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Mais do Menos: entre tradições e contradições, críticas à política externa de Dilma Rousseff

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12/03/2014 - Copyleft

Mais do Menos: entre tradições e contradições,críticas à política externa de Dilma RousseffDificuldades econômicas vividas pelo Brasil atual não derivam de pacotes do FMI, mas

de efeitos do enfrentamento, com recursos próprios, da crise de 2008.

Tweetar 7 5 2 A A+

Vinte anos após o Plano Real, completos 11 anos de administrações federais do PT, o

contexto de 2014 surpreende. Menos por comemorações e contestações em ano eleitoral,

mais pela pouca densidade das críticas à política externa de Dilma Rousseff.

O contexto das críticas não passa despercebido. Pouca relevância é concedida à política

externa no debate de política públicas no Brasil. Em ano eleitoral, a política externa é

tensionada pela disputa doméstica. O quase desinteresse pelas ações internacionais do Brasil

é substituído por intenso debate, galvanizado – e capturado – pela ação dos partidos e

principais candidatos à Presidência. A performance de diferentes partidos e coalizões é

componente fundamental da avaliação de políticas públicas propostas como ‘alternativas’.

Em 2014, diferentes segmentos da oposição investem em duas críticas. Por um lado, Dilma

é acusada de não ter grande interesse em questões de política externa. Na ausência de

objetivos coerentes, o governo Dilma teria rompido a tradição diplomática brasileira. Tal

rompimento implicaria abandonar os compromissos normativos da diplomacia brasileira e

fragmentar a implementação da política externa, limitando o papel do Itamaraty.

Por outro lado, Dilma é acusada de ter descontinuado a política externa de seu antecessor,

Lula. Esta teria perdido fôlego após a intensidade dos primeiros anos do século e teria caído

Carlos Frederico Pereira da Silva Gama, professor de Relações Internacionais na PUC-Rio

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16/3/2014 Mais do Menos: entre tradições e contradições, críticas à política externa de Dilma Rousseff - Carta Maior

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no marasmo, vítima de indecisões que prejudicam a imagem do Brasil. A PEB de Dilma seria

contraditória – dita continuação de Lula, mas confusa na implementação, marcada por

improvisos, com resultados desastrosos, sinal de enfraquecimento da política externa do PT.

Em conjunto, essas críticas apontam rumos ‘alternativos’: maior criatividade na definição da

política externa; reaproximação com os Estados Unidos; revalorização da América do Sul,

que teria sido esquecida (o que indicaria perda de liderança brasileira na região).

Contextualizadas, essas ‘alternativas’ se tornam problemáticas. Seu mérito é questionável,

se levarmos em conta a política externa dos dois mandatos presidenciais do PSDB e as

diretrizes políticas da recente aliança Rede Sustentabilidade-PSB.

Apesar de iniciar com menção a um mundo convulsionado por crises, o documento

Diretrizes-Programa de Governo da aliança Rede Sustentabilidade-PSB não confere destaque,

em 72 páginas, a questões de política externa (para além de breves menções a políticas de

defesa). Cabe à aliança o privilégio duvidoso de preencher essas lacunas no processo

eleitoral.

Se a nova aliança acena para um futuro por determinar, o PSDB mergulha no passado.

Recupera discursos do fim do segundo mandato de FHC. Dificuldades e frustrações da PEB

tucana são ‘atualizadas’ via críticas a Dilma Rousseff.

Conturbações do passado recente se ocultam nas acusações de que o Brasil teria cometido

um erro ao tensionar recentemente as relações com os EUA. Longe de uma opção do

governo brasileiro, as relações com aquele país têm sido tensas desde o final da década de

1990.

Após a Guerra Fria, se seguiu um período de hegemonia dos EUA. ‘Consensos’ liberais na

economia e na política deram o tom nas principais instituições do sistema (a ONU rediviva,

Bretton Woods) e informaram a criação de novas instituições (OMC). Os emergentes

assumiram postura cautelosa. Ninguém desafiou a primazia da superpotência.

