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Carta fundamental aprendendo a aprender

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Saber como o cérebro funciona nos ajuda a aprender

// Aprendendo a aprenderA professora Barbara Oakley conta como superou suas dificuldades com ciências exatas e afirma que prática é mais importante do que a teoriapara aprender Matemática

// Por Tory Oliveira

Assim como muitos de nós, Barbara Oakley, 60 anos, professora de Engenharia na Universidade de Oakland, em Rochester, no estado norte-americano deMichigan, era má aluna em Matemática na escola.  Por causa da experiência ruim, nunca gostou da disciplina e entrou para o Exército dos Estados Unidos assim que pegou o diploma de Ensino Médio,determinada a estudar línguas, mais especificamente, o russo. Ao fim da experiência, porém, percebeu que seus colegas engenheiros do exército conseguiamresolver problemas com mais facilidade e tinham mais perspectivas de emprego do que ela.  Assim, contra todas as expectativas, enveredou pelo campo das ciências exatas e, a partir de suas próprias experiências e estudos na área de neurociências,desenvolveu técnicas para “aprender a aprender”. Não por acaso, esse é o título do livro recém-lançado no Brasil pela editora Nova Mídia e também o docurso massivo online que Barbara desenvolveu em parceria com o professor Terrence Sejnowski, o terceiro mais popular da plataforma Coursera, com 700mil alunos em 200 países. Nessa entrevista, a californiana fala sobre sua trajetória, a experiência ensinando um curso a distância e dá dicas para melhorar a aprendizagem.  Carta na Escola: Por que é necessário “aprender a aprender”? Em poucas palavras, como é possível fazer isso?  Barbara Oakley: Você já tentou resolver um problema e se viu cada vez mais frustrado, até finalmente desistir – e então sentiu-se mal consigo mesmo por

desistir em vez de resolver o problema? Não precisa ser assim. Muitas vezes, para resolver problemas mais difíceis, você precisa desistir – apenas quando suaatenção está fora do problema é que outras redes do seu cérebro são ativadas para permitir que você ache a solução. Isso é aquele momento “eureca!” quevocê sente depois, quando a solução para o problema surge repentinamente em seu cérebro. Se você soubesse mais sobre como o cérebro funciona, vocênão teria de sofrer tantas frustrações ao estudar tópicos mais difíceis. Há muitas outras formas de saber mais sobre como nós aprendemos e que podem serúteis no processo de aprendizagem. Por isso escrevi o livro Aprendendo a Aprender e é também por isso que Terry Sejnowski e eu criamos o MOOC demesmo nome.  

 CE: O que a senhora pode nos contar sobre suaexperiência como professora em um MOOC doCoursera?  BO: Foi uma das experiências mais assustadoras egratificantes que já fiz na vida. Assustadora porquepassei o verão todo no porão filmando e editandovídeos. Nunca tinha feito algo do tipo antes, e nãotinha ideia se as pessoas iriam sequer assistir – ou,caso assistissem, se eu acabaria estragando tudodiante de 200 mil pessoas. Eu só tinha visto algunspoucos MOOCs antes, mas eu sabia que o que estavafazendo era algo realmente diferente. A reação dosestudantes tem sido muito além das minhasexpectativas. As pessoas acham que as explicações sãoclaras, instigantes, práticas e valiosas – e, muitas vezes,muito engraçadas. É incrível que algo tão simples e útilnão tenha sido feito antes.   CF: A senhora tem ideia de quantos estudantesalcançou com o Coursera? Em sua opinião, quais sãoos prós e os contras desse novo modelo de ensino?   BO: Até agora, 700 mil estudantes em 200 paísesdiferentes inscreveram-se no curso. É um dos cursosmais populares do mundo – principalmente porque éútil de imediato e divertido. Como disse uma aluna de11 anos: “Quem diria que um professor pudesse sertão espirituoso!” As pessoas tendem a esquecer a

verdade estatística de que metade dos professores está abaixo da média. É um erro pensar que educação presencial é necessariamente melhor do que aonline, porque muitas vezes não é.  Vídeos bem-feitos podem fazer os alunos sentirem-se tão pessoalmente empoderados como qualquer aula presencial. Cada aula que dou no MOOC é amelhor explanação sobre o assunto que já dei na minha vida – uma vez que você pode filmar, refilmar, editar e refinar até que o vídeo fique perfeito eperfeitamente fascinante. O ensino online funciona da maneira que a nossa mente aprende melhor – foco por cinco minutos, fazer um pequeno teste, fazeruma pausa e começar de novo.  O ensino online também pode ser barato – muitas vezes gratuito – e não envolve deslocar-se até uma sala de aula de localização inconveniente para ter aulacom um professor que pode ou não querer estar ali. Há poucos pontos negativos em uma aula online bem-feita. Pesquisas mostram que os estudantesaprendem tanto quanto – ou até mais – online do que numa aula presencial. Detratores do ensino a distância muitas vezes sentem-se pessoalmenteameaçados pela competição que ela traz. Mas as vantagens estão se tornando evidentes para todos, especialmente para os alunos.   CF: No seu livro Aprendendo a Aprender, a senhora descreve sua experiência como uma estudante que não se dava muito bem nas aulas de Matemática.Como redescobriu a disciplina e acabou tornando-se professora de Engenharia?   BO: É simples – o mundo está mudando. Atualmente é muito mais difícil conseguir um emprego sem algum tipo de know-how técnico. Eu alistei-me noexército logo depois de terminar o Ensino Médio com o objetivo de aprender um idioma. E aprendi russo. Mas descobri que os engenheiros com quemtrabalhava no exército eram ótimos resolutores de problemas – e tinham perspectivas profissionais melhores que as minhas. Assim, quando dei baixa doexército aos 26 anos, decidi tentar expandir meus horizontes e enveredei pelas áreas da Matemática e Ciências, em vez de seguir minha paixão natural pelalinguagem.  Apesar de engenharia parecer alienígena para a minha personalidade, descobri que, quando eu aplicava técnicas para aprender idiomas para me ajudar aentender Matemática e Ciência, isso funcionava como uma mágica. Como consequência, e para minha surpresa, acabei tornando-me professora de

