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i FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE RELATÓRIO TÉCNICO FINAL PESQUISA: EXCLUSÃO SANITÁRIA EM BELO HORIZONTE MG: CARACTERIZAÇÃO E ASSOCIAÇÃO COM INDICADORES DE SAÚDE PESQUISADORES: LÉO HELLER ELOÍSA DE ABREU AZEVEDO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS BELO HORIZONTE 2003

exclusão sanitária em belo horizonte – mg: caracterização e

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FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE

RELATÓRIO TÉCNICO FINAL

PESQUISA:

EXCLUSÃO SANITÁRIA EM BELO HORIZONTE – MG: CARACTERIZAÇÃO E ASSOCIAÇÃO COM INDICADORES DE

SAÚDE

PESQUISADORES:

LÉO HELLER

ELOÍSA DE ABREU AZEVEDO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

BELO HORIZONTE

2003

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FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE

EXCLUSÃO SANITÁRIA EM BELO HORIZONTE – MG: CARACTERIZAÇÃO E ASSOCIAÇÃO COM INDICADORES

DE SAÚDE

Pesquisa desenvolvida por meio do convênio 2278 de 2000 estabelecido entre o Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais.

PESQUISADORES: Prof. Léo Heller. Eloísa de Abreu Azevedo

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

BELO HORIZONTE

2003

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iii

RESUMO

As populações excluídas do sistema público de saneamento são referidas pelos

dados estatísticos como um percentual de não-servidos. Pouco se conhece sobre

a realidade dessas populações. Diante desse fato, realizou-se um estudo

epidemiológico com delineamento quase-experimental para a caracterização e

avaliação do risco para a saúde de populações que residem em áreas destituídas

de serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, no município de

Belo Horizonte – MG. Procurou-se também, avaliar a aplicabilidade de um

conjunto de indicadores de saúde selecionados dentre aqueles, tradicionalmente,

empregados em estudos dessa natureza: morbidade por diarréia, presença de

parasitas intestinais nas fezes e estado nutricional. Com o intuito de estabelecer

um indicador de saúde mais preciso para ser utilizado em estudos de avaliação

de impacto sobre a saúde de ações de saneamento, foi proposto e avaliado, por

esse trabalho, um novo indicador – “presença de patógenos entéricos associada

aos piócitos fecais”. As intervenções em saneamento realizadas pelo Poder

Público definiram as três áreas investigadas: área 1 – sem abastecimento de

água e esgotamento sanitário; área 2 - com abastecimento de água e sem

esgotamento sanitário e área 3 - com abastecimento de água e esgotamento

sanitário. De um inquérito domiciliar aplicado a uma amostra aleatória de 584

crianças, de entre um a cinco anos, residentes nas três áreas selecionadas para o

estudo, obtiveram-se os dados referentes aos indicadores de saúde propostos, às

soluções alternativas utilizadas para compensar a carência dos serviços de

saneamento e aos potenciais fatores de confusão. Coletou-se material fecal de

461 crianças para a identificação dos enteropatógenos. Por meio da análise

estatística dos dados, empregando-se técnicas de análise univariada e

multivariada, esta última em modelo de regressão logística, caracterizou-se a

população excluída do saneamento e identificaram-se os indicadores que se

mostraram mais adequados para a avaliação do impacto sobre a saúde das

intervenções em saneamento: morbidade por diarréia, desnutrição crônica,

helmintíase e infecção por patógenos de transmissão feco-oral. O tamanho da

amostra não permitiu a realização de inferências sobre o indicador proposto.

Palavras-chave:

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iv

ABSTRACT

The populations without public sanitation systems are referred to statistical dates as a percent of not served. Little is known about the reality of those populations. In concern of that, an epidemiological stud is developed with an quasi experimental design to characterize and assessment the risk to health of population that living in areas without water supply and wastewater systems, in city of Belo Horizonte – Minas Gerais state, Brazil. This stud was used to evaluate the application of a collection of health indicators, selected from those, used traditionally in studies of health impact evaluations. The presence of enteric pathogens associated to fecal leucocytes was been proposed as a new health indicator, with the goal to establish a more efficient health indicator to be used in health impact assessment of sanitation actions. For that, diarrheal disease morbidity, intestinal nematodes presence, protozoa presence, nutritional status and enteric pathogen presence associated to fecal leucocytes was been defined as heath indicators. The exposure was been classified in three areas: area 1: without water supply and wastewater systems; area 2: with water supply system but without wastewater system and area 3: with water supply and wastewater systems. From a residential inquiry applied to a random simple of 584 children, of 1 to 5 years old, residents in one of three select areas of study, were been gotten dates relation to health indicators proposed; to alternative solution used to compensate the lack of sanitation services and to potential confounding variables. Fecal samples was been collected from 461 children. This material was been used to identify the pathogenic organisms. From a statistical analysis of the dates, where were used unvaried and multivariate technical analyses, last one, in logistic regression model, was characterized the population without sanitation system, identify the most adequate indicators to assessment the health impact - diarrheal disease morbidity, stunting (chronic malnutrition), infection from nematodes and infection from pathogen of fecal-oral transmition. Key-words:

- -

v

SUMÁRIO

Página

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................. 1

1.1. A exclusão sanitária e os impactos ambientais.......................................... 3

1.2. A exclusão sanitária e os impactos econômicos........................................ 4

1.3. A exclusão sanitária e os impactos sobre a saúde..................................... 5

1.4. Indicadores de saúde..................................................................................... 7

2. OBJETIVOS E HIPÓTESES............................................................................. 12

2.1. Objetivo geral................................................................................................. 12

2.2. Objetivos específicos.................................................................................... 12

2.3. Hipóteses........................................................................................................ 12

3. REVISÃO DA LITERATURA............................................................................14

3.1. Doença como processo e a causalidade múltipla...................................... 14

3.2. A classificação ambiental das doenças infecciosas.................................. 18

3.3. Doenças relacionadas com o saneamento inadequado............................ 23

3.3.1 Doenças diarréicas........................................................................................ 24

3.3.2 Doenças infecciosas intestinais causadas por bactérias............................... 27

a) Escherichia coli................................................................................................... 30

b) Salmonella.......................................................................................................... 32

c) Shigella............................................................................................................... 33

d) Yersinia enterocolítica.........................................................................................34

e) Campylobacter....................................................................................................34

3.3.3. Doenças infecciosas intestinais causadas por rotavírus...............................35

3.3.4. Doenças infecciosas intestinais causadas por protozoários.........................36

- -

vi

a) Entamoeba histolytica.........................................................................................37

b) Giardia lamblia.................................................................................................... 38

c) Cryptosporidium.................................................................................................. 40

3.3.5. Doenças infecciosas intestinais causadas por helmintos............................. 41

a) Ascaridíase......................................................................................................... 43

b) Tricocefalíase ou tricuríase.................................................................................44

c) Estrongiloidíase...................................................................................................45

d) Himenolepíases.................................................................................................. 47

e) Enterobíase ou oxiuríase.................................................................................... 47

f) Ancilostomíase.....................................................................................................48

g) Teníase............................................................................................................... 49

3.3.6. Estado nutricional – desnutrição................................................................... 50

3.4. Piócitos........................................................................................................... 56

4. METODOLOGIA................................................................................................58

4.1. Delineamento do estudo............................................................................... 58

4.1.1. Características gerais................................................................................... 58

4.1.2. Área geográfica do estudo........................................................................... 59

4.1.3. População do estudo................................................................................... 60

4.1.4. Método do estudo......................................................................................... 60

4.1.5. Definição dos estados de exposição e não-exposição................................. 61

4.1.6. Definição dos estados de doença – indicadores de saúde.......................... 62

4.1.7. Dimensionamento da amostra...................................................................... 68

4.1.8. Processo de amostragem............................................................................. 68

4.1.9. Protocolo adotado pelo estudo.................................................................... 70

4.2. Coleta de dados............................................................................................. 71

4.3. Análise dos dados........................................................................................ 75

- -

vii

4.3.1. Banco de dados e recursos de informática...................................................75

4.3.2. Análise univariada........................................................................................ 76

4.3.3. Análise multivariada..................................................................................... 78

4.4. Redação e apresentação da dissertação.....................................................79

5. RESULTADOS................................................................................................. 80

5.1. Características gerais da amostra................................................................80

5.2. Análise univariada........................................................................................ 82

5.3. Análise multivariada......................................................................................100

6. DISCUSSÃO......................................................................................................107

6.1. Dimensionamento da amostra......................................................................107

6.2. Caracterização da população excluída do saneamento.............................113

6.2.1. Variáveis de saneamento..............................................................................113

6.2.1.1. Abastecimento de água..............................................................................113

a) Origem da água...................................................................................................113

b) Reservatório domiciliar.......................................................................................114

c) Intermitência no fornecimento de água...............................................................115

6.2.1.2. Esgotamento sanitário...............................................................................116

6.2.1.3. Resíduos sólidos........................................................................................117

6.2.1.4. Drenagem pluvial.......................................................................................120

6.2.1.5. Presença de vetores..................................................................................121

6.2.1.6. Hábitos higiênicos......................................................................................122

6.2.2. Variáveis de estrutura familiar e nível socioeconômico................................123

6.2.3. Variáveis relacionadas com a saúde............................................................126

6.3. Análise comparativa da aplicabilidade dos indicadores de saúde...........129

6.3.1. Indicador morbidade por diarréia..................................................................133

- -

viii

6.3.2. Indicador estado nutricional – desnutrição....................................................134

6.3.3. Indicador infecção por protozoários – protozoose........................................136

6.3.4. Indicador infecção por helmintos – helmintíase............................................137

6.3.5. Indicador Infecção por enteropatógenos de transmissão feco-oral..............138

6.3.6. Indicador Infecção por enterobactérias patogênicas e piócitos fecais..........138

7. CONCLUSÃO....................................................................................................140

8. REFERÊNCIAS.................................................................................................144

9. ANEXOS............................................................................................................157

- -

ix

LISTA DE ILUSTRAÇÖES

Página

1 Simulação feco-oral de agentes patogênicos.................................................... 7 2 Sinergismo multifatorial na determinação das doenças diarréicas................... 25 3 Diagrama analítico do estudo........................................................................... 60 4 Curva da freqüência observada para um determinado índice antropométrico e

curva esperada para eutróficos...................................................................... 66

- -

x

LISTA DE GRÁFICOS

Página

1 Acesso à água potável e esgotamento sanitário nos países em desenvolvimento entre 1980-1990.................................................................... 2

2 Associação entre saneamento e saúde. Distribuição dos estudos segundo o

indicador de saúde............................................................................................ 10 3 Incidência de crimes violentos no aglomerado da Serra, no período de janeiro

a junho de 2002..................................................................................... 74 4 Número de entrevistas realizadas e número de material coletado em cada

área do estudo.................................................................................................. 80 5 Freqüência das pessoas que responderam ao questionário.............................81

- -

xi

LISTA DE TABELAS

Página

1 Simulação do efeito da eliminação de diferentes vias de transmissão sobre a incidência de uma enfermidade....................................................................... 7

2 Classificação ambiental das infecções relacionadas com a água................ 19 3 Doenças relacionadas com as excretas........................................................ 20 4 Mortalidade proporcional por doença diarréica aguda em menores de 5 anos

de idade no Brasil, em Minas Gerais e no município de Belo Horizonte, disponíveis para os anos apresentados....................................... 26

5 Principais infecções por helmintos................................................................... 42 6 Prevalência de desnutrição, no Brasil, por regiões e tipo,

1996............................................................................................................... 51 7 Doenças avaliadas pela pesquisa..................................................................... 62 8 Caracterização das três áreas de estudo, segundo freqüências de valores

das variáveis qualitativas que obtiveram o valor de p abaixo do limite correspondente ao nível de significância de 5%........................................... 83

9 Caracterização das três áreas de estudo, segundo freqüências de valores

das variáveis quantitativas que obtiveram o valor de p abaixo do limite correspondente ao nível de significância de 5%........................................... 87

10 Distribuição de freqüências das variáveis qualitativas que na comparação

das três áreas apresentaram os valores acima do limite correspondente ao nível de significância de 5%........................................................................... 88

11 Valores do qui-quadrado e p relativos à comparação das áreas CASE e

SASE com a área CACE, segundo variáveis selecionadas............................89 12 Caracterização das três áreas de estudo, segundo freqüências de respostas

a dez questões relativas a ocorrência de diarréia.......................... 91 13 Índices antropométricos obtidos para as crianças residentes nas três áreas

tomadas como unidade.................................................................................. 92 14 Caracterização das três áreas de estudo, segundo a classificação da

desnutrição infantil em graus e tipos de acordo com os índices antropométricos............................................................................................. 92

- -

xii

15 Comparação das três áreas de estudo, segundo a freqüência de diarréia e enteropatógenos associada aos piócitos fecais............................................. 93

16 Comparação das três áreas segundo a infecção múltipla por

protozoários.................................................................................................... 94 17 Comparação das três áreas de estudo, segundo a freqüência de valores da

variável indicadora de saúde, protozoários.................................................... 95 18 Comparação das três áreas de estudo, segundo a freqüência de valores da

variável indicadora de saúde, helmintos........................................................ 96 19 Comparação das três áreas de estudo, segundo a freqüência da infecção

concomitantes de helmintos e protozoários....................................................97 20 Comparação das três áreas de estudo, segundo a freqüência de valores da

variável enterobactérias patogênicas..............................................................98 21 Comparação das três áreas de estudo, segundo a freqüência de valores da

variável enterobactérias não patogênicas.......................................................99 22 Comparação das três áreas de estudo, segundo a freqüência de infecção por

patógenos de transmissão feco-oral...............................................................100 23 Razões de prevalência relativas à comparação das áreas CASE e SASE

com a área CACE, segundo variáveis relacionadas com a parasitose..........100 24 Variáveis utilizadas pelos modelos de regressão logística no ajustamento da

comparação da prevalência dos indicadores de saúde, por subgrupos funcionais..........................................................................................................101

25 Razões de probabilidade, ajustadas e não ajustadas e respectivos intervalos

de confiança obtidos na comparação das áreas CASE e SASE com a área CACE, segundo a prevalência de sete indicadores de saúde, conforme cinco subgrupos de variáveis utilizadas no ajustamento............... 103

26 Modelo final de ajustamento das razões de probabilidade obtido na comparação das áreas CASE e SASE com a área CACE, segundo os indicadores de saúde selecionados................................................................105

27 Variáveis remanescentes no modelo final da análise multivariada de cada indicador............................................................................................................... 105

28 Poder da amostra.............................................................................................109

29 Análise comparativa dos indicadores de saúde............................................. 131

- -

1

CAPÍTULO I

1. INTRODUÇÃO

O reconhecimento da importância do saneamento e de sua associação

com a saúde remonta as mais antigas culturas. No decorrer dos séculos, as

práticas sanitárias coletivas foram sendo desenvolvidas pelas diversas

civilizações. Entre o final do século dezenove e início do século vinte, a “revolução

sanitária” desempenhou, nos países hoje denominados desenvolvidos, um papel

fundamental na redução das doenças infecciosas (BRISCOE et al., 1986).

As melhorias nas condições sanitárias foram consideradas, a partir dessa

época, importante arma na luta contra as doenças. Muitos dos benefícios para a

saúde pública, nesses países, foram atribuídos às intervenções realizadas em

saneamento. Assumiu-se, portanto, que as melhorias nas condições de

abastecimento de água e esgotamento sanitário teriam um papel semelhante na

redução das altas taxas de mortalidade e morbidade por doenças infecciosas

prevalentes na maioria dos países em desenvolvimento.

Essa concepção foi responsável pela decretação do período de 1981-

1990 como a Década Internacional do Abastecimento de Água e do Esgotamento

Sanitário, pela Organização das Nações Unidas, passando a serem incluídas, nos

programas de atenção à saúde, as intervenções em saneamento (BRISCOE,

1987). Foi assim estabelecida, em 1977, a meta de fornecer água potável a toda

população mundial até 1990 (CAIRNCROSS & FEACHEM, 1990).

Conseqüentemente, houve um aumento do acesso aos serviços de

saneamento. Mas, apesar de ter sido um aumento significativo, foi insuficiente,

por não acompanhar o crescimento populacional, que ocorreu de forma rápida,

principalmente nas áreas urbanas dos países em desenvolvimento.

Dados do Banco Mundial demonstram que, apesar da percentagem da

população urbana com acesso a água tratada e com esgotamento sanitário ter

aumentado cerca de 80% e 50%, respectivamente, entre 1980 a 1990, o número

de habitantes sem abastecimento de água permaneceu praticamente o mesmo e

- -

2

o número de pessoas sem instalações sanitárias adequadas aumentou cerca de

70 milhões, nesse período, nos países em desenvolvimento (Gráfico 1) (WORLD

BANK, 1992).

Gráfico 1 - Acesso à água potável e esgotamento sanitário nos países em desenvolvimento entre 1980-1990. Fonte: WORLD BANK, 1992.

Portanto, as melhorias em saneamento não atingiram a uma vasta

maioria da população mundial, que permanece ainda hoje isolada dos benefícios

do desenvolvimento e sob condições ambientais e socioeconômicas responsáveis

pelos altos índices de morte, doenças e incapacidade, quase sempre associados

à pobreza (CAIRNCROSS & FEACHEM, 1990).

No futuro próximo, não se projeta que o atendimento universal dos

serviços de saneamento à população será uma realidade. As atuais políticas

públicas de saneamento devem considerar a real possibilidade de que o número

de não-servidos pode aumentar substancialmente, enquanto os recursos hídricos

são comprometidos, tanto pelo aumento da demanda de água quanto pela

disposição inadequada dos esgotos gerados.

Essa situação de crescente pressão ambiental é responsável pela

perpetuação de ambas as situações - insuficiência e ineficiência de serviços de

saneamento - na maioria das áreas urbanas dos países em desenvolvimento.

No Brasil, o processo de urbanização foi responsável pela ocupação

irregular e desordenada da periferia dos centros urbanos. A mudança do perfil de

uma sociedade tipicamente rural para uma sociedade industrial urbana ocorreu

0

0,5

1

1,5

2

1980 1990 1980 1990 1980 1990 1980 1990

com acesso

sem acesso

Água

Urbana

Água

Rural Esgoto Urbano

Esgoto

Rural

- -

3

não somente pela perspectiva da elite agrária de se beneficiar das melhorias

advindas do processo de industrialização que se desenvolvia nas cidades, mas

também pela falta de perspectiva da maioria da população rural de obter ou

manter a propriedade das terras em que trabalhavam.

Essa parcela pobre da população rural, atraída para os centros urbanos

na busca de melhores condições de vida, passou a ocupar a periferia das

cidades, constituindo as favelas, zonas precariamente urbanizadas que, na

maioria das vezes, permaneceram isoladas dos benefícios do desenvolvimento e

desprovidas de condições básicas de saneamento.

Ao se considerarem as estimativas de que em 2030 a população urbana

mundial será o dobro da população rural e de que as cidades dos países em

desenvolvimento apresentarão um crescimento de 160%, ao passo que a

população rural crescerá apenas 10% neste período (WORLD BANK, 1992), é

legítimo supor que a situação de carência de serviços de saneamento terá

continuidade, acarretando maior exclusão e aprofundamento da pobreza. Tal

situação gerará maiores impactos ambientais, sociais e econômicos, que

freqüentemente se inter-relacionam, impondo sérios problemas de saúde a essas

populações.

Necessita-se portanto conhecer, identificar e caracterizar a parcela da

população excluída do acesso ao sistema público e as alternativas adotadas para

suprir a carência de serviços de saneamento, os impactos gerados e os riscos

aos quais está exposta, objetivando subsidiar a interrupção desse ciclo de

manutenção do processo de exclusão ao saneamento, social e à saúde.

Note-se que as tentativas de compensar a ausência de serviços coletivos

de saneamento geram impactos ambientais, indissociáveis dos impactos sociais,

e deixam uma lacuna a ser preenchida quanto ao conhecimento sobre o impacto

na saúde.

1.1. A exclusão sanitária e os impactos ambientais

Os impactos ambientais estão relacionados com a disposição inadequada

dos esgotos e com a tentativa de compensar a falta de abastecimento de água

pelo sistema público (BRISCOE, 1993). Ambas as situações causam um dano

- -

4

ambiental que é mais facilmente detectado com o crescente estado de poluição

dos corpos d’água que recebem contribuição dos esgotos gerados pela população

dos núcleos urbanos.

Outra situação claramente visível de degradação ambiental e que expõe

a população a sérios problemas de saúde é a disposição dos esgotos a céu

aberto, nas áreas urbanas destituídas de rede de esgotamento sanitário.

HELLER (1995, 1999), estudando a associação de diarréia em crianças

menores de cinco anos e cenários de saneamento, encontrou um risco relativo1

de 2,74 (IC 95%, 2,27 – 3,32) quando essas eram expostas ao esgoto escoando

na rua, significando que as crianças expostas aos esgotos a céu aberto

apresentavam 2,74 vezes mais chances de desenvolver diarréia que as crianças

não expostas a essa situação de ausência de saneamento.

A contaminação das águas subterrâneas é menos visível, mas pode ser

um problema tão crítico quanto à poluição dos mananciais de superfície, seja

porque o movimento de água no aqüífero é lento, levando décadas para que

ocorra a sua contaminação, seja porque um grande número de pessoas

residentes na periferia das cidades utiliza-se dos mananciais subterrâneos, na

tentativa de compensar a falta do sistema público de abastecimento de água

(BRISCOE, 1993).

BRISCOE (1993) relata que, onde a prática de perfuração de poços é

largamente utilizada, o bombeamento excessivo dos aqüíferos pode levar à

erosão dos terrenos, causando danos às propriedades, à pavimentação das ruas

e aos encanamentos da rede de esgotos e de água.

1.2. A exclusão sanitária e os impactos econômicos

Na ausência dos serviços públicos de esgotamento sanitário, os esgotos

são dispostos inadequadamente, com conseqüente poluição dos mananciais

utilizados como fonte de abastecimento de água. O aumento da poluição dos

corpos de água, associado ao aumento do consumo de água e à geração de

1 Risco Relativo (RR) ou Razão de Incidências é uma medida de associação que expressa uma comparação

matemática entre o risco de adoecer em um grupo exposto a um fator qualquer e o risco correspondente em

um grupo não exposto ao mesmo fator. O risco relativo indica quantas vezes é mais freqüente o dano nos

expostos (que têm o fator de risco) do que nos não expostos.

- -

5

esgotos pela população já servida pelo sistema público, cria uma situação cada

vez mais crítica de degradação dos recursos hídricos, levando a um aumento do

custo para a obtenção de água em mananciais menos poluídos, portanto mais

distantes dos centros urbanos e, também, um aumento dos gastos com a

potabilização da água.

Uma análise dos custos de obtenção de água bruta nas áreas urbanas,

realizada pelo Banco Mundial, demonstra que os custos dos projetos futuros

serão, na maioria dos casos, o dobro e, em alguns casos, o triplo dos custos

atuais (WORLD BANK, 1992).

Considerando características urbanísticas da ocupação da periferia das

cidades, como a indisponibilidade de espaço entre as moradias, e as

características geológicas dos terrenos, que em alguns casos dificultam a adoção

de soluções estáticas de disposição de esgotos, o aumento da população não

servida pelo sistema público de esgotamento sanitário na periferia das cidades

pode causar um aumento dos esgotos dispostos inadequadamente, aumentando

o potencial poluidor dos centros urbanos, bem como os custos do tratamento de

água.

1.3. A exclusão sanitária e os impactos sobre a saúde

Os benefícios para a saúde pública resultantes das melhorias nos

sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário são significativos.

Quando esses serviços foram implantados nos países desenvolvidos, nos séculos

XIX e XX, o impacto sobre a saúde foi revolucionário (BRISCOE, 1987, 1993).

Na França, a expectativa de vida aumentou de 32 anos em 1850, para 45

anos em 1900. No Estado de Massachusetts (Estados Unidos), houve um declínio

de 80% na taxa de mortalidade por febre tifóide, nas cidades que passaram a

tratar a água para abastecimento doméstico e diminuíram a parcela da população

sem acesso ao abastecimento de água (BRISCOE, 1993; HELLER, 1995, 1997).

Atualmente, estima-se que cerca de dois milhões de crianças não morreriam a

cada ano se toda a população mundial recebesse água tratada e tivesse

instalações sanitárias adequadas (FRIEDMAN-HUFFMAN & ROSE, 1998).

- -

6

Portanto, a infra-estrutura sanitária deficiente desempenha uma nítida

interface com a situação de saúde e com as condições de vida das populações

dos países em desenvolvimento, onde as doenças infecciosas continuam sendo

uma importante causa de morbidade e mortalidade. A prevalência dessas

doenças constitui um forte indicativo da fragilidade dos sistemas públicos de

saneamento (DANIEL, 2001).

O estudo dessa situação, assim como seu enfrentamento, apresenta-se

como um desafio de grande complexidade em decorrência das seguintes

situações:

Primeiro, há a necessidade de se conhecerem e detectarem os fatores

determinantes e condicionantes do ambiente que interferem na saúde do homem,

para recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças.

Portanto, são necessárias informações sobre os fatores de risco existentes.

Segundo, há necessidade de se intervir em saneamento, implementar

ações de educação sanitária e promover a melhoria das condições de vida para

que mudanças no estado de saúde das populações possam ocorrer.

Para tanto, é essencial que na definição de prioridades de intervenção e

na alocação dos recursos públicos para a promoção da saúde coletiva, os fatores

de risco presentes no meio ambiente sejam considerados. Entende-se, risco,

como a probabilidade de um evento ocorrer, conceito este derivado da teoria das

probabilidades elaborada na França do século XVII. O conceito de risco está

associado ao potencial de perdas e danos e de magnitude das conseqüências

(FREITAS & GOMEZ, 1997).

A avaliação dos fatores de risco para o desenvolvimento de doenças é

realizada por meio de estudos epidemiológicos que utilizam indicadores de saúde

e podem se constituir em uma importante ferramenta para subsidiar os processos

decisórios para o controle e prevenção de doenças.

Embora estudos epidemiológicos já realizados permitam afirmar que as

intervenções em abastecimento de água e esgotamento sanitário provocam

impactos positivos sobre indicadores de saúde, a generalização desses

resultados a realidades diversas não é exeqüível, seja pela interveniência de

variáveis demográficas, comportamentais, culturais, sociais e econômicas na

relação saúde e saneamento, seja pela dependência de realizações de ações

- -

7

ambientais sinérgicas para a eliminação das vias de transmissão de várias

doenças infecciosas (Figura 1 e Tabela 1).

Organismos Transmitidos (%)

Via A 70 Infectados Via B Susceptíveis 28 Via C 02

Figura 1 - Simulação feco-oral de agentes patogênicos. Fonte: BRISCOE (1997).

Tabela 1 - Simulação do efeito da eliminação de diferentes vias de transmissão

sobre a incidência de uma enfermidade.

Vias de Exposição Organismos que

continuam transmitindo (%)

Casos que continuam ocorrendo (%)

1. Vias A + B + C 100 100

2. Eliminação unicamente da via A 30 74

3. Eliminação da via B, mantendo a via A 72 93

4. Eliminação da via B, após a eliminação

da via A

2 15

Fonte: BRISCOE (1997).

Devido a essa multiplicidade de fatores, somente estudos

epidemiológicos direcionados para uma realidade específica e que utilizem

indicadores capazes de refletir a saúde, como uma resposta complexa às

condições gerais de vida, podem estabelecer os riscos sobre a saúde aos quais

estão expostas as diferentes populações.

1.4. Indicadores de saúde

A mensuração das condições de vida e de saúde persiste um desafio. A

saúde deve ser pensada como uma resultante das relações entre as variáveis

ambientais, sociais e econômicas que pressionam as condições e a qualidade de

vida.

- -

8

Portanto, em toda análise da situação de saúde, os indicadores básicos

de desenvolvimento humano assumem uma importância fundamental, pois

documentam as condições de vida da população e dimensionam o espaço social

em que ocorrem as mudanças no estado de saúde (OPAS, 1998). São esses

indicadores que refletem o nível socioeconômico e as diferenças sociais entre os

grupos populacionais que determinam o processo de doença.

O modelo “FPEEEA” – Forças condutoras (forças motrizes), Pressões,

Estado, Exposição, Efeitos e Ações (BRIGGS et al., 1996; BORJA & MORAES,

2000), proposto pela Organização Mundial da Saúde, como estrutura conceitual

Desenvolvimento - Meio Ambiente - Saúde, facilita o entendimento da relação

entre o desenvolvimento e a degradação das condições de saúde em função da

degradação das condições ambientais. Esse modelo revela a necessidade de se

integrarem às avaliações dos fatores de risco ambientais para a saúde das

populações com o desenvolvimento e com a implementação de ações e

processos decisórios das políticas públicas. Permite a formulação de indicadores

para cada etapa da estrutura conceitual, facilitando a compreensão das ações

que podem ser aplicadas em cada uma das etapas, como também facilita o

entendimento das inter-relações entre elas.

Utiliza-se, a seguir, desse modelo para o entendimento dos

determinantes do processo de doença, em áreas de exclusão sanitária.

As forças condutoras são representadas pelo processo de urbanização

associado ao modelo de desenvolvimento econômico desigual e ao crescimento

populacional, responsáveis pela ocupação da periferia dos centros urbanos. A

falta de políticas de urbanização, de saneamento e de uso e ocupação do solo

transformaram essas áreas em zonas de urbanização precárias, constituindo as

vilas e favelas destituídas das condições básicas de saneamento.

As vilas e favelas e áreas sem saneamento demandam todo tipo de infra-

estrutura: sistemas de abastecimento de água, de esgotamento sanitário, de

coleta e disposição adequada dos resíduos sólidos, de drenagem de águas

pluviais e de habitação, resultando numa pressão sobre o ambiente natural e

construído.

Essas áreas causam um estado de deterioração ambiental medido pelo

grau de poluição e contaminação dos ambientes de domínio público e do

- -

9

domicílio. O que expõe a população a vários fatores de risco, que causam um

efeito deletério sobre a saúde, evidenciado pelo aumento da morbidade e

mortalidade por doenças relacionadas com a ausência de saneamento.

Esses efeitos sobre a saúde da população são avaliados por meio de

indicadores de saúde.

A construção de um sistema de indicadores que incorpore todas as

nuances do processo saúde-doença é uma tarefa complexa. Conseqüentemente,

os indicadores de saúde freqüentemente utilizados para avaliar o nível de saúde

da população são constituídos de dados de “não-saúde”, ou seja, informações

sobre as doenças e morte. Deve-se considerar que esses indicadores refletem a

etapa final da cadeia Desenvolvimento – Meio Ambiente - Saúde e as ações que

atuam nas etapas iniciais do processo saúde-doença, ou seja, sobre as forças

condutoras e sobre a situação de pressão, entre elas a melhoria da infra-estrutura

sanitária, são as mais importantes para a promoção da saúde.

Avaliar o impacto das intervenções em saneamento sobre a saúde requer

indicadores de saúde específicos. Para obter esses indicadores, é necessária a

consideração conjugada de diversos fatores, como as condições ambientais, as

variáveis demográficas, comportamentais, culturais, sociais e econômicas, o grau

de sinergia das ações ambientais adotadas para a eliminação das vias de

transmissão de doenças infecciosas e os efeitos diretos e indiretos das

intervenções sanitárias sobre a saúde.

No processo de construção de indicadores de saúde para a avaliação de

intervenções em saneamento, é fundamental, para a qualidade da informação

gerada pelo indicador, a associação da relação entre saúde e a ausência de

saneamento. As doenças infecciosas, sobretudo de transmissão feco-oral,

realizam o balizamento dessa relação. Portanto, os indicadores de saúde

utilizados na avaliação de impacto das intervenções em saneamento devem

possibilitar a quantificação da saúde sob o ponto de vista sanitário, ou seja,

devem refletir o risco de exposição a doenças infecciosas de transmissão feco-

oral.

Indicadores epidemiológicos têm sido buscados em diversos trabalhos

científicos relacionados ao saneamento (Gráfico 2).

- -

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Gráfico 2 – Associação entre saneamento e saúde. Distribuição dos estudos segundo o indicador de saúde.

Fonte: Heller, 1997.

O mais utilizado deles, o indicador diarréia (HELLER, 1997), não é,

contudo, suficientemente específico, uma vez que diarréia em si não é uma

doença, mas uma manifestação comum a várias condições clínicas e de variadas

etiologias, que desencadeiam mecanismos fisiopatológicos diversos na mucosa

intestinal. Os estudos epidemiológicos que a utilizam como indicador podem não

refletir devidamente a realidade investigada, o que pode subestimar o risco de

exposição.

Observa-se também, que os estudos não contemplam a associação e

comparação dos indicadores de saúde utilizados quanto à qualidade da

informação gerada na avaliação de um fenômeno real com o auxílio de métodos

estatísticos.

Considerando estas limitações e as lacunas existentes na literatura, o

presente trabalho analisa a utilização de um novo indicador para avaliar a relação

saúde e saneamento, que possibilite a identificação direta do microrganismo

infeccioso, com comprovado efeito patológico. A proposta desse indicador tem o

objetivo de refletir o caráter patológico da presença do agente infeccioso na luz

intestinal. Pois, sabe-se que apenas em função dos determinantes de

patogenicidade, determinados organismos invadem a mucosa intestinal

- -

11

desencadeando o processo patológico, que na maioria das doenças relacionadas

com o saneamento manifesta-se como diarréia. Portanto, potencialmente é um

indicador mais específico da relação saúde e saneamento. Tal indicador foi

denominado de “presença de patógenos entéricos associada a constituintes

patológicos intestinais” e é formado associando-se ao isolamento de

enteropatógenos um marcador de patogenicidade, os piócitos fecais. Portanto,

necessita de técnicas laboratoriais de exame coprológico para sua formação.

Previu-se também, a utilização em conjunto dos indicadores de saúde

classicamente recomendados: morbidade por diarréia, presença de parasitoses

intestinais e estado nutricional, objetivando, na avaliação de uma mesma

realidade, a comparação entre esses indicadores quanto à possibilidade de

detectar o risco para a saúde, quando este realmente existir, à sensibilidade e

especificidade à avaliação do impacto de ações de saneamento, ao tamanho da

amostra requerida, à eficácia de utilização, medida pela relação custo/tempo

dispendido para a realização dos estudos, e, finalmente, à possibilidade de

identificação direta do microrganismo infeccioso com comprovado efeito

patológico.

Acredita-se que, ao se estudarem os excluídos dos serviços públicos de

abastecimento de água e de esgotamento sanitário, sob o ponto de vista das

práticas empregadas por essas populações na tentativa de compensar a ausência

de saneamento e os impactos gerados, estar-se-á abrindo um parêntese nos

dados estatísticos que se referem a essas populações apenas como um

percentual de não atendidos por estes serviços.

Pretende-se, portanto, fornecer subsídios para o conhecimento da

realidade específica dessas populações, realidade esta que pode ser

generalizada para a maioria das periferias dos grandes centros urbanos, onde

predomina a exclusão sanitária, social, econômica e de saúde.

- -

12

CAPÍTULO II

2. OBJETIVOS E HIPÓTESES

2.1. Objetivo Geral

O presente trabalho, por meio da realização de um estudo epidemiológico

tipo quase-experimental, objetivou avaliar o risco para a saúde de populações que

residem em áreas destituídas de serviços de abastecimento de água e

esgotamento sanitário na cidade de Belo Horizonte, empregando um conjunto de

indicadores de saúde.

2.2. Objetivos Específicos

Conhecer e caracterizar a parcela da população excluída do acesso ao

sistema público de abastecimento de água e esgotamento sanitário;

Mensurar e identificar os riscos para a saúde aos quais estão expostas;

Identificar as soluções de abastecimento de água e esgotamento sanitário

espontaneamente adotadas;

Avaliar em campo a aplicabilidade dos indicadores de saúde;

Comparar os indicadores dentre critérios definidos;

Testar e comparar a utilização da presença de patógenos entéricos

associada a constituintes patológicos intestinais (piócitos fecais);

2.3. Hipóteses

Pretendeu-se testar as seguintes hipóteses:

- -

13

Morar em áreas destituídas de serviços públicos de abastecimento de água

e esgotamento sanitário pode se constituir em um fator de risco para a

saúde;

As soluções adotadas, pela população, para suprir as carências dos

serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, podem

aumentar os riscos para a saúde dessa população;

É possível recomendar um indicador ou indicadores de saúde mais

adequados para avaliar os riscos para saúde da ausência de saneamento;

A “presença de patógenos entéricos associada a constituintes patológicos

intestinais” pode se constituir em um indicador de saúde para os estudos de

avaliação do impacto das intervenções em saneamento.

- -

14

CAPÍTULO III

3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1. Doença como processo e a causalidade múltipla

A doença tem sido definida como um “desajustamento ou falha nos

mecanismos de adaptação do organismo ou uma ausência de reação aos

estímulos a cuja ação está exposta. O processo conduz a uma perturbação da

estrutura ou da função de um órgão, ou de um sistema ou de todo o organismo ou

de suas funções vitais” (JÉNICEK & CLÉROUX, 1982).

Mas, antes que a estrutura do organismo seja perturbada, outros fatores

são necessários para a origem da condição de doença: fatores hereditários,

socioeconômicos e do meio ambiente podem criar estímulos patogênicos muito

antes que o homem e o agente etiológico se interajam para produzir a doença.

Portanto, a doença não deve ser compreendida como uma entidade

estática e sim um processo, que se inicia bem antes que o próprio organismo do

homem seja afetado.

A história natural da doença (LEAVELL & CLARK, 1977) divide as

diversas causas que determinam o processo de doença em dois períodos

seqüenciados denominados de período pré-patogênico e período patológico. A

abrangência dos dois períodos resulta em dois domínios interagentes,

consecutivos e mutuamente exclusivos: o meio ambiente, onde ocorre as pré-

condições sociais, econômicas e culturais, para o desencadeamento da doença e,

o meio interno do organismo, local onde se processa as alterações patológicas

próprias de uma determinada enfermidade (ROUQUAYROL & ALMEIDA FILHO,

1999).

Para LEAVELL & CLARK (1977) o período pré-patogênico é a evolução

das inter-relações dinâmicas envolvendo os condicionantes socioeconômicos e

ecológicos e as condições intrínsecas do sujeito, até o estabelecimento de uma

configuração de fatores que sejam propícios à instalação da doença. O período

- -

15

patogênico abrangeria as alterações bioquímicas, fisiológicas e morfológicas, que

ocorrem no interior do organismo humano, em decorrência do estímulo

patológico.

A distribuição das doenças nos grupos humanos pode ser melhor

compreendida se as múltiplas causas que influenciam as relações agente,

hospedeiro e meio ambiente forem consideradas e não somente, as causas que

agem no o organismo determinando o estado de doença.

Por conseguinte, a adoção do conceito de causalidade única, instituído

com advento da era bacteriológica, no entusiasmo pelo isolamento dos agentes

etiológicos, negando as causas relacionadas com o hospedeiro e o meio

ambiente, que se processam externamente ao organismo humano, não é

razoável.

Mesmo as doenças transmissíveis não podem ser explicadas com base

puramente bacteriológica. Pois tal explicação omite completamente o fato que os

dois organismos envolvidos – susceptível e o agente infeccioso se interagem e

sofrem a ação de forças externas.

