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No verão de 1981 fiquei em Bagé. Abri mão das férias universitárias, do convívio com a família na Serrinha Velha, lá no interior de Sobradinho, porque, como líder estudantil, tinha algumas tarefas para cumprir naquele período. Uma delas era a de organizar a recepção aos estudantes que prestariam vestibular e, logo em seguida, ingressariam na "velha" Faculdades Unidas de Bagé (FUnBa). Outra era promover o show de música nativa, popular brasileira e latino- americana que o Diretório Acadêmico de Direito, juntamente com outras organizações estudantis, realizaria no dia 30 de janeiro, na praça Silveira Martins. Aliás, nossa atuação no movimento estudantil foi marcada, além das lutas pelas reivindicações dos estudantes, pela intensa atividade de cunho cultural. Fazíamos, além de shows, muitos seminários e debates. Foi num destes que conheci o governador Tarso Genro. Como dirigente da União Estadual de Estudantes, que ajudei a reativar, estive integrado na organização do Cio da Terra, um grande encontro de música, teatro e outras manifestações culturais realizado em 1982, no Parque da Uva, em Caxias do Memórias de um tempo O maior churrasco do mundo Sul. Uma cena que jamais esquecerei foi aquela em que fui até a Prefeitura solicitar o empréstimo do palco para que pudéssemos realizar o show que já tinha confirmadas as participações de artistas como Cenair Maicá, Cesar Passarinho e Leopoldo Rassier. O representante do interventor da época negou nosso pedido. Não desistimos e conseguimos, com o Odilo Dal Molin, da Entel, nove tonéis e algumas tábuas para improvisar o palco. Trabalho realizado, tudo certo, no dia marcado ocorre o inesperado. São Pedro que, normalmente, não manda chuvas para Bagé nos janeiros, abriu as torneiras do céu e despejou toda a água que havia reservado nos últimos 90 dias. Um grande aguaceiro. Na frente do Unibanco, protegidos pela aba do prédio, eu e o José Armando Carreta, o Carretinha, nos abraçamos, choramos e tomamos a decisão que nos doeu muito, em função de todo o envolvimento. Não tinha outra alternativa: cancelamos o show.

Memórias de um Tempo_ Festa do Churrasco_Maior churrascada do mundo

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Page 1: Memórias de um Tempo_ Festa do Churrasco_Maior churrascada do mundo

No verão de 1981 fiquei em Bagé.

Abri mão das férias universitárias, do

convívio com a família na Serrinha Velha,

lá no interior de Sobradinho, porque, como

líder estudantil, tinha algumas tarefas

para cumprir naquele período. Uma delas

era a de organizar a recepção aos

estudantes que prestariam vestibular e,

logo em seguida, ingressariam na "velha"

Faculdades Unidas de Bagé (FUnBa).

Outra era promover o show de música

nativa, popular brasileira e latino-

americana que o Diretório Acadêmico de

Direito, juntamente com outras

organizações estudantis, realizaria no dia

30 de janeiro, na praça Silveira Martins.Aliás, nossa atuação no movimento

estudantil foi marcada, além das lutas

pelas reivindicações dos estudantes, pela

intensa atividade de cunho cultural.

Fazíamos, além de shows, muitos

seminários e debates. Foi num destes que

conheci o governador Tarso Genro. Como

dirigente da União Estadual de

Estudantes, que ajudei a reativar, estive

integrado na organização do Cio da Terra,

um grande encontro de música, teatro e

outras manifestações culturais realizado

em 1982, no Parque da Uva, em Caxias do

Memórias de um tempo

O maior churrasco do mundo

Sul.Uma cena que jamais esquecerei foi

aquela em que fui até a Prefeitura solicitar

o empréstimo do palco para que

pudéssemos realizar o show que já tinha

confirmadas as participações de artistas

como Cenair Maicá, Cesar Passarinho e

Leopoldo Rassier. O representante do

interventor da época negou nosso pedido.

Não desistimos e conseguimos, com o

Odilo Dal Molin, da Entel, nove tonéis e

algumas tábuas para improvisar o palco.