Engenharia!   CF: No Brasil, os resultados dos alunos em Matemática no Pisa são um dos nossos maiores desafios. Por que estudantes em todo o mundo têm dificuldadespara aprender Matemática?  BO: Pessoas no mundo todo muitas vezes sentem dificuldade e praticam ao longo de muitos anos a fim de aprender a tocar um instrumento musical, masninguém acha que isso é memorável. Aprender Matemática é muito parecido com aprender a tocar um instrumento – é preciso prática diária, ao lado delições teóricas. Quando não há prática diária – e apenas lições teóricas – as pessoas pensam que Matemática é mais difícil do que ela é realmente.   CF: Recentemente, a senhora escreveu que “o desenvolvimento de uma verdadeira expertise envolve uma prática extensa de modo que a arquitetura neuralfundamental que possibilita a expertise tenha tempo para crescer e se desenvolver. Isso envolve muita repetição em diversas circunstâncias”. A senhora achaque os professores de Matemática focam muito na teoria da Matemática, em vez de exercícios?  BO: Sim. Ensinar conceitos leva os professores a pensar, erroneamente, que os estudantes realmente entenderam o material, quando, na realidade, osalunos muitas vezes apenas entenderam uma pequena parte do conteúdo teórico, que desaparece sem a prática. Além disso, ensinar conceitos é maisdivertido para os professores do que corrigir lição de casa – os professores são levados a pensar que suas explicações são centrais para os alunos. É a práticaque solidifica o entendimento e possibilita a criação de uma expertise verdadeira.  Muitos estudantes não adquirem prática o suficiente com a Matemática para se sentirem confortáveis com o conteúdo e se tornarem conhecedores do tema.Apenas 20 e poucos minutos de prática diária pode ajudar a construir um conhecimento verdadeiro do assunto. Em outras palavras, se as pessoas que tocamalgum instrumento musical fossem ensinadas a entender as explicações sobre a teoria, em vez de ter muitas oportunidades para praticar sozinhas, muitaspensariam que não têm uma habilidade natural para tocar violão – que eles são “violãofóbicos” com nenhum talento para a música. O que não seria verdade!   CF: Como avalia o trabalho dos professores de Matemática hoje em dia? O que eles podem fazer, em sua opinião, para melhorar o aprendizado dos seusalunos?   BO: Uma das melhores coisas que os professores podem fazer para ajudar seus alunos é testá-los sempre que possível. Pesquisas mostram que, se osestudantes passarem uma hora estudando, em comparação com uma hora resolvendo testes, eles aprenderam mais com o último. Dou aos meus estudantesda graduação em Engenharia um teste, por exemplo, toda vez que eles entram em sala. Assim, eles se mantêm em dia como o material e conseguem serbem-sucedidos.   CF: Que elementos destacaria como relevantes para melhorar as técnicas de estudo?   BO: Pratique ativamente o conteúdo você mesmo – não apenas olhe para o problema, veja como é resolvido e deixe por isso mesmo. Explique ideias difíceisem voz alta, como se estivesse ensinando um amigo imaginário. Não só os exercícios da lição de casa uma vez – trate-os como músicas que você precisapraticar várias vezes ao dia até que as soluções surjam naturalmente. Ao ler materiais mais difíceis, não grife várias frases e releia várias vezes. Em vez degrifar, veja se você consegue rememorar as ideias. Isso funciona como mágica para ajudá-lo a entender e lembrar o que você está estudando.    CF: No Brasil, o método Kumon é controverso entre os especialistas. Por que o recomenda?  BO: Recomendo o método Kumon para Matemática, porque dá um reforço extra na prática matemática que, infelizmente, não existe em muitos países domundo. O Kumon é inteligentemente pensado para gradualmente construir um aprendizado de fato. O fato de especialistas desconfiarem do Kumon nos dáuma boa pista sobre o porquê do Brasil ir mal do Pisa. Olhe para os professores de Engenharia nos EUA. Grande parte deles vem de países onde a prática e arepetição são incluídas como partes importantes do aprendizado matemático nos primeiros anos da escolaridade. Se o Brasil quer atingir patamares deexcelência nesses temas, seria muito bom que o método Kumon fosse utilizado.   CF: Quais conselhos daria a alguém que está tendo dificuldades em aprender Matemática?  BO: Pratique um pouco todos os dias. Aproveite nosso curso online e gratuito Aprendendo a Aprender no Coursera e veja você florescer!  

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