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revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

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2 Novembro · 2015

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Clivonei Roberto [email protected]

Luciana [email protected]

CÁ ENTRE NÓS

Uuufaaa!!!O Grupo Santa Terezinha, no Paraná, com

10 unidades, está entre os que vão esten-

der a colheita, ou melhor, não deve parar,

emendando as safras.

Muitos dizem que as expectativas

para o Brasil em 2016 são ainda de mui-

tos problemas, mas que para a agroindús-

tria canavieira o cenário é de recuperação.

Que assim seja!

Para o setor sucroenergético, até que

enfim surge a luz no fim do túnel.

Esta foi a impressão que tivemos dos

participantes do 8º Congresso Nacional

da Bioenergia Udop/Stab, realizado em

11 e 12 de novembro em Araçatuba, SP. O

mesmo sentimento pôde ser encontrado

nos participantes de vários outros eventos

do setor.

A explicação se deve aos bons preços

do etanol no mercado interno e do açú-

car no mercado externo. Este último incre-

mentado pela valorização do dólar e pela

informação de déficit no estoque mundial.

A valorização dos produtos está in-

centivando muitas usinas a estenderem a

moagem, reduzindo a quantidade de ca-

na-bis, mesmo que tenham de brigar com

as chuvas que têm atrapalhado a colheita.

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Capa

DNA Canavieiro

Holofote- Qual é o futuro

do etanol hidratado?

Tendências- Gerindo custos na crise

ÍNDICE

Nordeste- Cana volta a

incrementar a

geração de emprego

em Pernambuco

Insectshow- Para controlar a

Ferrugem Alaranjada,

não precisa

erradicar o canavial

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Editores: Luciana [email protected]

Clivonei Roberto [email protected]

Redação: Adair [email protected]

Leonardo [email protected]

MarketingRegina Baldin

[email protected]

Editor gráficoThiago Gallo

Tecnologia Agrícola- Cuidando da soqueira

Tecnologia Industrial- Mais impurezas e

menos açúcar, este

é o cenário do setor

Economia- Benefícios da rotação de cultura

da cana com leguminosas

Pesquisa & Desenvolvimento- Ridesa completa

25 anos e domina

os canaviais

Sustentabilidade- Lançado relatório sobre

o Projeto RenovAção

Aproveite melhor suanavegação clicando em:

Áudio LinkFotosVídeo

Entre em contato:Opiniões, dúvidas e sugestões sobre a re-vista CanaOnline serão muito bem-vindas:Redação: Rua João Pasqualin, 248, cj 22Cep 14090-420 – Ribeirão Preto, SPTelefones: (16) 3627-4502 / 3421-9074Email: [email protected]

www.canaonline.com.br

CanaOnline é uma publicaçãodigital da Paiva& Baldin Editora

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HOLOFOTE

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râmetro da equação, veja o que vai acon-

tecer com o resto. Não é solução simples.

Parte da solução cabe a nós, que é resol-

ver o mecanismo de precificação do hi-

dratado e do anidro.

Celso Torquato Junqueira Franco,

diretor presidente da UDOP (União

dos Produtores de Bioenergia)

e diretor da Usina Pioneiros

Para de falar que hidratado não tem espaço

Estamos passando por uma

transição que ainda está

longe de acabar e

não temos chances

de dizer que álcool

hidratado não é um

produto importante.

Inclusive de regula-

ção de mercado. Vejo

que num futuro próximo, talvez, isso pos-

sa mudar quando todos os mecanismos

de uso de combustível limpo em vários

países do mundo estiverem definidos, de-

terminando o uso do etanol como aditivo.

E isso poderá levar a um grande aumento

da exportação. Mas hoje vejo o etanol hi-

dratado como produto de vital importân-

cia, no só em termos competitivos como

de criação de novos empregos, novas in-

dústrias, e pelo grande potencial que tem.

No curto e médio prazo, não tem chance

de continuarmos falando que o hidrata-

Ficou como patinho feio

O etanol hidratado permanece ou aca-

ba? É uma polêmica que se mantém

nas rodas de conversas. Na minha leitura,

quem estabelece hoje o preço do etanol,

dos produtos da cadeia, via de regra, é o

etanol hidratado, porque, de certa forma,

está atrelado ao preço da gasolina. Para o

anidro, nós convencionamos o preço em

relação ao hidratado. Quanto ao açúcar, a

partir do momento que a commodity re-

munera mais que o etanol, aumenta o mix

para açúcar. Quando inverte, aumenta o

mix para etanol. O biocombustível acaba

também gerando um parâmetro de preci-

ficação de açúcar no mercado internacio-

nal. Assim, o etanol hidratado ficou como

o patinho feio. Mas pensando num mo-

delo sem o etanol hidratado, como re-

solvemos o problema da sazonalidade de

produção? Hoje, quando tem excesso de

cana, o excesso de produção migra para

o hidratado. Isso porque o açúcar tem de-

manda estabelecida no mercado interna-

cional para cada ano. Se forçar a barra cai

muito o preço, piorando a rentabilidade.

No caso do anidro, é o volume de venda

de gasolina que determina sua demanda;

no máximo é possível interferir é na va-

riação da mistura.

Onde é que de-

sova o excesso

de produção de

cana? No hidra-

tado. Tira esse pa-

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8 Novembro · 2015

do não tem mais espaço. Temos inclusive

que ponderar nessa discussão. Podem até

imaginar que estamos pensando em redu-

zir a produção brasileira de etanol.

Ismael Perina, engenheiro

agrônomo e presidente da Câmara

Setorial de Açúcar e Etanol

Por um combustível de melhor qualidade

A questão não é acabar com o álco-

ol carburante, mas deixar de fabri-

car um combustível meio ‘fajuto’, que tem

água. Se água fosse boa para o motor à

combustão, estava tudo resolvido. O álco-

ol carburante continuaria do mesmo jeito,

mas de melhor qualidade, sem água. E falo

em criar um programa de marcas e mer-

chandising sobre o assunto, mas para isso

precisa de muito dinheiro. O setor nunca

se preocupou em fazer reserva para esse

tipo de coisa. Seria fazer uma grande mu-

dança mercadológica, quase como lançar

um novo produto, buscando junto ao go-

verno novas condições, nova regulamen-

tação, inserção na matriz energéti-

ca brasileira. Concomitante a isso,

uma grande mudança da indús-

tria automobilística a fim de aca-

bar com essa tapeação de

ter motor a gasoli-

na adaptado para ál-

cool, com um rendi-

mento muito menor.

Essa discussão é algo

muito mais amplo do que simplesmente

deixar de produzir um produto, mas isso

exigiria um processo de vários anos. De

qualquer forma, não conheço nada que

seja melhor para o Brasil do que esse pro-

grama como um todo e seus derivados.

Maurílio Biagi Filho,

presidente do Grupo Maubisa

Mecanismo de regulação

O hidratado é a esponja que regula o

sistema e serve como mecanismo

de regulação desta in-

dústria. E é um mo-

delo que deveria ser

cogitado em outros

países.

Plínio Nastari,

presidente

da Datagro

Consultoria

Acaba com o setor

Dos nossos 600 mi-

lhões de tone-

ladas de cana que

moemos no Cen-

tro-Sul, 200 mi-

lhões de to-

neladas são

transformadas

HOLOFOTE

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em hidratado. Se não tivermos hidratado,

é muita cana para ‘chuparmos’. Não tem

mercado de açúcar para colocar mais 15

milhões de toneladas. E não tem anidro

para crescer nessa velocidade. Se acabar

com hidratado, acaba com o setor.

Luis Roberto Pogetti,

presidente do Conselho de

Administração da Copersucar

Temos problemas maiores

Pelo que entendi da

proposta, não é aca-

bar com o hidratado,

mas que o E100 seja fei-

to com o anidro. Um

etanol sem água,

e que continu-

asse a mistura

dos 27% à ga-

solina. Mas par-

ticularmente me

preocupo mui-

to com isso, porque

teríamos um pro-

duto só. E neste caso minha preocupação

está com o governo, que afeta o nosso dia

a dia. Vide o que aconteceu nesse ano. Co-

meçamos o ano subindo a mistura de 25%

para 27% e os contratos de anidro baixa-

ram bastante. Ganhamos demanda, mas

perdemos preço, a princípio. Além disso,

acho difícil, ao tirar a água, ganharmos al-

guma coisa de eficiência energética. Mas

acho que é um assunto a ser bem discuti-

do, mas hoje temos problemas maiores. A

grande questão é a nossa vontade de en-

frentar estes grandes desafios.

André Rocha, presidente do Fórum

Nacional Sucroenergético e do Sifaeg

(Sindicato da Indústria de Fabricação

de Açúcar e Etanol de Goiás)

O hidratado vai ficar

O Brasil construiu nesses últimos 40

anos o maior programa de combus-

tível renovável do mundo. Agora o país

deverá ratificar seus compromissos com

relação à energia renovável na COP-21, a

partir de 30 de novembro, em Paris. Por

isso, falar em terminar com o álcool hidra-

tado significa maior consumo de combus-

tível fóssil. E para o Brasil, no momento

econômico difícil que enfrenta, o hidra-

tado é vital para a balança comercial, até

porque o país não tem projeto para novas

refinarias. Seja por pressão externa, para

que cumpramos os acor-

dos firmados na COP-21,

ou por pressão de caixa,

o etanol hidratado vai fi-

car e vai continuar inse-

rido de maneira cada vez

mais importante na nossa

matriz energética.

Jacyr Costa

Filho, diretor da

Divisão Brasil do

Grupo Tereos

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10 Novembro · 2015

TENDÊNCIAS

rado pela agência de classificação de risco

Standard & Poor’s.

A situação se agrava ainda mais dian-

te de uma crise política. O desacordo en-

tre Planalto, Senado e Câmara se intensi-

fica diariamente e dificulta aprovações de

políticas econômicas, fazendo com que

o país vivencie um momento de elevada

instabilidade.

É claro que muitas questões não es-

tão ao nosso alcance e dependem unica-

mente do direcionamento do governo, mas

apenas esperar por condições melhores de

mercado é o mesmo que aceitar todos os

impactos negativos trazidos pela crise do

país. É importante olhar para o ambiente

Gerindo custos na crise

Ana Malvestio1 e Luis Seixas2

Todos sabem que a economia brasi-

leira está passando por momentos

difíceis. Segundo o Banco Central,

o país terá uma recessão em 2015, com re-

dução do Produto Interno Bruto (PIB) de

2,85%, aliado a uma elevação da inflação

que deve finalizar o ano a 9,53%. A moeda

brasileira sofre desvalorizações a cada dia

e o preço do dólar já gira em torno de R$

4,00, com picos de alta dependendo dos

movimentos do mercado. Por conta disso,

o país não deve conseguir cumprir a meta

de superávit primário e já mencionou um

orçamento deficitário para 2016. A conse-

quência deste cenário econômico resultou

na perda do selo de “bom pagador”, reti-

AS EMPRESAS CONSIDERADAS REFERÊNCIA EM GESTÃO

PODEM GERAR RESULTADOS CERCA DE 50% MELHORES

QUE A MÉDIA DO SETOR EM QUE ATUAM

Uma das saídas é baseada na aceleração de resultados. O foco nesse momento é obter um retorno financeiro rápido

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interno e encontrar soluções para superar

os desafios do atual momento, com a rea-

lização de ajustes para melhorar os resul-

tados. Mesmo na crise, isso é, sim, possível!

Mesmo na crise é possível

melhorar resultados

As empresas consideradas referência

em gestão podem gerar resultados cer-

ca de 50% melhores que a média do setor

em que atuam. Gestão é um tema muito

amplo que pode envolver múltiplas ações

voltadas para diversos objetivos. Porém,

quando se trata de um momento de cri-

se, se torna mais necessário olhar para os

custos. O baixo faturamento, proveniente

das condições adversas do mercado, pode

ter impacto menos significativo nos lucros

se os custos forem bem geridos.

Na PwC Brasil, o modelo de gestão

de custos é divido em duas fases interliga-

das. A primeira delas é baseada na acele-

ração de resultados. O foco nesse momen-

to é obter um retorno financeiro rápido,

que pode ser atingido, por exemplo, por

meio da eficiência tributária. Identifica-

ção de créditos não apropriados e de car-

gas tributárias que podem ser reduzidas

geram benefícios de curto prazo com im-

pacto imediato nos resultados financeiros

e, nessa primeira fase, o retorno financeiro

que a empresa obtém gera o financiamen-

to para pagar a segunda fase.

A segunda fase é focada na mudança

da cultura da empresa, visando uma redu-

ção de gastos sustentáveis. Portanto, exige

estruturação da gestão orçamentária, me-

lhorias de controles e envolvimento e ca-

pacitação de diversos gestores da empresa.

Os resultados não são imediatistas, como

na primeira fase, mas as ações implementa-

das representam um divisor de águas para

a empresa quando se trata do tema cus-

tos. O foco será sempre no binômio custo

Tem coisa que não dá para ficar esperando pelo fim da crise política

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12 Novembro · 2015

TENDÊNCIAS

= preço x consumo. Para a alavanca “pre-

ço”, a firma conta com as melhores práti-

cas do mercado em compras estratégicas,

que podem auxiliar nas formas de negocia-

ção com fornecedores, revisão de contra-

tos, técnicas de parametrização, etc. Na ala-

vanca “consumo”, a PwC Brasil estabelece

comparações entre áreas similares ou utili-

zando benchmark para identificar quais as

áreas que estão consumindo mais uma de-

terminada natureza do gasto e quais as que

estão consumindo menos. A partir dessa

diferença, são estabelecidas as lacunas e

planos de ação estruturados.

É importante tomar cuidado com cor-

tes lineares, pois essa ação pode trazer im-

pactos significativos para as organizações.

