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Lagoa de Óbidos: Guia para a Interpretação do Património (ISBN: 978-972-8793-77-7)

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T í t u l o : L a g o a d e Ó b i d o s : G u i a p a r a a I n t e r p r e t a ç ã o d o Pa t r i m ó n i o

© 2 0 1 5 , I n s t i t u t o Po l i t é c n i c o d e L e i r i a

C o o r d e n a d o r :M á r i o Jo ã o Pa u l o d e J e s u s C a r v a l h o

A u t o r e s :C a r l o s Pe d r o Fe r r e i r a A l v e s

C á t i a F i l i p a C e r q u e i r a Re b e l o G i l b e r t o C o r a l e j o M o i t e i r o

G r a ç a M a r i a G o m e s E z e q u i e lI n ê s Pa u l o C o r d e i r o B r a s ã o

Jo ã o Va s c o n c e l o sM á r i o Jo ã o Pa u l o d e J e s u s C a r v a l h o

S é r g i o L e a n d r o

C a p a :M a r c o s Pa i x ã o | I P L e i r i a

I m p r e s s ã o e a c a b a m e n t o :V á r z e a d a R a i n h a I m p r e s s o r e s , S . A .

Ru a E m p r e s a r i a l n º 1 9Z o n a I n d u s t r i a l d a Po n t e S e c a

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Fa x : + 3 5 1 2 6 2 0 9 8 5 8 2w w w. v a r z e a d a r a i n h a . p t

D e p ó s i t o L e g a l : 3 9 3 7 8 0 / 1 5

M a i o d e 2 0 1 5

LAGOA DE ÓBIDOS: GUIA PARA A INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÓNIO

As obras Lagoa de Óbidos: Guia para a Interpretação do Património e Visões cruzadas: um retrato da Lagoa de Óbidos são o resultado final do projeto 31-04-01-FEP-95 – Reconversão do Património e das Gentes do Mar: projeto I&D, aprovado e financiado pelo PROMAR, com o GITUR-IPL como entidade de acolhimen-to. Foram produzidos vários artigos, entre os quais «Tourism through the gaze of stakeholders: The case of Óbidos lagoon in Portugal», publicado na revista Tourism Planning & Development. A par das obras escritas, foi realizado um pequeno documen-tário onde se partilham preocupações, resultados e sugestões para a sustentabilidade do território visado. Por último, desen-volvemos um sistema interativo de cartografia digital que fa-cilitará a construção de itinerários em torno do património da Lagoa de Óbidos. A referida informação, e outra que possa vir a ser produzida, poderá ser consultada, sem qualquer restrição, através do website do GITUR acessível em: <http://gitur.iplei-ria.pt/projetos/lagoa_obidos/>.

ÍndicePrefácio ......................................................................................... 9

Por Fernando Manuel Tinta Ferreira ................................... 9Por Humberto da Silva Marques ........................................ 11

Agradecimentos .......................................................................13Nota Prévia ...............................................................................15

Parte I. Enquadramento .......................................................19Prolegómenos em torno do Sistema Lagunar .................. 21O Território da Lagoa de Óbidos ...................................... 27Perspetivas de Gestão para a Lagoa de Óbidos ...............41

Parte II. A Interpretação do Património: aspetos concep-tuais e metodológicos ...........................................................51

Fundamentos da Interpretação do Património ................ 53Interpretar, porquê? ........................................................ 53A constituição de uma atividade profissional e científica ..58O conceito de Interpretação do Património ............... 63Os princípios essenciais da Interpretação do Patrimó‑nio ...................................................................................... 68

A planificação de projetos interpretativos ........................ 81O processo de planificação ............................................ 83O tema interpretativo ..................................................... 91Objetivos interpretativos ................................................ 98

Parte III. Cenários Interpretativos para a Lagoa de Óbi-dos ..............................................................................................105

Nota Metodológica .............................................................107Cenários de Natureza .........................................................117Cenários Culturais ...............................................................149Cenários Desportivos ........................................................189

Bibliografia ..............................................................................203Nota sobre os Autores .........................................................215

Lista de Figuras

Figura 1. Mapa de enquadramento da Lagoa de Óbidos .....30Figura 2. Ocupação do solo nas áreas limítrofes da Lagoa de

Óbidos...............................................................................31Figura 3. Ocupação do solo em 1990 e 2006 ........................32Figura 4. Percentagem de classes de ocupação do solo .......33Figura 5. Percentagem de população empregada nos setores

de atividade .......................................................................34Figura 6. Número total de residentes por freguesia. .............34Figura 7. Margem da Lagoa a transbordar para solo natural,

obstruindo ciclovia. .........................................................47Figura 8. Modelo de Comunicação .........................................83Figura 9. O Processo de Planificação ......................................85Figura 10. Modelo dos 5‑M ......................................................85Figura 11. O Processo de Planificação ...................................86Figura 12. O Plano Interpretativo ...........................................90Figura 13. Tema e tópicos interpretativos ..............................96Figura 14. Quadro-síntese dos objetivos gerais ...................110Figura 15. Quadro-síntese dos cenários propostos ............111Figura 16. Torre de observação de aves e patos na Lagoa 117Figura 17. Fotografia na Lagoa de Óbidos ..........................121Figura 18. Paisagem sobre a Lagoa e Vegetação .................124Figura 19. Aves nas margens e a sobrevoar a Lagoa de Óbi‑

dos ...................................................................................128Figura 20. Imagem da Lagoa de Óbidos como cenário ideal

para a atividade de Land Art ........................................131Figura 21. Ponte sobre a Lagoa de Óbidos ..........................134Figura 22. Pegadas de dinossauros na Jazida do Bouro e Pene‑

do Furado .......................................................................136Figura 23. Recolha de lixo na Lagoa de Óbidos ..................139

Figura 24. Vista da Lagoa de Óbidos ao entardecer ...........143Figura 25. Círio do Vau ...........................................................150Figura 26. Igreja de N. Sra. Da Piedade ................................155Figura 27. Mariscador na captura de bivalves e iguaria regio‑

nal ................................................................................ 160Figura 28. Fachada da Escola Primária Francisco de Almeida

Grandela e Fachada da Capela de Sta. Matilde .........166Figura 29. Fachada do Museu da Ceramica, Caranguejo em ce‑

râmica de Bordalo Pinheiro e Busto de Bordalo Pinheiro no Parque D. Carlos I ...................................................173

Figura 30. Barragem do Rio Arnóia, Linha ferroviária de Óbi‑dos e Santuário do Senhor Jesus da Pedra .................178

Figura 31. BTT junto à Lagoa de Óbidos e Ecovia Várzea da Rainha .............................................................................190

Figura 32. Cavalos junto ao Rio Arnóia ...............................194Figura 33. Planta de localização da pista para os campeonatos

nacionais de remo de 1947 na Lagoa de Óbidos ......197Figura 34. Cais da Foz do Arelho ..........................................201

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PrefácioA Lagoa de Óbidos é um ecossistema marinho de extraor‑

dinária beleza e de inestimável valor natural. Este é um patri‑mónio único, com um elevado potencial, não só para Caldas da Rainha, Óbidos e para a região Oeste, mas também para o nosso país.

A interacção deste ecossistema com as gentes que vivem em seu redor e que são por ele influenciadas de forma deci‑siva, criou uma cultura muito própria e única que merece ser defendida e divulgada. Os seus ricos recursos naturais são ain‑da fundamentais para a economia destas populações que re‑tiram, através da pesca, da apanha de bivalves ou do pequeno comércio, o seu sustento.

A Lagoa de Óbidos é também decisiva para o sector eco‑nómico dos Concelhos que a circundam devido ao seu elevado potencial turístico, permitindo a captação de vários empreen‑dimentos turísticos e a atracção de um importante número de pessoas que a escolhem para instalarem a sua residência fixa ou a sua casa de fim-se-semana ou de férias, rendidos sem dú‑vida a esta rara beleza natural, que permite ainda a realização de várias actividades lúdicas ou desportivas.

Mas este recurso natural tem em si um equilíbrio muito frágil e a intervenção e interacção humana tem de respeitar a susten‑tabilidade deste ecossistema. Se, por um lado, o homem pode intervir positivamente, por exemplo, combatendo e evitando o assoreamento da Lagoa, por outro, a poluição, uma activi‑dade piscatória intensiva e não sustentável ou uma excessiva pressão urbanística, poderiam ameaçar a sua sobrevivência. Por este motivo, é essencial sensibilizar populações e visitantes para uma correcta utilização deste espaço verde.

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São apresentados neste livro vários cenários, que identifi‑cam diferentes públicos‑alvo, para os quais são apresentadas diferentes propostas, quer através da oferta de um cenário de visita e observação à natureza, de um cenário de descoberta da cultura ou dos costumes das gentes naturais ou até de vários cenários de utilização desportiva.

O trabalho desenvolvido pelos investigadores do GITUR ‑ Grupo de Investigação em Turismo do IPLeiria realça a im‑portância de se fazer a correcta Interpretação deste património nomeadamente com a criação de parcerias entre as várias en‑tidades responsáveis por este território, de modo a aproveitar todas as suas potencialidades

Quero assim deixar um agradecimento ao GITUR - IPLei‑ria pela dedicação e por esta obra que nos pode ajudar a inter‑pretar e a aproveitar melhor os recursos naturais da Lagoa de Óbidos, retirando daí todos os benefícios deste património e assegurando a sua vivência não só por esta geração mas tam‑bém e sobretudo pelas gerações vindouras. *

Fernando Tinta FerreiraPresidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha

* Este texto foi escrito de acordo com a antiga ortografia

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Defender o Património da Lagoa de Óbidos em toda a sua dimensão é algo que cabe a toda a comunidade que tem o pri‑vilégio de a conhecer. A Natureza ofereceu‑nos a possibilida‑de de ter, no nosso território, um dos mais belos exemplares de um meio marinho único, ligado ao mar e à terra, em simul‑tâneo. Ao longo dos Séculos, a Lagoa de Óbidos sofreu gran‑des mutações, mas nunca deixou de ser um local de trabalho, lazer e contemplação.

Esta obra que agora é concluída, torna‑se, sem dúvida, num importante instrumento de divulgação do habitat, permitindo sistematizar um conjunto de informações fundamentais para o conhecermos melhor.

O GITUR‑IPL demonstra, mais uma vez, que é fundamen‑tal centrarmos a investigação do nosso ensino superior na rea‑lidade local, promovendo o desenvolvimento da nossa Região, de forma sustentável e com a participação ativa da população e entidades públicas e privadas.

Para além da componente mais técnica e complexa do fun‑cionamento do sistema hidrográfico da Lagoa de Óbidos, que envolve a vasta rede de rios e ribeiras do Oeste, este ecossistema possui um elevado potencial em duas dimensões que são bem retratadas: a pesca e o turismo ! Também nestes domínios, o GITUR‑IPL, em conjunto com o Ministério do Ambiente e as autarquias do Oeste, devem aprofundar, não só o conhecimen‑to, mas, sobretudo, uma estratégia de atuação que permita uma melhor gestão dos recursos, sejam endógenos ou exógenos.

A fruição da Lagoa de Óbidos, nas suas praias, recantos ci‑nematográficos, atividades desportivas com condições ímpares, ou na pesca e captura de bivalves, entre outras, deve ser com‑patibilizada com a sua defesa e salvaguarda para as gerações futuras. É desse equilíbrio (difícil) que conseguiremos garantir a sua sã sobrevivência para as gerações futuras. Só o conheci‑

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mento da sua importância dotará as gerações futuras de uma maior consciência ambiental.

Esta obra é, por isso, um importante contributo para a di‑fusão da importância da nossa Lagoa e uma excelente oportu‑nidade para nos focarmos, sobretudo no elevado potencial que ela representa para o nosso País e para a promoção da nossa Identidade. O Município de Óbidos orgulha‑se de ter no seu território uma riqueza tão importante que merece o empenha‑mento de Todos para a sua preservação!

Humberto da Silva MarquesPresidente da Câmara Municipal de Óbidos

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AgradecimentosA realização do presente trabalho só foi possível graças à

disponibilidade e colaboração das seguintes pessoas e entida‑des, a quem expressamos os nossos sinceros agradecimentos:

Alice Gesteiro ‑ Presidente da Junta de Freguesia do Nadadouro.Aquino Gamboa – PROMÓBIDOS, Lda.Carminda Carreira.Delfina Lopes.Gil Lourenço.Isabel Dabadie ‑ Gerente da Escola de Vela da Lagoa de Óbidos. Jaime Reis.João Martinho ‑ Presidente do MPN. José Coutinho ‑ Coordenador da Associação para o Desen‑

volvimento e Promoção Rural do Oeste ‑ Leader Oeste.Luís Carvalhinho – Docente ESDRM ‑ IPSantarém.Luís Gesteiro.Mercês Silva e Sousa ‑ NOSTRUM.Miguel Chaby.Octávio Mateus.Pedro Ramalho.Rancho Folclórico Esperança na Juventude (Nadadouro)Ricardo Ribeiro ‑ Vereador da Câmara Municipal de Óbidos. Sara Duarte ‑ Águas do OesteSérgio Félix ‑ Presidente da Junta de Freguesia de St.ª Ma‑

ria de Óbidos.Vítor Dinis ‑ Comissão Cívica de Proteção das Linhas de

Água e Ambiente.

Centro de Apoio Social do Nadadouro.Centro de Convívio do Vau. Rancho Folclórico e Etnográfico do CCSR Arelhense.

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Nota PréviaO turista contemporâneo é, por excelência, e ainda que de

forma temporária, um consumidor de espaços verdes. Moti‑vada pela atratividade destes lugares ou, simplesmente, para “fugir” ao tumulto psicofísico a que está, rotineiramente, su‑jeita, a procura dos territórios naturais, cujos recursos vão ao encontro destes novos consumidores, tende a induzir trans‑formações profundas nestas áreas, destinadas a satisfazer as suas necessidades.

Quando se preconiza o desenvolvimento de atividades tu‑rísticas numa determinada região, as estratégias passam, ge‑ralmente, por estimular o investimento na construção de no‑vas infraestruturas e equipamentos, negligenciando‑se aquilo que já existe no território. Poderão, em consequência de in‑tensa e descontrolada visitação, escassa “cultura” turística e desordenamento territorial, incorrer em diferentes impactos que, no caso de áreas naturais, se refletem em graves agres‑sões ambientais.

Apesar do seu valioso património natural e cultural, a La‑goa de Óbidos debate‑se com graves e distintos problemas, tais como a poluição (decorrente da utilização de embarcações a motor, descargas de esgotos domésticos e industriais, resídu‑os químicos resultantes das atividades agrícolas, lixo domésti‑co, entre outros), assoreamento, sazonalidade turística e falên‑cia das atividades económicas diretamente relacionadas com a lagoa (excessos na captura de bivalves e demais pescado). Estes processos não só terão que ser legalmente travados, como deverão ser alvo de condutas que trilhem a responsabilidade social. Será ainda crítico não só educar e sensibilizar as popu‑

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lações locais como gerar inputs capazes de alterar os compor‑tamentos dos demais visitantes.

A Interpretação do Património apresenta‑se enquanto téc‑nica de comunicação estratégica, como forma planeada e cons‑ciente de produzir e transmitir mensagens. Pretende não só dar a conhecer o património como converter os alvos dessa comunicação em protetores e acérrimos defensores do lugar. São, por isso, muitos os autores que a entendem como a arte de revelar in situ aquilo que é o significado da herança coletiva de um determinado território.

A disciplina interpretativa utiliza uma ampla gama de dire‑trizes metodológicas que visam a apresentação do património numa perspetiva que reproduza e ajude a criar uma sensação de lugar. Não raras vezes, recorre a meios que impulsionam emoções, mais ou menos inconscientes, por forma a fomentar o espírito crítico e a provocar comportamentos pró‑ambientais e conservacionistas.

Para desenhar uma atividade interpretativa é necessário ter em conta a dimensão dos recursos disponíveis, os condiciona‑lismos temporais, o esforço e habilidades técnicas e pessoais requeridos, a capacidade de investimento, a criação de parce‑rias e o a seleção dos canais de promoção.

Embora seja um instrumento com diferentes âmbitos de aplicação, a Interpretação tem um papel igualmente determi‑nante na gestão de áreas protegidas, talvez pelo facto de se en‑contrar, desde a sua origem, vinculada à instituição dos parques nacionais nos Estados Unidos da América. Desde aí, a imple‑mentação de projetos interpretativos favoreceu a democrati‑zação da fruição pública do património, para além de procurar desenvolver as comunidades locais de uma forma multidimen‑sional (económica, social, cultural e ambiental).

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Foi com a consciência clara de que os espaços dotados de valor patrimonial necessitam de ações intencionadas que par‑timos para o desenvolvimento de um projeto que atenuasse os problemas detetados. Neste sentido, olhámos para diferentes tipos de recursos da Lagoa de Óbidos e áreas limítrofes, entre os quais se contam as atividades económicas e sociais, algu‑mas ancestrais, que operam sobre a vida da lagoa. A estratégia adotada passou por interligar a cultura viva e histórica com os elementos naturais, conferindo‑lhes um sentido holístico e au‑têntico, empenhado em revelar a identidade do território, em perpetuar o legado natural e cultural e em otimizar qualquer experiência de visita.

As propostas visam a sustentabilidade ambiental, através da adoção de comportamentos responsáveis, de experiências educativas assentes em fatores emocionais que mitiguem os impactos, promovendo a convivência harmoniosa com o es‑paço natural. Por outro lado, propõem‑se soluções sociocultu‑ralmente sustentáveis, empenhadas na preservação da cultura local, no respeito pelas tradições, costumes e valores, através da inclusão da população residente, estimulando a interação do visitante com a comunidade anfitriã.

PArtE IENqUADRAMENTO

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Prolegómenos em torno do Sistema Lagunar

São inegáveis os benefícios de ordem económica, cultural e ecológica que a Lagoa de Óbidos pode proporcionar diaria‑mente às populações que habitam junto das suas margens, as‑sim como a outras que possam estar mais ou menos distantes. Mas muitas dessas mais‑valias passam um pouco despercebidas ao comum dos cidadãos, levando a que não sejam exibidas ati‑tudes e comportamentos adequados à efetiva proteção e con‑servação de um ecossistema marinho que, pela sua natureza, é extremamente sensível.

Torna‑se, deste modo, importante que aqueles que, direta ou indiretamente, estejam dependentes da Lagoa de Óbidos se assumam como guardiães do património. Contudo, para que tal seja possível, é importante que eles reconheçam os seus pon‑tos fortes, fragilidades, potencialidades e ameaças.

Para proteger temos de sentir um afeto especial pelo terri‑tório, e esse sentimento só se atinge quando se possui um co‑nhecimento que permite a tomada de opções que conduzam ao desenvolvimento sustentável. Na prática, só protegemos o que amamos e só amamos o que conhecemos.

Em termos hidrológicos, tal como todos os ecossistemas es‑tuarinos, a Lagoa de Óbidos é caracterizada pela influência do ciclo da maré, que promove alterações diárias e significativas nos valores de salinidade da água e que, desse modo, exercem pres‑sões ecológicas sobre a fauna e sobre a flora.

Tais pressões levaram a que, ao longo dos tempos, as es‑pécies fossem desenvolvendo mecanismos de adaptação para garantir a sua sobrevivência num ambiente tão inconstante. Exemplo disso, são as espécies ditas eurihalinas, as quais pos‑

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suem adaptações fisiológicas para suportarem as variações de salinidade. De entre essas espécies, encontram‑se diversos moluscos (ex. ameijoa e berbigão), crustáceos (ex. caranguejo verde), peixes (dourada, robalo, linguado) e plantas vasculares (ex. salicornia).

Para além da influência das marés, a Lagoa de Óbidos está sujeita a descargas de água doce provenientes principalmente dos rios Borraça, Cal, Arnóia e Real. Estas descargas forne‑cem nutrientes à lagoa, alimentando uma extensa cadeia tró‑fica, considerada uma das mais produtivas de entre todos os ecossistemas marinhos.

A elevada produtividade das suas águas sustenta uma enor‑me biodiversidade, sendo alimento para os organismos que re‑sidem permanentemente na lagoa, para aqueles que aí encon‑tram refúgio e local de descanso aquando das migrações de aves marinhas, assim como para aqueles que aí permanecem durante a sua juventude, antes de se aventurarem nas águas do oceano adjacente (ex. robalo e dourada).

As renovações diárias de água são extremamente importan‑tes para que se assegure a sua qualidade ecológica, permitindo igualmente a exportação de matéria orgânica que servirá de alimento a outras populações marinhas. No entanto, para que tal ocorra, é necessária a intervenção constante do homem na manutenção da comunicação permanente entre o oceano e o interior da lagoa. Este processo tende a contrariar as dinâ‑micas naturais das lagoas costeiras, cuja existência no tempo está limitada pela sua capacidade em resistir ao assoreamento e consequente formação de áreas pantanosas.

O funcionamento da lagoa não se esgota no processo expos‑to anteriormente, uma vez que ele influencia, enormemente, a cultura, a tradição e a economia das populações que dela depen‑dem. Para os menos atentos, a Lagoa de Óbidos é somente um

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local de fruição nos meses de verão. Para os mais atentos, é fa‑cilmente percetível o seu enorme valor ecológico e económico.

Da lagoa são retiradas várias toneladas de bivalves por ano, cujos níveis são mantidos graças à elevada produtividade bio‑lógica das suas águas. Falamos de espécies de bivalves com significativo valor económico, como é o caso da amêijoa-boa. A apanha de bivalves sustenta economicamente as comunida‑des de mariscadores, entre outras atividades económicas que dependem diretamente da sua captura.

A Lagoa de Óbidos funciona como berçário para algumas espécies de peixes que podem ser capturadas na própria área lagunar ou em ecossistemas adjacentes. É o caso do robalo, que se reproduz no mar, mas, enquanto juvenil, cresce no in‑terior da lagoa. Não será, pois, de estranhar que a pescaria de robalo no arquipélago das Berlengas dependa do bom funcio‑namento da lagoa.

A exploração sustentável de outros recursos biológicos po‑derá conduzir ao surgimento de novas atividades económicas baseadas nos recursos endógenos da Lagoa de Óbidos. A tí‑tulo de exemplo, os ecossistemas estuarinos possuem as con‑dições ideais para a produção de sal vegetal, tendo por base as plantas halófitas que ocorrem nas margens dos sapais, ou para a aquacultura de ostras.

Os recursos biológicos da lagoa assumem, igualmente, um enorme potencial para a prática de atividades de ecoturismo, tais como o birdwatching, dada a elevada diversidade de espécies de aves que encontram neste local as condições ótimas para a sua alimentação, descanso e reprodução.

Trata‑se de um potencial que pode e deve ser explorado, sendo, para tal, necessário que sejam devidamente acauteladas questões relacionadas com a proteção da biodiversidade e com a gestão do espaço natural.

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Para além dos recursos biológicos, as paisagens que envol‑vem a lagoa proporcionam um valor cénico inestimável, que estimula a contemplação da natureza, a prática desportiva e a dinamização de atividades de ecoturismo. Mas, para que tal pos‑sa ser proporcionado, é extremamente importante que sejam adotados comportamentos que permitam a salvaguarda dos bens naturais e o funcionamento dos ecossistemas.

Os exemplos anteriormente referidos refletem a importância que assume a preservação da Lagoa de Óbidos e que vai mui‑to além de razões conservacionistas. Tal como referido inicial‑mente, torna‑se cada vez mais necessário suscitar nos diferentes utilizadores deste espaço atitudes adequadas à manutenção da qualidade ecológica de tão sensível ecossistema, transmitindo os seus valores às gerações atuais e vindouras.

A Lagoa de Óbidos é um laboratório natural, assumindo‑‑se como um veículo para a prática de atividades de educação e sensibilização ambiental. Associada à educação, a investiga‑ção científica aqui realizada permitirá que, num futuro mais ou menos longínquo, as opções políticas de desenvolvimento e proteção deste território sejam baseadas num conhecimen‑to aprofundado sobre o funcionamento da Lagoa de Óbidos.

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O Território da Lagoa de Óbidos

A paisagem da Lagoa de Óbidos apresenta um fino mosai‑co de tonalidades que espelha a profunda ligação entre o sis‑tema ecológico lagunar, frágil, rico e dinâmico, com o tecido social e humano, ancestral, diário e perseverante. Como em tantas outras áreas naturais em Portugal, a sustentabilidade da lagoa faz‑se através da exploração harmoniosa do suporte biofísico por parte da população, tanto pela extração dos bens que complementam as economias locais, como para fins lúdi‑cos e recreativos.

Um olhar para a dinâmica espacial revela exatamente o papel da ação humana na manutenção da morfologia atual da Lagoa de Óbidos. Se, por um lado, a pressão antrópica exercida em troços costeiros conduz à degradação das estruturas naturais e à diminuição da quantidade de sedimentos fornecidos ao lito‑ral, o que contribui para a alteração da linha de costa em par‑tes significativas de Portugal; por outro lado, a constante in‑tervenção humana na dinâmica lagunar e na sua relação com a abertura para o mar tem vindo, de certo modo, a manter a morfologia e a sustentabilidade da lagoa.

O uso de sistemas de geoinformação aplicada à monitori‑zação da evolução da linha de costa na lagoa, nomeadamente através da análise de imagens de satélite de alta resolução, tem‑‑se revelado como uma ferramenta fundamental neste tipo de análise espacial. No caso, permite identificar mudanças expres‑sivas na morfologia da lagoa, que testemunham uma dinâmica costeira muito peculiar, num evidente controlo humano dos processos erosivos.

A Lagoa de Óbidos é um espaço lagunar costeiro que se de‑senvolve num plano de água extenso até a uma barreira areno‑

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sa, constituída por um sistema dunar que a separa do oceano Atlântico. A sua ligação ao mar faz‑se por um canal largo pro‑visório, geralmente designado por “barra de maré” ou “aber‑ta”, que tende naturalmente a encerrar através de processos de assoreamento, o que implica a constante intervenção antrópica para a sua reabertura.

A lagoa contacta o oceano no seu rebordo setentrional, através da “aberta”, e desenvolve‑se através de um extenso plano de água no sentido Sudeste‑Noroeste. O corpo de água é interrompido pontualmente por bancos de areia grossa, re‑sultantes do assoreamento, que são ocupados por vegetação dispersa e de pequeno porte. Destes bancos, destaca‑se a acu‑mulação central designada por Arinho.

Embora a extensão coberta por água varie significativamen‑te ao longo do tempo, a extensão da área molhada aproxima‑‑se, em termos médios, dos 6.000.000 m2, e é considerada, por isso, a maior zona húmida costeira do território nacional (Martins‑Loução, 2008).

Do ponto de vista do enquadramento morfológico, a lagoa encontra‑se numa depressão pouco profunda, integrada na ba‑cia hidrográfica da serra de Montejunto, e composta por sub‑‑bacias de menores dimensões, das quais se destacam as dos rios Real e Arnóia. A lagoa é alimentada por diversos cursos de água de média ou pequena dimensão, como o rio Real, o Arnoia, a Vala do Vau, o rio Galvão e o da Cal. Se durante os meses de inverno a lagoa é alimentada por água proveniente daqueles rios, nos meses do ano em que a precipitação é me‑nor, a renovação de água é essencialmente feita pelas marés (Silva, 2008).

A lagoa pode ser dividida em duas áreas com distintas di‑nâmicas. O troço setentrional, a jusante, onde predomina a atividade marinha e onde dominam a acumulação de material

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sedimentar grosso e fundos arenosos, e o troço meridional, localizado a montante, predominantemente caracterizado pela existência de material lodoso e vastas áreas de inundação pro‑veniente dos dois principais braços de água que alimentam a lagoa, onde a dinâmica marinha se sente preferencialmente no corpo de água e onde o fundo subtidal é fortemente influen‑ciado pela deposição fluvial (Martins-Loução, 2008).

Estima‑se que a Lagoa de Óbidos se tenha formado sen‑sivelmente há 5.000 anos, na sequência da transgressão mari‑nha associada ao período pós-glaciar flanderiano. No final do Neolítico, o processo de estabilização do nível do mar para níveis sensivelmente próximos aos atuais contribuiu para a in‑dividualização da lagoa. Desde esse período, tem vindo a re‑gistar a tendência natural de assoreamento. De facto, embora se apresente atualmente como a maior lagoa costeira portu‑guesa, estima‑se que já tenha tido oito vezes o tamanho atual, tendo banhado partes significativas do concelho de Óbidos. Existem, aliás, diversas referências à navegabilidade da Lagoa de Óbidos até locais hoje distantes da mesma, como o Sobral da Lagoa e a Amoreira (Martins‑Loução, 2008).

A Lagoa de Óbidos encontra‑se localizada no setor sul do distrito de Leiria, encontrando‑se o seu território dividido, sensivelmente a meio, pelos concelhos de Caldas da Rainha, a norte, e Óbidos, a sul. A margem norte da lagoa é abrangi‑da pelas freguesias de Foz do Arelho e Nadadouro, enquanto a margem sul é abrangida pelas freguesias de Vau, a sul, e de Santa Maria, a sudeste (figura 1).

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Figura 1. Mapa de enquadramento da Lagoa de Óbidos.

Os mais antigos registos de ocupação humana na lagoa do‑cumentam a existência de atividades de exploração agrícola e piscatória. Manuela Santos Silva (2008) encontra vestígios un‑decentistas que mostram um manifesto “clima de otimismo” na fixação das populações. Ao contrário do que seria expectável, face à ameaça muçulmana na região, a ocupação do território não aconteceu nas proximidades de áreas fortificadas, mas, re‑gra geral, em locais aprazíveis e onde os recursos seriam mais abundantes (Silva, 2008).

A atual ocupação do solo nas freguesias limítrofes da lagoa é predominantemente agrícola e florestal. De acordo com a cartografia disponível (figura 2), a área envolvente tem sido do‑minada por terrenos agrícolas, representando pouco menos de metade do total da área, com destaque para os terrenos ocupa‑dos por “agricultura com espaços naturais” (13.9%), “sistemas culturais e parcelares complexos” (12,7%) e “pomares” (11,5%).

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Classes de ocupação do solo (CORINE Land Cover)

% de área em 1990

% de área em 2006

Tecido urbano contínuo 4,52 5,95

Áreas de extração mineira 0,30 0,93

Áreas em construção ‑ 2,87

Equipamentos desportivos e de lazer ‑ 1,88

Culturas anuais de sequeiro 3,02 1,67

Culturas anuais de regadio 5,59 5,59

Vinhas 1,19 1,17

Pomares 10,26 11,46

Sistemas culturais e parcelares complexos 11,87 12,70

Agricultura com espaços naturais 15,36 13,90

Florestas de folhosas 14,68 10,12

Florestas de resinosas 3,06 2,85

Florestas mistas 9,02 8,95

Matos 3,37 1,89

Esp. florestais degradados, cortes e novas plantações 7,31 7,90

Praias, dunas e areais 2,14 2,00

Pauis 0,63 0,62

Sapais 2,27 1,78

Lagunas litorais 5,41 5,77

Figura 2. Ocupação do solo nas áreas limítrofes da Lagoa de Óbidos. Fonte: Carta de ocupação do solo - CORINE Land Cover.

