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Alfredo C. Saad atua na área de Audit, Compliance and Risk Management de GTS/SO Delivery da IBM, com 43 anos de experiência em tecnologia de informação. É graduado em Engenharia Eletrônica pela UFRJ, Mestre em Ciências de Engenharia Elétrica pela PUC-RJ e membro do TLC-BR desde 2013. O Mini Paper Series é uma publicação quinzenal do TLC-BR e para assinar e receber eletronicamente as futuras edições, envie um e-mail para [email protected]. O TLC-BR é a representação da IBM Academy of Technology no Brasil. Mini Paper Series Ano 8 Outubro, 2013 - N O 195 Transformando riscos em oportunidades de negócio Alfredo C. Saad O O conceito de risco surgiu na transição da Idade Média para a Moderna, ao longo dos séculos XVI e XVII. Até então, apesar do notável avanço já alcançado em outras áreas do conhecimento humano, ninguém ousava desafiar o desígnio dos deuses, que pareciam determinar os eventos futuros. Esse fato fazia com que os eventos observados fossem simplesmente associados à boa ou má sorte. Uma arraigada visão fatalista impedia que sequer fosse imaginada a possibilidade de ações que aumentassem a probabilidade de ocorrência de eventos favoráveis ou diminuíssem a probabilidade de ocorrência de eventos desfavoráveis. Os ares inovadores trazidos pelo Renascimento fizeram com que os pensadores da época desafiassem esse temor do futuro, levando-os a desenvolver e aperfeiçoar métodos quantitativos que antecipavam variados cenários futuros em contraposição ao cenário único imposto pelo destino. Um dos primeiros marcos foi a solução, por Pascal e Fermat, em 1654, acerca do enigma da divisão de apostas de um jogo de azar. Surgiram então os primeiros fundamentos da Teoria das Probabilidades, básicos para o conceito de risco. A partir daí, a recém criada perspectiva fez surgir, ao longo do século XVIII, inúmeras aplicações em distintas áreas, tais como cálculos de expectativa de vida das populações e até mesmo o aperfeiçoamento do calculo de seguros para as viagens marítimas. A evolução permanente dos métodos quantitativos trouxe, já na Idade Contemporânea, essas aplicações ao mundo corporativo. Textos escritos por Knight em 1921 (Risco, Incerteza e Lucro) e Kolmogorov em 1933 (Fundamentos da Teoria das Probabilidades), assim como a Teoria dos Jogos, elaborada por von Neumann em 1926 são bases para a evolução contemporânea do tema. Dentre as áreas abordadas desde então, podem ser citadas as decisões relativas à fusão e aquisição de empresas, as decisões de investimento e os estudos macro-econômicos. A evolução da disciplina de gestão de riscos permitiu identificar quatro diferentes formas de reagir a um risco, a saber: aceitar, transferir, mitigar ou evitar o risco. Há, entretanto, uma quinta forma, inovadora, de reação: a de transformar o risco em uma oportunidade de negócio. Um exemplo de aplicação desse conceito pode ser visto em contratos de terceirização de serviços de TI. Tipicamente, o cliente contrata o provedor de serviços para operar o ambiente de TI de sua organização com níveis de qualidade pré- definidos em contrato, os quais garantem que eventuais falhas não impactarão significativamente os negócios do cliente. Nesse cenário, é parte relevante da atividade do provedor de serviços o continuado esforço para identificação e tratamento das vulnerabilidades no ambiente de TI operado e que possam vir a afetar as atividades do cliente. Sabe-se que cultivar no cliente a percepção de que o provedor atua proativamente na identificação dos potenciais fatores de riscos aos seus negócios aumenta significativamente a sua predisposição em contratar novos serviços. Mais ainda, o tratamento indicado para vulnerabilidades identificadas, muitas vezes, requer a tomada de ações que se encontram fora do escopo de serviços contratado. Esse cenário caracteriza a quinta forma para reagir a um risco identificado: a geração de uma nova oportunidade de negócio, que pode ser viabilizada pela ampliação do escopo dos serviços contratados, com a finalidade de eliminar ou ao menos mitigar fatores que colocam os negócios do cliente em risco. O exercício permanente dessa conduta proativa do provedor consolida, na percepção do cliente, a ideia de que o provedor é capaz de gerar um valor agregado relevante, que é o de assegurar que seus próprios negócios estão protegidos por uma efetiva gestão dos riscos de TI. Tal valor agregado extrapola largamente os limites comerciais estritos do contrato firmado, criando vínculos de confiança mútua valiosos para ambas as partes e que poderão gerar ações de parceria em áreas não exploradas nem vislumbradas anteriormente. Para saber mais - Six keys to effective reputational and IT Risk Management - The convergence of reputational risk and IT outsourcing - Bernstein, Peter L. Against the Gods: The Remarkable Story of Risk, John Wiley & Sons Inc, 1996

Transformando Riscos em Oportunidades de Negócio

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A transformação de riscos em oportunidades de negócio é a alternativa mais fascinante dentre as diversas possibilidades de reação a um risco identificado.

