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Etnoecologia em perspectiva: natureza, cultura e conservação 2010 ISBN: xxx-xx- xxxx-xxx-x 1 Espécie-chave cultural: indicadores e aplicabilidade em etnoecologia Ana Luiza Assis 1 , Natalia Hanazaki1 1 , Maurício Sedrez dos Reis 2 , Andrea Mattos 2 , Nivaldo Peroni 1,2 . 1 Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica, Depto. de Ecologia e Zoologia, CCB, UFSC. 2 Núcleo de Pesquisas em Florestas Tropicais, Depto de Fitotecnia, CCA, UFSC. Apresentação Recentemente, para melhor compreender as relações entre populações humanas e espécies biológicas adotou-se o termo espécie-chave cultural (“cultural keystone species”), adaptado do termo ecológico “espécie-chave” (“keystone species). Neste capítulo revisamos os trabalhos publicados no período de 1997 a 2010 que utilizam o termo “cultural keystone species”, a fim de esclarecer este conceito e aplicá-lo a um estudo de caso no contexto de domesticação de paisagens. È discutido a aplicação do referido conceito a uma comunidade rural que, entre outras atividades, maneja áreas de Floresta Ombrófila Mista para a extração de erva-mate. Além disso, discutimos a viabilidade do uso deste termo e suas limitações. Correspondência: Ana Luiza Assis, Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Ciências Biológicas Departamento de Ecologia e Zoologia Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica - Bloco C, Térreo, sala 009, Campus Trindade Florianópolis SC | 88010-970, +55 (48) 3721-9460 [email protected]

Espécie-chave cultural: indicadores e aplicabilidade em etnoecologia

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Etnoecologia em perspectiva: natureza, cultura e conservação 2010 ISBN: xxx-xx-xxxx-xxx-x

1 Espécie-chave cultural: indicadores e aplicabilidade em etnoecologia

Ana Luiza Assis1, Natalia Hanazaki11, Maurício Sedrez dos Reis2, Andrea Mattos2, Nivaldo Peroni1,2.1Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica, Depto. de Ecologia e Zoologia, CCB, UFSC. 2Núcleo de Pesquisas em Florestas Tropicais, Depto de Fitotecnia, CCA, UFSC.

Apresentação Recentemente, para melhor compreender as relações entre populações humanas e espécies biológicas adotou-se o termo espécie-chave cultural (“cultural keystone species”), adaptado do termo ecológico “espécie-chave” (“keystone species”). Neste capítulo revisamos os trabalhos publicados no período de 1997 a 2010 que utilizam o termo “cultural keystone species”, a fim de esclarecer este conceito e aplicá-lo a um estudo de caso no contexto de domesticação de paisagens. È discutido a aplicação do referido conceito a uma comunidade rural que, entre outras atividades, maneja áreas de Floresta Ombrófila Mista para a extração de erva-mate. Além disso, discutimos a viabilidade do uso deste termo e suas limitações.

Correspondência: Ana Luiza Assis, Universidade Federal de Santa Catarina – Centro de Ciências Biológicas – Departamento de Ecologia e Zoologia – Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica - Bloco C, Térreo, sala 009, Campus Trindade Florianópolis SC | 88010-970, +55 (48) 3721-9460 [email protected]

Assis et al. 2

Introdução É comum que ao investigar ou discutir fenômenos e relações que

anteriormente não eram foco de atenção, sinta-se a necessidade de criar novos conceitos possibilitando um maior entendimento do fenômeno ou relação estudada. No contexto da etnoecologia, para melhor compreender as relações entre populações humanas e espécies biológicas, recentemente alguns autores começaram a utilizar o termo espécie-chave cultural (“cultural keystone species”), termo adaptado do conceito ecológico de espécie-chave cunhado por Robert Paine (Paine, 1969). O objetivo inicial deste trabalho foi revisar os trabalhos que utilizam o termo “cultural keystone species”, a fim de esclarecer o seu conceito e suas aplicações práticas no entendimento das relações existentes entre populações humanas e plantas, no contexto de domesticação de paisagens. Para isso, foi realizada uma busca avançada nas bases Science Direct, Scopus e Web of Science em busca de trabalhos que citassem os termos “keystone species” e “cultural” como palavras-chave, em seus títulos ou resumos. Optou-se por esses critérios para que fosse possível captar a maior parte dos trabalhos que falam sobre o assunto, mesmo sem a utilização explicita do termo, pois como o seu uso é recente, não tem sido ainda amplamente adotado.

Essa busca resultou em 21 trabalhos, sendo um capítulo de livro (Tabela 1), publicados entre os anos de 1997 e 2010, por 54 diferentes autores, distribuídos em 18 revistas científicas. Apenas Ann Garibaldi é autora de mais de um trabalho (2) e apenas duas revistas (Human Ecology e Ecology and Society) tiveram mais de um trabalho sobre o assunto captado pela busca. O número de autores por trabalho variou de 1-9, com média de 3 autores por trabalho. A média de trabalhos por ano foi de 1,5, mostrando uma tendência ao aumento do número de trabalhos ao longo do tempo (Figura 1).