Fruto da abundância de nutrientes e da fertilidade das vár‑zeas adjacentes à lagoa, em 1990 era possível observar gran‑des parcelas de terrenos com ocupação agrícola. No entanto, e apesar de também se verificarem áreas significativas de cultivo, a freguesia do Vau distinguia‑se das restantes pelo predomínio de manchas de ocupação florestal (figura 3), com especial des‑taque para a mancha de floresta folhosa.

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Figura 3. Ocupação do solo em 1990 e 2006. Fonte: Carta de ocupação do solo - CORINE Land Cover.

Embora não se possa afirmar que, no intervalo dos 16 anos analisados, a ocupação do solo se tenha alterado significativa‑mente, uma vez que predominam durante este período as áreas classificadas como “Áreas com ocupação agrícola” e “Territó‑rios florestais”, são de notar, ainda assim, algumas tendências reveladoras da evolução das atividades humanas na área cir‑cundante à lagoa de Óbidos.

Salienta-se o recente aumento de terrenos artificializados, aproximadamente 7%, cujo crescimento é suportado, em es‑pecial, por uma descida significativa da área florestal (figura 4), com destaque para a diminuição de área ocupada por florestas folhosas e matos.

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Classes de ocupação do solo CORINE Land Cover

1990 %

2006 %

Diferença 2006/1990

Territórios artificializados 4,8 11,6 6,8

Áreas com ocupação agrícola 47,3 46,5 ‑0,8

Territórios florestais 37,4 31,7 ‑5,7

Ambiente lagunar/dunar 10,5 10,2 ‑0,3

100,0 100,0Figura 4. Percentagem de classes de ocupação do solo.1

Fonte: Carta de ocupação do solo - CORINE Land Cover.

Apesar de o território ser maioritariamente ocupado por agricultura e floresta, a população local encontra-se sobretu‑do ligada ao setor terciário. De facto, em todas as freguesias próximas da lagoa apenas um terço da população se dedica a outro ramo que não o dos serviços. Mais uma vez, a freguesia do Vau é aquela onde se encontra a maior percentagem de po‑pulação empregada em atividades económicas primárias, sendo mesmo mais elevada do que a média da região Oeste (figura 5).

1 A ocupação do solo foi agrupada nas seguintes classes: territórios artificializados, que incluem tecido urbano contínuo, indústria, comércio e equipamentos gerais, áreas de extração mineira, áreas em construção, equipamentos desportivos e de la‑zer; áreas com ocupação agrícola, que agrupam culturas anuais de sequeiro, cultu‑ras anuais de regadio, vinhas, pomares, sistemas culturais e parcelares complexos; territórios florestais, constituídos por florestas de folhosas, florestas de resinosas, florestas mistas, matos, espaços florestais degradados, cortes e novas plantações; ambiente lagunar/dunar, com as praias, dunas e areais, pauis, sapais e lagunas litorais.

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Figura 5. Percentagem de população empregada nos setores de atividade. Fonte: Instituto Nacional de Estatística.

O dinamismo da Lagoa de Óbidos pode ser igualmente ava‑liado pela sua capacidade de fixação e/ou de atração de novos moradores. Tanto o concelho de Caldas da Rainha como o de Óbidos viram aumentar o número de residentes face à década anterior, sendo esta a tendência em todas as freguesias que cir‑cundam a lagoa. O crescimento moderado de residentes no Vau e na Foz do Arelho é contrastado pelo espetacular crescimento populacional de Santa Maria de Óbidos e do Nadadouro, onde o número de residentes quase duplicou em 20 anos (figura 6).

Figura 6. Número total de residentes por freguesia. Fonte: Instituto Nacional de Estatística.

Se, por um lado, o território evidencia sinais de dinamismo do ponto de vista de afirmação, por outro lado, algumas práti‑

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cas na utilização da lagoa, e potenciais conflitos no uso do solo, têm sido referidos como ameaças à sua identidade e singulari‑dade. A riqueza ambiental e paisagística deste espaço promo‑vem a afirmação regional e local, valorizam-no e dinamizam‑‑no, atraindo atividades turísticas e imobiliárias. No entanto, são também as eventuais dificuldades de gestão que poderão acelerar a sua degradação. Será o caso da implementação de infraestruturas ou atividades, cujos impactos sejam difíceis de travar num horizonte próximo.

A sua estrutura ecológica justificou a classificação da La‑goa de Óbidos como Biótopo CORINE, em 1985. Embora este instrumento não tenha poder legal e vinculativo face aos mecanismos de planeamento nacionais, ele significava o re‑conhecimento internacional das valências ecológicas e paisa‑gísticas da área em questão. Anos mais tarde, foi proposta a inclusão da Lagoa de Óbidos na Lista Nacional de Sítios, no âmbito da Diretiva Habitats, contudo, a classificação não veio a ser aprovada.

Tem sido feito um esforço para que as valências ambientais da Lagoa de Óbidos sejam reconhecidas, o que permitiria ar‑gumentar um outro estatuto de gestão para o território. Não obstante o reconhecimento que o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas [ICNF] faz dos seus valores naturais, as avaliações levadas a efeito nos últimos anos não têm reco‑nhecido o mesmo nível de importância que foi atribuído a ou‑tras zonas húmidas do país. Esta será talvez a razão pela qual a Lagoa de Óbidos não tenha, ainda, recebido o estatuto de con‑servação que merece.

Do ponto de vista do desenvolvimento territorial, existem diversos instrumentos regulamentares que visam a sustentabili‑dade do património. Em Portugal, destaca‑se, pela sua natureza estratégica, o Programa Nacional da Política de Ordenamento

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do Território [PNPOT], publicado em 2007. Ainda que não faça referência expressa à Lagoa de Óbidos, aponta diretrizes para a região do Oeste que, de forma inequívoca, contribuem para a definição de linhas de atuação regionais e locais de pro‑teção e valorização dos espaços naturais. Neste documento, são expressas as opções para o desenvolvimento deste território, onde se refere a necessidade de:

i) Promover a valorização das paisagens e dos enquadramen‑tos cénicos enquanto traço de identidade e de qualificação de cada uma das sub‑regiões em particular, protegendo‑-as das agressões da urbanização e da edificação dispersa;

ii) Reforçar a proteção do património natural – água, flo‑resta e espaços naturais protegidos.

Aplicando os princípios orientadores do PNPOT, o Plano Regional de Ordenamento do Território do Oeste e Vale do Tejo [PROT-OVT], classifica a Lagoa de Óbidos como parte da Estrutura Regional de Proteção e Valorização Ambiental, nomeadamente através da sua integração nas Áreas Nucleares Secundárias. Nestas áreas, encontram‑se espaços com elevado valor para a conservação da biodiversidade e da paisagem, úni‑cos na identidade regional e “cujos limites e valor de conser‑vação devem ser objeto de estudo detalhado e posterior clas‑sificação ao nível municipal ou intermunicipal”.

Para estas áreas, o PROT-OVT define um conjunto de di‑retrizes, das quais se destaca a seguinte recomendação:

(...) classificar as Áreas Nucleares Secundárias como Áreas Protegidas de âmbito regional ou local, de acor‑do com o regime jurídico da conservação da natureza e da biodiversidade, e proceder à sua gestão de acordo com o seu estatuto de classificação.

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Por outro lado, o PROT-OVT identifica também o que de‑signa por Corredores Ecológicos Estruturantes, cuja função é manter a ligação ecológica com os territórios envolventes, onde são integrados diversos espaços, entre os quais a área lagunar de Óbidos. Para estes corredores, nomeadamente o “corredor litoral”, onde se insere a lagoa, o PROT‑OVT recomenda a de‑limitação de “5 km a partir da linha de costa integrando uma faixa de 500 m (Orla Costeira) de interdição e uma faixa de 2 km (Zona Costeira) a sujeitar a condicionamentos”.

A Lagoa de Óbidos encontra‑se ainda abrangida parcial‑mente pelo Plano de Ordenamento da Orla Costeira [POOC] de Alcobaça‑Mafra, sendo que este instrumento refere as la‑goas costeiras como áreas de proteção integral. Reconhece a Lagoa como um importante elemento paisagístico e identifica, dentro do troço Alcobaça‑Mafra, oito Unidades Operativas de Gestão, sendo uma delas o polo de desenvolvimento turístico do Bom Sucesso (Óbidos).

Os objetivos desta Unidade Operativa de Gestão visam:

Avaliar a necessidade de remoção de edificações amea‑çadas pelo avanço das águas do mar e gestão das áreas edificáveis; o estabelecimento de acessos únicos à área de praia, de preferência perpendiculares à orla costei‑ra; a interditação dos acessos anárquicos sobre arribas e dunas, assim como na área de ocupação urbana em espaços naturais, através da implementação de barreiras de vegetação natural de espécies naturais autóctones e requalificação da praia do Bom Sucesso, melhorando as suas interações e ligações com o território envolvente e com o polo turístico do Bom Sucesso, tirando par‑tido do potencial paisagístico e ambiental desta praia.

Na escala local, onde a operacionalização do ordenamento do território se faz de modo mais pragmático e programático,

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os Planos Diretores Municipais de Caldas da Rainha e Óbi‑dos abrangem os setores da lagoa, cuja extensão é tocada pe‑los seus limites administrativos. Em ambos os casos, a lagoa é valorizada enquanto elemento natural e de suporte ecológico para o município, no entanto, a sua classificação não apresenta nenhum estatuto especial de proteção, para além do que é hie‑rarquicamente definido no POOC ou contemplado nas condi‑cionantes (Reserva Ecológica Nacional).

Dado que, do ponto de vista de suporte ecológico, a lagoa se oferece como elemento de importância regional e dado que o seu território é atualmente gerido por dois concelhos con‑tíguos, acredita-se que seria uma mais-valia para a afirmação das valências deste espaço, e para a sua preservação, a classifi‑cação da Lagoa de Óbidos com um estatuto de proteção am‑biental específico.

Em 2004, por iniciativa das Câmaras Municipais de Caldas da Rainha e Óbidos, do Instituto de Conservação da Nature‑za e da Associação de Defesa do Paul de Tornada, foi subme‑tido um pedido para que a Lagoa de Óbidos obtivesse a clas‑sificação de Área de Paisagem Protegida de Âmbito Regional. Este instrumento permitiria obter um estatuto legal de prote‑ção adequado à manutenção das condições ambientais locais e, em simultâneo, manter a gestão da Lagoa ao nível autárquico. Até hoje, esta iniciativa ainda não produziu qualquer resultado.

Cabe ao ordenamento do território a promoção de um cor‑reto e eficiente desenvolvimento do meio e das comunidades, aplicando, sempre que necessário, medidas de correção de as‑simetrias ou tendências.

As medidas de desenvolvimento de espaços lagunares cos‑teiros em Portugal dificilmente terão sucesso se não contem‑plarem a presença quotidiana da vida humana. De igual modo, compreender que a atividade humana é parte fundamental no

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equilíbrio de um sistema natural, simultaneamente rico e frá‑gil, obriga a maior responsabilidade na gestão desse território.

Talvez existam pouco lugares onde a missão do ordena‑mento seja tão desafiante como na Lagoa de Óbidos. Aqui, o fino equilíbrio do sistema natural está de tal modo ligado à ação humana que as consequências da sua inércia podem ser tão prejudiciais como o seu oposto.

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Perspetivas de Gestão para a Lagoa de Óbidos

As lagoas costeiras estão entre os ecossistemas mais produti‑vos do mundo, aferindo‑se a sua importância dos pontos de vista da proteção do mar e da oferta de diferentes gradientes físicos e ecológicos. As lagoas, a par da sua diversidade biológica, são importantes motores para o desenvolvimento económico dos territórios. Este arquétipo tem despertado a consciência global. Importa por isso proteger, conservar e gerir estes territórios de forma sustentável (Gamito et al., 2005; Pérez-Ruzafa et al., 2005).

Para além de disponibilizarem pescado, as lagoas são exce‑lentes maternidades para a criação e desenvolvimento de inú‑meras espécies. São várias as que apresentam excecionais con‑dições para a exploração de aquacultura, atividade que constitui uma enorme mais‑valia económica para os territórios (Pérez‑‑Ruzafa et al., 2011). A par da tradicional pesca e captura de bi‑valves nos territórios lagunares, as atividades turísticas assumem também importância capital para a empregabilidade e criação de riqueza localmente. Contudo, a vulnerabilidade das lagoas, dada a estreita relação com os ecossistemas terrestres e a pres‑são humana, exige adequados modelos de gestão.

Visando a sustentabilidade, torna‑se extraordinariamente importante configurar modelos bioeconómicos que compre‑endam e harmonizem as diferentes componentes, com especial destaque para as atividades humanas e as alterações ecológicas.

Dada a necessidade de preservar a Lagoa de Óbidos, no‑meadamente na perspetiva ambiental, procedeu‑se a pesqui‑sa bibliográfica e a observação no terreno. Constatou-se, por isso, que as intervenções deverão observar o equilíbrio entre as necessidades locais e a legislação ambiental.

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Face ao atual status da Lagoa de Óbidos será pertinente ob‑servar o modelo de Avaliação Ambiental Estratégica [AAE]2. O sucesso da AAE decorre da essência do próprio modelo, ou seja, da metodologia e intervenção, quer dos consultores e dos decisores quer da sociedade civil, que, avaliando as opor‑tunidades e riscos das intervenções na perspetiva da extensão dos custos e dimensão temporal, ajustam propostas equilibra‑das e sustentáveis. A aplicação do modelo AAE implica que a avaliação seja:

• Integrada• Orientada para a sustentabilidade• Focada• Verificável• Participativa• IterativaNuma perspetiva de benchmarking, identificaram-se diferen‑

tes e importantes modelos de gestão de zonas lagunares que apresentam características e necessidades semelhantes às da Lagoa de Óbidos, nomeadamente:

i) Plano de gestão para a Lagoa de Pissevaches, no sul de França, em Fleury, desenvolvido pela Association Environ-nement Développement des Pays Narbonnais.

ii) Estudo para a conservação ecológica dos tipos de habitat de interesse comunitário em Espanha, promovido pela

2 A AAE é um instrumento de apoio e a sua aplicação deve ser útil e estar as‑sociada a tomadas de decisão transparentes. A componente técnica da avaliação expressa no Relatório Ambiental terá que se centrar na dimensão da sustentabili‑dade e a escala da análise não pode descer a aspetos de pormenor que dispersem a atenção das questões estratégicas. Um processo de AAE de qualidade proporá certamente a melhor alternativa e assegurará um processo de decisão democrático. Deste modo, conseguir-se-á maior credibilidade e eficácia na vertente dos custos e tempos de execução.

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Direção‑Geral da Política do Meio Ambiente e Florestas ‑ Ministerio de Medio Ambiente, Rural y Marino de España.

iii) Plano de gestão “Coastal Lagoons Management Plan”, ado‑tado pelo Council of the City of Gosford para as lagoas australianas de Wamberal, Terrigal, Avoca e Cockrone, em 1995.

iv) Plano para a proteção e conservação do Parque Natural de Corrubedo – Galiza.

No caso da gestão paisagística da Lagoa de Pissevaches, o modelo incide em cinco pontos fundamentais:

• Proteção das dunas, dos habitats e do património natu‑ral, com especial atenção para a regeneração e promoção da fauna e flora autóctones;

• Monitorização do território e aplicação de diretrizes espe‑cíficas, visando a proteção e conservação do património natural e paisagístico, considerando o cálculo da capaci‑dade de carga da Lagoa de Pissevaches para a gestão do número de visitantes;

• Gestão do território da lagoa, criando áreas de estacio‑namento afastadas das dunas e evitando a degradação provocada pelo excesso de carga dos visitantes;

• Sinalização, educação e sensibilização, com a introdu‑ção de adequada sinalética de diminuto impacto visual, mantendo a paisagem genuína e evitando a sua desca‑racterização;

• Contínua educação e sensibilização da comunidade local para a proteção e conservação da lagoa e da sua paisagem.

Para o plano promovido pela Direção‑Geral da Política do Meio Ambiente e Florestas do Ministerio de Medio Ambiente, Ru-ral y Marino de España, no que concerne à conservação ecoló‑gica dos habitats com interesse comunitário, especial destaque para os itens:

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• Gerir e coordenar as captações de água subterrânea nas bacias hidrográficas das lagoas;

• Criar um cronograma que vise a monitorização e con‑trolo da conservação das lagoas costeiras pelas autori‑dades locais;

• Eliminar as descargas diretas, de qualquer natureza, nas lagoas e afluentes;

• Estabelecer planos para a redução e eliminação de fontes de poluição nas bacias hidrográficas e lagoas costeiras;

• Estabelecer perímetros de proteção, não permitindo li‑gações artificiais com outros ecossistemas adjacentes, sejam terrestres ou aquáticos;

• Desenvolver faixas de proteção em torno das lagoas com uma largura de aproximadamente 100 metros. Es‑tas zonas funcionarão como um espaço absorvente de potenciais impactos;

• Fomentar a valorização das lagoas costeiras junto da po‑pulação local, para que passem a olhar para os territórios lagunares como recursos de turismo de natureza e fonte de sustentabilidade;

• Impedir a introdução de espécies exóticas nos sistemas lagunares, controlando eventos, nomeadamente concur‑sos de pesca, que em muitos casos procedam à introdu‑ção de espécies exóticas nos planos de água;

• Recuperar as espécies nativas e ameaçadas, eliminando as espécies exóticas entretanto introduzidas;

• Redigir e executar planos de recuperação para as lagoas degradadas, integrando‑as em planos de ordenamento territorial.

Na Austrália foi desenvolvido o plano de gestão “Coastal Lagoons Management Plan”, que identifica e propõe distintas es‑

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tratégias para a gestão de quatro lagoas. O plano refere nome‑adamente:

• Controlo da quantidade de nutrientes agrícolas lançados a montante dos espaços lagunares;

• Controlo da quantidade e tipo de poluentes provenien‑tes de áreas rurais e urbanas a montante dos territórios;

• Gestão das acessibilidades ao mar;• Gestão do nível da água das lagoas;• Avaliação das consequências produzidas pelas águas plu‑

viais entretanto drenadas e evacuadas para os territórios lagunares;

• Avaliação da capacidade de drenagem dos solos dos ter‑ritórios lagunares;

• Gestão da flora das bacias hidrográficas;• Desenvolvimento de programas que visem a monitori‑

zação da qualidade da água das lagoas;• Identificação e reabilitação de habitats degradados em

redor das lagoas; • Consciencialização dos residentes locais para a impor‑

tância da adoção de um programa de gestão para os ter‑ritórios;

• Promoção de boas práticas nos territórios;• Programas de educação interativa a desenvolver nas escolas;• Promoção de associações (tipo ONG´s), visando a pro‑

teção e defesa dos territórios lagunares.O plano para a proteção e conservação do Parque Natural de

Corrubedo, na Galiza, definiu, estrategicamente, a capacidade de carga para as zonas mais sensíveis. Nesse sentido, foi ainda proibi‑da a circulação automóvel, sendo apenas permitida a construção de vias pedestres. Dada a sensibilidade e características das du‑nas desta área protegida, foram propostas as seguintes medidas:

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• Dotação de ajudas para a criação de gado em regime de produção biológica;

• Instalação de um observatório ornitológico enquadra‑do no ambiente;

• Criação de uma reserva florestal;• Plano de melhoria turística e ambiental;• Aquisição de terrenos pelo município; • Criação de um jardim botânico, visando a educação am‑

biental; • Elaboração de material interpretativo em diferentes idio‑

mas acerca do património natural e cultural;• Melhoria das infraestruturas de estacionamento;• Cumprimento da norma urbanística nos municípios en‑

volventes;• Cumprimento da Lei Costeira relativamente à regula‑

mentação dos resíduos sólidos industriais e portuários;• Aumento da vigilância e agilização na aplicação de san‑

ções e coimas aos infratores;• Demolição de construções ilegais;• Desenvolvimento de um plano de utilização pública e

de proteção das dunas;• Criação de itinerários pedestres e rotas;• Divulgação de itinerários para bicicletas de montanha e

regulação do seu uso em zonas dunares;• Desenvolvimento de uma reserva integral, no verão,

respeitando os usos tradicionais de pesca de marisco e pastorícia;

• Atribuição de ajudas económicas para a manutenção da pastorícia;

• Requalificação de um moinho para centro interpretativo;• Aquisição de terrenos circundantes à lagoa para poste‑

rior reflorestação com o recurso a pinheiros;

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• Criação de um centro interpretativo sobre o mar e o ho‑mem, com destaque para a pesca e indústria conserveira;

• Exposição permanente sobre a energia eólica;• Organização de um campo de trabalho internacional

para a promoção e conservação dos valores do Parque;• Publicação de medidas adicionais para proteção do Par‑

que, nomeadamente com a criação de reserva integral das praias;

• Divulgação dos valores do Parque Natural em distintos suportes de comunicação;

• Reforço da atividade científica no Parque Natural;• Regeneração dos terrenos de cultivo abandonados com

a introdução de espécies autóctones.

Figura 7. Margem da Lagoa a transbordar para solo natural, obstruindo ciclovia.Foto: Mário Carvalho, 2014.

Dadas as atuais vicissitudes, a Lagoa de Óbidos não pode‑rá deixar de incorporar quer mudanças estratégicas quer um plano de gestão dinâmico. O plano terá que considerar os es‑

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tudos realizados, os avanços tecnológicos e os fenómenos na‑turais que, de forma individualizada ou em conjunto, afetarão o plano inicial.

Para a definição de uma política de intervenção na Lagoa será necessário identificar as reais necessidades do território e monitorizar as relações, entretanto, estabelecidas. Nesse senti‑do e para que se consiga um efeito consequente, importa pri‑vilegiar a gestão do território num registo de proximidade e compromisso com entidades privadas e públicas, sociedade ci‑vil, visitantes, associações locais, autarquias e Estado. Importa, por isso, atentar em alguns pontos, tais como:

• Identificar e desenvolver um modelo para a aquisição de propriedades privadas;

• Obter a declaração de Zona Especial de Proteção de Aves [ZEPA];

• Delimitar uma zona de influência territorial para prote‑ger a lagoa de quaisquer ameaças;

• Criar um Plano de Água que atente aos ciclos naturais da fauna e flora locais;

• Estabelecer acordos com entidades científicas; • Criar um centro de interpretação da natureza, facilitando

a compreensão e a defesa dos territórios.• Realizar atividades educativas e formativas para todos

os níveis de ensino;• Reabilitar as zonas envolventes da lagoa, dotando‑as de

equipamentos que facilitem a fruição do território pe‑los residentes;

• Estabelecer acordos com os proprietários dos prédios rústicos para a promoção da agricultura responsável;

• Criar trilhos ecológicos, que liguem, por exemplo, o cen‑tro interpretativo e recreativo aos pontos de observação de aves, às zonas de piquenique e aos miradouros.

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A curto prazo, torna-se imprescindível não só identificar as necessidades do território como desenvolver e promover o Plano Diretor da Lagoa de Óbidos. Os pontos previamente identificados deverão, por isso, ser entendidos e trabalhados para uma resposta adequada quer às pressões, quer às necessi‑dades que o território e as gentes da Lagoa de Óbidos exigem.

PArtE IIA INTERPRETAÇÃO DO

PATRIMÓNIO:AsPETOs cONcEPTUAIs E

METODOlÓGIcOs

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Fundamentos da Interpretação do Património

Interpretar, porquê?

A teoria da Interpretação do Património tem polarizado os fundamentos das ações interpretativas em torno de duas di‑mensões complementares: uma delas, dirigida aos públicos a quem essas atividades se destinam; outra, focada no próprio âmago das organizações responsáveis pela gestão dos bens pa‑trimoniais. Embora regressemos a este assunto mais à frente, é importante recordar que a génese e expansão da disciplina da Interpretação do Património acontece em meio anglo‑saxóni‑co, num quadro político tendencialmente liberal e propício à inserção das atividades culturais em lógicas de mercado, pro‑movidas pelo setor privado, seja por intermédio da propriedade dos equipamentos culturais – como acontece com importantes museus americanos – seja por via da gestão (privada) de pa‑trimónio público, de acordo com mecanismos de concessão a empresas especializadas em gestão cultural, selecionadas atra‑vés de concursos públicos.

Na tradição norte‑americana – para lembrarmos um caso paradigmático – a dimensão privada da gestão do património, designadamente da herança cultural, está associada, desde finais do século XIX, a poderosas famílias, cuja riqueza depende de negócios desenvolvidos à escala internacional, como os Rocke‑feller, os Vanderbilt, os Carnegie ou os Ford. Estes incutiram na sociedade americana uma estrutura de financiamento privado da cultura, que, sem ignorar a participação do Estado, acabaria por favorecer práticas de gestão profundamente influenciadas pela disciplina do Marketing (Reis, 2003:225-245). Esta influ‑

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ência acabará por marcar de modo indelével os pressupostos sobre os quais assenta a gestão do património, cultural e natu‑ral, nos Estados Unidos da América, assim como a disciplina que aqui nos interessa sobremaneira, a Interpretação do Patri‑mónio. Esta desenvolver‑se‑á, tanto no plano teórico como nas práticas que implementará no terreno, de acordo, como dizía‑mos, com lógicas de mercado, centradas na ideia de um ciclo virtuoso, que parte da planificação sistemática dos projetos in‑terpretativos, com vista a uma execução consciente das ações, assim como à sua avaliação permanente, destinada a detetar desvios indesejáveis e a introduzir as correções necessárias.

De acordo com este esboço, é fácil entender como a es‑sência da Interpretação do Património reside numa dimensão simultaneamente organizacional – virada, se quisermos, para dentro, para a gestão dos bens patrimoniais – e social, orien‑tada para a satisfação dos públicos, sejam estes reais ou poten‑ciais. Independentemente da propriedade, pública ou privada, desses bens, a expansão das práticas interpretativas, para lá do aro anglo‑saxónico que as viu nascer, convergiu, um pouco por todo o lado, num código de matriz mercantil, que procura harmonizar princípios democráticos, educativos e identitários com valores agregados em torno da noção de marca: consumo e clientela, comunicação e promoção, produto e preço.

A dimensão organizacional da Interpretação do Património radica, desde logo, no princípio da sustentabilidade dos bens aos quais a sociedade atribui valor patrimonial, e que a organi‑zação, em nome da coletividade, visa conservar. Na verdade, a conservação do património constitui a primeira e ultima ratio da disciplina interpretativa, cumprindo, nesta aceção, uma fun‑ção de gestão (Sharpe e Gensler, 1978:3-9; Griest e Mullins, 1984:6-8; Stoep, 2003:2-4; Marriman e Brochu, 2005). Como veremos, a sensibilização para a proteção do património pre‑

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side aos objetivos que orientam o processo de planificação, execução e avaliação de projetos interpretativos, pelo que estes deverão ter permanentemente no seu horizonte a fragilidade do património sobre o qual atuam, assim como a imperiosa necessidade de criar as condições de fruição capazes de har‑monizar um contacto com os objetos patrimoniais isento de quaisquer interferências nocivas. Ao promover projetos inter‑pretativos, a organização responsável pela gestão do património está a desviar os visitantes das áreas mais sensíveis à pressão humana e a canalizá‑los para aquelas outras capazes de a su‑portar. Independentemente dos meios que os projetos vierem a utilizar – colocando intérpretes e/ou instrumentos de visita autoguiada – a organização responsável pela salvaguarda do pa‑trimónio terá a oportunidade de estruturar as experiências de fruição cultural de acordo com critérios de sustentabilidade e, assim, alcançar com maior probabilidade o equilíbrio desejado.

Estes organismos, principalmente quando considerados no seio da esfera pública, sofrem, com frequência, de falta de visibilidade. Perguntemos a um visitante indiferenciado acer‑ca da instituição responsável pela gestão de um monumento nacional – classificado, inclusivamente, como Património da Humanidade – para nos darmos conta do desconhecimento generalizado que grassa na sociedade. A ignorância social aca‑ba por ter consequências nefastas sobre a valorização das ins‑tituições patrimoniais e, em última análise, sobre a valorização do património que gerem. A implementação de projetos in‑terpretativos constitui uma excelente oportunidade para que estas organizações se mostrem, uma vez que, no ato de comu‑nicação direta com os públicos, a sua imagem, missão e ativi‑dades se apresentarão perfeitamente clarificadas e justificadas.

Para além de participarem no financiamento das instituições responsáveis pela salvaguarda do património, os projetos in‑

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terpretativos contribuem para a criação de emprego, seja por via da alocação direta de recursos humanos, seja por intermé‑dio da abertura à iniciativa privada dos espaços patrimoniais sob tutela pública. Em Portugal, este processo tem vindo a conhecer desenvolvimentos mais significativos no âmbito das áreas protegidas, mas persiste, ainda, um vasto leque de opor‑tunidades no que se refere aos espaços culturais: monumentos, centros históricos, sítios arqueológicos, museus, centros inter‑pretativos e lugares dotados de valor patrimonial imaterial3. Há que recordar, igualmente, a capacidade que estes projetos têm na obtenção de apoios públicos e privados. Se atendermos ao quadro nacional, aos diversos níveis da administração pública (central e local), mas também aos âmbitos comunitário e inter‑nacional, existe um conjunto de programas de apoio a projetos culturais, abertos a entidades públicas e privadas. Não é, por outro lado, de desprezar o papel desempenhado pelo patrocí‑nio privado, como sublinha Reis (2003:4-32), nomeadamente através de mecanismos decorrentes de lógicas de mecenato e de uma mentalidade mais participativa e empenhada, como sucede em sociedades mais dinâmicas e críticas, no quadro da denominada responsabilidade social das empresas.

O segundo eixo estruturante da Interpretação do Património radica na sua dimensão social. Se às organizações patrimoniais cabe a proteção e conservação dos bens que têm à sua guar‑da, há um elemento complementar da sua missão, relacionado com o estudo e a didática, que encontra justificação no princí‑pio da fruibilidade universal dos bens naturais e culturais. No mundo globalizado em que vivemos, as instituições responsá‑veis pela gestão do património não podem ignorar a procura

3 Merece destaque, pela sua raridade entre nós, a publicação de um plano inter‑pretativo que incidiu sobre o património islâmico do Algarve, da autoria de Maria da Conceição Amaral (2002).