Por exemplo, uma empresa, forçada pe-

las condições econômicas desfavoráveis,

pode decidir impor um corte linear de 12%

em todos os custos. O resultado será nega-

tivo, pois gestores que têm um orçamento

inchado serão menos prejudicados do que

aqueles que realmente buscam gerenciar

os custos e construir um orçamento enxu-

to. O maior impacto está associado à per-

cepção desses gestores sobre a previsão

de gastos, e a tendência é que todos pas-

sem a construir um orçamento mais “fol-

gado” para amenizar os impactos de uma

possível crise e novo um corte linear.

Neste contexto, a gestão de custos é,

com certeza, um dos melhores caminhos

para enfrentar o momento delicado que

atravessa o Brasil. Reagir diante dos desa-

fios e acelerar mudanças internas são os

primeiros passos para se sobressair diante

desse cenário.

É preciso promover redução de gastos

sustentáveis

1Sócia da PwC Brasil e líder de Agribusiness para o Brasil e Américas

2Sócio da PwC Brasil, especialista em gestão de custos e melhoria na eficiência operacional

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14 Novembro · 2015

NORDESTE

Luciana Paiva

REATIVAÇÃO DE TRÊS USINAS GERA 12 MIL EMPREGOS EM PLENA CRISE E É

RESPONSÁVEL POR PERNAMBUCO LIDERAR A GERAÇÃO DE EMPREGOS NO PAÍS

Cana volta a incrementar a geração de emprego em Pernambuco

Em Pernambuco ainda predomina o corte manual da cana;a alta incidência de topografia acidentada contribui para isso

Durante o governo do presiden-

te Lula, Pernambuco era um can-

teiro de obras, faltava trabalhador

e sobrava vagas de emprego. Trabalhar

nas usinas de cana passou a ser uma op-

ção descartada, o negócio era ser operá-

rio nas obras do Porto de Suape, na refi-

naria Abreu e Lima, na pavimentação das

estradas ou na construção de fábricas que

se instalavam no estado.

Mas o “milagre econômico Lulista”

chegou ao fim. O corte dos investimen-

tos e a paralisação das obras empurra-

ram Pernambuco a liderar as estatísticas

de campeão nacional do desemprego. Po-

rém, neste ano, mais precisamente no mês

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de setembro, o ranking do Cadastro Ge-

ral de Empregados e Desempregados (Ca-

ged) apontou Pernambuco como o maior

gerador de vagas do Brasil.

Em Pernambuco, foram admitidos

em setembro 52.583 pessoas e desliga-

das 37.335, com um saldo de 15.248 va-

gas criadas no período, o que represen-

ta 1,16% mais vagas em comparação com

agosto. Em todo o país, foram fechadas

95.602 vagas.

A expansão do número de vagas com

carteira assinada no estado se dá devido a

um componente sazonal, que são as ativi-

dades ligadas ao setor da cana-de-açúcar.

A indústria de transformação foi responsá-

vel pela criação de 10.824 postos, enquan-

to a fabricação do açúcar bruto correspon-

de a 2.061 vagas. A agropecuária acumulou

5.818 postos de trabalho, sendo 4.112 do

cultivo da cana e 1.214 do cultivo da uva.

A reativação das usinas Pumaty, em

Joaquim Nabuco, Cruangi, em Timbaúba,

e Pedrosa, em Cortes, incrementou ain-

da mais a geração de empregos promo-

vida pelo setor sucroenergético pernam-

bucano. As usinas “renascidas” já geraram

12 mil empregos diretos e indiretos. “Es-

tamos quebrando paradigmas, porque di-

zem que usina que fecha não abre mais e

80 unidades industriais fecharam no Brasil

nos últimos cinco anos”, diz Alexandre An-

drade Lima, presidente da Associação dos

Fornecedores de Cana de Pernambuco

(AFCP) e da Cooperativa do Agronegócio

dos Fornecedores de Cana de Pernambu-

Na época do milagre econômico Lulista sobravam obras em Pernambuco

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16 Novembro · 2015

NORDESTE

co (Coaf), gestora da Cruangi. Já a Puma-

ty foi reaberta pela Cooperativa Agrocan.

Neste cenário de gasolina cara, dó-

lar barato e menor estoque mundial de

açúcar, os nordestinos analisam que este

momento é vantajoso porque as usi-

nas podem exportar mais açúcar e tam-

bém podem produzir etanol, que está

“Enquanto outros estados fecham usinas, nós abrimos. E abrimos na hora certa”, diz Gerson Carneiro Leão

“Menino Monstro” derruba previsão de safra no Nordeste

Maior que o ocorrido em

1997/1998, esta é a análise so-

bre o “El Niño” 2015, tanto que

foi batizado de “Menino Monstro. Este fe-

nômeno climático é caracterizado pelas

temperaturas altas na superfície dos ma-

res no Pacífico, e ocorre entre a costa oes-

te da América Latina e o Sudeste Asiático,

mas seus efeitos podem ser sentidos em

todo o mundo – atingindo Japão e a re-

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mais competitivo em relação à gasolina,

com isso, maior demanda. “Enquanto ou-

tros estados fecham usinas, nós abrimos.

E abrimos na hora certa. Havia um milhão

de toneladas de cana sobrando na região

e o preço do açúcar reagiu, porque a sa-

fra da Índia quebrou. Agora, estamos mo-

endo fila atrás de fila e já estamos expor-

gião norte do Pacífico. Várias vezes, ele le-

vou a desastres naturais.

A grosso modo, trata-se de um ciclo

anual que, em alguns anos, é pouco sen-

tando até para a Europa”, diz feliz Gerson

Carneiro Leão, sócio da usina Pedrosa. Mas

não é só ele que comemora, mas também

as comunidades em que as usinas estão

inseridas, pois a expectativa é que, ao fi-

nal do ano, cada unidade fature pelo me-

nos R$ 30 milhões. Nesta safra, 18 unida-

des estão em atividades em Pernambuco.

tido. A mudança da temperatura na su-

perfície do mar interage com a atmosfera

sobre o Oceano Pacífico e, em uma tem-

porada extrema, verifica-se o que os cien-

Além das perdas na safra atual, as soqueiras precisam da chuva para garantir a próxima safra

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18 Novembro · 2015

NORDESTE

tistas chamam de “evento”. De três a sete

anos, acontece um pico: quando quanti-

dade suficiente de água quente – em um

“El Niño” – se concentra no leste do Pací-

fico, próximo a costa do Peru. Como um

evento climático, pode-se perceber que os

picos começam no final de dezembro.

Mas o “Menino Monstro” já provoca

estragos no Brasil, com muita chuva na re-

gião Sul e seca no Nordeste, onde a cana-

de-açúcar foi seriamente afetada. O que

levou consultorias a reavaliarem para bai-

xo suas análises de produção. No fim de

outubro, a Datagro, maior consultoria do

mundo em cana, açúcar e etanol, reduziu

sua projeção para a safra Nordeste para 52

milhões de toneladas, ante os 59,2 milhões

de toneladas projetadas anteriormente.

Agora em novembro, a consultoria

FCStone reduziu em 6 milhões de tone-

ladas para 53,5 milhões a estimativa para

a moagem de cana-de-açúcar na região

Nordeste nesta safra 2015/16. Nos nú-

meros da FCStone, a previsão agora é de

uma produção de açúcar no Nordeste de

3,08 milhões de toneladas, uma queda de

13,6% em relação ao estimado em agosto

pela consultoria. Para a fabricação de eta-

nol, a nova estimativa da FCStone é de um

volume de 1,99 bilhão de litros, queda de

11,5% frente ao projetado em agosto.

Alexandre Andrade Lima, presidente

da Associação dos Fornecedores de Cana

de Pernambuco (AFCP), diz que a quebra

nos canaviais na zona da mata norte (a

mais seca do estado), chega a ser de 50%

e dá como exemplo a usina Cruangi, rea-

berta nesta safra após três anos sem moer,

“a expectativa era colher 500 mil tonela-

das, mas se confirmar o cenário de seca,

não deve chegar a 350 mil”. A Cruangi é

gerida pela Cooperativa do Agronegócio

dos Fornecedores de Cana de Pernambu-

co (Coaf), da qual Alexandre preside. Ainda

segundo ele, a média de quebra na safra

pernambucana deve ser de 25%, a mes-

ma média da região Nordeste. “Lamentá-

vel, justamente em um momento que os

produtos estão valorizados, teremos me-

nos matéria-prima.”

“Lamentável, justamente em um momento que os produtos estão valorizados, teremos menos matéria-prima”, diz Alexandre

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20 Novembro · 2015

INSECTSHOW

Para controlar a Ferrugem Alaranjada, não precisa erradicar o canavial

Leonardo Ruiz

CONTROLE QUÍMICO PODE SER BASTANTE EFICAZ NO

CONTROLE DA FERRUGEM ALARANJADA DA CANA

Em 2009, os técnicos agrícolas da Usi-

na Cerradão, localizada no municí-

pio mineiro de Frutal, começaram a

perceber que alguns canaviais da unida-

de apresentavam pequenas pontuações

amareladas em suas folhas. Naquele mo-

mento, não foi dada tanta importância a

esses sintomas, já que eles poderiam sig-

nificar apenas um segundo tipo de Fer-

rugem marrom (Puccinia melanocephala)

que estaria surgindo. Porém, aos poucos,

essas manchas foram evoluindo e passa-

ram a ganhar outro tom: mais alaranjado.

Esses sintomas se alastraram pelos

canaviais da Empresa e também por várias

outras unidades agroindustriais no Centro-

Sul. A Ferrugem alaranjada (Puccinia kueh-

nii), como ficou conhecida, chegava ao Bra-

Ferrugem alaranjada causou danos ao setor, pois ataca, principalmente,

a variedade SP 81-3250, que, em 2009, era uma das mais cultivadasC

TC

Page 21: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

21

sil por meio de correntes de ar, pegando

o setor de surpresa, pois ela ataca, princi-

palmente, a variedade SP 81-3250, que, na-

quela época, era uma das mais cultivadas.

A doença chegou a causar redução na pro-

dução agrícola na ordem de 30% a 50% em

TCH (toneladas de cana por hectare) e de

15% a 20% no teor de sacarose dos colmos.

Com esses números, muitos produtores

entraram em pânico, a ponto de erradicar

seus canaviais com a SP 81-3250, eliminan-

do-a do plantel varietal.

Na Cerradão, o cenário não era dife-

rente, já que a SP 81-3250 também era o

carro-chefe da empresa. Porém, o gerente

de produção agrícola da unidade, Michel

Fernandes, conta que o caminho tomado

foi outro. Em vez de erradicar completa-

mente o canavial, eles optaram em usar

outra medida de manejo, uma que impe-

disse os altos níveis de dano econômico

decorrentes da doença e que ainda per-

mitisse que as variedades atacadas con-

tinuassem sendo utilizadas. Os resulta-

dos foram excepcionais, pois o controle

da doença devolveu produtividade às va-

riedades. A forma de manejo escolhida foi

o uso do fungicida, e o produto escolhi-

do, o Opera®, da BASF. Hoje, cerca de 28%

do canavial da Cerradão ainda é composto

pela 81-3250, número que seria bem me-

nor caso o modelo de combate adotado

tivesse sido outro.

Provando a eficiência

Embora os primeiros sinais de Ferru-

AR

QU

IVO

CA

NA

ON

LIN

E

Michel Fernandes conta que, em vez de erradicar completamente o canavial, a Usina Cerradão optou pelo uso do fungicida

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22 Novembro · 2015

A doença chegou a causar redução

na produção agrícola na

ordem de 30% a 50% em TCH

INSECTSHOW

gem alaranjada na Usina Cerra-

dão tenham aparecido em 2009,

o pico da doença começou em

2011. Naquele ano, Michel Fer-

nandes teve que provar para a diretoria a

necessidade de entrar com controle quí-

mico pesado nos canaviais afetados. Para

isso, decidiu separar duas áreas com Fer-

rugem e tratar apenas uma delas. O resul-

tado foi impressionante. “No canavial não

tratado, tivemos perdas de 20% a 30% em

TCH e redução de 5 a 6 Kg de Açúcares

Totais Recuperáveis (ATR). Já nos locais

em que o Opera® foi aplicado, consegui-

mos recuperar a produtividade.” Segundo

ele, esses dados provaram não só os mo-

tivos de entrar com controle químico no

combate a Ferrugem alaranjada, mas tam-

bém a alta eficiência e custo-benefício do

Opera®.

Atualmente, a empresa utiliza algu-

mas estações meteorológicas próprias

para prever o surgimento da doença. Esse

sistema analisa as condições mais favo-

ráveis à eclosão da Ferrugem alaranjada,

cruzando informações de variedade e cli-

ma, por exemplo. “Essa tecnologia aju-

da a dar mais suporte sobre o momento

ideal de aplicação do fungicida. Essa aju-

da é de extrema importância, pois errar o

timing de aplicação resultará em estouro

da doença e perca de produtividade”, afir-

ma Fernandes.

Controle preventivo

na Usina Estiva

A Ferrugem alaranjada se desenvol-

ve no final do ciclo da cultura, favoreci-

da por verões úmidos com temperaturas

amenas (21°) após um período de molha-

mento foliar acima de 12 horas. As regiões

central e leste do Estado de São Paulo são

as mais favoráveis para o desenvolvimen-

to da doença, seguidas da região do Oeste

Paulista, que apresenta condições climáti-

cas menos adequadas.

E esse, aliás, foi um dos motivos que

fizeram com que a Usina São José da Esti-

va, de Novo Horizonte, SP, não tivesse re-

gistrado, até o ano passado, grandes casos

de Ferrugem alaranjada. O gerente agríco-

la da Unidade, Júlio Vieira de Araújo, conta

que em 2013 alguns canaviais da empresa

foram mais comprometidos com a doen-

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24 Novembro · 2015

ça, porém, devido ao bom uso de fungici-

das, as produtividades não foram severa-

mente impactadas.

