicas internas bloqueia um esclarecimento geral voltado para o funcionamento da produção familiar. Faz-se necessário, pois, estabelecer categorias com estas unidades utilizando critérios pré-estabelecidos.Entre os principais critérios sócio-econômicos de funcionamento estão os sistemas de produção, que podem ser enfocados, principalmente, em relação à variável tecnológica como a necessidade de modernização; os sistemas fundiários que propiciam o acesso à terra; e os sistemas de organização sócio-familiar que se configuram na contradição subordinação versus autonomia (CARMO, 1998, p. 15)

Conforme a autora citada acima, estas análises levam a exagerar os julgamentos

meramente econômicos com o fim de perceber as ligações entre a organização interna da

produção em bases familiares e o mundo externo, referenciado no processo de

produção/reprodução/acumulação, o que elucida, de certa forma, a lógica do agricultor diante

do processo produtivo e a estabilização da família.

Carmo (1998) cita também que o reordenamento do sistema agroalimentar, mesmo

no Brasil, implica que o tema da produção agropecuária é um aprofundamento, em maior ou

menor veemência do progresso dos padrões de demanda. Os agricultores familiares, com

mão-de-obra disponível, adequam-se com mais facilidade à aquisição de produtos

distinguidos, que se assinalam em relação às commodities, pelo ajuntamento de maior

quantidade de trabalho. Pode-se ponderar que a qualificação sustentável do desenvolvimento

e da agricultura não se abrevia puramente aos conhecimentos técnicos de produção

agronômica, contudo acarreta a necessidade de políticas que tenham a faculdade para causar o

acesso livre aos meios de produção e à desconcentração da renda.

Pedroso (2000, p. 31) cita Magalhães (1997) e acentua que:

A agricultura familiar, apesar de toda a problemática que enfrenta, ainda não foi eliminada e está presente em todas as regiões do país. Continua sendo um segmento de enorme importância econômica e social do meio rural, com grande potencial de fortalecimento e crescimento. É um setor estratégico para a manutenção e recuperação do emprego, para a redistribuição da renda, para a garantia da soberania alimentar do país e para a construção do desenvolvimento sustentável (MAGALHÃES, 1997 apud PEDROSO, 2000, p. 31).

O setor econômico familiar é um dos mais frágeis, face às barreiras enfrentadas pelo

setor agrícola familiar. Esses aspectos estão amarrados aos demais aspectos inerentes ao

Page 70: Tcc perfil da agricultura familiar

69 desenvolvimento agrícola sustentável, já que sem organização, sem conhecimentos não há

como promover crescimentos econômico.

No próximo tópico, discorrer-se-á sobre os aspectos financeiros que contribuem para

gerar os recursos necessários para a sobrevivência dos grupos sociais.

3.4.4 Aspectos financeiros

A situação financeira da agricultura familiar tem sido uma preocupação constante.

Nunes (2007, p. 59) anota que diante da divisão do trabalho, a agricultura possui tendência a

perder sua participação na composição do Produto Interno Bruto (PIB) com o decorrer dos

anos, Esse fato se deve ao afastamento, como também da especialização das etapas do

trabalho que consente que sejam produzidas novas mercadorias e serviços e em maiores

quantidades. Na agricultura, muitos processos que eram desempenhados pelos agricultores,

hoje passaram a ser realizados em outros setores (indústria ou serviços). As conseqüências

desse processo, no que se refere à concentração dos meios de produção e renda e do nível de

emprego, são diversas.

Para melhorar a renda financeira do agricultor familiar, o Estado deveria direcionar

suas compras de modo a favorecer esse setor. Contribuindo desse modo, também para

estimular a diversificação das atividades agrícolas, o fortalecimento das economias locais e

sistemas produtivos menos agressivos ao meio ambiente, os quais não são estimulados pelo

livre mercado (NUNES 2007, p. 68).

Com relação aos programas do governo, Nunes fala que,

O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é considerado o melhor exemplo esse tipo de intervenção do Estado. Os beneficiários do PAA fazem parte de diversos grupos sociais de produtores e consumidores. São considerados como grupos de produtores os agricultores familiares, agro-extrativ istas, quilombolas, famílias atingidas por barragens, trabalhadores rurais sem terra acampados, comunidades indígenas, pescadores artesanais, aqüiculturas e produtores familiares em condições especiais (CONAB, 2006). Os beneficiários consumidores são as instituições governamentais ou não governamentais que desenvolvam trabalhos publicamente reconhecidos de atendimento às populações em situação de risco social. Em geral, os beneficiários do PAA devem estar organizados em grupos formais (cooperativas e associações) ou em grupos informais, dependendo do instrumento acessado. Através do programa, o governo federal adquire produtos agrícolas (alimentos) de agricultores que se encaixam nas condições do programa, os quais são destinados, principalmente, à escolas, creches e entidades assistenciais (NUNES 2007, p. 69).

Page 71: Tcc perfil da agricultura familiar

70

No que diz respeito à situação financeira dos agricultores familiares, foram

implementadas linhas de crédito rural, conforme a citação abaixo:

O credito rural foi um dos instrumentos básicos da modernização agrícola e fortaleceu, de maneira acelerada, o processo de capitalização no campo. Para concessão de financiamento exig ia-se certo padrão tecnológico, elevada densidade de capital, monetarização, alem de farta aquisição de fert ilizantes e outros insumos. A diversidade de linhas de créditos, bem como as taxas de juros subsidiadas, estimularam grande numero de interessados a se instalar nos Cerrados (ESTEVAM, 2004, p. 738 apud MARTINS SILVA e MENDES, 2009, p. 09).

Como se lê acima, os aspectos financeiros são um dos gargalos para o

desenvolvimento agrícola familiar, visto que, a falta de financiamento e a exclusão do

processo de comercialização promoviam a estagnação dos agricultores.

Contudo, a partir do surgimento de políticas de financiamento agrícola mais

facilitado e desburocratizado, bem como programas de comercialização, houve uma

reanimação no campo, estimulando muitas famílias a permanecer no setor rural e atrair de

volta muitas outras que saíram.

Como fechamento desses itens, poder-se-á confirmar que os aspetos econômicos e

financeiros são um composto que compõe o ápice do desenvolvimento. Dependendo de como

foram construídos esses aspectos, deverá obter um desenvolvimento sustentável ou não.

Para que o desenvolvimento sustentável seja atingido, é preciso que os aspectos

econômicos e financeiros demonstrem que há uma viabilidade nos investimentos realizados,

que há capacidade de gestão, conhecimento técnico, sustentabilidade social e ambiental e

acima de tudo, condições de comercializar seus produtos a um preço justo que garanta uma

margem de lucro capaz de promover a sustentabilidade da atividade e a reprodução dos

recursos investidos.

As famílias que vivem da agricultura de pequeno porte, usando apenas a mão-de-

obra familiar, ainda enfrentam muitos desafios e entraves, e um dos maiores é a capacidade de

gestão. Por isso, são expostos no próximo tópico os desafios e entraves da gestão de

empreendimentos agrícolas familiares para uma melhor compreensão.

3.5 Desafios e entraves da gestão de empreendimentos agrícolas familiares

A gestão do empreendimento rural, que envolve a coleta de dados, geração de

informações, tomada de decisões e ações que derivam destas decisões, não tem sido

considerada satisfatoriamente na literatura nacional e internacional. Até então, os trabalhos

Page 72: Tcc perfil da agricultura familiar

71 construídos nesta área são geralmente limitados aos aspectos financeiros e econômicos do

empreendimento rural (custos, finanças e contabilidade). Comumente o tema da gestão na

pequena propriedade rural é tratado muito segmentado e específico. Os esforços dedicados a

ferramentas de gestão são insignificantes, notadamente nos critérios que definirão o produto e

o processo de produção que superem a visão de curto prazo das margens de contribuição,

sistemas de gestão da qualidade, sistemas de planejamento e controle da produção e sistema

de logística (BATALHA, et al, 2005 apud BORTOLINI, 2010, p. 16).

No que diz respeito a gestão agrícola:

A gestão agrícola consiste em formalizar, isto é, colocar no papel, o que se pretende que aconteça em determinado momento no futuro. No caso dos empreendimentos rurais, muitos fatores dificultam o planejamento da produção. “A gerência da produção agrícola é diferenciada e particularmente mais difícil que nos demais setores da economia. O equilíbrio entre a oferta e a demanda da produção, numa situação de queda de preços não é retomado simples mente por uma decisão gerencial” (BATALHA, 1997 apud BORTOLINI, 2010, p. 17).

Conforme Hoffmann et al. (1987 apud BORTOLINI 2010, p. 17-18), existem alguns

riscos para as propriedades que não têm as ferramentas de controle de custos, orçamentos e

fluxo de caixa são, tais como:

Desconhecimento do resultado econômico;

Aumento ou diminuição das atividades exploradas com base somente na intuição do

gestor;

Investimentos desnecessários, mal dimensionados ou realizados em momentos

impróprios;

Facilidade de endividar-se;

Influenciado facilmente por terceiros;

Perdas e ganhos obtidos por produtividade e ou aumento dos preços dos produtos e

Crescimento sem sustentação.

O desconhecimento do resultado econômico é causado pela falta de planejamento e

controle; o aumento ou diminuição das atividades exploradas com base somente na intuição

do gestor, ou seja sem nenhuma análise previa pode ser um fator de desgovernança; os

Investimentos desnecessários, mal dimensionados ou realizados em momentos impróprios

também são uma conseqüência da ausência de gestão planejada, isso pode comprometer o

Page 73: Tcc perfil da agricultura familiar

72 empreendimento seriamente; a facilidade de endividar-se que surgiu com a desburocratização

do crédito tem levado muitos agricultores a cair nesse erro, sem fazer um diagnóstico de seu

investimento e potencial de retorno. Geralmente os agricultores são influenciados facilmente

por terceiros, posto que, não possuem conhecimento suficiente para tirar suas próprias

conclusões, notadamente por alguns espertalhões que desejam tirar proveito de sua

ignorância. Devido à falta de planejamento, os agricultores não mensuram as perdas e ganhos

obtidos por produtividade e/ou aumento dos preços dos produtos e, por conseguinte às vezes

vivenciam um crescimento sem sustentação. Hoffmann et al. (1987 apud BORTOLINI 2010,

p. 17-18), apontam também outros elementos que criam a indispensável reestruturação na

gestão da propriedade, como:

Alto endividamento;

Descapitalização;

Aumento dos custos financeiros;

Margens de lucros declinantes;

Escassez ou aumento dos custos dos insumos e serviços;

Eventos climáticos;

Falta de crédito;

Políticas governamentais.

A possibilidade de obtenção de crédito sem que os agricultores estivessem

preparados para gerir os mesmo, provocou, em muitos, o alto endividamento. Posteriormente

a má aplicação de recursos oriundos de financiamentos sem o retorno desejado causa uma

descapitalização nos agricultores, fazendo com que abandonem a atividade e fiquem

endividados; outro fator preocupante na gestão é o custo dos financiamentos, pois o aumento

desses gera um descontrole do empreendimento. Geralmente as margens de lucro dos

produtos agrícolas são instáveis e pequenas, isso causa também a instabilidade da gestão no

espaço agrícola; há ainda a possibilidade de escassez ou aumento dos custos dos insumos, que

sem duvida é outro causador de insucesso e prejuízo. O agricultor pode ainda se deparar com

eventos climáticos, falta de crédito e políticas governamentais desfavoráveis. Todos esses

pormenores exigem do agricultor uma boa gestão de negócio familiar, caso contrário, não

conseguirá progredir, e ainda, com o crescimento do seu negócio, o controle administrativo

precisa aumentar também.

Page 74: Tcc perfil da agricultura familiar

73

Essencial é que a propriedade seja administrada como uma empresa, seguindo

técnicas e procedimentos gerenciais apropriados à realidade da agricultura familiar para que o

produtor familiar cresça e acompanhe a evolução da esfera rural. Tais procedimentos são: o

planejamento das atividades produtivas, que tem como objetivo tornar a empresa mais

eficiente e competitiva, e a imprescindível tomada de decisões envolvidas nessas atividades

(VILCKAS 2005 apud BORTOLINI 2010, p. 18).

O planejamento das atividades é a primeira ação do agricultor, pois essa fase

representa um ponto chave, uma vez que as falhas ou a deficiência do planejamento

influenciarão fatalmente no desempenho do negócio.

