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A demografia organizacional de instituições de pesquisa paulistas Uma abordagem de gênero * Kris Herik de Oliveira Márcia Milena Pivatto Serra RESUMO Esta pesquisa objetivou descrever o perfil demográfico dos pesquisadores científicos de 6 institutos e 15 polos de pesquisa científica e tecnológica (setor do agronegócio) do estado de São Paulo, comparando distintas variáveis (como idade, nível de escolaridade, fecundidade, nupcialidade, ano de admissão, nível do cargo e ocupação de cargo de direção) com os grupos de homens e mulheres. O método empregado foi quantitativo-descritivo e o tratamento dos dados ocorreu por meio de técnicas estatísticas descritivas e multivariadas. Os dados de 712 profissionais da pesquisa científica foram obtidos através do centro de recursos humanos da unidade gestora das instituições de pesquisa. Resultados apontaram para a alta qualificação da população, uma idade média dos pesquisadores de 50,55 anos e um alto envelhecimento. As mulheres são mais qualificadas que os homens, mais jovens e a minoria atuando nos mais altos cargos. Ademais, representou-se graficamente o processo de feminilização da profissão nas instituições. Por fim, na análise multivariada observou-se que o sexo, entre as variáveis estudadas, é uma variável importante para determinar a ocupação dos altos cargos de direção. Esses achados colaboram para a suposição da existência do teto de vidro nas instituições investigadas e confirmam características da masculinidade normativa encontrada em outros estudos de gênero em organizações. Palavras-chave: Demografia Organizacional; Pesquisador Científico; Gênero * Trabalho apresentado no XIX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em São Pedro/SP Brasil, de 24 a 28 de novembro de 2014 Bacharel em Administração pela Universidade Presbiteriana Mackenzie Doutora em Demografia (UNICAMP); Professora Titular do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie

A demografia organizacional de instituições de pesquisa paulistas - Uma abordagem de gênero

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A demografia organizacional de instituições de pesquisa paulistas –

Uma abordagem de gênero*

Kris Herik de Oliveira

Márcia Milena Pivatto Serra

RESUMO

Esta pesquisa objetivou descrever o perfil demográfico dos pesquisadores científicos

de 6 institutos e 15 polos de pesquisa científica e tecnológica (setor do agronegócio) do estado

de São Paulo, comparando distintas variáveis (como idade, nível de escolaridade,

fecundidade, nupcialidade, ano de admissão, nível do cargo e ocupação de cargo de direção)

com os grupos de homens e mulheres. O método empregado foi quantitativo-descritivo e o

tratamento dos dados ocorreu por meio de técnicas estatísticas descritivas e multivariadas. Os

dados de 712 profissionais da pesquisa científica foram obtidos através do centro de recursos

humanos da unidade gestora das instituições de pesquisa. Resultados apontaram para a alta

qualificação da população, uma idade média dos pesquisadores de 50,55 anos e um alto

envelhecimento. As mulheres são mais qualificadas que os homens, mais jovens e a minoria

atuando nos mais altos cargos. Ademais, representou-se graficamente o processo de

feminilização da profissão nas instituições. Por fim, na análise multivariada observou-se que o

sexo, entre as variáveis estudadas, é uma variável importante para determinar a ocupação dos

altos cargos de direção. Esses achados colaboram para a suposição da existência do teto de

vidro nas instituições investigadas e confirmam características da masculinidade normativa

encontrada em outros estudos de gênero em organizações.

Palavras-chave: Demografia Organizacional; Pesquisador Científico; Gênero

* Trabalho apresentado no XIX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em São Pedro/SP

– Brasil, de 24 a 28 de novembro de 2014 Bacharel em Administração pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

Doutora em Demografia (UNICAMP); Professora Titular do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da

Universidade Presbiteriana Mackenzie

1

A demografia organizacional de instituições de pesquisa paulistas –

Uma abordagem de gênero*

Kris Herik de Oliveira

Márcia Milena Pivatto Serra

INTRODUÇÃO

A carreira científica é normalmente conhecida como masculinizada, sendo a

participação feminina ainda mais incipiente em se tratando de cargos e posições de maior

destaque e reconhecimento. Algumas áreas são consideradas mais “femininas” como as de

ciências da vida (biológicas e da saúde), humanas e sociais; enquanto as ciências exatas são

consideradas mais “masculinas”.

Nos últimos dez anos esse quadro vem se alterando, o número de mulheres inscritas e

matriculadas em cursos das ciências exatas tem aumentado. Fatores como uma crescente

participação feminina no mercado de trabalho, sua maior escolaridade em relação ao homem e

o seu maior interesse por profissões e cargos de reconhecimento e prestígio tem impactado no

quadro funcional das empresas, ou seja, na demografia das organizações.

Embora seja pouco conhecida nos estudos clássicos de Demografia, falar de

Demografia Organizacional, segundo Pfeffer (1985), nada mais é que descrever a organização

em termos de distribuição em diversas dimensões (tais como sexo, idade, tempo de serviços

prestados, entre outros).

Estudos como os de Bruschini (1995) revelam que em muitas organizações a

proporção entre homens e mulheres é desigual e quanto mais alto é o cargo, menor é a

penetração feminina; e que as oportunidades de trabalho oferecidas para o homem e para a

mulher decorrem, em grande parte, de aspectos culturais de gênero.