Foram duas as variedades da Empresa

que tiveram maiores problemas com a do-

ença. A SP 81-3250, que corresponde a 3%

da área, e a CTC 15, encontrada em 15% dos

canaviais. “Não temos a intenção de elimi-

nar a CTC 15 de nosso plantel, pois é ela é

um material rústico e muito produtivo. Por

isso, temos trabalhado fortemente no con-

trole preventivo, para não deixar a doença

entrar. Até o momento, os resultados têm

sido muito animadores”, afirma Araújo.

O gerente explica que, para esse

monitoramento, a Usina conta com uma

equipe técnica bem treinada que faz ava-

liação das áreas com potencial risco de

surgimento da Ferrugem a cada 15 dias,

com especial atenção durante os meses

de novembro a fevereiro. “Caso sejam en-

contrados vestígios da doença, procura-

mos, imediatamente, entrar com a apli-

cação de fungicidas para não perder o

timing. Após esse processo, é realizada,

ainda, uma vistoria nessas áreas, para ve-

rificar a necessidade de uma segunda

aplicação”, finaliza.

“Na São José da Estiva uma das variedades atacadas foi a CTC 15,encontrada em 15% dos canaviais. Porém, não temos intenção de eliminá-lade nosso plantel varietal”, diz o gerente agrícola, Júlio de Araújo

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INSECTSHOW

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25

CAPA

DNA CanavieiroESTÁ NO SANGUE DO PRODUTOR SABER CUIDAR DA CANA,

MAS PARA SE MANTER NA ATIVIDADE É PRECISO SE REINVENTAR

E DOMINAR O NOVO CENÁRIO SUCROENERGÉTICO

Luciana Paiva e Clivonei Roberto

Arthur: sangue de agricultor e paixão pelo trator

“Se pudesse, o Arthur ficaria o

dia todo encarapitado no tra-

tor. É a paixão dele”, conta o

avô José Garcez, um dos 70 mil produto-

res de cana do Brasil. Mais precisamente,

José faz parte dos 90% dos pequenos pro-

dutores que colhem até 10 mil toneladas

de cana.

Com apenas três anos, o pequeno

Arthur é o retrato de um jovem agricul-

tor, calçado com botina e boné na cabeça.

Com olhar compenetrado, percorre com

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26 Novembro · 2015

Família Garcez: Suzan, Paulo, Arthur,

José e Matheus

o avô a propriedade de 14 hec-

tares no município de Motuca,

SP. Acompanha a vacinação das

vaquinhas, confere se a planta-

ção está a salvo das saúvas e,

ao lado de seu irmão Matheus,

houve atento seu pai, Paulo, e

seu avô, José, explicarem como

se deve cuidar da lavoura.

Matheus tem 15 anos e seu sonho

é ser engenheiro agrônomo. Tem todo

o apoio de sua mãe Suzan, que observa

ser preciso ter ensino para poder produzir

mais e melhor. O avô concorda e salienta

que é fundamental aumentar a renda do

agricultor para que se mantenha no cam-

po. Para isso, é preciso ter maior produti-

vidade, mas sem conhecimento e tecnolo-

gia não é possível.

Os Garcez valorizam o velho trator

de propriedade da família. “Ele ajuda mui-

to.” Mas já pensou como seria se tivessem

um trator de última geração, com compu-

tador de bordo e tecnologia de precisão?

Ahhh, isso é luxo demais!

Não é não. Hoje, para se manter na

atividade é preciso unir tradição de ser

agricultor, conhecimento sobre o campo,

prática do dia a dia, tecnologias de ponta,

conhecimento acadêmico e novas oportu-

nidades de mercado.

Não basta mais ter só

no DNA a excelência

da produção canavieira

Para Luiz Carlos Corrêa Carvalho,

também conhecido como Caio, presidente

da ABAG (Associação Brasileira do Agro-

negócio), o fornecedor de cana é o elo

mais fraco da cadeia e é quem sofre mais

com a crise. Para Caio, de fato os produ-

tores têm no DNA a excelência da produ-

ção canavieira. Ele lembra que os resul-

tados dos fornecedores de cana sempre

foram melhores do que os da usina. “Pelo

capricho, pelo dia a dia, pela dimensão da

operação que realizam. Normalmente têm

resultado médio melhor que das usinas.”

Mas, na opinião dele, até mesmo fornece-

CAPA

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27

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28 Novembro · 2015

dores de cana tradicionais, que estão há

décadas no setor, tiveram dificuldade de

manter um padrão de excelência na pro-

dução de cana por conta da crise.

Além da crise do setor, outro fator

que tem pesado no desempenho do pro-

dutor, segundo Maria Christina Pacheco,

presidente da Associação dos Fornecedo-

res de Cana de Capivari, SP, é que com o

fim da queima e a mecanização, o canavial

mudou e o produtor precisa se requalifi-

car para poder produzir melhor e se man-

ter no negócio. “A mecanização impõe

um novo jeito de cuidar da lavoura, des-

de a adubação até o espaçamento das li-

nhas de cana. E o produtor, por mais que

tenha a cultura canavieira no DNA, precisa

aprender a dominar esta nova realidade”,

diz Maria Christina.

Em relação ao fim da queima, Maria

Christina salienta não ser a favor da quei-

ma da palha da cana, mas observa que o

fogo reduzia a incidência de plantas da-

ninhas e pragas. “Com a cana crua, pre-

cisamos utilizar mais defensivos químicos

para controlar daninhas que não eram co-

muns nos canaviais, como a corda-de-vio-

la, que se enrola nos pirulitos da colhedo-

ra e travam a máquina. Aumentou muito

a presença da broca, o que nos leva a re-

alizar mais liberação de cotésia. Também

passamos a conviver com pragas como o

Sphenophorus. Para controlar isso tudo,

aumentou o custo de produção.”

Orplana muda a forma

de gestão para atender

a nova realidade do setor

Fundada em 1976, a Organização dos

Plantadores de Cana da Região Centro-Sul

do Brasil (Orplana) reúne 33 Associações e

16 mil produtores, que representam apro-

ximadamente 23% da cana produzida na

região – das 571 milhões de toneladas co-

lhidas na safra 2014/15, 129 milhões de

toneladas vieram dos fornecedores. De

acordo com Manoel Ortolan, presiden-

te da Orplana, 90% desses produtores são

considerados pequenos, produzem até 10

mil toneladas de cana e respondem por

35% do total da cana de fornecedor.

Ortolan ressalta que o setor passou

por mudanças muito significativas nos

últimos anos, uma delas é a entrada de

grandes grupos e multinacionais, o que

provocou alterações na forma de nego-

ciação entre industriais e produtores de

cana. O cenário também exige que o pro-

CAPA

“O canavial mudou, o produtor precisa aprender como lidar com esse

novo canavial”, diz Maria Christina

Page 29: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

29

dutor mecanize o canavial e adote inova-

ções tecnológicas. No quesito representa-

ção de classe também houve mudanças.

Com a expansão da cana nas novas fron-

teiras, foram criadas associações que se

mesclaram com as já existentes, algumas

com mais de 70 anos. Com isso, as rein-

vindicações dos associados ficaram mui-

to diversas.

Este cenário, declara Ortolan, mos-

trou a necessidade urgente de promover

uma transformação na gestão da Orpla-

na para fazer frente à nova realidade. “Pre-

cisamos ser mais ágeis, estar mais próxi-

mos para assegurar aos seus associados

a oportunidade de continuarem no jogo.

Para isso, contratamos a Markestrat, ten-

do o professor Marcos Fava Neves à frente

desta consultoria. Eles realizaram um estu-

do para estruturação da Orplana. Através

do programa Caminhos da Cana, criado

pelo professor, visitamos 22 associações

de produtores de cana, ouvimos produ-

tores, técnicos, dirigentes. E quando isso

foi tudo tabulado, definimos seis diretrizes

para a Orplana e delas 19 projetos para

implementação”, conta.

As novas diretrizes da Orplana são:

“Este novo cenário mostrou a necessidade urgente de promover uma transformação na gestão da Orplana”, declara Ortolan

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30 Novembro · 2015

Reestruturação do Consecana

Além de reaprender a cuidar do ca-

navial, no momento, os produtores divi-

dem a atenção no debate que estão ten-

do com os industriais para a atualização

do sistema Consecana (Conselho dos Pro-

dutores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Ál-

cool), uma associação formada por repre-

sentantes das indústrias de açúcar e álcool

e dos plantadores de cana-de-açúcar, que

têm como principal responsabilidade ze-

lar pelo relacionamento entre ambas as

partes.

Para isso, o conselho criou um siste-

ma de pagamento da cana-de-açúcar pelo

teor de sacarose, com critérios técnicos

para avaliar a qualidade da cana-de-açú-

car entregue pelos plantadores às indús-

trias e para determinar o preço a ser pago

ao produtor rural. O sistema tem adoção

voluntária.

Pelo sistema, o valor da cana-de

-açúcar se baseia no chamado Açúcar To-

tal Recuperável (ATR), que corresponde à

quantidade de açúcar disponível na ma-

téria-prima subtraída das perdas no pro-

cesso industrial, e nos preços do açúcar e

etanol vendidos pelas usinas nos merca-

dos interno e externo.

Maria Christina diz que está no esta-

tuto do Consecana que o sistema deveria

ser reavaliado a cada cinco anos e isso não

tem acontecido. Resultado: está defasado

e o produtor, sendo prejudicado. “Hoje a

cana mais barata que entra na moenda

da usina é a do produtor. Compensa para

as usinas comprarem a cana de terceiros,

quem produz a cana é que arca com todos

os ônus. Alguns parâmetros do Conseca-

na precisam ser avaliados, o sistema tam-

bém precisa ser atualizado com a nova re-

alidade do setor, como o uso da biomassa.

O Consecana não é mais justo, precisa se

adequar”, afirma a dirigente.

Manoel Ortolan salienta que o Con-

secana é um sistema muito importante,

mas que precisa voltar a acompanhar as

mudanças. “No início tínhamos o açúcar

branco e o álcool hidratado, depois vie-

ram o açúcar VHP e o álcool anidro e en-

tendemos que seja a hora de agregar a co-

geração ao Consecana.”

CAPA

O projeto Caminhosda Cana serviu como base

para a formulação dasnovas diretrizes da Orplana

Page 31: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

31

Na maior parte das unidades

sucroenergéticas, dos 100%

da cana moída, 60% é própria

e 40% de fornecedor. Mas não é isso

que acontece nas unidades do Grupo

Zilor de Lençóis Paulista e Macatuba,

onde, desde 2004, 100% da cana mo-

ída são de parceiros agrícolas. O siste-

ma chamado parceirização começou

As lições vindas do Médio TietêPARCEIRIZAÇÃO, PRODUTOR TECNIFICADO E VENDA

DE PALHA SÃO DIFERENCIAIS IMPLEMENTADOS

PELA ZILOR E SEUS PARCEIROS AGRÍCOLAS

Cenário com fardos de palha de cana não é novidade na região

Luciana Paiva e Leonardo Ruiz

em 1999, em que o grupo sede suas

terras para o parceiro produzir a cana.

A produção de cada parceiro varia de

80 mil toneladas a 800 mil toneladas.

Luiz Carlos Dalben, diretor da

Agrícola Rio Claro e presidente da As-

sociação dos Plantadores de Cana do

Médio Tietê (Ascana), desde 2002 é um

dos parceiros do Grupo Zilor. A Rio Cla-

Page 32: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

32 Novembro · 2015

CAPA

indústria, então a relação é diferente.”

Dalben compara o sistema de

parceirização com o sistema conven-

cional. “A nossa cana tem qualida-

de melhor do que a da usina. A Usina

que trabalhamos tem, por exemplo, 15

frentes de trabalho. Se fosse uma usi-

na convencional seriam cinco frentes.

Então você consegue trabalhar de for-

ro cultiva 8.600 hectares e tem uma pro-

dução de 620 mil toneladas. Para ele,

esse sistema da Zilor é uma tomada in-

teligente, porque a cana da usina sem-

pre é mais cara do que a do fornecedor,

por questão de estrutura, já que a usina

tem uma estrutura maior. Além disso, o

produtor é dono do próprio negócio, o

que incentiva a ter maior envolvimen-

to, do que o funcionário da usina. “O

produtor de cana sente mais necessi-

dade de desenvolver tecnologia, de re-

alizar um trabalho bem-feito, porque

ele vive exclusivamente da cana. A usi-

na vive do açúcar, do etanol, da ener-

gia e de outros produtos. O produtor

não, por isso tem que ter lucro na cana.

A usina tem prejuízo na cana e lucro na

ma melhor e mais pontual em questão

de ATR, por exemplo. Nosso ATR está

135, que é a média acumulada até ano

passado. O TCH é 94. Isso levando em

consideração que temos 86% de am-

bientes D e E, que são os mais fracos.

Na verdade, estamos surpresos com

essa produtividade, mas o ano agríco-

la foi muito bom. Parte disso é decor-

Dalben: parceirização e venda de palha para a usina

Page 33: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

33

rente do ano agrícola e a maior parte

é das tecnologias que usamos, como

espaçamento, preparo de solo, cuida-

dos com colheita mecanizada, aplica-

ção de adubos e defensivos agrícolas

no momento certo. Tudo isso tem in-

fluência, fazendo com que ganhemos

produtividade.”

A Rio Claro trabalha com espaça-

mento de 50 x 1,40. “Estamos no quar-

to para o quinto ano com esse espaça-

mento e estamos tendo bom resultado.

Mas vamos ver realmente quando fe-

char o primeiro ciclo, porém, dificil-

mente vamos alterar o espaçamento a

não ser que apareça algo muito signifi-

cativo. Trabalhamos com canteirização,

faixa intercalar no preparo, colocação

de matéria orgânica, meiose, crotala-

ria, temos todo um sistema de prepa-

ro, realizamos um preparo profundo a

65 cm de profundidade. Trabalhamos

com esse sistema há oito anos e esta-

mos aperfeiçoando”, explica Dalben.