Bortolini relata que:

No processo de planejamento, uma das primeiras decisões a serem tomadas pelo produtor refere-se às atividades a serem desenvolvidas na propriedade. No entanto, a tomada da decisão é, em geral, feita de maneira não estruturada, de acordo com a perspectiva, alógica, o bom senso e a capacidade cognitiva limitada de cada produtor, uma vez que o ser humano tem limitações para compreender todos os sistemas ao seu redor e/ou processar todas as informações que recebe (GOMES et al., 2002). Desta foram, destaca-se a importância de se ter um modelo que ajude o produtor a estruturar sua tomada de decisão (BORTOLINI, 2010, p. 19).

Segundo Vilckas (2005 apud BORTOLINI 2010, p. 19) a finalidade do planejamento

da produção é auxiliar o produtor rural a decidir e planejar as suas atividades agrícolas. Isto é,

procura-se controlar ao máximo os fatores internos à unidade de produção rural, dentre eles: a

escolha da cultura a ser produzida, ponderando além das características internas à unidade de

produção rural, as externas também.

Bortolini (2010, p. 22) assevera também que de uma forma geral, a maior parte dos

negócios familiares tem como finalidade crescer sustentavelmente, melhorar sua viabilidade e

se preparar para a passagem à geração seguinte.

Ele alega também que o empreendimento familiar precisa ser gerenciado tendo como

fim a procura da viabilidade em curto prazo e da riqueza, em longo prazo.

O negócio familiar mistura emoção e sentimentalismo com objetiv idade e racionalidade. A família e o negócio são inseparavelmente conectados, apesar de relativa incompatibilidade entre os dois componentes. O negócio familiar, diferentemente do negócio corporativo, deve tratar as demandas dos relacionamentos familiares tão bem como as demandas do mercado consumidor (ROBBINS e WALLACE, 1992 apud BORTOLINI 2010, p. 22).

Assim sendo, o comportamento da agricultura familiar é definido por um conjugado

de variáveis, oriundas das políticas públicas e da conjuntura macroeconômica, ou de

Page 75: Tcc perfil da agricultura familiar

74 especificidades locais e regionais. A maior parte dessas variáveis escapa do domínio da

unidade de produção, contudo a gestão da produção está diretamente ligada ao seu controle.

O autor referenciado no parágrafo anterior preconiza que de acordo com Queiroz e

Batalha (2003), na agricultura familiar devem-se considerar algumas características especiais

da gestão da atmosfera agrícola, tais como:

A sazonalidade - característica particular da produção agrícola, especialmente a produção de leite, ocorre em função de algumas variáveis como doenças, quantidade de alimento disponível, sanidade dos animais e as condições climáticas (chuvas, estiagens, geadas). Sob essas condições conclui-se que um sistema de gestão de custos para o setor agrícola não pode ser o mesmo que é utilizado nos ambientes industriais, onde os processos de fabricação se repetem nos vários meses do ano. Perecib ilidade da matéria prima -Uma outra faceta importante que afeta a gestão das unidades de produção agropecuária em geral é a perecibilidade dos produtos e algumas matérias primas. Alguns produtos devem ser transformados rapidamente ou transportados em curto prazo para a unidade industrial,como é o caso do leite. Esta característica introduz problemas de logística, de aprovisionamento e de planejamento de produção (BORTOLINI, 2010, p. 22 - 25)

Diante da complexidade do funcionamento das condutas culturais não é fácil

entender de que forma tomam as decisões e como desenvolvem em suas mentes os processos

que têm como interesse o sucesso de seus empreendimentos.

Contudo, Simon (1979, p.16 apud BORTOLINI 2010, p. 27) enaltece que:

As decisões são algo mais do que simples proposições factuais. Para ser mais preciso, elas são descrições de um futuro estado de coisas, podendo essa descrição ser verdadeira ou falsa, num sentido empírico. Por outro lado, elas possuem, também, uma qualidade imperat iva, pois selecionam um estado de coisas de futuro em detrimento de outro, e orientam o comportamento rumo à alternativa escolhida.

Com o fim de consolidar seus projetos, os produtores adotam várias decisões e

executam diferentes ações. Os objetivos estratégicos orientados pelas decisões dependem das

potencialidades e limitações de sua situação. Comumente, na agricultura familiar, a estratégia

seguida incide em variar a produção conforme os recursos disponíveis, “garantindo a

subsistência, reduzindo os riscos e elevando a renda total da família, mesmo que isso não

signifique a melhor remuneração do capital investido e a maximização dos lucros” (LIMA et

al., 2005 apud BORTOLINI 2010, p. 28)

Ao longo da história da humanidade, desde o ponto em que o homem começou a

exploração dos recursos naturais para produzir bens, que viesse atender suas necessidades,

deu-se um transcurso de desenvolvimento promovido pela produção de objetos e alimentos

Page 76: Tcc perfil da agricultura familiar

75 através do uso da terra. No entanto, isso levou a escassez de recursos e a depredação do meio

ambiente. Portanto, como se pode afirmar que houve desenvolvimento quando se constata a

redução de potencial produtivo?

O que se pode perceber é que o crescimento econômico causa o decrescimento das

riquezas naturais. Já que de onde se tira e não repõe, tende a se esgotar. É exatamente isso

que temos presenciado nos países considerados desenvolvidos, onde a potencialidade de

produção agrícola da terra, bem como os componentes necessários a essa produção, como

água, fauna e flora tem sido reduzidos drasticamente.

Percebe-se que houve algumas evoluções no processo de fortalecimento financeiro

dos agricultores familiar, apesar de ainda não ter chegado ao ponto ótimo. Nos últimos anos, o

governo federal tem criado programas de governo visando à qualificação financeira e a

fomentação da agricultura familiar, tais como: o PRONAF e o PAA. Esses programas visam

facilitar o acesso a financiamentos através dos bancos de fomento e ao acesso a

comercialização, um dos maiores entraves das cadeias produtivas do setor agrícola de

pequeno porte. Contudo, o PRONAF ainda não produziu um efeito satisfatório na economia

dos pronafianos, nem no crescimento da produção.

Outro fato a considerar é que as condições culturais, educacionais e sociais dos

agricultores não lhes permitem ainda acompanhar o processo de desenvolvimento. Os

mesmos não possuem conhecimentos da maioria das inovações tecnológicas e muitos não

aceitam o uso delas, isso especificamente no norte e nordeste.

Em fim, o desenvolvimento agrícola sustentável não acontecerá enquanto não houver

um desenvolvimento global dos aspectos sociais, culturais e educacionais.

Por fim, cabe afirmar que a principal barreira para o desenvolvimento dos

estabelecimentos agrofamiliares é a gestão. Concluiu-se que sem um treinamento adequado

visando à capacitação dos agricultores em técnicas de gerenciamento, dificilmente os mesmos

terão sucesso. Enquanto o empreendimento agrícola não for considerado como empresa e não

for estabelecida uma prática de gestão moldada nas técnicas administrativas não há como

acontecer o desenvolvimento econômico desses estabelecimentos.

Será apresentada na seção seguinte uma visão sobre a cadeia produtiva da mandioca.

Page 77: Tcc perfil da agricultura familiar

76 4 CADEIA DE PRODUÇÃO

Estudar aspectos da agricultura familiar de qualquer produto demanda uma análise da

cadeia de processos que esta seqüência de atividades e ações supre e são supridas, pois se

exige um entendimento mais sistêmico. Desta maneira esta seção se propõe a possibilitar o

entendimento do que é cadeia produtiva e de como sua composição pode influenciar no

processo produtivo gerando bons resultados ou não. Para isto, inicialmente será exposto a

definição de cadeia produtiva, em seguida apresenta-se a composição de cadeia de produção,

posteriormente expõe-se o que é a cadeia produtiva da mandioca, como se comporta, de que

forma se insere na economia e ainda como se estrutura e se organiza.

A cadeia de produção é composta de todos os processos envolvendo os diversos

produtos. Tendo início na aquisição de insumos, equipamentos e vai até a fase final, ou seja, o

fechamento da comercialização.

No inciso que se segue, será definida uma cadeia produtiva.

4.1 Definição de cadeia de produção

A organização sistêmica e coordenada da cadeia produtiva compõe o Sistema

agroindustrial (SAG). Envolve um conjugado de atuantes econômicos, distribuídos

sucessivamente que tendo início na atividade agrícola e seguindo na agroindustrialização,

sendo responsável por diversas etapas de produção, modificação e comercialização de um

produto de origem agrícola, até chegar a mesa do consumidor final. Esse sistema pode

abranger muitas empresas de indústrias diferentes e dominar díspares espaços geográficos, até

mesmo de vários países, sendo influenciados por regras institucionais diferenciadas

(ZYLBERSZTAJN, 1995 apud NUNES, 2009, p. 09).

No que se referem ao acompanhamento do desempenho da cadeia produtiva,

Harrington (1997 apud NUNES 2009, p. 09) constata que para chegar a níveis de desempenho

elevados em uma cadeia produtiva, é preciso construir um sistema de medição de

desempenho. O uso das medidas de desempenho é fundamental, a fim de que se possam

ponderar os resultados e desempenho de uma empresa, isto é, deve conjeturar os princípios

fundamentais da organização.

Page 78: Tcc perfil da agricultura familiar

77 De acordo com Prochnik (2002, p. 01)

Cadeia produtiva é um conjunto de etapas consecutivas pelas quais passam e vão sendo transformados e transferidos os diversos insumos. Esta definição abrangente permite incorporar diversas formas de cadeias As cadeias produtivas resultam da crescente divisão do trabalho e maior interdependência entre os agentes econômicos. Por um lado, as cadeias são criadas pelo processo de desintegração vertical e especialização técnica e social. Por outro lado, as pressões competitivas por maior integração e coordenação entre as atividades, ao longo das cadeias, amplia a articulação entre os agentes. O conceito de cadeia produtiva pode se tornar uma ferramenta mais comum nos estudos econômicos. As aplicações existentes, algumas das quais mencionadas neste texto, demonstram, de forma convincente, sua utilidade. Do ponto de vista teórico, observa-se, uma progressão, em várias correntes de pensamento econômico, na direção de uma melhor formatação do conceito de cadeia produtiva.

Porter (1990 apud NUNES 2009, p. 51), designa cadeia produtiva como cadeia de

valor. Ao meditar sobre cadeia produtiva, este autor separa-a em atividades distintas

executada por ela no projeto, tais como: produção, marketing e distribuição de seu produto.

Entende-se que o olhar de Porter, não obstante de atender os elos externos, volta-se

internamente para uma única empresa e especificamente para empresa industrial.

Contudo, pode-se dizer que,

O enfoque de cadeia produtiva dado por Shank e Govindarajan (1997) é considerado mais amplo do que o de Porter (1990), pois considera que “a cadeia de produção de qualquer empresa em qualquer setor é o conjunto de atividades criadoras de valor desde as fontes de matérias-primas básicas, passando por fornecedores de componentes e até o produto final entregue nas mãos do consumidor”. Esta é portanto, uma visão que abrange todo o processo produtivo, considerando cada empresa como uma das partes de um conjunto formador de valor, que é mais amplo, indo desde o fornecedor mais elementar até o consumidor do produto ou serviço finais disponibilizados (NUNES 2009, p. 52).

Nunes (2009, p. 53) firma que ao sopesar a cadeia produtiva interna à empresa,

segundo Porter prioriza, não é o bastante, uma vez que, Shank e Govindarajan (1997, p. 85),

asseveram que “cada empresa deve ser entendida no contexto da cadeia global das atividades

geradoras de valor da qual ela é apenas uma parte”. Portanto, é visível que através de uma

análise sistêmica, todos os aspectos devem ser considerados na atualidade. Tudo deve ser

estudado de forma interligada, já que a observação dos fatos sociais de forma simplória

impede visão, tornando-se arbitrária e irrelevante, até mesmo para os para os estudos sociais

aplicados.

Page 79: Tcc perfil da agricultura familiar

78 Pelo que se podem avaliar diante dos conteúdos exposto nesta seção com respeito a

análise de cadeia de produção, vale concluir que é por meio do conhecimento da estrutura da

cadeia produtiva que se pode executar as atividades dentro de cada fase, com o fim de chegar

a última etapa, que é fechar a venda, e obter o resultado esperado, ou seja o lucro do bem

produzido.

Na próxima seção, será feita uma explanação da composição de cadeia de produção

da mandioca.