Nos governos tucanos, o Brasil se posicionou como candidato a ‘global trader’ via

estabilização econômica e regionalismo aberto (Mercosul, definido como plataforma

econômica). Em paralelo, o país ingressou nos principais regimes herdados da Guerra Fria

(como o de não-proliferação de armas nucleares, em 1998). A expectativa brasileira era

alavancar o perfil do país, como ‘global trader’ e parceiro responsável das potências

ocidentais na promoção de reformas (liberais) do estado. Um país emergente e confiável e

um líder na América do Sul.

Atritos com os EUA marcaram o período que viu o enterro da proposta da ALCA. O projeto

de ‘global trader’ se esvaiu no esteio das crises mexicana, russa e asiática. À desvalorização

do Real em 1999 se seguiu a quebra do peso na Argentina e a profunda crise econômico-

política que atingiu nosso vizinho (crise que se desenrolou sob o olhar fleumático da

diplomacia brasileira). O Mercosul definhava, rumo a um beco sem saída político-econômico.

Uma descontinuidade ocorreu na política externa de FHC. O perfil ‘global trader’ foi

substituído pelo ‘global player’. A participação do presidente em reuniões de ‘governança

global’ da ONU e cúpulas do G-8 substituíram o investimento no regionalismo aberto e o

crescimento econômico (dos primeiros anos do Real). O pleito no Conselho de Segurança da

ONU passou a ser associado a atividades como a (modesta) contribuição para operações de

paz no Timor Leste – não mais ao peso econômico do país (estagnado) ou à pretensa

liderança na América do Sul – esta, prejudicada pela crise argentina, à qual vieram se somar

a reação tardia ao golpe de estado na Venezuela em 2002 e a tolerância com a ditadura de

Fujimori no Peru.

O Brasil se pretendia, então, um outro tipo de emergente. Já nesse momento, uma das

críticas da oposição em 2014 já se materializara – ao Itamaraty cabia papel importante,

mas secundário, diante dos primeiros movimentos de uma era de diplomacia presidencial.

Na OMC, o Brasil enfrentava os EUA em questões como a do algodão. A Rodada Doha

emperrava, colocando Brasil e EUA em grupos opostos nas disputas agrícolas e de serviços.

No apagar das luzes do governo FHC, a controvérsia sobre os medicamentos retrovirais foi

o clímax da tensão diplomática. Também contribuíram o pouco apreço dos EUA pela busca

brasileiro pela cadeira permanente no CS (a despeito da entrada brasileira no regime de não-

proliferação de armas nucleares) e a inadequação brasileira frente à ‘guerra contra o terror’

de George W. Bush.

A defesa da Aliança do Pacífico (neo-ALCA), a ‘opção’ pelos EUA como crítica da membrezia

do Brasil nos BRICS revelam menos futuros promissores e mais indigestões passadas.

Exercícios de nostalgia subestimam impactos da diplomacia presidencial sobre o Itamaraty. A

defesa retórica da ‘tradição’ diplomática oculta processos que impactavam a política externa

de FHC e se intensificaram desde então.

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16/3/2014 Mais do Menos: entre tradições e contradições, críticas à política externa de Dilma Rousseff - Carta Maior

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Vivemos um processo de democratização de nossa política externa. É saudável questionar

decisões da Presidência e chancelaria, sejam quais forem, bem como demandar justificativas

para decisões/omissões. A democratização/pluralização da política externa a torna uma

política pública cujas decisões são feitas diante dos olhos da opinião pública, com ativa

participação de segmentos domésticos que, nas últimas duas décadas, auferiram a

prerrogativa de manifestar publicamente interesse(s) por questões que afetam a sociedade

brasileira.

Em contraste com a política externa de generais, juntas e ditadores, a Constituição de 1988

não priva de supervisão popular os representantes do povo em todos os níveis de poder

político. O engajamento do governo com outros agentes com interesse(s) na política

externa brasileira, diante do olhar ávido da opinião pública, é sinal de amadurecimento e

vitalidade democráticos, não de retrocesso institucional. Algo frisado pelo próprio governo

brasileiro quando inaugura debate público sobre a criação de um livro branco de política

externa.

