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Metodologia para o treino de guarda-redes
Autor: Pedro Ferrer
Fotos: Marítimo da Madeira Futebol SAD
Evolução do método na sessão de treino do guarda-redes de futebol
Actualmente o futebol sofreu uma grande evolução,
desenrola-se a uma velocidade e precisão de elevada
intensidade e qualidade. Emocionalmente também
sofreu grande evolução, sendo os seus intervenientes,
alvo de críticas constantes. Hoje em dia esse aspecto é
bastante importante, sendo que grande parte dos clubes
já dispõem de psicólogo de forma a tentar controlar a
acelerada actividade cognitiva, mental que se produzem
no jogo e assim poder optimizar os processos perceptivos
e decisionais para que depois, tanto os jogadores de
campo como os guarda-redes, saibam executar na
situação específica de jogo.
Para fazê-lo bem, no momento certo, são precisos
diversos recursos técnicos, valorizados não em
quantidade mas sim em qualidade, é dizer, se estão
perfeitamente ajustados ao contexto ou situação.
Para eleger correctamente essa técnica e executá-la
dentro de um espaço e tempo adequado, deve ser
ensinada de modo que os seus intervenientes utilizem-na
sabendo o porquê e para quê de forma a entenderem o
contexto em que está inserida.
Na maioria das situações de um jogo o guarda-redes
deve perceber o que está acontecendo no seu campo de
visão próximo e periférico, para decidir a melhor solução
e executá-la com êxito. Quanto mais inteligente seja o
comportamento de jogo mais alto será o rendimento do
guarda-redes no âmbito táctico.
Desenvolver a inteligência táctica, saber ler o jogo
significa que o guarda-redes sabe dirigir a sua percepção
a todas as possibilidades de jogo que existem no seu
contexto de participação ou acção imediata. Para isso
devemos ensinar que o movimento corporal é um
aspecto de grande importância para entender o gesto
técnico e claro, servirá para interpretar melhor a nível
táctico a situação de jogo que se irá seguir
posteriormente.. Perceber a intenção táctica significa
que o guarda-redes aprendeu a pensar colectivamente. A
referência é a imagem que tem representada a nível
mental e que permite ao guarda-redes decidir e executar
com precisão.
Em relação à comunicação e em definitivo as relações
que se estabelecem entre colegas de equipa é necessário
que as situações de treino facilitem todas as respostas
possíveis aos problemas que sejam descobertos no jogo,
que permitam a sua mais rápida interpretação quando
os estímulos treinados apareçam ou se dêem em
competição.
O guarda-redes deve dispor no seu banco de memória
corporal, imagens e experiências treinadas, para poder
decidir a tempo, além de ser tecnicamente hábil, rápido
na leitura táctica e execução da acção, tem que saber
quando, porquê e como deve executar.
Para melhorar os objectivos e conteúdos técnico-tácticos
nas sessões de treino, devemos estabelecer uma
progressão que utilize de base uma metodologia global
como fundamento, sem renunciar à metodologia
analítica como um complemento ideal.
A minha conclusão é que o comportamento de jogo do
guarda-redes é global, dado que tanto os factores
técnico, tácticos, físicos bem como psicológicos
aparecem com características diferentes mas sempre de
forma integrada e por tanto, também têm de ser
treinados e, situações globais.
Esta é uma progressão que vai desde as situações mais
simplificadas que podemos desenhar (método analítico),
passando por um estado intermédio de situações um
pouco mais complexas que as anteriores (método misto),
até chegar a situações de jogo que são muito parecidas à
realidade das acções que se encontram em competição
(método global).
Para programar as sessões de treino, o ponto de
referência deve ser a competição ou uma situação de
jogo desenhada especificamente para avaliar um
determinado conteúdo. O treinador tem de observar e
avaliar o nível de jogo mostrado pelo guarda-redes que
está em observação diferenciando os aspectos técnicos,
tácticos, físicos e psicológicos.