4.2 Composição da cadeia de produção da mandioca

A cadeia da mandioca que tem como destino a indústria é constituída de um maior

número de elementos intermediários e/ou agentes entre os mandiocultores e o consumidor

final, visto que uma vez que as raízes se submetem a processos mais complexos e também

servem de matéria-prima para a produção de muitos produtos industrializados. A farinha e a

fécula de mandioca são os dois principais produtos desta rede de valor; esta última, em

específico, proporciona diferentes probabilidades de aproveitamento no setor alimentício e

fora dele. (SEBRAE, 2008, p. 25). A cadeia produtiva da mandioca se compõe conforme a

figura 1 a seguir:

Figura 1: Cadeia Produtiva da Mandioca Fonte: Representação esquemática da Cadeia Produtiva da Mandioca – EMBRAPA (2002)

Ambiente institucional: Leis, Normas, Resoluções, Padrões de comercialização

Ambiente organizacional: Órgãos de governo, Instituições de credito, Empresas de pesquisa, Agencias credenciadoras

Fluxo de mercadoria Fluxo de cap ital

Page 80: Tcc perfil da agricultura familiar

79 Conforme evidencia a figura 1 e segundo Silva (2005) os componentes da cadeia produtiva são:

Fornecedores de Insumos: São aquelas empresas que têm como fim fornecer

sementes, adubos, ferramentas, máquinas, calcário, adubos, herbicidas, fungicidas e

implementos agrícolas;

Sistemas Produtivos (Agricultores): São os produtores de mandioca;

Processadores (casas de farinha): As agroindústrias que beneficiam o produto in

natura transformando-o em produtos ou subprodutos;

Comerciantes: Os atacadistas são os grandes comerciantes que intermediam as vendas

para os grandes supermercados e os varejistas são aqueles que vendem o produto para

os consumidores finais.

Mercado consumidor: É o ponto final da cadeia e se constitui de grupos de

consumidores. Podem ser municipais, estaduais, nacionais ou internacionais.

As referências feitas nesta seção acerca dos componentes da cadeia produtiva da

mandioca fazem com que se perceba que são etapas necessárias para fechar o ciclo do

produto. Cada componente é responsável por contribuir para que esse ciclo seja efetivo da

maneira mais eficiente, a fim de que colabore para produzir um bem que seja

economicamente viável e proporcione ao produtor um custo remunerável e ao consumidor

uma satisfação completa.

Cada fase da cadeia de produção possui seu custo e seus entraves. É preciso que haja

uma sintonia entre cada uma, para que qualquer gargalo seja eliminado, já que um simples

atraso da entrega de um insumo pode afetar o resultado final.

No caso da mandioca, por exemplo, que é passível aos efeitos climáticos, se ocorrer

um estiagem forte e prolongada, afetará a queda de produção da matéria prima e por

conseqüência a falta do produto final e a elevação de seus preços. Portanto, é um efeito

dominó, e é um sistema muito bem interligado e dependente um do outro. A cadeia produtiva

é uma sucessão de acontecimentos provocados pelos entes participantes do processo, cada um

com sua importância.

Portanto, para complementar o entendimento dos componentes da cadeia produtiva

da mandioca faz-se no item 4.3, uma aposição da origem, importância, estatísticas, da

mandioca, produção de farinha, estudo sobre a comercialização e importância comercial e

alimentar da mandioca.

Page 81: Tcc perfil da agricultura familiar

80 4.3 Cadeia produtiva da mandioca

A mandioca foi cultivada por diferentes nações indígenas da América Latina que

consumiam suas raízes, sendo que foi exportada para outros pontos do planeta, sobretudo para

a África, onde se apresenta como a base da dieta alimentar. No Brasil, o hábito de cultivo e

consumo da raiz ainda permanece muito forte (LOPES 1999, p. 200 apud WIKIPEDIA 2011,

on line).

A cultura da mandioca se estabelece, mundialmente, entre as latitudes de 30º N a 30º

S, sobretudo nas zonas tropicais e subtropicais das Américas, África e Ásia, sendo sua origem

a região da fronteira entre Brasil e Paraguai. Mais de 80 países produzem mandioca, sendo

que o Brasil participa com mais de 15% da produção mundial (EMBRAPA, 2002 apud

SEBRAE, 2003, p. 23).

O Brasil produz em torno de 24 milhões de toneladas da raiz de mandioca, o país é o

segundo maior produtor mundial, sendo que a Nigéria lidera a produção, com 32,5 milhões de

toneladas. Outros países produtores são, em ordem, o Congo – 18,5 milhões de toneladas, a

Tailândia – 18,0 e a Indonésia – 16,0 (GAMEIRO, 2002 apud SEBRAE, 2003, p. 23).

Segundo o SEBRAE-Ba, A mandioca é uma planta que resiste à seca e a solos de baixa fertilidade, de origem brasileira e cultivada em todo país. A composição química média da raiz da mandioca é: 65% água, 25% amido, 3% proteína, 2% de celulose e 5% outros. O Brasil já fo i o primeiro produtor mundial desta raiz, alcançando produções de até 30 milhões de toneladas/ano no início da década de 70. Hoje é o segundo maior produtor mundial da raiz, com produção em torno de 25 milhões de toneladas/ano (SEBRAE-Ba, 2009, p. 9)

A raiz dessa planta tem seu principal uso alimentar na produção de farinha, que é a

base da alimentação em alguns estados brasileiros. Como derivado mais comum da mandioca,

a farinha é um alimento com grande valor calórico, e com muitas variações quanto à cor,

textura, granulometria, acidez, apresentando problemas, com grande diversidade de tipos,

falta de padronização e mercado (SEBRAE-Ba, 2009, p. 9).

A Embrapa relata que o plantio da mandioca é realizado com manivas ou manivas-

sementes, também denominadas manaíba ou toletes ou rebolos, que são partes das hastes ou

ramas do terço médio da planta, com mais ou menos 20 cm de comprimento e com 5 a 7

gemas. Devido a multiplicação vegetativa a seleção das ramas e o preparo das manivas são

pontos importantes para o sucesso da plantação (EMBRAPA, 2011, on line).

Page 82: Tcc perfil da agricultura familiar

81

De acordo com o (SEBRAE-Bahia, 2009, p. 9), existem dois tipos de mandioca: a

mandioca doce, conhecida por aipim ou macaxeira que é consumida na alimentação, cozida

na água e sal, já está pronta para ser consumida. É também um excelente ingrediente para

bolos, pães, salgadinhos. Ela é insubstituível no preparo de alguns pratos típicos brasileiros

como o tutu à mineira e os pirões de peixe. E a mandioca brava, que utilizada na produção de

farinha, fécula, beijus, etc.

Com relação à comercialização, os agricultores familiares precisam se aperfeiçoar e

ampliar suas relações com o mercado, pois têm se preocupado apenas com a produção,

deixando a comercialização limitada aos intermediários, cooperativas e indústrias (ROSA,

2003).

Rosa (2003), coloca também que sistema de comercialização abrange o produto,

desde a produção até sua inserção no mercado para ser obtido pelos consumidores, no local,

na hora e na forma desejada. Ter ciência do funcionamento da comercialização é fundamental

para os agricultores que carecem tomar decisões eficientes para disporem seus produtos no

mercado.

Segundo o estudo da cadeia produtiva da mandioca feito pelo SEBRAE, a raiz da

mandioca é uma das fontes de carboidratos mais importantes para uma parte expressiva da

população de baixa renda no Brasil. O consumo dessa raiz acontece por meio da compra do

produto e de seus derivados como também através da produção doméstica. Devido à dispersão

da mandioca em plantações caseiras, é difícil mensurar o volume agregado nacional efetivo.

Oficialmente, considera-se apenas a quantidade formalmente comercializada. Constata-se que

a aquisição de mandioca e de seus derivados pelas famílias com renda inferior a um salário

mínimo é de 10% da despesa anual com alimentação, ficando em segundo lugar nos gastos

alimentares dessa população, atrás apenas do feijão, que representa 13% (SEBRAE, 2008, p.

17).

Em termos econômicos, estima-se que as atividades ligadas ao cultivo da mandioca e

seu processamento em farinha e fécula gerem aproximadamente um milhão de empregos

diretos (CARDOSO, 2003, p. 5). A receita bruta anual dessa atividade ficou em R$ 4,1

milhões no ano de 2005, o que representa cerca de 4,3% da produção agrícola brasileira

(IBGE, 2005 apud SEBRAE, 2008, p. 17).

Como apresentamos neste item, a cadeia da mandiocultura é de extrema relevância

para a sustentabilidade da agricultura familiar e para a sobrevivência das famílias brasileiras.

É uma cadeia complexa como muitas e depende de diversos segmentos para que tenham um

efetivo resultado produtivo e comercial. Sua importância na economia brasileira é percebida

Page 83: Tcc perfil da agricultura familiar

82 diante do consumo de seus produtos agroindustrializados, como a farinha e a fécula, bem

como do uso de seus subprodutos para a alimentação animal, como a raspa e a maniva.

Finalizando esse capitulo, observa-se que a constituição da cadeia produtiva da

mandioca está ligada diretamente à agricultura familiar, uma vez que a maioria dos produtores

cultiva uma área entre 0,5 a 10 ha.

A cadeia da mandiocultura apesar do seu tempo de existência, ainda não conseguiu

chegar a um nível de organização adequado para garantir a sustentabilidade da atividade e

propiciar uma boa renda aos produtores. Em virtude do elevado número de produtores e da

quantidade de raízes produzidas no Brasil, mesmo sendo a maioria para o consumo familiar,

isso contribui para a desvalorização dos produtos e dos subprodutos no mercado. Geralmente,

os produtores de mandioca são analfabetos ou semi-analfabetos, isso contribui para o

despreparo organizativo e administrativo de suas produções, deixando-os a margem da cadeia,

na fase da comercialização, dando espaço para os atravessadores.

Contudo, há que se destinar um apoio técnico maior aos mandiocultores visando sua

organização produtiva e administrativa, a fim de que venha fortalecer a cadeia como o um

todo e possibilitar a ascensão econômica dos produtores e dos produtos.

No capitulo seguinte será apresentado o estudo de caso, realizado através de

entrevista com perguntas semiestruturadas.

5 ESTUDO DE CASO

Esse estudo de caso se dedica a estudar o perfil da agricultura familiar e a cadeia

produtiva da mandioca da comunidade de Córrego da Ramada – Trairi - Ce.

Será notificada nesta seção, a metodologia aplicada no estudo de caso e a

caracterização do ambiente da pesquisa.

5.1 Metodologia do estudo de caso

A pesquisa trata-se de um estudo de caso executado por meio de visita domiciliar,

nos dias 16, 17 e 18 do mês de novembro, utilizando como instrumento de pesquisa, a

entrevista através de formulários com questionário semiestruturado e com perguntas fechadas,

distribuídos em seis tópicos. Segundo Yin (2001), “o estudo de caso representa uma

investigação empírica e compreende um método abrangente, com a lógica do planejamento,

da coleta e da análise de dados”.

Page 84: Tcc perfil da agricultura familiar

83

Para Chizzotti (2005), o estudo de caso como modalidade de pesquisa tem início nos

estudos antropológicos de Malinowski e na Escola de Chicago e, depois, seu uso foi ampliado

para o estudo de eventos, processos, organizações, grupos, comunidades etc.

Segundo Gil (1995), sua origem é bastante distante e se pauta com o método

introduzido por C. C. Laugdell no ensino jurídico nos Estados Unidos.

O pesquisador não teve o interesse de conhecer a opinião de toda a população,

somente de um grupo que reunia as características desejadas para atingir o objeto de pesquisa

(MARCONI & LAKATOS, 1996, p. 47).

Neste trabalho, o método empregado para o estudo do tema, foi o método de Survey,

pois se acredita que este explicaria melhor o objeto de estudo.

O método de pesquisa Survey pode ser delineado como a aquisição de dados ou

informações sobre características, ações ou opiniões de determinado grupo de pessoas,

representantes de uma população pré-selecionada, através de um instrumento de pesquisa,

normalmente um questionário (FREITAS et al 2000).

Para complementar a pesquisa foram feitos registros fotográficos de produtos

agrícolas, feiras agroecológicas, criação de galinha caipira, liberação do PRONAF em Trairi-

CE, inauguração do posto do PAA em Trairi, policultivos, plantações de mandioca, casas de

farinha, os mesmo serão dispostos no apêndice B deste estudo.

A amostra, intencionalmente escolhida, foi composta por 20 agricultores, que

representa cerca de 14% da população da comunidade, selecionados dentre as famílias

moradoras na comunidade do Córrego da Ramada com mais de 10 anos de residência, e

praticantes da mandiocultura.

A pesquisa teve como foco analisar o perfil socioeconômico das famílias

entrevistadas, o perfil da mandiocultura na comunidade e o perfil das casas de farinhas.