A descrição das causas não bacteriológicas da cólera e a sua prevenção

e controle foi realizado por SNOW (1967), vinte e oito anos antes da descoberta

do Vibrio cholerae (LILIENFELD & STOLLEY, 1994).

A causalidade múltipla considera doença como o resultado de um

processo de interativo de múltiplas determinações sinérgicas. A estruturação dos

seus determinantes, no período pré-patogênico, contribui para a configuração dos

estados de risco para o desenvolvimento de doenças. Dentre os determinantes da

doença cita-se:

Determinantes econômicos: verifica-se a existência de uma

associação inversa entre capacidade econômica e doença. Grupos sociais

economicamente privilegiados são pouco sujeitos a vários tipos de

doenças cuja incidência é elevada nos grupos economicamente

desprivilegiados. A maioria das doenças infecciosas ou transmissíveis se

associa à pobreza e ao subdesenvolvimento (ALMEIDA FILHO &

ROUQUAYROL, 1992);

Determinantes culturais: inclui preconceitos, hábitos alimentares,

crendices e comportamentos;

- -

16

Determinantes ambientais: inclui todos os fatores relacionados com

o ambiente físico, como ambiente biológico, e com o ambiente social sede

das interações sociais, políticas, econômicas e culturais. O componente

social associado às conjunturas econômicas, políticas e ideológicas

condiciona uma dada situação de vida e um agravamento do estado de

saúde de populações. Incluem-se, nesse determinante, tanto os fatores

naturais do ambiente como também, os fatores agregados artificialmente

pela ação do homem a partir dos processos de urbanização e

industrialização;

Determinantes biológicos: são os agentes etiológicos, os vetores

biológicos e os reservatórios das doenças;

Determinantes psicossociais: como a marginalidade; ausência de

relações parentais estáveis; falta de apoio no contexto social em que vive o

indivíduo; transtornos econômicos, sociais e pessoais; falta de cuidados

maternos na infância; violência urbana e desemprego.

Os determinantes físicos, socioeconômicos e biológicos fornecem

reservatórios, fontes e modos de transmissão de agentes etiológicos e ainda

influenciam os hábitos, costumes, personalidades e mecanismos de defesa do

hospedeiro humano.

Esses são conceitos epidemiológicos necessários para os propósitos

preventivos das ações de saneamento. Pois, é baseado nesses conceitos que as

ações preventivas são divididas em:

Prevenção Primária – Compreende as ações de promoção à saúde,

realizadas no período pré-patogênico. Área de atuação da engenharia de

saúde pública.

Prevenção Secundária - Inclui as ações instituídas no período

patológico. Área de atuação da medicina.

O entendimento da existência do sinergismo multifatorial, na história

natural das doenças, é importante, mas, não deve esconder a causa mais

profunda da diferença entre as condições de saúde dos ricos e dos pobres, que

reside na imensa desigualdade social.

Metade da população mundial é pobre, sobrevivendo com menos de dois

dólares por dia. Segundo a Organização Mundial da Saúde, em 1980, 80% da

- -

17

morbidade total dos países em desenvolvimento foi devida aos sistemas de

saneamento deficientes. No ano de 1990, a desnutrição foi responsável por 15%

dos óbitos, ocorridos nesses países e a deficiência conjunta de saneamento e

práticas de higiene por 8% (MARA, 2000).

No Brasil, ocorreram 890.000 internações por doenças infecto-parasitárias

no ano de 2000, 60% destas internações, mais de meio milhão, estavam

relacionadas ao saneamento inadequado. Entre os anos de 1996 a 1999

ocorreram 17.719 óbitos em menores de um ano, em decorrência das doenças

diarreicas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).

Diante desses dados, há a necessidade de perguntar o que os

profissionais de medicina e engenharia de saúde pública podem fazer para

melhorar a saúde dessa parcela da população e porque as políticas públicas não

investem em melhorias sanitárias para a promoção da saúde.

As respostas a essas perguntas não podem se perder num debate sem fim

sobre tecnologias e epidemiologia, até porque já se sabe o suficiente sobre isso

(MARA, 2000).

Não se discute mais, que o baixo nível socioeconômico, a deficiência dos

sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário, a precariedade das

práticas de higiene doméstica e pessoal, a disposição inadequada dos resíduos

sólidos, a presença da desnutrição protéico-calórica são fatores predisponentes e

facilitadores do desenvolvimento de doenças.

Diversos estudos epidemiológicos de avaliação do impacto do ambiente

sobre a saúde já constataram a importância desses determinantes no processo

saúde-doença (BLUM & FEACHEM, 1983; BRISCOE, 1984; ESREY et al., 1985;

CVJETANOVIC, 1986; ESREY & HABICHT, 1986; CAIRNCROSS, 1989; DANIEL

et al., 1989; ESREY et al., 1990; HUTTLY, 1990; ESREY et al., 1990; WIBOWO &

TISDELL, 1993; HELLER, 1995; MORAES, 1996; ESREY, 1996; HELLER, 1998).

A resposta a essas questões deve passar pela necessidade de convencer

os governos a investirem em saneamento, a diminuírem a exclusão sanitária,

social e de saúde.

Para tanto, é conveniente que os profissionais de engenharia de saúde

pública, primeiramente, conheçam os conceitos de causalidade múltipla, história

natural das doenças, os mecanismos de transmissão das doenças infecciosas, as

- -

18

formas de controle e prevenção. Posteriormente, sejam capazes de adotarem

medidas sanitárias para o controle das doenças que sejam de baixo custo,

adequadas, sustentáveis e apropriadas sócio-culturalmente pela população

beneficiada.

3.2. Classificação ambiental das doenças infecciosas

O enfoque da engenharia de saúde pública é a realização de ações que

modifiquem as condições ambientais de risco para a saúde.

Para que essas ações possam ser bem sucedidas na melhoria das

condições de saúde das comunidades, é importante para esses profissionais uma

classificação das doenças infecciosas em categorias relacionadas com os

aspectos ambientais e com as estratégias mais adequadas para a prevenção e

controle dos mecanismos de transmissão. Além disso, forneça dados sobre as

formas de transmissão, sobre as características ambientais dos agentes

infecciosos, mecanismo de reprodução e sobrevivência no meio ambiente para

subsidiar as medidas de prevenção tornando-as mais específicas, adequadas e

indicadas para o controle das doenças de interesse.

As doenças, sob o ponto de vista do mecanismo etiológico subjacente,

pertencem a duas categorias: doenças infecciosas e não-infecciosas. As

primeiras são as relacionadas às intervenções em saneamento.

CAIRNCROSS e FEACHEM (1990) definem doença infecciosa como

aquela causada por organismos vivos, como bactérias, vírus ou parasitas sendo a

doença transmitida de uma pessoa para a outra.

Doença infecciosa segundo a Organização Panamericana de Saúde (1983)

é a “doença clinicamente manifesta do homem ou dos animais, resultante de uma

infecção”. Dá-se o nome de infecção à penetração e desenvolvimento ou

multiplicação de um agente infeccioso no organismo de uma pessoa ou animal.

As doenças infecciosas são fenômenos multicausais decorrentes da

existência de (SCHECHTER & MARANGONI, 1998):

a) um agente infeccioso em número suficiente;

b) uma via de acesso ao hospedeiro;

- -

19

c) uma porta de entrada;

d) um hospedeiro susceptível.

Deve ser diferenciada do termo infestação, de pessoas e ou animais, que

se refere ao alojamento, desenvolvimento e reprodução de artrópodes na

superfície do corpo ou nas vestes (ROUQUAUAROL & ALMEIDA FILHO, 1999).

A primeira classificação ambiental realizada para as doenças infecciosas

relacionadas com a água foi desenvolvida por White, Bradley e White, em 1972

(MARA & FEACHEM, 1999). Essa classificação apresentava quatro categorias:

a) doenças de veiculação hídrica;

b) doenças baseadas na água;

c) doenças relacionadas com insetos vetores e, introduziu uma importante

categoria:

d) “doenças relacionadas com a higiene”, identificada como aquela que tem

a transmissão facilitada pela quantidade insuficiente de água para a higiene

doméstica e pessoal.

FEACHEM (1975) modificou a classificação proposta por White, Bradley e

White agrupando em uma única categoria denominada de feco-oral, as doenças

de veiculação hídrica e relacionadas com a higiene. Excluiu-se dessa categoria as

infecções da pele e dos olhos (Tabela 2).

Tabela 2 - Classificação ambiental das infecções relacionadas com a água.

CATEGORIA INFECÇÃO

1. Feco-oral (transmissão hídrica ou relacionada com a higiene)

Diarréias e disenterias Disenteria amebiana Balantidíase Enterite campylobacteriana Cólera Diarréia por Escherichia coli Giardíase Diarréia por rotavírus Salmonelose Disenteria bacilar Febres Entéricas Febre tifóide Febre paratifóide Poliomielite Hepatite A Leptospirose Ascaridíase Tricuríase

- -

20

2. Relacionada com a higiene a) Infecção de pele e olhos b) Outras

Doenças infecciosas da pele Doenças infecciosas dos olhos Tifo transmitido por pulgas Febre recorrente transmitida por pulgas

3. Baseada na água a) Por penetração na pela b) Por ingestão

Esquistossomose Difilobotríase e outras infecções por helmintos

4. Transmissão por inseto vetor a) Picada próximo à água b) Procriam na água

Doença do sono Filariose Malária Arboviroses Febre amarela Dengue Leishmaniose

Fonte: CAIRNCROSS & FEACHEM (1990).

Posteriormente, FEACHEM et al. (1983) desenvolveram uma

classificação ambiental para as doenças relacionadas com os excretas

agrupando-as em cinco categorias (Tabela 3). Os autores utilizaram o mesmo

raciocínio desenvolvido para a classificação ambiental das doenças relacionadas

com a água, ou seja, as enfermidades são classificadas em função dos

mecanismos de transmissão (HELLER, 1997).

Tabela 3 - Doenças relacionadas com as excretas

Categoria Infecção

1. Doenças Feco-orais não bacterianas Enterobíase

Infecções Enteroviróticas

Heminolepíase

Amebíase, Giardíase

Balantidíase

2. Doenças Feco-orais bacterianas Febre tifóide e paratifóide, Salmoneloses

Disenteria bacilar

Cólera

Diarréia por E. coli

Enterite campylobacteriana

3. Helmintos no solo Ascaridíase

Tricuríase

Ancilostomíase

- -

21

4. Teníases Teníases

5. Helmintos Hídricos Esquistossomose e outras doenças provocadas

por helmintos

Fonte: FEACHEM et al. (1983); CAIRNCROSS & FEACHEM (1990).

MARA e ALABASTER (1995) introduziram uma sexta categoria na

classificação ambiental, “as doenças relacionada com os vetores roedores”,

controladas por práticas de higiene doméstica, coleta e disposição adequada dos

resíduos sólidos.

A maioria das doenças relacionadas com a água ou com os excretas é

comum as duas classificações. Reconhecendo esse fato, MARA e FEACHEM

(1999) propõem uma classificação ambiental única para essas doenças. Revisam

as classificações apresentadas anteriormente e acrescentam novos agentes

etiológicos denominados de patógenos emergentes, como: Helicobacter pylori,

Campylobacter jejuni, vírus da hepatite E e F, Escherichia coli O157, Vibrio

cholerae O139, Cryptosporidium parvum, dentre outros.

Os autores mantêm na classificação unitária as categorias “geo-

helmintos”, “teníase” e “doenças baseadas na água”. Nessa última categoria

foram incluídas novas doenças causadas por bactérias e fungos.

Essa classificação avança ao introduzir novas doenças e patógenos

relacionados com a água e com os excretas, ampliando o número de doenças

controláveis pelas intervenções em saneamento. Contudo, mantém a mesma

lógica das classificações anteriores para a divisão das categorias.

Uma lógica de classificação, diferente das anteriores, foi introduzida na

metodologia proposta para o desenvolvimento de uma classificação ambiental

para as doenças relacionadas com os resíduos sólidos (AZEVEDO et al., 2000).

MORAES (1996) afirma que a classificação ambiental das doenças tem

duas limitações. Primeira, há uma falta de conhecimento sobre a transmissão de

várias infecções, particularmente o número de microrganismos necessários para

infectar as pessoas suscetíveis. Segunda, a excreção de vírus, de bactérias e de

protozoários difere quantitativamente e não qualitativamente nas suas

características de transmissão, o que torna fácil de agrupá-los em uma categoria

uniforme que contenha a maioria das infecções.

- -

22

Pode-se acrescentar uma terceira limitação à classificação ambiental das

doenças infecciosas, a não adoção de um critério único para a divisão das

categorias. Observa-se:

a) As categorias “Feco-oral (transmissão hídrica ou relacionada com a

higiene)” e “Relacionadas com a higiene” - a classificação é realizada de

acordo com a via de entrada do agente infeccioso no organismo

susceptível;

b) As categorias “Helmintos do solo” (geo-helmintos) e “Teníases” –

classificam-se em função da necessidade de ocorrer uma fase

intermediária de desenvolvimento do bioagente no ambiente,

respectivamente, no solo e em um hospedeiro intermediário;

c) A categoria “Doenças baseadas na água” – inclui as doenças cujo

veículo de contaminação do bioagente patogênico é a água;

d) As categorias “Doenças relacionadas com vetores insetos e

roedores” – contém as doenças introduzidas no organismo susceptível por

ação ou com a contribuição de um vetor biológico infectado.

Algumas das doenças podem estar incluídas em mais de uma categoria,

pelas características que apresentam, o que pode dificultar a compreensão dos

mecanismos de transmissão dessas doenças e contribuir para subestimar o

impacto da adoção de medidas de saneamento. Não obstante, a classificação

ambiental das doenças infecciosas satisfaz a necessidade de se agrupar as

enfermidades privilegiando as medidas de controle baseadas nas intervenções

em saneamento.

Esforços devem ser realizados para se buscar uma classificação que

agrupe as categorias por um único critério que não cause dúvidas quanto aos

mecanismos de transmissão das doenças infecciosas. Por meio do conhecimento

de como ocorre o ciclo de transmissão no meio ambiente é que serviços de

saneamento poderão ser implantados para interrupção da transmissão dessas

doenças.

Ao considerar que (i) a microbiologia sanitária tem detectado novos

agentes etiológicos de doenças infecciosas, dentre esses alguns vírus entéricos

associados a doenças crônicas como o diabetes insulino-dependente e a

miocardiopatia (FRIEDMAN-HUFFMAN & ROSE, 1998); (ii) um novo modelo

- -

23

biológico de infecção foi descoberto por Stanley Prusiner (laureado com o prêmio

Nobel de Medicina de 1997), os príons2 isolados no lixo hospitalar (SCHECHTER

& MARANGONI, 1998); surgem novas perspectivas quanto aos agentes das

doenças infecciosas que podem ser transmitidos por via oral e, também quanto ao

tipo de doença que pode ser controlada pelas medidas de saneamento.

Apesar, da classificação ambiental das doenças infecciosas estar bem

estabelecida, novos conceitos e uma lógica de classificação que possa se

adequar às novas descobertas da microbiologia e às novas possibilidades das

ações de saneamento controlar a transmissão de agentes etiológicos de doenças

crônicas é um esforço a ser instituído.

3.3. Doenças Relacionadas com o Saneamento Inadequado

A maioria das enfermidades relacionadas com sistemas de abastecimento

de água e de esgotamento sanitário inadequados e incluídas nas denominações –

“feco-oral, transmissão hídrica ou relacionada com a higiene” e “geo-helmintos”,

respectivamente, as categorias A e C da classificação ambiental das doenças

infecciosas, proposta por MARA & FEACHEM (1999), tem uma fonte comum de

contaminação: fezes humanas, em água, em alimentos, nas mãos e,

freqüentemente em utensílios e apetrechos domésticos e no ambiente

peridomiciliar (WOLMAN, 1975; MORAES, 1996).

As doenças, incluídas na categoria A podem ser genericamente

denominadas de doenças diarréicas, devido à predominância desse sinal clínico

na sintomatologia apresentada durante o quadro de infecção. A presença das

enfermidades diarreicas, as helmintíases e a presença da desnutrição protéico-

calórica são classicamente reconhecidas como as doenças relacionadas à

deficiência dos serviços de saneamento.

Os determinantes ambientais dessas doenças já estão bem estabelecidos,

bem como, o efeito positivo das intervenções em saneamento na redução da

2 Prions são agentes infecciosos que não possuem ácido nucléico, consistem em pequenas proteínas. Portanto,

não são organismos vivos. As doenças causadas por prions apresentam a característica única de serem

hereditárias e ao mesmo tempo infecciosas.

- -

24

ocorrência dessas doenças tem sido comprovado por vários trabalhos com

metodologias diferentes realizados em diversos países.

Também, as medidas ambientais necessárias para a interrupção do ciclo

de transmissão das doenças relacionadas à deficiência dos serviços de

saneamento são claramente identificadas. Nas áreas precariamente urbanizadas,

medidas como a remoção do contato das pessoas com os excretas, o

fornecimento de água potável em quantidade suficiente para a prática de higiene

pessoal e doméstica, o preparo adequado dos alimentos, a coleta e disposição do

lixo e educação sanitária são essenciais para a melhoria do estado de saúde das

populações residentes nessas áreas (MORAES, 1996). Infelizmente, essas

medidas não estão ao alcance de toda a população, nos países em

desenvolvimento.

Os indicadores de saúde freqüentemente utilizados pelos estudos de

intervenção em saneamento sobre a saúde são aqueles que avaliam a

ocorrência, nas populações investigadas, das principais doenças relacionadas

com a ausência de saneamento (Gráfico 2) dentre elas, morbidade por diarréia,

helmintíase, protozooses e desnutrição.

3.3.1. Doenças Diarreicas

A diarréia é um sinal clínico predominante nas doenças relacionadas à

deficiência de saneamento. Portanto, o termo doenças diarreicas assume tal

relevância por incluir inúmeras enfermidades, de etiologias diversas, com nítida

interface com a infra-estrutura sanitária das comunidades (DANIEL, 2001).

A diarréia pode ser definida como um sinal clínico que consiste em

alteração do hábito intestinal caracterizada por aumento do número de

evacuações e ou diminuição da consistência das fezes devido à presença de

maior conteúdo fluido. Seu mecanismo fisiopatológico é a má-absorção e ou

secreção de água e eletrólitos havendo ou não má-absorção de nutrientes.

Há cerca de 27 anos, seus determinantes e a estrutura interativa dos

fatores que conduzem a doença e a mantém foram estabelecidos por BEHAR

(1975).

- -

25

Figura 2 – Sinergismo multifatorial na determinação das doenças diarreicas. Fonte: AMEILDA FILHO & ROUQUAYROL, 1992.

Não obstante, as diarréias agudas desencadeadas por um agente

infeccioso são causa importante de morbidade e mortalidade nos países em

desenvolvimento. Seus custos econômicos, sociais e humanos são consideráveis.

As crianças pobres dos países subdesenvolvidos têm em média, 50 a 60

dias de diarréia por ano. Aproximadamente 10% desses episódios são

complicados com a desidratação (VERONESSI & FOCACCIA, 1996;

SCHECHTER & MARANGONI, 1998). A desidratação decorrente da síndrome

diarreica permanece, ainda nos dias de hoje, como uma das mais importantes

causas de mortalidade infantil.

Em 1980, quase cinco milhões de crianças morreram devido à diarréia,

sendo 98,8% delas, na América Latina, na África e na Ásia (MOTA & PENNA,

2001).

Em 1990, houve uma redução do número de mortes, para 3,3 milhões por

ano. Porém a incidência manteve-se praticamente inalterada para 2,6 episódios

por criança, por ano. Nos últimos dez anos, observou-se a continuidade desse

- -

26

processo de redução da mortalidade mundial por diarréia aguda (WORLD

HEALTH ORGANIZATION, 1999). Atualmente, estima-se que dois milhões de

crianças não morreriam a cada ano, se toda a população mundial recebesse água

tratada e tivesse instalações sanitárias adequadas (FRIEDMAN-HUFFMAN &

ROSE, 1998; MARA & FEACHEM, 1999).

Apesar, dos avanços da saúde pública observados nas últimas décadas,

no Brasil, as doenças infecciosas intestinais foram responsáveis pela morte de

4.726 crianças menores de cinco anos, em 1997, correspondendo a 5,65% dos

óbitos ocorridos nessa faixa etária. A percentagem de óbitos atribuída à diarréia

aguda em menores de 5 anos para o Estado de Minas Gerais e para Belo

Horizonte foi, respectivamente, de 3,77% e 2,64%, no mesmo ano (MINISTÉRIO

DA SAÚDE, 1997) (Tabela 4).

Tabela 4 – Mortalidade proporcional por doença diarreica aguda em menores de 5 anos de idade no Brasil, em Minas Gerais e no município de Belo Horizonte, disponíveis para os anos apresentados.

LOCALIDADE ÓBITOS – TOTAIS ÓBITOS - DOENÇA

DIARRÉICA % DE ÓBITOS - D. DIARRÉICA

Brasil (1) Minas Gerais (1) Belo Horizonte

83.695 4.726 5,65 8.551 322 3,77

- 1994 1.962 181 - 1995 1.523 110 - 1996 1.342 76 5,66 1997 1.174 31 2,64 1998 987 33 3,34 2000 901 17 1,89

Fonte: Ministério da Saúde/FUNASA/CENEPI/Sistema de Informação de Mortalidade. (1) Dados do ano de 1997.

Neste contexto, onde se observa a redução do número de mortes devida

à diarréia aguda, mas é mantida a taxa de incidência, ou seja, a probabilidade de

desenvolver a doença permanece a mesma, constata-se que a estratégia adotada

para o controle da mortalidade por doenças diarreicas foi o combate à sua

conseqüência, a desidratação, e não a atuação sobre as suas causas e os seus

determinantes.

- -

27

Em 1985, BRISCOE (1985) já chamava a atenção para o fato de os

países em desenvolvimento investirem em saúde baseando-se no conceito de

custo e eficácia, priorizando os programas de intervenções médicas que têm um

impacto imediato na redução da mortalidade infantil, em detrimento de outros

programas de intervenção, como o abastecimento de água e o esgotamento

sanitário, cujo efeito sobre a saúde é acumulativo e ocorre em longo prazo.

A maioria dos casos de diarréia aguda resulta de transmissão feco-oral

de patógenos, devido principalmente às más condições socioeconômicas e de

saneamento.

Diferentes agentes enteropatogênicos podem causar diarréia. A

freqüência desses agentes varia nas diferentes regiões e segundo as

características das crianças estudadas, em especial a faixa etária.

No Brasil, os enteropatógenos mais freqüentemente envolvidos são

(FAGUNDES NETO & OLIVA, 1996):

Bactérias: Escherichia coli enteropatogênica clássica (EPEC),

Escherichia coli enterotoxigênica, Escherichia coli enteroinvasiva,

Shigella, Campylobacter e Salmonella.

Protozoários: Giárdia lamblia, Entamoeba hystolitica e Criptosporidium.

Vírus: Rotavírus e Adenovírus.

A seguir, são apresentadas as etiologias as doenças diarreicas avaliadas

como indicadores de saúde no presente trabalho. Algumas das enfermidades

incluídas na classificação ambiental das doenças infecciosas, como de

transmissão feco-oral, não são apresentadas, nesse capítulo, pelo fato das

manifestações sistêmicas serem predominantes sobre as manifestações

intestinais, como a hepatite, a poliomielite e a leptospirose.

3.3.2. Doenças infecciosas intestinais causadas por bactérias

A porção inferior do trato digestivo representa um sistema biológico

complexo, onde são encontradas numerosas espécies de bactérias. O trato

intestinal é habitado por uma população bacteriana da ordem de 1011 a 1012

- -

28

bactérias por grama de fezes. Cerca da metade do peso das fezes é dada pelas

bactérias (LIMA et al., 2001).

As enterobactérias ocorrem nas fezes de seres humanos e animais e são

definidas como bacilos Gram-negativos, não esporulados e que crescem bem em

meios artificiais. Podem apresentar mobilidade e nesses casos são flagelados.

Reduzem nitrito a nitrato, utilizam glicose fermentativamente, com produção de

ácido ou de ácido e gás. A prova de indofenolxidase é negativa (MOURA, 1998).

Apesar de o nome enterobactéria significar bactéria do intestino, é

fundamental que se considere a família Enterobacteriaceae representando

apenas uma parte dos microrganismos que vivem no intestino. Outros grupos

heterogêneos de bactérias, constituídos de bacilos e coco-bacilos Gram-

negativos, denominados de bacilos Gram-negativos não-fermentadores, pois não

utilizam os açúcares empregados na identificação da família Enterobacteriaceae,

são também encontrados no intestino e são capazes de produzir infecção, o que

lhes confere uma importância clínica e epidemiológica.

A maioria das bactérias do grupo coliformes (coliformes totais) pertence

aos seguintes gêneros da família Enterobacteriaceae: Escherichia, Citrobacter,

Klebsiella e Enterobacter. Os coliformes totais são definidos como bacilos Gram-

negativos, aeróbios ou anaeróbios facultativos, não formadores de esporos,

oxidase-negativos, capazes de desenvolver na presença de sais biliares ou

agentes tensoativos que fermentam a lactose com produção de ácidos, gás e

aldeído a 35,0 ± 0,5°C em 24-48 horas, e que podem apresentar atividade da

enzima β-galactosidase, sendo os coliformes termotolerantes um subgrupo das

bactérias do grupo coliformes que fermentam a lactose a 44,5 ±0,2°C em 24

horas, com seu principal representante sendo a Escherichia coli (FUNASA, 2001).

A microbiota3 intestinal normal pode se compor de quantidades enormes

de Escherichia coli, Aerobacter, Proteus, Clostridium perfringes, lactobacilos e

levedo. Apenas em função dos determinantes de patogenicidade é que alguns

organismos, em número restrito, encontram condições de desenvolver processo

infeccioso no trato intestinal (ANTUNES, 1995). Portanto, apenas a identificação

3 Microbiota normal é a designação genérica dada à população de bactérias, vírus, fungos e protozoários de

baixa virulência que permanentemente habitam o corpo humano. Em respeito à coerência conceitual, o termo

microbiota deve substituir flora, incorretamente usada, porque esses microrganismos não são vegetais, uma

vez que pertencem ao reino Procaryotae.

- -

29

desses microrganismos nas fezes não é um indicador fidedigno da possibilidade

de ocorrência de um processo infeccioso.

A família Enterobacteriaceae é composta de 22 gêneros, sendo 18 de

interesse médico, por apresentarem microrganismos patogênicos para o homem.

Os gêneros de interesse médico são: Escherichia, Shigella, Salmonella,

Citrobacter, Klebsiella, Enterobacter, Erwinia, Serratia, Hafnia, Edwardsiella,

Proteus, Providencia, Morganella, Yersinia, Fluyvera, Rahnella, Cedecea, e

Tatumella (MOURA, 1998). Os gêneros cujo significado clínico ainda é

desconhecido são: Yokenella, Trabusiella, Moellerella e Ewingella.

As bactérias que causam infecção intestinal pertencem à família

Enterobacteriaceae e aos gêneros Campylobacter, Vibrio e Clostridium.

Os membros da família Enterobacteriaceae que podem produzir doença

entérica primária (amplas epidemias de diarréia, casos esporádicos ou casos

endêmicos são: 1) Escherichia coli enteropatogênica, enterotoxigênica e entero-

hemorrágica; 2) Salmonella, o agente etiológico da febre tifóide e paratifóide e de

outras salmoneloses; 3) Shigella, o agente etiológico da disenteria bacilar; e 4)

Yersinia enterocolítica, que causa intoxicação alimentar (ANTUNES, 1995).

No gênero Campylobacter, a única espécie relacionada com infecção

intestinal é o Campylobacter jejuni, espécie apontada como a causa mais

freqüente de diarréia no mundo (MARA & FEACHEM, 1999).

No gênero Vibrio, as duas espécies classicamente reconhecidas como

agentes infecciosos de diarréia são: Vibrio cholerae e o V. parahaemolyticus.

No gênero Clostridium, a espécie C. perfringens tem sido encontrada em

associação com surtos de intoxicação alimentar e o C. difficile é o principal agente

da colite pseudomembranosa que se segue ao uso de certos antibióticos.

Os bacilos pertencentes à família Enterobacteriaceae são identificados

por meio de seu perfil metabólico determinado por reações frente a diversas

provas bioquímicas, e em alguns casos a identificação é comprovada por provas

sorológicas.

A identificação preliminar das enterobactérias patogênicas é realizada

pela semeadura do material fecal em meios para isolamento, que são divididos de

acordo com sua seletividade, e em meios de enriquecimento. Os meios de

enriquecimento, além de inibirem a microbiota normal, favorecem a multiplicação

- -

30

dos patogênicos. Os meios seletivos são, também, inibidores da microbiota

normal, encerram indicadores da reação do meio e lactose, que possibilita a

separação entre as bactérias lactose-positivas e negativas.

As provas bioquímicas são utilizadas para a diferenciação dos gêneros e

espécies das enterobactérias. A “Série Bioquímica Simplificada” possibilita a

identificação da maioria das espécies isoladas dos materiais clínicos (ANTUNES,

1995; MOURA, 1998; LIMA et al., 2001). Nessa série bioquímica simplificada,

além das clássicas reações englobadas com a denominação de IMViC (que são

as iniciais de I = indol; M = vermelho de metila; V = reação de Voges-Proskauer e

C = citrato) são incluídas as reações de produção ou não de H2S obtida no meio

de tríplice-açúcar-ferro e a produção de urease obtida no meio de Christensen.

Também, a mobilidade da bactéria e a produção de gás a partir de glicose são

analisadas.

A identificação sorológica das enterobactérias faz-se à custa de anti-

soros específicos. Dentre os principais antígenos das enterobactérias citam-se os

antígenos O ou somáticos, os antígenos H ou flagelares e os antígenos K ou

capsulares.

A seguir são apresentadas informações sobre a bacteriologia e

epidemiologia das enterobactérias cujos processos infecciosos se exteriorizam

como diarréia e cujos mecanismos fisiopatológicos são decorrentes de infecção

ativa na mucosa intestinal.

a) Escherichia coli

O gênero Escherichia compreende cinco espécies, dentre elas a

Escherichia coli é a única espécie de maior importância prática (TRABULSI &

CAMPOS, 1996).

Segundo esses autores, essa espécie possui um grande número de

grupos e tipos sorológicos, identificados por meio de anti-soros preparados contra

as três variedades de antígenos, ou seja, antígenos O, K e H. Os antígenos K

podem apresentar as variedades A, B, C e L. Por convenção internacional, todos

os antígenos são designados por números arábicos. A identificação apenas da

- -

31

espécie Escherichia coli não é capaz de diferenciar os sorotipos pertencentes à

microbiota normal daqueles que são capazes de causar doença diarréica.

Os sorotipos de Escherichia coli capazes de causarem infecções

intestinais, ou seja, os sorotipos patogênicos são:

- Escherichia coli entero-hemorrágica (EHEC): Existem 50 sorotipos de

EHEC, mas a Escherichia coli O157:H7 é a mais comum e melhor caracterizada.

A infecção por essa bactéria pode cursar com diarréia branda ou diarréia

sanguinolenta (colite hemorrágica). É uma causa importante da síndrome

hemolítico-urêmica na criança e púrpura trombocitopênica no adulto (TRABULSI

& CAMPOS, 1996; LIMA et al., 2001).

A transmissão ocorre geralmente pela ingestão de alimentos crus ou

malpassados contaminados com a bactéria. A transmissão pela via feco-oral

também pode acontecer.

Há relato de surtos epidêmicos causados pela Escherichia coli O157:H7,

um em Cabool, no ano de 1990, com 243 casos e 4 mortes; outro na Escócia, no

ano de 1991, com 496 casos e 19 óbitos (FRIEDMAN-HUFFMAN & ROSE, 1998).

A identificação das EHEC é realizada pela dosagem das toxinas em cultura de

tecidos ou através de sondas genéticas ou Reação em Cadeia da Polimerase

(PCR), que detectam os genes que as codificam (TRABULSI & CAMPOS, 1996).

As EHEC têm sobrevivência similar às cepas típicas de Escherichia coli

nos processos de potabilização da água. A utilização da água de poços

artesianos sem desinfecção ou a contaminação do sistema de distribuição por

águas pluviais ou por esgoto são fontes de contaminação tornando a água um

possível veículo de transmissão dessa bactéria.

- Escherichia coli enterotoxigênica (ECET): Produzem as enterotoxinas

denominadas LT (termolábil) e ST (termoestável). Essas bactérias causam uma

diarréia secretória tipo cólera. O diagnóstico da infecção por ETEC faz-se pela

pesquisa das enterotoxinas LT e ST. A enterotoxina LT pode ser demonstrada em

cultura de tecidos e por testes imunológicos. A identificação de toxina ST

apresenta mais dificuldades, geralmente é feita por inoculação em alças

intestinais de coelho ou camundongos (MOURA, 1998).

- -

32

- Escherichia coli enteropatogênica (EPEC): São sorotipos da

Escherichia coli dotados da capacidade de causar diarréia nas crianças. Foram

inicialmente descritas entre 1925 e 1935, mas sua existência só ganhou aceitação

universal a partir de 1945, sendo as primeiras Escherichia coli implicadas em

diarréia (TRABULSI & CAMPOS, 1996).

Esses mesmos autores afirmam que as EPEC têm sido encontradas em

torno de 30% das crianças com diarréia aguda endêmica, sendo assim mais

freqüentes que qualquer outro enteropatógeno. O reservatório das EPEC é

reconhecido como o próprio homem, mas o mecanismo de transmissão da

infecção, na comunidade, ainda não foi estabelecido. Em hospitais e berçários, a

bactéria é transmitida por contato pessoal. Crianças com diarréia representam a

principal fonte de infecção.

Nos países europeus e norte-americanos a grande importância destas

bactérias referia-se às infecções hospitalares. Diferente dos países em

desenvolvimento, onde as Escherichia coli enteropatogênicas continuam sendo

um dos principais enteropatógenos associados à diarréia.

O diagnóstico da infecção é realizado pelo isolamento da EPEC das

fezes em meio de ágar Mac Conkey ou Teague, por meio da coprocultura. A

bactéria e identificada por intermédio de provas bioquímicas e, a seguir, pelo

emprego de provas sorológicas (MOURA, 1998).

b) Salmonella

O gênero Salmonella contém uma infinidade de tipos sorológicos,

caracterizados por antígenos somáticos e flagelares. Existem cerca de 2.324

sorotipos de Salmonella. A classificação atual, baseada nas características

bioquímicas, divide o gênero Salmonella em duas: a Salmonella entérica

subdividida em seis subespécies, e a Salmonella bongori (TRABULSI et al., 1996;

LIMA et al., 2001). Entretanto, esta divisão em espécies e subespécies apresenta

pouca importância prática em medicina e epidemiologia. Adota-se o esquema de

identificação denominado de esquema de Kaufmann e White com base na

composição antigênica – antígenos O (somáticos), Vi (capsulares) e H

(flagelados) (TRABULSI et al., 1996).

- -

33

Segundo esse autor, a Salmonella Typhi4 e a Salmonella Paratyphi A, B e

C têm como único hospedeiro o homem e causam infecções sistêmicas. Os

demais sorotipos causam enterocolite, cuja gravidade depende do tipo sorológico,

idade e condições de saúde do hospedeiro. As salmonelas são veiculadas por

alimentos (principalmente leite e produtos avícolas) e pela água.

O diagnóstico da infecção intestinal por salmonelas é feito pela

coprocultura, utilizando-se meios de isolamento como ágar-verde-brilhante, meio

Shigella-Salmonella e Mac Conkey (LIMA et al., 2001).

c) Shigella

O gênero Shigella compreende quatro espécies, designadas por Shigella

dysenteriae, Shigella flexneri, Shigella boydii e Shigella sonnei. Com exceção da

última espécie, as demais incluem vários sorotipos, definidos por seus antígenos

O.

Todas as shigelas são igualmente patogênicas para o homem, causando

infecção intestinal tanto no adulto como na criança. A doença humana causada

por Shigella é chamada shigelose ou disenteria bacilar.

A infecção é adquirida pela ingestão de água contaminada ou de

alimentos preparados com água contaminada. Também, podem ser transmitidas

por contato pessoal e fômites (LEÃO et al., 1989).

Alguns estudos sugerem que 100 bactérias são suficientes para causar a

doença. Aparentemente essa pequena dose infectante é dependente da maior

resistência que a Shigella apresenta ao suco gástrico. Quanto mais precárias as

condições de higiene das comunidades maior a incidência da shigelose

(VERONESSI & FOCACCIA, 1996).

A infecção por Shigella é diagnosticada pelo isolamento e identificação da

bactéria por cultura de fezes nos meios de Mac Conkey, meio Shigella-Salmonella

com posterior identificação das colônias por provas bioquímicas e sorológicas

(MOURA, 1998; ANTUNES, 1995).

4 Na nova nomenclatura, os nomes dos sorotipos de Salmonella da espécie entérica não são mais escritos em

itálico e aparecem com a primeira letra maiúscula.

- -

34

d) Yersinia enterocolítica

A espécie Yersinia enterocolítica abrange vários sorotipos, mas somente

alguns são encontrados em associação com diarréia humana.

Há poucos relatos em nosso meio sobre infecção por Yersinia

enterocolítica. É um importante patógeno intestinal, reconhecido com alguma

freqüência em outras áreas geográficas como nos países escandinavos e no

Canadá, onde causam diarréia em crianças entre 1 a 5 anos (LEÃO et al.;

ANTUNES, 1995).

Essa bactéria é transmitida, principalmente, pela ingestão de água leite e

alimentos contaminados. É encontrada em animais domésticos como gado,

porcos, cachorros e aves. Os sorotipos humanos são também encontrados em

animais (VERONESSI & FOCACCIA, 1996).

O diagnóstico da infecção é feito pela coprocultura. O isolamento dessa

bactéria pela coprocultura exige técnicas especiais e deve ser interpretada com

cuidado, por causa de cepas ambientais de baixa virulência, não patogênicas,

distinguíveis apenas sorologicamente (LIMA et al., 2001).

e) Campylobacter

O gênero Campylobacter juntamente com outros gêneros como

Pseudomonas, Gardnerella, Acinetobacter, Helicobacter e Chlamydia são

bactérias presente no intestino que não pertencem à família Enterobacteriaceae.

São denominados de bacilos Gram-negativos não-fermentadores e não utilizam a

via anaeróbia para metabolizar os carboidratos (ANTUNES, 1995).

O gênero Campylobacter apresenta cinco espécies, sendo duas com

subespécies. O Campylobacter jejuni tem sido considerado tão prevalente na

etiologia das enterites como as salmonelas e shigelas (MOURA, 1998).

A ecologia dessa bactéria é interessante. Enquanto, nos países

desenvolvidos, a bactéria é praticamente encontrada somente em indivíduos

(crianças e adultos) com diarréia, em países em desenvolvimento, tem sido

encontrada com a mesma freqüência em crianças normais e doentes.

- -

35

No laboratório clínico, o isolamento do Campylobacter requer, além de

meio de cultivo específico, condições de incubação representadas por atmosfera

de microaerofilia (5% de O2) e temperatura de 42°C (MOURA, 1998).

3.3.3. Doenças infecciosas intestinais causadas por rotavírus

O principal agente causador da doença diarréica infantil é o rotavírus,

responsável por 1/3 de todas as diarréias agudas (MARSHA & PHARM, 1999).