Trabalho realizado, tudo certo, no dia

marcado ocorre o inesperado. São Pedro

que, normalmente, não manda chuvas

para Bagé nos janeiros, abriu as torneiras

do céu e despejou toda a água que havia

reservado nos últimos 90 dias. Um grande

aguaceiro.Na frente do Unibanco, protegidos

pela aba do prédio, eu e o José Armando

Carreta, o Carretinha, nos abraçamos,

choramos e tomamos a decisão que nos

doeu muito, em função de todo o

envolvimento. Não tinha outra alternativa:

cancelamos o show.

Page 2: Memórias de um Tempo_ Festa do Churrasco_Maior churrascada do mundo

Conto isso para explicar uma das

razões que me motivaram, enquanto

prefeito de Bagé, entre 2001 e 2008, a

dedicar especial atenção para as questões

ligadas à cultura. Quando procurados pelo

Tiago Cesarino, que pedia apoio para a

realização do seu "Canto Sem Fronteiras",

assumimos o compromisso de colaborar

com a promoção, que depois criou uma

versão para os pequenos cantores. Demos

respaldo total para a Nádia La Bella,

nossa secretária da Cultura à época, para

a promoção da Galponeira da Canção,

nome sugerido pelo Sapiran Brito, que era

secretário adjunto da pasta. Bagé, que

não tinha nenhum festival de música

gaúcha, passou a contar com dois. E, de

dança, criamos, com a Ana Carla Flores, o

Dança Bagé. Festa do churrasco Em 2001, retornando de Pelotas,

onde fui prestigiar o prefeito Fernando

Marroni, meu ex-colega na Câmara dos

Deputados, na abertura da Fenadoce,

Memórias de um tempo

fiquei pensando por que Bagé não tinha

nenhuma atividade daquele porte para

promover alguns setores de sua

economia. Isso é comum em vários

municípios que promovem desde o

moranguinho até a erva mate. Tínhamos a

Expofeira e a Semana Crioula, promovidas

pelo Sindicato/Associação Rural, mas

entendia que havia espaço para promover

nossa produção.Logo pensei na carne de Bagé. Uma

das melhores do mundo, que ganhou

fama nacional e internacional,

especialmente a partir do trabalho do

saudoso Lauro Tavares à frente da Cicade.

Sob a sua liderança, a carne do Pampa

conquistou alguns dos melhores mercados

do mundo e podia ser encontrada em

"boutiques" instaladas em Porto Alegre,

São Paulo e Brasília, por exemplo. No

outro dia do meu regresso de Pelotas,

reuni o secretariado e lancei o desafio de

criarmos e consolidar a Festa do

Churrasco, na perspectiva de estabelecer

um momento de encontro e

confraternização de todos os segmentos

Page 3: Memórias de um Tempo_ Festa do Churrasco_Maior churrascada do mundo

da comunidade, reunindo entidades,

escolas, associações, sindicatos, igrejas,

empresas, grupos familiares, de vizinhos e

de amigos numa grande celebração

coletiva.Pensamos: se temos a melhor carne

do mundo, devemos fazer a maior

churrascada do mundo. E assim foi. Em

dezembro de 2002, nos bosques do

Complexo Esportivo do Militão, reunimos

35 mil pessoas que consumiram 22 mil

quilos de carne. E obtivemos outra marca:

reunindo tanta gente, de diversas origens,

com muitas facas, não registramos

nenhuma confusão que merecesse

destaque. A comunidade de Bagé e da

Memórias de um tempo

*Esse texto faz parte de Memórias de Um Tempo, uma série publicada no Jornal Minuano de Bagé, em que procurei resgatar fatos de nossa gestão de oito anos na Prefeitura Municipal.

região celebrou em paz. O que faltou A Festa do Churrasco poderia ser

maior. Infelizmente, não conseguimos

sensibilizar a indústria local e os próprios

produtores, que não se integraram ao

espírito da promoção. Também não

tivemos "pernas" para promover outras

atividades que pudessem dar maior

consistência à festa, como, por exemplo,

dentre outras, o encontro internacional de

churrasqueiros e de donos de

churrascarias, que havíamos idealizado.