A diplomacia presidencial politiza decisivamente a política externa. Burocracia reflexiva, o

Itamaraty possui relativa impermeabilidade a mudanças bruscas, leva tempo para se adaptar

(o delay entre a percepção do Itamaraty e transformações sistêmicas). A capilaridade

política da figura presidencial torna possíveis guinadas adequadas em contextos de

mudanças complexas, bem como articulações flexíveis com outros agentes, se evadindo

das amarras das burocracias.

O Itamaraty não perde relevância nesse contexto. A diplomacia presidencial pressupõe

capacidade contínua de mobilizar a expertise de um vasto corpo diplomático coeso,

especializado. Oportunidades que se insurgem cobram inserção na estratégia em curso.

Recursos obtidos no caminho sustentam a visão do futuro, suavizam a trajetória. A

burocracia diplomática é chamada a canalizar suas energias de forma flexível e criativa,

qualidades raras mas imprescindíveis. Articulações desse tipo entre Presidência e Itamaraty

lograram sucesso recentemente, como a eleição do Embaixador Roberto Azevêdo para

Diretor-Geral da OMC.

Pretender contornar esses processos com a ‘tradição’ do Itamaraty soa preocupante, diante

das complexidades do cenário internacional contemporâneo e da própria democratização do

Brasil em todas as esferas. A revisão do passado revela a dificuldade que segmentos da

oposição têm em lidar com dificuldades do presente, com o mundo mais complexo do que o

de 15 anos atrás. Não foi por falta de expertise ou fragmentação da tomada de decisão que

FHC sofreu revezes na relação com os EUA e com os vizinhos da América do Sul.

Num outro sentido, o passado nos pode ser útil. Quando críticas apontam falta de

criatividade na política externa brasileira como sinal de desgaste, olhemos para o passado.

Em 2001, o economista Jim O’Neill, da Goldman-Sachs, cunhou o termo ‘Brics’ para

caracterizar um grupo de países emergentes que seriam portos seguros de investimento

externo. Desse portfólio constava o Brasil, à época receptor do maior pacote de ajuda da

história do FMI. No mesmo ano, os atentados de 11 de Setembro desfraldaram a ‘guerra

global ao terror’ de George W. Bush. Confrontado com novas oportunidades e desafios, o

que fez o Brasil?

Na época, o Brasil se acomodou no portfólio da Goldman-Sachs. Permaneceu dependente

de fundos externos e do auxílio do FMI, limitado na capacidade de ação autônoma na

economia. Os dois últimos anos do governo FHC foram marcados por baixos índices de

crescimento, retorno da inflação (e desvalorização do real) em 2002.

Quanto à ‘guerra contra o terror’, o chanceler brasileiro Celso Lafer fez pronunciamento na

ONU no dia dos atentados. Invocou – para surpresa dos presentes – o Tratado

Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), instrumento de segurança coletiva criada na

Guerra Fria. Essa proposta – se solidarizar com os EUA através do TIAR – não apenas não

granjeou simpatias ao Brasil. Em pleno século XXI, soou como um anacronismo inadequado.

Diante deste histórico pouco criativo, a retórica da ‘tradição’ se torna um libelo tecnocrático,

defesa corporativa do Itamaraty em face da democratização da política (e das políticas

públicas) em curso no Brasil. A ‘alternativa’ da ‘tradição’ nada na contramão de demandas

sociais por maior transparência e responsabilidade de nossos representantes.

Em contraste com 2001, o Brasil de 2014, juntamente com outros emergentes (cujas

aspirações de reformar o FMI foram recentemente fustigadas no congresso dos EUA),

participa da criação de uma nova instituição internacional – o Banco de Desenvolvimento dos

BRICS –alternativa ao modelo liberal na ‘solução’ de crises, as que o FMI não resolveu há 15

anos.

O governo Dilma possui mais elementos de continuidade com o governo Lula do que

pretende a maioria dos críticos. Dificuldades econômicas vividas pelo Brasil atual não derivam

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de pacotes do FMI, mas de efeitos do enfrentamento, com recursos próprios, da crise de

2008.