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de valores patrimoniais em diferentes escalas (locais, nacionais e mundiais). Como alerta Marta Anico (2005:84):

A sobrevivência das instituições museológicas e patri‑moniais exige, assim, que quer a sua identidade, quer a sua missão, objectivos e projectos sejam repensados e articulados de forma a ir ao encontro das necessidades de um conjunto de destinatários cada vez mais hetero‑géneo, tornando‑se mais aberto a diferentes narrativas e às circunstâncias locais, conduzindo a uma reconcep‑tualização da sua função social e estilo comunicacional.

A ênfase, segundo a autora, deve ser colocada na reflexão cuidada em torno da função social que as instituições patri‑moniais hoje desempenham, a qual deverá ser orientada para os públicos, entendidos na sua diversidade. Posicionados num lugar central, estes constituem a razão da aposta em projetos interpretativos, pois são eles que conseguem responder aos problemas com que as sociedades pós‑modernas se deparam, marcadas por processos identitários “glocais” e nostálgicos face às realidades pretéritas, e atravessadas por uma razão crí‑tica, que se interroga quanto à representatividade cultural de narrativas que teimam em excluir largos setores da sociedade.

A Interpretação do Património assume, nesta ordem de ideias, um espaço indispensável, capaz de fazer face aos desa‑fios que a atualidade nos coloca. No âmbito dos seus objetivos, contam‑se aqueles que respondem às necessidades de conheci‑mento dos visitantes, para que estes reconheçam os valores que se escondem por detrás dos objetos patrimoniais, independen‑temente de estes últimos se encontrarem associados ao mun‑do natural ou à esfera da humanidade. Como o contexto de visita a que se destina sucede em momentos de lazer, o modo como as mensagens interpretativas serão transmitidas deverá harmonizar cognição e emoção, com vista não apenas à rece‑

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ção de uma mensagem significativa, como à sua associação a sentimentos aptos a solidificá-la, num quadro mnemónico que ultrapasse a mera superficialidade.

Entendido o lugar, tomada a consciência dos valores que guarda e associado a uma imagem emocionalmente estimu‑lante, é muito mais provável que o visitante nutra apreço pelo objeto patrimonial. Apreciado o lugar, é verosímil que ele o recomende. Estimado o lugar, é, ainda, plausível que desen‑volva um sentimento de proteção e conservação, o qual será transmitido nos seus círculos de sociabilidade.

A constituição de uma atividade profissional e científica

Através da interpretação, o entendimento; através do entendimento, a apreciação; através da apreciação, a proteção.

Estas palavras foram citadas, em 1957, por Freeman Tilden em Interpreting Our Heritage, obra considerada, por muitos, fun‑dadora da disciplina da Interpretação do Património, ainda hoje incontornável para todos aqueles que lidam com as atividades interpretativas. As palavras citadas não eram suas; Tilden pôde lê‑las num manual redigido, meio século antes, por um autor anónimo do U.S. National Park Service, mas haveriam de ter, como veremos, um impacto muito significativo na teoria in‑terpretativa (Ham, 2009:49-50).

Freeman Tilden (1883‑1980) consolidou uma tradição que remontava aos finais do século XIX, materializada na criação de serviços destinados a satisfazer a procura de áreas naturais por cidadãos oriundos do mundo urbano. Os parques estavam, então, a ser objeto de proteção legal, através de mecanismos de

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classificação, pelo que cedo se fez sentir a indispensabilidade de dispor de serviços adequados às necessidades de conheci‑mento e segurança dos visitantes. Foi, aliás, neste contexto que o termo interpretação começou a ser utilizado, para se reportar à mediação cultural que o guia estabelecia entre a natureza e o visitante (Morales Miranda, 2001:39-40).

Foi exatamente neste contexto fundador que Enos Mills (1870‑1922), funcionário do Rocky Mountain National Park, desde 1889, lançou as bases que haveriam de marcar indele‑velmente o modo como os guias de natureza entenderam a sua atividade profissional. De acordo com Ward e Wilkinson (2006:6‑7), foi Mills quem, na sua experiência como guia, re‑lacionou os três elementos que registámos em epígrafe – co‑nhecimento, apreciação, proteção – empregando, para surtir o efeito desejado, um estilo “apaixonado” de apresentação do património ao público. Enquanto formador de uma vasta ge‑ração de guias de natureza procurou incutir nos profissionais o caráter simultaneamente didático e inspirador do seu traba‑lho, visando impactos positivos na mundividência e no com‑portamento dos visitantes.

Ward e Wilkinson (2006:7‑9) destacam, também, o papel desempenhado por John Muir (1838-1914), Stephen Matcher (1867‑1930) e William Penn Mott Jr. (1909‑1992) na construção da prática interpretativa: o primeiro, pela explícita utilização do termo interpretação para sublinhar a sua natureza essencialmente comunicativa; Matcher, por ter sido nomeado primeiro diretor do National Park Service (em 1916) e por ter implementado programas que conciliavam didática e recreação; Mott Jr., por ter participado na criação de numerosos parques naturais, nos Estados Unidos, e por ter destacado o papel da Interpretação no processo de disseminação social do sentimento de prote‑ção do ambiente.

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Os Estados Unidos foram, como já tivemos oportunida‑de de salientar, o país onde a Interpretação do Património foi levada a sério mais precocemente e onde conheceu, por isso, os maiores desenvolvimentos. O fenómeno revela‑se na va‑riedade de intervenções sistemáticas no campo interpretativo, originadas tanto no setor público como privado. No primei‑ro, destacam‑se as áreas protegidas e parques, tanto ao nível federal e estatal como local. São particularmente relevantes as agências federais, que implementam programas interpretativos assistidos por guias ou que dispõem de meios destinados a vi‑sitas autoguiadas, e que empregam milhares de profissionais exclusivamente dedicados à planificação, execução e avaliação de serviços interpretativos, como são os casos do já referido US National Park Service, mas também do US Department of Agriculture Forest Service, do US Fish and Wildlife Servi‑ce, do Bureau of Land Management e do US Army Corps of Engineers. No campo da iniciativa privada, há que lembrar a plêiade de organizações sem fins lucrativos, assim como as em‑presas que atuam no setor do turismo – agências de viagens e operadores turísticos, empresas transportadoras e, até, unidades de alojamento – disseminadas por todo o território america‑no (Marriman e Brochu, 2006; Ward e Wilkinson, 2006:9-12).

A experiência americana haveria de influenciar outros países de língua inglesa. Reino Unido, Canadá e Austrália foram os que mais cedo aderiram à Interpretação do Património e onde nasceram, inclusivamente, associações profissionais empenha‑das no estudo dos problemas específicos do foro interpretativo – relacionados, por exemplo, com a comunicação, a planifica‑ção ou a avaliação – em garantir formação e certificação, e em oferecer consultoria e apoio ao desenvolvimento de projetos interpretativos. Destacam‑se, para além da associação ameri‑cana (National Association for Interpretation, 1988), respeti‑

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vamente, a Association for Heritage Interpretation (herdeira da Society for the Interpretation of Britain’s Heritage, 1975), a Interpretation Canada (1976) e a Interpretation Australia (1992), dispondo, todas elas, de sítios online.

Se, como vimos, foi no âmbito da educação ambiental que a Interpretação do Património nasceu e se consolidou – sem ignorarmos a experiência escandinava, de finais do século XIX, em torno do património etnográfico (Morales Miranda, 2001:39) – foi sobretudo no pós‑2.ª Guerra Mundial que a ex‑periência acumulada acabou por compreender, igualmente, a herança cultural. Os significativos avanços nos campos da alfa‑betização e dos meios de comunicação social, a democratização do consumo cultural, a expansão da cultura do lazer, o cresci‑mento exponencial do turismo à escala mundial, assim como os progressos, muitas vezes estimulados pela globalização, na afirmação das identidades locais, todos contribuíram para a multiplicação de equipamentos e programas culturais, respon‑dendo, assim, ao aumento da procura, num processo paulati‑no, mas que tendeu a acelerar‑se e a disseminar‑se um pouco por todo o lado nas últimas décadas (Ballart, 2002:221‑253).

A Europa Continental não ficou imune a este movimento, para o qual contribuíram a crise dos modelos museológicos tradicionais e a emergência da denominada Nova Museologia, assim como a realização do IV Congresso Mundial de Inter‑pretação do Património, em Barcelona (1995). Estes fatores es‑timularam a criação de associações profissionais semelhantes às que referimos anteriormente para o mundo anglo‑saxónico, assim como o desenvolvimento de projetos interpretativos, não apenas ambientais como culturais, não apenas nos domí‑nios do património histórico, artístico e arqueológico, como no âmbito da ruralidade e da etnografia (Ballart Hernández e Juan i Tresserras, 2001:76‑79). Merecem destaque a Asociación

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para la Interpretación del Patrimonio, que, desde 1999, publi‑ca regularmente um boletim em acesso aberto, promovendo, também, formação e apoio técnico à planificação de projetos; assim como a recente criação da European Association for Heritage Interpretation (2010), que visa aplicar na Europa a experiência das nações de língua inglesa.

Em Portugal, coube ao Ministério do Ambiente – através do ex‑ICN, ex‑ICNB, hoje denominado Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas [ICNF] – e ao Ministério da Cultu‑ra/Secretaria de Estado da Cultura – através do ex‑IPPAR4, do ex‑IGESPAR, entretanto convertido em Direção‑Geral do Pa‑trimónio Cultural [DGPC] – nas respetivas áreas que tutelam, a criação das primeiras estruturas sistemáticas de apoio aos visi‑tantes, a partir da década de 1990. As áreas protegidas (Parque Nacional da Peneda‑Gerês, parques naturais, reservas naturais, paisagens protegidas e monumentos naturais, de âmbito nacio‑nal ou local e, até, de âmbito privado), assim como os bens cul‑turais, materiais e imateriais (especialmente aqueles que foram objeto de classificação como Monumento Nacional, Imóvel de Interesse Público ou de Valor Concelhio), não esquecendo aque‑les outros, naturais e culturais, integrados na Lista do Patrimó‑nio Mundial, muitos têm conhecido intervenções preocupadas em garantir uma fruição de qualidade. Destacaríamos, para além

4 Merece uma referência especial o primeiro número da Revista Património – Estudos (2001), editada pelo IPPAR, e dedicado justamente à Interpretação de Monumentos e Sítios, assim como ao projeto Itinerários Arqueológicos do Alentejo e Algarve, que dava conta das intervenções que aquele organismo público desenvolvera em numerosos sítios arqueológicos no sentido de criar condições de fruição pública, por meio da edificação de centros de acolhimento e interpretação. Cf., especial‑mente, as pp. 43-101. Muito recentemente, o Ministério da Economia, através do Turismo de Portugal, entendeu a importância da matéria interpretativa, apoiando publicações nesta área, das quais se destaca: Saldanha (2014). Guia de Boas Práticas de Interpretação do Património Religioso, numa edição conjunta com o Secretariado Na‑cional para os Bens Culturais da Igreja.

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dos numerosos museus, os núcleos e centros interpretativos ins‑talados um pouco por todo o lado, que beneficiam não apenas do apoio direto dos organismos da Administração Central e Re‑gional, mas também dos municípios e mesmo das fundações.

O conceito de Interpretação do Património

Atividade educativa e recreativa, que pretende revelar significados e inter-relações através do uso de objetos originais, por meio de contacto direto com o recurso ou por intermédio de meios ilustrativos, não se limitando a transmitir uma mera informação de factos.

Freeman Tilden (1957/1975)

Na citação, a referência às duas datas justifica-se pelo facto de o seu autor, na primeira edição de Interpreting Our Heritage, ter definido a Interpretação do Património como uma ativida‑de educativa, vindo a rever a sua definição aquando da segunda edição da obra, à qual acrescentou o elemento recreativo. De facto, como tivemos oportunidade de mostrar, a dupla dimen‑são, educativa e recreativa, marcara a atuação dos intérpretes do património desde os tempos fundadores, o tempo dos guias de natureza, nos primeiros parques norte‑americanos. Vejamos outras definições e retiremos, de seguida, ilações para uma de‑finição mais densa de Interpretação do Património, que, à pri‑meira vista e sem outras referências, se apresenta como um conceito difícil de entender.

A arte de explicar o lugar do homem no seu meio, com a finalidade de incrementar na consciência do vi‑sitante a importância dessa interação e despertar nele o desejo de contribuir para a conservação do ambiente.

Aldridge (1973)

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Processo de comunicação que, baseado numa mis‑são, produz conexões emocionais e cognitivas entre os interesses do público e os significados inerentes ao recurso.

National Association for Interpretation

A arte de revelar in situ o significado do legado natural, cultural ou histórico ao público que visita esses lugares durante o seu tempo de lazer”.

Asociación para la Interpretación del Patrimonio

A arte de explicar ao público o caráter de um lugar, especialmente aos visitantes ocasionais, de forma a que estes tomem consciência do significado do sítio que visitam e desenvolvam o desejo de conservá‑lo.”

Countryside Commission for Scotland

A análise das definições permite, desde logo, distinguir a dimensão didática a que se referem, a que acontece em con‑texto interpretativo, daquela outra, estritamente pedagógica, que associamos a contextos de educação formal. Peart (1986) comparou as duas situações para sublinhar as especificida‑des da Interpretação do Património. Segundo ele, as grandes diferenças residem na tipologia dos espaços que as acolhem, na natureza mais ou menos pré‑determinada de conteúdos e horários, na origem das motivações, nos tipos de grupos, assim como no caráter mais ou menos voluntarioso da as‑sistência. No que diz respeito à educação formal, pensamos nas escolas, as quais trabalham com programas ministeriais. Estes definem, à partida, competências a desenvolver, resul‑tados de aprendizagem esperados, conteúdos e tempos leti‑vos, de frequência obrigatória, por grupos etários homogé‑neos e movidos por uma motivação externa. Por seu lado, a

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Interpretação do Património desenvolve‑se em lugares muito variados – áreas protegidas, jardins botânicos e zoológicos, museus, centros interpretativos, monumentos, centros his‑tóricos, sítios arqueológicos... – frequentados por grupos es‑pontâneos, heterogéneos e intrinsecamente motivados, que procuram programas e atividades desprovidos de conteúdos ou horários rígidos, destinados a ocupar os seus tempos de lazer e turismo.

Entendida nestes termos, a Interpretação não pode ser confundida com aulas ao ar livre, nem sequer com visitas de estudo. O intérprete deve estar bem ciente destas diferenças para que responda com propriedade às expetativas dos visitan‑tes. Isto não significa que as propostas a dirigir ao público de‑vam ser vazias de conteúdo. A investigação tem demonstrado que os visitantes do património se movem pela curiosidade. Desejam, por isso, aprender algo novo, mas de um modo ins‑pirador e enriquecedor, para que o contacto com a herança cul‑tural e natural adquira foros de autêntica experiência (cf. Falk e Dierking, 1992; Ryan e Sterling, 2001; Packer e Ballantyne, 2002; Malcolm-Davies, 2004).

O elemento recreativo a que as definições se referem não pode ser entendido na exclusiva condição de entretenimento. A recreação adquire, no âmbito interpretativo, moldes de frui-ção, pelo que o intérprete, enquanto mediador cultural, mais não faz do que facilitar as condições da relação estabelecida entre o objeto patrimonial e o visitante‑recetor, para que este construa significados capazes de lhe proporcionar prazer in‑telectual ou estético.

Enquanto atividade profissional, a Interpretação do Patri‑mónio cruza uma dimensão simultaneamente artística e cien‑tífica (Beck e Cable, 2002a). O modo como o intérprete irá proporcionar as condições de fruição depende tanto da sua

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criatividade como da sua preparação intelectual. As atividades e programas interpretativos assentam, como veremos, no estu‑do aturado dos recursos patrimoniais, na análise dos públicos atuais e potenciais, no conhecimento das ferramentas de plani‑ficação, execução e avaliação, no desenho de meios interpreta‑tivos, na realização de benchmarking... No entanto, elas só surti‑rão o efeito desejado se o intérprete fizer uso de competências criativas, aptas à inovação e diferenciação das suas propostas, assim como à atração e satisfação dos visitantes.

Enquanto atividade de mediação cultural, a disciplina In‑terpretativa utiliza instrumentos comunicativos. Independen‑temente dos canais que o intérprete venha a utilizar – meios pessoais (guias, monitores, especialistas e outros profissionais) ou meios não pessoais (suportes escritos, sonoros, visuais, au‑diovisuais e/ou digitais)5 – o recurso a ferramentas comunica‑tivas implica o exímio conhecimento das suas características e funcionamento, a compreensão das suas vantagens e desvan‑tagens, bem como o entendimento dos critérios para a sua se‑leção, combinação e avaliação.

A comunicação interpretativa, de acordo com todos os auto‑res, deve acontecer preferencialmente in situ, nos lugares onde o património se localiza. Esta condição decorre do facto de se considerar que é verdadeiramente no contacto direto com os bens culturais que os valores patrimoniais são melhor enten‑didos, sentidos e, em última análise, fruídos. A partir dos anos 90 (Thompson, 1994; Uzzell, 1996; Winter e Gasson, 1996; Stewart e Kirby, 1998; Voase, 2007), a investigação no âmbito

5 Sobre a problemática dos meios interpretativos, veja‑se, entre outros, os estu‑dos de Morales Miranda (2001), Pastorelli (2003), Evans e Evans (2004), Leftrid‑ge (2006), Moscardo, Ballantyne e Hughes (2007), Caputo, Lewis e Brochu (2008), National Park Service (2011).

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daquilo a que podemos chamar um “paradigma experiencial” tem explorado a problemática do sentimento de lugar, apro‑fundando, assim, uma intuição que estava na mente dos intér‑pretes desde as origens da disciplina, mas que agora adquire uma abordagem mais sistemática.

Toda a ação interpretativa tem na sensibilização para a pro‑teção do património o seu primeiro e último horizonte. Ela responde, no fundo, à necessidade social dos sentimentos de estabilidade e de continuidade temporal, os quais dependem tanto da relação harmoniosa do homem com a natureza como com a sua herança cultural. Para isso, o intérprete deverá ser capaz de articular muito bem as finalidades cognitivas e emo‑cionais dos programas que executa com uma mensagem de conservação. Poderíamos aqui recordar a frase que Freeman Tilden coligiu no seu livro, Interpreting Our Heritage, a partir da inscrição que lera no US National Park Service, que traduz o axioma: “cuidamos o que amamos, amamos o que conhe‑cemos”. Ou, para usarmos os termos empregados por Risk (1982), se formos capazes de criar no visitante sensibilidade, consciência, entendimento e entusiasmo, alcançaremos, de‑certo, compromisso.

Em síntese, uma definição de Interpretação do Património deverá articular os seguintes elementos:

• O elemento educativo e recreativo;• A componente científica e artística;• A sua natureza, essencialmente, comunicativa;• Os contextos de lazer e turismo em que se desenrola;• A experiência inspiradora, enriquecedora e memorável;• A proteção da herança natural e cultural.

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Os princípios essenciais da Interpretação do Património

Às portas do século XXI, Beck e Cable (2002b) propu-nham-se reavaliar as propostas que, quarenta anos antes, Fre-eman Tilden (1957) definira como princípios que deveriam guiar a Interpretação do Património. Tilden redigira o seu livro em torno dos seguintes seis princípios fundamentais:

1. A interpretação que, de algum modo, não relacione aqui-lo que está a ser apresentado ou descrito com algo que se encontre na personalidade ou na experiência do visi-tante será estéril.

2. A informação, tal qual, não é interpretação. A interpre-tação é revelação assente em informação, mas são coisas completamente distintas. No entanto, toda a interpreta-ção inclui informação.

3. A interpretação é uma arte que combina muitas outras artes, independentemente de os materiais apresentados serem científicos, históricos ou arquitetónicos. Qualquer arte é, de certo modo, ensinável.

4. O objetivo fundamental da interpretação não é a instru-ção, mas a provocação.

5. A interpretação deve procurar apresentar o todo em vez da parte, e deve dirigir-se ao indivíduo no seu con-junto, e não a uma circunstância específica.

6. A interpretação dirigida a crianças não deveria ser uma diluição daquela que se destina a adultos, mas deveria seguir uma abordagem diferente. Para obter o máximo proveito, ela necessitaria de um programa específico.

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Beck e Cable (2002a:8) propuseram os seguintes princípios:1. Para despertar o interesse, os intérpretes devem ser ca‑

pazes de relacionar os conteúdos das suas mensagens com as vidas daqueles que compõem a sua audiência.

2. O propósito da interpretação ultrapassa a mera trans‑missão de informação. A interpretação procura revelar uma verdade e significado profundos.

3. Toda a apresentação interpretativa – tal como uma obra de arte – deveria ser desenhada como uma história, que informa, entretém e ilustra.

4. O propósito da mensagem interpretativa é inspirar e pro‑vocar, para que as pessoas ampliem os seus horizontes.

5. A interpretação deveria apresentar um tema ou argumen‑to completos, e deveria dirigir‑se à pessoa como um todo.

6. A interpretação para crianças, adolescentes e seniores – quando estes formam grupos uniformes – deveria seguir abordagens diferentes.

7. Todo o lugar tem uma história. Os intérpretes podem reavivar o passado para tornar o presente mais aprazível e o futuro mais significativo.

8. As tecnologias podem revelar o mundo de formas novas e apaixonantes. No entanto, a sua incorporação nos pro‑gramas interpretativos deve realizar‑se com precaução.

9. Os intérpretes devem ponderar a quantidade e a quali‑dade da informação a transmitir (quanto à sua seleção e precisão). Bem sintetizada e fundamentada numa boa investigação, a interpretação terá mais poder do que um grande discurso.

10. Antes de se dedicar à interpretação, o intérprete deve familiarizar‑se com as técnicas básicas da comunicação. Uma interpretação de qualidade fundamenta‑se nos co‑

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nhecimentos e competências do intérprete, os quais de‑vem ser desenvolvidos de forma contínua.

11. Os textos interpretativos deveriam focar‑se naquilo que os leitores mais gostassem de conhecer, deveriam ser re‑digidos com a clarividência, a humildade e a responsabi‑lidade que exigem.

12. Um programa interpretativo deve ser capaz de conse‑guir apoio – político, financeiro, administrativo, volun‑tariado – e toda a ajuda necessária para que prospere.

13. A interpretação deveria infundir nas pessoas a capaci‑dade e o desejo de sentir a beleza do meio envolvente, proporcionar elevação espiritual e encorajar a conserva‑ção dos recursos.

14. Os intérpretes podem promover excelentes experiên‑cias interpretativas, através de programas e serviços bem concebidos e desenhados de forma intencionada.

15. A paixão é o ingrediente indispensável para uma inter‑pretação poderosa e efetiva; paixão pelo recurso e por aqueles que procuram inspirar‑se nele.

A comparação das duas propostas permite‑nos, desde logo, depreender a coincidência dos seis primeiros princípios de Beck e Cable (2002b) com os princípios que Tilman (1957) havia proposto anteriormente, ressalvadas ligeiras diferenças de formulação. Considerados na sua globalidade, eles podem ser agregados em torno de alguns conjuntos fundamentais, in‑timamente relacionados entre si. Destacamos aqueles que nos parecem mais significativos, pela sua função desconstrutiva, relativamente a algumas perceções preconcebidas:

a) Informação versus interpretaçãoTodos os autores sublinham que interpretação não é sinóni‑

mo de informação. É natural que o intérprete utilize informação

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para sustentar a transmissão das mensagens, no entanto, deve‑rá fazê‑la depender de uma seleção rigorosa e sistemática, para que os programas e atividades oferecidos não resultem numa sobrecarga de dados e factos, sob pena de estes não virem a ter o impacto pretendido nos visitantes. Este aspeto merece ser particularmente acentuado, uma vez que a Interpretação procura afirmar-se como solução alternativa às apresentações tradicionais, demasiado influenciadas pelos contextos de edu‑cação formal. O ambiente escolar, vimo‑lo já, distingue‑se cla‑ramente da educação não formal, onde ocorre a Interpretação do Património, pelo simples facto de estar condicionado por uma estrutura há muito consolidada e por programas obrigató‑rios, destinados a preparar o estudante com vista à sua progres‑são a níveis mais complexos de conhecimento e competências. A escola dispõe, para isso, de um conjunto de mecanismos de transmissão e aquisição do saber, manuais escolares e outros equipamentos com que os professores criam oportunidades de aprendizagem. Os estudantes respondem, por sua vez, às soli‑citações daqueles, consolidando os seus conhecimentos, tanto na escola como em casa, de acordo com a prescrição ministe‑rial, que introduz, em última análise, modalidades de monitori‑zação do sistema educativo complementares às avaliações que pautam o quotidiano das instituições de ensino.

Os indivíduos que, no seu tempo livre e movidos por uma atitude de aprendizagem, visitam espaços dotados de valor pa‑trimonial, não esperam, decerto, encontrar um professor que lhes ministre uma aula. Não estarão, por exemplo, munidos do material de escrita destinado ao registo de apontamentos, muito menos esperam vir a ser avaliados, ao contrário daqui‑lo que sucede com o estudante, que precisa desses materiais para o estudo, na certeza de poder vir a demonstrar os conhe‑cimentos adquiridos.

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Acontece que muitos guias e monitores de atividades in‑terpretativas, quantas vezes desprovidos de formação espe‑cialmente adequada aos contextos de educação não formal, acabam por reproduzir o modelo social predominante, que é o do professor, designadamente na sua versão magistral. Observamos esta realidade em visitas guiadas, profundamente descritivas, carregadas de dados cronológicos, de características e de vocabulário técnico, sem a consciência de um tema agre‑gador e orientador das mensagens que se pretendem transmitir. Nestes casos, parece que o critério observado é o de “esgotar” o objeto, para que o visitante valorize não apenas a riqueza do bem (cultural ou natural) que está a ser apresentado, como fi‑que impressionado com a erudição do próprio guia.

A comunicação interpretativa deve atender à investigação produzida em torno da efetividade das mensagens transmiti‑das e à capacidade de absorção e retenção de informação na memória. Se a informação exceder os limites da razoabilidade facilmente incorre em inoperacionalidade: os visitantes não identificarão a mensagem nem saberão reproduzi-la. Há que observar, deste ponto de vista, alguns critérios fundamentais, como a clareza da comunicação, a sua atratividade, a sua se‑quenciação lógica, assim como a sua organização em torno de um tema (Morales Miranda, 2001:107-114).

b) Abordagem holística e relevância ao egoSe interpretar não significa, simplesmente, informar, mas

revelar significados, a chave dessa revelação reside na identifi‑cação de afinidades entre os aspetos tangíveis dos sítios apre‑sentados (artefactos, estruturas, ambientes, espécies...) e os conceitos – intangíveis – associados a esses recursos; “concei‑tos universais”, como as noções de beleza, liberdade, comuni‑dade, coragem, responsabilidade, democracia, mistério, aven‑

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tura, harmonia, espiritualidade, proteção... confrontados com os seus antónimos (Beck e Cable, 2002b:24).

É necessário, portanto, que a mensagem transmitida consi‑ga criar vínculos com as experiências anteriores dos públicos a quem a Interpretação é dirigida. A Psicologia ensina‑nos que a aquisição de conhecimento se estrutura e funciona de acordo com mapas cognitivos, associações estabelecidas entre aquilo que sabíamos e aquilo que aprendemos, por processos de re‑conhecimento, acumulação e interação. Para que a informação seja retida a longo prazo, precisa de adquirir significado, o que depende da associação dos novos informes às referências an‑teriormente recebidas. A produção de sentido depende deste quadro de possibilidade, mas também da atratividade que as mensagens e os temas interpretativos despertam na audiência. Daí a importância que assumem os estudos de públicos, visan‑do não apenas conhecer as características sociodemográficas dos visitantes (idade, género, origem geográfica ou atividades profissionais), assim como as suas motivações, expetativas, va‑lores, atitudes, preconceitos e padrões de satisfação6.

Uma boa forma de criar vínculos com os objetos a inter‑pretar é humanizando‑os, personalizando‑os, para que eles se libertem da frieza “científica” com que, por vezes, são apre‑sentados e revelem as vidas reais que se relacionaram com eles. Esta via humanizada permitirá ao intérprete ligar as vidas ante‑riores às nossas próprias vidas, identificando afinidades e dife‑renças. A descoberta de algo novo, o estabelecimento de uma relação que jamais havíamos notado, associada ao entusiasmo

6 Veja‑se as sínteses sobre os estudos de públicos em museus, com ampla refe‑renciação bibliográfica e com a apresentação de métodos e técnicas diversificados, adaptáveis ao estudo de perfis e comportamentos de visitantes de outros espaços patrimoniais, em Hooper-Greenhill (1998), Pérez Santos (2000) e Urgell Plaza (2014).

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e paixão revelados pelo intérprete têm, usualmente, o poder de contagiar a audiência.

Sabemos que não conseguimos reter muitas informações e conceitos em pouco tempo. É, por isso, necessário que o intérprete seja capaz de isolar, de entre as muitas possibilida‑des, um tema em torno do qual selecione um conjunto redu‑zido de tópicos intimamente relacionados entre si e dispostos de acordo com uma ordem lógica. Este tema deverá assumir uma dimensão global, capaz de traduzir uma mensagem ho‑lística, que o público recordará. Na era da informação, so‑mos confrontados, todos dias, por factos, que, isolados, per‑dem significado. É exatamente o significado que o intérprete procura, um sentido que relacione a mensagem subjacente ao tema connosco, uma mensagem que consiga colocar‑nos em alinhamento com o passado, o presente, o futuro, o meio social e ambiental, que dê sentido às nossas vidas. Uma inter‑pretação baseada em temas conseguirá ultrapassar os limites dos objetos (materiais ou imateriais) que se apresentam ao público, uma vez que os temas visam demonstrar teses ou argumentos providos de uma mensagem universal, reconhe‑cível por todos, independentemente dos distintos capitais culturais dos visitantes. O tema deverá conter uma oposi‑ção, deverá criar um motivo que suscite discordância, inter‑rogação, discussão. Deste modo, conseguiremos envolver a audiência, através da provocação, despertando a sua atenção e participação efetivas, trazendo à tona diferentes pontos de vista acerca do mesmo assunto.