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Page 1: Transformando Riscos em Oportunidades de Negócio

Alfredo C. Saad atua na área de Audit, Compliance and Risk Management de GTS/SO Delivery da IBM, com 43 anos de experiência em tecnologia de informação. É graduado em Engenharia Eletrônica pela UFRJ, Mestre em Ciências de Engenharia Elétrica pela PUC-RJ e membro do TLC-BR desde 2013. O Mini Paper Series é uma publicação quinzenal do TLC-BR e para assinar e receber eletronicamente as futuras edições, envie um e-mail para [email protected]. O TLC-BR é a representação da IBM Academy of Technology no Brasil.

Mini Paper Series Ano 8 Outubro, 2013 - N

O 195

Transformando riscos em oportunidades de negócio

Alfredo C. Saad

OO conceito de risco surgiu na transição da Idade Média

para a Moderna, ao longo dos séculos XVI e XVII. Até então, apesar do notável avanço já alcançado em

outras áreas do conhecimento humano, ninguém ousava

desafiar o desígnio dos deuses, que pareciam determinar os

eventos futuros. Esse fato fazia com que os eventos

observados fossem simplesmente associados à boa ou má sorte.

Uma arraigada visão fatalista impedia que sequer fosse

imaginada a possibilidade de ações que aumentassem a

probabilidade de ocorrência de eventos favoráveis ou

diminuíssem a probabilidade de ocorrência de eventos

desfavoráveis.

Os ares inovadores trazidos pelo Renascimento fizeram com que os

pensadores da época desafiassem

esse temor do futuro, levando-os a

desenvolver e aperfeiçoar métodos

quantitativos que antecipavam

variados cenários futuros em

contraposição ao cenário único

imposto pelo destino. Um dos

primeiros marcos foi a solução, por

Pascal e Fermat, em 1654, acerca do

enigma da divisão de apostas de um

jogo de azar. Surgiram então os primeiros fundamentos da Teoria das

Probabilidades, básicos para o conceito de risco.

A partir daí, a recém criada perspectiva fez surgir, ao longo do

século XVIII, inúmeras aplicações em distintas áreas, tais

como cálculos de expectativa de vida das populações e até

mesmo o aperfeiçoamento do calculo de seguros para as

viagens marítimas.

A evolução permanente dos métodos quantitativos trouxe, já

na Idade Contemporânea, essas aplicações ao mundo

corporativo. Textos escritos por Knight em 1921 (Risco,

Incerteza e Lucro) e Kolmogorov em 1933 (Fundamentos da Teoria das Probabilidades), assim como a Teoria dos Jogos,

elaborada por von Neumann em 1926 são bases para a

evolução contemporânea do tema. Dentre as áreas abordadas

desde então, podem ser citadas as decisões relativas à fusão e

aquisição de empresas, as decisões de investimento e os

estudos macro-econômicos.

A evolução da disciplina de gestão de riscos permitiu

identificar quatro diferentes formas de reagir a um risco, a

saber: aceitar, transferir, mitigar ou evitar o risco. Há,

entretanto, uma quinta forma, inovadora, de reação: a de

transformar o risco em uma oportunidade de negócio.

Um exemplo de aplicação desse conceito pode ser visto em

contratos de terceirização de serviços de TI. Tipicamente, o cliente contrata o provedor de serviços para operar o ambiente

de TI de sua organização com níveis de qualidade pré-

definidos em contrato, os quais garantem que eventuais falhas

não impactarão significativamente os negócios do cliente.

Nesse cenário, é parte relevante da atividade do provedor de

serviços o continuado esforço para identificação e tratamento

das vulnerabilidades no ambiente de TI operado e que possam

vir a afetar as atividades do cliente.

Sabe-se que cultivar no cliente a

percepção de que o provedor atua

proativamente na identificação dos potenciais fatores de riscos aos seus

negócios aumenta significativamente

a sua predisposição em contratar

novos serviços.

Mais ainda, o tratamento indicado

para vulnerabilidades identificadas,

muitas vezes, requer a tomada de

ações que se encontram fora do

escopo de serviços contratado.

Esse cenário caracteriza a quinta

forma para reagir a um risco

identificado: a geração de uma nova oportunidade de negócio, que pode ser viabilizada pela ampliação do escopo dos

serviços contratados, com a finalidade de eliminar ou ao

menos mitigar fatores que colocam os negócios do cliente em

risco.

O exercício permanente dessa conduta proativa do provedor

consolida, na percepção do cliente, a ideia de que o provedor é

capaz de gerar um valor agregado relevante, que é o de

assegurar que seus próprios negócios estão protegidos por uma

efetiva gestão dos riscos de TI. Tal valor agregado extrapola

largamente os limites comerciais estritos do contrato firmado,

criando vínculos de confiança mútua valiosos para ambas as partes e que poderão gerar ações de parceria em áreas não

exploradas nem vislumbradas anteriormente.

Para saber mais

- Six keys to effective reputational and IT Risk Management

- The convergence of reputational risk and IT outsourcing

- Bernstein, Peter L. – Against the Gods: The Remarkable Story of Risk, John Wiley & Sons Inc, 1996