Segundo ele, a mecanização não

tem a perfeição do corte manual, mas

o custo final por tonelada da máqui-

na é menor. “Mesmo com mais perdas

do que no corte manual, o corte me-

cânico é mais lucrativo. Nosso sistema

todo é mecanizado, desde o preparo

de solo até a colheita. Tem usinas que

têm esmero e outras não, e a produti-

vidade está relacionada à operaciona-

lização do sistema. Se não tiver bom

preparo ou bom plantio não terá boa

Os produtores de cana do Médio Tietê são altamente tecnificados

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34 Novembro · 2015

colheita. O que também é essencial

é a capacitação de toda a equipe de

trabalho.”

Dalben salienta que os parcei-

ros são muito valorizados pela Zilor. E

que já há usinas tentando implemen-

tar um sistema parecido com o deles, o

de parceirizar a área agrícola e, assim,

reduzir um pouco a estrutura da usina

como um todo. “Eu acho que é um ca-

minho certo, mas é preciso ter parcei-

ro correto e usina correta. Tem que ter

honestidade e confiança no negócio”,

alerta.

Outro exemplo que vem de Len-

çóis é o pagamento pela palha da cana.

Desde 2004, a agrícola Rio Claro ven-

de palha para a Zilor. O sistema foi sen-

do aperfeiçoado e está dando tão cer-

to, que nesta safra a empresa ampliou

a parceria para outros oito produtores

de cana.

A Zilor realizou adaptações em

suas unidades industriais para o recebi-

mento e utilização direta nas caldeiras

da palha triturada no campo; com isso,

aumentou de 85 mil (2014/2015) para

200 mil toneladas (safra 2015/2016) o

CAPA

A Zilor realizou adaptações em suas unidades industriais para o recebimento e utilização direta nas caldeiras da palha triturada no campo

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35

recebimento da biomassa, fornecida

por nove produtores. Além de aumen-

tar a sua disponibilidade de palha para

a geração de energia elétrica limpa e

renovável, a empresa garante ao for-

necedor receita extra, compartilhando

com a cadeia o valor agregado que a

energia traz para o negócio.

A empresa afirma que há a pos-

sibilidade de contribuir para a ma-

triz energética durante o ano todo,

não apenas no período da safra, des-

de que o governo apresente um mode-

lo com reconhecimento do diferencial

da energia gerada a partir da biomas-

sa como limpa e renovável, gerada no

período de menor vazão dos reserva-

tórios das hidrelétricas. Atualmente a

Zilor gera mais de 1.000.000 MWh/ano

e comercializa 600.000 MWh/ano, em

Contratos de Longo Prazo com vendas

realizadas nos leilões de 2006 e tam-

bém no mercado spot.

Essa experiência na comercializa-

ção da palha entre os produtores e a

Zilor está servindo de base para a ne-

gociação da agregação da cogeração

no sistema Consecana.

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36 Novembro · 2015

CAPA

Programa Cultivar une Raízen e seus parceiros agrícolas

CULTIVAR VISA CONTRIBUIR PARA A REDUÇÃO DE CUSTOS,

ESPECIALIZAÇÃO EM BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS E OTIMIZAÇÃO

DA PRODUTIVIDADE E DA QUALIDADE DA LAVOURA

Luciana Paiva

Lavoura com qualidade: um dos objetivos do

programa Cultivar

Das 72 milhões de toneladas de

cana moídas pela Raízen por sa-

fra, 50% vem de seus 3500 parcei-

ros agrícolas. “O produtor de cana é fun-

damental para nosso negócio, por isso

desenvolvemos ações para estreitar o rela-

cionamento e melhorar o desenvolvimen-

to da atividade”, salienta Carlos Martins

diretor de fornecedores de cana e parce-

rias agrícolas da Raízen.

Uma dessas ações é o Programa Cul-

tivar, lançado no ano-safra 2013/14, como

versão piloto e que visa contribuir para a

redução de custos, especialização em boas

práticas agrícolas e otimização da produ-

tividade e da qualidade da lavoura. O Cul-

tivar é estruturado a partir de cinco pilares

– Contribuição de compras, Desenvolvi-

mento de fornecedores, Reconhecimento

de desempenho, Linhas de Crédito e Ser-

Page 37: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

37

viços - a iniciativa proporcionou aos 150

fornecedores envolvidos diversos bene-

fícios, entre eles a redução de custos na

aquisição de insumos para o campo, 256h

de treinamentos teóricos e práticos, cam-

panhas de incentivo para aumento de pro-

dutividade e qualidade, e a construção de

estrutura exclusiva para atendimentos nas

unidades da companhia.

O Cultivar já foi ampliado e envol-

ve 286 produtores, que representam 74%

da produção de cana-de-açúcar compra-

da pela companhia. Entre eles está Ma-

ria Christina Pacheco, que vê com mui-

to bons olhos essa parceria com a Raízen.

“Um dos pontos altos é que ao realizar-

mos compras de forma unificada por meio

da Raízen, temos volume e com isso po-

der de negociação, o que resulta em me-

lhores preços”, diz Christina, que ressalta

também as ferramentas (como os cursos

de qualificação) disponibilizadas pelo Pro-

grama para o aperfeiçoamento e cresci-

mento dos produtores.

Para o desenvolvimento do Progra-

ma, foram criadas ferramentas como:

Sala Cultivar – voltada exclusiva-

mente aos produtores de cana-de-açúcar

e parceiros da empresa, tem como obje-

tivo auxiliar o atendimento da equipe de

campo da região, além de proporcionar

um espaço para negociações e discussões

de assuntos inerentes ao negócio.

Central Agrícola – canal de aten-

dimento por telefone para todos os seus

parceiros das regiões de Piracicaba, Jaú,

Araçatuba, Andradina, Araraquara e Jataí.

A iniciativa tem como objetivo facilitar o

dia a dia do fornecedor esclarecendo dú-

vidas sobre as operações, pagamentos, e

outros assuntos relacionados. Há previsão

de expansão deste serviço para Assis no

Inauguração da sala Cultivar, em Valparaíso, SP

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38 Novembro · 2015

próximo mês de novembro.

Portal dos Fornecedores de Cana

– página na internet que permite o aces-

so personalizado a todas as informações

referentes à relação destes parceiros com

a companhia. O usuário cadastrado pode

acessar a página com seu CPF, do compu-

tador ou celular, e utilizar todas as ferra-

mentas disponíveis, como consulta ao ex-

trato financeiro, relatórios de entrega de

cana, entre outras.

Informações no celular – empre-

sa disponibiliza dados sobre o desempe-

nho e qualidade da colheita através tor-

pedos de celular (SMS). Periodicamente,

os fornecedores recebem em seu celular

cadastrado, informações sobre o nível de

impurezas minerais da cana, toneladas en-

tregues e ainda, dados consolidados que

contemplam desde qualidade e quanti-

dade, até os valores brutos, descontos e o

valor liquido a ser creditado na conta do

parceiro.

News “Cultivo da Informação” –

informativo bimestral encaminhado a to-

dos os fornecedores, com notícias e infor-

mações interessantes, com o objetivo de

facilitar o dia a dia do fornecedor de cana,

por meio de dicas para utilização do por-

tal do fornecedor, notícias sobre o merca-

do, e também ações da Raízen com intui-

to de beneficiá-los.

Incentivo e crédito

fazem parte do Cultivar

Para incentivar a maior produtivida-

de e qualidade da matéria-prima, o Cul-

tivar também empreende campanhas de

incentivo, com premiação para as melho-

res performances no último ano. Para ava-

liar seus 286 parceiros agrícolas envolvi-

dos no Cultivar, a companhia se baseia

nos indicadores de qualidade, produtivi-

dade, eficiência operacional e comprome-

timento com o programa. “Temos satisfa-

ção em ver o Programa Cultivar completar

CAPA

O maior volume de compra de insumos agrícolas reduz o preço: benefício ao parceiro do Cultivar

Page 39: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

39

dois anos. Neste período, percebemos

um grande interesse de nossos parcei-

ros agrícolas em aumentar a qualidade e

a eficiência das operações. Nosso objeti-

vo é torná-los mais competitivos e premi-

á-los para aderirem às melhores práticas

de mercado. Isso posiciona nosso progra-

ma como pioneiro e referência em relacio-

namento com fornecedores no País”, ex-

plica Martins.

Ao fim da iniciativa, os seis fornece-

dores que alcançaram os melhores índices

de produtividade (TCH) em cada polo e os

seis com os melhores índices de qualida-

de da colheita (ATR) – também por polo –

foram premiados pela sua atuação. Além

disso, a campanha premiou os cinco me-

lhores fornecedores de cana-de-açúcar da

Raízen, que obtiveram resultados excep-

cionais em indicadores relativos ao negó-

cio (produtividade, qualidade, percentual

colheita mecanizada, adesão ao planeja-

mento de colheita e entrega de cana na

esteira.

Mas, para cuidar bem do canavial é

preciso ter recursos financeiros, assim, re-

centemente, a Raízen anunciou um con-

vênio de R$ 150 milhões com o Itaú BBA

para uso exclusivo dos fornecedores de

cana-de-açúcar participantes do Progra-

ma Cultivar.

O convênio pode ofertar um crédi-

to de até R$ 2,2 milhões por CPF ou CNPJ,

com juros de 8,75% ao ano, sujeito às re-

gras vigentes do Programa de Crédito Ru-

ral estabelecido pelo Banco Central do

Brasil e sujeito à análise de crédito. “Nos-

so objetivo com essa parceria é disponibi-

lizar uma opção de crédito a custos baixos

e prazos viáveis para o produtor”, diz Car-

los Martins.

De acordo com a Raízen, o financia-

mento pode ser usado nos tratos culturais,

com financiamento de até R$ 1,2 milhão e

prazo de pagamento de 18 meses, e tam-

bém na linha de investimento em plantio,

que oferece ao fornecedor R$ 1 milhão e

pode ser quitado em até cinco anos, com

carência de um ano.

“Nosso objetivo com essa parceria é disponibilizar uma opção de crédito a custos baixos e prazos viáveis para o produtor”, diz Carlos Martins

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CAPA

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COPLANA, SOCICANA E IAC IMPLEMENTAM PROGRAMA DE DIFUSÃO

TECNOLÓGICA PARA AUMENTAR A PRODUTIVIDADE E PARA QUE

MELHORES RESULTADOS CHEGUEM ÀS MÃOS DO PRODUTOR

+cana abre ao produtor acesso ao sistema MPB

Possibilitar aos produtores o

acesso às inovações tecnoló-

gicas é um dos pontos básicos

para que permaneçam na atividade.

Uma das inovações que têm feito a di-

ferença no setor é a Muda Pré-Brota-

da (MPB), que oferece sanidade, maior

produtividade e lucratividade - em

vez de transportar para o campo e

plantar 18 a 20 toneladas de cana para

cada hectare, ele transportará somen-

te 2 toneladas de mudas pré-brotadas

para a mesma área. As outras 16 ou 18

toneladas serão revertidas em produ-

to na usina.

A Socicana - Associação dos For-

necedores de Cana de Guariba, a Co-

plana - Cooperativa Agroindustrial, e

o IAC - Instituo Agronômico, se uni-

ram para garantir, ao produtor, a ado-

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41

ção do sistema de MPB. A tecnolo-

gia desenvolvida pelo IAC pode ser

implantada até mesmo em peque-

nas propriedades, e o agricultor terá

autonomia para produzir sua própria

muda de cana com qualidade e sani-

dade, atividade da qual abriu mão há

algumas décadas.

A partir das MPBs, os viveiros pri-

mários ou matrizeiros, que são mudas

livres de pragas e doenças, são esta-

belecidos na propriedade do agricul-

tor e dão origem a mudas sadias. Em

termos de logística (transporte das

mudas até o campo) e aproveitamen-

to do material produzido, a diferença

é significativa.

Outra grande contribuição da

tecnologia é a redução do tempo para

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o agricultor adotar as novas varieda-

des, o que demoraria anos no siste-

ma convencional. Com as MPBs, ele

recebe material genético de varieda-

des adaptadas à região, de acordo

com o seu ambiente de produção. Já

no plantio convencional, ele fica res-

trito às variedades disponíveis na usi-

na, com mudas, inclusive, que apre-

sentam idade de corte avançada.

Atualmente, com a produtivida-

de do canavial em torno de 70 tonela-

das por hectare (média de acordo com

a safra e região), a receita não cobre

custos. Desta forma, muitos produto-

res se viram obrigados a sair da ati-

vidade e outros continuam perden-

do patrimônio. A partir do sistema de

MPBs, a estimativa é chegar à “cana de

3 dígitos”, acima de 100 toneladas por

hectare, em cinco cortes.

A Secretaria da Agricultura e

Abastecimento do Estado de São Pau-

lo disponibilizará uma linha de crédito

para financiar a implantação destes vi-

veiros, para que esta implantação pos-

sa ser acelerada e chegue mais rapida-

mente ao produtor, que será atendido

pela linha de crédito de até R$ 200

mil, do Fundo de Expansão do Agro-

negócio Paulista (Feap), com prazo de

pagamento de até seis anos, com ca-

rência de até dois anos. A taxa de juros

“Se não forem feitos investimentos em tecnologia, gestão e melhoria da administração, provavelmente estes produtores vão sair do negócio”, diz Bruno Rangel Geraldo Martins

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42 Novembro · 2015

CAPA

é de 3% ao ano e há o bônus de adim-

plência de 2,25%. Os beneficiários po-

dem financiar todos os itens necessá-

rios para estrutura, assim como para

aquisição das mudas e sementes, des-

de que sejam parte do mesmo projeto.

