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À LUZ DO CONSOLADOR
Yvonne do Amaral Pereira
“Quis Deus que a nova revelação chegasse aos homens
por mais rápido caminho e mais autêntico. Incumbiu, pois,
os Espíritos leva-la de um polo a outro, manifestando-se
por toda parte, sem conferir a ninguém o privilegio de lhes
ouvir a palavra.”
(Allan Kardec – Introdução de “O Evangelho segundo o Espiritismo”,
66ª edição da FEB (especial), pág. 29)
É inegável que não foram só os Espíritos de alta classe espiritual que
revelaram, e ainda revelam, a Doutrina do Consolador aos homens,
pois ela ainda não está toda revelada. Também os pequeninos:
sofredores, mistificadores, gaiatos, galhofeiros e até obsessores muito
nos têm ajudado a compreender certos aspectos da Doutrina e os
sucessos e peripécias do dinâmico mundo invisível.
"O Céu e o Inferno", de Allan
Kardec, ainda relativamente pouco
procurado pelos interessados nos
estudos espíritas, é um importante
livro de instrução sobre o estado de
certas entidades desencarnadas,
as quais, comunicando-se nas
sessões experimentais realizadas
por aquele mestre, quando das suas
lutas para a formação dos códigos
espíritas, tantas elucidações nos
deram sobre as variadas
impressões e sensações que
sacodem as almas recém-libertas
do estágio carnal.
Esse livro é um belo código
analítico que não devia faltar na
estante do espírita, não como
ornamento, mas como um
instrutor sempre capaz de
suscitar excelentes assuntos
para as reuniões de estudo,
quando somos convidados a
expor temas objetivos para
elucidação das criaturas que
nos procuram, ávidas de
conhecimentos, cheias de
curiosidade ou necessitadas de
consolo e estímulo para o
prosseguimento da jornada
terrena.
É uma das cinco obras básicas da Codificação do Espiritismo. Seu principal
escopo é explicar a Justiça de Deus à luz da Doutrina Espírita.
Objetiva demonstrar a imortalidade do Espírito e a condição que ele usufruirá
no mundo espiritual, como consequência de seus próprios atos.
Divide-se em duas partes: A primeira estabelece um exame comparado das
doutrinas religiosas sobre a vida após a morte.
Mostra fatos como a morte de crianças, seres nascidos com deformações,
acidentes coletivos e uma gama de problemas que só a imortalidade da alma e
a reencarnação explicam satisfatoriamente.
Kardec procura elucidar temas como: anjos, céu, demônios, inferno, penas
eternas, purgatório, temor da morte, a proibição mosaica sobre a evocação
dos mortos etc.
Apresenta, também, a explicação espírita contrária à doutrina das penas
eternas. A segunda parte, resultante de um trabalho prático, reúne exemplos
acerca da situação da alma durante e após a desencarnação.
São depoimentos de criminosos arrependidos, de Espíritos endurecidos, de
Espíritos felizes, medianos, sofredores, suicidas e em expiação terrestre.
2015 - 150 anos do livro “O Céu e o Inferno”
A manifestação de um Espírito não se dá tão somente em sessões organizadas;
pode dar-se até na rua, em qualquer parte, espontaneamente ou
inadvertidamente provocada por nós mesmos, através de atos que pratiquemos
ou de pensamentos que emitamos, os quais são vistos como imagens pelos
desencarnados; por uma prece que façamos com sinceridade e ainda pelo
estado vibratório emocional do médium.
Tais manifestações são mais frequentes naqueles, médiuns ou não,
que se integraram nos serviços do Senhor e se afastaram para viverem
a vida do Espírito, embora permaneçam fisicamente neste mundo.
Mas chego a pensar, induzido pelas observações, que bem mais frequentes são as
manifestações de Espíritos motivadas pelos nossos atos irreverentes, nossos pensamentos
menos bons, nossa invigilância mental, visto que os habitantes do Invisível, quando
retardados no próprio progresso, enxameiam por toda parte, entre nós, atraídos pelas
nossas imperfeições.
Quantas desavenças em família, quantas decepções, e até enfermidades, são
resultantes da atuação de um desencarnado que nos assedia e que, por vezes,
é percebido em 'nossa casa ou a nosso lado, senão propriamente visto!
Caberia num volume esses fatos que até mesmo os leigos percebem em suas
vidas.
Pensando nesse intenso movimento que o Espiritismo
apresenta em seus variados setores, lembrei-me de uma
dessas manifestações espontâneas, acontecida há muito
anos, das mais positivas que tenho presenciado fora de
sessões organizadas , durante minha longa vida de
espírita.É sabido que devemos respeitar os mortos. Orar por eles, pensar neles,
sejam amigos bem-amados ou desconhecidos, levar até eles o testemunho
da nossa fraternidade, através da prece.
Através de preces constantes e amorosas os nossos obsessores, se os tivermos,
ou os adversários desencarnados, se comovem, cessam as hostilidades e se
fazem amigos. Jesus chega mesmo a advertir que antes de depositarmos a
oferta diante do altar, isto é, antes da oração, se tivermos um inimigo devemos
nos reconciliar com ele, ao passo que as instruções dos Espíritos esclarecem
sobre o perigo que há, para nós, em deixarmos de perdoar um inimigo
desencarnado.