Os rotavírus pertencem à família Reoviridae, gênero Rotavírus. São

classificados sorologicamente em grupos, subgrupos e sorotipos. Foram

identificados sete grupos do gênero Rotavírus, nomeados de A a G. Os

integrantes do grupo A são os rotavírus mais amplamente caracterizados, sendo

associados à diarréia no homem e em diversas espécies animais (VERONESSI &

FOCACCIA, 1996). Seu papel na etiologia da diarréia aguda foi reconhecido em

1973.

No Peru, esse agente é responsável por 35% das diarréias tratadas no

domicílio e por 52% daquelas que necessitam de hospitalização (PEREZ-

SCHAEL et al., 1997). Nos EUA, acomete a cada ano 2,7 milhões de crianças,

gera 500 mil consultas e é responsável por 55 mil internações anualmente. Isso

representa um gasto de 274 milhões de dólares em cuidados médicos, um custo

de 1 bilhão de dólares para a sociedade (devido à diminuição dos dias de trabalho

dos familiares durante os episódios de doença) e a morte de 40 lactentes por ano

(MOTA & PENNA, 2001).

Nos países em desenvolvimento, os rotavírus são responsáveis por cerca

de 125 milhões de casos de gastroenterite em crianças por ano. Dezoito milhões

desses casos foram classificados de moderadamente severos a graves. No

mundo, estima-se que esses vírus causem a morte de 4 a 5 milhões de pessoas

anualmente (FRIEDMAN-HUFFMAN & ROSE, 1998).

Acomete principalmente os lactentes entre 6 a 24 meses de idade,

podendo ocasionar formas graves de gastroenterite. No primeiro semestre de vida

postula se a função protetora exercida pelos anticorpos maternos transferidos

passivamente, bem como do aleitamento natural (LINHARES et al., 1989).

- -

36

Sabe-se que, até os quatro anos de vida, a quase totalidade dos

indivíduos já experimentou a infecção por rotavírus, o que lhes confere, a partir de

então, imunidade às síndromes diarréicas severas. As reinfecções envolvem, na

maioria dos casos, variedades antigênicas distintas, sendo a primeira infecção

dotada de maior gravidade que a subseqüente (BISHOP et al., 1983).

Devido à severidade do quadro clínico de gastroenterite que caracteriza,

geralmente, a infecção por rotavírus, a sua ocorrência é melhor verificada em

inquéritos ambulatoriais e hospitalares do que em pesquisas realizadas no âmbito

das comunidades (VERONESSI & FOCACCIA, 1996).

Em estudo realizado no Brasil, foi verificado que 33% dos episódios

diarréicos de maior gravidade, aqueles que necessitaram de atendimento

ambulatorial ou de internação hospitalar, foram associados aos rotavírus.

Entretanto, esses agentes viróticos foram associados a 10% dos casos de

diarréia, leve a moderada, avaliados nas comunidades (LINHARES et al., 1989).

A sua principal forma de transmissão é a feco-oral e representa o

mecanismo básico de propagação inter-humana dos rotavírus (LEÃO et al., 1989).

Estima-se que esses agentes virais sejam excretados em concentrações que

alcançam um trilhão de partículas por mililitro de espécime fecal, durante a fase

aguda do processo diarréico, sendo necessários apenas 10 vírions5 para iniciar o

processo infeccioso.

O diagnóstico laboratorial das infecções por rotavírus, em espécimes

fecais, deve ser realizado no período situado entre o primeiro e o quarto dia do

processo diarréico. Podem-se utilizar métodos de detecção direta do vírus através

da microscopia eletrônica ou métodos de detecção de proteínas virais, por

anticorpos, por meio de ensaios imunoenzimáticos.

3.3.4. Doenças infecciosas intestinais causadas por protozoários

Vários protozoários habitam o intestino do homem.

Na classe Ciliata encontra-se o Balantidium coli, agente causal da

desinteria balantidiana, transmitida ao homem pelo contato com carne de suínos.

O único reservatório é o porco, e a infecção humana se associa as condições

5 É cada partícula de um vírus, quando completa e dotada de capacidade de invadir a célula hospedeira.

- -

37

precárias de saneamento em áreas de criação de suínos. A transmissão pela

ingestão de água e verduras contaminadas está associada à atividade do

indivíduo em contato com os suínos – criadores, funcionários de matadores e

açougues (MOURA, 1998).

Os protozoários não patogênicos são: Entamoeba hartmanni, Entamoeba

coli, Endolimax nana, Iodamoeba butschlii, Dientamoeba fragilis (SCHECHTER &

MARANGONI, 1998; LIMA et al.,2001).

Os protozoários patogênicos descritos a seguir pertencem às classes

Rhizopoda, Mastigophora e Sporozoa.

a) Entamoeba histolytica

Das sete espécies de amebas encontradas como parasitas naturais do

homem, somente uma, a Entamoeba histolytica, tem atividade patogênica para o

homem, embora não raro seja comensal inofensivo.

A presença da Entamoeba histolytica no organismo humano,

acompanhada ou não de manifestações clínicas, é denominada de amebíase.

A amebíase é de distribuição universal. As diferenças na prevalência da

infecção e incidência da doença ocorrem por causa de variações na transmissão,

invasividade do parasita, como também pelas condições ecológicas e

socioeconômicas (GUERRANT, 1986).

Segundo esse autor, contrai-se a amebíase pela ingestão de alimentos

ou água contaminada com cistos infectantes de Entamoeba histolytica.

Ressaltam-se o papel de vetores, como as moscas na contaminação. São os

cistos que têm importância do ponto de vista sanitário, pois é forma de resistência

e de disseminação da doença. Eliminados no meio exterior, podem resistir até um

mês, na água; nas fezes em ambiente fresco, resistem 12 dias; em presunto e

salsicha, 15 horas; no queijo, 20 horas; e em pães e bolos, 24 horas. A fase

trofozoítica ou vegetativa que ocorre no ciclo evolutivo não tem importância na

transmissão natural da Entamoeba histolytica porque, quando eliminada,

degenera rapidamente. (SCHECHTER & MARANGONI, 1998).

- -

38

Estima-se que o estado de portador não-invasivo6 corresponda a 80% a

90% das infecções humanas pela Entamoeba histolytica. Acredita-se que apenas

10% dos indivíduos infectados desenvolvam a síndrome da amebíase invasiva

(forma disseminada e fatal da doença) (VERONESSI & FOCACCIA, 1996).

Sendo assintomática a maioria das infecções, o diagnóstico da amebíase

é feito pela pesquisa de cistos nas fezes ou pela realização de testes sorológicos

nos indivíduos com episódios pregressos de doença invasiva. A positividade da

pesquisa de cistos nas fezes varia de 2% a 40% da população, dependendo das

condições higiênico-sanitárias, das condições climáticas e dos métodos utilizados

no diagnóstico (NANDA et al., 1984; LIMA et al., 2001). O exame de três amostras

de fezes alcança a sensibilidade de 90% na detecção da infecção por Entamoeba

histolytica, enquanto que com uma única amostra a sensibilidade varia de 40% a

60%. O método de laboratório que apresenta maior sensibilidade para detecção

da infecção é o método de concentração com mertiolate-iodeto-formalina (MIF)

aumentando a positividade do exame de fezes acima de 80% (VERONESSI &

FOCACCIA, 1996).

Em um levantamento de 2.500 exames de fezes realizados em Belo

Horizonte, a Entamoeba histolytica foi encontrada em 259 (10,3%) desses

exames. As outras amebas não patogênicas pertencentes à classe Rhizopoda -

Entamoeba coli e Endolimax nana - foram encontradas, respectivamente, em

24,8% e 2,3% dos exames de fezes realizados (LIMA et al., 2001).

Uma espécie distinta da Entamoeba histolytica situada no grupo das

amebas tetranucleadas de vida livre, denominada de Entamoeba moshkovskii,

tem sido isolada em sistemas de tratamento de água e em esgotos (LIMA et al.,

2001).

b) Giardia lamblia

É um protozoário flagelado pertencente à classe Mastigophora, parasita

cosmopolita que ataca ambos os sexos, sendo mais comum em crianças.

6 Corresponde à colonização do parasita no interior da luz intestinal.

- -

39

A infecção por esse protozoário é denominada de giardíase. No Brasil, a

prevalência dessa parasitose é de aproximadamente 28,5% (CIMERMAN &

CIMERMAN, 1996). Como é um organismo cosmopolita, com prevalência de até

80% em algumas populações, o estabelecimento de uma relação de causalidade

entre a ocorrência de diarréia e a presença desse protozoário torna-se difícil

(MOTA & PENNA, 2001).

Os cistos são as formas infectantes, portanto responsáveis pela

disseminação da doença, apresentando 8 a 12μ de comprimento por 7 a 9μ de

largura. São muito resistentes, permanecendo viáveis durante dois meses no

meio exterior ao organismo humano; a cloração da água, bem como seu

aquecimento até 60°C, não é suficiente para a sua destruição (REGALI et al.,

1991). HAAS & HELLER (1990) realizaram um estudo para avaliar a cinética da

inativação dos cistos de Giardia lamblia pela cloração da água, em função de

variáveis operacionais das estações de tratamento, e concluíram que estudos

adicionais devem ser conduzidos para avaliarem o grau e os parâmetros

necessários para a inativação dos cistos pelo cloro.

O trofozoíto é a forma patogênica presente na luz intestinal. Eliminados

pelas fezes eles morrem em torno de 15 a 20 minutos (SCHECHTER &

MARANGONI, 1998).

A transmissão da Giardia lamblia está associada a vários fatores, entre

os quais (ACADEMIA AMERICANA DE PEDIATRIA, 1983; CIMERMAN &

CIMERMAN, 1996; SCHECHTER & MARANGONI, 1998):

Água: diversos surtos veiculados pela água foram registrados nos

últimos anos, como os ocorridos em New Hampshire, Portland, New York

(EUA) e Banff (Canadá);

Ingestão de verduras, legumes e frutas cruas contaminadas pelos

cistos;

Manipuladores de alimentos podem ser fontes de infecção;

Contato direto, pessoa a pessoa, principalmente em creches, asilos

e orfanatos;

Artrópodes: os cistos podem permanecer vivos durante 24 horas no

intestino das moscas e sete dias nos da barata, sendo estes capazes de

disseminar o parasita por meio de suas dejeções ou regurgitamento;

- -

40

Transmissão através do sexo anal-oral.

As evidências de contaminação de riachos, reservatórios de água por

animais parasitados, levaram a OMS a considerar a giardíase como uma

zoonose7.

O exame de fezes constitui a melhor maneira de estabelecer o

diagnóstico. Em fezes liquefeitas, os trofozoítos devem ser pesquisados pelo

método direto e corados pela hematoxilina férrica. Recomenda-se o uso de

conservantes para a coleta do material e que as fezes sejam colhidas durante três

dias, devido à variação diária do número de parasitas eliminado. A pesquisa de

cistos deve ser feita utilizando-se os métodos de Faust, de Ritche ou de

Hoffmann, Pons e Janer (SCHECHTER & MARANGONI, 1998).

c) Cryptosporidium

O Cryptosporidium é um protozoário parasita intracelular, descrito

inicialmente por Tyzzer, em 1907. Identificado em humanos em 1976, não foi

considerado patógeno importante até 1982, quando foi associado como agente de

diarréia em pacientes com imunossupressão secundária (MANNHEIMER &

SOAVE, 1994).

Atualmente, vem sendo reconhecido como um dos patógenos entéricos

mais comuns, causando diarréia tanto em imunocompetentes como em

imunodeprimidos. No Peru e na Índia, é considerado como a terceira maior causa

da síndrome diarréica e responsável por formas agressivas da doença, por causar

desequilíbrios hidroeletrolíticos graves (CAMA et al., 1999; NATH et al., 1999).

A incidência da infecção por Cryptosporidium na população varia de 0,6 a

20%, dependendo da área geográfica (FRIEDMAN-HUFFMAN & ROSE, 1998).

O Cryptosporidium pertence à classe Sporozoa, que também inclui outros

coccídeos8 – Isospora, Sarcocystis, Eimeria, Plasmodium, Babesia e Toxoplasma.

Embora tenham sido descritas mais de 20 espécies, somente uma é considerada

patogênica para os homens, o Cryptosporidium parvum, encontrado em seres

humanos, no gado bovino e em animais silvestres (NEWMAN et al., 1993;

7 Infecção ou doença infecciosa transmissível, ao homem em condições naturais, por animais vertebrados. 8 Protozoários que pertencem à subordem Eucoccidiorida.

- -

41

MANNHEIMER & SOAVE, 1994). Apresenta a capacidade de se desenvolver

completamente em um único hospedeiro, o que permite que cause reinfecção no

mesmo indivíduo. A infecção inicia-se com a ingestão de oocistos maduros que

contaminam a água e alimentos. Os oocistos de Cryptosporidium medem 4 a 6μm

de diâmetro (DANIEL, 2001).

O Cryptosporidium pode ser transmitido de animais para humanos, de

humanos para animais e de humanos para humanos. A transmissão inter-humana

é a mais importante, sendo freqüentemente responsável por surtos em hospitais e

creches, e pela disseminação intradomiciliar da doença. A água é importante

fonte de infecção, pois o Cryptosporidium sobrevive por longos períodos em

ambientes úmidos e frios, sendo resistente à cloração e ozonização.

O exame mais comumente utilizado para o diagnóstico da

criptosporidiose é o exame de fezes, utilizando-se a coloração de Ziehl-Neelsen

ou Giemsa (MOURA, 1998).

3.3.5. Doenças infecciosas intestinais causadas por helmintos

As infecções parasitárias encontram-se, ainda hoje, disseminadas no

mundo. Nos países em desenvolvimento, principalmente nas áreas rurais e na

periferia dos grandes centros urbanos, há grande prevalência de helmintíases,

devido às condições precárias de saneamento que nessas áreas se associam a

outros determinantes do estado de doença, mantendo as condições propicias

para a manutenção e perpetuação dos meios de transmissão. Todas as

parasitoses intestinais apresentam em comum a precariedade das condições

sanitárias, os baixos níveis de higiene pessoal e domiciliar e a falta de educação

sanitária.

As manifestações clínicas das helmintíases são dependentes do estágio

do ciclo evolutivo que cada parasita desenvolve no organismo do hospedeiro, da

intensidade da infecção e da resposta imune desencadeada pelo parasitismo

(LEVI, 1988).

Os helmintos são divididos em duas classes: nematelmintos (vermes

filiformes e cilíndricos) e os platelmintos (vermes achatados). Entre os

- -

42

platelmintos dois grupos de vermes infectam o homem: trematódeos e os

cestódeos (Tabela 5).

Tabela 5 – Principais infecções por helmintos.

HELMINTO HELMINTÍASE

1. NEMATELMINTOS Ascaris lumbricoides Ascaridíase Ancylostoma duodenale Ancilostomíase Enterobius vermiculararis Enterobíase ou Oxiuríase Necator americanus Necatoríase ou ancilostomíase Strongyloides stercoralis Estrongiloidíase Trichuris trichiura Tricocefalíase 2. PLATELMINTOS a) Cestódeos Hymenolepis nana Heminelopíase Taenia saginata Teníase Taenia solium Teníase b) Trematódeo Schistosoma mansoni Esquistossomíase ou esquistossomose

Fonte: SCHECHTER & MARANGONI, 1998

O principal meio para o diagnóstico das helmintíases e protozooses é a

identificação dos ovos, por meio de suas características, por intermédio de exame

parasitológico de fezes. A realização desse exame inicia-se com o exame

macroscópico e microscópico direto do material fecal, utilizando-se também, de

corantes para a facilitação da identificação de ovos e cistos. Posteriormente,

realizam-se métodos para a concentração de ovos e cistos, baseados na

diferença de densidade entre as formas dos parasitas e do material fecal ou

baseados na capacidade de migração de certas larvas.

Existem várias técnicas descritas na literatura, o que indica que nenhuma

delas é de todo eficiente (LIMA et al., 2001).

As técnicas de concentração do material fecal envolvem três métodos:

1. Sedimentação – os parasitas são concentrados no sedimento por

gravidade - Método de Hoffmann, Pons e Janer (de fácil execução e

baixo custo, é o mais utilizado nos laboratórios clínicos); ou por

centrifugação - Método de Ritchie;

2. Flutuação – os parasitas flutuam ou são condensados num

sedimento por meio de uma solução de densidade diferente - Método de

Faust e Método Willis’;

- -

43

3. Migração – certas larvas vivas migram para fora do material fecal e

são coletadas no fundo de um funil - Método de Baermann e Método de

Rugai.

Em infecções por helmintos que apresentam uma liberação relativamente

constante de ovos, utiliza-se a contagem de ovos para a avaliação da intensidade

da infecção. Porém as contagens são apenas estimativas, uma vez que há

variações diárias na eliminação de ovos, dependentes da dieta e do sistema

imunológico do hospedeiro. As técnicas de contagem de ovos – Método de Stoll e

Método de Kato – podem ser úteis na determinação do papel da infecção na

doença, como por exemplo, na anemia e na verificação do sucesso ou não do

tratamento. No Brasil, a maior aplicação desses métodos é na contagem de ovos

de Schistosoma mansoni nas fezes (MOURA, 1998).

a) Ascaridíase

É uma infecção muito comum em todo o mundo e no Brasil. Estima-se

que, no mundo, cerca de 600 mil a um bilhão de pessoas encontram se

parasitadas pelo Ascaris lumbricoides e que, dessas, 20 mil morrem anualmente.

A infecção é encontrada em todos os países em desenvolvimento e atinge mais

comumente a faixa etária de 5 a 14 anos (VERONESI & FOCACCIA, 1996; MARA

E & FEACHEM, 1999).

Em um levantamento realizado em Belo Horizonte, o Ascaris lumbricoides

foi encontrado em 19,5% dos exames de fezes realizados, em diferentes faixas

etárias e classes sociais, não havendo distinção entre moradores da área urbana

e rural (LIMA et al., 2001). GROSS et al. (1989) encontraram uma prevalência de

55,4% de Ascaris lumbricoides, em estudo realizado em duas favelas de Belo

Horizonte: Aglomerado da Serra e Santa Lúcia/Vila Rita.

A infecção é contraída pela ingestão de água e vegetais crus

contaminados com ovos larvados (infectantes). Os ovos férteis, eliminados nas

fezes, são muito resistentes no meio externo. Em condições ótimas de

temperatura, umidade, oxigenação ambiente e em solo arenoso, tornam-se

infectantes para o homem, num espaço de tempo entre 17 e 19 dias. Para que

ocorra infecção, os ovos deverão ser ingeridos na água ou nos alimentos

- -

44

contaminados (ACADEMIA AMERICANA DE PEDIATRIA, 1983; SCHECHTER &

MARANGONI, 1998; LIMA et al. 2001).

Os ovos infectantes são elípticos e medem em média 75 por 50μm. As

fêmeas são capazes de produzir cerca de 200 mil ovos por dia. Os ovos são

removidos pelas unidades filtrantes do sistema de tratamento de água (DANIEL,

2001).

A cadeia epidemiológica pode ser resumida do seguinte modo: o homem

infectado contamina o solo e indivíduos sadios se infectam pela ingestão de água

e alimentos contaminados.

O diagnóstico da infecção pelo Ascaris lumbricoides é feito pelo encontro

dos ovos no exame parasitológico de fezes. Os melhores métodos são:

sedimentação de Hoffmann, Pons e Janer e o de flutuação de Faust (LIMA et al.

2001).

b) Tricocefalíase ou Tricuríase

É a doença causada pelo parasitismo do Trichocephalus trichiura ou

Trichuris trichiura. Afeta cerca de 45 milhões de pessoas no mundo,

principalmente crianças entre 5 a 14 anos (MARA & FEACHEM, 1999).

GROSS et al. (1989) encontraram a prevalência do Trichocephalus

trichiura em 19,6% das fezes de crianças maiores de seis anos residentes em

duas favelas de Belo Horizonte. LIMA et al. (2001) encontraram a prevalência de

20,5% para essa parasitose, nas fezes de indivíduos em todas as faixas etárias

examinadas.

A transmissão da infecção ocorre pela ingestão de água, de vegetais crus

e de partículas de terra contaminados com ovos embrionados (infectantes). As

fêmeas põem entre 3.000 a 10.000 ovos, que são eliminados junto com as fezes,

e permanecem no solo entre 15 a 20 dias para embrionarem e tornarem-se

infectantes. O ovo é alongado e mede de 52 a 57μm de comprimento e 22 a

24μm de largura.

Embora o homem seja o hospedeiro mais importante, os tricocéfalos

também parasitam o macaco e o porco. A poluição do solo por fezes humanas ou

- -

45

desses animais constitui o fator determinante na disseminação da infecção. Esta

é adquirida por meio do circuito feco-oral (VERONESSI & FOCACCIA, 1996).

Os métodos laboratoriais para a concentração de ovos nas fezes são

utilizados para o diagnóstico da tricocefalíase. O método de Kato pode ser

utilizado para quantificar a intensidade da infecção que determina a

sintomatologia apresentada pelos indivíduos infectados (MOURA, 1998).

c) Estrongiloidíase

Infecção causada pelo Strongyloides stercoralis e pelo Strongyloides

fülleborni9, nematódeos da família Rhabdiasidae. O Strongyloides stercoralis foi

descrito inicialmente em 1876 por Bavay (VERONESI & FOCACCIA, 1996).

Possui grande importância clínica devido à sua capacidade única entre os

nematódeos de, em indivíduos imunodeprimidos, invadir tecidos extra-intestinais

levando a quadros graves e potencialmente fatais.

A estrongiloidíase é amplamente distribuída, porém sua prevalência é

maior nas regiões tropicais e subtropicais, sendo mais rara nas regiões

temperadas. No Brasil, sua prevalência varia de 15% a 82% conforme as regiões

climáticas e com as condições socioeconômicas das populações (VERONESI &

FOCACCIA, 1996; SCHECHTER & MARANGONI, 1998).

Nos outros países da América do Sul as prevalências também são

variadas em função das características das populações estudadas. A taxa média

de prevalência na Colômbia é de 16%; na Venezuela, 4,4%; na Bolívia de 3%

(GENTA, 1989).

Em Belo Horizonte, a percentagem de exames de fezes onde foi isolado

o Strongyloides stercoralis foi de 8,6% (LIMA et al., 2001). A prevalência desse

parasita nas favelas investigadas por Gross et al. (1989), nessa cidade, foi de

1,2%.

O Strongyloides stercoralis é um geo-helminto, pois parte do seu ciclo se

desenvolve no solo e outro no ser humano, que constitui no seu hospedeiro

9 È um parasita primariamente de macacos, porém em alguns países da África (Camarões e Etiópia) pode ser

responsável por mais de 50% das estrongiloidíases humanas (VERONESSI & FOCACCIA, 1996).

- -

46

definitivo. É um parasita preferencialmente humano, porém também pode infectar

outros primatas, cães e gatos.

Possui dois tipos de ciclos evolutivos: o direto ou homogônico e o indireto

ou heterogônico, que se alternam.

No ciclo direto, as larvas rabditóides eliminadas no meio externo junto às

fezes, encontrando condições ambientais propícias (umidade e temperatura de 25

a 32°C), evoluem dentro de 24 a 48 horas para larvas filarióides que são as

formas infestantes.

No ciclo indireto, as larvas rabditóides eliminadas nas fezes sofrem

quatro mudas e, ao final de dois a cinco dias, transformam-se em machos e

fêmeas de vida livre. O macho fertiliza a fêmea, a qual deposita ovos no solo. Os

ovos desenvolvem-se rapidamente, liberando larvas rabditóides que evoluem para

larvas filarióides infestantes (VERONESI & FOCACCIA, 1996).

A infecção ocorre pela penetração das larvas filarióides infestantes

através da pele (pés e mãos) ou mucosas.

Ocorre, ainda, a auto-infestação interna e externa. Na auto-infestação

interna, as larvas rabditóides transformam-se em larvas filarióides dentro do

intestino e penetram na mucosa intestinal e completam o ciclo evolutivo. Na auto-

infestação externa, as larvas filarióides resultantes da evolução das larvas

rabditóides na região anal e perianal, penetram ativamente na pele e completam o

ciclo.

O diagnóstico laboratorial da estrongiloidíase é feito através da detecção

das larvas rabditóides nas fezes (medem de 250 a 350μm). A pesquisa pode ser

feita pelo exame microscópico direto e pelos métodos de concentração, porém o

método de Baermann é que apresenta a maior sensibilidade (MOURA, 1998).

Essa helmintíase está incluída na classificação ambiental das doenças

relacionadas com a água e com os excretas (CAIRNCROSS & FEACHEM, 1990;

MARA & ALABASTER, 1995; MARA & FEACHEM, 1999), as condições

ambientais para o desenvolvimento desse helminto são as mesmas para o

desenvolvimento do ancilostoma e necátor.

A medida profilática de controle mais importante é reduzir a fonte de

infecção, evitando a contaminação fecal do solo por meio de sistemas de

esgotamento sanitário e tratamento dos esgotos. O uso de calçados também é

- -

47

uma medida importante nas áreas endêmicas. Animais em contato com o homem

como cães, gato e macacos devem ser examinados e tratados, caso estejam

infectados.

d) Himenolepíases

São causadas por cestóides de duas espécies, Hymenolepis nana e

Hymenolepis diminuta.

Hymenolepis nana é um pequeno cestóide, medindo 25 a 45mm, sendo a

única tênia humana que não necessita da utilização de hospedeiro intermediário.

Pode completar o seu ciclo evolutivo com as formas larvares e adultas no mesmo

hospedeiro. Contudo, a literatura cita a possibilidade da Hymenolepis nana

também desenvolver um ciclo indireto, semelhante ao da Hymenolepis diminuta,

com o desenvolvimento das formas larvares em pulgas ou em outros artrópodes.

O homem seria contaminado pela ingestão acidental desses artrópodes

infectados (MOURA et al., 1998).

Hymenolepis diminuta é um parasita do rato, que raramente infecta o

homem, com ação patogênica desprezível.

A Hymenolepis nana foi isolada em 8 crianças (4,3%) das 254

examinadas, em duas favelas de Belo Horizonte (GROSS et al., 1989).

A infecção ocorre pela ingestão de água e alimentos contaminados com

ovos embrionados, recentemente emitidos. Os ovos medem de 30 a 55μm. O

diagnóstico laboratorial é feito pela identificação dos ovos nas fezes.

e) Enterobíase ou Oxiuríase

É a parasitose determinada pelo Enterobius vermicularis ou Oxyurus

vermicularis. É a helmintíase mais comum na Europa e América do Norte,

infectando cerca de 42 milhões de pessoas nos Estados Unidos (VERONESI &

FOCACCIA, 1996).

Os ovos eliminados nas fezes já estão embrionados no momento da

postura, com isso não há necessidade de hospedeiro intermediário, nem os ovos

precisam do solo para se tornarem infectantes.

- -

48

Além da transmissão direta, da região anal para a boca, SCHECHTER &

MARANGONI (1998) afirmam que existem mais quatro processos de transmissão

da helmintíase:

Transmissão indireta - ingestão de água e alimentos contaminados

pelas mãos sujas;

Transmissão pela poeira – inalação de ovos, nos dormitórios,

colégios, habitações coletivas;

Retroinfecção - que consiste na eclosão de larvas nas bordas da

mucosa anal, sua penetração e migração para porções superiores do

intestino grosso;

Auto-infecção interna - processo excepcional e não aceito por todos,

no qual fêmeas fecundadas na luz intestinal atravessam a parede do

intestino para se alojarem na submucosa, onde haveria eclosão das larvas,

que passariam em seguida à luz intestinal.

Somente 5% a 10% das enterobíases são diagnosticadas pelo exame

parasitológico de fezes. O método utilizado para a demonstração dos ovos é feito

por uma técnica denominada swab anal, também chamado de método da fita

gomada. O ovo é alongado e mede 50 a 60μm de comprimento por 20 a 30μm de

largura (VERONESI & FOCACCIA, 1996).

f) Ancilostomíase

É helmintíase humana causada por dois parasitas – Ancylostoma

duodenale e Necator americanus.

A ancilostomíase é amplamente distribuída por todo o mundo, sendo

endêmica nos países tropicais e subtropicais. Ocorre também em regiões de

clima temperado, que apresentam condições ambientais propícias.

Estima-se que um quarto da população mundial seja infectada por essa

parasitose, com maior incidência nos países em desenvolvimento, refletindo as

baixas condições socioeconômicas, pobreza e má nutrição (MARA, 2000).

A existência de solo arenoso (rico em oxigênio), elevados índices de

precipitação pluviométrica e clima quente (23 a 35°C) são fatores ambientais que

- -

49

concorrem para maior ocorrência dessa helmintíase (VERONESI & FOCACCIA,

1996).

Os ancilostomídeos necessitam dessas condições ambientais para o

desenvolvimento do ciclo biológico completo, que ocorre em duas fases: uma, no

meio externo, quando os ovos são eliminados pelo hospedeiro encontrando as

condições favoráveis no meio ambiente, passam por diversos estágios até se

transformarem em larvas filarióides infestantes; e a outra, no organismo humano,

que se inicia com a penetração da larva infectante através da pele, facilitada pelo

contato dos pés descalços com o solo contaminado.

O hábito de andar descalço na zona rural, nas favelas e na periferia de

grandes centros urbanos contribui para perpetuação do ciclo biológico do

parasita.

A ancilostomíase atinge, preferencialmente, crianças acima de quatro

anos de idade, adolescentes e adultos jovens (LEVI, 1988).

O diagnóstico laboratorial é feito através do exame parasitológico de

fezes, consistindo nas pesquisas dos ovos ou larvas rabditóides. As técnicas mais

utilizadas na detecção dos ovos são: Hoffmann, Pons e Janer; Willis e de Faust.

Os ovos de Ancylostoma duodenale e de Necator americanus são idênticos,

medem 58 a 76μm de comprimento por 38 a 40μm de largura, portanto o

diagnóstico é feito como sendo de Ancylostomidea (LIMA et al., 2001).

g) Teníase

A teníase é a parasitose intestinal causada pela presença da forma adulta

da Taenia solium (tênia do porco) ou Taenia saginata (tênia do gado).

A Taenia solium é um helminto com ciclo biológico complexo que requer

a presença de dois hospedeiros. O homem é o único hospedeiro definitivo,

todavia tanto o homem quanto o suíno podem atuar como hospedeiros

intermediários.

A transmissão da teníase ocorre pela ingestão de carnes cruas ou

insuficientemente cozidas de bovinos e de suínos contendo cisticercos. O ser

humano é o hospedeiro definitivo e contamina o solo com os seus dejetos, dando

condições a bovinos e suínos de se infectarem por cropofagia.

- -

50

A ingestão de alimentos ou água contaminados com os ovos

embrionados de Taenia solium causa o quadro de cisticercose. O homem nesse

caso funciona como hospedeiro intermediário.

A cisticercose acomete, principalmente, pessoas de baixas condições

socioeconômicas, vivendo sob precárias condições de higiene. Atinge homens e

mulheres, com maior freqüência em seu período laborativo-reprodutivo. As

crianças têm a doença de forma mais severa. O hábito de introduzir

repetidamente os dedos na boca e o contato com solo as expõem a riscos mais

acentuados de infecção maciça (VERONESI & FOCACCIA, 1996).

A cisticercose humana representa um pesado tributo socioeconômico que

muitos países pagam ao seu subdesenvolvimento.

Os ovos são bastante resistentes no meio externo, podendo permanecer

viáveis durante um ano em condições adequadas de temperatura e umidade. São

esféricos, medindo de 31 a 43μm de diâmetro (SCHECHTER & MARANGONI,

1998; LIMA et al., 2001).

O diagnóstico laboratorial é feito pela identificação dos proglotes10

eliminados, por meio da tamização das fezes e utilização do método de Hoffmann,

Pons e Janer (VERONESSI & FOCACCIA, 1996).

3.3.6. Estado Nutricional - desnutrição

O estado nutricional é definido como a disponibilidade e a utilização de

nutrientes e energia em nível celular. Quando a oferta de nutrientes provida pela

alimentação corresponde às necessidades metabólicas normais e suas variações

induzidas por sobrecargas fisiológicas, ocupacionais e patológicas tem-se uma

situação nutricional considerada normal ou eutrofia (ROUQUAYROL & ALMEIDA

FILHO, 1999). O contrário, na disponibilidade de energia e nutrientes abaixo das

necessidades orgânicas tem-se estabelecidas as condições para o

desenvolvimento dos quadros de carência nutricional.

O termo desnutrição, em seu sentido amplo, inclui todas as deficiências

nutricionais. Contudo, na prática, o termo desnutrição refere-se ao quadro

10 Segmentos em cadeia que compõem o corpo da tênia

- -

51

produzido pela carência de proteínas e/ou calorias – a desnutrição energético-

protéica (DEP) (LEÃO et al., 1989).

No mundo, estima-se em 240 milhões o número de crianças menores de

cinco anos com comprometimento no desenvolvimento físico em decorrência da

desnutrição energético-protéica, a maioria delas na África, Ásia e América Latina

(ALBERTI et al., 2002).

No Brasil, as taxas de desnutrição variam conforme a região. Nas regiões

Norte e Nordeste, a taxa de desnutrição crônica é duas a três vezes maior que as

taxas apresentadas pelas outras regiões (Tabela 6).

Tabela 6 – Prevalência de desnutrição, no Brasil, por regiões e tipo, 1996.

REGIÃO DESNUTRIÇÃO CRÔNICA DESNUTRIÇÃO AGUDA

Norte 16,2% 1,2% Nordeste 17,9% 2,8% Sudeste (São Paulo) 6,3% 1,4% Sul 5,1% 0,9% Centro-Oeste 8,2% 2,9%

Fonte: ROUQUAYROL & ALMEIDA FILHO, 1999.

Contudo, a fome e a desnutrição representam fenômenos histórico-

sociais, antes que possam ser atribuídos à fatalidade geográfica (ROUQUAYROL

& ALMEIDA FILHO, 1999).

A pobreza expressa pelo baixo poder aquisitivo, que limita o consumo

adequado de alimentos, associada às condições insalubres das moradias, que

facilita a ocorrência de doenças infecciosas, é uma condição determinante do

processo de desnutrição. Porém, o subdesenvolvimento social e econômico é a

condição explicativa do processo.

A avaliação da condição nutricional é essencial para a realização de

medidas de intervenções que atuem sobre as carências nutricionais primárias

(quantitativa e ou qualitativas) e sobre os determinantes das doenças infecciosas.

A prevalência da DEP pode ser avaliada mediante indicadores diretos –

antropométricos, clínicos e bioquímicos - e indiretamente – mortalidade infantil,

mortalidade por doenças infecciosas, além de variáveis socioeconômicas, que

podem ser consideradas preditivas do estado nutricional.

- -

52

O diagnóstico da desnutrição realizado por meio do exame físico tem

como desvantagem o fato das manifestações clínicas ocorrerem apenas em fases

avançadas do processo de desnutrição. Portanto, a utilização da desnutrição

clinicamente manifesta como indicador nutricional tem pouco valor nos estudos de

base populacional. Uma vez que a gravidade da desnutrição determina a

internação hospitalar dos indivíduos como também, eleva a mortalidade dos

portadores dessa condição mórbida.

Os marcadores bioquímicos, de custo elevado e baixa sensibilidade e

especificidade, não reúnem atributos de simplicidade e acurácia para a aplicação

na rotina dos inquéritos de avaliação da DEP (ROUQUAYROL & ALMEIDA

FILHO, 1999).

Portanto, os indicadores antropométricos construídos por intermédio de

índices que relacionam mensurações de idade, peso e estatura são capazes de

representar o conceito social da desnutrição e refletir o status de uma

comunidade. São os indicadores de uso mais comum, nos estudos de saúde

coletiva, apresentando um potencial para a adoção na avaliação epidemiológica

das ações de saneamento (HELLER, 1997).

SARNI (2001) afirma que a antropometria pela facilidade de execução e

baixo custo, tem se revelado como o método isolado mais utilizado para o

diagnóstico nutricional populacional, sobretudo na infância. Inquéritos nacionais

têm utilizado os indicadores antropométricos para a avaliação da DEP

(MONTEIRO, 1984; CAMPINO, 1986; INAN, 1990; LEAL & BITTENCOURT,

1997).

Para que a desnutrição seja identificada em todos os seus graus é

necessário que se realize um acompanhamento temporal de cada indivíduo na

sua curva de peso e estatura (LAMOUNIER et al., 2002).

Estudos longitudinais têm mostrado que as medidas antropométricas são

indicadores importantes do risco de mortalidade na infância. As crianças que

apresentam desnutrição de grau moderado têm o dobro do risco de morrer,

enquanto que esse risco triplica, nos casos de desnutrição grave (UNICEF, 1994).

Contudo, a avaliação do estado nutricional pode ser obtida em estudos

transversais, sem a incorporação da temporalidade do fenômeno, através dos

- -

53

índices antropométricos preconizados pela Organização Mundial de Saúde:

altura/idade, peso/altura e peso/idade (WHO WORKING GROUP, 1986).

O comprometimento do índice altura/idade – nanismo (stunting), indica

que a criança tem o crescimento comprometido em processo de longa duração e

é útil na avaliação da desnutrição crônica. O déficit no índice peso/altura -

emaciamento (wasting), reflete um comprometimento mais recente do

crescimento com reflexo mais pronunciado no peso e é útil na avaliação da

desnutrição aguda. O déficit do peso para a idade (underweight) é um índice

isolado, não sendo útil para avaliar a cronologia da perda de peso. Seu déficit

pode significar tanto um fenômeno recente como antigo (WHO WORKING

GROUP, 1986; GOULART, 2000).

Para a comparação do conjunto de medidas antropométricas obtidas com

um padrão de referência podem ser empregadas várias escalas. As mais

comumente utilizadas são o percentil e o escore Z. Outras classificações

antropométricas utilizadas são as de Gómez e Waterlow.

Percentil - Os percentis são derivados da distribuição, em ordem

crescente, dos valores de um parâmetro observado para uma determinada idade

ou sexo. A classificação de uma criança em um determinado percentil permite

estimar quantas crianças, de mesma idade e sexo, são maiores ou menores em

relação ao parâmetro avaliado.

O padrão de referência é NCHS (National Center for Health Statistics),

recomendado pela Organização Mundial de Saúde.

Abaixo do percentil 3, as crianças são consideradas como peso muito baixo

(desnutridas), entre o percentil 3 e o 10 como peso baixo (risco para a

desnutrição). O limiar entre a desnutrição e a eutrofia é o percentil 10

(corresponde ao escore Z de –1,28). Esse critério apresenta maior sensibilidade

(diagnostica os casos mais leves) e baixa especificidade (diagnostica muitos

casos falsos positivos). A distribuição em percentis é preconizada pelo Ministério

da Saúde e Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância – AIDPI

(GOULART, 2000; SARNI, 2001).

Escore Z – A Organização Mundial de Saúde recomenda que a

classificação nutricional seja feita a partir do escore Z dos índices peso/altura e

- -

54

altura/idade (WHO WORKING GROUP, 1986). O escore Z significa quantos

desvios padrão o dado obtido está afastado de sua mediana de referência. O

escore Z é calculado pela fórmula:

Z = (valor observado – mediana) / desvio padrão

Por essa classificação são consideradas desnutridas as crianças que

apresentam –2 desvios-padrão (DP) para o índice avaliado. O ponto de corte no

escore Z em –2 DP (percentil 2,3) é um limiar que privilegia a especificidade em

detrimento da sensibilidade, identificando melhor os casos mais acometidos.