Revolução na gestão

dos produtores

Para Bruno Rangel Geraldo Mar-

tins, presidente da Socicana, a mudan-

ça de paradigma precisa acontecer

de imediato, como única forma para

a manutenção das lavouras canaviei-

ras. “Este é um programa de difusão

tecnológica e que pretende fazer com

que maior produtividade e melhores

resultados cheguem às mãos do pro-

dutor. Se não forem feitos investimen-

tos em tecnologia, gestão e melho-

ria da administração, provavelmente

estes produtores vão sair do negó-

cio. Para continuarmos na cana, pre-

cisamos desta revolução tecnológica

e administrativa em nossas proprieda-

des”, enfatiza.

O presidente da Coplana, José

Antonio de Rossato Junior, fala do pa-

pel das entidades. “Por meio da ca-

pacitação dos recursos humanos e

fomento à produção de mudas de

qualidade, incluindo critérios para a

escolha da variedade e o sistema MPB,

acreditamos na instalação de cana-

José Antonio de Rossato Junior acredita na instalação de canaviais com alto padrão de sanidade e produtividade

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viais com alto padrão de sanidade e

produtividade. Esta iniciativa conjunta

entre Coplana, Socicana e IAC cumpre

a missão mútua de auxiliar o cresci-

mento sustentável e promover o apri-

moramento tecnológico do produtor.”

1º Dia de campo +cana

Em 12 de novembro, a Coplana

realizou na Fazenda Santa Maria, no

município de Luiz Antônio o 1º Dia

de Campo +cana, que reuniu técni-

cos, estudantes, produtores e repre-

sentantes de empresas parceiras para

conheceram cada um dos passos da

cadeia de produção das MPBs. Em es-

tações de demonstração prática, os

grupos tiveram acesso a informações

sobre irrigação, adubação, colheita e

plantio da inovação desenvolvida pelo

IAC. O encontro reuniu cerca de 400

participantes.

Renata Morelli, gerente do Depar-

tamento de Tecnologia e Inovação da

Coplana, comemora os resultados ini-

ciais. “O Dia de Campo é parte da ini-

ciativa +cana, lançada em março des-

te ano, como uma resposta ao produtor

1º Dia de Campo +cana foi um sucesso

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44 Novembro · 2015

CAPA

que queria uma solução para a lavoura

canavieira. É surpreendente o resulta-

do obtido em apenas oito meses. Isso é

fruto do comprometimento de muitos

profissionais da Coplana, Socicana, IAC

e do produtor, que aceitou o desafio

de contribuir para a geração deste co-

nhecimento. Acredito que nós estamos

construindo uma nova realidade para a

cultura, com benefícios para todos os

elos da cadeia produtiva”, conclui.

No Dia de Campo também esta-

vam presentes os oito produtores po-

los, ou seja, aqueles que aceitaram o

desafio do pioneirismo. Eles deram

início à adoção da tecnologia este

ano, como um grande campo de es-

tudos. Em agosto, adquiriram os kits

de validação de MPB com um protóti-

po da câmara de brotação, uma mesa

para corte do mini rebolo, um supor-

te para tratamento químico e lotes de

MPBs com variedades de cana lançadas

recentemente.

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Apresentação de plantio de MPB no Dia de Campo

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46 Novembro · 2015

CAPA

No Nordeste, produtor faz renascer usinas

POR MEIO DO COOPERATIVISMO, PRODUTORES

DE CANA REATIVAM TRÊS USINAS

Trabalhadores da Cruangi no dia da reativação

Luciana Paiva

Na região Nordeste, o produtor

de cana está revolucionando a

agroindústria canavieira. Em Per-

nambuco e Alagoas, eles resolveram fazer

renascer usinas. Alexandre Andrade Lima,

presidente da Associação dos Fornecedo-

res de Cana de Pernambuco (AFCP) e da

Cooperativa do Agronegócio dos Forne-

cedores de Cana de Pernambuco (Coaf),

conta que a mobilização surgiu quando os

canavieiros ficaram sem ter para onde le-

var a cana colhida na Zona da Mata por

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a três safras parada e está sob a adminis-

tração da Coaf.

“A reabertura passou a ser salvação

dos nossos produtores de cana. Eles le-

vam e recebem pela cana nas suas coope-

rativas. No final do ano, ainda vão receber

parte dos lucros das usinas”, conta Alexan-

dre, que lembra que, apesar de o Nordes-

te representar apenas 9% da produção de

cana do Brasil, conta com 25 mil produto-

res de cana, sendo que 92% são conside-

rados pequenos produtores, pertencentes

a agricultura familiar.

Além da Pumaty e Cruangi, outra usi-

na que voltou a moer nesta safra é a Pe-

causa da desativação de diversas usinas

brasileiras. “Eles estavam impossibilitados

de continuar no trabalho. Muitos já esta-

vam até desistindo da atividade”, explica

Alexandre de Andrade Lima.

O renascimento das usinas está sen-

do possível em decorrência do cooperati-

vismo, destaca Alexandre. A primeira uni-

dade a voltar a moer, em 2014, após uma

safra parada, foi a Pumaty, localizada em

Joaquim Nabuco, Zona da Mata-sul per-

nambucana, que está sendo gerida pela

cooperativa Agrocan. Já nesta safra, foi re-

aberta a usina Cruangi, de Timbaúba, Zona

da Mata-Norte pernambucana, que estava

Alexandre (de verde), e à sua esquerda Paulo Câmara, o Governador de Pernambuco, na reinauguração de Cruangi

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drosa, no município perde em Cortês, mas

esta não é administrada por cooperativa.

Nesta safra, 18 usinas estão e atividade

em Pernambuco e Alexandre diz que não

ver mais possibilidade de, no estado, ou-

tras unidades voltarem a moer, pelo me-

nos sob a gestão das cooperativas. “Nosso

objetivo era reativar uma unidade na Zona

da Mata Sul e outra na Zona da Mata Nor-

te, já conseguimos isso.”

Se em Pernambuco o milagre do re-

nascimento da usina já deve ter cessado,

em Alagoas, observa Alexandre, ainda há

espaço. No final de outubro iniciou a mo-

agem a usina Coopervale-Uruba, em Ata-

laia, uma das três unidades do Grupo João

Lyra, em Alagoas. A usina voltou à ativida-

de nesta safra, graças ao empenho da Co-

operativa dos Produtores Rurais do Vale

de Satuba (Coopervales).

A Uruba estava desativada havia três

anos e, desde 2014, quando foi fundada,

a Coopervale buscava na Justiça o arren-

damento da usina. De acordo com o pre-

sidente da Coopervale, Túlio Acioly Tenó-

rio, inicialmente cerca de 1.500 postos de

trabalho diretos serão reabertos. “Quando

estiver a todo vapor, a Uruba vai empregar

aproximadamente três mil pessoas no cam-

po e na indústria. Isso vai mudar a econo-

mia nos municípios do entorno da usina.”

Veja vídeo com a largada da safra 2015/16 da Coopervale-Uruba

Usina Pumaty, a primeira a ser reativada, está sob gestão da Cooperativa Agrocan

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50 Novembro · 2015

TECNOLOGIA AGRÍCOLA

Leonardo Ruiz

DEVIDO À CRISE DO SETOR, MUITAS VEZES, A DECISÃO É ADIAR A

RENOVAÇÃO DO CANAVIAL. PORÉM, É PRECISO TOMAR CERTOS CUIDADOS

COM A CANA-SOCA PARA QUE ELA PRODUZA BEM E POR MAIS TEMPO

Cuidando da soqueira

Os canaviais estão ficando mais

velhos. O índice de reforma, que

já chegou a atingir 20% em anos

anteriores, está na faixa de 14%, atualmen-

te. Tem usina reformando normalmente e

tem usina fazendo nada. Isso ocorre devi-

do à crise instaurada no setor, que abalou

o fluxo de caixa das empresas.

Porém, esses dados não precisam ser

necessariamente ruins. Afinal, se uma so-

queira está respondendo bem, é até pre-

ferível esperar mais um ou dois ciclos para

renovar essa área. Entretanto, para que a

cana-soca atinja um nível satisfatório de

Crise no setor diminuiu o número de reformas, que atinge, atualmente, 14% A

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produtividade ao longo dos cortes, além

de alta longevidade, o produtor deve cui-

dar corretamente dela, fazendo um mane-

jo adequado, que começa antes mesmo

da implantação do canavial.

Caso essa “receita de bolo” seja fei-

ta corretamente, os ganhos em termos de

longevidade serão maiores do que aque-

les que o produtor teria caso optasse por

renovar o canavial. Pesquisadores afirmam

que algumas usinas que têm feito esse

tipo de manejo estão, inclusive, conse-

guindo sobreviver à atual crise.

Implantação do canavial

Como afirmado, os cuidados com as

soqueiras de cana-de-açúcar não podem

ser pensados apenas no momento em que

a cana atinge esse estágio. Para o pesqui-

sador científico da Agência Paulista de

Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da

Secretaria de Agricultura e Abastecimen-

to do Estado de São Paulo, André Cesar

Vitti, as unidades que cuidaram correta-

mente da implantação do seu canavial es-

tão, atualmente, com produtividades con-

sideráveis e, às vezes, investindo menos

do que aquelas que estão entrando agora

nesse contexto de manejo mais adequado

do seu canavial.

Vitti explica que, para se ganhar em

termos de produtividade, é importante ver

a cana como um todo, relacionando os fa-

tores de produtividade que estão envolvi-

dos. A cana-de-açúcar difere de uma cul-

tura anual de grãos que tem o ciclo de um

ano. A cana tem ciclo longo. Dessa forma,

vários fatores interagem entre si.

Primeiramente, segundo o pesquisa-

dor, deve-se conhecer o ambiente onde a

cultura será instalada, para, após isso, de-

cidir qual variedade será alocada naque-

la região. Em ambientes mais restritivos,

por exemplo, é necessária uma variedade

mais rústica, já em ambientes melhores,

uma variedade mais exigente irá respon-

der mais, aumentando assim sua produ-

tividade. “Um dos fatores que devem ser

levados em conta é o tipo de solo, pois

dependendo dele, há mais ou menos com-

pactação, o que interfere muito na ques-

tão de desenvolvimento do sistema radi-

Vitti: “Primeiramente, deve-se conhecer o ambiente onde a cultura será instalada, para decidir qual variedade será alocada naquela região”

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cular e na rebrota da cana.”

O clima e o déficit hídrico de um solo

também são fatores decisivos na hora do

plantio, já que quanto mais seco o clima,

maior tem que ser a preocupação com a

capacidade que um solo tem de armaze-

nar água. “Podemos citar como exemplo

o plantio em um nitosolo que possui uma

capacidade de água disponível de 120 a

160 litros por m³ de solo. Nele podem-se

alocar variedades mais tardias. Já em lato-

solos com textura mediana, onde a quan-

tidade de água disponível gira em torno

de 40 litros por m³ de solo, é importante

utilizar variedades mais precoces ou me-

dianas, no sentido de antecipar a safra.”

A época de plantio é outra impor-

tante característica em um ambiente de

produção. Vitti aponta que, se a cana-de

-açúcar for plantada em janeiro em um la-

tosolo de textura arenosa, por exemplo,

ela vai se desenvolver demais, produzin-

do muito fitomassa, o que fará com que

ela sofra um stress hídrico, estando sujei-

ta a perda de produtividade. “Já nos solos

que possuem melhores condições de ar-

mazenamento e disponibilidade de água,

a margem em termos de tempo de plantio

é maior”, completa.

Após escolhida a variedade, Vitti afir-

ma que o ideal é não pensar na economia

de insumos, já que é vital a preparação de

uma base de sustentação para a cultura.

“Isso ocorre porque, às vezes, a aplicação

de um corretivo na soqueira não é tão efi-

caz quanto o feito na época do preparo do

TECNOLOGIA AGRÍCOLA

O ideal é não pensar na economia de insumos na hora de implantar o canavial, já que é vital a preparação de uma base de sustentação para a cultura

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54 Novembro · 2015

solo. Por isso, é importante fazer um bom

planejamento para tentar buscar a efici-

ência do uso desses corretivos.” Segun-

do ele, a utilização desses corretivos na

hora do preparo do solo promoverá uma

melhor eficiência dos fertilizantes futura-

mente. “Eu não posso, por exemplo, apli-

car uma fonte fosfatada num solo que não

foi corrigido.”

Domando a máquina

Após todo esse investimento na im-

plantação do canavial, é hora de cuidar

para que as soqueiras durem e produzam

por muitos ciclos. Para o diretor agríco-

la do Grupo Clealco, Cássio Paggiaro, um

dos aspectos mais importantes é relacio-

nado à colheita, que deve ser feita da ma-

neira mais adequada possível, para preve-

nir o arranquio ou pisoteio da soqueira. “O

futuro do canavial está diretamente ligado

à qualidade da operação mecanizada que

é realizada na área. Por isso, não tenho dú-

vida que, para se ter áreas de cana-soca

com bom desempenho por vários ciclos, o

produtor tem que domar a máquina.”

Após a colheita, Paggiaro afirma que

é preciso iniciar um trato cultural adequa-

Augusto de Camargo Monteiro: “Uma das principais causas de perda de produtividade e de longevidade da cultura está no aumento do percentual de falhas no stand dos canaviais”

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O futuro do canavial está diretamente ligado à qualidade da operação mecanizada que é realizada

na área, já que uma colheita mal feita pode significar arranquio ou pisoteio da soqueira

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do, sendo que, para isso, é preciso definir

o que aquela área precisa. “Primeiro, tem

que se perguntar se estamos em uma re-

gião onde é necessário fazer aleiramento

para melhorar a brotação.”

O diretor agrícola lembra, também,

que é importante realizar uma fertiliza-

ção adequada, além da correção do pH

da área. “Às vezes esquecemos que cál-

cio e magnésio não são apenas correto-

res de pH, mas também fornecem macro-

nutrientes para a nutrição da planta”, frisa

Paggiaro.