Espécie-chave cultural 3

Figura 1. Número de trabalhos por ano publicados sobre o tema ¨Espécie Chave Cultural¨, a partir de busca nas bases Science Direct, Scopus e Web of Science.

Na análise dos trabalhos e resumos foi possível perceber duas tendências

no uso do termo espécie-chave. Uma delas trata das espécies-chave ecológicas abordando aspectos culturais, principalmente referentes à conservação. A outra tendência é o uso do termo espécies-chave cultural aplicado a uma espécie ou a um grupo de espécies que são elementos-chave para a manutenção da cultura de uma sociedade humana. Por isso, os 21 trabalhos analisados (Tabela 1) foram classificados em: abordagens estritamente ecológicas (ee) e não estritamente ecológicas (nee) de acordo com a forma de uso do termo espécie-chave. Considerando-se apenas os trabalhos que tratam dessas espécies de forma não estritamente ecológica, ou seja, aqueles que realmente falam de espécies-chave culturais, teremos apenas sete trabalhos, que podem ser categorizados em conceituais ou estudos de caso (Tabela 1). Os trabalhos conceituais são aqueles que têm como objetivo propor ou refletir sobre aspectos teóricos, podendo para isso se utilizar de estudos de caso como forma de embasar a discussão. Os estudos de caso são trabalhos que descrevem uma situação a respeito de uma ou mais espécies-chave, sem que sejam feitas reflexões mais elaboradas acerca dos aspectos teóricos. Tabela 1. Lista dos 20 trabalhos publicados sobre o tema ¨Espécie Chave Cultural¨, a partir de busca nas bases Science Direct, Scopus e Web of Science. Legenda: ee, estritamente ecológico; nee, não estritamente ecológico;

autor

4

Título Autor(es) Revista Ano Categoria

1 Sacred groves: Traditional ecological heritage King, E; Viji, C.; Narasimhan, D

International Journal of Ecology and Environmental Sciences

1997 ee -x-

2

The cultural importance of floristic diversity: A case study from Nokopo village, Madang and Morobe Provinces, Papua New Guinea

Kocher-Schmid, C. Worldviews: Global Religions, Culture, and Ecology 1998 ee -x-

3 Ethnobiology1 Ramakrishnan, P. S. International Encyclopedia of the Social & Behavioral Sciences (Livro)

2001 ee -x-

4 The state of the art of aquatic and semi-aquatic ecological restoration projects in the Netherlands

Nienhuis, P.H., Bakker, J.P., Grootjans, A.P., Gulati, R.D., De Jonge, V.N.

Hydrobiologia 2002 ee -x-

5

Conifer regeneration problems in boreal and temperate forests with ericaceous understory: Role of disturbance, seedbed limitation, and keystone species change

Mallik, A.U. Critical Reviews in Plant Sciences 2003 ee -x-

6 Social institutions in ecosystem management and biodiversity conservation

Colding, J., Folke, C., Elmqvist, T. Tropical Ecology 2003 ee -x-

7 Cultural keystone species: Implications for ecological conservation and restoration

Garibaldi, A., Turner, N. Ecology and Society 2004 nee conceitual

8 Culturally defined keystone species Cristancho, S., Vining, J. Human Ecology 2004 nee conceitual

1 Capítulo de livro.

Espécie-chave cultural 5

9 Invasive species and the cultural keystone species concept Nuñez, M.A., Simberloff, D. Ecology and Society 2005 nee conceitual

10 Fuelwood harvesting and selection in Valley Thicket, South Africa

Pote, J., Shackleton, C., Cocks, M., Lubke, R. Journal of Arid Environment 2006 ee -x-

11 Making the case for fire in Southern Illinois forests Ruffner, C.M., Groninger, J.W. Journal of Forestry 2006 ee -x-

12 Scattered trees are keystone structures - Implications for conservation

Manning, A.D., Fischer, J., Lindenmayer, D.B. Biological Conservation 2006 ee -x-

13 Ranchers as a keystone species in a west that works Knight, R.L. Rangelands 2007 ee -x-

14 Conceptualizing multiple nontimber forest product harvest and harvesting motivations among balsam bough pickers in Northern Minnesota

Wilsey, D.S., Nelson, K.C. Society and Natural Resources 2008 nee conceitual

15 Counting the cost of vulture decline—An appraisal of the human health and other benefits of vultures in India

Markandya, A.; Taylor,T.; Longo,A.; Murty, M.N.; Murty, S.; Dhavala, K. Ecological Economics 2008 ee -x-