O agronegócio é um setor econômico culturalmente masculinizado e um dos três

setores que mais concentram profissionais no país (IBGE, 2012b). Nele, há considerável

número de profissionais atuando como pesquisadores científicos na esfera pública e privada,

trabalhando, em sua maioria, no estado de São Paulo (CGEE, 2012).

* Trabalho apresentado no XIX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em São Pedro/SP

– Brasil, de 24 a 28 de novembro de 2014 Bacharel em Administração pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

Doutora em Demografia (UNICAMP); Professora Titular do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da

Universidade Presbiteriana Mackenzie

2

Diante deste quadro, o presente estudo objetivou descrever o perfil demográfico dos

pesquisadores científicos de instituições públicas de pesquisa científica e tecnológica do

estado de São Paulo. Para tanto, foram estudados 6 institutos e 15 polos públicos de pesquisa

paulistas inseridos no contexto do agronegócio.

Buscou-se levantar o perfil demográfico dos pesquisadores comparando distintas

variáveis (como idade, número de filhos, estado civil, escolaridade, nível do cargo, ano de

admissão, ocupação de cargo de direção) com os grupos de homens e mulheres.

Para tanto, na leitura que se segue, considerou-se importante apresentar as distintas

linhas teóricas sobre a demografia aplicada aos estudos organizacionais. Posteriormente, a

partir de dados atuais dos currículos cadastrados na Plataforma Lattes, do Conselho Nacional

de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), abordou-se as particularidades sobre a

carreira na pesquisa científica. Realizado o apanhado teórico, a análise dos dados descreve o

perfil dos pesquisadores e apresenta indicadores demográficos adaptados à realidade das

organizações. A abordagem de gênero foi enfatizada neste estudo. Por fim, são apresentadas

as conclusões, ou seja, um diagnóstico das instituições de pesquisa.

REVISÃO DA LITERATURA

A demografia aplicada aos estudos organizacionais

São poucos os estudiosos que perceberam a importância da demografia para a

administração (CARROLL; KHESSINA, 2005). No entanto, alguns autores têm aplicado

técnicas demográficas à ciência que investiga as organizações. Dentre eles, encontram-se

principalmente autores internacionais, como Pfeffer (1983; 1985), Carroll e Hannan (2000),

Carroll e Khessina (2005) e Coccia e Rolfo (2009). Do mesmo modo há presença de estudos

nacionais no campo, como a investigação de Esteves (2009), a pesquisa anual do Instituto

Ethos (2010), a abordagem de Feitosa e Ikeda (2011) e, mesmo que de forma indireta, as

contribuições de Bruschini (2007) em seus estudos sobre a temática mulher e trabalho, entre

outros autores.

Para fins de análise, Carroll e Khessina (2005) esclarecem que existem três linhas de

pesquisa distintas encontradas na literatura da demografia aplicada aos estudos

organizacionais, cada qual com sua própria estrutura conceitual. São elas:

Demografia da força de trabalho (workforce demography);

Demografia organizacional (organizational demography) ou Demografia

organizacional interna (internal organizational demography);

3

Demografia corporativa (corporate demography).

Já Hakkert (2006) destaca o que seria uma quarta estrutura conceitual de investigação:

Demografia de negócios (business demography).

A demografia da força de trabalho pode ser vista como uma aplicação da demografia

formal, pois envolve modelos que analisam os fluxos demográficos e os processos

relacionados a eles no ambiente organizacional. Esses trabalhos se interessam pela

rotatividade dos trabalhadores dentro de uma organização. Geralmente, dirigem-se a fatores e

condições associadas à dinâmica das vagas de trabalho internas (mobilidade interna).

Contudo, essa mobilidade interna também têm implicações para a mobilidade externa

(rotatividade), ou seja, entre as organizações. Aqui é importante levantar características dos

indivíduos, como idade, sexo e escolaridade, para compreender o impacto das mesmas nos

salários e nas promoções, por exemplo. Noutros momentos, torna-se importante adotar uma

visão estruturalista, enfatizando nas condições organizacionais que criam carreiras internas

(CARROLL; KHESSINA, 2005).

A demografia organizacional (ou demografia organizacional interna), para Pfeffer

(1985), nada mais é do que descrever uma organização em termos de distribuição em diversas

dimensões, tais como sexo, idade, tempo de serviços prestados entre outras. Esta linha avança

na aplicação de teorias específicas sobre as causas e consequências dos fenômenos

demográficos para as organizações. Destaque especial é dado à distribuição da permanência

ou tempo de serviço dos trabalhadores nas organizações (COCCIA; ROLFO, 2009). A relação

entre a diversidade no grupo de trabalho versus os resultados satisfatórios nos negócios e

como se dão as orientações estratégicas na equipe executiva das organizações considerando o

gênero, rotatividade e entre outras categorias são objetos de análise (LAWRENCE, 1997). Em

outras palavras, esta segunda linha relaciona os efeitos da estrutura demográfica sobre os

resultados comportamentais da organização (CARROLL; KHESSINA, 2005).