Redutores de produtividade

O Agrônomo de Desenvolvimen-

to de Mercado da Bayer CropScience, Au-

gusto de Camargo Monteiro, lembra, tam-

bém, que uma das principais causas de

perda de produtividade e de longevidade

da cultura está no aumento do percentual

de falhas no stand dos canaviais, seja ela

causada pela presença de pragas ou por

doenças. Dessa forma, uma vez que o pro-

dutor consiga manter seu stand uniforme,

conseguirá manter seu canavial produtivo

por vários e vários anos.

Para isso, Augusto recomenda o uso

de produtos como o regulador vegetal

Ethrel® para favorecer a brotação e o per-

filhamento da cultura, e o fungicida Nati-

vo® para a proteção da cultura nessa fase

tão importante.

Na implantação do canavial, o pro-

dutor realizou uma série de investimentos

nos fatores promotores de produtividade,

como correção do solo com a calagem e

a gessagem e uma nutrição adequada vi-

sando maximizar a expressão do potencial

produtivo da cultura. Porém, com o cana-

vial já implantado, o produtor não pode

esquecer-se dos fatores redutores de pro-

dutividade, que podem “roubar” todo

o investimento realizado anteriormen-

te. “Essa interferência pode proporcionar,

dependendo da intensidade, margens de

contribuição negativas para os produto-

res de cana. Nesse sentido, se faz impres-

cindível o controle dos fatores redutores

de produtividade, que são representados

pela interferência de doenças, plantas da-

ninhas ou pragas”, explica Augusto.

Para Cássio Paggiaro, é importante realizar uma fertilização adequada, além da correção do pH da área

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Uma das pragas desse cenário é a Ci-

garrinha-das Raízes (Mahanarva fimbrio-

lata), que vem crescendo no setor princi-

palmente nesse momento de entrada da

primavera e com as primeiras chuvas acu-

mulando volumes generosos nas mais di-

versas regiões produtoras do Centro-Sul

do país. Essa praga vem ganhando cada

vez mais importância dentro do cená-

rio sucroenergético tanto pela sua ampla

distribuição, quanto pelo nível de perdas

proporcionado, que pode chegar facil-

mente a mais de 45% de redução de pro-

dutividade da cultura. Entre outros preju-

ízos causados pela Cigarrinha-das-raízes,

está à redução do teor de açúcar nos col-

mos, aumento do teor de fibras e dos col-

mos mortos, o que diminui a capacidade

de moagem, além da extração de grande

quantidade de água e nutrientes das raí-

zes pelas ninfas.

“Foi pensando na sustentabilidade

Aplicação de defensivos agrícolas é importante para o controle de doenças, pragas e plantas daninhas que podem dizimar a produtividade do canavial e, consequentemente, levar a reformas precoces

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TECNOLOGIA AGRÍCOLA

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58 Novembro · 2015

TECNOLOGIA AGRÍCOLA

do negócio dos produtores de cana, sejam

fornecedores ou agroindustriais, que a

Bayer estudou e criou uma estratégia ino-

vadora para o controle da Cigarrinhas-das

-Raízes, que permite, além de tudo, que

os nossos clientes tenham o entendimen-

to com profundidade de qual seu nível de

exposição às perdas provocadas pela pra-

ga”, diz.

Essa estratégia, salienta Augusto,

passa pelo entendimento de alguns pon-

tos-chave, como: o profundo conheci-

mento da praga e suas implicações para

a cultura da cana; o comportamento das

diferentes variedades de cana cultivadas

frente à presença da praga; e a correlação

com o estágio de desenvolvimento da cul-

tura no momento do início da infestação.

“O inseticida Curbix®, da Bayer, é o único

que se encaixa perfeitamente nessa nova

abordagem de controle da praga, pois

apresenta rápida ação e elevada eficiên-

cia de controle. O principal objetivo dessa

estratégia é assegurar a proteção das so-

queiras e proporcionar maiores margens

para nossos clientes, reduzindo o custo de

investimento para cada tonelada de cana

produzida.”

Cigarrinha-das-Raízes é um dos fatores redutores de produtividade, que podem “roubar” todo o investimento realizado na implantação do canavial

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TECNOLOGIA INDUSTRIAL

Mais impurezas e menos açúcar, este é o cenário do setor

Tendência de aumento dos

preços do açúcar em real em 2016

deve tornar a próxima safra

mais açucareira

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INTENSIFICAÇÃO DA COLHEITA MECANIZADA DE CANA CRUA FAZ

COM QUE A INDÚSTRIA SINTA NA PELE AS DIFICULDADES PARA

FABRICAR AÇÚCAR COM A MESMA QUALIDADE DE ANTES

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Após alguns anos consecutivos de

baixa nos preços, o açúcar deve

se recuperar ao longo do próxi-

mo ano, devido à combinação entre os fu-

turos da commodity em dólar na bolsa de

Nova York e a cotação da moeda america-

na frente ao real. Caso esse cenário se con-

solide, é provável que esta seja a primei-

duto do que o registrado em 2015, caso o

governo não eleve mais o preço da gaso-

lina e torne as vendas de etanol mais inte-

ressantes. No ciclo atual, as usinas que se

encontram em dificuldades financeiras fa-

voreceram a produção do biocombustível

devido à maior liquidez e à melhoria da

remuneração do produto.

Leonardo Ruiz

ra temporada (se referindo à safra mundial

de açúcar que vai de outubro de 2015 a

setembro de 2016), em muitos anos, em

que o consumo irá superar a produção.

Essa tendência de aumento dos pre-

ços do açúcar em real em 2016 deve esti-

mular as usinas brasileiras a produzir, na

próxima safra, um volume maior do pro-

O aumento da demanda por açúcar

e, consequentemente, dos preços, pode-

rá ser de grande ajuda para o setor sucro-

energético, que vem enfrentando uma das

piores crises de sua história. Porém, esse

fato chega num momento em que o seg-

mento ainda tenta contornar um grave

problema enfrentado na fabricação des-

Márcia Mutton: “Em algumas usinas, eu olho a mesa de recepção e não vejo cana, apenas palha”

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TECNOLOGIA INDUSTRIAL

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se produto: a expressiva quantidade de

impurezas mineiras e vegetais que chega

junto com a matéria-prima vinda do cam-

po e que afeta, grandemente, a qualidade

do produto final.

Segundo a professora adjunta do De-

partamento de Tecnologia (FCAV) da Unesp

de Jaboticabal, Márcia Mutton, o nível de im-

purezas vegetais na indústria saiu de 4,6%

em 2008/09 para 8,8% na safra 2013/14. “Es-

ses números são as médias de algumas uni-

dades, porém, tem usina em que esse nível

chega a 17%. Nesses locais, eu olho a mesa

de recepção e não vejo cana, apenas palha.”

Impurezas e seus impactos

Devido à assinatura do Protocolo

AgroAmbiental em 2007, as usinas sucro-

energéticas do Estado de São Paulo ado-

taram a mecanização de forma acelerada.

Em 2008/09, a mecanização da colheita da

cana no Estado de São Paulo era de 37,5%.

Atualmente, estima-se que 90% das áre-

as do Estado já estejam sendo colhidas

mecanicamente.

Porém, essa “correria” se deu sem

que o setor estivesse preparado para ela,

já que os plantios foram feitos visando

corte manual. Dessa forma, por falta de ni-

Colheita mecanizada leva para a indústria, além dos colmos, impurezas mineiras e vegetais, o que acaba aumentando o teor de certos compostos inorgânicos, como potássio, cálcio, silício, ferro e cobre

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velamento dos terrenos, a máquina acaba

colhendo, junto da cana, grandes quan-

tidades de terra. Isso sem falar da palha,

pontas e folhas verdes, que antes eram

queimadas para que o corte manual pu-

desse ocorrer. O resultado final é uma ma-

téria-prima de péssima qualidade e, con-

sequentemente, problemas no processo

de fabricação do açúcar.

Márcia Mutton explica que esses pro-

blemas ocorrem porque a matéria-prima

vinda do campo apresenta certos com-

postos inorgânicos, como potássio, cál-

cio, silício, ferro e cobre. Com o sistema

de colheita mecanizada, são levadas para

a indústria, além dos colmos, as chamadas

impurezas mineiras e vegetais, o que aca-

ba aumentando, significativamente, o teor

desses elementos. A presença de sódio,

potássio, cálcio e magnésio, por exemplo,

que não foram previamente separados na

clarificação da calda, compromete a cris-

talização da sacarose, o que reduz a quan-

tidade de açúcar produzido e aumenta a

quantidade de melaço residual.

Além disso, há comprometimento na

incrustação dos evaporadores e elevação

do teor de cinzas no cristal, o que afeta

a filtrabilidade do caldo. Já o ferro pode

causar o amarelecimento do cristal de açú-

car, por meio da reação com o oxigênio do

ar e compostos fenólicos presentes. “Es-

ses compostos devem ser retirados do cal-

do para que a produção atinja bons níveis

de qualidade, atendendo, dessa forma, as

especificações do mercado, que exige pol,

cor e pureza, e penaliza falta de padrão”,

afirma Márcia.

Queda no

rendimento industrial

Segundo o gerente industrial das

unidades Santa Cândida e Paraíso, do Gru-

po Tonon, Antônio Carlos Viesser, as indús-

trias têm sofrido bastante com o avanço

da mecanização, principalmente no quesi-

to qualidade da matéria-prima. “Os índices

de impurezas minerais e vegetais aumen-

taram muito, o que interferiu na qualidade

do produto final. Hoje, a maioria das usi-

nas possui um rendimento industrial me-

Para Antonio Carlos Viesser, a impureza mineral é a que mais tem atrapalhado os trabalhos da Tonon, já que ela é “arrastada” junto da vegetal

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TECNOLOGIA INDUSTRIAL

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63

nor em função disso. O balizador - sacos

por tonelada - tem caído bastante.”

Para Viesser, a impureza mineral é a

que mais tem atrapalhado os trabalhos do

Grupo, já que ela é “arrastada” com a ve-

getal. “Se tivéssemos apenas canas eretas,

seria tranquilo, porém as canas tendem a

deitar devido ao ano de plantio, chuvas

e vento. Dessa forma, por ter ficado dei-

tada, a cana enrola no chão e começa a

criar brotos e a enraizar, fazendo com que,

na hora da colheita, a máquina colha essa

terra junto, o que contribui negativamente

para a indústria.”

Ele afirma, ainda, que o momento de

dificuldade vivido pelo setor canavieiro tam-

bém impactou na qualidade da matéria-pri-

ma. “A maioria deixou de dar comida para a

cana. Dessa forma, o rendimento agrícola e

a qualidade caem e isso reflete na indústria.”

Viesser conta que, mesmo diante de

tantos empecilhos, as usinas até conse-

guem tirar o açúcar com qualidade. Po-

rém, o custo operacional aumenta devido

à maior utilização de produtos químicos.

“Quando se tem matéria-prima de boa

qualidade, algumas oscilações no proces-

so nem são perceptíveis, mas quando ela

piora, é preciso ficar atento na operação,

pois qualquer oscilação pode representar

grandes perdas na produção do dia. Gas-

ta-se mais para fazer igual ou até menos.”

A solução deve vir do campo

Uma das soluções para esse proble-

ma é o tratamento do caldo, que pode ser

realizado por caleagem simples, sulfode-

fecação, carbonatação e ozonização. Nes-

se processo, as impurezas são removidas

por meio da precipitação resultante da re-

ação entre fosfatos presentes no caldo e

insumos adicionados.

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No Grupo Tonon, o índice de impurezas vegetais é alto para que a palha possa ser separada da cana pelo sistema de limpeza a seco e utilizada visando melhorar o índice de cogeração

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64 Novembro · 2015

Para Dib Nunes Jr., a área industrial não pode mais aceitar essa “matéria-prima horrorosa” que vem do campo

Porém, essa solução pode não ser a

mais viável, já que os gastos com insumos

aumentariam significativamente os custos

operacionais. Dessa forma, grande par-

te dessa melhoria deve ser realizada na

área agrícola, já que muitos afirmam que

o açúcar é feito no campo, sendo que para

a indústria cabe a recuperação.

Esse, aliás, é o pensamento do con-

sultor e diretor do Grupo IDEA, Dib Nunes

Jr.. Ele afirma que, atualmente, não exis-

tem usinas que entregam matéria-prima

de boa qualidade. “Passamos por um mo-

mento de transição, da colheita manual

para a mecanizada, sendo que a afetada

foi a indústria, que passou a aceitar uma

matéria-prima horrorosa.” Para ele, a área

industrial não pode mais aceitar essa ca-

na-de-açúcar que vem do campo. “O Bra-

sil tem 600 milhões de toneladas de cana,

porém, 12% disso não é cana. Apenas

quando a indústria parar de aceitar e re-

clamar mais forte é que a agrícola irá en-

tender que precisa trazer uma matéria-pri-

ma com mais qualidade.”

Segundo ele, muito desses proble-

mas podem ser resolvidos por meio da re-

gulagem das máquinas de colheita. “Como

não pode faltar cana na indústria, a colhei-

ta é acelerada, o que prejudica a limpe-

za da cana, pois o vento não é suficiente

para limpar grandes quantidades de ma-

téria-prima.” Nunes afirma, também, que

é necessário que as usinas tenham mais

máquinas à disposição. “Porém, se man-

dam comprar mais colhedoras, falam que

não terá custo-benefício. Mas, o que mui-

tos não entendem, é que o custo-benefí-

cio se encontra na indústria.”

Limpeza a seco

O sistema de limpeza a seco é outra

tecnologia que tem contribuído para a me-

lhoria desse problema, já sendo uma das

principais saídas das usinas

para superar esses desafios,

pois, além de retirar as im-

purezas minerais da matéria

-prima, é possível aprovei-

tar as vegetais no processo

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TECNOLOGIA INDUSTRIAL

Page 65: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

65

Sistema de limpeza a seco separa as impurezas vegetais

e minerais da cana colhida mecanicamente nas usinas

de cogeração de energia. O conceito pode

ser aplicado tanto para o processamen-

to da cana inteira (mesas alimentadoras)

como de cana picada (descarga direta). O

processo, que veio para substituir efetiva-

mente a lavagem da cana, possui eficiên-

cia de remoção de impurezas entre 40% e

70%.