16 Diversity of Genus Ficus L. (Moraceae) in farmlands and pastoral areas in Buganda region, central Uganda

Ipulet, P., Kasenene, J. African Journal of Ecology 2008 ee -x-

17 Extinction of the autochthonous small mammals of Mallorca (Gymnesic Islands, Western Mediterranean) and its ecological consequences

Bover, P., Alcover, J.A. Journal of Biogeography 2008 ee -x-

18 Landscape ecology as a foundation for sustainable conservation Wiens, J.A. Landscape Ecology 2009 ee -x-

19 Moving from model to application: cultural keystone species and reclamation in Fort Mckay, Alberta

Garibaldi, A. Journal of Ethnobiology 2009 nee conceitual

20 The cultural keystone concept: Insights from ecological anthropology Platten, S., Henfrey, T. Human Ecology 2009 nee conceitual

Assis et al. 6

21 The importance of botellas and other plant mixtures in Dominican traditional medicine

Vandebroek, I; Balick, J; Ososki, A; Kronenberg, F; Yukes, J; Wade, C; Jiménez, F; Peguero, B ; Castillo, D.

Journal of Ethnopharmacology 2010 nee estudo de caso

autor

7

Os trabalhos revelados através da busca e classificados como abordagens

estritamente ecológicas de uso do termo espécie-chave são bastante diversos. O trabalho de Mallik (2003), por exemplo, traz uma abordagem de ecologia mais clássica, discutindo a mudança da vegetação em determinado local, devido à troca de espécies-chave ocasionada pela ação do fogo. Já os outros quatro trabalhos publicados entre 1997 e 2003 (King et al. 1997, Kocher-Schmid 1998-1999, Nienhuis et al. 2002 e Colding et al. 2003) dão ênfase aos papéis da população humana, como transformadora da paisagem, geradora de diversidade ou como espécie-chave (Kocher-Schmid 1998). Dois deles dão ênfase ao papel das estruturas sociais para a conservação, como o estudo de caso de King et al. (1997) acerca das florestas sagradas na Índia ou como o trabalho síntese de Colding et al.(2003), que discutem relação entre instituições sociais e conservação da biodiversidade por populações humanas que fazem uso de recursos locais. Nienhuis et al. (2002) tratam a respeito da importância da reintrodução de espécies-chave ecológicas em paisagens criadas pelo homem na Holanda.

Em alguns desses trabalhos inclusive, o uso do termo espécie-chave cultural, talvez fosse adequado e pudesse trazer esclarecimentos sobre as relações existentes entre as populações humanas e as espécies biológicas em questão. Como no caso do artigo de Markandya et al.(2008) que avaliam os impactos sociais e econômicos da diminuição de três espécies de abutres do gênero Gyps devido ao uso de antibióticos no trato dos animais e, entre estes impactos, estão os impactos culturais, visto que estes animais representam Jatayu, o abutre de Deus na mitologia hindu.

Entre os trabalhos que utilizam o termo espécie-chave através de uma abordagem cultural (7), apenas um consiste em um estudo de caso, é o trabalho de Vandebroek et al. (2009) que trata a respeito das garrafadas, uma prática-chave cultural, para os dominicanos residindo tanto na República Dominicana quanto em Nova Iorque. Todos os outros seis trabalhos (Garibaldi e Turner 2004;; Cristancho e Vining, 2004;; Nuñez e Simberloff 2005; Wilsey e Nelson 2008; Garibaldi 2009; e Platten e Henfrey 2009) são conceituais e nos utilizaremos deles para refletir sobre o termo espécie-chave cultural, desde o conceito ecológico que o originou, sua definição, indicadores e possíveis aplicações.

1. Espécie-chave cultural Em 2004, dois artigos (Garibaldi e Turner 2004; Cristancho e Vining,

2004) foram publicados em diferentes revistas (Ecology and Society e Human Ecology) com concepções bastante similares do sobre o termo espécie-chave

Assis et al. 8

cultural, adaptado a partir de um termo ecológico. Ambos os trabalhos abordam aspectos conceituais do uso desse termo e trazem reflexões complementares. 1.1 Conceito ecológico

O termo espécie-chave foi cunhado para retratar a importância da espécie

de estrela-do-mar Pisaster ochraceus, responsável por manter a diversidade em um ambiente de costão rochoso (Paine 1969; Garibaldi e Turner 2004; Cristancho e Vining 2004). Segundo este autor, espécies-chave são aquelas que possuem um papel central na estruturação de comunidades ecológicas. Neste caso, a estrela-do-mar P. ochraceus assumia esse papel ao consumir espécies potencialmente dominantes (Paine 1969; Garibaldi e Turner 2004). De acordo com este conceito, a importância funcional destas espécies estruturadoras do sistema não está relacionada à sua abundância (Cristancho e Vining, 2004), mas sim aos seus papéis ecológicos como, por exemplo, o fato de ser um predador de topo de cadeia (Paine 1969). Funções-chave em ecologia dependem do contexto ambiental, ou seja, uma espécie-chave em determinado ambiente, não necessariamente o será em outro.