Herdeira dos grandes investimentos do estado brasileiro pós-2008, a economia brasileira

sob Dilma mostra um ciclo de recuperação que difere das economias desenvolvidas. O Brasil

não apenas respondeu à crise, mas o fez com crescimento econômico e redistribuição de

renda em escala incomum na história (afora os primeiros anos do Plano Real e a euforia

momentânea do Cruzado). Passado o momento mais duro de enfrentamento da crise, o

governo busca novas fontes de investimento para alavancar projetos de infraestrutura, em

paralelo ao continuado esforço através do BNDES, parcerias com o setor privado na gestão

de serviços públicos (aeroportos, ferrovias, hidrocarbonetos) e preparativos para os

megaeventos.

Com vistas a manter políticas da gestão Rousseff – participação crescente em questões de

âmbito mundial, empoderamento dos cidadãos via desenvolvimento econômico com justiça

– Dilma foi a Davos mostrar a solidez dos fundamentos da economia brasileira e capacidade

de fazer frente à nova crise argentina. Com baixa poupança interna, o Brasil busca

investimento estrangeiro para reformas estruturais – em condições mais favoráveis do que

2001, quando a Argentina quebrou e o Brasil vivia a desvalorização do Real. Em Davos, o

Brasil não pediu auxílio.

Os custos de decisões atuais são medidas, por vezes, em reveses passados. Problemas

com Venezuela e Argentina, dificuldades de tirar o Mercosul do atoleiro foram legados do fim

do século XX. Não podem, pois, ser computados como ‘erros’ de política externa de Dilma.

Relançar o passado recente como ‘alternativa’ traz à tona questões de responsabilidade.

O governo Dilma vive uma crise normativa. Mas esta não deriva da ‘ruptura’ com a ‘tradição’

diplomática. Quando, há uma década, Lula dizia que o Brasil que come deveria ajudar o Brasil

que tem fome, havia uma noção de responsabilidade coletiva embutida, convocando à luta

contra exclusões seculares e seus efeitos. O Brasil que come tornaria o Brasil que tem fome

mais digno e vice-versa. De lambuja, movimentando a economia nacional. O crescimento

econômico foi acompanhado de redistribuição de renda, num momento de crise da

economia mundial (antes da euforia das commodities).

Os elos dessa fórmula se desfizeram recentemente. O enfrentamento da grave crise de

2008 manteve as políticas domésticas em curso, mas implicou uma substituição normativa

– da responsabilidade coletiva em mitigar exclusões sociais seculares para o pragmatismo do

crescimento público-privado, acelerado para os megaeventos.

Timoneira na transição, Dilma não apresentou uma alternativa normativa, oscilando entre

aquiescência e relutância. Ora cortejou as novas classes médias, ora reprimiu

questionamentos às concessões feitas a agentes privados nos megaeventos. Uma cunha se

abriu entre políticas e justificativas. Segmentos sociais impactados por transformações

recentes ficaram eticamente descobertos. As oposições encontraram terreno para suas

críticas nem sempre criativas. Críticas são salutares, combustível da democracia. Mas tais

não podem prescindir da memória e da responsabilidade por decisões passadas.

Com essas duas críticas à política externa de Dilma Rousseff – o não tem e o tem, mas

acabou – as oposições apresentam mais do menos em termos de alternativas. Por um lado,

se furtam a assumir responsabilidade por parte das contradições presentes. Por outro,

demonstram pouca criatividade diante de oportunidades e riscos que um país emergente

assume num sistema internacional que frequentemente fustiga anseios e ambições

emergentes.

A ascensão dos BRICS não se deve apenas à crise econômica de 2008. Ela ocorre contra o

pano de fundo da corrosão da legitimidade norte-americana pós-2001. Diante do

desconforto com as ‘intromissões’ dos emergentes na ordem internacional após a Guerra

Fria, tensões entre Brasil e EUA tendem a se aprofundar. Países emergentes não podem

perder oportunidades que surgem numa ordem que lhes é hostil. Sua ascensão depende de

sua capacidade de utilizar criativamente as instituições existentes e também de criar

alternativas de fôlego próprio.