A terceira linha teórica – demografia corporativa – concentra-se em populações

organizacionais e em sua evolução ao longo do tempo. O foco está, especialmente, na

vitalidade das empresas (fundação, crescimento, transformação estrutural e na mortalidade

empresarial) (CARROLL; KHESSINA, 2005). Estudos temporais, descritivos, inferenciais e

comparativos podem compor a análise. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas (SEBRAE, 2011) realiza há quase 15 anos, sob esta terceira corrente teórica,

estudos sobre a demografia de populações organizacionais através de pesquisas de campo que

buscam monitorar a sobrevivência dos novos empreendimentos no Brasil.

4

Referindo-se a demografia de negócios como uma quarta estrutura conceitual de

investigação, Hakkert (2006) esclarece que o termo “demografia de negócios” passou a ser

utilizado recentemente e ainda não está totalmente consolidado. Para o autor, a demografia de

negócios refere-se a um conjunto de técnicas e métodos cuja aplicabilidade é mercadológica.

Diz respeito à seleção de localidades para serviços, prognósticos de vendas, planejamento

financeiro, avaliação de mercados, perfis de consumidores, assistência jurídica corporativa e

análise da força de trabalho das empresas. O autor ainda ressalta a importância da abordagem

demográfica para a pesquisa de mercados. Uma vez que métodos de projeção demográfica

têm grande valor na definição do potencial de mercado de pequenas áreas geográficas.

Frente à discussão ainda em evolução, esse trabalho se apoiará nos pressupostos da

demografia organizacional com o objetivo de descrever o perfil demográfico dos

pesquisadores científicos de instituições públicas de pesquisa paulistas, comparando distintas

variáveis com os grupos de homens e mulheres.

A carreira na pesquisa científica

Historicamente, a ciência sempre foi vista como uma atividade pertencente aos

homens. Contudo, mudanças nesse cenário ocorreram após a segunda metade do século XX,

quando (a) a necessidade crescente de recursos humanos para atividades estratégicas – como a

ciência –, (b) o movimento de liberação feminina e (c) a luta pela igualdade de direitos entre

homens e mulheres permitiram a elas o acesso, cada vez maior, à educação científica e às

carreiras, tradicionalmente ocupadas por homens (LETA et al., 2006).

Além disso, é importante mencionar o papel de órgãos nacionais e internacionais – tal

como da UNESCO – que, desde a década de 1990, vem realizando estudos e conferências,

que visam a discutir e a propor ações para a maior inclusão das mulheres nas atividades de

Ciência e Tecnologia (C&T) (LETA, 2003).

O Brasil já pode contar com mais de meio milhão de mestres e cerca de 190 mil

doutores (CGEE, 2012), o que demonstra a relevância de estudos nesta área. Segundo o

cadastro da Plataforma Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq), há alguma desigualdade entre homens e mulheres no que diz respeito à

proporção de mestres e doutores por sexo. Os homens são 46,14% com titulação de mestrado

e as mulheres 53,86%, demonstrando uma branda maioria. Já para os doutores a proporção se

inverte, eles são a maioria: 53,64%; e elas representam 46,36% (CNPq, 2012).

5

De acordo com Leta et al. (2006) e Olinto (2011), o distanciamento entre os homens e

as mulheres na ciência vai além da titulação. É um processo que envolve diversos incentivos

que beneficiam os homens: a promoção, a obtenção de bolsas de estudo, a ocupação de cargos

de chefia ou liderança, os nomeados para a Academia Brasileira de Ciências, assim como os

ganhos salariais.

Em relação à distribuição de homens e mulheres em atividade de pesquisa e ensino na

ciência brasileira por grande área do conhecimento, conforme a Tabela 1 há maior

participação das mulheres com titulação de mestrado nas áreas de Ciências Humanas,

Ciências da Saúde e Ciências Sociais Aplicadas. Com a titulação de doutorado, acentua-se a

participação delas em áreas consideradas femininas, como Ciências Humanas, da Saúde e

Biológicas.

Entre os homens (Tabela 2), as áreas de Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Exatas e

da Terra e Ciências Humanas concentram os que possuem titulação de mestrado. Com

titulação de doutorado, as áreas consideradas masculinas são confirmadas: Ciências Exatas e

da Terra e Engenharias. No entanto, as Ciências Humanas também se apresentam como a

terceira de maior representatividade.

Embora haja barreiras de gênero para as mulheres no cenário científico, houve

aumento da participação delas na C&T brasileira. Isto é fruto de mais estudantes do sexo

feminino nos cursos de graduação e nos programas de pós-graduação (LETA, 2003).

Tabela 1 – Distribuição de mulheres (mestras e doutoras) em atividade de pesquisa e

ensino na ciência nacional, segundo grande área do conhecimento, Brasil, 2013.

Área do conhecimento Mestras Doutoras Total

Nº % Nº % Nº %

Ciências Agrárias 2.048 5,11

3.785 8,1

5.833 6,72

Ciências Biológicas 3.808 9,51

7.422 15,89

11.230 12,95

Ciências da Saúde 7.654 19,11

8.364 17,91

16.018 18,47

Ciências Exatas e da Terra 2.914 7,28

4.572 9,79

7.486 8,63

Ciências Humanas 8.534 21,31

9.071 19,42

17.605 20,30

Ciências Sociais Aplicadas 5.982 14,94

4.014 8,59

9.996 11,52

Engenharias 1.088 2,72

2.259 4,84

3.347 3,86

Linguística, Letras e Artes 3.419 8,54

3.829 8,2

7.248 8,36

Não informado 4.596 11,48

3.386 7,25

7.982 9,20

Total 40.043 100 46.702 100 86.745 100

Fonte: CNPq, 2012. Elaborado pelos autores.