A interpretação deve não apenas apresentar o todo, mas di‑rigir‑se aos visitantes na sua integralidade. Daí que os intérpre‑tes devam empenhar‑se no conhecimento dos seus públicos, para entenderem as suas necessidades globais, as quais depen‑dem não apenas de fatores intrínsecos como de razões deter‑

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minadas por contextos ambientais, como são as necessidades de segurança, pertença, estima e autorrealização. Mais ainda, os intérpretes não devem apenas endereçar as suas mensagens às necessidades intelectuais, mas também àquelas que depen-dem de uma relação mais sensorial com os lugares, estimulan-do o uso de todos os sentidos, com vista à realização de uma experiência holística. Do mesmo modo, deve ter em conta não apenas o sítio que interpreta na sua especificidade, mas na sua relação com outros sítios do mesmo género ou com a área ge-ográfica em que esse lugar se insere.

c) Comunicação e criatividadeA Interpretação do Património é uma arte. Mas para que ela

atinja a dimensão artística, é preciso que o intérprete domine previamente as técnicas da comunicação. E para desempenhar com qualidade a comunicação não pessoal, aquela que utiliza meios escritos, audiovisuais ou digitais, é necessário, antes de mais, que se dominem as competências de oralidade.

É necessário que todo o intérprete vença o medo de falar em público, preparando muito bem as suas apresentações; fo-cando o seu olhar nos visitantes, encontrando apoios naque-les que pareçam estar mais atentos; usando um tom audível, natural, amigável e de conversação; articulando corretamente o discurso para que este adquira clareza; imprimindo ritmo e vitalidade adequados ao efeito que se pretende alcançar na au-diência, assim como os silêncios necessários, para que as apre-sentações não resultem em monotonia. A linguagem corporal complementa a oral, devendo acompanhar a conversação de modo harmonioso, usando os gestos e as expressões faciais necessários ao reforço das mensagens a transmitir, utilizados sempre de modo ponderado e sincero.

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A formação e a experiência conduzirão o intérprete no sen-tido de aperfeiçoar as suas competências comunicativas, de modo que o seu trabalho atinja o estatuto de verdadeira arte. Esta refere-se ao processo criativo de organizar a narrativa. A teoria é unânime em considerar as vantagens de elaborar a apresentação como se se tratasse de uma história, composta por uma introdução, que apresente e desperte o interesse pelo tema, um desenvolvimento, organizado em torno de tópicos essenciais, em direção a uma conclusão, que remeta para a tese que se procurou apresentar desde o início.

De facto, as técnicas narrativas têm o poder de captar a atenção dos ouvintes. Os contadores de histórias, indepen-dentemente de narrarem eventos históricos ou imaginados, costumam ter bastante sucesso, não apenas entre as crianças como entre os adultos. A literatura, o cinema, o teatro, a dan-ça e outras expressões artísticas recorrem permanentemente a essas técnicas, destinadas a envolver o recetor. O intérpre-te deve conhecer estas ferramentas para que as adapte à sua função interpretativa. Sirva-lhe de inspiração a velha Retórica, onde encontrará muitas sugestões. Aí, achará os recursos ex-pressivos capazes de tornar a narrativa mais pessoal, interes-sante e significativa, os exemplos, as metonímias, as analogias e as comparações, as amplificações, as metáforas, as citações, as repetições, a ironia, as analepses e as prolepses capazes de alcançar os efeitos de sentido pretendidos.

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A planificação de projetos interpretativos

O sucesso das atividades e programas interpretativos de‑pende não só do conhecimento da teoria da Interpretação do Património como do esforço a incutir na planificação dos pro‑jetos. Esta poderá incidir sobre a gestão dos espaços patrimo‑niais ou focar‑se na atenção aos públicos. Poderá abranger um âmbito geográfico regional (Guerra Rosado, Sureda Negre e Castells Valdivielso, 2008), nacional ou, até, internacional, como circunscrever‑se a um lugar. Poderá, ainda, compreender tanto um programa de atividades, como ater‑se, tão‑somente, a uma atividade ou meio interpretativo (Morales Miranda, 2001:168‑170). A dimensão espacial e temporal dos projetos acarreta, naturalmente, problemas complexos, que decorrem de condi‑cionalismos legislativos e administrativos, e do envolvimento de múltiplos interessados: a tutela, os proprietários de bens patrimoniais e os representantes das comunidades.

É no âmbito – digamos – mais microscópico, o daquele que visa diretamente os visitantes, que trataremos a temática da planificação, de modo que o leitor descubra vias de opera‑cionalização dos cenários interpretativos que apresentaremos nos capítulos seguintes. Conhecido o processo e os proble‑mas que lhe estão subjacentes, todo aquele que pretenda criar oportunidades no campo da Interpretação do Património en‑contrará aqui alguma orientação, que – cremos – lhe será útil.

O problema da planificação tem sido amplamente tratado por intérpretes e estudiosos da Interpretação, oriundos dos pa‑íses onde ela tem merecido maior atenção e desenvolvimen‑to. O seu estudo e a respetiva apresentação de resultados têm sido promovidos, principalmente, pelas referidas associações profissionais, mas também por organizações responsáveis pela

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gestão de áreas protegidas (Ham, 1992), tanto no âmbito da natureza como da cultura.

A literatura sobre a matéria concorda no facto de a planifi‑cação constituir um processo sequencial e dinâmico, que per‑mite acolher as modificações que decorrem da utilização de dados produzidos em diferentes fases, assim como das cor‑reções ditadas por processos de avaliação, que devem acom‑panhar todo o ciclo de planificação e execução. Estes últimos devem ser entendidos como oportunidades de ajustamento a implementar não apenas no final do processo, mas a partir dos primeiros passos de construção do plano.

O empenho a colocar na planificação decorre da indispen‑sabilidade de uma atitude sistemática no desenvolvimento de projetos. Muitas vezes, temos excelentes ideias, mas elas acabam por não surtir efeitos positivos, porque não damos o devido valor à fase de desenho inicial. Um plano bem construído tra‑rá vantagens diretas para o sucesso da atividade ou programa interpretativo, uma vez que define conscientemente os elemen‑tos que o constituem, racionalizando‑os. Tende a acometer a integralidade dos seus condicionantes, diminuindo e precaven‑do as possibilidades de erro. Um plano bem gizado terá, ain‑da, a vantagem de demonstrar a sua viabilidade – económica, financeira, social, cultural – beneficiando, com maior proba‑bilidade, do apoio – político, administrativo, financeiro... – de que depende. Quando bem preparado, o plano mostrará, em última análise, o profissionalismo da equipa que o concebeu.

Não existe um modelo único de planificação. Ainda que alguns autores, mercê da sua experiência e da amplitude que procuram dar às suas sugestões, apresentem variantes, há um conjunto de fases que todos aceitam e que passaremos a enun‑ciar. Utilizamos três referências principais, Morales Miranda (2001), Brochu (2003) e Veverka (2011a), embora recorramos a outros autores para esclarecimentos adicionais.

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O processo de planificação

Todo o plano interpretativo deverá começar por se apoiar nos modelos da comunicação. Há um conjunto de questões de partida que o intérprete, ou a equipa, deverão colocar para que o trabalho perfilhe uma linha orientadora lógica e para que a equipa visualize, quanto antes, a imagem aproximada daquilo que constituirá o resultado final.

Veverka (2011a:52) lembra, a este propósito, as duas inter‑rogações a colocar ao próprio ato de planificação, as quais di‑tarão a sequência e o formato adotados pelo plano: a) O que é que eu pretendo atingir com o plano? b) O que é que eu quero que o plano documente? Resolvidas estas dúvidas iniciais, se‑gue-se um novo conjunto de problemas que definirão as fases de construção do plano interpretativo e que poderão ser resu‑midas no esquema que se segue (figura 8), baseado em Peart e Woods (1976), e recorrentemente utilizado pelos sucessivos teóricos da planificação interpretativa:

Emissor porquê? objetivos

Co

mo ava

Liar?

mEnsagEm

o quê? reCursos

Como?quando?onde?

meios

rEcEtor a quem? destinatários

Figura 8. Modelo de Comunicação

O modelo que Peart e Woods (1976) nos propõem par‑te das componentes essenciais das situações de comunica‑ção – emissor, recetor e mensagem – às quais associamos as questões que queremos ver resolvidas no decorrer do plano. Temos o emissor, que será o intérprete, ou a equipa responsá‑

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vel pela implementação do plano, que identificarão as razões do mesmo, as quais acabarão por ser concretizadas em obje‑tivos. Definidas as finalidades, há que tomar decisões acerca dos recursos patrimoniais disponíveis e dos significados que estes recursos revelam, passíveis de vir a ser consubstancia‑dos em temas e tópicos interpretativos. Haverá, por isso, que selecionar e construir os meios, assim como decidir acerca dos contextos espaciotemporais que favorecerão a transmis‑são da mensagem ao visitante. Esta decisão dependerá, de‑signadamente, dos tipos de públicos a que o intérprete se di‑rige ou pretende vir a dirigir‑se. Há, portanto, que conhecer os visitantes – reais ou potenciais – para que se possa ade‑quar a mensagem às suas características. Este quadro de in‑terrogações será completado pelo processo de avaliação, o qual obriga à inversão dos papéis. O recetor adota, agora, a função de emissor, respondendo aos estímulos lançados pelo intérprete. A avaliação segue, assim, um sentido contrário ao anterior, visando testar o alcance dos objetivos definidos no início e, no seu intermédio, a efetividade dos respetivos meios interpretativos.

Morales Miranda (2001) e Veverka (2011a) adotam sen‑sivelmente a mesma metodologia de planificação, ao passo que Brochu (2003), com o seu 5-M Planning Model (figura 9), introduz um modelo alternativo, que cruza a abordagem se‑quencial dominante com uma outra que atende, no âmbito de cada fase, a um conjunto de componentes críticas, que auxiliam a equipa de planificação a considerá-las em perma‑nência, para que não se desvie das suas finalidades funda‑mentais: garantir a satisfação do visitante e a perenidade do serviço interpretativo.

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Figura 9. O Processo de Planificação. Fonte: Adaptado de Brochu, 2003:51.

Brochu propõe (figura 10) que, em cada uma destas fases, a equipa atenda aos seguintes elementos críticos:

Figura 10. Modelo dos 5‑M. Fonte: Adaptado de Brochu, 2003:63.

Trata‑se de um modelo que visa a gestão integrada do processo de planificação. Os seus elementos servem a equi‑pa em todos os momentos deste processo, para que ela não se desvie do caminho que deverá trilhar, para que não com‑partimente de tal modo os resultados do seu trabalho que perca de vista a missão da organização ou a própria filoso‑fia da Interpretação do Património. A “gestão” (management) refere‑se, por isso, à missão, à visão, às metas, aos objetivos e aos regulamentos da organização que promove o projeto interpretativo; o elemento “mercados” (markets) diz respeito aos públicos a quem se destina o projeto, independentemen‑te de este poder ser desenvolvido por uma organização pú‑

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blica ou privada, e lida com as metodologias do Marketing; a “mensagem” (message) tem que ver com o tema, subtemas e tópicos interpretativos em torno dos quais o plano se estru‑tura; o elemento “mecânica” (mechanics) reporta‑se a questões materiais, muito práticas, àquele tipo de objetos físicos que facilitam a experiência do visitante, e que se encontram im‑plícitos no desenho de programas e atividades, em percursos, nas localizações ou nas acessibilidades. Por fim, os “meios” (media) dizem respeito aos canais empregados na comunica‑ção das mensagens, independentemente de eles poderem vir, ou não, a ser assistidos por intérpretes.

O processo de planificação proposto por Lisa Brochu aca‑ba por não diferir muito dos de Morales Miranda (2001:174) e Veverka (2011b:187). Com maior ou menor grau de detalhe, todos respeitam a sugestão de Peart e Woods (1976).

Figura 11. O Processo de Planificação. Fonte: à esquerda, segundo Morales Miranda, 2001:174; à direita, segundo Veverka, 2011b:187

No fundo, o que Brochu faz é simplificar as operações que os seus colegas tendem a pormenorizar. Assim, na fase que a autora denomina de Informação, ela agrega os três primeiros pas‑sos de Morales Miranda e a fase A de Veverka. Trata‑se de um

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momento prévio ao plano propriamente dito, dedicado à pro‑dução dos dados necessários à sua construção, como a análise da situação atual em que os recursos patrimoniais se encon‑tram, não só do ponto de vista do seu estado de conservação, como da sua acessibilidade e da posição que ocupam no que se refere ao seu uso social, cultural ou turístico. Este trabalho é acompanhado de outros dois, relacionados com a formula‑ção de objetivos e com o estudo.

Nesta fase, os objetivos decorrem da necessidade percebida de atuação. A elaboração de um plano interpretativo não surge por mero acaso. Ele acontece, porque determinada organiza‑ção sente a necessidade de valorizar um bem patrimonial ou entende melhorar os serviços de acolhimento aos visitantes ou, ainda, porque procura encontrar oportunidades de incremento económico e social. A formulação de objetivos apresenta, por isso, uma condição ainda demasiado genérica, dirigindo‑se às grandes metas a alcançar com a própria elaboração do plano, e que são, essencialmente, finalidades de gestão.

O estudo constitui a operação que maior peso ocupa du‑rante este período. O conhecimento dos recursos, das suas características e significados históricos, sociais ou naturais, implica a identificação e exploração de fontes de informação primárias e secundárias. As primeiras são constituídas pelos próprios recursos patrimoniais, por aquilo que a sua observa‑ção e análise permitem perceber, complementadas pelas se‑gundas, as quais nos deixam compreender o “estado da arte”. Os restantes pertencem a níveis inferiores Esta bibliografia está, normalmente, disponível não apenas nas bibliotecas cen‑trais, mas também, e por vezes até com maior probabilidade, nas bibliotecas concelhias, uma vez que os municípios cos‑tumam não só apoiar a publicação de monografias e outros estudos de interesse local, como têm por hábito recolher in‑

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formação relevante sobre os seus territórios. Há, igualmente, que consultar informação guardada em repositórios digitais, disponibilizada por instituições de ensino superior, por or‑ganismos públicos (centrais e locais) e por associações espe‑cializadas em determinados domínios de investigação, con‑servação e valorização do património.

A compilação de informação acerca dos recursos deve, por fim, beneficiar das aportações que a viva voz de informantes di‑versificados será capaz de enriquecer. Pensamos nos estudiosos de âmbito local, profundos conhecedores dos bens culturais e naturais da região; nos especialistas universitários, capazes de integrar os exemplos locais nas redes nacionais e internacio‑nais de que fazem parte, atribuindo, assim, dimensão “global” àquilo que, à primeira vista, parece constituir uma especifici‑dade; pensamos, ainda, nas perceções de outros membros da comunidade, especialmente dos mais idosos, através das me‑mórias que guardam de tempos pretéritos, os quais se encon‑tram em posição de avaliar as transformações que a sociedade e a paisagem foram, paulatinamente, sofrendo.

A fase dedicada à informação é, também, marcada pela co‑lheita de dados acerca daqueles que, atual ou potencialmente, estão entre os públicos a quem se destina a ação interpreta‑tiva. É necessário, por isso, conhecer as características dos visitantes, de acordo com categorias como a origem geográ‑fica, inserção social e económica, faixas etárias, padrões de visita, tipos de grupos (familiares, amigos ou grupos organi‑zados), públicos com necessidades especiais, capital cultural, expetativas, perceções e motivações, e a ligação que mantêm com os recursos.

Como sublinha Morales Miranda (2001:177), no final da primeira fase, a da Informação, a equipa deverá estar bem docu‑mentada acerca dos seguintes aspetos:

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a) Características dos visitantes (atuais e potenciais);b) Sítios com potencial interpretativo;c) Conceitos e tópicos passíveis de interpretar;d) Infraestutura que acolherá a ação interpretativa. A fase que Lisa Brochu denominou de Análise correspon‑

de àquelas que Morales Miranda chamou de análise e síntese, mantendo‑se, para Veverka, no primeiro estádio do processo de planificação. A análise diz respeito às implicações trazidas pela informação recolhida, que se traduzem em direções a se‑guir no processo de tomada de decisão prévio à ação inter‑pretativa. Trata‑se, no fundo, de analisar os dados relativos às alíneas de Morales Miranda já indicadas e que consistem na identificação dos sítios com maior potencial interpretativo, e agregados por propriedades comuns, de acordo com cri‑térios de singularidade, atratividade, resistência ao impacto, acessibilidade, sazonalidade, afluência atual de públicos, dis‑ponibilidade de informação, facilidade de explicação, perti‑nência dos conteúdos, segurança oferecida, facilidade de ins‑talação e manutenção de infraestruturas (Morales Miranda, 2001:178‑181).

Trata‑se, igualmente, de analisar os utilizadores dos recur‑sos, de acordo com os perfis referidos anteriormente, assim como se trata de formular objetivos cada vez mais específicos, que não atendam apenas às necessidades de gestão do servi‑ço interpretativo, designado, por vezes, serviço educativo ou de acolhimento a visitantes – em articulação com outros de‑partamentos (de vigilância, administração, investigação, ma‑nutenção) – mas de entrar num nível cada vez mais específico, diretamente relacionado com a comunicação das mensagens interpretativas, por meio de programas e atividades. Trata‑se, em última análise, de selecionar os temas e os tópicos interpre‑tativos, assim como os equipamentos e os meios.

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Jorge Morales Miranda John A. Veverka

1. Equipa técnica2. Introdução3. O recurso4. Os destinatários5. Objetivos6. Mensagem7. Serviços interpretativos8. Avaliação9. Investigação complementar10. Recomendações de execução11. Referências e apêndices

1. Índice2. Introdução3. Porquê3.1. Finalidades3.2. Estrutura administrativa (opcional)3.2. Âmbito de aplicação4. O quê4.1. Inventário dos recursos4.2. Localização dos recursos4.3. Tema interpretativo principal e subtemas5. Quem5.1. Características dos visitantes5.2. Segmentação5.3. Motivações, expetativas, per‑ceções5.4. Sistemas de orientação5.5. Padrões de comportamento6. Como/Quando/Onde6.1. Temas interpretativos6.2. Objetivos6.3. Meios interpretativos6.4. Justificação e comentários7. Implementação e operações (estra‑tégias, orçamentos, recursos humanos e materiais...)8. Avaliação9. Bibliografia e apêndices

Figura 12. O Plano Interpretativo.

Se alguma dúvida restasse, a fase seguinte é justamente re‑servada à tomada das grandes decisões, que serão vertidas no plano de ação, também conhecido por Plano Interpretativo, a última fase da planificação para Lisa Brochu. Estes dois está‑dios da sua proposta correspondem às fases B, C e D de Ve‑verka, relativas à seleção de meios e serviços interpretativos, às recomendações de implementação e de avaliação, e aos passos

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que se sucedem à análise, que, na sugestão de Morales Miran‑da, são o plano, as recomendações de execução e de avaliação. Observem‑se as propostas de Morales Miranda (2001:193) e Veverka (2011a:57-59), sintetizadas na figura 12, quanto ao formulário a que deve obedecer o plano.

Nos pontos que se seguem, iremos deter‑nos sobre duas questões fundamentais, que decorrem do processo que acabá‑mos de expor, mas que merecem uma atenção mais detalhada, uma vez que constituem elementos‑chave do procedimento: a criação de temas interpretativos e a definição de objetivos7.

O tema interpretativo

Independentemente da escala de aplicação de um programa interpretativo, de este conhecer uma realização mais duradoura ou apenas circunstancial, de ele abranger uma área geográfi‑ca extensa ou um pequeno lugar, o programa deve sempre ser subordinado a um tema. O tema tanto poderá aglutinar toda a atuação de uma dada organização patrimonial, como recair sobre um programa de atividades ou, simplesmente, incidir so‑bre uma única atividade interpretativa8.

7 Deixaremos de lado outros elementos de planificação enunciados ao longo deste texto, remetendo o leitor para a lista de referências bibliográficas que se encontra disponível no final deste livro, e onde identificará tanto títulos de ordem genérica como bibliografia especializada, em torno de problemáticas de ordem comunica‑tiva, designadamente quanto à seleção, desenho, implementação e operacionaliza‑ção de meios interpretativos.8 É de ressalvar que o conceito de atividade interpretativa que aqui utilizamos pode acolher uma multiplicidade de possibilidades, independentemente da sua abrangên‑cia geográfica, duração, regularidade ou do meio de comunicação que utilize. As‑sim, tanto podemos considerar como tal um projeto de sinalização instalado num monumento, num museu ou numa área protegida, como uma reconstituição histó‑rica realizada uma só vez, como um documentário projetado recorrentemente num centro interpretativo, como, ainda, uma visita autoguiada ou acompanhada por um

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A formulação de temas interpretativos cumpre uma dupla justificação, intrínseca e extrínseca. Intrínseca, uma vez que os temas interpretativos têm o poder de guiar a equipa respon‑sável pelo projeto na sua tarefa de planificação, ajudando-a a descobrir o percurso a adotar. Extrínseca, porque, como vere‑mos de seguida, é expectável que o tema seja identificado pelo público que participará na atividade.

De acordo com John A. Veverka (2011a:63) – o investigador, o programador, o pedagogo e o intérprete que já conta com cerca de quatro décadas de dedicação à disciplina interpretati‑va e que, por isso, seguiremos de perto nas páginas que se se‑guem – o tema é a ideia central ou a chave de qualquer atividade. A enunciação do tema deverá obedecer aos seguintes critérios:

• Ser formulado com uma frase clara, concisa e completa.• Conter uma ideia principal.• Revelar o sentido geral da atividade.• Ser enunciado de modo interessante.A enunciação dos temas deve obedecer aos preceitos grama‑

ticais, pelo que estes deverão ser providos dos sintagmas essen‑ciais – nominal e verbal – independentemente do grau de com‑plexidade que as frases possam adquirir. Convém, no entanto, que esta complexidade não exceda o limite do razoável para que não incorra em dificuldades semânticas e de memorização. É ne‑cessário, então, que a frase não contenha mais do que uma ideia, pois será em torno dela que a atividade se irá estruturar. Será esta ideia que irá oferecer à equipa o mote para a formulação dos tó‑picos interpretativos, dos objetivos específicos da atividade, das estratégias e, em última análise, da narrativa em torno da qual ela se organizará. Esta ideia deverá, ainda, ter a capacidade de

monitor, um intérprete ou um guia ao longo de um percurso local ou regional, du‑rante algumas horas ou no decurso de vários dias.

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estimular a curiosidade para que, posteriormente, ela possa vir a ser transformada num slogan, o qual será comunicado aos po‑tenciais públicos no momento da sua promoção.

Do ponto de vista comunicacional, o grande objetivo do intérprete é que, no fim da atividade, a audiência seja capaz de reproduzir a ideia subjacente ao enunciado expresso no tema interpretativo. Isso dependerá da clareza com que ele for en‑tendido – desde logo, pela equipa de planificação – circuns‑tância sine qua non à compreensão da mensagem por parte do público. A leitura do tema não pode oferecer qualquer espécie de dúvida ao intérprete que o formulou. Se o tema for explí‑cito para si, sê‑lo‑á, decerto, para o visitante.

Convém alertar para a distinção entre tema interpretativo e título da atividade. Ao contrário daquilo que, muitas vezes, so‑mos levados a pensar, tema não é sinónimo de título. O tema interpretativo contém, naturalmente, a matéria‑prima sobre a qual assentará o título da atividade. Este último dirige‑se para fora, para o visitante, e deverá ter a capacidade de o motivar a participar na experiência que lhe é proposta, ao passo que o tema se dirige, fundamentalmente, para dentro. O tema as‑sume uma função instrumental para a equipa de planificação, guiando‑a no caminho a seguir. É claro que o intérprete alme‑ja a identificação do seu conteúdo por parte do público, mas o modo como este o irá enunciar, se lhe for perguntado, não corresponderá à letra que lhe deu o intérprete. A identifica‑ção que este espera do público não reside na forma, mas no seu conteúdo.

Se tomarmos de empréstimo a terminologia das Ciências da Linguagem, diremos que enquanto o tema interpretativo supõe um processo de focalização, o título de uma atividade implica, pelo contrário, um modo topicalizado. Se atendermos à sua função instrumental, o tema seleciona, de entre as múlti‑

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plas abordagens possíveis, aquela que trará à atividade um va‑lor semântico mais promissor, tendo em conta as consequên‑cias que a audiência daí possa retirar, não apenas do ponto de vista da sua identificação como da sua compreensão, memori‑zação e integração na vida quotidiana. Quanto à topicalização inerente a um título, a sua sede de absoluto precipitará, muito provavelmente, a atividade para a invasão informativa, incor‑rendo, deste modo, num elevado grau de esvaziamento e na consequente perda de significado.

Para compreendermos melhor a diferença entre um título e um tema, notemos o exemplo utilizado por Veverka (2011a:64-66), a propósito de uma atividade a realizar numa área protegida. Se o tema fosse “As Aves do Parque”, questionar‑nos‑íamos, de imediato, acerca dos aspetos de que trataria efetivamente a atividade. Falta‑lhe a referência expressa à ação, o predicador, que seleciona os argumentos ou as entidades com os quais definirá o seu conteúdo exato, assim como os complementos necessários à particularização dessa ação, processo ou estado. A sua natureza topicalizada mostra‑nos um título e não um verdadeiro tema interpretativo. Para o transformar em tema poderíamos, diz‑nos o autor, convertê‑lo em “Os nossos pro‑gramas de gestão territorial protegem, de modo ímpar, as aves canoras migratórias que nidificam no parque.” Esta alternati‑va permite já divisar em que consistirá a atividade, deixa ver o seu conteúdo e o tipo de objetos que o ilustrarão. O mesmo tema poderia, ainda, ser formulado do seguinte modo: “O par‑que está a usar uma variedade de técnicas de gestão territorial inovadora para restaurar habitats danificados”. Com este tema principal, cada atividade interpretativa seria usada para ilustrar as técnicas de gestão que estão a ser efetivamente utilizadas. Os visitantes teriam a oportunidade de contactar diretamente com essas modalidades de proteção, entre as quais se contariam os

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processos de auxílio às aves canoras. Um tema genérico pode, portanto, ser multiplicado em subtemas. Um desses subtemas poderia ser, por exemplo, “Este percurso mostra como três tipos de programas de reflorestação desenvolvem o ambiente favorável à vida selvagem”.

É possível encontrar múltiplos exemplos de temas interpre‑tativos como estes na obra de Veverka9, mas vamos selecionar os seguintes (2011a:64):

1. A história do Logan Canyon revela as múltiplas relações entre as necessidades humanas e os recursos naturais.

2. Os múltiplos usos da floresta beneficiam tanto o Homem como a vida selvagem.

3. Sob a beleza paisagística da floresta, esconde-se uma va‑riedade de práticas de conservação e gestão, que benefi‑cia a experiência de todos.

4. Explorar grutas constitui uma experiência sensitiva.5. Os mosquitos são insetos fascinantes.6. O funcionamento de um geyser depende de três variáveis.7. A sobrevivência dos ursos polares encontra‑se ameaçada.8. A vida de Lincoln foi frequentemente marcada pela tragédia.9. Estamos a usar três técnicas distintas para desenvolver

os habitats naturais.10. Muitas são as formas com que poderá ajudar a proteger

este parque arqueológico.11. Os jardins zoológicos precisam da sua ajuda.Os três primeiros temas interpretativos assumem uma di‑

mensão mais genérica, podendo pertencer a um nível de pla‑nificação superior, relacionado com toda a atuação educativa de uma organização patrimonial durante um determinado pe‑ríodo de tempo. Os restantes pertencem a níveis inferiores,

9 Por exemplo em (2011a:107), (2011b:29-35) e (2011c:82-85).

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podendo ser utilizados no quadro de programas de atividades ou mesmo no âmbito de uma simples atividade interpretativa.

Observemos, agora, o exemplo esquematizado na figura seguinte, relativo à estratégia de construção do tema interpre‑tativo num jardim zoológico:

Figura 13. Tema e tópicos interpretativos. Fonte: Veverka, 2011a:67.

Neste exemplo, o propósito é o de que todos os visitantes entendam o modo como os diferentes animais desenvolveram estratégias de sobrevivência. Assim, cada animal representado no jardim zoológico ilustra um ou mais daqueles tópicos ou subtemas. É importante sublinhar que, aqui, a ênfase não foi colocada sobre o nome do animal ou sobre a sua história na‑tural, mas focou‑se nas estratégias de sobrevivência que esses animais representam. Isto não significa que não providencie‑mos os seus nomes, mas eles não constituem, para a maioria dos visitantes, a questão mais significativa.

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Como justifica o autor que temos vindo a seguir, a estru‑tura temática apresentada para um jardim zoológico mostra o foco que a Interpretação do Património deverá observar, no qual radica o propósito da disciplina. A maioria dos visitantes não está preocupada com os nomes científicos, latinos, dos animais; ainda que os ouvissem, muito rapidamente os esque‑ceriam. Considerando o facto de que os visitantes observarão muitos animais diferentes durante a sua visita a um jardim zo‑ológico, provavelmente não recordarão sequer todos os nomes comuns dos animais visitados. Além disso, não sentirão a ne‑cessidade de os conhecer a todos. De acordo com a ironia uti‑lizada por Veverka, a não ser que tenhamos um hipopótamo a viver nas traseiras da nossa casa, não teremos muito interesse em conhecer detalhadamente de que é que esse animal se ali‑menta ou qual o período da sua gestação.

As atividades interpretativas tendem, muitas vezes, a dar aos visitantes respostas para aquilo que eles não perguntam. Talvez devêssemos parar algum tempo para descobrir que tipo de in‑formação os visitantes considerarão interessante e aquilo que os ajudará a valorizar todos os animais que visitam. No fun‑do, precisamos de descobrir quais os conhecimentos de que os visitantes precisam para que nutram sentimentos de proteção das espécies e desenvolvam comportamentos que concorram para a sua salvaguarda. Há que refletir sobre as prioridades, as quais decorrem das necessidades dos visitantes. Para estes, será mais importante conhecer os nomes dos animais que vivem no jardim zoológico ou, antes, compreender que todos os ani‑mais têm valor e que estão em risco devido à deterioração dos seus habitats? Qual o conceito ou tema com maior espessura e valor para que mereça ser interpretado? Qual terá mais impac‑to na proteção e conservação desses habitats? No processo de definição do tema, devemos focalizar exatamente aquilo que a

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nossa interpretação pretende transmitir à audiência, de modo que, no momento em que os visitantes abandonem o parque, o jardim zoológico, o sítio histórico, ou o centro interpretativo, o tema será a coisa que melhor recordarão ou compreenderão do tempo que passaram na atividade e que levarão consigo.

No momento da definição do tema, devemos perguntar-nos acerca do conteúdo concreto que a audiência deverá identifi‑car, compreender e memorizar. A resposta a esta questão será, certamente, o nosso tema interpretativo.

Objetivos interpretativos

É impossível planificar o que quer que seja sem a noção cla‑ra daquilo que se pretende alcançar. Para além do tema inter‑pretativo, são também os objetivos que iluminam o caminho a seguir e o modo como este irá ser percorrido. No entanto, a importância da definição de objetivos não reside apenas na sua função instrumental, no âmbito do processo de planifica‑ção; ela cumpre um outro papel, igualmente fulcral, relacio‑nado com a avaliação, estabelecendo, neste sentido, a ligação entre o princípio e o fim de todo o procedimento interpretativo. Todos os objetivos, independentemente da sua natureza mais quantitativa ou mais qualitativa, servirão de referência para a construção dos instrumentos de avaliação, que serão aplicados no momento da execução do plano10.