São lições magníficas, essas que todos os espíritas recebem
diariamente, educativas e moralizadoras, cuja finalidade é a nossa
própria felicidade. Mas nem todo espírita percebe a necessidade de
atender a tais princípios regeneradores, e vez por outra deixa de dar
o testemunho de fraternidade para com os seus irmãos
desencarnados. E semelhante invigilância é perigosa.
Certa vez, em minha juventude, minha mãe viajara e deixara quatro dos
seus seis filhos em casa, acompanhados por nosso pai. Um tanto
chocados com a ausência materna, sentindo um vazio incomodativo no
coração, procuramos dormir todos juntos, num pequeno quarto
dependente do quarto ocupado por meu pai, que fazia passagem para
aquele.
Nessa noite, todos já recolhidos, mas ainda insones, meu
pai entendeu relembrar o passado e narrava aos filhos as
queixas que tinha de um seu cunhado desencarnado
havia um ano e alguns meses.
E o fazia com palavreado descaridoso, mesmo
displicente. Várias vezes já o admoestáramos, lembrando
os conselhos que a respeito recebíamos de nossa amada
Doutrina Espírita.
Subitamente, porém, ouvimos passos pesados na sala de
jantar, a qual dava uma porta para o quarto de meu pai;
passos pesados, como de alguém que, contrariado,
passeasse de um lado para o outro. Por duas vezes, os
passos chegaram até · a porta e arrastaram ruidosamente
os pés, como que limpando as solas dos sapatos,
tornando-nos alarmados. Essa porta, rústica, mal
trabalhada por um carpinteiro curioso, deixava um espaço
de cerca de três dedos junto do assoalho, e os pés da
entidade foram vistos por todos nós, uma vez que
havíamos deixado o pequeno aposento, aglomerando-nos
em torno do leito de meu pai. Calçavam botinas pretas,
comuns pela época.
Ouvimos, então, um resmungar, voz de quem falasse com
irritação, sem, no entanto, compreendermos uma única
palavra, fenômeno de voz direta não perfeito,
certamente porque a entidade manifestante não tivesse
como organizar razoavelmente uma garganta
ectoplásmica para se poder expressar convenientemente.
Nesse momento, vimos, todos nós, a figura materializada do nosso tio
em questão. A porta desaparecera e lá estava ele, de cenho
carregado, trajado do seu costumeiro chapéu e do sobretudo preto,
que tão bem conhecíamos.
Meu pai, médium dotado de várias forças psíquicas, pouco evangelizado, não temia os Espíritos,
tão habituado a eles se encontrava; tratava-os de igual para igual, e na verdade só respeitava
seus Guias Espirituais, embora nem sempre seguisse os seus conselhos. Vendo a manifestação
do Espírito de seu cunhado, irreverente, exclamou:
- É bom que o senhor ouça o que digo a seu res-
peito...
Atemorizados e pesarosos, pusemo-nos a orar,
pedindo o auxílio do Alto para o lamentável episódio
e para o comunicante, que, evidentemente, sofria.
Foi uma aparição perfeita, visível a todos, e comparativamente
longa.
Uma vez desaparecida a manifestação, meu pai começou a tossir
violentamente, de forma a quase perder os sentidos. Tossiu
durante toda a noite, ninguém pôde dormir e descansar . Assim
tossiu durante mais três dias, sem poder comparecer ao trabalho.
E durante cerca de três meses tossiu, embora menos
violentamente.
Nós, os sobrinhos, amávamos esse tio, a quem entendíamos dever
favores. Oramos sinceramente por ele, pedindo perdão pelo nosso
pai. E creio mesmo que foram as nossas preces, a par da
misericórdia de Deus, que abrandaram a situação, evitando uma
obsessão como represália à ação anticristã daquele que deixou de
cumprir o dever de caridade para com uma entidade que,
desencarnada, necessitava do auxílio das nossas amorosas
vibrações.
Como vemos, todos aprendemos uma excelente lição
com essa manifestação aqui exposta. Os Espíritos ouvem
as nossas conversas, magoam-se com as nossas críticas
e maledicências a eles dirigidas, desejam o nosso perdão
se nos ofenderam durante a encarnação; podem vingar-
se de nós e causar-nos numerosos contratempos, in-
clusive enfermidades e obsessões.
Manifestados em sessões organizadas e revelando seus
sofrimentos, seu modo de vida, suas impressões e
sensações, etc., e os ambientes em que vivem,
necessariamente revelam importantes aspectos do
mundo invisível que conosco se choca e interpenetra.
E como é grato fazer deles nossos amigos através da
prece amorosa, da oferta de uma flor acompanhando a
prece, de uma espórtula, em seu nome, a uma criança
sofredora ou um velho desprezado! Também a esses
pequeninos do Além devemos gratidão, porquanto
também eles revelaram e revelam a excelsa Doutrina
do Consolador que vem operando a nossa redenção para
Deus.