6

Tabela 2 - Distribuição de homens (mestres e doutores) em atividade de pesquisa e

ensino na ciência nacional, segundo grande área do conhecimento, Brasil, 2013.

Área do conhecimento Mestres Doutores Total

Nº % Nº % Nº %

Ciências Agrárias 2.199 6,41

6.275 11,61

8.474 9,59

Ciências Biológicas 2.334 6,8

5.469 10,12

7.803 8,83

Ciências da Saúde 3.827 11,16

6.737 12,47

10.564 11,96

Ciências Exatas e da Terra 5.348 15,59

10.001 18,51

15.349 17,37

Ciências Humanas 4.993 14,55

6.963 12,89

11.956 13,53

Ciências Sociais Aplicadas 6.757 19,7

5.589 10,34

12.346 13,98

Engenharias 3.414 9,95

7.200 13,32

10.614 12,01

Linguística, Letras e Artes 1.504 4,38

2.114 3,91

3.618 4,10

Não informado 3.929 11,45

3.690 6,83

7.619 8,62

Total 34.305 100 54.038 100 88.343 100

Fonte: CNPq, 2012. Elaborado pelos autores.

METODOLOGIA

Inicialmente, com o propósito de apresentar um panorama nacional atualizado sobre os

pesquisadores, foram levantados dados gerais a partir dos currículos cadastrados na

Plataforma Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq).

Especificamente, a população estudada compreendeu 712 profissionais com o cargo

“Pesquisador Científico” que atuam em instituições públicas de pesquisa, das quais abrangem

6 institutos e 15 polos regionais de pesquisa científica e tecnológica do estado de São Paulo

inseridos no contexto do agronegócio.

A instituição “A” se dedica ao melhoramento genético de plantas agrícolas e aos

pacotes tecnológicos que envolvem essas espécies, incluindo estudos de solo, clima, pragas e

doenças e segurança e eficiência na aplicação de agrotóxicos.

A instituição “B”, através das ciências biológicas, atua nas áreas de sanidade animal e

vegetal, objetivando a melhoria da qualidade de vida da população e a preservação do meio

ambiente.

A instituição “C” dedica-se à pesquisa, inovação, assistência tecnológica e difusão do

conhecimento nas áreas de alimentos, bebidas e embalagens. As suas atividades são

orientadas à prospecção e desenvolvimento de processos e produtos inovadores, à análise de

tendências de produção e consumo e à avaliação e garantia da segurança de produtos

alimentícios.

7

A instituição “D” desenvolve projetos nas áreas de pesca e aquicultura, visando à

obtenção e transferência de novos conhecimentos e de tecnologias destinadas à melhoria do

agronegócio do pescado e da qualidade ambiental.

A instituição “E” atua na área econômica para o agronegócio e foi a primeira

instituição a sistematizar estudos sobre economia agrícola no Brasil.

A instituição “F” realiza pesquisas científicas nas áreas de produção animal e

pastagens, buscando a integração entre a lavoura, pecuária e floresta. Algumas ênfases de suas

pesquisas são: melhoramento genético de bovinos de corte; produção animal a pasto; genética

e reprodução; produção e qualidade de carne e leite.

A instituição “X” coordena 15 polos regionais, a partir de uma visão multidisciplinar

focada em cada região paulista, contemplando as principais cadeias de produção do

agronegócio local.

Os dados agrupados de todas instituições foram obtidos a partir do centro de recursos

humanos da unidade gestora das instituições de pesquisa. A coleta ocorreu de fevereiro a

setembro de 2013, mediante autorização dos gestores. Posteriormente, foi construído um

banco de dados com os atributos dos pesquisadores.

Os atributos considerados na abordagem demográfico-organizacional foram: idade,

fecundidade, nupcialidade, escolaridade, nível do cargo, ano de admissão, ocupação de cargo

de direção e sexo.

As técnicas estatísticas descritivas utilizaram gráficos, tabelas e indicadores

demográficos adaptados à demografia organizacional, como a Pirâmide Populacional, Razão

de Sexo e Índice de Envelhecimento.

Não foram identificados estudos que se propusessem a construir um Índice de

Envelhecimento adaptado à demografia organizacional. Desta forma, para construir o índice

de acordo com a realidade dos pesquisadores científicos foram observados estudos

(CARVALHO, 2006; COCCIA; ROLFO, 2009; CGEE, 2012) que se referissem à idade dessa

categoria profissional; atentando-se ao pesquisador considerado jovem e aquele considerado

de idade avançada.

Com base nestas fontes, considerou-se o tempo de formação de um pesquisador

científico para propor a idade para pesquisadores envelhecidos e a idade para pesquisadores

jovens. No Brasil, um jovem estudante conclui um curso de bacharelado (4 anos ou 5 anos

para engenheiros), geralmente, aos 22 anos. Concomitantemente, um pesquisador científico

8

altamente qualificado cursa mestrado e doutorado levando pelo menos mais 5 anos para

concluí-los.