São classificadas de desnutridos graves, as crianças que apresentam o

escore Z abaixo de –3 DP; desnutrição moderada escore Z maior que –2 DP e

menor ou igual a –3 DP. A desnutrição leve ou risco de desnutrição o escore Z

entre –1 a –2 DP.

Critério de Gomez – A metodologia proposta por Gomez tinha como

função a determinação do prognóstico de morbi-mortalidade de crianças

hospitalizadas de acordo com sua condição nutricional. Entretanto, esse critério

passou a ser utilizado como classificação nutricional. Basea-se no índice peso por

idade (P/I).

P/I = peso encontrado *100 / peso ideal (p50)

p50 – percentil 50 do padrão de referência (NCHS).

Eutrófico: P/I superior a 90% do p50;

Desnutrido de primeiro grau: P/I entre 76 e 90% do p50;

Desnutrido de segundo grau: P/I entre 60 e 75% do p50;

Desnutrido de terceiro grau: P/I inferior a 60% do p50.

Essa metodologia, por sua simplicidade, tem sido utilizada em vários

países, particularmente na América Latina (SARNI, 2001). A principal crítica que

se faz a essa classificação é por ela ser baseada no índice peso/idade, não

fazendo distinção entre a baixa estatura e a emaciação na deficiência do peso

verificado.

Classificação de Waterlow – Foi proposta em 1973, possibilitando

o estabelecimento de prioridades de intervenção, uma vez que define o tipo de

- -

55

desnutrição. Baseia-se nos índices peso/altura (P/A) e altura/idade (A/I). Assim

calculados:

A/I = estatura encontrada*100 / estatura ideal (p50)

P/A = peso encontrado *100 / peso ideal para a estatura observada

A classificação combina os dois índices:

Eutróficos: A/I superior a 95% e P/A superior a 90% do p50 do padrão de

referência;

Desnutrido atual ou agudo (wasted): A/I superior a 95% e P/A inferior a

90% do p50 do padrão de referência;

Desnutrido crônico (wasted and stunted): A/I inferior a 95% e P/A inferior

a 90% do p50 do padrão de referência;

Desnutrido pregresso (stunted): A/I inferior a 95% e P/A superior a 90%

do p50 do padrão de referência.

A validade da utilização dos padrões internacionais, obtidos em países

desenvolvidos, para a avaliação da desnutrição em crianças de países em

desenvolvimento, pode ser questionada. O padrão de referência do NCHS

recomendado pela Organização Mundial de Saúde, para a idade de 0 a 10 anos,

foi obtido através do estudo de populações eutróficas norte-americanas.

GOULART (2000) afirma que não existe mais dúvida que curvas de crescimento

construídas a partir de crianças de países desenvolvidos podem ser usadas para

comparar o crescimento de crianças de países pobres.

Estudos realizados usando o padrão de referência do NCHS,

comparando populações de bairros carentes com bairros privilegiados,

encontraram índices antropométricos com boa proximidade (ALBERTI et al.,

2002).

Reconhece-se, que o potencial genético tem influência menor que os

fatores ambientais - dieta insuficiente, infecções recorrentes e parasitoses

intestinais, na determinação do déficit de crescimento das crianças dos países em

desenvolvimento.

- -

56

3.4. Piócitos

Os piócitos são leucócitos polimorfonucleares degenerados presentes no

trato intestinal. Como as hemácias, os leucócitos são rapidamente destruídos na

luz intestinal, depois de secretados.

O aparecimento de leucócitos íntegros na fezes ocorre quando o trânsito

intestinal está acelerado a partir da lesão da mucosa entérica ou quando a lesão

se situa nas últimas partes do cólon (LIMA et al., 2001).

A presença dos piócitos na luz intestinal é indicativa da existência de

doença inflamatória intestinal causada por microrganismos cujos determinantes

de patogenicidade possibilitam o desenvolvimento de processo infeccioso no trato

intestinal que se manifesta, mais comumente, como diarréia.

BRISCOE (1986) afirma que a hipótese dos estudos de avaliação do

impacto sobre a saúde das intervenções em saneamento é que as melhorias nos

serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário afetam a transmissão

de enteropatógenos e somente as diarréias causadas por patógenos entéricos

serão afetadas por essas melhorias. Portanto, são as diarréias infecciosas as

mais específicas da relação saneamento e saúde e as que devem ser utilizadas

nesses estudos.

Com a identificação dos enteropatógenos nas fezes, muda-se o enfoque

do estado de doença que passa a ter uma definição etiológica e, portanto, objetiva

em contraposição à definição de diarréia, que é baseada na sintomatologia, na

subjetividade e na percepção pessoal.

Contudo, surge uma questão, na utilização dos enteropatógenos, agentes

etiológicos da diarréia (vírus, bactérias e protozoários), como indicador de saúde

para a avaliação do impacto das melhorias sanitárias. É o fato de que a presença

desses microrganismos não poder ser considerada um indício de processo

infeccioso, uma vez que esses agentes são isolados nas fezes, tanto de

indivíduos com diarréia como, em indivíduos sem diarréia. Necessita-se, portanto,

que a presença desses enteropatógenos seja associada a um marcador de

patogenicidade para a comprovação da natureza infecciosa.

- -

57

Em função disso, o presente trabalho sugere a utilização da presença de

enteropatógenos associada aos piócitos fecais, um constituinte patológico

intestinal, como indicador de saúde.

- -

58

CAPÍTULO IV

4. METODOLOGIA

4.1. Delineamento do estudo

4.1.1. Características gerais

O presente trabalho se insere na linha de pesquisa de avaliação do

impacto do ambiente sobre a saúde.

Consiste em um estudo quase-experimental, com características de

estudo transversal, para a avaliação do impacto de intervenções em saneamento

efetuadas pelo poder público em três áreas, distintas e geograficamente bem

delimitadas, situadas em uma única vila da periferia de Belo Horizonte, Vila Nossa

Senhora de Fátima, com base em uma seleção de indicadores de saúde.

Foi estruturado para quantificar o risco de desenvolvimento de um grupo

selecionado de agravos à saúde, por meio da comparação de populações

residentes em áreas destituídas de abastecimento de água e/ou esgotamento

sanitário, com população residente em área provida desses recursos.

As intervenções em abastecimento de água e em esgotamento sanitário

definiram as três áreas de exposição, assim designadas pelo estudo:

Área 1: Sem serviço de abastecimento de água e esgotamento sanitário;

Área 2: Com serviço de abastecimento de água e sem esgotamento

sanitário;

Área 3: Com serviço de abastecimento de água e esgotamento sanitário.

Considerada a área de não-exposição.

A avaliação do impacto das intervenções efetuadas sobre os indicadores

de saúde foi realizada por meio da comparação da prevalência dos agravos

associadas a esses indicadores, nas áreas destituídas de serviços de

abastecimento de água e esgotamento sanitário, com a prevalência desses

mesmos fatores observados na área considerada completamente servida por

esses serviços.

- -

59

As informações necessárias para essa comparação foram obtidas por

meio de inquérito domiciliar, clínico, epidemiológico e laboratorial das

características das populações residentes nas três áreas, realizado em amostras

aleatórias simples.

4.1.2. Área geográfica do estudo

Belo Horizonte, em 1998, tinha uma população com cerca de 2.100.000

habitantes. Neste mesmo ano, o sistema público de abastecimento de água

atendia a 98% da população e o serviço público de esgotamento sanitário a 83%.

Aproximadamente, 40 mil pessoas não contavam com o fornecimento de

água pelo sistema público. Por sua vez, a rede pública de esgotamento sanitário

não coletava os esgotos gerados de 350 mil habitantes (PREFEITURA

MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 1998).

Apesar dos índices de cobertura, os serviços de abastecimento e

esgotamento sanitário não são distribuídos uniformemente no município. Há áreas

inteiramente servidas por água e esgoto, como também há áreas destituídas,

completamente, dos serviços de saneamento. Essas áreas de exclusão sanitária

são localizadas principalmente em vilas, favelas e loteamentos clandestinos.

Informações obtidas junto aos órgãos da Prefeitura Municipal de Belo

Horizonte possibilitaram a identificação e delimitação da área geográfica do

estudo, selecionada entre as 174 vilas e favelas da cidade. Adotaram-se os

seguintes critérios para a escolha da área:

Coincidência entre os dados municipais e os estaduais de

saneamento;

Existência a priori, e na mesma favela, de três áreas definidas como

estados de exposição e de não-exposição aos serviços sanitários,

denominados doravante fatores de risco;

Representatividade das condições de saneamento e urbanismo

vigentes nas vilas e favelas do Município de Belo Horizonte.

Escolheu-se, então, a Vila Nossa Senhora de Fátima que, juntamente

com outras seis favelas, compõe o Aglomerado da Serra, onde vivem 46.086

pessoas, correspondendo a cerca de 10% da população de vilas e favelas de

- -

60

Belo Horizonte. O ANEXO 1 contém o mapa do Município de Belo Horizonte com

localização das áreas de vilas e favelas e área geográfica do estudo.

4.1.3. População do estudo

A amostra do estudo foi selecionada da população de crianças entre um

a cinco anos de idade residentes na Vila Nossa Senhora de Fátima e que

moravam em casas localizadas nas três áreas definidas a priori como estado de

exposição e de não-exposição.

A escolha da faixa etária entre um a cinco anos foi baseada nos

seguintes fatores:

Maior susceptibilidade às condições de carência de saneamento das

crianças com a faixa etária maior que um ano, por se excluirem os

possíveis lactentes;

O instrumento de aferição do peso adquirido pela pesquisa tem

precisão de 200g. Este valor não poderia ser desconsiderado na

mensuração do peso das crianças com idade inferior a um ano.

4.1.4. Método do estudo

O método epidemiológico empregado foi o estudo quase-experimental

(PEREIRA, 1995) realizado com informações obtidas de delineamento

transversal.

Adotou-se o seguinte desenho: retirou-se aleatoriamente da população

residente em cada uma das três áreas em estudo (N) uma amostra (A). Essas

amostras pela definição das áreas de exposição, já estavam divididas em dois

grupos de expostos ao fator de risco (E) e em um grupo de não-expostos (NE). As

amostras foram avaliadas para a identificação dos estados de doença (D) e de

não-doença (ND), definidos pelos indicadores de saúde selecionados (Figura 3).

___ D Área 1 (N) – E 1 ______(A) _________ ___ ND ___ D

- -

61

Área 2 (N) - E 2 ______(A) _________ ___ ND ___ D Área 3 (N) – NE ______(A) _________ ___ ND

Figura 3. Diagrama analítico do estudo.

O motivo da adoção desse método pela pesquisa deve-se ao fato de

esse tipo de delineamento permitir avaliar a ocorrência de uma associação entre a

exposição e a doença, sem necessitar para tanto, de um período de

acompanhamento. A não incorporação da temporalidade do fenômeno estudado é

compensada pela simplificação e diminuição dos custos da etapa de coleta dos

dados.

Além disso, o estudo transversal permite a avaliação simultânea de vários

efeitos sobre a saúde (ROUQUAYROL & ALMEIDA FILHO, 1999; HELLER,

1997).

4.1.5. Definição dos estados de exposição e não-exposição

A exposição foi definida como ausência total ou parcial dos serviços

públicos de abastecimento de água e esgotamento sanitário. Definiu-se, o estado

de não-exposição como a presença conjunta dos dois serviços de saneamento.

A existência das intervenções em saneamento definiu e nomeou as

seguintes áreas de estudo:

Área 1 ou SASE. Sem abastecimento de água e sem esgotamento

sanitário;

Área 2 ou CASE. Com abastecimento de água e sem esgotamento

sanitário;

Área 3 ou CACE. Com sistema de abastecimento de água e com

esgotamento sanitário.

As três áreas guardam entre si um gradiente de exposição ou de risco –

da área de urbanização precária e destituída de recursos sanitários para a área

urbanizada e com serviço de saneamento totalmente ou parcialmente presente.

- -

62

4.1.6. Definição dos estados de doença – indicadores de saúde

A seleção das doenças que avaliariam, no presente trabalho, o impacto

sobre a saúde foi inspirada na classificação ambiental das doenças relacionadas

com a água (CAIRNCROSS & FEACHEM, 1990), na classificação das infecções

relacionadas com os excretas (FEACHEM et al., 1983) e na revisão realizada por

MARA & FEACHEM (1999).

Com base nos critérios dessas classificações, as doenças selecionadas

foram:

1. As que refletissem as intervenções em abastecimento de água e

esgotamento sanitário;

2. As que fossem adequadas à realidade da área geográfica estudada;

3. As que fossem identificadas por métodos clínicos e laboratoriais

exeqüíveis na realidade de campo;

4. As que fossem adequadas ao método de coleta dos dados -

inquérito domiciliar com identificação direta dos casos.

A Tabela 7 apresenta as doenças avaliadas pela pesquisa.

Tabela 7 – Doenças avaliadas pela pesquisa

CATEGORIA INFECÇÃO

1. FECO-ORAL Transmissão hídrica ou relacionada com a higiene

Bacterianas

Infecção por Campylobacter Infecção por Escherichia coli enteropatogênica Salmonelose Shigelose

Protozooses

Amebíase Criposporidiose Giardíase Helmintíases

Ascaridíase Enterobíase Himenolepíase Cisticercose 2. GEOHELMINTOS Ancilostomíase

Estrongiloidíase Ascaridíase (1) Tricocefalíase (1)

- -

63

Nota: (1) Helmintos que necessitam de desenvolvimento de estágio ambiental no solo durante ciclo evolutivo, mas a via de transmissão é feco-oral.

A presença das doenças indicadas na Tabela 7 propiciou a construção

dos indicadores de saúde utilizados na avaliação dos efeitos da exposição aos

fatores de riscos aqui estudados.

A morbidade por diarréia, a presença de parasitas intestinais nas fezes, o

estado nutricional e a presença de enteropatógenos associada a constituintes

patológicos intestinais constituíram os indicadores utilizados nesse trabalho.

Os três primeiros são indicadores tradicionais, recomendados pela

literatura, utilizados nos estudos epidemiológicos de avaliação do impacto das

intervenções em saneamento sobre a saúde (BLUM & FEACHEM, 1983;

BRISCOE et al., 1986; HELLER, 1997). O quarto indicador é o novo indicador

proposto pela presente pesquisa. Descreve-se a seguir os indicadores

empregados:

Morbidade por diarréia –– Para fins do estudo, a diarréia foi definida

como três ou mais episódios de evacuações líquidas, nas últimas quarenta e oito

horas que antecederam a coleta dos dados.

Foi estabelecida a seguinte definição para caso: “Criança de um a cinco

anos de idade, residente nas três áreas definidas pelo estudo, que tenha

apresentado diarréia, nas quarenta e oito horas que antecederam a realização da

entrevista”.

A informação sobre esse indicador foi obtida por meio do inquérito

domiciliar e resposta ao questionário pelo adulto responsável, presente no

momento da entrevista.

Presença de parasitas intestinais nas fezes ––- Compreendeu

helmintos e protozoários patogênicos, como Giardia spp, Entamoeba histolytica e

Cryptosporidium spp.

Para esse indicador a definição de caso foi: “Criança de um a cinco anos,

residente nas três áreas definidas pelo estudo, de cujas fezes foram identificados

helmintos e protozoários patogênicos, por meio do exame parasitológico de

fezes”.

- -

64

As fezes das crianças participantes do estudo foram coletadas pela

equipe da pesquisa e encaminhadas ao laboratório para a realização do exame

parasitológico de fezes.

Na etapa da análise dos dados, os helmintos e protozoários isolados por

meio dos exames de fezes foram analisados separadamente pela espécie e de

forma agregada. Os helmintos foram agrupados em categorias de acordo com a

forma de transmissão, com a necessidade de desenvolver um estágio ambiental

no solo durante o ciclo evolutivo, e pela ocorrência da poli-helmintíase, resultando

na formação das seguintes variáveis:

Helmintíase T_G_O – constituída pelos helmintos que desenvolvem

estágio do ciclo evolutivo no solo e são transmitidos por via oral – Ascaris

lumbricoides e Trichocephalus trichiurus;

Helmintíase T_Geo – constituída pelos helmintos que desenvolvem

estágio do ciclo evolutivo no solo e o mecanismo de transmissão é a

penetração das larvas através da pele ou mucosas – Strongyloides

stercoralis, Ancylostoma duodenale;

Helmintíase T_Oral - constituída pelos helmintos cujo mecanismo de

transmissão é a via feco-oral - Ascaris lumbricoides, Trichocephalus

trichiura, Hymenolepis nana e Enterobius vermiculares.

Os protozoários patogênicos – Cryptosporidium, Entamoeba histolytica e

Giardia lamblia foram agrupados para efeito de análise. Os protozoários não

patogênicos – Entamoeba coli, Endolimax nana e Iodamoeba butschilli não foram

considerados na análise multivariada.

Estado nutricional –– Pela aferição do peso e da altura das crianças

pode-se calcular os três índices antropométricos mais freqüentemente utilizados

para a avaliação do estado nutricional infantil em inquéritos epidemiológicos:

altura/idade, peso/altura e peso/idade (GOULART, 2000).

As crianças selecionadas tiveram seus dados antropométricos aferidos

pelos entrevistadores, previamente treinados, durante o inquérito domiciliar.

O peso da criança foi aferido em balança portátil digital da marca Plenna,

com capacidade mínima de 200g e a máxima de 150kg, adquirida para esse fim.

- -

65

As crianças foram pesadas descalças e sem roupas e posicionadas de

maneira que seu peso fosse igualmente distribuído para cada lado do centro da

balança colocada sob uma superfície plana da moradia.

Aquelas que não conseguiam ficar em pé sozinhas eram pesadas

juntamente com o adulto responsável, presente no momento da entrevista e,

tinham seus pesos subtraídos do peso do adulto, posteriormente avaliado. A cada

dois dias as balanças eram aferidas.

A mensuração da estatura das crianças foi realizada utilizando-se régua

antropométrica. Com a criança em decúbito dorsal, os pés eram mantidos em

contato com a parte distal da régua e movia-se a parte proximal da régua até

tocar a cabeça da criança. O ANEXO 2 contém as fotografias demonstrando a

utilização da balança e da régua antropométrica.

A idade das crianças foi obtida pela informação dos pais. Nas entrevistas

respondidas por outras pessoas que não os pais, verificava-se a confiabilidade da

informação por meio da certidão de nascimento ou cartão vacinal.

Na etapa de verificação dos questionários, as crianças que apresentaram

os índices peso/idade e altura/idade abaixo do percentil 10 tiveram seus dados

antropométricos novamente mensurados e a data de nascimento confirmada pela

verificação de um documento.

Os índices antropométricos foram calculados com recursos do programa

Epi Nut do Epi Info versão 6.4, tendo como referência os dados antropométricos

do National Center for Health Statistic (NCHS), recomendados pela Organização

Mundial de Saúde (OMS), para a idade de 0 a 10 anos (WHO WORKING

GROUP, 1986; GOULART, 2000; ALBERTI et al., 2002).

Para a comparação do conjunto de medidas antropométricas obtidas,

empregou-se a escala do escore Z (desvio padrão escore) já definida

anteriormente.

Os graus de desnutrição foram definidos conforme os valores de Z

classificando-se a desnutrição leve ou risco de desnutrição as crianças cujos

valores de Z situavam-se no intervalo de -1 a -2 DP, de desnutrição moderada (-2

a -3 DP), e desnutrição grave (menor que -3 DP).

O estado nutricional também foi classificado em desnutrição aguda,

crônica e déficit ponderal isolado de acordo com as relações:

- -

66

peso/altura para a desnutrição aguda;

altura/idade para a desnutrição crônica;

peso/idade para o déficit ponderal isolado.

Para cada índice antropométrico (peso/altura, altura/idade e peso/idade)

foi calculada, também a prevalência padronizada, a partir da média e do desvio

padrão do escore Z da população estudada.

A prevalência padronizada informa a prevalência da anormalidade

avaliada no total da amostra. O cálculo dessa prevalência foi obtido utilizando o

programa EpiNut do Epi Info versão 6.04 que emprega o método proposto por

Mora em 1989.

Esse método consiste em sobrepor a curva da população em estudo à

curva de uma população de eutróficos tomada como referencial. As duas curvas

estarão justapostas ou distanciadas conforme a menor ou maior quantidade de

desnutridos na população estudada.

A Figura 4 mostra área que corresponde ao montante que as duas curvas

diferem entre si. O cálculo dessa área do gráfico, em percentual, corresponde à

prevalência padronizada.

Figura 4 – Curva da freqüência observada para um determinado índice antropométrico e curva esperada para eutróficos.

Presença de patógenos entéricos associada aos piócitos fecais ––

Indicador proposto pelo trabalho que associa um marcador de patogenicidade à

diarréia e à presença de enteropatógenos com a finalidade de refletir a natureza

infecciosa, portanto, aumentar a especificidade do indicador quanto à

possibilidade de refletir a via de transmissão feco-oral, relacionada diretamente

com a deficiência ou ausência de saneamento.

- -

67

Para a formação desse indicador, foi necessária a identificação

laboratorial dos agentes etiológicos das doenças selecionadas pela pesquisa,

como também a identificação da presença de piócitos fecais realizada pelo exame

bacterioscópico direto.

Os agentes etiológicos das helmintíases e protozooses foram isolados

pela a realização dos exames parasitológicos de fezes.

Os agentes bacterianos foram identificados por meio de cultura de fezes

e técnicas sorológicas de identificação das espécies patogênicas já mencionadas

anteriormente.

Foi definido como caso: “Criança de um a cinco anos, residente nas três

áreas definidas pelo estudo, com ou sem diarréia, em cujas fezes foram isolados

enteropatógenos e piócitos fecais”.

Na análise dos dados criaram-se as seguintes possibilidades para esse

indicador:

Ocorrência de diarréia associada à presença de piócitos fecais;

Infecção por bactérias patogênicas associadas à presença de piócitos

fecais;

Presença de bactérias não patogênicas associada à presença de

piócitos fecais;

Infecção por parasitas intestinais associada à presença de piócitos

fecais;

Infecção por patógenos de transmissão feco-oral associada à

presença de piócitos fecais.

No decorrer da etapa de campo, a coordenação da pesquisa resolveu

interromper a identificação, por técnicas laboratoriais, do gênero Campylobacter.

Uma vez, que essa bactéria foi isolada em apenas três exames de fezes em 428

exames realizados. Os três exames positivos foram provenientes de fezes de

crianças residentes na área não-exposta, área CACE. Ponderou-se, que pouca

informação seria obtida com a freqüência de isolamento do Campylobacter,

portanto o custo da realização da pesquisa laboratorial dessa bactéria não era

justificado.

- -

68

4.1.7. Dimensionamento da amostra

Os parâmetros utilizados no dimensionamento da amostra foram:

Prevalência presumível de 7% de diarréia entre as crianças da

população da área controle;

“Odds Ratio”11 de 2,5 ou mais na comparação da prevalência das

áreas expostas a baixos níveis de saneamento com a área controle;

Erro alfa de 5%;

Poder amostral de 90%;

Proporção de casos e controles 2:1.

O tamanho inicial de cada amostra foi fixado em 224 elementos,

conforme determinação dos parâmetros mencionados.

Em decorrência de limites técnicos impostos ao volume de exames

laboratoriais e levando em conta que a população alvo de uma das áreas era

menor que o tamanho amostral calculado, foi arbitrado o valor de 200 crianças

para cada grupo. Foi programada a investigação total de 600 crianças.

Como para o novo indicador proposto, não foram encontrados, na

literatura, dados sobre a prevalência dos piócitos fecais e das enterobactérias,

optou-se pela realização de um estudo piloto interno, no qual foram calculadas

essas prevalências, com os sessenta primeiros resultados dos exames

laboratoriais realizados, no início da etapa de campo.

4.1.8. Processo de amostragem

O método utilizado pelo estudo foi amostragem estratificada12 em dois

estágios. Em cada estágio, os elementos amostrais foram selecionados por

processo de amostragem aleatória simples13.

No primeiro estágio, foram selecionadas as residências e no segundo as

crianças que participariam do estudo.

11 “Odds Ratio” ou Razão de Probabilidade ou Razão de Chances – É definida como a razão entre a chance

de se desenvolver a doença entre os expostos e entre os não expostos. 12 É o método de amostragem que divide a população, inicialmente, em estratos: subgrupos com alguma

característica conhecida e relacionada com a variável de interesse. Os extratos devem ser mutuamente

excludentes. 13 Método em que cada elemento tem a mesma probabilidade de ser selecionado.

- -

69

Para a seleção das casas foram elaborados mapas das áreas de estudo

com os dados de abastecimento de água, esgotamento sanitário e com o

arruamento. Foi sobreposta aos mapas a respectiva foto aérea obtida por técnicas

de aerofotogrametria, para possibilitar a identificação das moradias. Antes de

iniciar o processo de seleção das residências foi providenciada a atualização das

informações, através da verificação in loco dos dados fornecidos pelos mapas e

fotografias.

A área do mapa correspondente às três áreas de investigação, SASE,

CASE e CACE, foi quadriculada formando uma malha de coordenadas. Cada

célula da malha, referente a uma das três áreas, foi numerada seqüencialmente

de 1 a 500. As casas que apareciam no mapa totalmente incluídas nas células

recebiam a numeração da mesma.

Não receberam a numeração, para o sorteio, as casas que não estavam

incluídas completamente no limite das células.

Por meio de programas de geração de números aleatórios selecionaram-

se para cada área as 200 casas cujos habitantes seriam submetidos ao protocolo

do estudo.

Para antecipar a superação de dificuldades relacionadas à

operacionalização da amostragem foram adotados os seguintes critérios e

procedimentos para o auxílio da decisão de se incluir ou não as residências na

amostra:

Escolha da casa imediatamente à esquerda, sucessivamente, caso

não houvesse criança entre um a cinco anos, residente na moradia

selecionada, caso houvesse três ocorrências de recusa ou não fosse

encontrado moradores na residência;

Escolha de nova moradia na numeração complementar, caso não

fosse encontrado na realidade de campo a moradia selecionada;

A seleção da residência, por meio do processo mencionado, constituiu o

primeiro estágio de seleção da amostra.

O segundo estágio de seleção correspondeu à identificação das crianças

que participariam do estudo. A inclusão dessas crianças na amostra foi

determinada por sorteio, entre as crianças de um a cinco anos existentes nas

residências sorteadas no primeiro estágio. As candidatas ao sorteio, em cada

- -

70

residência, eram numeradas arbitrariamente e a criança era selecionada pelo

lançamento de dados. Os entrevistadores utilizaram apenas um dado em cada

experiência.

4.1.9. Protocolo adotado pelo estudo

O protocolo adotado consistiu: 1) no consentimento de participação na

pesquisa; 2) na aplicação do questionário ao adulto responsável presente no

momento da entrevista; 3) na coleta do material fecal para os exames

parasitológico de fezes, coprocultura e pesquisa de piócitos fecais e 4) na aferição

dos dados antropométricos da criança.

O protocolo da pesquisa foi submetido à avaliação do Comitê de Ética em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais. Foi aprovado definitivamente

na reunião do dia 30 de agosto de 2001.

O questionário aplicado durante a entrevista domiciliar foi adaptado do

questionário elaborado por HELLER (1995).

Elaborou-se uma primeira versão do questionário, que foi submetida a

um pré-teste de campo realizado por cinco entrevistadores e pela autora, cada

qual aplicando-o a duas moradias de cada uma das três áreas de investigação.

Em seguida, realizou-se uma discussão da estrutura do questionário, da

compreensão das perguntas pelos entrevistados e das dificuldades encontradas

em cada questão. Após a análise das críticas apresentadas pelos entrevistadores,

elaborou-se a versão definitiva do questionário. O protocolo adotado pela

pesquisa consiste de:

Orientação para o preenchimento do termo de consentimento

informado da participação do adulto;

Dados sobre o entrevistado;

Endereço da moradia;

Termo de consentimento informado do adulto;

Orientações para o preenchimento do termo de consentimento

informado para a participação da criança;

Termo de autorização para a participação da criança;

Questionário, com as seguintes seções:

- -

71

I. Caracterização da população residente na casa;

II. Caracterização da criança e dados de saúde;

III. Caracterização socioeconômica;

IV. Abastecimento de água e hábitos higiênicos;

V. Esgotamento sanitário e presença de cursos d’água nas

proximidades;

VI. Acondicionamento e destino do lixo doméstico;

VII. Comportamento das águas pluviais;

VIII. Presença de vetores;

IX. Aferição dos dados antropométricos das crianças;

X. Validação pela observação in loco, das informações;

Folha para o registro da entrevista;

Coleta do material fecal;

Repasse dos resultados dos exames laboratoriais ao responsável pela

criança;

Encaminhamento das crianças com alterações clínicas e laboratoriais

ao serviço de atendimento médico.

O questionário aplicado pelo estudo foi confeccionado em três cores

diferentes, uma para cada área de exposição. O ANEXO 3 apresenta parte do

protocolo adotado pelo trabalho: os termos de consentimento, o questionário

aplicado e a folha de registro das entrevistas.

4.2. Coleta dos dados

A pesquisa contratou uma equipe, especificamente, para a realização das

entrevistas. Outra realizou a coleta e transporte do material fecal ao laboratório,

além do repasse do resultado dos exames ao responsável pela criança.

A seleção dos entrevistadores ocorreu após a avaliação do desempenho

de cada candidato ao final do período de treinamento, que foi constituído das

seguintes etapas:

Explanação detalhada de todos os itens do protocolo;

- -

72

Explanação do processo de amostragem e medidas adotadas para a

seleção das moradias;

Aplicação em sala do questionário pelos entrevistadores;

Utilização dos instrumentos de aferição do peso e altura;

Recomendações para a obtenção dos dados antropométricos e da

data de nascimento das crianças, acima mencionadas;

Procedimento para aferição das balanças durante a etapa de campo;

Noções de avaliação clínica do estado de desidratação (MOTA &

PENNA, 2001);

Aplicação, em campo, de dois questionários em cada área do estudo.

Cinco agentes comunitários de saúde, moradores da comunidade em

estudo, com nível de escolaridade de ensino médio, foram selecionados para

atuarem como entrevistadores. Foram eles os responsáveis pela aplicação do

questionário e obtenção dos dados antropométricos das crianças.

Contratou-se um supervisor, responsável pela coleta do material fecal,

entrega ao laboratório contratado pela pesquisa para a realização dos exames de

fezes. No decorrer da fase de campo da pesquisa, foram contratadas e treinadas

mais três pessoas para atuarem na função de coleta das fezes.

A realização das entrevistas domiciliares iniciou-se no dia 13 de março de

2002, concomitantemente com a coleta do material fecal. Divulgou-se a execução

da pesquisa por intermédio da liderança comunitária e da fixação de cartazes na

Vila (ANEXO 4).

Na primeira semana, a autora permaneceu em campo durante a fase de

coleta dos dados, acompanhando a realização das entrevistas e sanando as

dúvidas que apareciam. Posteriormente, a equipe da pesquisa reunia-se

semanalmente na sede da Associação dos Moradores da Vila Nossa Senhora de

Fátima.

Durante essas reuniões, eram repassados os questionários realizados,

verificava-se a coerência das respostas, corrigiam-se os erros encontrados no

preenchimento do questionário e eram fornecidos os dados das crianças que

necessitavam de avaliação médica. Essas crianças eram avaliadas pela autora

em suas residências e encaminhadas para o ambulatório de pediatria do Hospital

da Baleia da Fundação Benjamin Guimarães, entidade que se comprometeu em

- -

73

receber e avaliar as crianças encaminhadas pela pesquisa. O ANEXO 2 contém a

folha de encaminhamento utilizada.

No dia seguinte à realização da entrevista, a equipe contratada para a

coleta do material fecal ia às moradias, entregava os três recipientes para a coleta

das fezes e explicava o procedimento de coleta. No quarto dia, a equipe retornava

à moradia para recolher o material coletado, que era repassado ao supervisor

para ser entregue ao laboratório.

O procedimento de coleta do material fecal foi:

No recipiente 1, com solução conservante de MIF (mertiolato-iodo-

formol), eram coletadas as fezes de três dias consecutivos;

No recipiente 2, com meio de transporte e conservação de

enterobactérias (Carry-Blair), era coletada apenas uma amostra de fezes;

No recipiente 3, que deveria ser mantido sob refrigeração, era

coletada também uma amostra de fezes, para o exame de pesquisa de

piócitos.

Caso as fezes não fossem colhidas no quarto dia, a equipe retornava à

moradia, novamente, por mais cinco dias. Não sendo colhidas as fezes, o

supervisor ia à moradia e explicava a necessidade de se obter o material fecal e

relembrava o compromisso da participação voluntária da pesquisa. Novos frascos

de coleta eram entregues e repetia-se, por mais cinco vezes, a tentativa de se

obter o material fecal. Ocorrendo o insucesso, após esse procedimento,

considerava-se a atitude do responsável pela criança como desistência à

participação na pesquisa.

- -

74

Gráfico 3 – Incidência de crimes violentos no Aglomerado da Serra, no período de janeiro a junho de 2002.

Fonte: CICOP, 2002.

A etapa de campo da pesquisa foi interrompida três vezes em

decorrência do aumento da violência na Vila Nossa Senhora de Fátima. Dados da

Polícia Militar demonstram que a ocorrência de crimes violentos, nessa região, no

período de março a junho de 2002, duplicou em relação às ocorrências

registradas em janeiro (GRAF. 3) (POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS, 2002).

A etapa de coleta de dados e do material fecal foi finalizada no dia 13 de

julho de 2002, portanto 120 dias após o início. Antes do encerramento da

pesquisa foi enviada uma carta às moradias onde foram aplicados os

questionários e não foram colhidas as fezes das crianças, na tentativa de

aumentar a quantidade de exames de fezes realizados e dar, novamente, a opção

de participar da segunda etapa da pesquisa aos responsáveis pela criança. O

ANEXO 3 contém a carta enviada.

A realização dos exames de fezes para o isolamento de helmintos,

protozoários, bactérias patogênicas e piócitos foi executada pelo Instituto de

Patologia Clínica Hermes Pardini LTDA, contratado pela pesquisa. Assinou-se um

contrato de prestação de serviços entre o referido laboratório e a Fundação

Cristiano Ottoni. O ANEXO 4 contém a folha utilizada para a solicitação dos

exames laboratoriais.

Dentre os fatores que determinaram a escolha desse laboratório, em

detrimento de outros três laboratórios públicos, procurados pela pesquisa –

Laboratório de Parasitologia e Análise Clínica da Escola de Farmácia da UFMG,

0

5

10

15

20

25

30

35

JAN. FEV. MAR. ABR. MAIO JUN.

Incidência de crimes

violentos

- -

75

Laboratório Central do Hospital das Clínicas da UFMG e Fundação Ezequiel Dias

- foram:

Interesse e disponibilidade do laboratório de realizar os exames para

a pesquisa;

Não restrição ao número de amostras de fezes a serem

encaminhadas por dia ao laboratório;

Possibilidade de realizar no mesmo laboratório todos os exames

necessários para a execução da pesquisa;

Menor orçamento apresentado;

Realização do exame para identificação do Cryptosporidium;

Realização de sorotipagem para a identificação das cepas

patogênicas das enterobactérias;

Índice de positividade dos exames de fezes realizados pelo laboratório

dentro dos percentuais publicados na literatura - 20 a 23% (LIMA et al.,

2001);

Realização de um controle de qualidade interno, pelo uso de estudo

duplo cego, no qual, uma em cada dez amostras de fezes era dividida em

duas e analisadas por técnicos diferentes. Os resultados dos exames

eram avaliados pelo pessoal do controle e deveriam ser idênticos;

Todos os exames de fezes realizados com resultados negativos eram

repetidos, por outro técnico.

Foram realizadas cópias xerográficas dos resultados dos exames

laboratoriais de cada criança avaliada, que foram entregues nas moradias, pela

equipe da pesquisa. No caso do exame de fezes ser positivo para os patógenos

pesquisados, juntamente com a cópia do resultado era anexado o

encaminhamento para o ambulatório de pediatria do Hospital da Baleia.

4.3. Análise dos dados

4.3.1. Banco de dados e recursos de informática

- -

76

Todos os questionários aplicados foram revisados e as perguntas foram

codificadas para facilitar a digitação.

As informações obtidas pela aplicação do protocolo do estudo foram

gravadas em meio magnético, por meio de programa de entrada de dados

elaborado especificamente para a pesquisa. A transcrição dos dados foi realizada

por processo de digitação.

A verificação da consistência dos dados gravados foi realizada por meio

da conferência visual, na qual se comparou as informações registradas no

formulário de campo com espelhos do banco de dados impressos em papel. A

distribuição de freqüência de cada variável foi ainda utilizada na verificação final

da consistência do banco de dados.

Os dados foram analisados em computador utilizando-se os pacotes

estatísticos do Epi Info versão 6.04 produzido pelo “Centers for Disease Control

and Prevention” (CDC), de Atlanta, em colaboração com a Organização Mundial

da Saúde e STATA versão 6.0 (Statistical Data Analysis for Windows).

4.3.2. Análise univariada

O método de análise adotado baseou-se no estudo da freqüência das

210 variáveis, coletadas para cada criança e na comparação das três áreas do

estudo, segundo seleção dessas variáveis.

Para as variáveis qualitativas, as diferenças das freqüências encontradas,

entre as três áreas, foram testadas estatisticamente através dos testes do qui-

quadrado ou o teste exato de Fischer para proporções, quando indicado.

Utilizaram-se tabelas de ANOVA – “one way” – na comparação das

médias exibidas pelas variáveis quantitativas. O teste de Fisher, para comparação

de médias, foi empregado na determinação do grau de significância estatística

das diferenças observadas nessas tabelas. A localização dessas diferenças foi

feita por meio do teste de Scheffe, quando as variâncias das observações

comparadas demonstraram ser homogêneas. O teste de Bartlett foi utilizado para

testar a homogeneidade das variâncias. O grau de significância estatística das

diferenças observadas nas tabelas de ANOVA foi também aferido por meio do

teste de Kruskal-Wallis, sempre que o teste de Bartlett foi significativo.

- -

77

O estudo da relação das possíveis relações entre as crianças das três

áreas e as demais variáveis do questionário foi realizado por intermédio da

comparação das áreas – CACE, CASE e SASE - segundo as médias ou

freqüências das variáveis agrupadas em nove subgrupos assim constituídos:

1. Estrutura familiar;

2. Nível socioeconômico;

3. Abastecimento de água;

4. Hábitos higiênicos;

5. Esgotamento sanitário;

6. Resíduos sólidos;

7. Comportamento das águas pluviais;

8. Presença de vetores;

9. Informações sobre a saúde.

No estudo da relação dessas variáveis com as áreas investigadas, as

classes de algumas variáveis foram agrupadas com o objetivo de dicotomizar

suas categorias. A comparação das três áreas segundo essa reclassificação

também foi realizada.

Na localização das diferenças observadas nas comparações realizadas

em tabelas de dimensões superiores a 2 X 2, utilizou-se a técnica de eliminação

ou reagrupamento de classes com objetivo de acomodar as freqüências

comparadas em múltiplas tabelas 2 X 2 capazes de indicar a localização precisa

da diferença pesquisada.