Este termo até hoje gera polêmicas discussões em ecologia, inclusive sobre como identificar tais espécies. Platten e Henfrey (2009) ressaltam que ao tentar identificar espécies-chave, o papel estrutural de tais espécies não pode ser reduzido à não redundância funcional ou à dominância ecológica. O conceito de espécie-chave é geralmente objetivado como aquelas que possuem uma importância maior para o funcionamento da comunidade, do que o esperado pela sua abundância (Garibaldi e Turner 2004; Cristancho e Vining 2004; e Platten e Henfrey 2009). O conceito ecológico também pode incluir a idéia de uma espécie que pode alimentar a fauna em momentos críticos e assegurar as relações tróficas (Gilbert 1980). Neste sentido, Gilbert (1980) usa o termo mutualista-chave (“keystone mutualists”), e o conceitua como espécies (principalmente plantas) que garantem alimento para vários “elos móveis” - que são elementos da fauna estratégicos para polinização ou predação de grupos ou espécies de plantas. A perda ou declínio de um mutualista poderia levar a perda ou declínio de um “elo”, que poderia levar a perda ou declínio de uma espécie ou grupos delas. 1.2 Conceito cultural

Todas as populações humanas dependem de muitas espécies para a sua sobrevivência material e cultural. Porém, algumas espécies têm maior relevância direta e são reconhecidas como parte do modo de vida das

Espécie-chave cultural 9

populações locais e por isso ganham uma importância primordial (Garibaldi e Turner, 2004). Essas espécies, salientes, que desempenham um papel único em modelar e caracterizar a identidade das populações humanas que dela dependem, são as espécies-chave culturais (Garibaldi e Turner, 2004). Ou seja, espécies reconhecidas por uma população local como um elemento crítico na sua relação e para sua adaptação no ambiente em que estão inseridas, sendo indispensáveis para determinada cultura (Cristancho e Vining 2004).

Dessa forma, espécie-chave cultural é um conceito que também depende do contexto no qual está inserido, estando sujeito às variáveis temporais, espaciais e sociais (Cristancho e Vining 2004; Garibaldi e Turner, 2004). Assim, considerando que sistemas culturais são dinâmicos, pode haver mudanças nas espécies-chave culturais ao longo do tempo (Cristancho e Vining 2004). Além disso, uma espécie pode ser culturalmente chave para uma população, mas não para a população humana vizinha (Garibaldi e Turner, 2004). Soma-se a esta discussão a percepção de que culturas não são homogêneas, e por isso pode não haver consenso sobre espécies-chave culturais, existindo espécies que sejam culturalmente chaves apenas para um ou mais grupos sociais específicos dentro de uma população humana (Cristancho e Vining 2004).

1.3 Indicadores

A identificação e a caracterização de espécies-chave culturais é complexa

porque a relação cultural entre pessoas e espécies biológicas é afetada por vários fatores como sistemas econômicos, organizações sociais, acesso à terra e a recursos e transmissão cultural (Garibaldi e Turner, 2004). Além disso, espécies-chave culturais não devem ser confundidas com espécies-chave ecológicas, com espécies de grande importância econômica ou com espécies que possuem papéis psicoativos (Cristancho e Vining 2004).

Na tentativa de avaliar se uma espécie biológica merece ou não o título de espécie-chave cultural, Garibaldi e Turner (2004) propuseram uma análise comparativa de espécies através do uso de seis indicadores (Tabela 2), que podem ser desmembrados em uma ou mais perguntas. Cada pergunta recebe pontuações que variam de 0 a 5 (0 - não; 1- muito pouco; 2 - pouco; 3 - sim; 4 - muito; 5 - bastante) e o “índice” consiste no somatório das pontuações. Quanto maior a pontuação, mais importante é a espécie. Dessa forma há a possibilidade de comparar a importância relativa de diferentes espécies biológicas em determinada cultura, através da análise criteriosa de cada item (escala). Ainda segundo elas, talvez a melhor forma de identificar espécies-chave seja perguntar às pessoas quais espécies elas consideram ser mais importantes para sua identidade e sobrevivência.

Assis et al. 10

Similarmente, Cristancho e Vining (2004) propõem uma avaliação de cada espécie perante sete indicadores para identificar espécies-chave culturais (Tabela 2). Se a espécie se enquadra na maioria deles, é uma espécie-chave cultural.