Para poder realizar esta avaliação, o treinador tem de
realizar um controlo de competição no qual fique
registado o nível de jogo apresentado pelo guarda-redes.
Uma vez realizada essa observação, aquela acção que se
manifeste de forma incorrecta durante o jogo, é extraída
para ser trabalhada durante o treino de forma individual
ou com os restantes guarda-redes.
SITUAÇÕES SEM TOMADA DE DECISÃO SITUAÇÕES COM OU SEM TOMADA DE DECISÃO
SITUAÇÕES PRÓXIMAS A REALIDADE DO JOGO
Coordenação
Pliometria
Propriocepção
Velocidade específica (Velocidade de reacção)
Distribuição (Jogo de pés)
Com presença ou não de colegas ou adversários
Fora ou dentro do contexto de jogo pode-se marcar como objectivos de uma melhora física-técnica com muita automatização do gesto técnico
Situações mais próximas a realidade de jogo
As situações são apresentadas sabendo a resposta ou de uma forma imprevisível
A presença de condicionantes tácticas, colegas e adversários
Desenvolvimento progressivo da capacidade de percepção, da análise da situação reduzindo o tempo de decisão e execução para uma melhor resposta
Situações de jogo Desenvolvimento da
comunicação, colaboração entre o guarda-redes e os colegas
Presença de colegas e adversários em situações reais de jogo
Ajuda a relacionar o conhecimento do jogo com a tomada de decisão
Consolidação das capacidades técnico-tácticas em condições competitivas
Demonstra que a eficácia do guarda-redes depende , além das suas capacidades, também da dos seus colegas
METODOLOGIA ANALÍTICA METODOLOGIA MISTA METODOLOGIA GLOBAL
METODOLOGIA ANALÍTICA
Estes exercícios desenvolvem-se durante as sessões de
treino do guarda-redes como automatização do gesto
técnico específico, melhora de carências físico-técnicas
ou apenas física, velocidade específica de reacção,
prevenção de lesões, distribuições com os pés ou mãos
que no futebol actual é um aspecto cada vez mais
importante. Trata-se de uma actividade realizada com ou
sem bola no qual pode haver ou não oposição e que gera
de forma mais simples o aspecto de jogo que se pretende
melhorar.
Temos que tentar trabalhar dentro de um contexto de
jogo onde a visão periférica, a posição corporal, as
relações do portador da bola e a continuidade do jogo
nas suas duas fases não devem ser esquecidas mas sim
trabalhadas constantemente.
Este tipo de exercícios corresponde claramente como um
complemento ideal e muito efectivo quando o método
global não é suficiente para conseguir a evolução
pretendida.
Coordenação: A coordenação motora é o conjunto
harmonioso de movimentos, mais ou menos instintivos
relacionados com o desenvolvimento físico. A
coordenação supõe integridade e maturação do sistema
nervoso.
Este tipo de coordenação pode ser subdivido em
coordenação dinâmica global ou geral, viso-manual ou
fina e visual.
A coordenação dinâmica global ou geral envolve
movimentos gerais com todo o corpo (cabeça, ombros,
braços, pernas, pés, tornozelos, etc.), fazendo com que
vários grupos musculares actuem ao mesmo tempo para
executar movimentos voluntários complexos.
Ex: O guarda-redes começa por fazer skipping frontal no
arcos, skipping lateral nos bastões, de novo skipping frontal nos arcos, e lateral nos bastões. Nrº 1 defende um remate rasteiro e nrº 2 faz uma saída em velocidade apanhando a bola.
Pliometria: Tem como base principal o alongamento e
encurtamento muscular, é um método de treinamento
criado para desenvolver e aprimorar a capacidade
máxima de exercer energia num ato de explosão.
O treinamento pliométrico consiste em exercícios que
envolvam a contração excêntrica seguidas da contração
concêntrica explosiva os quais também requerem o
controle total na execução do movimento.
São exercícios que recrutam maior número de fibras
musculares em um curto período de tempo, o qual não
somente contribui para aumentar a força muscular, a
potência muscular, assim como a tonificação, músculos
mais flexíveis além de promover a capacidade de
resposta do sistema neuromuscular.