Nas instituições não havia profissionais com idade inferior a 29 anos. Assim, os dados

foram extraídos e agrupados de acordo com os grupos etários necessários para o cálculo do

Índice de Envelhecimento1, ou seja, a população menor que 40 anos de idade e a população de

55 anos e mais de idade.

O indicador adaptado é dado pela seguinte equação:

ndice de En elhecimento P

P 0

Onde:

P55 é o número de pesquisadores científicos com 55 anos e mais de idade;

P40 é o número de pesquisadores com menos de 40 anos de idade.

Dessa forma, quanto mais alto o índice mais envelhecida é a população.

ANÁLISE DOS DADOS

Dados gerais

Na Tabela 3 observa-se que a instituição “X” é a mais representati a (18

pesquisadores). Essa, por sua vez, compreende 15 polos regionais distribuídos no estado de

São Paulo. A segunda instituição de pesquisa mais representati a é a “A” (16 ), seguida pela

“B” (108), “C” (93), “D” (67), “E” ( 3) e, por fim, a “F” ( 2). “X” e “A” representam 9%

dos pesquisadores que compuseram este estudo.

Há uma branda maioria de pesquisadores científicos do sexo feminino (51,7%) em

relação ao sexo masculino (48,31%). Entretanto, são identificados cenários de predominância

masculina e outros de predominância feminina. Dos 93 pesquisadores da instituição “C”, por

exemplo, as mulheres são 69,89% desse total. Em relação aos 164 pesquisadores da

instituição “A”, 9,76% são do sexo masculino.

A área de atuação das instituições mencionadas justifica o percentual apresentado, pois

a “C” atua na área de alimentos da qual existem carreiras predominantemente femininas,

como engenharia de alimentos e biologia; enquanto a “A” atua diretamente com a agronomia,

1 Geralmente, para o cálculo do Índice de Envelhecimento, são consideradas jovens as pessoas com idade

inferior a 15 anos e consideradas idosas as pessoas com mais de 65 anos em países desenvolvidos e aquelas com

idade de 60 anos em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil (CLOSS; SCHWANKE, 2012).

9

das quais são carreiras predominantemente masculinas a engenharia agrícola e/ou

agronômica2.

Tabela 3 – Distribuição da população de pesquisadores científicos das instituições públicas

de pesquisa do estado de São Paulo, segundo instituição de pesquisa e sexo, Brasil, 2013.

Unidade Masculino Feminino Total

Nº % Nº % Nº % Acumulado %

X 100 54,05

85 45,95

185 25,98 26

A 98 59,76

66 40,24

164 23,03 49

B 41 37,96

67 62,04

108 15,17 64,2

C 28 30,11

65 69,89

93 13,06 77,3

D 38 56,72

29 43,28

67 9,41 86,7

E 21 39,62

32 60,38

53 7,44 94,1

F 18 42,86

24 57,14

42 5,9 100

Total 344 48,31 368 51,69 712 100 -

Fonte: Departamento de Recursos Humanos da unidade gestora das instituições, 2013. Elaborado pelos autores.

No que diz respeito à escolaridade, observa-se que os pesquisadores científicos são

altamente qualificados. Aqueles com elevado nível acadêmico compreendem

aproximadamente 80% da população (Doutorado e Pós-Doutorado). Em nível intermediário

(Mestrado) há 20,9%. Existem, também, pesquisadores com baixa titulação (Graduação –

6,46% e Especialização – 1,69%).

Entretanto, há forte discrepância em relação à titulação acadêmica dos pesquisadores

em distintas instituições. A instituição “A” re elou-se como a mais escolarizada, pois os

pesquisadores com nível de Doutorado e Pós-Doutorado, juntos, são cerca de 90% dos

pesquisadores. A instituição “E”, por outro lado, mostrou-se com a maior proporção de

pesquisadores de menor escolaridade; seus pesquisadores com nível de Doutorado e Pós-

Doutorado não chegam a 25%. A maior concentração dos pesquisadores desta instituição está

no nível Mestrado (41,51%) e no nível mais baixo (Graduação), com 30% dos pesquisadores.

Nas instituições, existe a possibilidade de receber promoções na carreira ao longo do

tempo e ascender níveis no cargo3. Os pesquisadores com os níveis mais altos (V e VI) são a

grande maioria: nível V – 19,8%; nível VI – 46,07%. Existe um baixo percentual de

2 Para levantar informações sobre as carreiras predominantemente masculinas ou femininas utilizou-se como

base a avaliação socioeconômica (inscritos e matriculados) nos vestibulares da FUVEST – Universidade de São

Paulo e da COMVEST – Universidade Estadual de Campinas, nos períodos de 2000-2013. 3 O nível do cargo é expresso em números romanos, de modo crescente: I, II, III, IV, V e VI. Assim, o nível I

refere-se ao mais baixo da carreira, enquanto o nível VI ao mais alto.

10

profissionais em início de carreira, isto é, com nível I (1,83%) e II (5,48%). No nível IV estão

46,07% dos pesquisadores e no nível III 11,66%.