Cristancho e Vining 2004 1. História de origem relacionada a mitos, antepassados ou origem da cultura 2. Central para transmissão do conhecimento cultural. 3. Indispensável para a maioria dos rituais dos quais depende a estabilidade da comunidade 4. Relacionada ou usada em atividades para suprir as necessidades básicas da comunidade 5. Possui valor espiritual ou religioso na cultura em que está inserida. 6. Existe fisicamente no território da comunidade ou a um que esta tenha acesso 7. É reconhecida pelo grupo cultural como uma das espécies mais importantes. Garibaldi e Turner 2004 1. Intensidade, tipo e multiplicidade de usos

Reconhecimento como espécie

mais importante para identidade e

sobrevivência

2. Nomenclatura 3. Papel em narrativas, cerimônias ou simbólico 4. Persistência na memória de uso em relação a mudanças culturais 5. Unicidade na cultura, de difícil substituição 6. Possibilita à aquisição de recursos externos a comunidade

Tabela 2. Indicadores de espécies-chave culturais propostos por Garibaldi e Turner (2004) e Cristancho e Vining (2004).

Analisando os indicadores propostos pelos autores, percebemos que

Cristancho e Vining (2004) dão um maior peso ao valor simbólico, enquanto que Garibaldi e Turner (2004) focam mais no valor de uso. Porém, apesar das diferenças, ambos trazem elementos em comum. Entre eles, destacamos os elementos: históricos, simbólicos, de uso e convívio com a espécie, além da consciência de sua importância. Além disso, há importantes indicadores que foram propostos em apenas um dos artigos que parecem ser relevantes, como a questão da transmissão cultural e da nomenclatura.

Como podemos perceber nos indicadores, não apenas o domínio cultural é o que indica as espécies-chave culturais: os domínios econômico e ecológico também estão presentes, mesmo que em menor grau.

A importância econômica das espécies-chave culturais está relacionada ao valor de uso da espécie, seja este um uso comercial, de subsistência, ou mesmo um uso simbólico. A importância ecológica das espécies-chave culturais está relacionada à saliência desta espécie para a população humana, que convive com a espécie e a conhece tão bem a ponto de possuir estratégias bastante

Espécie-chave cultural 11

específicas de reconhecimento dessa espécie, como por exemplo, uma rica nomenclatura.

A importância cultural pode ser bem representada através da contribuição daquela espécie para a identidade do grupo, estando presente na sua história e simbolismos; ou através de sua unicidade na cultura, como importante na transmissão cultural; ou ainda pela consciência que a população tem de sua importância.

Dessa forma, propomos sete indicadores (Tabela 3) para a avaliação de espécies-chave culturais: 1 uso direto, 2 ecológicos e 4 culturais, mantendo a forma de pontuação proposta por Garibaldi e Turner (2004), com a escala variando de 1 a 5, no qual 1 equivale a não; 2 irrelevante; 3 a sim; 4 sim, relevante; e 5 sim, muito relevante. De acordo com esse sistema, as espécies que tiverem pontuação igual ou maior que 28 pontos, ou seja, que obtiverem média mínima igual a 4, e então multiplicado por 7 indicadores, e que não zeraram em nenhum dos domínios são espécies-chave culturais.

O domínio econômico possui apenas um indicador que diz respeito à intensidade de uso na economia do grupo, independente de gerar renda com isso, ou seja, este uso pode representar fins de subsistência, simbólicos, ou mesmo comerciais.

O domínio ecológico traz dois indicadores um que diz respeito à intensidade de convívio entre a espécie e a população humana em questão. Nessa variável deve-se analisar a presença da espécie no território, sua abundância, a freqüência das interações etc. Quando ao indicador de nomenclatura deve-se analisar a sua complexidade, riqueza e especificidade. Isso porque, a importância ecológica das espécies-chave culturais está relacionada à saliência desta espécie para a população humana, que convive com a espécie e a conhece tão bem a ponto de possuir estratégias bastante específicas de reconhecimento dessa espécie com uma rica nomenclatura do ponto de vista etnotaxonômico (Hunn 1982).

O domínio cultural traz quatro indicadores, dois deles relacionados à identidade cultural da população humana em questão, analisada pela presença da espécie na história real ou mítica desse grupo cultural. Um indicador que busca perceber em qual intensidade essa espécie é única para a população humana em questão. E o último que diz respeito à percepção da população humana em relação à espécie em questão.

autor

12

Indicadores 1 não

2 irrelevante

3 sim

4 sim, relevante

5 sim. muito relevante

Econ

ômic

o Uso (comercial, de subsistência ou

simbólico)

Não é usada A espécie é pouco usada, seu uso não é importante.

Usada de maneira regular para fins comerciais, de subsistência e/ou simbólicos.

Uso freqüente ou importante para fins comerciais, de subsistência e/ou simbólicos.

Alto valor de uso, sendo bastante utilizada para fins comerciais, de subsistência e/ou simbólicos.

Ecol

ógic

o

Convívio

A espécie não está presente fisicamente nos territórios da comunidade ou os acessados por ela.

A espécie está presente fisicamente, mas em pequena quantidade e o convívio entre a população humana e a planta em questão é raro e/ou limitado.

A espécie está presente no território e há algum grau de convívio entre ela e a população humana.