Há que distinguir, antes de mais, os objetivos de planificação dos objetivos de interpretação. A fronteira que os separa encon‑tra justificação na escala de aplicação do plano. Se este tiver um âmbito muito amplo, se incidir sobre um espaço alargado, abar‑

10 Sobre a avaliação de projetos interpretativos, veja‑se Hooper‑Greenhill (1998), Stewart e Kirby (1998), Pérez Santos (2000), Morales Miranda (2001), Packer e Ballantyne (2002), Knapp (2007), Urgell Plaza (2014).

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cando toda a área administrada por uma determinada organiza‑ção patrimonial, se implicar um conjunto diversificado de pro‑gramas e atividades, este plano obrigará à definição de objetivos de planificação, os quais decorrerão da própria necessidade de implementação do projeto. A entidade, de quem parte a iniciativa de o levar a cabo, acaba por verter no plano um primeiro nível de objetivos, que visa as grandes metas a atingir, as quais procu‑ram concretizar a sua missão, visão e valores. No fundo, a razão do projeto não se desvincula das restantes funções da entidade responsável pela gestão do património, as quais recaem sobre a sua proteção, conservação, investigação e impacto público.

Os objetivos de planificação, também denominados de grandes finalidades, metas ou objetivos gerais, decorrem da necessidade de atuação percebida pela organização responsá‑vel pela gestão do lugar patrimonial (na sua integralidade ou apenas numa das suas divisões, secções ou departamentos) e visam, neste caso, a concretização da missão da entidade. Essa missão deverá enunciar, em termos concisos, em que consiste a organização, o que faz e porque é que o faz. No âmbito es‑pecífico de uma organização patrimonial, esta missão dá, por‑tanto, aos serviços interpretativos a orientação geral que hão‑‑de seguir na sua tarefa de auxiliar a organização a cumprir a sua missão. Vejamos alguns exemplos (Veverka, 2011a:68‑69):

1. Criar um sistema amigável de orientação dos visitantes.2. Disponibilizar variados programas e serviços interpreta‑

tivos destinados a diferentes grupos.3. Conhecer as características dos públicos, reais ou po‑

tenciais.4. Desenvolver um plano de marketing.Os objetivos de interpretação correspondem aos objetivos

específicos de programas de atividades ou de atividades inter‑pretativas únicas. Segundo Veverka (2011a:70), enquanto os ob‑

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jetivos de planificação possuem uma natureza mais genérica e um menor grau de quantificação, os objetivos de interpretação visam normalmente essa medição. O mesmo autor (2011a:70‑71) sugere‑nos os exemplos seguintes:

1. Localizar facilmente os serviços oferecidos.2. Identificar o tema interpretativo.3. Referir as cinco técnicas de desenvolvimento de habitats

naturais que estão a ser implementadas.4. Identificar a entidade responsável pela gestão do parque.5. Compreender de que modo os eventos históricos recria‑

dos ilustram os esforços da população Afro‑Americana para acabar com a escravatura nos EUA.

Por fim, há que distinguir os objetivos de interpretação de acordo com a sua tipologia. Estes devem ser capazes de co‑brir, pelo menos, três tipos de resultados nos públicos a que se dirigem: consequências de ordem cognitiva, afetiva e com‑portamental.

Se aceitarmos o pressuposto, como já tivemos oportuni‑dade de salientar, de que os visitantes, independentemente de tenderem a privilegiar conteúdos da natureza e/ou da cultura, se movem por razões educativas – sem exclusão de outras ra‑zões, onde cabe o grande grupo das motivações recreativas –, então, o intérprete do património não pode deixar de atender aos objetivos cognitivos.

É no campo da pedagogia formal que a investigação tem conhecido os maiores desenvolvimentos, pelo que os estudos realizados em contextos educativos exteriores à instituição es‑colar acabam por ser profundamente influenciados por aqueles, mostrando como o substrato que lhes subjaz é essencialmente o mesmo. Aliás, não podemos ignorar que a própria educação formal evoluiu muito nas últimas décadas, fruto da expansão

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do conceito de aprendizagem. Como sublinha Hooper‑Gree‑nhill (2004:155-158), esta noção tem evoluído de uma perspe‑tiva monodimensional para uma abordagem multidimensional, em que a primeira assume o conhecimento como o núcleo da aprendizagem, vista mais como resultado ou produto e menos como processo. Neste paradigma, o conhecimento confunde‑‑se com a aquisição de factos e informação, ao passo que, no modelo muldimensional, o substantivo “aprendizagem” tende a ser substituído pela sua função verbal (aprender), para acen‑tuar o seu lado sistémico, processual e aberto a competências alternativas, complementares e diversificadas, com consequên‑cias hermenêuticas, semânticas e comportamentais passíveis de integração na vida quotidiana.

Com a definição de objetivos cognitivos, o intérprete res‑ponde à questão: o que é que eu quero que os visitantes apren‑dam e recordem? A título exemplificativo, Veverka (2011a:71-72) sugere os seguintes:

• Recordar o tema da atividade.• Descrever os quatro passos principais para produzir fer‑

ro durante o século XIX.• Listar três estratégias de sobrevivência ilustradas pelas

aves noturnas em exibição.• Compreender de que modo o vento e a chuva afetam a

paisagem.

No âmbito deste tipo de objetivos, podemos, ainda, recor‑rer a outros verbos, que impliquem ações indutoras de apren‑dizagem: nomear, ilustrar, demonstrar, compreender, referir, identificar, localizar, resumir, narrar, selecionar, distinguir, clas‑sificar, comparar, entre outros.

No que diz respeito aos objetivos emocionais, a Interpre‑tação do Património parte do pressuposto de que, se criarmos

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as condições capazes de ativar sensações e sentimentos no âmbito dos processos de aprendizagem, esta tornar‑se‑á mais significativa e duradoura. Terá, portanto, maior probabilidade de se integrar no dia‑a‑dia dos que a adquirem, acabando, as‑sim, por conduzir à mudança, à adoção de comportamentos adequados à proteção do património, que é, como já assinalá‑mos, o primeiro e último objetivo da disciplina interpretativa. Não é forçoso que a mobilização de estados emocionais se si‑tue exclusivamente em polos positivos, ela pode e, por vezes, deve – dependendo da representatividade dos recursos – criar quadros afetivos negativos.

Na definição dos objetivos emocionais, a equipa de planificação deverá colocar a questão nestes termos: o que é que queremos que os nossos visitantes sintam? Para compre‑endermos melhor o procedimento, atentemos nos seguintes exemplos (Veverka, 2011a:72‑73):

• Sentir que desempenhar um papel ativo na reciclagem de objetos em casa ajuda tanto o Homem como a vida selvagem. (O visitante sentir-se-á bem em reciclar)

• Sentir surpresa em observar como esta paisagem se al‑terou desde os anos 1920 até aos dias de hoje.

• Sentir orgulho no facto de este recurso histórico ter sido preservado para lembrar as ações heroicas dos habitan‑tes desta localidade durante a Guerra Civil.

A lista dos afetos pode ser muito mais extensa e envolver, entre outros, os seguintes: ódio, tristeza, culpa, aceitação/apro‑vação, pertença, admiração, cuidado, respeito.

Por fim, os objetivos comportamentais, cuja definição res‑ponde à questão: o que é que queremos que os nossos visitan‑tes façam durante a atividade e no futuro? Ou, então: como queremos que usem a informação que lhes oferecemos? Há

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que lembrar, com Veverka (2011a:77), que muitos estudos têm demonstrado que os visitantes recordam, sensivelmente, 10% daquilo que ouvem, 30% daquilo que leem, 50% daquilo que veem e 90% daquilo que fazem. Esta consideração é fun-damental para que, na fase dedicada à definição de objetivos, nos detenhamos sobre os de ordem comportamental. Qual-quer atividade interpretativa deve encorajar o visitante a fazer algo, através de instruções como: “olhe para...”, “repare em/no/na...”, “veja se consegue encontrar...”, “consegue ver...”, “toque no tronco da árvore e sinta quão áspero ele é.” É este género de convites que ajuda o visitante a recordar atividades, conceitos e experiências. Vejamos o que o autor nos sugere:

• Experimentar pelo menos uma técnica de preservação (aprendida na atividade interpretativa) para atrair a vida selvagem à sua casa até ao final do ano.

• Tomar medidas de segurança antes de iniciar a caminha-da ao longo do percurso interpretativo.

• Não alimentar os animais ao longo da visita ao jardim zoológico.

• Aderir a uma associação local de defesa do património.

Na lista dos verbos do mesmo tipo, cujas ações são passí-veis de ditar comportamentos, temos, por exemplo: observar, cheirar, tocar, ouvir, provar, construir, copiar, desenhar, escre-ver, limpar, introduzir, usar ou preparar.

PArtE IIIcENÁRIOs INTERPRETATIVOs

PARA A lAGOA DE ÓBIDOs

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Nota MetodológicaO valor da Lagoa de Óbidos e área envolvente, bem como

as ameaças a que este espaço e as suas gentes estão sujeitos, revelou‑nos a necessidade de apresentar, a título sugestivo, um conjunto de medidas que poderiam contribuir para a sua promoção e conservação. Convictos de que esta não depende somente da consciência e da postura dos especialistas, impu‑nha‑se o desenvolvimento de estratégias destinadas a sensibi‑lizar todos os seus utentes: residentes, visitantes e investidores.

A interpretação, como observado no capítulo anterior, cons‑titui uma importante estratégia de comunicação que visa justa‑mente a conservação do património natural e cultural, de forma acessível, através do contacto direto com os bens patrimoniais.

Este guia vem operacionalizar o objetivo estratégico de po‑tenciar a Lagoa como elemento gerador de novas oportunida‑des sustentáveis para a comunidade local. Através de propostas passíveis de inspirar a realização de atividades turísticas, poten‑ciam‑se a atratividade do destino, o crescimento sustentável do território e, subsequentemente, a dinamização de diferentes se‑tores económicos, tais como: o alojamento, a restauração e o comércio tradicional.

Tendo por objetivo apresentar um conjunto de temas para atividades sustentáveis – com potencial turístico, económico, social e ambiental – a abordagem metodológica compreendeu, numa primeira fase, a recolha de informação. De acordo com as aportações da teoria interpretativa, procedeu‑se à inventa‑riação e registo dos recursos (naturais e culturais) da área em estudo, utilizando, para tal, fichas de inventário adaptadas de Morales Miranda (2001:189‑191). Recorrendo a levantamento bibliográfico, à captação de imagens aéreas, estudo de cartas militares e observação in loco, identificaram-se as principais ca‑

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racterísticas fisiográficas do território. Paralelamente, quisemos conhecer o comportamento do visitante (perfil, motivações,…), assim como as perceções da população residente e de alguns atores sociais representativos da comunidade, designadamente nos campos da administração pública, das organizações cívicas e do setor empresarial (os denominados stakeholders)11, dados colhidos a partir da aplicação de inquéritos e entrevistas. A aná-lise dos resultados obtidos até aqui permitiu avaliar o potencial interpretativo dos recursos disponíveis.

Partindo do pressuposto de que a nossa ação visava criar oportunidades para todos aqueles que pretendessem atuar no território da lagoa, equacionou-se qual seria a melhor solução do ponto de vista interpretativo. Deparámo-nos com duas grandes hipóteses: ou apresentar um plano detalhado ou de-linear um conjunto de estratégias interpretativas. A primeira, implicava um modelo demasiado prescritivo, que se adaptaria melhor à atuação de uma organização que contemplasse pre-ocupações interpretativas, desempenhasse ela funções de ges-tão territorial (autarquia, entidade gestora de bens patrimoniais, entre outras) ou exercesse atividade económica naquele espa-ço. Tal modelo obrigaria, para além da descrição de programas de trabalho, à constituição da estrutura organizacional (com as devidas competências e responsabilidades), à apresentação detalhada dos respetivos custos fixos e variáveis, à identifica-ção do público-alvo, à seleção de meios e equipamentos inter-pretativos, à promoção das atividades e à definição dos seus critérios de avaliação. Já a segunda, foi aquela que nos pareceu a mais viável, dada a sua natureza mais autónoma e aberta a desenvolvimentos futuros.

11 Os resultados deste estudo poderão ser consultados na obra Visões Cruzadas: Um retrato da Lagoa de Óbidos.

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Não reunindo as condições anteriormente enunciadas, pa‑receu‑nos que a ideia de cenário seria a que melhor respondia à nossa própria declaração inicial de intenções. O cenário, ao não circunstanciar demasiado a proposta, tinha a vantagem de acolher múltiplas possibilidades interpretativas. Adotando uma dimensão globalizante, o cenário acabaria por facilitar a cons‑trução de atividades adequadas à diversidade de contextos de aplicação, dependentes de objetivos, de recursos envolvidos, da calendarização, das entidades organizadoras e dos próprios participantes.

A seleção de recursos depende de critérios adequados, destinados a despertar o interesse dos visitantes e a promo‑ver a valoração dos próprios recursos. No entanto, a sua uti‑lização deve fazer‑se acompanhar de um conjunto de servi‑ços e infraestruturas, adequados à procura, sob o signo da sustentabilidade.

Em relação aos recursos endógenos, inclusos nos diferentes cenários que se seguem, optámos por limitar a área de abran‑gência às freguesias que delimitam a Lagoa, selecionando so‑mente aqueles que nos pareceram estratégicos, fosse pela sua localização, contexto ou valor histórico‑cultural e em função dos temas interpretativos. Estes critérios justificaram a exclu‑são de importantes núcleos de povoamento, como Óbidos e Caldas da Rainha, apesar de constituírem aglomerados urba‑nos ricos do ponto de vista patrimonial. Houve, no entanto, pequenas exceções, legitimadas pela relação direta dos temas com a área lagunar. É o que sucede no cenário 7, que envolve a Serra do Bouro e a Praia dos Olhos de Água, e no cenário 14, que versa sobre a obra de Rafael Bordalo Pinheiro.

O formato adotado excluiu, igualmente, alguns dos elemen‑tos que, em regra, acompanham os planos interpretativos, como a promoção e a avaliação.

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Pensámos num conjunto de objetivos, os quais tiveram de assumir uma feição genérica, dada a condição abrangente dos cenários. Optámos por distingui‑los, de acordo com a tipolo‑gia explicitada na Parte II, entre objetivos cognitivos, afetivos e comportamentais (figura 14).

Objetivos Cognitivos• Identificar os temas e os tópicos interpretativos• Ilustrar elementos de fauna e flora• Reconhecer a existência de diferentes habitats• Localizar recursos no espaço e no tempo• Comparar o lugar visitado com outros que detenham características semelhantes• Adquirir competências de desenvolvimento pessoal• Compreender o funcionamento de ecossistemas e tradições

Objetivos Afetivos• Sentir que desempenhar um papel ativo na recolha e reciclagem de objetos be‑neficia tanto o Homem como o ambiente• Sentir surpresa pelas drásticas alterações sofridas na dimensão da área lagunar• Sentir orgulho e admiração pela persistência com que as populações locais mantêm as tradições• Respeitar a ancestralidade das tradições locais• Sentir satisfação em cuidar dos recursos naturais e humanos

Objetivos Comportamentais• Experimentar técnicas de preservação• Adotar medidas de segurança, individual e/ou coletivas• Não interferir no equilíbrio dos ecossistemas• Observar bens patrimoniais (fauna, flora, monumentos geológicos e patrimó‑nio, material e imaterial)• Participar na limpeza da Lagoa de Óbidos• Estimular o uso dos sentidos em ambiente natural e humano• Contribuir ativamente para a defesa do património

Figura 14. Quadro-síntese dos objetivos gerais.

Desenhámos os cenários, obedecendo a uma estrutura fle‑xível, capaz de se moldar às necessidades dos vários interve‑nientes (figura 15).

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Tipologia Temas Propostos

CENÁRIOSDENATUREZA

1. Onde outrora os animais eram perseguidos com armas, são hoje capturados com o olhar2. A Lagoa de Óbidos esconde recantos inspiradores para os amantes da fotografia3. As zonas húmidas da Lagoa de Óbidos cumprem importan‑tes funções ecológicas4. A observação das espécies que habitam a Lagoa estimula a fusão da ciência com a arte5. A Lagoa representa um cenário de inspiração para o desen‑volvimento do processo criativo e da expressão artística6. Dada a sua diversidade de espaços, a Lagoa oferece condi‑ções ideais para o treino de competências7. A região da Lagoa de Óbidos já foi habitada por dinossauros8. A preservação do património natural da Lagoa visa garantir a sua existência e fruição futuras9. Na orla perilagunar concentra‑se um importante conjunto de espécies, que vale a pena observar

CENÁRIOSCULTURAIS

10. Os círios constituem um testemunho característico da de‑voção das populações costeiras11. Pequena no nome, a aldeia do Vau esconde uma enorme riqueza patrimonial12. Ainda é possível experienciar atividades ancestrais na La‑goa de Óbidos13. O milionário, Francisco de Almeida Grandela, fez muito por esta comunidade14. A Lagoa de Óbidos foi uma inspiração para Rafael Bor‑dalo Pinheiro15. O rio Arnóia conheceu os maiores aglomerados populacio‑nais da vertente sul da Lagoa

CENÁRIOSDESPORTIVOS

16. Os trilhos da Lagoa de Óbidos proporcionam uma expe‑riência saudável17. Participar em atividades equestres é um excelente contribu‑to para recuperar a tradição18. Em cada competição de remo na Lagoa de Óbidos é recria‑da a emblemática Oxford and Cambrigde Boat Race19. A Lagoa de Óbidos oferece excelentes condições para a prática de triatlo

Figura 15. Quadro-síntese dos cenários propostos.

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Identificámos três tipos de cenários: de natureza, culturais e desportivos, adotando, em cada um deles, um conjunto de cenários mais individualizados. Estes contemplam os seguintes elementos: tema, enquadramento, ilustrações, atividades pro‑postas e ficha técnica.

No que concerne ao enquadramento, este traduz‑se na jus‑tificação do valor do recurso a utilizar (em função do que este representa para o tema) e/ou da(s) atividade(s) a implementar. As atividades que sugerimos não esgotam as possibilidades de implementação no terreno. Por tal, podem ser realizadas se‑guindo a sequência indicada ou de forma isolada, de acordo com os objetivos de cada programa e de novos temas que pos‑sam vir a ser formulados. Portanto, o empreendedor tem a li‑berdade de conjugar as ações em função dos seus interesses e das necessidades do visitante. As atividades sugeridas tiveram ainda a preocupação de não limitar a sua realização por parte daqueles que, no futuro, venham a encontrar inspiração nestes cenários. O nosso intento é o de, através de algumas propos‑tas, delinear o ponto de partida para a descoberta de soluções alternativas. Cada cenário faz‑se acompanhar de imagens re‑presentativas do(s) recurso(s) e/ou atividade(s) descrita(s), cul‑minando naquilo a que denominámos ficha técnica. Esta sin‑tetiza o cenário quanto aos elementos anteriormente referidos e acrescenta informações úteis, como as coordenadas geográ‑ficas dos pontos de interesse, sugere equipamentos a utilizar e apresenta recomendações.

O público‑alvo destes cenários interpretativos não é o con‑sumidor final, entenda-se, o visitante. Ainda que esta obra o possa ajudar a preparar as atividades descritas de forma autó‑noma, tem, sobretudo, como finalidade servir os interesses de potenciais intermediários, ou seja, de todos aqueles que pre‑tendam explorar profissionalmente o território. Pensamos, no‑

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meadamente, em organizações públicas ou sem fins lucrativos e entidades privadas (de qualquer dimensão) que reconheçam no setor turístico uma oportunidade para manter, de forma sustentada, as suas áreas de atividade. Alertamos, ainda, para a necessidade de se atender a alguns constrangimentos relacio‑nados com a inexistência ou escassez de sinalética adequada em alguns locais, bem como para as dificuldades de acesso a certos recursos.

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Cenários de Natureza

Cenário 1Tema:

Onde outrora os animais eram perseguidos com armas, são hoje capturados com o olhar

Enquadramento:

A Lagoa de Óbidos sempre atraiu a nobreza portuguesa para as suas margens. Foram inúmeros os reis que a frequen‑taram: de verão costumavam jantar e desfrutar da paisagem, do bosque e da lagoa; de inverno deslocavam-se para as caçadas. No entanto, D. Maria I foi, de toda a nobreza visitante, a mais apaixonada por este sítio e pelas caçadas, tendo, tal admiração, resultado na construção de um cais e de uma ponte de madeira no sítio do Corvo. (Silva, 1988; Trindade, 2001)

Pela beleza paisagística e pelas suas estórias, a Lagoa apela, hoje, a uma experiência de visitação distinta. Nesse sentido, a fotografia, invenção oitocentista, torna-se um importante ins‑trumento de materialização e testemunho de experiências vi‑venciadas pelo observador. (Recuero, s.d.)

Figura 16. Torre de observação de aves (à esq.) e patos na Lagoa (à dir.).Fotos: Carlos Alves, 2013.

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Atividades Propostas:

• Concurso de fotografia Pretende‑se, com esta atividade, recriar as atividades de caça

na Lagoa através da fotografia, realizando, por isso, uma “caça‑da” fotográfica. Este concurso de fotografia deverá ter prémios temáticos como, por exemplo, um prémio para a fotografia com mais espécies captadas ou para a fotografia com a espécie mais rara. Sugere‑se que a concretização da atividade parta da observação e identificação de aves. Esta, vulgarmente deno‑minada como birdwatching, é uma atividade que permite atentar nas diferentes espécies (formas, cores, …), comportamentos e habitats (Ellis e Vogelsong, 2003). Considerada “amiga” do am‑biente, esta iniciativa permite atrair diferentes públicos (desde curiosos a especialistas), dispensando investimentos elevados por parte das entidades organizadoras (Green e Jones, 2010).

Os atuais pontos de observação de aves foram outrora lo‑cais de caça para vários reis de Portugal. Falamos do Braço da Barrosa, da Foz do Rio Real (torre de observação) e da Poça do Vau. A atividade proposta poderá incluir:

a) Passeio em torno da LagoaDar a oportunidade aos participantes de, à medida que fotografam, contactarem com a beleza da Lagoa, enten‑dendo, simultaneamente, por que razão os mais abasta‑dos elegiam este local como refúgio.

b) Fotografia de grupo

Como recordação para todos os participantes, não só do momento, mas do espaço visitado, sugere‑se que seja fei‑ta uma foto de grupo.

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FICHA TÉCNICA

Tema Onde outrora os animais eram perseguidos com armas, são hoje capturados com o olhar

Atividades propostas Concurso de fotografia (inclui observação de aves e passeio na lagoa)

Pontos de Interesse (coordenadas)

Lagoa de Óbidos, conc. Óbidos [39.388034, ‑9.225607]

Meios e equipamentos/ Outros recursos

Binóculos e telescópios de campo.

Recomendações

Visita conduzida por um guia especializado em ornitologia.Número de participantes: 5 a 10. Disseminar as fotografias vencedoras e de grupo por todos os participantes do concurso.

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Cenário 2Tema:

A Lagoa de Óbidos esconde recantos inspiradores para os amantes da fotografia

Enquadramento:

A paisagem tende a resumir de forma mais ou menos explí‑cita a riqueza de um lugar, podendo também, em algum mo‑mento, assentar na visão e interpretação de quem dela usufrui (Meinig, 1979). Para o observador, as paisagens – no caso, ru‑rais – compreendem componentes visíveis (sejam elementos naturais ou construídos pelo homem), bem como componen‑tes sensitivos (odores, cores, valores, prazer,…). Contudo, a paisagem está em constante mutação, mais ou menos célere, o que obriga a que se invoque a memória e/ou a arte (meio es‑tático) para registar essa imagem.

A fotografia de natureza (nas variantes de paisagem e mun‑do selvagem) apresenta‑se, desta forma, como um instrumento que permite captar os elementos observados na Lagoa de Óbi‑dos. O tema proposto – paisagem – faz assim parte da ideia de aproximação da sensibilidade humana em torno da nature‑za, que não pode ser esquecida, e do que o espaço retido pela lente representa para cada indivíduo.

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Figura 17. Fotografia na Lagoa de Óbidos.Foto: Graça Ezequiel, 2012.

Atividades Propostas:

• Workshop “Fotografia de Paisagem”Neste workshop os participantes podem aprender a tirar o

melhor partido da sua máquina fotográfica e a fotografar pai‑sagens. Poderá incluir:

a) Parte teórica:

Enquadramento de atividades a desenvolver; material fotográfico (máquinas, lentes, suportes); composição da imagem; aprender técnicas para fotografar em diferen‑tes contextos.

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b) Parte prática: Fotografar em diferentes pontos da Lagoa, onde os participantes colocarão em prática as técnicas artísticas aprendidas.

c) Fotografia de grupoNo final do workshop os participantes poderão ser convi‑dados a participar numa fotografia de grupo, enquadra‑da na paisagem envolvente da Lagoa de Óbidos (captada pelo formador, conferindo-lhe um carácter profissional).

d) Eleição da melhor fotografiaUma outra atividade poderá ser a eleição da melhor foto‑grafia que, juntamente com a fotografia de grupo, poderá ser enviada a todos os participantes como recordação da experiência vivenciada.

FICHA TÉCNICA

Tema A Lagoa de Óbidos esconde recantos inspiradores para os amantes da fotografia

Atividades sugeridas Workshop “Fotografia de Paisagem”

Pontos de Interesse (coordenadas)

Lagoa de Óbidos, conc. Caldas da Rainha [39.428154, -9.222731]

Meios e equipamentos/ Outros recursos

Material necessário para o desenvolvimento do workshop (à exceção das máquinas fotográficas).

Recomendações

Parceria com formador para realização do workshop.Entre 5 a 10 participantes.Enviar posteriormente os resultados (fotografias) do workshop.Recomenda‑se a consulta de blogues sobre esta temática, por exemplo o blogue de Joel Santos, prestigiado fotógrafo português de paisagem http://joelsantos.net/

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Cenário 3Tema:

As zonas húmidas da Lagoa de Óbidos cumprem impor‑tantes funções ecológicas

Enquadramento:

As zonas húmidas caracterizam‑se como áreas onde a água está ao nível ou acima da superfície do solo – situação perma‑nente ou sazonal – sendo dos ecossistemas mais produtivos em termos de diversidade biológica (Pullan, 1986). Estes espaços cumprem várias funções, entre as quais, abrigo de inúmeras espécies e retenção de nutrientes e sedimentos.

No entanto, por se tratar de ecossistemas sensíveis, encon‑tram-se gravemente ameaçados pela poluição, intensificação de atividades agrícolas e/ou piscatórias ou, até, pelo turismo “insustentável”.

A Lagoa de Óbidos é uma das zonas húmidas em Portugal que concentra elevada produtividade (nutrientes, matéria or‑gânica, …), ainda que os benefícios assegurados por este siste‑ma lagunar passem despercebidos à maioria dos cidadãos. Tal reflete-se na falta de atitudes e comportamentos adequados à proteção e conservação deste ambiente.

Uma vez que as áreas com estas características têm sido objeto de visitação e prática de ecoturismo, invocando não só valores ambientais como culturais, turísticos e recreativos (Pe‑dro, 1986), a atividade proposta pretende fazer da Lagoa de Óbidos um lugar onde se educa e sensibiliza para a proteção e conservação ambientais.

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Figura 18. Paisagem sobre a Lagoa (em cima) e Vegetação (em baixo).Foto: Carlos Alves, 2013.

Atividades Propostas:

• Conhecer o Sapal Os sapais da Lagoa são zonas compostas por comuni‑dades vegetais que admitem concentrações salinas e de temperatura elevadas e alterações de correntes, sendo, por tal, comummente conhecidos como prados salgados. Ecossistemas com elevada atividade biológica, servem de alimento, refúgio e nidificação da fauna (peixes, bivalves, aves e insetos), desempenham um importante papel na depuração da água e funcionam, ainda, como barreiras naturais no controlo de cheias. Contudo, apresentam fra‑gilidades face a pressões urbanísticas e turísticas, sendo essencial a sua proteção para se evitar a perda de várias espécies, bem como a deterioração ambiental (Lefeuvre,

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2003; ICNF, s.d.). Podemos encontrar nestas áreas patos, limícolas, salamandras e tritões.

• Conhecer o Caniçal O caniçal é um habitat caracterizado pela presença qua‑se exclusiva de caniços (Phragmites australis) – planta que lhe dá o nome – e está associado a terrenos permanen‑temente inundados, tolerando alguma salinidade. Esta área caracteriza‑se por criar um “microclima” que pro‑porciona condições de proteção e temperaturas amenas, criando abrigo, alimentação e nidificação para a avifauna. As manchas de caniçal existentes na Poça do Vau e nas partes a montante da Lagoa de Óbidos (fundo do Braço da Barrosa) albergam espécies como o Tartaranhão‑rui‑vo‑dos‑pauis (Circus aeruginosus), Frango‑de‑água (Rallus aquaticus), Fuinha‑dos‑juncos (Cisticola juncidis) e Rouxinol‑‑bravo (Cettia cetti). Uma das consequências da sua des‑truição – por utilização agrícola ou pecuária – é o fim das espécies acima referidas (ICNF, s.d.; Farinha, Henriques e Neves, 2000; AAVV, 2005; SPEA, 2014). Recomenda‑‑se a observação à distância destas zonas. Para além de áreas de difícil acesso, a aproximação de um elevado nú‑mero de visitantes – capacidade de carga – pode ser da‑nosa para a avifauna.

• Conhecer a Zostera marina A Zostera marina, nome científico atribuído às ervas mari‑nhas, é formada por plantas com flor, que se encontram distribuídas por oceanos, águas costeiras, lagoas, rias ou estuários, até 70 metros de profundidade.Os bancos de ervas marinhas que podem ser observados na lagoa detêm funções ecológicas: favorecem a acumu‑

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lação de sedimentos; fonte de alimento e refúgio; mater‑nidade de algumas espécies.Dragagens, artes de pesca, ancoragem de barcos e cons‑trução de viveiros excessivos provocam o aumento da tur‑bidez e do sedimento da água, o aumento dos poluentes, diminuição da biodiversidade e consequente diminuição de recursos pesqueiros (Alexandre, 2010).