Ex: O guarda-redes estará em cima da caixa. Ao sinal irá
deixar-se cair até ao chão e em seguida salta lateralmente para cima da caixa seguinte. No nrº 1 e nrº 2 defende dois remates em lados opostos.
Propriocepção: É o termo que descreve a percepção do
próprio corpo, e inclui a consciência da postura, do
movimento, das partes do corpo e das mudanças no
equilíbrio, além de englobar as sensações de movimento
e de posição articular.
Os proprioceptores são receptores encontrados mais
internamente na musculatura, aponeuroses, tendões,
ligamentos e articulações, apresentando função reflexa
locomotora e postural. Podem produzir impulsos
conscientes ou inconscientes.
Os primeiros alcançam o córtex cerebral possibilitando,
mesmo que de olhos fechados, se tenha percepção do
próprio corpo e movimentos articulares, sendo este,
então, responsável pelo sentido de posição e movimento
(cinestesia).
Ex: O guarda-redes estará em cima da caixa. Ao sinal
deixa-se cair aterrando apenas com um pé no BOSU e em seguida vai desviar uma sequência de 4 a 6 bolas.
METODOLOGIA MISTA
Se o treinador de guarda-redes não pode contar com a
participação de jogadores para realizar os diferentes
exercícios com diferentes objectivos a trabalhar com os
diferentes conceitos de situações de jogo, passamos a
trabalhar esses diferentes aspectos e objectivos de jogo
apenas com a participação dos restantes guarda-redes e
treinador de guarda-redes.
São situações de jogo que tentamos trabalhar de forma
mais simples para que depois os guarda-redes possam
melhorar em competição.
Esses mesmos exercícios são possíveis de realizar de
forma reiterada e específica, mediante esquemas
tácticos, boa explicação dos mesmos e repetição de
situações com ou sem oposição, o objectivo a
desenvolver e as possíveis variantes a partir da primeira
situação apresentada.
Cada situação que apresentamos tem que ser ensinada
de forma a que as diferentes situações e respectiva
evolução seja entendida, relacionando o conhecimento
das opções do portador da bola com os seus colegas e a
oposição que realizam os adversários em cada situação.
O gesto técnico-táctico interiorizado correctamente,
fornece sensações positivas da representação corporal
que permite actuar de memória e com a estimulação
necessária conseguimos associá-la a uma resposta
neuro-motora eficaz.
Procuramos uma participação total e constante do
guarda-redes durante todo o jogo, em situações de posse
de bola do adversário ou da própria equipa.
Ex: Exercício misto.
Neste exercício imaginemos que o treinador é adversário
e portador da bola. Ao sinal irá fazer condução de bola e
terá três ou mais opções para definir o tipo de jogada
que irá fazer. Poderá conduzir a bola e rematar a baliza,
conduzir a bola e fazer um passe para o pé do colega 1
ou então fazer um passe para o espaço. Com o colega 2
acontece o mesmo. O guarda-redes terá como opções
permanecer em posição e defender o remate, atacar a
bola em situação de 1x1.
Ex: Exercício misto.
O guarda-redes começa por fazer uma reposição (passe
curto) para o colega 1 e logo em seguida irá fazer os
posicionamentos correctos de acordo com o
posicionamento da bola. Depois do colega 1 receber o
passe irá passar a bola para o treinador com este a fazer
um remate a baliza ou criando uma situação de 1x1 com
o guarda-redes. Caso o guarda-redes nos dois casos
ganhe a posse de bola irá fazer uma reposição com a
mão (rasteiro ou alto), para o colega 2.