A espécie está presente em abundância, porém o convívio não é cotidiano.

A espécie está presente com abundância nos territórios acessados pela comunidade, sendo cotidiano o convívio entre a população humana e a espécie.

Nomenclatura (especificidade

, riqueza, complexidade)

A espécie não é nomeada

A espécie é nomeada por uma pequena parte da comunidade (não necessariamente especialistas).

A espécie é nomeada.

A espécie possui nomenclatura rica, porém sem hierarquia.

Nomenclatura bastante rica, complexa e hierarquizada.

Espécie-chave cultural 13 C

ultu

ral

Iden

tidad

e

Hist

ória

A espécie não está relacionada a fatos históricos vivenciados pela comunidade

A espécie está indiretamente relacionada a fatos históricos vivenciados pela comunidade.

A espécie está relacionada a fatos históricos vivenciados pela comunidade.

A espécie protagonizou alguns eventos sem muita grande importância para a comunidade.

A espécie está intimamente relacionada a fatos históricos vivenciados pela comunidade, sendo protagonista de alguns eventos importantes.

Sim

bólic

os

A espécie não está presente em mitos, lendas ou no folclore da comunidade.

A presença da espécie em mitos, lendas e outros componentes do folclore pode ser suposta, mas não há menções específicas à ela.

A espécie está presente em eventualmente em mitos, lendas ou no folclore da comunidade.

A espécie está presente em muitos mitos, lendas e no folclore da comunidade, mas sem papel de destaque.

A espécie tem papel de destaque em vários mitos, lendas e no folclore da comunidade.

Unicidade cultural

A espécie não é considerada única e pode ser facilmente substituída.

Apesar de desempenhar alguns papéis relativamente importantes, a espécie não é única e pode ser substituída com certa facilidade.

A espécie possui um certo grau de singularidade e sua substituição seria difícil.

A espécie é bastante singular nos papéis desempenhados na comunidade, mas poderia ser substituída com dificuldades e prejuízos.

A espécie é única e insubstituível. Sua perda ou substituição acarretaria na “desintegração” cultural da comunidade em questão

Consciência A espécie não é considerada

A espécie é considerada

A espécie é considerada

A espécie é reconhecida como uma das mais

A espécie é reconhecida como

Assis et al. 14

importante pela a comunidade.

importante por uma pequena parte da comunidade (não necessariamente especialistas)..

importante pela comunidade.

importantes apenas por parte da comunidade.

uma das mais importantes para a comunidade, por toda a comunidade.

Tabela 3: Proposta de indicadores para avaliação de espécies-chave culturais

autor

15

1.4 Aplicação, possibilidades e outros aspectos relevantes

As esferas culturais e biológicas são relacionadas, de forma que a

modificação de uma cultura pode levar a modificação do ambiente que a cerca e vice-versa (Balée, 2006). Por isso, o fortalecimento cultural de populações indígenas ou locais em torno das espécies-chave culturais, pode levar ao fortalecimento dos ecossistemas (Garibaldi e Turner 2004). Além disso, conceito de espécies-chave culturais pode ser vantajoso para a interpretação das mudanças e reestruturações ecológicas, econômicas e culturais que ocorrem ao longo do tempo, e sendo útil em projetos de restauração ambiental e conservação da biodiversidade (Garibaldi e Turner 2004), sendo extremamente úteis para comunidades com paisagens em transição (Garibaldi 2009). Um exemplo disso é o trabalho de Garibaldi (2009), no qual o conceito foi útil para a restauração ambiental, para iniciativas conservação e para a demarcação de terras de populações tradicionais.

Nuñez e Simberloff (2008) vêem com mais cautela a questão do uso de espécies-chave culturais em iniciativas voltadas à conservação. Principalmente no que diz respeito às espécies exóticas e invasoras, que podem vir a se tornar espécies-chave culturais e, dessa forma, ir na contra-mão de processos de conservação para seu controle ou substituição.

Outra aplicabilidade é a proposta por Wilsey e Nelson (2008) que em um estudo com extratores de balsamo em Minnesota nos Estados Unidos, aliaram o uso do conceito de espécies-chave culturais ao conceito de economia pluriforme para gerar o conceito de “produtos-chave culturais”. A identificação dos produtos-chave culturais, posteriormente agrupados em guildas-chave culturais de produtos florestais não madeireiros permitiu entender as instituições sociais existentes e a organização dos extrativistas.

2. Uso da proposta de identificação de espécies-

chave para o caso da erva-mate (Ilex paraguariensis) e da araucária (Araucaria angustifolia) nas caívas do Planalto Norte catarinense

No planalto Norte de Santa Catarina, agricultores familiares cuja

economia baseia-se no plantio de milho e soja e na criação de gado leiteiro, manejam os fragmentos florestais existentes em suas áreas para a criação de gado, extração comercial de erva-mate e extração para subsistência de lenha e pinhão (semente da araucária). Esses fragmentos florestais manejados formam

Assis et al. 16

unidades de paisagem chamadas por esses agricultores de caívas. As caívas refletem influências humanas passadas e presentes na composição e estrutura de suas comunidades vegetais. É dado destaque para espécies da família Myrtaceae, como os araçás e as guavirovas, para a araucária (Araucaria angustifolia) e para a erva-mate (Ilex paraguariensis).