A análise dos dados envolveu um método principalmente descritivo qualitativo, pois

abrangeu um conjunto de diversas técnicas, que visam interpretar, descrever e decodificar os

componentes de um sistema complexo de significados. Seu objetivo é traduzir os fatos,

aproximando o pesquisador do objeto pesquisado.

Para analisar os dados da pesquisa, procedeu-se um estudo dos questionários e

posteriormente, a montagem de tabelas no Excel, para inserir os dados coletados e em seguida

gerar o gráfico demonstrativo através do método descritivo de Distribuição de Freqüência.

Page 85: Tcc perfil da agricultura familiar

84

Anderson et al. (2002, p. 39 apud PESSOA 2009, p.142) assinalam que Uma distribuição de freqüência é um sumário tabular de dados que mostra o número de observações em cada uma das diversas classes não sobrepostas. O objetivo da estatística descritiva é promover a sintetização e a descrição de dados numéricos para proporcionar melhor entendimento dos dados (LEITE, 2004), através do uso de gráficos, como forma de melhor exp licar a importância da rede para o trabalho apícola brasileiro.

Foi considerado para obter as conclusões o percentual obtido em cada questão que

determina o perfil ou a opinião do entrevistado, e ainda que defina a real situação da cadeia

produtiva da mandioca na comunidade.

Na seqüência será exibida a caracterização do ambiente da pesquisa.

5.2 Caracterização do ambiente da pesquisa

É importante destacar que a cultura da mandioca na agricultura no Ceará era

praticada pelos escravos ou camponeses das fazendas de gado desde sua colonização através

do sistema de sesmaria. Era conhecida como agricultura de subsistência, ou seja, produção de

alimentos apenas para a sobrevivência dos camponeses.

As primeiras propriedades no Brasil colônia eram doadas aos Colonizadores vindos

de Portugal para explorar as terras brasileiras pela Lei da Sesmaria. Era nestas propriedades

que eram feito os monocultivos com fim de exportação. Nela era também realizada a

agricultura de subsistência para o sustento dos colonizados.

Segundo Lima, (1991 apud GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2011, on line)

Sesmaria foi um instituto jurídico português que normatizava a distribuição de terras destinadas à produção. O Estado, recém-formado e sem capacidade para organizar a produção de alimentos, decide legar a particulares essa função. Este sistema surgira em Portugal durante o século XIV, com a Lei das Sesmarias de 1375, criada para combater a crise agrícola e econômica que atingia o país e a Europa, e que a peste negra agravara.

Barros (2006 apud WIKIPÉDIA 2011, on line) conceitua agricultura de subsistência: Aquela em que, basicamente, a p lantação é feita geralmente em pequenas propriedades (minifúndios), e a finalidade principal é a sobrevivência do agricultor e de sua família, não para a venda dos produtos excedentes, em contraposição à agricultura comercial. O conceito econômico da subsistência, portanto, difere do de agricultura familiar, naquela não há objetivo de lucro, que pode estar presente nesta última: ou

Page 86: Tcc perfil da agricultura familiar

85

seja, conceitualmente, a agricultura de subsistência pode ser um tipo da agricultura familiar; mas a agricultura familiar ainda pode apresentar outras formas de produção. O contraponto da agricultura familiar é a agricultura patronal. A agricultura de subsistência, por sua vez, pode conviver com outras formas de produção, como por exemplo, nas grandes plantações do café no Brasil colonial muitas vezes os colonos praticavam esta forma de cult ivo para a sua manutenção pessoal e familiar.

Com relação ao local da pesquisa, ou seja, o Município de Trairi, onde se insere a

comunidade foco do presente estudo, o mesmo se situa no centro-norte do estado do Ceará.

Está inserido ainda na Microrregião Geográfica do município de Itapipoca, juntamente com os

municípios de Amontada e Itapipoca. E ainda, conforme a nova política de territorialização do

governo Federal, o município faz parte do território da cidadania do Vale do Curu/Aracatiaçu,

conforme figura 2. O município está dividido administrativamente em 07 (sete) distritos:

Distrito-Sede, Flecheiras, Mundaú, Canaã, Gualdrapas, Munguba e Córrego Fundo. Todas as

sedes distritais já apresentam conformação urbana, com destaque para a Sede dos Distritos de

Flecheiras e Mundaú, que vêm passando por um processo de crescimento acelerado em

função do turismo. O município de Trairi possui, ainda, 209 localidades distribuídas pelos

seus 924,56 km2, são áreas situadas tanto na parte do litoral como na parte do semi-árido,

onde a seca é predominante. Isso acaba conferindo ao município uma diversidade cultural e

econômica interessantes (PDP-Trairi, 2009).

Page 87: Tcc perfil da agricultura familiar

86

MAPA DO CEARA COM FOCO EM TRAIRI

Mapa 01 - Ceará com foco em Trairi – Fonte: PDP – Trairi-2009.

O mapa 01 demonstra a localização do município, onde se situa a comunidade foco

da pesquisa, na qual foi escolhida a amostra para realizar a entrevista acerca do perfil da

mandiocultura.

Vem em seguida o mapa do território da cidadania Vale do Curu/Aracatiaçu.

Page 88: Tcc perfil da agricultura familiar

87

MAPA DO TERRITORIO DA CIDADANIA

Mapa 02 - Mapa do Território Vales do Curu/Aracatiaçu Fonte: (MDA, 2010)

A comunidade do Córrego da Ramada, como já ressaltamos, pertence ao município

de Trairi, no estado do Ceará, e conta com aproximadamente 175 famílias (Cadastro familiar

SUS - Trairi-Ce, 2009).

O acesso a comunidade é razoável, possui cerca de 12km de estrada de piçarra até a

sede do município, o qual dista cerca de 135km da cidade de Fortaleza e cerca 90km do Porto

do Pecém, na cidade de São Gonçalo do Amarante (PDP-Trairi, 2009).

Essa comunidade foi escolhida para esse estudo de caso, devido à alta concentração

de mandiocultores na área. Segundo os moradores, das 175 famílias residentes na

comunidade, cerca de 75% pratica a cultura da mandioca, sendo a maioria para o consumo

familiar, e um pequena parte para comercializar a farinha e a goma.

Page 89: Tcc perfil da agricultura familiar

88

Para conhecer melhor as características humanas e produtivas da comunidade foi

realizada uma pesquisa na primeira quinzena de novembro de 2011. Nessa fase, percebem-se

todas as dificuldades enfrentadas pelos produtores, bem como a potencialidade produtiva da

comunidade.

Foi identificado na comunidade 4 casas de farinha tradicionais e 1 moderna.

Contudo, descobriu-se também que a maioria dos agricultores prefere fazer sua farinha nas

casas de farinha antigas.

Conforme a Ematerce (2011), a mandiocultura é uma das principais atividades

econômicas do município de Trairi e em particular da comunidade foco desse estudo. Diante

disso e das condições dos agricultores da localidade e das resistências em utilizar a casa de

farinha moderna, persistindo a produzir sua farinha nas casas de farinha antigas, as quais não

apresentam estrutura adequada à produção de alimentos, procedeu-se essa pesquisa com o fim

de conhecer melhor a realidade que se apresenta na comunidade.

Localização da comunidade de Córrego da Ramada

Mapa 03 - Localização por satélite do Córrego da Ramada Fonte: Google earth – 26 nov. 2011.

O mapa 3 apresenta a localização da comunidade de Córrego da Ramada através de

foto via satélite, para que se tenha um visão geográfica de onde ocorreu o estudo do caso.

No próximo tópico será mostrada a análise e interpretação dos dados.

Page 90: Tcc perfil da agricultura familiar

89 6 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Para conhecer e entender o comportamento dos agricultores familiares e da cadeia

produtiva da mandioca foi realizado uma pesquisa de campo, divida em seis grupos de

análise.

No tópico que analisa o perfil socioeconômico dos agricultores é feito um estudo

acerca da distribuição da idade dos entrevistados, renda familiar, grau de escolaridade,

número de filhos e tempo de residência na comunidade.

Foi estudado também o Perfil da mandiocultura na comunidade de Córrego da

Ramada, onde se procurou saber sobre: a área do plantio da mandioca, a produção de

mandioca, a produção de farinha, onde são feitas as compras, as ferramentas e insumos

utilizados na atividade, o destino das raízes de mandioca, como são feitas as compras de

insumos e ferramentas, onde a produção é vendida; como se vende a produção, se os

concorrentes interferem na atividade, a importância da mandiocultura para a sobrevivência da

família, a contribuição da associação comunitária para o desenvolvimento da mandiocultura e

da comunidade, motivação para participar da Associação Comunitária, pontos positivos e

negativos da cadeia produtiva da mandioca, incentivos do governo para a cultura da

mandioca, bem como seus tipos.

Em seguida fez-se um questionamento para saber sobre as características, pontos

positivos e negativos, vantagens e desvantagens das casas de farinha tradicional e moderna,

por fim, procedeu-se a indagação acerca do nível de satisfação dos agricultores com a

mandiocultura na comunidade.

6.1 Perfil Socioeconômico dos agricultores

Para conhecer melhor a caracterização dos agricultores, realizou-se um estudo do

perfil socioeconômico dos entrevistados, buscando saber sobre a idade, renda, escolaridade,

filhos e tempo de residência na comunidade. Após a coleta dos dados, elaboraram-se as

tabelas abaixo para sistematizar e analisar cada um.

Para Rocha (1997), um questionário do perfil socioeconômico tem como finalidade

avaliar a situação social, tecnológica e socioeconômica, bem como a deterioração das famílias

de uma região.

Na tabela 01 e no gráfico 01 será apresentada a faixa etária dos entrevistados com a

freqüência de ocorrência.

Page 91: Tcc perfil da agricultura familiar

90

Tabela 01 - Distribuição da idade dos entrevistados

Idade Nº Freqüência 0 a 20 0 0%

20 a 30 1 5% 30 a 40 2 10% 40 a 50 10 50%

> 50 7 35% Total 20 100%

Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 01 – baseado na tabela 01 - autoria própria

Com relação à faixa etária dos entrevistados, de acordo como gráfico 1 constatou-se

que 50% estão na faixa de quarenta a cinquenta anos, 35% com mais de cinquenta anos, 10%

entre trinta e quarenta anos, e apenas 5% entre vinte e trinta anos. Diante disso pode-se

afirmar que a maioria dos agricultores entrevistados está acima dos quarenta anos, isso

significa que os jovens da comunidade estão fora da agricultura, ou não a privilegiam como

atividade principal.

A caracterização do perfil socioeconômico é o retrato social, econômico e cultural

que permite o entendimento da estrutura vinculada à agricultura familiar.

Habermeier (1995) afirma que o conhecimento produzido pela entrevista é muito

mais que uma mera observação direta, contudo confessa que um dos fatores limitantes da

entrevista é que esse conhecimento produzido oferece informações abalizadas numa visão

subjetiva dos entrevistados, proporcionando conhecimento parcial dos fatos.

Page 92: Tcc perfil da agricultura familiar

91 A tabela 02 juntamente com o gráfico 02 tem como objetivo fazer uma explanação

da renda familiar da amostra foco da pesquisa.

Tabela 02 - Distribuição da faixa de renda dos entrevistados

Renda(salário mínimo) Nº Freqüência ate 1 18 90% 1 a 2 1 5% 2 a 3 1 5% 3 a 4 0 0% 4 a 5 0 0% Total 20 100%

Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 02 – Baseado na tabela 02 - autoria própria

Avaliando os dados apurados acerca da renda familiar dos entrevistados no gráfico 2,

conferiu-se que 90% vivem com uma renda abaixo de um salário mínimo. 5% possuem renda

de um a dois salários mínimos e os outros 5% com renda de dois a três salários. Salienta-se

que aqueles que detêm renda entre um e três salários, contam com aposentadoria rural.

Grau de escolaridade é o nível de estudo dos indivíduos participantes da pesquisa. Segundo Demartini (1983, p.25),

Numa caracterização geral de seu nível de instrução e formação poder-se-ia concluir que a população rural compõe-se, em sua maioria, de pessoas que apresentam uma escolaridade reduzida e desempenham o trabalho agrário basicamente com o aprendizado informal obtido pela experiência direta no trabalho junto com a família e não dispõem praticamente de conhecimentos adquiridos por outras vias, sistemáticas ou não, para o desempenho de suas funções.

Page 93: Tcc perfil da agricultura familiar

92 Para ter uma visão da formação cognitiva dos AF, demonstra-se na tabela 03 e no

gráfico 03 o estudo do grau de escolaridade dos entrevistados.