Além dos indicadores de saúde selecionados pela pesquisa, constitui-se,

para fins de análise, uma outra variável resposta, o agrupamento de todos os

enteropatógenos – bactérias, helmintos e protozoários – isolados de material fecal

coletado na pesquisa, de acordo com a via de transmissão feco-oral. A variável

formada foi denominada de infecção por patógenos de transmissão feco-oral.

Para as variáveis de resposta desse trabalho - diarréia, desnutrição

aguda, desnutrição crônica, déficit ponderal isolado, helmintíase, protozoose,

presença de enteropatógenos associada a piócitos fecais e infecção por

patógenos de transmissão feco-oral – foram calculadas as respectivas Razões de

Probabilidade ou “Odds Ratio” (OR) e os respectivos limites do intervalo de

confiança a 95% (IC a 95%) (SOARES & SIQUEIRA, 2001), após a localização

- -

78

das diferenças com os dados organizados em tabelas 2 X 2, conforme os

procedimentos acima mencionados.

4.3.3. Análise multivariada

No ajuste das “Odds Ratio” (OR), obtidas para as variáveis de resposta,

aos níveis e categorias das demais variáveis do questionário foi efetuado em

modelo de regressão logística, utilizando-se o qui-quadrado de Hosmer-

Lomeshow como critério de adesão do modelo aos dados coletados.

Em decorrência da grande quantidade de variáveis registradas o ajuste

se processou por subgrupos de variáveis. Foram utilizados os nove subgrupos

mencionados na sessão anterior. Agruparam-se as variáveis relacionadas ao

saneamento em apenas dois subgrupos denominados de saneamento 1 e 2. Os

cinco subgrupos utilizados na análise multivariada foram:

Estrutura Familiar;

Nível socioeconômico;

Saneamento 1 (abastecimento de água, hábitos higiênicos,

esgotamento sanitário);

Saneamento 2 (comportamento das águas pluviais, resíduos sólidos,

presença de vetores);

Saúde.

Para cada um dos cinco subgrupos as “Odds Ratio” foram ajustadas para

as variáveis do subgrupo que apresentaram diferenças entre as três áreas

associadas a p< 0,05, na análise univariada. Foram também incluídas variáveis

cujas diferenças estavam associadas a p maior que 0,05 e menor que 0,20 (0,05

< p < 0,20), julgadas pela autora, merecedoras de participarem dos modelos de

ajuste.

Foram testados quarenta modelos multivariados distintos (5 subgrupos X

8 indicadores de saúde).

Em todos os quarenta modelos de regressão testados na análise utilizou-

se a técnica de regressão passo a passo com entrada de variáveis listadas, uma

a uma, em cada etapa de processamento. O critério de inclusão ou não da

variável no modelo foi o da associação de sua freqüência a p < 0,10.

- -

79

Apenas as variáveis que alteraram os valores da OR original e que

estiveram associadas a p< 0,05, na análise de cada subgrupo isoladamente,

entraram nos modelos de regressão utilizados para o ajuste final das OR,

constituindo um modelo único. Foram utilizadas, nesses últimos modelos, as

variáveis capazes de modificar significativamente a associação das variáveis de

resposta com as áreas de estudo, identificadas na análise em subgrupos

separados.

O nível de significância estatística adotado foi de 5%.

4.4 Redação e apresentação da dissertação

A redação desse trabalho seguiu as orientações do Programa de Pós-

Graduação em Saúde Publica da Faculdade de Medicina da UFMG (SOUZA,

2002), uma vez que curso de Pós-Graduação em Saneamento, Meio Ambiente e

Recursos Hídricos da UFMG, onde foi desenvolvido, não dispõe de normas

próprias para a apresentação dos trabalhos finais. As referências da bibliografia

seguiram a nova versão da norma NBR 6023 de 2000. A apresentação das

ilustrações seguiu as definições das normas NBR 107 de 1989 e NB 1339 de

1990 (SOUZA, 2002).

- -

80

CAPÍTULO V

5. RESULTADOS

5.1. Características gerais da amostra

Para o presente estudo, foram entrevistados os responsáveis por 584

residências. Foi coletado material para exames parasitológico e bacteriológico de

fezes de crianças residentes em 461 dessas moradias.

O Gráfico 4 exibe a distribuição da amostra e o número de exames

realizados nas 3 áreas do estudo.

200

155

196

154

188

152

0

50

100

150

200

CACE

ÁREA 3

CASE

ÁREA 2

SASE

ÁREA 1

Entrevista

Exames de Laboratório

Gráfico 4 – Número de entrevistas realizadas e número de material coletado em cada área do estudo.

O Gráfico 5 demonstra a freqüência das pessoas que responderam ao

questionário. Cerca de 3/4 dos questionários foram respondidos por mães das

crianças. Avós responderam a cerca de 10% desses questionários. Pais

responderam a 8%. A comparação dos resultados obtidos nas três áreas,

segundo a pessoa entrevistada, apresentou qui-quadrado com 14 graus de

liberdade X2 (14 GL) = 8,47 e p = 0,863.

- -

81

74%

8%

10%

8%

MÃE PAI AVÓ OUTROS

Gráfico 5 – Freqüência das pessoas que responderam ao questionário.

Apresenta-se, a seguir, a freqüência das respostas obtidas para cada

questão à aplicação do questionário.

A freqüência do sexo entre as 584 crianças estudadas foi de 285 meninos

(49%) e 299 meninas (51%). Na área CACE, foram estudadas 101 (50,5%)

crianças do sexo masculino e 99 (49,5%) do sexo feminino. Na área CASE, 89

(45,4%) eram meninos e 107 (54,6%) meninas. Na área SASE, a freqüência de

crianças dos sexos masculino e feminino foi de 95 (50,5%) e 93 (49,5%),

respectivamente. A comparação dos percentuais apresentou X2 (2 GL) = 1,35 e p =

0,507.

A idade média das crianças foi de 33,1 meses e o desvio padrão (DP)

igual a 13,34, com a idade mínima de 12 meses e a idade máxima de 59 meses.

A média da idade das crianças avaliadas na área CACE foi de 33,7 (DP = 13)

meses, de 32,9 (DP = 13,5) meses na área CASE e de 32,7 (DP = 13,5) na a área

SASE. A comparação das médias das três áreas em tabela de ANOVA –

“oneway” apresentou F = 0,28 e p = 0,758.

O peso médio das crianças foi de 12,81 (DP = 2,70) kg, com 5,60 kg de

valor mínimo e 24,40 kg de valor máximo. A estatura média foi de 0,89 (DP =

0,10) metros, sendo que a estatura mínima foi de 0,65 metros e a máxima igual a

1,15m.

Quanto às respostas aos aspectos relacionados às variáveis de

saneamento definidoras das três condições de exposição representadas pelas

três áreas do estudo, 100% das áreas CACE e CASE são abastecidas pela água

fornecida pelo sistema público. Na área SASE, 160 (85,6%) das moradias

- -

82

investigadas obtém a água para consumo por meio de ligação clandestina do

sistema público de abastecimento de água, 13 (7,0%) de nascente, 10 (5,3%) por

meio de caminhão pipa e 4 (2,1%) da caixa d’água comunitária.

A interrupção no abastecimento de água pelo sistema público ocorre pelo

menos uma vez por semana em 34 (17,0%) das moradias da área CACE e em 68

(34,7%) na área CASE. Em 101 (50,5%) e 84 (42,9%) das moradias, situadas

respectivamente nas áreas CACE e CASE, a interrupção no fornecimento de

água pela entidade abastecedora ocorre pelo menos uma vez ao mês. A

alternativa “nunca” ocorre intermitência no abastecimento de água foi a resposta

de 65 (32,5%) das pessoas entrevistadas na área CACE e de 44 (22,5%) das

residentes na área CASE. A comparação dessas duas áreas, CACE e CASE,

quanto à freqüência das respostas ao questionamento da interrupção no

abastecimento de água, apresentou X2 = 28,10 e p < 0,0001.

Verificou-se que 193 (99,5%) e 172 (98,9%) das pessoas entrevistadas

não tiveram nenhuma queixa quanto às características organolépticas da água

fornecida pelo sistema público de abastecimento. O percentual de hidrometração

observado para área CACE foi de 88,4% e para área CASE de 85,3% dos

domicílios avaliados.

De acordo com as respostas ao questionário, o esgoto da casa é lançado

na rede pública de esgotamento sanitário em todas as 200 moradias da área

CACE. Nas áreas CASE e SASE, 5 (4,9%) e 11 (11,1%), respectivamente, das

residências destinam seus esgotos para pelo menos uma fossa. O restante - 98

(95,1%) na área CASE e 88 (88,9%) na área SASE - lançam os esgotos em

bueiro, terreno ou córrego. A ocorrência de entupimento da rede pública de

esgoto ocorre em 10 (6,5%) das casas avaliadas na área CACE. As crianças

residentes nas áreas CASE e SASE que têm contato com a água do córrego são

19 (11,6%) e 10 (8,7%), respectivamente.

5.2. Análise univariada

As mães das crianças apresentaram a média para idade de 27,4 (DP =

6,7) anos na área CACE, de 28,0 (DP = 6,5) na área CASE e 27,0 (DP = 6,5) na

- -

83

área SASE. A idade mínima encontrada para as mães das crianças foi de 15 anos

e a máxima de 48 anos. A comparação das três áreas por essa variável em tabela

de ANOVA – “oneway” apresentou F = 0,99 p = 0,917.

A comparação das três áreas segundo a quantidade média de crianças

entre 5 e 14 anos, pertencentes às famílias entrevistadas, apresentou os

seguintes resultados: 1,0 (DP = 1,4) crianças na área CACE, 1,0 (DP = 1,2) na

área CASE e 1,2 (DP = 1,4) na área SASE. O valor de F obtido para a

correspondente tabela de ANOVA foi de 0,80 e p igual a 0,451.

O número de adultos residentes nas moradias situadas nas três áreas

resultou em uma média de 2,39 (DP = 1,18) para a área CACE, 2,24 (DP = 0,89)

para a área CASE e 2,41 (DP = 0,97) para a área SASE. A comparação das três

médias por meio do teste de Kruskall-Wallis apresentou H = 1,489 e p = 0,475.

As distribuições das freqüências das variáveis qualitativas, na

comparação das três áreas de estudo, que obtiveram um valor de p abaixo do

limite correspondente ao nível de significância de 5%, são apresentadas na

Tabela 8. A TAB. 8 apresenta, também, o valor do qui-quadrado (X2) para os

respectivos graus de liberdade (GL) e o valor de p encontrados para os testes de

significância de cada comparação.

Tabela 8 – Caracterização das três áreas de estudo, segundo freqüências de valores das variáveis qualitativas que obtiveram o valor de p abaixo do limite correspondente ao nível de significância de 5%.

VARIÁVEL ATRIBUTOS CACE CASE SASE

X2 (1) P(2) n % n % n %

1. ESTRUTURA FAMILIAR

Pai da criança reside na casa

Sim 141 70,8 156 80,4 126 67,0 9,229 0,010 Não 58 29,2 38 19,6 62 33,0

Gestação da criança

primeira 79 40,0 55 28,2 62 34,0 5,979 0,05 segunda ou mais 119 60,0 140 71,8 120 66,0

Escolaridade da mãe

Fundamental 1ª a 4ª série

80 41,2 102 52,8 103 58,2 33,837 0,000

Fundamental 5ª a 8ª série

86 44,3 76 39,4 59 33,3

Ensino médio 23 11,8 5 2,6 3 1,7 não estudou 5 2,7 10 5,2 12 6,8

- -

84

Escolaridade do pai

Fundamental 1ª a 4ª série

40 32,8 89 59,7 74 60,7 41,681 0,000

Fundamental 5ª a 8ª série

66 54,1 47 31,5 38 31,1

Ensino médio 13 10,6 7 4,7 0 0 não estudou 3 2,5 6 4,1 10 8,2 Escolaridade de outra pessoa que cuida da criança

Fundamental 1ª a 4ª série

14 46,7 15 53,6 13 61,9 13,476 0,036

Fundamental 5ª a 8ª série

7 23,3 4 14,3 5 23,8

Ensino médio 6 20,0 0 0 1 4,8 não estudou 3 10,0 9 32,1 2 9,5

2. NÍVEL SOCIOECONÔMICO

Existência de Banheiro

Sim 199 99,5 189 96,4 156 82,9 46,426 0,000 Não 1 0,5 7 3,6 32 17,1

Tipo do Banheiro

completo 107 53,8 117 61,9 57 36,5 22,581 0,000

Incompleto 92 46,2 72 38,1 99 63,5 Existência de cozinha

Sim 176 88,0 163 83,2 132 70,6 19,949 0,000 Não 24 12,0 33 16,8 55 29,4

Tabela 8 – (Continuação) Caracterização das três áreas de estudo, segundo

freqüências de valores das variáveis qualitativas que obtiveram o valor de p abaixo do limite correspondente ao nível de significância de 5%.

VARIÁVEL ATRIBUTOS CACE CASE SASE

X2(1) p(2) n % n % n %

Posse de geladeira

Sim 178 89,0 159 81,1 126 67,4 28,160 0,000 Não 22 11,0 37 18,9 61 32,6

Renda familiar em salário mínimo (SM)

sem renda 5 3,0 5 3,1 17 11,5 31,718 0,000 menos de 1 SM 56 33,7 60 37,0 61 41,2 >= 1 SM e <= 2 SM 60 36,1 68 42,0 58 39,2

>= 2 SM e <= 3 SM 33 19,9 21 12,9 10 6,8 >= 3 SM 12 7,2 8 5,0 2 1,3

3. ABASTECIMENTO DE ÁGUA

Existência de reservatório domiciliar

sim coberto 164 82,8 145 74,7 91 49,5 49,272 0,000 sim descoberto 4 2,0 5 2,6 8 4,3 não 30 15,2 44 22,7 85 46,2

4. HÁBITOS HIGIÊNICOS

- -

85

Preparo da água que a criança ingere

Sim 153 76,5 139 70,9 110 58,5 15,215 0,000 Não 47 23,5 57 29,1 78 41,5

Preparo de frutas e verduras que a criança ingere

Sim 196 99,0 193 99,0 180 95,7 6,589 0,037 Não 2 1,0 2 1,0 8 4,3

Lavagem das mãos antes da alimentação

Sim 160 80,8 151 78,6 121 64,7 15,433 0,000 Não 38 19,2 41 21,4 66 35,3

Lavagem das mãos após defecar

Sim 149 75,3 140 73,3 115 61,5 10,049 0,007 Não 49 24,7 51 26,7 72 38,5

Tabela 8 – (Continuação) Caracterização das três áreas de estudo, segundo freqüências de valores das variáveis qualitativas que obtiveram o valor de p abaixo do limite correspondente ao nível de significância de 5%.

VARIÁVEL ATRIBUTOS CACE CASE SASE

X2(1) p(2) n % n % n %

5. ESGOTAMENTO SANITÁRIO

Existência de córrego próximo a casa

Sim 0 0 166 84,7 116 62,7 302,168 0,000 Não 196 100 30 15,3 69 37,3

Existência de esgoto escoando na rua

Sim 1 0,7 7 3,9 14 7,7 10,251 0,006 Não 152 99,3 173 96,1 167 92,3

Destino das fezes da criança

vaso e lixo 194 97,0 188 96,9 154 85,1 27,640 0,000 terreno, córrego, rua 6 3,0 6 3,1 27 14,9

6. RESÍDUOS SÓLIDOS

Acondicionamento do lixo

Sim 199 99,5 194 99,0 178 94,7 12,310 0,002 Não 1 0,5 2 1,0 10 5,3

Disposição do lixo

sanitariamente adequado

198 99,0 189 96,4 152 80,9 51,972 0,000

sanitar. inadequado 2 1,0 7 3,6 36 19,1

Freqüência da diária/dias úteis 99 50 116 61,4 107 72,3 17,744 0,000

- -

86

coleta do lixo 3, 2 ou 1 vez por semana

99 50 73 38,6 41 27,7

Lixo acumulado no lote

Sim 13 6,5 22 11,2 45 26,2 31,568 0,000 Não 187 93,5 174 88,8 127 73,8

7. ÁGUA DA CHUVA

Inundação do lote

Sim 9 4,5 36 18,6 47 25,7 33,282 0,000 Não 190 95,5 157 81,4 136 74,3

Empoçamento no lote

Sim 9 4,6 29 16,5 20 12,0 14,013 0,001 Não 187 95,4 147 83,5 147 88,0

Tabela 8 – (Continuação) Caracterização das três áreas de estudo, segundo freqüências de valores das variáveis qualitativas que obtiveram o valor de p abaixo do limite correspondente ao nível de significância de 5%.

VARIÁVEL

ATRIBUTOS

CACE CASE SASE X2(1)

p(2)

n % n % n %

8. VETORES

Presença de moscas

Sim 99 56,9 104 59,0 122 70,9 8,385 0,015 Não 75 43,1 72 41,0 50 29,1

Presença de ratos

Sim 61 35,7 96 55,8 94 54,7 17,537 0,000 Não 110 64,3 76 44,2 78 45,3

9. VARIÁVEIS DE SAÚDE

Doença da criança no 1º mês de vida

Sim 16 8,0 20 10,3 37 19,9 13,550 0,001 Não 182 91,9 174 89,7 149 80,1

Vacinação completa para a idade

Sim 195 98,5 176 93,6 174 95,6 5,964 0,05 Não 3 1,5 12 6,4 8 4,4

Dieta adequada + aleitamento

materno 190 95,0 152 77,5 134 71,3 39,245 0,000

Inadequada 10 5,0 44 22,5 54 28,7

Uso regular de medicação

Sim 27 13,5 30 15,3 44 23,5 7,534 0,023 Não 172 86,5 166 84,7 143 76,5

Uso de antibióticos

Sim 43 21,5 24 12,3 33 18,5 6,117 0,047 Não 157 78,5 172 87,7 145 81,5

- -

87

nos últimos 7 dias

(1) Teste do qui-quadrado para os respectivos graus de liberdade; (2) probabilidade de significância.

A Tabela 9 apresenta as médias e os desvios padrões (DP) das variáveis

quantitativas, cujas comparações associaram-se a um valor de p < 0,05. Nesta

mesma tabela, são apresentados os valores de F (teste de Fisher para tabela de

ANOVA – oneway) ou H (teste do qui-quadrado de Kruskall-Wallis, para a

comparação não paramétrica de mais de duas médias) relativos à comparação

das médias exibidas na tabela para as três áreas, bem como os valores de p

correspondentes.

Tabela 9 – Caracterização das três áreas de estudo, segundo freqüências de valores das variáveis quantitativas que obtiveram o valor de p abaixo do limite correspondente ao nível de significância de 5%.

VARIÁVEL

ATRIBUTOS

CACE

CASE

SASE

testes F/H (1)

p(2)

1. ESTRUTURA FAMILIAR

Número de crianças menores de 5 anos na residência

Média 1,37 1,46 1,60 8,98 0,011 Desvio Padrão 0,54 0,65 0,75

n 200 196 184 Número de anos de estudo da mãe

Média 5,49 4,55 4,29 13,68 0,000 Desvio Padrão 2,66 2,05 2,05

n 189 183 165 Número de anos de estudo do pai

Média 5,68 4,30 3,85 19,79 0,000 Desvio Padrão 2,58 2,24 1,89

n 116 136 102 Tempo de residência em meses

Média 101,23 90,40 92,98 7,52 0,023 Desvio Padrão 87,26 96,37 106,37

n 200 196 188

2. NÍVEL SOCIOECONÔMICO

Número de cômodos Média 4,34 4,10 3,30 27,69 0,000

Desvio Padrão 2,28 2,32 1,74 n 200 196 188 Número de moradores por cômodos

Média 1,45 1,47 2,03 32,41 0,000 Desvio Padrão 1,14 1,09 1,43

n 200 192 174

- -

88

Renda familiar em salários mínimos (s.m.)

Média 1,15 1,01 0,77 19,88 0,000 Desvio Padrão 0,80 0,67 0,53

n 166 162 148 Renda por morador (s. m./ habitante)

Média 0,27 0,23 0,17 21,88 0,000 Desvio Padrão 0,22 0,17 0,14

n 166 160 137

(1) F = Teste de Fischer para Tabela de ANOVA; H = X2 de Kruskall-Wallis; (2) probabilidade de significância.

As três áreas foram também comparadas segundo as variáveis

apresentadas na Tabela 6. Em todas as comparações apresentadas nessa tabela,

os valores de X2, “F” ou “H” estiveram sempre associados com p > 0,05.

Tabela 10 - Distribuição de freqüências das variáveis qualitativas que na comparação das três áreas apresentaram os valores acima do limite correspondente ao nível de significância de 5%.

VARIÁVEL ATRIBUTOS POSSÍVES CACE CASE SASE

n % n % n %

Mãe vive na casa Sim 193 96,5 190 97,5 176 95,7 Não 7 3,5 5 2,5 8 4,3

Doença da mãe durante a gravidez da criança

Sim 6 3,0 12 6,2 16 8,6 Não 192 97 181 93,8 170 91,4

Tempo de gestação 9 meses completos 168 84 177 91,7 164 87,3 Menos de 9 meses 32 16 16 8,3 24 12,7 Tempo de amamentação

Até 3 meses 52 27,7 49 27 39 22,4 Mais de 3 meses 136 72,3 132 73 135 77,6

Suplemento Nutricional Sim 39 19,6 25 12,8 40 21,4

Não 160 80,4 171 87,2 147 78,6 A criança apresenta alguma doença

Sim 23 11,5 19 9,8 29 14,5 Não 177 88,5 176 90,2 159 84,5

Local onde a criança passa o dia

Em casa 173 86,5 170 86,7 163 87 Creche, durante um turno 20 10 17 8,7 17 9,0 Creche, tempo integral 7 3,5 9 4,6 7 4,0

Pessoa que cuida da criança

Mãe 147 74,6 143 73,4 148 78,7 Pai 2 1,0 8 4,1 6 3,2 Outro 48 24,4 44 22,5 34 18,1

Freqüência de limpeza do reservatório domiciliar

Trimestral 90 56,3 80 56,8 55 57,2 Semestral 20 12,5 20 14,2 9 9,4 Anual 16 10,0 20 14,2 9 9,4 Há mais de 1 ano 16 10,0 12 8,5 14 14,6

Nunca limpa 18 11,2 9 6,3 9 9,4

- -

89

Presença de baratas na moradia

Todo tempo 68 38,2 69 38,1 67 39,2 Em 6 meses por ano 16 9,0 15 8,3 17 9,9

Em 3 meses por ano 4 2,3 15 8,3 9 5,3 Em 1 mês por ano 10 5,6 12 6,6 6 3,5 Menos de 1 mês por ano 9 5,0 4 2,2 10 5,8 Nunca aparece 71 39,9 66 36,5 62 36,3

A tentativa de localização das diferenças detectadas na Tabela 8 é

apresentada na Tabela 11, cotejando-se, aqui, as áreas 1 e 2 com a área 3.

Tabela 11 – Valores do qui-quadrado e p relativos à comparação das áreas CASE

e SASE com a área CACE, segundo variáveis selecionadas.

VARIÁVEL

COMPARAÇÃO DAS ÁREAS 1 E 2 COM A ÁREA 3 (CACE)

Área 2 (CASE) Área 1 (SASE) X2 (1) p(2) X2 p

Pai da criança reside na casa 4,86 0,027 0,66 0,415

Gestação da criança 5,98 0,014 1,38 0,239

Escolaridade da mãe 8,45 0,014 17,95 0,0001

Escolaridade do pai 21,84 0,0000 28,28 0,0000

Escolaridade de outra pessoa que cuida da criança 7,74 0,020 1,27 0,530

Existência de Banheiro 3,29 0,06 33,99 0,0000

Tipo do Banheiro 2,63 0,104 10,45 0,0012

Existência de cozinha 1,88 0,170 18,03 0,0000

Posse de geladeira 4,84 0,027 26,81 0,0000

Existência de reservatório domiciliar 3,61 0,057 43,42 0,0000

Preparo da água que a criança ingere 1,59 0,206 14,36 0,0001

Preparo de frutas e verduras que a criança ingere 0,24 0,626 2,84 0,0918

Lavagem das mãos antes da alimentação 0,28 0,59 12,65 0,0003

Lavagem das mãos após defecar 0,19 0,65 8,44 0,0036

Existência de córrego próximo a casa 287,9 0,0000 176,6 0,0000

Existência de esgoto escoando na rua 2,44 0,1181 9,69 0,0018

Destino das fezes da criança 0,00 0,95 17,06 0,0000

- -

90

Tabela 11 (continuação)– Valores do qui-quadrado e p relativos à comparação das áreas CASE e SASE com a área CACE, segundo variáveis selecionadas.

VARIÁVEL

COMPARAÇÃO DAS ÁREAS 1 E 2 COM A ÁREA 3 (CACE)

Área 2 - CASE Área 1 - SASE X2 (1) p(2) X2 p

Acondicionamento do lixo 0,00 0,98 8,17 0,004

Disposição do lixo 1,90 0,167 36,13 0,0000

Freqüência da coleta do lixo 5,07 0,0243 17,48 0,0000

Lixo acumulado no lote 2,74 0,097 27,17 0,0000

Inundação do lote 19,25 0,0000 34,12 0,0000

Empoçamento no lote 14,28 0,0000 6,69 0,0097

Presença de moscas 0,17 0,677 7,38 0,0065

Presença de ratos 14,01 0,0001 12,47 0,0004

Doença da criança no 1º mês de vida 0,58 0,444 11,25 0,0007

Vacinação completa para a idade 6,12 0,013 2,80 0,094

Dieta 25,59 0,0000 39,60 0,0000

Uso regular de medicação 0,24 0,62 6,37 0,011

Uso de antibióticos nos últimos 7 dias 6,03 0,014 0,51 0,47

(1) Qui-quadrado; (2) probabilidade de significância.

Apenas a comparação CACE e SASE associou-se com p < 0,05 na

localização das diferenças de todas as variáveis exibidas na Tabela 5, utilizando-

se para esse fim o teste de Scheffe, com exceção, da variável tempo de moradia

da família na residência, que, para ambas as comparações, ou seja, CACE/SASE

e CACE/CASE, apresentou p > 0,05.

A Tabela 12 apresenta a prevalência da diarréia entre as crianças

participantes do estudo e as outras variáveis associadas ao indicador diarréia. A

Tabela 12 contém, ainda, os valores do X2 e de p, para as comparações entre as

três áreas.

- -

91

Tabela 12 – Caracterização das três áreas de estudo, segundo freqüências de respostas a dez questões relativas à ocorrência de diarréia.

VARIÁVEL ATRIBUT

OS

CACE CASE SASE X2 p

N % n % n %

Criança apresentou diarréia nas últimas 48h

sim 3 1,5 9 4,6 15 8,0 9,389 0,009 não 197 98,5 187 95,4 171 92,0

Criança ainda apresenta diarréia

sim 1 33,3 6 66,7 11 73,3 1,800 0,407 não 2 66,7 3 33,3 4 26,7

Tipo de diarréia aguda 3 100 7 77,8 10 66,7 1,542 0,462 crônica 0 0 2 22,2 5 33,3 Diarréia foi acompanhada por sinais

sim 3 100 9 100 14 93,3 0,830 0,660 não 0 0 0 0 1 6,7

Diarréia e vômitos sim 0 0 7 77,8 3 20,0 10,037 0,007

não 3 100 2 22,2 12 80,0 Diarréia e febre sim 2 66,7 4 44,4 4 26,7 2,032 0,362 não 1 33,3 5 55,6 11 73,3 Diarréia e sangue nas fezes

sim 1 33,3 1 11,1 2 13,3 0,939 0,625 não 2 66,7 8 88,9 13 86,7

Diarréia e muco nas fezes

sim 1 33,3 1 11,1 8 53,3 4,320 0,115 não 2 66,7 8 88,9 7 46,7

Necessidade tratar a diarréia em um serviço de saúde

sim - - 8 88,9 8 53,3 7,854 0,020 não 3 100 1 11,1 7 46,7

Necessidade de internação

sim 0 0 2 22,2 3 20,0 0,785 0,675 não 3 100 7 77,8 12 80,0

Na localização das diferenças apresentadas pelas respostas às questões

referentes às variáveis “diarréia e vômitos” e “necessidade de tratar a diarréia em

um serviço de saúde” contidas nessa tabela, obteve-se p > 0,05 para ambas as

comparações CACE/CASE e CACE/SASE, para a variável “diarréia e vômitos” e,

X2 (2GL) = 4,5 e p = 0,003, na comparação CACE/CASE, para a variável

“necessidade de tratar a diarréia em um serviço de saúde”.

A prevalência do déficit de cada índice antropométrico, para a totalidade

das três amostras combinadas, calculada com base no escore Z, é apresentada

na Tabela 13. A tabela também mostra a percentagem global de desnutrição

- -

92

moderada e grave, bem como a média e o desvio padrão para cada índice

antropométrico.

Tabela 13 – Índices antropométricos obtidos para as crianças residentes nas três áreas tomadas como unidade.

ÍNDICES

PREVALÊNCIA COLETIVA DO DÉFICIT ESCORE Z-2 (%)

casos moderado

s

ESCORE Z-3 (%)

casos graves

ESCORE Z

Média Desvio

padrão Prevalência de desnutrição (%)

Altura / idade -0,66 1,70 26,2 11,0 4,6

Peso / idade -0,60 1,39 23,1 9,4 1,9 Peso / altura -0,03 1,65 12,4 4,8 0,9

A Tabela 14 exibe, na sua parte superior, a quantidade de crianças nas

três áreas, classificadas segundo o tipo e o grau de desnutrição, como também os

valores dos testes estatísticos obtidos da comparação dos três grupos. Exibe-se,

na parte inferior, a classificação do estado nutricional das crianças pertencentes

aos três grupos, segundo classes selecionadas de cada índice antropométrico.

Tabela 14 - Caracterização das três áreas de estudo, segundo a classificação da desnutrição infantil em graus e tipos de acordo com os índices antropométricos.

CLASSIFICAÇÃO DA DESNUTRIÇÃO X2

p CACE CASE SASE

ÍNDICES TIPO GRAU ESCORE Z n % n % n %

Peso / altura

aguda leve -1 a -2 DP 32 74,4 44 88,0 29 64,4 11,219 0,024 moderada -2 a -3 DP 11 25,6 5 10,0 12 26,7

grave < -3 DP 0 0 1 2,0 4 8,9 Altura / idade

crônica leve -1 a -2 DP 53 71,6 54 63,5 40 50,6 7,846 0,097 moderada -2 a -3 DP 15 20,2 23 27,0 26 32,9

grave < -3 DP 6 8,1 8 9,5 13 16,5 Peso / idade

déficit ponderal isolado

leve -1 a -2 DP 53 76,8 62 77,5 55 64,7 5,869 0,209 moderada -2 a -3 DP 14 20,3 16 20,0 23 27,1

grave < -3 DP 2 2,9 2 2,5 7 8,2

- -

93

Peso / altura

aguda desnutrição <= -2 DP 11 5,6 6 3,1 16 8,6 5,435 0,066 eutrofia > -2 DP 187 94,4 188 96,9 169 91,4

Altura / idade

crônica desnutrição <= -2 DP 21 10,6 31 16,0 39 21,1 7,393 0,025 eutrofia > -2 DP 177 89,4 163 84,0 146 78,9

Peso / idade

déficit ponderal isolado

desnutrição <= -2 DP 16 8,1 18 9,3 30 16,2 7,393 0,025 eutrofia > -2 DP 182 91,9 176 90,7 155 83,8

Nas fezes das crianças, os piócitos foram isolados em três (2%) dos

exames realizados na área CACE, em dois (1,3%) na área CASE e em sete

(4,6%) na área SASE. A comparação desses percentuais apresentou X2 (2 GL) =

3,709 e p = 0,157. A presença dos piócitos nas fezes foi associada à ocorrência

de diarréia, à presença de bactérias patogênicas e, não patogênicas, à presença

de parasitas e à presença de infecção por enteropatógenos de transmissão feco-

oral. A Tabela 15 apresenta a comparação das três áreas segundo esses

indicadores.

Tabela 15 – Comparação das três áreas de estudo, segundo a freqüência de

diarréia e enteropatógenos associada aos piócitos fecais.

VARIÁVEL CACE

ÁREA 3 CASE

ÁREA 2 SASE

ÁREA 1 X2 p

n % n % n %

ENTEROBACTÉRIAS PATOGÊNICAS E PIÓCITOS FECAIS

Positivo 0 0 0 0 1 0,6 2,037 0,361

Negativo 155 100 154 100 151 99,4

ENTEROBACTÉRIAS NÃO PATOGÊNICAS E PIÓCITOS FECAIS

Positivo 1 2,0 2 1,3 7 4,6 3,709 0,157

Negativo 152 98,0 152 98,7 145 95,4

PARASITAS E PIÓCITOS FECAIS

Positivo 1 0,6 1 0,6 4 2,6 3,123 0,210

Negativo 154 99,4 153 99,4 148 97,4

- -

94

PATÓGENOS DE TRANSMISSÃO FECO-ORAL E PIÓCITOS FECAIS

Positivo 0 0 1 0,6 4 2,6 5,362 0,068

Negativo 155 100 153 99,4 148 97,4

DIARRÉIA E PIÓCITOS FECAIS

Positivo 0 0 0 0 1 0,7 2,064 0,356

Negativo 155 100 154 100 149 99,3

A prevalência de crianças infectadas por protozoários patogênicos e não

patogênicos foi de 53,1%, correspondendo a 245 crianças. Dessas 245 crianças,

87 (18,8%) apresentaram infecção por dois ou mais protozoários (Tabela 16).

Tabela 16 – Comparação das três áreas segundo a infecção múltipla por

protozoários

VARIÁVEL

CACE CASE SASE

X2 P ÁREA 3 ÁREA 2 ÁREA 1

n % n % n %

Protozoários Nenhum 78 50,4 70 45,4 68 44,7 7,270 0,700 Um 52 33,6 58 37,7 48 31,6 Dois 14 9,0 16 10,4 22 14,5 Três 9 5,8 7 4,5 10 6,6 Quatro 1 0,6 2 1,3 4 2,6 Cinco 1 0,6 1 0,7 0 0

Nessas 245 crianças, identificaram–se 378 protozoários patogênicos e

não patogênicos, resultando em uma prevalência de 82,0% do total da amostra.

Do total de protozoários isolados nas fezes, 239 eram patogênicos,

correspondendo a 52,0% do total dos exames realizados e 139 (30,0%) eram não

patogênicos. O número de crianças infectadas por protozoários patogênicos foi de

198, resultando em uma prevalência de 43,0%. Trinta e oito crianças (17,6%), das

infectadas por protozoários patogênicos, apresentaram infecção por mais de um

- -

95

protozoário. Nessas 38 crianças, foram isolados 79 (40,0%) protozoários

patogênicos.

A comparação das três áreas em relação aos protozoários identificados

nos exames de fezes realizados é apresentada na Tabela 17, como também, a

freqüência, nas três áreas, da protozoose.

Tabela 17 – Comparação das três áreas de estudo, segundo a freqüência de valores da variável indicadora de saúde, protozoários.

VARIÁVEL

CACE CASE SASE

X2 P ÁREA 3 ÁREA 2 ÁREA 1

n % n % n %

Criptosporidium Positivo 32 20,7 45 29,2 39 25,7 3,046 0,218 Negativo 123 79,3 109 70,7 113 74,3 Entamoeba histolytica Positivo 3 1,9 3 2,0 4 2,6 0,222 0,892 Negativo 152 98,1 151 98,0 148 97,4 Giardia lamblia Positivo 36 23,2 38 24,7 39 25,7 0,248 0,888 Negativo 119 76,8 116 75,3 113 74,3 Entamoeba coli Positivo 23 14,8 23 14,9 35 23,0 4,661 0,097 Negativo 132 85,2 131 85,1 117 77,0 Endolimax nana Positivo 21 13,5 15 9,7 21 13,8 1,474 0,478 Negativo 134 86,4 139 90,3 131 86,2 Iodamoeba butschilii Positivo 1 0,6 0 0 0 0 1,978 0,372 Negativo 154 99,4 154 100 152 100 Protozoose Positiva 58 42,6 71 50,4 69 50,4 2,177 0,337 Negativa 78 57,4 70 49,6 68 49,6

O número de indivíduos infectados por helmintos foi de 154 resultando

em uma prevalência de 33,4%. Nessas 154 crianças foram isolados 185

helmintos correspondendo a 40,1% do total de exames. O isolamento de dois ou

- -

96

mais helmintos ocorreu em 30 (20,1%) crianças, das 154 infectadas por

helmintos. A poli-helmintíase corresponde a 6,7% da amostra.

A Tabela 18 mostra a distribuição de freqüência de helmintos, da

helmintíase, da poli-helmintíase e dos tipos de infecções por helmintos pela via de

transmissão e estágio ambiental, segundo as três áreas do estudo.

Tabela 18 – Comparação das três áreas de estudo, segundo a freqüência de valores da variável indicadora de saúde, helmintos.

VARIÁVEL CACE CASE SASE

X2 p ÁREA 3 ÁREA 2 ÁREA 1

n % n % n %

Strongyloides stercolaris

Positivo 2 1,3 2 1,3 3 2,0 0,314 0,855 Negativo 153 98,7 152 98,7 179 98,0 Ascaris lumbricoides Positivo 28 18,1 55 35,7 46 30,3 12,526 0,002 Negativo 127 81,9 99 64,3 106 69,7 Hymenolepis nana Positivo 1 0,3 0 0 5 3,3 7,227 0,027 Negativo 154 99,7 154 100 147 96,7 Trichocephalus trichiura Positivo 10 6,4 11 7,1 20 13,2 5,134 0,077 Negativo 145 93,5 143 92,9 132 86,8 Enterobius vermiculares Positivo 0 0 0 0 1 0,7 2,037 0,361 Negativo 155 100 154 100 151 99,3 Ancylostoma duodenale Positivo 0 0 1 0,7 0 0 1,997 0,368 Negativo 155 100 153 99,3 152 100 Infecção por helmintos Nenhuma 121 78,0 93 60,4 93 61,2 18,053 0,006 Uma 27 16,8 53 34,4 45 29,6 Duas 7 5,2 8 5,2 13 8,5 Quatro 0 0 0 0 1 0,7 Helmintíase Positivo 34 21,9 61 39,6 59 38,8 13,831 0,001 Negativo 121 78,1 93 60,4 93 61,2 Helmintíase(1) T_G_O (2) 0 0 1 0,6 3 2,0 19,139 0,004 T_Geo (3) 2 1,3 2 1,3 0 0 T_Oral (4) 32 20,6 58 37,7 56 36,8 Negativos 121 78,1 93 60,4 93 61,2 (1) Indivíduos infectados por helmintos; (2) Helmintos que desenvolvem estágio do ciclo evolutivo

no solo e são transmitidos por via oral; (3) Ciclo evolutivo no solo; (4) Transmissão feco-oral.

- -

97

Apresenta-se, na Tabela 19, o total de parasitas isolados nas fezes -

helmintos e protozoários - nas três áreas do estudo. Na localização das

diferenças apresentadas, pela ocorrência de parasitoses, a comparação

CACE/CASE apresentou X2 = 14,25 e p = 0,002 e a comparação CACE/SASE, X2

= 10,48 e p = 0,014. Na comparação das mesmas áreas quanto à freqüência de

infecção parasitária, o cotejamento das áreas CACE/CASE apresentou X2 = 7,94

e p = 0,018 e a comparação CACE/SASE, X2 = 6,25 e p = 0,043.