Os pesquisadores podem vir a ocupar cargos de direção em caráter titular ou de

substituição. Foram considerados os 6 cargos de diretoria existentes nas instituições para

pesquisadores científicos, que vão desde o nível mais baixo da hierarquia organizacional

(Assistentes de Direção), média hierarquia (Chefe de Seção Técnica, Diretor Técnico de

Serviço, Diretor Técnico de Divisão), passam pela alta hierarquia (Diretor Técnico de

Departamento) e chegam ao topo (Coordenador). Dos 712 investigados, 18,82% ocupam

alguma diretoria em caráter titular.

Distribuição etária

A idade média dos pesquisadores é de 50,55 anos. Os profissionais concentram-se na

faixa etária 40-59 anos. Há mais pesquisadores acima de 65 anos (aproximadamente 5%) que

pesquisadores jovens abaixo de 34 anos (2,39%). Em geral, há um percentual considerável de

pesquisadores envelhecidos (>60 anos): aproximadamente 18%. Para fins de comparação,

11,7% da população do estado de São Paulo possui mais de 60 anos (IBGE, 2012a).

Um indicador frequentemente utilizado nos estudos demográficos é o Índice de

Envelhecimento (razão entre a população idosa e a população jovem), uma vez que possibilita

monitorar o processo de envelhecimento da população. Esse indicador foi adaptado à

demografia organizacional e permitiu a este estudo identificar a instituição mais envelhecida

frente às demais. A Figura 1 indica a instituição “E” como a mais en elhecida e a “X” como a

mais jovem.

Figura 1 – Índice de envelhecimento das instituições públicas de pesquisa do estado de São

Paulo, segundo instituição de pesquisa, Brasil, 2013.

Fonte: Departamento de Recursos Humanos da unidade gestora das instituições, 2013. Elaborado pelos autores.

0,8

2,6

4,4

6,5

4,7 4,1

2,3

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

X A B E D C F

IE =

(>

55

a

no

s) /

(<

40

an

os)

Instituições

11

Para a análise comparativa da idade entre os sexos utilizou-se a Pirâmide Etária (PE).

A Figura 2 apresenta a população num processo de envelhecimento. Os homens são dotados

de idade mais avançada que as mulheres. A Figura 4 pode justificar o fenômeno, porque isto é

reflexo da posterior entrada de pesquisadoras nas instituições uma vez que há 30 ou 40 anos o

número de mulheres que seguiam a carreira na pesquisa científica era muito menor do que

ocorre atualmente.

Figura 2 – Distribuição da população de pesquisadores científicos das instituições públicas de

pesquisa do estado de São Paulo por sexo, segundo faixa etária, Brasil, 2013.

Fonte: Departamento de Recursos Humanos da unidade gestora das instituições, 2013. Elaborado pelos autores.

Para melhor compreender o envelhecimento da população em relação ao sexo dos

profissionais foi utilizado o indicador demográfico Razão de Sexo4.

As mulheres foram identificadas como mais jovens que os homens (<59 anos). Elas

também estão mais distribuídas ao longo das faixas etárias (Figura 3). Em contrapartida, os

homens são mais envelhecidos que elas (>60 anos) e estão altamente concentrados na faixa

etária 60-69 anos.

4 Razão de Sexo = número de homens dividido pelo número de mulheres, normalmente multiplicado por 100. Se

igual a 100, o número de homens e de mulheres se equivalem; acima de 100, há predominância de homens e,

abaixo, predominância de mulheres.

1,40

6,46

9,55

8,57

10,81

8,71

4,78

1,40

0,98

6,74

6,32

8,43

5,90

8,15

8,15

3,65

15 10 5 0 5 10 15

Menos de 19 anos

20 a 24 anos

25 a 29 anos

30 a 34 anos

35 a 39 anos

40 a 44 anos

45 a 49 anos

50 a 54 anos

55 a 59 anos

60 a 64 anos

65 a 69 anos

Mais de 70 anos

Homens Mulheres

12

Figura 3 – Razão de sexo da população de pesquisadores científicos das instituições públicas

de pesquisa do estado de São Paulo, segundo faixa etária, Brasil, 2013.

Fonte: Departamento de Recursos Humanos da unidade gestora das instituições, 2013. Elaborado pelos autores.

Feminilização

A evolução da representatividade feminina na ciência é um tema recorrente nas

ciências sociais e aplicadas. Entretanto, estudos longitudinais são raramente utilizados devido

à dificuldade na obtenção dos dados. A Figura 4 apresenta um estudo longitudinal, por sexo,

das admissões dos pesquisadores nas instituições nos últimos 44 anos (1969-2013).

Figura 4 – Admissão dos pesquisadores científicos das instituições públicas de pesquisa do

estado de São Paulo por sexo, segundo período de 1969-2013, Brasil, 2013.

Fonte: Departamento de Recursos Humanos da unidade gestora das instituições, 2013. Elaborado pelos autores.

0,00

50,00

100,00

150,00

200,00

250,00

300,00

0

20

40

60

80

100

120

196

91

97

01

97

11

97

21

97

31

97

41

97

51

97

61

97

71

97

81

97

91

98

01

98

11

98

21

98

31

98

41

98

51

98

61

98

71

98

81

98

91

99

01

99

11

99

21

99

31

99

41

99

51

99

61

99

71

99

81

99

92

00

02

00

12

00

22

00

32

00

42

00

52

00

62

00

72

00

82

00

92

01

02

01

12

01

22

01

3

M

F

13

O gráfico (Figura 4) mostra picos de admissão ao longo das décadas, que foram

momentos de grandes contratações. Além disso, observa-se que de 1969 a 1979 o número de

contratação de homens era superior ao de mulheres. E assim como os achados de Leta (2003)

nota-se que a partir da década de 80 as mulheres entraram em maior número nas instituições

de pesquisa.