Tabela 03 - Distribuição do grau de escolaridade

Escolaridade Nº Freqüência Alfabetizado 17 85%

E. Fundamental 1 5% E. Médio 2 10%

E. Superior 0 0% Total 20 100%

Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 03 – baseado na tabela 03 - autoria própria

No Gráfico 03 observa-se que na comunidade, 85% dos entrevistados são somente

alfabetizados, sabem apenas ler e escrever, alguns com certa dificuldade. Isso demonstra o

grau de atraso educacional e consequentemente socioeconômico da população, o que

repercute no atraso da atividade econômica desenvolvida, como também nos hábitos e na

resistência às mudanças. Esse fato é prejudicial para o desenvolvimento econômico da

agricultura, pois, o baixo nível educacional impede que os agricultores acessem aos

conhecimentos técnicos e sejam abertos para receber novas informações e as interprete.

Com relação ao número de filhos, ou crescimento demográfico familiar, para se ter

uma visão do tamanho das famílias e do impacto na economia familiar e fez-se um estudo

baseado na tabela 04 e representado graficamente no gráfico 04.

Page 94: Tcc perfil da agricultura familiar

93

Tabela 04 - Número de filhos dos entrevistados

Filhos Nº Freqüência 0 a 2 5 25% 2 a 4 7 35% 4 a 6 3 15% > 6 5 25%

Total 20 100% Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 4 – baseado na tabela 4 - autoria própria

Como se pode perceber no gráfico 4, das famílias dos entrevistados 35% tem ente

dois e quatro filhos; 25% têm mais de seis filhos, outros 25% têm entre 0 e 2 filhos e apenas

15% estão na faixa de quatro a seis filhos. Tendo em vista esses dados, concorda-se que o

tamanho das famílias no campo tem diminuído, mostrando uma redução na taxa de natalidade

na zona rural. Pode-se considerar que este dado é positivo, já que demonstra que há certa

consciência dos agricultores com relação ao tamanho da família, e se previnem para não ter

muitos filhos.

Para fazer uma análise da prática da agricultura na comunidade faz-se um estudo do

tempo de residência dos agricultores, para se ter uma idéia do tempo de atuação na atividade,

os quais são expostos na tabela 05 e no gráfico 05.

Page 95: Tcc perfil da agricultura familiar

94

Tabela 05 - Tempo de residência na comunidade

Tempo (anos) Nº Freqüência 0 a 5 1 5%

5 a 10 0 0% 10 a 15 0 0%

> 15 19 95% Total 20 100%

Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 05 – baseado na tabela 05 - Autoria própria

O tempo de residência na comunidade registrado entre os entrevistados,

demonstrado no gráfico 05 é de mais de 15 anos para 95% dos informantes. Esse fato vem

apresentar o sedentarismo dos nossos agricultores que se fixam num pedaço de chão para

produzir o seu alimento. O tempo de residência no local influencia na questão do hábito

cultural, o que pode dificultar o acesso a novos procedimentos e tecnologias.

A constatação é de que a estabilidade residencial é benéfica à prática agrícola, pois

estabelece um vinculo comunitário muito forte.

Quando se analisa o perfil da agricultura familiar no Brasil, percebe-se que esta tem

um grande potencial para continuar contribuindo de forma efetiva para o desenvolvimento

local, sendo necessário, para tanto, reconhecer o seu papel no processo de tomada de decisões.

Page 96: Tcc perfil da agricultura familiar

95 6.2 Perfil da mandiocultura na comunidade

Perfil da mandiocultura é a imagem ou o diagnóstico da atividade que apresenta

dados sobre a mesma e como esta se comporta. Com o fim de ter um olhar acerca da realidade

da mandiocultura na comunidade alvo do estudo, pesquisou-se o tamanho da área de plantio

por família, a quantidade de produção, a forma e o local de compra de insumos e

equipamentos, a forma e o local de venda da produção, a influencia da concorrência, a

importância da mandiocultura, a contribuição da associação comunitária, a motivação para

participar da associação, se há incentivos do governo para desenvolver a atividade, e que tipos

de incentivos são dispensados para a mandiocultura.

Na tabela 06 e respectivamente no gráfico 06, faz-se a demonstração da área de

plantio por família.

Tabela 06 - Área de Plantio

Área (há) Nº Freqüência 0 a 1 11 55% 1 a 2 7 35% 2 a 3 2 10% 3 a 4 0 0% 4 a 5 0 0% Total 20 100%

Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 06 – baseado na tabela 06 - Autoria própria

Page 97: Tcc perfil da agricultura familiar

96

Conforme se vê no gráfico 06 construído com base na tabela 06, dos entrevistados

55% plantam numa faixa de 0 a 1 ha. Somente 35% planta numa área entre 2 e 3 ha e os

últimos 10% com numa área entre 2 a 3 ha. Dentre eles não há um sequer que exerça sua

atividade numa área maior que 3ha, o que esclarece para todos que os agricultores detêm uma

área muito pequena destinada a sua cultura, contribuindo assim para uma estagnação da

produção e o estresse da terra, levando-a a ficar improdutiva. É possível conferir que esse

dado não é bom para a mandiocultura da comunidade, já que a quantidade de área usada é

muito pequena e não contribui para o aumento da produção, mantendo assim um reduzido

percentual de produção na comunidade.

Dando sequência a exposição dos dados da pesquisa, na tabela 07 e no gráfico 07 é

publicado o resultado da entrevista para a produção de mandioca na comunidade

Tabela 07 - Produção de mandioca (cargas)

Cargas Nº Freqüência 0 a 10 0 0%

10 a 20 11 55% 20 a 30 4 20% 30 a 40 3 15% 40 a 50 2 10% Total 20 100%

Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 07 - baseado na tabela 07 - autoria própria

A produção de mandioca do grupo de entrevistados, de acordo com o gráfico 07

apresenta-se assim: 55% produzem entre dez a vinte cargas, 20% entre vinte e trinta e cargas,

outros 15% entre trinta a quarenta, e por fim, apenas 10% conseguem entre quarenta a

Page 98: Tcc perfil da agricultura familiar

97 cinqüenta cargas. Entende-se assim que, como uma pequena parte possui uma área utilizada

para plantio, ou seja, acima de 01 ha, também uma pequena parcela de produtores possui uma

produção significativa acima de 40 cargas. Essa decorrência também não pode ser

considerada boa, porque há uma estagnação da produção, já que somente uma pequena

parcela produz acima de 40 cargas, sendo assim, a renda familiar também é pequena e não

contribui para a sustentabilidade financeira da atividade e da família.

Para conhecer sobre a produção de farinha, a tabela 08 oferece os números da

produção de farinha obtidos pela entrevista. Em seguida apresenta-se no gráfico 08 a

frequência de produção.

Tabela 08 - Produção de farinha de mandioca

Alqueires Nº Freqüência 0 a 5 0 0%

5 a 10 0 0% 10 a 15 10 50% 15 a 20 5 25% 20 a 25 3 15% 25 a 30 2 10% Total 20 100%

Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 08 – baseado na tabela 8 - autoria própria

O gráfico 08 mostra que 50% dos agricultores que participaram da pesquisa disseram

que produzem entre dez a quinze alqueires de farinha. 25% afirmam que produzem entre

quinze a vinte; 15% colocam que têm produção entre vinte e vinte e cinco alqueires, e os

últimos 10% chegam a produzir numa faixa de 25 a 30 alqueires. Esse dado esclarece que a

produção de farinha é baixa como a produção de mandioca, já que uma depende da outra.

Page 99: Tcc perfil da agricultura familiar

98 Sobre o local de aquisição de insumos de equipamentos, a tabela 09 oferece o

resultado obtido na pesquisa, que também é apresentado no gráfico 09.

Tabela 09 - Local de compra de insumos e ferramentas

Local Nº Freqüência Comercio local 0 0%

Municípios vizinhos 20 100% Fortaleza 0 0%

Total 20 100% Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 09 – baseado na tabela 09 - autoria própria

Questionados sobre o local onde compram seus insumos e ferramentas, todos

responderam que compram nos municípios vizinhos. Tal procedimento não pode ser

considerado viável, pois encarece o custo da produção.

Já na tabela 10, faz-se a apresentação do resultado alcançado quando se pergunta

sobre o destino da mandioca produzida na comunidade. E no gráfico 10, são representados os

dados da tabela referida nesse parágrafo.

Tabela 10 - Destino da mandioca produzida

Destino Nº Freqüência produção de farinha 20 83%

ração animal 0 0% venda in natura 0 0%

produção de goma 4 17% Total 24 100%

Fonte: Pesquisa direta

Page 100: Tcc perfil da agricultura familiar

99

Gráfico 10 – baseado na tabela 10 - autoria própria Conforme os entrevistados, no gráfico 11, está demonstrado que 83% da produção

de mandioca é destinada à produção de farinha, enquanto o restante, 17% é usada na produção

de goma. Comumente, todos os agricultores usam parte da mandioca para produzir a goma,

outro subproduto que muito usado para fazer a conhecida tapioca, hábito herdado dos índios.

Com o interesse de saber como os agricultores fazem suas compras, na tabela 11 e no

gráfico 11, baseado na mesma tabela, vêm ofertar as respostas dos entrevistados.

Tabela 11- Forma de compra de insumos.

Forma de compras Nº Freqüência Individual 20 100% Coletivo 0 0%

Total 20 100% Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 11 – baseado na tabela 11 - autoria própria

Page 101: Tcc perfil da agricultura familiar

100

Constata-se pelo gráfico 11, que todos os agricultores responderam que fazem suas

compras individualmente. Esse hábito dos agricultores demonstra seu grau de individualidade

e desorganização social, o que não tem vantagem para o empreendimento familiar, já que se

as compras fossem feitas coletivamente, poderiam barganhar menores preços, e ganhariam

também com o custo de frete.

Para que seja entendido mais sobre a produção da mandioca na comunidade e da

comercialização da produção, a tabela 12, e o gráfico 12 respectivamente fazem uma análise

do local de venda da produção.

Tabela 12 - Local de vendas da produção

Local Nº Freqüência Comercio local 1 5%

Municípios vizinhos 11 55% Fortaleza 0 0%

Feiras livres 2 10% Atravessadores 6 30%

Governo 0 0% Total 20 100%

Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 12 – baseado na tabela 12 - autoria própria

Quando inquiridos acerca do local de venda de sua produção, como se vê no gráfico

12, dentre os pesquisados 55% responderam que vendem sua produção nos municípios

vizinhos, 30% afirmaram que vendem para atravessadores, 10% dizem que vendem em feiras

livres e apenas 5% revelam que vendem para o comércio local. Verifica-se que não há uma

Page 102: Tcc perfil da agricultura familiar

101 organização da comercialização, o que causa enormes prejuízos para os agricultores

familiares, já que precisam transportar sua produção para outros municípios e vender seu

produto mais barato.

Dando seqüência à investigação acerca da comercialização da produção, a tabela 13,

reproduzida no gráfico 13, oferece a realidade do individualismo na comunidade, quando

efetuam a venda de sua farinha.

Tabela 13 - Forma de venda da produção

Forma de vendas Nº Freqüência Individual 20 100% Coletivo 0 0%

Total 20 100% Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 13 – baseado na tabela 13 - autoria própria

Quando interrogados sobre a forma de venda da produção, todos são unânimes ao

afirmar que vendem a produção individualmente. Não há como negar que o individualismo na

comunidade é enraizado, como na forma de compra de seus insumos, também vendem sua

produção de forma isolada, ficando reféns dos atravessadores, dos comerciantes espertalhões,

e em consequência dos baixos preços, que causam prejuízos para o empreendedores

familiares.

Com o fim de entender qual a é o papel dos concorrentes na cadeia produtiva da

mandioca, sendo que pode ser considerado concorrente, os produtores de mandioca, e os

comerciantes entre si, a tabela 14 oferta como estes se comportam na comunidade na visão

dos agricultores familiares.

Page 103: Tcc perfil da agricultura familiar

102

Tabela 14 - Interferência dos concorrentes

Forma de vendas Nº Freqüência no preço 7 35% na oferta 0 0%

na procura 12 60% na comercialização 1 5%

Total 20 100% Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 14 – baseado na tabela 14 - autoria própria

Com relação à interferência dos concorrentes na cadeia produtiva da mandioca, 60%

asseguraram que se dá na procura, 35% proferiram que acontece no preço, e 5% citam que é

na comercialização. A concorrência às vezes é benéfica à cadeia produtiva, contudo, quando

essa concorrência ocorre na fase secundária da cadeia, ou seja, na produção da matéria-prima,

torna-se mais prejudicial, pois, contribui para baratear muito o produto, fato que também

proporciona poucos ganhos aos produtores.

