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Televisão, vídeo e subjetividade Omar Rincón Enciclopédia Latino-americana de Sociocultura e Comunicação Bogotá: Norma Editorial, 2002

Vídeo, educação, subjetividade

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Televisão, vídeo e subjetividade

Omar Rincón

Enciclopédia Latino-americana de Sociocultura e Comunicação

Bogotá: Norma Editorial, 2002

Pensa o audiovisual como estratégia fundamental na relação com o mundo e com a vida na sociedade contemporânea.

Crê nas formas audiovisuais, nas suas estéticas e nos seus relatos para o encontro e o encanto.

“Creio e afirmo que o audiovisual é um supermercado simbólico de estilos de vida para habitar estes tempos desalmados de razão, que o cinema é e seguira sendo o rito de onde ir para imaginar a existência e criar a ilusão, o vídeo é a tática para a aventura, o anjo, o tempo pessoal, e a televisão a experiência massiva mais cômoda para sobreviver imaginativamente ao caos”.

Vivemos em culturas audiovisuais

Culturas são redes de significações.

Culturas são audiovisuais quando sem referência de território juntam experiências instantâneas sentimentais e narrativas e produzem estilos de habitar sem chegar a conformar identidades plenas; quando produzem uma paisagem (simbólica) caracterizada por outras formas de significação, novas maneiras de perceber, representar e reconhecer, inéditas formas de experiência, pensamento e imaginação.

Culturas audiovisuais constroem um entorno que faz pensar com imagens

Paisagem-cultura-mundo audiovisual e tecnológico que brinda um repertório comum em meio ao qual se produz o sujeito contemporâneo.

Paisagem-cultural-local de imagens e narrativas próximas e afetivas que reivindica as estéticas e as histórias comunitárias como táticas legítimas de construção da subjetividade.

Culturas audiovisuais que constituem os novos laboratórios experimentais da subjetividade e do pensamento.

Sensibilidade é a palavra chave para compreender as formas audiovisuais.

Sensibilidade como via de expressão do homem ordinário e não do sujeito culto, competente conforme a racionalidade dominante e a estética de museus.

A sensibilidade como via de expressão implica outros modelo para compreender as dinâmicas da vida social: um modelo que se interessa pelo movimento, que reivindica novos espaços e relações e que configura um novo regime de reconhecimento e imaginação.

Pensa a sensibilidade a partir das formas subalternas de inscrever a vida na contemporaneidade:

gênero

sexo

ecologia etnia

juventude

músicafutebol

telenovela

carnaval

Sensibilidades que afirmam uma resistência afetiva e sensível.

Operam como táticas que se atrevem a incomodar as formas clássicas do saber e da cultura.

Produzem modos de subjetividade sem verdades transcendentais que se fazem em relatos em fluxos, novas valorações não escritas, memórias eletronicamente frágeis.

Superficialidades? Império do banal? Talvez.

Mas também modos de escapar ao controle e vontade de luta por constituir-se.

O que Rincón propõe:

As sensibilidades como estratégia para imaginar o diferente em meio ao fluxo caótico e barroso de imagens.

A imagem como uma maneira de pensar e narrar a existência.

O audiovisual como uma possibilidade de fabular o mundo através do cinema, da televisão e o vídeo.

Cinema, televisão e vídeo são três domínios audiovisuais, com lógicas, linguagens e estéticas próprias.

Constituem diferentes comunidades de sentidos com especificidades comunicativas.

CATEGORIA CINEMA TELEVISÃO VÍDEO

Tipo de comunicação

Comunicação expressiva – Nasce influenciado pelo teatro e pela fotografia, mas logo constrói linguagem própria. Se estabelece como lugar privilegiado da expressão humana.

Comunicação informativa – Ainda que considerada como herdeira do cinema, nasce mais próxima do rádio por seu caráter direto, de documento, de testemunho, de instantâneo. No informativo encontrou sua especificidade. Evoluiu com proposta de entretenimento industrial e massivo.

Comunicação artística – Nasce como experiência sobre o próprio dispositivo técnico. Aprende com o cinema a potência da imagem e se afirma de modo diferente da televisão. Sua comunicação está baseada na manipulação das imagens, na busca de mundos próprios dentro do audiovisual. É o domínio estético de um dispositivo de expressão que busca enfatizar a autoria e trabalha o técnico como lugar criativo.

CATEGORIA CINEMA TELEVISÃO VÍDEORitual É como ir a missa à

missa. Em evento especial. Se sai de casa, se faz em conjunto, se tem um ritual próprio. Uma mágica. Um sonho coletivo. Um interrupção da dura realidade.

É como rezar um rosário. Uma rotina.

Se pode fazer em qualquer lugar. É um relato reiterativo. Sempre o mesmo, feito para ocupar a imaginação sem pecar (interromper).

É como um anjo. Uma prática que se refaz, sempre distinta. A ele se assiste com iniciados, como adoradores de uma possibilidade de expressão, como um mistério criativo.

Forma

de ver

Sonhar – A luz se apaga (consciência) e a mente entra no vazio, se abre à imaginação. Permite uma perda da consciência do mundo. Se ganha a possibilidade de outros mundos.