Na Unidade Paraíso, do Grupo Tonon,

o índice de impureza vegetal é de 14%.

Viesser explica que isso ocorre proposital-

mente, para que a palha possa ser separada

da cana pelo sistema de limpeza a seco e

utilizada visando melhorar o índice de co-

geração. Atualmente, a capacidade de ge-

ração de eletricidade da unidade, localiza-

da no município paulista de Brotas, é de

70MW.

Porém, Viesser relata que a eficiên-

cia do sistema de limpeza a seco na reti-

rada das impurezas minerais é prejudica-

da nos períodos úmidos, não chegando a

50%. “Até mesmo à noite, devido à umi-

dade em função do orvalho, o índice de

impurezas minerais aumenta. Já com chu-

va, é desastre total.” Para ele, o setor ainda

esta aprendendo a trabalhar. “Acredito que

vamos nos adaptar e melhorar as opera-

ções diárias, tendo, futuramente, resulta-

dos mais satisfatórios.”

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66 Novembro · 2015

ECONOMIA

Benefícios da rotação de cultura da cana com leguminosas

APESAR DE TODOS OS BENEFÍCIOS, A PRÁTICA DE ROTAÇÃO

DE CULTURAS DEVE SER BEM PLANEJADA PARA NÃO OCORRER

ATRASOS NA IMPLANTAÇÃO DA LAVOURA DE CANA

A região de Ribeirão Preto é a maior produtora de amendoim do Brasil e 85% das áreas com amendoim são de renovação de canaviais

A cana-de-açúcar é uma cultura de

ciclo longo, normalmente de 5 a

6 anos. A reposição nutricional

convencional nem sempre atende suas

necessidades, já que essa lavoura deman-

da uma grande quantidade de nutrientes.

Além dessa dificuldade, a área de culti-

vo sofre tráfego intenso de máquinas e

equipamentos, causando compactação

do solo. É importante lembrar que em al-

guns casos não é possível quebrar o ciclo

de algumas pragas e doenças e a produ-

tividade acaba sendo afetada.

Para reduzir esses problemas, a ro-

tação de cultura entre cana-de-açúcar e

uma leguminosa é uma alternativa indi-

cada. Ela traz inúmeros benefícios para

o solo, além de proporcionar uma renda

extra para o produtor.

Uma das vantagens desse sistema

de manejo é a otimização do uso da ter-

ra com a produção de alimento em um

Page 67: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

67

didade, e a descompactação do solo devi-

do ao sistema radicular das leguminosas.

“A rotação de culturas também é funda-

mental para quebrar o ciclo de pragas e

doenças de cada cultura”, afirma Miriam.

Há benefícios ainda em relação aos

custos, uma vez que a rotação de cultu-

ras permite diminuição dos custos das

operações de preparo dos solos (insumos

para correção e adubação). “As legumino-

sas promovem a fixação biológica de ni-

trogênio e a incorporação de matéria or-

período em que ela ficaria em repouso,

aguardando a melhor época para o plan-

tio da cana. Esse sistema também pro-

porciona a cobertura do solo no período

chuvoso (primavera/ verão), protegendo

e evitando a erosão da área.

A engenheira agrônoma Miriam Car-

la de Paula, da MBF Agribusiness, expli-

ca que a rotação de culturas promove o

controle de plantas daninhas, o melhora-

mento das propriedades físicas, químicas

e biológicas do solo, inclusive em profun-

Colheita de soja no sistema de meiosi com cana

Page 68: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

68 Novembro · 2015

ECONOMIA

gânica, o que resulta na redução do uso

de nitrogênio fertilizante em cana-plan-

ta e contribui para o sistema radicular da

cana, dispensando o preparo intensivo do

solo”, acrescenta de Paula.

Além disso, vários equipamentos

utilizados no cultivo da cana-de-açúcar

podem ser utilizados para o cultivo das

leguminosas e a mão de obra também

pode ser aproveitada na entressafra da

cana.

A engenheira agrônoma ressalta que

O milho também figura na dobradinha com a cana, gerando renda ao produtor

a possibilidade de aumento da produti-

vidade dos canaviais gera perspectivas

de aumento de receita para as usinas de

açúcar e álcool, cooperativas de produto-

res, revendas e agricultores familiares.

“Apesar de todos os benefícios cita-

dos, a prática de rotação de culturas deve

ser bem planejada para não ocorrer atra-

sos na implantação da lavoura de cana”

destaca de Paula. Neste caso, a utilização

de variedades precoces de leguminosas é

muito importante.

Page 69: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

69

Ridesa completa 25 anos e domina os canaviais

EM 1991, AS VARIEDADES RB OCUPAVAM 9% DA ÁREA

CULTIVADA COM CANA NO PAÍS; HOJE ESTÃO EM 68%

PESQUISA & DESENVOLVIMENTO

As variedades RB são as mais plantadas no Brasil

A Ridesa (Rede Interuniversitária

para o Desenvolvimento do Setor

Sucroenergético) foi criada em

1991. Sua trajetória começou quando uma

canetada do então presidente Fernando

Collor de Melo extinguiu, em 1990, o Ins-

tituto do Açúcar e do Álcool (IAA). Autar-

quia criada em 1933 pelo presidente Ge-

túlio Vargas, a instituição tinha o objetivo

de orientar, fomentar e realizar o controle

da produção de cana, açúcar e etanol no

território nacional. Premissa que redun-

dou na criação, em 1971, do Planalsucar

(Plano Nacional de Melhoramento da Ca-

na-de-açúcar) – órgão ligado ao IAA vol-

tado ao desenvolvimento de novas varie-

dades e que tinha o objetivo de contribuir

com o aumento da produtividade da ativi-

dade canavieira no país.

A extinção do IAA detonou mudan-

Page 70: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

70 Novembro · 2015

ças profundas no setor sucroenergético,

obrigando-o a buscar alternativas para ca-

minhar por conta própria.

O fim do Instituto também provocou

o término dos trabalhos do Planalsucar,

que já tinha uma história de quase vinte

anos de contribuição ao setor. Sob a sigla

RB, o órgão já havia liberado 19 varieda-

des e muitas outras pesquisas estavam em

curso em 1990. No entanto, a interrupção

do Planalsucar deixava órfão um projeto

de melhoramento de cana-de-açúcar que

foi fundamental para a consolidação do

Proálcool, instituído em 1975.

Mas tudo o que havia sido construí-

do a partir do Planalsucar não poderia se

acabar. Com apoio de parte significativa

do setor sucroenergético, foi articulada a

criação da Ridesa composta inicialmente

por uma rede firmada por convênio entre

sete universidades federais (UFPR, UFS-

Car, UFV, UFRRJ, UFS, UFAL e UFRPE). Estas

instituições eram localizadas nas áreas de

atuação do extinto Planalsucar, do qual foi

absorvido todo corpo técnico e infraestru-

tura das sedes das coordenadorias e es-

Estação de cruzamento de cana Serra do Ouro, em Alagoas, onde nascem as variedades RB

PESQUISA & DESENVOLVIMENTO

Page 71: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

71

tações experimentais do antigo órgão do

IAA.

A trilha de liderança da Ridesa

Hoje, a Rede utiliza para o desenvol-

vimento de seus estudos um total de 80

estações experimentais, localizadas nos

estados onde a cultura da cana-de-açú-

car apresenta maior expressão. Nestes 25

anos de atuação, as universidades fede-

rais deram maior ênfase à manutenção e

continuidade da pesquisa relacionada ao

Programa de Melhoramento Genético da

Cana-de-açúcar (PMGCA), que continuou

a utilizar a sigla RB para identificar seus

cultivares.

Em 1991, as variedades RB ocupa-

vam 9% da área cultivada com cana no

país; hoje estão em 68%. Depois que a Ri-

desa foi constituída, houve o lançamen-

to de 59 variedades. Hoje já são 78 mate-

riais de cana distinguidos com a sigla RB,

que tem alto nível de adoção nos estados

canavieiros do país. As quatro variedades

mais plantadas são originárias de unida-

des da Rede: RB867515, lançada pela Uni-

versidade Federal de Viçosa (UFV), MG;

RB966928, lançada pela Universidade Fe-

deral do Paraná (UFPR); RB92579, lança-

da pela Universidade Federal de Alagoas

(UFAL); e a RB965902, lançada pela Univer-

sidade Federal de São Carlos (UFSCar), SP.

Na estação de Carpina, onde é desenvolvido o Programa de Melhoramento Genético daCana-de-Açúcar da Universidade Federal de Pernambuco, o auditório recebeu o nome de Planalsucar

Page 72: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

72 Novembro · 2015

“Ao analisarmos nossa história de 25

anos de pesquisa, com trabalhos que ini-

ciaram em 1991, a nossa participação era

inferior a 9% da área cultivada no Brasil”,

diz Edelclaiton Daros, coordenador nacio-

nal da Rede.

Segundo Daros, os pesquisadores

dos programas de melhoramento que fa-

zem parte da Ridesa passaram a buscar

variedades que contribuíssem para o setor

em momentos de dificuldades, “com libe-

rações de variedades rústicas, com libera-

ção de variedades hiperprecoces para am-

pliar o período de safra, com liberação de

variedades tolerantes a novas doenças e

com boas produtividades, mesmo diante

de desafios como foi a chegada da colhei-

ta e do plantio mecanizados.”

Difusão de conhecimento

O desenvolvimento de variedades de

cana que possibilitam maior competitivi-

dade ao setor é o foco principal da Ridesa,

mas difundir conhecimento também está

na pauta da Rede. Um dos trabalhos nes-

se sentido são os encontros técnicos pro-

movidos pelo Programa de Melhoramento

Genético da Cana-de-açúcar (PMGCA) da

Universidade Federal de São Carlos (UFS-

Car), integrante da Ridesa, realizados em

diferentes regiões de São Paulo e no Mato

Grosso do Sul e que abordam variados te-

mas, como controle do carvão e da ferru-

gem alaranjada

De acordo com Hermann Hoffmann,

coordenador do PMGCA da UFSCar. “As

reuniões permitiram uma aproximação

ainda maior entre o programa e usinas e

fornecedores de cana, facilitando o com-

“Os pesquisadores dos programas de melhoramento que fazem parte da Ridesa buscam variedades que contribuem para o setor em momentos de dificuldades”, diz Daros

“As reuniões facilitam o compartilhamento de tecnologias”, diz Hermann

PESQUISA & DESENVOLVIMENTO

Page 73: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

73

partilhamento de tecnologias, a troca de

experiências e a disseminação de infor-

mações”, diz Hermann. Ao todo, 90 usi-

nas e 12 associações conveniadas à Ride-

sa UFSCar participaram das dez reuniões,

que tiveram a participação de mais de 400

profissionais.

Os encontros foram realizados entre

os meses de agosto e outubro deste ano.

Cada reunião foi regional, reunindo pro-

fissionais de usinas ou de associações de

produtores próximas, o que facilitou um

maior contato entre os pesquisadores do

programa de pesquisa e os produtores de

cana e técnicos das empresas.

Controle de doenças

“As reuniões foram muito proveito-

sas. Discutimos o manejo de variedades

RB, apresentamos o censo varietal e veri-

ficamos a intenção de variedades a serem

plantadas no próximo ciclo de plantio”, diz

Hermann.

Nos encontros também foram discu-

tidas ações para controle do carvão e da

ferrugem alaranjada por conta da ameaça

que estas doenças representam à produti-

vidade do canavial.

“Defendemos que o produtor deve

priorizar a troca das variedades de áreas

infestadas por estas doenças tão logo seja

A Ridesa mantém parcerias com o setor. Uma dessas parcerias é com a Usina Caeté,em Alagoas, onde a PMGCA UFAL conta com 50 hectares para o experimento de clones

Page 74: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

74 Novembro · 2015

possível, mas sempre utilizando materiais

resistentes. Para controle do carvão, tam-

bém é essencial o plantio de mudas sa-

dias. No caso das ferrugens, acreditamos

que fungicidas devam ser aplicados ape-

nas em situações emergenciais”, relata Ro-

berto Chapola, pesquisador do PMGCA da

UFSCar.

Esta série de reuniões promovidas

pela Ridesa UFSCar com profissionais de

usinas e produtores de cana foi muito efi-

ciente para divulgar informações e com-

partilhar conhecimento por conta do for-

mato dos encontros. “Conseguimos formar

grupos menores, o que permite uma troca

de ideias e de conteúdos muito grande”,

pontua Hermann.

25 anos da Ridesa,

45 anos das variedades RB

e lançamento de variedades

No próximo dia 25 de novembro, 16

novas variedades RB serão lançadas du-

rante o Encontro Nacional da Ridesa. Sete

universidades que compõem a Rede libe-

rarão novos materiais na ocasião: UFAL,

UFRPE, UFG, UFPR, UFSCar, UFRRJ e UFV.

Os nomes e as características das 16

novas variedades ainda são guardados a

sete chaves pelos programas de pesqui-

Prédio do PMGCA e do Laboratório de Biotecnologia de Plantas daUFSCar – Ridesa, em Araras, SP, também é fruto da parceria com o setor

PESQUISA & DESENVOLVIMENTO

Page 75: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

75

sa. O que divulgam é que são variedades

que foram escolhidas estrategicamen-

te entre as universidades e se comple-

tam ao longo da safra, nos mais diferen-

tes ambientes.

“Como são variedades para os mais

diferentes ambientes de produção, os no-

vos materiais se destacam em aspectos

como precocidade, produtividade, apti-

dão a ambientes restritivos, boa colheita-

bilidade e adequação ao plantio mecani-

zado, além de boa sanidade em relação às

principais doenças”, relata Daros.