Conforme os estudos bibliográficos feitos nessa pesquisa, a mandiocultura é tida

como atividade econômica fundamental para a sobrevivência de muitas famílias,

principalmente as de baixa renda que vivem na zona rural. Diante disso, procurou-se saber

qual o peso e a importância da mandiocultura na comunidade ambiente da pesquisa, dados

que serão explicitados na tabela 15 e posteriormente para melhorar a compreensão no gráfico

15.

Page 104: Tcc perfil da agricultura familiar

103 Tabela 15 - Peso da mandiocutura para a sobrevivência da família

Peso Nº Freqüência 0 a 2 0 0% 2 a 4 0 0% 4 a 6 14 70% 6 a 8 6 30%

8 a 10 0 0% Total 20 100%

Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 15 – baseado na tabela 15 - autoria própria

De acordo com o gráfico 15, setenta por cento (70%) dos entrevistados responderam

que a nota para o peso da importância da mandiocultura para suas famílias está entre 4 a 6, ou

seja, responde por aproximadamente cinquenta por cento de sua sobrevivência . Os outros

30% deram nota de 6 a 8. Para a economia esse dado é muito relevante e corrobora para que

os governos vejam essa atividade como base para a segurança econômica, alimentar e

nutricional de nossa população, ofertando assim mais condições para seu fortalecimento.

A Associação Comunitária do Córrego da Ramada conseguiu uma casa de farinha

modernizada através do PSJ. Diante desse evento, foi indagado também sobre a contribuição

da Associação para o desenvolvimento da mandiocultura na comunidade, que vem ser

apresentado na tabela 16.

Page 105: Tcc perfil da agricultura familiar

104

Tabela 16 - Nível de contribuição da associação para o desenvolvimento da

mandiocultura

Nível de contribuição Nº Freqüência muito 0 0% pouco 2 10% médio 6 30% não sabe 12 60% Total 20 100%

Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 16 – baseado na tabela 16- autoria própria

Quando interrogados sobre a contribuição da Associação Comunitária para o

desenvolvimento da mandiocultura, 60% responderam que não sabiam. 30% expuseram que

contribui médio. E os outros 10% asseveraram que a associação contribui pouco, segundo o

gráfico 16. Os dados obtidos demonstram o desligamento dos entrevistados da Associação ou

negaram-se a responder adequadamente ao questionário, já que a maioria afirma que não sabe

se a Associação contribui ou não para o desenvolvimento da atividade. Isso não parece um

fato positivo, tendo em vista que, do ponto de vista organizacional, as estruturas coletivas

possuem mais vantagens para promover a sustentabilidade e a organização produtiva.

Na tabela 17, que se segue, expõem-se os resultados da questão acerca da motivação

para participar da Associação, comportamento que fundamental para promover a organização

social.

Page 106: Tcc perfil da agricultura familiar

105 Tabela 17 - Motivação para participar da Associação

Motivação Nº Freqüência Sim 14 70% Não 2 10%

médio 4 20% pouco 0 0% Total 20 100%

Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 17 – baseado na tabela 17 - autoria própria

Ao serem examinados sobre a motivação para participar da Associação Comunitária

da comunidade, 70% responderam que se sentem motivados. 20% afirmaram que sua

motivação é média; apenas 10% acentuaram que não sentem vontade de participar. Ao

comparar esse resultado com o da tabela 16, ocorre certa contradição, já que se não sabem da

importância da contribuição da Associação para a cadeia produtiva da mandioca, por que não

se sentem motivados a participar da associação? Essa questão requer uma apuração posterior.

Quantos aos pontos positivos e negativos da mandiocultura visualizados pelos

entrevistados, a tabela 18 vem demonstrar suas impressões que serão apostas também o

gráfico 18, e para melhor compreensão no quadro 01.

Page 107: Tcc perfil da agricultura familiar

106

Tabela 18 - Pontos Positivos e Negativos da mandiocultura

Item P N Preço da farinha 5% 95%

Mecanização 5% 95% Produção baixa 0% 100%

Produtividade baixa 95% 5% Acesso a mercado 50% 50%

Estradas 35% 65% Assistência técnica 0% 100%

Atravessadores 45% 55% Excesso de produção 5% 95% Custo de produção 70% 30% Preço de insumos 40% 60%

Terra 65% 35% Qualidade da farinha 5% 95%

Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 18 – baseados na tabela 18 – autoria p rópria

Segundo o gráfico 18, a 95% dos agricultores acham a que a qualidade da farinha

produzida é o ponto mais positivo, 70% declaram que a terra é o segundo ponto mais positivo,

Page 108: Tcc perfil da agricultura familiar

107 65% dizem que o preço dos insumos também são pontos positivos, 50% dizem que o custo de

produção e positivo, outros 50% afirmam que é negativo, 55% colocam que por excesso de

produção é negativo, pois causa a baixa de preços, 60% acham os atravessadores negativos,

porque os exploram, 65% dizem que a assistência técnica é ponto negativo pois é muito

ausente e descontínua. 90% confirmam que as estradas, o acesso ao mercado, a produção

baixa, a produtividade e a produção baixa são pontos negativos. Por fim 100% confirmam que

a mecanização e os preços são os pontos mais negativos, esses dois últimos, justificam-se

porque os preços da farinha geralmente são muito baixos não compensando os custos e não há

mecanização para melhorar a produção.

Para se ter uma ideia sobre a atuação governamental no processo de desenvolvimento

da cadeia produtiva da mandioca na comunidade, a tabela 19 vem citar a opinião dos

entrevistados sobre os incentivos do governo.

Tabela 19 - Há incentivos do governo

Opinião Nº Freqüência Sim 18 90% Não 0 0%

não sabe 2 10% Total 20 100%

Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 19 – baseado na tabela 19 - autoria própria

O gráfico 19 expõe a resposta dos entrevistados se há incentivo dos governos para a

cadeia da mandiocultura. Dos inquiridos, 90% proferem que há incentivo do governo para a

mandiocultura, enquanto apenas 10% citaram que não sabiam. Como a maioria absoluta

afirma que há incentivos governamentais, isso demonstra que o governo está se preocupando

com a atividade e está injetando recursos para aprimorar a mesma. Isso se revela muito

Page 109: Tcc perfil da agricultura familiar

108 positivo, já que contribuirá para o avanço e sustentabilidade da cadeia produtiva da mandioca.

Como foi identificado que há incentivos governamentais para a mandiocultura na comunidade

de Córrego da Ramada, procurou-se saber quais incentivos existiam, sendo que na tabela 20

será apresentada a resposta.

Tabela 20 - Tipo de incentivo do governo para a mandiocutura

Incentivo Nº Freqüência Empréstimo 16 80%

Assistência técnica 3 15% Cursos 1 5%

Apoio a comercialização 0 0% Total 20 100%

Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 20 – baseado na tabela 20 - autoria própria

Em relação ao principal tipo de incentivo que o governo dispensa para promover o

desenvolvimento da mandiocultura, de acordo com o gráfico 20, dos agricultores interrogados

80% confirmaram que eram os empréstimos do PRONAF através dos BNB e BB. 15%

disseram que era a assistência técnica, apenas 5% citaram que eram cursos de capacitação, e

nenhum citou apoio à comercialização. Compreende-se aqui que atualmente o maior incentivo

são os financiamentos através do PRONAF, contudo será que somente esse incentivo é

suficiente para promover o desenvolvimento da mandiocultura ou outras cadeias? Já com

relação aos outros incentivos, conforme a amostra percebe-se que são muito poucos

efetivados ou pouco percebidos, ou ainda pouco valorizados.

Nesta seção foram apresentados os dados acerca do perfil da mandiocultura na

comunidade de Córrego da Ramada. Seguindo o teor da das opiniões coletadas, conclui-se

que ainda há certo nível de desorganização social, muito desconhecimento por parte dos

Page 110: Tcc perfil da agricultura familiar

109 agricultores, muita acomodação e descompromisso com a melhoria da atividade. A produção

é muito baixa e a as áreas plantadas são poucas, geralmente não passa de um hectare por

família, até porque muitos não possuírem muita terra, e plantam em áreas arrendadas, como

também por fala de equipamentos, maquinários tecnologia necessária à aplicação do plantio e

em consequência da produção.

Com relação aos pontos positivos e negativos da mandiocultura na comunidade,

parece que de acordo com os dados coletados que há muito poucos pontos positivos e muitos

pontos negativos, havendo necessidade de averiguar com muita eficácia o porquê desse

evento, se é porque os agricultores não sabem avaliar a atividade, se estão sendo pessimistas

ou se realmente têm razão. No que se refere aos incentivos governamentais, a maioria

absoluta afirma que há incentivos e que o mais importante deles são os empréstimos do

PRONAF, notadamente o microcrédito através do programa do Banco do Nordeste chamado

de Agroamigo. Cabe se perguntar, se esse olhar dos agricultores se deve ao fato de dar mais

importância ao dinheiro do que aos outros incentivos, ou se têm acesso a esse incentivo com

mais facilidade do que aos outros.

6.3 Análise das casas de farinha tradicionais

Nessa seção expor-se-á uma análise das casas de farinha tradicionais da comunidade

do Córrego da Ramada, procurando entender a opinião dos agricultores acerca da qualidade

da farinha tradicional, equipamentos, vantagens e desvantagens e sobre o que mais gostam na

casa de farinha tradicional.

Na tabela 21, apõem-se a opinião dos entrevistados sobre a qualidade da farinha feita

nas casas de farinha tradicional.

Tabela 21 - Qualidade da farinha das casas de farinha tradicional

Opinião Nº Freqüência ótimo 2 10% boa 10 50%

regular 8 40% ruim 0 0%

não sabe 0 0% Total 20 100%

Fonte: Pesquisa direta

Page 111: Tcc perfil da agricultura familiar

110

Gráfico 21 – baseado na tabela 21 – autoria própria.

Consta-se através do gráfico 21, que 50% dos participantes da pesquisa consideram a

farinha das casas de farinha tradicionais boa; 40% acham regular e 10% avaliam como ótima.

Conforme a visão de qualidade dos agricultores, eles ainda consideram a farinha feita nas

casas de farinha tradicionais de boa qualidade, embora não entendam que o padrão de

qualidade dos consumidores atualmente mudou muito.

No que diz respeito à avaliação dos equipamentos, na tabela 22 é feito a exposição da

opinião dos entrevistados.

Tabela 22 - Avaliação dos equipamentos das casas de farinha tradicional

Opinião Nº Freqüência

ótimo 0 0% Boa 9 45%

Regular 10 50% Ruim 1 5%

Não sabe 0 0% Total 20 100%

Fonte: Pesquisa direta

Page 112: Tcc perfil da agricultura familiar

111

Gráfico 22 – baseado na tabela 22 - autoria própria.

Verificou-se que 50% dos agricultores pesquisados consideram os equipamentos das

casas de farinha tradicionais regular, 45% avaliam como ótimos e 5% ponderam como ruins.

Sente-se que os agricultores devido ao costume com o tradicional se afeiçoam muitos

aos equipamentos das casas de farinha tradicionais, uma vez que metade dos entrevistados

afirma que os equipamentos são regulares e 45% dizem que são bons.

Em seguida, na tabela 23 podem-se ver os dados sobre as vantagens e desvantagens

das casas de farinha tradicionais, os quais serão representados no gráfico 23.

Tabela 23 – Vantagens e desvantagens das casas de farinha tradicional

Desvantagem Vantagem

Faz goma 0% 100% O tipo de farinha 0% 100%

Piso grosso 0% 100% Forno de tijolo 5% 95%

Costume 70% 30% É toda manual 80% 20%

É aberta 95% 5% Não gasta muita energia 100% 0%

Fonte: Pesquisa direta

Page 113: Tcc perfil da agricultura familiar

112

Gráfico 23 – baseado na tabela 23 - autoria própria.

Consoante a representação no gráfico 23, dentre os entrevistados 100% dizem que o

piso é uma desvantagem já que quase todo piso é grosso ou muito irregular e sujo, 70%

acentuam que o forno de tijolo é uma desvantagem porque geralmente solta barro que se

mistura à farinha; outros 80% acham que o fato de ser quase toda manual é também uma

desvantagem, e 95% afirmaram que a casa de farinha aberta é outra desvantagem porque

entram animais e poeira, 80% colocam que o fato de ser toda manual é outra desvantagem. Já

100% dizem que na casa de farinha tradicional é possível fazer goma que é uma boa

vantagem, também no mesmo percentual dizem que como não gasta muito energia elétrica

tem mais vantagem, 95% asseveram que outra vantagem importante é o costume em fazer

farinha nessas casas de farinha. Por fim, todos aceitam que o tipo de farinha produzida

também é outra vantagem relevante.