Tabela 19 – Comparação das três áreas de estudo, segundo a freqüência da infecção concomitante de helmintos e protozoários.

VARIÁVEL

CACE CASE SASE

X2 p ÁREA 3 ÁREA 2 ÁREA 1

n % n % n %

Ocorrência de Parasitose Helmintíase 11 7,1 27 17,5 17 11,2 19,652 0,003 Protozoose 54 34,9 50 32,5 42 27,7 Parasitose(1) 23 14,8 34 22,1 42 27,6 Negativos 67 43,2 43 27,9 51 33,5

Freqüência de Infecção Parasitária

Nenhuma 67 43,2 43 27,9 51 33,5 12,187 0,016 Uma 49 31,6 60 38,9 43 28,3 Duas ou mais 39 25,2 51 33,2 58 38,2

(1) Infecção conjunta de helminto e protozoário.

Em 436 (94,6%) dos exames realizados, foram identificadas bactérias

não patogênicas. A Escherichia coli foi isolada em 93,5% das fezes examinadas

nas três áreas. Em 27 (5,9%) do total de exames, foram isoladas bactérias

patogênicas. A distribuição de freqüência e a comparação das três áreas segundo

as espécies bacterianas patogênicas e não patogênicas isoladas é apresentada,

respectivamente, nas Tabelas 20 e 21. Em quatro exames bacteriológicos

realizados na área CASE foram isoladas, tanto bactérias patogênicas como, não

patogênicas. Na área SASE, o isolamento de bactérias patogênicas e não

patogênicas no mesmo material fecal ocorreu em amostras de fezes de duas

crianças.

- -

98

Tabela 20 – Comparação das três áreas de estudo, segundo a freqüência de valores da variável enterobactérias patogênicas.

VARIÁVEL CACE

ÁREA 3 CASE

ÁREA 2 SASE

ÁREA 1 X2 p

n % n % n %

Escherichia coli antisoro A

Positivo 1 0,6 0 0 0 0 1,978 0,372 Negativo 154 99,4 154 100 152 100 Escherichia coli antisoro B

Positivo 0 0 1 0,7 0 0 1,997 0,368 Negativo 155 100 153 99,3 152 100 Escherichia coli antisoro C

Positivo 3 1,9 6 3,9 5 3,3 1,057 0,589 Negativo 152 98,1 148 96,1 147 96,7 Enterobacter aerogenes Positivo 1 0,6 0 0 0 0 1,978 0,372 Negativo 154 99,4 154 100 152 100 Morganella morganii Positivo 0 0 0 0 1 0,7 2,037 0,361 Negativo 155 0 0 0 151 99,3 Providencia alcalifaciens Positivo 0 0 5 3,3 1 0,7 7,070 0,029 Negativo 155 100 149 96,7 151 99,3 Salmonella Positivo 1 0,7 0 0 0 0 1,978 0,372 Negativo 154 99,3 154 100 152 100 Shigella sonnei Positivo 2 1,3 0 0 0 0 3,965 0,138 Negativo 153 98,7 154 100 152 100 Bactérias patogênicas Positivo 8 5,2 12 7,8 7 4,6 1,614 0,446 Negativo 147 94,8 142 92,2 145 95,4

- -

99

Tabela 21 – Comparação das três áreas de estudo, segundo a freqüência de valores da variável enterobactérias não patogênicas.

VARIÁVEL CACE

ÁREA 3 CASE

ÁREA 2 SASE

ÁREA 1 X2 p

n % n % n %

Escherichia coli Positivo 145 93,5 142 92,2 144 94,7 0,805 0,669 Negativo 10 6,5 12 7,8 8 5,3 Enterobacter cloacal Positivo 2 1,3 2 1,3 2 1,3 0,000 1,000 Negativo 153 98,7 152 98,7 150 98,7 Klebsiella pneumonia Positivo 10 6,5 12 7,8 13 8,5 0,498 0,780 Negativo 145 93,5 142 92,2 139 91,5 Morganella morganii Positivo 5 3,2 11 7,1 4 2,6 4,447 0,108 Negativo 150 96,8 143 92,9 148 97,4 Proteus mirabilis Positivo 10 6,5 4 2,6 5 3,3 3,301 0,192 Negativo 145 93,5 150 97,4 147 96,7 Pseudomonas aeruginosa

Positivo 4 2,6 4 2,6 5 3,3 0,182 0,913 Negativo 151 97,4 150 97,4 147 96,7 Serratia marcescens Positivo 1 0,6 0 0 0 0 1,978 0,372 Negativo 154 99,4 154 100 152 100 Bactérias Positivo patogênicas 8 5,2 8 5,2 5 3,3 Positivo não patogênicas

146 94,2 145 94,2 145 95,4 1,338 0,855

Negativo 1 0,6 1 0,6 2 1,3

Os enteropatógenos de transmissão feco-oral foram agrupados e a

freqüência de ocorrência em cada uma das três áreas é apresentada na TAB. 22,

como também o resultado do teste de significância estatística para as diferenças

observadas.

- -

100

Tabela 22 – Comparação das três áreas de estudo, segundo a freqüência de infecção por patógenos de transmissão feco-oral.

VARIÁVEL CACE

ÁREA 3 CASE

ÁREA 2 SASE

ÁREA 1 X2 P

n % N % n %

Positivo 78 50,3 105 68,2 93 61,2 10,418 0,005 Negativo 77 49,7 49 31,8 59 38,8

Na Tabela 23, são apresentadas as comparações das áreas 1 e 2 em

relação à área 3 em função da razão de prevalência calculada para espécies de

protozoários e helmintos.

Tabela 23 – Razões de prevalência relativas à comparação das áreas CASE e SASE com a área CACE, segundo variáveis relacionadas com a parasitose.

VARIÁVEL

RAZÃO DE PREVALÊNCIA

CASE - ÁREA 2 SASE - ÁREA 1 RP (1) IC ( 95% ) (2) RP IC ( 95% )

Ascaris lumbricoides 2,52 (1,44 – 4,41) 1,97 (1,11 – 3,49)

Cryptosporidium 1,42 (0,95 – 2,10) 1,24 (0,82 – 1,87)

Endolimax nana 0,72 (0,39 – 1,34) 1,02 (0,58 – 1,79)

Entamoeba coli 1,01 (0,59 – 1,72) 1,55 (0,96 – 2,50)

Entamoeba histolytica 1,01 (0,21 – 4,91) 1,36 (0,31 – 5,93)

Giardia lamblia 1,06 (0,71 – 1,58) 1,10 (0,75 – 1,64)

Strongyloides

stercolaris 1,01 (0,14 – 7,06) 1,28 (0,22 – 7,55)

Trichocephalus

trichiurus 1,11 (0,48 – 2,53) 2,04 (0,99 – 4,21)

(1) Razão de Prevalência; (2) Intervalo de confiança a 95%.

5.3. Análise multivariada

As diferenças encontradas entre as três áreas nas freqüências de

ocorrência de diarréia, desnutrição aguda, desnutrição crônica, déficit ponderal

- -

101

isolado, protozoose, helmintíase, presença de piócitos fecais e presença de

infecção por enteropatógenos de transmissão feco-oral apresentadas

anteriormente, foram estudadas em modelos de regressão logística com a

finalidade de se ajustar essas diferenças a um conjunto de variáveis registradas

para cada criança, durante o inquérito domiciliar. Essas diferenças foram estudas,

no presente trabalho, em termos de razão de probabilidades (razão de chances)

ou “Odds Ratio” (RP ou OR).

As variáveis incluídas nos modelos de regressão foram selecionadas

entre as que apresentaram teste de significância estatística associados a p < 0,05

nas tabelas apresentadas anteriormente, com exceção das variáveis: doença da

mãe durante a gravidez, tempo de gestação e suplemento nutricional.

As variáveis utilizadas no ajuste das diferenças são as apresentadas na

Tabela 24 agrupadas segundo cinco critérios de classificação, também,

mencionados ali.

As diferenças entre as três áreas, segundo cada indicador de saúde

foram ajustadas de forma independente para as variáveis listadas por cada

subgrupo explicitado na Tabela 24. Foram realizados cinco ajustes distintos para

cada indicador.

Tabela 24 – Variáveis utilizadas pelos modelos de regressão logística no ajustamento da comparação da prevalência dos indicadores de saúde, por subgrupos funcionais.

SUB GRUPOS VARIÁVEL

Estrutura Familiar No de crianças menores de 5 anos nas moradias

Anos de estudo da mãe Ano de estudo do pai Pai da criança reside na casa Tempo de residência em meses na moradia Gestação da criança

Nível Socioeconômico No de cômodos No de moradores por cômodo Renda da família em salários mínimos Renda por morador Existência e tipo de banheiro Existência de cozinha independente Posse de geladeira

Saneamento 1 Abastecimento de água Existência de reservatório domiciliar Hábitos Higiênicos Preparo da água que a criança ingere Esgotamento Sanitário Preparo de frutas e verduras que a criança ingere

Lavagem das mãos antes da alimentação

- -

102

Lavagem das mãos após defecar Existência de esgoto escoando na rua Destino das fezes das crianças

Saneamento 2

Comportamento das águas pluviais

Inundação do lote por água da chuva

Resíduos sólidos Empoçamento no lote Presença de Vetores Disposição do lixo

Freqüência da coleta do lixo Lixo acumulado no lote Presença de moscas Presença de ratos

Saúde Doença na criança no primeiro mês de vida

Vacinação completa para a idade Dieta Uso regular de medicação Uso de antibióticos nos últimos 7 dias Tempo de gestação

A Tabela 25 apresenta as razões de probabilidade (OR), ajustadas e não-

ajustadas, e os respectivos intervalos de confiança obtidos na comparação entre

as áreas CASE e SASE com a área CACE, para cada indicador de saúde,

segundo cinco critérios de ajustamento.

Tabela 25– Razões de probabilidade, ajustadas e não ajustadas e respectivos intervalos de confiança obtidos na comparação das áreas CASE e SASE com a área CACE, segundo a prevalência de sete indicadores de saúde, conforme cinco subgrupos de variáveis utilizadas no ajustamento.

INDICADORES DE SAÚDE

ÁREA OR - NÃO

AJUSTADA

OR - AJUSTADA Sub grupos de Ajustamento

Estrutura Familiar Nível Socioeconômico

Saneamento 1 Saneamento 2 Saúde

OR (IC a 95%) (1) OR (IC a 95%) OR (IC a 95%) OR (IC a 95%) OR (IC a 95%) OR (IC a 95%)

Diarréia CASE 3,16 (0,84 – 11,85) 1,21 (0,26 – 5,63) 4,17 (1,06 – 16,43) 2,74 (0,55 – 13,61) 3,75 (0,96 – 14,63) 2,36 (0,59 –

9,43) SASE 5,76 (1,63 – 20,23) 2,02 (0,44 – 9,09) 6,09 (1,51 – 24,41) 5,28 (1,12 – 24,69) 5,71 (1,47 – 22,09) 4,32 (1,17 –

15,97) Desnutrição Aguda

CASE 0,54 (0,19 – 1,49) 0,34 (0,09 – 1,27) 0,42 (0,13 – 1,32) 0,68 (0,22 – 2,10) 0,56 (0,16 – 1,92) 0,63 (0,22 – 1,81)

SASE 1,60 (0,72 – 3,56) 0,97 (0,29 – 3,22) 1,37 (0,53 – 3,55) 1,98 (0,72 – 5,37) 1,86 (0,68 – 5,06) 1,58 (0,66 – 3,74)

Desnutrição Crônica

CASE 1,60 (0,88 – 2,90) 1,18 (0,53 – 2,59) 1,64 (0,85 – 3,17) 1,84 (0,90 – 3,75) 1,55 (0,79 – 3,06) 1,47 (0,78 – 2,75)

SASE 2,25 (1,26 – 3,99) 2,08 (0,92 – 4,71) 1,76 (0,87 – 3,56) 2,50 (1,22 – 5,19) 1,38 (0,62 – 2,72) 2,12 (1,15 – 3,92)

D. Ponderal Isolado

CASE 1,16 (0,57 – 2,35) 0,82 (0,31 – 2,11) 1,20 (0,57 – 2,60) 1,44 (0,63 – 3,28) 0,70 (0,28 – 1,69) 1,19 (0,55 – 2,59)

SASE 2,20 (1,15 – 4,18) 1,85 (0,72 – 4,74) 2,09 (0,98 – 4,49) 2,42 (1,08 – 5,42) 1,81 (0,81 – 4,03) 2,14 (1,05 – 4,36)

Protozoose CASE 1,39 (0,91 – 2,12) 1,43 (0,79 – 2,58) 1,44 (0,88 – 2,36) 1,40 (0,87 – 2,25) 1,31 (0,79 – 2,18) 1,48 (0,94 –

2,34) SASE 1,41 (0,92 – 2,17) 1,19 (0,62 – 2,27) 1,29 (0,75 – 2,22) 1,42 (0,86 – 2,34) 1,15 (0,66 – 2,00) 1,40 (0,87 –

2,24) Helmintíase CASE 2,33 (1,41 – 3,84) 2,15 (1,06 – 4,36) 2,13 (1,19 – 3,81) 2,41 (1,32 – 4,39) 1,90 (1,05 – 3,43) 2,45 (1,44 –

4,16) SASE 2,25 (1,36 – 3,72) 1,96 (0,91 – 4,23) 1,74 (0,93 – 3,22) 2,04 (1,19 – 3,79) 1,40 (0,74 – 2,64) 2,03 (1,17 –

- -

104

3,53) Piócitos CASE 0,66 (0,10 – 4,04) 0,81 (0,37 – 17,78) 0,67 (0,10 – 4,23) 0,46 (0,04 – 5,29) 1,48 (0,12 – 18,16) 0,70 (0,10 –

4,49) SASE 2,44 (0,62 – 9,64) 1,22 (0,52 – 28,58) 1,86 (0,38 – 8,99) 3,70 (0,69 – 19,81) 3,81 (0,37 – 38,42) 2,33 (0,53 –

10,13) P. Transmissão feco-oral

CASE 2,11 (1,33 – 3,36) 1,71 (0,92 – 3,18) 2,44 (1,39 – 4,28) 2,14 (1,25 – 3,64) 1,78 (1,01 – 3,17) 2,17 (1,32 – 3,57)

SASE 1,55 (0,98 – 2,44) 1,21 (0,61 – 2,41) 1,51 (0,84 – 2,71) 1,57 (0,91 – 2,72) 1,12 (0,62 – 2,01) 1,42 (0,86 – 2,35)

(1) “Odds Ratio” e intervalo de confiança a 95%

As razões de probabilidade e os respectivos intervalos de confiança obtidos

com a construção do modelo final de regressão, para cada um dos seis indicadores

que permaneceram nessa etapa, são apresentadas na Tabela 26.

Tabela 26 – Modelo final de ajustamento das razões de probabilidade obtido na comparação das áreas CASE e SASE com a área CACE, segundo os indicadores de saúde selecionados.

INDICADORES DE SAÚDE

RAZÃO DE PROBABILIDADE

CASE - ÁREA 2 SASE – ÁREA 1

OR IC 95% OR IC 95%

DIARRÉIA** 2,65 (0,68–10,25) 5,10* (1,43–18,13)

DESNUTRIÇÃO CRÔNICA** 1,47 (0,80–2,70) 1,84* (1,01–3,37)

D. PONDERAL ISOLADO** 1,02 (0,48–2,14) 1,56 (0,77–3,13) PROTOZOOSE 1,62 (0,91–2,90) 1,29 (0,69–2,42) HELMINTÍASE 1,88* (1,07–3,31) 1,59 (0,88–2,89) P. PATÓGENOS FECO-ORAL 1,96* (1,17–3,30) 1,22 (0,70–2,10)

* Significativo a um nível de significância de 5%; ** Gradiente dose-resposta entre as áreas (avaliação qualitativa).

O teste do qui-quadrado de Hosmer-Lemeshow foi superior a 0,10 na

verificação do ajuste dos seis modelos acima mencionados.

As variáveis que permaneceram nos modelos para cada indicador após a

realização do ajustamento final são apresentadas na Tabela 27.

Tabela 27 – Variáveis remanescentes no modelo final da análise multivariada de cada indicador

INDICADOR DE SAÚDE VARIÁVEL SIGNIFICATIVA NO MODELO FINAL

1. DIARRÉIA __ 2. DESNUTRIÇÃO CRÔNICA Gestação da criança Número de moradores por cômodo

- -

106

3. DÉFICIT PONDERAL ISOLADO Inundação do lote por água da chuva Suplemento nutricional Lavagem das mãos após defecar Gestação da criança 4. PROTOZOOSE Tempo de gestação Número de crianças menores de cinco anos na casa Número de anos de estudo do pai 5. HELMINTÍASE Renda por morador Uso de antibióticos nos últimos sete dias Número de moradores por cômodo 6. INFECÇÃO POR PATÓGENOS DE TRANSMISSÃO FECO-ORAL

Número de anos de estudo da mãe Número de moradores na residência

Inundação do lote por água da chuva

- -

107

CAPÍTULO VI

6. DISCUSSÃO

6.1. Dimensionamento da amostra

O primeiro questionamento que se faz ao analisar os resultados obtidos com

a pesquisa é se o dimensionamento da amostra foi adequado para detectar as

questões investigadas.

Amostras “pequenas” não conseguem detectar as diferenças pesquisadas,

por outro lado, amostras “grandes” podem detectar diferenças estatísticas sem

significado biológico, implicando tanto em desperdício de esforço, de tempo e de

dinheiro, como também em questões éticas.

Na definição da magnitude da amostra é necessário que sejam incorporadas

dados do tipo de delineamento do estudo, do valor populacional referente ao

parâmetro em estudo e, fundamentalmente, do método de amostragem a ser

adotado (UTSCH, 2000).

O processo de amostragem adotado pelo presente trabalho foi a

amostragem estratificada em dois estágios (LEVIN, 1987; SOARES & SIQUEIRA,

1999). Em cada estágio utilizou-se a amostragem aleatória simples para a seleção

de cada elemento, ou seja, em cada moradia selecionada foi avaliada uma criança.

Esse método de amostragem requer amostras menores que os demais processos de

amostragem, dentre eles, a amostragem por conglomerados ou cluster que demanda

o dobro da amostra obtida pelo processo de amostragem simples (GOULART, 2000).

O método de cluster foi adotado por Moraes (1996), que selecionou em uma mesma

moradia mais de uma criança e necessitou de uma amostra de 1.204 crianças.

No presente trabalho cada criança participante do estudo refletiu os dados

de exposição de uma moradia e constituiu uma unidade de análise para os dados de

saúde.

- -

108

A unidade de análise do estudo foi a pessoa doente e não o número de

patógenos e parasitas presentes no exame de fezes de cada indivíduo. Portanto,

considerou-se o número de criança infectadas para a avaliação do impacto sobre a

saúde. Conseqüentemente, a prevalência de crianças infectadas foi menor que o

número de patógenos isolados nas fezes quando se considerou a infecção múltipla

(infecção por dois ou mais patógenos).

No início do estudo, estimou-se a amostra total de 600 crianças, entre um a

cinco anos, divididas entre as três áreas avaliadas pela pesquisa, resultando na

participação de 200 crianças por área. No final da pesquisa os grupos avaliados

ficaram assim constituídos:

Na área 1, SASE, foram entrevistadas 188 pessoas e examinadas as fezes

de 152 crianças. O número de entrevistas realizadas correspondeu ao total

de moradias existentes nessa área, que possuíam crianças na faixa etária

de um a cinco anos;

Na área 2, CASE, foram entrevistadas 196 pessoas e examinadas as fezes

de 154 crianças. Quatro entrevistas realizadas foram desconsideradas por

não preencherem os critérios de exposição definidores da área CASE;

Na área 3, CACE, foram entrevistadas 200 pessoas e examinadas as

fezes de 155 crianças.

A perda verificada no número de exames realizados foi semelhante nas três

áreas. O percentual de exames realizados perfez cerca de 77% do cálculo previsto

para cada uma das três áreas. A perda foi atribuída à recusa do responsável pela

criança a participar da segunda etapa da pesquisa – coleta do material fecal - e à

mudança de endereço.

Como o percentual de perda foi semelhante nas três áreas e a seleção dos

participantes não foi baseada no status de doença, pode-se inferir que as medidas

de associação realizadas entre os dois grupos - exposição e não-exposição - não

foram afetadas pelo efeito da não-participação (KELSEY et al., 1986).

UTSCH (2000) afirma que nos estudos em que há comparações entre

grupos através de testes estatísticos, o tamanho da amostra é fator determinante da

capacidade de detecção de diferenças existentes entre os grupos estudados. Esta

- -

109

capacidade é avaliada por meio do poder do teste14, que corresponde à

probabilidade de se detectar uma diferença real preestabelecida entre os grupos.

Com o tamanho da amostra obtida no final do trabalho, calculou-se o poder

do teste, com recursos do programa Epitable do Epi Info versão 6.4, para a

averiguação da capacidade da amostra em identificar as diferenças que realmente

existiam na comparação das três áreas, segundo as variáveis de resposta (Tabela

28).

Tabela 28 – Poder da amostra.

Variável Resposta Poder do Teste

Diarréia e Piócitos Fecais

9,4%

Enterobactérias Patogênicas e

Piócitos Fecais

9,4%

Ancylostoma duodenale

9,7%

Enterobius vermicularis

9,7%

Patógenos de Transmissão Feco-

oral e Piócitos Fecais

30,5%

Parasitas e Piócitos Fecais

35,4%

Bactérias não patogênicas

43,6%

Escherichia coli 50,3% Enterobactérias

não patogênicas e Piócitos Fecais

52,4%

Entamoeba histolytica

61,1%

Diarréia 81,7% Bactérias

Patogênicas 88,6%

Hymenolepis nana 89,2% Strongyloides

stercolaris 92,6%

Trichocephalus trichiura

96,3%

14 O poder do teste é definido como 1 – ß, sendo ß o erro tipo II que, na terminologia de testes de hipóteses,

significa não rejeitar a hipótese nula (que refere a ausência de diferença entre grupos) quando ela é de fato falsa.

- -

110

Desnutrição Aguda (peso/altura)

98,8%

Infecção por Patógenos de

Transmissão Feco-oral

99,6%

Ascaris lumbricoides

99,9%

Criptosporidium 99,9% Déficit Ponderal

Isolado (peso/idade)

99,9%

Desnutrição Crônica

(altura/idade)

99,9%

Giardia lamblia 99,9% Helmintíase 99,9% Protozoose 99,9%

Nota-se que o poder do teste foi pequeno para a detecção das diferenças

entre os três grupos investigados quando considerada a variável resposta –

“enteropatógenos (bactérias, parasitas e patógenos de transmissão feco-oral) e

piócitos fecais”, “diarréia e piócitos fecais”, bactérias não patogênicas, “Ancylostoma

duodenale”, “Enterobius vermicularis”, “Escherichia coli” e “Entamoeba histolytica”.

As duas primeiras variáveis respostas constituem o indicador proposto pelo

presente trabalho, portanto por ser inédito não se encontraram, na literatura, os

dados referentes ao valor populacional desse parâmetro em estudo, o que não

possibilitou, na fase de planejamento do estudo, que a amostra fosse calculada para

esse indicador. Conseqüentemente, a amostra foi adequada para detectar as

diferenças avaliadas por todos os outros indicadores de saúde utilizados pelo

trabalho, menos para o indicador proposto. A baixa prevalência encontrada para os

piócitos fecais pode ser atribuída, tanto ao método de conservação do material fecal

(refrigeração) necessário para a preservação da estrutura celular dos piócitos, como

às dificuldades ocorridas na etapa de campo da pesquisa.

Apesar de quase 80% das moradias avaliadas possuírem geladeira,

encontrou-se uma resistência das pessoas em nelas guardar as fezes até serem

recolhidas pela equipe da pesquisa. Outra situação que pode ter contribuído para

- -

111

diminuir o número de piócitos identificados pelo exame bacterioscópico foi o aumento

dos índices de violência na favela durante os trabalhos de campo, que

impossibilitaram à equipe da pesquisa continuar utilizando a sede da Associação dos

Moradores onde as amostras de fezes eram guardadas, em geladeira, antes de

serem encaminhadas ao laboratório.

As demais variáveis respostas citadas anteriormente - Ancylostoma

duodenale, Enterobius vermicularis, Escherichia coli e Entamoeba histolytica –

isoladamente, não constituem indicadores de saúde avaliados pelo presente

trabalho. Cabem aqui os seguintes comentários.

O Ancylostoma duodenale é um geo-helminto, como mencionado na seção

2.3.5, sendo para sua transmissão necessária a existência de solo arenoso e

condições climáticas propícias associadas ao hábito de andar descalço. O que pode

explicar a baixa prevalência da ancilostomíase no presente trabalho. GROSS et al.

(1989) avaliaram a prevalência de helmintíase no Aglomerado da Serra e nas favelas

Barragem de Santa Lúcia e Vila Rita de Cássia, em Belo Horizonte, e não

identificaram o Ancylostoma duodenale nas fezes das 168 crianças avaliadas.

MORAES (1997) encontrou uma prevalência de 25,2% desse helminto nas fezes das

crianças residentes em áreas sem esgotamento sanitário. Contudo, esse autor

avaliou crianças na faixa etária entre cinco a quatorze anos. Faixa etária essa mais

exposta às condições insalubres do ambiente peridomiciliar.

Os estudos epidemiológicos de avaliação do impacto das intervenções em

saneamento sobre a saúde, principalmente os direcionados para a realidade urbana

que utilizam esse helminto como indicador de saúde, devem ter o cuidado de

selecionar casos e controles comparáveis quanto a essa variável, ou seja, ambos

expostos às mesmas condições ambientais e culturais que permitam a ocorrência do

ciclo de transmissão. Torna-se, difícil estabelecer uma comparação, entre moradias

com piso, situadas em áreas pavimentadas, e moradias de chão batido e situadas

em áreas sem pavimentação. Além disso, na avaliação da exposição por meio das

respostas ao questionário devem ser pesquisadas as características da moradia e o

hábito de andar descalço. Como, durante a fase de reconhecimento das áreas

selecionadas para o estudo, foi detectado que as moradias situadas na área CACE,

- -

112

área considerada de não-exposição, encontravam-se em locais pavimentados,

diferentemente das residências das áreas de exposição, CASE e SASE, inferiu-se

que, em relação a essa variável, o controle dos fatores de confundimento não seria

adequado.

A baixa prevalência da enterobíase é explicada pelo método de coleta do

material fecal realizado pelo presente trabalho, que não é o mais indicado para o

isolamento desse helminto, como mencionado na seção 2.3.5. GROSS et al. (1989)

identificaram o Enterobius vermicularis nas fezes de apenas uma criança.

Como relatado na seção 2.3.2, a Escherichia coli não patogênica é uma das

espécies de enterobactérias mais freqüentemente encontrada na microbiota intestinal

normal. No presente trabalho, essa bactéria foi isolada em 93,5% do material fecal

avaliado. Também, não se encontrou diferença entre o percentual de isolamento

dessa bactéria, entre as áreas sem saneamento e a área com saneamento.

Embora a Escherichia coli potencialmente seja um dos indicadores

ambientais mais específicos da contaminação fecal, a presença de Escherichia coli

nas fezes não é um indicador de saúde, visto que a Escherichia coli não patogênica

faz parte da microbiota intestinal normal. Para a utilização dessa bactéria como

indicador de saúde devem ser identificadas as cepas patogênicas de Escherichia coli

- Escherichia coli entero-hemorrágica, Escherichia coli enterotoxigênica, Escherichia

coli enteropatogênica e Escherichia coli enteroinvasora.

A Entamoeba histolytica foi isolada em 2,2% das fezes das crianças.

GROSS et al. (1989) identificaram esse protozoário em 3,6% do material fecal

examinado. A ocorrência da Entamoeba histolytica, em portadores de diarréia, variou

de 0,3 a 5,0% em nove estudos realizados com metodologias diferentes e diversas

faixas etárias e em diferentes locais (HELLER, 1997).

Outro comentário em relação à determinação do tamanho da amostra é que

as análises foram realizadas, inicialmente, de acordo com as múltiplas exposições

avaliadas pelas respostas ao questionário. Posteriormente, as várias formas de

exposição foram transformadas em exposições dicotômicas utilizadas na análise

multivariada. Provavelmente, a análise estatística realizada com exposição múltipla

necessita de amostras maiores. BRISCOE et al. (1988) afirmam que o tamanho da

- -

113

amostra requerido para a avaliação de múltiplos níveis de exposição é em torno de

1.500 casos e 1.500 controles, podendo atingir 2.500 casos e controles, dependendo

do tipo de exposição em análise.

HELLER (1995) conclui, com seu estudo, que raramente a avaliação de

múltiplas exposições enriquece as conclusões pretendidas, porque um importante

objetivo dos estudos de avaliação do impacto do saneamento sobre a saúde é

apontar prioridades de intervenção, portanto o conhecimento detalhado das

exposições não se mostra relevante. Esse autor exemplifica que, para o

abastecimento de água, mostra-se importante a comparação entre o abastecimento

pela rede pública e o abastecimento por outras fontes, não melhorando a informação

a diferenciação das outras fontes. Para o esgotamento sanitário, onde se deseja

conhecer a necessidade de implantação de rede pública, ou, no máximo, avaliar a

adequação de fossas melhoradas, não há interesse em avaliar com riqueza maior de

detalhes as demais formas de disposição.

6.2. Caracterização da população excluída do saneamento

6.2.1 Variáveis de saneamento

As variáveis relacionadas ao abastecimento de água e ao esgotamento

sanitário são as definidoras das três áreas de estudo.

6.2.1.1 Abastecimento de água

a) Origem da água

Na área SASE, a solução alternativa mais freqüente adotada para suprir a

falta de abastecimento de água pelo sistema público é a ligação clandestina na rede

oficial de distribuição de água, correspondendo a 85,6% do total de moradias

situadas nessa área. Portanto, apenas 14,4% dos domicílios, na área SASE, obtêm

- -

114

água para consumo sem que esta tenha sido submetida a processos de

potabilização, portanto de qualidade incerta. Pode-se inferir que o percentual de

moradias com qualidade da água presumível como potável é de 100% nas áreas

CACE e CASE e de 85,6% na área SASE.

Conseqüentemente, outras variáveis, como a existência de reservatório

domiciliar, a intermitência no fornecimento de água e o preparo da água para o

consumo são importantes na manutenção das características microbiológicas da

água, influenciando no risco de transmissão das doenças infecciosas de veiculação

hídrica.

b) Reservatório domiciliar

Na área SASE, 46,2% das moradias não possuem caixa d’água. Esse

percentual corresponde aproximadamente ao dobro do da área CASE e ao triplo do

da área CACE. Os tambores são os locais mais freqüentes onde a água é

armazenada, nas moradias que não possuem caixa d’água, correspondendo a 75%.

Nas verificações realizadas pela autora, os tambores encontravam-se em péssimo

estado de conservação e, na maioria das vezes, descobertos, constituindo em

potenciais fontes de contaminação por patógenos de veiculação hídrica, portanto,

fatores de risco para a transmissão de doenças (ANEXO 9).

As três áreas mostraram ser estatisticamente diferentes quanto à existência

do reservatório domiciliar e da sua cobertura.

No estudo, em modelo logístico, da relação dessa variável e os oitos

indicadores de saúde – diarréia, desnutrição aguda, desnutrição crônica, déficit

ponderal isolado, protozoose, helmintíase, enteropatógenos associados a piócitos

fecais e infecção por patógenos de transmissão feco-oral – o intervalo de confiança

das “Odds Ratio” não ajustadas e ajustadas, calculado para esses indicadores de

saúde, incluiu a unidade. Portanto, essa variável não permaneceu no modelo final de

regressão logística, após o controle dos fatores de confusão. Indicando que a

existência do reservatório domiciliar e da sua cobertura associada ao fato de morar

- -

115

em áreas sem saneamento não aumenta a probabilidade de se apresentar as

doenças avaliadas pelos indicadores, quando comparada à área de não-exposição.

Os reservatórios domiciliares são pontos vulneráveis do sistema de

abastecimento de água, pois representam locais prováveis de contaminação da

água, dentro do próprio domicílio, caso não sejam tomadas medidas para garantir a

manutenção da qualidade da água fornecida pelo sistema público, como a existência

de cobertura, a freqüência da limpeza e a conservação da caixa d’água.

Não foi detectada diferença estatística, entre as três áreas, quanto à variável

“freqüência de limpeza do reservatório domiciliar”. Portanto, as três áreas são iguais,

estatisticamente, em relação às medidas domiciliares de manutenção da qualidade

da água para o consumo. Esse fato, provavelmente, associado às características do

comportamento no meio ambiente dos agentes infecciosos pesquisados, como a

persistência e a capacidade de reprodução na água pode ser uma possível hipótese

para explicar a não associação encontrada entre a não existência do reservatório ou

a ausência da cobertura e os indicadores de saúde.

c) Intermitência no fornecimento de água

Outro fator de risco para doenças transmitidas pela água, nas áreas CACE e

CASE, abastecidas pela água tratada pela concessionária estadual de saneamento,

é a interrupção no abastecimento de água, que influencia tanto a qualidade

microbiológica como a quantidade da água para consumo humano.

A intermitência no abastecimento de água favorece a perspectiva de

contaminação na rede de distribuição (DANIEL, 2001). Porém, a alteração na

qualidade da água não ocorre necessariamente sempre que se verifica a interrupção

no fornecimento de água. É necessária a ocorrência dos seguintes fatores (BARROS

et al., 1995; HELLER, 1995):

Intensidade e duração da pressão negativa quando essa ocorre nas

tubulações;

Resistência das juntas das tubulações à subpressões;

- -

116

Presença de líquidos, contaminados com patógenos, no subsolo adjacente

à tubulação.

A alteração na quantidade de água fornecida relaciona-se com o risco à

saúde, com a diminuição do consumo “per capita”, influenciando as práticas

higiênicas, e com a adoção de fontes alternativas de abastecimento de água que na

maioria das vezes não são seguras.

A análise univariada mostrou que as áreas CACE e CASE são diferentes

estatisticamente em relação a essa variável (X2 = 28,103 e p = 0,000), como

mencionado na seção 5.1.

Por ser uma variável de exposição dependente da definição das três áreas,

não foi considerada na análise multivariada. A maior freqüência de intermitência foi

observada na área CASE.

6.2.1.2 Esgotamento sanitário

Na caracterização da exclusão sanitária, referente ao esgotamento sanitário,

três variáveis são importantes, por se relacionarem com riscos para a saúde:

“soluções alternativas adotadas para a disposição dos esgotos” (área CASE e área

SASE), “presença de esgotos escoando na rua” e “destino das fezes da criança”.

Outras variáveis analisadas – “a existência de córrego próximo a casa” e o

“contato das crianças com a água do córrego” – são indicativas da exposição da

criança ao esgoto, pois cerca de 66% das moradias das áreas CASE e SASE lançam

o esgoto do vaso no córrego.

Todas essas variáveis foram estatisticamente diferentes na análise

univariada, quando comparadas as três áreas, com exceção da variável “contato da

criança com a água do córrego”. Na análise multivariada, em modelo logístico,

quando são incorporadas às áreas outras variáveis, fatores de risco para as doenças

investigadas, essas variáveis apresentaram “Odds Ratio” com intervalo de confiança

incluindo a unidade, para todos os oitos indicadores de saúde avaliados, portanto,

não permaneceram no modelo final após o controle dos fatores de confusão.

- -

117

Observam-se, nos resultados obtidos, que as soluções alternativas adotadas

pelas áreas CASE e SASE não são consideradas práticas aceitáveis pela

Organização Mundial de Saúde (VON SPERLING, 2001).

Somente 4,9% das moradias da área CASE lançam seus esgotos em

apenas uma fossa. Esse percentual é maior na área SASE, correspondendo a

11,1%, o dobro das moradias da área CASE. O percentual de moradias que lançam

os esgotos em bueiro, terreno ou córrego e o percentual de crianças que tem contato

com a água do córrego são maiores na área CASE quando comparados aos

percentuais da área SASE.

A resposta referente à solução alternativa adotada para a disposição de

esgoto foi confirmada pela verificação da moradia realizada pelo entrevistador. A

comparação entre a informação fornecida pelo entrevistado e a realidade observada

pelo entrevistador foi concordante quanto ao fato da área CASE dispor de maneira

mais inadequada os esgotos.

As diferenças entre as duas áreas - CASE e SASE - em relação as variáveis,

“existência de córrego próximo a casa” e “destino das fezes das crianças” são

estatisticamente significativas.

Portanto, em relação ao esgotamento sanitário, a noção de um gradiente de

exposição entre as áreas, compatível com a idéia de que na área SASE as

condições sanitárias são piores que na área CASE, não é adequada em relação à

disposição dos esgotos.

Além das diferenças das condições de saneamento – abastecimento de

água e esgotamento sanitário – impostas pela própria definição das áreas, estas se

diferenciaram significativamente, também em função de outras variáveis sanitárias,

como: resíduos sólidos domésticos, drenagem pluvial, presença de vetores e hábitos

higiênicos.

6.2.1.3 Resíduos sólidos

Os resíduos sólidos domiciliares dispostos e coletados inadequadamente

constituem fatores de risco para a saúde humana, pois grande parte da composição

- -

118

do lixo das residências é de natureza orgânica, o que facilita a proliferação de

vetores e a manutenção do habitat de patógenos (BARROS et al., 1995).

A relação dos resíduos sólidos domiciliares com a saúde foi estudada no

presente trabalho abrangendo os seguintes aspectos: acondicionamento do lixo,

disposição do lixo, freqüência de coleta do lixo e presença de lixo acumulado no lote.

A informação de que o lixo é embalado foi observada em quase 100% das

moradias nas áreas CACE e CASE e em 94,7% na área SASE. A forma mais comum

de acondicionamento relatada foi o saco plástico. Diferenças estatisticamente

significativas foram encontradas nas comparações entre a área SASE com as áreas

CASE e CACE.

Constatou-se que o maior percentual de moradias que dispõe o lixo de forma

inadequada – queima, lançamento no córrego ou lote vago – está situado na área

SASE, correspondendo a 19,1% das moradias. A disposição do lixo para a coleta

pelo serviço municipal é a prática realizada por 99% dos domicílios situados na área

CACE e 96,4% das moradias da área CASE.

A comparação entre as três áreas mostrou que a diferença encontra-se entre

a área SASE e as áreas CACE e CASE. Não há diferença estatística na comparação

CACE/CASE.

Na análise multivariada, essas duas variáveis não entraram no modelo

devido à colinearidade (ROTHMAN & GREENLAND, 1998) em relação à variável

freqüência da coleta de lixo.

Pela resposta ao questionário, pode-se inferir que o serviço municipal de

limpeza urbana realiza coletas freqüentes do lixo, na favela. A coleta diária ou nos

dias úteis atinge a 72,3% das moradias da área SASE, 61,4% e 50% das áreas

CASE e CACE, respectivamente. Nota-se, em relação a essa variável, a presença de

um gradiente contrário à hipótese que a área SASE tem as condições sanitárias mais

precárias em relação às áreas CASE e CACE.