As caívas não são unidades de paisagem idênticas, sua diversidade inclui desde áreas com densa vegetação herbácea, onde predominam gramíneas, com presença de arbustos, onde predomina erva mate, até áreas com florestas em estágio avançado de regeneração. O manejo dessas áreas também é bastante variável, mas existem três elementos básicos de manejo na mesma área que podem ou não estar presentes e variam em intensidade: extração de erva-mate, criação de gado e um componente de manejo sazonal (“roçadas”) com intuito de favorecer o gado ou a erva-mate. Antigamente, essas áreas além de serem usadas para a extração de erva-mate, eram utilizadas também para a criação extensiva de porcos e a roçada não era uma prática comum.

Hoje, a produção de erva-mate não constitui a principal fonte de renda para a maioria das famílias, mas ainda é uma atividade econômica importante e freqüente. Segundo os produtores, a qualidade da erva-mate da região é diferenciada em virtude da erva-mate ser “nativa”, ou seja, cultivada em áreas naturais, muitas vezes à sombra.

A erva-mate é uma espécie arbórea da família das aqüifoliáceas com propriedades estimulantes, bastante consumida como chá ou chimarrão em toda América do Sul. Seu consumo e beneficiamento se desenvolveram ao longo do tempo a partir daqueles praticados pelos povos indígenas que habitaram a região. Hoje, seu uso caracteriza parcialmente o modo de vida dos gaúchos, catarinenses e paranaenses que vivem ao longo de todo o planalto meridional brasileiro, onde é comum o consumo do chimarrão ao longo de todo o dia. Além disso, a exploração econômica da erva mate já era importante no século XVIII, mesmo antes da exploração madeireira na região (Carvalho, 2006).

O beneficiamento da planta para o fabrico da erva para chimarrão consiste na secagem da folha ao fogo e o seu cancheamento (corte em pequenos pedaços). Esse processo deve ser feito com as folhas ainda frescas, por isso, as ervateiras, empresas responsáveis pelo beneficiamento, geralmente se localizam próximas às regiões produtoras e compram a erva ainda no pé, ou seja, são os funcionários da ervateira os responsáveis em colher as folhas. Essa poda é feita em intervalos de 2 a 4 anos de acordo com a estratégia de manejo adotada pelo proprietário. Além disso, muitos proprietários costumam roçar as áreas onde há erva-mate para favorecer o crescimento das folhas de erva, ou permitir a entrada das pessoas que farão a colheita. Em geral, não são feitos plantios, manejando-se os mesmos indivíduos por muitos anos. Alguns proprietários afirmam que seus ervais possuem mais de 100 anos.

Espécie-chave cultural 17

Antigamente eram as próprias famílias que faziam a colheita da erva-mate e eram muito comuns as famílias que fabricavam a erva-mate em sua própria residência, muitos proprietários ainda possuem barbaquás e canchas antigas (engenhos de trituração e secagem da erva-mate). Além disso, são reconhecidas ao menos quatro diferentes tipos de erva-mate de acordo com a cor do pecíolo (talo roxo ou talo branco) e tamanho da folha (pequena ou grande).

Em relação à Araucária, os produtos e usos mais importantes estão associados à obtenção de madeira, incluindo madeira para serraria, usos energéticos (lenha) e fabricação de compensados, pasta mecânica e celulose. Os galhos e refugos, e especialmente o “nó de pinho” servem para lenha e combustível de caldeiras e os pinhões servem de alimento para o homem e animais (Guerra et al., 2002). Atualmente, em função das restrições de exploração madeireira os usos mais importantes estão associados ao pinhão (consumo familiar e coleta para comercialização; Vieira da Silva e Reis, 2009) e lenha a partir dos galhos para uso nas propriedades agrícolas. Apesar da intensa exploração da espécie, a Araucária apresenta uma uso histórico madeireiro importante (Guerra et al., 2002), sendo responsável por dar início a colonização e formação de cidades em vários locais da região Sul do Brasil (Guerra et al., 2002; Carvalho, 2006). Além disso, o uso do pinhão como alimento remonta um período anterior à chegada dos europeus na América (Bitencourt e Krauspenhar, 2006).

Em levantamento realizado com famílias de agricultores familiares nos municípios de Macieira e Caçador, também no Planalto Norte de Santa Catarina, Caffer (2004) revelou que Araucária e Erva Mate estão entre as espécies vegetais de maior Valor de Importância (terceiro e quarto lugar, respectivamente) e também de Valor de Uso (primeiro e sétimo lugar, respectivamente) no conjunto de espécies analisado pelo autor.