É possível chegar à conclusão por meio desta seção que os agricultores familiares da

comunidade de Córrego da Ramada estão ainda muito presos ao tradicional e aos costumes

herdados de seus antepassados.

Não percebem que seus métodos de produção estão ultrapassados e não atendem às

exigências do mercado. Com relação à consideração acerca dos equipamentos e da estrutura

das casas de farinha tradicionais, são visíveis suas desvantagens para que se produza uma

farinha de boa qualidade, mesmo assim a maioria dos entrevistados considera a farinha

produzida de boa qualidade. Diante do contexto no qual vivem os agricultores da comunidade,

Page 114: Tcc perfil da agricultura familiar

113 percebe-se que os mesmos não buscam se aperfeiçoar, adquirir novos conhecimentos,

modernizar-se e qualificar-se.

6.4 Análise da casa de farinha moderna

Após realizada a análise das casas de farinha tradicionais, proceder-se-á agora à

análise da casa de farinha moderna da mesma comunidade, para que se possa fazer um

comparativo entre elas e se possa ter um diagnóstico do comportamento dos agricultores

diante da casa de farinha tradicional e da moderna.

Para investigar os agricultores da comunidade sobre suas sensações acerca da casa de

farinha moderna, procurou-se saber se todos conheciam a referida casa de farinha, o que será

demonstrado na tabela 24.

Tabela 24 – Nº de Conhecedores da casa de farinha moderna

Opinião Nº Freqüência

Sim 20 100% Não 0 0%

não sabe 0 0% Total 20 100%

Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 24 – baseado na tabela 24 - autoria própria.

Page 115: Tcc perfil da agricultura familiar

114

Segundo o gráfico 24, tendo como base a tabela 24, todos os agricultores pesquisados

demonstraram serem conhecedores da existência da casa de farinha moderna da comunidade.

Perguntou-se aos entrevistados sua opinião sobre a casa de farinha moderna para

poder elaborar uma conclusão sobre os sentimentos dos mesmos, apresentado-se na tabela 25.

Tabela 25 – Opinião sobre casa de farinha moderna

Opinião Nº Freqüência Melhor que a tradicional 12 60% Pior que a tradicional 0 0% Não tem diferença 0 0% Não sabe 8 40% Total 20 100%

Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 25 – baseado na tabela 25 - autoria própria.

Ao serem questionados sobre o que achavam da casa de farinha moderna, 60%

ressaltaram que é melhor do que a tradicional e os outros 40% asseveraram que não sabiam,

de acordo com o gráfico 25. Diante desse resultado percebe-se que a maioria acha que a

moderna é melhor, mesmo assim só produzem sua farinha nas casas de farinha tradicionais.

Pode-se inferir que isso se dá por conta do dispêndio alto de energia, e talvez pela falta de

qualificação no manuseio do equipamento, soma-se a isso a questão cultural

A seguir, na tabela 26 expõe-se a análise sobre a despesa da casa de farinha moderna

e após apresenta-se a mesma no gráfico 26.

Page 116: Tcc perfil da agricultura familiar

115

Tabela 26 - Despesas de produção da casa de farinha moderna

Opinião Nº Freqüência Mais alto 10 50% Mais baixo 1 5% Igual 1 5% Não sabe 8 40% Total 20 100%

Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 26 – baseado na tabela 26 - autoria própria.

Os agricultores foram questionados também sobre as despesas de produção das casas

de farinha tradicionais e moderna. Dentre eles, 50% afirmaram que a despesa de produção na

casa de farinha moderna é mais alta do que na tradicional, 30% responderam que não sabiam,

pois não tinha feito farinha lá, 5% colocaram que era igual e os últimos 5% disseram que era

mais baixo. Conclui-se por meio dessas respostas que metade dos entrevistados percebe que

as despesas podem ser mais baixas na casa de farinha moderna, que a qualidade seria melhor e

que poderiam mudar muito a imagem de seu produto.

Após ter sido mostrado que os agricultores consideram que as despesas de produção

na casa de farinha moderna são mais baixas do que na tradicional, investigou-se sobre a

qualidade da farinha, e os dados foram apresentados pela tabela 27.

Page 117: Tcc perfil da agricultura familiar

116

Tabela 27 – Qualidade da farinha da casa de farinha moderna

Opinião Nº Freqüência ótima 6 30% boa 9 45%

regular 2 10% ruim 0 0%

não sabe 3 15% Total 20 100%

Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 27 – baseado na tabela 27 – autoria própria.

Quando se perguntou aos pesquisados sua opinião acerca da qualidade da farinha

produzida na casa de farinha moderna, 45% relataram que achavam boa; 30% revelaram que é

ótima; 15% informaram que não sabiam e 10% disseram que consideravam regular. A

percepção é que os entrevistados sabem que por meio da casa de farinha moderna podem

obter um produto de melhor qualidade.

Depois de se ter avaliado o sentimento quanto à qualidade da farinha produzida na

casa de farinha moderna, averiguou-se sobre qual farinha é mais fácil de vender, revelando-se

na tabela 28 e no gráfico 28.

Page 118: Tcc perfil da agricultura familiar

117 Tabela 28 – Facilidade de venda

Opinião Nº Freqüência Feita da casa de farinha

tradicional 13 65% Feita da casa de farinha moderna 7 35%

Total 20 100% Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 28 – baseado na tabela 28 – autoria própria.

Sobre a facilidade de venda da farinha de mandioca, o gráfico 28 revela que 65%

dos agricultores acentuaram que a farinha mais fácil de vender era a produzida na casa de

farinha tradicional e 35% disseram que era a feita da casa de farinha moderna, outro ponto

que corrobora a permanência da farinha tradicional. Fica também difícil de mensurar essa

questão, pois como a casa de farinha mais utilizada ainda é a tradicional; na região, a maioria

do produto disposto à venda será aquele produzido tradicionalmente, portanto, o mais fácil de

ser vendido. Consoante esse dado, vale salientar que mesmo a farinha produzida

tradicionalmente não sendo de boa qualidade, já que as casas de farinha tradicionais

apresentam estrutura inadequada, presença de animais e possibilidades de contaminação, é

mais aceita pelos compradores mais conhecidos.

Na tabela 29 depara-se com a opinião dos entrevistados sobre qual farinha tem

melhor preço no mercado local.

Page 119: Tcc perfil da agricultura familiar

118 Tabela 29 – Melhor preço

Opinião Nº Freqüência Feita da casa de farinha

tradicional 6 30% Feita da casa de farinha moderna 14 70%

Total 20 100% Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 29 – baseado na tabela 29 - autoria própria.

Com relação ao preço, 70% afirmaram que a farinha que tem melhor preço é aquela

produzida na casa de farinha moderna, os outros 30% acham que a feita tradicionalmente.

Salienta-se que mesmo sabendo que podem conseguir melhores preços com a farinha

produzida com melhores condições técnicas e com mais higiene, ainda assim acham que a

tradicional é melhor de venda. O que se percebe é que os agricultores só conhecem os

compradores locais e os atravessadores e se acomodam vendendo sua farinha para os mesmos,

não buscando, contudo, outros mercados consumidores que valorizem um produto mais

qualificado.

Com a finalidade de conhecer as vantagens e desvantagens da casa de farinha

moderna e fazer um comparativo com as tradicionais, questionaram-se os agricultores sobre

suas opiniões, dissecando-as na tabela 30 e no gráfico 30, baseado nessa tabela.

Page 120: Tcc perfil da agricultura familiar

119

Tabela 30 – Vantagens e desvantagens da casa de farinha moderna

Desvantagem Vantagem Piso de cerâmica 0% 100%

Forno de ferro 0% 100% é mecanizada 0% 100%

é fechada 0% 100% O tipo de farinha 0% 100%

Não Faz goma 100% 0% gasta muita energia 100% 0%

Costume 100% 0% Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 30 – baseado na tabela 30 – autoria própria.

Acerca das vantagens e desvantagens da casa de farinha moderna, todos afirmaram

que as principais vantagens são: piso de cerâmica, a casa de farinha é fechada, é toda

mecanizada, possui forno de ferro a o tipo de farinha é de ótima qualidade. Como

desvantagens, todos declararam que não faz goma, gasta muito energia e não têm costume.

Como conclusão dessa etapa da pesquisa de campo, que se refere à análise da casa de

farinha moderna, é factível se certificar que os agricultores familiares da comunidade

investigados têm conhecimento da existência da casa de farinha modernizada da comunidade,

sabem de sua importância, percebem que através dela podem obter uma farinha com mais

Page 121: Tcc perfil da agricultura familiar

120 qualidade e com mais possibilidade de obter um bom preço. Contudo, não demonstram

nenhum interesse de mudar de atitude e de comportamento e deixam transparecer seu apego

ao tradicional e aos maus hábitos de produção.

6.5 Nível de satisfação dos agricultores da comunidade

Nesta seção que finaliza o estudo de caso, busca-se notificar o nível de satisfação dos

agricultores com as casas de farinha tradicionais, com a moderna, com a assistência técnica e

com a produção de mandioca na comunidade.

Na tabela 31, será exposto o nível de satisfação dos agricultores com a casa de

farinha tradicional.

Tabela 31 – Satisfação com as Casas de farinha tradicionais

Opinião Nº Freqüência Muito satisfeito 1 5%

Satisfeito 10 50% Pouco Satisfeito 6 30%

Insatisfeito 3 15% Não sabe 0 0%

Total 20 100% Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 31 – baseado na tabela 31 - autoria própria.

Page 122: Tcc perfil da agricultura familiar

121 Ao serem inquiridos sobre sua satisfação com as casas de farinha tradicionais, 50%

citaram que estão satisfeitos, 30% apresentaram-se pouco satisfeitos, 15% se mostraram

insatisfeitos e 5% muito satisfeitos, de acordo com o gráfico 31. Desse modo, mais uma vez

se constata o apego dos agricultores ao tradicional e aos costumes adquiridos, não sentindo

desejo de mudar.

Após a captação do nível de satisfação dos agricultores com as casas de farinha

tradicionais, procedeu-se a investigação acerca de sua satisfação com a moderna que será

apresentada na tabela 32 e para se ter um melhor entendimento foi figurado no gráfico 32.

Tabela 32 - Satisfação com a Casa de farinha moderna

Opinião Nº Freqüência Muito satisfeito 4 20%

Satisfeito 14 70% Pouco Satisfeito 1 5%

Insatisfeito 1 5% Não sabe 0 0%

Total 20 100% Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 32 – baseado na tabela 32 - autoria própria.

Acerca da satisfação com a casa de farinha moderna, 70% se dizem satisfeitos, 20%

demonstraram-se muito satisfeitos, 5% pouco satisfeitos e 5% insatisfeitos.

Quanto ao nível de satisfação com a assistência técnica, a tabela 33 expressa os

resultados obtidos junto aos entrevistados.

Page 123: Tcc perfil da agricultura familiar

122

Tabela 33 - Nível de satisfação com assistência técnica

Opinião Nº Freqüência

Muito satisfeito 1 5% Satisfeito 7 35%

Pouco Satisfeito 2 10% Insatisfeito 0 40% Não sabe 10 10%

Total 20 100% Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 33 – baseado na tabela 33 – autoria própria. Em referencia à satisfação dos agricultores com a assistência técnica, 40%

demonstraram-se insatisfeitos, 35% aludiram que estão satisfeitos, 10% se apresentaram

insatisfeitos, 10% pouco satisfeitos e 5% não souberam responder. Pode-se acentuar a

ausência de assistência técnica seja uns dos motivos do desuso da casa de farinha moderna.

Concluindo a análise dos dados do estudo de caso, a última tabela de nº 34

demonstra a satisfação dos agricultores familiares com sua produção de mandioca.

Page 124: Tcc perfil da agricultura familiar

123

Tabela 34 - Satisfação com a produção de mandioca

Opinião Nº Freqüência

Muito satisfeito 2 10% Satisfeito 16 80%

Pouco Satisfeito 2 10% Insatisfeito 0 0% Não sabe 0 0%

Total 20 100% Fonte: Pesquisa direta

Gráfico 34 – baseado na tabela 34 – autoria própria.

Sobre a satisfação dos agricultores pesquisados com produção de mandioca, 80%

mencionaram que estão satisfeitos, 10% garantiram que estão muito satisfeitos e os últimos

10% disseram que se encontram pouco satisfeitos.

Concluindo esse estudo, deu para compreender que os agricultores familiares da

comunidade ainda estão num nível de organização instável, desestruturado e individualista.

Embora nos últimos anos tenham surgido muitos avanços nos processos

organizativos da agricultora familiar, chegar à sustentabilidade ainda é um foco muito

distante.