No Encontro Nacional será divulga-

da a Revista de Liberação Nacional de Va-

riedades RB de Cana-de-Açúcar, com a

descrição completa e recomendação de

manejo para as 16 novas variedades RB.

Também será lançado o Livro comemora-

tivo “45 anos de Variedades RB de Cana-

de-Açúcar – 25 anos de RIDESA”. Todas as

informações originais de liberação das 94

variedades RB serão descritas e apresenta-

das nesta edição.

ENCONTRO NACIONAL DA RIDESA

Local: Hotel JP, em Ribeirão Preto – Via Anhanguera, Km 306,5

Horário: das 8h às 13h

Não perca a cobertura em tem real no https://www.facebook.com/canaonline.com.br

e depois a matéria especial na edição de dezembro da CanaOnline.

A RB867515 é a variedade mais plantada no Brasil

Page 76: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

76 Novembro · 2015

A partir daí houve

um convite às empresas privadas

e instituições interessadas no desenvolvi-

mento do projeto. As parcerias foram fei-

SUSTENTABILIDADE

Lançado relatório sobre o Projeto RenovAção

PUBLICAÇÃO LEVANTA NÚMEROS, RESGATA HISTÓRIAS E

REGISTRA COMO A QUALIFICAÇÃO PODE TRANSFORMAR VIDAS

“Fiz minha inscrição nesse curso,

mas pensei que não me cha-

mariam. Escolhi fazer solda,

só que todo mundo pensa que é função

mais de homem. Mesmo assim me cha-

maram para fazer o curso. E não é tão di-

fícil. Estou fazendo o melhor, quero con-

seguir um trabalho na usina ou onde

aparecer. Depois quero continuar estu-

dando. Estou pronta, mas não para ser

apenas uma soldadora. Serei uma boa

soldadora”, diz Giani da Silva Concei-

ção, 24 anos, de Dumont, SP, uma das

alunas de um dos cursos oferecidos

pelo Projeto RenovAção, na modali-

dade Comunidade.

Transformar vidas por meio da

qualificação é o principal objeti-

vo do RenovAção. Maria Luiza Bar-

bosa, consultora de Responsabili-

dade Social da Unica, explica que

o RenovAção é um projeto que

foi criado primeiro pela cadeia produtiva,

reunindo as associadas da Unica e a Fe-

deração dos Empregados Rurais Assala-

riados do Estado de São Paulo (Feraesp).

Page 77: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

77

tas com: o Banco Interamericano de De-

senvolvimento, a Fundação Solidaridad, a

Iveco, a Case IH, a FMC e a Syngenta. A

John Deere também apoiou o projeto du-

rante os seus primeiros anos. E também

contou com o suporte de técnicos do Ser-

viço Nacional de Aprendizagem Industrial

(SENAI) e do Centro Paula Souza, que co-

ordenaram o treinamento teórico e práti-

co dos cursos.

Um dos grandes méritos da inicia-

tiva foi o envolvimento dos parceiros do

RenovAção na formatação e na condução

do programa. As empresas e instituições

envolvidas formaram um comitê para que

todos pudessem contribuir com a imple-

Giani durante o curso e com os filhos na formatura

Durante lançamento do relatório do Projeto RenovAção: Iza Barbosa, Fátima Cardoso, Elizabeth Farina, presidente da Unica, e Edgardo Legar, responsável pela área de treinamento de operadores na CaseIH

Page 78: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

78 Novembro · 2015

mentação do RenovAção. Diversas reuni-

ões foram realizadas. Todas as decisões do

Projeto foram debatidas e analisadas por

esse comitê, que não só colaborou finan-

ceiramente, mas ajudou a pensar e melho-

rar o Programa.

Lançado em 2009, o RenovAção pre-

via o treinamento especializado de traba-

lhadores nas seis principais regiões produ-

toras de cana-de-açúcar do Estado de São

Paulo: as macrorregiões de Ribeirão Preto,

Piracicaba, Bauru, Araçatuba, São José do

Rio Preto e Presidente Prudente. O gran-

de diferencial do programa, foi que o co-

laborador pôde se dedicar integralmente

ao curso, não precisando trabalhar no pe-

ríodo, mas sem deixar de receber o salário

mensal. Em 2010 ocorreu a formatura das

primeiras turmas de capacitação.

Como as unidades sucroenergéticas

não conseguem recontratar todos os tra-

balhadores que foram dispensados pela

mecanização, o Programa criou um se-

gundo módulo de capacitação voltado a

qualificar trabalhadores para outros seto-

res da economia. É o chamado RenovAção

Comunidade.

Lançamento do Relatório

do Projeto RenovAção

Em 29 de outubro, na capital paulis-

ta, a Unica e a Fundação Solidaridad lan-

çaram o Relatório Final do Projeto Reno-

vAção. O balanço mostra que, no período

de 2010 a 2015, o RenovAção profissiona-

lizou 6.650 pessoas ligadas direta ou indi-

retamente ao setor sucroenergético pau-

lista, especialmente trabalhadores que

atuavam no plantio e colheita manuais em

seis das maiores zonas de cultivo cana-

SUSTENTABILIDADE

O relatório de balanço do Projeto RenovAão é em português e inglês

Page 79: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

79

vieiro impactadas pelo rápido avanço da

mecanização no campo. Considerado um

dos maiores programas mundiais de re-

qualificação na cadeia produtiva da cana,

o RenovAção serviu de referência para a

formação de outros 20 mil novos profis-

sionais em programas semelhantes toca-

dos pelas usinas paulistas.

Este conjunto de ações permitiu a

absorção de um contingente expressivo

de profissionais cujas atividades vêm sen-

do progressivamente abolidas na última

década, em grande parte por conta do fim

da queima da palha da cana. A tendência

RENOVAÇÃO EM NÚMEROS

Page 80: revista canaonline-antonio inacio ferraz-técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip

80 Novembro · 2015

ganhou mais força a partir de 2007, quan-

do governo e representantes do setor as-

sinaram o Protocolo Agroambiental, acor-

do que na época envolveu 170 usinas e 29

associações de fornecedores canavieiro. O

pacto antecipou os prazos legais para o

fim do uso do fogo controlado, que facili-

tava o corte manual da planta.

Mais de 1,2 milhão de empregos di-

retos são gerados pelo setor sucroenergé-

tico no Brasil. Cerca de 500 mil estão em

atividades manuais vinculadas exclusiva-

mente à colheita da cana-de-açúcar. O Es-

tado de São Paulo, sozinho, abriga 20%

dessa mão-de-obra, ou cerca de 110 mil

trabalhadores. Dados do Instituto de Eco-

nomia Agrícola, da Secretaria de Agricul-

tura do Estado de São Paulo (IEA) apon-

tam que na atual safra a mecanização

da colheita já atingiu 90% dos canaviais

paulistas.

O RenovAção pode ser

replicado em outros países

O presidente da Federação dos Em-

pregados Rurais Assalariados do Estado de

São Paulo (Feraesp), Élio Neves, cuja enti-

dade coordenou o RenovAção em parceria

com a Unica, ressalta o aspecto inclusivo

do Projeto, em contraponto ao desem-

prego gerado pelo avanço da tecnológi-

co no setor. “A mecanização gera ganhos

ambientais e de produtividade, mas tam-

bém faz com que trabalhadores percam

SUSTENTABILIDADE

Técnicos do Senai treinando os novos operadores de colhedora de cana

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seus empregos. Com o RenovAção, o se-

tor dá uma mostra clara da maturidade e

compreensão de que a educação constitui

a base para a conquista da inclusão social.

Milhares de homens e mulheres trocaram

a desesperança por sonhos renovados”,

observa.

O diretor executivo da Unica, Edu-

ardo Leão de Sousa, informa que duran-

te todo o seu período de execução (2010 a

2015) o RenovAção foi seguidamente pre-

miado e reconhecido inclusive no âmbi-

to internacional. “O sucesso do programa

teve a chancela da Organização das Na-

ções Unidas para a Agricultura e Alimen-

tação (FAO), que o considerou como um

‘exemplo’ entre iniciativas que combinam

produção de energia renovável com inclu-

são social no Brasil, na África e na Ásia”,

destaca. O relatório “Good Socio-Econo-

mic Practices in Modern Bioenergy Pro-

duction” (Boas Práticas Socioeconômi-

cas na Produção de Bioenergia Moderna,

em português), foi formulado a partir de

critérios desenvolvido pela FAO no intui-

to de estabelecer indicadores e critérios

para produção de bioenergia e seguran-

ça alimentar.

A coordenadora de projetos no Bra-

sil da Fundação Solidariedad – outra insti-

tuição parceira do RenovAção e uma das

mais importantes organizações interna-

cionais de apoio ao desenvolvimento de

cadeias de produção sustentável -, Fáti-

ma Cristina Cardoso, acredita que o mo-

delo do Projeto brasileiro pode ser repli-

cado por outras nações. “A mecanização

da cana-de-açúcar está acontecendo tam-

bém ao redor do mundo. Acredito que

esta experiência possa servir de base para

Formandos no Grupo Zilor

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iniciativas semelhantes em outros países”,

comenta.

Para o líder em Energia Sustentável

do Banco Interamericano de Desenvolvi-

mento (BID), Arnaldo Vieira de Carvalho,

“os resultados do RenovAção superaram

em muito as expectativas originais tanto

em termos ambientais como sociais, pos-

sibilitando aumento real na renda das fa-

melhor. Entrei na Usina da Pedra para cor-

tar cana e há cinco anos fui indicado para

participar do Projeto RenovAção. Cur-

sei o Senai e hoje sou mecânico hidráuli-

co, tenho uma profissão. O salário melho-

rou, assim como a autoestima. Passei a ter

mais contato com as pessoas, casei e es-

tou construindo a minha casa.”

Mais de 78% dos participantes dos

SUSTENTABILIDADE

“Sou mecânico hidráulico, tenho uma profissão”, salienta Deison

mílias dos trabalhadores que participaram

da iniciativa”.

Melhoria de vida

O RenovAção ajudou a melhor a his-

tória de muita gente, como Deison da Sil-

va Soares, que mora em Serrana, SP, ex-

cortador de cana. “Há sete anos, vim do

Piauí para São Paulo, para tentar uma vida

30 cursos oferecidos pela iniciativa – com

carga individual de até 300 horas –, trei-

nados para funções como Operador de

Colheitadeira, Motorista Canavieiro, Sol-

dador, Eletricista e Mecânico, já se recolo-

caram no mercado de trabalho, obtendo

um aumento médio na renda de até 75%.

Durante o período de treinamento, os alu-

nos dedicaram-se exclusivamente às aulas,

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mas continuavam recebendo seus salários.

Além do pagamento aos funcionários, as

usinas participantes do programa também

foram responsáveis pelo transporte e ali-

mentação, o que resultou em uma redução

na taxa de desistência dos participantes.

Inscrito no RenovAção em 2010, o

ex-cortador de cana, Genildo do Nas-

cimento Flores, 28 anos, afirma que não

hesitou em aceitar participar do Projeto.

“Aceitei na hora. Hoje sou eletricista 1, cui-

do dos caminhões, tratores e ônibus. Tudo

mudou para melhor na minha vida, não só

o salário. O RenovAção me estimulou a es-

tudar, estou terminando o Ensino Médio”,

observa.

RenovAção serviu de

base para o Pronatec

A experiência adquirida com o Re-

novAção tem contribuído muito para o

desenvolvimento do Programa Nacio-

nal de Acesso ao Ensino Técnico e Em-

prego (Pronatec)). Rafael de Sá Marques,

diretor de tecnologias inovadoras da Se-

cretaria de Inovação do Ministério de De-

senvolvimento, Indústria e Comércio Exte-

rior (MDIC), explica que o Pronatec é um

programa amplo, que passou a reunir em

2011 políticas de capacitação e de inclu-

são social que já existiam dentro do go-

verno federal. O Pronatec tem os recur-

sos geridos pelo Ministério da Educação

(MEC), mas é executado por 14 ministérios

diferentes. As duas pastas que mais dispo-

nibilizam cursos do Pronatec são o Minis-

tério do Desenvolvimento Social e o MDIC,

sendo que a este último cabe a oferta de

cursos para o setor produtivo. Para Rafa-

el, há convergência grande entre o Projeto

“O RenovAção me estimulou a estudar, estou terminando o Ensino Médio”, observa Genildo

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RenovAção e o Pronatec. “Não diria que o

Pronatec substitui o RenovAção, mas am-

bos têm complementaridade importante.”

Andrei Rodrigues, coordenador do

Pronatec, salienta que a agroindústria ca-

navieira foi muito importante para a vali-

dação deste programa dentro do Minis-

tério de Desenvolvimento. “Em setembro

de 2013, tivemos um projeto modelo para

testar e aperfeiçoar o funcionamento dos

cursos dentro do Ministério. Por isso, sele-

cionamos seis atividades econômicas. E a

Unica, pelo setor sucroenergético, fez par-

te daquele projeto pioneiro, ocupando a

maioria das 30 mil vagas disponibilizadas.”

Andrei observa que o setor sucroenergé-

tico teve mais facilidade de se adequar à

proposta do Pronatec do que outros seg-

mentos. Um dos motivos era que, em São

Paulo, a Unica já utilizava o serviço de es-

colas técnicas, como o Senai, para oferecer

capacitação dentro do Projeto RenovAção.”

Na usina Furlan, em Santa Barbará d’Oeste, SP, em 2013, 27 mulheres foram requalificadas como operadoras de colhedora de cana e outras 10 como operadoras de trator transbordo

BAIXE GRÁTIS

O relatório de resultados do RenovAção foi produzido pelos jornalistas Luciana Paiva e

Clivonei Roberto, os editores da revista CanaOnline, e está disponível no link a seguir:

http://unica.com.br/download.php?idSecao=17&id=22129468

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