Esse fenômeno desencadeou um processo de feminilização da carreira nas instituições

de pesquisa. Segundo Yannoulas (2011), a feminilização5 possui um significado quantitativo

(valendo-se de medidas estatísticas) e faz referência ao aumento do peso relativo do sexo

feminino na composição de uma profissão ou ocupação.

A partir da década de 90, as contratações passaram a ser, geralmente, equitativas.

Contudo, a presença feminina se mantém, em momentos, predominante na carreira. Como,

por exemplo, nas duas últimas grandes contratações: 2005 e 2008.

Com o objetivo de compreender o impacto feminino nas instituições, cabem análises

comparativas. Segundo o nível de escolaridade por sexo do pesquisador as mulheres se

apresentam como ligeiramente mais qualificadas que os homens, pois 58,97% delas possuem

doutorado, contra 56,98% dos pesquisadores do sexo masculino. Em relação ao pós-

doutorado, 13,32% delas possuem esta titulação, contra 12,5% deles. Na titulação mais baixa

(graduação), eles são maioria (7,56%; elas: 5,43%).

Teto de Vidro

Na literatura há uma abordagem que busca compreender as barreiras – de gênero – na

carreira das mulheres, conhecida como glass ceiling (teto de vidro). Esse enfoque refere-se às

discriminações não explícitas que impedem o acesso das mulheres aos altos níveis

hierárquicos das empresas; postos e ocupações das quais são características de melhores status

e rendimentos. A sua extensão teórica procura explicar as motivações para as barreiras

invisíveis e dificilmente transponíveis para a ascensão profissional feminina (MADALOZZO,

2010).

Nas instituições de pesquisa investigadas as mulheres possuem maior qualificação

acadêmica que os homens, contudo não são maioria no nível mais alto do cargo. Na maioria

das instituições elas são maioria no nível V, mas não há equidade no nível VI.

5 Yannoulas (2011) apresenta conceitualizações diferenciadas sobre feminilização e feminização. Para a autora, a

feminilização possui um significado quantitativo e refere-se ao aumento do peso relativo do sexo feminino na

composição de uma profissão ou ocupação; já a feminização tem um significado qualitativo que alude às

transformações de significado e valor social de uma profissão ou ocupação, originadas a partir da feminilização

ou aumento quantitativo e vinculadas à concepção de gênero predominante em uma época.

14

Na Tabela 4 consta a distribuição dos pesquisadores que ocupam cargo (titular) de

diretoria. Dos diretores, 50,75% são homens e 49,25% mulheres. Essa distribuição é, de modo

geral, equitativa. Entretanto, esse fenômeno reflete uma leve diferença nesses cargos em

relação ao quadro demográfico da população, em que 51,69% dos pesquisadores são do sexo

feminino e 48,31% do sexo masculino. Quando observados os mais altos cargos de diretoria

identifica-se o que pode ser explicado pelo fenômeno do “teto de idro” – quanto mais alto é

o cargo, menor é a penetração feminina.

Tabela 4 – Distribuição da população de pesquisadores científicos das instituições públicas

de pesquisa do estado de São Paulo que ocupam cargo de diretoria, segundo hierarquia e sexo,

Brasil, 2013.

Hierarquia Cargo M

F

Total

Nº %

Nº %

Nº %

Topo Coordenador 1 100

0 0,0

1 0,75

Alta Diretor Técnico de Departamento 5 71,43

2 28,57

7 5,22

Média

Diretor Técnico de Divisão 23 57,5

17 42,5

40 29,85

Diretor Técnico de Serviço 22 44,9

27 55,1

49 36,57

Chefe de Seção Técnica 5 38,46

8 61,54

13 9,7

Baixa Assistentes de Direção 12 50,0

12 50,0

24 17,91

Total 68 50,75

66 49,25

134 100

Fonte: Departamento de Recursos Humanos da unidade gestora das instituições, 2013. Elaborado pelos autores.

Assim como verificou Leta (2003) em seu estudo, as estatísticas mostradas apontam

que, se por um lado, as mulheres têm participado cada vez mais das atividades de C&T no

Brasil, por outro, elas pouco avançam nas mais altas posições gerenciais.

A Tabela 5 apresenta uma análise multivariada com o objetivo de identificar variáveis

estatisticamente associadas aos altos cargos de direção (Coordenador, Diretor Técnico de

Departamento e Diretor Técnico de Divisão), comparando aqueles pesquisadores que ocupam

esses cargos com os que não ocupam.

Com um nível de significância de 10%, as variáveis "sexo masculino" (p=0,071), "um

filho" (p 0,0 6), “dois ou mais filhos” (p 0,092), "Doutorado e Pós-Doutorado" (p=0,050) e

“ní el do cargo V e VI” (p 0,01 ) são estatisticamente associadas aos altos cargos de direção.