Para fins de análise considerou-se a freqüência de coleta de três vezes por

semana, juntamente com a freqüência diária e dias úteis. Os dados assim agrupados

demonstram que 98% das moradias, na área CACE, têm seu lixo coletado pelo

- -

119

menos três vezes na semana, enquanto na área CASE a coleta de no mínimo três

dias na semana abrange 94,2% das moradias e 96,6%, na área SASE.

As três áreas são diferentes estatisticamente entre si, em relação a essa

variável.

Na análise dos riscos para a saúde, da relação entre morar em uma das três

áreas e a freqüência da coleta do lixo, ajustada para as variáveis de saneamento 2

(TAB. 24) os valores das “Odds Ratio” encontrados ficaram acima do nível de

significância estatística de 5%. Os modelos de ajustamento para todos os oitos

indicadores de saúde avaliados restringiram os resultados dessa variável.

Em relação à variável “presença de lixo acumulado no lote”, observa-se um

gradiente entre as áreas, apresentando a área CACE o menor percentual e a área

SASE o maior. A resposta a essa variável foi obtida pela observação do

entrevistador, durante a verificação da moradia. Em apenas oito casas incluídas no

estudo, os entrevistados recusaram a solicitação do entrevistador para verificar a

moradia e o lote. Acrescenta-se que houve um a perda pequena e deve-se

considerar que essa variável é objetiva, não depende da informação fornecida pela

pessoa entrevistada.

As comparações estatisticamente diferentes entre as áreas são: CACE e

SASE e, CASE e SASE.

Verifica-se que, apesar de as três áreas serem atendidas pelo serviço de

coleta de lixo, a prática de jogar lixo no lote coexiste e é mais freqüente do que se

poderia esperar pela resposta a questão efetuada pela pessoa entrevistada referente

à freqüência de coleta do lixo.

Na análise multivariada, com controle dos fatores de confusão, essa variável

não permaneceu no modelo final dos indicadores avaliados.

HELLER (1995) encontrou um risco relativo, para a diarréia infantil, de 1,61

(1,11 – 2,34) quando o lixo era disposto inadequadamente no lote em comparação

com a disposição na rua para o serviço de coleta. GROSS et al. (1989) verificaram

uma diminuição na duração e incidência dos episódios de diarréia, em crianças

residentes em duas favelas de Belo Horizonte, após a implantação de programas de

- -

120

saneamento. Esses autores não verificaram, contudo, mudanças na prevalência de

parasitoses associadas à remoção dos resíduos sólidos.

6.2.1.4 Drenagem pluvial

As variáveis relacionadas com as águas pluviais são a “inundação do lote” e

“ocorrência do empoçamento”. A possibilidade de ocorrência de inundação no lote foi

verificada pelo entrevistador, bem como a existência de pontos baixos no lote onde

poderia ocorrer empoçamentos. A inundação do lote ocorre mais freqüentemente na

área SASE. Por outro lado, o empoçamento da água da chuva é mais freqüente na

área CASE. As diferenças significativas foram encontradas na comparação das

áreas CASE e SASE com a área CACE.

A inundação do lote pela água da chuva relaciona-se com a saúde por meio

da possibilidade das águas pluviais carrearem esgotos, lixo e outros contaminantes.

A probabilidade de desenvolver as doenças, avaliadas pelos oito indicadores

de saúde, entre as crianças expostas a inundação do lote foi quantificada através da

“Odds Ratio”, demonstrando que as crianças expostas a essa variável têm mais

chances de apresentar as seguintes doenças em relação às não expostas:

Desnutrição crônica OR = 1,98 (IC 95% 1,03 – 3,83)

Déficit Ponderal Isolado OR = 3,67 (IC 95% 1,51 – 8,93)

Enteropatógenos e piócitos OR = 4,51 (IC 95% 0,98 – 20,90)

Infecção por patógenos feco-orais OR = 1,83 (IC 95% 0,93 – 3,65)

A variável “inundação do lote” permaneceu no modelo final de ajustamento

dos indicadores de saúde – déficit ponderal isolado com OR de 2,40 (IC 95% 1,30 –

4,42) e infecção por patógenos de transmissão feco-oral OR = 2,52 (IC 95% 1,31 –

4,84).

No estudo epidemiológico realizado em Betim, para a avaliação do

saneamento ambiental sobre o indicador de saúde diarréia, encontrou-se um Risco

Relativo de 1,39 (IC 95% 1,09 – 1,79), significando que as crianças expostas à

- -

121

ocorrência da inundação do lote apresentam uma chance 1,39 vezes maior de

apresentar diarréia em relação às não expostas (HELLER, 1998, 1999).

6.2.1.5 Presença de vetores

Avaliou-se a presença de moscas, baratas e ratos nas moradias. As três

áreas foram estatisticamente diferentes em relação às variáveis: “presença de

moscas” e “presença de ratos”. A presença de moscas é maior nas casas da área

SASE e menor nas da área CACE, observando-se um gradiente entre as áreas.

Contudo, esse gradiente não é observado na análise das freqüências da

variável presença de ratos. A ocorrência de ratos na área CASE é maior que na área

SASE, porém a diferença entre as freqüências dessas duas áreas não é

estatisticamente significativa.

A presença de vetores é associada ao acúmulo de lixo e à existência de

esgotos a céu aberto. A maior freqüência de ratos na área CASE pode ser explicada

pelo fato de essa área dispor seus esgotos de forma mais inadequada em relação à

área SASE, como também nessa área um maior número de moradias estarem

situadas próximo ao córrego, que é o depositário de esgotos e de lixo da favela.

Portanto, o córrego funciona como esgoto a céu aberto.

Apesar das moscas e ratos serem capazes de transportar agentes

infecciosos de doenças, tais como a febre tifóide, salmoneloses, shigeloses,

amebíase, giardíase, cisticercose, dentre outras, como relatado na seção 2.3.2., o

fato de morar em áreas sem saneamento associada a presença de mosca e de ratos

não aumentou a probabilidade de ocorrer as doenças avaliadas pelos oitos

indicadores de saúde, nas crianças estudadas.

Uma possível hipótese para o resultado obtido pelo trabalho é que o controle

desses vetores mecânicos está associado à higiene do ambiente peridomiciliar, mas

principalmente, à higiene da moradia. Medidas de higiene doméstica podem

minimizar ou mesmo impedir a transmissão de agentes patogênicos pelos vetores.

- -

122

6.2.1.6 Hábitos higiênicos

As variáveis que avaliaram os hábitos higiênicos foram: “preparo da água

que a criança ingere”, “preparo de frutas e verduras antes de serem ingeridas pela

criança”, “hábito de lavar a mão da criança antes da alimentação” e “hábito da

criança lavar a mão após defecar”.

Para todas essas variáveis observou-se um gradiente entre as freqüências,

compatível com a hipótese que a área SASE, por apresentar as piores condições de

abastecimento de água e esgotamento sanitário, apresentaria os piores resultados

quanto às práticas higiênicas. As freqüências observadas na área SASE são

estatisticamente diferentes das freqüências das áreas CASE e CACE. Não se

observou diferença estatística entre as áreas CACE e CASE.

A variável “hábito de a criança lavar a mão após defecar” apresentou os

seguintes resultados, após o ajuste pelo subgrupo de variáveis, “saneamento 1”

(TAB. 24):

Desnutrição crônica OR = 1,93 (IC 95% 1,16 – 3,22)

Déficit Ponderal Isolado OR = 1,84 (IC 95% 1,21 – 3,77)

Helmintíase OR = 1,68 (IC 95% 1,04 – 2,70)

Infecção por patógenos feco-orais OR = 1,52 (IC 95% 0,92 – 2,52)

Após o ajuste por todos os subgrupos, essa variável permaneceu no modelo

final do indicador de saúde – Déficit ponderal isolado - com a OR de 1,78 (IC 95%

1,02 – 3,13).

Estudos têm demonstrado o impacto de medidas de higiene na morbidade

por diarréia, calculando uma redução média de 33% na ocorrência de diarréia.

Aqueles que avaliaram o impacto do hábito de lavar as mãos após defecar e antes

de preparar os alimentos encontraram uma redução de 30% na ocorrência de

diarréia (ESREY et al., 1991).

É sabidamente reconhecido que medidas de higienização dos alimentos; de

preparo da água para beber; de higiene das mãos antes do preparo dos alimentos e

- -

123

da alimentação e após defecar, como também a limpeza do domicílio e do ambiente

peridomiciliar, são importantes para a promoção da saúde e prevenção de doenças.

6.2.2 Variáveis de estrutura familiar e nível socioeconômico

As variáveis relacionadas à estrutura familiar e ao nível socioeconômico são

fatores intervenientes do processo de doença.

No presente trabalho, foram analisadas para a caracterização da população

excluída do saneamento, bem como para o conhecimento do ambiente intra-

domiciliar, por meio do estudo das características demográficas, culturas, sociais e

econômicas, permitindo a avaliação da influência dessas variáveis no processo

saúde-doença, da população investigada.

Os resultados do estudo demonstram que a área com as condições

sanitárias mais precárias é justamente aquela que tem os piores indicadores sociais

e econômicos, ou seja, a situação de pobreza que afeta a população da área SASE

relaciona-se diretamente com as condições ambientais em que essa população vive.

Resultado que parece óbvio. Porém, as doenças relacionadas ao saneamento têm a

transmissão facilitada pelas características sanitárias do ambiente, bem como pelas

características do próprio domicílio. Identifica-se, por isso, dois domínios

relacionados com as vias de transmissão: o domínio público e o domínio privado ou

doméstico. MORAES (1996) afirma que a diferenciação epidemiológica dos domínios

público e doméstico na transmissão das doenças tem implicações para as

estratégias de controle ambiental.

Portanto, ao investigar a importância dos dois domínios, público e privado,

na transmissão de doenças, pretendeu-se fornecer dados mais precisos sobre as

ações necessárias para a promoção da saúde da população estudada. As variáveis

de estrutura familiar e nível socioeconômico avaliam o domínio doméstico.

As variáveis dos subgrupos estrutura familiar e nível socioeconômico que

permaneceram nos modelos multivariados dos oitos indicadores de saúde, após o

ajuste por esses dois subgrupos, foram:

- -

124

Desnutrição crônica

Gestação da criança OR = 3,02 (IC 95% 1,41 – 6,46)

Número de moradores por cômodo OR = 1,55 (IC 95% 1,22 – 1,98)

Desnutrição aguda

Renda por morador OR = 0,08 (IC 95% 0,06 – 20,15)

Déficit Ponderal Isolado

Gestação da criança OR = 2,88 (IC 95% 1,15 – 7,16)

Protozoose

Número de crianças menores de cinco anos OR = 1,60 (IC 95% 1,09 – 2,36)

Tempo de moradia OR = 1,02 (IC 95% 1,02 – 1,05)

Renda por morador OR = 0,13 (IC 95% 0,09 – 0,20)

Renda familiar OR = 2,01 (IC 95% 1,05 – 3,84)

Helmintíase

Anos de estudo da mãe OR = 0,80 (IC 95% 0,70 – 0,91)

Renda por morador OR = 0,06 (IC 95% 0,01 – 0,39)

Número de moradores por cômodo OR = 1,26 (IC 95% 1,01 – 1,57)

Infecção por patógenos feco-orais

Anos de estudo da mãe OR = 0,85 (IC 95% 0,76 – 0,95)

Renda por morador OR = 0,03 (IC 95% 0,01 – 0,63)

Renda familiar OR = 2,41 (IC 95% 1,17 – 4,96)

Número de moradores na residência OR = 1,34 (IC 95% 1,13 – 1,60)

As OR dessas variáveis ajustadas para todos os outros subgrupos de

variáveis do modelo final foram:

Desnutrição crônica

Gestação da criança OR = 2,30 (IC 95% 1,27 – 4,13)

Número de moradores por cômodo OR = 1,18 (IC 95% 1,02 – 1,38)

Déficit Ponderal Isolado

Gestação da criança OR = 2,33 (IC 95% 1,08 – 5,04)

Protozoose

- -

125

Número de crianças menores de cinco anos OR = 1,53 (IC 95% 1,09 – 2,16)

Anos de estudo do pai OR = 0,87 (IC 95% 0,77 – 0,99)

Helmintíase

Renda por morador OR = 0,06 (IC 95% 0,01 – 0,44)

Número de moradores por cômodo OR = 1,36 (IC 95% 1,07 – 1,74)

Infecção por patógenos feco-orais

Anos de estudo da mãe OR = 0,85 (IC 95% 0,76 – 0,95)

Número de moradores na residência OR = 1,39 (IC 95% 1,18 – 1,64)

No modelo final as OR das variáveis de estrutura familiar e nível

socioeconômico, ao nível de significância de 5%, foram:

Desnutrição crônica Gestação da criança OR = 2,26 (IC 95% 1,26 – 4,06) Número de moradores por cômodo OR = 1,21 (IC 95% 1,03 – 1,42)

Déficit Ponderal Isolado

Gestação da criança OR = 1,90 (IC 95% 1,01 – 3,65) Protozoose

Número de crianças menores de cinco anos OR = 1,50 (IC 95% 1,08 – 2,07)

Helmintíase

Renda por morador OR = 0,05 (IC 95% 0,01 – 0,32) Número de moradores por cômodo OR = 1,25 (IC 95% 1,01 – 1,55)

Infecção por patógenos feco-orais

Anos de estudo da mãe OR = 0,84 (IC 95% 0,76 – 0,93) Número de moradores na residência OR = 1,31 (IC 95% 1,13 – 1,50)

Para a promoção da saúde da população excluída do saneamento, pode-se

inferir, por meio dos resultados do estudo, que a melhoria das condições de vida, por

meio do aumento da renda familiar, do aumento da escolaridade dos pais, do

aumento da área e do número de cômodos do domicílio, bem como, a diminuição do

número de filhos na família são ações necessárias e devem ser complementares às

intervenções sanitárias.

- -

126

6.2.3 Variáveis relacionadas com a saúde

As três áreas foram estatisticamente diferentes em relação às seguintes

variáveis, que buscaram informações sobre o estado de saúde das crianças incluídas

na pesquisa:

Ocorrência de doença no primeiro mês de vida da criança – doença

neonatal;

Vacinação;

Dieta;

Uso regular de medicamentos;

Uso de antibióticos nos últimos sete dias;

Tempo de Gestação.

A etiologia das doenças que ocorrem no primeiro mês de vida ou doença

neonatal inclui as anomalias genéticas, as malformações congênitas15, as causas

perinatais e de assistência ao parto, as neoplasias relacionadas à exposição a

agentes teratogênicos, as doenças respiratórias e as doenças infecciosas e

parasitárias (RAMOS et al., 1988). A doença neonatal atua de maneira desfavorável

nas fases de crescimento e de desenvolvimento do recém-nascido, além de tornar a

criança mais susceptível aos fatores ambientais adversos.

As doenças neonatais foram mais freqüentes na área SASE, notando-se em

relação a essa variável um gradiente relacionado com a definição de exposição das

três áreas. As etiologias das doenças neonatais apresentadas pelas crianças

avaliadas demonstram que as doenças respiratórias seguidas das causas

infecciosas ocorreram com maior freqüência na área SASE, enquanto as doenças

congênitas foram mais relatadas na área CACE.

Este resultado está de acordo com os relatos da literatura que afirmam que a

redução das doenças infecciosas neonatais depende da melhoria de fatores

socioeconômicos, ambientais e sanitários (RAMOS et al., 1988; LEÃO et al., 1989;

ALMEIDA FILHO & ROUQUAYROL, 1992; GOLDANI, 1997).

- -

127

Na análise multivariada, não foi encontrada associação ao nível de

significância estatística adotado na análise de subgrupos e no ajuste final, entre essa

variável e os indicadores de saúde.

A variável “vacinação completa para a idade” reflete diretamente o estado de

proteção da criança a certas doenças infecciosas passíveis de prevenção e,

indiretamente, o alcance das ações básicas de saúde na comunidade, o nível de

educação e informação dos responsáveis pela criança e o vínculo existente entre a

mãe e o filho.

A cobertura vacinal atingiu mais de 90% das três áreas. As crianças da área

CASE são menos imunizadas em relação às crianças da área CACE e SASE.

Apesar, das diferenças entre as freqüências observadas para as três áreas serem

pequenas, elas são estatisticamente significantes quando cotejadas as áreas de

exposição com a área de não-exposição.

Na análise multivariada dessa variável, foi demonstrado que a vacinação

completa para a idade foi um fator de proteção para o desenvolvimento das doenças

avaliadas pelos oito indicadores de saúde, porém os intervalos de confiança dos

valores das “Odds Ratio” incluíram a unidade.

As crianças residentes na área CACE têm uma alimentação mais adequada,

ou seja, a dieta delas inclui os elementos nutricionais básicos (água, proteínas,

hidratos de carbono, gorduras, minerais e vitaminas), contudo é a área com o menor

percentual de aleitamento materno. A área onde as crianças são mais amamentadas

com o leite materno é a área CASE.

O uso regular de medicação reflete a presença de uma doença crônica, que

pode influenciar no desenvolvimento da criança, como também pode indicar uma

maior susceptibilidade às doenças infecciosas e aos efeitos colaterais das

medicações. Os broncodilatadores foram as drogas mais utilizadas pelas crianças

das três áreas.

O uso de antibióticos associa-se com a necessidade de se tratar algum

processo infeccioso. Como também, pode dificultar o isolamento de bactérias na

15 São definidas como anomalias estruturais presentes ao nascimento e atribuíveis a desenvolvimento defeituoso.

- -

128

coprocultura. Na análise dessa variável em relação ao indicador de saúde

“helmintíase” foi encontrado OR não ajustada de 0,54 (IC 95% 0,30 – 0,96). Após o

ajuste pelo subgrupo de variáveis de saúde a OR foi de 0,55 (IC 95% 0,31 – 0,97).

No ajuste com todas as variáveis incluídas no modelo final encontrou-se a OR = 0,47

(IC 95% 0,24 – 0,92). Essa variável permaneceu no ajuste final do indicador

helmintíase com uma OR de 0,45 (IC 95% 0,23 – 0,88), indicando que após o ajuste

das três áreas pelas variáveis de confusão, o uso de antibióticos demonstrou ser um

fator de proteção para a infecção por helmintos.

O uso de suplemento nutricional pelas crianças não foi diferente

estatisticamente na comparação das três áreas. Na análise multivariada foram

encontradas as seguintes OR não ajustada com p < 0,05, para os seguintes

indicadores de saúde:

Desnutrição aguda OR = 0,45 (IC 95% 0,21 – 0,99)

Déficit Ponderal Isolado OR = 0,42 (IC 95% 0,23 – 0,79)

No ajuste, para as variáveis do subgrupo saúde (Tabela 24) os valores das

OR foram:

Desnutrição aguda OR = 0,39 (IC 95% 0,18 – 0,83)

Déficit Ponderal Isolado OR = 0,41 (IC 95% 0,22 – 0,76)

Essa variável permaneceu no modelo final de ajuste do indicador “déficit

ponderal isolado” – OR = 0,45 (IC 95% 0,22 – 0,90), significando que o uso de

suplemento nutricional é fator de proteção para o déficit ponderal das crianças.

A variável “tempo de gestação” está relacionada com a possibilidade da

ocorrência de parto prematuro, ou seja, o nascimento da criança antes de se

completarem os nove meses de gestação. As crianças prematuras geralmente têm

baixo peso e são mais predispostas às doenças neonatais. Essa variável para o

indicador de saúde “protozoose” indicou que o fato de se morar em áreas sem

- -

129

saneamento, associado ao parto prematuro, aumenta a probabilidade de ocorrer

infecção por protozoários nas crianças investigadas.

6.3 Análise comparativa da aplicabilidade dos indicadores de saúde

O presente trabalho objetivou também comparar os indicadores de saúde

dentre critérios definidos. Os seguintes critérios foram estabelecidos pela autora para

a avaliação da informação prestada pelo indicador, como também para a avaliação

da sua aplicabilidade dos mesmos:

1. Habilidade em avaliar a intervenção em saneamento a ser implantada

Abastecimento de água;

Esgotamento Sanitário;

Coleta e disposição dos resíduos sólidos e controle de vetores;

Hábitos higiênicos.

O indicador de saúde reflete, nesse caso, o estado de exposição pela

ausência dos serviços de saneamento.

2. Características epidemiológicas

Tamanho da amostra requerido;

Delineamento do estudo;

Grupo etário mais susceptível;

Via de transmissão.

O critério de comparação estabelecido pelo tamanho da amostra refere-se à

amostra adotada pelo presente estudo, que foi de 584 crianças, e as prevalências

encontradas para os indicadores avaliados.

3. Inferências epidemiológicas

Intensidade da associação - entre variáveis epidemiológicas é avaliada

pelas medidas de associação tipo proporcionalidade, dentre elas a

“Odds Ratio”;

- -

130

Significância estatística - permite afirmar com o grau de certeza

estipulado que a associação não ocorre pelo acaso;

Especificidade da associação - quando o fator avaliado está associado

a apenas uma doença;

Coerência científica – os novos conhecimentos devem ser coerentes

com os antigos, já validados em pesquisas anteriores.

4. Características para determinação do indicador

Determinação objetiva

Necessidade de instrumentos para a determinação do indicador;

Necessidade de exames laboratoriais para a determinação do

indicador.

Determinação subjetiva

Clareza da definição do indicador;

Necessidade de informação prestada pelo entrevistado;

Necessidade de ocorrência de manifestações clínicas.

5. Viabilidade

Custo

Inquérito domiciliar – entrevistas;

Aquisição de equipamento;

Laboratoriais.

A Tabela 29 sintetiza a análise comparativa dos indicadores de saúde dentre

os critérios acima mencionados.

Tabela 29 – Análise comparativa dos indicadores de saúde.

Critérios de Comparação Diarréia

Desnutrição

Protozoose Helmintíases P. T.feco-oral Enterobactérias e

piócitos Crônica Aguda D. Isolado

1. Intervenção em Saneamento Abastecimento de

Água sim sim não sim sim sim sim sim

Esgotamento Sanitário sim sim não sim sim sim sim sim Lixo e Vetores sim sim não sim sim sim sim sim H. Higiênicos sim sim não sim sim sim sim sim

2. Características Epidemiológicas

Amostra adequada adequada adequada adequada adequada adequada adequada não adequada Delineamento do

Estudo T/L (1) T/L (1) T/L (1) T/L (1) T/L (1) T/L (1) T/L (1) T/L (1)

Grupo etário susceptível

0 a 5 anos (2) (2) (2) todos (0 – 15) todos (0 - 15) todos (0 - 15) 0 a 5 anos

Via transmissão oral - - - oral e c. direto oral e pele (3) oral-pele-direto

oral

3. Inferências Epidemiológicas Intensidade da

Associação sim sim não não sim sim sim sim (SASE)

Significância Estatística

sim sim não não não sim sim não

Especificidade Associação

não não não não sim/não sim sim sim

Coerência Científica sim sim sim sim sim sim sim não 4. Características de Determinação

Determina Objetiva não sim sim sim sim sim sim sim Instrumentos não sim sim sim não não não não

Exames Laboratoriais não não não não sim sim sim sim Determina Subjetiva sim - - - - - - -

Clareza definição não sim sim sim sim sim sim sim Informação Prestada sim não não não não não não não

- -

132

Manifestação clínica sim não não não não não não não 5. Viabilidade

Custo Entrevistas sim sim sim sim sim sim sim sim

Equipamentos não sim sim sim não não não não Laboratório não não não não sim sim sim sim

(1) Estudos transversais (T) e longitudinais (L); (2) Todos os grupos etários podem apresentar desnutrição, contudo, a desnutrição conseqüência das doenças infecciosas intestinais tem a mesma faixa etária da diarréia; (3) Penetração através da pele;

6.3.1 Indicador morbidade por diarréia

Dados de morbidade por doenças diarréicas têm sido um dos indicadores

de saúde mais utilizados nos estudos de avaliação do impacto das intervenções

em saneamento sobre a saúde, devido à grande repercussão das doenças

diarréicas na mortalidade infantil nos países em desenvolvimento. Portanto, é um

indicador de importância para a saúde pública.

O indicador morbidade por diarréia, pelos resultados do presente

trabalho, demonstrou ser sensível ao refletir as condições de saneamento

avaliadas, ser de baixo custo e exeqüível na realidade de campo.

Na análise de regressão logística, esse indicador foi o único que

permaneceu no modelo final sem nenhuma outra variável explicativa que não

fossem as áreas de exposição. Portanto, revelou-se o mais sensível para refletir a

relação das condições de saneamento – abastecimento de água e esgotamento

sanitário – com a saúde da população investigada, quando comparado aos

demais indicadores.

Na área CASE a OR foi de 2,65 (0,68 – 10,25) e na área SASE,

encontrou-se o valor da OR de 5,10 (1,43 – 18,13). Significando que as crianças

residentes em áreas sem abastecimento de água e esgotamento sanitário têm

uma probabilidade cinco vezes maior de apresentarem diarréia quando

comparadas com as crianças residentes em áreas onde esses serviços sanitários

estão presentes.

Alguns comentários devem ser feitos a respeito desse indicador, em

relação aos critérios de comparação estabelecidos anteriormente:

A diarréia é um sinal clínico comum a várias doenças infecciosas de

transmissão feco-oral, portanto é capaz de refletir as intervenções em

saneamento, como também reflete as deficiências dos dois domínios relacionados

com as vias de transmissão: o público – abastecimento de água, esgotamento

sanitário, coleta e disposição do lixo, controle de vetores e o privado – higiene

pessoal e doméstica, características das moradias e o nível social, cultural e

econômico.

- -

134

As crianças são o grupo etário mais susceptível às doenças diarréicas

principalmente na faixa de idade de um a cinco anos. Ressalta-se que as crianças

em aleitamento materno são menos susceptíveis devido à imunidade passiva e à

diminuição da possibilidade de transmissão de patógenos pela via oral. Os

adultos e crianças maiores de cinco anos são também afetados, contudo, as

conseqüências usualmente são menos severas. HUTTTLY (1990) afirma que a

mortalidade por diarréia em adultos é três a cinco vezes menor que nas crianças.

A morbidade por doenças diarréicas não preenche o critério de

especificidade da associação. A diarréia é uma manifestação comum a doenças

infecciosas e não infecciosas, portanto, a especificidade desse indicador em

relação às doenças infecciosas de transmissão feco-oral relacionadas ao

saneamento é baixa. A especificidade desse indicador aumenta quando são

detectados os agentes patogênicos causadores da diarréia (BRISCOE et al.,

1986). Esses autores afirmam que em 50 a 70% das diarréias, avaliadas na

comunidade, não são causadas por patógenos entéricos, portanto, o efeito das

melhorias nas condições sanitárias sobre a diarréia infecciosa pode ser

subestimado, quando esse indicador é utilizado.

Outro comentário é que a determinação do indicador diarréia é subjetiva,

portanto depende da definição conceitual de diarréia (MORRIS et al., 1994;

HELLER, 1995; MORAES, 1996; MORRIS et al., 1996; DANIEL, 2001), da

percepção de cada indivíduo, principalmente das mães das crianças, quanto às

alterações do hábito intestinal característicos dessa manifestação clínica e da

confiabilidade da informação fornecida.

6.3.2 Indicador estado nutricional - desnutrição

A desnutrição infantil é um processo multifatorial, como citado

anteriormente. Porém, há uma estreita relação entre o meio ambiente e a

desnutrição (ALBERTI et al., 2002). Sabe-se que fatores como a alimentação,

saneamento, doenças infecciosas, educação e nível socioeconômico estão

intimamente relacionados à saúde e, portanto, ao estado nutricional.

O presente trabalho avaliou os tipos de desnutrição entre crianças de um

a cinco anos de idade. A desnutrição crônica avaliada pelo índice altura/idade foi

- -

135

o tipo de desnutrição que permaneceu no modelo final de ajustamento com

significância estatística, na comparação entre as áreas SASE e CACE – OR =

1,84 (1,01 – 3,37). As variáveis que permaneceram no modelo final desse

indicador foram: “gestação da criança” e “número de moradores por cômodo”.

Esse resultado coincide com o que era esperado ao avaliar o efeito da ausência

de saneamento sobre a saúde, com o tipo de delineamento epidemiológico

adotado. Pois, a desnutrição crônica reflete a interferência dos processos

mórbidos de longa duração importantes na repercussão do crescimento. Ao

contrário, os casos de desnutrição aguda podem ocorrer quando há uma

interrupção temporária do crescimento, com posterior recuperação, desde que as

condições ambientais, nutricionais e socioeconômicas sejam favoráveis.

MORAES (1996, 1997) encontrou uma relação entre a desnutrição

crônica e a ausência de sistemas de esgotamento sanitário.

O risco de desnutrição avaliado pelo índice peso/idade (déficit ponderal

isolado) foi de 1,84 e 1,47 nas áreas SASE e CASE, respectivamente, porém com

o intervalo de confiança incluindo a unidade. As variáveis que permaneceram no

modelo final desse indicador são apresentadas na Tabela 27.

Em relação ao indicador desnutrição faz-se os seguintes comentários:

A desnutrição, como a diarréia, reflete os fatores de risco para as

doenças relacionadas ao saneamento presentes tanto no domínio público como

privado. Porém, os múltiplos fatores de risco para a desnutrição relacionam-se,

principalmente, com a estrutura familiar e nível socioeconômico (NÓBREGA,

2001). Portanto, a presença da desnutrição protéico-calórica reflete mais

precisamente o domínio privado ou doméstico, em relação ao indicador diarréia.

O resultado do trabalho também sugere o exposto acima, pois as variáveis que

permaneceram no modelo final são todas, com exceção de uma, variáveis de

nível socioeconômico, de saúde e de hábitos higiênicos.

A desnutrição também não é um indicador específico das intervenções

em saneamento, contudo é de determinação objetiva, de baixo custo e exeqüível

na realidade do campo. Deve-se ressaltar que, para a obtenção dos índices

antropométricos é necessário pessoal treinado e habilitado para a utilização dos

instrumentos de aferição de peso e altura, bem como a adoção de uma

- -

136

metodologia para a obtenção dos dados que minimize os possíveis erros que

possam ocorrer.

6.3.3 Indicador infecção por protozoários - protozoose

As infecções por Giardia lamblia e Entamoeba histolytica têm sido

utilizadas pelos estudos de avaliação do impacto das intervenções em

saneamento sobre a saúde (BLUM & FEACHEM, 1983; GROSS et al., 1989).

Mais recentemente, o desenvolvimento das técnicas de análise tem permitido a

investigação de patógenos emergentes dentre eles o Cryptosporidium (DAVIS et

al., 1998; NCHITO et al., 1998).

No presente estudo, a prevalência total da criptosporidiose foi de 25,1%.

O poder da amostra para essa variável foi de 99,9%. A comparação das três

áreas quanto a essa variável não demonstrou diferenças. O mesmo fato,

prevalência e poder da amostra alta e ausência de diferenças entre as áreas,

foram observados na comparação entre as áreas em relação à giardíase.

A Giardia lamblia e o Cryptosporidium são os protozoários mais

habitualmente incriminados na etiologia das diarréias infecciosas. Como são de

distribuição universal, ou seja, atingem diversas populações e diferentes faixas

etárias, o estabelecimento da causalidade torna-se difícil (MOTA & PENNA,

2001).

Em relação à universalidade da distribuição, pode-se supor que o sistema

de abastecimento de água pode contribuir para esse fato, uma vez que os cistos e

oocistos desses protozoários não são eliminados nos processos de desinfecção

pelo cloro, bem como podem permanecer na água efluente das unidades filtrantes

(se presentes no manancial de abastecimento), quando essas unidades não são

capazes de gerar água com baixa turbidez. Estudos têm relacionado a presença

de cistos de Giardia lamblia e oocistos de Cryptosporidium na água filtrada, em

função, do número desses organismos presentes na água bruta, utilizando a

contagem de partículas como indicador da performance dos filtros

(LeCHEVALLIER & NORTON, 1992).

- -

137

LELAND et al. (1993) relatam a ocorrência de um surto de

criptosporidiose, em Oregon, em decorrência da ineficiência dos filtros na

remoção dos contaminantes presentes na água bruta.

Por conseguinte e em decorrência dos resultados do presente trabalho,

os protozoários citados acima não são adequados para serem utilizados como

indicadores de saúde pelos estudos de avaliação do impacto das intervenções em

saneamento, quando os grupos em comparação apresentam características

homogêneas quanto ao abastecimento de água.

Em relação ao indicador protozoose, fazem-se os seguintes comentários:

A protozoose não é um indicador muito específico, pois existem formas

parasitárias de vida livre que são encontradas no intestino humano, como a

Entamoeba histolytica.

Sua determinação é objetiva, necessitando de técnicas laboratoriais para

o isolamento e identificação das espécies. Portanto, necessita de profissionais

capacitados e experientes para a realização dos exames laboratoriais.

6.3.4. Indicador infecção por helmintos - helmintíase

Os resultados do presente trabalho demonstraram que há uma maior

probabilidade de se desenvolver infecção por helmintos, nas crianças que moram

na área CASE comparadas com aquelas que vivem na CACE – OR = 1,88 (1,07 –

3,31) - após o ajustamento final. Esse resultado é consistente com os resultados

obtidos para as variáveis de esgotamento sanitário, que demonstraram ter a área

CASE as piores condições em relação à disposição dos excretas.

As helmintíases incluem diferentes parasitas, com distintos mecanismos

de transmissão, mas pode-se afirmar que há sempre a necessidade de condições

ambientais propícias para o desenvolvimento de seus estágios evolutivos, como

também a contaminação do ambiente por material fecal.

As helmintíases refletem todas as intervenções ambientais, mas

principalmente o esgotamento sanitário e a quantidade suficiente de água para as

práticas de higiene doméstica e pessoal.

O indicador helmintíase é sensível e mostrou ser capaz de refletir,

adequadamente, a disposição dos excretas.

- -

138

A faixa etária mais susceptível é mais ampla em comparação com o

indicador diarréia. Deve-se ressaltar que as crianças em aleitamento materno

estão menos vulneráveis às infecções por helmintos, como também aquelas cuja

faixa etária seja menor de um ano estão menos expostas às condições

ambientais para a transmissão de geo-helmintos.

A determinação desse indicador é objetiva e necessita de exames

laboratoriais. A logística de campo é um pouco mais complicada, pela

necessidade de coleta do material fecal.

6.3.5. Indicador infecção por enteropatógenos de transmissão feco-oral

Esse indicador foi constituído associando os enteropatógenos de

transmissão feco-oral isolados no material fecal examinado – bactérias

patogênicas, protozoários patogênicos e helmintos. Portanto, os critérios de

comparação estabelecidos para esse indicador são uma soma dos indicadores

que o compõe. A via de transmissão que esse indicador reflete é mais

abrangente. A probabilidade das crianças residentes na área CASE de apresentar

infecção por patógenos de transmissão feco-oral é de 1,96 (1,17-3,30) quando

comparadas às crianças da área CACE. Essa probabilidade é de 1,59 (0,70-2,10)

para as crianças da área SASE. Portanto, como os helmintos, esse indicador foi

capaz de refletir mais especificamente, a maior exposição das crianças da área

CASE em relação ao esgotamento sanitário.

A determinação desse indicador é de custo mais elevado e de logística

mais complexa quando comparada com os indicadores que o compõem

isoladamente.

6.3.6. Indicador infecção por enterobactérias patogênicas e piócitos fecais

O isolamento de bactérias patogênicas causadoras de diarréia é um

indicador mais sensível, pois reflete as doenças infecciosas intestinais redutíveis

pelas intervenções em saneamento.

Uma das hipóteses do trabalho era avaliar se a associação de um

marcador de patogenicidade com a presença de enterobactérias iria constituir

- -

139

num indicador que não necessitaria da ocorrência de manifestação clínica para a

sua determinação.

Portanto, realizou-se o isolamento de enterobactérias patogênicas em

crianças com e sem diarréia.

A Escherichia coli enteropatogênica sorotipos A, B e C foi a bactéria

patogênica mais freqüentemente isolada das fezes das crianças avaliadas. Não

houve diferença, estatisticamente significativa, entre as três áreas em relação ao

isolamento de Escherichia coli enteropatogênica.

A prevalência das enterobactérias patogênicas foi de 5,86% nas três

áreas. As crianças que mais apresentaram infecção por essas bactérias eram

moradoras da área CASE. O poder da amostra para a detecção das diferenças

estatisticamente significativas entre as áreas, em relação às enterobactérias

patogênicas foi de 88,6%, portanto, adequada.

A prevalência dos piócitos foi baixa, pelas razões expostas anteriormente.

Ao associar as enterobactérias patogênicas e piócitos, o poder da amostra para a

detecção de diferenças estatísticas ao nível de significância de 5% foi pequeno

para a realização de inferências para esse indicador.

Supõe-se, que a prevalência dos piócitos e das enterobactérias

patogênicas, nas fezes, seria maior se o delineamento epidemiológico fosse de

um estudo longitudinal, onde os casos de diarréia fossem detectados e fossem

colhidas as fezes para exame durante o episódio de diarréia. Como também, se

no estudo transversal se utilizassem casos e controles hospitalares ou de

instituição de saúde, ao invés, da utilização de casos selecionados na

comunidade por meio de inquérito domiciliar.

A amostra inadequada impossibilitou a realização de comparações

utilizando esse indicador. Na sua concepção, esperava-se que fosse mais

adequado, mais sensível e de determinação mais objetiva que os indicadores

utilizados, como a morbidade por doenças diarréicas. Na realidade de campo do

presente trabalho, mostrou-se ser de logística difícil e de custo mais elevado.

- -

140

CAPÍTULO VII

7. CONCLUSÃO

Os resultados do presente estudo confirmaram o que vem sendo

demonstrado, na literatura, que a população excluída do saneamento é também

aquela que sofre os processos de exclusão social, econômica e de saúde.

A pergunta que é feita é o porquê os resultados dos estudos de avaliação

do impacto das intervenções em saneamento sobre a saúde não direcionam os

investimentos públicos para a diminuição das diferenças sociais e sanitárias

existentes entre as populações residentes na cidade formal e aquelas que

habitam a periferia urbana.

Uma das possibilidades aventadas foi que ao medir o impacto sobre a

saúde, esses estudos não utilizavam indicadores específicos para medir a relação

saúde e saneamento.

O presente trabalho realizou, então, uma análise comparativa entre os

indicadores mais comumente utilizados na literatura com o objetivo de avaliar os

indicadores mais adequados para refletirem o efeito das intervenções em

saneamento sobre a saúde.

Diante dos resultados do trabalho e do exposto anteriormente pode-se

concluir que os indicadores mais adequados foram:

Morbidade por diarréia – Como já foi mencionado, esse indicador

não é específico, não é de determinação objetiva, depende da definição

epidemiológica de caso, da percepção individual da ocorrência da

manifestação clínica. Porém, é de baixo custo e exeqüível na realidade

de campo.