• Tertúlia sobre os habitats visitados As tertúlias apresentam‑se como reuniões (informais) artísticas e/ou didáticas, onde pessoas com interesses comuns partilham informações e opiniões. Assim, esta proposta apresenta o conceito de tertúlia associada à vivência dos seus participantes,isto é, dividindo‑os em grupos, propondo‑lhes a Lagoa e os seus habitats como tema de debate, devendo cada grupo – de forma lúdica – defender um determinado habitat: identificar os aspe‑tos negativos existentes e pensar em melhorias possíveis a implementar. Pretende‑se com esta atividade despertar a consciência social e ambiental dos participantes em re‑lação à Lagoa de Óbidos. Esta é uma ação que poderá decorrer durante um almoço ou jantar, não dispensando a realização das atividades anteriores.

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FICHA TÉCNICA

Tema As zonas húmidas da Lagoa de Óbidos cumprem importantes funções ecológicas

Atividades sugeridas

Conhecer o Sapal Conhecer o Caniçal Conhecer a Zostera marina Tertúlia sobre os habitats visitados

Pontos de Interesse (coordenadas)

Lagoa de Óbidos, conc. Óbidos [39.388034, ‑9.225607]

Meios e equipamentos/ Outros recursos

Não aplicável

RecomendaçõesEntre 5 a 10 participantes.Visita conduzida por guia de natureza.Calçado e vestuário adequados a zonas húmidas.

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Cenário 4Tema:

A observação das espécies que habitam a Lagoa estimula a fusão da ciência com a arte

Enquadramento:

A ciência e a arte podem ser entendidas como ferramentas que permitem quebrar barreiras e ampliar o conhecimento da‑quilo que nos rodeia. Quando se trata de ilustração científica – aliança entre essas duas ferramentas – apesar de nos referir‑mos a uma ilustração, estamos na presença de mais ciência e menos arte. Ilustrar cientificamente é refletir sobre o que foi estudado, recorrendo à imagem. Contudo, esta técnica permite explorar a componente lúdica ou estética – inerente a qualquer manifestação artística (Correia, 2013).

Reconhecida como “laboratório” natural, a Lagoa de Óbi‑dos detém um elenco florístico e faunístico diversificado. Con‑centrando‑nos neste último elemento – a fauna – a observação de aves ou birdwatching (ver cenário 1) afigura-se como ponto de partida para a atividade proposta.

Figura 19. Aves nas margens (à esq.) e a sobrevoar a Lagoa de Óbidos (à dir.).Fotos: Carlos Alves, 2013.

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Atividades Propostas:

• Workshop “Iniciação à ilustração científica”

a) Parte teóricaFundamentos da ilustração científica; conceitos básicos em ilustração; descrição de técnicas e materiais utiliza‑dos; mostra de originais efetuados em diferentes mate‑riais; exploração dos materiais e exercícios para aplica‑ção dos conceitos.

b) Passeio de barco na lagoaO passeio, para além da componente lúdica, terá como principal objetivo permitir a observação (com recurso a binóculos) e fotografia de aves marinhas. Estas saídas per‑mitem avistar um maior número de espécies, dificilmente observadas em terra. Algumas das espécies que podem ser identificadas são: flamingo, mergulhão-de-pescoço‑‑preto, garça vermelha, piadeira, frisada, frango‑d’água, ostraceiro, fuselo.

c) Parte práticaRealização de uma ilustração a partir de observação (de‑senho de campo) e/ou fotografia.

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FICHA TÉCNICA

Tema A observação das espécies que habitam a Lagoa estimula a fusão da ciência com a arte

Atividades sugeridas Workshop “Iniciação à ilustração científica”

Pontos de Interesse (coordenadas)

Lagoa de Óbidos, conc. Óbidos [39.388034, ‑9.225607]

Meios e equipamentos/ Outros recursos

Material necessário ao desenvolvimento do workshop.

Recomendações

Parceria com formador.Número recomendado de participantes: entre 5 a 10.Épocas adequadas à realização do workshop: outo‑no e inverno (maior número de aves). Parceria com associação local com vista ao alu‑guer de espaço físico para a realização do workshop.

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Cenário 5Tema:

A Lagoa representa um cenário de inspiração para o de‑senvolvimento do processo criativo e da expressão artística

Enquadramento:

O Land Art é um movimento artístico que teve origem, nos anos 60, nos Estados Unidos da América, cujas criações utilizam como suporte, tema ou meio de expressão a nature‑za, também ela trabalhada e integrada na obra de arte, visando o reencontro do homem com o meio natural. Na génese das manifestações de Land Art está a sua efemeridade, o extrava‑samento do espaço e a forte ligação com o meio envolven‑te onde são produzidas, pois são construídas essencialmente com recurso a elementos naturais da paisagem onde se inse‑rem (Kastner e Wallis, 1998).

A Lagoa de Óbidos, espaço natural de elevada beleza e com uma enorme biodiversidade, afigura-se como um lugar privi‑legiado para a prática deste movimento, aliando a fruição do ambiente natural com a descoberta de novos temas culturais e ambientais.

Figura 20. Imagem da Lagoa de Óbidos como cenário ideal para a atividade de Land Art.

Foto: Carlos Alves, 2013.

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Atividades Propostas:

• Workshop Land Art

a) Parte teórica: Introdução ao conceito de Land Art; intervenção na pai‑sagem e na natureza, onde apenas serão usados elementos naturais, mais tarde reabsorvidos; aprender a utilizar a na‑tureza como matéria‑prima para as manifestações de arte.

b) Parte prática: Os participantes observam a paisagem envolvente da La‑

goa, recolhem elementos naturais e criam obras de Land Art. • Fotografia das manifestações de Land Art realizadas

Como anteriormente referido, a efemeridade é a génese das manifestações de Land Art, pelo que o retrato fotográ‑fico de cada uma das manifestações desenvolvidas pelos participantes é, para além da memória de cada um, uma forma de eternizar a experiência vivida e sentida na Lagoa.

• Organização de piqueniqueNa sequência do trabalho a ser desenvolvido em harmonia com a natureza poder‑se‑á, também, desfrutar da envol‑vente natural da Lagoa de Óbidos através da organização de um piquenique, aberto à comunidade (incluindo par‑ticipantes da atividade de Land Art que queiram partilhar as suas experiências criativas).

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FICHA TÉCNICA

TemaA Lagoa representa um cenário de inspiração para o desenvolvimento do processo criativo e da ex‑pressão artística

Atividades sugeridas

Workshop Land ArtFotografia das manifestações de Land Art rea‑lizadasOrganização de piquenique

Pontos de Interesse (coordenadas)

Lagoa de Óbidos, conc. Óbidos [39.388034, ‑9.225607]

Meios e equipamentos/ Outros recursos

Material para o workshop.Bens e estruturas de apoio necessários para a re‑alização do piquenique.

Recomendações

Parceria com artistas.Entre 5 a 10 participantes.Optar entre a exploração de temas específicos ou tema livre.Recomenda‑se a consulta dos seguintes sí‑tios: (http://sitespecific.org.za/, http://green‑museum.org/what_is_ea.php e http://vimeo.com/66129863).

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Cenário 6Tema:

Dada a sua diversidade de espaços, a lagoa oferece condi‑ções ideais para o treino de competências

Enquadramento:

Prática recente em Portugal, a orientação é tradicionalmente associada a modalidade desportiva individual que conta com mais de 100 anos de existência – surgiu em Bergen, em 1897 (Aires et al., 2011). Poderá, no entanto, com a adaptação do formato ori‑ginal para outros (jogo, passeio,…), ser entendida como ativida‑de lúdica. De acordo com a Federação Portuguesa de Orientação (Aires et al., 2011) um percurso de orientação é, enquanto moda‑lidade, constituído por uma partida, uma série de pontos de con‑trolo identificados por círculos num mapa, numerados na ordem pela qual devem ser visitados, culminando numa meta. Enquanto atividade lúdica, ainda que os principais objetivos continuem a visar o desenvolvimento de competências pessoais, como a inter‑pretação de mapas, a concentração e a rapidez, permite também a realização da prova em grupo, estimulando o espírito de equipa.

Pese embora a prática desta atividade decorra em ambiente natural, não se afigura como uma ação com efeitos negativos.

Figura 21. Ponte sobre a Lagoa de Óbidos.Foto: Carlos Alves, 2013.

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Atividades Propostas:

• Workshop: Iniciação à Orientação pedestreOs participantes aprenderão as bases fundamentais de cartografia para a realização da atividade de orientação: encontrar o Norte; aprender a utilizar a bússola, apren‑der a usar o GPS; noções de topografia, distinção de re‑levos, entre outros.

• Atividade de OrientaçãoCada equipa terá que se orientar com o recurso forneci‑do (mapas ou GPS), para atingir os objetivos de prova previamente definidos pela organização. Os obstáculos e etapas surgirão durante o percurso delineado de forma a somar pontos.

FICHA TÉCNICA

Tema Dada a sua diversidade de espaços, a Lagoa ofere‑ce condições ideais para o treino de competências

Atividades sugeridas Workshop: Iniciação à Orientação pedestreAtividade de Orientação

Pontos de Interesse (coordenadas)

Lagoa de Óbidos, conc. Óbidos [39.388034, -9.225607] Rio Arnoia [39.36055, ‑9.13655]Rio Real [39.388322, -9.200450]Covão dos Musaranhos [39.3882, ‑9.22635]

Meios e equipamentos/ Outros recursos

Material necessário para o desenvolvimento do workshop.

Recomendações

Acompanhamento por monitores.Entre 10 a 15 participantes.Parceria com associação local com vista ao aluguer de espaço físico para parte teórica do workshop.A calendarização da atividade poderá estar condicio‑nada pela eventual existência, nos espaços a usar, de espécies nidificantes que possuam um ciclo próprio.Atender à escolha do traçado dos diversos percur‑sos, uma vez que implicam pisoteio.Subscrição de seguro de acidentes pessoais.

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Cenário 7Tema:

A região da Lagoa de Óbidos já foi habitada por dinossauros

Enquadramento:

A existência de mares, lagoas e terrenos pantanosos (numa escala maior e que conhecemos por meio de registos históricos) que confluem águas salobras e doces, terá sido, desde sempre, um fator de atração da vida animal.

Com ambientes sedimentares que ultrapassam os 250 mi‑lhões de anos, e com uma área total muito menor face aos pri‑mórdios da sua existência, a região de Óbidos enquadra‑se na Orla Meso‑Cenozoica Ocidental (Martins‑Loução, 2008). Em 1995, foram descobertas pegadas de dinossauros nas arribas da Serra do Bouro, concelho de Caldas da Rainha, que surgem em afloramentos de estratos calcários do Jurássico Superior, com mais de 65 milhões de anos, e que existem em grande nú‑mero e variedade. Sabe‑se ainda que essas pegadas pertencem a duas espécies distintas de herbívoros: os Estegossauros e os Saurópodes (ANCCT, s.d.). Anos mais tarde, foram também encontradas pegadas na Praia dos Olhos de Água, concelho de Óbidos, as quais têm sido objeto de vários estudos.

Os locais a visitar no âmbito deste tema são um testemu‑nho da colossal antiguidade da região.

Figura 22. Jazida do Bouro (à esq.). Foto: Arquivo NOSTRUM, s.d. Penedo Furado (à dir.). Foto: Carlos Alves, 2013.

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Atividades Propostas:

• Jazida do BouroAqui, os participantes poderão aprender mais sobre o pro‑cesso de fossilização; observar as pegadas e os trilhos dos dinossauros; identificar as espécies de dinossauros que aqui viveram, através das pegadas encontradas; analisar os trilhos das pegadas através de medidas e cálculos, distin‑guindo passo, passada, comprimento da pegada, ângulo do passo (como refere Oliveira (2007), através da medi‑ção de uma pegada é possível calcular, aproximadamente, a altura da perna do respetivo dinossauro, bem como a sua forma de locomoção); e recolher pegadas em gesso.

• Penedo FuradoO Penedo Furado constitui um relevo residual deixado pela erosão das formações geológicas das quais fazia par‑te. Apresenta uma alternância muito marcada entre ní‑veis mais finos e mais grosseiros, sendo visíveis por todo o afloramento estruturas de estratificação entrecruzada (AAVV, 2005; LNEC, 2002). A observação deste recurso visa conhecer a sua origem, que remonta ao tempo do Cretácico, e respetiva evolução (identificação de paleo‑correntes e tafónios) (Marques, 2009).

• Praia dos Olhos de ÁguaLocalizada no concelho de Óbidos, encontra‑se nesta praia uma jazida de pegadas que concentra um conjunto de pistas de dinossauros do período Cretácico Inferior (Aptiano‑Albiano), o que sugere a primeira ocorrência de fósseis vertebrados. Em ótimo estado de preservação, contém pegadas de dinossauros carnívoros e pormenores

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que permitem saber mais sobre o comportamento destes répteis de dimensões gigantescas. Foram observados 17 trilhos e cerca de 130 pegadas. (Mateus e Antunes, 2003).

FICHA TÉCNICA

Tema A região da Lagoa de Óbidos já foi habitada por dinossauros

Atividades sugeridasJazida do BouroPenedo FuradoPraia dos Olhos de Água

Pontos de Interesse (coordenadas)

Miradouro da Serra do Bouro [39.476305, ‑9.191312]Jazida do Bouro [39.494608, -9.175314]Penedo Furado [39.427183, -9.21195]

Meios e equipamentos/ Outros recursos

Material para recolha de pegadas.

Recomendações

Visita conduzida por um guia especializado.Entre 5 a 10 participantes.Durante a caminhada, o guia poderá apresentar um enquadramento geomorfológico da Lagoa – origens, evolução e possível futuro.

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Cenário 8Tema: A preservação do património natural da Lagoa visa garantir

a sua existência e fruição futuras

Enquadramento: O património natural é definido pela Unesco (1972) como

zona ou conjunto de elementos naturais de valor excecional do ponto de vista estético ou científico.

Apesar de a Lagoa de Óbidos deter uma elevada riqueza e diversidade natural é também, por isso, um alvo fácil para fa‑tores de risco como poluição e falta de civismo.

A educação ambiental visa, por um lado, dar a conhecer os efeitos de um conjunto de atividades sobre o ambiente – se‑jam eles físicos ou sociais, diretos ou indiretos – e, por outro, informar sobre as medidas preventivas e/ou corretivas a to‑mar (Unesco, 1999). A ligação entre as preocupações sociais e os problemas ambientais que afetam determinado território, mostra-se um importante desafio na educação dos utentes des‑se espaço: comunidade local, instituições públicas, setor priva‑do e visitantes (Carr e Kemmis, 2002).

A atividade, apresentada a seguir, procura dotar os partici‑pantes de consciência ambientalista e, ao mesmo tempo, apelar à sua criatividade para a reutilização de materiais recolhidos.

Figura 23. Recolha de lixo na Lagoa de Óbidos.Foto: Arquivo da Freguesia do Nadadouro, 2014.

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Atividades Propostas:

• Limpeza das margens da LagoaOs participantes procederão à recolha de lixo não bio‑degradável, por ser o mais prejudicial para o ecossiste‑ma. Alguns dos resíduos que podem ser encontrados nas margens da Lagoa são: plásticos, cordas, vidros ou embalagens.

• Separação de resíduosDada a variedade de resíduos existente é importante pro‑ceder à sua separação, dividindo‑os entre aqueles que po‑dem ser reciclados manualmente e os que devem ser co‑locados no ecoponto.

• Workshop de reciclagem criativaConforme os resíduos encontrados, os participantes te‑rão a oportunidade de colocar em prática a sua criativi‑dade ao aprenderem a criar objetos diferentes e originais que ficarão como recordação do dia “verde” passado junto à Lagoa.

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FICHA TÉCNICA

Tema A preservação do património natural da Lagoa visa garantir a sua existência e fruição futuras

Atividades sugeridasLimpeza das margens da LagoaSeparação de resíduosWorkshop de reciclagem criativa

Pontos de Interesse (coordenadas)

Lagoa de Óbidos, conc. Caldas da Rainha [39.428154, -9.222731]

Meios e equipamentos/ Outros recursos

Material para o workshop.

Recomendações

Parceria com artistas.Entre 10 a 15 participantes.Parceria com associação local com vista ao alu‑guer de um espaço físico fechado para a realiza‑ção do workshop.

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Cenário 9Tema:

Na orla perilagunar concentra‑se um importante conjunto de espécies, que vale a pena observar

Enquadramento:

As lagoas litorais constituem ecossistemas altamente produ‑tivos, que contribuem para o enriquecimento das zonas mari‑nhas que lhes são adjacentes. Sendo ecossistemas de transição, as lagoas são constituídas por um mosaico de meios ao qual correspondem vários nichos ecológicos. A variedade de habi‑tats existentes na Lagoa de Óbidos – áreas agrícolas, caniçais, sapais, corpo de água, entre outros – corrobora a multiplicida‑de de espécies, florísticas (vegetação ribeirinha, ripária, …) e faunísticas (bivalves, ictiofauna, avifauna e outros vertebrados terrestres), que ocorrem no território.

Das espécies de macrofauna observadas, destaca‑se a ocor‑rência da lontra (Lutra lutra). Pertencente ao grupo dos verte‑brados terrestres e identificada como rara no Livro Vermelho, devido ao decréscimo populacional acentuado, depende parti‑cularmente de zonas húmidas de água doce (Cerqueira, 2005). A sua presença na Lagoa atesta o elevado interesse biológico desta área: reúne o alimento (por exemplo, as enguias e crus‑táceos) e vegetação ripícola (que lhes serve de refúgio) ade‑quados à espécie.

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Figura 24. Vista da Lagoa de Óbidos ao entardecer.Foto: Carlos Alves, 2013.

Atividades Propostas:

• Workshop “Vida Selvagem”

a) Parte teórica: Sugere-se uma apresentação e identificação das espécies que vivem junto à Lagoa: ouriço-cacheiro; toupeira; ra‑posa; musaranho-anão; musaranho-de-dentes-brancos; ratinho-ruivo; rato-de-água; coelho-bravo.Incidir na caracterização das lontras, identificando os principais fatores de ameaça (destruição da vegetação ri‑pícola; poluição da água; uso de pesticidas e fertilizantes na agricultura; morte por afogamento em artes de pes‑ca; perseguição direta; barragens, entre outros) e as po‑tenciais medidas de conservação (conservação e recu‑peração da vegetação ribeirinha autóctone; qualidade da água; ordenamento territorial; análise de estudos de im‑pacto ambiental).Ensinar a identificar as pegadas e vestígios deixados pe‑los mamíferos que aqui vivem.

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b) Parte prática:Expedição, procurando as espécies descritas no workshop, com especial atenção para as lontras.Descobrir e analisar sinais das diferentes espécies identifi‑cadas na componente teórica (ninhos, tocas, pegadas,…) e proceder à recolha de alguns vestígios.

FICHA TÉCNICA

Tema Na orla perilagunar concentra‑se um importante conjunto de espécies, que vale a pena observar

Atividades sugeridas Workshop “Vida Selvagem”

Pontos de Interesse (coordenadas)

Lagoa de Óbidos, conc. Óbidos [39.388034, ‑9.225607]Covão dos Musaranhos [39.3882, ‑9.22635]

Meios e equipamentos/ Outros recursos

Material necessário para o desenvolvimento do workshop.

Recomendações

Visita conduzida por um guia especializado. Entre 10 a 15 participantes.Parceria com associação local com vista ao aluguer de espaço físico para parte teórica do workshop.Subscrição de seguro.

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Cenários Culturais

Cenário 10Tema:

Os círios constituem um testemunho característico da de‑voção das populações costeiras

Enquadramento:

Os círios representam uma amostra das tradições que mar‑caram a religiosidade das populações costeiras da antiga Estre‑madura, cujos exemplos mais conhecidos se podem ainda en‑contrar em torno dos santuários de Nossa Senhora da Nazaré, Nossa Senhora dos Remédios (em Peniche), Nossa Senhora do Cabo Espichel (em Sesimbra), e Nossa Senhora da Atalaia (Montijo). Os círios são usualmente tutelados por confrarias, que organizam a romaria anual ao respetivo local de culto, em cumprimento de uma promessa coletiva e antiga. A comuni‑dade em peregrinação faz representar o círio através de uma bandeira, que ostenta o nome da povoação e o nome do san‑tuário da sua devoção (Marques, 2005).

Também a freguesia do Vau (concelho de Óbidos) preser‑va uma festividade conhecida pela designação de Círios, a qual reúne sensivelmente os mesmos elementos de outras devoções associadas às profissões marítimas. De acordo com uma narra‑tiva bastante conhecida dos seus fregueses, nos finais do século XVI, uma nau comandada por Aires de Sá e Melo naufragou junto a Peniche. O seu comandante, homem muito devoto da Virgem do Bom Sucesso, implorou o seu auxílio, o qual lhe foi concedido, garantindo a salvação de todos os passageiros da nau. Em 1585, fundou, na sua Quinta do Bom Sucesso, uma

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pequena ermida em honra de Nossa Senhora como agradeci‑mento e cumprimento da promessa. No ano seguinte, Aires de Sá e Melo, com parte da sua tripulação, inaugurou a romaria, que se viria a realizar anualmente, à qual confluíam as popu‑lações de Peniche, do Vale Benfeito e do Nadadouro. Esta úl‑tima paróquia, dada a devoção que nutria por Nossa Senhora do Bom Sucesso, erigiu no Nadadouro, em 1856, uma igreja sob a mesma invocação, inaugurando também ali a sua própria festividade substitutiva do círio, evitando a deslocação à antiga Ermida do Bom Sucesso (Lopes, 1991 e Silva, 2005).

Figura 25. Círio do Vau.Foto: Gil Lourenço, 2012.

Atividades Propostas:

• Visita à igreja da Nossa Senhora do Bom Sucesso, NadadouroIgreja oitocentista de planta longitudinal e de nave única, onde se destaca uma pia batismal em formato de capitel com motivos vegetalistas e a representação das armas da rainha D. Leonor de Lencastre. Supõe‑se que este capi‑tel seja oriundo do Hospital Termal de Caldas da Rainha, podendo, eventualmente, ter pertencido ao desaparecido Pelourinho de Caldas. (SIPA, s.d.)

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• Travessia de barco, do Nadadouro até ao Bom SucessoEsta atividade procura evocar os tempos em que a popu‑lação do Nadadouro atravessava a Lagoa de Óbidos nas suas bateiras – embarcação típica de pescadores e ma‑riscadores – para participar no Círio da Quinta do Bom Sucesso (Vau). Sugere‑se, por isso, que os participantes reconstituam essa travessia, partindo da margem norte da lagoa (Nadadouro) até ao seu lado sul (Vau), onde atual‑mente o círio tem lugar.

• Participação no início do círioNa romaria, cuja parte do percurso é realizada a pé, os festeiros, vestidos com capas brancas, ostentam a ban‑deira e o “anjo”, o qual é representado por uma crian‑ça, que enverga uma túnica azul, uma capa vermelha e um capacete romano, e que segue a cavalo. No início, tal como no final do cortejo, entoam-se hinos de louvor a Nossa Senhora, tradicionalmente designados por loas, cujo mote é dado pelo anjo.

• Visita à Quinta e Ermida do Bom SucessoCom referências históricas que datam do final do sécu‑lo XVI, esta quinta terá sido fundada por Aires de Sá e Melo e viria a atrair a realeza, nos séculos XVII‑XIX, para caçadas e pescarias, como, aliás, provam as inscri‑ções alusivas à presença dos monarcas brigantinos: D. João IV, D. João V e D. Maria I. Consta que o rei D. Fer‑nando II, antes de ter adquirido o convento da Pena, na Serra de Sintra, onde viria a edificar o palácio, terá ten‑tado comprar, por diversas vezes, a Quinta do Bom Su‑cesso. Considerada, então, a maior quinta do distrito de

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Leiria, com mais de 30 quilómetros quadrados, era com‑posta por pinhais, sobreirais, extensos pomares e vinhas, pastagens ricas em água, assim como terras férteis para diversos cultivos. No século XIX, esta foi adquirida por D. Veríssimo Monteiro da Serra, bispo de Pequim, que aí edificou um novo palácio, onde integrou a antiga Capela do Bom Sucesso. Esta apresenta uma estrutura bastante simples, pontificada pelo altar da padroeira, e inscrições sobre os túmulos que guardam os restos mortais de an‑tigos proprietários da quinta. Apesar de estar integrada numa propriedade privada, a ermida pertence ao Patriar‑cado de Lisboa e, dada a antiga tradição dos círios, está acessível aos habitantes do Vau, que aí acorrem durante a festa anual (Lopes, 1991).

• Participação na Marcha dos BalõesNo regresso ao centro da freguesia do Vau, depois do pôr-do-sol, o círio finda com a Marcha dos Balões, ar‑cos enfeitados com balões e tochas, acompanhados de cantigas populares.

• Participação no BaileÀ festa sagrada, sucede‑se a festa profana. À imagem da‑quilo que acontece em tantos outros locais, os bailes, pe‑tiscos e bebidas estimulam o convívio entre residentes e visitantes, que se prolongam pela noite dentro.

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FICHA TÉCNICA

Tema Os círios constituem um testemunho característico da devoção das populações costeiras

Atividades sugeridas

Visita à igreja da Nossa Senhora do Bom SucessoTravessia de barco, do Nadadouro até ao Bom SucessoParticipação no início do círioVisita à Quinta e Capela do Bom SucessoParticipação na Marcha dos BalõesParticipação no baile

Pontos de Interesse (coordenadas)

Lagoa de Óbidos, conc. Óbidos [39.388034, ‑9.225607]Igreja de N.ª S.ª do Bom Sucesso, Nadadouro [39.418889, -9.189106]Capela do Bom Sucesso, Vau [39.388563, ‑9.227803]Quinta do Bom Sucesso, Vau [39.388617, ‑9.22725]

Meios e equipamentos/ Outros recursos

Bateira

Recomendações

O círio realiza‑se, anualmente, no primeiro domin‑go a seguir ao 15 de Agosto.Visita realizável em grupo ou autonomamente.Sugere‑se o estabelecimento de parceria com um pescador ou com a APMALO para a realização da travessia de bateira.Sugere‑se o jantar nas tasquinhas da festividade.

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Cenário 11Tema:

Pequena no nome, a aldeia do Vau esconde uma enorme riqueza patrimonial

Enquadramento:

Na memória coletiva, a justificação do nome da povoação é encontrada no facto de o seu território ter estado, ao longo de séculos, submerso sob as águas da Lagoa de Óbidos, du‑rante os períodos em que esta apresentava uma extensão sig‑nificativamente maior, lindando, inclusivamente, com o sopé do monte onde se ergue o castelo de Óbidos. Conta‑se que, nesses tempos, os habitantes do Vau se deslocavam àquela vila medieval com o auxílio de embarcações. Presume‑se, por isso, que o substantivo “nau” terá dado origem ao topónimo Vau. Não é, ainda assim, de excluir a possibilidade de uma explica‑ção mais comezinha, relacionada com os sentidos que o vo‑cábulo “vau” ainda apresenta, entre “baixio”, “almegue” ou “elemento de navio”. As condições do relevo e o alagamento das várzeas obrigavam os seus habitantes a “passar a vau”. Mas subsiste uma outra explicação, de ordem etimológica, segun‑do a qual a palavra latina vadu, para se referir ao leito seco da lagoa, evoluiu, por queda de /d/ intervocálico, para o termo vau. (Lopes, 1991)

De facto, a freguesia perfilha um nome formado, tão-so‑mente, por três letras, mas a sua ancestralidade, assim como a variedade e riqueza do seu edificado e tradições merecem um conhecimento detalhado, com destaque para as lendas locais, que remetem às origens da nacionalidade e ao rei fundador. Propõe-se, para isso e a título exemplificativo, uma experiên‑cia de visita orientada por rallypaper, uma modalidade de prova

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de orientação, que procura transmitir conhecimentos de forma lúdica, apelando à curiosidade e à competição saudável. Neste exemplo, sugere‑se que os participantes, organizados em equi‑pas, percorram o território do Vau, através do contacto com alguns dos seus pontos de interesse, que correspondem, na sua maioria, a lugares da freguesia, cujos topónimos são justifica‑dos pelas lendas que lhe estão associadas.

Figura 26. Igreja de N. Sra. Da Piedade (Vau).Foto: Carlos Alves, 2013.

Atividades Propostas:

• RallypaperOs lugares a incluir nesta atividade serão, designadamen‑te, os seguintes:

Igreja de Nossa Senhora da PiedadeA atual igreja, datada dos séculos XVII‑XVIII, foi ele‑

vada a igreja paroquial em 1747, na sequência da autonomia

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que o Vau alcançara em relação à paróquia da Amoreira. Viria a ser restaurada devido aos danos que lhe causara o terramo‑to de 1755 (Lopes, 1991). Assume particular interesse a tela de Josefa de Óbidos, datada de 1680-84, que representa a pa‑droeira da paróquia, Nossa Senhora da Piedade, com o filho, já morto, sobre o seu regaço e Santo António com o Menino (SIPA, s.d.). Consta que o filho de D. João V, o infante D. Pe‑dro e futuro D. Pedro III (pelo seu casamento com a rainha D. Maria I), foi salvo, por moradores do Vau, de afogamento na aberta da Lagoa, o que o levou, num gesto de gratidão, a contribuir para as obras de reconstrução da igreja, na sequên‑cia do terramoto (Silva, 2005). A igreja conserva uma imagem de Santa Quitéria, protetora dos doentes de raiva, em honra da qual os habitantes do Vau organizavam uma festa anual, à qual acorria um círio com origem em Vale Benfeito, de que se conservam algumas loas. Tem igualmente uma imagem de S. Sebastião, à qual os paroquianos prestavam o seu culto, com festividade própria, através de duas irmandades, que dividiam os habitantes do Vau: a de S. Sebastião dos Velhos e a de S. Sebastião dos Novos.

Moinhos do VauAproveitando a proximidade do mar e os ventos fortes,

os agricultores do Vau construíram vários moinhos de vento, destinados à moagem dos cereais produzidos na região. Ainda é possível encontrar dois desses moinhos, um dos quais em perfeito estado de funcionamento, conhecido por Moinho do Joaquim Constantino.

Poça do VauNo passado, todas as poças da região comunicavam com

a Lagoa de Óbidos, através de pequenos canais. As suas dimen‑

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sões foram‑se, entretanto, reduzindo, sendo apenas visíveis du‑rante os meses de inverno. A Poça do Vau deve o seu nome à proximidade da aldeia (Trindade, 2001).

Poça da Cativa e Bicada da MoiraO seu nome deve‑se a um episódio lendário, segundo o

qual, no período da Reconquista Cristã, as tropas portuguesas ao serviço de Afonso Henriques, ao percorrerem esta região e ao chegarem à Poça do Bispo, avistaram uma moira, filha de um governador islâmico de Óbidos. Ao deparar com os guer‑reiros, a moira pôs-se em fuga, mas acabou por ser captura‑da, ficando aprisionada no lugar que veio a receber o nome da Cativa (Lopes, 1991). Segundo os residentes, houve aqui uma bica, a da Moira, seca há vários anos, que serviu de bebedouro aos animais que pastavam por estas bandas.