Ver na rua – Em pleno dia, de fragmento em fragmento. Fluxo. Descontinuidade. Focos que se perdem. Relatos vazios. Histórias híbridas. Ver sem poder evadir a realidade. Em meio à rotina.

Novas miradas – A imagem ‘videólica’ se tornou pensamento e chave de infinitos mundos possíveis. Já não é lugar só do olho, mas também do espírito. Uma experiência mística.

CATEGORIA CINEMA TELEVISÃO VÍDEOAtor Autor – Diretor

elevado à categoria de intelectual que reflete e se comunica com seu tempo.

Realizador – Na televisão há poucos nomes para lembrar.Fazer televisão é um ofício que se leva a cabo coletivamente.

Experimentador – Artista que busca nos dispositivos todos os potenciais de criação para encontrar novas formas para com as imagens.

Autoria Artista – Cada filme é uma obra pela qual se transmite uma reflexão sobre o ser humano e seu entorno.

Artesão - Sua função consiste na permanência, na recorrência, na repetição dos mesmos princípios. Se mede por sua regularidade mais do que por sua inspiração.

Libertário – “Quem é competente para voltar a postular as questões da criatividade no contexto de uma sociedade cada vez mais informatizada, cada vez mais imersa nas redes de telecomunicações e cada vez mais determinada pelas representações que faz de si mesma através da indústria cultural” (Arlindo Machado).

CATEGORIA CINEMA TELEVISÃO VÍDEOProdução Lenta –

Principalmente na América Latina. (média 4 a 6 cenas por dia)

Rápida – Com diversas unidades de gravação. Se filmam em média 40 a 50 cenas por dia.

Pessoal – Cada obra é um processo de busca e criação que segue as intuições e o tempo de cada artista.

Plano Aberto - O cinema, por seu potencial expressivo, é a arte dos grandes planos, das imagens absolutas.

Primeiro plano – A pequena tela é cenário para o voyeurismo obsessivo, o desejo de olhar em detalhe as reações. Seu universo é o rosto.

Quadro – Os trabalhadores do vídeo se submergem na tela, no quadro, para encontrar todas as suas possibilidades de criação.

Mercado Pago – Lugar público. O espectador decide, paga e exige o cumprimento de um contrato industrial e narrativo.

Grátis – Lugar privado. Chega sem pedir licença. O espectador não crê que tenha direitos a exigir. Com a TV paga a situação começa a mudar.

Interesse – Lugar em relação com a obra. Os vídeos buscam cenários adequados para comunicar seu potencial criativo e experimental. Se assiste por aura e compromisso afetivo.

Evidências da importância das imagens na sociedade atual:

1. Dominam a cultura popular;

2. A televisão se converteu em lugar de visualidade que ritualiza formas de interpretar o mundo;

3. O olho está no centro da percepção, do pensamento, da reflexão, da representação, do reconhecimento. O lugar de onde se olha. Imagem como lugar para fluir a subjetividade e as relações intersubjetivas.

4. Imagem uma forma sofisticada de construção do pensamento, sem a qual não haveria o desenvolvimento da ciência.

5. O século XX é impensável sem o papel estrutural e constituitivo das imagens: iconografia, fotografia, televisão, cinema, vídeo e as imagens digitais.

6. A imagem é informação, objeto de adoração, veículo da imaginação.

Esse é o modo como os intelectuais percebem essas três práticas audiovisuais:

1. Cinema, lugar da imaginação;

2. Televisão, uma indústria que joga com o cotidiano;

3. Vídeo, lugar da experiência.

Esse esquema remete também às autopercepções dessas comunidades de sentido.

As formas audiovisuais ocupam lugar estratégico na cultura cotidiana das maiorias, na transformação das sensibilidades, nos modos de perceber o espaço e o tempo e nos modos de construir imaginários e identidades.

Uma mediação entre cultura, sociedade e subjetividade.

Uma sensibilidade para expressar novas maneiras e experiências de gerar sentidos.

Narrativas audiovisuais – formas de contar.

Dispositivos para contar histórias e estratégias de pensamentos

A televisão seduz porque se comunica a partir de estruturas narrativas, ou seja formas de contar, reconhecidas. Suas mensagens são simples e afetivas.

Na vida diária, a maioria se informa e constrói modelos de desejo e reconhecimento pela televisão.

A realização audiovisual:

1. Criação: não depende de inspiração apenas, mas de se estabelecer estratégias para o desenho das ideias, os formatos, os estilos de narrar, a construção dos personagens. Elaborar critérios para selecionar o narrável. Sinopse. Argumento. Roteiro.

2. Produção: vai viabilizar a realização. Cuidar dos recursos econômicos, humanos e técnicos. Horários. Locações. Cenários. Elencos.

3. Realização: gravação/filmagem e edição. Concretiza o projeto narrativo do dispositivo de contar histórias audiovisuais. Narrativa de câmeras. Composição visual. Estratégias de edição. Sonorização.

Vídeo:

1. Alternativa de resistência:

2. Possibilidade para explorar novas subjetividades;

3. Uma atitude para seguir e interceptar o fluxo massivo.

Como sujeitos em comunicação, hoje habitamos as tecnologias para imaginar novas imagens.