Os desafios que o Brasil assumiu recentemente são proporcionais ao lugar que o país almeja

ocupar na ordem global. Nos lembram os custos de usufruir espaços preciosos para os

brasileiros, e o quão distantes estamos de nossos objetivos. A aquiescência diante de

assimetrias de poder produz acomodação. Tal postura nos afasta de reflexões sobre a

construção e reprodução do poder. Nos livra de dúvidas sobre a solidez e funcionalidade da

ordem vigente. Nas engrenagens da ordem internacional assimetrias são produzidas, mas

também combatidas.

Uma política externa pública e democrática implica readequar os recursos de que o Brasil

dispõe (incluindo o Itamaraty), em face da complexificação das relações políticas

internas/externas e do aumento da importância do país no mundo. O engajamento com

essas complexidades nos demanda mais, não menos, democracia.

16/3/2014 Mais do Menos: entre tradições e contradições, críticas à política externa de Dilma Rousseff - Carta Maior

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O jogo só começou – na eleição presidencial e no sistema internacional.

Créditos da foto: Roberto Stuckert Filho/PR

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5 Comentários

Moacir R. de Pontes - 14/03/2014

A classe trabalhadora pobre paga mais impostos do que a classe média porque é bem maior e a

tributação é regressiva. Os mais ricos pagam mais nos países mais democráticos, onde os tributos sobre

patrimônio e renda representam pelo menos 70% do total. No Brasil acontece o contrário. Se a oposição

defendesse maior justiça tributária, conquistaria mais votos e deixaria de ser oposição e o país seria

realmente mais democrático. Ah!..melhor continuar atacando as ditaduras cubana, venezuelana etc.

vinícius vitoi silva - 14/03/2014

Estou cada vez mais impressionado com a capacidade dos formadores de opinião da direita (eu ainda

acredito na polaridade direita-esquerda). Tem aqueles que discursam mais abertamente; tem aqueles

com mais argumentos. Estes que escrevem, escrevem e no final dizem: não se trata de questionar Tchê,

Marx ou fulano, mas... contudo, entretanto... Sinceramente, na minha opinião o atual governo constrói

uma nova fase e por causa disso precisa se desdobrar para enfrentar a força do donos do poder. Desejo

saúde e longevidade ao ex-presidente Lula e à atual presidente Dilma. Que tenha força para seguir o

caminho que estão abrindo e, principalmente, inspirem os jovens e formem um novo perfil de políticos.

Durval Desk - 14/03/2014

A discriminação que sofre o quinteto emergente por intrometer-se e" não conhecer seu lugar",nos remete

ao comportamento clássico das elites pró-coloniais em relação à população subjugada,social e

economicamente. Celso Lafer,fez mais: materializou a submissão descalçando os sapatos diante de um

guarda alfandegário e acreditou que essa atitude era correta. Eis um exemplo de como o complexo de

vira latas está sobejamente introjetado,nas elites. O escândalo histérico em que se converteu a iniciativa

de Lula juntamente com o premiê turco de conduzirem uma solução diplomática com vistas a eliminar

definitivamente o agravamento da crise entre o Irã seus desafetos ocidentais. As críticas quase

impublicáveis contra a iniciativa,pela mídia e oposição, desse gesto foram seguidas pela decepcionante e

pusilânime reação de Barak Obama. A existência da UNASUl,a participação de governos

progressista,Equador,Argentina ,Bolívia,Venezuela e neste momento ,Chile,conduzindo os rumos da

América do Sul,converteu-se num pesadelo que atormenta aos conservadores do continente e aos

interesses estratégicos norte americanos. Mais não podem fazer. A Copa e suas demandas são

obstáculos a interferência na campanha sucessória de munição mais pesada por parte dos articuladores

da vitória da oposição a qualquer preço.

roberto danunzio - 13/03/2014

Mais democracia significa eleger vereadores, deputados, prefeitos e governadores de partidos da

esquerda combativa, fazendo crescer a oposição à esquerda ao PT, ou seja, a oposição ao PT, algo que

hoje não existe, ou existe apenas a oposição de extrema direita à direita do que se torno o dito Partido

dos Trabalhadores. Mais democracia significa mais oposição à esquerda, anote isto leitor.