Adegas d’ el ReiConta‑se que o primeiro monarca português, Afonso

Henriques, depois de tomar Óbidos, e ao passar pelo Cabeço da Lapinha, avistou um bando de mouros em fuga. Perseguiu‑‑os e encurralou‑os entre a Lagoa de Óbidos e o Oceano, le‑vando‑os a renderem‑se. Chegados a um lugar onde existiam três nascentes de água, tendo alguém pedido vinho, o rei terá dito: “Bebamos água, eis as adegas d’ el rei” (Lopes, 1991).

Poça da Ferraria e FerrariaSegundo a lenda, os cristãos, em perseguição aos mouros,

encontraram aqui uma oficina de ferreiros e serralheiros, que fornecia os utensílios necessários à vida quotidiana e à manu‑tenção da guerra. A poça, localizada nas suas imediações, aca‑bou por adotar o seu nome (Lopes, 1991).

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FICHA TÉCNICA

Tema Pequena no nome, a aldeia do Vau esconde uma enorme riqueza patrimonial

Atividades sugeridas Rallypaper

Pontos de Interesse (coordenadas)

Igreja de N.ª S.ª da Piedade, [39.364392, -9.211027]Bicada da Moira [39.381482, -9.207942]Adegas d’ el Rei [39.405236, -9.262490]Poça do Vau [39.374376, -9.217609]Poça da Cativa [39.389699, ‑9.201133]Poça da Ferraria [39.400346, -9.221221]Ferraria [39.398344, -9.231676]Moinho do Joaquim Constantino [39.362923, -9.214245]

Meios e equipamentos/ Outros recursos

Veículos motorizados e não motorizados.

Recomendações

Conteúdos organizados em torno das lendas do Vau.Presença de um guia, monitor ou animador tu‑rístico.Limitação do número de participantes: entre 10 a 20.Participação da comunidade local, nomeadamente nos pontos de referência do rallypaper. Estabelecimento de parcerias com vista à confe‑ção de t‑shirts temáticas e prémios. Obtenção das autorizações para a visita a bens pri‑vados, como é o caso dos moinhos.

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Cenário 12Tema:

Ainda é possível experienciar atividades ancestrais na La‑goa de Óbidos

Enquadramento:

A riqueza piscícola da Lagoa de Óbidos há muito que atraiu os pescadores, servindo de compensação às dificuldades que a pesca em mar alto oferecia durante os meses de inverno. Percebeu‑se, desde os tempos medievais, que o processo de as‑soreamento da lagoa punha em risco a sobrevivência das popu‑lações. A sua importância socioeconómica era tal que D. João I, em carta datada de 1400, e a pedido da edilidade obidense, or‑denava aos concelhos do Cadaval e da Atouguia da Baleia que fornecessem a mão‑de‑obra necessária aos trabalhos de aber‑tura da lagoa, sempre que a tal fossem requeridos. A tarefa foi repetida vezes sem conta e, já no século XIX, a ocasião era, inclusivamente, acompanhada de festejos, que chamavam mui‑tos forasteiros à Lagoa de Óbidos (Serra, s.d.).

A riqueza que as águas lagunares granjeavam em pescado é atestada, no século XVI, a propósito do Capítulo‑Geral da Ordem de S. Francisco, realizado em 1522 no Convento de S. Francisco de Alenquer. A rainha D. Leonor, viúva de D. João II, pedira ao seu provedor que acautelasse todo o pescado necessá‑rio à alimentação dos frades aí reunidos, ao que este lhe enviou mais de um milhar de peixes, obtidos na lagoa. A sua importân‑cia económica não dependia apenas da pesca. No final do sé‑culo XIX, Pinho Leal, em Portugal Antigo e Moderno, dava conta do adágio popular, segundo o qual a “... Lagoa dá pão, carne e peixe, porque todos os anos se extraem dela milhares de carra‑das de limo, que é óptimo adubo para as terras” (in Silva, 1988).

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Um meio de comunicação bastante utilizado em atividades turísticas e deveras apreciado é o denominado storytelling, que consiste na partilha de conhecimentos e experiências através da forma narrativa. No fundo, trata‑se de recuperar um modo de transmissão do conhecimento ligado às sociedades de tra‑dição oral e que persiste ainda no âmbito das relações familia‑res. A sugestão parte do pressuposto de que não há ninguém melhor do que as gentes locais, os nossos storytellers ou con‑tadores de histórias, para nos desvendar os saberes, segredos, lendas e tradições guardadas nas suas memórias.

Figura 27. Mariscador na captura de bivalves (à esq.) e iguaria regional (à dir.).Fotos: Carlos Alves, 2013.

Atividades Propostas:

• Passeio de bateiraAconselha‑se a realização de um passeio para conhecer, nomeadamente, a zona da Aberta, o Braço do Bom Su‑cesso e o Braço da Barrosa. O uso da bateira justifica‑‑se por constituir o tipo de embarcação característico da lagoa (Baptista, 2005). Sugere‑se, ainda, a realização de atividades de pesca, com recurso às bateiras.

• Conhecer a APMALOA Associação de Pescadores e Mariscadores Amigos da Lagoa de Óbidos (APMALO) mostra‑se um excelente

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recurso, capaz de proporcionar o convívio dos visitan‑tes com os profissionais que se encontram melhor po‑sicionados para partilhar as suas experiências na lagoa. A fauna, os instrumentos utilizados na faina, assim como as atividades que se foram perdendo na voragem do tem‑po, mas que os mais velhos guardam na memória e narram repetidas vezes aos mais novos, surgem frequentemente no âmbito dos seus círculos de sociabilidade. Contam‑se, entre outras atividades, estórias sobre a apanha do limo, a extração de sal, a pesca ao candeio e as caldeiradas nas margens da lagoa.

• Almoço ao ar livreAlguns pratos típicos da região, guarnecidos de ingredien‑tes originários da lagoa, são um bom mote para a orga‑nização de almoços. São particularmente apreciados o Mexilhão à Marinheiro, a Amêijoa à Bulhão Pato, os cho‑cos grelhados, as Navalhas à Fisgote, as Enguias Fritas à Galricho, a Caldeirada de Enguias à Pescador, o berbigão ou o lingueirão (RIO, 2006). Aconselha‑se que o almoço seja preparado nas imediações da Lagoa de Óbidos, com a ajuda dos visitantes, recorrendo ao pescado da lagoa e ao auxílio dos pescadores, que darão o seu apoio na pre‑paração e no tempero dos alimentos.

• Workshop “Faina na Lagoa”Sugere‑se a implementação de atividades focadas na va‑riedade de moluscos bivalves que habitam a lagoa. Estas ações poderão incidir sobre o seu ciclo de vida, as suas fontes e processos de sobrevivência, a sua relação com algumas espécies de algas e os perigos que daí advêm para a alimentação humana em função de graus de toxicida‑

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de que os bivalves possam apresentar em determinados períodos do ano, implicando a interdição da sua captura. Esta atividade deverá harmonizar‑se com uma iniciação às técnicas e utensílios utilizados na apanha, experienciar a faina, devolvendo, por fim, as espécies capturadas ao seu ambiente natural.

• Visita à Aldeia da LapinhaEste lugar da freguesia do Vau é recomendado a todos aqueles que nutram interesse pela etnografia e pela ar‑quitetura popular e tradicional. Trata‑se de um conjunto urbano com uma estrutura irregular, formada por casas de pequena dimensão, de piso térreo, ostentando as cha‑minés. Pintadas de branco, apresentam apontamentos de cores fortes (azul, vermelho, verde, amarelo...) nas jane‑las e nas portas, provocando um impacto visual bastante curioso. Destacam‑se os espaços ajardinados que as ro‑deiam, repletos de canteiros floridos, assim como algumas vias revestidas de calçada portuguesa. Estas habitações eram ocupadas pelos pescadores da Lagoa, sendo, atual‑mente, aproveitadas para turismo de habitação.

• Cabanas dos pescadores e mariscadoresEstas construções tradicionais, também conhecidas por “barracas”, têm a particularidade de ser erigidas com ma‑teriais de origem vegetal (varas de pinho e eucalipto, ca‑niços, bunho, junco, palha, tábuas e barrotes). Apresen‑tam a forma de cunha, mais largas na frontaria que nas traseiras, com cobertura de duas águas, que se prolonga até ao chão. No exterior, são revestidas por caniço e, no interior, por tábuas de madeira, muitas vezes, aproveitadas de objetos arrastados pelas correntes, para dar consistên‑

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cia às edificações. Trata-se de construções bastante sus‑tentáveis que, hoje, servem para acondicionar utensílios de pesca, motores de barcos e, por vezes, para descansar. No passado, elas desempenharam funções habitacionais durante uma boa parte do ano (Baptista, 2005). Estas construções, ou as suas réplicas, constituem excelentes equipamentos para a implementação futura de atividades e centros interpretativos.

• Visita a uma depuradoraSugere‑se que as atividades desenvolvidas em torno deste tema aproveitem as unidades de depuração e expedição de moluscos bivalves vivos, onde o visitante poderá co‑nhecer os modernos processos de tratamento, distribui‑ção e comercialização destas espécies lagunares, com a possibilidade de os adquirir, naqueles casos que admitam a venda direta ao consumidor. A região dispõe de vários centros de depuração, localizados em ambas as margens da Lagoa de Óbidos.

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FICHA TÉCNICA

Tema Ainda é possível experienciar atividades ancestrais na Lagoa de Óbidos

Atividades sugeridas

Passeio de bateira APMALOAlmoço ao ar livreWorkshop “Faina na Lagoa”Visita à Aldeia da LapinhaObservação das cabanas de pescadores e maris‑cadoresVisita a uma depuradora

Pontos de Interesse(coordenadas)

Lagoa de Óbidos [39.388034, -9.225607]APMALO [39.366460, -9.218744]Aldeia da Lapinha [39.410741, -9.222541]Cabana de pescadores [39.395496, -9.219686]Depuradora [39.421230, -9.228384]

Meios e equipamentos/ Outros recursos

Bateira.Utensílios para mariscar e pescar.Utensílios necessários à realização do almoço.

Recomendações

Limitação do número de participantes: entre 5 e 10.Parceria com a APMALO, com pescadores e maris‑cadores, assim como com as depuradoras da região.A zona da Aberta não é navegável em determinadas épocas do ano, pelo que é imprescindível a consulta da Capitania de Peniche, nomeadamente para ob‑tenção de licenças e a confirmação de restrições.Presença de um guia, monitor ou animador turístico.Colaboração de storytellers, de preferência locais.

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Cenário 13Tema:

O milionário, Francisco de Almeida Grandela, fez muito por esta comunidade

Enquadramento:

Francisco de Almeida Grandela (1853-1934), desde cedo mostrou ter apetência para os negócios. Após alguns anos como trabalhador dependente, abriu o seu próprio estabeleci‑mento comercial, em Lisboa, quando completava 26 anos de idade. O sucesso das unidades comerciais e industriais que viria, mais tarde, a criar haveriam de lhe granjear uma das maiores fortunas do seu tempo. Entre os negócios que criou, os mais destacados são os Armazéns Grandella, no Chiado, e o Bair‑ro Grandella, em Benfica, construídos nos inícios do século XX. O primeiro seguia o modelo dos mais avançados espaços comerciais franceses e o segundo detinha uma unidade fabril dedicada à produção de tecidos e mobiliário de ferro.

Para além das atividades económicas a que se dedicou, Fran‑cisco de Almeida Grandela foi militante e ativista do Partido Republicano, tendo inclusivamente desempenhado o cargo de vereador na Câmara Municipal de Lisboa. Foi membro da Maçonaria e teve um importante papel no campo social, de‑signadamente no combate ao analfabetismo. As suas preocu‑pações cívicas estão patentes no bairro operário de Benfica e nas dezoito escolas que o milionário mandou edificar em vá‑rias localidades do país.

Nos finais do século XIX, ao que parece, por motivos de saúde, Grandela descobriu as Caldas da Rainha, numa altu‑ra em que também outras personalidades se sentiam atraídas pela região e por ali edificavam os seus chalets. O seu interesse

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dirigiu‑se para a Lagoa de Óbidos e, em particular, para a Foz do Arelho. Diz‑se que Francisco Grandela sonhava em trans‑formar este lugar numa estância balnear semelhante a Veneza. Decidiu construir aí um palacete, entre outras marcas deixa‑das na zona, onde veio a falecer, em 1934. Em homenagem ao homem que tanta obra aqui deixou, a freguesia da Foz do Arelho inaugurou, em 2009, um busto de Francisco de Almei‑da Grandela, localizado no Jardim da Vila, da autoria de Her‑culano Elias. (Trancoso, 2009)

Figura 28. Fachada da Escola Primária Francisco de Almeida Grandela (à esq.) e Fachada da Capela de Sta. Matilde (à dir.).

Fotos: Carlos Alves, 2013

Atividades Propostas:

• Visita às escolas Francisco de Almeida Grandela e António França BorgesAmbas mandadas construir por Francisco de Almeida Grandela, a primeira delas situa‑se na Foz do Arelho, a segunda no Nadadouro. Estas escolas, construídas no iní‑cio do século XX, seguem a tipologia adotada pelo res‑tante conjunto mandado edificar por Grandela, num total de dezoito equipamentos escolares. Destacam‑se a estru‑

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tura neoclássica, os frontões triangulares assentes sobre colunas dóricas e os símbolos maçónicos, ostentados no tímpano do frontão e a encimar algumas janelas, a estrela de cinco pontas e dois livros ligados por uma faixa que culmina na forma triangular. Na escola do Nadadouro é possível observar um painel de azulejo com o retrato do jornalista republicano, António França Borges, uma ho‑menagem decidida pelo próprio Grandela.

• Visita ao INATEL (antigo Palacete de Francisco de Almeida Grandela)No edifício onde hoje funcionam as instalações do INA‑TEL, na Foz do Arelho, construiu Grandela um palacete em estilo neomanuelino, dotando‑o de uma capela dedi‑cada a Santa Matilde, que viria a rebatizar como Casa do Povo, pois era usada para a celebração de importantes atos civis e educativos. Consta que a Lei de Separação do Estado da Igreja, da autoria do ministro da Justiça, Afonso Costa, foi ali finalizada. As campanhas de edi‑ficação decorreram nos anos 1898-99, 1902 e 1907. No entanto, aquilo que hoje se consegue visualizar já pouco ou nada tem a ver com o original, graças às profundas obras de adaptação realizadas durante o Estado Novo. (Trancoso, 2009).

• Visita ao Palacete Conde Almeida AraújoGrandela não foi uma personalidade isolada por estas ban‑das. Outras importantes figuras da época e do seu círculo de amizades assentaram as suas residências de verão na Foz do Arelho. Foi o caso do Conde de Almeida Araú‑jo, Joaquim Palhares de Almeida Araújo, que aí edificou um enorme palacete fronteiro à lagoa e ao mar, em 1904.

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• Visita ao Hotel do FachoO Conde de Almeida Araújo construiu uma unidade de alojamento, o Éden Palace Hotel, que viria a ser inaugu‑rada em 1910, após a sua morte. O filho de Francisco de Almeida Grandela, Luís Grandela, arrendou‑o em 1923, dando‑lhe o nome que ainda mantém. É um dos raros casos de longevidade no desempenho da mesma função ao longo de mais de um século de existência. Conserva a traça original e goza de uma localização privilegiada, entre a lagoa e o mar.

• “Descobrir as diferenças”Dada a existência de um significativo conjunto de pos‑tais e fotografias que representam a evolução da Foz do Arelho desde os finais do século XIX, seria bastan‑te curioso – podendo, inclusivamente, efetivar‑se sob a modalidade de jogo – descobrir as diferenças entre esses tempos, documentados iconograficamente, e o presente. Esta atividade constituiria o mote para a reflexão acerca das transformações sofridas pelas paisagens humaniza‑das e sobre os critérios a observar com vista à conserva‑ção desse património.

• Workshop culinário “Makavenkos”Sociedade fundada em 1884, por Francisco de Almeida Grandela com mais 12 amigos apreciadores de patusca‑das, vindo a reunir mais de uma centena de sócios. Tra‑tava‑se de uma coletividade destinada ao divertimento dos seus membros, profissionais de diversos ramos de atividade e personalidades endinheiradas, unidos pelo signo do republicanismo, mas igualmente empenhada em ações filantrópicas. Organizavam banquetes e con‑

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vívios, discutindo temas da atualidade, desde a religião à política, atuando, até à implantação de República, de um modo secreto. Passaram por vários edifícios de Lisboa, acabando por se fixar na cave do Teatro Condes. A pe‑dido de alguns associados e no intuito de angariar fun‑dos para mais uma obra benemérita, Francisco Grandela viria a publicar, em 1919, um livro de memórias, redigi‑do num tom bastante fresco e irónico, através do qual ficamos a conhecer algumas das iguarias confecionadas no âmbito deste clube republicano. Em Memórias e recei-tas culinárias dos Makavenkos (Grandela, 2010) descobre‑‑se, por exemplo, uma receita ligada à Lagoa de Óbidos, a Caldeirada à José Mestre, que a narrativa de Grandela associa ao próprio rei D. Carlos, que, ao visitar a Lagoa, não dispensava a iguaria do pescador. A fórmula parece bastante simples: azeite, uma camada de cebola, outra de tomate, colorau, uma pouca de pimenta e o peixe. Nova camada de cebola, de tomate... repetindo o procedimento anterior. Cozinha‑se em lume brando, evitando introduzir a colher para mexer os ingredientes. No final, uns golos de vinagre. Escrevia Grandela que “posta na mesa... era comer e chorar por mais!”Propõe‑se a recriação de pratos saboreados pelos Maka‑venkos, os quais terão, muito provavelmente, sido degus‑tados no palacete do milionário da Foz.

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FICHA TÉCNICA

Tema O milionário, Francisco de Almeida Grandela, fez muito por esta comunidade

Atividades sugeridas

Visita à Escola Primária Francisco de Almeida GrandelaVisita à Escola Primária António França BorgesVisita ao Palacete Conde Almeida AraújoVisita ao Hotel do FachoVisita ao INATEL “Descobrir as diferenças” Workshop culinário “Makavenkos”

Pontos de Interesse (coordenadas)

Escola Primária Francisco Almeida Grandela [39.431317, -9.218083]Escola Primária António França Borges, Nada‑douro [39.420456, -9.188797]INATEL/Palacete de Francisco Almeida Grandela [39.429417, -9.2225]Palacete Conde Almeida Araújo [39.4317, -9.2265]Hotel do Facho [39.434875, -9.227395]

Meios e equipamentos/ Outros recursos

Brochura com fotografias e postais antigos.

Recomendações

Visita guiada.Entre 10 a 15 participantes.Espaço destinado ao workshop de culinária.Parceria com um Chef para a realização do workshop.

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Cenário 14Tema:

A Lagoa de Óbidos foi uma inspiração para Rafael Borda‑lo Pinheiro

Enquadramento:

Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) foi um dos maiores ar‑tistas do seu tempo. Destacou‑se nas mais diversas expressões artísticas, do teatro ao desenho. Teve uma intervenção profun‑da no campo do jornalismo político e humorístico. Desenvol‑veu uma obra colossal na área da caricatura – documentando factos, atores e tipos sociais –, constituindo o resultado do seu labor um repositório indispensável para todo aquele que pre‑tenda aproximar‑se das últimas décadas do regime monárqui‑co português ou conhecer as suas perceções quanto à políti‑ca internacional. Qual é o Português que, hoje, não conhece o Zé Povinho?

Dominou, com destreza, as técnicas do desenho, a ilustração, a aguarela, a decoração e a cerâmica, que acabou também por ensinar. Foi correspondente de vários periódicos nacionais e estrangeiros, onde publicou inúmeras litografias. O seu trabalho foi reconhecido internacionalmente (em Espanha, Brasil, Ho‑landa, França, Estados Unidos) e continua a inspirar os artistas, especialmente aqueles que se atraem pelas correntes realistas.

Foi viver para as Caldas da Rainha para trabalhar como dire‑tor artístico da Fábrica de Faianças, onde permaneceu durante as duas últimas décadas da sua vida, entre 1884 e 1905. Esta unidade fabril procurava dar continuidade à tradição da faian‑ça decorativa local, pelo que a intervenção de Rafael Borda‑lo Pinheiro lhe deu um impulso inédito, renovando‑a, naquilo que os historiadores de arte consideram o segundo e terceiro

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ciclos da cerâmica caldense. A Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha produziu uma grande variedade de peças (materiais de construção, azulejo, escultura, louça utilitária e decorativa), marcadas pelo cunho decorativista que Bordalo Pinheiro lhes imprimiu. A ação do artista ficou também patente na edifica‑ção do próprio conjunto fabril que acompanhou a renovação da unidade produtiva, no qual se envolveu diretamente, e que contava com a fábrica, o pavilhão de exposição e venda e a Es‑cola de Desenho Industrial.

A obra de Rafael Bordalo Pinheiro foi profundamente mar‑cada pelas correntes naturalistas. Compreendeu e incrementou a filosofia subjacente ao movimento das arts and crafts (“artes e ofícios”), que procurava reabilitar o estatuto do artesão‑artis‑ta, combatendo o esmagamento dos ofícios tradicionais face à maquinização dos processos produtivos, e acabaria por in‑fluenciar as correntes artísticas que, a breve trecho, haveriam de vingar: a Arte Nova e os Modernismos.

O cunho naturalista de Bordalo Pinheiro é particularmente visível em utensílios decorativos povoados por motivos aquáti‑cos, tanto de água doce como salgada. As diversas espécies de peixes, crustáceos, batráquios, aves, plantas e, até, cordames, cestarias e outras alfaias de pesca, embarcações e representa‑ções profissionais, refletem os revivalismos que assinalaram o seu tempo, marcados, designadamente, por influências renas‑centistas, barrocas e orientalizantes. É de destacar a força que a obra de Bernard Palissy, um ceramista francês do século XVI, tinha já sobre os artesãos caldenses que precederam Bordalo Pinheiro, mas que, na obra do mestre, resultou em pratos na‑tureza-morta. Neste âmbito, é ainda de sublinhar a influência de Rafael Bordalo Pinheiro em ceramistas locais, como os ir‑mãos Francisco e Herculano Elias, assim como o seu próprio filho, Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro.

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O cenário que propomos parte do pressuposto de que Bor‑dalo Pinheiro manteve uma relação próxima com a Lagoa de Óbidos, elemento denotado em artigos que escreveu para o jornal satírico Pontos nos ii, nos quais revela apreciar aquele es‑paço, assim como em material fotográfico do Museu Bordalo Pinheiro, em Lisboa, que mostra o artista, com a família e os amigos, a realizar piqueniques nas margens da lagoa. As ativi‑dades que sugerimos foram selecionadas em função das insti‑tuições que, nas Caldas da Rainha, guardam importantes co‑leções bordalianas. (Dias, 1987; Guimarães, 1997; Serra, 2000; França, 2007; Castanheira, 2014; Sousa, 2000; Horta, Henri‑ques e Caeiro, 2007).

Figura 29. Em cima: Fachada do Museu da Cerâmica (à esq.)

e Caranguejo em cerâmica de Bordalo Pinheiro (à dir.). Em baixo: Busto de Bordalo Pinheiro no Parque D. Carlos I.

Fotos: Carlos Alves, 2013.

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Atividades Propostas:

• Visita à Casa Museu S. RafaelEste museu privado tem origem na unidade fabril que suce‑deu à antiga Fábrica de Faianças, inaugurada em 1908 pelo filho de Rafael Bordalo Pinheiro, Manuel Gustavo, que tam‑bém foi ceramista. Chamou‑lhe Fábrica S. Rafael – numa homenagem ao pai e em jeito de veneração – e, uns anos depois, Fábrica Rafael Bordalo Pinheiro. Em 1984, aquando do centenário da fundação da Fábrica de Faianças, o edifí‑cio, ao tempo morada da neta de Rafael, Helena, veio a ser adaptado a Casa Museu, com o intuito de mostrar e vender as peças que reproduzem, em boa medida, a obra do rei da cerâmica caldense, graças aos moldes, da sua autoria, que ainda se conservam, assim como a obra do seu filho. No início de 2015, este núcleo museológico foi transferido para o espaço dos antigos escritórios da Fábrica Bordalo Pinhei‑ro, junto ao Parque D. Carlos I. Para além da área museoló‑gica, a Casa Museu dispõe de uma loja e de um restaurante.O acervo do museu é constituído por um espólio de uten‑sílios da olaria tradicional, exemplares de cerâmica artística e decorativa, materiais de construção, manuscritos, dati‑loscritos, desenhos e moldes. Mas é igualmente possível observar a reconstituição de uma oficina de cerâmica do tempo de Bordalo Pinheiro, permitindo conhecer não apenas as suas peças mais emblemáticas como os seus processos de produção.

• Visita ao Museu da CerâmicaEste museu público ocupa a antiga residência do 2.º Vis‑conde de Santarém, José Joaquim Pinto da Silva (1863‑1928), um palacete ajardinado, erigido na última década do século XIX, ao gosto romântico e com apontamen‑

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tos de Arte Nova, que o seu proprietário usava para o descanso estival da família e onde veio a instalar, inclu‑sivamente, uma oficina de cerâmica. O 2.º Visconde de Santarém foi um importante colecionador de arte e con‑viveu tanto com os irmãos Columbano e Rafael Borda‑lo Pinheiro como com Francisco de Almeida Grandela.O acervo do Museu integra diversas coleções representativas da cerâmica caldense, a partir do século XVII, para além de outros centros cerâmicos, tanto do país como do estrangeiro. Da produção local, merecem especial destaque o volumoso conjunto da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro, que docu‑menta a intensa laboração da Fábrica de Faianças das Cal‑das da Rainha ao longo de todo o período da sua existência.

• Parque D. Carlos I e Museu José MalhoaHerdeiro de um espaço arborizado, destinado aos doen‑tes do Hospital Termal, este jardim romântico, situado no centro histórico das Caldas da Rainha, foi inaugurado em 1892, embora viesse a sofrer novas intervenções em meados do século XX. A área é marcada por um lago, um coreto, equipamentos culturais, recreativos e desportivos, assim como por um conjunto de esculturas. Destaca‑se o Museu José Malhoa, que foi inaugurado em 1934 e trans‑ferido para as atuais instalações em 1940.No parque, é possível observar um busto de Rafael Bor‑dalo Pinheiro, da autoria de Teixeira Lopes (1926). No Museu, conserva‑se uma importante coleção com peças do mestre da cerâmica caldense.

• Workshop de cerâmica no CENCAL – Caldas da RainhaO Centro de Formação Profissional para a Indústria Ce‑râmica, sediado nas Caldas da Rainha, constitui um exce‑

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lente recurso para a realização de atividades de iniciação e desenvolvimento de competências em torno da produ‑ção cerâmica. Propõe‑se, por isso, a implementação de oficinas sobre modelação cerâmica, azulejaria, cerâmica criativa, pintura cerâmica, áreas nas quais esta escola tem larga e reconhecida experiência, preferencialmente foca‑das no legado de Rafael Bordalo Pinheiro.

FICHA TÉCNICA

Tema A Lagoa de Óbidos foi uma inspiração para Ra‑fael Bordalo Pinheiro

Atividades sugeridas

Visita à Casa Museu S. RafaelVisita ao Museu da Cerâmica Passeio pelo Parque D. Carlos IVisita ao Museu José MalhoaWorkshop de cerâmica no CENCAL

Pontos de Interesse (coordenadas)

Casa Museu S. Rafael [39.400567, -9.130583]Museu da Cerâmica [39.399105, -9.130154]Parque D. Carlos I [39.4028, -9.134533]CENCAL [39.405533, -9.147583]

Meios e equipamentos/ Outros recursos

Brochura ilustrada sobre a vida e obra de Borda‑lo Pinheiro.

Recomendações

Visita autoguiada ou acompanhada.No caso de visitas guiadas: 10 a 15 participantes.Os equipamentos culturais realizam visitas guiadas mediante marcação prévia.Recomenda‑se a visita às lojas de comércio, situ‑adas nas imediações do Parque D. Carlos I, onde é possível adquirir os produtos locais.Parceria com o CENCAL para a realização das ofi‑cinas de cerâmica. As peças produzidas no âmbito dos workshops poderão ser, entretanto, finaliza‑das e enviadas posteriormente aos visitantes, em jeito de recordação.

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Cenário 15Tema:

O rio Arnóia conheceu os maiores aglomerados populacio‑nais da vertente sul da Lagoa

Enquadramento:

A água sempre constituiu um dos principais fatores de fi‑xação das populações. A investigação histórica sobre a região da Lagoa de Óbidos tem revelado uma maior propensão da sua vertente sul para o desenvolvimento dos maiores aglome‑rados populacionais, pelo menos até aos alvores da Era Indus‑trial, a qual, do ponto de vista demográfico, levou as Caldas da Rainha a tomar uma posição cimeira na região. Na verdade, é ali que se localizam os mais importantes cursos de água que alimentam a lagoa. A análise de dados de natureza geográfica, como a orografia, a hidrografia, a constituição dos solos, cru‑zada com elementos de demografia histórica e outros factos sociais e económicos, comprovaram a maior apetência da ba‑cia do rio Arnóia para a concentração das aldeias e vilas mais populosas (Silva, 1994, 2005 e 2008).

Esta asserção constitui o mote para a proposta que fazemos, que tem o Arnóia como elemento estruturante do tema, o qual mobilizará alguns dos recursos localizados nas imediações des‑te curso de água, que nasce na serra de Todo‑o‑Mundo, no li‑mite do Landal (conc. Caldas da Rainha), e que desagua no rio Real, já próximo da Lagoa, onde este último termina, correndo pelos territórios das freguesias de A‑dos‑Francos, S. Gregório, Sancheira, A‑dos‑Negros, Santa Maria de Óbidos e Arelho.

A cidade romana de Eburobrittium e a vila medieval de Óbi‑dos representam o culminar da fixação humana nos termos em que o tema é colocado. As sugestões apresentadas de seguida

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afastar‑se‑ão desta última localidade, pelo menos do seu casco urbano, dado o conhecido uso turístico‑cultural de que a vila goza. Ainda que o tema remeta para uma lógica de pressão hu‑mana, quisemos destacar, por antítese, aqueles lugares menos frequentados, ou porque foram definitivamente abandonados, ou porque se afastam das principais vias de circulação, ou por‑que a sua frequência não se distribui uniformemente ao longo do ano, ou, ainda, porque a sua localização permite beneficiar, a distância, dos espaços onde o homem hoje se concentra.