SITUAÇÕES A TER EM CONTA PELO GUARDA-REDES EM JOGO
A colocação e posição do guarda-redes assim como a posição corporal depende de:
Leitura das opções de jogo
Mudança de espaço e a visão periférica (opções no espaço de jogo)
O jogador com a bola
O jogador com a bola e a sua posição corporal
O jogador com a bola e os seus colegas de equipa
O jogador com a bola e os restantes adversários
O jogador com a bola e o espaço de jogo
O jogo e as suas possibilidades
A colocação do guarda-redes e a posição corporal de acordo com cada situação determinam todos estes factores e opções de jogo que tem o portador da bola perto da área.
METODOLOGIA GLOBAL
A metodologia global é baseada nas teorias de
aprendizagem cognitiva e os métodos activos. A
característica principal foca-se em apresentar uma
situação de jogo na qual intervém os seus elementos
(bola, colegas e adversários). Desde o primeiro momento
deve-se dotar o jogador com o máximo número de
vivências e experiências diferentes, desde o próprio jogo,
para interpretar e adaptar as suas respostas
continuamente.
Os exercícios construídos têm que procurar objectivos
técnico-tácticos, desde uma análise da competição e
claro procurando respostas correctas a situações reais de
jogo.
Tentamos desenvolver ao máximo a tomada de decisão,
depois de perceber as modificações das situações de
jogo, o guarda-redes faz uma análise, leitura táctica de
decide como vai actuar.
Realizará a técnica segundo a sua leitura táctica dessa
situação. A melhor maneira de optimizar a tomada de
decisões sobre o jogo é através do conhecimento e o
treino das situações que se encontram no mesmo.
Para qualquer aprendizagem pode-se aplicar a ideia que
uma coisa é a teoria e outra bem diferente é a prática.
De vital importância é a forma de ensinar os exercícios.
Os objectivos têm que estar muito bem explicados pelo
treinador e bem compreendidos pelos guarda-redes e
jogadores implicados no exercício. O diálogo é muito
importante e também a explicação contínua por parte do
treinador, argumentando-lhes em todo o momento as
distintas situações e opções fazendo-lhes pensar
continuamente em cada situação táctica.
A aprendizagem e a compreensão do jogo consegue-se
mediante sessões práticas, teóricas e a competição,
sendo de grande ajuda a utilização de imagens das
sessões de treino como também de competição.
Entendo e aconselho que para o treino de guarda-redes,
as simulações de jogo devem-se apresentar em
progressão, evoluindo e modificando a dificuldade dos
exercícios em função dos objectivos técnico-tácticos que
se apresentam. O desenho de exercícios constitui a
secção mais importante para conseguir um adequado
processo de ensino/aprendizagem. Se um treinador é
capaz de desenhar exercícios adequados, provocará a
aprendizagem desejada.
Os exercícios serão os elementos fundamentais que o
treinador tem para transmitir as suas ideais ao guarda-
redes. No momento de desenhar uma sessão de treino, a
seleção de exercícios constitui o primeiro
problema/desafio que o treinador de guarda-redes deve
solucionar.
SIMILARIDADE ESTRUTURAL DOS EXERCÍCIOS DE TREINO
É mais fácil uma transferência positiva entre o treino das situações reais de jogo com tomada de decisão e a competição, quando os exercícios apresentados são estruturalmente similares aos que o guarda-redes vai encontrar em competição.
SIMILARIDADE PERCEBIDA O guarda-redes tem que ter bem claro que a prática destes exercícios tem essa similaridade com a competição, que perceba e entenda o conteúdo dos exercícios e a parecença com o jogo.
SIMILARIDADE DOS OBJECTIVOS E O PROCESSAMENTO EXIGIDO
Os exercícios decisionais que são propostos têm que exigir um esforço cognitivo similar ao que é exigido no jogo. Devemos activar os processos perceptivos cognitivos necessários.
2011/12, 2012/13 Treinador de guarda-redes do Clube Sport
Marítimo e responsável pela metodologia aplicada nos escalões
de formação.
2013/14 Treinador de guarda-redes Clube Sport Marítimo,
Marítimo da Madeira Futebol SAD e responsável pela
metodologia aplicada nos escalões de formação.
2014/15 Treinador de guarda-redes do Clube Sport Marítimo
escalões de formação.