Paulo Cesar Polaco Zitelli - 13/03/2014

Achei uma boa retrospectiva sobre aspectos gerais da política externa. No entanto, como sempre, e

estrategicamente, é um texto manco, ou seja, um texto que ignora fatos atuais e olha para trás, critica

FHC, ditadura, etc, mas não aborda aspectos centrais. O que se critica na política externa brasileira atual

é, sobretudo, o apoio a ditaduras na América Latina, aos governos de esquerda que oprimem a

população. Sempre há um perdedor neste tipo de governo: a tal classe média, ou seja, aquelas famílias

que tem ensino superior completo, casa própria, profissão definida, que paga a maior carga dos tributos

do país, que gera renda e emprego, enfim, que sustenta as políticas populistas. O PT critica tudo o que

não sai de seu ventre, não sabe reconhecer os acertos de outros governos. O autor, como tantos outros

desta revista, faz críticas ao governo FHC, mas esquece que aquele governo assumiu um país em época

muito mais difícil e em situação muito pior. Foi o governo que arrumou a casa e permitiu ao Lula e à

própria Dilma fazer alguma coisa mais consistente em termos de política social. Como seriam as políticas

petistas, se tivessem assumido o poder em 1992 ou 1995? Será que teriam algum êxito? Enfim, não há

governo totalitário que seja legítimo, mesmo se eleito, mas para o atual governo brasileiro, parece que o

autoritarismo de esquerda é possível, bonito, legítimo e justo. É nítido para todos que para o PT só não é

permitida ditadura se ela for de direita, porque se for ditadura de esquerda, então pode. O Brasil precisa

crescer e se desenvolver, precisa melhorar sua atuação externa. Qual a medida adotada para isso? apoio

a Venezuela, Cuba e tudo quanto é governo de esquerda, totalitário e pobre. Evidente que não critico

governos de esquerda, critico o totalitarismo, a perseguição antidemocrática, etc. Pra mim, governo bom é

governo que apoia a liberdade, que me dá, enquanto cidadão, condição de uma vida digna, que não me

persiga pelas minhas opiniões e posições políticas, que não faça terrorismo social e psicológico com a

oposição, etc. Se o Brasil está bom para alguns, é importante notar que poderia estar melhor para muito

mais gente. Não é papel do governo destruir as críticas e os críticos, seu papel é deixar o país em estágio

de evolução, em situação que possibilite o desenvolvimento humano e econômico, sem parasitar o meio

ambiente e sem boicotar futuros governos. Eu quero um país seguro, pois hoje tenho medo de andar na

rua de qualquer cidade brasileira, a criminalidade está altíssima, a vida não tem mais valor algum, os

bandidos estão impondo suas regras em todo canto. O que tem sido feito para deixar o Brasil mais

ordeiro? NADA. Enfim, é legítimo apoiar a América Latina, mas é essencial exigir que esta mesma América

Latina se desenvolva, crie alternativas políticas modernas e saia desta visão ultrapassada de

bolivarianismo, FARC, esquerda do início do século 20, etc. Para governar é preciso olhar para a frente e

não para trás. Me dá arrepios ao notar que a maioria dos governos latinoamericanos estão apoiados em

ideias e fatos de mais de 100 anos, estão ocupados com vingança, com dominação totalitária, com

perseguição, com populismo, etc. Líderes da esquerda: Guevara, Fidel, Lênin, etc...que futuro há nisso?

OBS: AO CRITICAR O TEXTO E APONTAR ALGUNS ASPECTOS NÃO ESTOU DEFENDENDO OS ERROS

140Recomendar

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COMETIDOS PELA DIREITA E NEM FAZENDO APOLOGIA A IDEIAS DE DIRETIA QUE TAMBÉM ESTEJAM

ULTRAPASSADAS . Aliás, acho muito tosco tratar as coisas como direita x esquerda. UM OUTRO GOVERNO É

POSSÍVEL. OUTRA FORMA DE GOVERNAR É ESSENCIAL PARA O SÉCULO XXI.

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