As categorias "idade” e "estado ci il" não se mostraram significati as na análise.

Observa-se também que as variáveis "dois ou mais filhos" (p=0,057), "Doutorado e

Pós-Doutorado" (p=0,096) e "nível do cargo V e VI" (p=0,016) são significativas para os

15

profissionais do sexo masculino, enquanto para os profissionais do sexo feminino nenhuma

variável se mostrou significativa. Estudos, como o de Bruschini e Puppin (2004), mostram

que o fato da mulher ter filhos pequenos é um limitador para ascensão para altos cargos.

Tabela 5 – Modelo logístico multivariado para pesquisadores que ocupam altos cargos de

direção nas instituições de pesquisa paulistas, Brasil, 2013.

Variável/ Categorias

Total (n=48)

Masculino

(n=29)

Feminino (n=19)

p-valor OR p-valor OR p-valor OR

Constante 0,000 0,024 0,000 0,028 0,001 0,031

Sexo

Feminino - 1,000

- -

- -

Masculino 0,071 1,768

- -

- -

Filhos

Nenhum - 1,000

- 1,000

- 1,000

Um 0,046 2,398

0,119 2,602

0,218 2,187

Dois ou mais 0,092 2,035

0,057 2,963

0,667 1,328

Idade

< 40 - 1,000

- 1,000

- 1,000

41 a 54 0,651 1,274

0,818 1,178

0,689 1,395

55 + 0,653 0,769

0,296 0,443

0,629 1,545

Estado civil

Em união 0,314 1,473

0,224 1,960

0,690 1,248

Outros - 1,000

- 1,000

- 1,000

Titulação acadêmica

Graduação e

Especialização - 1,000

- 1,000

- 1,000

Mestrado 0,171 0,454

0,122 0,297

0,701 0,706

Doutorado e

Pós-Doutorado 0,050 0,364

0,096 0,338

0,265 0,377

Nível do cargo

I, II, III e IV - 1,000

- 1,000

- 1,000

V e VI 0,014 3,063

0,016 4,540

0,285 2,065

Nagelkerke R Square 0,084 0,134 0,048 Fonte: Departamento de Recursos Humanos da unidade gestora das instituições, 2013. Elaborado pelos autores.

Por fim, observa-se que o sexo, entre as variáveis estudadas, é uma variável

importante para determinar os altos cargos, mas não para determinar os cargos. Tais achados

colaboram para a suposição da existência do teto de vidro nas instituições investigadas.

16

CONCLUSÃO

A abordagem demográfico-organizacional permitiu a este estudo descrever o perfil

demográfico dos pesquisadores científicos de instituições públicas de pesquisa científica e

tecnológica (setor do agronegócio) do estado de São Paulo, comparando distintas variáveis

(como idade, nível de escolaridade, fecundidade, nupcialidade, ano de admissão, nível do

cargo e ocupação de cargo de direção) com os grupos de homens e mulheres.

Observou-se um grupo de pesquisadores altamente qualificados, mas envelhecidos; o

que pode causar uma descontinuidade nas pesquisas caso o grupo não seja reposto. Isto

geraria a perda do capital intelectual ao longo do tempo e, consequentemente, a queda na

produção científica e tecnológica das instituições. Tal fato é um indicador da necessidade de

admissão de novos pesquisadores científicos.

Quando cruzadas as variáveis com o sexo dos pesquisadores algumas particularidades

emergiriam, podendo evidenciar os estereótipos de gênero. A maior representação de um sexo

em determinada área do conhecimento condiz com a construção social de gênero.

O aumento do peso relativo do sexo feminino na composição da profissão

(feminilização) nas instituições ocorreu a partir da década de 80 e provavelmente foi um

acréscimo positivo, uma vez que as mulheres possuem uma maior qualificação acadêmica que

os homens, além de serem mais jovens.

Apesar do impacto da presença feminina ao longo dos anos elas pouco avançaram para

os altos cargos de diretoria. Isto levou este estudo a identificar o que pode ser explicado pelo

fenômeno do “Teto de Vidro”, porque o processo de feminilização de eria tender a equidade

de gênero nas instituições a qual ampliaria a visão estratégica de acordo com perspectivas

mais diversificadas.

De acordo com a análise multivariada, as características que mais estão associadas à

ascensão dos pesquisadores às mais altas hierarquias são: ser homem, com dois ou mais

filhos, possuir alta escolaridade (Doutorado e Pós-Doutorado) e estar no alto nível do cargo

de pesquisador científico (V e VI). Esses resultados confirmam características da

masculinidade normativa encontrada em outros estudos de gênero em organizações.

Independente da limitação do estudo desenvolvido para instituições de pesquisa do

estado de São Paulo (setor do agronegócio) espera-se poder contribuir com a linha teórica da

demografia organizacional, a respeito dos pesquisadores científicos paulistas.

17

O Brasil contém diversas instituições de pesquisa científica e a abordagem deste

trabalho pode ser aplicada a outras instituições a fim de disseminar as práticas e os

indicadores construídos com este estudo.

Os dados também podem orientar políticas públicas em relação ao desenvolvimento

científico e tecnológico do país a fim de evitar desigualdades de gênero na ciência e a queda

na qualidade e na produtividade científica nacional.

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