Conforme os indicadores obtidos na pesquisa, o perfil da agricultura familiar na

comunidade onde foi realizada a pesquisa encontra-se num processo de organização lento,

devido as resistências as mudanças oferecidas pelos agricultores da comunidade.

Page 125: Tcc perfil da agricultura familiar

124 A comunidade possui muitas potencialidades para galgar a sustentabilidade produtiva

da cadeia da mandiocultura. Já dispõe de uma estrutura de agroindústria, com acesso ao

crédito, possui associação constituída, motivação para participar da associação, dentre outras.

Apesar de também existir muitos pontos negativos, como pouca terra, ausência de tecnologia,

assistência técnica frágil, comodismo e individualismo, há possibilidades de se construir um

processo baseado em outros exemplos de organização sustentável da cadeia produtiva da

mandioca.

Foi identificada durante a pesquisa bibliográfica a existência de muitos programas de

governo que têm como objetivo apoiar a agricultura familiar. Entretanto, o que falta é

organização da comunidade para acessar a esses programas e se dedicar para evoluir e

modificar o perfil da mandiocultura em Trairi e por consequência no Ceará.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo teve por objetivo realizar um diagnóstico de modo a traçar o perfil da

agricultura familiar sob a perspectiva de sustentabilidade da cadeia de produção de mandioca,

o qual foi atingido por meio da investigação realizada através das entrevistas realizadas junto

aos agricultores familiares da comunidade do Córrego da Ramada, que proporcionou o

conhecimento da realidade dos mandiocultores que serviram de amostra para a pesquisa.

A pesquisa bibliográfica mostrou os diversos conceitos de agricultura familiar,

desenvolvimento sustentável, sustentabilidade, a história da agricultura familiar no mundo, no

Brasil e no Ceará, bem como suas dificuldades e potencialidades, que contribuiu para

conhecer melhor todo o contexto da agricultura familiar e suas nuances.

Algumas hipóteses foram comprovadas, como a falta de organização associativa, o

individualismo, o comodismo dos agricultores, a baixo nível educacional, a ausência de

assistência técnica, resistência às mudanças e o apego ao tradicional.

Esta pesquisa atingiu a todos os objetivos propostos na medida em que:

Conceituou agricultura familiar e contextualizou sua evolução no mundo, no

Brasil e no Ceará;

Definiu desenvolvimento sustentável e abordou as suas dimensões;

Contextualizou a agricultura familiar como instrumento para

desenvolvimento;

Page 126: Tcc perfil da agricultura familiar

125

Apresentou a cadeia produtiva da mandioca e identificou como esta atividade

pode ser potencialmente desenvolvida no Ceará como instrumento de

desenvolvimento rural sustentável;

Pesquisou o perfil socioeconômico e a situação em que se encontram os AF

selecionados: idade, escolaridade e renda familiar, números de filhos.

Percebeu-se também que a agricultura familiar ainda não é muito aceita no mundo

capitalista e há governos que não acreditam muito nesta modalidade econômica. O agricultor

familiar ainda é tratado da mesma forma que o camponês e /ou o agricultor de subsistência era

tratado. Na verdade, não há muitas diferenças entre essas categorias, o que há na verdade é

uma organização maior das forças sociais que defendem os interesses do público componente

dessa cadeia.

Com o estudo de caso, foi possível conhecer de perto o comportamento dos

agricultores familiares. Identificou-se um grupo de pessoas muito carente de organização

econômica, habituada a viver com o pouco que ganha através da atividade agrícola ou dos

benefícios sociais do Governo Federal. Descobriu-se também que o jovem rural não tem o

menor interesse pela agricultura.

Conforme os estudos feitos, a agricultura familiar propicia apenas o básico para o

consumo das famílias. Os rendimentos auferidos nesta atividade não são suficientes para

oferecer ao jovem o tipo de vida desejado por eles, como também o esforço de trabalho

dispensado na atividade rural é muito grande, o que afasta a juventude do trabalho na

agricultura.

Segundo as impressões obtidas pela entrevista de campo, constatou-se que a

agricultor familiar ainda pratica sua atividade do mesmo modo que há muitos anos. As

tecnologias e o conhecimento científico ainda não são utilizados pelos mesmos, talvez devido

à falta de possibilidade ou por desinteresse, uma vez que as poucas tecnologias ao seu alcance

são desperdiçadas. Um exemplo é a casa de farinha moderna, visto que conforme os dados

coletados na entrevista, tais como insatisfação com assistência técnica, falta de

comercialização, algumas desvantagens, como não produzir a goma, os custos de produção,

notadamente o consumo de energia elétrica, demonstra o desinteresse em usar a casa de

farinha moderna.

Alguns autores acreditam que a agricultura agroecológica dispensa as tecnologias,

contudo, usando as mesmas ferramentas que utilizaram até hoje, não há como prosperar e

auferir uma renda maior.

Page 127: Tcc perfil da agricultura familiar

126 Uma das principais tecnologias necessárias à organização produtiva é o

conhecimento de gestão administrativa, o que está muito longe de ser dominada pelos

agricultores familiares. Talvez por isso, a maioria ainda vive com menos de um salário

mínimo por mês.

No que diz respeito à cadeia produtiva da mandioca, conclui-se que não é muito

complexa, contudo, a maior dificuldade está na fase final, ou seja, na comercialização. Apesar

de que a fase de produção merece muita atenção e investimento para possibilitar melhores

resultados.

Durante a pesquisa foram enfrentadas algumas restrições, tais como, pouco material

de pesquisa e resistência dos agricultores para responder ao questionário.

Como recomendações de pesquisa, diante da relevância desse tema, é importante que

o mesmo continue sendo explorado pelos pesquisadores, investigue-se as resistências às

mudanças, os entraves da modernização da agricultura familiar, como também a

implementação de um sistema educacional voltado para promover a capacitação das famílias

de agricultores familiar no campo, que os prepare para enfrentar os desafios da agricultura

familiar no Brasil e ainda os resultados da aplicação dos investimentos dos recursos do

PRONAF no Ceará.

Enfim, esse assunto é muito amplo e de certa forma muito novo. Ainda há muito a se

pesquisar para chegar a conclusões mais precisas. Esse trabalho pode contribuir muito para

outras pesquisas, mas sugere-se que investiguem mais o assunto, o qual é muito rico e

enriquecedor, notadamente, para a melhoria de vida do agricultor familiar.

Page 128: Tcc perfil da agricultura familiar

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APÊNDICES

Page 140: Tcc perfil da agricultura familiar

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APÊNDICE A PESQUISA DE OPINIÃO SOBRE A CADEIA PRODUTIVA DA MANDIOCA E A CASA

DE FARINHA MODERNA NA COMUNIDADE DO CORREGO DA RAMADA-TRAIRI-CE

PERFIL SÓCIOECONOMICO DOS AGRICULTORES

1. Qual a idade? ( ) até 20 anos ( ) 20 a 30 anos ( ) 30 a 40 anos ( ) 40 a 50 anos ( ) Acima de 50 anos

2. Qual a renda? ( ) até 1 salário ( ) de 1 a 2 salários mínimos ( ) de 2 a 3 salários mínimos ( ) de 3 a 5 salários mínimos ( ) maior que 5 salário mínimos.

3. Qual é o grau de Escolaridade? ( ) Alfabetizado ( ) Ensino Fundamental ( )Ensino Médio ( ) Ensino Superior

4. Quantos filhos tem? ( ) 0 a 2 ( ) 2 a 4 ( ) 4 a 6 ( ) mais de 6

5. Quanto tempo mora na comunidade (anos) ? ( ) 0 a 5 ( ) 5 a 10 ( ) 10 a 15 ( ) mais de 15

PERFIL DA MANDIOCUTURA NA COMUNIDADE

6. Qual a área do plantio da mandioca ( ) 0 a 1ha ( ) 1 a 2ha ( ) 2 a 3ha ( )3 a 4ha ( ) 4 a 5ha

7. Qual produção de mandioca em cargas: ( ) 0 a 10 ( ) 10 a 20 ( ) 20 a 30 ( )30 a 40 ( ) 40 a 50

8. Qual produção de farinha (alqueire) ( ) 0 a 5 ( ) 5 a 10 ( ) 10 a 15 ( )15 a 20 ( ) 20 a 25 ( ) 25 a 30

9. Onde compra as ferramentas e insumos utilizados na atividade? ( ) Comercio local ( ) Nos municípios vizinhos ( ) Fortaleza

10. Qual o destino das raízes de mandioca? ( ) produção de farinha ( ) ração animal ( ) Venda in natura ( ) Produção de goma

11. Como faz as compras de insumos e ferramentas? ( ) individual ( ) em grupo

12. Onde vende sua produção? ( ) Comercio local ( ) municípios vizinhos ( ) Fortaleza ( ) feiras livres ( ) atravessadores ( ) governo

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13. Como vende sua produção?

( ) individual ( ) em grupo

14. Como os concorrentes interferem na atividade? ( ) no preço ( ) na oferta ( ) na procura ( ) na comercialização

15. Qual a peso da mandiocutura para a sobrevivência da família? ( ) 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ( ) 6 ( ) 7 ( ) 8 ( ) 9 ( ) 10

16. A Associação Comunitária contribui para o desenvolvimento da mandiocutura e da comunidade? ( ) muito ( ) pouco ( ) médio ( ) não sabe

17. Você se sente motivado a participar da Associação Comunitária? ( ) sim ( ) não ( ) médio ( ) pouco

18. Coloque N para negativo e P para positivo para cada item abaixo em relação a cadeia produtiva da mandioca ( ) produção baixa ( ) assistência técnica ( ) terra ( ) produtividade baixa ( ) mecanização ( ) atravessadores ( ) preço da farinha ( ) excesso de produção ( ) preço de insumos ( ) qualidade da farinha ( ) acesso a mercado ( ) estradas ( ) Custo de produção

19. Há incentivo do governo para a cultura da mandioca? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe

20. Tipo de incentivo do governo: ( ) Empréstimo ( ) Assistência técnica ( ) Cursos ( ) apoio a comercialização

ANALISE DAS CASAS DE FARINHA TRADICIONAIS

21. Como você avalia a qualidade da farinha produzida nas casas de farinha tradicionais? ( ) Ótima ( ) Boa ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Não sabe

22. Como você avalia os equipamentos das casas de farinha tradicionais? ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Não sabe

23. Quais as vantagens e desvantagens da casa de farinha tradicional? Coloque V – Vantagem e D - Desvantagem ( ) Faz goma ( ) Não gasta muita energia ( ) Estão acostumados ( ) É aberta ( ) O piso é grosso ( ) O forno de tijolo ( ) É toda manual ( ) O tipo de farinha

ANALISE DA CASA DE FARINHA MODERNA

24. Você conhece a casa de farinha moderna implantada pelo Governo do estado do Ceará? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe

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141 25. Qual sua opinião sobre a casa de farinha moderna?

( ) Melhor que a tradicional ( ) Pior que a tradicional ( ) Não tem diferença ( ) Não sabe

26. A despesa de produção das casas de farinha tradicional em relação a moderna? ( ) Mais alto ( ) Mais baixo ( ) Igual ( ) Não sabe

27. Como você avalia a qualidade da farinha produzida na casa de farinha moderna? ( ) Ótima ( ) Boa ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Não sabe

28. Qual farinha é melhor de venda? ( ) Feita da casa de farinha tradicional ( ) Feita da casa de farinha moderna

29. Qual farinha tem o melhor preço? ( ) Feita da casa de farinha tradicional ( ) Feita da casa de farinha moderna

30. Quais as vantagens e desvantagens da casa de farinha moderna? Coloque V – Vantagem e D - Desvantagem ( ) Não faz goma ( ) Gasta muita energia ( ) Não estão acostumados ( ) É fechada ( ) Tem cerâmica no piso ( ) O forno de ferro ( ) É mecanizada ( ) O tipo de farinha

NIVEL DE SATISFAÇAO DOS AGRICULTORES DA COMUNIDADE

31. Nível de satisfação com a casa de farinha moderna? ( ) Muito satisfeito ( ) Satisfeito ( ) Pouco Satisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Não sabe

32. Nível de satisfação com as casas de farinha tradicional? ( ) Muito satisfeito ( ) Satisfeito ( ) Pouco Satisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Não sabe

33. Nível de satisfação assistência técnica? ( ) Muito satisfeito ( ) Satisfeito ( ) Pouco Satisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Não sabe

34. Nível de satisfação com a produção de mandioca? ( ) Muito satisfeito ( ) Satisfeito ( ) Pouco Satisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Não sabe