Figura 30. Em cima: Barragem do Arnóia. Em baixo: Linha ferroviária de Óbi‑dos (à esq.) e Santuário do Senhor Jesus da Pedra (à dir.)

Foto: Carlos Alves, 2013.

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Atividades Propostas:

• Visita à Barragem do Rio ArnóiaCom cerca de uma década de existência, a barragem do rio Arnóia foi construída para travar as cheias que, no inverno, alagavam os campos e proporcionar condições de regadio aos produtores agrícolas. Com uma área de 2,6 hectares, desde a Ponte dos Ingleses, a montante, ao paredão, a jusante, ela tem sido utilizada para a prática da pesca desportiva, cuja concessão coube à Associação de Caçadores e Pescadores das Freguesias de Santa Maria, São Pedro e Usseira. É a esta associação que os interes‑sados se devem dirigir para obter a necessária licença de pesca. As suas águas são particularmente ricas em achigã, barbo, boga, carpa, enguia, escalo e pimpão. Vale a pena visitar a albufeira pela tranquilidade que ela transmite e pela paisagem que ela permite observar.

• Visita à cidade romana de EburobrittiumA cidade de Eburobrittium era a capital da civitas com o mes‑mo nome, uma unidade político‑administrativa romana que fazia fronteira com os territórios de Olisipo (Lisboa), Collipo (Leiria) e Scallabis (Santarém), respetivamente a sul, norte e leste, cuja localização exata permaneceu incógnita durante séculos, até que fora recentemente descoberta, em 1994, aquando das obras de construção da estrada (IP6) que linda com a estação arqueológica, situada em propriedade da Associação Nacional de Farmácias. Até aqui, os arqueólogos conheciam, tão‑somente, a referên‑cia que o escritor romano, Plínio, o Velho, tinha deixado na sua Naturalis Historia.

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As escavações realizadas no lugar conhecido por Quin‑ta das Flores, deixaram já a descoberto um conjunto ar‑quitetónico, do qual se destaca o forum, que constituía o centro de qualquer cidade romana, onde se identificaram estruturas remanescentes da zona comercial e da basí‑lica, um edifício de prestígio destinado ao desempenho de funções administrativas. Encontrou‑se, igualmente, um conjunto termal, estando apenas a descoberto a área dos banhos quentes, constituída pelo laconicum, hipocaus-tum e epraefurnium. Encontraram‑se também estruturas habitacionais.Apesar de a cidade ter sido abandonada pelos séculos IV e V, eventualmente no contexto das invasões germâ‑nicas, ela terá recebido, mil anos depois, a presença de uma ilustre habitante, a rainha D. Leonor, que, de acor‑do com a memória anónima editada por João Trindade (2001), costumava passar a estação estival na sua Quinta das Flores, próxima do Arnóia, onde possuía um palácio, e onde agora o arqueólogo José Beleza Moreira (2002) veio a encontrar vestígios datáveis dos séculos XIV‑XV.A importância e extensão das ruínas postas a descober‑to, até ao momento, permite uma interpretação da cidade que, embora provisória, é bem reveladora da importância e valor patrimonial deste conjunto urbanístico, cuja loca‑lização, junto à Lagoa de Óbidos, lhe permitiu funcionar como porto comercial, ponto de escoamento dos pro‑dutos agrícolas e minerais locais. À luz dos dados identi‑ficados, é possível afirmar que a cidade romana de Ebu-robrittium teria sido construída ex-novo, provavelmente na época de Augusto, sendo posteriormente promovida a município e mantendo‑se ocupada até à segunda metade do século V (Moreira, 2002).

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• Visita ao Santuário do Senhor Jesus da PedraFora da vila de Óbidos ergue‑se o Santuário do Senhor da Pedra, templo inaugurado em 1747, mas antecedido por uma pequena capela, entretanto destruída, situada junto à estrada que ligava Óbidos às Caldas da Rainha. O seu nome deve‑se à presença de uma cruz de pedra, de estrutura bastante tosca, onde foi esculpida uma ima‑gem muito curiosa, porque bastante invulgar, de Cristo Crucificado, relativamente estilizada, de braços abertos, mas de proporções anatómicas não condizentes com o tamanho da cruz. A imagem é significativamente mais pe‑quena que a Cruz, ocupando pouco mais do que a área correspondente ao seu transepto, revelando uma obra confecionada, ou em cronologias ancestrais e/ou por um artista pouco competente. Classificada frequentemente de peça “primitiva”, não foi possível, até hoje, datar a obra, embora houvesse quem apontasse a sua proveniência do período paleocristão, mas também do século XII e, ain‑da, dos séculos XV‑XVII.A descoberta da imagem está envolta em lendas. Conta‑‑se que (versão 1) terá sido encontrada por um lavrador, que (versão 2) foi esculpida por um prisioneiro com as suas unhas, e que (versão 3) protegeu um homem prestes a ser injustamente condenado (Gorjão, 1997).O Santuário do Senhor Jesus da Pedra foi construído ao estilo do seu tempo, o Barroco, e teve o apoio de per‑sonalidades da época, como o rei D. João V e o cardeal D. Tomás de Almeida, o primeiro patriarca de Lisboa. O seu arquiteto, Rodrigo Franco, imprimiu‑lhe uma plan‑ta centrada, de forma circular, com riqueza de estruturas ovaladas e contracurvadas, assim como as suas famosas janelas invertidas. No seu interior, apresenta três capelas:

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a capela‑mor, dedicada ao Calvário, e duas capelas laterais, dedicadas, respetivamente, a Nossa Senhora da Concei‑ção e à Morte de São José. Por entre importantes trabalhos de escultura, pintura, ourivesaria e ferraria, destacam‑se os painéis de azulejos, que representam cenas da vida e milagres de Cristo, assim como mobiliário, paramentos, livros e alfaias litúrgicas, bem como um conjunto de ex--votos alusivos aos poderes taumatúrgicos do Senhor da Pedra (Gorjão, 1997 e 1998).

• Visita à Estação Ferroviária de ÓbidosEstação de caminho‑de‑ferro, datada do séc. XX. Faz parte da linha do Oeste, que, em tempos, ligava a capital (a partir da Estação do Rossio) à Figueira da Foz. Hoje, a ligação faz‑se a partir do Cacém, no entanto, ela encontra‑‑se bastante moribunda. É pouco transitada e necessita de um forte incremento. O edifício principal da estação é decorado por um conjunto formado por oito painéis de azulejos, da autoria de José Vitória Pereira, datados de 1943, e confecionados na Fábrica Viúva Lamego. Os azulejos representam lugares da vila de Óbidos com va‑lor patrimonial, como o castelo, a casa do arco da cadeia ou a capela de S. Martinho (SIPA, s.d).

• Visita à Capela do Santo AntãoCapela de estrutura longitudinal, de uma só nave, revesti‑da, no seu interior, pelos típicos azulejos azuis e brancos setecentistas, que representam episódios da vida de Santo Antão, o anacoreta egípcio dos séculos III‑IV. Fundada em 1386, como prova de agradecimento do cavaleiro An‑tão Vaz Moniz pelo triunfo alcançado pelos Portugueses

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em Aljubarrota, veio a sofrer obras profundas durante os séculos XVII e XVIII. As populações da região encontra‑ram no eremita do deserto o protetor dos seus animais, organizando uma romaria anual, a 17 de janeiro. Ainda hoje ela constitui motivo de interesse pelo seu valor et‑nográfico, assumindo-se, muito provavelmente, como a maior festividade popular do concelho. O esforço, ne‑cessário à subida dos cento e cinquenta degraus que dão acesso à altaneira ermida, acaba por ser recompensado pela festa, que alia uma dupla dimensão, religiosa e pro‑fana. (SIPA, s.d.)

• Visita à Capela de Santo André do ArelhoA Capela de Santo André, de estrutura simples, apresen‑ta um belo alpendre, que permite avistar a paisagem cir‑cundante, uma vez que se situa num ponto elevado da freguesia. Datável dos séculos XVI‑XVII, foi dedicada ao pescador que se tornou apóstolo de Cristo, a exemplo do seu irmão Pedro. A festa que os arelhenses lhe dedi‑cam, a 30 de novembro, transporta a imagem do santo sobre uma embarcação, facto muitas vezes interpretado como uma clara referência às origens piscatórias da po‑voação. (SIPA, s.d.)

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FICHA TÉCNICA

Tema O rio Arnóia conheceu os maiores aglomerados populacionais da vertente sul da Lagoa

Atividades sugeridas

Visita à Barragem do Rio Arnóia Visita à cidade romana EburobrittiumVisita ao Santuário do Senhor Jesus da PedraVisita à Estação Ferroviária de ÓbidosVisita à Capela do Santo AntãoVisita à Capela do Santo André do Arelho

Pontos de Interesse (coordenadas)

Barragem do Rio Arnóia [39.36055, ‑9.13655]Eburobrittium [39.362983, - 9.1412]Santuário do Senhor Jesus da Pedra [39.3644, ‑9.150183]Estação Ferroviária de Óbidos [39.365, ‑9.15905]Capela de Santo Antão [39.369581, -9.159714]Capela de Santo André do Arelho [39.381397, ‑9.189022]

Meios e equipamentos/ Outros recursos

Veículos motorizados ou não motorizados.

Recomendações

A visita será valorizada se for acompanhada por um guia.Participantes: entre 10 a 15.A cidade romana é propriedade privada, da Asso‑ciação Nacional das Farmácias, pelo que a visita depende da respetiva autorização.Participação na romaria anual em honra de Sto. Antão, a 17 de janeiro.

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Cenários Desportivos

Cenário 16Tema:

Os trilhos da Lagoa de Óbidos proporcionam uma expe‑riência saudável

Enquadramento:

Qualquer território, para além da riqueza ecológica e cul‑tural que lhe está subjacente, agrega representações mentais: a beleza paisagística construída na memória dos locais e visitan‑tes, sentimento de pertença e nostalgia, e a reconhecida vul‑nerabilidade do espaço. A diversidade e atratividade dos seus recursos e cenários idílicos remetem para a necessidade de se desenvolverem alternativas ao seu uso, onde os impactos – so‑ciais ou ambientais – sejam diminutos.

Nos últimos anos, o desenvolvimento do turismo ativo tem sido objeto de interesse não apenas por parte de promotores como, em resposta, por parte de praticantes. Destacam‑se, nes‑te caso, atividades desportivas outdoor – tanto pela componente competitiva que lhes possa estar inerente, como pela compo‑nente revigorante. Estas práticas alternativas de turismo, que consideram a melhoria da qualidade de vida, tendem a otimi‑zar a utilização e preservação do património com benefícios económicos para a comunidade local.

Considerando o manifesto desejo dos novos turistas em ex‑perienciar espaços naturais, o cicloturismo apresenta‑se como um instrumento saudável, económico, ecológico e inclusivo. No caso da Lagoa de Óbidos, os trilhos naturais ali existentes mostram‑se propícios para o desenvolvimento desta atividade,

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seja com recurso a bicicleta todo‑o‑terreno [BTT], seja utili‑zando bicicletas de lazer.

As atividades propostas têm por base um modelo centrado em três dimensões: proporcionar momentos de lazer e bem‑-estar aos participantes; facilitar a conexão com o território vi‑sitado; e estabelecer uma atitude de compromisso no uso do espaço (tríade: conhecer, desfrutar e respeitar).

Figura 31. BTT junto à Lagoa de Óbidos (à esq.) e Ecovia Várzea da Rainha (à dir.).

Fotos: Mário Carvalho, 2012 e Carlos Alves, 2013.

Atividades Propostas:

• Provas de BTT pelos trilhos da Lagoa (competição)A presente atividade admite diferentes formatos conso‑ante o grau de dificuldade e distância percorrida. Poder‑‑se‑á optar por realizar o percurso com um total de 60 quilómetros, estando associado um grau de dificuldade física/técnica médio-alto; e/ou um percurso de 35 qui‑lómetros com grau de dificuldade física/técnica médio. Sugere‑se ainda que se adotem como trilhos alguns dos caminhos rurais da região do concelho de Óbidos que es‑tão, no entanto, abertos ao movimento de outros veículos.Ao longo dos diferentes percursos deverão existir vários postos de controlo, pelos quais os participantes terão de passar, bem como zonas de abastecimento onde os

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monitores da atividade auxiliam os atletas na gestão do esforço, na orientação e no reabastecimento de alimen‑tação. É conveniente que um desses postos de controlo sirva de apoio aos que apresentam um ritmo mais len‑to ou quaisquer dificuldades, encaminhando-os para um percurso alternativo e mais curto.

• Percurso pela ciclovia da Lagoa de Óbidos (lazer)Com uma extensão de cerca de 4 quilómetros, esta ci‑clovia tem início na Foz do Arelho (margem norte da la‑goa), passando pelo Penedo Furado, ponto de interesse que poderá ser objeto de visita durante o percurso (ver

cenário 7), e culmina no ancoradouro de Vale Pomar, no Nadadouro. O trajeto encontra‑se devidamente separado da restante circulação rodoviária.

• Percurso pela ecopista Várzea da Rainha (lazer)Esta ecopista compreende o trajeto, em terra batida, pe‑las margens do rio Arnóia em direção à Lagoa de Óbi‑dos, terminando na Aldeia dos Pescadores (Bom Suces‑so). Sendo uma atividade essencialmente contemplativa, aconselham‑se as seguintes paragens e visitas:a) Poça das Ferrarias (ver cenário 11) b) Aldeia da Lapinha (ver cenário 12)

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FICHA TÉCNICA

Tema Os trilhos da Lagoa de Óbidos proporcionam uma experiência saudável

Atividades sugeridas Provas de BTT pelos trilhos da Lagoa (competição)Percurso pela ciclovia da Lagoa de Óbidos (lazer)

Pontos de Interesse (coordenadas)

Lagoa de Óbidos, conc. Óbidos [39.388034, -9.225607]Lagoa de Óbidos, conc. Caldas da Rainha [39.428154, -9.222731]Ciclovia da Lagoa de Óbidos [39.3882, ‑9.22635]Penedo Furado [39.427183, -9.21195]Ecopista Várzea da Rainha [39.366011, ‑9.158199] Ponte da Poça das Ferrarias [39.400549, -9.219842]Aldeia da Lapinha [39.410741, -9.222541]Praia do Bom Sucesso [39.422394, -9.229414]

Meios e equipamentos/ Outros recursos

Para provas BTT:Bicicletas todo‑o‑terreno.Alimentação nutritiva para os participantes (água, sumos, sandes, frutas e barras energéticas).Balneários.

Para atividade de lazer:Bicicletas.

Recomendações

Para provas BTT:Equipa especializada em BTT para liderar atividade.Fornecer alimentação aos participantes.Entre 50 a 100 participantes.Obrigatória subscrição de seguro de acidentes pessoais.Disponibilização de balneários.Parceria com associação local (exemplo: Centro Cultural Social e Recreativo Arelhense) para ace‑der aos balneários e fornecimento de água para a limpeza das bicicletas.Ter em atenção a manutenção da qualidade e si‑nalização das ciclovias.

Para atividade de lazer:Visitas lideradas por monitor.Entre 10 a 15 participantes.Parceria para o aluguer de bicicletas.No caso de atividade organizada para grupos, é obri‑gatória a subscrição de seguro de acidentes pessoais.

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Cenário 17Tema:

Participar em atividades equestres é um excelente contribu‑to para recuperar a tradição

Enquadramento:

Desde sempre que a relação entre o homem e o cavalo tem particular destaque em vários momentos da história de Portu‑gal: como fonte de alimento, força motriz, meio de transpor‑te, protagonista de batalhas, entre outros. Atualmente, e como uma nova etapa dessa relação ancestral, a equitação emerge como modalidade desportiva, terapêutica ou simplesmente como atividade de lazer, imputando‑se, a qualquer uma delas, gratificações pessoais e sociais.

O Turismo Equestre integra as atividades em que o equino é um dos principais atrativos. Pode ainda ser entendido como segmento de dois dos produtos do Plano Estratégico Nacional do Turismo [PENT], nomeadamente o Touring Cultural e Pai‑sagístico e o Turismo de Natureza (TURIHAB, 2012), já que começa a haver interesse entre os amantes da natureza em re‑alizar passeios a cavalo que permitam a fruição da cultura e da paisagem local (randonné equestre).

Embora tendamos a associar o cavalo à região Ribatejana, existe uma tradição Oestina que tem vindo a ser recuperada nos últimos anos, nomeadamente na promoção do Cavalo Lu‑sitano (são várias as quintas onde estes equídeos podem ser encontrados, para além de associações e eventos equestres).

Por tal, propõe‑se o planeamento de um workshop onde os participantes terão a oportunidade de aprender mais sobre a modalidade.

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Figura 32. Cavalos junto ao Rio Arnóia.Foto: Cátia Rebelo, 2006.

Atividades Propostas:

• Workshop “Cavalgar pela Lagoa”

a) Parte TeóricaAnalisar os diferentes andamentos: passo, trote e galope; aprender terminologia própria da atividade e equipamen‑to necessário utilizado para montar; aprender a colocar a sela e a aparelhar o cavalo.

b) Parte PráticaDepois de adquiridos os conhecimentos básicos sobre equitação, os participantes (divididos em grupos – ini‑ciantes e experientes) realizam passeio adaptado ao gru‑po, junto à lagoa, em situação devidamente controlada. No final da sessão, poderá ainda ser explicado e propos‑to aos participantes a limpeza (lavagem e escovagem) dos equinos.

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FICHA TÉCNICA

Tema Participar em atividades equestres é um excelente contributo para recuperar a tradição

Atividades sugeridas Workshop “Cavalgar pela Lagoa”

Pontos de Interesse (coordenadas)

Lagoa de Óbidos, conc. Caldas da Rainha – [39.428154, -9.222731]

Meios e equipamentos/ Outros recursos

Guloseimas para os cavalos: ração ou fruta.Cavalos.Material de equitação.Material de limpeza.

Recomendações

Atividade acompanhada por monitor especiali‑zado.Entre 5 a 10 participantes.Obrigatória subscrição de seguro de acidentes pessoais.Parceria com centros equestres/hípicos para a re‑alização do workshop, aluguer de cavalos e de ma‑terial de equitação.

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Cenário 18Tema:

Em cada competição de remo na Lagoa de Óbidos é recria‑da a emblemática Oxford and Cambridge Boat Race

Enquadramento:

O remo, desporto aquático, cuja origem remonta a Ingla‑terra (meados do século XIX), envolve um exercício de velo‑cidade que exige aos seus praticantes elevada força muscular e resistência.

Ainda que praticada inicialmente por amadores e aviltando resultados, o entretenimento gerado por esta corrida levou a que os estudantes das universidades de Oxford e Cambridge organizassem a competição de Henley, que acontece anualmen‑te até aos dias de hoje, no rio Tamisa.

Também em Portugal a prática de remo é bastante antiga. Estima‑se que a realização regular de diversos eventos des‑ta natureza, entre portugueses e a elite inglesa residente no país, tenha impulsionado o surgimento de diversas associa‑ções, incluindo a Federação Portuguesa de Remo, em 1920 (AAVV, 2005).

Também a Lagoa de Óbidos foi palco dessas corridas: re‑cebeu o Campeonato Nacional de Remo, em 1947, e o I Tro‑féu Internacional de Remo, em 1985, com as universidades de Oxford e Cambridge como protagonistas (tendo a Universi‑dade de Oxford saído vitoriosa desse encontro). Nesse ano, realizaram‑se também cursos de remo para cidadãos portado‑res de deficiência (Sedghi, 2012; Henriques, s.d.). Existiu ainda um clube de remo e respetiva pista na parte inicial do Braço do Bom Sucesso, onde a profundidade das águas é maior. Os praticantes desta modalidade cedo reconheceram nas águas

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calmas e no enquadramento paisagístico da lagoa as qualida‑des indispensáveis ao exercício da modalidade.

Figura 33. Planta de localização da pista para os campeonatos nacionais de remo de 1947 na Lagoa de Óbidos.

Fonte: Silva, 1995.

Atividades Propostas:

• Workshop de Remo Os participantes (iniciantes) aprenderão os conhecimen‑tos basilares da modalidade: terminologia de remo, téc‑nicas de remo, equipamentos, segurança na lagoa, entre outros. Sendo devidamente adaptado, poderá ser minis‑

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trado a pessoas com necessidades especiais, tornando‑se, deste modo, uma atividade acessível.

• Corrida de remo Propõe‑se que os interessados participem numa corrida com 500/1000 metros. Esta prova revela‑se uma simu‑lação análoga às provas realizadas pela Federação Portu‑guesa de Remo, sendo o ponto de partida e chegada o Covão dos Musaranhos. Poderá incluir:

a) Passeio pedestre preparatórioOs participantes conhecem a zona envolvente da Lagoa e iniciam o aquecimento para a corrida de remo.

b) Corrida (existem diversas categorias consoante o tipo de embarcação utilizada)

c) Entrega das medalhas aos vencedoresNo final da prova, consideram-se vencedores os três pri‑meiros participantes a terminar a corrida. Estes deverão subir ao pódio para receber as respetivas medalhas.

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FICHA TÉCNICA

TemaEm cada competição de remo na Lagoa de Óbi‑dos é recriada a emblemática Oxford and Cambridge Boat Race

Atividades sugeridas Workshop de Remo Corrida de remo

Pontos de Interesse(coordenadas)

Lagoa de Óbidos, conc. Óbidos [39.388034, ‑9.225607]Covão dos Musaranhos [39.3882, ‑9.22635]

Meios e equipamentos/ Outros recursos

Material necessário para a realização do workshop e da corrida.Skiff (barcos individuais).Medalhas.

Recomendações

Sugere‑se que a visita seja conduzida por um téc‑nico (ou equipa) especializados.Número recomendado de participantes entre 5 a 10.Obrigatória subscrição de seguro de acidentes pessoais.Estabelecer parceria com formador.Atividade adequada a grupos organizados (ex. ati‑vidades de team building).

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Cenário 19Tema:

A Lagoa de Óbidos oferece excelentes condições para a prática de triatlo

Enquadramento:

A Lagoa de Óbidos assume uma elevada importância am‑biental e recreativa pelo que o aproveitamento das suas poten‑cialidades implica a utilização sustentável dos seus recursos.

O Triatlo é um desporto de resistência que combina três seg‑mentos sequenciais sem paragem de cronómetro: natação, ciclis‑mo e corrida. As equipas participantes devem, por isso, comple‑tar de forma rápida e eficaz o percurso a realizar nas diferentes etapas. A título de curiosidade, em Portugal a primeira prova teve lugar em Peniche, em Agosto de 1984. Modalidade de grande expressão nacional e solidamente implantada em todo o territó‑rio, conta com cerca de 2000 praticantes (FTP, s.d.).

Com o objetivo de promover a consciencialização e a proteção ambientais, a atividade do Triatlo, apresentada a seguir, expressa um formato alternativo que fomenta o contacto com este terri‑tório e a prática de uma modalidade bastante eclética e saudável.

Atividades Propostas:

• Triatlo - Nível Avançado

a) NataçãoPercurso de 500 metros junto ao cais. Nadando de Este para Oeste e regresso.

b) CiclismoPercurso de 9.000 metros na Ecopista Várzea da Rainha.

c) AtletismoCorrida de 2500 metros na Ecopista Várzea da Rainha.

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• Triatlo - Nível intermédio

a) Natação150 metros de natação na zona da Praia do Bom Sucesso.

b) CiclismoPercurso de 5000 metros na Ecopista Várzea da Rainha

c) AtletismoCorrida de 1000 metros na Ecopista Várzea da Rainha

• Triatlo - Nível iniciado (ou júnior)

a) Natação50 metros de natação na zona da Praia do Bom Sucesso

b) CiclismoPercurso de 2000 metros na Ecopista Várzea da Rainha

c) AtletismoCorrida de 400 metros na Ecopista Várzea da Rainha

Figura 34. Cais da Foz do Arelho.Fotos: Carlos Alves, 2013.

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FICHA TÉCNICA

Tema A Lagoa de Óbidos oferece excelentes condições para a prática de triatlo

Atividades sugeridasTriatlo ‑ Nível avançando Triatlo ‑ Nível intermédio Triatlo ‑ Nível iniciado (ou júnior)

Pontos de Interesse (coordenadas)

Cais da Foz do Arelho [39.428159, -9.222741]Lagoa de Óbidos, conc. Caldas da Rainha [39.428154, -9.222731]Ecopista Várzea da Rainha [39.366011, ‑9.158199]

Meios e equipamentos/ Outros recursos

Fatos de triatlo.Bicicletas.Boias de segurança.Bombeiros e nadadores salvadores.Motas de água e barco de salvamento.Balneários.

Recomendações

Consultar o regulamento da Capitania.Consultar a Federação de Triatlo Portugal (regu‑lamentos e legislação).Entre 20 a 40 participantes.Parcerias para o aluguer dos fatos de triatlo e das bicicletas. Parceria para o transporte dos participantes e das bicicletas.Subscrição de seguro de acidentes pessoais.

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Nota sobre os AutoresCarlos Pedro Ferreira Alves é Licenciado em Ciências

Musicais, pela Universidade Nova de Lisboa – FCSH. Pos‑sui uma Pós‑Graduação em Museologia, pela Universida‑de Lusófona. No Instituto Politécnico de Leiria leciona as unidades curriculares de Património Etnográfico, Música e Dança Aplicada à Animação Turística e Gestão da Anima‑ção de Eventos. É Maestro do Coro Municipal da Lourinhã e Professor de Educação Musical. Divide os seus interesses de investigação entre a Música/Dança Antiga e a Música/Dança Tradicional.

Cátia Rebelo é Licenciada em Turismo, pelo Instituto Po‑litécnico de Leiria e Mestre, desde 2012, em Gestão e Susten‑tabilidade do Turismo, pelo Instituto Politécnico de Leiria. É membro associado do Grupo de Investigação em Turismo ‑ GITUR. Tem participado em conferências e apresentado co‑municações na área do turismo e sustentabilidade.

Gilberto Coralejo Moiteiro é Licenciado em História pela Universidade de Coimbra e Doutorado, na mesma área cien‑tífica, pela Universidade Nova de Lisboa. É Professor Adjun‑to do Instituto Politécnico de Leiria, onde leciona as unida‑des curriculares de História e Património Cultural. Membro Integrado do Instituto de Estudos Medievais (FCSH‑UNL) e colaborador do GITUR‑IPL, divide os seus interesses de investigação entre a História Cultural e as Ciências do Patri‑mónio, com particular incidência sobre os contextos e mo‑dalidades de mediação cultural no âmbito da Interpretação do Património.

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Graça Gomes Ezequiel, natural de Caldas da Rainha, é docente do Instituto Politécnico de Leiria onde leciona unida‑des curriculares na área do Turismo. É Licenciada em Turismo, Doutoranda em Turismo e membro associado do GITUR‑IPL. Tem participado em conferências e apresentado comunica‑ções nas áreas da informação turística e sustentabilidade. Em 2010, integrou o projeto de I&D “O Turismo Gastronómico no Pólo Turístico do Oeste”.

Inês Brasão é Doutorada em Sociologia pela Universidade Nova de Lisboa e docente de Sociologia no Instituto Politécni‑co de Leiria desde 1999. É autora de Dons e Disciplinas do Corpo Feminino, obra premiada pela Comissão para a Condição Femini‑na em 1998. É também coautora de Cinco Estudos de Sociologia da Cultura e editou o livro Património, Turismo e Sustentabilidade. Mais recentemente, publicou o livro com o título O Tempo das Criadas, obra igualmente premiada. Tem participado em projetos na área da Sociologia do Turismo e da Sociologia do Trabalho. Venceu a edição de 2011 do prémio Maria Lamas de estudos sobre a mulher, género e igualdade, com um trabalho sobre a condição servil em Portugal entre 1940 e 1970.

João Vasconcelos é Licenciado em Geografia pela Uni‑versidade de Lisboa. Obteve o Mestrado em Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e concluiu em 2012, pela mesma Universidade, o Doutoramento em Ambien‑te. É Professor na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar do Instituto Politécnico de Leiria desde 2006 e coor‑denador do Grupo de Investigação em Turismo – GITUR‑‑IPL. É também Executive Editor da revista científica European Journal of Tourism, Hospitality and Recreation. Os seus interesses

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de investigação estão ligados ao Ambiente, Desenvolvimento Turístico, Turismo Sustentável, Climatologia e Saúde Humana.

Mário Carvalho é Doutorado em Marketing e Comércio Internacional com a tese “El grado de importancia del Marketing Relacional en el espacio de alojamiento para el Turismo de Naturaleza. El caso de Portugal”. Mestre em Gestão Estratégica e Desenvolvi‑mento do Turismo com a dissertação “Os desportos de Inverno e o reposicionamento da oferta na região de turismo da Serra da Estrela”. Autor de diferentes artigos e livros sobre turismo, gestão dos territórios e sustentabilidade dos destinos turísticos. Membro do Advisory Editorial Board da revista científica Euro-pean Journal of Tourism, Hospitality and Recreation. Professor na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar do Instituto Politécnico de Leiria desde 2004. Membro do GITUR-IPL. Coordenador do Mestrado de Gestão e Direção Hoteleira no IPLeiria. Os interesses de investigação residem em temáticas relacionadas com o Ambiente, Gestão e Marketing dos Terri‑tórios, Turismo Rural, Sustentabilidade dos Territórios, Turis‑mo Sustentável e Desportos de Natureza.

Sérgio Leandro é natural de Peniche, Doutorado em Bio‑logia pela Universidade de Aveiro, docente na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar ‑ Instituto Politécnico de Lei‑ria, membro efetivo do MARE ‑ Centro de Ciências do Mar e do Ambiente do IPLeiria (MARE‑IPLeiria). É investigador responsável de diversos projetos de investigação científica rela‑cionados com a Reserva da Biosfera das Berlengas (UNESCO), aquacultura de crustáceos marinhos e biotecnologia aplicada aos recursos marinhos, nomeadamente a exploração de biopo‑límeros de origem marinha. É subdiretor da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar ‑ Instituto Politécnico de Leiria.

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Colaboradores

Diogo Sousa Licenciou‑se em Turismo na Escola Superior de Turismo e Tecnologias do Mar - IPLeiria em 2014. Cola‑borou em diversos projetos de investigação científica desen‑volvidos pelo Grupo de Investigação em Turismo (GITUR). Atualmente frequenta o Mestrado de Turismo e Ambiente. É membro do GITUR‑IPL

Tomás de Paula Licenciou‑se em Turismo na Escola Su‑perior de Turismo e Tecnologia do Mar - IPLeiria em 2014. Atualmente frequenta o mestrado em Turismo e Ambiente na ESTM. É membro do GITUR‑IPL.