Com base nessas informações a respeito da araucária e da erva-mate, foi feita uma análise para a identificação dessas espécies como espécies-chave culturais (Tabela 4).

Domínio Indicadores Erva-mate Araucaria

Econômico uso (comercial, de subsistência ou simbólico) 5 5

Ecológico Convívio 5 5

Nomenclatura (especificidade, riqueza, complexidade). 3 3

Cultural identidade História 5 5

Simbólicos 5 4

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Tabela 4: Avaliação das espécies erva-mate e araucária, segundo os indicadores propostos

neste artigo. A escala varia de 1 a 5 (1 não; 2 muito pouco; 3 sim; 4 alguma coisa; 5 bastante).

Ambas as espécies são bastante usadas. Hoje, em função das restrições legais, os recursos advindos da araucária, em especial as sementes (“pinhão”) sofrem uma mudança na sua concepção de mercado, uma vez que áreas de extração comum têm sido exploradas privativamente. O consumo de pinhão sempre foi muito importante como recurso explorado por famílias não necessariamente proprietárias das áreas e extração e atualmente com a promoção do produto, o comércio dessas sementes se intensifica.

A araucária e a erva-mate estão bastantes presentes no dia a dia das famílias do planalto norte catarinense. Para a erva-mate, esse convívio ainda se traduz em cuidado e favorecimento das populações da espécie, percebendo-se o crescimento, ataque de pragas, entre outras coisas. Algumas famílias da região têm o hábito de dar nomes próprios aos indivíduos de araucária, devido a sua história ou a características peculiares de arquitetura e produção de sementes. A nomenclatura utilizada para identificação de tipos dentro das espécies, como o “pinhão macaco”, “pinhão São José” para araucária, não é bem conhecida, embora alguns trabalhos (Reitz e Klein 1966) mostrem uma riqueza bastante grande para esta espécie. Muitos agricultores, na região foco deste estudo, têm afirmado que não usam mais tantos nomes, e este conhecimento parece ter ficado restrito aos coletores comerciais de pinhão (Vieira da Silva, 2008).

Tanto a araucária como a erva-mate fazem parte da história das populações humanas no Planalto Norte de Santa Catarina (Bitencourt e Krauspenhar, 2006). O ciclo econômico da madeira baseou-se principalmente na Araucária e na Imbuia, e a erva-mate possui um ciclo econômico muito particular nesta região. Além disso, ambas as espécies fazem parte da história dos povos pré-colombianos que habitaram a região (Bitencourt e Krauspenhar, 2006).

Aspectos simbólicos a respeito das duas espécies são importantes, especialmente em torno do que representa a identificação regional com as paisagens delineadas pela presença da araucária, e do consumo do pinhão em si, e do preparo e consumo do chimarrão com a erva-mate.

Ambas as espécies são únicas na cultura, ou seja, não há nenhuma outra espécie de planta que substitui completamente a erva-mate no preparo do chimarrão, ou em sua exploração comercial para esse fim. Há indicações que

unicidade cultural 5 5

Consciência 5 5

Total 33 32

Espécie-chave cultural 19

na falta de erva mate, outras espécies do gênero Ilex poderiam ser usadas para consumo, mas não é culturalmente desejado.

O uso de indicadores para classificar uma espécie como chave dentro de um determinado grupo humano revela-se útil como ferramenta interpretativa das relações dialéticas entre sociedade/cultura e natureza. A noção de que essas relações dialéticas são construídas através da modelagem recíproca entre a importância cultural e as características ecológicas estruturais e funcionais, está implícita na fundamentação teórica destes indicadores. Os indicadores formam uma ferramenta que permite classificações, avaliações comparativas e integração de conjunto de dados de natureza complementar. O uso destes indicadores representa um avanço na busca por ferramentas que integram abordagens qualitativas e quantitativas, mas entendemos ainda esse uso como uma aproximação na tradução de dados etnoecológicos e ecológicos. Na perspectiva atual dentro da etnoecologia, os esforços podem se concentrar na busca por um aprimoramento na tradução objetiva dos indicadores. Precisamos aprimorar nossos esforços e há limitações, mas que precisam ser encaradas como desafios e não como impossibilidades dentro do panorama que se abre pelo uso desta abordagem. Agradecimentos

Gostaríamos de agradecer a CAPES, CNPq e EMBRAPA pelos recursos destinados ao desenvolvimento dos projetos que culminam neste artigo. Agradecemos também aos agricultores e agricultoras da região do Planalto norte Catarinense pela ajuda e colaboração no estudo, e somos gratos aos avaliadores anônimos deste capítulo pelas sugestões e críticas para melhora do produto final do capítulo. Referências 1. Balée W. 2006. The Research Program of Historical Ecology. Annual review of

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