No resultado do estudo, o indicador diarréia não foi sensível para detectar

as diferenças existentes entre as áreas CASE e SASE em relação ao

esgotamento sanitário. Portanto, pode-se inferir que esse indicador reflete

melhor as intervenções em abastecimento de água e as práticas de

higiene doméstica e pessoal. Os estudos que realizam um

acompanhamento dos casos e a identificação das diarréias infecciosas

- -

141

pelo o isolamento dos agentes etiológicos têm menos riscos de terem

seus resultados subestimados;

Infecção por helmintos – Esse indicador é de determinação objetiva,

porém, de logística um pouco mais complexa em relação à diarréia, pois

necessita da coleta de material fecal e de exames laboratoriais. O grupo

etário susceptível é mais amplo o que facilita a amostragem. Pelo

resultado do trabalho, mostrou ser mais específico para refletir as

intervenções esgotamento sanitário. Os estudos que utilizam esse

indicador devem ter a preocupação de conhecer o ciclo evolutivo e as

condições ambientais necessárias para a transmissão desses parasitas

para selecionarem as espécies de helmintos mais adequadas a realidade

investigada;

Desnutrição crônica – Como a diarréia, a desnutrição crônica não é

específica das intervenções em saneamento. Os estudos que utilizam

esse indicador, por sua baixa especificidade, devem ser mais rigorosos

no controle dos potenciais fatores de confusão como nível

socioeconômico, estrutura familiar, hábitos higiênicos e alimentares. É um

indicador que reflete mais o domínio privado ou doméstico. Deve,

portanto, ser utilizado pelos estudos cujas variáveis de interesse sejam os

hábitos higiênicos, variáveis socioeconômicas e a intervenção em

saneamento seja o fornecimento de água em quantidade e qualidade

adequadas;

Infecção por enteropatógenos de transmissão feco-oral - Esse

indicador corresponde à combinação de vários enteropatógenos de

transmissão feco-oral, isolados no material fecal avaliado pelo presente

trabalho. Reflete, portanto as diversas vias situações de saneamento.

Mostrou ser específico ao apontar as piores condições de esgotamento

sanitário existentes na área CASE.

- -

142

Como mencionado, anteriormente, a determinação desse indicador é de

custo mais elevado e de logística mais complexa quando comparada com

os indicadores que o compõem isoladamente.

É um indicador que tem o potencial de ser adotado pelos estudos que

pretendem avaliar a influência dos dois domínios, público e privado, na

transmissão das doenças relacionadas ao saneamento.

Diante dos resultados do presente trabalho, pode-se concluir que o

indicador ideal não existe, pois quantificar saúde é uma tarefa complexa devido à

sua própria definição e à interveniência de variáveis sociais, econômicas, culturais

e comportamentais na relação entre a saúde e o saneamento. Mas,

principalmente, pela dificuldade de incorporar aos indicadores o conceito de

saúde como um resultado das condições gerais de vida em sua dimensão social e

ambiental.

Contudo, esforços devem ser instituídos para se encontrar um indicador

mais específico que reflita melhor a relação saúde e saneamento, a via de

transmissão feco-oral e os domínios onde ocorre a transmissão de doenças.

Nesse sentido, a proposta do indicador “presença de enteropatógenos

associada ao piócitos fecais” pelo trabalho objetivou: 1) que o indicador proposto

fosse um indicador de avaliação de impacto; 2) que avaliasse as melhorias em

saneamento realizadas pelo Poder Público; e 3) que fornecesse informações mais

específicas aos tomadores de decisão.

No presente trabalho, as conclusões referentes a esse indicador foram

limitadas pelo tamanho da amostra. Como já salientado, por se tratar de uma

proposta inédita, não se encontraram dados na literatura sobre o indicador. A

pesquisa realizou um estudo piloto interno para a verificação da adequação do

dimensionamento da amostra com os primeiros sessenta resultados dos exames

de fezes. A prevalência tanto dos piócitos, quanto das bactérias

enteropatogênicas isoladas foi de 7%. Portanto, pelo estudo piloto interno, o

tamanho da amostra estava adequado. Contudo, ao final da etapa de coleta de

dados, devido às dificuldades encontradas na realidade de campo, como já

mencionado nas seções 4.2 e 6.1, os resultados das prevalências dos piócitos e

das enterobactérias não foram os esperados.

O presente trabalho faz as seguintes recomendações:

- -

143

1) Outros estudos epidemiológicos com delineamentos diferentes deste

trabalho podem ser realizados para avaliar a aplicabilidade dos indicadores

de saúde;

2) Os estudos epidemiológicos de avaliação do impacto das intervenções em

saneamento sobre a saúde devem ter o cuidado de não utilizarem

microrganismos não patogênicos como a Escherichia coli não patogênica,

Entamoeba coli, Endolimax nana dentre outros como indicador de saúde,

pois são microrganismos que pertencem a microbiota intestinal normal;

3) A Giardia lamblia e o Cryptosporidium são protozoários patogênicos que

podem ser transmitidos quando as condições de saneamento estão

ausentes ou são precárias. Contudo, também podem ser transmitidos, por

exemplo, pelo sistema público de abastecimento de água, quando os cistos

e oocistos não são removidos pelas unidades filtrantes e de desinfecção da

estação de tratamento.

Por terem alta prevalência nas populações, independentemente, das

situações de saneamento, o estabelecimento de uma relação causal torna-

se difícil. Portanto, o uso da Giardia lamblia e do Cryptosporidium como

indicadores de saúde pode não ser sensível para refletirem as intervenções

em saneamento, sem que se faça a correlação com a qualidade

microbiológica da água utilizada pelas populações investigadas.

Finalizando, pode-se concluir que nenhumas das medidas profiláticas,

dentre elas as intervenções em saneamento, surtirão resultados positivos

concretos se não houver engajamento dos Órgãos Governamentais para a

execução de projetos amplos, que eliminem o estado de pobreza e miséria das

populações dos países em desenvolvimento.

- -

144

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SZWARCWALD, C. L.; LEAL, M. C.; CASTILHO, E. A. Mortalidade infantil no

Brasil: Belíndia ou Bulgária? Cadernos de Saúde Pública, v. 13, n. 3, p. 503-516,

1997.

TRABULSI, L. R.; CAMPOS, L. C. Infecções por Escherichia. In: VERONESSI, R.;

FOCACCIA, R. Tratado de infectologia. São Paulo: Atheneu, 1996. Cap. 60, p.

771-776.

TRABULSI, L. R; CAMPOS, L. C; LORENÇO, R. Salmonelose. In: ______.

Tratado de infectologia. São Paulo: Atheneu, 1996. Cap. 70, p. 856-863.

UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância. Situação mundial da

infância. Brasília, 1994.

UTSCH, F. B. Dimensionamento de amostras: determinação de sua utilização e

aplicação metodológica em trabalhos finais de pós-graduação (mestrado e

doutorado) aprovados na Faculdade de Medicina da UFMG, 1995-1998. Revista

Médica de Minas Gerais, v. 10, n. 1, p. 13-17, 2000.

VERONESSI, R.; FOCACCIA, R. Tratado de infectologia. São Paulo: Atheneu,

1996. 1765 p.

VON SPERLING, M. Revisitando os números do saneamento. Engenharia

sanitária e ambiental, v. 6, n. 1 e 2, p. 5-7, 2001.

WHO WORKING GROUP. Use and interpretation of anthropometrics indicators of

nutritional status. Bulletin of World Health Organization, v. 64, n. 6, p. 929-41,

1986.

WIBOWO, D.; TISDELL, C. Health, safe water and sanitation: a cross-sectional

health production function for Central Java, Indonesia. Bulletin of World Health

Organization, v. 71, n. 2, p. 237-245, 1993.

- -

156

WOLMAN, A. Importancia del saneamiento ambiental en las zonas urbanas y

rurales para el control de las infecciones entéricas. Bol Of Sanit. Panam., v. 78,

n. 4, p. 343-345, 1975.

WORLD BANK. The World Development Report 1992: Development and

Environment, Washington: World Bank, 1992.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. The world health report. Geneva,

Switzerland, 1999.

- -

157

10 ANEXOS

- -

158

ANEXO 1

Mapas das áreas de vilas e favelas e da localização da área

geográfica do estudo no Município de Belo Horizonte.

Mapa das áreas de vilas e favelas de Belo

Horizonte.

Mapa localizando a área geográfica

do estudo no Município de Belo

Horizonte

- -

159

ANEXO 2

Fotografias da utilização da balança e da régua antropométrica

Fotografias – Utilização da balança e da régua antropométrica.

- -

160

ANEXO 3

Protocolo adotado pela pesquisa

- -

161

I N D I C A D O R E S D E S A Ú D E E

C O N D I Ç Õ E S D E S A N E A M E N T O N A

V I L A N O S S A S E N H O R A D E F Á T I M A

PROTOCOLO DE PESQUISA

ÁREA: |___|___|___|___|

PROTOCOLO: |___|___|___|

ENTREVISTADOR: |___|___|

Telefones para contato:

Pesquisadores: Eloísa de Abreu Azevedo – 32. 3331-6703 Léo Heller – 31. 3238-1890

COEP/UFMG: 31. 3248-9364 ou 31 3248-9380

U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E M I N A S F U N D A Ç Ã O N A C I O N A L D E S A Ú D E

C O N V Ê N I O : 2 2 7 8 / 2 0 0 0

U F M G / F U N A S A

- -

162

Área |___|___|___|___| Protocolo |___|___|___| Entrevistador |___|___|___|

PESQUISA DA UFMG

SAÚDE E CONDIÇÕES DE MORADIA NA VILA NOSSA SENHORA DE FÁTIMA

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

ORIENTAÇÕES Antes de preencher o termo de consentimento Explique para o adulto que o atender que ele está sendo convidado para participar como

sujeito da pesquisa que objetiva conhecer as condições de moradia, de saneamento e saúde

da Vila onde ele reside.

Explique que a participação na pesquisa consiste em responder a perguntas sobre a moradia,

seus moradores e mostrar algumas instalações na casa e no lote e que as crianças, menores

de cinco anos, residentes na casa serão pesadas e medidas e terão suas fezes coletadas para

exame.

Explique que as informações fornecidas serão confidenciais e os dados referentes à

identificação das pessoas não serão divulgados com as informações obtidas com a pesquisa.

Explique que a pessoa está livre para recusar em participar da pesquisa.

Depois de definida a pessoa a ser entrevistada, preencha os dados abaixo, leia em voz alta o

TERMO DE CONSENTIMENTO, assine-o, date-o e colete a assinatura, em duas vias.

DADOS SOBRE O ENTREVISTADO Nome:......................................................................................................................... Posição na família:..................................................................................................................

ENDEREÇO DA MORADIA Rua:........................................................................................................Nº:............... Referência para localização da casa:.........................................................................................

- -

163

Área |___|___|___|___| Protocolo |___|___|___| Entrevistador |___|___|___|

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

Esta pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais tem por objetivo analisar a situação de moradia, de saneamento e de saúde da população residente na Vila Nossa Senhora de Fátima e com isso fornecer dados para a melhoria dessas condições.

Eu estou de acordo em participar da pesquisa, entendendo que essa participação significa responder a perguntas sobre a casa onde vivo e os seus moradores, e mostrar algumas instalações na casa e no lote. Estou ciente que as informações coletadas serão tratadas confidencialmente, sendo que eu, nem a casa, seremos identificados durante a análise das informações e a divulgação dos resultados da pesquisa. O trabalho envolve a entrevista de cerca de 600 pessoas e minhas respostas serão combinadas com as dos outros participantes, para a análise dos totais.

Data: ....../....../......

Assinatura do participante

Assinatura do Entrevistador ...............................................................................................................................................

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

Esta pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais tem por objetivo analisar a situação de moradia, de saneamento e de saúde da população residente na Vila Nossa Senhora de Fátima e com isso fornecer dados para a melhoria dessas condições.

Eu estou de acordo em participar da pesquisa, entendendo que essa participação significa responder a perguntas sobre a casa onde vivo e os seus moradores, e mostrar algumas instalações na casa e no lote. Estou ciente que as informações coletadas serão tratadas confidencialmente, sendo que eu, nem a casa, seremos identificados durante a análise das informações e a divulgação dos resultados da pesquisa. O trabalho envolve a entrevista de cerca de 600 pessoas e minhas respostas serão combinadas com as dos outros participantes, para a análise dos totais.

Data: ....../....../......

Assinatura do participante

Assinatura do Entrevistador

Telefones para contato:

- -

164

Pesquisadores: Eloísa de Abreu Azevedo (32) 3331-6703 Léo Heller (31) 3238-1890

Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG (31) 3248-9364 / 3248-9380

- -

165

Área |___|___|___|___| Protocolo |___|___|___| Entrevistador |___|___|___|

PESQUISA DA UFMG

SAÚDE E CONDIÇÕES DE MORADIA NA VILA NOSSA SENHORA DE FÁTIMA

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO PARA A PARTICIPAÇÃO DE

CRIANÇAS

ORIENTAÇÕES

Antes de preencher o termo de consentimento

Caso os pais da criança ou o representante legal não seja o adulto que responderá ao questionário, explique os objetivos e

os métodos da pesquisa, seguindo os procedimentos anteriores utilizados para informar sobre a participação do

adulto. Informe que a participação da criança consiste em ser pesada e medida e ter as fezes

coletadas para a realização de exames de laboratório. Informe que o resultado do exame será repassado aos pais ou ao representante legal e que o

material coletado será desprezado após a realização do exame laboratorial. Respeite a recusa da criança em não participar.

Preencha os dados abaixo, sorteie uma das crianças menores de cinco anos

para participar da pesquisa. Leia em voz alta o TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA APARTICIPAÇÃO DA

CRIANÇA, assine-o, date-o e colete a assinatura, em duas vias.

- -

166

Área |___|___|___|___| Protocolo |___|___|___| Entrevistador |___|___|___|

TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA A PARTICIPAÇÃO DA CRIANÇA

Na qualidade de responsável legal, autorizo a participação do menor...................................

............................................................................. da pesquisa que objetiva obter dados sobre as condições de moradia, de saneamento e de saúde da população residente na Vila Nossa Senhora de Fátima, entendendo que a criança sorteada para participar terá seu peso e altura aferidos e suas fezes coletadas para exame de laboratório.

Data: ....../......./.......

Assinatura do Responsável Legal pela a Criança

Assinatura do Entrevistador

Telefones para contato: Pesquisadores: Eloísa de Abreu Azevedo (32) 3331-6703 Léo Heller (31) 3238-1890 Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG (31) 3248-9364 / 3248-9380

...............................................................................................................................................

TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA A PARTICIPAÇÃO DA CRIANÇA

Na qualidade de responsável legal, autorizo a participação do menor............................

............................................................................. da pesquisa que objetiva obter dados sobre as condições de moradia, de saneamento e de saúde da população residente na Vila Nossa Senhora de Fátima, entendendo que a criança sorteada para participar terá seu peso e altura aferidos e suas fezes coletadas para exame de laboratório.

Data: ....../......./.......

Assinatura do Responsável Legal pela a Criança

Assinatura do Entrevistador

Telefones para contato: Pesquisadores: Eloísa de Abreu Azevedo (32) 3331-6703 Léo Heller (31) 3238-1890 Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG (31) 3248-9364 / 3248-9380

- -

167

Área |___|___|___|___| Protocolo |___|___|___| Entrevistador |___|___|___|

Nome do entrevistador:.............................................................................................................|___|___| (93)

PESQUISA UFMG/FUNASA

INDICADORES DE SAÚDE E CONDIÇÕES DE SANEAMENTO NA VILA NOSSA SENHORA DE FÁTIMA

RESPOSTAS PADRONIZADAS NESTE QUESTIONÁRIO

0= NÃO SABE 1= SIM 2= NÃO 8= NÃO SE APLICA 9= NÃO QUIS RESPONDER OU MOSTRAR.

(1) Quais são os nomes e as idades das crianças com idade entre 1 e 5

anos incompletos? Preencha pela ordem de nascimento:

PRIMEIRO NOME

IDADE

PRIMEIRO NOME

IDADE ANOS MESES ANOS MESES

01. 06.

02. 07.

03. 08.

04. 09.

05. 10.

SORTEIE UMA DAS CRIANÇAS MENORES DE 5 ANOS

(2) A entrevista será sobre a criança de número |____|

Pessoas que vivem na casa

(3) A mãe vive na casa? |___| (0, 1, 2 ou 9)

(4) Quando nasceu a mãe? ..... / ..... / ..... (DD/MM/AA) ou idade de ....... anos

|___| (0, 8 ou 9).

(5) O pai vive na casa? |___| (0, 1, 2 ou 9).

(6) Quantos filhos menores de 5 anos completos vivem na casa? |___|

(7) Quantas crianças entre 5 e 14 anos completos vivem na casa? |___|

(8) Qual o número de outros adultos (maior de 14 anos completos) que vivem na casa? |___|

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168

AS QUESTÕES SEGUINTES REFEREM-SE APENAS A CRIANÇA SELECIONADA

(9) Sexo |__1__| MASC. |__2__| FEM. (10) Qual é a data de nascimento? ..... / ..... / ..... (DD/MM/AA) |___| (0 ou

9). (11) Durante a gravidez da criança, a mãe necessitou de ser internada devido à alguma doença? |____| (0, 1, 2 ou 9). Especificar............................................................................................. (12) A gravidez dessa criança foi a de número: |__0__| não sabe

|__1__| primeira |__2__| segunda |__3__| terceira |__4__| quarta |__5__| outra (especificar): .................................................................................................. |__9__| não quis responder. (13) Após quantos meses de gravidez a criança nasceu? |__0__| não sabe |__1__| com nove meses completos |__2__| entre oito e nove meses |__3__| com oito meses completos |__4__| entre de sete e oito meses |__9__| não quis responder. (14) No primeiro mês de vida, a criança apresentou alguma doença que necessitasse de internação? |___| (0, 1, 2 ou 9). Especificar:.............................................................. (15) A criança recebeu todas as vacinas que estão indicadas para a sua idade? |____| (0, 1, 2 ou 9). (16) A criança amamentou, mesmo com complementação, durante quanto tempo? |__0__| não sabe |__1__| até 15 dias |__2__| entre 15 dias e 3 meses |__3__| entre 3 e 6 meses |__4__| mais de 6 meses |__9__| não quis responder. (17) Atualmente, a alimentação da criança consiste de: Especificar: ........................................................................................................... (18) A criança recebe algum suplemento nutricional? |____| (0, 1, 2 ou 9).

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- -

169

(19) A criança necessita fazer uso de alguma medicação? |____| (0, 1, 2 ou 9). Especificar: ................................................................................

- -

170

(20) No momento, a criança tem alguma doença? |____| (0, 1, 2 ou 9). Especificar: ....................................................................................... (21) A criança apresentou diarréia nas últimas 48 horas? |__0__| não sabe |__1__| sim |__2__| não (vá para a pergunta 27) |__9__| não quis responder. (22) A criança ainda apresenta diarréia? |____| (0, 1, 2 ou 9). (23) Quando iniciou o episódio atual de diarréia? |__0__| não sabe |__1__| há menos de 24 horas |__2__| entre 3 e 7 dias |__3__| há mais de 7 dias |__4__| entre 7 e 15 dias |__5__| há mais de 15 dias |__9__| não quis responder. (24) A criança apresentou juntamente com a diarréia |__1__| febre |__2__| vômito |__3__| sangue nas fezes |__4__| muco nas fezes |__9__| não quis responder. (25) Foi necessário levar a criança a um serviço de saúde para tratar da diarréia? |____| (0, 1, 2 ou 9). (26) Foi necessário internação? |____| (0, 1, 2 ou 9). (27) A criança fez uso de antibiótico nos últimos sete dias? |____| (0, 1, 2 ou 9). (28) Onde fica a criança durante o dia? |__0__| não sabe |__1__| em casa |__2__| creche, escola ou outra casa, durante um turno |__3__| creche, escola ou outra casa, em tempo integral |__9__| não quis responder. (29) Durante o último ano, quem ficou mais tempo tomando conta da

criança, em casa? |__0__| não sabe |__1__| mãe |__2__| pai |__3__| outro (especificar): ..............................(preencher coluna 32 do próximo

quadro) |__9__| não quis responder.

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171

Grau de Instrução

Instrução (30) Mãe (31) Pai (32) outra pessoa que tomou conta

0 – não sabe

1 – não estudou. Nem lê nem escreve

2 – não estudou. Lê e escreve

3 – estudou (preencher com o número de anos de estudo)

.............................

.

........................

.

...................................

8 – não se aplica

9 – não quis responder

|___|

|___| |___|

Características socioeconômicas:

(33) Quantos cômodos possui a casa? |____| (34) A casa possui banheiro? |__1__| sim, externo |__2__| sim, um interno |__3__| sim, mais de um, internos |__4__| não (vá para a pergunta 36) |__9__| não quis responder.

(35) O banheiro é completo? |__1__| sim, completo (vaso, lavatório e chuveiro) |__2__| não, incompleto (falta uma das peças acima relacionadas) |__9__| não quis responder. (36) A casa possui cozinha independente? |___| (0, 1, 2 ou 9). (37) A família possui geladeira? |___| (0, 1, 2 ou 9).

(38) Qual é a renda familiar? Especificar (escreva o valor em reais)................................................................................ |__0__| não sabe |__1__| menos de 1 salário mínimo

|__2__| maior ou igual a 1 e menor que 2 salários mínimos

|__3__| maior ou igual a 2 e menor que 3 salários mínimos

|__4__| maior ou igual a 3 e menor que 5 salários mínimos

|__5__| maior ou igual a 5 e menor que 10 salários mínimos

|__6__| maior ou igual a 10 salários mínimos

|__9__| não quis responder.

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172

(39) A família vive na casa há quanto tempo? ....................anos e ...................meses ABASTECIMENTO DE ÁGUA: (40) De onde vem a água consumida na casa? |__0__| não sabe |__1__| da rede da COPASA (vá para a pergunta 41) |__2__| de poço (cisterna) (vá para a pergunta 43) |__3__| de caminhão pipa (vá para a pergunta 47) |__4__| de caixa d’água comunitária |__5__| mais de um anterior |__6__| outro (especificar)................................................................................................. |__9__| não quis responder.

PREENCHA AS PERGUNTAS 41 e 42 APENAS SE HOUVER LIGAÇÃO NA REDE DA COPASA

(41) Falta água da COPASA? |__0__| não sabe |__1__| pelo menos uma vez por dia |__2__| pelo menos uma vez por semana |__3__| pelo menos uma vez por mês |__4__| freqüência menor |__5__| nunca falta |__9__| não quis responder.

(42) Existe alguma queixa (cor, barrenta, cheiro, gosto) quanto á água da COPASA? (Se o cheiro e/ou o gosto forem de cloro, preencha 2)

|____|(0, 1, 2 ou9) Especificar............................................................................

PREENCHA AS PERGUNTAS 43 A 46 APENAS SE EXISTIR POÇO

(43) Como é a parte superior do poço? |__0__| não sabe |__1__| coberta com laje e tampa de concreto |__2__| coberta com madeira |__3__| coberta com outro material (especificar):.............................................................. |__4__| descoberta |__9__| não quis responder. (44) Como a água é retirada do poço? |__0__| não sabe |__1__| com bomba elétrica |__2__| com bomba manual |__3__| com balde e corda |__4__| por outro meio (especificar):............................................................................

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173

|__9__| não quis responder. (45) É utilizado algum tipo de clorador dentro do poço? |____| (0, 1, 2 ou 9).

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174

(46) Existe alguma queixa (cor barrenta, cheiro, gosto) quanto à água do poço? (Se o cheiro e/ou o gosto forem de cloro, preencha 2)

|____| (0, 1, 2 ou 9).Especificar:

..........................................................................

PREENCHA AS PERGUNTAS 47 E 48 APENAS SE HOUVER ABASTECIMENTO POR CAMINHÃO PIPA

(47) Você sabe de onde vem a água distribuída pelos caminhões? |____| (0, 1, 2 ou 9). (48) De quanto em quanto tempo o caminhão passa? |__0__| não sabe |__1__| todos os dias |__2__| todos os dias úteis |__3__| três vezes por semana |__4__| duas vezes por semana |__5__| uma vez por semana |__6__| freqüência menor |__9__| não quis responder.

PREENCHA A PERGUNTA 49 APENAS SE A CAIXA D’ÁGUA COMUNITÁRIA FOR UTILIZADA

(49) Quanto tempo é gasto para carregar a quantidade de água que é utilizada em um dia, na sua casa? Especificar.................................................................................horas

AS PERGUNTAS SEGUINTES DEVEM SER RESPONDIDAS EM QUALQUER SITUAÇÃO

(50) Qual é a água mais utilizada pela criança para bebida? |__0__| não sabe |__1__| da rede da COPASA |__2__| de poço (cisterna) |__3__| de caminhão pipa |__4__| água mineral engarrafada |__5__| da caixa d’água comunitária |__9__| não quis responder (51) A água que a criança bebe tem antes algum preparo? |__0__| não sabe |__1__| sim, é misturada com cloro (água sanitária, etc.) |__2__| sim, é filtrada em filtro de vela |__3__| sim, é filtrada, em outro tipo de filtro. Especificar: ............................................ |__4__| sim, é misturada com cloro e filtrada |__5__| sim, é fervida |__6__| outro (especificar): ............................................................................................ |__7__| só bebe água mineral engarrafada

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175

|__8__| não |__9__| não quis responder.

- -

176

(52) As frutas e verduras que a criança come têm antes algum preparo? |__0__| não sabe |__1__| sim, são lavadas |__2__| sim, são postas em água sanitária, vinagre ou iodo |__4__| não |__8__| não se aplica |__9__| não quis responder. (53) Na casa, existe caixa d’água? |__0__| não sabe (vá para a pergunta 56) |__1__| sim, desde ..... / ..... (MM/AA) ou ..... anos e ..... meses (vá para a pergunta 54) |__2__| não. A água é armazenada em.......................................... (vá para a pergunta 56) |__9__| não quis responder (vá para a pergunta 56)

(54) A caixa d’água é coberta? |_____| (0, 1, 2 ou 9)

(55) De quanto em quanto tempo a caixa d’água costuma ser esvaziada e lavada? |__0__| não sabe |__1__| pelo menos uma vez em cada três meses |__2__| pelo menos uma vez por semestre |__3__| pelo menos uma vez por ano |__4__| com menor freqüência |__5__| nunca foi |__9__| não quis responder. (56) A criança costuma lavar as mãos antes de se alimentar? |__0__| não sabe |__1__| quase sempre, com água e sabão |__2__| quase sempre, apenas com água |__3__| com pequena freqüência |__4__| não costuma |__9__| não quis responder. (57) A criança costuma lavar as mãos depois de defecar? |__0__| não sabe |__1__| quase sempre, com água e sabão |__2__| quase sempre, apenas com água |__3__| com pequena freqüência |__4__| não costuma |__9__| não quis responder. ESGOTO: (58) Existe separação entre o esgoto do vaso e o do restante da casa, antes de ser lançado? |__0__| não sabe (vá para a pergunta 59) |__1__| sim (vá para a pergunta 61)

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177

|__2__| não (vá para a pergunta 59)

|__9__| não quis responder. (vá para a

pergunta 63)

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178

Esgoto do vaso misturado com o do restante da casa: (59) Onde é lançado o esgoto da casa? |__0__| não sabe (vá para a pergunta 63) |__1__| na rede da COPASA (vá para a pergunta 60) |__2__| na boca de lobo (bueiro) da rua (vá para a pergunta 63) |__3__| na superfície da rua (meio-fio) (vá para a pergunta 63) |__4__| em duas fossas, passando primeiro por uma (fossa séptica) e depois

indo para a segunda (sumidouro) (vá para a pergunta 63)

|__5__| em uma fossa apenas (vá para a pergunta 63) |__6__| no terreno (vá para a pergunta 63) |__7__| no córrego (vá para a pergunta 63) |__8__| outro (especificar): ............................... (vá para a pergunta 63) |__9__| não quis responder (vá para a pergunta 63) (60) É comum a ocorrência de entupimento na rede da rua? |____| (0, 1, 2 ou 9) (vá para a pergunta 63) Esgoto do vaso separado do esgoto do restante da casa: (61) Onde é lançado o esgoto do vaso? |__0__| não sabe |__1__| em duas fossas, passando primeiro por uma (fossa séptica) e depois

indo para a segunda (sumidouro) |__2__| em uma fossa, apenas |__3__| o banheiro é externo e o vaso fica acima de uma fossa (casinha) |__4__| no terreno |__5__| no córrego |__6__| outro (especificar): .............................................................................................. |__9__| não quis responder. (62) Onde é lançado o restante do esgoto da casa? |__0__| não sabe |__1__| na boca de lobo (bueiro) da rua |__2__| na superfície da rua (meio-fio) |__3__| em uma fossa |__4__| no terreno |__5__| no córrego |__6__| outro (especificar): ........................................................................................... |__9__| não quis responder.

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179

Informações complementares sobre hábitos sanitários: (63) Existe algum córrego, brejo, lago ou açude próximo da casa? |____| (0, 1, 2 ou 9). (Se 1, continue; do contrário, vá para a pergunta 66)

- -

180

(64) A criança tem contato com a água? |__0__| não sabe |__1__| sim, costuma brincar na água |__2__| sim, costuma cruzar a água descalça |__3__| sim, por outra razão (especificar): ..................................................................... |__4__| não |__9__| não quis responder. (65) Existe esgoto correndo na rua ou em outro local freqüentado pela criança? |____| (0, 1, 2 ou 9). (66) Onde costumam ser jogadas as fezes das fraldas das crianças? |__0__| não sabe |__1__| no vaso |__2__| no lixo |__3__| no terreno |__4__| outra (especificar): .............................................................................................. |__9__| não quis responder. LIXO: (67) Como o lixo é embalado? |__0__| não sabe |__1__| em saco plástico de lixo |__2__| em sacola de plástico |__3__| em papel ou caixa de papelão |__4__| outro (especificar): ............................................................................................... |__9__| não quis responder. (68) Onde é colocado o lixo da casa? |__0__| não sabe (vá para a pergunta 70) |__1__| colocado na rua para a coleta pela Prefeitura |__2__| colocado em uma caçamba da rua |__3__| enterrado (vá para a pergunta 70) |__4__| queimado no quintal (vá para a pergunta 70) |__5__| jogado em lote vago (vá para a pergunta 70) |__6__| jogado no córrego (vá para a pergunta 70) |__7__| outro (especificar): ..........................................................(vá para a pergunta 70) |__9__| não quis responder. (69) De quanto em quanto tempo os caminhões da Prefeitura recolhem o lixo? |__0__| não sabe

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181

|__1__| todos os dias |__2__| todos os dias úteis |__3__| três vezes por semana |__4__| duas vezes por semana |__5__| uma vez por semana |__6__| menos |__9__| não quis responder.

- -

182

ÁGUA DE CHUVA: (70) A água de chuva que escorre pela rua ou pelo lote vizinho costuma

invadir em grande quantidade, seu lote? |__0__| não sabe |__1__| mais de cinco vezes por ano |__2__| menos de cinco vezes por ano |__3__| nunca |__9__| não quis responder. (71) Existem partes baixas no lote, onde é comum o empoçamento de água? |____| (0, 1, 2 ou 9). VETORES: (72) Durante quantos meses por ano são observadas moscas na casa? |__0__| não sabe |__1__| todo o tempo |__2__| pelo menos 6 meses por ano |__3__| pelo menos 3 meses por ano |__4__| pelo menos 1 mês por ano |__5__| menos de 1 mês por ano |__6__| nunca aparece |__9__| não quis responder. (73) Durante quantos meses por ano são observadas baratas na casa? |__0__| não sabe |__1__| todo o tempo |__2__| pelo menos 6 meses por ano |__3__| pelo menos 3 meses por ano |__4__| pelo menos 1 mês por ano |__5__| menos de 1 mês por ano |__6__| nunca aparece |__9__| não quis responder. (74) De quanto em quanto tempo aparecem ratos na casa ou no lote visitado ou no lote vizinho? |__0__| não sabe |__1__| pelo menos 1 vez por semana |__2__| pelo menos 1 vez por mês |__3__| pelo menos 1 vez por semestre |__4__| pelo menos 1 vez por ano |__5__| menos de uma vez por ano |__6__| nunca aparece |__9__| não quis responder.

AGORA, VOCÊ DEVE PESAR E MEDIR A CRIANÇA E TAMBÉM VERIFICAR ALGUMAS INSTALAÇÕES DA CASA.

(75) Peso: ....................Kg. .......................g. (76) Altura: ......................m. ........................cm.

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(77) Quantos cômodos possui a casa? |_____| cômodos |__9__| houve recusa para mostrar. (78) A casa possui banheiro? |__1__| sim, externo |__2__| sim, um interno |__3__| sim, mais de um, internos |__4__| não (vá para a pergunta 80) |__9__| houve recusa para mostrar. (79) O banheiro é completo? |__1__| sim, completo (vaso, lavatório e chuveiro) |__2__| não, incompleto (falta uma das peças relacionadas acima) |__9__| não quis responder. (80) A casa possui cozinha independente? |____| (0, 1, 2 ou 9). (81) A água consumida na casa vem de : ......................................................................... (82) A caixa d’água é coberta? |__0__| não foi possível observar |__1__| sim |__2__| não |__9__| houve recusa para mostrar. (83) Peça para ver o padrão de ligação de água na rede pública e verifique de que tipo é: |__0__| não foi possível observar |__1__| cavalete com hidrômetro |__2__| cavalete sem hidrômetro |__3__| ligação a partir do lote vizinho |__9__| houve recusa para mostrar. (84) O poço é: |__0__| não foi possível observar |__1__| coberto com laje e tampa de concreto |__9__| houve recusa para mostrar. (85) A água é retirada do poço: |__0__| não foi possível observar |__1__| com bomba elétrica |__2__| com bomba manual |__3__| com balde e corda |__4__| outro meio (especificar): ......................................................................... |__9__| houve recusa para mostrar. (86) O poço fica a uma distância da fossa mais próxima, de cerca de: |____|____| metros. |__0__| não foi possível observar |__9__| houve recusa para mostrar.

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(87) O poço fica, em relação à fossa mais próxima, numa posição: |__0__| não foi possível observar |__1__| mais alta |__2__| mais baixa |__3__| no mesmo nível |__9__| houve recusa para mostrar. (88) O esgoto do vaso é lançado: |__0__| não foi possível observar |__1__| em duas fossas, passando primeiro por uma (fossa séptica) e depois

indo para a segunda (sumidouro) |__2__| em uma fossa, apenas |__3__| o banheiro é externo e o vaso fica acima de uma fossa (casinha) |__4__| no terreno |__5__| no córrego |__6__| outro (especificar): .............................................................................................. |__9__| houve recusa para mostrar. (89) Peça para ir até o local da(s) fossas e verifique quantas existem (pela observação de sua cobertura e da existência de casinha). |__0__| não foi possível observar |__1__| uma |__2__| duas |__3__| três |__9__| houve recusa para mostrar. (90) Verifique se existe lixo acumulado na casa ou no lote? |____| (0, 1, 2 ou 9). (91) Verifique se existem lugares mais altos vizinhos ao lote, por onde a água de chuva pode invadi-lo? |____| (0, 1, 2 ou 9). (92) Verifique se existem pontos baixos no lote, onde podem ocorrer empoçamentos? |____| (0, 1, 2 ou 9).

Espaço para comentários ou observações sobre as perguntas contidas no questionário Número da Pergunta Observação

E X C L U S Ã O S A N I T Á R I A E M B E L O H O R I Z O N T E M G : C A R A C T E R I Z A Ç Ã O E A S S O C I A Ç Ã O C O M

I N D I C A D O R E S D E S A Ú D E

U F M G / F U N A S A

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F I C H A D E V I S I TA S

ENTREVISTADOR: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . |

__|__|

C AS A

V IS I TA

D ATA

O CORRÊNCI A ENTREVISTA

Não havia

ninguém em casa

Recusa Não havia crianças

entre 1 a 5 anos

incompletos

Hora do início

Hora do Término

1

1

2

3

Número do Protocolo: |___|___|___| Área: |___|___|___|___|

Endereço:

2

1

2

3

Número do Protocolo: |___|___|___| Área: |___|___|___|___|

Endereço:

3

1

2

3

Número do Protocolo: |___|___|___| Área: |___|___|___|___|

Endereço:

4

1

2

3

Número do Protocolo: |___|___|___| Área: |___|___|___|___|

Endereço:

5

1

2

3

Número do Protocolo: |___|___|___| Área: |___|___|___|___|

Endereço:

6

1

2

3

Número do Protocolo: |___|___|___| Área: |___|___|___|___|

Endereço:

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186

ANEXO 4

Cartaz utilizado para a divulgação da pesquisa na Vila

Cartaz utilizado para a divulgação da pesquisa na Vila.

UFMGUniversidade Federal

de Minas Gerais

Nos meses de Fevereiro a Abril de 2002

pesquisadores credenciados estarão

nesta região para conhecer as condições

de , , e Moradia Saneamento Saúde

- -

187

ANEXO 5

Fotografia da avaliação médica realizada na moradia de uma criança participante da pesquisa.

Fotografia – Avaliação médica realizada na moradia de uma criança participante da pesquisa.

- -

188

ANEXO 6

Folha de encaminhamento

- -

189

ANEXO 7

Carta de encerramento da pesquisa

Belo Horizonte, 29 de setembro de 2020

Prezado(a) senhor(a):

Informamos que a pesquisa realizada em conjunto pela Fundação Nacional de Saúde, Universidade Federal de Minas Gerais e pela Superintendência do Desenvolvimento da Capital, da qual você participa, estará se encerrando nos próximos dias.

A pesquisa foi dividida em duas etapas. A primeira consistiu em responder as perguntas do questionário e a segunda, em coletar as fezes da criança selecionada para a realização dos exames de laboratório.

Constatamos sua participação apenas na primeira etapa da pesquisa. Caso seja de seu interesse participar da segunda etapa, coletar as fezes da

criança para a realização dos exames, informamos que entre os dias 08 a 13 de julho de 2002, membros da equipe de pesquisa estarão na Igreja São Miguel Arcanjo, no horário de 9:00 às 15:00h para a entrega dos frascos para coleta das fezes, bem como, para receber o material fecal coletado.

Lembramos, que o resultado dos exames laboratoriais serão encaminhados à sua residência pelo do correio.

Atenciosamente,

Eloísa de Abreu Azevedo Pesquisadora responsável

Sônia Knauer SUDECAP/GGSAN

F U N A S A

U F M G

S U D E C A P

SUDECAP/GGSAN - Grupo Gerencial de Saneamento

Avenida Afonso Pena 4000 7º andar Tel: 3277 8169

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190

ANEXO 8

Folha utilizada para a solicitação dos exames laboratoriais

A o L abor atór io H er mes P ardini

Solicito:

1- Exame parasitológico de fezes

2- Pesquisa de piocitos fecais

3- Pesquisa de

4- Coprocultura

5-

M aterial: fezes

C riptosporidium

C am pilobacter

Fundação Cristiano Ottoni

D r ª E loísa de A br eu A zevedoClínica Médica e Nefrologia

CRM: 22630

Tel.: (32) 3331-6703 (32) 9983-1709

Nome:

Rua: Nº :

Protocolo: |__|__|__|__| Área: |__|__|__|__|

FUNASA/UFMG/DESA

Ao Laboratório Hermes Pardini

Pesquisa: Exclusão Sanitária em Belo Horizonte, MG.: Caracterização e Associação com Indicadores de Saúde.

Drª Eloísa de Abreu Azevedo Clínica Médica e Nefrologia

CRMMG 22630

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191

ANEXO 9

Recipientes utilizados para o armazenamento de água

Fotografia - Recipientes utilizados para o armazenamento de água.